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NOMES SILENCIADOS, HISTÓRIAS APAGADAS: OS DADOS ESTATÍSTICOS DA

SIN/PANDEMIA AOS OLHOS DA ANÁLISE DE DISCURSO

Nelson Figueira Sobrinho - UNIOESTE1

Tendo a Análise de Discurso franco-brasileira como procedimento teórico-metodológico, este trabalho tem
como fim analisar a divulgação de dados estatísticos da sin/pandemia de Covid-19. Partindo do princípio de
que apesar da aparência de verdade os números não são transparentes, o trabalho analisa que, ao serem
divulgados, dados matemáticos podem silenciar nomes, apagar corpos e esconder a história das vítimas da
pandemia. Com base em Dias (2020), para analisar como dados (in)visibilizam sujeitos, e de Orlandi (2007a,
2007b), para embasar as discussões sobre o silêncio, o trabalho busca também estudar possíveis
contradições, pois ao mesmo tempo em que esses números não são transparentes, mostram a dimensão
desse acontecimento histórico e sujeitos mais vulneráveis, quando não incluídos nessas estatísticas,
também se tornam invisíveis para o Estado. Na análise, parte-se de um corpus constituído por três
reportagens, do Jornal Nacional, do O Globo e do Jornal Hoje, de 17 de março e de 8 e 19 de agosto de
2020, para investigar como a mídia tenta dar nomes, rostos e histórias às vítimas, mas nem sempre esse
feito é possível, pois números ainda apresentam uma opacidade por ocultar dramas e vidas.

PALAVRAS-CHAVE: ANÁLISE DE DISCURSO, DADOS ESTATÍSTICOS, COVID-19.

INTRODUÇÃO
Acontecimento histórico de proporções mundiais, a crise sanitária da Covid-19 tem sido
considerada por muitos cientistas como uma sindemia. Conceito ainda pouco usado, sindemia
(neologismo que une as palavras sinergia e pandemia) foi cunhado por Merrill Singer na década de
1990. Médico e antropólogo, Singer usa o termo para denominar um contexto em que pelo menos
duas doenças passam a interagir e a provocar danos mais intensos do que o simples somatório de
ambas e esse somatório, por sua vez, atua em um contexto socioambiental e econômico marcado
pela desigualdade (PLITT, 2020).
No caso específico da crise atual, além da própria Covid-19 – causada pelo vírus Sars-CoV-
2 –, outras doenças não transmissíveis estariam relacionadas, configurando a sindemia. Entre
essas, estão as chamadas comorbidades, doenças preexistentes que se agravam e concorrem para
a morte das vítimas, e o adoecimento mental, fruto do isolamento, da impossibilidade de se viver
o luto, etc.2 Essa relação sinérgica, ‘aliada’ a uma conjuntura econômica, social e ambiental que
agrava uma grande desigualdade social já existente, faz com que a crise sanitária seja ainda mais
grave, configurando a sindemia.

1 Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Letras (Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Cascavel). Mestre


em Sociedade, Cultura e Fronteiras (Unioeste/Foz). Graduado em Comunicação Social – Jornalismo. E-mail:
nelson_figueira@hotmail.com
2 Em Garcia e Figueira Sobrinho (no prelo), ponderamos sobre a sindemia no Brasil e no mundo aos olhos da AD.
Tendo a Análise de Discurso franco-brasileira como procedimento teórico-metodológico,
neste artigo partimos dessa perspectiva sindêmica para analisar a divulgação de dados estatísticos
oficiais e/ou não oficiais da crise causada pela Covid-19. Baseados no princípio de que apesar da
aparência de verdade os números não são transparentes, o trabalho analisa que, ao serem
divulgados, dados matemáticos – além de recursos como tabelas, gráficos, etc. – silenciam nomes,
apagam corpos e escondem histórias das vítimas da pandemia e que, paradoxalmente o contrário
também ocorre: ao não serem incluídas nas estatísticas, vítimas da doença acabam não sendo
reconhecidas como tais pelas autoridades, mascarando um contexto de gravidade que atinge
aqueles em vulnerabilidade social.
Para isso, partimos de Dias (2020), para analisar como dados podem (in)visibilizar sujeitos,
e de Orlandi (2007a, 2007b), para embasar as discussões sobre o silêncio. Ademais, visamos ainda
a analisar a possível contradição supracitada, pois ao mesmo tempo em que esses números não
são transparentes, mostram a dimensão desse acontecimento histórico e discursivo (PÊCHEUX,
2015). Acontecimento esse que, no Brasil, em razão do próprio sistema capitalista, se num
primeiro momento fez vítimas entre a elite, logo passou a atingir, sobretudo, os mais vulneráveis
Schwarcz (2020). Além do próprio acontecimento, a análise se volta ainda a um corpus constituído
por três reportagens – do Jornal Nacional, do O Globo e do Jornal Hoje, de 17 de março e de 8 e 19
de agosto de 2020, respectivamente – para investigar como a mídia tenta dar nomes, rostos e
histórias às vítimas, mas nem sempre esse feito é possível, pois números ainda apresentam uma
opacidade por ocultar dramas e vidas.
Como forma de sistematizar esse artigo, a seguir apresentamos uma contextualização dos
números da pandemia. Na seção posterior, apresentamos as condições de produção dos dizeres
aqui analisados para, em seguida, procedermos à discussão, com base na AD franco-brasileira, de
como esses dados podem (in)visibilizar pessoas. Essa discussão será subdividida em duas partes.

A EPIDEMIA EM NÚMEROS
Desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que o surto de coronavírus
era uma pandemia, em 11 de março de 2020, os dados estatísticos passaram a fazer parte do
cotidiano dos brasileiros, entrando nos lares por meio da mídia. O próprio termo pandemia traz
em seu bojo o sentido de quantidade e de dados matemáticos e estatísticos. Do grego
“pandēmía,as no sentido de ‘o povo inteiro’ (PANDEMIA, 2021b), o termo, próprio do discurso da
epidemiologia, faz parte de um sistema de classificação que inclui também surto e epidemia, os
quais, além dos aspectos numéricos, abrangem ainda aspectos geográficos (PANDEMIA, 2021a).
Considera-se pandemia quando ocorre o aumento de contágios de determinada doença
em diferentes países e continentes “com transmissão contínua entre humanos, seja ascendente ou
persistente” (PANDEMIA, 2021a, n. p). Ou seja, ao se dizer pandemia, coloca-se em circulação
sentidos de amplidão geográfica, de grande gravidade e de um alto número de vítimas. Mas,
apesar de os dados serem necessários do ponto de vista da epidemiologia e para dar uma
dimensão da crise sanitária, no caso da Covid-19 não são suficientes para demonstrar a dimensão
do drama pelo qual os sujeitos são impelidos a viver, sobretudo os mais vulneráveis. Essa falsa
transparência dos números escamoteia o fato de que a crise sanitária faz parte de um complexo
próprio do capitalismo.
Como destacam Figueira Sobrinho e Garcia (2021), com base em Mascaro (2020), o
surgimento ou agravamento de mazelas sociais em função da pandemia, como o desemprego,
habitações impróprias, precariedade do transporte público – situações que favorecem
transmissões da doença – são fruto das condições do modo de produção capitalista. Essas
condições, que justificam o uso do termo sindemia, são ainda mais alarmantes se levarmos em
consideração o gênero e a classe: de 1 de março a 31 de julho de 2020, o índice de mulheres
negras mortas por Covid era de 140 a cada 100 mil habitantes, contra 85 mortes por 100 mil entre
as brancas (id., ibid.). Todo esse contexto, mais uma vez, escamoteia, silencia e promove
apagamentos dessas mulheres, algo típico do conceito de “cuidado perigoso”, estudado por
Pimenta (2020).
[…] toda pandemia é racializada, não apenas aqueles que morrem são mais pretos
do que brancos, bem como aquelas que cuidam são mais pardas e pretas do que
brancas. Além disso, uma pandemia tem rosto de mulher não pelo fato de serem a
maioria das cuidadoras na área da saúde, são também as cuidadoras no âmbito
doméstico […] (PIMENTA, 2020, p. 16).

A especificidade brasileira inclui ainda o fato de muitas dessas mulheres serem obrigadas
a cuidar daqueles que a agridem3 e a deixar suas famílias para cuidar de outras, aumentando o
risco de adoecimento (o “cuidado perigoso”), como fazem as diaristas e as empregadas
domésticas.

AS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO DOS DIZERES


Parte do contexto sócio-histórico e ideológico (ORLANDI, 2020) das três reportagens aqui
analisadas já foram supramencionadas na seção anterior. Isso em razão de, obviamente, toda essa
particularidade da sin/pandemia no país, atingindo sobretudo os mais pobres, em particular os
negros e de forma mais específica ainda as mulheres, já se configurar como parte das condições de
produção dos enunciados presentes nos materiais jornalísticos. Mesmo assim, é pertinente
apresentar mais informações.
Na data em que a reportagem do Jornal Nacional foi exibida, 17 de março de 2020,
iniciava-se o isolamento social em várias partes do Brasil. Nesse dia também foi confirmada

3 Em 2020, uma a cada quatro mulheres maiores de 16 anos disse ter sofrido algum tipo de violência ou agressão no
país, o que corresponde a 17 milhões de mulheres. O índice é maior entre as mulheres negras (28%). Cerca de 50%
das agressões aconteceram em casa, sendo que 73% dos agressores eram íntimos das vítimas (GONÇALVES, 2021).
oficialmente a primeira morte no Brasil, que ocorrera um dia antes. Essa confirmação é a pauta da
reportagem exibida pelo JN.
Quando os dois materiais seguintes foram postos em circulação (8 e 19 de agosto de
2020), o Brasil já vivia seis meses de sin/pandemia. Exatamente em 8 de agosto, o país
ultrapassava a marca de 100 mil mortos pela doença. Um dia antes da exibição do segundo
material, era rompida a marcada dos 110 mil óbitos – ou seja, foram registrados dez mil óbitos em
apenas dez dias.
Na época em que esses materiais foram colocados em circulação, o país havia passado
pela saída de dois ministros da Saúde, mesmo em meio à crise sanitária: Luiz Henrique Mandetta e
Nelson Teich. No lugar de Teich, assumiu interinamente o general Eduardo Pazuello, empossado
definitivamente apenas em 16 de setembro, quando o país já superava 134 mil mortes.

DADOS COMO DISCURSO: QUANDO OS NÚMEROS ESCONDEM OS NOMES


Uma das referências em análise de discurso digital, Dias (2020), ao analisar os números da
pandemia, parte da noção de que “no digital, a quantidade é estruturante” (p. 77) para proceder a
dois movimentos analíticos: no primeiro, ela mobiliza números como dados que invisibilizam
sujeitos. No segundo, analisa o oposto: números, como dados, que visibilizam os sujeitos.
Seguindo esse caminho desbravado pela pesquisadora, iniciamos aqui uma análise dos
dados, ainda que extrapolando o digital, mas que da mesma forma apresenta uma dupla função,
também contraditória: como já dito, primeiramente vamos analisar dados que, ao serem
divulgados, silenciam nomes, apagam corpos, escondem histórias. Em seguida, analisaremos
dados que ao não serem incluídos nas estatísticas fazem com que vítimas da doença acabem não
sendo reconhecidas pelas autoridades e impedem que seus familiares tenham conhecimento da
causa da morte, mascarando um contexto de gravidade e de vulnerabilidade social.
Toda a análise, porém, se atém a uma questão crucial, que é a forma como os números
devem ser analisados à luz da AD. Segundo Orlandi (2007b), há um certo sentido em dizer que
existem dados em análise de discurso (dados entendidos não como números ou estatísticas, mas
como elementos possíveis de embasar um estudo). Na AD, fugindo de uma concepção positivista,
os dados são objetos de explicitação dos quais a teoria discursiva se vale para se construir como tal
(como teoria discursiva): “os dados são os discursos. Os discursos, por sua vez, não são objetos
empíricos, são efeitos de sentidos entre locutores, sendo análise e teoria inseparáveis” (ORLANDI,
2007b, p. 37-38).
Nesse sentido, devemos considerar os números e as estatísticas como efeitos de sentido e
dessa forma analisá-los. Partindo dessa premissa, Dias (2020) resume como deve ser a análise
envolvendo dados numéricos: esses interessam a AD como acontecimentos que vão colocar
sentidos em circulação, colocar modos de formulação da pandemia. Voltaremos a esse ponto ao
final deste artigo. Por agora, cumpre dizer que é dessa forma que aqui os números também serão
encarados.
A matéria exibida pelo JN se inicia com a apresentadora Renata Vasconcellos introduzindo
a matéria. No texto, há a informação de que o país tinha “tomado conhecimento”, naquela data,
de que a primeira morte pelo novo coronavírus havia sido registrada. Há informação sobre a idade
do homem e é deixada a abertura para a entrada do autor da reportagem, Alan Severiano. O
material segue apresentando novos números advindos de “estudos com base em pacientes
chineses”, que mostraram a taxa de mortalidade de acordo com a existência ou não de doenças
crônicas, como as cardiovasculares, diabetes, hipertensão e as respiratórias crônicas. Como forma
de aumentar o didatismo, os números foram apresentados em infográficos. Em seguida, o repórter,
à frente de um hospital, apresenta sua passagem4:
(SD1) O primeiro paciente brasileiro com morte confirmada por Covid-19 estava
internado nesse hospital particular [o repórter aponta para o hospital, e é possível
ler o nome Sancta Maggiore] a poucos quarteirões da Avenida Paulista. Ele não
viajou recentemente para o exterior, pegou o vírus aqui mesmo (SEVERIANO,
2020, n. p).

Na análise dessa SD, percebemos inicialmente que, embora haja dados matemáticos, não
há uma informação importante: o nome da vítima. Quem seria o primeiro paciente? Quando há
referência a ele, apresentam-se mais dados numéricos “62 anos”. Em outros termos, a vítima, que
até então seria a primeira a vir a óbito no país em razão do Sars-CoV-2, não tinha um nome ou
história para as autoridades e para o JN. Isso tornaria uma constante na cobertura midiática,
independentemente do meio:
Entre gráficos, formas e funções matemáticas, nos habituamos aos números e aos
cálculos, seja para sobrevivermos, seja para contarmos os mortos. Mas se a
matemática ajuda a contar os mortos ela diz pouco sobre os mortos que contam
(DIAS, 2020, p. 78).

Essa particularidade da cobertura sobre a sin/pandemia é definida, do ponto de vista da


AD, como um fenômeno de “de-singularização do sujeito” (DIAS, 2020, p. 81). Em outros termos, a
partir do momento em que o sujeito é transformado em “‘dado’, um dado na estatística, é apenas
um número, um corpo que não importa” (id., ibid.). Com base no poema “Inumeráveis”, de Bráulio
Bessa, a autora defende que, ao contrário, quando se dá nome aos sujeitos, no caso às vítimas da
sin/pandemia, quando esse sujeito é nomeado, quando é dito o que fazia, do que gostava, ele é
colocado na história.5
4 Passagem é o termo usado para denominar o momento em que o repórter aparece em uma reportagem, com o
GC (gerador de caractere) indicando seu nome e o local de onde fala – cidade, Estado, país – que traga também
informações relevantes para o espectador”.
5 Em tempo: o poema “Inumeráveis”, no campo da arte, faz justamente esse movimento de dar nome, ocupação,
gostos, rotinas, relações a possíveis vítimas da Covid-19. Transformada em canção por Chico César, a obra tem
Partindo de Orlandi, que postula que a narratividade é a forma como a memória se diz,
Dias infere que ao não ter corpo, nem rosto, nem nome, nem história, em outras palavras, quando
não existe uma construção discursiva do referente numérico, o sujeito é reduzido a um corpo que
não importa. Quando esse corpo torna-se número em meio aos demais, se desumaniza e por
conseguinte a morte do sujeito se torna banal e corriqueira (DIAS, 2020).
Com base nisso, defendemos que os números, nessas condições de produção, silenciam
nomes e histórias e apagam corpos e rostos. Em seus estudos sobre o silêncio, Orlandi (2007a) o
diferencia em a) silêncio fundador, aquele existente nas palavras, o não-dito, “e que dá espaço de
recuo significante, produzindo as condições para significar” (ORLANDI, 2007a, p. 16), e b) política
do silêncio (o silenciamento). Este último subdivide-se em:
[…] b 1) silêncio constitutivo, o que nos indica que para dizer é preciso não-dizer
(uma palavra apaga necessariamente as “outras” palavras); e b 2) o silêncio local,
que se refere à censura propriamente (àquilo que é proibido dizer em uma certa
conjuntura) (id., ibid.).

Fato discursivo produzido nos limites de FDs distintas, a censura, da forma como é
concebida por Orlandi (2007a) – ou seja, aos olhos da AD –, é compreendida como uma interdição
imposta aos sujeitos na inscrição destes em determinadas formações discursivas. Com isso, a
identidade do sujeito é afetada como sujeito-do-discurso, pois, como define Pêcheux ([1975]
2014b), a identidade resulta de processos de identificação conforme os quais esse tem se se
inscrever em uma ou outra formação discursiva (ORLANDI, 2007a, p. 50).
Em outros termos, se, com base em Pêcheux, consideramos como formação discursiva
aquilo que, em uma dada formação ideológica, ou seja, em dadas posições e conjunturas,
determinadas pela luta de classes, “determina o que pode e deve ser dito” (PÊCHEUX, 2014b, p.
147). Do contrário, a censura vem estabelecer o que não deve e não pode ser dito quando o
sujeito fala (ORLANDI, 2007a, p. 50).
Aplicando ao nosso objeto de análise, inferimos que, ao não trazer nomes, histórias da
vida, ao não dizer sobre o sujeito, as autoridades de saúde e o próprio JN impedem que sujeitos
ascendam a determinadas FDs, afetam a inscrição desses a dadas FDs. Há, portanto, um silêncio
local (a censura), aqui caracterizada mais por aquilo que ela produz (a não inscrição dos sujeitos
em determinadas FDs) do que pela sua forma de manifestação. Aliado a esse silêncio local, o JN
utiliza o outro tipo de política do silêncio, o silêncio constitutivo, o qual demonstra que para dizer é
preciso não-dizer, como veremos a seguir.
Em SD1, ao dizer “nesse hospital particular”, o repórter não menciona qual hospital, mas
não preciso. É possível saber, pelas imagens, tratar-se do Sancta Maggiore, unidade frequentada
por pacientes de determinado poder aquisitivo, em um contexto de classe média. Em outras

como refrão: “Se números frios não tocam a gente. Espero que nomes consigam tocar”.
palavras: apesar de não dizer, o jornal informa que a vítima não é um trabalhador das classes
menos favorecidas. Esse não-dito é reforçado na mesma SD por meio do dizer “a poucos
quarteirões da Avenida Paulista”.
Uma análise horizontal, apenas conteudística, poderia levar à interpretação de que o
repórter busca, ao mencionar o nome da avenida, localizar geograficamente o telespectador. No
entanto, não podemos nos deixar levar pela suposta transparência da língua, uma vez que “o
sentido, como efeito da relação entre língua e discurso, é ideológico” e por isso não reside na
palavra, mas fora dela (VINHAS, 2020, p. 257).
Quando o repórter diz Avenida Paulista, nesta condição de produção específica, há um
deslizamento de sentido, pois Avenida Paulista não possui apenas o sentido de via, de avenida,
mas de centro financeiro do país. Severiano, ao dizer que o hospital está próximo do principal
centro financeiro do país, o diz justamente para marcar essa diferenciação: de que a vítima
pertence a uma elite.
Avenida Brasil, nesse caso específico, deve ser tomada não apenas como uma indicação
geográfica ou toponímica. Do ponto de vista da AD, há ali um processo de metaforização que faz
com que o sentido seja outro: “[…] o sentido é sempre uma palavra, uma expressão ou uma
proposição por uma outra palavra, uma outra expressão ou proposição […]”, nos ensina Pêcheux,
(2014c, p. 239, grifos do autor).
Esse processo de metaforização (“meta-phora”), caracterizado por relacionamento,
superposição e transferência em que elementos significantes se conflitam e ganham sentido, não é
determinado anteriormente pela língua, numa relação entre o léxico (o significado) com a sintaxe
(a função). O sentido existe nas relações de metáfora. Relações essas “das quais certa formação
discursiva vem a ser historicamente o lugar mais ou menos provisório: as palavras, expressões e
proposições recebem seus sentidos da formação discursiva à qual pertencem” (PÊCHEUX, 2014c, p.
240). Concluindo a análise, apontamos que ao substituir o nome, o rosto, a história daquele que,
até então, seria o primeiro brasileiro a morrer de Covid-19, tanto as autoridades de saúde ouvidas
pelo JN quanto o próprio telejornal procederam a uma política do silêncio: tanto em sua categoria
local (censura) quanto constitutiva (não-dito).
Mas, como citado anteriormente, o oposto também ocorre: ao não serem incluídas nas
estatísticas, vítimas da Covid-19 não são reconhecidas como tais pelas autoridades. Esse processo,
como tentaremos mostrar a seguir, também se configura em um efeito do silêncio e atinge
sobretudo os sujeitos em vulnerabilidade social.

DIZERES DAS/SOBRE AS VÍTIMAS: QUANDO NOMES NÃO SE TORNAM DADOS


Rosana Aparecida Urbano morreu aos 57 anos no Hospital Municipal Doutor Cármino
Caricchio, no Tatuapé, um dos principais distritos da Zona Leste de São Paulo. O óbito aconteceu
em 12 de março de 2020, pouco depois das sete horas da noite. A senhora, que trabalhou como
diarista, mas deixou a atividade para cuidar de um filho com atraso no desenvolvimento, havia sido
internada um dia antes, quando visitava a mãe (o “cuidado perigoso”), que já estava internada na
mesma unidade.
Diabética e hipertensa, dona Rosana morreu após uma parada cardiorrespiratória. No dia
30 de abril, o resultado de um exame, cujo material fora colhido no dia da morte, comprovaria que
ela estava com Covid-19 e seria a primeira vítima da doença no Brasil. No entanto, na época, ela
morreu sem esse diagnóstico, já que o exame saiu 40 dias depois. Por isso, durante muito tempo
os dados oficiais do Ministério da Saúde apontavam que a primeira morte pela enfermidade era a
do “homem de 62 anos” que estava internado no hospital particular “a poucos quarteirões da
Avenida Paulista” e que tinha doenças preexistentes. A mãe de Rosana, dona Gertrudes, morreu
três dias depois da filha, também com Covid-19.
Diferentemente do “homem de 62 anos” sem nome, corpo e identificado apenas por sua
classe, dona Rosana foi identificada. Porém, enquanto um sujeito “não identificado” foi
transformado em número, em dado pelas estatísticas, a senhora paulistana teve até mesmo essa
condição negada. Em outros termos: do ponto da vista da AD franco-brasileira, houve um
silenciamento local, uma censura.
Esse silêncio local é constatado por meio da análise dos dizeres das/nas duas reportagens
que narram a história de dona Rosana, caso prototípico de como a sin/pandemia de Covid-19
ocorre no Brasil. Percebemos a existência de um silêncio local não nos dizeres da SD em questão,
mas nas condições de produção dessa SD. A não revelação, por parte das autoridades de Saúde
estaduais e federais, fez com que os familiares não tomassem as precauções contra a doença. Em
outras palavras, houve uma censura. Primeiramente, essa censura adveio não da sonegação da
informação por parte das autoridades, mas por um equívoco dessas.
Além da chamada comorbidade – a diabetes – dona Rosana havia morrido de insuficiência
respiratória e sua primeira avaliação indicava broncopneumonia e doença pulmonar obstrutiva. Ela
havia sido internada com dificuldades respiratórias e por isso era pelo menos um caso suspeito da
doença, status que, mesmo no início da pandemia no país, já constava nos balanços e estatísticas
médicas e era motivo de precaução. Mas até isso foi negado à família.
Ao ser pensada por meio da noção de silêncio, a noção de censura é amplificada e passa a
determinar um processo que limita o sujeito no percurso de sentidos, inibindo sua ascensão a
determinadas FDs (ORLANDI, 2007a). Ou seja, esse equívoco das autoridades de saúde limitou os
familiares de dona Rosana na trajetória de sentidos, impedindo-os, por exemplo, de tomarem as
devidas precauções para evitar que outros de sua família, e os amigos, contraíssem a doença.
Essa nossa inferência é corroborada pela segunda reportagem que trata sobre o mesmo
assunto. Exibida pelo JH, nela, Thaís Aparecida da Silva, filha de Rosana, narra que somente soube
que a mãe havia morrido de Covid-19 poucos dias antes de esta reportagem ser gravada. Há aí um
implícito, que nos leva a interpretar que a notícia somente foi dada pela própria equipe de O
Globo, intertextualmente citada pelo Jornal Hoje. Ou seja, a censura, que inicialmente advinha de
um equívoco, se tornou posteriormente uma censura advinda da má gestão por parte da
autoridades.
Inclusive, eu fiquei sabendo do resultado faz poucos dias. Cerca de uma semana,
duas semanas, do resultado positivo da minha mãe para Covid. Até então, no
atestado de óbito tá insuficiência respiratória e diabetes. Então, foi tudo muito
impactante, porque nós não tínhamos a confirmação e a gente não tava
preparada. A gente não tomou os devidos cuidados, né? Eu que troquei a minha
mãe. Eu e meu padrasto trocamos a minha mãe. Eu peguei minha mãe no colo em
vida ainda para colocar em cima da maca.

Além de perceber com mais nitidez como o silêncio limitou os sujeitos da família de Thaís
no percurso de sentidos, essa SD permite ainda identificar como os contextos das mortes da
senhora, moradora da periferia, e do senhor, internado a “poucos quarteirões da Avenida Paulista”,
mostram como a sin/pandemia de Covid-19 apresentou faces distintas, de acordo com a região em
que as vítimas viviam ou eram atendidas. No primeiro caso mostrado, o resultado do exame veio
um dia após a morte. No segundo, quarenta dias depois e sem que a família fosse informada – o
que só aconteceria quatro meses depois.
Voltando à reportagem de O Globo, temos as seguintes SDs:
SD 3: No início, a pandemia do coronavírus no Brasil foi associada principalmente
às camadas mais ricas da população, sobretudo entre aqueles que haviam visitado
a Europa recentemente. A confirmação da morte de Rosana como a primeira do
país revela a real face da pandemia no Brasil e seu peso entre os mais pobres […].
SD 4: — […] a desigualdade foi determinante para aumentar a vulnerabilidade à
doença no Brasil. SD 5: Mas a disparidade não surgiu com a pandemia. Ela foi
sempre constante em espaços segregados, em que há muito tempo a população
sofre com problemas diversos [...] (MARTINS; ROXO, p. 2021).

Na análise das SDs, percebe-se uma tentativa de demonstrar que a pobreza e as


desigualdades no Brasil derivam de um processo de produção e reprodução fruto tanto de um
processo histórico quanto de tomadas de decisões de instâncias públicas e políticas. Esse
posicionamento chama a atenção por a reportagem ter sido publicada por um grande meio de
mídia do país.
Valendo-se novamente de Dias (2020), inferimos que os dizeres de O Globo têm como fim
denunciar o “‘desaparecimento de anônimos’, dando-lhes nome e história” (p. 84). Em seu
percurso no estudo dos sentidos do discurso digital na pandemia, Dias parte de Orlandi ([1998]
2007b) para lembrar que a AD não trabalha com o dado, e sim com o fato de linguagem, como
citamos na seção anterior. Nesse sentido, em seu estudo, que também analisa a trágica marca
alcançada pela pandemia, Dias não considera 100 mil nem como um dado quantitativo, ou seja, o
número, tampouco como qualitativo, a informação: “100.000 interessa enquanto ‘fato-linguagem’,
enquanto um acontecimento que instaura sentidos, modos de formulação da Pandemia”. Um
desse fatos “é o dos corpos que não importam. Que são número, mas não contam para a
sociedade, para o sistema capitalista. O outro é o dos corpos que contam, que têm nome, prosa e
poesia” (DIAS, 2020, p. 89).
Trazendo a mesma tônica para nosso artigo, inferimos que, ao dar nome, imagem e
história da dona Rosana, O Globo – e, a partir do impresso, o JH – em que pese ser um aparelho
ideológico, buscou dar fim a uma invisibilidade imposta a dona Rosana pelas autoridades, mostrar
que números não são apenas números. Prototípico dos efeitos da sin/pandemia no Brasil, no que
diz respeito ao atingimento das camadas mais vulneráveis da população, o caso de dona Rosana foi
usado para tornar visível outros inúmeros casos do país, de pessoas que morreram apagadas,
transformadas em estatísticas.

DIZERES (NÃO) FINAIS…

Como sabemos, os grandes veículos pertencem a grandes grupos, muitos deles familiares,
como as organizações Globo, que não têm interesse em contribuir para a resolução das questões
socioeconômicas não por essas serem de difícil solução, mas porque sua resolução implica em
mudanças no próprio sistema capitalista. No entanto, na análise do corpus, constamos que, se num
primeiro momento houve uma política do silêncio, silêncio constitutivo e silêncio local, o que
resultou na invisibilização de um sujeito, num segundo momento esse silenciamento foi
sobreposto pelo O Globo e pelo JH.
Ao dar nome, rosto e uma história à dona Rosana, ambos meios midiáticos promoveram
uma singularização desse sujeito, possibilitando sua inscrição na história, ainda que tardiamente.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Senado Federal. Manual de Comunicação da Secom. Brasília (DF): Senado Federal, 2020. Disponível
em: https://www12.senado.leg.br/manualdecomunicacao. Acesso em: 7 jul. 2020.

DIAS, Cristiane. A vida em números: sentidos do discurso digital na Pandemia de Coronavírus. In: GALLI,
Fernanda Correa Silveira; BIZIAK, Jacob dos Santos; ZOPPI FONTANA, Mónica Graciela (org.). O não-sentido
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FERNANDES, Carolina. Memória discursiva. In: LEANDRO-FERREIRA, Maria Cristina (org). Glossário de
termos do discurso. Campinas, SP: Pontes Editores, 2020. p. 207-2014.

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GARCIA, Dantielli Assumpção; FIGUEIRA SOBRINHO, Nelson. Ossos e restos feitos em fogões a lenha: o
discurso da/na mídia e a romantização da fome e da pobreza no brasil em tempos de pan/sindemia [no
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