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XI SIMPÓSIO DE ESPECIALISTAS EM PLANEJAMENTO DA

OPERAÇÃO E EXPANSÃO ELÉTRICA

XI SEPOPE XI SYMPOSIUM OF SPECIALISTS IN ELECTRIC OPERATIONAL


17 a 20 de Março 2009
March – 17th to 20th – 2009
AND EXPANSION PLANNING
BELÉM (PA) - BRASIL

Representação de Geradores Eólicos Síncronos com Conversor de Freqüência


por Fontes de Corrente Controladas em um Programa de Cálculo de Curtos-
Circuitos

Sergio P. Roméro* Juan I. Rossi Antonio F. C. Aquino Ricardo D. Rangel Liana N. Levy
CEPEL CEPEL ONS CEPEL CEPEL

RESUMO
O sistema elétrico brasileiro vem recebendo a instalação de um número cada vez maior de novos
parques de geração eólica. Esta tendência deve se intensificar nos próximos anos, fruto da busca
crescente por fontes alternativas de geração. Tal fenômeno acarreta a necessidade de melhorias nas
ferramentas de simulação e análise de redes, de modo a poder contemplar da maneira mais fiel
possível o comportamento destes equipamentos. Para estudos de dimensionamento de equipamentos,
ajuste de proteção etc., é interessante dispor de uma ferramenta de cálculo de curtos-circuitos que
represente corretamente o comportamento destes geradores.
Em especial, a tecnologia que utiliza um gerador síncrono conectado ao sistema através de um
conversor de freqüência, necessita de uma modelagem especial em programas de curto-circuito, pois
seu controle costuma fazer com que este contribua para o curto como uma fonte de corrente. As
demais tecnologias de gerador eólico, baseadas em máquinas assíncronas, podem ser modeladas da
forma convencional com que são representados os geradores síncronos, ou seja, através de uma fonte
de tensão ideal atrás de uma reatância.
Este trabalho apresenta a forma de incorporação dos geradores eólicos com conversor de freqüência no
método geral de solução de um programa de cálculo de curtos-circuitos utilizando uma modelagem
mais próxima do comportamento real do equipamento, ou seja, representando-os durante o curto-
circuito por fontes de corrente controladas. Estas fontes possuem módulo e ângulo de fase calculados
de modo a atender a potência gerada, o fator de potência especificado e o limite de corrente do
conversor, acarretando a necessidade de um processo iterativo, mas sem a necessidade de remontagem
e refatoração da matriz de admitâncias de barra a cada iteração do processo.
Além dos aspectos relacionados à incorporação das alterações necessárias ao método de solução do
programa, são também apresentados neste trabalho resultados da aplicação do método proposto a uma
configuração real do sistema brasileiro. São discutidos os impactos da consideração dos geradores
eólicos nos níveis de curto das barras próximas do ponto de conexão dos parques eólicos considerados.

PALAVRAS CHAVE: Cálculo de Curto-Circuito, Geradores Eólicos, Modelagem de Equipamentos,


Análise de Redes em Regime Permanente, Fontes de Corrente.

* CEPEL - Av. Horácio Macedo 354, Cidade Universitária - CEP:21941-911 - Rio de Janeiro, RJ.
Tel: +55-21-2598-6409, Fax: +55-21-2598-6451, email: spr@cepel.br

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1. Introdução
O Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica – PROINFA é um programa do
Governo Federal, coordenado pelo Ministério de Minas e Energia – MME, que tem como objetivo a
diversificação da matriz energética brasileira e a busca por soluções de cunho regional com a
utilização de fontes renováveis de energia (pequenas centrais hidrelétricas, usinas à biomassa e
centrais eólicas). Em sua primeira fase, o programa promoverá a implantação de 3.300 MW de
capacidade.
Das fontes de energia previstas na primeira fase do PROINFA, a de origem eólica é a que apresenta os
maiores desafios para sua integração ao Sistema Interligado Nacional – SIN, em função das
características inerentes à própria fonte e à utilização de tecnologias de ponta nos geradores eólicos.
Atualmente, há diversas formas de geração de energia elétrica através do vento, em função do tipo de
gerador utilizado e da forma como é realizada sua conexão ao sistema elétrico.
Em relação à conexão das máquinas ao sistema elétrico, existem duas formas básicas para fazê-la:
conexão direta à rede e conexão através de conversores eletrônicos. Na conexão direta, os terminais
do gerador são conectados diretamente à rede elétrica, o que limita a faixa de variação na velocidade
de rotação do rotor e faz com que grande parte das flutuações do vento seja transmitida à rede elétrica.
Usualmente, neste tipo de conexão são utilizadas máquinas assíncronas com caixa de engrenagens e
bancos de capacitores para excitação do gerador.
As conexões através de conversores eletrônicos de freqüência permitem uma ampla variação da
velocidade do rotor das máquinas. Além disso, a presença do conversor agrega funcionalidades
importantes para a operação do sistema elétrico, tais como controle da tensão no ponto de conexão ou
ainda o controle do fator de potência. Neste tipo de conexão podem ser utilizadas máquinas síncronas
ou assíncronas, pois, em função da presença do conversor, os geradores não operam sincronizados à
rede. Esta estratégia agrega maior flexibilidade ao sistema mecânico, com conseqüente redução de
picos de potência e variações bruscas de torque.
No Brasil, as máquinas utilizadas nos primeiros empreendimentos associados ao PROINFA baseiam-
se na utilização de geradores síncronos conectados à rede através de conversores eletrônicos. Esta
tecnologia, quando comparada com a conexão direta de máquinas de indução simples ou duplamente
alimentadas, é a que apresenta o melhor desempenho para o sistema.
No que se refere à capacidade de suportar afundamentos de tensão, por exemplo, as máquinas que
foram conectadas à Rede Básica permanecem em operação para uma tensão no ponto de conexão de
até 15% da tensão nominal, por até 5 segundos. Da mesma forma, a tecnologia empregada nas
máquinas permite que as mesmas permaneçam em operação quando de variações importantes de
freqüência no sistema, o que é bastante conveniente para o desempenho do SIN. Estas características
das máquinas atendem com folga aos requisitos indicados no Submódulo 3.8 dos Procedimentos de
Rede do Operador Nacional do Sistema Elétrico – ONS. De fato, as turbinas eólicas baseadas em
geradores síncronos conectados através de conversores eletrônicos agregam funcionalidades
importantes para a operação do sistema interligado. Contudo, em função da maior complexidade
envolvida, a sua representação em estudos elétricos apresenta maiores desafios e dificuldades.
Em particular, a modelagem dos geradores síncronos conectados através de conversores em programas
de curto-circuito deve considerar as ações de controle que fazem com que estas máquinas contribuam
como fontes de corrente durante a ocorrência de curtos-circuitos no sistema. As demais tecnologias de
gerador eólico, baseadas em gerador assíncrono conectado diretamente à rede, podem ser modeladas
da forma convencional com que são representados os geradores síncronos, ou seja, através de uma
fonte de tensão ideal atrás de uma reatância.
Deve-se ressaltar que a correta representação dos diversos tipos de geradores em programas de curto-
circuito é importante para obtenção de resultados corretos em estudos de dimensionamento de
equipamentos, ajustes de proteção, entre outros. Neste trabalho procurou-se verificar o impacto da
representação de geradores eólicos síncronos com conversor de freqüência nos resultados de cálculos
de curto-circuito em barramentos próximos ao ponto de conexão.

2
2. Representação de Geradores Eólicos em Programas de Curto-Circuito
As diferentes tecnologias de geradores eólicos citadas no item anterior podem ou não necessitar de
uma modelagem especial em programas de cálculo de curto-circuito. A seguir são apresentadas as
formas de representação necessárias para cada uma destas tecnologias.

2.1. Geradores de Indução

Figura 1 – Gerador Eólico de Indução

Os Geradores de Indução podem ser representados da mesma forma que motores de indução, através
de uma fonte de tensão ideal atrás de uma impedância:

E R1+jX1
- +

R0+jX0

Figura 2 - Representação por Fonte de Tensão Ideal Atrás de uma Impedância

Uma característica importante das máquinas de indução, no que diz respeito à análise de curto-
circuito, é que o campo magnético interno destes equipamentos precisa ser alimentado pela rede. Uma
falta próxima pode reduzir a tensão terminal e eliminar a alimentação da rede, fazendo que o campo
interno da máquina desapareça rapidamente. Portanto, a máquina de indução contribui para uma falta
apenas nos instantes iniciais (no máximo 1 ciclo) [1].
Geradores eólicos fabricados com esta tecnologia podem, portanto, ser representados em programas de
cálculo de curto-circuito sem a necessidade de nenhum tratamento especial.

2.2. Geradores de Indução Duplamente Alimentados (DFIG)

Figura 3 - Gerador Eólico de Indução Duplamente Alimentado (DFIG)

3
Apesar da presença do conversor que alimenta o rotor, geralmente a proteção de Crowbar interrompe
esta alimentação durante um curto, fazendo com que este tipo de máquina se comporte do mesmo
modo que o gerador de indução simples. Portanto, ela também pode ser representada em programas
de cálculo de curto-circuito por uma fonte de tensão atrás de uma impedância.

2.3. Geradores Síncronos com Conversor


As máquinas eólicas síncronas são conectadas à rede através de um conversor CA/CC/CA
(retificador/inversor). Isto se faz necessário pois a tensão gerada pela máquina síncrona pode assumir
diferentes valores de freqüência, já que esta é proporcional à rotação do eixo que depende da
velocidade do vento. Diferentemente de uma usina hidrelétrica, onde se pode regular a vazão de água
que passa pela turbina, a velocidade do vento não pode ser controlada. O conversor retifica a tensão
do gerador síncrono e a inverte para a freqüência nominal da rede AC. Ao contrário do que ocorre
com os geradores DFIG, toda a potência da máquina passa pelo conversor.

Figura 4 - Gerador Eólico Síncrono com Conversor

O conversor apresenta as seguintes características:


• Possui controle que busca manter constante durante a falta a potência elétrica ativa de saída,
assim como o fator de potência
• Contribui apenas com corrente de seqüência positiva, mesmo em faltas desequilibradas
• Possui limite máximo de corrente de contribuição
• Desconecta-se caso a tensão terminal caia abaixo de um limite pré-estabelecido
Sendo assim, estes equipamentos, durante uma falta, se comportam como fontes de corrente de
seqüência positiva, ao contrário dos demais geradores do sistema, representados por fontes de tensão.
I
- +

Figura 5 - Representação por Fonte de Corrente de Seqüência Positiva

3. Alterações no Método Geral para Solução de Curtos


A maioria dos programas para cálculo de curtos-circuitos desenvolvidos a partir da década de 90 já
incorpora métodos gerais [2] para solução dos curtos, uma vez que estes são bem mais flexíveis que os
métodos convencionais (que usam arranjos de redes de seqüência) e permitem a simulação de
praticamente qualquer situação de curto-circuito inclusive eventos simultâneos e envolvendo
quaisquer fases.
Neste trabalho é apresentada a forma de representação de geradores eólicos síncronos com conversor
de freqüência em um programa que utiliza um método geral de solução. Não obstante, são feitos

4
comentários e comparações com relação a como seria a mesma implementação em um programa com
método convencional.
Diferentemente dos métodos convencionais, que só trabalham com matrizes em componentes de
seqüência, o método geral combina a representação em componentes de seqüência para o sistema
completo balanceado com a representação trifásica apenas para a parte desbalanceada do sistema
(defeito). Esta combinação permite a representação acurada de faltas assimétricas simultâneas em um
algoritmo de solução geral, sem comprometimento da eficiência computacional.
O algoritmo geral de solução, para qualquer situação de falta, segue os seguintes passos [3]:
1. construção de equivalentes em componentes de seqüência referentes às barras terminais dos
elementos envolvidos na falta;
2. alterações balanceadas nos equivalentes (criação dos nós fictícios devidos a aberturas e a faltas
intermediárias);
3. construção de equivalente trifásico contendo somente as barras e nós fictícios em curto;
4. alteração do equivalente trifásico para representar as alterações desbalanceadas referentes ao(s)
curto(s);
5. solução do sistema equivalente trifásico;
6. transformação do equivalente trifásico novamente em equivalentes em componentes de seqüência,
solução dos mesmos e obtenção das correntes de curto nas três seqüências;
7. obtenção, a partir das correntes de curto e matrizes originais nas três seqüências, das tensões de
defeito em todas as barras do sistema desejadas;
Um ponto crucial para a eficiência computacional do método geral é o fato de que os equivalentes
criados nos passos 1 e 3 possuem dimensões reduzidas, pois geralmente incluem somente as barras em
curto ou as barras terminais de equipamentos em curto. Deve-se ressaltar que estes equivalentes
possuem matrizes de dimensões reduzidas, porém cheias. Em especial, o equivalente trifásico, criado
no passo 3, é muito sensível ao número ( N ) de barras/nós que possui, pois sua matriz cheia tem
dimensão 3N por 3N.
Neste trabalho os geradores eólicos com conversor de freqüência foram incorporados ao método geral
de solução utilizando uma modelagem mais próxima do comportamento real do equipamento, ou seja,
representando-os durante o curto-circuito por fontes de corrente controladas. Estas fontes possuem
módulo e ângulo de fase calculados de modo a atender a potência gerada, o fator de potência
especificado e o limite de corrente do conversor. Como o valor da corrente injetada depende do valor
da tensão terminal, é necessário efetuar um processo iterativo para obter a solução.
Um ponto explorado na implementação efetuada foi o fato das injeções de corrente dos geradores
eólicos serem apenas de seqüência positiva. Com isso, foi possível evitar a inclusão das barras onde
se conectam os geradores eólicos no equivalente trifásico criado no passo 3. Estas barras são incluídas
apenas no equivalente de seqüência positiva criado no passo 1. Assim sendo, o processo iterativo para
convergência dos valores de módulo e ângulo das injeções de corrente referentes aos geradores eólicos
pode ficar restrito apenas aos passos 2 (onde são calculados os valores de injeção de seqüência
positiva) e 6 (onde são calculadas as tensões de seqüência positiva). Enquanto não houver a
convergência, ao final do passo 6 o fluxo de processamento volta para o passo 2.
Para evitar o aumento desnecessário da dimensão do equivalente de seqüência positiva criado no passo
1, geradores eólicos que estejam distantes do(s) ponto(s) em curto não são considerados no método de
solução, ou seja, não são incluídos no equivalente. Estes geradores manterão o valor de injeção de
corrente que já possuíam na condição pré-falta. Como critério para determinar se o eólico está
distante, foi utilizado o valor de tensão das 3 fases durante o curto acima de 0,9 pu.
Em programas que utilizam métodos convencionais de cálculo de curto-circuito, uma forma de se
modelar os geradores eólicos com conversor de freqüência seria através do uso de fontes de tensão
atrás de impedâncias com valores variáveis, obtidos também por um processo iterativo, de modo que a
contribuição do gerador iguale o valor de corrente desejado. No entanto, esta abordagem acarreta um

5
aumento de esforço computacional considerável, em função da necessidade de remontagem e
refatoração da matriz de admitâncias de barra a cada iteração do processo devido à mudança no valor
da impedância das fontes de tensão. Na abordagem adotada não há esta necessidade de remontagem e
refatoração da matriz de admitâncias de barra a cada iteração do processo.
No item seguinte é mostrada a forma de obtenção, a cada iteração, dos valores de módulo e ângulo das
injeções de corrente representativas dos geradores eólicos síncronos.

4. Modelagem por Fontes de Corrente


Conforme já mencionado nos itens anteriores, estes equipamentos se comportam como fontes de
corrente e sua contribuição depende do valor da tensão terminal, o que acarreta a necessidade de um
processo iterativo para obtenção da solução. Os dados necessários para o cálculo do valor da injeção
de corrente são descritos abaixo:
• Identificação da barra terminal do gerador eólico síncrono;
• Potência inicial (P0): indica o valor de potência ativa gerada pelo equipamento antes do curto-
circuito;
• Imax: valor máximo de corrente que pode ser injetada pelo inversor;
• Vmin: valor mínimo de tensão; caso qualquer fase, durante a falta, fique com tensão abaixo
deste valor, o gerador se desconecta da rede;
• Fator de potência de curto ( φcc ): indica o fator de potência especificado para o gerador
durante o curto; geralmente é utilizado o mínimo fator de potência admissível pelo controle da
máquina; o processo iterativo tentará mantê-lo constante durante o defeito; tendo em vista que
durante uma falta desequilibrada cada fase pode ter um fator de potência diferente, são
monitoradas corrente e tensão de seqüência positiva.
A condição inicial do gerador depende do tipo de representação utilizado. Nos casos sem
carregamento pré-falta não há circulação de corrente antes do curto-circuito, portanto a corrente
inicial é necessariamente zero. Nos casos com carregamento pré-falta pode haver circulação de
corrente antes do defeito, portanto a corrente inicial pode ser diferente de zero. Assim sendo, o
gerador pode se comportar de 4 formas diferentes, dependendo do tipo de representação (com ou sem
carregamento pré-falta) e de haver ou não um valor fornecido para a potência inicial ( P0 ).

4.1. Caso sem carregamento pré-falta e sem fornecimento de P0


Se o sistema estiver representado sem carregamento pré-falta e um determinado gerador eólico
síncrono não tiver potência inicial fornecida, seu comportamento será o descrito pelo gráfico da Figura
6. Como o sistema não tem carregamento, antes do momento da falta a corrente injetada pelo gerador
vale zero. Durante a falta, caso qualquer das tensões de fase caia a um valor menor que Vmin, o
gerador se desconectará da rede e sua corrente de contribuição valerá zero, situação representada pelo
segmento (1). Caso ao menos uma tensão de fase fique abaixo de 0,9 pu, porém as três fases fiquem
acima de Vmin, o gerador passará a injetar sua corrente máxima, o que é representado pelo trecho (2).
Isto ocorre porque, na ausência da informação da potência inicial, o programa não tem como calcular a
corrente necessária para manter a potência constante. Isto ficará mais claro nas condições descritas nos
itens 4.2 e 4.4. Caso nenhuma tensão de fase fique abaixo de 0,9 pu, o gerador mantém o valor de
corrente inicial, que neste caso vale zero, como mostra o segmento (3).

6
Corrente
Imax

(2)

(1) (3)

Vmin 0,9 Tensão (pu)

Figura 6 - Módulo da Injeção de Corrente em Função da Tensão Terminal (caso sem-sem)

O ângulo de fase da corrente injetada é dado pelo fator de potência de curto e pelo ângulo da tensão
terminal pós-falta de seqüência positiva, de maneira a manter constante o fator de potência. Por
exemplo, se o ângulo da tensão terminal pós-falta de seqüência positiva valer -0,5 grau, e o fator de
potência de curto informado for 0,9 indutivo (corrente atrasada em relação à tensão) o ângulo da
corrente injetada será:
I ang = Vang − arccos(φcc ) = −0,5o − arccos(0,9) = −26,34o
A expressão acima é usada em todas as 4 situações descritas neste e nos 3 itens seguintes. Como a
corrente injetada pelo gerador altera sua própria tensão terminal, durante o processo iterativo o gerador
(ou os geradores, caso haja mais de um destes equipamentos na região afetada pela falta) terá corrente
e tensão variando a cada iteração, tanto em módulo quanto em ângulo de fase, até atingir a
convergência final. A observação acima vale também para as demais situações descritas nos 3 itens
seguintes.

4.2. Caso sem carregamento pré-falta e com fornecimento de P0


Se o sistema estiver representado sem carregamento, mas um determinado gerador eólico tiver o valor
de potência inicial fornecido, seu comportamento será o da Figura 7. Da mesma forma que na
situação mostrada no item 4.1, antes do momento da falta o gerador não injeta corrente, pois a
representação não tem carregamento pré-falta.
Durante o curto, caso a tensão de qualquer fase fique abaixo do valor Vmin , o gerador se desconectará
e sua corrente de contribuição durante a falta será zero, o que é representado pelo segmento (1).
Corrente

Imax

(2)

(1) (3)

Vmin 0,9 Tensão (pu)

Figura 7 - Módulo da Injeção de Corrente em Função da Tensão Terminal (caso sem-com)

7
Caso ao menos uma das tensões de fase fique abaixo de 0,9 pu e as três tensões de fase fiquem acima
de Vmin, o módulo da corrente injetada será calculado de maneira a manter a potência ativa inicial. Ou
seja:
P0
I(+ ) =
V( + ) . cos (φcc )

Onde “V(+)“ representa a tensão de seqüência positiva, “P0” a potência ativa inicial, “cos(φcc)” o fator
de potência de curto especificado e “I(+)” a corrente injetada pelo gerador eólico, que, pelas
características do inversor, tem apenas componente de seqüência positiva. Como o produto de “V” e
“I” precisa se manter constante, quanto menor a tensão terminal durante o curto, maior será o módulo
da corrente injetada. Caso a tensão fique muito reduzida, o módulo da corrente atingirá o seu limite
máximo Imax. O Segmento (2) mostra o módulo da corrente injetada, calculado pela expressão acima.
Quando a tensão é reduzida, a corrente atinge Imax e não passa deste valor. Caso nenhuma tensão de
fase fique abaixo de 0,9 pu, o gerador manterá a sua corrente pré-falta, que neste caso vale zero por ser
um sistema sem carregamento, como mostra o segmento (3).

4.3. Caso com carregamento pré-falta e sem fornecimento de P0


Se o sistema estiver representado com carregamento pré-falta, mas o gerador eólico síncrono não tiver
valor fornecido para potência ativa inicial (P0), a injeção de corrente terá o comportamento mostrado
pela Figura 8.
Corrente

Imax

(2)
Ipré

(3)

(1)

Vmin 0,9 Tensão (pu)

Figura 8 - Módulo da Injeção de Corrente em Função da Tensão Terminal (caso com-sem)

Antes da falta, o gerador estará injetando um valor de corrente ( Ipré ) que depende de seu despacho.
Durante a falta, caso qualquer tensão de fase caia abaixo do valor Vmin , o gerador se desconectará da
rede e passará a ter corrente nula. Neste caso, diferentemente das situações abordadas nos dois itens
anteriores, a corrente passará de um valor pré-falta (diferente de zero) para zero. Isto é representado
pelo segmento (1).
Caso ao menos uma tensão de fase caia abaixo de 0,9 pu durante a falta e todas as tensões de fase
fiquem acima de Vmin , o gerador passará a injetar sua corrente máxima, como mostrado pelo segmento
(2). Isto ocorre pela ausência do valor de potência inicial fornecido. Esta situação é pouco usual pois
em um caso com carregamento é fácil a obtenção do valor da potência gerada pelo eólico no instante
pré-falta para ser fornecido para o programa. Porém, caso este valor não seja explicitamente
fornecido, o programa não tenta obtê-lo a partir do somatório de correntes saindo da barra. Se
nenhuma tensão de fase cair abaixo de 0,9 pu, o gerador manterá sua corrente pré-falta (módulo e
ângulo de fase), como mostra o segmento (3).

8
4.4. Caso com carregamento pré-falta e com fornecimento de P0
Por último, se o sistema for representado com carregamento pré-falta e o gerador eólico síncrono tiver
potência inicial (P0) fornecida, a injeção de corrente terá o comportamento mostrado pela Figura 9.
Antes do momento da falta, o gerador fornece determinado valor de corrente pré-falta. Durante a
falta, caso a tensão de ao menos uma fase caia abaixo do valor Vmin fornecido, o gerador se
desconectará da rede e sua contribuição cairá para zero, como mostrado pelo segmento (1).

Corrente
Imax

(2)
Ipré

(3)

(1)

Vmin 0,9 Tensão (pu)

Figura 9 - Módulo da Injeção de Corrente em Função da Tensão Terminal (caso com-com)

Se a tensão de ao menos uma fase ficar abaixo de 0,9 pu e as três fases mantiverem tensão acima de
Vmin, o módulo da corrente será o necessário para manter a potência ativa constante, segundo a
equação mostrada no item 4.2. A corrente injetada pelo inversor tem apenas componente de seqüência
positiva, independentemente do tipo de falta. Como o produto de corrente e tensão precisa se manter
constante, quanto menor a tensão, maior será a corrente correspondente, até atingir o seu limite
máximo Imax , como mostrado pelo segmento (2). Se nenhuma tensão de fase cair abaixo de 0,9 pu, o
gerador manterá sua corrente pré-falta (módulo e ângulo de fase), como mostra o segmento (3).

4.5. Casos não convergentes


As descontinuidades existentes nos gráficos da Figura 6 à Figura 9 acarretam a possibilidade da
existência de casos não convergentes. Estes casos podem ser divididos em duas categorias: aqueles
causados pela descontinuidade em torno do valor 0,9 e aqueles causados pela descontinuidade em
torno do valor Vmin.
Os casos em que o valor do módulo da injeção de corrente de algum eólico não converge porque a
tensão terminal de alguma fase oscila entre valores acima e abaixo de 0,9 são de fácil tratamento, pois
este limite não existe fisicamente, tendo sido criado apenas por motivos de ordem prática da
implementação computacional (ver item 3). Esta situação ocorre com geradores eólicos que não estão
nem muito distantes eletricamente do ponto de curto (tensão terminal acima de 0,9) nem tão próximos
(tensão terminal abaixo de 0,9), e é mais provável de acontecer nas situações sem carregamento pré-
falta, onde a amplitude da descontinuidade é maior (ver Figura 6 e Figura 7).
Para resolver estes casos basta que, uma vez que a tensão terminal de alguma fase do gerador caia
abaixo de 0,9 em qualquer iteração, ele passe a se comportar como se ela continuasse sempre abaixo,
ou seja, para este gerador é como se o limite de 0,9 não existisse, correspondendo a eliminar o
segmento 3 do gráfico e fazer com que o segmento 2 se estenda para valores acima de 0,9. Este
procedimento faz com que, na prática, o limite de 0,9 se aplique apenas aos geradores realmente
distantes eletricamente do ponto de curto (aqueles com tensões terminais nas 3 fases acima de 0,9
durante todo o processo iterativo), o que é o comportamento desejado.
A segunda categoria de casos não convergentes são aqueles nos quais o valor do módulo da injeção de
corrente de algum eólico não converge porque a tensão terminal de alguma fase oscila entre valores

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acima e abaixo de Vmin . Estes casos correspondem fisicamente a situações onde o controle do
inversor não consegue manter constante o fator de potência de curto especificado, fazendo com que
não seja possível a obtenção de uma solução com tensão terminal acima de Vmin . Portanto, nestes
casos, o eólico é desconectado e sua contribuição para o curto é igual a zero.
À medida que se disponha de informações a respeito de detalhes de controle de modelos específicos de
geradores eólicos, esquemas particulares poderão ser implementados e testados, incluindo-se a
comparação de resultados com aqueles obtidos por simulações dinâmicas, o que ficou de fora do
escopo do presente trabalho, onde se buscou avaliar o impacto da modelagem destes equipamentos nos
níveis de curto de barramentos próximos ao ponto de conexão dos mesmos.

5. Resultados de Caso de Estudo


Para testar a aplicação da implementação realizada, foi utilizado um caso de curto-circuito oficial do
ONS referente à configuração de curto máximo de setembro de 2008 (arquivo BR0809B.ANA). A
esta configuração, foram acrescentados três parques de geração eólica, de 50 MW cada, na região de
Osório no Rio Grande do Sul, todos modelados por fontes de corrente. Além dos eólicos em si, foram
também incorporados os respectivos trafos elevadores e mais 3 trafos e uma linha de conexão.

Figura 10 - Diagrama Unifilar da Região Analisada

Deve-se observar que esta configuração de curto máximo corresponde a um caso sem carregamento
pré-falta. Foi fornecido como valor de potência inicial ( P0 ) dos eólicos o valor de potência nominal,
neste caso 50 MW em cada parque. Assim sendo, este caso se enquadra na situação descrita no item
4.2 . Foram utilizados os valores de 0,15 pu para Vmin , 99 kA para Imáx de cada parque e 0,88

10
indutivo para o fator de potência de curto (φcc), o que corresponde a um atraso de 28,4 graus da injeção
de corrente de seqüência positiva em relação à tensão terminal. Na Figura 10 é mostrado o diagrama
unifilar da região analisada, composta da barra OSORIO2-230 , suas linhas vizinhas e os eólicos com
as respectivas conexões, onde é possível verificar a topologia e principais parâmetros no diagrama.
Para avaliar o efeito da representação dos parques eólicos nos níveis de curto das barras da região,
foram simulados curtos trifásicos e monofásicos na barra de OSORIO2-230 e suas vizinhas, com e
sem a consideração dos eólicos. Nas simulações sem a consideração dos eólicos, foram mantidos os
trafos elevadores e de conexão, de modo a preservar as suas contribuições de seqüência zero para os
curtos monofásicos. A Tabela 1 apresenta os valores dos níveis de curto (Icc) obtidos, relativos à fase
A, incluindo módulo e ângulo, além da variação percentual dos módulos das correntes dos casos com
os eólicos em relação ao caso sem os eólicos.
Em geral os módulos das correntes de curto foram pouco afetados, com variações de até 3,4 %. Os
ângulos de fase das correntes de curto ficaram menos indutivos em função do elevado fator de
potência das contribuições dos eólicos. O impacto nos níveis de curto foram pequenos como era de se
esperar, em função do pequeno porte dos parques eólicos (150 MW) em relação ao nível de curto no
ponto de conexão (aproximadamente 2500 MVA trifásico e 2800 MVA monofásico em OSORIO2-
230). Observa-se que em dois casos a tensão terminal nos eólicos caiu abaixo de 0,15 pu , o que
acarreta a desconexão dos geradores do resto do sistema, resultando, neste caso sem carregamento, nos
mesmos valores obtidos sem a consideração dos eólicos.

Tabela 1 - Comparação dos Níveis de Curto (fase A) Com e Sem os Parques Eólicos

Barramento Icc sem os eólicos Icc com os eólicos


em Curto CC
Mód (A) Ang (o) Mód (A) Ang (o) Var. (%)

3F 6178 -80,6 V = 0 nos eólicos


OSORIO2
1F 7001 -81,4 7088 -76,7 1,24

3F 7562 -80,9 7300 -79,1 -3,46


D_FIBRA
1F 6030 -78,8 6102 -76,6 1,19

3F 4673 -79,9 4593 -76,1 -1,71


ATLANT.2
1F 4270 -80,3 4349 -77,0 1,85

3F 22928 -85,1 V < Vmin nos eólicos


GRAVAT2
1F 27567 -84,7 27588 -83,5 0,08

3F 7207 -80,7 7061 -78,3 -2,03


FIBRAPLA
1F 5647 -78,6 5716 -76,4 1,22

3F 6156 -81,3 6095 -78,6 -0,99


TAQUARA
1F 5274 -81,8 5340 -79,5 1,25

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Figura 11 - Curto Monofásico em OSORIO2-230 sem os eólicos (valores da fase A)

Figura 12 - Curto Monofásico em OSORIO2-230 com os eólicos (valores da fase A)

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Para mostrar o efeito dos eólicos nos resultados de um curto específico, são mostrados na Figura 11 e
na Figura 12 as tensões (pu) e correntes (Ampère), para o curto monofásico na barra de OSORIO2-230
sem e com os eólicos, respectivamente. Os valores mostrados nas figuras são referentes à fase A. No
caso com os eólicos, a tensão terminal de seqüência positiva dos eólicos (não mostrada na Figura) foi
de 0,716 pu / 31,6 graus, o que explica o ângulo da injeção dos eólicos com 3,2 graus (28,4 graus
atrasado em relação à tensão).
Observa-se que o ângulo de fase da contribuição para o curto vinda pela linha de conexão com os
eólicos se altera bastante de um caso para o outro, passando de -83,4 para -38,8 graus, enquanto as
demais contribuições para o curto se situam na faixa de -79 a -82 graus. Isto se deve ao fato de que as
injeções dos eólicos possuem elevado fator de potência enquanto as demais contribuições são
fortemente reativas. O módulo da contribuição vinda pela linha de conexão sofreu um aumento de
aproximadamente 50% (de 532 para 797 Ampères).
O efeito dos eólicos no módulo da corrente de curto foi pequeno (aumento da ordem de 1%). O maior
efeito foi no ângulo de fase da corrente de curto, que passou de -81,4 para -76,7 graus, o que pode
causar a falsa impressão de uma relação X/R menor do que a real. Os afundamentos de tensão nos
barramentos próximos praticamente não se alteraram, verificando-se apenas uma alteração
significativa no ângulo de fase da tensão da barra de conexão (de -14,6 para +9,3 graus).

6. Conclusões
O objetivo do trabalho é apresentar a forma de inclusão de geradores eólicos síncronos com conversor
de freqüência em um programa de cálculo de curtos-circuitos como fontes de corrente de seqüência
positiva e avaliar o impacto da consideração dos mesmos nos valores de módulo e ângulo das
correntes de curto em barramentos próximos. O tratamento no método de solução por injeções de
corrente permite a não remontagem/refatoração da matriz de admitâncias de barra do sistema. O fato
da injeção se limitar à seqüência positiva permite tratar o processo iterativo apenas em nível de
componentes de seqüência, evitando o aumento no numero de nós no equivalente trifásico, cuja matriz
cheia possui dimensão 3N por 3N. Estas duas características garantem a eficiência computacional da
implementação.
No caso analisado, o pequeno porte das usinas eólicas (150 MW) em relação ao nível de curto do
ponto de conexão (aproximadamente 2800 MVA) faz com que haja pequena influência no nível de
curto nesta barra e em suas vizinhas. Assim, neste caso, a representação dos eólicos poderia ter sido
desconsiderada sem maior prejuízo da qualidade dos resultados obtidos. Porém, caso a potência
instalada nos parques fosse maior, talvez sua influência nos níveis de curto fosse menos desprezível.
O alto fator de potência das injeções dos eólicos em relação às demais contribuições de curto do
sistema pode fazer com que os ângulos das correntes de curto sejam afetados, ficando menos
indutivos. Em alguns casos isto pode influenciar de forma negativa a avaliação de superação de
disjuntores de circuitos próximos, por fazer com que a relação X/R pareça ser menor do que realmente
é.
O conhecimento dos blocos de controle usados para a simulação dinâmica de modelos específicos de
geradores eólicos pode permitir uma modelagem mais fiel dos casos com grande afundamento de
tensão, nos quais não é possível o controle do inversor manter constante o valor do fator de potência
de curto especificado. À medida que se disponha de informações a respeito de detalhes de controle de
modelos específicos, esquemas particulares poderão ser implementados e testados, incluindo-se a
comparação de resultados com os obtidos por simulações dinâmicas.

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BIBLIOGRAFIA

[1] P.M. Anderson, “Analysis of Faulted Power Systems”, The Iowa State University Press, 1973,
p.226.

[2] V. Brandwajn e W.F. Tinney, “Generalized Method of Fault Analysis”, IEEE Transactions on
PAS, vol. 104, no. 6, June 1985, pp. 1301-1306.

[3] S.P. Roméro e J.I. Rossi, “Programa de Análise de Faltas Simultâneas – ANAFAS – Manual do
Usuário – V4.5” , Relatório Técnico CEPEL, No. DSE 21838/2008, Junho de 2008, p.3.

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