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XII STPC ST XXX

SEMINÁRIO TÉCNICO DE 16 a 19 de novembro de 2014


PROTEÇÃO E CONTROLE Rio de Janeiro - RJ

EQUIVALENTE DE PARQUES EÓLICOS PARA USO EM PROGRAMAS DE CURTO-CIRCUITO

Sergio Porto Romero (*) Juan Rossi Gonzalez Leonardo Pinto de Almeida
CEPEL CEPEL CEPEL

RESUMO

O trabalho descreve um método desenvolvido para calcular equivalentes para substituir a representação completa
de parques eólicos que utilizem a tecnologia full-converter em arquivos de dados de curto-circuito.

Como estes geradores se comportam como fontes de corrente controladas nos programas de cálculo de curto-
circuito, o uso de algoritmos convencionais de cálculo de equivalentes baseados em redução de Kron na matriz
Ybus e síntese de elementos equivalentes desconsideraria a sua presença. O método proposto possibilita o uso de
programas com algoritmos convencionais de cálculo de equivalentes.

São apresentados resultados obtidos com uma configuração de curto-circuito elaborada pelo ONS referente ao
SIN.

PALAVRAS-CHAVE

Programa de Curto-Circuito, Geradores Eólicos, Cálculo de Equivalentes, Simulação Digital

1.0 - INTRODUÇÃO

Restrições ambientais e econômicas têm feito com que, nos últimos anos, cada vez mais se procure uma maior
diversificação da matriz energética do setor elétrico brasileiro. Neste contexto, o aproveitamento do potencial de
geração eólica tem sido ampliado significativamente nos últimos anos, com previsão de aumento ainda maior nos
próximos anos (Ref.1). Tipicamente, os parques eólicos possuem várias dezenas de unidades geradoras de
pequeno porte com no máximo alguns MW de capacidade cada. Isto faz com que a sua representação em
programas de análise de redes, como o de cálculo de curto-circuito, requeira a utilização de um grande número de
barras, linhas e transformadores, além dos próprios geradores.

O grande número de novas centrais geradoras eólicas previstas para entrar em operação no sistema nos próximos
anos (390 novos parques previstos até 2018 apenas na região nordeste - Ref.2) permite vislumbrar a necessidade
próxima de mecanismos que permitam equivalentar as dezenas de unidades existentes em cada parque eólico em
uma única unidade equivalente nos arquivos de dados de programas de simulação do sistema, pois o número de
barramentos e o tempo de simulação pode vir a crescer de forma indesejável.

O trabalho apresenta uma proposta de metodologia para a obtenção de equivalentes de parques eólicos inteiros,
para uso em programas de curto-circuito. Como os geradores eólicos tipo full-converter se comportam como fontes
de corrente, diferentemente dos demais geradores que são modelados por fontes de tensão atrás de uma reatância
(que é modelada como uma impedância ligada para a terra), o uso de programas convencionais de cálculo de
equivalentes de curto-circuito não consideraria eólicos deste tipo. O método proposto não requer alterações nos
programas convencionais de cálculo de equivalentes para curto-circuito, consistindo em uma manipulação simples
a nível de dados do sistema, que permite que se calcule uma impedância equivalente para os trafos, linhas e cabos
do parque, a ser usada em conjunto com uma fonte de corrente equivalente calculada facilmente a partir dos dados

(*)Email do Autor Responsável: spr@cepel.br


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das unidades eólicas individuais do parque. O trabalho detalha a utilização do método no programa de cálculo de
curtos-circuitos Anafas, desenvolvido pelo Cepel. A estrutura do trabalho é a seguinte: o item 2 apresenta a
modelagem de geradores eólicos por fontes de corrente em programas de curto-circuito, o item 3 apresenta a
metodologia proposta para calcular o equivalente de parques eólicos modelados por fontes de corrente usando
programas convencionais de cálculo de equivalentes, o item 4 apresenta alguns resultados obtidos em um caso
teste com uma configuração real do sistema interligado brasileiro (SIN), e o item 5 apresenta algumas conclusões.

2.0 - MODELAGEM DE GERADORES EÓLICOS FULL-CONVERTER EM PROGRAMAS DE CURTO-CIRCUITO

Geradores hidrelétricos e termelétricos costumam ser modelados em programas de cálculo de curtos-circuitos por
fontes de tensão ideais atrás de uma impedância, que pode corresponder ao regime subtransitório ou transitório,
dependendo do período de análise a ser considerado no cálculo, como mostrado na Figura 1.

E
R1+jX1

R0+jX0

FIGURA 1 – Gerador modelado por fonte de tensão ideal atrás de uma impedância

A rede elétrica, composta pelos diversos tipos de equipamentos (geradores, linhas, trafos etc.) é modelada por uma
rede de impedâncias a partir da qual são montadas as matrizes nodais (tipicamente a matriz de admitâncias de
barra – Ybarra) que permitem a solução do modelo e o cálculo das tensões e correntes de curto-circuito. Nos
dados de entrada dos programas, as impedâncias relativas a estes geradores são fornecidas como estando ligadas
entre a barra de conexão do gerador e a referência. Isso se deve ao modelo usual no qual a barra de referência
corresponde à barra interna dos geradores (Ref.3). Este modelo é válido também para casos com carregamento
pré-falta. Portanto, os geradores convencionais são representados por impedâncias em derivação (ramo shunt).

O melhor modelo para representar os geradores eólicos em programas de curto-circuito vai depender do tipo de
tecnologia utilizada no gerador (Ref.4). As principais tecnologias utilizadas para estes tipos de geradores são:
gerador de indução diretamente ligado à rede, gerador de indução duplamente alimentado, e geradores síncronos
com conversor de frequência. Os geradores de indução diretamente ligados à rede podem ser representados da
mesma forma que os geradores convencionais e que os motores de indução, ou seja, através de uma fonte de
tensão ideal atrás de uma impedância. Geradores eólicos fabricados com esta tecnologia podem, portanto, ser
representados em programas de cálculo de curtos-circuitos sem a necessidade de nenhum tratamento especial.

Com relação aos geradores de indução com dupla alimentação (DFIG), apesar da presença do conversor que
alimenta o rotor, geralmente a proteção de Crowbar interrompe esta alimentação durante um curto, fazendo com
que este tipo de máquina se comporte do mesmo modo que o gerador de indução simples. Portanto, ela também
pode ser representada em programas de cálculo de curto-circuito por uma fonte de tensão atrás de uma
impedância, sem a necessidade de nenhum tratamento especial.

As máquinas eólicas síncronas são conectadas à rede através de um conversor CA/CC/CA (retificador/inversor).
Isto se faz necessário pois a tensão gerada pela máquina síncrona pode assumir diferentes valores de freqüência,
já que esta é proporcional à rotação do eixo que depende da velocidade do vento. Diferentemente de uma usina
hidrelétrica, onde se pode regular a vazão de água que passa pela turbina, a velocidade do vento não pode ser
controlada. O conversor retifica a tensão do gerador síncrono e a inverte para a freqüência nominal da rede AC.
Ao contrário do que ocorre com os geradores DFIG, toda a potência da máquina passa pelo conversor.

O conversor normalmente apresenta as seguintes características:


- Possui controle que busca manter constante durante a falta a potência elétrica ativa de saída, assim como o
fator de potência;
- Contribui apenas com corrente de seqüência positiva, mesmo em faltas desequilibradas;
- Possui limite máximo de corrente de contribuição;
- Desconecta-se caso a tensão terminal fique abaixo ou acima de valores limite pré-estabelecidos.

Sendo assim, estes equipamentos, durante uma falta, se comportam como fontes de corrente controladas de
seqüência positiva, como mostrado na Figura 2, ao contrário dos demais geradores do sistema, representados por
fontes de tensão. O valor da corrente injetada pela fonte de corrente representativa do eólico durante um curto-
circuito dependerá da tensão na barra terminal e dos parâmetros do conversor. Como a tensão terminal também
depende do valor de corrente injetada pelo eólico, torna-se necessário um processo iterativo para a obtenção do
valor das correntes injetadas pelos eólicos.
3

FIGURA 2 – Gerador modelado por fonte de corrente ideal

Assim sendo, foi implementado no programa de cálculo de curtos-circuitos desenvolvido pelo Cepel (programa
Anafas, Ref.5), um modelo específico para representar os geradores eólicos com conversor de frequência,
conhecidos também como full-converter, usando fontes de corrente. Os parâmetros disponíveis para modelar
estes geradores no programa são os seguintes:
- Imáx: valor máximo de corrente de sequência positiva que pode ser injetada pelo inversor;
- FPcc: fator de potência de curto; indica o fator de potência especificado para o gerador durante o curto; o
processo iterativo tentará mantê-lo constante durante o defeito; tendo em vista que durante uma falta
desequilibrada cada fase pode ter um fator de potência diferente, são monitoradas corrente e tensão de
seqüência positiva;
- Vmín: valor mínimo de tensão; caso qualquer fase, durante a falta, fique com tensão abaixo deste valor, o
gerador se desconecta da rede;
- Vmáx: valor máximo de tensão; caso qualquer fase, durante a falta, fique com tensão acima deste valor, o
gerador se desconecta da rede;
- Po: indica o valor de potência ativa gerada pelo equipamento antes do curto-circuito;
- FPpré: indica o fator de potência do gerador antes do curto-circuito; este parâmetro só é considerado em casos
com carregamento pré-falta.

A determinação do melhor valor a ser utilizado para estes parâmetros depende das características operativas do
eólico e do modo de controle que esteja configurado para o mesmo. Além disso, o tipo de estudo a ser realizado
pode também influenciar na escolha do melhor valor para alguns parâmetros, pois o comportamento do eólico pode
variar desde os primeiros momentos após a ocorrência do curto até após o tempo necessário para que o seu
controle comece a atuar. P.ex., se a tensão terminal ficar abaixo do valor do parâmetro Vmín, a contribuição do
eólico será zerada, mas nos primeiros milissegundos após a ocorrência do curto (antes do controle de fato zerar a
sua injeção) o conversor tenderá a manter uma injeção de corrente compatível com o regime de controle pré-falta.

NOTA: Em programas que utilizam métodos convencionais de cálculo de curto-circuito, uma forma de se modelar
os geradores eólicos com conversor de freqüência seria através do uso de fontes de tensão atrás de impedâncias
com valores variáveis, obtidos também por um processo iterativo, de modo que a contribuição do gerador iguale o
valor de corrente desejado. No entanto, esta abordagem acarreta um aumento de esforço computacional, em
função da necessidade de remontagem e refatoração da matriz de admitâncias de barra a cada iteração do
processo devido à mudança no valor da impedância das fontes de tensão. Na abordagem adotada não há esta
necessidade de remontagem e refatoração da matriz de admitâncias de barra a cada iteração do processo.

3.0 - METODOLOGIA PROPOSTA

Como mencionado no item Introdução, os parques eólicos costumam ter dezenas de unidades geradoras de
pequeno porte com alguns MW de capacidade cada. Isto faz com que sua representação em programas de análise
de redes, como o de cálculo de curto-circuito, requeira a utilização de um grande número de barras, linhas e
transformadores, além dos próprios geradores. Com o grande número de novos parques eólicos previstos para
entrar em operação no sistema nos próximos anos, torna-se necessária a utilização de mecanismos que permitam
equivalentar as dezenas de unidades existentes em cada parque em uma única unidade equivalente nos arquivos
de dados de programas de simulação do sistema, pois o número de barramentos e o tempo de simulação podem
vir a crescer de forma indesejável. Neste item é apresentada a metodologia proposta para a obtenção de
equivalentes a serem usados em substituição à representação detalhada completa em programas de curto circuito.

3.1 Algoritmo convencional de cálculo de equivalentes

Os programas de cálculo de curtos-circuitos costumam prover também a funcionalidade de cálculo de equivalentes,


quando partes do sistema (região externa) são substituídas por ligações equivalentes entre as barras de fronteira e
destas para a terra (referência). As ligações equivalentes são acrescidas à região retida (região interna), formando
assim um novo sistema reduzido. A presença das ligações equivalentes permite que sejam obtidos com o sistema
reduzido resultados iguais ou muito semelhantes àqueles obtidos com o sistema original completo. Estas ligações
possuem valores de impedância que refletem, nas barras de fronteira, o efeito das impedâncias dos equipamentos
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que existiam na região externa. O cálculo de equivalentes é, portanto, um processo de redução em uma rede de
impedâncias que representa o sistema completo original, gerando uma rede menor na qual aparecem novas
impedâncias nas barras de fronteira. Este cálculo costuma ser feito utilizando algoritmos baseados em redução de
Kron na matriz Ybarra e síntese de elementos equivalentes a partir dos valores das impedâncias equivalentes
criadas nas barras de fronteira. Tipicamente, ligações entre barras de fronteira de mesmo nível de tensão originam
linhas equivalentes, ligações entre barras de fronteira de níveis de tensão diferentes originam trafos equivalentes,
ligações para a terra com valor de impedância finito na sequência positiva originam geradores equivalentes e
ligações para a terra com valor de impedância infinito na sequência positiva originam shunts de barra equivalentes.

Como visto no item anterior, geradores convencionais (não eólicos) ou geradores eólicos de indução são
modelados em programas de curto-circuito como fontes de tensão atrás de uma reatância e aparecem nos arquivos
de dados como impedâncias ligadas para a terra. Portanto, para estes tipos de geradores os algoritmos de cálculo
de equivalentes convencionais podem ser utilizados normalmente, pois as impedâncias representativas dos
geradores estarão presentes na rede de impedâncias do sistema completo, dando origem a eventuais geradores
equivalentes em alguma barra de fronteira. Para equivalentar um parque de geração eólica composto por dezenas
de geradores de indução, por exemplo, bastaria reter a barra de entrada do parque e, automaticamente, surgiria
nela um gerador equivalente cuja impedância corresponderia ao arranjo série-paralelo das impedâncias de todas
as unidades geradoras, transformadores elevadores e abaixadores e linhas e cabos do parque.

No caso dos geradores eólicos síncronos com conversor porém, o algoritmo de cálculo de equivalentes não pode
ser usado desta mesma forma, pois estes são modelados por fontes de corrente que não possuem uma
impedância associada e, portanto, não aparecem na rede de impedâncias do sistema completo que é reduzida pelo
processo de Kron. Para lidar com esta dificuldade, foi desenvolvido o método objeto deste trabalho, de modo que
seja possível produzir um equivalente para parques eólicos que utilizem a tecnologia full-converter. O método
proposto possibilita o uso de programas com algoritmos convencionais de cálculo de equivalentes, não requerendo
nenhuma alteração nestes programas.

O método consiste em se efetuar inicialmente uma manipulação no arquivo de dados do sistema, de modo que seja
possível utilizar o algoritmo convencional de cálculo de equivalentes para obter a impedância equivalente
correspondente às linhas, cabos e trafos existentes no parque. Numa segunda etapa, é feita a equivalentação das
fontes de corrente correspondentes aos eólicos existentes no parque. Este processo consiste em uma simples
soma vetorial das correntes máximas de cada unidade, que pode ser facilmente executada com o auxílio de uma
planilha eletrônica. Por fim, a junção do equivalente das impedâncias existentes no parque com a fonte de corrente
equivalente, comporá o equivalente a ser utilizado em substituição à representação completa do parque.

3.2 Alterações no sistema para permitir o cálculo da impedância equivalente do parque eólico

A primeira etapa do método consiste numa manipulação nos dados do sistema, de modo a possibilitar o uso do
algoritmo convencional de cálculo de equivalentes para obter o equivalente de todas as impedâncias do parque, ou
seja, das suas linhas, cabos e trafos. Para tal, é necessária a introdução de uma nova barra auxiliar no sistema,
que será conectada a todas as barras terminais de todos os eólicos do parque, de modo que todas as impedâncias
do parque estejam de certa forma “entre” a barra de entrada do parque e esta nova barra, e a impedância
equivalente possa ser obtida retendo-se estas duas barras com o algoritmo convencional de cálculo de
equivalentes (lembre que para esta etapa do cálculo a presença dos eólicos é indiferente e eles podem ser
considerados como tendo sido removidos do sistema).

É necessário, portanto, substituir os geradores eólicos do parque por ligações de baixa impedância (jumpers) para
uma barra auxiliar no mesmo nível de tensão das unidades geradoras (p.ex. 400V). Caso haja unidades de
diferentes níveis de tensão no mesmo parque, será necessário criar equivalentes separados para cada nível, cada
um com a sua própria barra auxiliar, não podendo haver conexões entre barras de níveis de tensão diferentes. A
utilização de valores de impedância baixos é fundamental para que o valor da impedância equivalente a ser
calculado não venha a ser afetado pela presença destas ligações (ver a Figura 3).

B. Entrada B. Auxiliar
eólico

jumper
eólico

jumper
eólico

jumper

FIGURA 3 – Substituição dos eólicos por ligações de baixa impedância (jumpers)


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Com este sistema resultante, pode-se aplicar o algoritmo convencional de cálculo de equivalentes, retendo-se a
barra de alta tensão da entrada do parque (p.ex. de 230kV) mais uma vizinhança (apenas no 230kV) e a barra
auxiliar de baixa tensão. Como resultado, obtém-se, entre as barras de entrada e a auxiliar, um transformador ideal
e uma impedância equivalente correspondente a todas as impedâncias do parque: trafos de subtransmissão (p.ex.
230kV-34,5kV), linhas e cabos em 34,5kV e trafos abaixadores pra 400V.

3.3 Equivalentação das unidades eólicas representadas por fontes de corrente

Na primeira etapa do método foi obtido um equivalente para as impedâncias do parque. A segunda etapa do
método consiste na equivalentação das fontes de corrente correspondentes aos grupos de eólicos existentes no
parque.

Para equivalentar os grupos de eólicos do parque, deve-se de alguma forma agregar os parâmetros dos diversos
grupos existentes. Este processo é simples e pode ser feito com o auxílio de uma planilha eletrônica. Dos diversos
parâmetros disponíveis para modelar estes geradores no programa Anafas, os mais importantes são Imáx e
FPcc pois estes parâmetros basicamente determinam o valor (módulo e ângulo respectivamente) da injeção do
eólico durante uma falta.

Para equivalentar estes 2 parâmetros, propõe-se efetuar uma soma vetorial (tratando separadamente suas partes
real e imaginária) das injeções máximas dos eólicos. Supondo que a tensão terminal de um eólico possui ângulo
de fase igual a zero, então a sua injeção máxima durante a ocorrência de um curto-circuito pode ser obtida a partir
destes 2 parâmetros. As partes real e imaginária (INJre e INJim) da injeção máxima de um eólico com índice i
são dadas por:

INJrei = I máxi .FPcci


INJimi = I máxi .sen (Φ cci ) ; onde Φ cci = arccos(FPcci )

A partir destas expressões pode-se obter o somatório (com índice t) das partes real e imaginária das injeções
máximas de todos os eólicos do parque:

INJre t = ∑ INJrei
INJimt = ∑ INJim i
i i

A partir destas expressões pode-se obter os parâmetros Imáx e FPcc equivalentes, representativos de todos os
eólicos do parque:

I máxt = INJret2 + INJimt2 FPcct = INJret / I máxt

Os próximos parâmetros a serem tratados no processo de equivalentação das fontes de corrente são os limites de
tensão mínima e máxima a partir dos quais a injeção do eólico é zerada. Em princípio estes valores deveriam ser
os mesmos em todos os grupos de unidades do parque, mas caso não sejam, pode-se adotar para a fonte
equivalente o valor mais conservativo (no sentido de aumentar a possibilidade do eólico injetar), que seria o menor
deles para o parâmetro Vmín e o maior deles para o parâmetro Vmáx.

Os últimos parâmetros que restam a ser tratados são menos importantes pois só são utilizados em casos com
carregamento pré-falta e, além disso, pouco influenciam no valor de injeção do eólico durante um curto-circuito.
São eles Po e FPpré. Caso se deseje, para estes parâmetros pode ser feita uma soma vetorial semelhante à
que foi mostrada anteriormente para os parâmetros Imáx e FPcc . Denominando a potência aparente gerada
pré-falta por So e utilizando os mesmos índices ( i e t ) usados anteriormente, pode-se obter os parâmetros Po
e FPpré equivalentes, representativos de todos os eólicos do parque, com as expressões abaixo:

Soi = Poi / FPpréi Sot = ∑ Soi Pot = ∑ Poi FPprét = Pot / Sot
i i

Geralmente os parâmetros e modos de controle das diversas unidades de um parque eólico são iguais e os
processos de soma vetorial se resumiriam a uma simples soma do número de unidades idênticas dos diversos
grupos. Porém, caso exista mais de um subconjunto de unidades com parâmetros ou comportamentos muito
distintos, pode-se também optar por fazer um equivalente para cada um dos subconjuntos.

A junção do transformador equivalente obtido na primeira etapa do método com o gerador eólico equivalente obtido
na segunda etapa consistirá no equivalente de todo o parque eólico, e pode ser usado para substituir a
representação detalhada do mesmo nos arquivos de dados de curto-circuito do sistema completo. A qualidade
deste equivalente para substituir a representação detalhada dos parques eólicos será avaliada no próximo item.

NOTA: Em programas que utilizam métodos convencionais de cálculo de curto-circuito, uma forma de se modelar
os geradores eólicos com conversor de freqüência seria através do uso de fontes de tensão atrás de impedâncias
com valores variáveis, obtidos por um processo iterativo, de modo que a contribuição do gerador iguale o valor de
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corrente desejado. Neste caso, a metodologia convencional de cálculo de equivalentes poderia ser utilizada
diretamente, mas o valor de impedância relativo aos demais equipamentos existentes no parque seria perdido, pois
o valor da impedância do gerador eólico equivalente tem ângulo de fase fixo (definido em função do valor do
parâmetro FPcc ) e módulo calculado em função de cada curto simulado (de modo que o valor da contribuição do
eólico seja sempre igual a Imáx ). Para evitar este inconveniente, pode ser utilizado o método proposto neste
trabalho.

4.0 - CASO TESTE

Com o intuito de testar a efetividade do equivalente obtido pelo método proposto em substituição à representação
detalhada, analisou-se inicialmente o parque com o maior número de grupos de geradores representados (84
unidades de 2MW cada, num total de 16 grupos de unidades idênticas) em uma configuração de referência para
dezembro de 2016 relativa ao SIN, com mais de 12000 barras, disponibilizada pelo ONS (Ref.6). Foram simulados
curtos (FT, FFT e 3F) em todas as barras do sistema. A maior diferença encontrada nos níveis de curto-circuito,
comparando as configurações completa e com o equivalente, foi de 0,89% , num curto trifásico a 3 vizinhanças da
barra de entrada do parque. Neste curto em particular, a diferença na contribuição do parque foi de 3,8% ,
enquanto que a maior diferença na contribuição do parque em todos os curtos analisados foi de 8,55% , num curto
trifásico a 7 vizinhanças da barra de entrada do parque, no qual a diferença no nível de curto foi de apenas 0,08%.

4.1 Explicação das diferenças obtidas entre o caso original e o caso com o parque equivalentado

Neste item são discutidas as principais causas das diferenças encontradas entre os resultados obtidos nas
simulações usando a configuração completa e a configuração com o parque substituído por um equivalente. A
fonte primordial das diferenças reside no fato de que o caminho elétrico entre a barra de entrada do parque e a
barra terminal de cada unidade (ou grupo de unidades idênticas) possui um valor de impedância diferente. Deve-
se lembrar que o valor de corrente injetada pelo eólico (modelado por uma fonte de corrente controlada) durante
um curto depende do valor de tensão na sua barra terminal.

Como as impedâncias dos caminhos elétricos de cada unidade são diferentes, suas tensões terminais também
serão diferentes (tanto em módulo como em ângulo), mesmo que os seus parâmetros sejam idênticos. Isso faz
com que as injeções dos diversos grupos, apesar de poderem ter o mesmo valor de módulo (no caso Imáx),
venham a ter valor de ângulo absoluto diferente, pois cada um estará defasado Фcc em relação a um diferente
valor de ângulo de tensão terminal. Assim sendo, a sua soma na saída do parque (a contribuição do parque para
um curto fora do mesmo) não será uma soma algébrica, acarretando diminuição no valor do módulo da contribuição
total do parque quando comparado a uma soma algébrica.

No processo de equivalentação das fontes de corrente correspondentes aos grupos de eólicos existentes no
parque supôs-se que a tensão terminal possuía ângulo de fase igual a zero, por isso, no processo de soma vetorial
utilizado, sempre que o valor de FPcc das diversas unidades for igual, o processo se resume a uma soma
algébrica, ou seja, o valor de injeção máxima da fonte equivalente ( Imáxt ) será igual ao somatório dos valores de
injeção máxima das diversas unidades. Isto faz com que a contribuição do equivalente seja diferente da
contribuição total do parque no caso original, mas uma característica positiva é que a contribuição do equivalente
nestes casos será sempre maior ou igual que a do parque original, ou seja, a diferença é do tipo conservativa.
Obs.: as diferenças entre as tensões terminais das diversas unidades dependem do tipo e localização do curto-
circuito, portanto não há como obter um equivalente único que consiga reproduzir estas diferenças.

A Figura 4 mostra um exemplo didático de equivalentação de 2 geradores eólicos, onde pode ser visto que a
diferença entre os valores de impedância dos caminhos elétricos dos grupos faz com que a contribuição total do
parque (3995 A) seja inferior à soma dos valores individuais de Imáx dos grupos (4000 A), o que não ocorre com
o eólico equivalente, que contribui com os 4000 A (obtidos na etapa de soma vetorial do método proposto – neste
caso uma soma algébrica pois os parâmetros dos grupos equivalentados eram idênticos).

Na Figura 4, os dois diagramas da esquerda apresentam os valores dos parâmetros dos equipamentos, enquanto
que os dois diagramas da direita apresentam os resultados para um curto FT na barra de número 1. Os dois
diagramas de cima se referem ao caso original com dois eólicos de parâmetros idênticos representados
separadamente, enquanto que os dois diagramas de baixo se referem ao caso com os eólicos equivalentados. Os
parâmetros dos eólicos e do equivalente indicam FPpré / Imáx na legenda superior e Vmín / FPcc na inferior.
Os parâmetros dos demais equipamentos indicam R1 / X1 na superior e R0 / X0 na inferior, em % na base
de 100 MVA e 345 kV.

Outra situação que pode gerar diferenças entre a contribuição do parque com o caso original e com o equivalente é
quando, durante o curto, as tensões terminais dentro do parque ficam com valores próximos ao valor de Vmín,
supondo-se que seja o mesmo em todos os grupos do parque. Neste caso, pode ocorrer de algumas unidades do
parque terem a sua injeção zerada e outras não, o que pode causar maiores diferenças em relação ao caso com o
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parque equivalentado, pois o eólico equivalente não terá como reproduzir este comportamento intermediário: ou ele
estará injetando (se sua tensão terminal não estiver abaixo de Vmín ) ou terá a injeção zerada caso contrário. Nas
simulações mostradas no próximo item este efeito não pode ocorrer, tendo em vista que os valores de Vmín são
todos iguais a zero e nenhum eólico pode ter a sua injeção zerada devido a este parâmetro.

FIGURA 4 – Exemplo de equivalente com contribuição maior que a do original (valores de seq. positiva, curto FT)

4.2 Simulações com o parâmetro Vmín zerado

Para avaliar a efetividade do equivalente obtido pelo método proposto com um conjunto de dados no qual a
possibilidade dos eólicos contribuírem para os curtos seja maximizada, executou-se as mesmas simulações
anteriores com os valores do parâmetro Vmín de todos os eólicos do parque equivalentado valendo zero (o valor
original de todas as unidades era 0,8 pu). Para justificar a utilidade da simulação com Vmín zerado, pode ser
citado o trabalho (Ref.7) onde foram analisados resultados de oscilografias obtidas durante curtos-circuitos
próximos a parques eólicos e verificou-se que, nos primeiros 30 a 40 milissegundos após a ocorrência do curto, o
eólico permanece injetando, mesmo que sua contribuição venha a ser zerada após esse tempo, p.ex. em função do
parâmetro Vmín.

A maior diferença encontrada nos níveis de curto-circuito nas barras, comparando a configuração original completa
com a configuração com o parque equivalentado, foi de 0,05% (com variação de 0,47% na contribuição do
parque), enquanto que a maior diferença na contribuição do parque em todos os curtos analisados foi de 0,48%.
Como era de se esperar, as maiores diferenças neste caso foram inferiores às do caso com os valores originais
de Vmín pois, com este parâmetro zerado, deixa de existir uma das causas de diferenças nos resultados ao usar o
equivalente (ver final do item 4.1).

4.3 Simulações equivalentando todos os parques do caso

Com o objetivo de avaliar o uso do método proposto em grande escala, foram calculados os equivalentes de todos
os 11 parques presentes na configuração em estudo. Ao todo são 850 unidades num total de 65 grupos de
unidades idênticas e uma potência instalada de 1538,4 MW.

Para avaliar a efetividade de cada um destes equivalentes, substituiu-se inicialmente um parque por vez. Foram
simulados curtos (FT, FFT e 3F) em todas as barras do sistema. As maiores diferenças percentuais encontradas
nos níveis de curto-circuito (dif.ncc.), comparando a configuração original completa com cada configuração com
apenas um parque equivalentado, são apresentadas na Tabela 1. A maior de todas foi de 4,57% ao equivalentar o
parque 4, mas na maioria dos demais parques a maior diferença de nível de curto foi desprezível.

Foram levantadas também as maiores diferenças na contribuição dos parques (dif.parque) nos casos acima, e a
maior de todas foi de 21,45% ao equivalentar o parque 4, mas em 6 deles a maior diferença foi desprezível e em
outros 2 ficou em torno de 0,5%.

Observa-se que as maiores diferenças de nível de curto e de contribuição de parque variam bastante em função do
parque equivalentado. Como explicado no item 4.1, estas variações podem ser devidas ao valor do
parâmetro Vmín e à topologia interna dos parques (caminhos com impedâncias diferentes). No parque 4 em
questão, as diferenças se deveram à presença de acentuada assimetria na impedância de alguns caminhos entre a
barra de entrada e os eólicos, por isso deve-se analisar caso a caso a conveniência da substituição do parque por
um equivalente. A Tabela 1 apresenta também alguns totais e parâmetros de cada parque presente no caso.
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Para avaliar o seu efeito em conjunto, foram simulados os mesmos curtos em uma configuração com todos os
equivalentes representados simultaneamente. Pode-se ver na última linha da Tabela 1 que as maiores variações
de nível de curto e de contribuição de parque encontradas foram as mesmas obtidas com apenas o parque 4
equivalentado. A redução no número total de barras do sistema em função da equivalentação dos parques foi
de 156, além de 89 transformadores e 54 linhas/cabos, o que, aliado à grande redução no número de fontes de
corrente controladas (que requerem um processo iterativo para a sua solução), possibilitou uma considerável
redução no tempo de processamento dos curtos, que caiu de 16,5 para 4,5 segundos (uma redução de 72,7%).

TABELA 1 – Resultados equivalentando todos os parques do caso analisado

MW Vmín Imáx(A) dif.ncc. dif.parque


parque nº unidades nº grupos FPcc
total (pu) p/un. (%) (%)
1 45 + 39 = 84 9 + 7 = 16 168,0 0,8 1,0 3500 e 2450 0,89 8,55
2 124 + 47 = 171 7+2=9 256,5 0,15 0,88 e 0,95 1600 0,11 0,51
3 86 3 129,0 0,15 0,95 1600 0,02 0,45
4 80 4 120,0 0,15 0,95 1600 4,57 21,45
5 52 4 104,0 0,15 0,95 2887 0,00 0,00
6 25 4 20,0 0,15 0,95 1600 1,02 11,86
7 75 + 73 = 148 6 + 8 = 14 317,9 0,0 0,1 3960 e 3500 0,00 0,00
8 50 1 115,0 0,15 0,88 5400 0,00 0,00
9 72 6 144,0 0,0 0,1 3960 0,00 0,00
10 36 1 72,0 0,0 0,1 3960 0,00 0,00
11 46 3 92,0 0,15 0,88 1600 0,01 0,03
todos 850 65 1538,4 4,57 21,45

5.0 - CONCLUSÃO

O trabalho descreve um método desenvolvido para calcular equivalentes para substituir a representação completa
de parques eólicos que utilizem a tecnologia full-converter. O método foi aplicado a uma configuração real do SIN
com o objetivo de avaliar a qualidade dos equivalentes obtidos.

Nas simulações equivalentando todos os parques do caso analisado, tanto separadamente como em conjunto, a
maior diferença observada em um nível de curto-circuito foi de 4,57% , mas na maioria dos parques a maior
diferença foi desprezível. A maior diferença observada na contribuição de qualquer um dos 11 parques
equivalentados foi de 21,45% , mas em 6 deles a maior diferença foi desprezível e em outros 2 ficou em torno de
0,5%. Estas variações podem ser devidas ao valor do parâmetro Vmín e à topologia interna dos parques e deve
ser analisada caso a caso a conveniência da substituição do mesmo por um equivalente.

Foi obtida uma significativa redução de 72,7% no tempo de simulação dos curtos quando do uso de equivalentes
em todos os parques do caso. Uma característica importante do método é necessitar apenas de um programa
com algoritmo convencional de cálculo de equivalentes para a sua utilização.

6.0 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

(1) MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA, EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA. Plano Decenal de Expansão
de Energia 2022. 2013. Brasil.
(2) MARTINS, T.D., FARINHA M.V., HENRIQUES M.W. “O Planejamento da Transmissão Considerando o
Aumento de Fontes Intermitentes: Histórico e Desafios Atuais”. Workshop do CE C1 do Cigré Brasil “Desafios
Técnicos e Regulatórios da Expansão da Transmissão do Sistema Interligado Nacional com o Aumento de Fontes
Renováveis Intermitentes”. 2014. Brasil.
(3) GRAINGER, J.J., STEVENSON JR., W.D. Power System Analysis. Ed. McGraw-Hill. 1994. Cingapura.
(4) ROMERO S.P., ROSSI J.I., AQUINO A.F.C., RANGEL R.D., LEVY L.N. Representação de Geradores Eólicos
Síncronos com Conversor de Freqüência por Fontes de Corrente Controladas em um Programa de Cálculo de
Curtos-Circuitos. XI SEPOPE. 2009. Brasil.
(5) CEPEL – CENTRO DE PESQUISAS DE ENERGIA ELÉTRICA. ANAFAS – Programa de Análise de Faltas
Simultâneas. “http://www.anafas.cepel.br”.
(6) ONS – OPERADOR NACIONAL DO SISTEMA ELÉTRICO. Base de dados de Curto-Circuito e Casos de
Referências. “http://www.ons.org.br/operacao/base_dados_curtoc_referencia.aspx#”.
(7) REIS, J.M.V.S. Comportamento dos Geradores Eólicos Síncronos com Conversores diante de Curtos-Circuitos
no Sistema. Dissertação de Mestrado. UFRJ/COPPE/PEE. 2013. Brasil.

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