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ADAPTAÇÃO DE TRÊS QUESTIONÁRIOS PARA A POPULAÇÃO

PORTUGUESA BASEADOS NA TEORIA DE AUTO-DETERMINAÇÃO

Sónia Mestre, José Pais Ribeiro

Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto

As razões pelas quais os sujeitos adoptam comportamentos de saúde dependem de

entre outros factores do tipo de motivação. Deci e Ryan (1985, 2002), propõem a teoria

de Auto-Determinação na qual defendem que os objectivos inerentes à motivação

variam de sujeito para sujeito e são um continuum entre motivação intrínseca e

motivação extrínseca (Williams, Gagné, Ryan, & Deci, 2002), dependendo do grau de

interiorização que o indivíduo faz das suas experiências.

Uma regulação intrínseca representa o tipo de motivação inata e espontânea em que a

pessoa faz algo pelo interesse e prazer inerente à acção (Ryan, 1995), na motivação

extrínseca pelo contrário a pessoa faz algo pela consequência resultante do seu

desempenho. A importância de estudar o tipo de motivação em contexto de saúde

prende-se com o facto dos estudos demonstrarem que quando as pessoas revelam uma

motivação mais autónoma sentem-se mais competentes na aquisição de

comportamentos saudáveis (Williams, McGregor, Zeldman, Freedman & Deci, 2004).

Por outro lado, quando os profissionais de saúde fornecem várias opções acerca do

tratamento e esclarecem dúvidas aos seus pacientes, estes têm tendência a serem mais

motivados autonomamente (Williams et al., 2006).

Assim sendo, baseando-nos no princípio da teoria de Auto-Determinação que o

suporte autónomo, regulação autónoma e percepção de competência são preditores de

comportamentos de saúde, o objectivo foi validar para a População Portuguesa 3

questionários que integram a Teoria de Auto-Determinação. O formato destes


questionários foi introduzido por Ryan e Connell (1989) e têm sido adaptados para

diferentes comportamentos relacionados com a saúde, continuando-se a comprovar a

sua estabilidade métrica (Williams, Gagné, Ryan, & Deci, 2002; Williams, Grow,

Freedman, Ryan & Deci, 1996; Williams, McGregor, Zeldman, Freedman & Deci 2004;

Levesque et al., 2007). Neste estudo e dada a proporção de sujeitos obesos assinalados

todos os anos nos hospitais portugueses, de entre os questionários desenvolvidos

pretendemos validar para a População Portuguesa: o Treatment Self-Regulation

Questionnaire (TSRQ), concerning entering the weight loss program, o Perceived

Competence Scale (PCS), Maintaining a Healthy Diet, e o Health Care Climate

Questionnaire (HCCQ), Healthy Diet.

MÉTODO

Participantes

Um total de 338 estudantes universitários da área de Lisboa de diferentes cursos de

saúde e de ciências da comunicação, participaram neste estudo. A faixa etária média foi

de 21 anos compreendida num intervalo entre os 18 e os 51 anos. A maioria pertencia

ao sexo feminino (81,4%), e frequentavam diferentes anos de curso. Com efeito, cerca

de 56,8%, dos participantes frequentavam o primeiro ano do curso, 37% frequentavam o

2º ano, 3,3% frequentavam o 3º ano e 3% frequentavam o 4º ano.

Material

1. Questionário de caracterização sócio-demográfica com informação sobre a idade, o

sexo, o ano de escolaridade e o curso que frequentavam.

2. O Treatment Self-Regulation Questionnaire (TSRQ), concerning entering the weight

loss program é composto por 18 itens que avaliam a regulação autónoma e a regulação

controlada, sendo o score total do questionário dado pela média dos itens em cada
escala. Os itens distribuem-se por 4 grupos, com afirmações no início de cada grupo tais

como: “Decidi entrar neste programa para perder peso, porque”. A cada grupo de

afirmações o sujeito tem um conjunto de razões que terá que avaliar quanto verdadeira é

cada afirmação para si, com base numa escala de 7 pontos. Os itens 3, 4, 9, 13, 17 e 18

integram a escala de regulação autónoma, os restantes itens correspondem a uma

regulação controlada.

3. O Perceived Competence Scale (PCS) tem 4 afirmações, cuja concordância oscila

numa escala de Likert de 7 pontos que avalia o grau de confiança do sujeito na sua

capacidade em seguir uma dieta saudável. O total da escala é dado pela média obtida às

diferentes afirmações.

4. O Health Care Climate Questionnaire (HCCQ) determina a percepção que os sujeitos

têm do profissional de saúde, em termos de apoio mais direccionado para a autonomia

ou controlo. Inclui 6 itens, com respostas que variam tal como os questionários

anteriores numa escala de Likert de 7 pontos. O valor total do questionário é dado pela

média dos 6 itens.

Procedimento

Após tradução dos diferentes itens que compõem os questionários, por 3 tradutores

independentes e posteriormente aplicado a membros da população alvo, para perceber

que eventuais dificuldades teriam em responder ao mesmo, o questionário foi

novamente sujeito a revisão por 2 psicólogos. Uma vez o questionário concluído foi

pedida autorização às direcções das Universidades onde pretendíamos aplicá-los. Em

contexto sala de aula foi explicado aos estudantes a natureza da nossa investigação, que

a participação era voluntária, que não existiam respostas certas nem erradas e que a

informação recolhida seria confidencial e anónima. Por fim, procedemos ao tratamento

estatístico dos dados obtidos.


RESULTADOS

Realizámos uma análise factorial pelo critério de extracção Kaiser e método de

rotação obliqua aos itens que compõem o Treatment Self-Regulation Questionnaire

(TSRQ), concerning entering the weight loss program e tal como na sua versão original,

foram encontrados 2 factores. Um denominado de autónomo, contendo 6 itens

(eigenvalues = 3,88) que caracterizam razões autónomas para continuar no tratamento e

o outro factor denominado de regulação controlada contendo 12 itens (eigenvalues

=1,12), representando motivações controladas para continuar a seguir os procedimentos

médicos. Os dois factores explicam uma variância de 59,82%. Na análise exploratória

do Perceived Competence Scale (PCS), verificamos que este é composto por apenas um

único factor (eigenvalues = 3,12). O factor explica 78,05% da variância. Analisando

factorialmente os 6 itens do Health Care Climate Questionnaire (HCCQ) constata-se a

presença de um factor (eigenvalues = 4,08) que mede a percepção de suporte autónomo,

e explica 75,13% da variância.

A consistência interna dos 3 questionários revelou os seguintes valores de alfa de

Cronbach’s: O TSRQ na escala autónoma apresentou valores de alfa de 0,88 e na escala

controlada um alfa de 0,92; para o questionário PCS o alfa foi de 0,90 e de 0,93 para o

HCCQ. Em todos os questionários mantiveram-se todos os itens dos questionários

originais.

De uma forma geral os sujeitos inquiridos neste estudo revelam uma maior

tendência a terem uma regulação controlada (M = 5,15; DP = 1,29), do que uma

regulação autónoma (M = 4,73; DP = 1,55). Possuem igualmente um elevado grau de

percepção de competência em manter uma dieta saudável (M = 4,72; DP = 1,29) e um


elevado grau de percepção de suporte autónomo por parte dos técnicos de saúde (M =

4,31; DP = 1,40).

Constatou-se ainda uma correlação negativa moderada entre a escala autónoma e a

escala controlada r(338)=-0,66, p<0,01.

DISCUSSÃO

Os resultados da presente investigação indicam que a versão Portuguesa dos 3

questionários possui adequada validade interna, com valores similares aos encontrados

na sua versão original. Verificou-se igualmente que o conceito de Auto-Determinação

postulado por Deci e Ryan (1985, 2002) emergiu na amostra estudada, suportando o

continuum entre a regulação autónoma e a regulação controlada. Desta forma,

consideramos adequado o uso destes questionários para o estudo dos pressupostos da

Teoria de Auto-Determinação em contexto de saúde para a População Portuguesa.

REFERÊNCIAS

Deci, E.L., & Ryan, R.M. (1985). Intrinsic motivation and self-determination in

human behaviour. New York: Plenum.

Deci, E. L., & Ryan, R.M. (2002). Handbook of Self-Determination Research.

Rochester: The University of Rochester Press.

Levesque, C.S., Williams, G.C., Elliot, D., Pickering, M.A., Bodenhamer, B., et al.

(2007). Validating the theoretical structure of the Treatment Self-Regulation

Questionnaire (TSRQ) across three different health behaviors. Health Education

Research, 22, 691-702.

Ryan, R. M. (1995). Psychological needs and the facilitation of integrative

processes. Journal of Personality, 63, 397-427.


Ryan ,R.M., & Connell, J.P. (1989). Perceived locus of causality and internalization:

Examining reasons for acting in two domains. Journal of Personality and Social

Psychology, 57, 749-761.

Williams, G.C., Gagné, M., Ryan, R.M., & Deci, E.L. (2002). Facilitating

autonomous motivation for smoking cessation. Health Psychology, 21, 40-50.

Williams, G.C., Grow, V.M., Freedman, Z., Ryan, R.M., & Deci, E.L. (1996).

Motivational predictors of weight-loss maintenance. Journal of Personality and Social

Psychology, 70, 115-126.

Williams, G.C., McGregor, H.A., Sharp, D., Koudis, R., Levesque, C., Ryan, R.M.,

et al. (2006). Testing a Self-Determination Theory Intervention for Motivating Tobacco

Cessation: Supporting Autonomy and Competence in a Clinical Trial. Health

Psychology, 25, 91-101.

Williams, G.C., McGregor, H.A., Zeldman, A., Freedman, Z.R., & Deci, E.L.

(2004). Testing a self-determination theory process model for promoting glycemic

control through diabetes self-management. Health Psychology, 23, 58-66.

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