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TEORIA GERAL DO CRIME

O Crime é um fenômeno social, disso nenhum de vocês dúvida. Entretanto, como conceituar o crime juridicamente?

O Crime pode ser entendido sob três aspectos: Material, legal e analítico.

Sob o aspecto material, crime é toda ação humana que lesa ou expõe a perigo um bem jurídico de terceiro, que,
por sua relevância, merece a proteção penal. Esse aspecto valoriza o crime enquanto conteúdo, ou seja, busca
identificar se a conduta é ou não apta a produzir uma lesão a um bem jurídico penalmente tutelado. Assim, se uma
lei cria um tipo penal dizendo que é proibido chorar em público, essa lei não estará criando uma hipótese de crime
em seu sentido material, pois essa conduta NUNCA SERÁ crime em sentido material, pois não produz qualquer
lesão ou exposição de lesão a bem jurídico de quem quer que seja. Assim, ainda que a lei diga que é crime,
materialmente não o será.

Sob o aspecto legal, ou formal, crime é toda infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou detenção, nos
termos do art. 1° da Lei de Introdução ao CP. Percebam que o conceito aqui é meramente legal. Se a lei cominar a
uma conduta a pena de detenção ou reclusão, cumulada ou alternativamente com a pena de multa, estaremos
diante de um crime. Por outro lado, se a lei cominar a apenas prisão simples ou multa, alternativa ou
cumulativamente, estaremos diante de uma contravenção penal.

Esse aspecto consagra o SISTEMA DICOTÔMICO adotado no Brasil, no qual existe um gênero, que é a infração penal,
e duas espécies, que são o crime e a contravenção penal.

O crime pode ser conceituado, ainda, sob um aspecto analítico, que o divide em partes, de forma a estruturar seu
conceito. A Teoria Tripartite define o crime como a prática de uma conduta típica, antijurídica e culpável. Uma vez
que esses elementos são necessariamente cumulativos para a configuração do delito, entende-se que qualquer
circunstância que elimine um desses aspectos torna o crime inexistente.
FATO TÍPICO

O fato típico também se divide em elementos, são eles:

✓ A conduta é “subtrair”, ou seja, qualquer ato capaz de subtrair o bem móvel.


✓ O resultado é a efetiva subtração.
✓ O nexo causal é o que liga a conduta ao resultado, ou seja, o que liga o ato de subtrair à efetiva subtração.
✓ A tipicidade é a adequação da conduta ao artigo 155 do CP. A tipicidade (material) é o desvalor da conduta.
Conduta

Duas são as principais teorias que buscam explicar a conduta: Teoria causal-naturalística (ou clássica) e finalista.

Para a teoria causal-naturalística, conduta é a ação humana. Assim, basta que haja movimento corporal para que
exista conduta. Esta teoria está praticamente abandonada, pois entende que não há necessidade de se analisar o
conteúdo da vontade do agente nesse momento, guardando esta análise (dolo ou culpa) para quando do estudo
da culpabilidade. Assim, para a teoria causalista a conduta seria um simples processo físico, um processo físico-
causal, desprovido de qualquer finalidade por parte do agente. A finalidade seria objeto de análise na culpabilidade.

EXEMPLO: José está conversando com Maria na rua, quando Paulo dá um susto em José que, mediante um
movimento reflexo, acerta um tapa em Tiago, que passava pelo local, causando-lhe lesão corporal leve. Neste caso,
para a teoria causalista, o importante seria saber se foi o movimento corporal de José que provocou o resultado.
No caso, de fato foi José quem provocou a lesão corporal em Tiago. Assim, para a teoria causalista, neste exemplo
teríamos uma conduta penalmente relevante, já que o movimento corporal de José provocou a lesão em Tiago.
Para esta teoria, portanto, seria irrelevante, neste momento, saber se José agiu com dolo ou culpa, o que só seria
analisado futuramente, para definir se havia ou não culpabilidade.

Para a teoria finalista a conduta humana é a ação (positiva ou negativa) voluntária dirigida a uma determinada
finalidade. Assim: CONDUTA = VONTADE + AÇÃO OU OMISSÃO

Logo, retirando-se um dos elementos da conduta, esta não existirá, o que acarreta a inexistência de fato típico. É
necessária, portanto, a conjugação do aspecto objetivo (ação ou omissão) e do aspecto subjetivo (vontade).

EXEMPLO: João olha para Roberto e o agride, por livre espontânea vontade. Estamos diante de uma conduta (quis
agir e agrediu) dolosa (quis o resultado). Agora, se João dirige seu carro, vê Roberto e sem querer, o atinge, estamos
diante de uma conduta (quis dirigir e acabou ferindo) culposa (não quis o resultado).

Vejam que a “vontade” a que se refere como elemento da conduta é uma vontade de meramente praticar o ato
que ensejou o crime, ainda que o resultado que se pretendesse não fosse ilícito. Quando a vontade (elemento da
conduta) é dirigida ao fim criminoso, o crime é doloso. Quando a vontade é dirigida a outro fim (que até pode ser
criminoso, mas não aquele) o crime é culposo. Esta é a teoria adotada em nosso ordenamento jurídico.

Ora, se a lei prevê que o erro sobre um elemento do tipo exclui o dolo e a culpa, se inevitável, ou somente o dolo,
se evitável, é porque entende que estes elementos subjetivos estão no tipo (fato típico), não na culpabilidade.
Assim, a conduta é, necessariamente, voluntária.
A grande evolução da teoria finalista, portanto, foi conceber a conduta como um “acontecimento final”, ou seja,
somente há conduta quando o agir de alguém é dirigido a alguma finalidade (seja ela lícita ou não).

Obs.: Para a Teoria Finalista dolo e culpa estão no “fato típico” (tipo). Muitas questões falam que o dolo e a culpa
estão na culpabilidade e isso está errado (para os finalistas).

Retomando o conceito de conduta, podemos apontar alguns elementos centrais: comportamento humano;
voluntário; consciente; dirigido a uma finalidade.

O que isso quer dizer?

Pelos elementos centrais da conduta, chegamos a algumas conclusões:

✓ Se o comportamento não for humano, não haverá conduta.


✓ Se o comportamento não for voluntário nem consciente, também não haverá conduta.
✓ No mesmo sentido, se o comportamento não for dirigido a uma finalidade, não haverá conduta.
Professor, então o que acontece se não houver conduta? Não havendo conduta, não haverá fato típico e, portanto,
não haverá crime. Isso porque o crime pressupõe a existência do fato típico e o fato típico pressupõe a existência
de conduta.

É interessante citar algumas situações em que não há conduta (e, portanto, não há crime):

✓ Caso fortuito/força maior → tais eventos são imprevisíveis e inevitáveis. Eles não derivam de um comportamento
humano.
✓ Estados de inconsciência (sonambulismo, hipnose, etc.) → como o nome já diz, tais estados são derivados de
situações nas quais a pessoa não está consciente.
✓ Coação Física irresistível → na coação física irresistível, não há conduta voluntária. Ou seja, o agente não pratica
o fato de forma voluntária.
Feita uma introdução sobre o elemento “conduta”, temos que avançar no estudo. Agora me parece o melhor
momento para falar de dolo e culpa, pois são elementos que estão dentro da conduta, segundo a Teoria Finalista.
Eles são chamados de elementos subjetivos da conduta.
Dolo
O Dolo, assim como quase tudo nessa parte da matéria, possui algumas teorias para explicá-lo. É importante você
saber a Teoria da Vontade e a Teoria do Assentimento.
Teoria da Vontade → Para ter dolo, o agente deve querer efetivamente produzir o resultado ou praticar a conduta.
Teoria do Assentimento/Consentimento → O agente não quer necessariamente produzir o resultado, mas não se
importa se ele ocorrer. Tal teoria é manifestada pela indiferença do autor no caso concreto. O autor prevê que o
resultado pode ocorrer e não se importa com isso. É o “tanto faz”.
O CP adotou ambas as teorias. Veja:
Art. 18 - Diz-se o crime:
I - Doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;
Querer o resultado é o dolo direto (teoria da vontade). Assumir o risco de produzir o resultado é o dolo eventual
(teoria do assentimento/consentimento).
O dolo direto é dividido em dolo de primeiro grau e dolo de segundo grau.
No primeiro grau, o agente quer efetivamente o resultado. O segundo grau, por sua vez, é uma consequência
necessária do meio utilizado para atingir o resultado.
Exemplo: Tício quer matar Caio. Para isso, coloca veneno na caixa de água do prédio em que ele mora. Caio e alguns
moradores do prédio acabam falecendo. Em relação a Caio, houve dolo direto de primeiro grau (Tício quis o
resultado). Em relação aos moradores, houve dolo direto de segundo grau (foi uma consequência do meio
utilizado).
O dolo eventual, por sua vez, é espécie de dolo indireto. O dolo indireto engloba o eventual e o alternativo.
O eventual, como visto, é o ato de assumir o risco de produzir o resultado. No dolo alternativo, por sua vez, a
conduta tem o objetivo de atingir um ou outro resultado, não importando qual.
Exemplo: Tício quer lesionar ou matar Caio. Para isso, dispara sua arma de fogo. Note que Tício quer uma coisa
(lesionar) ou outra (matar).
Culpa
Falar em “culpa” é falar nos elementos imprudência, negligência ou imperícia, que são chamadas de “modalidades
de culpa”. Veja como o CP trata do assunto:
Art. 18 - Diz-se o crime:
II - Culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia.
Mas o que isso quer dizer?
Imprudência → É o excesso na conduta. Na prática, o agente age de forma afoita, ou seja, precipitada.
Negligência → É a omissão na conduta. Na prática, o agente deveria agir de uma forma e não agiu. Aqui, falamos
em omissão do agente.
Imperícia → É a inobservância das regras técnicas de determinada profissão. Ou seja, o profissional deve realizar
algum procedimento de acordo com normas técnicas, mas deixa de utilizá-las.
Obs.: Os crimes só podem ser punidos a título de culpa se houver previsão na lei. Trata-se do princípio da
excepcionalidade/tipicidade, previsto no artigo 18, parágrafo único do CP:
Art. 18, Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime,
senão quando o pratica dolosamente.
Para se falar em crime culposo, é necessário haver alguns elementos:
▪ Conduta inicial voluntária → O agente pratica uma conduta de forma voluntária.
▪ Violação do dever objetivo de cuidado → O agente, no caso concreto, não tomou o cuidado que deveria tomar.
▪ Resultado involuntário → O resultado não deve ser o objetivo do agente. Se for, teremos o dolo, não a culpa.
▪ Nexo causal → Vimos que o nexo causal é o que “liga” a conduta ao resultado.
▪ Previsibilidade objetiva → O resultado deve ser previsível. Em outras palavras, o “homem médio” deve ser capaz
de prever o resultado como possível.
▪ Ausência de previsão →No caso concreto, o agente não prevê o resultado que era previsível.
▪ Tipicidade →A conduta deve ser adequada ao tipo penal (deve ser previsto como crime na modalidade culposa).
Crime preterdoloso/preterdoloso/preterintencional
O crime preterdoloso nada mais é do que dolo na conduta e culpa no resultado (dolo no antecedente + culpa no
resultado consequente).
Exemplo (caso concreto): Há alguns anos, em Ipanema/RJ, um grupo de argentinos foi agredido por um grupo de
brasileiros. O caso ficou famoso porque, após receber um soco, o cidadão argentino caiu e bateu a cabeça no chão,
vindo a falecer. Na época, falaram em homicídio doloso, ou seja, disseram que o brasileiro teve intenção de matar
o argentino ou assumiu o risco de matá-lo. No entanto, apesar de eu não ter lido os autos do inquérito/processo,
essa conclusão não me parece a mais adequada.
Mas o que seria então, professor?
O brasileiro, claramente, quis agredir o argentino com um soco. Isso está cristalino pelas imagens que foram
veiculadas na mídia. Portanto, houve dolo na conduta de desferir um soco (dolo no antecedente). Até aqui, houve
uma lesão corporal.
No entanto, a morte do argentino, na minha opinião, não foi o resultado que o agente quis. Em regra, quem desfere
um soco em uma festa não quer matar a vítima, quer lesioná-la. O que ocorreu foi um resultado que o brasileiro
não queria e nem assumiu o risco de produzir.
Dessa forma, em um primeiro momento, achei que houve culpa em relação ao resultado (culpa no consequente).
O brasileiro deveria ter respondido (se não respondeu – não acompanhei o desfecho do caso) por lesão corporal
seguida de morte. Portanto, há dolo no antecedente (conduta) e culpa na consequência (morte).

Resultado naturalístico

O resultado, de acordo com a teoria adotada, pode ser naturalístico ou jurídico.

O resultado jurídico (teoria jurídica/normativa) é simplesmente a violação da lei penal e está presente em todos
os crimes. Ou seja, sempre que o sujeito cometer um crime, haverá resultado jurídico, pois a lei penal foi violada.

Já o resultado naturalístico (teoria naturalística) nada mais é do que o resultado previsto em lei. É a modificação
que a conduta causa no mundo exterior.

O resultado naturalístico é a modificação do mundo real provocada pela conduta do agente. Entretanto, apenas
nos crimes chamados materiais se exige um resultado naturalístico. Nos crimes formais e de mera conduta não há
essa exigência.

Os crimes formais são aqueles nos quais o resultado naturalístico pode ocorrer, mas a sua ocorrência é irrelevante
para o Direito Penal. Já os crimes de mera conduta são crimes em que não há um resultado naturalístico possível.
Vou dar um exemplo de cada um dos três:

⇒ Crime material – Homicídio. Para que o homicídio seja consumado, é necessário que a vítima venha a óbito. Caso
isso não ocorra, estaremos diante de um homicídio tentado (ou lesões corporais culposas);

⇒ Crime formal – Extorsão (art. 158 do CP). Para que o crime de extorsão se consume não é necessário que o
agente obtenha a vantagem ilícita, bastando o constrangimento à vítima;

⇒ Crime de mera conduta – Invasão de domicílio. Nesse caso, a mera presença do agente, indevidamente, no
domicílio da vítima caracteriza o crime. Não há um resultado previsto para esse crime. Qualquer outra conduta
praticada a partir daí configura crime autônomo (furto, roubo, homicídio, etc.).
Além do resultado naturalístico (que nem sempre estará presente), há também o resultado jurídico (ou normativo),
que é a lesão ao bem jurídico tutelado pela norma penal. Esse resultado sempre estará presente! Cuidado com
isso! Assim, se a banca perguntar: “Há crime sem resultado jurídico? ”A resposta é NÃO!

Portanto, nos crimes materiais:

Fato Típico → Conduta + Resultado + Nexo causal + Tipicidade

E nos crimes formais e de mera conduta?

Essa é fácil, professor, é só retirar o elemento “resultado”, certo? Parcialmente certo.

Na verdade, retira-se o “resultado” (pois ele não é necessário para a consumação) e o “nexo causal”, pois este
elemento é que liga a conduta ao resultado. Se não há resultado, não precisa de uma ligação entre ele e a conduta.

Portanto, nos crimes formais e de mera conduta:

Fato Típico → Conduta + Tipicidade

Nexo de Causalidade

O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa
a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

Assim, o nexo de causalidade pode ser entendido como o vínculo que une a conduta do agente ao resultado
naturalístico ocorrido no mundo exterior. Portanto, só se aplica aos crimes materiais!

Algumas teorias existem acerca do nexo de causalidade:

I. TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DOS ANTECEDENTES (OU DA CONDITIO SINE QUA NON) – Para esta teoria, é
considerada causa do crime toda conduta sem a qual o resultado não teria ocorrido. Assim, para se saber se uma
conduta é ou não causa do crime, devemos retirá-la do curso dos acontecimentos e ver se, ainda assim, o crime
ocorreria. O inconveniente claro desta teoria é que ela permite que se coloquem como causa situações absurdas,
como a venda da arma ou até mesmo o nascimento do agente, já que se os pais não tivessem colocado a criança
no mundo, o crime não teria acontecido. Isso é um absurdo!

Assim, para solucionar o problema, criou-se outro filtro que é o dolo. Logo, só será considerada causa a conduta
que é indispensável ao resultado e que foi querida pelo agente. Assim, no exemplo anterior, o vendedor da arma
não seria responsabilizado, pois nada mais fez que vender seu produto, não tendo a intenção (nem sequer
imaginou) de ver a morte de Júlio. Nesse sentido:

CAUSA = conduta indispensável ao resultado + que tenha sido prevista e querida por quem a praticou

Podemos dizer, então, que a causalidade aqui não é meramente física, mas também, psicológica. Essa foi a teoria
adotada pelo Código Penal, como regra.

II. SUPERVENIÊNCIA DE CAUSA RELATIVAMENTE INDEPENDENTE → O artigo 13, parágrafo 1º nos diz que uma
causa posterior (superveniente) que não guarde relação de previsibilidade (relativamente independente) com o
caso concreto não pode ser imputada ao autor da conduta.
Exemplo: Caio, com intenção de matar, atira em Mévio, que é socorrido e não corre risco de morrer. No entanto,
ao fazer exames no hospital, encontra um antigo desafeto que o mata.

Note que Mévio não corria risco de morrer em decorrência do tiro dado por Caio. No entanto, estava no hospital
por causa de Caio.

Sendo assim, Caio responde pelo homicídio? Não. Note que não era previsível que Mévio morresse por encontrar
um antigo desafeto. Tal situação não está no desdobramento normal dos fatos.

Sendo assim, temos uma causa superveniente relativamente independente. Veja como CP traz o assunto:
Art. 13, § 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só,
produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.
É necessário falar do final do artigo. Por “fatos anteriores” entende-se a conduta de Caio ter atirado. Dessa forma,
ele responde por aquilo que praticou, ou seja, tentativa de homicídio.

Em outras palavras, o homicídio consumado não é imputado a Caio.

Exemplo 2: Caio, com intenção de matar, atira em Mévio, que morre em cirurgia.
Nesse caso, a morte foi um desdobramento normal da conduta de Caio. Portanto, ele responde por homicídio
consumado.
Exemplo 3: Caio, com intenção de matar, atira em Mévio, que morre em decorrência de infecção hospitalar.
Nesse caso, de acordo com a jurisprudência, a morte por infecção foi um desdobramento normal da conduta de
Caio. Portanto, ele responde por homicídio consumado.
Concausas absolutamente independentes
É aquela totalmente desvinculada da conduta do agente que, por si só, produzirá o resultado. Podem ser
preexistentes, concomitantes ou supervenientes.
Concausas relativamente independentes
É aquela que possui alguma ligação com conduta do agente, mas que, por si só, produzirá o resultado. Podem ser
preexistentes, concomitantes ou supervenientes.

TIPICIDADE

Inicialmente, destaca-se que a tipicidade é o quarto elemento do fato típico, presente em todo e qualquer crime.
Em suma, não há crime sem tipicidade. Modernamente, é pacífico que a chamada tipicidade penal é igual a
tipicidade formal mais a tipicidade material.

A tipicidade formal nada mais é que a adequação da conduta do agente a uma previsão típica (norma penal que
prevê o fato e lhe descreve como crime). Assim, o tipo do art. 121 é: “matar alguém”. Portanto, quando Marcio
esfaqueia Luiz e o mata, está cometendo fato típico (tipicidade formal), pois está praticando uma conduta que
encontra previsão como tipo penal.

Não há muito o que se falar acerca da tipicidade formal. Basta que o intérprete proceda ao cotejo entre a conduta
praticada no caso concreto e a conduta prevista na Lei Penal (subsunção). Se a conduta praticada se amoldar àquela
prevista na Lei Penal, o fato será típico, ou seja, haverá adequação típica, por estar presente o elemento
“tipicidade”. Por fim, temos ainda a tipicidade material, que é a ocorrência de uma ofensa (lesão ou exposição a
risco) significativa ao bem jurídico. Assim, não haverá tipicidade material quando a conduta, apesar de
formalmente típica (prevista na Lei como crime), não for capaz de afetar significativamente o bem jurídico
protegido pela norma. Um exemplo disso ocorre nas hipóteses em que há aplicação do princípio da insignificância.

Tipicidade conglobante é uma teoria jurídica criada visando explicar a tipicidade (elemento integrante do fato
típico) para o direito penal. Essa teoria basicamente entende que não se pode considerar como típica uma conduta
que é fomentada ou tolerada pelo próprio Estado. Em outras palavras, o que é permitido, fomentado ou
determinado por uma norma não pode estar proibido por outra. O juízo de tipicidade deve ser concretizado de
acordo com o sistema normativo considerado em sua globalidade. Se uma norma permite, fomenta ou determina
uma conduta não pode estar proibido por outra.

Até então a tipicidade era compreendida como: tipicidade formal (descrição legal do fato típico) e tipicidade
material (ofensividade da conduta ao bem juridicamente tutelado). Zaffaroni criou o conceito de tipicidade
conglobante, sendo entendida como a junção da tipicidade material com a antinormatividade.
No Brasil, a teoria passou a ser bem recebida por outros juristas locais. Rogério Greco passou a explicar a teoria da
tipicidade conglobante, defendendo que a tipicidade penal se divide em tipicidade formal e tipicidade conglobante,
sendo a primeira a mera subsunção da conduta do agente a um fato descrito em uma lei penal de forma abstrata.
Ainda de acordo com Greco, contudo, para que o fato seja típico, seria necessária ainda a constatação da tipicidade
conglobante que, por sua vez, é composta da antinormatividade e da tipicidade material.

SITUAÇÕES QUE CAUSAM A EXCLUSÃO DA ILICITUDE

Iter criminis

O iter criminis é o “caminho do crime”, ou seja, o itinerário percorrido pelo agente até a consumação do delito. O
iter criminis pode ser dividido em 04 etapas: Cogitação, Atos preparatórios, Atos executórios e Consumação.

Cogitação: É a representação mental do crime na cabeça do agente, a fase inicial, na qual o agente idealiza como
será a conduta criminosa. Trata-se de uma fase interna, ou seja, não há exteriorização da ideia criminosa, adoção
de preparativos, nada disso. Assim, a cogitação é sempre impunível, pois não sai da esfera psicológica do agente.

Atos preparatórios: Aqui o agente adota algumas providências para a realização do crime, ou seja, dá início aos
preparativos para a prática delituosa, sem, contudo, iniciar a execução do crime propriamente dita.

Ex.: José quer matar Maria. Para tanto, José vai até uma loja e compra uma faca bem grande. Como regra, os atos
preparatórios são impuníveis, já que o agente não chega, sequer, a iniciar a execução do crime. Todavia, os atos
preparatórios serão puníveis quando configurarem, por si só, um delito autônomo.
Ex.: José quer falsificar várias notas de R$ 100,00 (quer praticar o crime de moeda falsa, art. 289 do CP). Assim, José
compra um maquinário destinado a falsificar moeda. A princípio, essa conduta seria um mero ato preparatório
impunível. Todavia, neste específico caso o CP já criminaliza essa conduta preparatória, estabelecendo um tipo
penal autônomo, que é o crime de “petrechos de falsificação” (art. 291 do CP19), ou seja, o CP já considera crime
a aquisição do maquinário!

Atos executórios: Os atos executórios são aqueles por meio dos quais o agente, efetivamente, dá início à conduta
delituosa, por meio de um ato capaz de provocar o resultado.

Ex.: José quer matar Maria. Para tanto, espera Maria passar pela porta de sua casa e, quando ela passa, dispara
contra ela um projétil de arma de fogo. Neste momento se inicia a execução.

Consumação: Aqui o crime atinge sua realização plena, havendo a presença de todos os elementos que o
compõem, ou seja, o agente consegue realizar tudo o que o tipo penal prevê, causando a ofensa jurídica prevista
na norma penal. Temos, aqui, portanto, um crime completo e acabado.

Tentativa

Todos os elementos citados como sendo partes integrantes do fato típico (conduta, resultado naturalístico, nexo
de causalidade e tipicidade) são, no entanto, elementos do crime material consumado, que é aquele no qual se
exige resultado naturalístico e no qual este resultado efetivamente ocorre.

Nos termos do art. 14 do CP: Art. 14 - Diz-se o crime:

I - Consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal;

II - Tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente.

Assim, nos crimes tentados, por não haver sua consumação (ocorrência de resultado naturalístico), não estarão
presentes, em regra, os elementos “resultado” e “nexo de causalidade”.

Disse “em regra”, porque pode acontecer que um crime tentado produza resultados, que serão analisados de
acordo com a conduta do agente e sua aptidão para produzi-los.

EXEMPLO: Imaginem que Marcelo, visando à morte de Rodrigo, dispare cinco tiros de pistola contra ele. Rodrigo é
baleado, fica paraplégico, mas sobrevive.

Nesse caso, como o objetivo não era causar lesão corporal, mas sim matar, o crime não foi consumado, pois a
morte não ocorreu. Entretanto, não se pode negar que houve resultado naturalístico e nexo causal, embora este
resultado não tenha sido o pretendido pelo agente quando da prática da conduta criminosa.

Pode ocorrer de uma conduta ser enquadrada em determinado tipo penal sem que sua prática corresponda
exatamente ao que prevê o tipo. No caso acima, Marcelo responderá pelo tipo penal de homicídio (art. 121 do CP),
na modalidade tentada (art. 14, II do CP). Mas se vocês analisarem, o art. 121 do CP diz “matar alguém”. Marcelo
não matou ninguém.

Assim, como enquadrá-lo na conduta prevista pelo art. 121? Isso é o que chamamos de adequação típica mediata,
conforme já estudamos.
Na adequação típica mediata o agente não pratica exatamente a conduta descrita no tipo penal, mas em razão de
uma outra norma que estende subjetiva ou objetivamente o alcance do tipo penal, ele deve responder pelo crime.
Assim, no caso em tela, Marcelo só responde pelo crime em razão da existência de uma norma que aumenta o
alcance objetivo (relativo à conduta) do tipo penal para abarcar também as hipóteses de tentativa.

O inciso II do art. 14 fala em “circunstâncias alheias à vontade do agente”. Isso significa que o agente inicia a
execução do crime, mas em razão de fatores externos, o resultado não ocorre. No caso concreto que citei, o fator
externo, alheio à vontade de Marcelo, foi provavelmente sua falta de precisão no uso da arma de fogo e o socorro
eficiente recebido por Rodrigo, que impediu sua morte.

O § único do art. 14 do CP diz: Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena
correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.

Desta forma, o crime cometido na modalidade tentada não é punido da mesma maneira que o crime consumado,
pois embora o desvalor da conduta (sua reprovabilidade social) seja o mesmo do crime consumado, o desvalor do
resultado (suas consequências na sociedade) é menor, indiscutivelmente. Assim, diz-se que o CP adotou a teoria
dualística, realista ou objetiva da punibilidade da tentativa.

Mas qual o critério para aplicação da quantidade de diminuição (1/3 ou 2/3)? Nesse caso, o Juiz deve analisar a
proximidade de alcance do resultado. Quanto mais próxima do resultado chegar a conduta, menor será a
diminuição da pena, e vice-versa. No exemplo acima, como Marcelo quase matou Rodrigo, chegando a deixá-lo
paraplégico, a diminuição será a menor possível (1/3), pois o resultado esteve perto de se consumar. Entretanto,
se Marcelo tivesse errado todos os disparos, o resultado teria passado longe da consumação, devendo o Juiz aplicar
a redução máxima.

A tentativa pode ser:

⇒ Tentativa branca ou incruenta – Ocorre quando o agente sequer atinge o objeto que pretendia lesar. Ex.: José
atira em Maria, com dolo de matar, mas erra o alvo.

⇒ Tentativa vermelha ou cruenta – Ocorre quando o agente atinge o objeto, mas não obtém o resultado
naturalístico esperado, em razão de circunstâncias alheias à sua vontade. Ex.: José atira em Maria, com dolo de
matar, e acerta o alvo. Maria, todavia, sofre apenas lesões leves no braço, não vindo a falecer.

⇒ Tentativa perfeita – Ocorre quando o agente esgota completamente os meios de que dispunha para lesar o
objeto material. Ex.: José atira em Maria, com dolo de matar, descarregando todos os projéteis da pistola.
Acreditando ter provocado a morte, vai embora satisfeito. Todavia, Maria é socorrida e não morre.

⇒ Tentativa imperfeita – Ocorre quando o agente, antes de esgotar toda a sua potencialidade lesiva, é impedido
por circunstâncias alheias, sendo forçado a interromper a execução. Ex.: José possui um revólver com 06 projéteis.
Dispara os 03 primeiros contra Maria, mas antes de disparar o quarto é surpreendido pela chegada da Polícia
Militar, de forma que foge sem completar a execução, e Maria não morre.
É possível a mescla de espécies de tentativa entre as duas primeiras com as duas últimas (cruenta e imperfeita,
incruenta e imperfeita, etc.), mas nunca entre elas mesmas (ao mesmo tempo cruenta e incruenta ou perfeita e
imperfeita), por questões lógicas.

Em regra, todos os crimes admitem tentativa. Entretanto, não admitem tentativa:

⇒ Crimes culposos – Nestes crimes o resultado naturalístico não é querido pelo agente, logo, a vontade dele não é
dirigida a um fim ilícito e, portanto, não ocorrendo este, não há que se falar em interrupção involuntária da
execução do crime.

⇒ Crimes preterdolosos – Como nestes crimes existe dolo na conduta precedente e culpa na conduta seguinte, a
conduta seguinte é culposa, não se admitindo, portanto, tentativa;

⇒ Crimes unissubsistentes – São aqueles que se produzem mediante um único ato, não cabendo fracionamento de
sua execução. Assim, ou o crime é consumado ou sequer foi iniciada sua execução. EXEMPLO: Injúria. Ou o agente
profere a injúria e o crime está consumado ou ele sequer chega a proferi-la, não chegando o crime a ser iniciado;

⇒ Crimes omissivos próprios – Seguem a mesma regra dos crimes unissubsistentes, pois ou o agente se omite, e
pratica o crime na modalidade consumada ou não se omite, hipótese na qual não comete crime;

⇒ Crimes de perigo abstrato – Como aqui também há crime unissubsistente (não há fracionamento da execução
do crime), não se admite tentativa;

⇒ Contravenções penais – A tentativa, neste caso, até pode ocorrer, mas não será punível, nos termos do art. 4°
do Decreto-Lei n° 3.688/41 (Lei das Contravenções penais);

⇒ Crimes de atentado (ou de empreendimento) – São crimes que se consideram consumados com a obtenção do
resultado ou ainda com a tentativa deste. Por exemplo: O art. 352 tipifica o crime de “evasão”, dizendo: “evadir-se
ou tentar evadir-se”... Desta maneira, ainda que não consiga o preso se evadir, o simples fato de ter tentado isto
já consuma o crime;

⇒ Crimes habituais – Nestes crimes, o agente deve praticar diversos atos, habitualmente, a fim de que o crime se
consume. Entretanto, o problema é que cada ato isolado é um indiferente penal. Assim, ou o agente praticou
poucos atos isolados, não cometendo crime, ou praticou os atos de forma habitual, cometendo crime consumado.

Crime impossível

Nos termos do Código Penal:


Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto,
é impossível consumar-se o crime.
Como podemos perceber, o crime impossível (tentativa inidônea) guarda semelhanças com a tentativa, entretanto,
com ela não se confunde. Na tentativa, propriamente dita, o agente inicia a execução do crime, mas por
circunstâncias alheias à sua vontade o resultado não se consuma. No crime impossível, diferentemente do que
ocorre na tentativa, embora o agente inicie a execução do delito, JAMAIS o crime se consumaria, em hipótese
nenhuma, ou pelo fato de que o meio utilizado é completamente ineficaz ou porque o objeto material do crime é
impróprio para aquele crime. Vou dar dois exemplos:
EXEMPLO: Imaginem que Marcelo pretenda matar sua sogra Maria. Marcelo chega, à surdina, de noite, e
percebendo que Maria dorme no sofá, desfere contra ela 10 facadas no peito. No entanto, no laudo pericial se
descobre que Maria já estava morta, em razão de um mal súbito que sofrera horas antes.

Nesse caso, o crime é impossível, pois o objeto material (a sogra, Maria) não era uma pessoa, mas um cadáver.
Logo, não há como se praticar o crime de homicídio em face de um cadáver.

No mesmo exemplo, imagine que Marcelo pretenda matar sua sogra a tiros e, surpreenda-a na servidão que dá
acesso à casa. Entretanto, quando Marcelo aperta o gatilho, percebe que, na verdade, foi enganado pelo vendedor,
que o vendeu uma arma de brinquedo.

Nesse último caso o crime é impossível, pois o meio utilizado por Marcelo é completamente ineficaz para causar a
morte da vítima.

Em ambos os casos temos hipótese de crime impossível.

Na verdade, o crime impossível é uma espécie de tentativa, com a circunstância de que jamais poderá se tornar
consumação, face à impropriedade do objeto ou do meio utilizado. Por isso, não se pode punir a tentativa nestes
casos, eis que não houve lesão ou sequer exposição à lesão do bem jurídico tutelado, não bastando para a punição
do agente o mero desvalor da conduta, devendo haver um mínimo de desvalor do resultado.

CUIDADO! A ineficácia do meio ou a impropriedade do objeto devem ser ABSOLUTAS, ou seja, em nenhuma
hipótese, considerando aquelas circunstâncias, o crime poderia se consumar. Assim, se Márcio atira em José, com
intenção de matá-lo, mas o crime não se consuma porque José usava um colete à prova de balas, não há crime
impossível, pois o crime poderia se consumar.

Desistência voluntária e arrependimento eficaz

Embora a Doutrina tenha se dividido quanto à definição da natureza jurídica destes institutos, a Doutrina
majoritária entende se tratar de causas de exclusão da tipicidade, pois não tendo ocorrido o resultado, e também
não se tratando de hipótese tentada, não há como se punir o crime nem a título de consumação nem a título de
tentativa.

Na desistência voluntária o agente, por ato voluntário, desiste de dar sequência aos atos executórios, mesmo
podendo fazê-lo. Conforme a clássica FÓRMULA DE FRANK:

⇒ Na tentativa – O agente quer, mas não pode prosseguir.

⇒ Na desistência voluntária – O agente pode, mas não quer prosseguir.

Para que fique caracterizada a desistência voluntária, é necessário que o resultado não se consume em razão da
desistência do agente.

EXEMPLO: Se Poliana dispara um tiro de pistola em Jason e, podendo disparar mais cinco, não o faz, mas este
mesmo assim vem a falecer, Poliana responde por homicídio consumado. Se, no entanto, Jason não vem a óbito,
Poliana não responde por homicídio tentado (não há tentativa, lembram-se?), mas por lesões corporais.
No arrependimento eficaz é diferente. Aqui o agente já praticou todos os atos executórios que queria e podia, mas
após isto, se arrepende do ato e adota medidas que acabam por impedir a consumação do resultado.

Imagine que no exemplo anterior, Poliana tivesse disparado todos os tiros da pistola em Jason. Depois disso, Poliana
se arrepende do que fez e providencia o socorro de Jason, que sobrevive em razão do socorro prestado. Neste
caso, teríamos arrependimento eficaz.

Ambos os institutos estão previstos no art. 15 do CP: Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir
na execução ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados.

Para que estes institutos ocorram, é necessário que a conduta (desistência voluntária e arrependimento eficaz)
impeça a consumação do resultado. Se o resultado, ainda assim, vier a ocorrer, o agente responde pelo crime,
incidindo, no entanto, uma atenuante de pena genérica, prevista no art. 65, III, b do CP.

A Doutrina entende que também HÁ DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA quando o agente deixa de prosseguir na execução
para fazê-la mais tarde, por qualquer motivo, por exemplo, para não levantar suspeitas. Nesse caso, mesmo não
sendo nobre o motivo da desistência, a Doutrina entende que há desistência voluntária.

Se o crime for cometido em concurso de pessoas e somente um deles realiza a conduta de desistência voluntária
ou arrependimento eficaz, esta circunstância se comunica aos demais, pois como se trata de hipótese de exclusão
da tipicidade, o crime não foi cometido, respondendo todos apenas pelos atos praticados até então.

Arrependimento posterior

O arrependimento posterior, por sua vez, não exclui o crime, pois este já se consumou, mas é causa obrigatória de
diminuição de pena. Ocorre quando, nos crimes em que não há violência ou grave ameaça à pessoa, o agente, até
o recebimento da denúncia ou queixa, repara o dano provocado ou restitui a coisa.

Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até
o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços.

EXEMPLO: Imagine o crime de dano (art. 163 do CP), no qual o agente quebra a vidraça de uma padaria, revoltado
com o esgotamento do pão francês naquela tarde. Nesse caso, se antes do recebimento da queixa o agente
ressarcir o prejuízo causado, ele responderá pelo crime, mas a pena aplicada deverá ser diminuída de 1/3 a 2/3.

Vejam que não se aplica o instituto se o crime é cometido com violência ou grave ameaça à pessoa.

A Doutrina entende que se a violência for culposa, pode ser aplicado o instituto. Assim, se o agente comete lesão
corporal culposa (violência culposa), e antes do recebimento da queixa paga todas as despesas médicas da vítima,
presta todo o auxílio necessário, deve ser aplicada a causa de diminuição de pena.

O arrependimento posterior também se comunica aos demais agentes (coautores).

A Doutrina entende, ainda, que se a vítima se recusar a receber a coisa ou a reparação do dano, mesmo assim o
agente deverá receber a causa de diminuição de pena.

O quantum da diminuição da pena (um terço a dois terços) irá variar conforme a celeridade com que ocorreu o
arrependimento e a voluntariedade deste ato.
Erro de tipo

O erro de tipo é estudado na tipicidade. Ele é diferente do erro de proibição, que é estudado no elemento
“culpabilidade”.

O erro de tipo é o erro sobre algum elemento do tipo legal. Trata-se de uma falha na percepção do caso concreto.
Na prática, o agente não sabe o que está fazendo.
Veja: Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por
crime culposo, se previsto em lei.

Tal erro pode ser essencial, se incidir sobre algum elemento essencial do tipo penal, ou pode ser acidental, se incidir
sobre algum elemento acessório do tipo penal.

Exemplo: Mévio está caçando ursos com seu amigo. Ambos decidem se separar para cobrir mais território. Em
certo momento, Mévio vê uma movimentação no arbusto e atira. Ao chegar perto, vê que atingiu seu amigo, que
vem a falecer. Nesse caso, Mévio achou que estava matando um urso. Em outras palavras, ele não sabia que estava
matando “alguém”.

É importante dizer que o “alguém” é uma elementar (elemento essencial) do tipo penal do homicídio (a conduta é
“matar alguém”). Portanto, temos o erro de tipo essencial.

Exemplo 2: Mévio decide matar seu amigo. Certo dia, estrangula a vítima e, por fim, a joga de um barranco.
Acontece que, dias depois, a perícia conclui que a morte se deu pela queda, não pelo estrangulamento.

Nesse caso, Mévio achou que havia matado por estrangulamento, mas na verdade matou pela queda. Nota-se que
Mévio errou não quanto a um elemento essencial, mas sim quanto a um elemento acidental.

Portanto, temos o erro de tipo acidental (já iremos falar dos tipos de erro acidental). No erro de tipo acidental,
nunca haverá exclusão do crime.

No erro de tipo essencial, poderá haver exclusão do crime. Este se divide em erro de tipo escusável/inevitável e
erro de tipo inescusável/evitável.

Erro de tipo essencial

No escusável/inevitável/desculpável/invencível, o agente não sabia o que estava fazendo e não poderia saber,
pois a situação fática é tão “real” que o levou ao erro. Trata-se do erro que qualquer pessoa poderia cometer.

No inescusável/evitável/vencível, o agente não sabia o que estava fazendo, mas poderia saber. Em outras palavras,
a situação fática permitia que o agente percebesse o que estava fazendo. Trata-se do erro que o “homem médio”
não cometeria.

No entanto, se a conduta for prevista na modalidade culposa, haverá punição a título de culpa.

Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime
culposo, se previsto em lei.

Essa punição a título de culpa é exatamente o que chamamos de culpa imprópria. Na prática, a conduta é dolosa,
mas é punida de forma culposa, em virtude do erro do agente. Por isso “imprópria”.

Art. 20, § 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato
que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível
como crime culposo.

Lembrando que se o crime não admitir forma culposa, não haverá punição, mesmo se se tratar de erro evitável.
Tipos de erro de tipo acidental

O erro acidental, como já dito, é o erro que incide sobre elementos não essenciais do tipo penal e não isenta o
agente de pena.

Eles se dividem em: erro sobre o objeto, erro sobre o nexo causal, erro sobre a pessoa, erro na execução e
resultado diverso do pretendido.

➢ Erro sobre o objeto → O sujeito acha que a conduta recai sobre uma determinada coisa, mas, na verdade, recai
sobre outra coisa.

➢ Erro sobre o nexo causal/aberratio causae → O sujeito acha produziu o resultado de uma forma, mas, na
verdade, produziu de outra.

➢ Erro sobre a pessoa → O sujeito, sem errar na execução, quer atingir uma pessoa, mas atinge outra.

Obs.: O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste caso,
as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime. Na prática,
Mévio responde como se tivesse matado o amigo.

➢ Erro na execução/aberratio ictus→ O sujeito, aqui, erra o modo de execução. Ou seja, por “falha”, atinge pessoa
que não queria atingir.

Obs.: Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés de atingir a pessoa que
pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse praticado o crime contra aquela, atendendo-
se ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código. No caso de ser também atingida a pessoa que o agente pretendia
ofender, aplica-se a regra do art. 70 deste Código. Considera-se a pessoa que o agente queria atingir. Na prática,
Mévio responde como se tivesse matado o amigo. Se houver morte dos dois, Mévio responde pelos dois crimes em
concurso formal (matéria do tema concurso de crimes).

➢ Resultado diverso do pretendido/aberratio criminis/aberratio delicti → O sujeito quer praticar uma conduta,
mas acaba praticando outra. Em outras palavras, ele quer atingir uma coisa e acaba atingindo uma pessoa e vice-
versa. O autor, portanto, atinge bem jurídico diverso do pretendido. Nesse caso, o agente responde por culpa, se
for previsto crime culposo.
ILICITUDE

Já vimos que a conduta deve ser considerada um fato típico para que o primeiro elemento do crime esteja presente.
Entretanto, isso não basta. Uma conduta enquadrada como fato típico pode não ser ilícita perante o direito. Assim,
a antijuridicidade (ou ilicitude) é a condição de contrariedade da conduta perante o Direito.

Estando presente o primeiro elemento (fato típico), presume-se presente a ilicitude, devendo o acusado comprovar
a existência de uma causa de exclusão da ilicitude. Percebam, assim, que uma das funções do fato típico é gerar
uma presunção de ilicitude da conduta, que pode ser desconstituída diante da presença de uma das causas de
exclusão da ilicitude.

As causas de exclusão da ilicitude podem ser:

⇒ Genéricas – São aquelas que se aplicam a todo e qualquer crime. Estão previstas na parte geral do Código Penal,
em seu art. 23;

⇒ Específicas – São aquelas que são próprias de determinados crimes, não se aplicando a outros. Por exemplo:
Furto de coisas comum, previsto no art. 156, §2°. Nesse caso, o fato de a coisa furtada ser comum retira a ilicitude
da conduta. Porém, só nesse crime!

As causas genéricas de exclusão da ilicitude são:

a) estado de necessidade;

b) legítima defesa;

c) exercício regular de um direito;

d) estrito cumprimento do dever legal.

Entretanto, a Doutrina majoritária e a Jurisprudência entendem que existem causas supralegais de exclusão da
ilicitude (não previstas na lei, mas que decorrem da lógica, como o consentimento do ofendido nos crimes contra
bens disponíveis).

Estado de necessidade

Está previsto no art. 24 do Código Penal:

Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou
por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não
era razoável exigir-se.

O Brasil adotou a teoria unitária de estado de necessidade, que estabelece que o bem jurídico protegido deve ser
de valor igual ou superior ao sacrificado, afastando-se em ambos os casos a ilicitude da conduta.

EXEMPLO: Marcos e João estão num avião que está caindo. Só há uma mochila com paraquedas. Marcos agride
João até causar-lhe a morte, a fim de que o paraquedas seja seu e ele possa se salvar. Nesse caso, o bem jurídico
que Marcos buscou preservar (vida) é de igual valor ao bem sacrificado (Vida de João). Assim, Marcos não cometeu
crime, pois agiu coberto por uma excludente de ilicitude, que é o estado de necessidade.
No caso de o bem sacrificado ser de valor maior que o bem protegido, o agente responde pelo crime, mas tem sua
pena diminuída.

Nos termos do art. 24, § 2° do CP: § 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena
poderá ser reduzida de um a dois terços.

Assim, se era razoável entender que o agente deveria sacrificar o bem que na verdade escolheu proteger, ele
responde pelo crime, mas em razão das circunstâncias terá sua pena diminuída de um a dois terços, conforme o
caso.

Os requisitos para a configuração do estado de necessidade são basicamente dois: a) a existência de uma situação
de perigo a um bem jurídico próprio ou de terceiro; b) o fato necessitado (conduta do agente na qual ele sacrifica
o bem alheio para salvar o próprio ou do terceiro). Entretanto, a situação de perigo deve:

⇒ Não ter sido criada voluntariamente pelo agente (ou seja, se foi ele mesmo quem deu causa, não poderá
sacrificar o direito de um terceiro a pretexto de salvar o seu).

EXEMPLO: O agente provoca ao naufrágio de um navio e, para se salvar, mata um terceiro, a fim de ficar com o
último colete disponível. Nesse caso, embora os bens sejam de igual valor, a situação de perigo foi criada pelo
próprio agente, logo, ele não estará agindo em estado de necessidade.

⇒ Perigo atual – O perigo deve estar ocorrendo. A lei não permite o estado de necessidade diante de um perigo
futuro, ainda que iminente;

⇒ A situação de perigo deve estar expondo a risco de lesão um bem jurídico do próprio agente ou de um terceiro.

⇒ O agente não pode ter o dever jurídico enfrentar o perigo.

⇒ Ser conhecida pelo agente – O agente deve saber que está agindo em estado de necessidade (elemento
subjetivo).

Quanto à conduta do agente, ela deve ser:

• Inevitável – O bem jurídico protegido só seria salvo daquela maneira. Não havia outra forma de salvar o bem
jurídico.

• Proporcional – O agente deve sacrificar apenas bens jurídicos de menor ou igual valor ao que pretende proteger.

Pode ser ainda:

• Real – Quando a situação de perigo efetivamente existe;

• Putativo – Quando a situação de perigo não existe de fato, apenas na imaginação do agente. Imaginemos que no
caso do colete salva-vidas, ao invés de ser o último, existisse ainda uma sala repleta deles. Assim, a situação de
perigo apenas passou pela cabeça do agente, não sendo a realidade, pois havia mais coletes. Nesse caso, o agente
incorreu em erro, que se for um erro escusável (o agente não tinha como saber da existência dos outros coletes),
excluirá a imputação do delito (a maioria da Doutrina entende que teremos exclusão da culpabilidade). Já se o erro
for inescusável (o agente era marinheiro há muito tempo, devendo saber que existia mais coletes), o agente
responde pelo crime cometido, MAS NA MODALIDADE CULPOSA, se houver previsão em lei.
Alguns pontos importantes:

Legítima defesa
Nos termos do art. 25 do CP:
Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta
agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.

O agente deve ter praticado o fato para repelir uma agressão. Contudo, há alguns requisitos:

• Agressão Injusta – Assim, se a agressão é justa, não há legítima defesa. Dessa forma, o preso que agride o
carcereiro que o está colocando para dentro da cela não age em legítima defesa, pois a agressão do carcereiro
(empurrá-lo à força) é justa, autorizada pelo Direito.

• Atual ou iminente – A agressão deve estar acontecendo ou prestes a acontecer. Veja que aqui, diferente do estado
necessidade, não há necessidade de que o fato seja atual, bastando que seja iminente. Desta maneira, se Paulo
encontra, em local ermo, Poliana, sua ex-mulher, que por vingança ameaçou matá-lo, e esta saca uma arma, Paulo
poderá repelir essa agressão iminente, pois ainda que não tenha acontecido, não se pode exigir que Paulo aguarde
Poliana começar a efetuar os disparos (absurdo!).

• Contra direito próprio ou alheio – A agressão injusta pode estar acontecendo ou prestes a acontecer contra direito
do próprio agente ou de um terceiro. Assim, se Paulo agride Roberto porque ele está agredindo Poliana, não
comete crime, pois agiu em legítima defesa da integridade física de terceiro (Poliana).

• Reação proporcional – O agente deve repelir a injusta agressão utilizando moderadamente dos meios necessários.

• Conhecimento da situação justificante – O agente deve saber que está agindo em legítima defesa, ou seja, deve
conhecer a situação justificante e agir com intenção de defesa (animus defendendi).

Quando uma pessoa é atacada por um animal, em regra não age em legítima defesa, mas em estado de
necessidade, pois os atos dos animais não podem ser considerados injustos. Entretanto, se o animal estiver sendo
utilizado como instrumento de um crime (dono determina ao cão bravo que morda a vítima), o agente poderá agir
em legítima defesa. Entretanto, a legítima defesa estará ocorrendo em face do dono (lesão ao seu patrimônio, o
cachorro), e não em face do animal.
Obs.: Com relação às agressões praticadas por inimputável, a Doutrina se divide, mas a maioria entende que nesse
caso há legítima defesa, e não estado de necessidade.

Na legítima defesa, diferentemente do que ocorre no estado de necessidade, o agredido (que age em legítima
defesa) não é obrigado a fugir do agressor, ainda que possa. A lei permite que o agredido revide e se proteja, ainda
que lhe seja possível fugir!

A reação do agente, por sua vez, deve ser proporcional. Ou seja, os meios utilizados por ele devem ser suficientes
e necessários a repelir a agressão injusta.

A legítima defesa pode ser:

• Agressiva – Quando o agente pratica um fato previsto como infração penal. Assim, se A agride B e este, em
legítima defesa, agride A, está cometendo lesões corporais (art. 129), mas não há crime, em razão da presença da
causa excludente da ilicitude.

• Defensiva – O agente se limita a se defender, não atacando nenhum bem jurídico do agressor.

• Própria – Quando o agente defende seu próprio bem jurídico.

• De terceiro – Quando defende bem jurídico pertencente a outra pessoa.

• Real – Quando a agressão a iminência dela acontece, de fato, no mundo real.

• Putativa – Quando o agente pensa que está sendo agredido ou que esta agressão irá ocorrer, mas, na verdade,
trata-se de fruto da sua imaginação. Aqui, aplica-se o que foi dito acerca do estado de necessidade putativo!

A legítima defesa não é presumida. Aquele que a alega deve provar sua ocorrência, pois, como estudamos, a
existência do fato típico tem o condão de fazer presumir a ilicitude da conduta, cabendo ao acusado provar a
existência de uma das causas de exclusão da ilicitude.

CUIDADO! A legítima defesa sucessiva é possível! É aquela na qual o agredido injustamente, acaba por se exceder
nos meios para repelir a agressão. Nesse caso, como há excesso, esse excesso não é permitido. Logo, aquele que
primeiramente agrediu, agora poderá agir em legítima defesa. Se A agride B com tapas leves, e B saca uma pistola
e começa a disparar contra A, que se afasta e para de agredi-lo, caso B continue e atirar, A poderá sacar sua arma
e atirar contra B, pois a conduta de A se configura como excesso na reação, e B estará agindo em legítima defesa
sucessiva.

Da mesma forma que no estado de necessidade, se o agredido erra ao revidar a agressão e atinge pessoa que não
tem relação com a agressão (erro sobre a pessoa), continuará amparado pela excludente de ilicitude, pois o crime
se considera praticado contra a pessoa visada, não contra a efetivamente atingida.

No caso de legítima defesa de terceiro, duas hipóteses podem ocorrer:

• O bem do terceiro que está sendo lesado é disponível (bens materiais, etc.) – Nesse caso, o terceiro deve
concordar com que o agente atue em seu favor.

• O bem do terceiro é indisponível (Vida, por exemplo) – Nesse caso, o agente poderá repelir esta agressão ainda
que o terceiro não concorde com esta atitude, pois o bem agredido é um bem de caráter indisponível.
Estrito cumprimento do dever legal

Nos termos do art. 23, III do CP:

Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:

(...)

III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.

Age acobertado por esta excludente aquele que pratica fato típico, mas o faz em cumprimento a um dever previsto
em lei.

Assim, o Policial tem o dever legal de manter a ordem pública. Se alguém comete crime, eventuais lesões corporais
praticadas pelo policial (quando da perseguição) não são consideradas ilícitas, pois embora tenha sido provocada
lesão corporal (prevista no art. 129 do CP), o policial agiu no estrito cumprimento do seu dever legal.

CUIDADO! Quando o policial, numa troca de tiros, acaba por ferir ou matar um suspeito, ele não age no estrito
cumprimento do dever legal, mas em legítima defesa. Isso porque o policial só pode atirar contra alguém quando
isso for absolutamente necessário para repelir injusta agressão contra si ou contra terceiros.

Se um terceiro colabora com aquele que age no estrito cumprimento do dever legal, a ele também se estende essa
causa de exclusão da ilicitude. Diz-se que há comunicabilidade.

ATENÇÃO! É muito comum ver pessoas afirmarem que essa causa só se aplica aos funcionários públicos. ERRADO!
O particular também pode agir no estrito cumprimento do dever legal. O advogado, por exemplo, que se nega a
testemunhar sobre fato conhecido em razão da profissão, não pratica crime, pois está cumprindo seu dever legal
de sigilo, previsto no estatuto da OAB. Esse é apenas um exemplo.

Exercício regular de direito

O Código Penal prevê essa excludente da ilicitude também no art. 23, III:

Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: (...)

III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.

Dessa forma, quem age no legítimo exercício de um direito seu, não poderá estar cometendo crime, pois a ordem
jurídica deve ser harmônica, de forma que uma conduta que é considerada um direito da pessoa, não pode ser
considerada crime, por questões lógicas. Trata-se de preservar a coerência do sistema.

Mas o direito deve estar previsto em lei? Sim! A Doutrina majoritária entende que os direitos derivados dos
costumes locais não podem ser invocados como causas de exclusão da ilicitude.

EXEMPLO: A mãe descobre que o filho, de 12 anos, aprontou na escola e resolve colocar o garoto de castigo,
trancado no quarto por 08h. Neste caso, a mãe não responde pelo crime de cárcere privado (art. 148 do CP), pois
tem o direito de agir assim, dever que decorre de seu poder familiar sobre a criança. Não há “estrito cumprimento
do dever legal”, pois a mãe não tinha o dever de fazer isso (poderia optar por perdoar o filho, dar outro tipo de
castigo, etc.).
Consentimento do ofendido
O consentimento do ofendido não está expressamente previsto no CP como causa de exclusão da ilicitude. Todavia,
a Doutrina é pacífica ao sustentar que o consentimento do ofendido pode, a depender do caso, afastar a ilicitude
da conduta, funcionando como causa supralegal (não prevista na Lei) de exclusão da ilicitude).

Ex.: José e Paulo combinam de fazer manobras arriscadas numa moto, estando Paulo na garupa e José guiando a
motocicleta. Neste caso, se José perder a direção e causar lesões culposas em Paulo, não haverá crime, eis que o

consentimento de Paulo em relação à conduta arriscada de José afasta a ilicitude da conduta.

A Doutrina elenca alguns requisitos para que o consentimento do ofendido possa ser considerado causa supralegal
de exclusão da ilicitude:

⇒ O consentimento deve ser válido – O consentimento deve ser prestado por pessoa capaz, mentalmente sã e livre
de vícios (coação, fraude, etc.).

⇒ O bem jurídico deve ser próprio e disponível – Assim, não há que se falar em consentimento do ofendido quando
o bem jurídico pertence a outra pessoa ou é indisponível como, por exemplo, a vida.

⇒ O consentimento deve ser prévio ou concomitante à conduta – O consentimento do ofendido após a prática da
conduta não afasta a ilicitude.

Excesso punível

O excesso punível é o exercício irregular de uma causa excludente da ilicitude, seja porque não há mais a
circunstância que permitia seu exercício (cessou a agressão, no caso da legítima defesa, por exemplo, seja porque
o meio utilizado não é proporcional (agredido saca uma metralhadora para repelir um tapa, no caso da legítima
defesa). No primeiro caso, temos o excesso extensivo, e no segundo, o excesso intensivo. Nesses casos, a lei prevê
que aquele que se exceder responderá pelos danos que causar, art. 23, § único do CP:
Art. 23 (...)
Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo.
Aplica-se a qualquer das causas excludentes da ilicitude. Assim, o policial que, após prender o ladrão, começa a
desferir socos em seu rosto, não estará agindo amparado pelo estrito cumprimento do dever legal, pois está se
excedendo.

CULPABILIDADE
A culpabilidade nada mais é que o juízo de reprovabilidade acerca da conduta do agente, considerando-se suas
circunstâncias pessoais. Diferentemente do que ocorre nos dois primeiros elementos (fato típico e ilicitude), onde
se analisa o fato, na culpabilidade o objeto de estudo não é o fato, mas o agente.

Três teorias existem acerca da culpabilidade:

1. Teoria psicológica: Para essa teoria a culpabilidade era analisada sob o prisma da imputabilidade e da vontade
(dolo e culpa). Esta teoria entende que o agente seria culpável se era imputável no momento do crime e se
havia agido com dolo ou culpa. Vejam que essa teoria só pode ser utilizada por quem adota a teoria causalista
(naturalística) da conduta (pois o dolo e culpa estão na culpabilidade). Para os que adotam a teoria finalista
(nosso Código penal), essa teoria acerca da culpabilidade é impossível, pois a teoria finalista aloca o dolo e a
culpa na conduta, e, portanto, no fato típico.
2. Teoria normativa ou psicológico-normativa: Possui os mesmos elementos da primeira, mas agrega a eles a
exigibilidade de conduta diversa, que é a “possibilidade de agir conforme o Direito” e a consciência da ilicitude
(que não está inserida dentro do dolo, na qualidade de elemento normativo). Para essa teoria, mais evoluída,
ainda que o agente fosse imputável e tivesse agido com dolo ou culpa, só seria culpável se no caso concreto
lhe pudesse ser exigido um outro comportamento que não o comportamento criminoso. Trata-se, portanto,
da inclusão de elementos normativos à culpabilidade, que deixa de ser a mera relação subjetiva do agente
com o fato (dolo ou culpa). A culpabilidade seria, portanto, a conjugação do elemento subjetivo (dolo ou culpa)
e do juízo de reprovação sobre o agente.
3. Teoria extremada da culpabilidade (normativa pura): Essa já muda de ares. Já não mais considera o dolo e
culpa como elementos da culpabilidade, mas do fato típico (seguindo a teoria finalista da conduta). Para esta
teoria, os elementos da culpabilidade são: a) imputabilidade; b) potencial consciência da ilicitude; c)
exigibilidade de conduta diversa. A potencial consciência da ilicitude seria a análise concreta acerca das
possibilidades que o agente tinha de conhecer o caráter ilícito de sua conduta. Vamos estudar cada um desses
elementos mais à frente. Além disso, o dolo e a culpa passam a integrar o fato típico, como dito anteriormente.
Porém, o dolo que vai para o fato típico é o chamado “dolo natural”, ou seja, a mera vontade e consciência de
praticar a conduta. O dolo “normativo” (consciência POTENCIAL da ilicitude) permanece na culpabilidade.

Elementos da culpabilidade

Imputabilidade penal

O Código Penal não define o que seria imputabilidade penal, apenas descreve as hipóteses em que ela não está
presente. A imputabilidade penal pode ser conceituada como a capacidade mental de entender o caráter ilícito da
conduta e de comportar-se conforme o Direito.

Existem três sistemas acerca da imputabilidade:

✓ Biológico – Basta a existência de uma doença mental ou determinada idade para que o agente seja
inimputável. É adotado no Brasil com relação aos menores de 18 anos. Trata-se de critério meramente
biológico: Se o agente tem menos de 18 anos, é inimputável.
✓ Psicológico – Só se pode aferir a imputabilidade (ou não), na análise do caso concreto.
✓ Biopsicológico – Deve haver uma doença mental (critério biológico, legal, objetivo), mas o Juiz deve analisar
no caso concreto se o agente era ou não capaz de entender o caráter ilícito da conduta e de se comportar
conforme o Direito (critério psicológico). Essa foi a teoria adotada como REGRA pelo nosso Código Penal.

CUIDADO! A imputabilidade penal deve ser aferida quando do momento em que ocorreu o fato criminoso. Assim,
se A (menor com 17 anos e 11 meses de idade) atira contra B, que fica em coma e só vem a falecer quando A já
tinha mais de 18 anos, A será considerado INIMPUTÁVEL, pois no momento do crime (momento da ação ou
omissão, art. 4º do CP), era menor de 18 anos (critério puramente biológico, adotado como EXCEÇÃO no CP).
Imaginem, agora, que Marcelo, com 17 anos, sequestra Juliana. O sequestro dura 06 meses e, ao final, Marcelo já
contava com 18 anos. Neste caso, Marcelo será considerado IMPUTÁVEL, pois no momento do crime Marcelo era
imputável (ainda que não fosse imputável no começo, a partir de um dado momento passou a ser imputável,
respondendo pelo delito).

As causas de inimputabilidade estão previstas nos arts. 26, 27 e 28 do CP:

Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado,
era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-
se de acordo com esse entendimento.

Redução de pena

Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde
mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter
ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

Menores de dezoito anos

Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas
na legislação especial.

Emoção e paixão
Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal:
I - A emoção ou a paixão;
Embriaguez
II - A embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos.
§ 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força
maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato
ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
§ 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por embriaguez, proveniente de caso
fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender
o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Os arts. 26 a 28 do CP trazem hipóteses em que a imputabilidade ficará afastada (inimputabilidade penal), bem
como hipóteses nas quais ela ficará apenas diminuída, mas não será afastada (semi-imputabilidade). Além disso,
trata de casos em que não será possível afastar a imputabilidade ou reconhecer semi-imputabilidade (emoção e
paixão, por exemplo). Vamos ver, agora, este tema com mais detalhes.

Menor de 18 anos

Esse é um critério meramente biológico e taxativo: Se o agente é menor de 18 anos, responde perante o ECA não
se aplicando a ele o CP, nos termos do art. 27 do CP.
Doença mental e Desenvolvimento mental incompleto ou retardado

No caso dos doentes mentais, deve-se analisar se o agente era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito
da conduta ou se era parcialmente incapaz disso. No primeiro caso, será inimputável, ou seja, isento de pena. No
segundo caso, será semi-imputável, e será aplicada pena, porém, reduzida de um a dois terços.

Lembrando que o art. 26 do CP exige, para fins de inimputabilidade por este motivo:

• Que o agente possua a doença (critério biológico)

• Que o agente seja inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato OU inteiramente incapaz de
determinar-se conforme este entendimento (critério psicológico)

Por isso se diz que este é um critério BIOPSICOLÓGICO (pois mescla os dois critérios).

Nos dois casos acima, se o agente for inimputável, exclui-se a culpabilidade e ele é isento de pena. Se for semi-
imputável, será considerado culpável (não se exclui a culpabilidade), mas sua pena será reduzida de um a dois
terços. No caso de o agente ser inimputável, por ser menor de 18 anos, não há processo penal, respondendo
perante o ECA. No caso de ser inimputável em razão de doença mental ou desenvolvimento incompleto, será isento
de pena (absolvido), mas o Juiz aplicará uma medida de segurança (internação ou tratamento ambulatorial), em
razão de sua periculosidade (não há culpabilidade aqui). Isso é o que se chama de sentença absolutória imprópria
(Pois, apesar de conter uma absolvição, contém uma espécie de sanção penal).

No caso de o agente ser semi-imputável, ele não será isento de pena! Será condenado a uma pena, que será
reduzida. Entretanto, a lei permite que o Juiz, diante do caso (se houver uma periculosidade concreta que
recomende a substituição), substitua a pena privativa de liberdade por uma medida de segurança (internação ou
tratamento ambulatorial).

Obs.: Sonâmbulo pode ser considerado doente mental? Embora não seja unânime, prevalece o entendimento de
que a conduta praticada pelo sonâmbulo, durante o estado de sonambulismo, não configura crime por ausência
de conduta, já que não há dolo ou culpa. Afasta-se, portanto, o fato típico, e não a culpabilidade.
Embriaguez

Segundo o CP, como regra, a embriaguez não é uma hipótese de inimputabilidade, de forma que o agente
responderá pelo crime, ou seja, será considerado IMPUTÁVEL. Vejamos:

Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal:


I - A emoção ou a paixão;
Embriaguez
II - A embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos.
Assim, não importa se a embriaguez foi dolosa (o agente queria ficar embriagado) ou culposa (não queria ficar
embriagado, mas bebeu demais e ficou embriagado). O agente, nestes casos, será considerado imputável.

Mas, por qual razão o agente é considerado imputável (na hipótese de embriaguez não acidental), se no momento
do fato ele não tinha discernimento? Trata-se da adoção da chamada “Teoria da actio Libera in causa” (ação livre
na causa), que pode aparecer em formato de sigla (ALIC).
Segundo esta Teoria, o agente deve ser considerado imputável mesmo não tendo discernimento no momento do
fato, pois tinha discernimento quando decidiu ingerir a substância. Ou seja, apesar de não ter discernimento agora
(no momento do crime), tinha discernimento quando se embriagou, ou seja, sua ação era livre na causa (tinha
liberdade para decidir ingerir, ou não, a substância).

Todavia, a embriaguez pode afastar a imputabilidade quando for acidental, ou seja, decorrente de caso fortuito ou
força maior (E mesmo assim, deve ser completa, retirando totalmente a capacidade de discernimento do agente).

EXEMPLO: Imagine que Luciana é embriagada por Carlos (que coloca álcool em seus drinks). Sem saber, Luciana
ingere as bebidas alcoólicas e fica completamente embriagada. Luciana sai do local em que estava e acaba por
desacatar dois policiais que a abordaram em uma blitz. Nesse caso, Luciana estava em situação de embriaguez
acidental completa, pois a embriaguez decorreu de caso fortuito e retirou completamente o discernimento desta.
Neste caso, ficará afastada a imputabilidade penal de Luciana.

Importante destacar que o Código Penal exige que, EM RAZÃO da embriaguez decorrente de caso fortuito ou força
maior, o agente esteja INTEIRAMENTE INCAPAZ de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se conforme
este entendimento.

Caso o agente, em razão de embriaguez acidental, esteja parcialmente incapaz de entender o caráter ilícito do fato
ou de determinar-se de acordo com este entendimento, não será considerado inimputável. O agente, neste caso,
será considerado imputável, ou seja, responderá pelo fato praticado. Todavia, sua pena poderá ser diminuída de
um a dois terços.

Em qualquer dos dois casos de embriaguez acidental, não será possível aplicação de medida de segurança, pois
essa visa ao tratamento do agente considerado doente, e que oferece risco à sociedade. No caso da embriaguez
acidental, o agente é sadio, tendo ingerido álcool por caso fortuito ou força maior.

⇒ E a embriaguez preordenada? A embriaguez preordenada é aquela na qual o agente se embriaga PARA tomar
coragem e praticar o crime. Ou seja, o agente não só quer ficar embriagado, ele quer ficar embriagado para praticar
o crime. Tal embriaguez não afeta a imputabilidade do agente, ou seja, o agente é considerado imputável. Trata-
se, ainda, de circunstância agravante da pena (a pena, portanto, será aumentada em razão de tal fato).
⇒ E a embriaguez patológica? A embriaguez patológica pode excluir a imputabilidade, desde que se configure
como embriaguez verdadeiramente doentia (não apenas embriaguez habitual). Nesse caso, o agente será tratado
como doente mental.

Potencial consciência da ilicitude

A potencial consciência da ilicitude é a possibilidade (daí o termo “potencial”) de o agente, de acordo com suas
características, conhecer o caráter ilícito do fato5. Não se trata do parâmetro do homem médio, mas de uma análise
da pessoa do agente. Assim, aquele que é formado em Direito, em tese, tem maior potencial consciência da ilicitude
que aquele que nunca saiu de uma aldeia de pescadores e tem pouca instrução. É claro que isso varia de pessoa
para pessoa e, principalmente, de crime para crime, pois alguns são do conhecimento geral (homicídio, roubo), e
outros nem todos conhecem (bigamia, por exemplo).

Quando o agente age acreditando que sua conduta não é penalmente ilícita, comete erro de proibição (art. 21 do
CP), que veremos mais à frente.

Exigibilidade de conduta diversa

Não basta que o agente seja imputável, que tenha potencial conhecimento da ilicitude do fato, é necessário, ainda,
que o agente pudesse agir de outro modo. É necessário que esteja presente, portanto, a exigibilidade de conduta
diversa.

A exigibilidade de conduta diversa é, assim, um juízo que se faz acerca da conduta do agente, para que se possa
definir se, apesar de praticar um fato típico e ilícito, sendo imputável e conhecendo a ilicitude de sua conduta, o
agente podia, ou não, agir de outro modo. Se se conclui que não era possível exigir do agente uma postura
diferente, conforme o Direito, estará afastada a exigibilidade de conduta diversa, havendo neste caso o que se
chama de inexigibilidade de conduta diversa.

Esse elemento da culpabilidade fundamenta duas causas de exclusão da culpabilidade:

Ø Coação MORAL irresistível – A coação mora irresistível, também chamada de “vis compulsiva” ocorre quando
uma pessoa coage outra a praticar determinado crime, sob a ameaça de lhe fazer algum mal grave. Neste caso,
aquele que age sob a ameaça atua em situação de coação moral irresistível, de forma que se entende que não era
possível exigir de tal pessoa uma outra postura.

EXEMPLO: Alberto, mediante ameaça, obriga Poliana a furtar um veículo. Alberto afirma que se Poliana não realizar
o furto, matará seu filho. Poliana, com medo de que Alberto cumpra a promessa e mate seu filho, pratica o furto e
entrega o bem a Alberto. Nesse caso, a conduta de Poliana é um fato típico (furto) e ilícito (não há nenhuma causa
de exclusão da ilicitude). Todavia, não se pode exigir de Poliana uma outra postura, pois está sob ameaça de um
mal gravíssimo (morte do filho).

Ø Obediência hierárquica – Na obediência hierárquica o agente pratica o fato em cumprimento a uma ordem
proferida por um superior hierárquico. Todavia, a ordem não pode ser MANIFESTAMENTE ILEGAL. Se aquele que
cumpre a ordem sabe que está cumprindo uma ordem ilegal, responde pelo crime juntamente com aquele que deu
a ordem. Se a ordem não é manifestamente ilegal, aquele que apenas a cumpriu estará acobertado pela excludente
de culpabilidade da obediência hierárquica, em razão da inexigibilidade de conduta diversa.

CUIDADO! Nesse caso (obediência hierárquica), só se aplica aos funcionários públicos, não aos particulares!

Importante destacar que somente a coação MORAL irresistível é que exclui a culpabilidade. A coação FÍSICA
irresistível NÃO EXCLUI A CULPABILIDADE. A coação FÍSICA irresistível EXCLUI O FATO TÍPICO, pois o fato não será
típico por ausência de CONDUTA, já que não há vontade.

Na coação física, também chamada de “vis absoluta” o agente atua sem vontade, pois não controla seus próprios
movimentos.

EXEMPLO: José e Pedro obrigam Paulo a matar Maria. Como Paulo se nega a apertar o gatilho, José e Pedro
seguram Paulo à força e colocam a arma em sua mão, forçando o dedo de Paulo contra o gatilho. Maria é alvejada
e morre. Neste caso, Paulo não teve vontade alguma, pois não controlava seus movimentos corporais. Seu dedo
apertou o gatilho, mas não porque Paulo assim decidiu, mas porque José e Pedro exerceram coação física. Assim,
Paulo não responde pela morte de Maria.

No caso de coação moral irresistível o agente possui vontade, embora esta vontade seja viciada, prejudicada pela
coação moral exercida contra o agente, por isso o agente pratica fato típico e ilícito, mas tem sua culpabilidade
afastada.

Na coação física irresistível o agente NÃO possui vontade, pois, como dito, não possui qualquer controle sobre seus
movimentos corporais. Se o agente não controla os próprios movimentos corporais, não há conduta penalmente
relevante, pois a conduta pressupõe o controle dos movimentos corporais pelo agente.

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