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Instituto Superior de Ciências e Educação à Distância.

Mestrado em Saúde Pública

Por: Tomas Francisco Juliasse

PAPEL DA PARTICIPAÇÃO E ENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO NA


PREVENÇÃO E COMBATE AS EPIDEMIAS: CASO DE ESTUDO DA
COVID19 EM MOÇAMBIQUE 2020 - 2021.

Resumo
O estudo teve como objecto o papel da participação e envolvimento comunitário na prevenção e
combate as epidemias: caso de estudo da COVID19 em Moçambique. Teve como objectivo geral:
Reflectir sobre o Papel da Participação e Envolvimento Comunitário na Prevenção e Combate as
Epidemias: Caso de Estudo da COVID 19 em Moçambique 2020 – 2021. O trabalho foi realizado com
base em pesquisa bibliográfica e na análise documental. Foram obtidos, os dados relativos a COVID19
dos últimos 24 meses, por meio dos Anuários Estatísticos de Saúde e dos dados gerais disponíveis no site
ou portal do MISAU. Em Moçambique, o envolvimento de actores comunitários nas acções de promoção
de saúde teve seu início nos finais da década 70, após a Declaração de Alma-Ata sobre Cuidados de
Saúde Primária (CSP). As acções comunitárias de saúde são parte integrante dos CSP, com intervenções
assentes em actividades de promoção de saúde, prevenção de doenças, tratamento e referência de doenças
comuns. Actualmente, o país conta com uma enorme rede de actores comunitários, que actuam em
diversas áreas de saúde.

Palavras - Chave: Participação; Envolvimento Comunitário; Epidemias; COVID19.

Abstract
The study had as its object: o papel da participação e envolvimento comunitário na prevenção e
combate as epidemias: caso de estudo da COVID19 em Moçambique. Its general objective was to:
Reflect on the Role of Community Participation and Involvement in Preventing and Combating
Epidemics: Case Study of COVID 19 in Mozambique 2020 – 2021. The work was carried out based on
bibliographic research and document analysis. Data related to COVID19 for the last 24 months were
obtained through the Statistical Health Yearbooks and general data available on the MISAU website or
portal. In Mozambique, the involvement of community actors in health promotion activities began in the
late 1970s, after the Alma-Ata Declaration on Primary Health Care (CSP). Community health actions are
an integral part of the CSP, with interventions based on health promotion, disease prevention, treatment
and referral of common diseases. Currently, the country has a huge network of community actors, who
work in different areas of health.
Keywords: Participation; Community Involvement; Epidemics; COVID-19.
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Introdução

Desde a eclosão da pandemia da COVID-19, em Dezembro de 2019, na China,


o mundo vive momentos sem precedentes. Esta doença de alta transmissibilidade fez até
então cerca de 4,4 milhões de óbitos ao nível mundial, e tem gerado inúmeras
implicações de âmbito social, económico e político, condicionando a agenda de vários
governos, incluindo os africanos.

Em Moçambique, após o anúncio do primeiro caso da doença, no dia 22 de


Março de 2020, quatro meses após o seu surgimento na China, várias foram as medidas
adoptadas pelo Governo, com vista à mitigação dos efeitos da doença. No entanto,
apesar desses esforços, é visível o impacto da pandemia na estrutura social e económica
do país, que ficou grandemente afectada, assim como nas dinâmicas de governação,
tanto a nível central como local.

Portanto, a história das epidemias tem nos mostrado a importância dos hospitais,
mas também nos tem ensinado que a linha da frente desse combate reside a nível das
comunidades, parte integrante dos Cuidados de Saúde Primários.

Desta forma, a comunidade representa uma plataforma integral e uma


oportunidade para uma participação genuína dos actores comunitários na criação do
bem-estar das comunidades locais. Ela é fundamental na prestação de serviços
essenciais de saúde pública e no engajamento social, e garante o envolvimento e
empoderamento das comunidades, incluindo as populações mais vulneráveis.

O estudo realizou-se em Moçambique. Temporalmente o estudo edifica-se pela


busca de dados da COVID19, sobre o papel da participação e envolvimento comunitário
na prevenção e combate as epidemias relacionados aos últimos 2 anos.

Objectivos:

Objectivo Geral

 Reflectir sobre o Papel da Participação e Envolvimento Comunitário na


Prevenção e Combate as Epidemias: Caso de Estudo da COVID 19 em
Moçambique 2020 – 2021.

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Objectivos Específicos:

 Verificar se o modelo de envolvimento comunitário em Moçambique é um


factor inibidor ou favorável ao combate as epidemias;
 Demonstrar o modelo de envolvimento comunitário em Moçambique como um
factor inibidor ou favorável ao combate as epidemias;
 Identificar as lições ou exemplos práticos que podem ser tiradas da participação
comunitário no combate a epidemia.
 Descrever as vantagens e desvantagens do envolvimento comunitário no
processo de prevenção e promoção da saúde na comunidade.

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METODOLOGIA

Tipo de Pesquisa

O trabalho foi realizado com base em pesquisa bibliográfica e na análise


documental. A limitação da literatura específica fez-nos privilegiar à consulta de todas
as fontes disponíveis, requerendo um conhecimento específico sobre o papel da
participação e envolvimento das comunidades na Prevenção e Combate as Epidemias
em Moçambique, desta forma, consultamos a informação dos relatórios de saúde anuais
e mensais da COVID19 2020 – 2021, e ainda para colmatar o défice da literatura
recorremos a consulta de jornais e dados gerais disponíveis no portal do Ministério da
saúde.

A escolha da pesquisa bibliográfica advém pela necessidade de se fazer uma


confrontação com aquilo que já foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto,
inclusive conferências seguidas de debates que tenham sido transcritos por alguma
forma, quer publicadas, quer gravadas sobre o papel da participação e envolvimento das
comunidades na Prevenção e Combate as Epidemias (COVID19) em Moçambique.

Relativamente a pesquisa documental consistiu na utilização dos documentos


que já foram analisados, tais como: Relatórios de Saúde 2020 – 2021 sobre a COVID19
e os dados gerais disponíveis no portal do Ministério da saúde.

Foram obtidos, os dados relativos a COVID19 dos últimos 24 meses, por meio
dos Relatórios de Saúde 2020 – 2021 e os dados gerais disponíveis no portal do
Ministério da saúde.

Tratamento e Análise de Dados

Para o tratamento e a análise dos dados, fez-se uso do programa Microsoft Office
2013, feita a colecta de dados, realizada com base no tipo de pesquisa acima referida, e
antes da análise e interpretação, os dados foram seleccionados e tabulados.

A selecção consistiu na submissão dos dados a uma verificação crítica, a fim de


detectar falhas ou erros, evitando informações confusas, distorcidas e incompletas, que
pudessem prejudicar o resultado da pesquisa. A tabulação foi feita na base do pacote
estatístico Microsoft Excel e fez-se.

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REVISÃO DA LITERATURA

O quadro teórico apresenta os principais conceitos, a revisão de literatura de


especialidade, de uma determinada área (Lakatos & Marconi, 2003).

Conceitos de Saúde Pública

Na óptica de Mbofana, (2019), Saúde pública são Actividades que a sociedade faz
colectivamente para assegurar as condições que as pessoas podem ser saudáveis. Isso
inclui esforços organizados da comunidade para prevenir, identificar, antecipar e
combater ameaças à saúde pública. (P. 32).

A Saúde Pública Nova é um conceito que se insere no novo paradigma, moldado


pelo processo de mudança, inspirado no modelo social, mas que incorpora disciplinas
científicas distintas e, também, novas tecnologias. Recebe contributos da sociologia, da
antropologia, da biologia e da matemática, além de outras ciências.

Ainda na percepção de Mbofana, (2019), Emergência de saúde pública é qualquer


ocorrência extraordinária que constitua um risco para a saúde pública e que requeira
uma resposta coordenada, podendo ser definida a nível nacional, no âmbito do
Regulamento Sanitário Internacional. (p. 29).

Segundo Mbofana, (2019), Prática de saúde pública são práticas ou processos


organizacionais que são necessários e suficientes para assegurar que as funções
essenciais de saúde pública estão sendo executadas efectivamente. (p. 31).

Os sentidos de comunidade para o enfrentamento da COVID-19

Segundo Júnior e Morais (2020), O aprofundamento da compreensão de


comunidade é fundamental para o enfrentamento da pandemia (p. 2).

Não há dúvidas que a COVID-19 alterou profundamente as lógicas


de funcionamento da sociedade e da economia mundial. Face à nova
realidade imposta pela doença, vários governos se viram obrigados a adaptar-
se ao novo contexto, investigando mecanismos de contenção da pandemia
sem, contudo, perder de vista a prestação de serviços públicos aos cidadãos
(Bosman, 2021).

Segundo António (2021), em Moçambique, tem sido notória uma abordagem


integrada entre os diversos órgãos ou instituições públicas na gestão da COVID-19, não

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só entre os diversos Ministérios, mas também por meio de uma cooperação com os
Governos locais, como é o caso das autarquias, que também têm desempenhado um
papel determinante nesse processo (p. 80).

Os decretos presidenciais criados no âmbito das medidas de combate à COVID-19


prevêem a colaboração dos órgãos locais na fiscalização do cumprimento das medidas
impostas pelos decretos dentro das suas áreas de actuação.

Por exemplo, o Decreto 110/2020, de 18 de Dezembro, criado no âmbito da


situação de calamidade pública, declarada por meio do Decreto 79/2020, de 4 de
Setembro, estabelece no ponto n.º 1 do artigo 8, a obrigatoriedade do uso de máscaras
ou viseiras em locais públicos e aglomerados, assim como nos mercados.

Modelos de participação comunitária em saúde

O termo participação também tem múltiplos sentidos e pode reflectir diversas


perspectivas de abordagens. O envolvimento dos cidadãos nos sistemas de saúde tem
sido amplamente estudado.

Na óptica de Júnior e Morais (2020), A literatura nacional e internacional


dispõem de diversas tipologias e modelos que ilustram e fundamentam possibilidades e
níveis de participação. Esses quadros teóricos apresentam abordagens hierárquicas, com
níveis de envolvimento desde a participação passiva até o empoderamento da população
e o compartilhamento de poder. (p. 3).

 O precursor e mais citado modelo de participação foi publicado por Arnstein na


década de 1960. A escada de Arnstein é dividida em três níveis que englobam os
oito tipos de participação. O nível mais baixo de “não participação” inclui a
manipulação e a terapia. O nível intermediário corresponde à participação
figurativa, composta pelos tipos: disponibilização de informação, consulta e
conciliação. Já o nível mais avançado, o poder cidadão, envolve a participação
como parceria, poder delegado e controle cidadão;
 Outro importante e citado modelo é denominado continuum da participação
comunitária. Nesse modelo, são sistematizadas três maneiras pelas quais as
comunidades participam das acções de saúde: mobilização comunitária,
colaboração e empoderamento comunitário.

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 O modelo da teoria da mudança foi desenvolvido por Popay e fundamenta as
práticas de participação do sistema nacional de saúde do Reino Unido. No
modelo proposto, a participação, diferenciada por seus objectivos, é composta
por quatro abordagens: o fornecimento de informações; consulta; co-produção; e
controle comunitário;
 O quarto modelo de participação foi desenvolvido por Brunton et al, baseando-
se em estudo de revisão sistemática das matrizes de participação comunitária. Os
autores sistematizaram um quadro teórico com duas meta narrativas da
participação comunitária nos sistemas de saúde: a utilitarista e a da justiça
social.

Participação comunitária no enfrentamento da COVID-19

A participação da população é fundamental para a execução das medidas, como


o distanciamento social, o isolamento de casos e o uso de máscaras. Não é possível
obter um resultado satisfatório de diminuição da circulação do vírus sem o
envolvimento da população.
O envolvimento da comunidade é determinado, sobretudo, pelas
condições socioeconómicas e estruturais. Distanciamento social em
comunidades periféricas que vivem em densos aglomerados urbanos é algo
difícil de ser operacionalizado. Do mesmo modo, são evidentes as
impossibilidades de isolamento de pessoas, casos confirmados ou suspeitos,
que vivem em habitações precárias, onde famílias inteiras dividem um único
cómodo e com deficits de acesso a água e produtos de higiene (Júnior e
Morais 2020).

Como ocorre com a maior parte das doenças infecciosas, a COVID-19 tem
maior poder de disseminação e letalidade, no entanto, o avanço segue impactando com
maior força a vida dos mais necessitados.

Dentro desse contexto, convém também reflectir sobre a relevância da


participação da comunidade na pós-pandemia. Os danos catastróficos causados pela
COVID-19 se estenderão para além do momento de regressão da curva pandêmica.
Desemprego, fome, problemas psicológicos, violência e aumento de outras doenças
estão entre as consequências esperadas.

Dessa forma, a participação com foco no empoderamento comunitário é uma


estratégia pujante para influenciar o direcionamento das políticas sociais e de saúde com
vistas à equidade e à justiça social.

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Comunicação de risco e envolvimento comunitário

As acções de comunicação de risco e envolvimento comunitário constituem


prioridade para a prevenção primária com destaque para a mudança social e de
comportamento.

Segundo o Ministério da Saúde (2020), no ano de 2020, as estruturas de resposta


e coordenação foram criadas e consolidadas, no ano de 2021, prioridade será efectuar
mensagens inovadoras que suscitem a mudança no seio da comunidade e das pessoas
desviantes positivos. Acções estratégicas de comunicação de risco e envolvimento
comunitário incluem:

 Reforçar o envolvimento comunitário através da melhoria dos processos de


partilha de achados das pesquisas com o nível provincial para informar tomada
de decisões;

 Melhorar a "escuta" de rumores nas redes sociais e nas comunidades, e acelerar


o uso dos dados para a acção;

 Aplicar novas acções de comunicação baseadas em pesquisas formativas melhor


orientadas para a cultura e contextos locais;

 Mapear os actores comunitários, integrar a componente emergência em saúde


pública nas áreas especificas de actuação;

 Formar mais pessoal da promoção para a saúde aos diferentes níveis (central,
provincial e distrital) em comunicação para situações de emergências em saúde
pública, em particular para COVID-19;

 Expandir a cobertura de actores comunitários formados.

Princípios orientadores da resposta comunitária à COVID-19


Para o Ministério da Saúde (2020), as acções comunitárias de saúde são parte
integrante dos Cuidados de Saúde Primários (CSP), com intervenções assentes em
actividades de promoção de saúde, prevenção de doenças, providenciando de tratamento
para um conjunto de doenças comuns e garantido um sistema de referência. (p. 17).

Portanto, a presente estratégia alinha-se com a política nacional de saúde (em


revisão) que assenta nos seguintes princípios orientadores:

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I. Não Criar Novas Estruturas de Governação dos Actores Comunitários: aproveitar a
estrutura de gestão e coordenação administrativa existente para coordenar os actores
comunitários, como por exemplo os Governos distritais, Postos Administrativos,
Localidades, Bairros, Quarteirões e outros para garantir a gestão dos actores
comunitários.
II. Envolvimento das Lideranças comunitárias: este princípio assenta-se na
necessidade de integração das acções de resposta comunitária à COVID-19, nos
planos de desenvolvimento dos sectores e comunidades. As instituições públicas,
privadas, religiosa, agências de desenvolvimento nacional e internacional e incluindo
as organizações locais devem criar um ambiente que permita às comunidades a
participarem em acções de resposta à COVID-19. O envolvimento e o fortalecimento
das lideranças locais é crucial para a eficácia da resposta.
III. Integração: a abordagem comunitária, procura responder de forma holística às
necessidades em saúde das pessoas nas comunidades, com particular atenção para as
pessoas afectadas, em isolamento e infectadas ou doentes com COVID-19.
IV. Não discriminação: A resposta comunitária à COVID-19 deve ser baseada nos
direitos humanos, justiça do género, inclusão de pessoas com deficiência, de modo a
criar um ambiente social e legal onde todas as pessoas, famílias, comunidades
afectadas pela epidemia da COVID-19 possam usar os serviços comunitários
disponíveis.
V. Confidencialidade: Informações sobre o estado de saúde dos doentes com COVID-
19 na comunidade devem ser tratadas confidencialmente pelos trabalhadores
comunitários e não devem ser divulgadas a outros sem consentimento da pessoa
envolvida.
VI. Sustentabilidade: Os programas implementados nas comunidades devem assegurar
benefícios a longo prazo, estimulando a apropriação pelas comunidades. Os actores
comunitários envolvidos na prevenção e resposta à COVID-19 devem sentir-se
responsáveis pela da planificação, implementação e avaliação das actividades na sua
comunidade.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

O modelo de envolvimento comunitário em Moçambique como um factor inibidor


ou favorável ao combate as epidemias

Segundo Ministério da Saúde (2021), o envolvimento Comunitário para a Saúde


significa, envolvimento activo de pessoas de todos os extractos sociais, (homens,
mulheres, jovens, crianças e velhos) que vivem juntas, de forma organizada e coesa, na
planificação e implementação dos Cuidados de Saúde Primários, usando recursos locais,
nacionais ou outros.

Nesse sentido, a análise da participação da comunidade no enfrentamento da


COVID-19 perpassa pela necessidade de conhecimento do modelo de participação
utilizado e do espaço ocupado pela população nos sistemas social e sanitário. Tais
delimitações conceituais são relevantes, pois existe o risco de idealização do
envolvimento da comunidade e de desenvolvimento de expectativas irreais de
participação frente a um cenário político e social adverso.

A Missão do envolvimento comunitário inserida na Política Nacional e no Plano


Estratégico do Sector Saúde visa garantir acesso aos cuidados básicos de saúde
moçambicanos, através da promoção das capacidades da comunidade para a
identificação, análise e tomada de decisões para resolução dos problemas de saúde e
desenvolvimento.

Podem ser destacados aqui três dos sete objectivos do Envolvimento Comunitário,
Segundo MISAU (2004):
 Satisfazer um direito e um dever - todo o ser humano tem o direito e o dever de
participar individual ou colectivamente na planificação e na implementação dos
cuidados de saúde que lhe são destinados. O envolvimento das comunidades
num processo de satisfação dos seus direitos conduz a que essas comunidades
possam reivindicar esses direitos;
 Promover a auto-responsabilidade da colectividade e dos indivíduos - os
programas de saúde com uma forte componente de envolvimento comunitário
conduzem a auto-responsabilização da comunidade para promover o

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desenvolvimento comunitário e melhorar as condições de vida da população,
para além de constituir uma aprendizagem;
 Abrir largas perspectivas para priorizar acções de promoção da Saúde e de
prevenção da doença - é muito mais fácil o envolvimento das comunidades em
acções de promoção de higiene e saneamento, educação para a saúde do que na
prestação de cuidados em regime de hospitalização que são sempre mais
onorosos.
Com base nos Aspectos acima apresentados, pode-se assumir que o modelo de
envolvimento comunitário em Moçambique é um factor favorável ao combate as
epidemias.

Segundo Ministério da Saúde (2020), A vigilância sanitária comunitária no


contexto da COVID-19 vai contribuir para a promoção da saúde às comunidades locais
e para eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde. Permitirá também, que as comu-
nidades intervenham em todo o tipo de problemas sanitários que possam afectar a
relação entre o meio ambiente, produção e circulação de bens e prestação de serviços (p.
12).

Lições ou exemplos práticos que podem ser tiradas da participação comunitário no


combate a epidemia

À luz de outros contextos do Mundo, a pandemia tem impactado negativamente


nas dinâmicas de governação em Moçambique. Isto observa-se não só ao nível do
Governo central, que procura a todo o custo por mecanismos para fazer face a esse
desafio, mas também ao nível dos Governos locais, com maior destaque para os
municípios que também têm sido grandemente afectados pela doença, tanto em termos
de prestação de serviços públicos, como na interacção entre as autoridades e os
munícipes, devido a medidas como o distanciamento social que, em parte, condicionam
o número de pessoas a reunir.

Conforme afirma Forquilha (2016 citado por António 2021, p. 82), acerca da
participação e envolvimento comunitário:

A participação diz também respeito ao envolvimento dos munícipes


em acções de consultas para elaboração dos planos, orçamento e tomada de
decisões importantes para a sua vida. Todavia, esse envolvimento exige, por

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sua vez, que as autoridades municipais desenhem e institucionalizem
mecanismos que permitam que os munícipes se sintam parte dos processos de
tomada de decisões municipais. (Forquilha, 2016 citado por António 2021, p.
82).

Não há dúvidas que a pandemia impactou negativamente nas lógicas de


governação ao nível do município de Lichinga especificamente. Por um lado, as
medidas de prevenção e mitigação da pandemia impostas pelo Governo, como a questão
do distanciamento social, condicionaram as lógicas das reuniões com as comunidades,
na medida em que se passou a considerar o número de participantes em tais reuniões
comunitárias em concordância com os decretos presidenciais.

Os horários de funcionamento das instituições públicas (das 08h às 14h),


impostos pelos decretos presidenciais, também condicionam o atendimento aos
munícipes que procuram por algum serviço no Conselho Municipal, e até mesmo o
próprio desempenho dos funcionários e agentes municipais, devido à redução das horas
de trabalho.

Conforme se pode notar, a pandemia tem impactado negativamente na


governação do município de Lichinga a vários níveis. Mas apesar dessas implicações,
quando analisada a interacção entre as autoridades municipais e os munícipes,
constatou-se que a COVID-19, por si só, não justifica a fraca interacção entre estes, pois
constitui um problema estrutural, característico não só dos Governos locais, mas
também de outros níveis de governação.

Adaptabilidade e resposta rápida a um ambiente em mudança: A pandemia


enfatizou a importância de adoptar abordagens novas e flexíveis para fornecer
resultados eficientes e em tempo útil.

Segundo António (2021, p. 86), em resposta às restrições de distanciamento


social, o UNICEF apoiou o Governo a nível nacional, provincial e distrital, facilitando o
acesso e a utilização de novas tecnologias para comunicação, recolha de dados,
formação e desenvolvimento de capacidades, ao mesmo tempo que fornece
equipamento de protecção individual para apoiar a continuação de processos essenciais
serviços presenciais.

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A utilização da tecnologia foi aplicada de novas maneiras. Por exemplo,
plataformas como dinheiro móvel foram introduzidas para promover soluções digitais
para a gestão de dinheiro como uma medida de mitigação dos impactos secundários da
COVID-19. O UNICEF apoiou a orientação de profissionais de saúde em cuidados de
recém-nascidos e cuidados nutricionais de pacientes internados por meio de plataformas
e intercâmbios de grupo online e, como resultado, os trabalhadores da linha de frente
foram alcançados com um quinto dos custos da abordagem original.

O apoio à educação à distância foi prestado a 923.000 crianças em todo o país


através de programas de rádio e televisão durante o encerramento das escolas. Na
protecção à criança, assistentes sociais foram formados para actuar online, fornecendo
apoio psico-social e fazendo rastreio de casos para determinar os mais graves que
necessitassem de visitas presenciais.

Os seminários com membros do Parlamento assumiram a forma de webinários


para discutir o impacto social da COVID-19 nas crianças, assim como a proposta de
Orçamento do Estado.

Vantagens do envolvimento comunitário no processo de prevenção e promoção da


saúde na comunidade

 Participação activa de indivíduos, de grupos e da comunidade em actividades


para a melhoria da saúde individual, familiar e comunitária;
 Melhoradas as práticas sanitárias-chave para promoção de saúde das famílias e
da comunidade;
 Melhorado o acesso da comunidade aos cuidados de saúde primários (CSP)
 Aumento do afluxo da população aos cuidados de saúde;
 Melhorada a qualidade de atenção de saúde a nível dos utentes das Unidades
Sanitárias por parte dos profissionais de saúde
 Reforçada a capacidade institucional a nível central, provincial, distrital e local;
 Envolvimento comunitário sustentável
 Melhorada a articulação com outras entidades (governamentais, privadas etc)

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CONCLUSÃO
Como nota conclusiva, podemos afirmar que o envolvimento comunitário
sempre foi um elemento basilar para a resposta a surtos e epidemias. Frente ao risco de
disseminação de novas ou conhecidas doenças, os sistemas de saúde, com frequência,
recorrem à estratégia de mobilização da população para a contenção ou mitigação de
problemas sanitários. Como as medidas de restrição de contacto dependem muito mais
da conscientização e envolvimento da população do que das intervenções profissionais,
é necessário recorrer à participação comunitária para o alcance efectivo das mesmas.

Portanto, para manter a confiança, precisamos de escutar, responder e agir com


base naquilo que as comunidades nos comunicam. Se as informações sobre saúde e
comunicação de risco e abordagens permanecerem estáticas e não forem actualizadas
para reflectir as preocupações, questões e sugestões das comunidades, não vão manter-
se relevantes nem serão tidas em conta pelas pessoas e a resposta à epidemia falhará.
Nesse sentido, práticas de mobilização comunitária mostram-se apenas com o
propósito de curar ou evitar o aparecimento de doenças, e a participação da população
se restringe a seguir as orientações profissionais. A abordagem da colaboração enfatiza
o melhor desempenho dos sistemas de saúde e a participação da comunidade é
desempenhada com o desenvolvimento de acções ou prestações de serviços pelos
membros da comunidade.

Por fim, ressaltamos que a participação comunitária no contexto da COVID-19,


embora exista consenso sobre a importância de envolver os cidadãos em processos de
produção de saúde, o entendimento sobre a natureza da participação mostra-se
amplamente divergente. A participação comunitária pode adquirir conotações diversas,
visto que existem múltiplas possibilidades de entendimento de „comunidade‟ e diversos
modelos de “participação”.

Limitações da Pesquisa

No decorrer da elaboração deste estudo confrontaram-se diversas limitações, tais como:


 Dificuldade no plano teórico, de formular explicações consistentes por falta de
publicações no período em estudo;
 Dificuldades no acesso a artigos científicos que abordam a temática no período
em estudo.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

António, B. (2021). A COVID-19 e suas implicações na governação municipal


em Moçambique: um estudo de caso a partir do município de Gondola. Desafios para
Moçambique.

Bosman, I. (2021). COVID-19 and E-Governance: Lessons from South Africa.


South African Institute of International Affairs. Disponível em:
https://www.jstor.org/stable/ resre29596.

Decreto 110/2020, de 18 de Dezembro. Boletim da República.

Decreto 79/2020, de 4 de Setembro. Boletim da República.

Júnior, J. P. B. & Morais, M. B. (2020). Participação comunitária no


enfrentamen toda COVID-19: entre o utilitarismo e a justiça social. Cad. Saúde
Pública.
Lakatos, E. M. & Marconi, M. A. (Eds). (2003). Fundamentos de Metodologia
Científica (5.a ed.). São Paulo: Atlas.

Mbofana, F. (2019). Manual de introdução à saúde pública. Instituto Superior de


Ciências e Educação à Distância. Mestrado em Saúde Pública, Beira – Moçambique.

Ministério da Saúde, (2020). Estratégia Nacional de Resposta Comunitária à


COVID-19. Direcção Nacional de Saúde Pública, Moçambique.

Ministério da Saúde, (2021). Plano nacional de resposta a pandemia do


COVID-19 actualização de 2021. Direcção Nacional de Saúde Pública, Moçambique.

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