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constituem e vinculam os fenômenos, Dado que nessa dimensão impera

sócio-ocupacionais dos assistentes SOCIaISvêm se constituindo em meio


uma vinculação direta entre ação e pensamento, impedindo que os profis-
(instrumentos) para a produção e reprodução da força de trabalho ocupada
sionais percebam as mediações (ocultas na aparência imediata dos fatos),
e excedente. Mais ainda, para a reprodução ideológica da ordem burguesa.
as escolhas profissionais condicionam-se a critérios de utilidade prática
Nesse sentido, o Serviço Social contribui na reprodução da racionalidade
imediata, de eficácia no nível do imediato, A razão, reduzida ao pensamento,
do sistema capitalista. J7 deixa de ser algo em si para diluir-se entre os elementos possibilitadores
No segundo caso, sua instrumentalidade localiza-se no nível de da ação. O pensamento identificado com razão passa a ser uma variável
respostas dadas às demandas: são respostas operativo-instrumentais, de da ação, a ponto de se transformar em meio para a ação. A razão,
caráter manipulatório, as quais necessitam transformar as condições ime- acionada na resolução de situações imediatas, perde a sua autonomia frente
diatamente dadas. Esse tipo de ação (instrumental) com vistas às situações a elas, perde a sua condição de engendrar a reflexão, o seu caráter de
imediatas subsume os meios aos fins. Mais ainda. Pelo seu caráter imediato, negar o existente, enfim, a sua dimensão crítico-emancipatória. O resultado
tais ações não permitem aos sujeitos alçarem do atendimento das finalidades dessa limitação é que, ao mesmo tempo que se equaliza razão ao pensamento,
particulares para as finalidades da sociedade." Na imediaticidade dos ele é naturalizado, identificado aos procedimentos instrumentais e equalizado
fatos, no afã de concretizar suas finalidades imediatas, os sujeitos não à teoria, cuja requisição passa a ser a de fornecer os instrumentos para
superam o estrito nível do particular. Isto porque os sujeitos não fazem a ação eficaz.
escolhas que sejam capazes de elevar seus interesses e finalidades
particulares para o nível da genericidade, a ponto de abarcarem valores Vale ressaltar, até mesmo uma compreensão parcial, limitada ou
humano-genéricos. equivocaqa do real é capaz de resultar em atos que produzam êxito em
nível imediato, posto que os resultados exitosos das ações não dependem
Ambos os níveis da instrumentalidade do Serviço Social estão imbuídos
apenas de uma adequada leitura da realidade. Daí que, para a profissão,
da razão instrumental (subjetivista e manipulatória). É da dimensão ins-
o atendimento às requisições instrumentais não basta. Isso nos permite
trumental da profissão que depende a sua eficácia e eficiência dentro dos
padrões da racionalidade burguesa. Concorrem para ela, além de outras reafirmar que a dimensão instrumental do Serviço Social é uma condição
condições, o referencial ideocultural e teórico-metodológico que a informa. necessária mas insuficiente do exercício profissional, posto que ela não
Porém, é importante que se esclareça: a base de sustentação das ações permite aos sujeitos as escolhas que engendram a ampliação de seus
instrumentais está nas próprias condições objetivas e subjetivas nas quais espaços profissionais.
o exercício profissional se realiza e no tipo de respostas exigidas à Ambos os níveis (1 e 2) da instrumentalidade do exercício profissional
profissão. Ao restringir-se à sua dimensão instrumental o trabalho do permanecem sustentados por visões psicologizantes (individualizantes) e
assistente social não alcança um nível capaz de diferenciar-se de atividades
moralizantes (de cunho disciplinar) da questão social e por práticas que
e práticas voluntárias, assistemáticas, caritativas e/ou filantrópicas. Isso
visam controlar e adaptar comportamentos, forjar personalidades e formas
porque, .para alcançar a eficácia, dentro dos parâmetros da ordem burguesa,
de sociabilidade exigi das pelos padrões de acumulação capitalista. A ação
a ~on.scIência não necessita apreender todos os nexos do processo. São as
profissional fica concentrada na vida privada, no subjetivismo dos interesses
propnas estrutura e natureza do cotidiano que escondem as mediações que
individuais e as: competências profissionais limitam-se à transmissão de
princípios e valores retirados da moral burguesa.
, 17, No Brasil, o Serviço Social surge na fase do Estado Novo e dentro de um projeto
populisra, , Este ,usca
b tan to con tr o Iar os setores urbanos emergentes quanto ser legitimado ', por Nisto reside algumas das evidências da presença da razão instrumental
eles, Aqui
, se m S titI W' um espaço sócio-ccupacional
, ' , para o assistente social. Mas é no pós-70
que vamos encontr ar as me d'iaçoes - na profissão. Dentre as diversas formas de expressão da razão instrumental
- s óci
CIO-h'istoricas
" que forjam um novo contexto no qual a
pro firssao se ,mov e e que atnib uem particu ' Ianid ad es a' reflexão e à intervenção
' profissional. (e de suas conexões com a racionalidade formal-abstrata), são as tendências
18, Amda qu e se possa afirmar que to d a fima liIdade está sempre referida a um sujeito e ao metodologismo e ao instrumentalismo da profissão que neste estudo
portanto,
, d' -id ar é' sempre parucu . 1ar, no rnve ' 1 d o imeimedilato tais
" fins não podem ir além do âmbito'
10 I\ lU, melhor di zen do, nao - se vinc incul am aos Interesses
'
adquirem grande potencial explicativo,
mais amplos da sociedade.
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2.1. Metodologismo e instrumentalismo: tendências uma relação de interação entre pessoas, daí resultando um conceito básico do
empobrecedoras da profissão modelo: o da relação prática da ajuda" (Dantas, 1974) (grifos meus).

Nessa proposta, em que pese a intervenção profissional permanecer


Como decorrência da razão instrumental na profissão tem-se a tendência direcionada para a correção das disfunções, intervenção esta explicitamente
dos chamados metodologismo e instrumentalismo. individualizante e subjetivista, busca-se uma Teoria Geral do Serviço Social,
Essa tendência vai-se conformando e desenvolvendo no interior da com o objetivo de equacionar o problema da metodologia, concebida por
vertente modernizadora do Serviço Social; como expressão da interconexão Dantas como teoria metodolágica (ibidem). Ao tratar questões de natureza
d~~ racionalidades formal-abstrata e instrumental (subjetivista e manipula- político-ideológica no âmbito da metodologia, e ao localizar o fundamento
tona), ambas empobrecedoras das maneiras de conceber o Serviço Social. 'de legitimação da profissão na sua (suposta) cientificidade, essa perspectiva
.. No contexto da modernização conservadora da profissão, os assistentes pode requisitar o redimensionamento da metodologia, donde infere-se que
sociais passam a reclamar um modelo de intervenção que venha ao encontro a "cientificidade" profissional é equivocadamente derivada da utilização de
da realidade brasileira, considerando que à importação de modelos atri- procedimentos metodológicos corretos e, como considera Netto, identificada
buem-se os "descarninhos" do Serviço Social até aquele momento. Para a "uma racional idade manipulatória", desta resultando uma pauta interventiva.
tanto, a proposta é de adoção do modelo (governista) de desenvolvimento Nas palavras de Netto: "da concepção científica da prática, tomada como
intesral: através do qual determinam-se as funções do Serviço Social em manipulação intelectivamente ordenada, decorre a 'aplicação' da metodologia
~Ivels de macro e de microatuações. Nessa perspectiva de modelos de como modus faciendi da ação" (1991: 190). Ela coloca secundariamente
Interve.nção profissional, o Serviço Social é considerado uma técnica social os valores, os fins ético-políticos e a legitimidade social da profissão em
com ~Ista~ a se tomar uma ciência social aplicada ou, ainda, uma ciência relação aos procedimentos técnico-instrumentais, o que só pode estar
que sintetiza o. conhecimento no campo psicossocial. Aqui a ênfase se sustentado na concepção de Serviço Social como técnica social.
~ove das finalidades - valores subjetivistas - para os meios _ o
Outra expressão que as tendências metodologista e instrumentalista
Instrumental-o~e~ati~o .. Com isso, a perspectiva de psicologização dos
adotam refere-se à maneira de conceber o referencial estratégico para a
problemas SOCIaIS dilui-se na concepção de Serviço Social como técnica
ação, ou o ..tradicionalmente denominado instrumental técnico do Serviço
SOCIal e o assistente social como "funcionário do desenvolvimento social"
Social. De um lado, tem-se concebido o referencial estratégico como um
(cf. Netto, 1991),19 donde o estatuto de legitimidade profissional encontra-se
na sua (suposta) cientificidade e o profissional adquire um perfil sociotécnico. conjunto de instrumentos e técnicas que são neutros, abstratos, vazios de
conteúdos, amorfos, os quais os homens deverão direcionar para o alcance
Lucena Dantas, um dos maiores defensores dessa perspectiva, afirma: de suas finalidades, direção esta determinada apenas pela visão de mundo
"Serviço Social científico ou profissional é o conjunto de conhecimentos científicos do assistente social (o que não é pouco, mas é insuficiente). De outro,
e t~nicas psicológicas e sociológicas aplicados através do processo de ajuda consideram-se os instrumentos como algo em si, com valor e possibilidades
SOCialà solução das situações-problemas ocorrentes na área da existência social próprias, dados pelas suas propriedades imanentes que direcionam o agir
;umana em su~s esfer~s sócio-econômic~,. psicossocial, sócio-cultural e societa!. dos homens. Nesse caso, o problemático é que consideram-se apenas as
ar ser o Serviço SOCIalde natureza pratica, toma-se evidente que isto implica propriedades naturais dos instrumentos, sem pensá-I os como produto dos
homens na satisfação de suas necessidades. Os instrumentos aqui aparecem
de .
19. A análise d N tt
.
ê f d
e e o e un ament
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para a compreensão da importância dessa mudança como vocacionados para atender esta e não outra necessidade. Não se
eixo no Serviço Social d ' I' . considera que estes são produto da ação humana direcionada ao alcance
f . ~I e os VlnCU os instrumentaiS que a profissão estreita com o projeto
rc ormlsta burgu' . . lid d J
..' es, cuja raciona I a e que lhe é mais apropriada é a formal-abstrata Diz ele' de finalidades. Ambas as concepções são tanto limitadas quanto reducionistas,
ao Sltuá-Io [o as . t 'aI] ,. '" . .
SISente SOCI como um funclOnarlO do desenvolvimento' ( ) propõe [_ ]
tanto uma redu - ( ... , se porque derivam de uma ruptura da unidade orgânica entre sujeito-objeto
f . ári çao ...) do seu saber e do seu fazer. A redução está ligada à própria condição
d
uncion Ia do profis'
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á • •
al: dicionais I d - .
sionar: as tra icionais m agaçoes valorativas são deslocadas pelo privilégio
e da relação dialética entre causalidade e teleologia. No limite, contribuem
:l e IC era manlpulativ . ial ' . .
executivo (tal Com a, e o assistente SOCI e investido de um estatuto básica e extensamente para a deificação do instrumental técnico. Na primeira, razão e vontade
.. o aparece nas modernas teorias da gestão) ( ... )" (Netto, 1991:192).· dos sujeitos subsumem as propriedades imanentes dos objetos (meios e
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,"
se expressa diretamente no Serviço Social em termos de adesão ou não
instrumentos), a sua objetividade, negando o seu em si; na segunda, as
ao projeto capitalista, mas, em geral, isso se manifesta indiretamente, no
propriedades constitutivas dos instrumentos e meios adquirem um nível de
confronto com as tradições profissionais, através de suas construções
objetividade tal que subsumem a razão e a vontade dos sujeitos.
teórico-metodológicas. O que estamos afirmando é que a profissão tem
Com essas considerações pretende-se chamar a atenção para a relação sido freqüentemente convertida em instrumento de realização do capital,
intrínseca entre um modo de conceber a natureza e o significado da razão pela qual a crítica e a autocrítica realizadas pela profissão remetem
profissão, seu estatuto de legitimidade e uma maneira de considerar o ao acervo técnico-instrumental e não à sua instrumentalidade ao capitalismo,
aparato técnico-instrumental. Na matriz que concebe o Serviço Social como donde a perspectiva integrativa e adaptativa, de caráter reformista.
ciência ou técnica social, intervenção significa "introduzir mudanças no
Essa digressão foi necessária para que pudéssemos demonstrar a
decorrer dos eventos ou nos seus resultados" (cf. Vieira, 1979:23). Nessa
vinculação entre maneiras de conceber a natureza e o significado social
visão, "o Serviço Social como método utiliza as diversas maneiras de
da" profissão e as formas de operá-Ia. No nosso entendimento, a instru-
conhecer (...)" (Vieira, 1979:68). O entendimento de que o Serviço Social
mentalidade como categoria, tanto ontológica quanto reflexiva, pode ques-
constitui-se numa "atividade empirico-prática" (ibidem) leva essa tendência
tionar as concepções de profissão vigentes no seu interior e contribuir no
a considerar o modelo analógico como o mais adequado, já que este busca
equacionamento do referencial ético-político e estratégico para a ação,
analogia com conceitos e atividades de outras profissões da mesma natureza
dimensionando adequadamente o papel e o lugar do instrumental técnico-
(neste caso, psicossocial). Quando o Serviço Social passa a apoiar-se em
conce~tos (das ciências sociais emergentes), utiliza o modelo analógico- operativo.
conceitual. Quando, mais tarde, o Serviço Social passa a se utilizar de Mas, compreender a instrumentalidade do Serviço Social como me-
conceitos da psicologia, apóia-se no modelo analógico-prático. Posterior- diação exi~e que se busquem as con.figura5ões que ela adquire como
mente, o modelo profissional, que incorpora valores, conhecimentos ob- ri instância d,e passagem e espaço de articulação dos elementos que fazem
jetivos, sanções e responsabilidades, passa a direcionar o agir profissional parte da cultura profissional.
e, finalmente, segundo a autora, o modelo sistêrnico, cuja visão de
globalidade permite incorporar os elementos do método profissional e 2.2. A instrumental idade do Serviço Social como mediação
col~a o Se~iço Social como um subsistema social. Nessa concepção o
Serviço Social se desenvolve de maneira gradual, linear, rumo a uma Por que a instrumentalidade do exercício profissional pode ser pensada
maturidade que se realiza na sua condição de "ciência" (cf. Vieira, 1979).
como uma mediação?
Vige, ainda, no interior dessa tendência, o entendimento de competência Em primeiro lugar, porque ela se exprime logicamente como uma
profissional como resultado do domínio do instrumental técnico. Do mesmo particularidade sócio-histórica do Serviço Social: de um lado, a instrumen-
modo, ~ saber reve.st:-se de instrumentalidade: a exigência pelo imediata- talidade do Serviço Social à ordem burguesa, dada pela sua inserção na
mente instrumentalizável converte o saber em técnica melhor dizendo divisão sociotécnica do trabalho e, de outro, a instrumental idade das
num sistema ?e .referência metodológica que objetiva a m~nipulação técnica: respostas profissionais, como meios para alcançar os objetivos da ordem
u~ ,saber objetivamente formal (e não intencional) e tecnicamente apro- social capitalista.
veitável.
Do ponto de vista da análise, a instrumentalidade é a categoria
Há que. se ressaltar que a preocupação com a metodologia do ou reflexiva capaz de apontar as diversas formas de inserção da profissão
para o Serviço Social se intensifica a partir da década de 60 ou seja nos espaços sócio-ocupacionais e as competências e requisições profissionais,
em determinados contexto e momento histórico e isso que não' é casual: de modo a demonstrar o concreto particularizado das formas de operar
Confo~e Iamamoto (1982), "impossibilitado de questionar-se socialmente, da profissão, ou as "mediações particularizadoras que conferem existência
o Serviço
. SocoIaI no Brasil .
rasi questiona-se metodologicamente". Ocorre que real" (Lessa, 1995: 119) à profissão em contextos e espaços sócio-históricos
o projeto de "mod ernizar
. conservan d"o , tipicamente
. . . .
capitalista, nem sempre determinados.
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..
, ,

Isto porque, ainda que surgindo no universo das práticas psicologizantes É no âmbito da instrumentalidade do Serviço Social que os componentes
e moralizantes, que visam controlar e adaptar comportamentos, forjar críticos e progressistas da cultura profissional são escolhidos, identificados,
personalidades e formas de sociabilidade exigi das pelos padrões de acu- construídos e reconstruídos, e deles depende o restabelecimento da unidade
mulação capitalista, o Serviço Social vai ampliando as suas funções até entre meios e fins e a preocupação com os valores democráticos do
colocar-se no âmbito dos direitos sociais. Pela instrumental idade da profissão movimento socialista. É a categoria que permite colocar o acervo técni-
vão passando elementos progressistas: pressionando a profissão, as forças co-operativo no seu devido lugar.
progressistas (internas e externas) conduzem-na a rever seus fundamentos Também é a categoria operativa capaz de permitir a ultrapassagem
e suas legitimidades, a questionar sua funcionalidade e instrumentalidade .da imediaticidade, possibilitando o estabelecimento de vínculos entre o
no atendimento da mesma, o que permite uma ampliação da funcionalidade . imediato e o mediato. Em outras palavras, permite que se estabeleçam
e das bases sobre as quais sua instrumental idade se desenvolve. Ao vínculos com o projeto ético-político profissional, "em defesa dos direitos
desprender da condição histórica em que surge, qual seja, como instrumento sociais e das políticas públicas".
do Estado e tipo de profissão de caráter eminentemente operativo e
manipulatório, visando alterar as condições individuais, o Serviço Social
pode colocar-se no universo dos direitos sociais, fortalecendo as estruturas Conclusão
democráticas e os direitos coletivos.
As alterações no "mundo do trabalho", na esfera do Estado, nas
É, portanto, no movimento da história que a instrumentalidade do políticas sociais, no perfil do trabalhador, estabelecem novas mediações
Serviço Social pode ser vista como mediação pela qual ou através da qual : que se expressam nas condições objetivas (materiais e espirituais) sobre
pode-se recuperar a ruptura entre a correção dos meios e a coerência e as quais a instrumentalidade do exercício profissional se desenvolve e
legitimidade dos fins, transcendendo as ações instrumentais e a razão condicionam as respostas dos profissionais. Com essas mudanças nunca
instrumental (esta como meio de controle/manipulação da sociedade), uma realidade social esteve tão propícia aos individualismos e, portanto,
rompend.o com as concepções de profissão que a tomam como técnica, à razão instrumental. É desse individualismo que se fortalece o neolibe-
tecnologia ou engenharia social, bem como com as que a interpretam ralismo. É também dele que decorrem as perdas da classe que tem no
como uma ciência, um ramo do saber ou mesmo uma forma de ação trabalho seu meio de vida (Guerra, 1998).
social.
A razão instrumental instaura relações sociais baseadas no cálculo
A instrumentalidade do Serviço Social como mediação é o espaço racional e na racionalidade manipuladora. A razão instrumental na con-
para se pensar nos valores subjacentes às ações, no nível e na direção temporaneidade rompe com os meios democráticos, com as escolhas e
das respostas que estamos dando e pelas quais a profissão é reconhecida finalidades coletivas.
ou questionada socialmente. É pela instrumentalidade que passam as decisões Frente a essas transformações, a dimensão instrumental da profissão
alternativas concretas, de indivíduos concretos, em situações concretas. E passa a necessitar de vínculos cada vez mais estreitos com um projeto
por isso nela residem as possibilidades da passagem do ser em si dos ético-político em defesa dos direitos sociais e humanos e da democracia.
homens - já que todo fim é sempre particular - para a sua genericidade, Historicamente a profissão tem sido dinamizada por projetos conser-
para os valores e as finalidades humano-genéricas.
vadores (racionalistas e instrumentalistas), de reforma dentro da ordem.
As finalidades profissionais estão inscritas num quadro valorativo e Porém, na década de 80 os projetos de transformação social, con-
somente podem ser pensadas no interior desse quadro, entendido como substanciados no movimento socialista, vão ganhando adesão de parcela
ac~r.vo cultural de que o profissional dispõe e que o orienta nas escolhas significativa da categoria profissional. Os diversos projetos societãrios'" de
te~nco-metodológicas e ético-políticas, que, por sua vez, implicam projetar extração progressistas, são resultantes da luta dos trabalhadores contra o
1200 apen . .r: d
•• as os trtetos/ instrumentos
A • e realização, mas também as conse- imperialismo norte-americano, contra as ditaduras e a favor da democracia,
quenC1as. da liberdade, dos valores sociocêntricos em contraposição aos valores
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individualistas e visam à redução das desigualdades sociais, Com isso FALEIROS, Vicente de P. Metodologia e .ideologia do trabalho social.
queremos reafirmar a vinculação do projeto ético-político da profissão com São Paulo, Cortez, 1986.
a luta mais ampla dos trabalhadores. GUERRA, Yolanda. A instrumetitalidade do Serviço Social. São Paulo,
É a matriz marxiana da ontologia do ser social que tem no trabalho Cortez, 1995.
sua constituição, substrato da perspectiva que Netto denomina de "intenção ___ o "Ontologia do ser social: bases para a formação profissional".
de ruptura", que, no nosso entendimento, possibilita aos profissionais Serviço Social & Sociedade, n° 54, ano xvm. São Paulo, Cortez,
compreender e resgatar a dimensão emancipatória da instrumental idade do 1997.
exercício profissional e a vinculação deste aos interesses da classe operária, ___ oA racional idade hegemônica do capitalismo no Brasil contempo-
tomando o assistente social, "ademais de um agente técnico especializado, râneo: uma análise das suas principais determinações. São Paulo,
(...) um protagonista voltado para o conhecimento dos seus papéis socio- Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 1998. Tese de doutorado.
político e profissional, envolvendo exigências teóricas mais rigorosas" Original inédito.
(Netto, 1991:302), atento, efetivamente, para as implicações ético-políticas
HABERMAS, J. "Técnica e Ciência enquanto 'ideologia'". In: Textos
do seu "fazer" profissional.
escolhidos. São Paulo, Abril Cultural, 1975.
A passagem da intenção aos resultados requer condições cuja adaptação
HORKHEIMER, T. Crítica de Ia rarán instrumental. Buenos Aires, Editorial
ou criação dependem do agir instrumental. Mas este não pode ser pensado
Sudamericana, 1973.
independentemente dos valores que portam, daí a necessidade de uma
razão que possa estabelecer a correção dos meios e a legitimidade dos ___ & ÀDORNO. "O conceito de Iluminismo", In: Textos escolhidos.
fins. São Paulo, Abril Cultural, 1975.
É nesse sentido que, como meios e fins do exercício profissional, a IAMAMOTO, Marilda V. Renovação e conservadorismo no Serviço Social:
categoria tem que resgatar o que da razão substantiva ainda não foi ensaios críticos. São Paulo, Cortez, 1992.
realizado: sua dimensão emancipatória capaz de preservar as conquistas & Ci\RV ALHO, Raul de. Relações sociais e Serviço Social no
histórico-sociais dos sujeitos e os valores sociocêntricos. Brasil - esboço de uma interpretação histárico-metodolágica. 2a ed.,
São Paulo, Cortez, 1982.
IANNI, Octavio. "A produção da sociedade". In: Marx - Sociologia. São
Bibliografia Paulo, Ática, 1988.
KARSCH, Úrsula Simon. O Serviço Social na era dos Serviços. São Paulo,
AMARAL, Angela & MOT A, Ana Elizabete. Reestruturação do capital,
Cortez, 1987.
fragmentação do trabalho e Serviço Social. São Paulo, Cortez, 1998.
LESSA, Sergio. Sociabilidade e individuação, Maceió, Edufal, 1995.
DANTAS, José Lucena. "A teoria metodológica do Serviço Social: uma
abordagem sistemática". Debates Sociais. Rio de Janeiro, abr./1974. ___ o A ontologia de Lukács. Maceió, Edufal, 1997.
ESTEV ÃO, Ana Maria. O que é o Serviço Social. São Paulo, Brasiliense, ___ "O processo de produção/reprodução social: trabalho e sociabili-
o

1984 (cal. Primeiros Passos). dade". Cadernos do CEAD/Programa de capacitação continuada para
assistentes sociais, n" 2, Brasília, 1999.
LUKÁCS, Georg. Ontologia do ser social - os princípios ontolôgicos
20. Para Netto, projetos societários são antecipações ideais de projeções, a médio e longo
pr~os, de formas concretas de sociabilidade, convivência cívica, organização da economia, da fundamentais de Marx. São Paulo, Ciências Humanas, 1979.
SOCiedadee da cultura (cf. Netto, 1994). Tais projeções, nem sempre tornadas conscientes aos ___ "As bases ontológicas do pensamento e da atividade do homem".
o

agentes sociais, representam interesses divergentes e portam a capacidade de modificar o real.


Cadernos do Núcleo de Estudos e Aprofundamento Marxista, n" 1.
Ele~. são de natureza eminentemente política, embora nem sempre coincidam com os projetos
pohtJco-partidários. São Paulo, PUC, 1997.

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