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ARTISTANDO: INTERFACES DA CULTURA ALEMÃ NO VALE DO CAÍ – RS

Lilian Cláudia Xavier Cordeiro1


Viviane Diehl2
Maria Julia Hunning Ehlert3

RESUMO

Este relato, surge a partir do projeto de extensão Artistando realizado pelo IFRS campus
Feliz que buscou aliar a arte, o artesanato e o design, mantendo uma atenção estética,
criativa e produtiva, de modo a contemplar o desenvolvimento sustentável e a integração
com os arranjos produtivos locais, sociais e culturais. No âmbito da cultura material que
constitui a formação do povo brasileiro, surgem problematizações a partir dos referenciais
de identidade étnica alemã, que está presente no Vale do Rio Caí, RS, Brasil, local onde
se encontra o IFRS campus Feliz. Ao ampliar as ações extensionistas no contexto das
artes visuais, buscamos resgatar aspectos da produção dos artefatos culturais,
especialmente artesanais e, despertando a curiosidade, podemos, assim, abandonar as
obviedades na produção do conhecimento no campo da arte. Desse modo, o objetivo
principal do projeto foi promover modos de pensar a interculturalidade, problematizando
aspectos da arte, do artesanato e do design, por meio de ações para instigar o processo
de criação inventiva, oportunizar vivências teóricas e práticas, técnicas e artísticas, cujas
experiências construídas e compartilhadas significativamente são capazes de promover
uma educação que permanece no decorrer da vida dos sujeitos. Este projeto que
apresenta um caráter qualitativo e se vale de uma metodologia participante, foi
desenvolvido a partir da pesquisa bibliográfica introdutória que procura resgatar aspectos
da colonização alemã no Rio Grande do Sul. A partir desse aporte, foram propostas
visitas técnicas, exposições e oficinas com a comunidade do entorno. Neste sentido,
compreendemos a proposição e a participação dos integrantes da comunidade, nas
ações desenvolvidas, como geradoras de conhecimento. As oficinas movimentam as
experimentações para uma interação compartilhada, operada com a arte, o artesanato e
o design, na proposição estético-pedagógica, que pode qualificar a geração de trabalho e
renda. Neste entre-lugar habitado pela cultura, o acesso aos saberes manuais, culturais e
sustentáveis, contribui para que sejam ampliados os significados e sentidos do vivido,
para o reconhecimento da responsabilidade social e da interculturalidade que constitui o
povo brasileiro.
Palavras-chave: interculturalidade; cultura alemã; arte; artesanato; design.

A valorização da constituição intercultural do povo brasileiro levanta uma


série de problematizações envolvendo as culturas regionais. No Vale do Caí,
onde se encontra localizado o IFRS campus Feliz, contamos com a identidade
étnica alemã, cuja imigração se deu na segunda metade do séc. XIX. A partir

1
Bel e Licenciada em Desenho e Plástica, Mestre em Educação, docente Arte IFRS campus Vacaria. E-mail
lilian.cordeiro@vacaria.ifrs.edu.br.
2
Educadorartista do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, Campus
Feliz, na área Artes/Cerâmica. Doutora em Educação na Universidade Federal de Santa Maria, RS. E-mail
viviane.diehl@feliz.ifrs.edu.br.
3
Estudante bolsista do 4º ano do curso Técnico em Química Integrado ao Ensino Médio, no IFRS, Campus
Feliz, Agência de fomento interno.
dessa localização geo-cultural, observamos a demanda de ações para a inserção
e captação das oportunidades que podem repercutir em investimento cultural e
produtivo, com algum diferencial, bem como a profissionalização, agregando arte
e design na produção artesanal para a economia criativa.
O projeto de extensão Artistando já está em sua terceira edição, tendo
iniciado em 2017, sempre contando com o fomento do IFRS através do custeio
das despesas com material e do oferecimento de bolsas aos alunos. É importante
ressaltar que sem a manutenção do auxílio pela instituição o projeto não poderia
ter tido andamento da forma como aconteceu. A ação de extensão já contou com
três bolsistas, tendo proporcionado um impacto na formação desses estudantes
secundaristas, além de obviamente, na comunidade com a qual interagiu.
O projeto procurou construir-se dentro da ideia de indissociabilidade entre
ensino, pesquisa e extensão, a qual “deve promover a articulação das diferentes
áreas do conhecimento e a inovação científica, tecnológica, artística e cultural
promovendo a inserção do IFRS”, na sociedade. (IFRS, 2011, p.21). Assim, ele foi
inscrito nas três modalidades em nosso sistema SigProj, como indicado pelos
documentos do IFRS, buscando agir de uma forma indissociável, circular, na qual
as ações de ensino e extensão podem gerar objetos de pesquisa e a pesquisa,
por sua vez, pode vir a ser tornar-se uma ação educativa e extensionista, de
modo inverso.
Tendo por base a questão da etnia e da cultura alemã presentes no Vale
do Caí, valemo-nos da perspectiva intercultural proposta por Barcelos no livro
“Uma educação nos trópicos”, ou seja, uma ação pedagógica deve valorizaar os
conhecimentos científicos sem esquecer o papel fundamental dos saberes da
experiência e da vivência. Uma educação, portanto, que coloca em contato a
cultura local e a global (IFRS, 2013, p. 28).
As intervenções extensionistas educativas marcadas pela desconstrução e
reconstrução nas relações interculturais são articuladas às problemáticas sociais
que se apresentam em sua concretude. Essas intervenções emergem das
necessidades dos grupos envolvidos tornando-se uma permanente atividade
como prática cultural.
O saber construído por e na experiência, fato que não é comum no nosso
cotidiano acelerado, promove modos de ver e pensar as possibilidades da criação
e produção de modo diferenciado. Esta ideia sobre o saber da experiência é
colocada a partir de Larrosa: “A experiência é o que nos passa, o que nos
acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que acontece, ou o que
toca. A cada dia se passam muitas coisas, porém, ao mesmo tempo, quase nada
nos acontece” (LARROSA, 2002, p. 21). A experiência é compreendida, portanto,
para além do processamento de informações, é quando nos sentimos tocados por
aquilo que vivenciamos, experienciamos e o sentido que atribuímos a isso. Para
que tal ocorra, faz-se necessário dispor de tempo, tempo para refletir, para
dialogar, para experimentar.
Assim, para pensar a instauração do projeto Artistando, compartilhamos
com Barcelos que ele “tenha como intencionalidade de ação contemplar a
participação e ampliar a experiência estética das pessoas” (2013, p. 103). O
processo de criação e as interações com o contexto que permeiam a vida
envolvem as relações coletivas e individuais, que se instauram na complexidade
da cultura e suas manifestações, mas que também são afetadas por ela.
Brandão (2009), por sua vez, apresenta duas dimensões do que é
produzido socialmente considerando como cultura material e imaterial. No
contexto das materialidades, a cultura compreende os processos e produtos
transformados, no qual as pessoas criam a partir do que está posto e dos
diversos saberes compartilhados na convivência. Nesse sentido, a imaterialidade
do modo de vida e de pensamento de uma comunidade se materializa em seus
objetos artesanais, dando-lhes forma e sentido estético, como efetivos
representantes de sua cultura.
Os novos modos de viver e apreender o artesanato, como a expressão da
cultura criativa brasileira, em conexão e diálogo com outros segmentos da
economia criativa como o design, as artes, a moda e a cultura, colaboram para
constituir um segmento de referência nacional, salientamos o CRAB - Centro
SEBRAE de Referência do Artesanato Brasileiro, como um exemplo desse fato.

A presença cultural alemã no Vale do Caí


O Vale do Caí é composto por 19 municípios e fica localizado no nordeste
do Rio Grande do Sul. A região foi majoritariamente colonizada pelos imigrantes
alemães, tornando a presença da cultura e do artesanato de origem germânica
predominantes.
A imigração alemã para o Rio Grande do Sul, promovida pelo então império
brasileiro teve como um dos escopos o ideal de branqueamento da população.
Para os alemães, a Coroa Imperial Brasileira vendeu uma imagem de sonho,
oferecendo passagens, lotes de terras, suprimentos, materiais de trabalho e
animais, isenção de impostos por alguns anos, liberdade de culto e direito à
cidadania.
Os imigrantes viam no país subtropical semi-colonizado uma chance de
escapar da instabilidade financeira provocada em parte pela mecanização da
Europa, pelas epidemias e pela fome. Já no Brasil o estado precisava ocupar as
terras, principalmente no Rio Grande do Sul, que tinha uma população de 30% de
negros escravizados, fazendo com que houvesse uma presença maior de brancos
de origem europeia. Também, fazia-se necessária a mão de obra especializada
para produzir alimentos e confecções, bem como constituir um efetivo para
consolidar o exército brasileiro (LEITE, 2014).
Os colonos alemães que vieram para o RS foram afetados pela
industrialização na Europa e, ao chegarem, encontraram a base necessária para
trabalhar, uma vez que eram em grande parte camponeses e artesãos, numa
região que só podia oferecer terras para plantio e extração. (LUVIZOTTO, 2010)
Medina (1997, apud LUVIZOTTO, 2010) relata que os primeiros colonos
alemães a se instalarem no Rio Grande do Sul viajaram no navio Anna Luise,
partindo de Hamburgo em cinco de abril de 1824 e desembarcando no Rio de
Janeiro em quatro de junho do mesmo ano. A bordo do bergantim São Joaquim
Protector, 38 imigrantes rumaram para Porto Alegre e, em 25 de julho de 1824,
começaram a se instalar às margens do Rio dos Sinos, na antiga Real Feitoria de
Linho Cânhamo, fundando a colônia de São Leopoldo.
Os imigrantes que viajaram no “Cäcília, colonizaram a “Baumschneis”, que
significa “dois irmãos” e dá nome hoje à cidade gaúcha onde se estabeleceram.
Cabe destacar que há algumas divergências de informações sobre estes dados
históricos que podem ser verificados numa pesquisa mais detalhada do tema. “No
início de 1827 ou 1928, a data e o local de partida divergem nos documentos
encontrados, o navio holandês “Cäcília” zarpou, do Porto de Bremen ou
Hamburgo”, trazendo a bordo cerca de 300 imigrantes, procedentes da zona de
Tréveris, rumo ao Brasil, para a Província do Rio Grande do Sul, onde queriam
estabelecer-se como agricultores (FEY, 2018).
Em algumas décadas, a região do Vale do Rio dos Sinos estava quase que
completamente ocupada por imigrantes alemães. A colonização então se
expandiu por outras áreas do Rio Grande do Sul. Na década de 1870,
praticamente todas as terras baixas do interior do estado já estavam sendo
ocupadas pelos alemães, seguindo o caminho dos rios, porém, as terras altas não
atraíam os colonos, estando desocupadas até a chegada dos italianos, em 1875.
(MENDONÇA, 2013).
A região do Rio Caí foi destino para os colonos alemães devido às terras
férteis e por ser cortada pelo rio, que nos primórdios da colonização foi muito
utilizado para escoar os produtos agrícolas e artesanais até a colônia principal. A
cidade de Feliz, até a atualidade, reflete a influência da cultura alemã, dos
costumes, dos dialetos, das habilidades manuais e do cultivo na agricultura. De
modo geral, é uma cultura marcada pela objetividade, organização, com
comportamento reservado, não tem o costume de exposição emocional, mesmo
assim, apresenta muita sensibilidade. Os descendentes germânicos demonstram
um comportamento racional e realista, também baseado na solidariedade e
coletividade para enfrentamento das dificuldades, especialmente, ao chegarem no
Brasil (HILLEBRAND, 2006; MENTLIK, 2005).
A região tem relevante potencial turístico e demanda investimentos para
que este setor invista no seu desenvolvimento e explore as oportunidades que se
apresentam. Exemplo disso é a rota das cervejarias artesanais, recentemente
criada no Rio Grande do Sul, envolvendo vinte e dois municípios, entre eles a
cidade da Feliz, sede de um dos campi do IFRS.

A ação de extensão Artistando


A proposta nomeada Artistando surgiu do interesse em ampliar as ações
da área da cerâmica, atendida pelo projeto extensionista “Ceramicando” 4 (2014 a
2017), para outras formas de expressão e produção, bem como da

4
O projeto Ceramicando teve como objetivo pesquisar as argilas da região, muito utilizadas na produção de
tijolos e demais artefatos cerâmicos, para a utilização na produção artística. Em sua vertente de extensão,
buscou levar a linguagem cerâmica a diversas escolas da região do IFRS campus Feliz.
problematização a respeito do reconhecimento da formação intercultural do povo
brasileiro.
A partir desta caracterização histórico-cultural inicial, observamos o
potencial para uma produção de artefatos com diferencial e profissionalização, de
modo a agregar arte e design. Assim, a captação das oportunidades de negócio
pode repercutir em um investimento cultural e produtivo, para a geração de
trabalho e renda, agregados ao turismo.
Na área da cerâmica, da marcenaria, da produção têxtil, entre outras
desenvolvidas na região, os materiais e técnicas que envolvem esses processos
produtivos são diversificados e podem ser reposicionados e qualificados para
transformar artefatos que possam atender ao desejo e ao consumo, agregando
valor de mercado e valorizando as características da região.
Considerando esses aspectos, o objetivo do projeto foi promover modos de
pensar a interculturalidade, problematizando aspectos da arte, do artesanato e do
design, por meio de ações para instigar o processo de criação inventiva,
oportunizar vivências teóricas e práticas, técnicas e artísticas, cujas experiências
construídas e compartilhadas significativamente, educam para a vida.
Entre os objetivos específicos buscamos ampliar o referencial teórico sobre
as temáticas abarcadas pelo projeto; problematizar aspectos da arte, do
artesanato e do design; promover modos de pensar a interculturalidade nas
ações, cujas experiências singulares construídas e compartilhadas
significativamente, educam transdisciplinarmente; oportunizar vivências teóricas e
práticas, técnicas e artísticas, para instigar o processo de criação inventiva na
economia criativa; promover ações que contemplem a sustentabilidade; realizar
oficinas no contexto da temática do projeto que contemplem a proposição
estético-pedagógica; realizar exposição de artefatos contextualizando a cultura
material; promover visita técnica para ampliar o conhecimento e contextualizar a
temática do projeto; divulgar o projeto com publicações científicas.
O projeto busca se consolidar com a atenção estética, criativa e produtiva,
de modo a contemplar o desenvolvimento sustentável e a integração com os
arranjos produtivos locais, sociais e culturais destacando e divulgando as
contribuições da cultura alemã na constituição do povo brasileiro.
A cultura material tem potencial para geração de renda quando
contextualizada com a identidade de quem a produz. Temos observado produtos
que perderam as características que demarcam referências culturais, bem como
certa carência de qualidade técnica na execução. As referências identitárias
qualificam a produção e movimentam aspectos que são significativos para o
reconhecimento da cultura no Vale do Caí. Uma produção de artefatos artesanais,
no contexto da economia criativa, com diferencial e qualidade técnica, tem
potencial para a comercialização.
No âmbito das ações extensionistas, ainda destacamos o potencial
educativo que contribui para romper com a segmentação, instigando a
curiosidade, a criação, mostrando as correlações entre os saberes, a
complexidade da vida, as relações de afeto, problematizando o vivido num
universo compartilhado.

Ações e metodologia
No contexto metodológico deste estudo tido como qualitativo,
compreendemos a proposição e a participação como geradoras de conhecimento
ao movimentar as experimentações nas relações operadas com a arte e na
interação. (DIEHL, 2015) Na proposição, as ações convidam os participantes a
interagirem, a exercerem a criação, a atribuírem e ampliarem significados e
sentidos do vivido, nesse entre-lugar habitado pela arte, artesanato e design.
A proposta constitui-se um processo educativo no âmbito institucional
extensionista, estando para além de um lugar demarcado por fronteiras. Para
tanto, a proposição de uma educação estético-pedagógica é apresentada como
um processo que privilegia a experiência ampliada da percepção a partir da arte,
no contexto cultural onde atuam os participadores. Essa proposta estimula a
atitude criadora que, por sua vez, movimenta sentidos e significados produzidos
nos acontecimentos vividos. Desse modo, constitui-se um processo de ensino e
aprendizagem e (re)criam-se realidades culturais.
Para o desenvolvimento do projeto são adotadas algumas etapas, entre
elas, iniciamos com a pesquisa bibliográfica que busca aspectos da cultura alemã
e sua presença no RS, constituindo um referencial teórico que pode ser
aprimorado por meio de uma pesquisa mais ampla e com o apoio de museus e
historiadores. A realização de visita técnica também contribui para a construção
destes conhecimentos.
Para o planejamento e experimentação dos processos que abrangem as
ações com a comunidade, partimos de características culturais e artesanais dos
artefatos produzidos pela cultura material alemã, destacando-se a consciência
sustentável e os métodos de produção.
Dentre as técnicas estudadas, apresentamos o bauernmalerei, um estilo de
artesanato rústico alemão, cujas origens remontam ao século XVII. Esta técnica
de pintura caracteriza-se especialmente pelas pinceladas livres e espessas de
temas florais e animais, com traços de branco e fundo patinado sobre a madeira e
metal. Bauernmalerei (bauer = fazenda, malerei = pintura) teve sua origem entre
os alpes bávaro e austríaco e o Appenzell suíço. É frequentemente chamado de
Pintura Alemã ou Pintura Bávara.
Conhecido mundialmente, o Bauernmalerei é dividido em vários estilos,
como o Tolzr, o Rossler, o Wismut e o Franconian, distinguidos uns dos outros
por características como traços, cores e riscos específicos. A pintura é feita com
cores vibrantes e retratando principalmente flores, mas também frutas, pássaros,
paisagens e figuras humanas, usando-se pinceladas ensaiadas (formas de “C”,
“S” e vírgulas), feitas com pincéis redondos e cargas duplas ou carga cheia.
Supõe-se que a técnica era inicialmente empregada para aprimorar o
ambiente das casas, a partir do reaproveitamento artesanal de objetos metálicos
ou de madeira, durante os longos períodos de guerra, na Europa, até o século
XX. Este reaproveitamento, num período de recessão, desencadeia a consciência
de sustentabilidade gerado pela necessidade de reaproveitar os materiais
disponíveis, que podemos observar como característica da população de origem
alemã.
Nos dias de hoje, esta técnica é bastante difundida em todo o mundo pela
aura campestre e romântica. A pintura retrata flores como rosas, tulipas, miosótis,
flores-do-campo, margaridas e peônias, possui pinceladas únicas e fortes sendo
as cores mais utilizadas o verde, o azul, o ocre, o bordô, o marrom e o preto.
Peça produzida na técnica Bauernmarelei
Fonte: http://modosdeolhar.blogspot.com/2017/08/bauernmalerei.html
Estabelecemos os contatos para a realização de oficinas com a
comunidade, cujas temáticas perpassam o aproveitamento dos resíduos de
produção, o reuso de materiais, processos têxteis, entre outros. As oficinas foram
realizadas na região, com duração aproximada de duas horas, conforme a
demanda.
Nas oficinas (também compreendida como um espaço de atelier), a
proposição estético-pedagógica acontece como um lugar de encontro, onde os
saberes se integram e somam-se às vivências pessoais e referências culturais, a
partir das proposições que instauram experimentações e movimentam processos
sensíveis, éticos, críticos, estéticos, cooperativos, criadores e inventivos na
produção de saberes.
A abordagem do projeto nas oficinas é facilitadora de um contexto para a
criação e investigação como forma de conhecimento. Caracteriza-se como um
lugar de liberdade, de fazeres, de ensino e de aprendizagem que acontece
compartilhado nas relações interculturais dos participantes.
A interação pedagógica acontece sem padrões organizacionais rígidos,
sem uma metodologia restritiva, mas com responsabilidade e comprometimento
educativo, quando há liberdade para o que pode produzir expressão criadora e
aprendizagens significativas.
Como resultado da ação, também realizamos exposições dos trabalhos
que foram sendo desenvolvidos ao longo do período abrangido pelo projeto.
O público participante do projeto de extensão contribui com a avaliação
sendo convidado a comentar sobre a relevância das atividades propostas, a partir
da observação direta dos processos e resultados. Os registros são feitos de forma
escrita, bem como fotográficos e depoimentos em vídeo. A avaliação pela equipe
de execução foi realizada a partir das percepções, observações e comentários
dos colaboradores e organizadores do projeto com base nas ações propostas e
desenvolvidas, bem como da compreensão da avaliação dos participantes, para
então, constituir o material de divulgação da ação.

Resultados e Discussão
Esta proposta contemplou ações que se propuseram a desenvolver os
quatro pilares da educação para o século XXI: saber conhecer, saber fazer, saber
ser e saber conviver (DELORS, 2013).
Na edição de 2017, houve a integração entre as áreas do conhecimento e
os aspectos da interdisciplinaridade e multidisciplinaridade foram observados,
especialmente, pela estudante bolsista, que contemplou conteúdos das aulas
regulares nos estudos e pesquisas do projeto, os quais contribuíram para seu
desempenho qualificado nas atividades do ensino. Além disso, tivemos a
possibilidade de desenvolver uma relação transdisciplinar com História,
Geografia, Filosofia e Arte.
Os alunos bolsistas, conheceram o conjunto de ações que envolveram a
proposta, o manuseio das matérias-primas e materiais, desenvolveu os
procedimentos técnicos de cada etapa e demais demandas do projeto e, assim,
estiveram capacitados para conduzir as oficinas.
Na perspectiva do ensino, o projeto ofereceu abordagens que
contemplaram as propostas curriculares constituídas para a educação em Arte,
com os alunos da educação básica, bem como da tecnológica.
As ações previstas objetivaram relações educativas e culturais com os
participantes das oficinas, que foram realizadas com os alunos dos primeiros
anos, do curso Técnico em Informática, e o segundo ano, do curso Técnico em
Química, integrados ao Ensino Médio. Também participaram os alunos do curso
Técnico em Meio Ambiente, do IFRS, além de outras ações que realizamos em
escolas da região e em Santa Catarina.
O desenvolvimento desta ação extensionista é indissociado, além das
relações com o ensino, fomenta a pesquisa sobre a educação em arte e a
problematização da atuação do educadorartista (DIEHL, 2015). Esta articulação
advém dos estudos da tese “Educadorartista: encontros da educação, artes
visuais e intercultura”, pela abordagem da proposta estético-pedagógica que está
embasando o desenvolvimento das oficinas.
Ainda no âmbito da pesquisa, mobiliza a ampliação do conhecimento sobre
o processo criativo, a produção poética do educadorartista, temáticas do projeto
de pesquisa, vinculado à linha Arte, educação e cultura, do CELinA (Coletivo de
Linguagens e Arte – CNPq).
Após a experimentação e pesquisa dos processos e materiais,
considerando a viabilidade e disponibilidade, foram definidos os procedimentos
metodológicos das oficinas. Na primeira delas, foi realizada a produção dos
troféus para a Sexta Mostra Técnica IFRS - Campus Feliz, com os alunos do
terceiro semestre do curso Técnico em Meio ambiente e dos bolsistas dos
projetos parceiros. Os troféus foram compostos por peças em vidro fundido e
colorido, resíduo reutilizado associado a uma base de madeira reaproveitada. Os
participantes conheceram o processo e desenvolveram com qualidade,
descobrindo modos de reuso dos materiais, de modo a contribuir para evitar o
desperdício das matérias-primas derivadas dos recursos naturais.
O reuso de vidro também foi apresentado na oficina que abordou a
produção de peças para montagem de acessórios de moda, na técnica do fusing,
com um grupo do programa Mulheres SIM, do Instituto Federal de Ciência e
Tecnologia de Santa Catarina (IFSC), na cidade de Criciúma. Outra oficina foi
realizada com processos de estamparia artesanal, com resíduo de tecidos e
tingimentos especiais, para criação de produtos têxteis.
A oficina “Resgatando os saberes e fazeres artesanais: cultura e
sustentabilidade”, realizada em três momentos, abordou aspectos da cultura
alemã e resultou em embalagens para presentes produzidas a partir de caixas
Tetrapack, com uso de tecidos residuais da indústria têxtil. Parte delas compôs
brindes para eventos da instituição.
Com os estudantes do IFRS Campus Feliz foi realizada a visita técnica, na
Kombi Loja, em Morro Reuter, RS. A proposta do espaço é a comercialização e
exposição de produtos criativos, que contemplem arte e design a partir de
resíduos da indústria da região e materiais reaproveitados.
A exposição da produção realizada e a divulgação dos resultados
promovem o compartilhamento de conhecimentos, sendo assim, o projeto foi
apresentado na 7ª Mostra de Ensino, Extensão e Pesquisa (MOEXP/ IFRS -
Campus Osório), na VI Mostra Técnica do IFRS - Campus Feliz e no II Salão de
Pesquisa, Extensão e Ensino do IFRS, na seção de indissociabilidade, onde
conquistou destaque de excelência.

Considerações Finais
O projeto atendeu suas prerrogativas construindo algumas reflexões sobre
a formação intercultural na região do Rio Caí, em especial as contribuições da
cultura alemã.
As ações problematizaram aspectos da arte, do artesanato e do design,
buscando instigar o processo de criação inventiva para o aproveitamento de
resíduos. Neste contexto foram oportunizadas vivências teóricas e práticas,
técnicas e artísticas que envolveram os participantes. As experiências construídas
e compartilhadas significativamente, demonstram a capacidade e qualidade dos
produtos e processos que podem ser desenvolvidos pelos participantes, de modo
a educar para a vida, nas relações compartilhadas.
Foram realizadas 11 ações, com quatrocentos e vinte participantes, num
total de 46 horas de atividades diretas com a comunidade. As atividades foram
realizadas dentro das condições materiais disponibilizadas, tendo como fator
facilitador o propósito do aproveitamento de resíduos de produção ou reuso de
materiais.
A atuação dos bolsistas, comprometidos responsáveis é relevante para o
desenvolvimento do projeto e para a formação pessoal e profissional resultante
desta experiência.
O projeto está em continuidade, submetido para a edição de 2019, para
ampliar a abrangência e a oferta das ações que se movimentam a partir das
demandas que promovem a interação da instituição com a comunidade.

Referências
BARCELOS, Valdo. Uma educação nos trópicos: contribuições para a
antropofagia cultural brasileira. Petrópolis: Vozes, 2013.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. A educação como cultura. Campinas: Mercado


Aberto, 2002.

BORGES, Adélia. Design+artesanato: o caminho brasileiro. São Paulo: Terceiro


Nome. 2011.

DELORS, Jacques (Coord.). Os quatro pilares da educação. In: Educação: um


tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez, 2003, p. 89-102.

DIEHL, V. (2015). Educadorartista: encontros da educação, artes visuais e


intercultura. Santa Maria: UFSM, 2015. Tese (Doutorado em Educação), Centro
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HILLEBRAND, Márcia. Cantos tradicionais: uma leitura da cultura germânica.


2006. 101 f. Dissertação (mestrado em Letras e Cultura Regional) – Universidade
de Caxias do Sul, Caxias do Sul, 2006.

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http://www.jornalvs.com.br/_conteudo/2014/07/noticias/regiao/66746-o-
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MENTLIK, Célia Szniter. As imigrações e seus reflexos na cultura: alguns fatos


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