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Outros aspetos do realismo observáveis nesta obra são a análise psicológica e social, a
verossimilhança, a contemporaneidade, o pessimismo e por fim, o caráter reformador.
Eça de Queiroz inicia esta rúbrica fazendo um alerta ao leitor, por mais variado
que ele possa ser, de que lhe vai elucidar sobre a verdade. Principia com pessimismo
num tom que não inspira qualquer esperança no futuro com esta forte passagem: “O
país perdeu a inteligência e a consciência moral” (pag. 16) Segue-se uma forte crítica
ao Estado e a todos os que pertencem/dependem dele, que somos todos nós e de como
esta situação nos corrompe porque ao necessitar dele damos continuidade ás
contingências que o seu sistema corrupto exige. Descreve o sistema político e social da
altura como sendo de desigualdade de classes, onde o proletariado e o camponês
acumulam miséria na mesma proporção em que os políticos acumulam riquezas. Tece
uma crítica á Carta Inconstitucional que é tão respeitada como falível, tal como o são a
Realeza e a Religião onde os representantes destas instituições agem como funcionários
e não como defensores. O povo reza ignorante enquanto os jovens, a quem cabe a
mudança, arrastam a sua inércia.
O autor desmascara a imprensa que faz o oposto do que seria de esperar do seu papel
servindo como meio de distração corrupto abstraindo-se do seu papel informativo.
Apesar o autor reconhecer as maiores virtudes no sexo feminino, realça a mulher desta
época como um ser entregue a uma sociedade grutesca que lhe retira qualquer encanto e
lhe aniquila a possibilidade de transcendência.
O fosso entre as classes sociais é visível primeiramente pela escravidão a que é sujeita
Juliana a empregada do casal, e depois na excêntrica vida de Basílio que faz com a vida
do casal pareça absolutamente miserável.
Luísa, a esposa, é descrita como uma mulher absolutamente fútil e aborrecida que não
tem grandes preocupações na vida. Jorge, o marido, estava ausente em viagem e é neste
momento que chega a Lisboa Basílio, um primo de Luísa com quem ela havia tido um
romance na juventude. Luísa fica encantada com as histórias que Basílio lhe conta das
suas viagens. Basílio descreve de forma despojada e cínica as suas vivências, como o
relato que faz do seu encontro com o Papa referindo-se a ele como “um velhinho muito
asseado, já todo branquinho, vestido de branco, muito amável”(pag. 53).
Luísa e Basílio voltam a relacionar-se iniciando assim uma longa história de traição
para com Jorge que permanece alheio a tudo isto.
Luísa acaba por falecer de forma um pouco absurda e Basílio procura agora um novo
entretenimento.