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FORMAÇÃO DE PROFESSORES / 3º ANO ____________________________________L.PORT/L.

ANGOLANA

PATALITERATURA

Termo com que se designam todas as formas não canónicas

de literatura (auto-ajuda, folhetins romanescos, literatura cor-de-

rosa, romance ultra-light, literatura de cordel, literatura oral e tradicional,

banda desenhada, literatura marginal, pornográfica, policial e popular, etc.)

que em regra não são aceites por certos eruditos, certas instituições

académicas ou certos meios de comunicação.

A vantagem da designação paraliteratura (em vez de infraliteratura)

reside no tom não depreciativo que o prefixo para- tem, uma vez que remete

para tudo aquilo que fica na margem de e não necessariamente tudo aquilo que

não entra na categoria de um clássico, por exemplo. Também não fica

garantido que um género paraliterário não se torne numa dada época um

género maior de literatura. Os géneros principais (romance, textos

de poesia e textos de teatro) não foram géneros maiores em todas as épocas.

O que permanece hoje é a ideia de que todo o texto que se refugie numa

categoria não convencional é porque pertence a um género marginal de

literatura a que convém então o nome de paraliteratura.

O problema é que muitas vezes esta classificação resulta da aplicação

arbitrária de um critério de qualidade que não corresponde inteiramente ao

rigor de uma classificação científica. Um romance policial, por exemplo, pode

ter grande qualidade, pode ser uma obra-prima e pode rivalizar com qualquer

outro tipo de romance no que respeita ao domínio das mais apuradas técnicas

literárias. Ora, daqui se infere que atribuir a todos os romances policiais a


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categoria de paraliteratura pode ser uma atitude redutora e ideologicamente

reprovável. Esta designação corre os mesmos riscos de todas as

subclassificações do texto literário que estão à mercê do juízo de

comunidades de leitores. Por outro lado, pode-se argumentar que o que faz a

literatura ser maior ou menor não é o juízo do leitor, porque a obra em si

mesma transporta uma literariedade que é incompatível com juízos de valor

subjectivos.

Qualquer adversária da estética da recepção defenderá esta posição.

Como a realidade nos mostra que muitas vezes a literatura existe enquanto

for entendida como produto de difusão, desprezar o papel do leitor na

decisão do que deve ser literatura e o que deve ser paraliteratura pode ser

inconsequente. O caso da ficção científica pode ser pertinente: o género

fixou-se de tal forma como espaço literário autónomo e perfeitamente

resguardado de preconceitos em relação à sua índole literária que se torna

difícil aceitar hoje que se trate de paraliteratura como sempre foi visto.

Bibliografia

Alain-Michel Boyer: La Paralittérature (1992); Bernard MOURALIS, As


Contraliteraturas (Coimbra, 1982); Daniel Couégnas: Introduction à
la paralittérature (1992); Myrna Solotorevsky: Literatura¾Paraliteratura: Puig,
Borges, Donoso, Cortazar, Vargas Llosa (1988); Marc Angenot et
al.: La Paralittérature: textes (1974); Noel ARNAUD, Francis Lacassin e Jean Tortel
(dir.), Entretiens sur la paralittérature (1970).

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