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CTS – Escola de Ensino Técnico e Superior

Curso: Técnico em Radiologia


Disciplina: Ressonância Magnética
Professora: Juliana Rodrigues

RM – Ressonância Magnética

Wildenberg Machado Pereira

Sobral, Março de 2011


 A Descoberta da RM

As primeiras publicações a respeito do fenômeno da ressonância magnética


(RM) foram feitas por dois grupos de cientistas americanos independentes: Felix Bloch
e colaboradores, da Universidade de Stanford, e Edward Purcell e colaboradores, da
Universidade de Harvard. Em 1952, ambos ganharam o Prêmio Nobel de Física por esta
descoberta que basicamente reside no fato de que núcleos precessando em uma faixa
fina de radiofreqüência podem emitir um sinal capaz de ser detectado por um receptor
de rádio.
O valor de tal descoberta foi notado alguns anos mais tarde quando foi
demonstrado que a freqüência precisa, com a qual ocorre a RM, é uma função do meio
químico específico, no qual o núcleo reside (chemical shift). Durante os anos 50 e 60, a
RM foi utilizada como um método analítico por Químicos e Físicos, para determinação
das estruturas químicas, configuração atômica e processos de reação.
A primeira aplicação biológica foi proposta por Jasper Johns que obteve sinais
de animais vivos somente em 1967. Entretanto, foi Paul Lanterbur, em 1973, quem
modificou os espectrômetros para fornecer sinais espaciais codificados através da
variação linear do campo magnético e obtiveram as primeiras imagens de um objeto
não homogêneo, dois tubos de água, as primeiras demonstrações de imagens por RM.
A partir daí, a evolução da RM aplicada à medicina foi rápida.
As primeiras imagens humanas foram descritas por Sir Peter Mansfield em
1976, focalizando-se mais nas mãos e no tórax e, posteriormente, em 1977, na cabeça
e no abdômen. Em 1983, depois de contínuas melhorias no software e hardware, os
aparelhos de RM de corpo inteiro apresentavam um sistema capaz de realizar exames,
com imagens de ótima resolução espacial, em poucos minutos.
 Tipos de Bobina

1. Bobinas de volume ou transceptoras:


Transmitem e recebem pulsos de radiofreqüência. A maioria são bobinas de
quadratura, que possuem 2 pares de bobinas para transmitir e receber o sinal do
tecido. São as bobinas de cabeça, corpo, quadratura e extremidades.

2. Bobinas de arranjo em fase ou PHASE ARRAY:


Constituídas por bobinas e receptores múltiplos. O sinal captado pelo receptor
de cada segmento é combinado para formar a imagem. Tem a vantagem de uma
bobina pequena, pela melhor relação de sinal e ruído, e a vantagem de uma bobina de
volume para estudar regiões maiores. Geralmente são utilizadas para estudos da
coluna vertebral.

3. Bobinas de superfície:
Apenas recebem o sinal dos tecidos. São utilizadas nas superfícies cutâneas.
Imagens adquiridas com bobinas de superfície têm ótima relação/ruído, possibilitando
adquirir imagens com maiores detalhes anatômicas.

 Contraste na RM

São substâncias utilizadas para aumentar o contraste entre as patologias e os


tecidos normais. Há meios de contrastes em RM que afetam seletivamente os tempos
de relaxamento T1 e/ou T2. Já foi demonstrado que os meios de contraste são úteis na
detecção e caracterização de tumores, infecções, infartos, inflamações e lesões pós
traumáticas.

1. Gadolínio
É uma substância paramagnética utilizada como meio de contraste em RM. O
gadolínio é usado na rotina clínica ligado a carreadores ou quelantes químicos como o
DOTA (ácido oxaltetra-acético) ou DTPA (ácido dietil-enetriamino-penta-acético).
A atuação é idêntica ao meio de contraste utilizado na radiologia convencional
e na TC, concentrando-se nos tecidos vascularizados e sendo eliminado via renal.
Via de Administração
 Intravenosa, dose padrão é de 0,2 ml por peso corporal
 Via de Eliminação
 Via Renal
Efeitos Colaterais
 Náuseas em 4%
 Vômitos 2%
 Hipotensão, distúrbios gastrintestinais menos de 1%
Contra Indicação
 Gravidez e Lactação
 Pacientes renais crônicos

2. Água
A água é endógena, logo não há via de administração, eliminação, contra-
indicações e efeitos colaterais. Utilizamos o sinal do próton da água retida em ductos e
vesículas.
Exs.: Colangio RM e Uro RM

3. Sangue
O sangue é endógeno, logo também não há via de administração, eliminação,
contra-indicações e efeitos colaterais. O princípio é baseado nas diferente
concentrações de oxigênio nas regiões encefálicas ativadas, esta é a base da
Ressonância Funcional .
Em condições normais temos dois tipos de estado de oxigenação sanguíneo,
isto é, hemoglobina com saturação total chamada de Oxi-hemoglobina e Hb com
saturação parcial chamada Desoxi-hemoglobina.
Nas áreas ativadas há um aumento do fluxo de sangue, logo há um aumento no
consumo de oxigênio, este aumento não é proporcional à oferta, fazendo com que
haja um sobra de oxigênio, isto é, sobra de oxi-hemoglobina gerando assim um maior
sinal de RM.
4. Ferro (Ferridex)
Meio de contrate a base de óxido ferroso associado à dextrose, nos dias de
hoje é pouquíssimo usado devido seus efeitos colaterais e contra-indicações e
principalmente devido a sua limitação do uso; usa-se normalmente quando a área de
estudo e a região gastrintestinal.
Via de Administração
 Intravenosa, dose recomendada é de 0,05 ml por peso
 Via de Eliminação
 Via Renal
Efeitos Colaterais
Dores leves à intensas na costas, pernas, pescoço e alguns casos na cabeça,
diarréia, vômito e náuseas
Contra Indicação
Pacientes com história de hipersensibilidade e alergia ao ferro.

 Artefatos na RM

É importante conhecer os diversos tipos de artefatos de imagem, pois os


mesmos reduzem a qualidade das imagens e podem simular uma lesão. Para se obter
um exame padrão, livre de artefatos deve-se conhecer, evitar e corrigir os mesmos.
Os principais tipos de artefatos são:

1. Artefatos de movimento
É o tipo mais comum de artefato.
Pode ser secundário a movimentação voluntária ou involuntária, respiração,
deglutição, peristaltismo intestinal, pulsação arterial ou cardíaca.
A movimentação voluntária ou involuntária é mais comum em crianças e
idosos.
Para reduzir a chance de que haja movimentação deve-se conversar com o paciente,
verificar um posicionamento confortável e se utilizar de métodos de imobilização
como pesos e "tiras" de restrição.

2. Artefatos por erro de protocolo


Os artefatos por erro de protocolo são: saturação, dobra, interferência de
radiofrequência, shading e volume parcial.
Artefato de saturação: A saturação causa perda de sinal devido à sobreposição
de cortes. Quando imagens com diferentes obliquidades são feitas
simultaneamente, certas porções de tecido vão ser excitadas simultaneamente,
fazendo com que a porção de tecido sobreposta seja saturada, e com isso emita um
sinal muito baixo.
Artefato de dobra: Neste tipo de artefato, a anatomia fora do FOV (na direção
da fase de codificação) é superimposta dentro do FOV. Esta área anatômica não
incluída é dobrada para dentro do FOV, no lado oposto da imagem.
Artefato shading: Este tipo de artefato se caracteriza por perda progressiva de
sinal de estruturas localizadas distantes das bobinas de superfície. Estes artefatos
ocorrem porque a intensidade de sinal de cada voxel de tecido é proporcional à força
da RF naquele local.
Artefato de volume parcial: Este tipo de artefato ocorre quando os voxels são
relativamente grandes em relação ao tamnho da estrutura analisada.

3. Artefato de truncagem
O artefato de truncagem aparece como estriações paralelas, sendo mais visível
em interfaces de tecido onde há uma mudança de sinal abrupta e bem definida.
Este artefato ocorre quando o número de passos de codificação de fase de alta
resolução espacial é sub-amostrado, e desta forma, é incapaz de reproduzir de
maneira verídica o detalhamento anatômico verdadeiro da imagem original.
A sub-amostragem insuficiente se refere à amostragem obtida na direção da
codificação de fase.
Na prática este artefato é mais comum na interface entre gordura e músculo e
entre o LCR e a medula.
4. Artefato de desvio químico
O artefato de desvio químico acontece quando os prótons na gordura serem
mapeados erroneamente em relação à protons na água.
Devido ao fato de que a diferença na frequência de precessão entre prótons na
água e na gordura ser muito pequena, o sinal de diferentes estruturas químicas pode
ocupar diferentes posições na imagem, mesmo que os sinais se originem de uma
mesma posição no espaço. Isto é conhecido como desvio químico.
Ele se manifesta com áreas de alto sinal onde a água e a gordura se sobrepõem,
e áres de baixo sinal onde os prótons na gordura e na água se separam.
Pode ocorrer nos platôs vertebrais, gordura epidural, ligamento amarelo,
tumores gordurosos e em estruturas que contenham líquido circundado por gordura
(cistos).
Este artefato é mais evidente em aparelhos de alto campo magnético.

5. Artefato de susceptibilidade magnética


Susceptibilidade magnética se refere à propriedade de um material de se tornar
magnetizado quando exposto a um campo magnético.
Artefato de susceptibilidade magnética ocorre na interface de estruturas com
susceptibilidades magnéticas diferentes.
A distorção local resultante do campo magnético produz registro espacial
errôneo.

 Cuidados na sala de RM

Cada clínica e hospital dispõem de seus próprios procedimentos, entretanto,


todos os exames de RM têm características comuns:
Pede-se que você use roupas confortáveis, sem botões metálicos ou zíper,
porque objetos metálicos afetam a qualidade das imagens. Em alguns casos, você será
orientado para trocar sua roupa por um avental hospitalar.
Pede-se que você retire qualquer jóia, maquilagem, prótese metálica ou
cartões magnéticos.
Você deverá informar, ao médico ou técnico que opera o equipamento, se usa
marca-passo, placa de metal, pino ou qualquer outro implante metálico, válvula
cardíaca artificial, grampo de aneurisma ou se já foi ferido durante o serviço militar ou
se já trabalhou diretamente em contato com metais. Qualquer peça metálica no corpo
pode causar desconforto ou lesão quando em contato com o forte campo magnético
do equipamento. Informe também ao seu médico se você estiver grávida.

Como se preparar?
Geralmente, a maioria dos hospitais entrega ao paciente um questionário que
deverá ser preenchido antes do exame. É muito importante que isto seja feito com a
maior precisão possível. Na maioria das vezes, você o preencherá junto com o seu
médico ou especialista.
A necessidade de precisão nas respostas é vital, porque existem vários aspectos
do seu corpo que podem impossibilitá-lo de realizar o exame de RM, como, por
exemplo, implantes de cirurgias prévias, placas de metal, marcapasso etc. Após o
questionário, você pode discutir todo o procedimento do exame com o técnico e mais
uma vez confirmar todas as informações do formulário.
Para se fazer um exame de RM é necessária pouca preparação. Evitar comer e
beber aproximadamente 4 horas antes será útil se você for fazer o exame na região
abdominal ou pélvica. Também é aconselhável ir ao banheiro antes, para que não haja
a necessidade de interromper o exame.
Não é preciso interromper qualquer medicação que tenha sido prescrita
anteriormente.
Se desejar pode trazer um membro da família ou amigo para acompanhar o
exame. Entretanto, ambos não poderão entrar na sala de exame carregando objetos
de metal.
O ponto principal nos preparativos para um exame de RM é não se preocupar.
Ele dura pouco tempo, é indolor e é um excelente método diagnóstico.
 Contra-indicações à Ressonância Magnética

Apesar da Ressonância Magnética (RM) ser um método de imagem bastante


seguro e que não emite radiação ionizante, ela não é 100% segura, existindo algumas
contra-indicações à sua realização.
A possibilidade de realização ou não do exame depende da relação custo-
benefício ao paciente (o quanto o exame pode ajudar versus risco).

Clipes de aneurisma cerebral


Certos tipos de clipes de aneurisma cerebral (ex: feitos de aço inoxidável 405)
são uma contra-indicação absoluta ao uso de RM porque forças excessivas
magneticamente induzidas podem deslocar estes clipes e causar danos graves ou até a
morte.
Só um caso de fatalidade clipe-relacionado foi reportado na literatura. Este
incidente infeliz foi o resultado de informação errônea sobre o tipo de clipe de
aneurisma que estava presente no paciente.

Marca-passo cardíaco
Os marca-passos cardíacos podem apresentar risco aos pacientes, se
submetidos à RM, por vários mecanismos:
1. Movimento do gerador de pulso implantável ou movimento dos fios;
2. Modificação temporária ou permanente da função do aparelho;
3. Disparo inapropriado do dispositivo;
4. Aquecimento excessivo dos fios;
5. Indução de corrente nos fios;
Classicamente, os marca-passos são considerados contra-indicação à RM.
Entretanto, têm surgido na literatura médica, dados sugerindo que determinados tipos
de marca-passo (mais recentes) e determinados tipos de paciente possam ser
submetidos à RM (pacientes não dependentes são aqueles que têm o marca-passo
implantado, mas que não dependem constantemente do mesmo. O marca-passo entra
em ação apenas em caso de necessidade).

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