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Excelentíssimo Juiz de direito da _ª Vara Cível de Competência Residual da

Comarca de Campo Grande/MS.

X CONSULTORIA E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS ELETRICOS LTDA – EPP LTDA, pessoa


jurídica de direito privado inscrita no CNPJ n. 123, domiciliada nesta Capital de Campo
Grande –MS, com endereço na Rua Jú lio Verne, n. 123, Vila Doutor Albuquerque, CEP 123,
endereço eletrô nico: 123@operacional.com.br, representada neste ato por sua Gerente
Administrativa e Financeira, vem por seu procurador judicial que a esta subscreve, à douta
presença de Vossa Excelência propor:

Ação pelo Procedimento Comum

Em desfavor de BANCO A S.A, instituiçã o financeira de direito privado, com filial na


Avenida Eduardo Elias Zahran, n. 123, Vila Antonio Vendas, CEP 79050-000, inscrita no
CPNJ sob o n. 123, endereço eletrô nico desconhecido, pelos fatos e fundamentos que passa
a expor a seguir:
1. Dos fatos
A requerente mantém na instituiçã o financeira ora ré, a conta corrente 123 na agencia 123.
Ocorre que no dia 18.08.2017 a gerente administrativa e financeira da requerente, Sr.
fulana , recebeu ligaçã o do Banco A solicitando atualizaçã o de dados bancá rios da autora
(pessoa jurídica) no site da instituiçã o financeira, e assim procedeu.
Ressalte-se que em nenhum momento a gerente autorizou, agendou, confirmou ou emitiu
ordem de pagamento em TED (Transferência Eletrô nica Disponível) ou DOC (Documento
de Ordem de Crédito), seja pessoalmente ou por intermédio de internet banking, apenas
atualizou os dados conforme solicitado.
Acontece que no dia 25.08.2017, ao voltar a consultar a conta bancá ria da PJ autora, a
gerente notou que foram realizadas 28 transaçõ es do tipo TED nã o solicitadas pela gerente
ou por qualquer outro gerente ou funcioná rio da empresa autora no dia 18.08.2017, e
foram transferidos valores da referida conta corrente até o saldo negativo (prejuízo
efetivo) de R$ 20.556,00 (vinte mil quinhentos e cinquenta e seis reais), conforme
estampado no extrato bancá rio mensal anexo.
Para tentar resolver o ocorrido extrajudicialmente, a autora logrou em comunicar o banco
via e-mail, a fim de evitar bater as portas do judiciá rio, no entanto sem êxito, a ú nica
resposta da instituiçã o financeira foi no sentido de procurar “central de atendimento”.
A expertise em tentar jogar a culpa no consumidor de todas as instituiçõ es financeiras que
atuam em solo pá trio é notó ria, preferem sempre resolver todas as situaçõ es em juízo.
Entã o, o primeiro passo foi registrar Boletim de Ocorrência noticiando o fato à s
autoridades competentes, o que foi feito na Delegacia de Pronto Atendimento Comunitá rio
de Campo Grande – DEPAC, que recebeu o n. de protocolo 123, conforme se vê do
documento anexo.
Nã o diferente, em 31.08.2017 foi protocolado junto à instituiçã o financeira a notificaçã o
anexa, solicitando alguma resposta em relaçã o ao ocorrido, no entanto, até a presente data,
nenhuma soluçã o efetiva foi proposta pelo banco.
Deste modo, a requerente cansou de esperar uma soluçã o administrativa ao caso, nã o lhe
restando outra alternativa, senã o, bater à s portas do judiciá rio para receber o que lhe é
devido pela instituiçã o financeira requerida.
2. Do Direito
2.1 Da aplicabilidade do CDC
Como dito alhures, a presente açã o está fundamentada - dentre outros dispositivos legais
aplicá veis à espécie - nas normas do Có digo de Defesa do Consumidor (Lei n.º 8.078/90),
todavia, nunca é demais esclarecer quais os princípios norteadores desse sistema legal.
Na maior parte das vezes, tanto as empresas como as pessoas físicas clientes das
instituiçõ es financeiras estarã o enquadradas na extensã o conceitual de consumidor
prevista pelo artigo 29 do Có digo de Defesa do Consumidor, diante da proteçã o contratual
conferida ao consumidor que firma contrato com a instituiçã o.
Ainda, segundo o preceituado pelo artigo 17 do Có digo do Consumidor, equiparam-se aos
consumidores todas as vítimas de evento decorrente de fato do produto ou serviço. Assim,
resta demonstrada a existência de relaçã o de consumo entre a requerente (pessoa jurídica)
e instituiçã o financeira (Ré), devendo ser conferida à quela a proteçã o outorgada pelo CDC.
Desta forma, em se tratando de relaçã o bancá ria de consumo ou relaçã o jurídica
equiparada a consumo, qualquer pessoa (física ou jurídica) exposta à s prá ticas elencadas
pelo CDC (artigos 30 a 54), será considerada consumidora, possuindo todas as benesses
trazidas pelo CDC na defesa e promoçã o dos seus direitos.
Claramente dispõ e o pará grafo segundo, do artigo 3º, do CDC, que na conceituaçã o de
serviço, para a tutela da Lei n.º 8.078/90, entende-se por serviço: "inclusive a atividade de
natureza bancária, financeira, de crédito e securitária".
Por outro lado, conforme já argumentado anteriormente, do ponto de vista da conceituaçã o
de consumidores, nã o resta qualquer dú vida que a Lei n.º 8.078/90 é perfeitamente
aplicá vel à s instituiçõ es financeiras.
Aliá s nesse sentido decidiu recentemente o Superior Tribunal de Justiça, editando a sú mula
297, que afasta qualquer dú vida quanto a aplicaçã o do CDC à s instituiçõ es financeiras,
vejamos: “o Código de Defesa do Consumidor é aplicável às Instituições Financeiras.”
Assim, conclui-se que entre as partes (autora cliente e instituiçã o financeira ré), existe
relaçã o de consumo, razã o pela qual devem incidir sobre a questã o, as normas de proteçã o
e defesa do Consumidor.
2.2 Da inversão do ônus da prova
Feitos os esclarecimentos acima, visto a aplicabilidade das Normas do Có digo de Defesa do
Consumidor ao presente caso, de toda sorte inclui-se também a aplicaçã o do art. 6º, VIII, do
CDC, que dispõ e:
"Art. 6.º São direitos básicos do consumidor: VIII - A facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão
do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for VEROSSÍMIL a alegação OU quando
for ele HIPOSSUFICIENTE, segundo as regras ordinárias de experiências."

Aqui é ló gico que nã o se esta falando em hipossuficiência no sentido financeiro, mas sim no
sentido de produçã o de provas, em relaçã o aos softwares, hardwares e demais
terminologias de segurança que toda instituiçã o financeira vincula à prestaçã o final de seus
serviços, e, coloca à disposiçã o no mercado, possuindo ainda o prestígio e a aparência de
confiabilidade em relaçã o ao consumidor.
No caso apresentado, é latente a hipossuficiência intelectual, tecnoló gica da autora.
É certo que a requerida é quem detém todas as provas e os meios possíveis para
demonstrar que nã o houve qualquer falha de sua parte no evento noticiado, assim, é seu
dever provar os fatos modificativos, extintivos e impeditivos do direito da autora, ou seja, é
dever da ré provar que nã o agiu com culpa no evento, ou incorreu em omissã o, tento em
vista a atividade-fim prestada.
Com relaçã o ao cará ter de verossimilhança este está ainda mais latente. Basta atentar para
os fatos acima narrados e aos contornos envolvendo o extrato e o prejuízo deixado na conta
corrente da autora da autora que inclusive, pode vir a prejudicar sua atividade profissional
em seu ramo específico. As alegaçõ es sã o concisas e coerentes com o evento danoso.
Diante desses fatos é certo que a autora deve estar protegida quanto ao ô nus da prova,
requerendo sua inversã o desde já . Nã o é outro o entendimento do STJ, que em caso
parecido ao que ora se apresenta já se pronunciou:
“Direito processual civil. Ação de indenização. Saques sucessivos em conta corrente. Negativa de autoria do
correntista. Inversão do ônus da prova. - É plenamente viável a inversão do ônus da prova (art. 333, II, do CPC) na
ocorrência de saques indevidos de contas-correntes, compelindo ao banco (réu da ação de indenização) o ônus
de provar os fatos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito do autor. - Incumbe ao Banco demonstrar,
por meios idôneos, a inexistência oi impossibilidade de fraude, tendo em vista a notoriedade do reconhecimento da
possibilidade de violação do sistema eletrônico de saque por meio de cartão bancário e/ou senha. - Se foi o cliente
que retirou o dinheiro, compete ao banco estar munido de instrumentos tecnológicos seguros para provar de forma
innegável tal ocorrência.” (Recurso Especial n. 727.843 – SP (2005/0031192-7, Relatora Ministra Nancy Andrighi,
Terceira Turma Cível).

E ainda, Maria Helena Diniz, na obra Curso de Direito Civil Brasileiro, 7º, volume, 19º,
Editora Saraiva, pá g. 361/362, reforça a tese de inversã o do ô nus no presente caso quando
assevera:
“Podemos afirmar, baseados na lição de Arnaldo Wald, que nas relações entre banco e seus clientes há forte
tendência de se reconhecer um regime próprio de responsabilidade civil do banqueiro fundada: a) na idéia de risco
profissional (RF, 89:714), ante a necessidade de se tratar o banqueiro de modo mais rígido e severo, apreciando-se
com maior rigor o seu comportamento e sua eventual culpa, não só por ter conhecimentos especializados ou
técnicos bem maiores do que os do cliente, que, geralmente, é um leigo, desconhecendo, portanto, os ‘mecanismos
bancários’, mas também pela circunstância de usar recursos financeiros alheios e pelo poder econômico do banco,
que lhe possibilita impor sua vontade a outrem...deveras o Supremo Tribunal Federal tem reconhecido que os
estabelecimentos bancários devem suportar os riscos profissionais inerentes à sua atividade; assim sendo, o
banqueiro responderá pelos prejuízos que causar, em razão do risco assumido profissionalmente (súmula 28), só
se isentando de tal responsabilidade se se provar culpa grave do cliente, força maior ou caso fortuito...”

Assim, alinhado a doutrina e jurisprudência dominante quanto ao tema invocado, desde já


requer aplicaçã o do ô nus da prova no presente caso, devendo a ré ser compelida de inicio a
provar os fatos modificativos, extintivos ou impeditivos do direito da autora, sob pena de
ser condenada ao pagamento da indenizaçã o pleiteada.
2.3 Da Responsabilidade objetiva
Destarte, todo aquele que concorre ou der causa para o evento danoso seja de forma
comissiva ou omissiva, responde pelos prejuízos suportados pela outra parte, que devem
ser mensurados pela conjugaçã o dos artigos 186 e 927 do có digo civil de 2002.
A corrente civilista da patrimonialidade visa embasar a reparaçã o dos danos fazendo com
que todo o complexo de bens do responsá vel responda para que o status quo ante do
prejudicado seja restaurado.
No presente caso, o autor intenta a condenaçã o da instituiçã o financeira para que esta sob o
manto a responsabilidade objetiva seja compelida a reparar o prejuízo que deu causa.
Isso porque, como cediço, a atividade-fim prestada pela instituiçã o é a administraçã o de
contas e ativos financeiros, tanto de PF e PJs, acontece que como já explanado na matéria
fá tica, foram feitas vá rias movimentaçõ es nã o autorizadas nas contas e investimentos do
requerente e isso deu azo ao saldo negativo e em um prejuízo efetivo de R$ 20.556,00
(vinte mil e quinhentos e cinquenta e seis reais).
A instituiçã o financeira deve reparar o requerente independente da aná lise da culpa,
porque a administraçã o de ativos financeiros de grande quantidade que podem muito bem
afetar o funcionamento de toda uma empresa organizada para produçã o de bens e serviços,
faz presumir que trata-se de atividade que requer segurança nos níveis mais elevados, seja
fisicamente ou digitalmente.
Posto isto, aclaremos outro ponto ligado a segurança e a prestaçã o de serviços, observe que
depois da revoluçã o digital, a maioria das transaçõ es financeiras passaram a ser
monitoradas e realizadas pela internet, ou através de internet banking, sistema este que é
oferecido exclusivamente pela instituiçã o financeira, e deve por via de regra, trespassar a
segurança e confiabilidade para seus cliente/consumidores, todavia, existindo falha capaz
gerar e macular a prestaçã o de serviço-fim causando prejuízo, estaremos diante de situaçã o
que autoriza o pleito com fundamento na lei civil e no có digo consumerista, que é o caso
dos autos.
A responsabilidade objetiva está evidenciada, a uma pelo dano comprovado pelo extrato
anexo, a duas pelo nexo de causalidade entre conduta e dano, em outras palavras: a parte
autora atualizou os dados cadastrais em site da instituiçã o financeira, sendo que isto
acarretou o acesso do banco à conta e causou o dano, aqui também está presente a açã o que
causou o prejuízo suportado, logo, deve a instituiçã o financeira responder objetivamente
devendo ser condenada a pagar ao autor, independente da aná lise de culpa ou dolo, pois
trata-se de atividade com alea ou risco que acarreta a imediata reparaçã o, sem a
necessidade de discutir culpa.
Portanto, neste tó pico pede que a Instituiçã o financeira seja condenada a pagar ao autor a
quantia efetiva do prejuízo que comissivamente sob a ó tica da responsabilidade objetiva,
levando em consideraçã o o ramo de atividade, pois como restará provado pela inversã o do
ô nus da prova, o autor nã o solicitou ou autorizou qualquer movimentaçã o bancá ria no dia
do evento danoso.
2.4 Da Possibilidade de PHISING
Por cautela, nã o entendendo Vossa Excelência a aplicabilidade de açã o comissiva da
instituiçã o financeira, ou advindo esta aos autos pleitear sua irresponsabilidade imputando
o dano e a açã o a terceiros, esta há de ser responsabilizada pela omissã o do dever de
cuidado que deveria empenhar na prestaçã o ou fornecimento de serviço-fim, uma vez que é
dever primeiro de qualquer instituiçã o financeira ao colocar no mercado serviço de
internet banking propiciar ambiente digital neutro, seguro e confiá vel na rede mundial de
computadores, para que seus clientes/consumidores possam usufruir dos serviços de
forma plena, o que nã o aconteceu.
Considerando o tamanho e poder econô mico que os bancos possuem em solo pá trio, é
plausível aceitar que estes tenham ou desenvolvam atividades de segurança para que estes
terceiros nã o alcancem o consumidor sujando o nome da pró pria instituiçã o, o que fere a
relaçã o contratual entre o banco e cliente.
O banco poderia muito bem ter ou subcontratar terceirizados especializados para
vigilâ ncia e prevençã o de possíveis ataques de phising.
O phising é assim conceituado:
A palavra phishing, uma corruptela do verbo inglês fishing (pescar, em português), é utilizada para designar alguns
tipos de condutas fraudulentas que são cometidas na rede. São muito comuns as mensagens eletrônicas (e-mails)
onde são feitas propagandas de pechinchas comerciais, são solicitadas renovações de cadastro, são feitos convites
para visitação a sites pornográficos, são ofertadas gratuitamente soluções técnicas para vírus, entre outras. Não
sabe a pessoa que recebe tais tipos de e-mail que as mensagens são falsas, enviadas por alguém disposto a aplicar
um golpe.

Inaplicá vel também a argumentatio de que o autor nã o deveria ter inserido os dados
cadastrais no site da instituiçã o financeira, isso porque enorme era o grau de confiança que
o autor tinha pelo banco, e mais, aqui voltamos à seara consumerista: a hipossuficiência
técnica que o consumidor tem diante da requerida.
Porquanto, nã o é razoá vel exigir que o consumidor possua o mesmo conhecimento de
tecnologia da informaçã o para identificar se o site é da instituiçã o financeira ou nã o,
ademais, frise-se, a gerente financeira somente acessou o referido site inserindo dados
cadastrais a pedido de ligaçã o que recebeu de funcioná rio se dizendo da instituiçã o
financeira.
Nã o diferente, sob este enfoque o banco é duplamente responsá vel, seja pela
responsabilidade objetiva regida pelo Có digo Civil, ou seja pela responsabilidade contratual
regida pelo CDC em artigo 14.
Como dito em linhas acima, estando a presente relaçã o amparada pelas normas do CDC,
eventuais defeitos dos serviços prestados pela instituiçã o financeira que venham a causar
prejuízos a seus consumidores (no caso a requerente), devem ser reparados pelo
fornecedor, independente da existência de culpa.
Nã o agiu zelosamente o banco requerido quando permitiu que seu sistema de segurança
fosse violado de tal forma ou acontecesse falha interna que causou açã o comissiva que
fizesse com que gerassem prejuízo de mais de 20 mil à parte autora, nã o se pode admitir.
Dessa forma nã o há como deixar de responsabilizar o banco pelo prejuízo.
Mais uma vez nos socorremos à festejada autora Maria Helena Diniz, na obra Curso de
Direito Civil Brasileiro, 7º, volume, 19º, Editora Saraiva, pá g. 359, discorre acerca da
responsabilidade civil das instituiçõ es bancá rias, vejamos alguns ensinamentos:
“Para poder atingir sua finalidade, o banco realiza, várias operações dinamizando o seu crédito, tornando-se ora
devedor da pessoa com quem transaciona, ora credor. Assim, se recolher capital, passará a ser devedor dos
clientes, realizando então operação passiva. Na operação passiva o banco ficará sendo, ao receber de seu cliente
numerário, pelo qual se responsabilizará, seu devedor, pois, embora adquira propriedade desse numerário, por
ser fungível, será obrigado a restituir outro do mesmo valor, qualidade e quantidade”

E segue, na pá g. 360:
“Todas essas operações bancárias poderão ser consideradas como contratos, por haver acordo entre as partes,
criando obrigações”. “O entendimento dos especialistas e dos Tribunais continua no sentido de reconhecer a
responsabilidade do banco, tanto por incidência de culpa quanto com base no risco profissional assumido pelo
estabelecimento bancário, e sua atividade altamente lucrativa” (pág. 365, obra citada).

Assim, resta que a doutrina e jurisprudência sã o uníssonas em afirmar a responsabilidade


da ré pela vigilâ ncia na qualidade dos serviços prestados, sendo seu dever indenizar a
autora pelo prejuízo monetá rio suportado.
Ademais, os estabelecimentos bancá rios precisam assumir a responsabilidade de seus atos
e nã o deixar, como sempre deixaram, as falhas por conta dos “lapsos de seus funcioná rios
ou de seus sistemas robó ticos”, pois jamais se perdoou idêntica falha por parte de seus
clientes. Dentro desta mesma temá tica, lecionou o magistrado paulista Sérgio Carlos
Covello:
“A tendência do direito na maioria dos povos cultos é apreciar com rigor a responsabilidade dos estabelecimentos
bancários por serem empresas especializadas na pretensão de serviços remunerados.” (in Responsabilidade Civil –
doutrina e Jurisprudência. Saraiva, 1998, 2ª edição,p. 265)

2.5 Do dano moral


Como cediço, para configuraçã o de dano moral tendo como sujeito passivo uma PJ é
necessá rio comprovar que houve afetaçã o na honra objetiva a ponto de abalar a imagem da
empresa perante seu ramo de atuaçã o no segmento que escolheu para atuar.
Disto isto, oportuno lembrar Excelência que a autora experimentou prejuízo efetivo de
mais de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), o que fez com que as obrigaçõ es contratuais perante
os credores ficassem abaladas, isso porque a Autora deixou usufruir de crédito para de
pagar eventuais contas, sendo que qualquer empresa que opere sem linha de crédito com
saldo positiva fica propensa à falir ou a se corromper diante da demanda do mercado.
É bem verdade que a imagem comercial, ética e correta de uma empresa se constró i pela
boca de seus credores, que entre si sempre mantém uma lista seleta de empresas com
quem oferecem serviços levando em consideraçã o à pontualidade no pagamento e na
margem de crédito efetivo que esta empresa possui no mercado, ocorre que com o prejuízo
esta confiabilidade e estabilidade fora tolhido da autora.
De igual modo, houve desequilíbrio econô mico-financeiro da empresa autora na relaçã o
contratual com a instituiçã o financeira, pois a falta de diligência e expertise da instituiçã o
financeira que detém os meios tecnoló gicos para prestar de internet banking, o que
acarretou a interferência direta no patrimô nio da empresa autora, o que nã o se admite.
Interferência esta que per si, é argumento mais que satisfató rio para configuraçã o de dano
moral, pois o prestador de serviço de internet banking nã o providenciou a neutralidade do
sistema de internet, de modo que, todas as tentativas de “phising” ou cyber-ataque, erros
ou falhas que a autora sequer sabe precisar, existissem.
Aliado ao exposto, sabe-se que a instituiçã o financeira detém os dados cadastrais da autora,
como nú mero de telefone pessoal e profissional do gerente-financeiro, endereço, nú mero
de conta e etc., indaga-se excelência, como é que terceiros teriam informaçã o tã o
privilegiada (em caso de phising)?
Apenas cabe a explicaçã o de falha nos sistemas de banco de dados da instituiçã o financeira
o que faz com que dados sigilosos de seus clientes fiquem vulnerá veis ao léu de terceiros,
mas que nã o eximem ou ilidem a culpa da instituiçã o financeira pelo prejuízo causado, pois
só fora causado pela inobservâ ncia no dever de cuidado em relaçã o aos sistemas de
proteçã o de banco de dados.
Doutro modo, se no decorrer da açã o restar demonstrado que inexistiu a tentativa de
“phising”, da mesma forma deve responder a instituiçã o financeira pelos danos matérias e
efetivos que causou à autora, além de danos morais.
A respeito:
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO QUINTA TURMA RECURSAL CÍVEL Recurso nº:0142435-
92.2011.8.19.0038 Recorrente:ANDREA CRISTINA OLIVEIRA SOUSA Recorrida: BANCO SANTANDER S/A VOTO
Relação de consumo. Desconto automático em conta corrente bancária referente à "recuperação de crédito em
atraso". Ausência de demonstração de autorização expressa do consumidor com relação ao desconto
impugnado. Irregularidade na forma da cobrança. Falha na prestação do serviço. Dano moral configurado. Rio
de Janeiro, 04 de outubro de 2012. Marcia de Andrade Pumar Juíza Relatora (TJ-RJ - RI: 01424359220118190038 RJ
0142435-92.2011.8.19.0038, Relator: MARCIA DE ANDRADE PUMAR, Quinta Turma Recursal, Data de Publicação:
30/11/2012 15:04).

Por todo o exposto, em correspondência ao dano moral tratado neste tó pico, pede para que
seja a instituiçã o financeira seja condenada a pagar a quantia de R$ 5.000,00 (cinco mil
reais) a título de danos morais, primeiro porque abalou de forma eficaz a imagem da
empresa fazendo com que esta nã o dispusesse de limite de crédito para eventuais gastos, e
segundo, pela quebra no dever de cuidado que todo prestador de serviço deve fornecer
quando coloca no mercado serviços sem a mínima segurança, e bem como por expor
mediante falha ou nã o os dados sigilosos da autora.
Dos Pedidos e suas especificações
Diante de todo o exposto requer:
A) A citaçã o da instituiçã o financeira via AR para comparecer a audiência de conciliaçã o a
ser designada, sendo que o autor já manifesta interesse, sob pena de lhe serem aplicados os
efeitos da revelia e julgamento antecipado do mérito da causa e serem reputados
verdadeiros a matéria de fato contida na inicia.
B) A inversã o do ô nus da prova em desfavor do réu por estar intimamente à questã o de
mérito da causa;
C) No mérito, requer ao final seja julgado totalmente procedente o pedido de condenaçã o
da presente açã o de reparaçã o de danos materiais, a fim de condenar a instituiçã o
financeira a pagar ao requerente o valor de R$ 20.556,00 (vinte mil e quinhentos e
cinquenta e seis reais) a título de reparaçã o, quantia que deverá ser corrigida a partir da
notificaçã o extrajudicial (31.08.2017) pelo IGP-M (FGV) e juros de mora de 1%;
D) Condene a instituiçã o financeira ao pagamento da quantia de R$ 5.000,00 (cinco mil)
reais a título de danos morais em favor da autora;
E) condenar o requerido ao pagamento de honorá rios advocatícios, custas e despesas
processuais decorrentes da sucumbência na ordem de 20%, nos termos do art. 85 do CPC.
F) Protesta provar o alegado, se necessá rio, por todos os tipos de provas admitidas em
direito, sem exceçã o de nenhuma espécie, especialmente pelo depoimento pessoal do
representante legal do requerido, oitiva de testemunhas, perícias e outras que se fizerem
necessá rias.
G) Requer que todas as publicaçõ es sejam feitas em nome do advogado Paulo Lellis, sob
pena de nulidade.
Dá -se o valor da causa de R$ 20.556,00.
Nestes Termos
Pede deferimento.
Campo Grande - MS, 12 de novembro de 2017.
PAULO LELLIS
OAB/MS 24.100

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