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ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO

1.1. O estudo da Hamartiologia


1.2. Objetivos da disciplina
1.3. A existência do pecado
1.3.1. Prova metafísica
1.3.2. Prova moral
1.3.3. Prova psicológica
1.4. A realidade do pecado

2. O ESTUDO DO PECADO

2.1. Uma análise do termo


2.1.1. Onde surgiu o pecado
2.1.2. A resolução do pecado
2.1.3. O diabo e o pecado
2.2. Definição do termo

3. COMEÇANDO DO "COMEÇO"

3.1. O estado de inocência


3.2. O ambiente do homem antes da Queda
3.3. O Jardim
3.4. As duas árvores
3.4.1. A árvore da vida
3.4.2. A árvore do conhecimento do bem e do mal
3.5. O homem como ser responsável
3.6. O tentador do primeiro homem
3.7. Panorama da Queda
3.8. A origem do pecado
3.9. Conceitos históricos
3.9.1. Os pais da igreja
3.9.2. Filósofos
3.9.3. Reformadores
3.9.4. O que a Bíblia nos revela
3.10. A tentação do primeiro homem
3.11. A tríplice tentação de Jesus
3.12. A serpente

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4. A QUEDA

4.1. O estudo da Queda


4.2. A penalidade da Queda
4.3. O processo da Queda
4.4. O processo do pecado
4.5. Morte Espiritual
4.6. O ato mal e a natureza má
4.7. Depravação total
4.8. Duas formas de olhar
4.9. A corrupção original
4.10. O que não é depravação total
4.11. O que é a depravação total
4.12. A universalidade do pecado
4.13. A natureza do pecado
4.14. Dimensão do pecado
4.15. Mal e Pecado
4.16. A permissão divina do pecado
4.17. Uma análise negativa do pecado
4.18. A natureza do pecado
4.19. O pecado pessoal
4.20. A origem do pecado
4.21. O primeiro pecado concreto cometido no céu
4.22. A revelação de Ezequiel
4.23. A natureza do primeiro pecado
4.24. O primeiro pecado concreto cometido por um ser humano na Terra
4.25. Por que não subestimar o pecado
4.26. A malignidade do pecado
4.27. Uma conclusão parcial
4.28. Uma análise ampliada
4.29. Os dois aspectos do pecado pessoal
4.30. Uma análise dos termos
4.31. Concluindo
4.32. O pecado da blasfêmia contra o Espírito Santo

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INTRODUÇÃO

O Estudo da Hamartiologia

Antes de tratarmos do termo “Hamartiologia” e suas implicações, é importante


observarmos que essa matéria faz parte da Teologia Sistemática, que é a importante
área responsável por sintetizar os assuntos bíblicos e teológicos.

Uma vez que teologia é o estudo que se propõe a conhecer mais a Deus a partir das
Escrituras, então teologia sistemática é a área que se propõe a sistematizar e
organizar esse conhecimento por assuntos. Hamartiologia é a disciplina que estuda a
respeito do pecado.

Essa disciplina se propõe a nos informar tudo que a Bíblia fala a respeito da origem,
natureza, problema, alcance e consequências do pecado, e tudo que implica sobre
esse importante assunto.

Seu estudo é extremamente importante pois, uma vez que esta é a doutrina do
pecado, torna-se indispensável para todos os assuntos além deste. Soteriologia, por
exemplo, é a doutrina da salvação, o que levanta a questão “ser salvo do que? Para
que? Por quê?”. O homem deve ser salvo pois encontra-se numa condição de
perdição: aí entra a doutrina do pecado.

Objetivos da disciplina

Após esta disciplina o aluno deverá ser capaz de:

● Conhecer a doutrina do Pecado e suas implicações;

● Identificar os grandes prejuízos causados pela desobediência do primeiro


casal;

● Saber as principais divisões desta doutrina;

● O que realmente significa a Queda da raça humana e suas implicações;

A existência do pecado

Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu
desejo, mas sobre ele deves dominar.
Gênesis 4:7

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Portanto, também nós, uma vez que estamos rodeados por tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de
tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve, e corramos com perseverança a corrida que nos é
proposta,
Hebreus 12:1

O texto de Hebreus está totalmente ligado ao texto de Gênesis: o autor do primeiro


afirma que estamos cercados de grande número de testemunhas, cuja natureza é
evidenciada no capítulo 11, e demanda que abandonemos o embaraço e o pecado
que tão de perto nos rodeia.

O mal e o pecado não estão longe de nós, mas encontram-se dentro do próprio
homem. Da mesma forma, não se deve pensar o pecado como algo involuntário ou
uma mera ausência de bondade: o pecado é ativo e voluntário.

Prova metafísica

Vês aqui, hoje te tenho proposto a vida e o bem, e a morte e o mal; Os céus e a terra tomo hoje por
testemunhas contra vós, de que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe pois
a vida, para que vivas, tu e a tua descendência,
Deuteronômio 30:15,19

1. Esses versos mostram que o homem possui a percepção de um mundo


diferente do qual ele vive, algo maior e superior;

2. Essa percepção nos faz ter a ideia de um inimigo mal e tirano, o pecado,
percebido pela presença do mal;

3. Esses dois versos nos levam a perceber que a alma do homem foi feita
com o sopro de Deus, e, uma vez que ele possui esse sopro, tem a
capacidade de sentir, aceitar ou rejeitar o pecado;

4. A alma do homem tem a capacidade de discernir entre o bem e o mal,


portanto, como dizer que o pecado não existe?

Prova moral

Portanto, não julguem nada antes da hora devida; esperem até que o Senhor venha. Ele trará à luz o que
está oculto nas trevas e manifestará as intenções dos corações. Nessa ocasião, cada um receberá de
Deus a sua aprovação.
1 Coríntios 4:5

1. Inicialmente, há duas verdades: a imortalidade da alma do homem e a


justiça de Deus: isso nos faz concluir a realidade futura do homem e a
manifestação do juízo de Deus;

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2. A justiça de Deus exige que a virtude seja recompensada e o vício seja
punido;

3. A justiça de Deus clama por algo: que cada um seja tratado segundo as
suas obras;

4. Existem muitos segredos tanto do lado do bem quanto do mal que serão
julgados por aquele que recebeu de Deus autoridade para isso;

Prova psicológica

Portanto, também nós, uma vez que estamos rodeados por tão grande nuvem de testemunhas, livremo-
nos de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve, e corramos com perseverança a corrida
que nos é proposta,
Hebreus 12:1

1. Essa prova baseia-se na tendência que o homem tem para o mal;

2. Essa prova nos mostra que o homem deseja melhorar, se aperfeiçoar;

3. O homem, por melhor qu3 seja, nunca se sacia;

4. Quanto mais avançamos, mais queremos avançar;

A realidade do pecado

Negar a existência do pecado é negar a própria Palavra de Deus. Redenção,


justificação, salvação, todas as doutrinas bíblicas levam à conclusão da doutrina do
pecado. Em toda a Bíblia há informações sobre essa triste realidade, e história
humana segue o mesmo princípio.

Após pecar, o homem tornou-se dotado de uma consciência sensível ao pecado: cada
vez que ele comete uma transgressão, sabe que o fez, de forma que seus crimes são
conscientes.

Quando o homem erra, isto é, comete um delito, sua tendência é tentar resolver as
coisas à sua maneira. No relato de Gênesis, Adão e Eva esconderam-se da voz de
Deus. Quando Ele conversa com o casal, ambos tentam aplicar ao outro sua
responsabilidade, buscando ocultar a prova de seu delito, uma característica da
consciência moral (1Rs 13:24,28).

"Mas, se vocês não fizerem isso, estarão pecando contra o Senhor; e estejam certos de que vocês não escaparão
do pecado que cometeram.
Números 32:23

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O ESTUDO DO PECADO

Uma análise do termo

Onde surgiu o pecado

Ele tem seu início no universo e depois adentra o mundo humano através da
desobediência do homem. Em termos geográficos, o pecado nasce no Céu.
Isso serve para evidenciar que nem sempre o ambiente determina o resultado
das ações. O pecado é introduzido entre os homens a partir dos eventos da
Queda narrados no livro de Gênesis.

A resolução do pecado

Esse problema encontra sua solução na pessoa de Jesus Cristo no Calvário,


um lugar de maldição. Aqui percebe-se o contraste entre a origem do problema
do pecado e sua resolução: a desobediência surge em um ambiente puro e é
resolvida em um ambiente impuro.

O diabo e o pecado

A diferença de posição entre o homem e o diabo se dá porque a corrupção de


Lúcifer parte de dentro para fora enquanto a tentação do homem - resultado
direto de suas ações - apresenta um caráter de corrupção de fora para dentro.

Tanto Lúcifer quanto Adão não foram enganados para que cometessem a
transgressão:

E Adão não foi enganado, mas sim a mulher, que, tendo sido enganada, tornou-se transgressora.
1 Timóteo 2:14

O fato de Eva ter sido enganada, entretanto, não retira sua responsabilidade
no ato do pecado. O relato é claro ao mostrar que ela não encontrava-se cega
ou fora de si, mas totalmente consciente.

Definição do termo

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Hamartiologia é um vocábulo que se deriva do grego HAMARTIA. Na junção deste
termo com “logos”, que significa estudo, tratado, fica assim definida: estudo sobre a
doutrina do Pecado;

O estudo sistemático da doutrina do pecado percebe que ele se manifesta de diversas


formas: tanto no ato quanto no sentimento. Estudar essas diferentes manifestações
serve para que entendamos a gravidade do pecado.

Uma das principais artimanhas do pecado é minimizar a sua gravidade. Mas o pecado
afeta todas as esferas da vida humana, e por isso devemos conhecê-lo
profundamente à luz das escrituras.

Inicialmente, ele está relacionado a “desviar-se do alvo”, “falhar”, “perder o alvo” e


“não alcançar o objetivo”. Tudo que Deus faz tem um propósito: o homem tem uma
finalidade, um alvo, que é manifestar o caráter de Deus relacionando-se com Ele,
consigo mesmo, com os outros homens e com a natureza. Ele é criado para um fim,
e o pecado vai comprometer a capacidade do homem de alcançá-lo.

Então o faraó mandou chamar Moisés e Arão e disse-lhes: "Desta vez eu pequei. O Senhor é justo; eu e o meu
povo é que somos culpados.
Êxodo 9:27

Perdoa-nos os nossos pecados, pois também perdoamos a todos os que nos devem. E não nos deixes cair em
tentação’ ".
Lucas 11:4

A segunda relação tem a ver com aquilo que é “torcido”, “que dobra”. O significado da
palavra está mais ligado a sentimento que à prática, o que nos leva à questão: O
pecado é apenas a prática?

No regime da Lei, uma transgressão deveria manifestar-se em caráter prático. No


regime da Graça, entretanto, o mero desejo de pecar já é imputado como crime. Assim
sendo, a santificação torna-se justamente a mudança do desejo, dos sentimentos e
das inclinações do homem, pois até atos de bondade podem ser vistos como trapos
de imundícia:

Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia; e todos nós
murchamos como a folha, e as nossas iniqüidades como um vento nos arrebatam.
Isaías 64:6

É exatamente por esta razão que João Batista aparece no deserto com a missão de
endireitar o caminho:
Uma voz clama: "No deserto preparem o caminho para o Senhor; façam no deserto um caminho reto para o nosso
Deus. Todos os vales serão levantados, todos os montes e colinas serão aplanados; os terrenos acidentados se
tornarão planos; as escarpas, serão niveladas. Isaías 40:3,4

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Ora, o que está tortuoso? O coração do homem, naturalmente. E não só: também
suas inclinações, vontades e desejos. O ministério de João Batista não foi operar
milagres para a correção, mas sim o proclamar da palavra de Deus, e é isso que
endireita os corações.

O pecado também está relacionado à natureza do delito (pode significar “delito”,


“crime”, “culpa”, “pecado”, “ofensa”, “rebeldia”, “transgressão”, “rebelar-se”, “violar”,
“romper” e “quebrar”. Assim sendo, percebe-se também que “pecado” está
intrinsecamente relacionado à rebelião, quebra de aliança e revolta contra a Lei de
Deus.

Vocês, orem assim: ‘Pai nosso, que estás nos céus! Santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino; seja feita a
tua vontade, assim na terra como no céu.
Mateus 6:9,10

Jesus veio ao mundo pregando a mensagem do reino de Deus. No Céu, a vontade


de Deus é cumprida sem que haja qualquer tipo de restrição ou empecilho. A oração
ensinada por Cristo clama para que o mesmo aplique-se em nossas vidas, pois Sua
vontade é “boa, agradável, e perfeita” (Rm 12:2).

Esse termo também remete a “transgressão”, isto é, ultrapassar os limites


estabelecidos por Deus em Sua Palavra. Aqui, manifestam-se conjuntamente dois
tipos de pecado: rebelião e presunção. Rebelar-se significa não fazer o que Ele
ordena, enquanto presunção implica fazer o que não foi ordenado.

Outra designação para pecado vem do hebraico “ra” (‫)רע‬,


ַ que ocorre cerca de 663
vezes na Bíblia com o significado de “mal”, “maldade”, “desgraça”, “calamidade”,
“desventura” e “aperto”.

O pecado destruiu a constituição daquilo que Deus criou, maculando sua natureza.
Por isso não há como agradar a Deus por nós mesmos, e é aí que podemos afirmar
que a Graça nos basta (2 Co 12:9).

Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo. Ora, se faço
o que não quero, já não sou eu quem o faz, mas o pecado que habita em mim.
Romanos 7:19,20

O pecado também é descrito a partir de seu resultado.

Eu lhes asseguro que todos os pecados e blasfêmias dos homens lhes serão perdoados,
Marcos 3:28

As palavras de Cristo apontam para práticas pecaminosas resultantes de um estado


caído de pecado, fazendo um contraste com a crença do judaísmo, que considerava
como pecado apenas o ato, isto é, o infringir da Lei.

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A Bíblia Sagrada, entretanto, ensina-nos que as práticas pecaminosas são
provenientes desse estado de rebeldia e independência do homem para com Deus.
Assim sendo, percebe-se que as práticas pecaminosas visíveis são advindas de um
estado invisível.

O Senhor sentiu o aroma agradável e disse a si mesmo: "Nunca mais amaldiçoarei a terra por causa do homem,
pois o seu coração é inteiramente inclinado para o mal desde a infância. E nunca mais destruirei todos os seres
vivos como fiz desta vez.
Gênesis 8:21

Desvie-se do mal e faça o bem; e você terá sempre onde morar.


Salmos 37:27

O pecado também se manifesta numa relação de transgressão, violação, e


desobediência: um ato consciente e deliberado de forma premeditada e planejada. O
termo é oriundo do grego anomia (ἀνομία), que significa “violação da lei” e
“desordem”. Literalmente falando, é o que agrava a situação do homem, colocando-
o diante do tribunal de Deus:

E será que aquele que for tomado com o anátema será queimado a fogo, ele e tudo quanto tiver; porquanto
transgrediu a aliança do Senhor, e fez uma loucura em Israel.
Josué 7:15

Todavia, a morte reinou desde o tempo de Adão até o de Moisés, mesmo sobre aqueles que não cometeram
pecado semelhante à transgressão de Adão, o qual era um tipo daquele que haveria de vir.
Romanos 5:14

Pecado também relaciona-se com maldade e traz consigo a conotação de “malícia”,


“maldade”, “iniquidade” e, no plural, designa “atos maliciosos”.

Pois do interior do coração dos homens vêm os maus pensamentos, as imoralidades sexuais, os roubos, os
homicídios, os adultérios, as cobiças, as maldades, o engano, a devassidão, a inveja, a calúnia, a arrogância e a
insensatez.
Marcos 7:21,22

Pecado ainda está relacionado com aquilo que é falso: “passo em falso”,
“transgressão” e “pecado”. E, por fim, pecado também relaciona-se com “injustiça”,
“erro”, “injustiça” e “impiedade”.

Novamente pergunto: Acaso tropeçaram para que ficassem caídos? De maneira nenhuma! Ao contrário, por causa
da transgressão deles, veio salvação para os gentios, para provocar ciúme em Israel.
Romanos 11:11.

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COMEÇANDO
DO “COMEÇO”

O estado de inocência

Antes de analisarmos a Queda e o Pecado em si, vejamos o estado em que o homem


se encontrava antes destes acontecimentos. Esse conhecimento é extremamente
valioso porque somente de posse dele poderemos compreender a gravidade da
miséria trazida pelo pecado.

O ambiente do homem antes da Queda

Ora, o Senhor Deus tinha plantado um jardim no Éden, para os lados do leste; e ali colocou o homem que formara.
O Senhor Deus fez nascer então do solo todo tipo de árvores agradáveis aos olhos e boas para alimento. E no
meio do jardim estavam a árvore da vida e a árvore do conhecimento do bem e do mal. [..] O Senhor Deus colocou
o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivá-lo.
Gênesis 2:8,9,15

A partir desses três versículos é possível temos um ponto de partida para imaginar
como era esse ambiente. Existem várias teorias a respeito da condição do homem
pré-Queda, mas o que temos perceber é que o lugar em que ele habitava está
totalmente consoante, relacionado com a expressão divina “viu Deus que era bom”.

Essa expressão implica uma coisa interessante: quando o texto nos informa que Deus
considerou sua criação “boa”, está nos dizendo que Ele compara-a com Si mesmo,
isto é, o ponto de partida para a análise é o próprio Deus. E é nesse ambiente que
Deus coloca o primeiro casal.

O Jardim

Há variadas teorias sobre como era, de fato, o Jardim. Esse assunto foi bastante
debatido desde os primeiros séculos, de forma que, na história - e em especial no
período em que viveu Santo Agostinho - havia três vertentes principais:

1. Literal, que acreditava que o Jardim era um lugar de fato com a Bíblia Sagrada
o descreve;

2. Espiritual, que acreditava que o relato era alegórico com o fim de criar a
imagem de um ambiente feliz e agradável;

3. Uma variação da primeira, que acreditava na literalidade misturada com


aspectos místicos e simbólicos;

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A partir do relato bíblico, entretanto, é possível compreender a literalidade do relato
do Gênesis. A Bíblia apresenta o Jardim como sendo cortado por rios e possuindo em
sua área duas árvores: a árvore da vida e a árvore do conhecimento do bem e do mal.

Disse Deus: "Eis que lhes dou todas as plantas que nascem em toda a terra e produzem sementes, e todas as
árvores que dão frutos com sementes. Elas servirão de alimento para vocês. E dou todos os vegetais como
alimento a tudo o que tem em si fôlego de vida: a todos os grandes animais da terra, a todas as aves do céu e a
todas as criaturas que se movem rente ao chão". E assim foi.
Gênesis 1:29,30

Até então, não foi dada ao homem nenhuma palavra de restrição quanto ao que
comer. Quando Deus o planta o Jardim no Éden, entretanto, Ele coloca o homem para
guardá-lo.

O Senhor Deus fez nascer então do solo todo tipo de árvores agradáveis aos olhos e boas para alimento. E no
meio do jardim estavam a árvore da vida e a árvore do conhecimento do bem e do mal.
Gênesis 2:9

As duas árvores

Então disse o Senhor Deus: "Agora o homem se tornou como um de nós, conhecendo o bem e o mal. Não se
deve, pois, permitir que ele também tome do fruto da árvore da vida e o coma, e viva para sempre".
Gênesis 3:22

A árvore da vida

Depois de expulsar o homem, colocou a leste do jardim do Éden querubins e uma espada flamejante que
se movia, guardando o caminho para a árvore da vida.
Gênesis 3:24

Em parte, a proibição serve como castigo para a raça humana. Por outro lado,
entretanto, Deus priva o homem para não permitir que ele viva eternamente
em miséria, pois está caído. Dessa forma, percebe-se que também serve como
graça.

Essa árvore só aparece no relato de Gênesis (Gn 2:9, Gn 3:22-24) e


Apocalipse (Ap 2:7; Ap 22:2,19) e, em cada uma das citações do Apocalipse,
é possível encontrarmos três características de sua natureza.

Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao vencedor darei o direito de comer da
árvore da vida, que está no paraíso de Deus.
Apocalipse 2:7

● A árvore proporciona vida sem fim;

● A árvore proporciona alimento e cura para as nações;

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● A árvore serve como herança e recompensa para os que vencerem;

Teria o homem comido dessa árvore antes de pecar? Provavelmente não. Se


tivesse, presume-se que viveria eternamente em santidade.

A árvore do conhecimento do bem e do mal

Trata-se de uma árvore literal (Gn 2:8,17 e Gn 3:5-6,11-13) pois em nenhum


momento a Bíblia fala da possibilidade de um registro alegórico e fantasioso
do relato de Gênesis.

O “bem” e o “mal” da árvore não eram inerentes à sua natureza, mas


dependiam da relação do homem para com ela: caso o homem não comesse
do fruto, isso seria um grande bem, se comesse, um grande mal. O
“conhecimento” não indica a capacidade de reconhecer o erro, mas sim de
experimentar o mal na prática.

O homem como ser responsável

Desde que foi criado, o homem foi imbuído de responsabilidades diante de Deus, de
si mesmo e do próximo em alguns aspectos específicos. O homem sempre foi
responsável, pois foi criado com senso de responsabilidade:

1. Quando Deus cria o homem, Ele também faz o Jardim e coloca sobre ele a
responsabilidade, autoridade e capacidade para guardar e lavrá-lo;

2. No desenvolvimento de uma comunhão ininterrupta com Deus, de certo que o


homem recebia orientações diariamente do Criador. Isso evidencia que, desde
sempre, o homem é um ser capaz de se relacionar, o que implica
responsabilidade;

3. Diante de todos os direitos que tinha e todas as orientações maravilhosas que


estavam à sua disposição, Deus só havia apresentado ao homem uma
exigência: não comer do fruto proibido.

O tentador do primeiro homem

É verdade que o tentador não é identificado na narrativa da Queda presente em


Gênesis (Gn 3:1), de forma que é somente em Apocalipse que o título de serpente é
atribuído a Satanás.

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O grande dragão foi lançado fora. Ele é a antiga serpente chamada diabo ou Satanás, que engana o mundo todo.
Ele e os seus anjos foram lançado à terra.
Apocalipse 12:9

A Bíblia descreve a serpente como o mais astuto de todos os animais. Este


certamente é um ponto complexo, pois levanta a seguinte pergunta: o que a Bíblia
quer dizer com “astuto”, uma vez que a criação não havia sido tocada pelo pecado?

O texto dá a entender que esse era um animal mais desenvolvido, inclinado à astúcia
pois Deus assim o criara. Essa astúcia não se dá na forma de maldade, mas sim
numa capacidade superior. Satanás então se aproveita dessa capacidade superior
para tentar a mulher.

Devemos atentar para a equilibrada sentença de Chaffer sobre o assunto: “As


questões renais entre Deus e Satanás pertencem a outra esfera da existência que
não pode ser incorporada nos registros da história humana a esta altura, sem
complicar a simplicidade da narrativa da queda do homem”. Devemos ir até onde o
texto nos informa.

O que receio, e quero evitar, é que assim como a serpente enganou Eva com astúcia, a mente de vocês seja
corrompida e se desvie da sua sincera e pura devoção a Cristo.
2 Coríntios 11:3

Panorama da Queda

1. O homem e a mulher são criados fora do Jardim;

2. Eles são colocados dentro do Jardim;

3. Dentro do Jardim estão as duas árvores, da Vida e do Conhecimento do Bem


e do Mal. Eles estavam proibidos de comer do fruto da última;

4. Deus avisou que se dela comessem, morreriam;

5. A serpente, negando a palavra de Deus, afirma que, se comessem, seriam


iguais a Deus;

6. A mulher comeu primeiro, deu do fruto a seu marido e, ao comer, morreram e


foram expulsos do Jardim;

Ele respondeu: "Vocês não leram que, no princípio, o Criador ‘os fez homem e mulher’ e disse: ‘Por essa razão, o
homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne’?
Mateus 19:4,5

O próprio Jesus trata do relato de Gênesis como algo que ocorreu de fato, isto é, um
acontecimento real e não simbólico.

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A origem do pecado

Há duas razões pelas quais o problema do mal é um dos temas mais tratados e de
maior complexidade em toda a história da humanidade: o poder do mal é forte e sua
presença, universal. Trata-se de uma doença sempre presente na vida em todas as
suas manifestações desde o primeiro homem.

O tema da origem do mal é extremamente debatido por teólogos e filósofos. Quanto


a isso, há duas correntes principais que divergem entre si:

1. Os que veem o mal como parte integrante da vida, isto é, não tem como
separar: é inerente ao homem.

2. Os que veem o mal como tendo uma origem voluntária e consciente, que
originou-se a partir da livre escolha do próprio homem nesta vida ou numa
anterior.

Conceitos históricos

Os pais da Igreja

Estes são os homens que vieram logo após o período apostólico e foram
responsáveis pela manutenção da doutrina dos apóstolos em frente a heresias
e perseguições.

Esse assunto foi pouco debatido entre os pais da igreja, mas eles criam que o
pecado teve sua origem dentro do espaço e do tempo, na desobediência do
primeiro casal. Irineu defendeu essa ideia, que tornou-se predominante na
igreja, principalmente para protegê-la do gnosticismo.

Orígenes, outro grande homem do período, tentou manter a ideia do pré-


existencialismo, afirmando que os homens pecaram numa esfera anterior a
esta: uma ideia filosófica platônica, mas que vem carregada de uma série de
dificuldades de crença, resultando em seu abandono e retomada apenas nos
séculos XVIII e XIX.

Os pais da igreja são divididos entre a igreja grega, que, no século III e IV eram
mais inclinados a reduzir a responsabilidade de Adão, e a igreja latina, que
defendia o estado de pecado do homem como resultado da transgressão
voluntária e consciente de Adão.

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Filósofos

Kant Leibniz Schleiermacher Nietzsche

A ideia do mal é A origem do mal O mal tem sua A origem do mal


pertencente a se deve às origem na está na
uma esfera necessárias natureza do ignorância do
super-racional limitações do sentimento do homem
universo homem

Reformadores

Santo Agostinho, Bispo de Hipona, defendia que o pecado tem sua origem na
queda por causa da desobediência do homem ao mandamento de Deus. O
raciocínio agostiniano ocupou lugar de destaque na teologia dos reformadores.

O que a Bíblia nos revela

Deus não é o autor do pecado (Jó 34:10). O pecado originou-se no mundo


angélico (Jo 8:44; I Jo 3:8; I Tm 3:6; Jd 1:6), e sua origem entre os homens se
deu por meio de dois pontos:

1. Teve início na transgressão de Adão no paraíso;

2. O tentador veio do mundo dos espíritos sugerindo ao homem que se


colocasse em oposição a Deus para, então, tornar-se semelhante a Ele.
Diante disso, Adão desobedeceu ao Senhor, passando a transferir sua
realidade caída a seus descendentes (Jó 14:4; Rm 5:12,18,19).

A tentação do primeiro homem

O relato da tentação está em Gênesis 3:1-17. O discurso da serpente é aberto


apresentando uma possível injustiça de Deus, distorcendo a verdade e a Palavra do
Altíssimo. Satanás modifica o sentido das palavras de Deus, buscando diminuir Sua
autoridade.

É importante destacar que essa ambição de tornar-se semelhante a Deus foi o pecado
original de Lúcifer. Esse é o começo do pecado: vaidade. A raiz do pecado está na
busca desenfreada por glória e poder, isto é, no desejo de ser o que não é.

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Subirei mais alto que as mais altas nuvens; serei como o Altíssimo".
Isaías 14:14

A tríplice tentação de Jesus

1. Transformar pedras em pães: Satanás toca naquilo em que o Jesus homem


estava fragilizado. Ele coloca em cheque a palavra de Deus, e Jesus evoca a
autoridade de Sua palavra para rebatê-lo.

2. Adorar a Satanás: na verdade, o mundo hoje está em partes sob o domínio de


satanás, embora isso aconteça sob o propósito de Deus e para seu
cumprimento.

3. Lançar-se em busca de proteção divina: Satanás tenta apelar para vaidades e


prepotência, porém Jesus diz “vai-te, Satanás”.

A serpente

A queda foi ocasionada pela serpente que semeou na mente da mulher duas
sementes: desconfiança e descrença. Esse fato levanta a seguinte pergunta: por que
a serpente tentou primeiro a Eva e não a Adão?

● Porque não era Eva quem exercia a chefia da aliança;

● Eva não recebeu diretamente as instruções de Deus;

● A mulher seria o instrumento mais eficiente para alcançar o coração de Adão;

Muito se discute se essa serpente era literal ou simbólica. O relato de Gênesis 3:1-7
apresenta-nos uma história pura, simples e narrada, de forma que não há razão para
que essa seja uma criação fantasiosa.

Caso a serpente fosse uma imagem simbólica, não haveria necessidade da precisão
do relato como algo literal. Além disso, a serpente é apresentada como animal nos
versículos 14 e 15 - a sentença da serpente - de forma que o evento foi, de fato, um
acontecimento concreto.

O que receio, e quero evitar, é que assim como a serpente enganou Eva com astúcia, a mente de vocês seja
corrompida e se desvie da sua sincera e pura devoção a Cristo.
2 Coríntios 11:3

O apóstolo Paulo utiliza o exemplo do engano da serpente como algo concreto e


histórico. A própria escritura dá a entender que a serpente foi um instrumento usado
por Satanás, pois há várias situações onde ele exerce domínio sobre criaturas:

17
"Vocês pertencem ao pai de vocês, o diabo, e querem realizar o desejo dele. Ele foi homicida desde o princípio e
não se apegou à verdade, pois não há verdade nele. Quando mente, fala a sua própria língua, pois é mentiroso e
pai da mentira.
João 8:44

Em breve o Deus da paz esmagará Satanás debaixo dos pés de vocês. A graça de nosso Senhor Jesus seja com
vocês.
Romanos 16:20

O grande dragão foi lançado fora. Ele é a antiga serpente chamada diabo ou Satanás, que engana o mundo todo.
Ele e os seus anjos foram lançado à terra.
Apocalipse 12:9

18
A QUEDA

O estudo da Queda

Quando se fala da doutrina da Queda ou do pecado, somos colocados diante do


assunto da morte. A morte é a manifestação máxima da queda do homem, e se
manifesta em vários aspectos, não apenas físicos. Também chamada de Lapso, o
assunto da queda deve ser estudado à luz de duas realidades:

● O que a precede: a inocência, o tentador, a tentação;

● O que a sucede: a morte física, espiritual e a depravação da raça;

A penalidade da Queda

Após a Queda, a penalidade foi executada e a morte se manifestou em sua tríplice


forma:

Morte Espiritual Morte Física Segunda Morte

Separação a alma e o Processo de desintegração e Lago de fogo que é a


Espírito de Deus eventual separação da alma separação eterna da
e o espírito do corpo alma e o Espírito de Deus

Nota importante: o lago de fogo foi preparado para o diabo e seus anjos, e não para
o ser humano. Entretanto, os seres humanos entraram nesse processo somente
porque repudiaram a Deus e participaram com Satanás e seus anjos de sua sorte.

O processo da Queda

De acordo com o relato de Moisés e a explicação de João, o processa da Queda se


deu em três esferas:

19
Concupiscência da Carne Concupiscência dos Olhos Soberba da Vida

Olhou, viu que a árvore era Um amor desordenado, Amor impuro,


boa para se comer: desejo desejo daquilo que é curiosidade
ardente de um apetite meramente belo e atraente inalcançável que
irregular e um desejo ilegal com o desejo ardente de alavancaria para
posse do que enriquece a aquilo que Deus havia
magnífica. escondido, ambição
de poder acima do
que é devido, ser igual
a Deus,
independentes de
Deus

O processo do pecado

Eva Adão

● Desejo Mal ● Não foi enganado como Eva


● Ato Mal ● Seguiu o exemplo de Eva
● Concupiscência ● Fez com os olhos abertos
● Pecado ● Fez com total consciência

Morte Espiritual

Tanto a morte espiritual quanto a física - embora distintas em caráter e alcance -


possuem sua origem no pecado do primeiro homem. É possível que haja homens
mortos espiritualmente mas que, fisicamente, estão vivos (Ef 2:1-2, 1Tm 5:6)

A Bíblia afirma que o pecado tornou o homem inimigo de Deus. É preciso entender
que o homem, quando peca e entra no estado de morte espiritual, encontra-se num
estado diferente daquele em que foi criado.

Quando cometeu o seu primeiro pecado, Adão experimentou um total rebaixamento


de nível: tornou-se degenerado e depravado. Basicamente, isso significa que ele
desenvolveu dentro de si uma natureza caída que é contrária a Deus e está sempre
disposta para o mal.

20
O ato mal e a natureza má

Quando Adão comete o primeiro pecado, ele pratica o ato em si, mas ainda não possui
a natureza do mal. Ao pecar, entretanto, ele torna-se depravado, contraindo para si a
natureza caída que passa a ser transferida de maneira hereditária.

Por mais que estudemos o assunto, entretanto, não é possível atingirmos uma
compreensão conclusiva e esgotada do significado e extensão da morte espiritual,
uma das consequências do Lapso.

Mas se o nosso evangelho está encoberto, para os que estão perecendo é que está encoberto. O deus desta era
cegou o entendimento dos descrentes, para que não vejam a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem
de Deus.
2 Coríntios 4:3,4

Pois ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado,
Colossenses 1:13

Sabemos que somos de Deus e que o mundo todo está sob o poder do Maligno.
1 João 5:19

Pouco se fala da vida de Adão após a Queda, mas pode-se imaginar que ele tenha
vivido uma vida comum a um ser humano caído. O que temos de informação nas
Escrituras é que, após o pecado, os homens encontraram-se envergonhados, dando
a entender que houve uma mudança radical em sua própria constituição.

Depravação Total

Até que ponto o pecado afetou a constituição do homem? Em que nível seus sentidos
foram afetados? Em que aspecto? O homem é recuperável? Se sim, a partir do que?
É preciso uma compreensão desse assunto, inclusive até que ponto a imagem de
Deus no homem está comprometida por causa do pecado.

A Bíblia é muito clara ao tratar sobre a depravação total da raça humana. Claro que
isso refere-se ao homem distante de Deus, embora que, mesmo com Deus, a
natureza caída permanece no homem, mas com a ação do Espírito Santo que auxilia
o cristão em sua constante transformação.

1. A depravação total refere-se ao homem sem Deus. Isso não significa que o
homem que vive com Deus por meio de Cristo esteja totalmente recuperado,
mas sim que o homem sem Deus está totalmente entregue a este estado de
depravação total;

21
2. O homem alcançado pelo Espírito Santo passar por um processo onde o
Espírito vai gerar nele a transformação: aqui há a regeneração, isto é, o
recebimento na nova natureza;

Esse tema cumpre um dos principais objetivos do evangelho: ofender. O evangelho


comunica não apenas o que Cristo trouxe, mas também revela o estado de pecado
em que o homem se encontra. É nesse contraste entre Deus e o homem que há a
ofensa.

Duas formas de olhar

O Olhar Humano - dizer que não há algo bom no homem é errado. Como muitos
gostam de afirmar: “Nenhum ser humano é tão desgraçado que não haja algo de bom
nele”.

O Olhar Divino - o homem é sem mérito à vista de Deus.

Quando a Bíblia aponta o estado de depravação em que o homem se encontra, ela


abre uma porta para que aprendamos a valorizar de maneira mais profunda o plano
da salvação e o quão acentuada é a graça que opera no homem - não somente no
perdão dos pecados, mas também na comunicação da nova natureza.

Anteriormente, todos nós também vivíamos entre eles, satisfazendo as vontades da nossa carne, seguindo os
seus desejos e pensamentos. Como os outros, éramos por natureza merecedores da ira.
Efésios 2:3

"Vocês pertencem ao pai de vocês, o diabo, e querem realizar o desejo dele. Ele foi homicida desde o princípio e
não se apegou à verdade, pois não há verdade nele. Quando mente, fala a sua própria língua, pois é mentiroso e
pai da mentira.
João 8:44

A Bíblia é muito clara em destacar o grande mal e a extensão do mesmo, causado


pelo pecado do homem (Gn 5:5-31; 6:5 em contraste com Gn 1:31). Leiamos ainda:
Jó 14:4, 15:14; Sl 51:5; Ec 7:20,29; Is 1:4-6; Mc 7:15,20-23; Rm 3:9-18; Gl 5:19-21;
Tg 1:13-15.

O grande filósofo Aristóteles afirma “Parece que há alguma outra coisa além da razão
natural para nós que luta contra a razão e que se opõe a ela, e exatamente como os
membros do corpo quando, sob paralisia, vão para a esquerda quando deveriam ir
para a direita, assim é a alma”

A compreensão do significado de depravação total envolve alguns pontos:

● Culpa original: a relação entre o pecado e a justiça;

22
● A penalidade da Lei: o pecado trouxe consigo capacidade de gerar na
consciência do homem o sentimento de culpa;

Atentar-se a esses fatores auxilia-nos a compreender a natureza gloriosa da obra da


salvação preparada desde antes da fundação do mundo. Pois é na justificação que
somos retirados da condição de réus e condenados.

Mas para vocês que reverenciam o meu nome, o sol da justiça se levantará trazendo cura em suas asas. E vocês
sairão e saltarão como bezerros soltos do curral.
Malaquias 4:2

A corrupção original

Há quem diga que o pecado não é pecado de fato, mas apenas uma moléstia. Mas a
Bíblia certamente trata-o como mal, transgressão, violação dos limites que Deus
estabeleceu para os homens. Essa corrupção original é pecado de fato, e ofende a
santidade de Deus.

O que não é depravação total

1. A depravação total não significa que o homem não possa nutrir nenhuma forma
de afeto: a depravação atingiu a capacidade do homem de se relacionar, mas
não em sua totalidade;

2. Não significa que o homem não tenha conhecimento inato de Deus;

3. Não significa que homem é tão depravado quanto poderia ser, mas sim que
todas as suas faculdades foram afetadas;

O que é a depravação total

1. A depravação total atinge todas as esferas da vivência humana;

2. A espiritualidade também foi tocada, mas não a ponto de o homem não poder
se relacionar com Deus;

A universalidade do pecado

A universalidade do pecado é evidenciada a partir do testemunho das religiões e da


história da filosofia. O estudo dessas disciplinas demonstrará que existe um fator

23
presente no homem que apresenta a falta de um ser superior. Essa ideia é natural e
inerente aos homens.

O relato da Bíblia Sagrada revela-nos que o pecado é universal, e diz respeito a todos
os homens. O ser humano é caído desde o nascimento, sendo concebido em pecado
e contaminados por sua maldição (1Rs 8:46; Sl 143:2; Pv 20:9; Ec 7:20; Rm 3:1-
12,19,20,23; Gl 3:22; Tg 3:2;1 Jo 1:8,10).

Como pode então o homem ser justo diante de Deus? Como pode ser puro quem nasce de mulher?
Jó 25:4

Sei que sou pecador desde que nasci, sim, desde que me concebeu minha mãe.
Salmos 51:5

O que nasce da carne é carne, mas o que nasce do Espírito é espírito.


João 3:6

Anteriormente, todos nós também vivíamos entre eles, satisfazendo as vontades da nossa carne, seguindo os
seus desejos e pensamentos. Como os outros, éramos por natureza merecedores da ira.
Efésios 2:3

A natureza do pecado

Em linhas gerais, o pecado do homem constitui-se em ele comer do fruto proibido, a


desobediência do homem que se rebelou contra a ordem de Deus. A fonte do erro é:

1. O homem erra porque, ao comer do fruto desobedecendo suas ordens, ele se


posiciona contra Deus, opondo-se a Ele;

2. Ao se opor a Deus, o homem recusa-se a se submeter à vontade de Deus;

3. O homem, quando peca, busca ter o controle das coisas no lugar de Deus;

A santidade de Deus é o padrão único pelo qual os valores morais podem ser julgados
com exatidão. Nesse caso, a transgressão é pecaminosa porque ela é contrária a
Deus e Sua santidade.

Declaração do Catecismo Maior de Westminster: “Pecado é qualquer falta de


conformidade com a lei de Deus, ou a transgressão de qualquer lei por Ele dada como
regra, à criatura racional”

Dimensão do pecado

24
É fundamental fazermos uma análise a respeito do alcance que o pecado teve, pois
somente assim poderemos perceber a seriedade do assunto.

1. O primeiro pecado no Céu

1.1. Fez o maior dos anjos cair de seu estado e perder seu status, glória e
honra que Deus havia lhe dado;
1.2. Levou consigo um grande número de anjos menores;
1.3. Esses anjos caídos tornaram-se demônios;
1.4. Esse primeiro pecado mostra que não há uma redenção preparada para
eles;
1.5. Nos mostra que todos os demais pecados e suas consequências têm
início neste ato pecaminoso;

2. O primeiro pecado do homem

2.1. Esse primeiro pecado é a segunda demonstração da terrível natureza


da da transgressão;
2.2. Esse pecado fez com que o cabeça natural da raça caísse consigo
2.3. Esse pecado causou sofrimento imensurável, tristeza e a morte da raça;
2.4. As suas consequências terão sua consumação máxima nos “Ais
eternos”;

3. A morte de Cristo

3.1. Cristo suportou a penalidade do pecado do mundo;


3.2. No Calvário, o pecado foi medido e sua maldade revelada a anjos e
homens;
3.3. Deus é justo juíz de tudo que é mal e executor da penalidade que Seus
justos juízos devem impor;
3.4. Deus é em Si mesmo o padrão de santidade, e Seu caráter é o que
determina a malignidade do pecado;

Mal e Pecado

Mau pode se referir àquilo que, embora aparente ou não, é sempre considerado o
oposto ao que é bom, enquanto que o pecado é aquilo que é concreto e ativamente
oposto ao caráter de Deus.

A permissão divina do pecado

25
Deus permite o mal? Até que ponto essa afirmação é verdadeira? Não há dúvida de
que a presença do pecado no mundo acontece porque Deus o permite:

1. O pecado serve para algum propósito divino (Ciro e Faraó);


2. Caso não houvesse propósito, Deus não o permitiria;
3. O propósito do pecado não nos é revelado;
4. Embora seja Sua vontade, Deus não é cúmplice do mal (Jó 1:11, 2:3);

Chafer apresenta-nos sete razões pelas quais Deus permite a presença e a realidade
do pecado. Vejamos:

1. O reconhecimento divino da livre escolha da criatura


2. O valor específico dos seres redimidos
3. A aquisição do conhecimento divino
4. A instrução dos anjos (Ef 3:19; IPe 1:12)
5. A demonstração do ódio divino ao pecado (Rm 9:22)
6. Os julgamentos justos de todo mal
7. A manifestação e o exercício da graça divina

Uma análise negativa do pecado

● O pecado não é um acidente (Rm 5:12);


● Mera debilidade humana, da qual a criatura não é responsável (Jr 17:9);
● Não é apenas imaturidade (I Jo 3:4);

A natureza do pecado

Mullins declara: “No Novo Testamento, Jesus retratou a vida humana ideal como a
vida de comunhão com Deus. O pecado é a falta dessa comunhão. Jesus localiza a
fonte do pecado no íntimo dos homens. O pensamento pecaminoso, em sua
qualidade, é igual ao ato realizado. Dessa maneira, Jesus aprofundou muito o senso
de culpa. O padrão elevadíssimo de Sua própria vida tornou-se a medida da
obrigação humana, e, ao mesmo tempo o critério do julgamento contra o pecado e a
culpa”

Cristo é o padrão ideal, o homem perfeito e o alvo maior. Ele deixa claro que a pureza
e santidade não está apenas no que se vê, no que se pratica e deixa de praticar, mas
também está relacionada à mente e ao desejo (Rm 12:2).

26
Que o próprio Deus da paz os santifique inteiramente. Que todo o espírito, alma e corpo de vocês seja conservado
irrepreensível na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.
1 Tessalonicenses 5:23

O que o pecado de fato é:

● Estar destituído da glória de Deus (Rm 8:23 8:3-4)


● Omissão do dever (Tg 4:17)
● Declínio espiritual (Jr 14:7 Is 59:1-2)

O pecado pessoal

Objetivamente, por pecado pessoal entendemos certa forma de pecado que se origina
com uma pessoa e é cometido por ela mesma. Assim sendo, a pessoa é a grande
responsável pelo ato, sendo ele gerado por ação externa ou não. Essa designação
inclui tanto o pecado dos anjos quanto dos homens. O pecado pessoal ocupa grande
parte do relato Bíblico, o que demonstra o quão grande e trágico é esse mal.

É importante destacar que o primeiro pecado é de onde procedem todas as outras


formas de pecado, de forma que é por meio do pecado individual que as portas se
abriram para todos os outros tipos de pecado.

A origem do pecado

Numa análise panorâmica dos principais teólogos sobre o assunto, as teorias podem
ser assim divididas:

a) A teoria da necessidade: propõe que o pecado é algo sobre o qual Deus não
tem autoridade;

b) A filosofia da dualidade: essa teoria procede dos chamados maniques,


desenvolvida por Mani, nascido em 215 d.C., e defende a existência de duas
divindades, uma boa e uma má, e por isso ambas têm estado no universo, o
que explica luz e trevas, alma e corpo, bem e mal;

c) Deus como o autor do pecado: é fruto da interpretação maldosa da doutrina do


decreto divino, mas o que vemos em toda a Bíblia, os homens são
responsáveis por sua conduta má;

d) Abuso da liberdade moral: concluindo, o que a Bíblia nos ensina é que o


pecado pessoal é resultado do abuso da liberdade moral;

É importante ressaltar que a previsão eterna do pecado através do mistério da


presciência de Deus não o torna autor do pecado, uma vez que o conhecimento prévio
da entrada do mal na realidade não significa o início da transgressão em si. Deus

27
existe por si mesmo, enquanto que o mal não. O mal apresenta um caráter transitório,
isto é, não-eterno.

A revelação que a Bíblia Sagrada traz acerca da santidade de Deus já é suficiente


para provar que nenhuma forma de pecado pode ter precedência divina. Assim
sendo, foi a própria criação dos anjos e dos homens que criou a possibilidade do mal.
Semelhantemente, não devemos considerar que Deus tenha sido pego de surpresa
ou que Ele tenha perdido alguma batalha contra o mal.

Todos os habitantes da terra adorarão a besta, a saber, todos aqueles que não tiveram seus nomes escritos no
livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a criação do mundo.
Apocalipse 13:8

O primeiro pecado concreto cometido no céu

A grandeza da malignidade do pecado pode ser percebida à partir da natureza original


daquele que primeiro pecou:

1. A Bíblia Sagrada nos informa de um tempo que antecede o nosso;

2. O conteúdo bíblico vai além do que é possível encontrar em nossa realidade;

3. Dentre essas revelações, a Bíblia nos informa daquilo que parece ter sido o
primeiro pecado cometido na história: o pecado de Lúcifer;

4. Esse pecado foi cometido no Céu pelo mais elevado dos anjos, que além de
ter causado dano às suas esferas, o fez à esfera humana:

4.1. A compreensão disso depende da revelação;

4.2. Existe diferença entre homens e anjos;

A revelação de Ezequiel

Veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: Filho do homem, levanta uma lamentação sobre o rei de Tiro, e dize-
lhe: Assim diz o Senhor DEUS: Tu eras o selo da medida, cheio de sabedoria e perfeito em formosura. Estiveste
no Éden, jardim de Deus; de toda a pedra preciosa era a tua cobertura: sardônia, topázio, diamante, turquesa,
ônix, jaspe, safira, carbúnculo, esmeralda e ouro; em ti se faziam os teus tambores e os teus pífaros; no dia em
que foste criado foram preparados. Tu eras o querubim, ungido para cobrir, e te estabeleci; no monte santo de
Deus estavas, no meio das pedras afogueadas andavas. Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que
foste criado, até que se achou iniqüidade em ti.
Ezequiel 28:11-15

A partir desse trecho devemos considerar alguns pontos:

1. A pessoa referida como rei de Tiro é evidentemente de natureza angelical;

2. No aspecto secundário, esse título é atribuído ao rei humano de Tiro;

28
3. Como quase tudo atribuído a esse rei é sobrenatural, entendemos que a
referência primária é ao ser angelical;

4. Esse “mais elevado dos seres” aparece na Bíblia com cerca de 40 títulos
diferentes que revelam sua pessoa e seu caráter;

5. Nos primeiros 10 versos do capítulo é possível ver o “super-homem” de


Satanás, que é o homem do pecado (Ts 2:3-4; Mt 24:15; Ap 13:5-8);

6. Observamos que é o próprio Deus que se dirige a esse ser como o rei de Tiro
e o descreve em todas as suas características sobrenaturais;

7. É Jeová quem lamenta sobre esse grande anjo. Esse lamento significa uma
angústia extrema acompanhado de um bater no peito;

8. Jeová chama esse ser de o “sinete da perfeição”, um ser cheio de sabedoria e


perfeito em beleza. Ele havia estado no Éden, o jardim de Deus, em que se
cobria de todas as pedras preciosas;

9. Esse ser pertence à ordem dos querubins, companhia de anjos que parece ser
encarregada da proteção da santa presença de Deus;

10. Essa passagem revela o caráter exaltado de um ser celestial e indica o fato de
seu pecado;

11. O contexto ainda lança luz sobre o pecado em si, bem como sobre o
julgamento de Deus que deve acontecer;

A natureza do primeiro pecado

Inspirado pelo Espírito Santo, o profeta Isaías teve uma visão apurada acerca da
natureza do pecado de Satanás:

Como você caiu dos céus, ó estrela da manhã, filho da alvorada! Como foi atirado à terra, você, que derrubava as
nações!Você que dizia no seu coração: "Subirei aos céus; erguerei o meu trono acima das estrelas de Deus; eu
me assentarei no monte da assembléia, no ponto mais elevado do monte santo. Subirei mais alto que as mais
altas nuvens; serei como o Altíssimo".
Isaías 14:12-14

A expressão “caiu dos céus” demonstra a identidade de Lúcifer, o que ele perdeu e a
verdade de seu julgamento vindouro. Há cinco aspectos particulares acerca do
pecado de Lúcifer:

29
1. Deus permitiu que o propósito de Satanás fosse colocado sob teste
experimental para que pudesse ser julgado mais perfeitamente

2. O que Lúcifer foi e poderia ter sido evidencia o fato de ele ter caído de seu
propósito;

3. O que Satanás operou foi a mentira, sobre a qual ele possui autoria;

4. Isso esteve escondido desde sempre em seu coração. Todos os seres


humanos, quando agem independentemente, não preocupados em cumprir os
propósitos divinos para eles estabelecidos, caem no mesmo pecado, e seu
destino é o mesmo (Ap 20:10-15);

O primeiro pecado concreto cometido por um ser humano na Terra

O pecado originou se nas esferas celestiais. Através de seu pecado, entretanto, o


homem tornou-se a porta de entrada pela qual o pecado entrou neste mundo (Gn 3:1-
19; Rm 5:12)

1. O pecado é depravado porque se opõe ao caráter santo de Deus;

2. O pecado exige juízo, porque é uma terrível oposição à pessoa e à Lei de


Deus;

3. Visto que Deus é infinito e Sua sua vontade, ilimitada, o pecado é infinito e o
seu caráter mau está além da compreensão humana;

Por que não subestimar o pecado

1. Negligenciar o caráter maligno do pecado é desconsiderar os termos explícitos


empregados na Bíblia para caracterizá-lo;

2. Seria contradizer, em maior ou menor grau, o caráter santo de Deus;

3. Fazer isso seria corromper a concepção correta da culpa humana;

4. Fazê-lo é desconsiderar a santidade e autoridade da palavra de Deus;

5. Torna a inevitável reprovação divina do pecado um julgamento externo e


desautorizado;

6. Subestimar o caráter do pecado é tornar os grandes fatos da redenção,


reconciliação e propiciação desnecessários;

7. Isso é não levar em consideração a única razão suficiente para a morte de


Cristo;

30
A malignidade do pecado

Que o pecado é mal, disso não temos nenhuma dúvida. Entretanto, do ponto de vista
bíblico, quais seriam as principais provas desta verdade? É possível encontrar nas
Sagradas Escrituras três grandes provas da malignidade do pecado:

1. Prova angelical

1.1. Um importante anjo cometeu o pecado;


1.2. O seu pecado foi repetido pelos homens no que diz respeito à ambição
ímpia;
1.3. Esse anjo tornou-se inimigo eterno de Deus;
1.4. Ele arrastou a terça parte dos anjos consigo;
1.5. Para ele não há mais esperança para ele por toda a eternidade;

2. Prova humana

2.1. O primeiro dentre os homens criados cometeu um pecado;


2.2. De acordo com a avaliação divina, esse pecado foi mal a ponto de
degenerar e depravar a toda a raça humana;
2.3. Esse pecado provoca sofrimento na carne e morte à sua posteridade;
2.4. Resulta na condenação eterna;

3. Prova divina

3.1. O filho de Deus sofreu em grau infinito, morrendo na cruz por causa do
pecado;
3.2. Não houve outro caminho pelo qual esse problema pudesse ser
resolvido;
3.3. Mesmo se houvesse apenas o pecado de Adão, ainda assim o preço
deveria ser pago por Jesus Cristo;

Uma conclusão parcial

Faremos neste ponto uma pequena conclusão dos assuntos tratados até aqui. Para
isso, iremos considerar alguns pontos importantes e que devem sempre estar em
nossa mente.

31
a) Deus criou todas as coisas em perfeitas condições e em seus devidos lugares,
mas o pecado afetou isso diretamente.

b) Judas assemelha os pecadores a “estrelas errantes” (Jd 4,13) - da mesma


forma que todas as coisas criadas devem obedecer ao Criador e ficar em seus
devidos lugares, assim também se exige dos homens, caso queiram desfrutar
a vida eterna, caso contrário, serão punidos eternamente.

c) O pecado é colocado como um aspecto imoral de desobediência, e o que isso


significa realmente para Deus não se pode compreender plenamente.

d) O caráter depravado do pecado é demonstrado de algumas formas: as justas


penalidades impostas. a condenação de Satanás, a transgressão dos homens
não-regenerados, o sofrimentos desta vida.

O princípio básico do mal está basicamente fundamentado na independência total de


Deus. Essa independência se manifesta de várias formas, indicando o caráter amplo
e extenso da malignidade do pecado (Is 53:6; Pv 10:19, 14:21, 24:9; Rm 14:23; Tg
4:17; I Jo 4:4; I Tm 6:10).

Uma análise ampliada

Há um assunto importante que deve ser tratado, porque diz respeito a algo que é
central à doutrina cristã: A distinção entre o estado do coração que impele uma
pessoa a pecar e o ato manifesto do pecado em si.

E dizia: O que sai do homem isso contamina o homem. Porque do interior do coração dos homens saem os maus
pensamentos, os adultérios, as fornicações, os homicídios, Os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a
dissolução, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura.Todos estes males procedem de dentro e contaminam o
homem.
Marcos 7:20-23

Jesus inverte essa ordem ao afirmar que a prática é resultado de um estado do


coração, de forma que não há como impedir o pecado sem a intervenção de Deus.
Adão não possuía essa inclinação, pois ainda não compartilhava da natureza caída.
Em sua vontade, entretanto, ele peca, de forma que, a partir dele, todos os homens
nascem condicionados.

32
Vontade do Uma Dentro dos limites Bases empíricas
homem necessidade da religião

Kant, Coleridge e Schelling, Weisse Schleiermacher, Pfleiderer,


Muller e Hegel Ritschl Tennant

Os dois aspectos do pecado pessoal

a) O pecado contra Deus;

b) O pecado contra a Lei;

Pecado contra Deus Pecado contra a Lei

Impiedade Transgressão

Corrupção Rebelião

Egoísmo Ilegalidade

Uma análise dos termos

Para que haja uma boa compreensão da doutrina do pecado é indispensável o


conhecimento dos termos inerentes a ela e seus significados e desdobramentos.

1) Transgressão - desvio para um lado, ou a ultrapassagem daqueles limites que


Deus estabeleceu

2) Iniquidade - aquilo que é totalmente errado

3) Erro - aquilo que desconsidera o certo ou quando erra o caminho

4) Pecado - o que falta com a verdade, que erra o alvo

5) Perversidade - a produção ou a expressão da natureza maligna, depravação

6) Mal - aquilo que realmente é errado, ao opor-se a Deus

7) Crueldade - a ausência de qualquer temor de Deus

8) Desobediência - indisposição de ser conduzido ou guiado nos caminhos da


verdade

9) Incredulidade - falta de confiança em Deus. A incredulidade aparece como o


único “pecado envolvido” que é um pecado universal

33
10) Rebeldia - o desprezo persistente da lei divina e na violação de todas as
restrições até que o eu fique recompensado a despeito da admoestação divina
(I Jo 3:4-10)

Concluindo

Leiamos o que Dr. A. M. Fairbairn tem a nos dizer sobre o assunto: “O pecado é um
termo religioso. O mal é um termo filosófico, e denota toda condição, circunstância,
ou ato que, em qualquer maneira ou grau, interfere com a perfeição completa ou com
a alegria do ser, seja físico, metafísico ou moral. O mau hábito é um termo ético; é o
mal moral interpretado como uma ofensa contra o ideal ou contra uma lei dada na
natureza do homem: é uma mancha ou nódoa deixada pelo abandono da natureza.
Crime é um termo legal, e denota uma violação aberta ou pública da lei que uma
sociedade ou estado estruturou para a sua própria preservação e para a proteção dos
seus.

O pecado da blasfêmia contra o Espírito Santo

Esse pecado, o único para o qual não há perdão, também está ligado à raiz de todos
os males: o desejo de independência para com Deus. Para se falar desse pecado,
deve-se observar o contexto em que Jesus trata dele: os fariseus, que se diziam
profundos conhecedores das Escrituras, estavam vendo o Cristo operar milagres e
atribuíram esse poder ao diabo.

Isso dá-nos a entender que Jesus afirma que a blasfêmia contra o Espírito Santo é
atribuir ao diabo aquilo que é a obra do Espírito. De acordo com as palavras de Jesus,
isso não oferece chance de perdão.

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