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1 FATORES DE MOTIVAÇÃO PARA A MELHORIA DA SEGURANÇA E SAÚDE NO

2 TRABALHO: A PERCEPÇÃO DOS DIRIGENTES SINDICAIS NO BRASIL1


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5 MOTIVATIONAL FACTORS FOR IMPROVING SAFETY AND HEALTH AT WORK: TOWARD
6 BRAZILIAN TRADING UNION DIRECTORS PERCEPTION
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9 Rogério Galvão da Silva*; FUNDACENTRO / Ministério do Trabalho; rogerio@fundacentro.gov.br.
10 Luis Fernando Salles Moraes; FUNDACENTRO / Ministério do Trabalho; luis.moraes@fundacentro.gov.br.
11 Dalton Tria Cusciano; FUNDACENTRO / Ministério do Trabalho; dalton.cusciano@fundacentro.gov.br.
12 José Damásio de Aquino; FUNDACENTRO / Ministério do Trabalho; damasioaquino@fundacentro.gov.br.
13 Mauro Maia Laruccia; FUNDACENTRO / Ministério do Trabalho; mauro.laruccia@fundacentro.gov.br.
14 Sérgio Antonio dos Santos; FUNDACENTRO – Ministério do Trabalho; sergio.santos@fundacentro.gov.br.
15 Alcides Barrichello; Universidade Presbiteriana Mackenzie; alcidesbarrichel@uol.com.br.
16 +55 (11) 98173.7725; Rua Capote Valente 710, 05409-002 São Paulo-SP, Brasil.
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18 Palavras-chave: Motivação; Saúde do Trabalhador; Segurança do Trabalho.
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20 Introdução e objetivos
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22 O empenho e a liderança dos membros da alta administração das organizações são elementos
23 críticos para a melhoria da Segurança e Saúde dos Trabalhadores (SST). Vários estudos sugerem
24 que o apoio contínuo e genuíno desses membros é a chave para um ambiente do trabalho seguro e
25 saudável, bem como é um fator determinante no cumprimento dos regulamentos pertinentes e na
26 implementação de práticas prevencionistas. (GUNNINGHAM, 1999)
27 Acrescenta-se que não só o comprometimento da alta administração é um fator importante, mas
28 também as diferentes perspectivas, visões e percepções durante o processo de tomada de
29 decisões. Tais membros e demais lideranças estão inseridos na cultura organizacional que, em
30 grande parte, reflete suas próprias crenças e valores, que impactam nas ações a nível tático e
31 operacionais, bem como nas estratégicas.
32 Esta pesquisa busca responder o seguinte questionamento: O que motiva os membros da alta
33 administração dos empreendimentos a se envolverem ativamente com a melhoria da segurança e
34 saúde no trabalho?. Entende-se como empreendimentos, de forma genérica, negócios, firmas,
35 empresas e instituições. O trabalho seminal utilizado como referência foi realizado pela escritório
36 australiano da consultoria KPMG (2001) e, dada a lacuna teórica sobre o tema no contexto

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Resumo de trabalho apresentado no IV Congreso de la Sociedad de Análisis de Riesgo Latinoamericana SRA-LA,
29 a 31/10/2018, na Cidade do México.
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37 brasileiro, uma pesquisa com a tropicalização e incremento de fatores está em andamento pelos
38 autores.
39 O público-alvo do estudo são os dirigentes sindicais dos trabalhadores no Brasil, uma vez que são
40 atores sociais frequentemente envolvidos em negociações relacionadas com a SST. Vale lembrar
41 que esta pesquisa ocorre durante uma alteração conjuntural dos sindicados nacionais ocasionada
42 pela reforma trabalhista de 2017 decorrente da Lei nº 13.467/2017, que pôs fim a contribuição
43 sindical obrigatória paga por todos os empregados registrados e empregadores, na razão de um
44 dia de trabalho.
45 Os objetivos da pesquisa são: a) Identificar os fatores que motivam os membros da alta
46 administração das organizações a se envolverem ativamente com a melhoria da segurança e saúde
47 dos trabalhadores, a partir de levantamento bibliográfico e práticas correntes; b) Avaliar o nível
48 de motivação dos principais fatores de motivação identificados realizando pesquisa de opinião
49 com os dirigentes sindicais no Brasil.
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51 Metodologia
52 Foi realizada uma revisão bibliográfica e da prática corrente para a identificação dos fatores que
53 motivam os membros da alta administração das organizações para a melhoria da SST. Foram
54 selecionados doze fatores principais, comumente mencionados em publicações nacionais e
55 internacionais, para serem avaliados junto aos dirigentes sindicais no Brasil (GUNNINGHAM,
56 1999; KPMG, 2001; SILVA E FISCHER, 2008). Os fatores selecionados foram: crenças pessoais
57 ou religiosas para o bem estar comum; obrigação moral para o cumprimento das leis e
58 regulamentos pertinentes; risco do empreendimento ser fiscalizado, multado ou interditado; risco
59 de sofrer ação de responsabilidade civil ou criminal em caso de acidente do trabalho; redução da
60 alíquota de contribuição obrigatória do seguro acidente do trabalho; risco de sofrer ação
61 regressiva acidentária de ressarcimento ajuizada pelo Instituto Nacional do Seguro Social;
62 existência de políticas ou diretrizes corporativas; evitar prejuízos imediatos com acidentes
63 (afastamentos, despesas médicas, paralisação da produção, avaria em equipamentos etc.);
64 possibilidade de ocorrer publicidade negativa em caso de acidente; pressão ou recomendação dos
65 trabalhadores e suas representações; recomendação ou expectativa dos acionistas e, por fim,
66 pressão de fornecedores ou clientes.
67 Após disponibilização de questionário eletrônico enviado aos principais sindicatos cadastrados no
68 banco de dados da FUNDACENTRO / Ministério do Trabalho, este estudo preliminar atingiu 62
69 dirigentes sindicais. A pesquisa ocorreu entre os meses de março e maio de 2018. A análise
70 estatística foi feita no software SPSS e o tamanho da amostra foi considerado adequado para este
71 estudo preliminar segundo critérios que definem que o número de observações deve ser, pelo
72 menos, cinco vezes maior que o número de variáveis analisadas (HAIR et al., 2009).
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74 Resultados e considerações finais
75 Este resumo é uma prévia de um estudo em andamento elaborado pelos autores na identificação e
76 avaliação de fatores motivacionais para SST. Resultados preliminares apontam que os
77 representantes sindicais analisados são originários de 18 estados brasileiros de um total de 26
78 estados e 1 distrito federal, predominância das regiões sudeste e sul (82%), onde se concentra a
79 maior parte das atividades econômicas do país. Aproximadamente 54% dos respondentes atuam
80 em sindicatos com até 1000 filiados, seguidos dos que atuam em sindicatos entre 1001 e 2500
81 filiados (21%). Com relação aos setores de atividades, mais da metade dos respondentes atuam
82 nos setores de atividades de serviços (25%) seguidos pela administração pública (12%), saúde
83 humana e serviços sociais (10%) e indústria de transformação (8%). Cerca de 77% dos
84 respondentes dos trabalhadores declararam já ter participado de negociações relacionadas com a
85 SST.
86 As médias dos fatores analisados, conforme gráfico 1, indicam que a alta administração dos
87 empreendimentos, segundo a percepção dos dirigentes sindicais, tem uma tendência maior a se
88 motivar com a melhoria da SST para evitar ações de responsabilidade (risco de sofrer ação de
89 responsabilidade civil ou criminal em caso de acidente do trabalho) ou fiscalizações (risco do
90 empreendimento ser fiscalizado, multado ou interditado).
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94 Gráfico 1. Fatores motivacionais para SST – Perspectiva dirigentes sindicais dos trabalhadores.
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96 É importante destacar que em questão aberta para indicação de outro(s) fator(es) de motivação da
97 alta administração para ações em SST, conforme a percepção dos representantes dos
98 trabalhadores, foram apontadas a recomendação e intervação do Ministério Público, a
99 conscientização e educação para ações de prevenção e o afastamento de funcionarios.
100 No tocante ao fator de maior intensidade, é importante lembrar que a ação de responsabilidade
101 civil ou criminal em caso de acidente do trabalho somente é concretizada quando se estabelece o
102 nexo causal entre a conduta do empregador e o resultado danoso. A responsabilidade do
103 empregador na esfera cível tem o condão de restabelecer o equilíbrio violado pelo dano, mediante
104 o pagamento de uma indenização. Já a responsabilidade na esfera criminal surge por força de
105 disposição legal contida no art. 132 do Código Penal, que tipifica o crime pelo fato de expor a
106 vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente.
107 O contexto social do trabalho pós-reforma trabalhista ainda se encontra em conformação
108 havendo indícios iniciais de que o equilibrio de forças que, até então regiam as relações
109 trabalhistas, será deslocado com supressão de parte da força sindical ante a redução da principal
110 fonte de custeio, o que poderá resultar em cláusulas complementares a legislação menos
111 protetivas ao trabalhador enaltecendo a importância de desvelar a motivação da alta
112 administração dos empreendimentos com a SST.
113 Embora vários estudos na temática de motivação para a melhoria da SST tenham sido realizados
114 em países centrais, observa-se ainda um amplo campo a ser explorado no contexto brasileiro,
115 cujos resultados poderiam agregar elementos para o alcance de políticas públicas mais eficientes,
116 eficazes e efetivas.
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118 Referências bibliográficas
119 Gunningham, N. (1999). CEO and supervisor drivers: review of literature and current practice.
120 Report prepared for the National Occupational Health and Safety Commission. Canberra
121 (Australia), NOHSC.
122 Hair, J. F. et al. (2001). Análise multivariada de dados. 6. ed. Porto Alegre, Bookman.
123 KPMG Consulting. (2001). Key management motivators in occupational health and safety.
124 Canberra (Australia), NOHSC1.
125 Silva, R. G., Fischer, F. M. (2008). Incentivos governamentais para promoção da segurança e
126 saúde no trabalho: em busca de alternativas e possibilidades. Saúde e Sociedade, v. 17, p. 11-21.

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