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LIXO

É dos crimes ambientais talvez aquele cujos danos são mais facilmente
percetíveis. A criminalidade relacionada com o lixo pode conflituar com outros tipos de
criminalidade ambiental, como a poluição. Para além dos danos ambientais que este tipo
de crimes causa, também faz sentir os seus impactos económicos na economia dos EM.
Por exemplo, no Reino Unido, estima-se que as autoridades locais gastaram £51.6
milhões na limpeza de lixo.

A legislação nesta matéria é complexa. O principal instrumento jurídico


internacional é a Convenção de Basel de 1989 sobre o controle de movimentos
transfronteiriços de resíduos perigosos1 e da sua eliminação. Esta convenção foi
transporta para a UE com o Regulamento (CE) Nº 1013/2006 Do Parlamento Europeu e
do Conselho, de 14 de junho de 2006, relativo a transferências de resíduos. A
intervenção da UE neste domínio segue quatro ideias chave: 1) os resíduos para
eliminação final são considerados como sendo um maior fardo ambiental do que os
resíduos para recolha, onde os resíduos são usados como recurso; assim, a Direita
2008/98/EC obriga a que a UE seja autossuficiente na capacidade para eliminação dos
resíduos 2) em principio, a eliminação de lixo deve ser feita numa instalação apropriada;
3) carregamentos de resíduos para reutilização são sujeitos a legislação menos restritiva
e, como regra, este tipo de de transferência de lixo pode ocorrer dentro da UE; 4)
Exportar resíduos perigosos da UE para países que não façam parte da OECD
(Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) para reutilização é
proibida, uma vez que dados empíricos revelam que estes países não têm capacidade
para tratar estes resíduos2.

Podemos encontrar alguns dados sobre resíduos perigosos: em 2009, os EM


geraram 74 milhões de toneladas de resíduos, e 10% foi exportado (maioritariamente
para outros EM), onde a quantidade de lixo perigoso importado rondava as 8.9 milhões

1
Exemplos de lixos perigosas podem ser encontrados no anexo I e II da referida convenção: lixos
hospitalares originários de hospitais, centro de saúde e clínicas; lixos farmacêuticos, drogas e
medicamentos; lixos da produção e uso de biocidas e fitofarmacêuticos; resíduos de natureza explosiva;
asbestos, compostos derivados do mercúrio; etc. Também resíduos gerados pela inceneração do lixo
familiar é contemplado.
2
European Environmenal Agency (EEA) (2012) Movementos of waste acrosse the Eu’s internal and
external borders, pag 10. O ponto mencionado em iv) está excertado no artigo 36 do referido
regulamento e implementa o chamado “Ban Amendment” de 1995 *a Convenção de Basel.
de toneladas.3 Quando falamos de lixo não tóxico, a EU torna-se o maior exportador e
importador desde tipo de lixo, quando tenha em vista a sua reciclagem. Em 2013,
possuia 39.4% das importações mundiais e 32% das exportações mundias, das quais
55% se tratavam de exportações para países não membros da OECD, num valor de 7.1
biliões de euros.

A legislação penal não pode ser impedida de intervir nesta área. O tráfico ilicito
de resíduos é uma ameaça séria que ronda os 20% de todos os carregamentos de lixo na
UE. A gestão ilegal de resíduos pode ocorrer em qualquer uma das três fases do ciclo:
na origem (i.e. de produtores para companhias especializadas na gestão de resíduos), na
transferência (que inclui as atividades de transporte e armazenamento) e no seu
destino (que inclui o tratamente, reciclagem e eliminação final). A complexidade da
legislação vigente, a falta de experiência das autoridades competetens e a falta de
cooperação entre elas, as diferentes sanções nos diversos EM e dificuldade na recolha
de prova faz esta área bastante atrativa para Grupos de Crime Organizado (GCO). Elas
tiram proveito da necessidade de indústrias privados de se verem livre do seu lixo,
oferecendo-lhes preços competitivos sem, contudo, nenhuma intenção de eliminar os
resíduos legalmente. Por vezes, os GCO podem usar estruturas corporativas legais para
camuflar as suas atividas e lhes dar uma façada de legitimidade; noutros casos, os
próprios produtores de lixo despejam ilegalmente os resíduos noutras ordens jurídicas,
tirando vantagem dos diferentes preços para a elminação do lixo nos diversos EM 4. Os
produtorees podem também cometer outros tipos legais de crime, como o crime de
fraude e o crime fraude fiscal. Na Itália, constatamos o uso do sistema “Girobolla”, i.e.
desclassificação os reísiduos como lixo através da falsificalão de documentação. Este
comportamento permite-lhes uma gestão fraudulenta do lixo ou usar os residuos como
matérias primas secundárias, eliminando os custos da elminação, fazendo reentrá-los no
circuito como fertilizantes, por exemplo.

Neste tipo de crimes, duas grandes preocupações surgem no casos dos end of
life vehicules (ELVs) e resíduos provenientes de equipamente elétrico e eletrónico
3
Pag 11 do relatório.
4
Pode-se atentar aqui no caso inglês: algumas companhias parecem lidar legalmente com a eliminação
dos resíduos, oferecendo todas as garantias aos seus clientes. Estas garantias pareciam assegurar que o
lixo tinha sido levado para uma instalação própria em Oxfordshire. Contudo, a Envrivronment Agency
descobriu 361 toneladas de asbestos armazenadas em 72 navios. Apesar de o negócio render mais de
£400,000 anuais, o diretor e o gerente foram multadas apenas em £3,000 cada. O dono da empresa
apenas teve de pagar £13,000 pela limpeza. Isto demonstra a natureza baixo risco-alto lucro destes
crimes.
(referido como e-waste). Em 2010, existiam 7,823,211 ELVs na UE. ELVs
produzem anualmente entre 8 a 9 milhões de toneladas de lixo na UE. Existem
alguns dados que permitem suspeitas que um numero consideal de ELVs estão a
ser exportadas ilegalmente dos EM, primordialmente para África e Médio
Oriente, devio ao lucro que os donos desses veículos podem obter ao vende-los a
vendedores de veículos para posterior exportação. Para diminuir estes valores,
em 2000, a UE adotou a “Direitiva ELV”5. Esta Diretiva teve um impacto
positivo na redução dos impactos ambientais dos ELVs. Alguns produtores
mudaram o design dos seus veículos para permitir uma reciclagem mais eficaz.
Os responsáveis pela recilagem, por outro lado, aumentaram a sua eficiência no
tratamento.

Quanto ao e-waste, tem-se registado um crescimento nesta área. Em 2006,


1.3 milhões de toneladas dos resíduos mundiais de e-waste foram gerados na UE.
À volta de 50 milhões de toneladas de computadores velhos são deitados para o
lixo todos os anos. Isto cria um enorme desafio para a gestão deste tipo de
resíduos, criando o termo “toxic time bomb”. Assim, a UE adotou a DIRECTIVA
2002/96/CE DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO de 27 de Janeiro de
2003 relativa aos resíduos de equipamentos elétricos e eletrónicos (REEE). O
carregamento dos REEE para outros países, em vez de processar isso nos EM, é
preferível de um ponto de vista económico. Por exemplo, em 2009, foi estimado que é
quatro vezes mais caros incinerar residuos na Holanda do que enviá-los para a China. A
China é o destino mais comum dos REEE. 80% do e-waste global é enviado para a
Ásia, e 90% é destinado para a China. Apenas a Ásia Oriental e na região do Pacífico, o
lucro das vendas dos REEE ronda os 3.5 bilhões de dólares por ano. GCO também
podem estar envolvidos no tráfico de REEE; porém estes grupos não são tão
organizados como noutros ramos da criminalidade ambiental. A legislação aplicável aos
REEE é bastante complexa e técnica. Para além disso, atos criminosos são levados a
cabo dentro de uma empresa e motivados primariamente por um possível ganho
financeiro.

Tráfico de espécies protegidas

5
DIRECTIVA 2000/53/CE DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO de 18 de Setembro de 2000
relativa aos veículos em fim de vida.
Este tipo de criminalidade engloba a captura, troca (fornecer, vendar ou traficar),
importar, exportar, processar, possuir, obter e/ou consumir flore e fauna selvagem,
incluindo madeira e outros produtos florestais, de acordo com a lei nacional e
internacional. Este conceito engloba também a pesca ilegal, não reportada e não
regulamentada.

Apesar de ser muito difícil estimar valores no tráfico de espécies protegidas,


alguns dados estão disponíveis. O número estima de receita gerada pelo tráfico de vida
selvagem (excluindo a questão da pesca) e tráfico ilegal de madeira é entre 14.8 e 17
biliões de dólares americanos. O valor do chifre do rinoceronte, no mercado negro, varia
entre 40,000 EUR/Kg e 65.000 EUR/KG (o preço do ouro é sensivelmente 30,000
EUR/kg. Uma águia negra pode ser comprada por €15,000. O marfim chega a atingir os
620 EUR/kg e ossos de tigre 900 EUR/kg. Anualmente, o mercado que transaciona
partes de urso rende 2 biliões de dólares americanos por ano.

Podemos concluir que esta é uma área lucrativa e em alta demanda global. Estes
produtos podem ser usados como itens de luxo (mais nos países ocidentais) ou como
componentes da medicina tradicional (na China e, especialmente, no Vietnam). Esta é
um mercado atrativos para GCO, que podem intervir na fase de capturar, roubar e/ou
distribuir este tipo de comodidade.

O aumento do uso da internet nos últimos anos tem vindo a facilitar a prática de
atividades criminais neste campo. O comércio online de espécie protegidas tem
levantado sérias preocupações, porque dificulta a luta contra o tráfico de vida selvagem
ainda mais difícil. Durante o 63º encontro do Comité Regente (Standing Comitte) do
CITES este tópico foi abordado, tendo-se chegado à conclusão que é necessário
conhecimento especializado na área informática para adequadamente se abordar este
problema6.

Apesar de esta criminalidade parecer ter lugar em locais fora da UE (como


África, América do Sul, etc), há dados que permitem concluir pela ocorrência dentre
crime dentro das fronteiras da Europa. Por exemplo, 96% do valor das trocas de peles
de pitão é destinada para a indústria da moda europeia. Vários países europeus foram

6
Também se discutiu a utilização de novos instrumentos tecnológicos, como vigilância aérea, para
fiscalizar esta criminalidade.
identificas como o local de origem, trânsito e destino de vários produtos derivados da
vida selvagem. Alguns estudos até concluíram que a UE é o mais consumidor e ponto
de tráfico para tráfico ilegal de espécies protegidas.

Em 2013, 1468 apreensões foram reportadas por 15 EM, mais de metade com
uma dimensão transnacional, envolvendo países não Europeus. A maior parte de
produtos apreendidos foram medicamentos (tanto medicamentos derivados de plantas
como de animais), marfim, corais e répteis vivos. Estatísticas mostram, que a China tem
sido o maior exportador destes produtos e, depois de Hong Kong, o maior destino.
Alguns estudos também revelam que os EM estão massivamente envolvidos no tráfico
ilegal de aves. Muitos dos GCO que operam dentro desta área estão sedeados na UE,
cometendo outros crimes como corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal.
Para além dos que o tráfico de espécies protegidas pode ter nos ecossistemas, também
facilita a propagação de doenças (em espcial as doenças zoonóticas, como a ébola).
Este é o caso do tráfico de “bush meat” – carne proveniente de animais selvagens usada
por algumas populações como a sua forma primária de nutrição - que, em si mesmo é
uma ameaça às populações animais desse habitat, contribuindo para a dizimação da
espécie7.

O principal instrumento jurídico no combate a esta criminalidade é o já


mencionado CITES, que foi assinado em 1973 e entrou em vigor a julho de 1975.
Existem 181 Estados signatários. Visa regular o comércio de cerca de 35.000 espécies
protegidas (tanto fauna como flora, com um ratio de 1:6), que estão dividas em 3
Anexos. O primeiro lista as espécies em vias de extinção, cujo comércio deve ser sujeito
a uma forte regulação e apenas deve ser permitido em circunstância excecionais. O
Anexo II contém todos as espécies que podem vir a entrar em risco de extinção, cujo
comércio é sujeito, por isso, a uma forte regulação. O último Anexo lista todas as
espécies que qualquer signatário identifique como estando sujeita a regulação no seu
ordenamento jurídico, com o objetivo de prevenir ou restringir a sua exploração. Este
tratado foi transposto para a UE através do REGULAMENTO (CE) Nº 338/97 DO
CONSELHO de 9 de dezembro de 1996 relativo à proteção de espécies da fauna e da
flora selvagens através do controlo do seu comércio. 8 Tanto o CITES, como o

7
Estima-se que na África Central, se transaciona mais de 1 bilião de kilos de carne por ano.
8
Apesar de se tratar de um Regulamento e este ter aplicabilidade direita na ordem interna dos EM
(artigo 288 TFUE), as decisões políticas relevantes nos crimes contra a vida selvagem são tomadas pelos
EM. Isto acentua a problemática da discrepância de regime legais entre os EM.
Regulamento, obrigam os EM a criar uma autoridade científica e uma autoridade
administrativa competente, que estarão envolvidas no procedimento de autorização do
comércio de espécies protegidas9. Na maior parte dos países, um papel crucial para a
execução deste regulamento é levado a cabo pela polícia; em alguns países, há unidades
especialmente dedicadas à execução do CITES (como por exemplo, the London
Heathrow Airport unit). Na Espanha e na Itália, outras entidades foram encarregues de
fiscalizar o cumprimento do CITES (Guardia Civil e Corpo Forestale dello Stato,
respetivamente). Em alguns países, são unidades dos serviços florestais que são
encarregues de fiscalizar o cumprimento do CITES. Todas as unidades podem ser
assistidas por técnicos veterinários, para as respetivas inspeções.

Caso português dos pássaros

Quanto ao comércio de madeira, em 2011, a EU foi considerado o segundo


maior importador de produtos feitos de madeira. Os “crimes florestais” podem ser
levados a cabo de quatro formas diferentes: 1) exploração ilegal de espécies protegidas
de madeira (listadas no CITES); 2) serração ilegal de madeira criação da madeira
cerrada, materiais de construção ou mobiliário; 3) são proibidas às empresas de plantio e
agrícolas o fornecimento de celulosa para a indústria do papel: 4) utilização do
combustível proveniente da madeira e a transação de carvão para esconder serração
ilegal dentro e fora de áreas protegidas, que pode levar a fraude discal, e fornecer
combustível ilicitamente. A serração ilegal é uma ameaça séria para o ambiente em
termos de dano para o habitat, perda de biodiversidade e desflorestação, com as
invetiváveis consequências para o clima.

Para combater este problema, foi adotado o Regulamento (UE) N.o 995/2010
DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO de 20 de outubro de 2010 que
fixa as obrigações dos operadores que colocam no mercado madeira e produtos da
madeira. Este regulamento obriga os EM a designar uma autoridade competente
responsável pela aplicação deste regulamento. Dados mostram que 15 EM ainda não
transpuseram adequadamente o Regulamento para a sua ordem jurídica interna.

9
Em alguns EM, a autoridade competente está diretamente envolvida na execução do regulamento: na
Eslovénia, a autoridade competente coordena e fornece treinamento para oficiais e fornece pareces em
possíveis apreensões. Na Dinamarca e em Malta, as autoridades competentes visitam as alfândegas para
fazerem revistas a carregamentos.
Tendo em vista uma maior coordenação na luta contra estes crimes, foi criado
em 2010 o ICCWC – International Consortium on Combating Wildlife Crime. É
composto pela Interpol, pelo Secretariado do CITES, UNODC, Banco Mundial e WCO
(World Customs Oganization). ICCWC apoia as entidades competentes na luta contra
os crimes contra a vida selvagem. Segundo o ICCWC, neste momento, o risco de
deteção desta criminalidade é muito baixo. Seguindo este exemplo, o WCO lançou uma
iniciativa chamada “ENVIRONET”, que serve como uma ferramenta de comunicação
em tempo real global para ser usada na luta contra as ofensas criminais transfronteiriças.

QUimicos

Medicamentos, cosméticos, disruptores endócrinos e pesticidas todos caem na


ampla definição de químicos10.

Hoje em dia, pesticidas são químicos que causam grande preocupação. Sob as
bases do Regulamento 1107/200911, as suas substâncias ativas têm primeiro de ser
aprovadas de acordo com o procedimento descrito nos artigos 4 a 24, que também
envolve a EFSA (European Food and Safety Authority). Assim que aprovados, os
pesticidas podem ser colocados no mercado de certo EM depois de conseguirem uma
autorização específica (artigo 28), que é emanada quando o pesticida cumpre os
requisitos do artigo 29º. Os possíveis conteúdos desta autorização estão contemplados
no artigo 31º: incluem, por exemplo, a definição de plantas ou produtos derivados de
plantas e de áreas não-agrícolas (como por exemplo, áreas públicas, armazéns, etc) nas
quais, o pesticida pode ser usado e os requerimentos relacionados com a entrada deste
produto no mercado. O artigo 40º diz que o individuo, a quem tenha sido concedida
autorização nos termos do artigo 29º, pode pedir uma autorização para o mesmo
pesticida, o mesmo uso e sob práticas agrícolas comparáveis noutro EM sob o
procedimento de reconhecimento mútuo, onde o artigo 57º obriga os EM a fornecer
informação eletrónica para o publico nos pesticidas autorizados ou proibidos de acordo
com o Regulamento.

10
https://ec.europa.eu/environment/chemicals/index_en.htm
11
REGULAMENTO (CE) N.o 1107/2009 DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO de 21 de Outubro
de 2009 relativo à colocação dos produtos fitofarmacêuticos no mercado e que revoga as Directivas
79/117/CEE e 91/414/CEE do Conselho.
O comércio de pesticidas ilegais e falsificados gera um lucro global anual
estimado de 4.4 bilões de Euros e, em alguns países, mais de um quarto dos pesticidas
em circulação são deste tipo. Apesar da dimensão criminal ser bastante evidente, este
comércio é lidado com as unidades de contrafação, como por exemplo a Europol. Para
além das perdas económicas, outras consequências podem surgir deste particular tipo de
comércio. Os agricultores, como qualquer consumidor, procuram sempre o mais barato,
criando assim um incentivo para atividades criminosas desta natureza. O risco de se ser
detetado é muito baixo, e os ganhos podem ser bastante altos. Assim que as GCO
conseguirem introduzir pesticidas ilegais ou falsificados na UE, eles são vendidos
(muitas vezes online) a agricultores que os usarão nas suas plantações. Este fenómeno,
primeiramente, afeta a sociedade através da introdução de GCO. Segundo, devido à
falta de traceability, pesticidas ilegais são especialmente aptos para serem usados como
componentes em Home Made Explosives. Além disso, visto estes produtos não serem
testados nem autorizados, eles contêm substâncias tóxicas que prejudicam a saúde dos
agricultores e dos restantes utilizados. Por último, eles diminuem a qualidade do solo, e
por isso, do ambiente.

Os serviços de fronteiras desempenham um grande papel neste setor. A demanda


de pesticidas é maior (claro, dependendo do país) durante os primeiros meses do ano
(janeiro e fevereiro), permitindo ao serviço de fronteiras antecipar-se e criar postos de
controlo nas fronteiras do país. De acordo com a Europol, para mais eficientemente se
travar este tipo de tráfico, é necessário apoio adequado do setor privado e a criação de
outras agências regulatórias de pesticidas. Noutras palavras, cooperação entre as
autoridades competentes e os atores interessado.

Quanto a outros químicos, a chamada “fuel-oil fraud” tem de ser mencionado.


Essa fraude, que ocorre quando o petróleo é misturado com petróleo residual, sendo
particularmente perigoso para navios, pois a mistura pode danificar severamente
motores. Os donos dos navios tipicamente não estão cientes de qual a composição ilegal
do petróleo. O mesmo pode acontecer a danos de carros. Os consumidores podem ser
tentados a comprar este tipo de combustível pois é mais barato, devido à invasão fiscal.
Na maior pare dos países europeus, a maior parte do preço de um litro de diesel é
imposto. GOC podem estar envolvidos nestas atividades lucrativas. Eles são pagos por
comprar petróleo residual, fingindo lidar com a sua eliminação, para depois ilegalmente
reusá-lo e vende-lo. Os fumos resultantes da mistura são tóxicos, dependendo de quanto
petróleo residual foi usado. Motores a diesel não geram calor suficiente para incinerar
este petróleo.

Também devemos falar aqui das substâncias que causam a destruição da camada
de ozono. Os riscos de uma utilização descontrolada destes compostos são óbvios, dado
que a maior destruição da camada de ozono permite um aumento das radiações UV
incidentes no planeta, com drásticas consequências para a saúde humana, de entre as
quais se pode apontar um enfraquecimento do sistema imunitário, um
fotoenvelhecimento da pele, cataratas e cancro de pele. Plantas e ecossistemas ficam em
perigo também: pesquisas mostrar que UV-B pode significativamente diminuir a
capacidade reprodutiva dos organismos aquáticos, bem como um desenvolvimento
precoce destes. Para além disso, um aumento de exposição à radiação UV nas plantas
terrestes resulta numa redução na altura das plantas, redução dos seus rebentos e
redução na sua área de folhagem.

Deste tipo de componentes, os mais perigosos são os clorofluorcarbonetos


(CFCs) e os hidroclorofluorcarbonetos (HCFCs). O seu uso e produção já foi objeto de
legislação pela Convenção de Viena de 1985 para a Proteção da Camada de Ozono e,
especialmente, pelo Protocolo de Montreal sobre Substância que Destroem a Camada de
Ozono de 1987. Graças a estes tratados, o uso destas substâncias tem sido
progressivamente diminuído e outras alternativas têm vindo a ser introduzidas.

Substitues, também chamados de “Gases-F” (gases fluorados, dentre os quais se


podem destacar os hidrofluorocarboneto (HFCs)) têm sido desenvolvidos e promovidos.
Contudo, apesar de não danificarem a camada de ozono, eles podem causar um grande
efeito estufa. Com a intenção de reduzir estas emissões, a EU adotou o Regulamento nº
842/200612, que se revelou não efetiva e demasiado cara para implementar. Cinco anos
depois da sua adoção, emissões de HFC aumentaram em 20%. O Regulamento foi em
Janeiro de 2015 revogado por um novo (nº 517/201413) que deverá melhorar o regime
legal.

O comércio ilegal de gases que danificam a camada ozono é uma ameaça séria:
na maior parte do tempo, gases deste tipo são declarados como sendo substitutos desses

12
REGULAMENTO (CE) N.o 842/2006 DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO de 17 de Maio de
2006 relativo a determinados gases fluorados com efeito de estufa
13
REGULAMENTO (UE) N.o 517/2014 DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO de 16 de abril de
2014 relativo aos gases fluorados com efeito de estufa e que revoga o Regulamento (CE) n.o 842/2006
mesmos gases, prevaricando o sistema de licenciamento introduzido pelo Protocolo de
Montreal. Tendencialmente, as companhias de países ocidentais são os compradores
destas substâncias ilegais, produzidas em certos países em desenvolvimento. Isto deve
ao facto de ser concedido um maior prazo a estes países para arranjarem alternativas aos
gases destruidores da camada de ozono. Para além deste método, outros métodos de
contrabando usados pelos criminosos para comercializar estes gazes inclui uma
fraudulenta rotulação, esconder estes gazes em carros, navios ou camiões e fraude de
transbordo, que ocorre quando carregamentos de gazes destruidores da camada de
ozono destinados para marcados aprovados são desviados para o mercado negro. Este
método é possível porque existem rotas onde o controlo fronteiriço é menos exigente.
Em alguns países da EU, o comercialização ilegal de gazes destruidores da cama de
ozono é criminalizado e pode ser punido com pena de prisão.

Há 10 anos atrás, o comércio ilegal de gases destruidores da camada de Ozono


foi estimado representar entre 10 a 20% das trocas legítimas, o que perfaz 7.000 a
14.000 toneladas por ano, por um valor aproximado entre 25 a 60 milhões de dólares
americanos. Estudos mais recentes provam que esta tendência aumentou. Por exemplo,
o comércio ilegal de gases destruidores da camada de ozono na Ásia Oriental e no
Pacífico amonta agora 67.7 milhões de dólares americanos por ano. Mais uma vez, são
os serviços de fronteiras que desempenham o papel mais importante no combate a esta
criminalidade, devido especialmente ao sistema de controlo implementado pelo
Protocolo de Montreal. É portante crucial que os inspetores aduaneiros tenho o treino e
a informação necessária para implementar o sistema de licenciamento, o controlo legal
do comércio destes gases e os meios para prevenir o comércio ilegal.

Poluição

A Poluição é uma ameaça comum ao ambiente podendo afetar o solo, a água e o


ar. Na UE, a poluição sonora é também introduzida neste contexto, que tem vindo a ser
perspetivada como um problema crescente, causando, dentre outros danos, perturbação
do sono, um dos efeitos do somo na saúde que mais de 30% da população da UE pode
estar exposta.

A poluição tem uma área muito vaga de aplicação. Primeiro, a poluição está
muitas vezes ligada, ou é consequência de outros crimes ambientais. Segundo, vários
tipos de comportamento com diferentes ordens de magnitude podem ser sumarizados
sob o conceito de “poluição”. Tanto pode ser crime de poluição atirar uma beata para o
solo como despejo ilegal de lixo levado a cabo por uma fábrica. Obviamente só estes
últimos serão visados, ou seja, aqueles atos que excedem um certo grau de gravidade e
são considerados como crime na UE, apesar das diferentes sanções entre os EM para o
mesmo comportamento.

Quanto à contaminação do solo, a Comissão Europeia adotou a Estratégia


Temática para o Solo14 que aborda as diferentes ameaças e cria uma estratégia para
proteger o solo. O seu objetivo é parar e reverter o processo de degradação do solo,
assegurando que os solos europeus permaneçam saudáveis para futuras gerações e
continuem capazes de suportar os ecossistemas nos quais as nossas atividades
económicas e o nosso bem-estar aseentam.

Presentemente, não há nenhuma legislação na EU adota sobre este tópico.


Contudo, na maior dos EM, o despejo ilegal de lixo é punido pela lei criminal (seja o
seu agente uma pessoa natural ou jurídica). Em alguns países, a significante
deterioração ilícita de habitat protegido é considerado crime.

A proteção do solo é vital. Primeiramente, porque é o meio que nos permite


cultivar comida e animais, fibras naturais, madeira para combustível e construção,
suporta a vida selvagem (…) fornece a fundação onde podemos construir edifícios,
estradas e outras infraestruturas (…) é o motor biológico onde as plantas e animais
mortos e outros compostos orgânicos se decompõem, fornecendo nutrientes essenciais
para sustentar a vida (…) é um filtro natural que neutraliza certos tipos de poluição
transformando-os ou acumulando-os e absorvendo a sua toxicidade.

A degradação do solo também contribui para o processo continuo das alterações


climáticas. Na UE, as reservas de carbono no solo rondam as 75 toneladas de carbono, e
já foi dito que a opção mais efetiva para gerir o carbono presente no solo, tendo em vista
a mitigação da alteração climática, é preservar as reservas já existentes no solo, e,
especialmente, as grandes reservas em turfas e outros olhos com uma grande quantidade
de matéria orgânica.

14
Composto por 3 documentos: uma Comunicação, uma Proposta para Diretiva e uma Avaliação de
Impacto Ambiental, que contem uma analise económica, social e ambiental dos impactos das diferentes
opções que foram consideradas na fase preparatório da estratégia e das medidas adotadas pela
Comissão (https://ec.europa.eu/environment/soil/three_en.htm).
A degradação do solo também contribui para a poluição aérea, que muitas das
vezes ocorre devido aos efeitos do CO2 e emissões similares para a atmosfera. Existem
substâncias conhecidas por acelerar o processo de aquecimento global. Foi estimado
que, globalmente, à volta de 7 milhões de pessoas morreram como resultado da poluição
aéra, em 2012. A UE adotou já uma variedade de instrumentos com o objetivo de
reduzir as emissões nocivas para o ar15, e a nível internacional, o documento jurídico
mais importante é o Protocolo de Kyoto, assinado em 1997, tendo entrado em vigor em
2005 e está previsto expirar este ano de 2020. Um caso que demonstra a preocupação
crescente dada à poluição aérea é o Caso Fundação Urgenda v. Reino dos Países
Baixos (2014)16, em que a fundação exigiu que a Holanda reduzisse as emissões de
CO2, até 2020, com o objetivo de prevenir o riso de sérias mudanças climáticas.

A poluição das águas também deve ser brevemente considerada. A poluição


marítima advém, grande parte, do despejo de residuos e outros matérias no mar, devido
às vantagens económicas (reduzir os custos do processo de eliminação de residuos).
Este tipo de crime sofre as mesmes dificuldades que os outros (legislação complexa e
ambígua, discrepâncias das penas entre os EM e falta de coordenação entre as
autoridades nacionais). Este crime também não é fácil de investigar, uma vez que a
fonte da poluição é difícil de detetar e, quanto mais tempo passar da prática do facto
ilícito, mais difícil se torna de rastrear. Muitas vezes procuradores tentam acusar por
outros crimes que não poluição ambiental.

Em 2000, a UE adotou a Decisão-Quadro Sobre Água (2000/60) com o


propósito de estabelecer um sistema para a proteção da superfícies marítimas das ilhas,
das aguas transacionais, costeiras e subterrâneas (artigo 1º). Em adição, o Regulamento
nº 1406/2002 estabeleceu a EMSA – European Maritime Safety Agency. Ela tem a
tarefa de assegurar a prevenção, e assegurar também a resposta, a poluição marítima
causada por petróleo ou instalações de gás e poluição causada por navios. A EMSA
também detém o CleanSeaNet,, um serviço baseado na tecnologia de satélite para
detetar derrames petrolíferos e que oferece assistência aos EM para identificar e rastrear
poluição petrolífera na superfície marítima, monitorizar poluição acidental durante
emergências, contribuir para a identificação de poluidores.

15
Diretiva 2008/1/EC do Parlamento Europeu e do Conselho de 15 de Janeiro de 2008 sobre a
prevenção e controlo da poluição integrada; Diretiva 2008/50/EC do Parlamento Europeu e do Conselho
de 21 de Maio de 2008 sobre qualidade do ar ambiental e ar mais limpo para a Europa.
16
https://www.urgenda.nl/en/themas/climate-case/
A poluição proveniente de navios tem chamada a atenção da comunidade
internacional depois de alguns desastres, como o naufrágio do “Torrey Canyon”
[Cornwall, Inglatera] (1967), “Erika” [França] (1999) e “Prestige” (2002) O Prestige foi
um navio-petroleiro monocasco, que se afundou na costa galega, produzindo uma
imensa maré negra, que afetou uma ampla zona compreendida entre o norte de Portugal e
as Landas ou Vendée em França, tendo especial incidência na Galiza. O petroleiro,
construído em 1976, com um deslocamento de 42 mil toneladas, transportava 77 mil
toneladas de fuel oil ( filóil), óleo combustível pesado.. Em 1973 foi adotada a Convenção
Internacional para Prevenção da Poluição originária de Navios (MARPOL). Esta
convenção requer que todos os Estados cooperem na deteção de violações em navios e
na monitorização das descargas de embarcações. Ao nível da UE, esta ameaça foi lidada
com a Diretiva 2005/35/EC (emendada pela Diretiva 2009/123/EC), que impõem um
dever aos EM de sancionar com sanções penais a descarga de substâncias poluidoras de
navios.

A Poluição é uma ameaça séria para a saúde humana e para o ambienta, com
consequências sociais e económicas óbvias, mas também em termos de competição
injusta, declínio do preço de propriedades e de negócios locais em áreas massivamente
poluídas. Os custos para eliminar as consequências nefastas da poluição são bastante
altos. Em alguns países, para evitar um excessivo ónus para as finanças governamentais,
a legislação recorre ao princípio do poluidor pagador, que está hoje excretado no artigo
191 TFUE. O princípio, em termos simples, requer que o poluidor suporte as despesas
de prevenir, controlar e eliminar a poluição. Apesar de isto ser um princípio tipicamente
civil, ele pode ser aplicado também na área do direito penal, como já foi apontado.
Autoridades administrativas podem ser encarregues de lidar com problemas específicos
ligados à poluição (como acontece na Alemanha com a poluição dos rios), mas as regras
na matéria variam de país para país.

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