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O TRABALHO PSICOPEDAGÓGICO DENTRO DA CLÍNICA

Talita Alvarenga Alves


talitapsi.alves@gmail.com

Ivanessa Anastácia de Paula


iivanesaa@hotmail.com

RESUMO: O presente artigo trata-se de um estudo teórico a cerca do tema


Psicopedagogia Clínica. Para que exista uma melhor compreensão acerca do tema é
necessário contextualizar o que é pedagogia, psicologia escolar e psicopedagogia
quanto a seus históricos, objetivos e campos de atuação. Pode-se concluir que a
psicopedagogia é um campo de atuação que integra conhecimentos de diferentes
áreas. Enquanto área multidisciplinar interessa a psicopedagogia compreender como
ocorrem os processos de aprendizagem e as possíveis dificuldades situadas neste
movimento. O trabalho do psicólogo dentro da psicopedagogia clinica é de possibilitar
que seu cliente recupere a capacidade de aprender levando em consideração os
diferentes aspectos que constituem o sujeito, sendo eles social, emocional, familiar e
escolar. Quanto ao trabalho do Pedagogo, pode-se dizer que ele tem por objeto a
educação e seus processos de aquisição

PALAVRAS-CHAVE: Psicopedagogia, Psicologia Escolar, Pedagogia,


Psicopedagogia Clínica.

ABSTRACT: This article is from a theoretical study about the theme of Educational
Psychology Clinic. To have a better understanding of the subject is necessary to
contextualize what is pedagogy, educational psychology and educational psychology
as their backgrounds, goals and fields. It can be concluded that psychology is a playing
field that integrates knowledge from different fields. While multidisciplinary area of
interest to psychology to understand how learning processes occur and the possible
difficulties located in this movement. The psychologist in the psychology clinic is to
allow his client to recover the ability to learn, taking into consideration the different
aspects that constitute the subject, and they are social, emotional, family and school.
As for the work of the pedagogue, one can say that it's purpose is education and its
procurement processes

KEY WORDS: Educational Psychology, Educational Psychology, Pedagogy,


Educational Psychology Clinic.

Introdução

Para uma melhor compreensão da Psicopedagogia e seu campo de


atuação se faz necessário contextualizar a pedagogia e a psicologia escolar.
Sendo assim Bello (1941), cita que:
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[...] podemos começar definindo pedagogia como a ciência da


educação.
Como ciência tem a pedagogia o objeto formal próprio que está
contido na definição nominal que demos acima: a educação. Sendo
assim, todos os problemas que se refiram à educação constituem o
domínio da pedagogia. [...] A questão da finalidade, dos meios, do
objeto, dos agentes da educação etc., são problemas que ficam
necessariamente dentro da órbita da pedagogia.( p.15-16)

Diferentemente do trabalho do pedagogo, Khouri (1984) explica a


atuação do psicólogo escolar:
[...] o psicólogo estará na escola para ajudar a planejar, não
quaisquer programas educacionais, mas aqueles ligados ao seu
compromisso profissional, à descoberta individual do EU e do mundo,
relacionando esta descoberta á pessoas e á grupos. Ao nível da
realização prática, seu conhecimento científico e suas técnicas
específicas contribuirão para melhor caracterizar a população à qual a
escola atenderá; o conhecimento destas características psicológicas
será utilizado para evitar rotulações e discriminações
preconceituosas, terá o objetivo de fornecer subsídios à elaboração
de currículos, programas, métodos e materiais que atendam à
realidade, aos interesses e às necessidades dos vários grupos,
inclusive no que concerne às diferenças etárias e conseqüentes
estágios de desenvolvimento. (p.5)

A Associação Brasileira de Psicopedagogia caracteriza a Psicopedagogia


como um campo de atuação em Saúde e Educação que lida com o processo de
aprendizagem humana: seus padrões normais e patológicos considerando a
influência do meio - família, escola e sociedade - no seu desenvolvimento,
utilizando procedimentos próprios da Psicopedagogia.

Fernández (2001) diz que:

A psicopedagogia tem como propósito abrir espaços objetivos e


subjetivos de autoria de pensamento; fazer pensável a situações, que
não é fácil, já que o pensamento não é produção cognitiva, mas é um
entrelaçamento inteligência-desejo, dramatizado, representado,
mostrado e produzido em um corpo.(p.55).

O trabalho Psicopedagógico se realiza na interface da Psicologia e da


Pedagogia ou, mais recentemente, na interface da Psicanálise e da Pedagogia.
Neste último caso, busca entender e intervir no processo de ensino e
aprendizagem, levando em conta o inconsciente e a relação transferencial.

A partir das citações acima podemos entender a diferença entre os


campos de atuação do pedagogo, psicólogo escolar e psicopedagogo. As
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principais diferenças são em relação a sua formação acadêmica e atuação,


sendo a psicologia escolar uma especialização da graduação em Psicologia, a
psicopedagogia é uma especialização em nível de pós-graduação que recebe
graduados de diversos cursos e a pedagogia é um campo científico que tem por
objeto a educação e seus processos de aquisição.

Desta forma, o presente artigo buscará responder a seguinte questão: O


que é a Psicopedagogia e qual o papel do psicólogo na clínica psicopedagógica
e seu campo de atuação?

1.Psicopedagogia

1.1. O que é psicopedagogia: História, Campo, Objetivos.

1.1.1-História

A psicopedagogia é uma recente área de atuação profissional que vem


buscando uma identidade própria, ela engloba conhecimentos interdisciplinares
como sugere o próprio termo psicopedagogia surgindo na fronteira entre a
psicologia e a pedagogia procurando unir o conhecimento das duas áreas
Neves (apud BOSSA, 2000, p.18) enfatiza que “falar sobre psicopedagogia é,
necessariamente, falar sobre a articulação entre educação e psicologia,
articulação essa que desafiam estudiosos e práticos dessas duas áreas”.
Observamos que a psicopedagogia teve uma trajetória interessante, a
princípio teve um caráter médico-pedagógico, Mery (2000 apud SAMPAIO,
2005) cita que “os primeiros centros psicopedagógicos foram fundados na
Europa, em 1946, por J. Boutonier e George Mauco, com direção médica e
pedagógica. Estes centros uniam conhecimentos da área de psicologia,
psicanálise e Pedagogia, onde tentavam readaptar crianças com
comportamentos socialmente inadequados na escola ou no lar e atender
crianças com dificuldades de aprendizagem”.
A psicopedagoga Alicia Fernández (apud SAMPAIO, 2005) fala que, “a
Psicopedagogia surgiu na Argentina há mais de 30 anos e foi em Buenos Aires,
sua capital, a primeira cidade a oferecer o curso de Psicopedagogia”.
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De acordo com Bossa (2000, p.41 apud SAMPAIO, 2005),

Foi na década de 70 que surgiram, em Buenos Aires, os Centros de


Saúde Mental, onde equipes de psicopedagogos atuavam fazendo
diagnóstico e tratamento. Estes psicopedagogos perceberam um ano
após o tratamento que os pacientes resolveram seus problemas de
aprendizagem, mas desenvolveram distúrbios de personalidade como
deslocamento de sintoma. Resolveram então incluir o olhar e a escuta
clínica psicanalítica, perfil atual do psicopedagogo argentino.

A Psicopedagogia teve início no Brasil na década de 70, baseada nos


modelos médicos de atuação, e foi dentro desta concepção de problemas de
aprendizagem que se iniciaram cursos de formação de especialistas em
Psicopedagogia na Clínica Médico-Pedagógica de Porto Alegre, com a duração
de dois anos (BOSSA, 2000, p.52 apud SAMPAIO, 2005)
Jorge Visca é um dos maiores contribuintes da psicopedagogia no
Brasil. Visca (1991, p.66 apud SAMPAIO, 2005) “propõe um trabalho com a
aprendizagem utilizando-se da integração de três linhas da Psicologia: Escola
de Genebra – Psicogenética de Piaget (já que ninguém pode aprender além do
que sua estrutura cognitiva permite), Escola Psicanalítica – Freud (já que dois
sujeitos com iguais níveis cognitivos e distintos investimentos afetivos em
relação a um objeto aprenderão de forma diferente) e a Escola de Psicologia
Social de Enrique Pichon Rivière (pois se ocorresse uma paridade do cognitivo
e afetivo em dois sujeitos de distinta cultura, também suas aprendizagens em
relação a um mesmo objeto seriam diferentes, devido às influências que
sofreram por seus meios sócio-culturais)”.
A psicopedagogia vem crescendo muito como campo de atuação,
porém, no Brasil, ainda não esta legalizada como profissão, ela é considerada
como uma área de especialização profissional. Aqui no Brasil o psicopedagogo
é um profissional pós-graduado que agrega conhecimentos de diferentes áreas
a fim de intervir no processo da aprendizagem e das dificuldades advindas
deste processo.
Em países com o a Argentina e França o conhecimento desta área se
encontra mais desenvolvido e a psicopedagogia já esta legalizada como
profissão.
Existe em nosso pais a Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp)
, ela é responsável pela organização de eventos, pela publicação de temas
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relacionados a Psicopedagogia, cadastro dos profissionais e promove a


contínua revisão teórico-metodológica da área.

1.1.2-Campo de atuação do psicopedagogo

O psicopedagogo pode atuar na clínica clássica, instituições escolares,


hospitais e empresas.
Atualmente, a maior parte dos profissionais atuam em instituições
escolares. Sendo assim existe um grande acervo bibliográfico acerca desta
área de atuação, quanto às outras, ainda é necessário muito estudo e
pesquisa.
Acerca da atuação do psicopedagogo Bossa (2000) diz que:

Ao delimitar o campo de atuação do trabalho psicopedagógico, deve


- se, no entanto, diferenciar essas modalidades de atuação,
especificamente a suas tarefas. Desta forma o trabalho
psicopedagógico na área preventiva é de orientação no processo
ensino-aprendizagem, visando favorecer a apropriação do
conhecimento no ser humano, ao longo, da sua evolução. Esse
trabalho pode se dar na forma individual ou na grupal, na área da
saúde mental e da educação. (p.30).

Segundo a ABPp (2008) a atuação do psicopedagogo no âmbito


hospitalar envolve o trabalho com crianças hospitalizadas e seu processo de
aprendizagem, pode também estar trabalhando com a equipe multidisciplinar
dessa instituição, tais como psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros e
médicos. Pode trabalhar com educação continuada dentro do hospital
auxiliando indivíduos que, por problemas de saúde, ficam internados em
hospitais e afastados das redes de ensino, mantendo-os informados sobre o
conteúdo das aulas e dando-lhes apoio para que permaneçam em contato com
a escola e com os professores.
No campo empresarial, o psicopedagogo poderá estar contribuindo com
a melhoria da qualidade das relações inter e intrapessoais das pessoas que
trabalham na empresa.
Quanto a trabalho do psicopedagogo dentro da instituição escolar a
ABPp (2008) cita que:
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Ele atua no campo clínico-preventivo porque ele está sempre


interferindo no processo de ensino e aprendizagem. Ele pode atuar
com formação continuada de professores, de reflexão sobre
currículos e programas junto com a coordenação pedagógica,
atuando junto com famílias e comunidade e com alunos que possuem
dificuldades de aprendizagem detectando “fraturas” neste processo.
Caso o aluno precise desta orientação mais específica ele deverá
encaminhá-lo para um trabalho individual (clínico), mas depois de
verificar se o aluno tem ou não um comprometimento cognitivo ou se
é apenas defasagem de conteúdo escolar.

A atuação do psicopedagogo dentro da clínica tem a função de


identificar e intervir nas dificuldades de aprendizagem, como Bossa (2000,
p.67) explica que “o atendimento psicopedagógico clinico investiga e intervem
para que se compreenda o significado, a causa e a modalidade de
aprendizagem do sujeito, com o intuito de sanar suas dificuldades”.

1.1.3-Objetivos

O objetivo da psicopedagogia é estudar o processo de aprendizagem do


ser humano e as variáveis que influenciam este processo como: escola, família,
desenvolvimento orgânico e meio social em que o indivíduo esta inserido.
Vindo afirmar isso, Bossa (2000, p.67) diz que “a marca diferencial entre o
psicopedagogo e outros profissionais é que seu foco é o vetor da
aprendizagem, assim como o neurologista prioriza o aspecto orgânico; o
psicólogo, a psique; o pedagogo, o conteúdo escolar”.
Segundo a mesma autora,

O objetivo central de estudo da psicopedagogia está se estruturando


em torno do processo de aprendizagem humana: seus padrões
evolutivos normais e patológicos - bem como a influencia do meio
(família, escola, sociedade) no seu desenvolvimento. A
psicopedagogia estuda o ato de aprender e ensinar, levando sempre
em conta as realidades internas e externas da aprendizagem,
tomadas em conjunto. E mais, procurando estudar a construção do
conhecimento em toda a sua complexidade, procurando colocar em
pé de igualdade os aspectos cognitivos, afetivos e sociais que lhe
estão implícitos. (BOSSA, 2000.p.19).

O psicopedagogo trabalha com crianças e adolescentes vítimas do


fracasso escolar dificultando seu desenvolvimento no processo educacional.
Neste foco Rubinstein (1992, p.102) fala que “o principal objetivo como
psicopedagogo é a investigação da etiologia da dificuldade de aprendizagem,
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bem como a compreensão do processamento da aprendizagem considerando


todas as variáveis que intervêm neste processo”.

2. A clínica psicopedagógica: como se atua nela e


enquadramento das atividades.

A função do psicopedagogo clínico é possibilitar que seu cliente


recupere a capacidade de aprender.
A respeito disso Rubinstein (1992) cita que:

Objetivamos no trabalho psicopedagógico resgatar, através da


relação com o paciente, a identificação com o conhecimento e,
portanto, com a possibilidade de aprender.
Sabemos também que não basta que haja apenas a identidade com o
conhecimento, o aprendiz necessita também de suas estruturas
cognitivas para que através delas possa ter acesso ao conhecimento.
Compete-nos como profissionais da área da aprendizagem contribuir
para que o aprendiz tenha melhores condições para utilizar suas
estruturas cognitivas.(p.104-105)

A respeito do trabalho do psicopedagogo em clínica Bossa (2000)


enfatiza que:

O trabalho clinico se dá na relação entre um sujeito com sua historia


pessoal e sua modalidade de aprendizagem, buscando compreender
a mensagem de outro sujeito, implícita no não-aprender”. “Neste
processo, onde investigador e o objeto-sujeito de estudo interagem
constantemente, a própria alteração torna-se alvo de estudo da
psicopedagogia. Isto significa que, nesta modalidade de trabalho,
deve o profissional compreender o que o sujeito aprende como
aprende e por que, alem de perceber a dimensão da relação entre
psicopedagogo e sujeito de forma a favorecer a aprendizagem. (p.21-
22).

Para isso são necessárias algumas etapas: a criança ou adolescente


geralmente vem encaminhado pela escola ou médico. É necessário escutar a
causa do encaminhamento, posteriormente realizar entrevista familiar
exploratória situacional, anamnese, sessões lúdicas complementadas por
testes ou provas para a realização do diagnóstico, síntese diagnóstica,
devolutiva e intervenção. No decorrer do processo é importante que a escola e
a família estejam envolvidos, tanto na fase diagnóstica quanto na intervenção.
Acerca do diagnóstico Sampaio (2010) diz que:
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O psicopedagogo, através do diagnóstico clínico, irá identificar as


causas dos problemas de aprendizagem. Para isto, ele usará
instrumentos tais como, provas operatórias (Piaget), provas projetivas
(desenhos), EOCA, anamnese.
Na clínica, o psicopedagogo fará uma entrevista inicial com os pais ou
responsáveis para conversar sobre horários, quantidades de sessões,
honorários, a importância da freqüência e da presença e o que
ocorrer, ou seja, fará o enquadramento. Neste momento não é
recomendável falar sobre o histórico do sujeito, já que isto poderá
contaminar o diagnóstico interferindo no olhar do psicopedagogo
sobre o sujeito. O histórico do sujeito, desde seu nascimento, será
relatado ao final das sessões numa entrevista chamada anamnese,
com os pais ou responsáveis.

Na prática diagnóstica o psicopedagogo deve levar em consideração


aspectos ligados às perspectivas de abordagem do fracasso escolar que são
os aspectos cognitivos, aspectos orgânicos, aspectos emocionais, aspectos
sociais e aspectos pedagógicos. Acerca disso Weiss (1992) diz que “os
aspectos cognitivos estariam ligados basicamente ao desenvolvimento e
funcionamento das estruturas cognoscitivas em seus diferentes domínios.
Incluindo também aspectos ligados à memória, atenção, etc. Quanto aos
aspectos emocionais, estes estariam ligados ao desenvolvimento afetivo e sua
relação com a construção do conhecimento e a expressão deste através da
produção escolar”.

A mesma autora ainda cita que:

Aspectos sociais estão ligados à perspectivas da sociedade em que


estão inseridas a família e a escola. (...). Aspectos pedagógicos
contribuem muitas vezes para o aparecimento de uma “formação
reativa” aos objetivos da aprendizagem escolar. Tal quadro confunde-
se, às vezes, com as dificuldades de aprendizagem originadas na
historia pessoal e familiar do aluno. (WEISS, 1992, p.8).

Após a realização do diagnóstico o psicopedagogo poderá dar início à


intervenção psicopedagógica e solicitar a ajuda de outros profissionais como
psicólogo, fonoaudiólogo, neurologista, ou outro profissional a depender do
caso.
Sobre a intervenção psicopedagógica Rubinstein (1992, p.104) enfatiza
que “a intervenção psicopedagógica tem como principal meta contribuir para
que o aprendiz consiga ser um protagonista não só no espaço educacional,
mas na vida em geral”.
Segundo Sampaio (2010),
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Durante o tratamento são realizadas diversas atividades, com o


objetivo de identificar a melhor forma de se aprender e o que poderá
estar causando este bloqueio. Para isto, o psicopedagogo utilizará
recursos como jogos, desenhos, brinquedos, brincadeiras, conto de
histórias, computador e outras situações que forem oportunas. A
criança, muitas vezes, não consegue falar sobre seus problemas e é
através de desenhos, jogos e brinquedos que ela poderá revelar a
causa de sua dificuldade. É através dos jogos que a criança adquire
maturidade, aprende a ter limites, aprende a ganhar e perder,
desenvolve o raciocínio, aprende a se concentrar e adquire maior
atenção.
O psicopedagogo solicitará, algumas vezes, as tarefas escolares,
observando cadernos, olhando a organização e os possíveis erros,
ajudando-o a compreender estes erros.
Irá ajudar a criança ou adolescente, a encontrar a melhor forma de
estudar para que ocorra a aprendizagem, organizando, assim, o seu
modelo de aprendizagem.
O profissional poderá ir até a escola para conversar com o(a)
professor(a), afinal é ela que tem um contato diário com o aluno e
poderá dar muitas informações que possam ajudar no tratamento.
O psicopedagogo precisa estudar muito. E muitas vezes será
necessário recorrer a outro profissional para conversar, trocar idéias,
pedir opiniões, ou seja, fazer uma supervisão psicopedagógica.

3. A atuação do psicólogo na clínica Psicopedagógica.

A atuação do psicólogo na clínica psicopedagógica engloba todos os


aspectos citados no tópico anterior sendo que, diferente dos outros
profissionais que podem se especializar em psicopedagogia e atuar na área
clínica, o psicólogo, em função de sua formação, pode investigar os aspectos
psicológicos, emocionais e de relacionamento mais profundamente que os
outros profissionais. Por exemplo, com os problemas de relação professor-
aluno na sala de aula, que dificultam ou inibem a aprendizagem escolar da
criança. Somente os psicólogos podem, no contexto do consultório ou da
clínica, intervir nas razões inconscientes ou nos aspectos comportamentais que
inibem o conhecimento intelectual de uma criança na escola.
Como exemplo da atuação do trabalho do psicopedagogo realizados por
estagiários de Psicologia dentro da clínica citaremos um relato de experiência
da estruturação de um Núcleo de Atendimento Psicopedagógico em um
Serviço de Psicologia Aplicada no Centro Universitário Salesiano de Lorena.
A estruturação deste Núcleo é fruto da experiência realizado pelos
alunos do 4º ano de psicologia, no estágio obrigatório do ano de 2009, na área
de Dificuldade de Aprendizagem.
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O estágio, ano de 2009, foi realizado em escolas da rede pública dos


Estados do Rio de Janeiro (Sul Fluminense) e São Paulo (Vale do Paraíba). Ao
tomar contato com a realidade e ensino nestas instituições foi percebido o
despreparo dos professores para trabalhar com crianças que apresentam
algum tipo de dificuldade no processo de aprendizagem (leitura, escrita,
matemática). Consciente desta realidade a Coordenadora de Estagio do Centro
UNISAL, Cristina Peluso, propôs aos alunos a criação do Núcleo
Psicopedagógico de Diagnóstico e Intervenção em Dificuldades de
Aprendizagem, no espaço de atendimento do Serviço de Psicologia Aplicada.
Tendo em vista o levantamento de crianças encaminhadas ao
SPA em virtude da apresentação de queixas escolares, no que diz respeito a
dificuldades específicas de aprendizagem (leitura, escrita, matemática), e
considerando que a maior parte dessas dificuldades implica em questões de
ordem psicopedagógica (cognitiva/ social-afetiva), considerou-se fundamental a
contribuição da atuação psicopedagógica nesses contextos através da criação
de um Núcleo Psicopedagógico que venha a atender essa demanda.
Contribuiu bastante para a criação do Núcleo proposto, o fato da ênfase
em Educação e Compromisso Social oferecer no 4º ano do curso de Psicologia
uma disciplina direcionada ao estudo e intervenção em dificuldades de
aprendizagem, qual seja: - “Diagnóstico e Intervenção em Dificuldades de
Aprendizagem I e II”, além da prática do estágio na área.
Além disso, destaca-se que o Centro Unisal – Lorena oferece curso de
Pós-Graduação em Psicopedagogia e Psicomotricidade há muitos anos,
podendo o Núcleo estender seu espaço e campo de trabalho também à área
de pós-graduação.
Com base no exposto, estruturou-se um Núcleo Psicopedagógico de
Diagnóstico e Intervenção em Dificuldades de Aprendizagem, no espaço de
atendimento do Serviço de Psicologia Aplicada, curso de Psicologia do Centro
Unisal – Lorena, visando atendimento a crianças da rede pública e particular de
ensino de Lorena e região que apresentam dificuldades em leitura, escrita,
matemática, especialmente direcionado ao público da 1ª à 4ª série do Ensino
Fundamental.

4. Psicologia Escolar
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4.1-História

A psicologia escolar possui um processo de desenvolvimento comum,


apesar de não ter ocorrido de forma simultânea em todos os locais, descritos a
seguir. “O processo de desenvolvimento divide-se em fases: a primeira fase, no
domínio da Psicologia Escolar, foi o emprego do psicólogo como administrador
de testes escolares, sobretudo os de capacidade mental, refletidos em escores
de QI; a segunda fase foi o psicólogo como clínico, diagnosticando e fazendo
recomendações aos professores e outros profissionais da escola, a terceira
que acumula as funções das duas fases anteriores, e com psicólogos dotados
de uma variedade de habilitações e conhecimentos que os amplia, de diversas
maneiras, num contexto específico que é a escola, sendo assim, o psicólogo da
terceira fase é resultante dos acontecimentos históricos que o precederam e
das condições e pressões antecedentes que possibilitaram a sua existência”.
(BARDON e BENNETT, 1981 apud SAMPAIO,2010).
“O título berço da Psicologia Escolar vem sendo reivindicado por muitos
países da América e da Europa, já que concepções, procedimentos e
iniciativas eram apontados, na mesma época, em diversos países, não sendo
possível afirmar qual seria este. Dentre os países da América têm-se os
Estados Unidos da América, e entre os países da Europa, Grã-Bretanha,
Suíça, Bélgica, Alemanha, Itália e França”. (NETTO, 2001 apud FIGUEIREDO
et al., 2008).
Oakanld (1993 apud FIGUEIREDO et al., 2008) afirma que, “tanto na
América quanto na Europa, a sociedade que era basicamente rural, baseada
na agricultura, passa a ser urbana, baseada na indústria. Essas modificações
originaram a expansão do ensino público nas cidades e o aparecimento de
problemas com crianças e adolescentes menores de idade relacionados à
negligência, abandono, delinqüência e com isso a necessidade de profissionais
preparados para contribuir com a escola e com os órgãos jurídico-legais,
surgindo, dessa forma, os estudos relacionados ao conhecimento psicológico e
assim, a psicologia escolar”.
Lightner R. Witmer, que juntamente com Hall é considerado pioneiro da
Psicologia Escolar nos EUA, iniciou as clínicas psicológicas para crianças,
sendo o fundador da primeira Clínica Psicológica dos Estados Unidos, na
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Universidade de Pensilvânia no ano de 1896. “A clínica fundada por Witmer,


juntamente com suas concepções é reconhecida como ponto de partida tanto
da psicologia escolar quanto da psicologia clínica. Nesta clínica eram
realizados trabalhos de avaliação psicológicos individuais de crianças e
adolescentes que eram suspeitos de serem deficientes mentais, físicos ou
morais. Um fator de destaque na concepção de Witmer é o fato de considerar
importante a influência ambiental sobre o comportamento da criança e sobre o
seu desenvolvimento”.(NETTO, 2001 apud FIGUEIREDO et al., 2008).
A primeira definição de Psicologia Escolar surge na França no final do
século XIX, com o propósito de pesquisar, e realizar intervenções concretas
aos escolares (NETTO, 2001 apud FIGUEIREDO et al., 2008).
Em 1904, neste país, “inicia-se o desenvolvimento das escolas visando à
medição da capacidade intelectual do indivíduo, com Simon e Binet, e a partir
disso foram criados os testes de inteligência e de outras capacidades,
passando a ser aplicado nas escolas por psicólogos”. (BARDON e BENNETT,
1981 apud FIGUEIREDO et al., 2008).
Wallon juntamente com Langevin, “após a 2ª Guerra Mundial elaborou
um projeto de reforma de ensino, sendo o primeiro texto mundial a definir
oficialmente a Psicologia Escolar como campo específico de atividades de
natureza psicológicas”. (NETTO, 2001 apud FIGUEIREDO et al., 2008).
Em 1910, na França, “os aplicadores e interpretadores de teste
receberam o nome de psicólogos escolares, iniciando-se assim o uso da
denominação psicologia escolar, tendo sido no mesmo ano, inaugurado o
serviço de orientação profissional nesse país”. (BARDON e BENNETT, 1981
apud FIGUEIREDO et al., 2008).
Um país que deve ter destaque é a Itália “com Sante de Sanctis por ter
sido o pioneiro na criação de uma equipe interdisciplinar para o atendimento de
escolares ”anormais e atrasados”, esta equipe era composta por psicólogos,
psiquiatra, professor especializado e assistente social. E com Maria Montessori
que foi a pessoa que teve a maior repercussão internacional por ter criado a
escola: “Casa dei bambini” e dissertado sobre a mente absorvente dos pré-
escolares que são capazes de resolver problemas e de realizar atividades
antes da chamada educação formal “.(NETTO, 2001 apud FIGUEIREDO et al.,
2008).
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Uma obra que se destaca na história da Psicologia Escolar com origem


na Suíça é de Eduard Claparède, “que dirigia o Instituto Jean Jacques
Rosseau, e trazia o atendimento e a pesquisa em escolares. Posteriormente
outros nomes importantes deram contribuições como Bovet, Ferrière,
Descoeudres e Jean Piaget. Na sua obra de 1909, Psychologie de I’enfant et
pédagogie experimentale, compilou o que estava sendo produzido em vários
países sobre temas relacionados ao que hoje abrange a Psicologia Escolar”.
(NETTO, 2001 apud FIGUEIREDO et al.,2008).
No Brasil, “em 1947 Mira y Lopez dirigiu o Instituto de Orientação
Profissional da Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro e publicou livros
sobre orientação profissional. A literatura de Psicologia aplicada à instituição
escolar expandiu em 1950, e em 1962 foi regulamentada a profissão do
psicólogo e implementado nos currículos da graduação a psicologia escolar”.
(BARDON e BENNETT, 1981 apud FIGUEIREDO et al., 2008).

4.2-Campo

A psicologia escolar é uma especialização da psicologia, portanto para


formar psicólogos escolares o curso deve fornecer boas bases para que os
novos profissionais saibam atuar em contextos educacionais, tenham domínio
de toda a dinâmica do sistema educacional, e conheçam as técnicas de
acompanhamento, avaliação e intervenção em situações de grupo e individual.
O papel do psicólogo escolar é ajudar pais, professores e alunos a solucionar
problemas de aprendizagem, colaborar na elaboração de programas
educacionais em creches e escolas dentre outros.
Quando voltado pra área de pesquisa acadêmica o psicólogo escolar
atua como cientista, Patto (1981, p.10) “fala que ele é, basicamente, um
cientista experimental do comportamento e um professor que está preocupado
tanto com o estudo dos métodos da ciência psicológica, como com o conteúdo
desta ciência”. (PATTO, 1981, p.10).
O psicólogo escolar na área clínica se deferência do psicólogo
tradicional clínico que está baseado em um modelo médico. Patto (1981)
explica que,
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O psicólogo escolar clínico – nas escolas publicas, trabalha num dos


seguintes níveis, dependendo de sua sofisticação e da sofisticação do
sistema escolar em que atua. No nível mais baixo de sofisticação,
está a aplicação de testes cujo principal objetivo é obter quocientes
de inteligência.(...).
No próximo nível encontra-se psicólogo escolar que faz psicoterapia,
além de testes psicológicos.(...) Suas atividades psicoterápicas
normalmente enfatizam uma distinção entre as atividades em sala de
aula, que ele chama de educação, e aquelas que envolvem outros
aspectos do comportamento.
No nível mais sofisticado está o psicólogo clínico escolar, que atua
como um consultor de saúde mental.(...) O psicólogo clinico consultor
tenta difundir a saúde mental, procurando alcançar o maior número
possível de pais, administradores e professores que, por sua vez,
atingem o maior número possível de crianças. Está basicamente
interessado pela prevenção. (p.11).

Quanto a importância do psicólogo escolar dentro da escola, Del Prette (1999


apud BHERING e MICHELS, 1999) afirma que,

Produzimos conhecimento que atuam diretamente nas escolas.


Desenvolvemos diversas práticas para abordar os aspectos
(inesperados e específicos) surgidos nos ambientes educativos.
Complementamos ações multidisciplinares que visam o
desenvolvimento integral do cidadão e de sua comunidade.
Promovendo saúde pública que resultam das nossas ações
particulares. Apesar de ainda não reconhecidos pelo sistema nacional
de educação, a demanda para nosso serviço ultrapassa o estado de
latência. (p.135)

E quanto á função do psicólogo escolar dentro da escola ele cita que,

Nossas tarefas passam por assessorar, analisar e participar de


projeto pedagógico, instrumentos de avaliação, atividades
complementares, alternativas de reestruturação funcional, interações
em sala de aula, elaborar e desenvolver programas, e fazer
diagnóstico e encaminhamento de problemas relacionados a queixas
escolares. (DEL PRETTE, 1999 apud BHERING e MICHELS, 1999,
p.135 - 136).

A tarefa do psicólogo escolar é prezar pelo desenvolvimento integral do


indivíduo levando sempre em consideração os aspectos cognitivos, físicos,
sociais e emocionas dos estudantes. E criar um ambiente propício para a
aprendizagem das crianças e jovens.

4.3-Objetivo

O Objetivo do psicólogo inserido na escola é a promoção de saúde


mental da mesma e dos funcionários e alunos, para isso é necessário atuar
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junto a todos os membros que fazem parte da escola incluindo os pais. Sobre
isso Figueiredo (et al, 2008) diz que “esse trabalho deve ser sempre contínuo e
sempre buscando a intervenção em grupo. Pois o psicólogo atua não apenas
na remedição de problemas, mas também desenvolvendo trabalhos que visem
à prevenção dos mesmos. Por estar inserido na escola é preciso que tenha
conhecimentos relacionados à criança, suas fases de desenvolvimento e de
aprendizagem, e sobre o processo ensino-aprendizagem”.

A mesma autora ainda cita que:

São inúmeras as possibilidades práticas de intervenção do psicólogo


escolar, podendo trabalhar a questão da avaliação em contexto
escolar, com a administração de testes, inventários, escalas e
questionários para o levantamento das mais variadas questões,
sempre com a finalidade de desenvolver algo que seja útil no estudo
de crianças e jovens, relacionando entre outras coisas a utilidade dos
testes, a validade destes no Brasil, já que muitos são produzidos em
outras realidades (GUZZO, et al, 1996; NORONHA, et al, 2003;
OAKLAND, 1996 apud FIGUEIREDO, et al, 2008).

5.Pedagogia

5.1História

Para entendermos melhor a Pedagogia e seu campo de atuação hoje se


faz necessário traçar sua história desde a antiguidade até os tempos atuais.
Para isso foi utilizado a Enciclopédia Britânica Barsa (1974) que nos dá a visão
de cada período.
Antiguidade
Devem-se à Platão e Aristóteles os primeiros trabalhos sobre o problema
educacional, nos quais já discutiam questões que vêm sendo levantadas
através dos séculos: relações entre o indivíduo e o estado, escola pública e
privada, formação de líderes, etc.
Para Platão saber é uma virtude, considera a educação dever
fundamental do estado, que deve monopolizá-la.
Os seis primeiros anos de educação deviam ser dedicados à formação
de bons hábitos; como ginástica, música e etc. Depois disso alguns saem em
busca de suas profissões e outros estudam arte militar. Os mais capacitados
16

são selecionados para o estudo das ciências: Aritmética, Geometria,


Astronomia e Música.
Aristóteles também atribui grande importância à formação de bons
cidadãos. Para ele, a finalidade da educação é o desenvolvimento das virtudes
do homem. Dá grande importância ao aperfeiçoamento das faculdades
intelectuais, através das Ciências e da Filosofia.
Idade média
Com a expansão do Cristianismo não se pretendia mais a formação do
cidadão ideal, e sim do cristão perfeito. A igreja exercia controle sobre a
educação, orientando-a no sentido de formar cristãos, além de preparar o aluno
para o estudo da Teologia, principal disciplina das universidades medievais.
Renascimento
Com as transformações sociais e econômicas da sociedade, a
Pedagogia medieval foi-se tornando formalista e estagnada. O estudo do
homem e da natureza ocupava o lugar da excessiva preocupação dedicada às
coisas divinas. E as idéias pedagógicas da época sofreram marcante influência
de Quintiliano.
As escolas passaram a ensinar, além de Religião, Matemáticas,
Ciências Naturais, História, geografia e Música. A Igreja católica reagiu a esse
ideal pedagógico principalmente através dos padres da Companhia de Jesus,
fundada por Santo Inácio de Loiola.
Com a decadência da cultura renascentista, começa a ganhar adeptos a
idéia de que o ensino deve acompanhar o desenvolvimento natural da criança
e adaptar-se a seus interesses.
Tempos Modernos
No início do séc. XVIII, J.J. Rousseau revolucionou a Pedagogia com a
publicação Émile, em que expôs suas teorias educativas, cujos princípios
básicos são: tratar a criança como criança e valorizar sua personalidade.
Foi, no entanto, Pestalozzi quem pôs em prática o método pedagógico
de Rousseau. Enfrentando incompreensões, procurou adotar nas escolas que
fundou na Suíça o método natural de educação. Atribuía grande valor ao
aprendizado através da experiência e da observação, desprezando o ensino
livresco. Batia-se pelo desenvolvimento integral e harmonioso do educando.
17

Froebel notabilizou-se pela criação de um novo tipo de escola, o Kinder-


garten (Jardim de Infância), onde a criança, tal como uma planta, deve
encontrar ambiente para desenvolver-se espontaneamente. Atribui grande
importância às atividades infantis, brinquedos, canções, histórias, jogos, na
formação da personalidade.
Herbart idealizou o que ficou conhecido como os “cinco passos formais”,
a seqüência que deve seguir uma aula para adaptar-se melhor à psicologia do
educando. Suas idéias exerceram grande influência em todo o mundo
ocidental.

Sobre a pedagogia a partir do séc. XX a enciclopédia Larousse Cultural


(1995) cita,

No séc XX, com o movimento da escola nova, considera-se que é a


criança quem condiciona o processo educativo.
Com efeito, a situação educativa, e principalmente a situação escolar
do ensino, se traduz por uma dinâmica relacional - consciente e
inconsciente - que levou, por exemplo, a pedagogia institucional a
levar em conta fenômenos inconscientes em sala de aula. Com a
orientação não diretiva de C. Rogers, o enfoque é colocado direta e
exclusivamente na relação professor-aluno.
A moderna pedagogia desenvolveu-se no sentido de promover a
capacidade de raciocínio e julgamento do educando, ressaltando-lhe
a criatividade e dando-lhe condições para orientar-se livremente.

5.2-Campo de atuação

O campo de atuação da Pedagogia vem se expandindo cada vez mais


ao longo dos séculos. A origem de sua função e significado surgiu na Grécia
antiga como explica Ghiraldelli (1987),

Pedagogia, literalmente falando, tem o significado de “condução da


criança”. Era, na Grécia Antiga, a atividade do escravo que conduzia
as crianças aos locais de estudo, onde deveriam receber instrução de
seus preceptores. O escravo pedagogo era o “condutor de criança.
(p.8)

Ghiraldelli (1987) ainda diz que “a pedagogia vincula-se aos problemas


metodológicos relativos ao como ensinar, a o que ensinar e, também, ao
quando ensinar e para quem ensinar”. A pedagogia consubstancia-se no pólo
teórico da problemática educacional. Sendo assim a pedagogia pode atuar em
diversas áreas que englobam os aspectos citados anteriormente como na
18

educação formal: como docente da Educação Infantil, no Magistério das séries


Iniciais, na Gestão Escolar, nos cargos de Direção, Coordenação Pedagógica,
Orientação Educacional, Supervisão Escolar. Pode atuar também na educação
não formal como gestor de planejamento pedagógico e estratégico, em projetos
e no acompanhamento do processo educativo e de formação.
Com relação à Administração escolar o pedagogo pode gerenciar
estabelecimentos de ensino, supervisionando o uso e a manutenção das
instalações, alem dos recursos humanos, materiais e financeiros necessários
ao funcionamento.
Na educação especial o pedagogo procura Desenvolver material didático
e ministrar aulas para crianças e adultos portadores de deficiências mentais,
visuais, auditivas ou que apresentem outros problemas de comunicação.
Como Orientador educacional ele deve dar assistência aos estudantes,
orientando-os e ajudando-os no processo de aprendizado, com o uso de
métodos pedagógicos e psicológicos.
Treinamento de recursos humanos: desenvolver programas de
treinamento para os funcionários de uma empresa, atuar na área de educação
corporativa, educação a distancia, na formação continuada e em gestão de
talentos. Pode atuar também em hospitais, elaborando projetos educativos
para crianças e jovens internos, possibilitando a continuidade dos seus
estudos.
Segundo Libâneo (2000) o campo da ação pedagógica escolar distingue
– se três tipos de atividades:

A de professores de ensino público e privado, de todos os níveis de


ensino e dos que exercem atividades correlatas fora da escola
convencional.
A de especialistas da ação educativa escolar operando nos níveis
centrais intermediários e locais dos sistemas de ensino (supervisores
pedagógicos, gestores, administradores escolares, planejadores,
coordenadores, orientadores educacionais, etc).
Especialistas em atividades pedagógicas para escolares atuando em
órgãos públicos, privados e públicos não – estatais, envolvendo
associações populares, educação de adultos, clinicas de orientação
pedagógica / psicológica, entidades de recuperação de deficientes
etc. (instrutores, técnicos, animadores, consultores, orientadores,
clínicos, psicopedagogos. Etc). (p. 51).
19

A escola é, a instituição socialmente designada para transmitir


conhecimentos científicos necessários à nossa cidadania plena nos dias de
hoje, portanto o professor deve estar sempre atento a seu papel dentro da
escola. Oliveira (1998, apud BHERING e MICHELS, 1999) afirma que:

O papel do professor é deslocado. Seu desafio principal não é dar


aulas ou cumprir um programa – é fazer o aluno dar certo. O material
de ensino cuida do programa. O professor cuida para que o aluno
aprenda o material de ensino e tenha prazer de ler e estudar. O
professor aprende a trabalhar com indivíduos, pequenos grupos e a
turma inteira, prestando atenção no crescimento de cada aluno. (p.71-
72).

5.3-Objetivo

Quanto ao objetivo da Pedagogia a Enciclopédia Barsa (1974) fala que


ela “é uma ciência que tem como objetivo a sistematização e racionalização
dos métodos de educação da criança. A Pedagogia moderna fundamenta-se
no conhecimento adequado das leis que regem o desenvolvimento
psicofisiológico do educando e, sobretudo, dos fatores de ordem social que o
condicionam. As doutrinas pedagógicas, embora pareçam refletir o
pensamento filosófico individual dos seus autores, exprimem, de fato, a
realidade social, econômica e política da época em que surgiram”.

Discussão e conclusão

O presente artigo teve por objetivo uma melhor compreensão da


Psicopedagogia e seu campo de atuação e assim se fez necessário
contextualizar a pedagogia e a psicologia escolar, com áreas afins e
conplementares.
Lembrando que procuramos responder as questões: O que é a
Psicopedagogia e qual o papel do psicólogo na clínica psicopedagógica e seu
campo de atuação?
A partir do paralelo traçado das três áreas de atuação podemos
perceber que a diferença se dá em relação à formação acadêmica e atuação e
objetivo sendo a psicologia escolar uma especialização da graduação em
Psicologia, a psicopedagogia é uma área de especialização em nível de pós-
20

graduação que recebe graduados de diversos cursos e a pedagogia é um


campo científico que tem por objeto a educação e seus processos de
aquisição.
Quanto a atuação do psicólogo dentro da clínica psicopedagógica
percebemos que ele pode utilizar todos os recursos citados no tópico da de
atuação da Psicopedagogia Clínica com o diferencial característico de sua
formação acadêmica que é a investigação dos aspectos psicológicos,
emocionais e de relacionamento mais afundo que os outros profissionais.
Somente os psicólogos podem, no contexto do consultório ou da clínica, intervir
nas razões inconscientes ou nos aspectos comportamentais que inibem o
conhecimento intelectual de uma criança na escola.
As autoras Bhering e Michels (1999) vêm por afirmar isso dizendo que:

Ao psicólogo, cabe a tarefa de ajudar pessoas a se sentirem,


conhecerem e estarem melhor na sua vida. Cabe aos psicólogos,
promover a saúde do indivíduo instrumentalizando-o para o
reconhecimento e/ou descoberta de habilidades pessoais que o
mobiliza para a vida, e preparar os ambientes para receber aqueles
em crescimento e propiciá-los um ambiente instigante para a
aprendizagem (e não um ambiente potencialmente ameaçador).
(p.136)

Após essa revisão foram notados aspectos básicos acerca do tema: a


psicopedagogia é um campo de atuação ainda recente no Brasil, o campo de
atuação e pesquisa vem crescendo a cada ano, pois ela tem sido percebida
como um campo de muita importância e contribuição para as instituições de
educação. Traçar esse paralelo entre as três áreas é algo novo e contribuiu
para entender melhor os objetivos, atuação e a importância de cada um desses
profissionais no ambiente educacional. Ressaltamos a importância de
continuarem fazendo pesquisas e estudos acerca dos temas trabalhados neste
artigo.
21

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