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SETOR: EDU
TÍTULO: T E X T O S S O B R E EDUCAÇÃO E ENSINO
PREÇO UNITÁRIO: RS 10,47
NÚMERO DA F A T URA: 4767 —
NOTA D E E M P E N H O : 2004NE906576
F O N T E DO R E C U R S O : 0112000000
D A T A DO P A G A M E N T O : 9/11/2004
F O R N E C E D O R : ROSA DO POVO COMÉRCIO D E L I V R O S L I DA
2!
ir
Capa: Paulo Gaia
Editoração: Conexão Editorial
Fotolitos de Capa: SM Fotolito
Impressão e Acabamento: Provo Distribuidora e Gráfica
Introdução 9
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
1. Os textos 9
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
2. Os temas 11
3. Alguns temas polémicos 16
Marx, Karl, 1818-1883.
Textos sobre educação e ensino / Karl Marx
4. Marx e Engels como ponto de partida 19
c Friedrich Engels ; [tradução de Rubens Eduardo Frias]. Nota sobre a presente edição 21
-- 4 ed. -- São Paulo : Centauro, 2004. Sistema de ensino e divisão do trabalho 23
[^Educação, formação e trabalho 35
Título Original em francês: Critique deUèducation et
3. Ensino, ciência e ideologia 53
de L'enseignement
4. Educação, trabalho infantil e feminino 67
5. O Ensino e a educação da classe trabalhadora 89
1. Educação - Filosofia 2. Engels, Friedrich, Bibliografia 110
1820-1895 3. Ensino 4. Marx, Karl, 1818-1883
I. Engels, Friedrich ,1820-1895. II. Título
04-0863 CDD-370.1
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O ENSINO E A EDUCAÇÃO DA
C L A S S E TRABALHADORA
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de trabalhadores a este setor, pelo qual a baixa de salários é, de maneira e temporárias. Neste âmbito, somente uma coisa é praticada de forma
mais ou menos direta, geral. sistemática: a charlatania. O melhor centro cai depois de algum tempo
Naturalmente, não podemos parar aqui nos numerosos pe- em uma rotina mortal e o fim público se converte, cada vez mais, em *
quenos paliativos preconizados pelos mesmos burgueses. um pretexto graças ao qual os empregados justificam sua remuneração
(K. Marx, O Salário, anexo ao Trabalho Assalariado e Capital.) da forma mais cómoda possível. Esta se converteu em uma regra tão
geral que sequer os centros para a educação das crianças de classe mé-
(33) Depois de algumas voltas, sua carta de Biarritz chegou dia — a burguesia — são uma exceção. Neste terreno, foram assinala-
às minhas mãos em Londres, onde vivo há dez anos; apresso-me em dos exemplos notáveis nos últimos tempos.
enviar os dados que meus meios me permitem dispor. Lamento não poder colocar à sua disposição material novo:
Discuti a questão com meu amigo Marx e estamos de acordo infelizmente, não me foi possível acompanhar detalhadamente a evolu-
em que não existem melhores fontes documentais para o sistema inglês ção do ensino elementar nos últimos anos. Do contrário, teria muito
de centros profissionais que as relações oficiais que você possui. O gosto em enviar-lhe. Em tudo que possa promover o ensino popular e,
conteúdo da literatura não oficial restante tende quase que exclusiva- por ele mesmo, ainda que seja diretamente, a mudança em um país
mente a pintar com tons rosados o sistema, quando não é exigência da como a Rússia, que se encontra às portas de uma crise histórica, assim
pura charlatania. Esforçar-me-ei para encontrar entre as publicações do como a parte do movimento que dá provas de uma energia e capacidade
"School Boards" e do Ministério da Educação destes últimos anos o próximas ao sacrifício, em tudo isto participaremos da maneira mais
que seja suscetível de interessar-lhe e lho comunicarei tão logo me in- profunda.
dique para onde devo enviar minhas cartas ou pacotes em um prazo de (F. Engels, Carta a M. K. Gorbounova-Kabloukova, 22/7/1880.)
quinze dias ou no outono (pois vou deixar Londres por algum tempo).
Neste país, a educação técnica da juventude está ainda mais descuidada (34) Em resposta às medidas fiscais que tinham por finalida-
que na maior parte dos países do Continente e o que se faz é pura apa- de privar os pobres do acesso ao ensino superior e frente às medidas
rência. Sem dúvida, você já sabe que as escolas profissionalizantes não disciplinares que pretendiam submetê-los às decisões discricionais dos
se encontram no nível dos centros profissionais do Continente, sendo agentes de polícia, em 1861, os estudantes protestaram enérgica e una-
uma espécie de centros de reeducação onde as crianças abandonadas nimemente, primeiro em suas assembleias, depois na rua até alcança-
são enviadas, durante alguns anos, após o juízo de um tribunal. rem manifestações importantes. A Universidade de São Petersburgo foi
Em contrapartida, os esforços dos americanos nos interessam fechada durante algum tempo; os estudantes foram presos ou exilados.
mais. Os EEUU enviaram uma documentação muito rica sobre este Esta política do Governo conduziu os estudantes para as sociedades
tema à Exposição de Paris; este material deve estar guardado na Biblio-' secretas, cujos membros, em grande número, foram enviados à prisão,
teca Nacional da Rua Richelieu. Você encontrará os detalhes no catálo- ao exílio ou à Sibéria. Outras sociedades foram caixas de socorro para
go da Exposição desta Biblioteca. dar aos estudantes pobres meios para prosseguirem seus estudos. As
Por outro lado, esforço-me para encontrar o endereço de M . mais sérias haviam decidido não dar ao Governo nenhum pretexto para
Dacosta, de Paris, cujo filho tomou parte na Comuna de 1871; o pai suprimir estes pequenos círculos organizando sua caixa e sua gestão.
tomava parte na Comissão de ensino e é um apaixonado por estas ques- Estes pequenos círculos administrativos foram uma oportunidade para
tões. Sem dúvida, estaria disposto a nos ajudar. discutir simultaneamente questões políticas e sociais. As ideias socialis-
Inclusive, as escolas de promoção para operários adultos va- tas haviam penetrado de tal maneira na juventude escolar russa, com-
lem pouca coisa por aqui. Onde acontecem coisas boas se deve a cir- posta em sua maioria por filhos de camponeses e gente pobre, que ela
cunstâncias e personalidades particulares; trata-se de instituições locais sonhava já com sua aplicação prática e imediata. Este movimento se
generalizava progressivamente nas escolas, enviando à sociedade russa
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(n° 1646). "É suficiente o número de escolas? — Não" (n° 1647). "Se o (K. Marx, O 18 Brumário de Luiz Bonaparte, IV.)
Estado exigisse que toda criança frequentasse a escola, de onde surgiri- < (38) Assim como anteriormente o Sr. Dúhring pensava que se
am as escolas para todas elas? — Acredito que, à medida que exijam as podia substituir o modo de produção capitalista pelo modo social sem
circunstâncias, aparecerão as escolas". " A maioria das crianças e dos refundir a própria produção, também aqui se imagina ser possível ar-
trabalhadores adultos nas minas não sabe ler nem escrever" ( n 705 e
os
rancar a família burguesa moderna de toda a sua base económica sem
726). ao mesmo tempo modificar toda sua forma. Essa forma é para ele tão
(K. Marx, O Capital, I , 4, C. 13, "Maquinaria e a grande indústria", 9, imutável que chega a levá-la ao ponto de converter o antigo direito
"Legislação fabril, sua generalização na Inglaterra.) romano, embora sob uma forma aperfeiçoada, na lei eterna da família,
e só lhe permite imaginar uma família como herdeira, ou seja, como
(37) Não preciso entrar aqui na história de sua atividade le- unidade possidente. Neste aspecto, os utopistas ultrapassam de longe o
gislativa, que se resume, neste período, em duas leis: a lei restabelecen- Sr. Duhring. Para eles, a livre socialização dos homens e a transforma-
do o imposto sobre o vinho e a lei do ensino abolindo a irreligiosidade. ção do trabalho doméstico privado em indústria pública provoca imedi-
Se o consumo do vinho foi dificultado aos franceses, em compensação, atamente a socialização da educação da juventude e, portanto, uma
era-lhes servido em abundância o licor da eternidade. Se na lei do im- relação recíproca realmente livre dos membros da família. Além disso,
posto de vinho, a burguesia declarava inviolável o velho e odioso sis- Marx já demonstrou (O Capital, pág. 515 e seguintes) que graças ao
tema tributário francês, procurava através da lei do ensino assegurar às papel decisivo que atribui às mulheres e às crianças fora do círculo
massas o velho estado de espírito conformista. E espantoso ver os orle- doméstico nos processos de produção socialmente organizados, a gran-
anistas, os burgueses liberais, esses velhos apóstolos do volitairianismo de indústria não cria menos a nova base económica em que se edificará
e da filosofia eclética, confiarem a seus inimigos tradicionais, os jesuí- uma forma superior da família e das relações entre os sexos.
tas, a supervisão do espírito francês. Por mais que divergissem os orle- Qualquer visionário da reforma social — declara o Sr.
anistas e legitimistas a respeito dos pretendentes ao trono, Duhring — tem naturalmente pronta a pedagogia que corresponde a sua
compreendiam que para assegurar seu domínio unificado era necessário nova vida social.
unificar os meios da repressão de duas épocas, que os meios de subju- Julgado por esta frase, o Sr. Dúhring surge como um autênti-
gação da Monarquia de Julho tinham que ser complementados e refor- co monstro entre os visionários da reforma social. A escola do futuro
çados com os meios de subjugação da Restauração. merece-lhe pelo menos tanto interesse com os direitos do autor, o que já
Os camponeses, desapontados em todas as suas esperanças, não é nada mau. Tem pronto um plano de estudos para a escola e para a
esmagados mais do que nunca, de um lado pelo baixo nível dos preços universidade, não só relativamente a todo o futuro previsível, mas tam-
do grão e do outro pelo aumento dos impostos e das dívidas hipoteca» bém no tocante ao período de transição. Entretanto, limitemo-nos ao
rias, começam a agitar-se nos Departamentos. A resposta foi investida que a juventude de ambos os sexos deverá aprender na sociabilidade
contra os mestres-escolas, que foram submetidos ao clero, contra os definitiva em última análise.
prefeitos, que foram submetidos aos alcaides, e um sistema de espiona- A escola primária obrigatória oferecerá tudo o que em si
gem, ao qual todos estavam sujeitos. Em Paris e nas grandes cidades a mesmo e por princípio seja suscetível de ter algum atrativo para o Ho-
própria reação reflete o caráter da época e provoca mais do que repri- mem, sobretudo os fundamentos e os resultados principais de todas as
me. No campo, torna-se monótona, vulgar, mesquinha, cansativa e ve- ciências que digam respeito às concepções do Mundo e da vida. Ensi-
xatória — em suma, o gendarme. Compreende-se como três anos de nará, portanto, e acima de tudo, as matemáticas, de tal modo que se
regime de gendarme, consagrado pelo regime da Igreja, tinham que, percorra completamente o ciclo de todas as noções de princípio e de
forçosamente, enfraquecer a massa imatura. todos os meios desde a simples numeração e adição até ao cálculo
integral. Isso não significa, porém, que nessa escola se tenha de fazer
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realmente cálculo diferencial e integral. Pelo contrário. Ensinar-se-ão çoamento do Mundo. Oxalá não hesite em meter mãos à obra! A Co-
de preferência elementos absolutamente novos do conjunto das mate- muna económica só poderá conquistar o Mundo desde que marche ao
máticas, os quais conterão em embrião tanto as matemáticas elementa- passo de carga do alexandrino equilibrado com razão.
res correntes como as matemáticas superiores. Ora, não obstante, o Sr. Quanto à filosofia, não se atormentará por aí o embrionário
Duhring afirma que já tem diante dos olhos, esquematicamente e nas cidadão do futuro.
suas linhas gerais, o conteúdo dos manuais destinados a semelhante "As línguas mortas serão completamente postas à parte...
escola do futuro, infelizmente, não conseguiu descobrir até agora os Quanto às línguas estrangeiras vivas... subsistirão apenas como coisa
elementos do conjunto das matemáticas, e o que ele não pode fornecer meramente acessória".
só se deve esperar realmente das novas e aumentadas forças do novo Somente quando o comércio entre os povos abranger o mo-
estado da sociedade. Todavia, se provisoriamente as uvas das matemá- vimento das massas populares é que se tornará necessário colocar as
ticas do futuro ainda estão demasiado verdes, a astronomia, a mecânica línguas estrangeiras vivas ao alcance de todos, de uma maneira fácil,
e a física do futuro não apresentarão tantas dificuldades e fornecerão o conforme as necessidades. A formação linguística realmente educativa
núcleo de toda a educação, ao passo que a botânica e a zoologia, que a será proporcionada por uma espécie de gramática universal e sobretudo
despeito de todas as teorias conservarão as suas características predo- através da substância e da forma da língua materna.
minantemente descritivas, servirão de preferência de distração. O limitado horizonte nacional do Homem do nosso tempo é
Aqui têm o que se encontra escrito na Filosofia, pág. 417. ainda demasiado cosmopolita para o Sr. Duhring. Por isso, deseja abolir
Até agora, o Sr. Duhring não conhece outra botânica nem outra zoolo- também as duas alavancas que, pelo menos no mundo atual oferecem a
gia além das que são predominantemente descritivas. Toda a morfolo- oportunidade dos indivíduos se erguerem acima do limitado ponto de
gia orgânica, que compreende a anatomia comparada, a embriologia e a vista nacional: o conhecimento das línguas modernas que abre, pelo
paleontologia do mundo orgânico, é-lhe desconhecida, mesmo de no- menos aos homens e todos os povos que receberam a educação clássica,
me. Enquanto que, sem ele saber, surgem quase às dúzias, no domínio um amplo horizonte comum, e o conhecimento das línguas modernas,
da biologia, ciências absolutamente novas, o seu espírito pueril conti- necessário aos homens das diferentes nações para poderem se entende-
nua a procurar os elementos culturais eminentemente modernos do mo- rem entre si e informarem-se do que se passa fora das suas próprias
do de pensar próprio das ciências naturais na História Natural para fronteiras. Em compensação, meter-nos-ão conscienciosamente na ca-
Crianças, de Raff, e concede igualmente a todo o futuro previsível se- beça, a gramática da língua nacional. No entanto, a substância e a for-
melhante constituição do mundo orgânico. Entretanto, como é seu hábi- ma da língua materna só são acessíveis a quem segue desde a origem o
to, neste caso a química é completamente esquecida. seu desenvolvimento progressivo, e isso é impossível sem se ter em
Quanto ao aspecto estético do ensino, o Sr. Duhring conside- conta: 1. As próprias formas extintas dessa língua; 2. As línguas vivas e
ra que terá de se criar tudo de novo. A poesia do passado não vale nada. mortas aparentadas. Mas isso leva-nos ao campo em que nos é expres-
Uma vez proibida toda religião, as produções de caráter mitológico ou samente proibido entrar. Todavia, se o Sr. Duhring suprimir assim do
em geral religioso, frequentes nas obras dos poetas antigos, não pode- seu plano de estudos toda a gramática histórica moderna, apenas lhe
rão evidentemente ser toleradas na escola. Mesmo o misticismo poético, ficarão para o seu ensino linguístico regras técnicas da gramática do
tal como Goethe o tem, por exemplo, cultivado abundantemente, deverá antigo franconiano inteiramente corrigidas no estilo da antiga filologia
ser banido. Nesta ordem de ideias, parece-nos que o próprio Sr. Dú- clássica, com toda a sua casuística e arbitrariedade de vidas à falta de
hring terá que se decidir a fornecer-nos as obras-primas poéticas que bases históricas. A aversão à filologia no centro da formação linguísti-
correspondam às exigências superiores de uma imaginação equilibra- ca realmente educativa. Vê-se perfeitamente que estamos a braços com
da com a razão e representem o autêntico ideal que significa o aperfei- um filólogo que nunca ouviu falar das investigações linguísticas histó-
ricas efetuadas com tanto entusiasmo e êxito desde há sessenta anos e
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que por conseguinte não procura os elementos de cultura eminentemen- ca a perderam. Decerto o Sr. Dúhring ouviu também vagamente dizer
te modernos da formação linguística em Bopp, Grimm e Diez, mas sim que na sociedade socialista o trabalho e a educação estarão interligados
em Heyse e Becker, de feliz memória. e que assim se assegurará uma cultura técnica múltipla, bem como uma
Com tudo isto, porém, o jovem cidadão do futuro ainda se base prática para a educação científica; daí o motivo por que, como de
encontrará longe de ser senhor de si mesmo. Para ter uma base mais costume, se apressou a colocar este ponto ao serviço da sociabilidade.
sólida precisará ainda de se apropriar dos últimos fundamentos filosófi- Mas como, tal como vimos, a antiga divisão do trabalho continua a
cos. Mas semelhante aprofundamento, não será de modo algum, uma subsistir tranquilamente no tocante ao essencial na produção do futuro à
tarefa de gigantes, depois que o Sr. Duhring lhe abrir o caminho. Com Dúhring, retira da formação técnica escolar toda a aplicação prática
efeito, se depurarmos de falsos floreados escolásticos as poucas noções futura, todo o significado no que se refere a produção e deixa-lhe ape-
rigorosas das quais o conhecimento esquemático do ser se pode gabar e nas uma finalidade meramente curricular, destina-se a substituir a gi-
decidirmos que apenas prevaleça em todas as circunstâncias a realidade nástica, da qual o nosso revolucionário radical não quer mais saber para
autenticada pelo Sr. Dúhring, a filosofia elementar tornar-se-á também nada. Por isso, só nos pode oferecer algumas frases, como por exemplo:
completamente acessível à juventude do futuro. "A juventude e a velhice trabalham no sentido exato do termo". Como
Se nos lembrarmos da forma extremamente simples como esta verborreia sem consistência nem conteúdo é lamentável comparada
demos aos conceitos de infinito e à sua crítica um alcance até aqui des- com a passagem de O Capital, páginas 508 a 515, onde Marx expõe a
conhecido, (não poderemos) deixar de ver por que motivo os elementos seguinte tese:
da concepção universal do espaço e do tempo — que adquiriram forma Basta consultar os livros de Roberto Owen para nos conven-
tão simples graças ao aprofundamento e ao requinte atuais — não pas- cermos de que o sistema de fabrico tem como primeiro objetivo fazer
sariam finalmente para a série dos conhecimentos preliminares... As germinar a educação do futuro, que relativamente a todas as crianças
ideias mais radicais (do Sr. Dúhring) têm o direito de desempenhar um acima de certa idade interligará o trabalho produtivo com a instrução
papel que não seja acessório no sistema de cultura universal da nova e a ginástica, não só como forma de aumentar a produção social,
sociedade. mas também como o único e exclusivo processo de formar homens
O estado da matéria idêntico a si mesmo e o inumerável nu- completos.
merado destinam-se, muito pelo contrário, não só a permitir que o Ho- (F. Engels, Anti-Duhring, I I I , cap. V, "Estado, família, educação".)
mem se sustenha nos próprios pés, mas também a levá-lo a descobrir
por si mesmo que tem debaixo dos pés o que se chama o Absoluto. (39) B. "O Partido Operário Alemão exige, como base espiri-
Como se vê, a escola pública do futuro não passa de um esta-' tual e moral do Estado:
belecimento de ensino prussiano aperfeiçoado, onde o grego e o latim' 1. Educação popular geral e igual a cargo do Estado. Assis-
são substituídos por mais um bocadinho de matemática puras e aplica- tência escolar obrigatória para todos. Instrução gratuita".
das e sobretudo pelos elementos da filosofia do real, e onde o ensino do Educação popular igual? Que se entende por isso? Acredita-
alemão remonta ao defunto de Becker, ou seja, pouco mais ou menos se que na sociedade atual (que é a de que se trata), a educação pode ser
ao nível da terceira classe. Na verdade, não podemos deixar de ver por igual para todas as classes? O que se exige é que também as classes
que motivo os conhecimentos do Sr. Duhring, de que acabamos de mos- altas sejam obrigadas pela força a conformar-se com a modesta educa-
trar o caráter extremamente escolar em todos os domínios a que se refe- ção dada pela escola pública, a única compatível com a situação eco-
riu — ou antes o que restaria deles depois de uma depuração radical nómica, não só do operário assalariado, mas também do camponês?
prévia —, não passariam no fim de contas, todos sem exceção, à cate- "Assistência escolar obrigatória para todos. Instrução gratui-
goria de conhecimentos preliminares, tanto mais que na realidade nun- ta". A primeira já existe, inclusive na Alemanha; a segunda na Suíça e
nos Estados Unidos, no que se refere às escolas públicas. O fato é que
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Governo Central e, como os funcionários de todos os corpos da Admi- (41) A democracia não teria nenhuma utilidade para o prole-
nistração, serem nomeados e destituídos sempre pela Comuna; todos os tariado se não servisse de maneira imediata para realizar algumas me-
funcionários, de maneira igual aos membros da Comuna, devem reali- didas que atacam diretamente a propriedade privada e asseguram a
zar seu trabalho com salários de operários. Da mesma forma, os juízes existência do proletariado. As principais medidas, que são deduzidas
devem ser eleitos, destituídos e responsáveis. Em todas as questões da como resultados necessários das condições sociais existentes, são:
vida social, a iniciativa há de partir da Comuna. Em uma palavra, todas
as funções públicas, inclusive as mais estranhas propostas pelo Gover- 4 - Organização do trabalho ou emprego dos proletários nos
no Central, devem ser assumidas por agentes da Comuna, e colocados domínios, fábricas e oficinas nacionais, graças ao qual se poderá elimi-
consequentemente sob seu controle. nar a competência entre os trabalhadores; enquanto existam, os patrões
É absurdo afirmar que as funções centrais — não só as fun- das fábricas deverão abonar um salário tão elevado como o do Estado.
ções do governo do povo, mas também as necessárias para satisfazer os 5 - Obrigação de trabalhar para todos os membros da socie-
desejos gerais e ordinários do país — não devem estar asseguradas. dade até que desapareça a propriedade privada. Formação de exércitos
Estas funções teriam subsistido, porém os próprios funcionários não industriais, em particular na agricultura.
podiam — como no velho aparato governamental — colocarem-se aci- 6 - Educação de todas as crianças, a partir do momento em
ma da sociedade real, porque estas funções deviam estar asseguradas que possam desligar-se dos primeiros cuidados maternos, nas institui-
por agentes da Comuna e serem executadas, portanto, sob seu efetivo e ções nacionais e a cargo da nação. Educação e trabalho produtivo anda-
constante controle. rão lado a lado.
A função pública deve deixar de ser uma propriedade privada
concedida pelo Governo Central a seus auxiliares. O exército perma- Naturalmente, todas estas medidas não podem ser realizadas
nente e a polícia do Estado, instrumentos físicos da opressão, devem ser de um só golpe. No entanto, umas nos levam a outras. Uma vez que se
eliminados. Expropriando todas as igrejas na medida em que sejam tenha realizado o primeiro ataque às raízes da propriedade privada, o
proprietários, eliminando o ensino religioso de todas as escolas públicas proletariado se verá obrigado a ir cada vez mais longe, concentrar todo
e introduzindo simultaneamente a gratuidade do ensino, enviando todos o capital, toda a agricultura, a indústria, os transportes, todas as mudan-
os sacerdotes ao sereno retiro da vida privada para viver da esmola dos ças nas mãos do Estado. E para isto que tendem todas as medidas ante-
fiéis, liberando todos os centros escolares da tutela e da tirania do Go- riores. Serão realizáveis e desenvolverão seus efeitos centralizadores na
verno, a força ideológica da repressão deve se romper: a ciência não só medida exata em que o trabalho do proletariado multiplique as forças
tornar-se-á acessível para todos como também livrar-se-á da pressãa produtivas do país. Finalmente, quando todo o capital, toda a produção
governamental e dos prejuízos de classe. e todas as mudanças estejam concentradas nas mãos da nação, a
Os instrumentos da opressão governamental e da dominação propriedade privada desaparecerá, o dinheiro será supérfluo, a
sobre a sociedade se fragmentarão graças à eliminação dos órgãos pu- produção terá aumentado e os seres humanos terão se transformado a
ramente repressivos, e ali, onde o poder tem funções legítimas a cum- tal ponto que as últimas relações de distribuição da velha sociedade
prir, estas não serão cumpridas por um organismo situado acima da também desaparecerão.
sociedade, mas por todos os agentes responsáveis desta mesma
sociedade. Questão 20: Quais serão as consequências da eliminação de-
(K. Marx, "A Guerra Civil na França", Werke, 17.) finitiva da propriedade privada?
Respostas: Depois de haver retirado das mãos dos capitalistas
privados a utilização de todas as forças produtivas e os meios de circu-
lação, assim como a troca e a distribuição dos produtos, a sociedade os
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O Congresso da AIT colocou a questão se o ensino deve ser O cidadão Marx diz que todo mundo está de acordo em al-
estatal ou privado. Por ensino estatal entende-se aquele que está sob o guns pontos determinados.
controle do Estado. No entanto, a intervenção do Estado não é absolu- A discussão avançou após a proposta de ratificar a resolução
tamente indispensável. Em Massachusets, cada municipalidade está do Congresso de Genebra, que exige a combinação do trabalho intelec-
obrigada a assegurar o ensino elementar para todas as crianças. Nos tual com o físico, os exercícios físicos com a formação politécnica.
centros urbanos com mais de 5.000 habitantes, deve haver escolas mé- Ninguém se opôs a este projeto.
dias para a formação politécnica; em todos os núcleos urbanos maiores, A formação politécnica, que foi defendida pelos escritores
escolas superiores. O Estado contribui para seu financiamento, porém proletários, deve compensar os inconvenientes que se derivam da divi-
de maneira muito modesta. Em Massachusets, a oitava parte dos impos- são do trabalho, que impede o alcance do conhecimento profundo de
tos locais são destinados ao ensino; em Nova York, a quinta. Os comi- seu ofício aos seus aprendizes. Neste ponto, partiu-se sempre do que a
tés de escola que dirigem os centros são organismos locais; nomeiam os burguesia entende por formação politécnica, o que produziu interpreta-
professores e selecionam os livros escolares. A debilidade do sistema ções erróneas. No que diz respeito à proposta da Sr . Law sobre o pa-
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americano reside em seu marcante caráter local; o ensino encontra-se trimônio da Igreja, seria desejável, do ponto de vista político, que o
estritamente ligado ao desenvolvimento cultural de cada região. Daí a Congresso fizesse sua esta proposta*.
necessidade de reivindicar um controle central. A fiscalização em pro- A proposta do cidadão Milner não se presta a uma discussão
veito das escolas é obrigatória, porém não existe obrigação escolar para sobre a questão escolar. Os jovens receberão esta educação dos adultos
as crianças. Sendo imposta a propriedade, aqueles que pagam os impos- na luta cotidiana pela vida**. O orador não aceita Warren como palavra
tos desejam que o dinheiro seja aproveitado ao máximo. do evangelho. E um tema que só muito dificilmente conseguirá unani-
O ensino pode ser estatal sem que esteja sob o controle do midade. Pode-se acrescentar que essa formação não pode ser transmiti-
governo. O governo pode nomear inspetores, cujo dever consistirá em da pela escola; interessa muito mais aos adultos.
vigiar para que a lei seja respeitada, sem que tenham o direito de intro- Nas escolas elementares — e, mais ainda, nas superiores —
meter-se diretamente no ensino. Seria algo semelhante aos inspetores não faz falta autorizar disciplinas que admitem uma interpretação de
de fábrica, que vigiam para que as leis da fábrica sejam respeitadas. partido ou de classe. Nas escolas só se deve ensinar gramática, ciências
Sem a menor dúvida, o Congresso pode decidir que o ensino naturais... As regras gramaticais não mudam, seja um conservador cle-
seja obrigatório. No que diz respeito ao fato de que as crianças não rical ou um livre pensador que as ensine. As matérias que admitem
serão obrigadas a trabalhar, seguramente isto não acarretaria uma redu- conclusões diversas não devem ser ensinadas nas escolas; os adultos
ção do salário, e todo mundo o colocaria em prática. podem ocupar-se dela sob a direção de professores que, como a senhora
Os proudhonianos afirmam que o ensino gratuito é um absur-, Law, façam conferências sobre religião.
do, posto que o Estado deve pagar. E evidente que um ou outro terá de (K. Marx, Exposição nas Seções dos Dias 10 e 17 de Agosto de 1869
pagar, porém não é necessário que sejam os que menos podem fazê-lo. no Conselho Geral da AIT.)
O ensino superior não deve ser gratuito.
No que se refere ao sistema de ensino prussiano, sobre o qual
tanto se tem falado, o orador observa que se persegue um só fim: for-
mam bons soldados.
A proposta de Harriet Law solicitava que o patrimônio da Igreja fosse utilizado para o
ensino geral.
A proposta de Milner solicitava o ensino da economia política nas escolas.
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