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1.

Definição e conceito de Direito Romano


Vera Cruz: o ius romanum,[é] um conjunto de regras criadas pelo Homem com o fim de garantir a liberdade da pessoa e a sua
vida em sociedade, através de decisões justas para os conflitos, as quais devem ser cumpridas, se necessário com recurso à
força ( por isso o Direito justo- ius- tem uma força legítima- vis- que aplica quando é necessário. O Direito romano era um
direito de regras e de juristas, foi criado, modificado e extinto pelos jurisprudentes na sua atividade de resolver conflitos com
soluções justas. O Direito criado pelos jurisprudentes é aplicado/concretizado pela adesão das pessoas às suas soluções, não
pelo exercício do poder coercitivo do Estado- o Direito não requer a força física, a ameaça estadual ou a sanção legal; as leis
sim.

Conjunto de regras, opiniões e decisões que vigoraram em Roma desde a sua fundação, no séc. VIII a.C., até à morte de
Justiniano (Imperador Bizantino do Império Romano) em 565 d.C. Os Romanos foram os primeiros a separar o ius (o direito está
fora do estado porque é criado pelos jurisprudentes sem imperium, mas com auctoritas) da religião e do poder.

2. O Direito romano e a juridicidade das normas


O Direito Romano está na origem de qualquer conjunto de normas e de soluções destinadas a promover a pessoa humana e a
dirimir conflitos entre pessoas que se pretenda « Direito».
A juridicidade é atribuída às regras pela: sua justeza, racionalidade/ adequabilidade das interpretações dos jurisprudentes e a
justiça concretizada nas soluções. As regras, para serem jurídicas, devem ter como finalidade, na sua aplicação aos casos em
litígio, conseguir a resolução justa entre as pessoas visando a paz nas sociedades humanas. Logo, para as normas que
disciplinam a vida em comum das pessoas serem jurídicas e assim, poderem designar-se como Direito, devem corresponder às
regras jurídicas criadas pelo mesmo método que os romanos usaram para criar o ius/derectum.

3. A atualidade da diferença entre Direito e Lei


O Direito nada tem a ver com a aplicação mecânica de normas legais inscritas em códigos a casos através de processos
judicializados numa burocracia incapaz de justiça; em sentenças formalmente irrepreensíveis embora materialmente injustas e
inaceitáveis. O Direito tem a ver com a historicidade das regras e o saber de quem as interpreta fundado na experiência da sua
aplicação a casos concretos procurando situações justas e exequíveis. Assim, propõe-se a diferenciação entre a regra jurídica e
a norma legal.

Atualmente, continuam válidos os preceitos jurídicos: honesto vivere, alterum non laedere, suum cuique tribuere- estas são as
regras fundamentais em que assenta o corpo do Direito, por estas podemos aferir a juridicidade de todas as outras regras.

4. O Direito Romano como cultura jurídica


O Direito é cultura jurídica, não ciência social e, como direito de juristas, é ars boni et aequi- previne contra o estadualismo
legalista que resulta da negação do Jurídico.
Como ciência social o Direito esquece a pessoa e centra-se na comunidade e no indivíduo, como categorias abstratas e
conceitos formais, perdendo a sua identidade genética e o cunho de jurisdicidade das soluções impostas.

5. O método jurisprudencial pleno na criação de Direito


O método casuístico-jurisprudencial pleno possibilita combater as causas da decadência do Direito preenchendo o fim
atualizador e interventivo da decadência do Direito preenchendo o fim atualizador e interventivo do Direito Romano. Procura-
se pelo método uma formação cultural ativa para evitar que o papel do jurista na sociedade seja apenas o que lhe é reservado
pelo poder político- um jurista estadualizado como intérprete da vontade legislativamente expressa pelos representantes do
povo, no âmbito do Estado, ou encerrado na academia, isolado dos destinatários das leis. Este método forma juristas
preparados para juntar, na prática judiciária atual, regula e mores maiorum na sententia, a partir do conjunto normativo como
ordenamento substantivo, não enquanto sistema legal. A resolução do caso não emana do dever ser prefixado na norma geral
e abstrata positivada na lei, mas do que é justo como reposição do lesado no caso concreto em análise.

1.Primeiro Período Roma do rex e das gentes (753 a.C. – 509 a.C.)
É um período marcado pelos elementos de organização gentílica e os efeitos do poder real característico da dinastia Tarquínia
(dinastia dos últimos três reis de Roma).O Rex e as gentes são as duas instituições que marcaram a organização política, social e
militar de Roma, determinando, assim, a criação jurídica dos Romanos, sendo que o Rex se integrava no topo da pirâmide
hierárquica das estruturas religiosas, militares e políticas romanas, e as gentes ao povo da cidade de Roma (têm diferentes
direitos entre si). Até ao fim do império, verifica-se uma organização militar do poder político correspondente à organização
atual da igreja (por isso é que a Igreja se impôs quando Roma caiu).
Organização social: 1 Rei; 3 tribos (cada uma com 10 cúrias);30 Cúrias ( cada uma com 10 decúrias); 300 Decúrias (cada uma
com 10 homens).

O poder que rege em Roma é maioritariamente sacro/divino e o rei é escolhido por intermediação dos deuses através do
colégio dos pontífices- constituído pelos chefes das famílias patrícias, sendo que o rei é normalmente um membro deste
colégio . Dentro das famílias patrícias há sempre um pontífice que mantém as relações com os deuses e é a quem se recorre
para a tomada de decisões. A sociedade e o direito são profundamente místicos- há uma relação quase umbilical entre o
humano e o profano.

Poderes do Rex:
o Imperium militae - chefia as tribos e lidera a defesa de Roma.
o Imperium domi -poder para administrar a cidade, permite ao rei resolver aspetos da vida coletiva e dirimir os litígios, poder
que lhe permite fazer leis: Leges Regiae (positivações do direito romano).
o Poder de intermediação divina- pontífice máximum: é ele quem faz a ligação divina entre o humano e o profano, ou seja, é
ele quem faz a ligação com os deuses. Este poder corresponde à base do poder político do rex.

Leges Regiae- leis feitas pelo rei representantes da vontade divina e resultantes da formalização de regras consuetudinárias,
não podem ser revogadas/recusadas pelos Comitia. As leges regiae ( recolhidas no ius papirianum) não permitem dizer que o
rex tinha um poder normativo próprio como expressão do poder político, já que se tratam apenas de um conjunto de regras
formalizadoras de máximas consuetudinárias que circulavam oralmente e de rituais religiosos que se cumpriam na liturgia de
então.

O Rex era eletivo: Quando o rei morria os seus poderes iam para o senado que nomeava um interrex a quem os deuses
expressavam a sua vontade relativamente ao nome do selecionado (entre os senadores) - o rei escolhido assumia a posse dos
poderes de imperium com autorização do comitia curiata- votavam o nome proposto que, se fosse aprovado, procedia-se à
inauguratio: uma cerimónia religiosa de investidura nos poderes supremos e no poder político «soberano».

Senado: órgão que representa o patriciado, isto é, a aristocracia romana, sendo o órgão consultivo do rei só este o podia
convocar, foi o único órgão que perdurou durante toda a existência do Império Romano. O senado tem auctoritas porque é, ao
longo de toda a história de Roma, o guardião da mais antiga fonte de direito os Mores Maiorum.

Funções do Senado:
o Conceder auctoritas às deliberações de outros órgãos, nomeadamente os comitia curiata, de modo a ratificar as decisões
tomadas.
o Declarar a guerra e a paz - ius bellis et pacis .
o Poder de celebrar tratados .
o Conselho e auxílio do rei.
o Poder de interregnum: forma de garantir a continuidade dos auspicia, poder que o senado assume na ausência do Rex de
chefia do Estado e de ratificação do novo rei e das deliberações dos outros órgãos, juntamente com os Comitia : lex curiata
comitia - lei que atribui poderes aos comitia e ao senado, dizendo que a eleição do rei está nas mãos dos comitia.

Comitia Curiata: órgão que reunia todo o populus de Roma. Assembleia onde se verifica a incidência do papel do cidadão no
controlo jurídico (muito forte) .

Poderes dos Comitia:


o Fiscalização dos poderes do rei;
o Aprovação das leis propostas pelos reis: partilha do poder entre o rei e os Comitia, os últimos podem rejeitar as leis
políticas propostas pelo rei, pondo em causa o poder deste nessas matérias.
o Aprovação do nome do futuro rex proposto pelo interrex.
o As suas intervenções decisivas eram expressas por um ato de aceitação ou de rejeição, não tinham competência
deliberativa própria.
o Formulavam regras concretizadoras dos mores maiorum.

Os comitia curiata não tinham nenhuma competência legislativa própria- a falta de autonomia decisória dos membros impõe
que questionemos a possibilidade de deliberação autónoma das assembleias a que estes pertenciam. A haver alguma
intervenção decisiva dos comitia curiata ela deveria ser expressa não por uma deliberação, mas por um ato de adesão ou
rejeição a uma pergunta feita por um magistrado. Assim, é o magistrado que determina o conteúdo da solução e a assembleia
limita-se a aceitá-la ou não.

A lex curiata de imperium fixa o nexo de ligação entre o rex e o populus, estrutura da civitas que confirma a insuficiência do
mero investimento do senado para legitimar o rex no exercício dos seus poderes.
Os colégios sacerdotais não podem ser considerados um órgão do governo de Roma, mas eram uma forte instituição com
elevado poder de influência sobre as decisões políticas, de entre os quais podemos destacar: o dos áugures, o dos pontífices, os
duoviri sacris faciundis e os collegia minora de flamines e fetiales.

Collegia Sacerdotallia- têm forte influência sobre as decisões políticas.


o Colégio dos pontífices - instituição que protegia os interesses das famílias patrícias no confronto com o Rex. Os pontífices
detinham o conhecimento para resolver litígios ( conheciam o mores maiorum).
o Colégio dos augures- pessoas com legitimidade para interpretar a vontade dos deuses através dos auguria.

2. Transição da Monarquia para a República (509 a.C.- 367 a.C.)


No final do séc. VI a.C. os romanos expulsaram Tarquínio e seus filhos e passaram a ser governados por 2 chefes por ano
Praetores ou Consules. Cessadas as funções respondiam por aquilo que tinham feito no exercício do cargo.

494 a.C. Revolta institucional, não militar dos plebeus: luta entre patrícios e plebeus pela aequatio iuris -igualdade política e
pela paridade face ao Direito, de modo a poderem participar plenamente na vida política e social de Roma. Ainda que tivessem
liberdade e cidadania, os plebeus eram privados de poder e considerados de condição inferior (não podiam participar na
descoberta, criação e aplicação da lei).

Entre 451-449 a.C. são eleitos os dois novos Cônsules: Valério Potito e M. Horácio Barbato que fizeram publicar a lei das XXII
Tábuas e as 3 Leges Valeriae Horatiae.

451 a.C.- colégio de 10 patrícios (com plenos poderes militares e políticos) iniciou a redação das Leis das XXII Tábuas - Decemviri
Legibus Scribundis - foram necessários 2 decenviratos para levar o trabalho a cabo. Estas leis não afetaram o Ius Romanum, em
termos de conteúdo, por se limitarem a redigir as normas tradicionais do mores maiorum, apesar disto são de grande
importância pois quebraram a barreira de incerteza e insegurança que caracterizava o processo decisório- permitia conhecer os
fundamentos e criticar as soluções das sentençasp.
o "10 tábuas" são aprovadas pelos Comitia, mas consideradas insuficientes no que toca aos direitos do plebeus
o Elege-se outro decenvirato para redigir mais 2 tábuas que são recusadas pelos comitia
o Valério e Horácio redigem as 2 tábuas- Lex Valeria e Horatia.
12 Tábuas :
o Lei 1ª-3ª: matéria do processo civil;
o Lei 4ª- Direito da família;
o Lei 5ª- Direito das sucessões;
o Lei 6ª- Contratos;
o Lei 7ª- 12ª- Direito penal (onde residem alguns benefícios para os plebeus).
Apesar da redação destas leis continuam a ser necessários jurisprudentes para as interpretarem e trabalharem, pois estas não
nos dizem quais as soluções para os casos.

Impedir qualquer tentativa de reinstaurar a monarquia:


o O imperium passou para os magistrados eletivos, duais e anuais.
o O poder do rei de fazer a mediação homens-deuses passa para o pontífice máximo.
o Garantir que a aplicação das mais graves medidas repressivas não ficasse só ao arbítrio dos patrícios, criação de uma
magistratura para esse efeito- o tribuno da plebe- e de um instituto de deliberação popular (em 509 a.C.)- a provocatio ad
populum.

Processo comicial:
1) Anquisitio (inquérito)- feita pelo magistrado para apurar a real existência de um crime.
2) Rogatio- resposta da assembleia que se pronunciava sobre a pena a atribuir..

Abertura das magistraturas aos plebeus: os tribunos militum consulari potestae- a componente militar plebeia impôs ao Senado
a sua presença nos cargos supremos do Estado. Esta abertura introduziu uma profunda reforma de mentalidades em de Roma
com efeitos na estrutura jurídica e no processo de criação e aplicação de regras jurídicas)

Em 367 a.C. foram aprovadas as Lex Licinae Sextiae que formalizam as reivindicações dos plebeus quanto à paridade jurídico-
política entre os patrícios e os plebeus.
o Lex Licinae Aero Aliero: os devedores têm a possibilidade de dividir os montantes da sua divida em 3 prestações e pagar
cada uma delas anualmente- maior segurança na sociedade Romana, visto que ajuda a diminuir o grau de agressividade dos
patrícios perante os plebeus.
o Lex Licinae modum agrorum: trata da redistribuição de terras por plebeus, evitando, assim, que haja domínio exponencial
de umas famílias sobre as outras.
o Lex Licinae de consule plebeo- deve haver um cônsul patrício e um plebeu, de modo a haver equilíbrio do poder.
A Lei das XII Tábuas e a Lex Licinae Sextiae são as medidas legislativas que traduzem a transição da monarquia para a república;
são 2 momentos de evolução legislativa com o objetivo de igualar plebeus e patrícios.
3. O populus romano e a república (367 a.C. – 27 a.C.)
Em Roma, nesta altura, partia-se de casos concretos que eram analisados por magistrados para decidir as soluções dos
mesmos- casuísmo. O poder político é exercido em nome da comunidade e entregue aos magistrados detentores de imperium;
o Senado, dotado de auctoritas política, é o órgão de conselho e consulta de magistrados, garantindo a continuidade
institucional do poder público de Roma em caso de crise; o populus, onde assenta a maiestas, passa a ter uma organização
institucionalizada que expressa as suas posições através de deliberações das suas assembleias.

O cidadão romano participava na vida da cidade através da escolha dos magistrados e da votação das propostas de leis
apresentadas pelos magistrados, contribuía com serviço público para a comunidade, servia nas legiões, contribuía, quando
assim era decidido em assembleia, com um tributum em caso de dificuldade financeira da sociedade etc.
Roma:
o Comitia
o Senado
o Magistrados

Assembleias do Populus: comitia curiata, comitia tributa, comitia centuriata e os concilia plebis.

Comitia : assembleia de todos os cidadãos, as assembleias reuniam de forma separada, consoante os grupos politicamente
relevantes; há 3 tipos :
o Comitia Curiata- (cúrias) elegiam os reis e os membros do Senado, escolhiam magistrados, faziam leis, tratavam das
questões sagradas e fiscalizam os poderes do rei.
o Comitia Centuriata- ( centúrias- comandadas pelos centuriões) assembleia de matriz plebeia convocada por um magistrado
cum imperium. competências: aprovavam a declaração de guerra e os tratados de paz, elegiam os magistrados maiores,
aprovavam as leis propostas pelos magistrados, decidiam sobre a morte e vida dos cidadãos acusados- iudicium.
o Comitia Tributa- (tribos) eram mais restritos, eram assembleias com o propósito de resolver um grupo restrito de pessoas-
tribo, tinham um papel local.
Nota: O Senado tinha um papel superior à Comitia, mas acaba por ter uma menor posição interventiva na vida social de Roma.

Concilia da Plebe- constituída pelos plebeus que elegiam o Tribuno da plebe e os plebiscita (leis que se aplicam exclusivamente
aos plebeus) e, ainda, aplicavam multas aos plebeus por crimes menores. Com a Lex Hortensia passou a ter importantes
competências legislativas.

Senado: até à República era uma assembleia, exclusivamente, patrícia a partir daí passou a integrar também plebeus.
Funções:
o Conduzir a política externa de Roma e receber embaixadas de outros povos;
o Aprovar tratados internacionais;
o Garantir o cumprimento do mores maiorum- concessão de auctoritas patrum às leis aprovadas pelos comitia;
o Fixação do orçamento militar (Roma financiava-se através da guerra);
o Auxiliar o governo dos Cônsules.

Senatus Consulta (substituição da lex rogata)

Os magistrados eram, por vezes, obrigados a consultar o senado antes de tomar certas decisões, mas não tinham de seguir a
sua deliberação- o Senado não exercia qualquer competência legislativa, sendo um órgão consultivo as suas deliberações
tinham a natureza de pareceres e abrangiam apenas a parte que solicitava o parecer. O senado concedia ou não auctoritas
patrum às leis votadas nos comitia e davam conselhos aos magistrados com ius agendi cum populo ( poder de convocar).
Com a lex aebutia per formulis o senado passa a ser fonte imediata de direito, porque é este órgão que aconselha o pretor no
exercício da sua atividade- criar direito; surgindo até a ideia que era o Senado que realmente legislava. Esta valoração
legislativa do Senado resultou da afirmação da auctoritas patrum. A partir de Adriano esta ideia desaparece, pois quem aprova
as leis que vigoram como tal é o princeps- o Senado perde, então, força jurídica.

O Senatus Consulta tinha duas partes: o praefatio- prefácio: nome do magistrado convocador, etc.- e o relatio- o conteúdo.

Em V a.C. houve um Senatus Consulta que se considera que foi o primeiro com força vinculativa, não o sendo realmente porque
abrangia apenas matéria substantiva (processual). O primeiro Senatus Consulta com força vinculativa surge em X d.C. com
forma legislativa sobre direitos substantivos- Senatus Consulta Silanianum ( secre acrum)- com a finalidade de reprimir os
frequentes assassinatos de proprietários cometidos por escravos.
Até X d.C. os Senatus Consulta eram fontes de direito não imediatas ( não valiam por si só), eram consultas do senado às
instâncias, não vinculando as partes. Aqui os comitia pediam pareceres ao senado assim como os magistrados, e esses
pareceres valiam como direito e eram para ser cumpridos. A partir do ano 10 d.C. assumem um papel legislativo com a
aceitação do princeps.

Magistraturas: são os órgãos mais importantes porque os poderes do Rex foram transferidos para eles.

Características:
o Colegialidade- há sempre 2 magistrados para cada função (um tinha Imperium e o outro o direito de vetar as decisões do
primeiro);
o Temporalidade- mandato de 1 ano ( com exceção do ditador- 6 meses- e do censor- 5 anos);
o Separação de poderes;
o Responsabilidade pelas infrações cometidas durante o mandato.

Critérios de eleição- ius suffragi:


o Edicto- tinham de apresentar um programa de governo com as soluções propostas;
o Tinham de ser cidadãos;
o Não podiam ser libertos, nem filhos destes;
o Não podiam ter sido acusados de infâmia;
o Tinham de ter no mínimo 28 anos para ter acesso à primeira magistratura.

Poderes comuns a todas as magistraturas:


o Ius auspiciorum- faculdade de indagarem a vontade de Deus antes de qualquer ato importante;
o Ius edicendi- direito de promulgar edictos no início do seu cargo e contendo as regras a que essa atividade se sujeitará;
o Coercitio- poder de impor as suas decisões.

Magistraturas:
o Ordinárias (censores, cônsules, pretores, edis e questores)
permanentes- o titular estava sempre em função;
não permanentes- o titular exercia funções não contínuas.
o Extraordinárias-(ditador e tribuno da plebe) não são permanentes e são eleitas para fazer face a imprevistos, tinham poder
de intercessio sobre todos os magistrados ordinários .

As magistraturas ordinárias diferem das extraordinárias, dado que são eleitas periodicamente ao contrário das segundas que só
são eleitas em períodos de insegurança militar ou religiosa.

Hierarquia dos magistrados : cônsul » Pretor» Censor» Ditador» Questor» Edil

Magistratura Funções

ü Colegial, anual, divide os poderes com os outros magistrados


ü Comandante militar (imperium militae)
Administração da cidade (imperium domi)
ü Coercitio e Iudicatio- acusar, julgar e executar sentenças sem obrigação de seguir o Consilium por ele convocado e
Cônsul liberto de qualquer formalidade;
Ius agendi cum patribus- poder de convocar o senado e Ius agendi cum populus- poder de convocar as assembleias
populares
Poder de intercessio contra o pretor, influenciando o exercício da iurisdictio
Exerce todas as outras competências que não cabiam aos outros magistrados
Criados pela lex Licínia Sextiae em 367 a.C.
Magistratura ordinária permanente, inicialmente unitária, mas mais tarde chegaram a 6
Aplicava a justiça civil – exercício exclusivo da iurisdictio
Pretor
Convoca os comícios para elegerem os magistrados menores
Substituía o Cônsul, nos seus impedimentos, no governo da cidade
Imperium = Imperium do Cônsul; Potestas < Potestas do Cônsul
ü Podia, a pedido do Senado, comandar os exércitos fora da cidade.
Apresenta propostas de lei para aprovação aos comícios

Magistratura ordinária não permanente, mandato de 5 anos, poder efetivo de 18 meses


Magistratura investida pela lex potestae censoria
Exercício de funções efetivas durante 18 meses
Encarregue do recenseamento da população (census) e da aprovação dos registos dos cidadãos e respetivo
património
Censor
Nomeava Senadores e controlava a aplicação dos mores maiorum
Sem Imperium;
ü Titular de auspicia;
ü Registava o património predial, comunicado pelos paterfamília;
ü Ager publicus- administrava os bens públicos
Exercício do cargo, por norma, durante 6 meses
Escolhido pelo Senado pelo seu perfil e características necessárias ao cargo
Ditador Consoante a situação para que era chamada podia nomear-se um dictator optimo iure (plenos e indefinidos poderes)
ou um dictator imminuto iure (com poderes sacrais específicos, mas grande relevância política)
Nomeado por questões militares ou religiosas.
Com a república torna-se uma magistratura patrícia-plebeia
Sem imperium, com potestas: ius edicendi; ius agendi cum populo e cum plebe; ius agendi cum patribus
Edil Jurisdição de polícia na cidade
Guarda dos arquivos e gestão do tesouro
Superintendência na atividade dos mercados e no abastecimento da cidade
Sem imperium, com potestas: ius edicendi; ius agendi cum populo e cum plebe; ius agendi cum patribus
Administração do erário do Populus romanus; supervisão das receitas fiscais e distribuição de fundos para as tarefas
Questor
dos cônsules
Até às Questiones Perpetuae faziam a instrução e acusação dos crimes punidos com pena de morte
Magistratura especial
Primeiro eleitos pelos comitia tributa e depois pelos concilia plebe
Garante os interesses da plebe
Tribuno da Imunidade absoluta e poder de intercessio às decisões dos outros magistrados(incluindo o cônsul, mas não se sabe
plebe quanto ao censor)
Tinham potestas coercendi, mas sem ligação à intercessio
Dotados, progressivamente, de ius senatus habendi (direito de convocar e presidir ao Senado) e agere cum plebe
(estabelecimento de uma relação orgânica com os concilia plebis para analisarem decisões políticas (plebiscita)).

Nota: Os poderes do pretor dividiam-se com base na Lex Aebutia de Formulis 130 a.C. o pretor passa a aplicar a justiça com
base no iurisdcitio, passa a criar fórmulas- direito processual. Até essa data o pretor utiliza o seu Imperium é intérprete do Ius
civilis, não o cria. ( ver a seguir)

A Leges em Roma
Lex: toda a norma escrita que pode ser lida, declaração solene com valor normativo baseado num acordo entre quem emite a
declaração e os seus destinatários (ambas as partes são vinculadas pela lei).

Lex Privata: tem por base um negócio privado, cria direito privado que vincula ambas as partes do negócio.
Lex publica: apresentada por magistrados aos comitia curiata, aprovada pelo populis com uma autorização responsável
(iussum); há um acordo entre o magistrado que propõe a lei e o povo que a aprova. Pode ser de dois tipos:
o Plebiscitum: proposto no tribuno da plebe e votada nos concilia da plebe, no inicio tinham carácter normativo não jurídico
não vinculando nem os patrícios nem os plebeus. A partir de 449 a.C. Lex Valeria e Horatia de plebiscitis adquirem força
vinculativa igual à dos leges, mas só para os plebeus.
o Lex rogata- regula direito público, são identificadas pelos nomes dos 2 cônsules do ano em que são propostas e aprovadas,
podem conter indicação sumária do conteúdo.

Processo de aprovação da Lex Rogata (450 a.C.- 252 a.C.) :


1) Conciones- discussão pública da lei sem carácter oficial ou jurídico, para que se possa discutir a proposta ( chama-se
conciones porque ninguém fala sem que lhe seja concedida a palavra; discursos favoráveis suasiones discursos contra
dissuasiones);
2) Rogatio- pedido de aprovação dos magistrados proponentes da lei aos comitia para que a lei seja aprovada ( o nome do
pedido era rogatio ) ;
3) Votação- voto oral e dado com palavras sacramentais ( em 131 a.C. Lex Papiria Tabelleria- voto escrito e secreto) ;
4) Aprovação pelo Senado- a lei era referendada pelo Senado que lhe concedia auctoritas patrum verificação da confirmação
com o mores maiorum.
5) Afixação- a nova lex era afixada no fórum em tábuas de madeira ou bronze.

Até 339 a.C.- Lex Publica Philonis; a aprovação do senado era feita após a votação dos comitia o que deu origem a conflito entre
o senado e os comitia, a partir de 339 a.C. a auctoritas patrum passa a ser atribuída antes do voto - só os projetos aprovados no
senado foram votados nos comitia .

Lex data: (surgem em 242 a.C.) lei proferida por um magistrado em virtude de um poder específico que o povo lhe deu para
esse efeito. Há quem duvide que este tipo de lei tenha existido- Pra Gianfranco Tibiletti.
Lex dicta: são proferidas por um magistrado em virtude dos próprios direitos.

Partes de uma lex rogata:


1) Praescriptio- espécie de prefácio; contém o nome do magistrado proponente, a assembleia que votou e a data, o nome
do primeiro agrupamento.
2) Rogatio- é a parte dispositiva da lex.
3) Sanctio- é a parte final da lex. Estabelece os termos da sua eficácia e a sua relação com outras normas, afirmando
respeito pelos mores maiorum.

Porque é que existiam propostas de lei?


o Os cônsules entendiam que era preciso tratar de uma nova situação jurídica.
o Os pretores (que administravam a justiça e o direito – imperium militar e domi e potestas e auctoritas) se propunham a
resolver um caso jurídico concreto em que surgia essa necessidade.

Os pretores administram a justiça não aplicam o direito.


130 a.C.- Lex Aebutia Formulis; até aí o pretor é intérprete de Ius Civile - se verificar que a situação está representada no Ius
Civile pode interpretá-lo, aplica o direito através da interpretatio; após essa lei o pretor passa a ser criador de Ius Civile com
base nos seus poderes de iurisdictio- caso não esteja representada no Ius Civile o pretor proponente da lei rogata pode propor
leis para resolver questões concretas.
Antes de 130 a.C. pretor trabalhava baseando-se nas leges acciones, sem criar direito. A partir de 130 a.C. o pretor já se
encontra na fase formular : agere per formulis – atribui-se iurisdictio ao pretor. Verificou-se, assim, a expansão da ação e
importância do pretor como magistrados jurisdicional.

Ius praetorium- direito criado e interpretado pelo pretor, pode ser um direito novo (criado) ou não ( interpretado). Este ius faz
parte do ius honorarium (direito criado pelos edictos dos magistrados).

Pretor Urbano- administra a sua função na cidade (aos cidadãos só se aplica Ius Civile) e interpreta o Ius Civile (só se aplica aos
cidadãos) fá-lo por via processual, não é um teórico do direito- resolve questões concretas, não dá a sua opinião como os
jurisprudentes, mas administrando a justiça ( potestas & imperium). Trabalha no âmbito do seu tribunal.

Pretor peregrino- resolve questões jurídicas entre estrangeiros e entre estrangeiros e cidadãos- Ius Gentium- criado pelo pretor
peregrino para resolver questões jurídicas que envolvam estrangeiros, baseia-se no Ius Civile, mas sofreu alterações causadas
pelo contacto com os povos e pelo pretor. Administra, também, a justiça e resolve situações concretas

A partir do séc. III Roma tem 2 ornamentos jurídicos: o Ius Civile e o Ius Gentium.

O pretor atua através do : Tribunal e do Edicto do pretor .


Edito do pretor: programa de atividades a desenvolver durante o mandato pelo candidato à pretura, é afixado publicamente na
apresentação da candidatura, era uma das fontes de direito objetivo em Roma, aquilo que era proposto no edicto vinculava o
pretor durante o seu mandato . É na prática um conjunto de fórmulas compostas pelo pretor, que são instruções através das
quais é exercido o iurisdictio, ou seja, são as instruções dadas ao iudex, passando-se da fase in iure para a apud iodicem

Agere: as partes consultam os jurisprudentes, que seguem as instruções do pretor – as fórmulas. O que as partes querem de
verdade é conseguir ‘vencer’, mas a única forma de conseguir realmente ganhar o caso, era se fosse eu a escrever a fórmula, o
que não é possível pois quem faz isso são os pretores, eles escrevem a fórmula que acham justa para o caso concreto, mas eles
podem no entanto pedir ajuda/pareceres! Também as partes podem pedir estes pareceres para conseguirem ganhar o caso, e é
o que fazem quando recorrem ao pretor e aos jurisprudentes. Aí o pretor redige a fórmula através de um decreto.
O que as partes fazem na verdade é pedir a fórmula ao pretor – pecticia/petição (ato postulativo).
1ª hipótese: não há formulas – peço ao jp, que é quem tem a última palavra, uma fórmula usada pelo pretor
2ª hipótese: o jurisprudente diz de entre as fórmulas existentes do edito qual deve ser pedida pela parte (qual a melhor para
tutelar o seu caso)

O que pode acontecer é que as duas partes peçam uma formula distinta, existindo então duas diferentes, ou seja, uma
multiplicidade de opiniões. Posto isto quem decide/escolhe depois é o pretor.
A partir do edito de Adriano não há novas formulas, porque se cristalizou para não existir o confronto e a multiplicidade de
opiniões.

Há vários tipos de edicto:


o Perpetuo- edicto anual apresentado pelo pretor no início da magistratura;
o Repentino- surge baseado no Imperium do pretor para resolver uma questão concreta que não estava no edicto perpetuo.
o Tralacticia- aquele que repete o edito perpetuo do ano anterior;
o Nova- publicado durante o mandato para acrescentar novas situações ao edicto (é diferente do repentino por não se referir
a casos concretos).

Tribunal do pretor : durante o seu tribunal, o pretor interpreta, integra e corrige o Ius Civile

Fase in iure- determinação do direito presidida pelo pretor:


Seja no sistema de leges aciones ou ages per formulis, é a fase em que o que é demandante de qualquer situação concreta vai
até ao pretor apresentar a sua questão para ele verificar se concede ou não uma actio. O demandado pode confessar ou não
confessar o ato, ou pode apresentar um motivo atendível (exceção). Depois da avaliação jurídica da situação, o pretor termina
esta fase com a litis contestatio – ato formal através do qual determina a instancia in iure, através da conceção ao demandante
de uma formula ou actio e a aceitação da mesma por parte do demandado. É um contrato judiciário pelo qual as partes levam
ao juiz os seus diferendos. E dela deve nascer um direito novo, para o demandante (condenação pecuniária do demandado) –
teoria de Gaio. Aqui o demandado compreende e aceita que é devedor e passa-se para a fase seguinte – terminus do processo.

Fase Apud Iodicem- fase da prova:


Fase presidida pelo Judex (não é um magistrado nem tem potestas ou imperium; é apenas um homem bom, que é capaz de
ouvir as pessoas e qualificar quem esta a mentir e quem esta a falar verdade determinando a verdade dos factos na história
concreta), em que se faz a prova, após a determinação do direito. O juiz vai aplicar aquilo que foi definido nas actio da lei, ou
nos sistema formulários (vai aplicar o direito pré definido/determinado pelo pretor) – o juiz não pode apresentar exceções. O
juiz só aplica o direito determinado pelo pretor.
Uma das hipóteses de anulação da lei/da decisão do juiz é com uma intercassio de 1 dos magistrados superiores (só assim é
que as partes podem agir contra a decisão porque são eles que têm a capacidade de revogar as decisões dos magistrados
inferiores).

O pretor não se preocupa com a veracidade ou com o resultado do caso, a sua preocupação é garantir que o caso está
estipulado no Ius Civile. Se sim ele concede o poder de recorrer ao tribunal (actios) e depois faz-se ai a prova e aplica-se o que o
pretor disse.

Exemplo: Deu-se um stipolatio (contrato com direitos e obrigações) entre A e B, em que A emprestou 1000 euros a B,
determinando que este poderia pagar-lhe em 2 partes dos próximos 2 anos. O que aconteceu foi que os 2 anos se passaram e B
só pagou 500 euros. Posto isto A dirigiu-se ao pretor, que disse que A tem o direito de receber o dinheiro (actio) e pode ir a
tribunal, porque o ius civile protege o negocio jurídico. Quando vai a tribunal dá-se a fase da prova com o iudex que ira verificar
a veracidade dos factos (porque esse não era o papel do pretor). Depois de tudo se confirmar o juiz aplica o actio concebido
pelo pretor e resolve o caso.



4. O Princeps como primus inter pares (27 a.C. – 285)
Surgiu após o fim da república com o destaque de uma personalidade com poder militar supremo, governo das províncias e
autoridade superior em Roma – o prínceps. O seu poder é legitimado politicamente por delegação de Senado e das
Assembleias populares, preservando-se a sua formalidade republicana.

O Ius Publice Respondendi e o fim da jurisprudência- crise de objetivos:


No principado os Jurisprudentes organizaram e sistematizaram regras/ princípio do Ius Romanum.
Augusto criou o Ius Publice Respondendi- instituto atribuído aos jurisprudentes, pelo princeps, para que estes pudessem
vincular as partes em tribunal como se fossem o próprio princeps. O IPR foi criado com o objetivo de evitar a insegurança
resultante das diversas opiniões dadas pelos muitos jurisprudentes. Augusto não proíbe ninguém de exercer a jurisprudência,
mas deixa de fazer sentido exercê-la não tendo IPR, pelo que os jurisprudentes começam a fazer de tudo para agradar ao
princeps, levando a um retrocesso na jurisprudência:
o secretismo na atividade jurisprudencial- possibilidade de manipulação de sentenças;
o regresso do monopólio efetivo da interpretatio jurídica efetuada por um conjunto limitado de membros da aristocracia
senatorial.
As respostas de Jurisprudentes com IPR não eram fontes diretas de direito, mas sim fontes de criação de direito.

Decadência dos órgãos constitucionais- concentração progressiva dos poderes nas mãos do princeps- desgaste nos órgãos de
expressão colegial ( comícios e senado) que passam a assumir um papel meramente formal.

Comitia: costumavam ter duas grandes funções: aprovar leis e eleger magistrados; a primeira competência passa a ser exercida
pelo senado e a segunda diminui à medida que o princeps começa a assumir esta função- os magistrados começam a
corresponder aos funcionários do princeps. Assim, perdem progressivamente o seu poder, pelo que deixam de ser convocados
e, consequentemente, verifica-se o desaparecimento desta assembleia popular.

Senado: o princeps introduziu alterações no senado para facilitar o seu controlo: redução do número de senadores; o princeps
passa a convocar o senado sempre que entender- senatus legitimus; expansão dos poderes do senado, retirando-os ao populus
para que o princeps os pudesse exercer- senado perde as funções políticas que exercia com independência.

Magistraturas:
o Pretor perde a sua importância porque o princeps cria o seu próprio tribunal ( há transferência dos cidadãos do tribunal do
pretor para o do princeps).
o Censor- vê as suas funções reduzidas.
o Cônsul- desaparece.
o Ficam o Edil e o Questor como funcionários para administração do Imperium, mas são desvalorizados e esvaziados de
funções.
o Tribuno da Plebe- mantém o intercessio (menos contra o princeps) e os seus poderes perdem eficácia.

O imperador Adriano destacou-se com a feitura do edito perpetuo de Adriano, assim chamado porque não podia ser feito mais
nenhum edito por um pretor com ideologias diferentes (não se pode mais alterar o conteúdo do edito – cristalização : ficou
assim não se permitindo novas formas de administrar a justiça, só as do imperador). Este edito é um pouco contraditório pois
não foi feito por Adriano, mas sim por Juliano, um jp mandado pelo imperador, e não e propriamente um edito.
Ele foi publicado pelo senado consulta. Aqui o pretor perde a capacidade de criação de direito e limita-se a aplicar o que tinha
sido criado pelos pretores anteriores.

5. O prínceps como rex no império único (285 – 395)


Com a queda da dinastia dos severos, sendo a violência e os militares uma marca presente em Roma, não havendo paz no
direito criado pelos jurisprudentes- que perderam o destaque no principado-. Parte dos jurisprudentes em tudo obedecem ao
princeps/ imperador e, por outro lado, há uma massa de jurisprudentes que resistem, do lado cívico, ao poder do princeps,
sendo considerados opositores políticos.

É inaugurada em Roma uma monarquia absoluta ( general Aureliano) e os romanos tornam a ser súbditos. Outro general-
Diocleciano- vai aprofundar e consolidar a monarquia romana no sistema político conhecido de Dominado. Aqui desaparece a
jurisprudência - não há separação de poderes nem autonomia de justiça.

1. Mores maiorum e consuetudo


o Direito oral que se impõe à população, indicando qual o comportamento adequado a cada situação, não é criado pelo
homem, mas sim um direito que se impõe pela relação entre o humano e o divino, são a solução jurídica transmitida pelos
deuses aos pontífices.
o O mores maiorum é o direito nuclear de Roma, a sua desacreditação põe em causa todo o império.
o Conjunto de regras fundadas na tradição que expressavam a moralidade aceite e de aplicação comprovada, desenvolvidas e
adotadas na resolução de casos concretos pelos sacerdotes romanos, pela invocação da intervenção divina que
interpretavam caso a caso.
o Mores Maiorum ≠ costume: o primeiro é aplicado e interpretado pelos pontífices e impõe-se à sociedade pela sua
qualidade divina, já o segundo é criado pelo comportamento dos cidadãos e impõe-se à sociedade porque nasce dela.

2. O ius honorarium
Ius Civile- conjunto de regras resultante da interpretatio feita pelos sacerdotes das regras divinas e dos mores maiorum antes
da expansão romano; o ius civile vem da populus na interpretação dos jurisprudentes. Eventualmente, às suas fontes
tradicionais juntaram-se outras fontes como: o ius gentium, o ius naturale e o ius honorarium. As suas fontes correspondem
aos atos legislativos e à interpretatio dos jurisprudentes.

Ius Honorarium- (ius edictale ou ius magistrade) direito criado pelo magistrado, quase coincidente com o ius criado pelo pretor
urbano ou ius praetorium. As suas fontes correspondem ao ius praetorium e aos atos do pretor no exercício da sua iurisdictio e
do seu imperium.

Apesar do ius honorarium ser fonte do ius civile, as suas fontes de criação contrapõem-se, pelo que se verifica a uma
diferenciação de conteúdo . Assim, em virtude da procedência, do conteúdo das normas e da sua autonomia formativa, o ius
praetorium é um conjunto normativo mais completo, sistematizado, integrado e eficaz que o ius civile.

A ação do pretor permite integrar, corrigir, adaptar e preencher o ius civile em dois momentos:
o No exercício do ius edicendi quando define no edictum perpetuum as normas que seguirá na sua atuação usando o
imperium.
o No momento da sua aplicação, no âmbito da iurisdictio, com recurso à Aequitas.

A liberdade do pretor na aplicação do direito ao caso resultante da sua atividade jurisdicente permite criar, nos limites da
tradição expressa no ius civile, novas regras para novas situações. A formalidade do ius civile é, então, aligeirada com as
intervenções pragmáticas e eficazes do pretor no âmbito do ius honorarium. Assim, pode-se dizer que o ius honorarium
permitiu a renovação do ius civile, mantendo a sua eficácia, beneficiando também da possibilidade de atuar no Âmbito do ius
civile. Só o tempo e uma crescente intervenção criadora do pretor no plano da aplicação do ius civile, recebendo e atualizando
as suas instituições e os seus conceitos, derrubam a resistência dos jurisprudentes, que acabam por aceitar a atividade do
pretor como criadora de preceitos jurídicos- ius.

3. A lex
A iurisdictio passou a ser o poder supremo de declarar a existência de um direito que podia ser exercido perante um juiz, ou
negar a sua existência tal como era invocado por um interessado- era essa a atividade principal do pretor.

A lex era toda a norma jurídica que podia ser lida. Logo, era uma declaração solene com valor normativo emitida por um órgão
"constitucional" com competência e legitimidade para a fazer, baseado num acordo entre a entidade emitente e os
destinatários.

4. A iurisprudentia
A jurisprudência evoluiu ao longo do Império Romano, sendo as alterações que sofreu com o tempo determinantes da forma de
criação de Direito na altura.

Inicialmente, a jurisprudência era uma atividade exercida exclusivamente por sacerdotes pontífices, havendo neste âmbito uma
interseção do domínio jurídico com o sagrado, pelo que os pontífices eram os únicos capazes de resolver litígios como resultado
de serem os únicos aptos a averiguar a vontade divina. Mais tarde, por volta do Séc. III a.C. iniciou-se o processo de Laicização
da Jurisprudência que corresponde a uma racionalização progressiva desta, libertando-a do cariz sagrado que a envolvia; este
processo pode ser dividido em três etapas: a Lei das 12 Tábuas- positivação de normas de Ius Civile- o Ius Flavianum- que por
ser criado por um escravo provou que a jurisprudência é uma atividade humana acessível a qualquer pessoa- e, por último, o
ensino público do direito iniciado por Tibério Coruncânio. Nesta fase, a atividade jurisprudencial de criação e interpretação do
direito manifesta-se fundamentalmente através de três funções: cavere (aconselhamento aos particulares sobre a realização de
negócios jurídicos), agere ( assistência às partes sobre o processo em tribunal, aconselhando fórmulas e indicando quais as
palavras mais indicadas) e respondere (pareceres concedidos a magistrados/particulares sobre questões jurídicas).
Os jurisprudentes distinguiam-se dos magistrados, porque ao contrario destes, eles não tinham imperium, mas sim auctoritas,
que era um saber socialmente reconhecido, que lhes permitia serem convocados pelas partes no exercício da sua função
(conseguir a solução mais justa para o caso concreto – resolução de litígios). O ius civile era aqui o resultado do trabalho dos
jurisprudentes (criação jurisprudencial), era o direito jurisprudencial comum- não era um direito escrito e legal, mas sim um
conjunto de regras e soluções criadas pelos jurisprudentes com base na interpretação.

Posteriormente, com a criação do Ius Publice Respondendi por Augusto originou-se o declínio da jurisprudência, esta figura
dava legitimidade concedida pelo princeps a determinados jurisprudentes para vincular as partes em tribunal, assim os
jurisprudentes passaram a estar sob a alçada do poder político, consequentemente, as suas opiniões deixaram de ser o fruto de
autonomia e liberdade, os jurisprudentes, por esta altura, começaram a assumir o cargo de assessores do princeps. Apesar
disto é só sob o império de Adriano que os jurisprudentes perdem a sua auctoritas e assumem somente um trabalho
administrativo. No Dominado verifica-se o desaparecimento da jurisprudência com a substituição dos iurisprudentes por
legisladores e a assunção do direito como um mero instrumento do poder político.

Finalmente, podemos concluir, através da história da jurisprudência, que esta ocupa um papel central enquanto fonte de
conhecimento e fonte criadora do Ius Romanum, para além disto tem, também, grande influência no direito europeu atual
,sendo que os princípios da atividade jurisprudencial estabelecidos por Ulpiano mantêm-se até hoje relevantes na construção
jurídica .

1. A Lei das XII Tábuas e o ius flavianum

Foi o primeiro momento de transição de um regime para outro e foi a primeira tentativa de enunciar por escrito as regras mais
importantes do ius fazendo aplicar de forma igualitária a patrícios e plebeus as regras jurídicas. Constituiu a positivação dos
mores maiorum, criando uma comissão de 10 homens patrícios – decenvirato , aprovado nos comitia centuriata , que tinham
de redigir as leis de Roma. Há então uma comissão que elabora 10 tábuas que vão ser submetidas aos comitia centuriata para
as aprovar ou não. A aprovação dá-se mas, no entanto, eles entendem que há um défice de matéria e querem algo mais
relativamente aos direitos e aos poderes. Assim, nomeia-se um segundo decenvirato que é encarregue de elaborar mais duas
tábuas. Estas são recusadas (por considerarem que houve uma exerção do poder de forma imperial) e nomeiam-se 2
magistrados: Valério e Horácio, que vão sim finalmente elaborar as 2 leis/tábuas que faltam. Os cônsules submetem aos
comitia a Lex Valéria Horácia que serão as duas ultimas leis. Podemos dizer que a lei das 12 tabuas resolveu o problema do
conflito entre MM e leges (optando por elas)Estas regras escritas, que foram dadas a conhecer ao populus, foram interpretadas
pelos jurisprudentes para serem aplicadas a resolução de litígios de forma a encontrar soluções justas. A partir de agora,
qualquer ato praticado contra legem era nulo, agora que se superou a oralidade incerta e teve-se o primeiro momento de
regras escritas. Importante saber que aqui ainda existiam pontífices, eles só se eliminaram com a república e a lei das 12 tabuas
pertence ao período da transição. Aqui os pontífices eram os jurisprudentes da época interpretando as regras aqui expostas
originando o ius legitimum que se aplicava aos casos concretos.

A Lei das 12 tábuas, fonte de todo o direito publico e privado, segundo Tito Lívio permitiu superar o literatismo legalista pela
interpretação criadora dos iurisprudentes. Entendemos que a lei das 12 tábuas resolveu também o problema do conflito entre
os mores e leges (optando pela lei – o que o povo fixa por ultimo deve ser considerado direito). Logo no caso de haver um ato
praticado com fundamento num costuma contra legem, o ato, por contrariar a lei, era por regra, nulo. A redução a escrito das
regras e de formulários passou a ser a base da atividade jurisprudencial. Agora, a regra de direito perdia a sacralidade e o
segredo, ficava exposta ao público, sujeita a opinião geral, e permitia a não sacerdotes o seu conhecimento, aplicação e
interpretação. É importante destacar que a lei das 12 tabuas, apesar do forte carácter jurídico, não tinha carater normativo
nem se pode comparar a constituição ou ao Código Civil dos nosso dias.

Lei decenviral: Lei das 12 tábuas (elaborada pelos decênviros)


Começou a destacar-se então a literatura jurídica, em que juristas deram a conhecer as suas respostas a perguntas concretas
feitas pelas partes para a resolução de conflitos. Esta literatura era resultado da atividade dos jurisprudentes romanos, e
tornou-se uma das principais formas de expressão da iurisprudentia e de consolidação do ius civile.
Na literatura problemática/controversa, além das obras que compilavam as respostas dos jurisprudentes, surgiram outros tipos
de textos (quaestiones, disputationes, ambiguitates) – que integravam casos reais e fictícios construídos pelos jurisprudentes.

Ius Flaviano (300 a.C.) Cneu Flávio era um escravo de um sacerdote pontífice que ficou cego, tendo impossibilidade física de ler
os auspícios. Ele criou um conjunto de interpretações do direito a que chamamos ius flaviano, demonstrando que não era
preciso ser pontífice para saber ler auspícios e para ser intérprete do direito. – laicização da jurisprudência. Foi esta compilação
de formulários processuais e negociais que serviu de base ao desenvolvimento de uma jurisprudência completamente
secularizada. Estas compilações escritas trouxeram mais certeza e segurança a aplicação do ius. Esta redução a escrito passara a
ser a base da atividade jurisprudência. Era também assim que se perdia o segredo e a sacralidade, ficando exposto ao público,
sujeito a opinião geral – interpretatio (interpretatio prudentium : solução justa de um litigio pelos jurisprudentes).
Este foi considerado o momento fundador do derectum porque até aqui não existiam regras jurídicas com o sentido e a forma
de criação e a finalidade. Foram então os romanos que fundaram o direito como um conjunto de regras destinadas a serem
aplicadas para a resolução de conflitos entre as pessoas, com justiça. Mas, os romanos entendem ainda que tudo esta na
racionalidade humana e na criação de condições para que seja possível o exercício livre da jurisprudência na criação e aplicação
de regras a casos para uma solução justa de conflitos.

1. A Lei das Citações


O Imperador Valentiano III- constituição imperial 426 d.C. que veio definir que as delegações do tribunal deviam de
corresponder à verdadeira opinião dos jurisprudentes consultados, proibindo as delegações, porque antes os advogados e
juízes usavam-se de opiniões falsas. Daqui surgiu a Lei das Citações , que veio resolver a incerteza.
Esta lei fixou os cinco jurisprudentes que podiam ser citados perante o juiz com plena autoridade para serem aceites por ele:
Modestino, Papiniano, Paulo, Gaio e Ulpiano. Tratava-se apenas da confirmação de uma auctoritas de compiladores do ius
Romanum, firmada nas compilações dos séc. IV onde estes juristas eram praticamente os únicos citados.

Sempre que fossem detetadas opiniões opostas sobre o mesmo assunto entre os cinco jurisprudentes, o juiz deveria seguir um
critério quantitativo resolvendo pelo maior número de opiniões idênticas entre os cinco. Em caso de empate, deveria seguir a
opinião de Papiniano. Se este não se tivesse pronunciado sobre o problema em causa, o juiz escolheria um dos cinco para
fundamentar a sua decisão. Isto sucedeu para transmitir mais certeza jurídica juntamente com isto tentou proceder-se à
compilação, ou seja, codificação, adotada desde 4 a.C., colocada ao servido do poder imperial.

Existiam 2 sistemas de compilações:


o Particular: Compilações de iniciativa de juristas que queriam condensar o DR em obras (Código Gregoriano e
Hermogeniano).
o Oficial Público: Surgem a mando do imperador (Código Teodosiano e Justiniano).

2. O Código Teodosiano
Primeira codificação oficial que vai ter uma grande importância para o Código Justiniano (obra magna do Direito Romano).
Teodosiano procede à elaboração ( 429-438) de este código que corresponde a uma compilação de leges e iura (todo o Direito
Romano legislado : Constituições imperiais) desde o principado e também a doutrina dos jurisprudentes romanos. Mas quem
ficou nomeado para tal tarefa não se demonstrou com capacidade compilatória para a conseguir realizar. Temos então no final
um código que deixa cair a iura (doutrina), que continuou a ser aplicada nos tribunais pela lei das citações, compilando
somente as leges. É composto por 16 livros (5 deles dirigidos ao direito privado), com títulos, e que apresentam as leis de forma
cronológica e não organizada por matérias. O código Teodosiano foi importante porque inspirou e facilitou a elaboração do
Código Justiniano e também porque foi utilizado no Ocidente (Península Ibérica), inspirando o Breviário de Alarico (Código da
Península Ibérica).

3. As Escolas de Beirute e de Constantinopla



4. O Corpus Iuris Civilis
O Corpus Iuris Civilis é uma obra jurídica fundamental, cuja criação foi ordenada por Justiniano em meados de 529d.C. a 534
d.C., com o intuito de restaurar plenamente a tradição jurídica Romana. Esta obra é composta pelas Instituições (533 d.C.)- um
manual para o ensino de direito ao qual Justiniano concede força obrigatória geral; pelo Digesto ou Pandectas (533 d.C.) que
corresponde a uma compilação da Jurisprudência Romana, portanto de doutrina, feita maioritariamente por jurisprudentes
detentores de Ius Publice Respondendi, à exceção de Gaio, ainda que expresse anonimamente as opiniões de Jurisprudentes da
República, ou seja, sem Ius Publice Respondendi; pelo Códex (534 d.C.)- conjunto de instituições imperiais que contêm as leis
dos imperadores; e finalmente, pelas Novela que são as leis publicadas após o Código. Os compiladores do corpus iuris civilis
deixam expresso que o imperador determina a obra em causa como fonte exclusiva de criação, interpretação e aplicação do
direito, sendo as sentenças dos juízes uma aplicação linear da lei.
O corpus iuris civilis é uma obra codificadora com a qual Justiniano pretendia restaurar a unidade do império e a grandeza de
Roma pelas vias politicas, religiosas, militares e jurídicas. Justiniano proibiu, então, que se fizesse qualquer comentário ou
anotação à codificação feita com punições severas.

Verificou-se uma alteração dos conteúdos jurídicos, moldando-se soluções e fundamentações aos interesses políticos do
governante. O direito passa a ter como fonte exclusiva a lei e isso é juridicamente legitimado.

o Códex Justinianus:(534 d.C.) obra composta por todas as leis jurídicas desde o tempo de Adriano (76 d.C. – 138 d.C.).
Representa a base jurídica e a legislação comum, promovendo a unificação legislativa e judicial do império – monumental
coletânea de iura.
o Digesto: (533d.C.) Compilação de toda a jurisprudência, de toda a doutrina produzida no passado (que inclui as
constituições imperiais). São 50 livros de iura (doutrina) que compila a jp romana, a opinião dos juristas que têm auctoritas
(autoridade) e influenciam todo o populus romano. O que está no digesto é considerado direito comum da humanidade e
estuda-se até hoje, ele é intemporal. Ele enquanto doutrina e saber dos jurisprudentes tem as regras do direito, não vamos
encontrar lá as soluções jurídicas do direito mas sim a construção e interpretação do mesmo para a resolução de casos
concretos. Eliminavam-se assim duvidas ou contradições. É proibido o uso jurisprudencial que não se encontre no digesto
(rotura com a criação independente de direito pelos jurisprudentes). -- Pandectas : recriação do digesto na idade moderna,
que diz que o digesto deve ser usado naquilo que for intemporal e apoia 3 princípios: viver honestamente (honeste vivere) ;
não prejudicar o próximo (alterum non laedere) e atribuir a cada 1 o que é seu (sum cuique tribuere), que são os princípios
intemporais do direito.
o Instituições: (533 d.C.) Manual escolar para entenderem as bases do digesto e compreenderem o estudo do direito na
época. Regras de interpretação jurídica.
o Novelas: (posteriores a 534 d.C.) lei nova, conjunto de leges ou de constituições imperiais que foram publicadas apos a
publicação do código.

Digesto : Destaca-se no digesto o nome de apenas 39 jurisprudentes que viveram entre o séc. I a.C. e IV d.C., com destaque
especial para: Paulo, Ulpiano, Papiniano, Pompónio, Gaio, Modestino. No digesto, Ulpiano, afirma que a jurisprudência é o
conhecimento das coisas divinas e humanas e a ciência jurídica do justo e do injusto – a jurisprudência é a ciência que estuda o
direito e o ius civile. Não são as decisões dos tribunais. O jurisprudente é o que se dedica ao estudo do direito (interpretação),
não é um magistrado. Ele só vincula quem o consulta, porque tem um saber sobre aquela matéria, tem uma opinião
reconhecida pela sociedade.

Direito Romano e o poder político


O direito romano é uma expressão do poder politico de Roma; é um direito tipicamente imperial porque a sua vigência só
atinge períodos de grandeza protegidos pelo império.

A jurisprudência tem a especificidade, no período da republica, de ter sido ensinada de forma livre, fora da instituição (não
havia uma faculdade), porque o ensino publico do direito era feito de pessoa para pessoa e de prudente para prudente. O
principado e o dominado alteraram a ordem do ensinamento, porque foi principalmente no dominado, que surgiu a
necessidade de criar um ensino oficial do direito que viesse servir os interesses do Imperador.
Evolução do sistema político:
o Monarquia: poder centrado no rex (tinha poder de intermediação divina), a principal fonte de direito eram os Mores
Maiorum.

o República: pluralidade de órgãos políticos (magistrados, senado e comitia) e de fontes (Mores Maiorum, leges, Ius
honorarium), Senatus Consulta, Jurisprudentes- inspiradores de todas as fontes : estão por detrás de toda a constituição
jurídica da republica (pensam e criam o direito).
o Principado: início da centralização dos órgãos, com perda de importância para o prínceps. Fontes de direito: Mores
Maiorum; leges da república, Senatus Consulta, grande relevância das as das constituições imperiais ( edicto perpetuum de
Adriano, tem força porque e do imperador), jurisprudência- muito controlada.

o Dominado: inclui a doutrina dentro das constituições imperiais (através da lei das citações e códigos que condensam todo o
direito). As constituições imperiais – serão a fonte de direito em Roma (opinião expressa do imperador). A partir de Adriano
consolida-se a centralização do direito e o jurista passa a ser 1 funcionário à vontade do imperador; isso verifica-se no
ensino dos juristas( séc. V d.C.) em que o ensino ocorre em escolas onde se ensina apenas o que o imperador consente, ou
seja, tratavam-se de escolas ao serviço imperial que ensinavam o direito oficial- aceite pelas constituições imperiais-
enquanto doutrina oficial do império: norma geral para ensinar as leis aplicadas, depois, à resolução de casos.

Renascimento do Direito Romano:


O Código de Justiniano é descoberto no séc. XI d.C. por Irnério, um jurista de Bolonha, que o estuda, passando a conhecer a sua
dimensão. Irnério analisa os livros, percebendo que eles constituem uma única obra ( o Código não é descoberto por inteiro,
mas sim por partes) . Esta descoberta assumiu um pape central dado que se percebeu que o Digesto dava resposta às questões
da Europa do séc. XII d.C. Então, em vez de se inventar um direito novo, do zero, que fizesse face a estes problemas conseguiu-
se responder às questões concretas.
No Ocidente, não se aplicava o Código Justiniano (após a queda do império), mas sim o direito romano que permaneceu e os
direitos nacionais dos povos germânicos com influência do costume e do Código Teodosiano. Nunca se perdeu a construção
romana, mesmo atualmente a temos presente na igreja, que se estendeu com o direito canónico. Mas o direito romano vulgar,
simplificado e adulterado é o que se aplica a partir da queda do ocidente e que sofre as influências acima descritas.
O renascimento do direito romano era, então, recuperá-lo.
Irnério começou, então, a ensinar o direito na universidade de Bolonha através do Digesto, trabalhando-o.

Surgiram 2 grandes escolas de pensamento:


o Glosadores(séc. XII d.C.– XIII d.C.): surge com o próprio Irnério, e tinha como função descobrir o direito romano. O nome
deriva da glosa(anotações feitas à margem dos textos ou entre as suas linhas)- de forma a desbravar e perceber a língua: o
latim daquele código, que teria naquela época evoluído.
o Esta escola acaba por falhar porque chegou a um ponto em que os textos descobertos já estão todos completamente
compreendidos e explicados. Face a isto ele esta escola tenta explicar o que já estava explicado, o que resulta na morte da
escola por falta de conteúdo.
o Comentadores: querem teorizar o direito, percebendo o objetivo das suas soluções (ir ao espirito do direito), aplicando-o à
realidade de cada reino. Pretende-se usar o direito para que ele permita a construção dos direitos nacionais, utilizando
técnicas jurídicas aprendidas dos jurisprudentes, de entre as quais:
o Gramática- era necessário usar argumentos (elementos para justificar uma solução justa) para cada caso concreto, de
modo a convencer a parte contrária da bondade da solução apresentada.
o Dialética- utilização de argumentos jurídicos para fundamentar algo ou defender uma causa, sempre com lógica. Liga-se
com a arte da discussão, por se ter de apresentar um raciocínio do convencimento da parte contrária (argumentos e
teses preparados). Pode ser indutiva (geral – particular) ou dedutiva (particular- geral).
o Retórica: arte da persuasão- mostrar que temos razão através dos nossos argumentos e princípios, que permitem
convencer a parte contrária; aqui tem de surgir a dialética senão estamos perante a arte da política e não do direito.
o Tópica: trabalhada no séc. XX por Viehweg –foi, e é o lugar onde os argumentos estão- onde nós precisarmos deles. São
então os argumentos utilizados (jurídicos, meteorológicos, etc.).

Os argumentos só têm conteúdo quando são aplicados ao caso concreto, aí é que ganham densidade. Eles podem ser formais
em que só percebemos o seu sentido quando os aplicamos ao caso concreto, ou materiais quando se baseiam em conceitos e
instrumentos jurídicos com substância (lei, doutrina, argumento meteorológico) .

Fontes de criação de Direito Romano:


o Consuetudinárias- Mores Maiorum: corresponde à fonte legislativa expressa no Ius Civile e é relevante para o ius
honorarium porque o pretor recorre às normas para dizer o direito do iudex na fase in iure do seu tribunal.
o Fontes provenientes da ação do pretor:
o Edictos- cria o ius praetorium que faz parte do ius honorarium. O ius praetorium revela-se em dois momentos: exercício
do ius edicendi ( definição do edicto perpetuum) e no exercício do imperium ( aplicação de leis).
o Expedientes do pretor baseados no imperium: serviam para bem interpretar, integrar e corrigir o ius civile.
Stipulationes praetoriae- é uma stipolatio como outra qualquer, que tem de específico o facto de ser imposta pelo
pretor a fim de proteger uma situação social não prevista pelo ius civile e que merecia proteção. A stipolatio é um
negócio jurídico tipicamente obrigacional, destinado essencialmente para criar obrigações. Da stipolatio nascia uma
obligatio para o devedor (promissor) e uma actio para o credor (stipulator), a fim de obrigar o promissor a cumprir, caso
o não fizesse voluntariamente. Como a necessidade de recorrer às stipulationes praetoriae derivava geralmente do
facto de o devedor não ter cumprido a sua palavra, segundo o ius civile, o pretor ao ordenar às partes a realização de
uma stipolatio, não se contenta com uma simples promessa nova. Exige então ao devedor uma garantia pessoal.

Restitutiones in integrum- há um negócio jurídico, injusto mas válido perante o ius civile, que origina uma situação
protegida pelo mesmo e que não o merece. O pretor ordena que as partes desfaçam a stipolatio efetuada, o que
acontecia no início. Numa fase logo a seguir, considera a stipolatio juridicamente inexistente; as coisas voltam,
restituem-se ao estado em que estavam, antes de ter sido concluída a mesma. Este expediente consiste, portanto, no
resultado de colocar as coisas no seu lugar, como consequência de se considerar inexistente o negócio jurídico que
originou tal situação (voltar à situação anterior). Conceito: expediente do pretor a considerar como inexistente um
negócio jurídico injusto mas válido perante o ius civile.

Missiones in possessionem- é um meio de coação (justa) de que o pretor dispõe. É uma ordem dada pelo pretor,
autorizando alguém a apoderar-se, durante certo tempo, de bens de outrem, com poderes de administração e de
fruição.

Interdicta- um interdictum era uma ordem dada pelo pretor urbano no seu imperium, para resolver de momento uma
situação que estava protegida por uma aparência jurídica, ficando essa ordem condicionada a uma possível apreciação
exterior. O interdicto era concedido ou a pedido de um interessado ou, em caso de interesse público, a pedido de
qualquer cidadão.

o Expedientes do pretor baseados no iurisdictio (a partir de 130 a.C.)

-Posição do pretor na organização dos processos (antes da lex Aebutia de formulis, 130 a.C.); caráter das leges actiones

O sistema jurídico romano de processar (até 130 a.C.) como forma única era o sistema das legis actiones (ações formais,
rituais, solenes). As atuações processuais tinham de se acomodar ao que estava prescrito nas leges. As legis actiones
eram orais. O processo romano estava dividido em duas fases: in iure e apud iodicem. O pretor presidia à fase in iure. A
sua posição no processo era apenas conceder ou não conceder a actio, conforme o que estava previsto no ius civile. Só
há actiones civiles, isto é, baseadas no ius civile.

-Posição do pretor na organização dos processos (depois da mesma lex); agere per formulas

A lex Aebutia de formulis (130 a.C.) introduziu uma nova forma de processar- agere per formulas. Era um processo
escrito. É o sistema próprio da época clássica, é o que dá caráter ao direito romano dessa época. As fórmulas tinham
uma redação especial adaptada a cada tipo de reclamação. Ter uma actio equivale e concretiza-se agora em ter uma
fórmula.

A forma processual é uma ordem por escrito, dada pelo pretor ao juiz, para condenar ou absolver, conforme de
demonstrasse ou não determinado facto. A fórmula é liderada pelo juiz, geralmente escolhido pelas partes, e que era
um particular e não um magistrado.

A posição do pretor agora é a de neutralizar a actio civilis (recusando a concessão da actio ou inutilizando a sua eficácia,
concedendo exceptio) e a de criar actiones próprias. Desta forma, o pretor passou a integrar e a corrigir diretamente o
ius civile por via processual.

Estes expedientes não substituem os que foram baseados no imperium, simplesmente, agora o pretor usa uns ou
outros, conforme as circunstâncias do caso concreto.

Actiones praetoriae- o pretor, depois da lex Aebutia de formulis, cria ius diretamente- ius praetorium, pois cria actiones
próprias.

o Plebiscitos- deliberação da plebe reunida nos concilia plebis, que aprova uma proposta de um magistrado plebeu, o tribuno
da plebe.
449 a.C.- lex Valeria Horatia de plebiscitis- os plebiscitos têm força vinculativa para todos os plebeus e nalguns casos
também para os patrícios.
287 a.C.- Lex Hortentia de plebiscitis- os plebiscitis são equiparados às leges, vinculam todo o Populus, alguns passaram a
ser denominados leges.

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