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Realidades e Desafios1
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Trabalho apresentado no XIX Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em São
Pedro/SP – Brasil, de 24 a 28 de novembro de 2014.
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Acadêmico do Curso de Geografia da Universidade Estadual do Maranhão, email:
cleto_melo_02@hotmail.com.
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Professora do Departamento de História e Geografia da Universidade Estadual do Maranhão, email:
rosalvareis@oi.com.br.
RESUMO
ABSTRACT
Due to the observation of the increase in the elderly population and life expectancy in
the country found through the last four censuses conducted by IBGE (1980, 1991, 2000
and 2010), a study was carried out on the new socioeconomic profile of the elderly in
the century XXI, relating to geographic categories Space and Place. The objectives of
this project were to identify the sectoral public policies and legal frameworks for the
benefit of seniors and their forms of applicability, differentiate the views regarding the
perception of the elderly and their social group, the problems and virtues according to
their social class. Were a total of 10 elderly respondents in neighborhoods with distinct
patterns of life in São Luís - MA. Since the interview three main points addressing the
identification of the elderly, and their perception of their social group, as well as the
strengths and challenges in being elderly. According to the analysis of the answers of
the respondents, it is clear that there was a change in the way we act and think of the
elderly population in these last two decades. This research served as a pillar of support
to show that the elderly today is no longer a being incapable or oblivious to the society
in which he lives, as it was demonstrated there until recently. I hope this project will
serve both as an aid to future work in the area of Human Geography even in other
sciences.
RESUMEN
Debido a la observación de la creciente población de edad avanzada y la esperanza de
vida en el país, que se encuentra a través de los últimos cuatro censos realizados por el
IBGE ( 1980, 1991 , 2000 y 2010 ), un estudio se llevó a cabo en el nuevo perfil
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socioeconómico de las personas mayores en siglo XXI, en relación con las categorías
geográficas espacio y lugar. Los objetivos de este proyecto fueron identificar las
políticas públicas sectoriales y marcos legales para el beneficio de la tercera edad y sus
maneras de aplicabilidad para diferenciar los puntos de vista en relación a la percepción
de las personas mayores y su grupo social, los problemas y las virtudes de acuerdo su
clase social. Fue un total de 10 encuestados mayores en los barrios con distintos
patrones de vida en São Luís - MA. La entrevista tuvo tres puntos principales que
abordan la identificación de las personas de edad, y su percepción de su grupo social,
así como las fortalezas y los desafíos son mayores. De acuerdo con el análisis de las
respuestas de los encuestados, es evidente que hubo un cambio en nuestra forma de
actuar y pensar de la población de edad avanzada en estas dos últimas décadas. Esta
investigación sirve como un pilar de apoyo para demostrar que las personas mayores de
hoy ya no es un ser incapaz o ajeno a la sociedad en que viven, como se demostró allí
hasta hace poco. Se espera que este proyecto servirá de ayuda en el futuro, tanto para
trabajar en el área de Geografía Humana, incluso en otras ciencias.
1. INTRODUÇÃO
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seu entorno em diversas escalas. Ainda para este mesmo autor (1994), o espaço possui
seus elementos sendo eles os homens, as firmas, as instituições, as infraestruturas e o
meio ecológico.
O lugar surge como o ambiente do espaço no qual as populações ou sociedades,
sejam elas humanas ou animais, mantêm laços de afetos ou discordância com o local
onde residem ou praticam suas atividades como afirma Tuan (1980). A Geografia
Humana afirma ser importante estudar o cotidiano, como forma de compreender os
valores e atitudes das pessoas com o lugar em que vivem. Em relação à Geografia Física
não existe um conceito especifico ou básico para lugar, pois é consenso entre os autores
geográficos que as discussões ou concepções de lugar na geografia esta intrinsecamente
relacionada à geografia humanista, como afirma Lopes (2012).
No Brasil, o número de habitantes quadriplicou, comparando o século XXI com o
século XIX. O censo que cataloga o número populacional teve inicio no país em 1872, o
recenseamento da população do império do Brasil, demonstrou que era de apenas nove
milhões, sendo aproximadamente cinco milhões de homens e quatro milhões de
mulheres, vale ressaltar que nessa época não entravam no censo crianças e negros. No
ano de 1900 a expectativa de vida do Brasil não ultrapassava a faixa dos 33 anos,
devido a fatores sociais, higiênicos e urbanísticos, ou seja, no Brasil do século XIX e
XX eram praticamente inexistentes idosos na vida cotidiana.
Com a proclamação da República Federativa do Brasil em 15 de novembro de
1888 é instituído por lei que os censos demográficos deveriam ocorrer a cada dez anos,
tendo inicio em 1890, continuando posteriormente em 1900, 1910 e 1920 não ocorrendo
em 1930 por ordem política, amparada pela lei nº 5.730 de 15 de outubro de 1929, no
modo popular o golpe de estado de 1930. O censo reiniciou em 1940, seguindo sua
ordem cronológica e o último ocorrendo em 2010, realizado pelo IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística).
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abaixo, pode ser visto a evolução da expectativa de vida no país nos últimos 100 anos
assim como uma projeção do IBGE para o ano de 2100.
2. OBJETIVOS
2.2.Objetivos Específicos
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Projeção do IBGE (2010) da expectativa de vida no país no ano de 2100.
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3. METODOLOGIA
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bruta mensal entre R$ 3.118 e 11.037, e as outras cinco localidades se encaixam nas
classes (C1, C2 e DE) com renda média bruta mensal entre R$ 895 a 1.865. O mapa
a seguir indica a localização dos nove bairros na cidade de São Luís – MA.
4. RESULTADOS
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4.1. Novo Perfil Social do País e do Maranhão
Segundo Carvalho e Andrade, (2000), no plano individual envelhecer significa
aumentar o número de anos vividos. Paralelamente à evolução cronológica, coexistem
fenômenos de natureza biopsíquica e social, importantes para a percepção da idade e do
envelhecimento. As sociedades ocidentais costumam taxar características a todos os
idosos, como a perda gradativa de energia física e mental, baixa autoestima, falta de
confiança em si mesmo, sentimento de impotência, hipersensibilidade, conformismo
com as perdas sofridas e os sentimentos de solidão, isolamento e depressão. As pessoas
não idosas (jovens e adultos) no ocidente veem a velhice como uma ameaça inevitável,
um processo gradual de diminuição das forças e capacidades, um tempo difícil que traz
alteração na qualidade de vida e quebra no status social e profissional (Novaes, 2009).
Ainda para Novaes (2009) nas sociedades orientais, envelhecer é considerado
um fenômeno natural, sendo inerente a toda espécie. Na China, Coreia do Sul e Japão,
principais representantes do oriente, os idosos são tratados com respeito e atenção pela
vasta experiência acumulada nos anos de vida, sendo o idoso o porto seguro da família.
Os jovens e adultos dessa região do globo, tem como tradição cuidar bem, glorificar,
reverenciar e sentir orgulho dos idosos existentes na família, além de terem intensa
atuação nas decisões de seus grupos sociais e políticos. Essas características de venerar
os idosos advêm das antigas comunidades do oriente, onde o ancião ocupava posição
digna e era sinônimo de forte aspiração perante todos.
No oriente, o dia do idoso é comemorado na terceira segunda feira do mês de
setembro, desde a década de 1940, tornando – se feriados nacionais na China, Japão e
Coreia do Sul a partir da década de 1970. No ocidente o dia nacional do idoso foi
adotado apenas em 1982 sendo estabelecido pela ONU (Organização das Nações
Unidas) na Assembleia Mundial Sobre o Envelhecimento, realizada na Áustria nesse
mesmo ano, sendo 01 de outubro escolhido para as comemorações. No Brasil, o dia do
idoso era comemorado até 2006, em 27 de setembro, mas a partir de 2007 passou a ser
solenizado em 01 de outubro, em razão da criação do estatuto do idoso nessa data no
ano de 2003.
Idosos, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) são pessoas com
idades igual ou superior a 65 anos nos países desenvolvidos e com idade igual ou
superior a 60 anos nos países subdesenvolvidos, classificação está que enquadra o
Brasil. Segundo o IBGE (2010), órgão oficial responsável pelos dados censitários no
país, idoso é todo aquele cidadão que ultrapassa a faixa dos 60 anos. Um relatório
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divulgado em 2012 pela UNFPA (Fundo de População das Nações Unidas) mostra que
a população idosa vai superar a marca de um bilhão de pessoas no ano de 2020, e no
ano de 2050 serão mais de dois bilhões de idosos no mundo. Segundo reportagem da
Rede Brasil Atual, em 2013, o número de idosos na terra corresponde a 900 milhões de
pessoas e a expectativa de vida mundial é 66,57 anos segundo o UNFPA (2012). O país
com maior e esperança de vida no mundo é o Japão com 82,73 anos e a mais baixa é a
República Centro-Africana com 45,91 anos. Na lista com 198 países, o Brasil se
encontra na posição 108°.
Esse aumento da terceira idade também é observado aqui no Brasil, sendo
notado o aumento da expectativa de vida, passando de apenas 33 anos nos anos 1900,
para 73,4 em 2010 (IBGE, 2010) e em 2013, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística) aponta que a expectativa passou para 74,6 anos. Segundo projeção ainda
desse órgão censitário, a expectativa de vida no país atingirá 84,3 anos no ano de 2100.
Nos estados brasileiros, Santa Catarina têm destaque com 76,8 anos e o Maranhão
aparece em ultimo colocado com 70,04 anos.
No censo demográfico de 1990 o numero de idosos era de 10.732.705 e
correspondia a 7,3% da população (IBGE, 1990). No ano 2000 o número de pessoas
acima de 60 anos no Brasil já era de 14.536.029 (IBGE, 2000), o que correspondia a
8,5% da população. No censo realizado em 2010, o número de idosos aumentou,
passando para 20.590.599 (IBGE, 2010) correspondendo a 10 % da população nacional,
e de acordo com IBGE (2013) esse percentual pulará para 15% dos habitantes do país
em 2020, sendo 32 milhões de idosos. Vale ressaltar três curiosidades, a primeira que
cinco unidades da federação, sendo São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio
Grande do Sul e Bahia abrange 70% da população idosa nacional. A segunda
curiosidade seriam as capitais que detêm o maior número de idosos habitando, sendo
Porto Alegre com 15% da população municipal e Rio de Janeiro com 14,9% (IBGE,
2010). A terceira curiosidade seria que os 10 bairros brasileiros com maiores proporções
de idosos, 9 estão na capital fluminense, tendo destaque Copacabana onde a população
do bairro é de 146.312 habitantes e de idosos 43.431, ou seja, em cada 10 habitantes 4
são idosos. O bairro restante é o de Boa Viagem localizado no Recife. A média nacional
é de um idoso para 10 residentes do bairro.
No censo demográfico de 1991, a média de pessoas acima de 60 no estado do
Maranhão era de 7,3%, o que correspondia a 345.117 pessoas. Acima de 65 anos em
1991 era igual a 5% da população estadual correspondendo a 246.512 habitantes. No
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censo do ano 2000, pessoas acima de 60 e 65 anos representavam 7,2% e 4,9%
respectivamente da população estadual, representando 395.603 acima de 60 anos e
226.059 acima de 65 anos. No último censo realizado pelo IBGE em 2010, a população
idosa no Maranhão atingiu a marca de 8,6% para aqueles acima de 60 anos e 6% para
acima de 65 anos, representando respectivamente 525.983 e 394.487.
Em São Luís, capital do estado, esse aumento do número de idosos também é
nítido, sendo em 1991 4,8% da população do município era idosa, correspondendo a
27.854 habitantes. No ano 2000, obteve um aumento passando a representar 5,7%,
correspondendo a 43.501 habitantes da capital. Por fim, no último censo realizado, em
2010, a porcentagem atingiu a marca de 7,7% abrangendo 71.038 habitantes. A
qualidade de vida da população idosa no país melhorou isto é um fato, mas não significa
que será refletido em toda nação e nem obrigatoriamente nos idosos do Maranhão.
Segundo dados da PNUD (Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento) dos
anos de 1991, 2000 e 2013, mostram que apesar do salto evolutivo do estado nos
últimos vinte anos, ele permanece na penúltima posição dos indicadores sociais das
unidades federativas no ano de 2013 e na ultima colocação nos anos de 1991 e 2000. O
quadro abaixo mostra a evolução dos indicadores sociais do estado do Maranhão.
Quadro 4: Evolução do IDHM do Estado do Maranhão nos últimos 20 anos.
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Quadro 5: Evolução do IDHM de São Luís nos últimos 20 anos.
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políticas públicas só garantem o aumento da pobreza, desigualdade social, do
desemprego e da exclusão social. No Brasil, a política pública torna-se necessária para
as pessoas idosas, tanto no quadro social e econômico, devido à situação que se
instaurou em grande parte desse grupo social, Goldman (2004) diz que 70% dos
aposentados e pensionistas vivem com um salário – mínimo por mês pago pelo INSS
(Instituto Nacional de Seguridade Social). Essa ideia também é afirmada por Veras
(2003) ao dizer que hoje ainda existe um forte preconceito contra os idosos assim como
as inúmeras dificuldades que eles vivenciam principalmente os mais pobres. Após 10
anos dessa afirmação dos autores citados, mais da metade dos idosos do Brasil vivem
com renda entre US$ 4 (R$ 9,60 reais) e US$ 10 (R$ 24 reais) por dia, o que equivale a
um salário mínimo ou menos por mês, segundo reportagem do jornal o Estado de Minas
(2014).
Os direitos em prol dos idosos ficaram assegurados a partir da constituição de
1988 como afirma Fernandes e Santos (2007). Antes da constituição o que existia eram
apenas programas sociais, como o Pai, Papi, conviver e Saúde do Idoso. As políticas
que tem maior destaque ou chamada de Marcos Legais são vinculadas aos seguintes
Ministérios: O Público, Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Educação, Esporte,
Saúde, Previdência Social, Turismo, Trabalho, Justiça, Cultura e Transportes e sendo as
políticas que tem maior força o Estatuto do Idoso, a LOAS (Lei Orgânica de Assistência
Social), a PNI (Política Nacional do Idoso) a PNSI (Política Nacional de Saúde do
Idoso), e a PNAS (Política Nacional de Assistência Social) e as políticas setoriais
vinculadas a elas.
As políticas setoriais são aquelas que são designadas por setores, elas são
muito utilizadas na economia, mas no Brasil nos últimos 20 anos começaram a ser
aplicadas no setor social, auxiliando pessoas de baixa renda, deficientes e idosos,
aquelas que são negligenciadas pela sociedade. Dentre as políticas setoriais que tem
maior destaque para a terceira idade são as de saúde, tendo em vista que as pessoas
idosas necessitam de mais atenção pela perda gradativa da consciência, forças, memória
e estímulos sensoriais. Além das políticas de Saúde, existem as de integração social
subdivididas em educação e cultura, associações de idosos e esportes e lazer.
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Brasil, portaria n° 33 de 23 de janeiro de 2008; Internação Domiciliar, portaria n° 2.529
de 19 de outubro de 2006; Acesso a Medicamentos, portaria n° 3.916 de outubro de
1998; Formação de Cuidadores de Idosos dependentes na rede de Escolas Técnicas do
SUS (Sistema Único de Saúde); Pesquisas na Área de Envelhecimento de Saúde da
Pessoa Idosa financiadas pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
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aposentados e vivem sozinhos em um apartamento de 110 m² quitado e a renda média
mensal do casal equivalem a R$ 5.800 mil reais.
Questionado sobre a percepção em ser idoso ele indagou, “me sinto extremamente feliz,
alegre por ter chegado aos 80, vindo de uma época em que nosso país não era
estabilizado na política nem na economia e muito menos na questão social, deixando a
desejar muito mais que hoje”. Fiz essa mesma indagação a sua esposa e ela me afirmou,
“Olha meu filho tive uma vida difícil, criar sete filhos, praticamente sozinha, porque ele
(seu marido) era caminhoneiro viajava muito, não foi fácil, tinha dia que faltava até o
que comer, mas nenhum deles (filhos) deu pro caminho errado, todos são pessoas de
bens e honestas. Hoje em dia quando olho pra trás e vejo o que já matei de leão por dia
pra ensinar o que é certo e errado para meus filhos me sinto uma idosa extremamente
realizada, feliz e competente que consegui formar cidadãos íntegros e honestos na
sociedade, assim como meus pais me formaram”.
Quanto à percepção deles em relação aos outros idosos, os dois foram enfáticos, “nem
todos idosos aceitam a velhice, apenas se conformam, não tem pra onde correr, se não
morrer jovem da velhice não escapa”. E os jovens como que eles veem vocês, “(ela)
uma falta de respeito muito grande, não são todos, mas a maioria nos considera
incapazes. (ele) um dia tive o desprazer de ouvir de um jovem na fila da casa lotérica
que o INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) só esta quebrado porque agente
não morre, aquilo doeu meu coração, pois se ele me tratou daquele jeito. sendo um
desconhecido, imagina o que ele é capaz de fazer com os próprios avós”.
Abordando a questão do dia-a-dia, se a rotina continuou depois de se tornar idoso e os
problemas enfrentados, ele afirmou “(ele) as únicas coisas que atrapalham minha
rotina são as nossas doenças, pressão alta e a diabetes, quando não estou tendo crise
de nenhuma das duas faço tudo normalmente, já minha esposa possui labirintite e isso
atrapalha em alguns dias. A nossa vida continuou a mesma, a única coisa que não
fazemos mais e trabalhar, eu me aposentei com 33 anos de contribuição e ela com 23
anos, eu era caminhoneiro e ela professora”. “Os problemas que mais enfrentamos no
dia-a-dia é a falta de educação das pessoas, nos coletivos, por exemplo, quando eles
nos veem entrar as pessoas que estão sentadas nos bancos amarelos geralmente viram
o rosto ou fingem estar dormindo, em alguns locais apesar da lei preferencial pra
idosos e gestantes, não existe o caixa, as calçadas são muito irregulares, outro dia na
rua V9 (rua do bairro Parque Shalon) uma senhora tropeçou e fraturou o braço devido à
calçada irregular, esses são nossos maiores empecilhos no dia-a-dia”.
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Além da aposentadoria vocês tem algum auxílio do governo para manter suas despesas,
no caso uma política setorial, “(ele) sim, nos recebemos medicamentos, a insulina pra
diabetes e pra pressão alta pela FEME (Farmácia Estadual de Medicamentos
Especializados) e também temos plano de saúde privado”. Quanto às virtudes em ser
idoso “(ambos) honestidade, sabedoria e paciência”. As atividades diárias também
foram questionadas, “(ambos) costumamos ir ao supermercado, a feira da Vila Vicente
Fialho, fazemos caminhada na praia e sempre pagamos nossas contas na casa lotérica
do supermercado aqui do bairro”.
Em relação ao lazer e o sexo “(ambos) agente costuma viajar pro Rio de Janeiro,
Brasília e São Paulo, temos três filhos morando nesses estados e costumamos passar
sempre uma data comemorativa com eles”. “(ele) o sexo meu filho depois dos 70 anos
não existe mais, só se tiver a famosa “azulzinha” (Viagra), mas é arriscado, conheço
um amigo que teve um enfarto tomando isso, na verdade o sexo deixa de existir, mas
você se torna mais companheiro, amigo, tem mais diálogo com a esposa e o sexo se
torna apenas uma recordação”. Quando questionados sobre algo que deixaram de fazer
na fase adulta e se aproveitam a vida agora, “(ambos) claro, sempre tem algo que você
se arrepende de não ter feito ou de ter realizado, mas se ficar se martelando por isso
você não vive, o jeito é esquecer”, “(ele) meu filho aproveitamos mais agora, nossos
filhos já estão grandes, brincamos e amamos nossos netos, viajamos mais e o bom da
vida é estar com as pessoas que nos fazem feliz”.
Outra entrevistada que reside no bairro de Quintas do Calhau (ver figura 1),
nascida em 21 de maio de 1924, natural da Bélgica, veio para o país fugida da 2° guerra
mundial no ano de 1941, onde inicialmente se estabeleceu na cidade de João Pessoa/PB
devido parte da família do seu pai já terem vindo ao Brasil para se estabelecer em 1928.
Segundo a entrevistada ela foi nacionalizada brasileira apenas quando se casou com seu
marido, um paraibano no ano de 1948. Atualmente ela é viúva e mudou-se para São
Luís em 2009, após o falecimento do esposo nesse mesmo ano, com 86 anos, para
morar com um dos filhos que é policial federal. Ela teve seis filhos com as idades de 65,
62, 61, 59, 53 e 49. Ela é aposentada e pensionista do INSS (Instituto Nacional de
Seguridade Social) e sua renda média mensal é R$ 3.500 mil reais.
A última entrevistada dessa classe social reside no bairro da Ponta da Areia (ver
figura 1), possui 77 anos, nascida em 1937, é casada, no qual seu casamento possui 55
anos de muitas histórias e o seu marido tem 83 anos nascido em 1931. Possui somente
um filho e um neto, sendo esses dois vivendo atualmente no Canadá, na cidade de
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Toronto. Sua renda média mensal ultrapassa R$ 30.000 mil reais, oriundos da
aposentadoria como promotora do estado e serviços de advocacia, no qual este ainda é
exercido pela entrevistada.
Quanto a sua percepção ela afirmou, “Acho bom, claro tem os problemas, seria
uma mulher muito hipócrita se afirmasse que a vida era perfeita na terceira idade,
apesar desses problemas me considero uma velha feliz, satisfeita, aprendi muita coisa
nesses 77 anos de vida assim como sou grata por meu marido não ter morrido jovem
como os esposos das minhas irmãs e não ter aproveitando a vida com ele ao meu lado,
como meu pai falou quando eu tinha 10, eu iria casar com um homem muito bonito e
viver no mínimo 50 anos ao lado dele e isso se realizou, sou eternamente grata a deus
por isso”.
Ainda sobre percepção questionei sobre o que os outros idosos achavam em ser
senil e o que os jovens atualmente pensavam sobre os anciões, ela foi enfática “Olha no
meu ponto de vista existem idosos que aceitam a velhice e outros não, uma coisa que
sempre falo se não morrer jovem da velhice não escapa e o tempo não volta atrás”.
“Nunca sofri nenhum tipo de preconceito ou discriminação, creio que isto está ligado à
classe social, afinal nesse país você pode ser gay, negro, amarelo, velho, indígena,
oriental, resumindo, diferente do padrão social, mas se você mostrar chave de carro
importado, cartão de crédito platinum você não sofrerá qualquer tipo de
discriminação”.
Indaguei 3 pontos, sobre os problemas em ser idoso, se a rotina continuou a
mesma após 65 e se a renda mensal mantém seus gastos a senhora respondeu, “A visão,
você já viu algum idoso de vista boa? E a indisposição que surge algumas manhãs
justamente nos dias em que preciso trabalhar”. “Sou aposentada pela justiça do
maranhão, fui promotora pública, mas ainda continuo atuando como advogada, pois
manter um apartamento nesse bairro custa caro assim como meus privilégios”. “Sim,
trabalhei e trabalho muito para isso”. Sobre as virtudes em ser idoso, “A sabedoria, a
imparciabilidade, calma e honestidade são as maiores virtudes de idosos para mim”.
Sobre as atividades rotineiras, viagens nacional ou internacional e o sexo ainda
existem? “Costumo caminhar na praia todos os dias de manhã cedo, quando tenho
disposição, gosto muito de ir ao supermercado toda semana, pois meu marido sempre
faz pequenas reuniões com antigos colegas de trabalho nos finais de semana. Também
vou ao shopping e ao cinema pelo menos uma vez por semana”. “Sempre viajo, prefiro
destinos nacionais, penso que o nosso país tem muitas coisas belas a oferecer e
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conhecer apesar dos pesares, mas como meu filho querido e meu netinho amado estão
fora do país neste ano, estarei indo para o Canadá nos meses de novembro e
dezembro”. “Meu filho, você vai passar por isso quando chegar à velhice e se lembrará
de mim quando me perguntou essa questão, não existe sexo na terceira idade, o que
existe é o companheirismo do marido”.
A penúltima pergunta da entrevista às vezes me deixou meio receoso em fazer,
devido à recepção do entrevistado com a mesma. Questionei sobre algo que não fez
durante a fase adulta e não poderia mais ser realizado na fase idosa, “Na verdade fiz e
hoje com minha mentalidade me arrependi muito de ter feito, mas pra chegar ao
padrão de vida que tenho hoje meu filho precisei derrubar muitas peças erradas do
tabuleiro, pena que algumas boas entraram nesse meio e é isso que às vezes tira meu
sono durante noite, acho que irei pagar por esse erro na minha viagem”. Por fim,
abordei se ela aproveita a vida mais agora sendo idosa, ou anteriormente sendo
adulta/jovem, “Com certeza agora, ainda tenho muita disposição apesar de ser idosa,
tenho dinheiro pra gastar da forma e da quantidade que eu quiser, afinal lutei para
isso, e minha única responsabilidade que me prendia no passado já está crescido e é
dono do próprio nariz e já possui suas próprias responsabilidades”.
A principal diferença entre as respostas obtidas dos idosos de classe alta e classe
baixa, se reduz somente a renda, porque a percepção, as virtudes e desafios são iguais,
diferenciando apenas algumas respostas isoladas. Duas entrevistadas dessa esfera social
possuem 86 anos é separada e nasceu em 06/08/1928 e à outra, 84 anos é viúva e nasceu
em 13/11/1930 e residem nos bairros do Monte Castelo e COHAB Anil III (ver figura
1), a renda média mensal das duas não ultrapassa dois salários mínimos, o que dá em
torno de R$ 1.448 mil reais. A primeira idosa possui um filho que também já idoso com
67 anos, já a segunda possui 4 filhos com idades de 60, 56, 53 e 50 anos.
Quanto à percepção em ser idosa, a primeira afirmou “Sou feliz e honrada por
ter quase um século de vida (86 anos)”. A outra disse, “Não gosto de ser velha, quando
fui moça meu maior medo sempre foi envelhecer e ele se concretizou, pois não morri
jovem, agora cá estou eu capengando, pra “eu” ser velha é uma merda, tu não vê, não
tem força, doenças aparecem todo dia, perde ânimo de viver e você ainda fica
dependente de filhos e alheios pra tudo (84 anos)”. Quanto à percepção que elas têm
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dos outros idosos uma falo, “o grupo da terceira idade é o que menos tem força no
âmbito dos movimentos sociais assim como são os mais fragilizados na área da saúde e
um dos que mais sofrem com os problemas urbanos (86 anos)”. Já a segunda idosa foi
um pouco intolerante, “Acho que são um bando de baratas mentirosas que dizem que é
bom ser velho, tudo mentira dessas caras de maracujá de gaveta (84 anos)”.
E quanto aos jovens, como as senhoras acham que eles veem vocês? “São muito
cuidadosos, amigos e gentis, nenhum idoso que tenho convivência nunca reclamou de
preconceito ou discriminação (86 anos)”. Já a segunda afirmou, “No geral a maioria
não nos suporta meu filho, eu tenho 6 netos e apenas 2 me visitam, tem um que tem
mais de ano que não o vejo, o que influência um jovem gostar de um velho é o dinheiro,
como não tenho ninguém me visita”.
Quanto à rotina e os empecilhos se continuaram os mesmos após chegar à fase
idosa? “Maior problema do idoso é a saúde frágil e no meu caso não é diferente sofro
de osteoporose e artrose, o que faz com que sinta muita dor e cansaço nas pernas (86
anos)”. “Meu maior problema hoje é a locomoção sinto muita dor e fraqueza nas
pernas ao mesmo tempo (84 anos)”. “Parei com quase tudo, mas ainda faço é cozinhar
e cuidar da minha casinha porque não gosto muito do tempero das outras pessoas e de
bagunça (84 anos)”. “Continuo minha rotina, mas claro em um ritmo mais devagar,
associado ao meu quadro atual (86 anos)”. E a aposentadoria das senhoras ela mantêm
os seus gastos mensais e vocês recebem algum auxílio do governo? “Minha
aposentadoria não mantêm minhas despesas mensais relacionadas à saúde, pois, minha
filha compra metade dos meus medicamentos e a outra recebo pela FEME (Farmácia
Estadual de Medicamentos Especializados), meu plano de saúde quem paga é um dos
meus filhos, meu dinheiro basicamente é para alimentação, luz, água, hidroginástica e
a diarista (84 anos)”. “Sim meu filho minha renda condiz com minhas despesas, sou
uma senhora controlada (86 anos)”.
Quanto às virtudes em serem idoso, as atividades realizadas constantemente
uma e o lazer relacionado a viagens uma afirmou, “Pra mim a maior virtude em ser
idoso é a grande força sentimental que agente adquiri, afinal quase 1 século de vida já
vi e vivi muita coisa, ainda faço tudo, minha rotina é a mesma que antigamente só que
mais devagar, pois meu fôlego não é mais o mesmo e costumo viajar para São Vicente
Ferrer minha cidade natal (86 anos)”. Já á segunda idosa alegou, “A virtude em ser
idosa é a gratuidade ou a meia entrada, minha rotina meu filho consiste em fazer
hidroginástica três vezes na semana, costumo ir ao mercado toda quinta e ao sábado
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gosto de ir à feira da COHAB cedo e cuido da minha casinha, todo ano viajo pra
Brasília passar natal e ano novo com um dos filhos que mora lá (84 anos)”.
O sexo é ativo ou inativo, “Inativo (86 anos)”, “Não sei o que é sexo desde
quando fiquei viúva em 1979 (84 anos)”. Quanto ao arrependimento de ter feito algo ou
não fez, “Me arrependo, mas não irei entrar em detalhes (86 anos)”, “Estou velha
demais pra pensar nisso até porque na vida tudo que planejamos não acontece (86
anos)”. Quanto aproveitar a vida, “Não se trata de aproveitar a vida, se trata de
felicidade, sou feliz sendo idosa e fui feliz sendo adulta, acho que o que importa para
mim é a felicidade, os momentos vividos (86 anos)”, “Antigamente claro, tinha força,
disposição e meu marido ao meu lado o meu braço forte, me faz muita falta mesmo
após 35 anos de sua morte (84 anos)”.
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agora, ou antes? “Não me arrependo de nada, o que fiz foi necessário e deixei de fazer
o que não era preciso”, “Aproveitava mais antes, mas não adianta se prender no
passado o jeito é dançar conforme a música”. Diante de tudo que foi exposto durante a
entrevista com os idosos, considero vários pontos importantes.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O idoso hoje é aquele cidadão que curte a vida de acordo com a classe social
que ele tem, o de classe alta tem seu lazer associado a viagens nacionais ou
internacionais, passeios em shoppings e até mesmo o trabalho, enquanto que o de classe
social baixa aproveita na igreja, nas associações de idosos e academia. Isso evidência
que houve uma diferença nos últimos 20 anos até agora, quanto à percepção e modo de
vida, onde o ser humano ao chegar à fase idosa há alguns anos atrás era considerado ser
incapaz e que não servia mais para nada. Outro ponto que merece destaque são as
virtudes elencadas pelos idosos pelas duas classes, se consideram pessoas carinhosas,
meigas, afetivas e com uma enorme vivência de vida, acessíveis e felizes.
Apesar desse avanço quanto à percepção que eles têm de si próprios, muita
coisa ainda precisa mudar, como à aceitação e respeito pela sociedade tanto de jovens e
adultos, muitas famílias precisam reestruturar alguns pontos, principalmente o
emocional em relação aos idosos e mudança na infraestrutura das cidades, tornando
adequada não apenas para os idosos, mas todos aqueles que são diferentes ou possuem
alguma necessidade especial. Além disso, as esferas públicas tanto nos níveis federal,
estadual e municipal precisam ampliar ainda mais as garantias de segurança pública,
qualidade de vida, acesso à saúde, ampliação do sistema de medicamentos, maior lazer,
educação e cultura, aumento nos valores das aposentadorias para os idosos e tudo isso
só se tornará possível através do acréscimo das leis existentes e criação de novas leis de
acordo com a necessidade que forem surgindo.
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REFERÊNCIAS
Atlas de Desenvolvimento no Brasil, PNUD 2013, Censos 1991, 200 e 2010, Estadual
e Municipal.
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MINAYO, M. C. S. (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis:
ed. Vozes, 2001.
INTERNET
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