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Universidade de Brasília - UNB

Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares - CEAM


Direitos Humanos e Cidadania - CEM 0097
Profa. Ma. Vannessa Carneiro/ Profa. Ma. Catherine Coutinho
Islla Gabriele Pinheiro - 170105750

KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras.
2019. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5727070/mod_resource/content/1/ideias-para-adiar-
o-fim-do-mundo-1-34.pdf. Acesso em: jan. 2022;

Krenak trás reflexões, através de sua experiência em sua luta pelos direitos e
reconhecimento dos povos tradicionais, com sabedoria aborda reflexões da história e a
formação da sociedade: “como é que, ao longo dos últimos 2 mil ou 3 mil anos, nós
construímos a ideia de humanidade? Será que ela não está na base de muitas das escolhas
erradas que fizemos, justificando o uso da violência?” (KRENAK, 2019, 7 p.).
O foco é entender a razão que entedemos a formação social baseada em um processo
violento que é considerado a “evolução” do ser social, trazendo aqueles que não tiveram
acesso ao esplendor do conhecimento e formação da Europa. As instituições foram
construídas baseadas nessa acepção de manter uma amostra e consumir boa parte do que é o
planeta, sem remorso de configurar e desmatar em prol do desenvolvimento deixando várias
pontas soltas e destruição.
Ailton Krenak ainda é bem assertivo ao questionar a razão pelo qual mantemos essa
estrutura que tantas vezes já se mostrou defasada e prejudicial e nada inlusiva, que respeita as
várias maneiras de se viver em sociedade. O autor cita o mito da sustetabilidade e como a
humanidade concebida vende essa ideia como mercadoria e não é uma prática de fato.
Desenvolvendo essa concepção o autor vai descrevendo com clareza e síntese como a
humanidade tem se desenhado, esquecendo de suas origens e deslocando para uma noção
totalmente deturpada de terra e de civilização, sendo os povos tradicionais, aqueles que lutam
para manter a essência dessa terra. Citando a Unesco aponta que:
“Todos nós sabemos que a cada ano ou a cada semestre uma dessas línguas
maternas, um desses idiomas originais de pequenos grupos que estão na periferia da
humanidade, é deletada. Sobram algumas, de preferência aquelas que interessam às
corporações para administrar a coisa toda, o desenvolvimento sustentável. O que é
feito de nossos rios, nossas florestas, nossas paisagens? Nós ficamos tão
perturbados com o desarranjo regional que vivemos, ficamos tão fora do sério com
a falta de perspectiva política, que não conseguimos nos erguer e respirar, ver o que
importa mesmo para as pessoas, os coletivos e as comunidades nas suas ecologias.”
(KRENAK, 2019, 12 p.).

Os indivíduos são moldados para serem consumidores e não cidadãos, tudo está em
volta de trabalhar para consumir e sobreviver e alimentar um sistema que vende algo a se
sustentar. Os povos tradicionais são tratados como “selvagens” que não sabem viver no que é
concebido como forma certa de sociedade.
Krenak menciona nesse sentido que esses povos são pessoas coletivas, “células que
conseguem transmitir através do tempo suas visões sobre o mundo”. Assim, cabe aos povos
originários proteger a si e resistir, já que a natureza está sendo assaltada de uma maneira tão
indefensável, ao menos ser capazes de manter suas subjetividades, visões, poéticas sobre a
existência. Aqui é mostrar que em todos os aspectos existem uma pluralidade que ser
diferente e se construiir diferente não é problemático, mas sobreviver a uma padronização
forçada e que não respeita as particularidades de cada estrutura.
Em seguimento Krenak aponta a problemática do reconhecimento da relação dos
povos com a terra onde se formaram e falta de respeito por parte do aparelho estatal:
Não sei se todos conhecem as terminologias referentes à relação dos povos
indígenas com os lugares onde vivem ou as atribuições que o Estado brasileiro tem
dado a esses territórios ao longo da nossa história. Desde os tempos coloniais, a
questão do que fazer com a parte da população que sobreviveu aos trágicos
primeiros encontros entre os dominadores europeus e os povos que viviam onde
hoje chamamos, de maneira muito reduzida, de terras indígenas, levou a uma
relação muito equivocada entre o Estado e essas comunidades. (KRENAK, 2019, 21
p.).

O atual dilema está em lutar pelos pouco espaço que lhes restaram para manter os
povos e sua vivência. Ao contrário do que é visto como fonte da economia, para os indígenas
a relação com a terra está ligada ao espaço de compartilhar a conexão com sua fonte de
alimento e cultura, mal interpretado pela sociedade que se considera civilizada.
A reflexão que é trazida nesta obra é enxergar o que se entende e o se conhece por
sociedade, onde está o erro de acreditar que a sustentabilidade está vinculada ao que grandes
corporações vendem para lucrar e não permitir que se mantenha os biomas brasileiros e os
territórios que os povos tradicionais vivem e cuidam do espaço, que parques ecológicos são a
solução para a costante destruição da natureza.

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