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TRABALHO PRÁTICO #01

Marcelo Rocha, Marcos Borsatti, Paulo Vieceli

UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL


Cidade Universitária
Centro de Ciências Exatas e Tecnologia
Engenharia de Controle e Automação / Automação Industrial
Rua Francisco Getúlio Vargas, 1130 – B. Petrópolis
95070-560 – Caxias do Sul – RS – Brasil
e-mails: mlrocha@ucs.br, mvfborsa@ucs.br e prviecel@ucs.br

RESUMO

Este texto apresenta o primeiro trabalho prático referente ao projeto de uma fonte de alimentação, com regulador de tensão
discreto, que foi desenvolvido junto à disciplina de Eletrônica I. São abordados conceitos sobre conversão corrente alternada-
corrente contínua. Relata métodos utilizados para projetar e implementar uma fonte de tensão de 9V, utilizando figuras,
esquemas e tabelas para descrever o funcionamento tanto teórico como prático. Descreve a simulação realizada em computador
com ajuda do simulador de circuitos elétricos NI Multisim™ 11.0.

Palavras Chave: fonte, eletrônica I, Multisim™.

1 - INTRODUÇÃO

Os objetivos desse relatório são: desenvolver e implementar um projeto relacionado com o conteúdo da
disciplina. Desenvolver uma fonte de alimentação, utilizando um regulador de tensão discreto (zener), que tenha
uma saída de 9V, capaz de fornecer correntes até 20mA com a melhor regulação possível.
O texto está organizado em quatro tópicos, sendo que no primeiro será descrito uma revisão bibliográfica
sobre o assunto tratado no trabalho, no segundo tópico serão descritos os procedimentos utilizados para a simulação
e finalmente será apresentado os resultados obtidos pela simulação do projeto seguido das bibliografias utilizadas
como apoio no desenvolvimento.

2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A eletricidade que está disponível em grande quantidade graças às extensas redes de distribuição
espalhadas pelo país, apresenta- se sob a forma de corrente alternada senoidal, 220V ou 110V (valores eficazes ou
rms - root mean square) e freqüência de 60 Hz. Esta pode ser utilizada diretamente para acionamento de motores,
aquecimento resistivo e iluminação. Outras aplicações requerem corrente contínua como, por exemplo, os processos
eletrolíticos industriais, o acionamento de motores de alto conjugado de partida (utilizados em tração elétrica e
controles industriais), carregadores de bateria e a alimentação de praticamente todos os circuitos eletrônicos.
A obtenção de corrente contínua, a partir da corrente alternada disponível, é indispensável nos
equipamentos eletrônicos. Estes, invariavelmente, possuem um ou mais circuitos chamados fontes de alimentação
ou fontes de tensão, destinados a fornecer as polarizações necessárias ao funcionamento dos dispositivos

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eletrônicos. Aos circuitos ou sistemas destinados a transformar corrente alternada em contínua damos o nome
genérico de conversores C.A. –C.C.(ou em inglês, A.C. –D.C, alternate current –direct current). Assim, uma das
soluções para transformar sinais alternados em sinais contínuos é a utilização de circuitos retificadores.

2.1. Retificadores

Retificador é um circuito que faz a conexão entre uma fonte CA (corrente alternada) e uma carga CC
(corrente contínua), isto é, um dispositivo que permite que uma tensão ou corrente alternada seja transformada em
contínua. A tensão direta assim obtida não é pura tal qual a de uma bateria, contém componente de ripple alternada
(CA), superposta com um nível médio (CC).
Existem vários tipos possíveis de retificadores, e de acordo com o tipo, obtêm-se diferentes ripples, tensão
média e eficiência na saída. Serão abordados basicamente dois tipos de retificadores: retificador de meia-onda ou
um caminho; retificador de onda completa ou dois caminhos com tap central e em ponte. Entretanto, todos sem
controle, ou seja, fornecendo à carga uma tensão média fixa que depende da tensão alternada presente na entrada.

2.1.1 Retificador de Meia-Onda

O retificador de meia-onda é exemplificado em um circuito composto por um diodo e um resistor, como


pode ser visto na figura 1. Esse tipo de retificador utiliza metade dos semiciclos da senóide de entrada (semiciclos
positivos). A expressão meia-onda vem do fato de que, em cada fase na entrada, a corrente é unidirecional; por isso
alguns autores preferem a denominação um caminho.

Figura 1. Retificador de meia-onda.

A corrente na resistência de carga R só circula num sentido, embora a tensão aplicada ao circuito seja
alternada. A corrente só circula no semiciclo positivo quando o diodo for polarizado diretamente. No semiciclo
negativo com o diodo polarizado inversamente não há fluxo de corrente. A figura 2 mostra as formas de onda de Vs
e Vo no tempo.

Figura 2. Formas de onda de Vs e Vo.

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Como não há queda de potencial através da resistência de carga, toda a tensão fica aplicada no diodo.
Apesar de ser barato, em virtude de usar apenas um diodo, é considerado como o pior retificador, por gerar muita
interferência na onda.

2.1.2 Retificador de Onda Completa

Retificador de onda completa é um circuito que transforma a corrente alternada em corrente contínua
aproveitando tanto o semiciclo negativo quanto o positivo do transformador ou rede, ele consegue fazer isso, pois ao
invés de usar um ele usa dois diodos em paralelo ou quatro quando se tratar de um circuito retificador em ponte, ele
se torna um retificador muito mais eficaz do que o de meia-onda
O circuito retificador de onda completa com derivação (tap) central, figura 3, é um circuito que utiliza o
enrolamento secundário do transformador com terminal central (center tap), de modo que este seja dividido ao meio
para proporcionar tensões iguais em cada uma das metades dos enrolamentos secundários. Além disso, dois diodos
também constituem o circuito e com isso essa configuração de retificador permite a passagem de corrente por R nos
dois semiciclos da senóide como mostra a figura 4.

Figura 3. Retificador de onda completa com derivação central.

Figura 4. Formas de onda de Vs e Vo.

O circuito retificador de onda completa em ponte, figura 5, é um circuito que utiliza quatro diodos em seu
funcionamento, figura 6. Essa configuração não exige que o transformador com tomada central, o que garante uma
vantagem considerável sobre o regulador de onda completa com tap central.
Apesar de serem utilizados quatro diodos em vez de dois da configuração anterior, essa não é uma grande
desvantagem, visto que os diodos apresentam baixo custo e ainda pode-se comprar uma ponte de diodos em um

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único encapsulamento. Além disso, pode-se reduzir o número de espiras do secundário do transformador pela
metade, nesse tipo de circuito.

Figura 5. Retificador de onda completa em Ponte.

(a) (b)
Figura 6. Caminho de condução para a polaridade positiva (a) e negativa (b) na tensão de entrada

2.2 Filtro Capacitivo

O filtro capacitivo, figura 7, é um arranjo de circuito elétrico que tem a finalidade de reduzir variações de
tensão e corrente de altas frequências. Basicamente os filtros capacitivos usados em fontes servem para eliminar
uma tensão continua pulsante e transformá-la em uma corrente contínua que varia menos. Essa variação é chamada
de Tensão de Ondulação ou Ripple (Vr), como mostra a figura 8.

Figura 7. Filtro Capacitivo.

Figura 8. Tensão de Ripple.

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2.3 Regulador de Tensão

Um regulador de tensão é um dispositivo, geralmente formado por semicondutores, tais como diodos
zener e circuitos integrados reguladores de tensão, que tem por finalidade a manutenção da tensão de saída de um
circuito elétrico. Sua função principal é manter a tensão produzida pelo gerador/alternador dentro dos limites
exigidos pela bateria e pelo sistema elétrico que esta alimentando e para tanto é necessário que a tensão de entrada
seja superior à tensão de saída.

3 – METODOLOGIA EXPERIMENTAL

Para desenvolver o projeto proposto no início deste relatório, baseou-se no esquema da figura 9, que
exemplifica em blocos os componentes de um retificador. A tensão senoidal V1 é a própria da rede, no caso da
cidade de Caxias do Sul 220V@60Hz. Para T1 utilizou-se um transformador (trafo) abaixador 12+12V / 200mA,
que fornece tensão e corrente suficientes para o circuito.

Figura 9. Circuito retificador genérico.

Para a retificação utilizou-se o processo de retificação de onda completa em ponte, que apresenta um nível
muito bom de saída em corrente contínua (CC). E também, possui uma característica de tensão de pico inversa
(PIV ou PRV – tensão de pico reversa) nos diodos igual à tensão de pico do secundário do trafo (17V).
Na ponte retificadora utilizaram-se os diodos clássicos de retificação 1N4007 (D1... D4), note que poderia
ser usado um circuito integrado pronto (3N246... 3N252), mas levando-se em consideração o caráter didático se fez
melhor os diodos separados.

3.1. Cálculos

O primeiro passo foi escolher o regulador de tensão discreto apropriado, para tal utilizou-se um diodo zener
de 9V1 e com potência nominal de 5W. Note que existem comercialmente diodos de 8V7, entretanto para se atingir

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a tensão requerida no projeto de 9V, teria que elevar a corrente no elemento mais do que a sua faixa de operação
nominal, possivelmente levando o zener a uma região instável de operação, ou até mesmo, podendo danificá-lo.
Comercialmente encontrou-se o zener 1N5346 (9V1@150mA), mas este diodo regulador precisa ser
ajustado para a tensão de 9V, que será fornecida a carga ligada em paralelo. Para tanto fez uma análise da reta de
carga (figura 10). Através da qual se constatou que a corrente para elevar a tensão do regulador até 9V é de
aproximadamente 65,415mA. É importante ressaltar que está medição está baseada em modelos matemáticos
(equações diferencias) do simulador de circuitos elétricos NI Multisim™ 11.0, e não retrata em absoluto a realidade
em questão de variações de temperatura, sendo assim o modelo real sofrerá com as condições climáticas, mas esse
valor é uma aproximação muito boa.

Figura 10. Reta de carga do diodo zener 1N5346.

Para o cálculo do capacitor C1 utilizou-se a equação 1, e convencionou o valor de 5% para o ripple. A


corrente máxima será os 65,415mA (zener) somados aos 20 mA (corrente máxima para a carga). Note que a tensão
Vp ou tensão de pico é 17Vp fornecidos pela fonte menos o Vf (0,7V) consumidos por cada diodo, no caso dois
diodos.
i max
C1 = (1)
2. f .0,05.Vp

85,415x10 −3
C1 = ≈ 912,55µF
2.60.0,05.15,6

O valor comercial mais próximo é 1000µF o que resulta em um ripple de 4,5%. Para a tensão de isolação
utilizou-se a regra prática de 1,5 vezes a tensão de pico, ou seja, 1,5.15,6V=23,4V comercialmente 25V.
O resistor limitador de corrente R1 sai da relação descrita na equação 2, sendo Vz igual à tensão que se
deseja fornecer para a carga RL.

Vp − Vz
R1mim = (2)
i max

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15,6 − 9
R1mim = ≈ 77,26 Ω
85,415 x10 −3

O valor de comércio fica em 75Ω (tolerância 5%), entretanto deve-se notar que o resistor dissipará 6,62V /
75 Ω = 580mW, então esta resistência deverá ser de no mínimo 1W.
Para o dimensionamento do fusível F1 verificou-se a condição de curto-circuito da carga, ou seja, RL → 0,
nesse caso o circuito vai exigir o máximo de corrente do trafo que é de 200mA. Note que através das especificações
é sabido que a resistência mínima da carga é 450 Ω (9V / 20mA), e a máxima RL → ∞ (sem carga).

3.2. Simulação

Com a ajuda do simulador NI Multisim™ 11.0 fizeram-se simulações para constatar se as especificações do
projeto foram mantidas, sobretudo ao utilizar os valores de componentes comerciais. O circuito final é mostrado na
figura 11.

Figura 11. Fonte de alimentação de 9V.

Um ponto crítico de qualquer protótipo é a sua viabilidade de custo, para a solução proposta o valor ficou
bem razoável (R$17,10). A tabela 1 demonstra os valores cotados nas lojas de comércio de componentes eletrônicos
da cidade, para a lista não se levou em conta os custos com fiação e nem custos adicionais para possível fabricação
de uma placa de circuito impresso ou circuito aranha.

Tabela 1 - Descrição dos componentes e preços.


IDENTIFICAÇÃO COMPONENTE PREÇO
F1 FUSIVEL VIDRO PEQUENO 200MA R$1,20
T1 TRANSFORMADOR 12+12V 200MA R$12,90
D1 DIODO 1N4007 1A-1000V R$0,05
D2 DIODO 1N4007 1A-1000V R$0,05
D3 DIODO 1N4007 1A-1000V R$0,05
D4 DIODO 1N4007 1A-1000V R$0,05
C1 CAPACITOR ELETROLITICO 1000uF X 25V R$1,65
R1 RESISTOR 1W 75R R$0,20
D5 DIODO ZENER 5W 9V1 1N5346 R$0,95
TOTAL R$17,10

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3.2.1 Simulação Circuito com Carga.

Para efeitos de simulação utilizaram-se duas condições críticas, a primeira é quando a saída está fornecendo
o máximo de corrente para a carga, isto é, RL = 450 Ω. E consequentemente, a menor corrente será fornecida para o
diodo regulador. Utilizando a ferramenta Ponta de Prova do simulador de circuitos elétricos NI Multisim™ 11.0
obtiveram-se os valores vistos na figura 12, note que a tensão média na saída da fonte foi 8,99V e o ripple 12,6 mV.

Figura 12. Simulação dinâmica com RL = 450 Ω.

Com a ajuda do osciloscópio disponível pelo simulador pode-se observar com detalhe a forma de onda do
capacitor C1, figura 13, que fornece os valor máximo (15,27V), mínimo (14,71V) e ripple (561,89mV).

Figura 13. Forma de onda do capacitor C1 no osciloscópio.

A figura 14 demonstra o que de fato está sendo fornecido pela fonte.

Figura 14. Forma de onda da saída no osciloscópio.

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3.2.2 Simulação Circuito sem Carga.

Uma condição que se deve levar em consideração é quando a carga é desconectada do circuito, isto é, RL
→ ∞. Nesse momento toda a corrente da fonte vai passar pelo diodo zener, isso causa um aumento na tensão
nominal desse regulador. Na simulação, figura 15, pode-se visualizar que este aumento foi de aproximadamente
0,02V. Note que a tensão média na saída da fonte foi 9,02V e o ripple 10,4 mV (0,1%).

Figura 15. Simulação dinâmica.

Com a ajuda do osciloscópio disponível pelo simulador pode-se observar com detalhe a forma de onda do
capacitor C1, figura 16, fornecendo os valor máximo (15,27V), mínimo (14,71V) e ripple (559,25mV).

Figura 16. Forma de onda do capacitor C1 no osciloscópio.

A figura 17 pode-se observar o que está acontecendo na saída da fonte.

Figura 17. Forma de onda da saída no osciloscópio.

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4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES

Termina-se este relatório de forma positiva, mesmo ocorrendo algumas dificuldades, foram adquiridos
vários conhecimentos. As condições exigidas no início desse relatório foram totalmente cumpridas, a fonte fornece a
tensão mínima de 8,99Vcc e máxima de 9,02Vcc, com corrente máxima de 20mA. A tensão de ondulação ficou
excelente representando 0,1% da tensão média de saída.
O projeto é de fácil implementação, constituído de componentes comuns e baratos no mercado. É também
importante ressaltar que a solução proposta nesse relatório não é única, existem outras configurações envolvendo
circuitos integrados (LM7809) e transistores que apresentariam excelentes resultados. Entretanto, essas soluções
foram descartadas, pois o objetivo era utilizar apenas o semicondutor de zener para fazer a regulagem da tensão de
saída.
As medidas podem variar para o modelo real, pois existem fatores que não foram considerados aqui como:
variações de temperaturas, resistência dos contatos, mau estado de algum componente, imprecisão de valores, etc.
Mas o circuito pode ser ajustado para que fique inerente ou não responda bruscamente a essas intempéries, como por
exemplo, utilizar uma embalagem que possua área suficiente para a troca de calor com o meio, mantendo a
temperatura dos componentes o mais constante possível e na faixa de operação dos mesmos.
Outro fator desse trabalho prático é a familiarização do aluno com algum simulador, nesse sentido pode-se
afirmar que o objetivo foi alcançado. Houve a utilização das ferramentas de computador para maximização e
produtividade do trabalho, e também se fez uso delas para encontrar variáveis chaves, como a corrente que levaria o
zener de 9V1 para 9V. Por fim levando-se em conta o caráter didático e por ser um produto único faz-se de bom
senso utilizar um protoboard para realizar a montagem e apresentação em laboratório.

5 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] BOYLESTAD, Robert, NASHELSKY, Louis – “Dispositivos Eletrônicos e Teoria de Circuitos”. São Paulo:
Prentice Hall do Brasil, 2006.
[2] SEDRA, Adel S. “Microeletrônica”. Ed. Makron Books do Brasil, 1995.

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