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Projeto de Pesquisa
Cognição, materialidade e culturas musicais: uma perspectiva experimental
sobre as relações epistêmicas entre músicos, bailarinos e objetos
Belo Horizonte
Março 2017
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TÍTULO DO PROJETO
RESUMO
A evolução do plano de estudos das ciências cognitivas tem aberto o campo das teorias da arte
para compreender a materialidade dos objetos do cotidiano na formação do que chamamos de
conhecimento artístico. Estes objetos epistêmicos que mediam, ampliam, limitam e alteram
nossa mediação com a realidade estão também espalhados nos domínios da cultura, em especial
as culturas musicais e principalmente as culturas populares. Neste projeto, nos concentramos
nas relações de produção de conhecimento que emergem na interação dos artistas com seus
objetos e agentes externos. Mais especificamente, o projeto se concentra nas interações entre
músicos, bailarinos sobre seus objetos materiais e imateriais. Para estudar estas relações,
primeiramente, descrevemos as interações originais entre pessoas e objetos a partir de dados
quantitativos utilizando captura de movimento e dados de sensores. Em um segundo momento,
desenhamos experimentos onde as interações originais são alteradas a partir de modificação
dos objetos ou da proposição de limitações de interação. A comparação entre interação original
e interações alteradas permite observar como as propriedades dos objetos alteram as formas de
interação e influenciam o que chamamos de conhecimento musical, posto em ação pelo músico
e bailarino.
INTRODUÇÃO
uma grande parte dos indivíduos vivendo nas sociedades modernas e informatizadas,
a memória para guardar números foi gradativamente substituída pela habilidade que
canetas por computadores, cadernos por telas, bicicletas por carros, deixamos de lado
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algumas habilidades e criamos demandas por outras habilidades que interagem com
(discutidas no decorrer do projeto), podemos dizer que estes objetos fazem parte de
nossa cognição. Uma cognição que processa informações por mecanismos que não
de um piano nos permitiram dominar o material musical ao ponto de que esse novo
interação cíclica e física entre a batida dos pés e a fisicalidade onipresente do solo.
modo como produzimos cultura, mas nos ajudam a aprender e estabelecer relações
culturais.
que emergem na interação dos artistas com seus objetos e agentes externos. Mais
músico e o bailarino como agentes artísticos sobre seus objetos. Esta descrição toma
trabalho cada vez mais simbólico (como discutido em SERRES, 1995 por exemplo).
Por outro lado, as novas interfaces multimodais parecem migrar para formas menos
demonstra como este modo de interação com o material musical exige um novo
interação com o corpo. De que maneira e quão importante são os objetos e os limites
impostos por eles para nosso conhecimento sobre as formas de música e dança?
ilustrada por uma ideia de “transcendência” entre as fronteiras entre o corpo do músico
ser vista também como uma sensação de “organicidade” entre corpo e o instrumento
LESAFFRE; LEMAN, 2009; PEZZULO, 2007; PEZZULO et al., 2011). Vários autores
esquema corporal não se processam em planos paralelos mas formam uma unidade
corpo humano. A questão reside na forma como este objeto ou entidade externa
interage com as associações entre ação e som. Ou, proposto de outra forma, o que
ambiente externo, que inclui as tecnologias que aprendemos a utilizar para realizar
si. Isto implicaria em uma definição de cognição que extrapola os limites físicos do
corpo. Em nosso estudo, os objetos que interagem com músicos e bailarinos poderiam
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ser entendidos como uma continuação das suas mentes e corpos, se observados a
partir de uma concepção de cognição que não se encerre em oposições entre corpo,
As teorias da mente incorporada têm oferecido uma forte crítica à esta noção
biologia que traziam evidências de uma forma de conhecimento que se projetava não
não-hermenêutica que não só olha para a experiência e para os objetos como uma
seus objetos não está facilmente apresentada na experiência humana. Na dança, por
forma que a dança, desvia o foco para relações secundárias como os textos, contextos
musicologia até o século XXI e ainda permanecem nas práticas de disciplinas como a
música possa ser apropriada, ela não apresenta em si um método claro para um
metodológicas mais eficientes para observar o impacto das relações dos objetos com
musical através da simulação por uma interface táctil que mantinha todas as relações
locais de manipulação para acionamento dos sons (posicionamento dos dedos) mas
violonistas que estavam tocando a interface pela primeira vez. Ao mensurar a dados
das notas originais do acordeom. A figura 1 mostra o tempo de execução das tarefas
estes objetos e método para outras atividades podemos pensar que a alteração de
elementos isolados da interação entre sujeito e objetos pode fornecer dados para o
resposta sonora) poderia ser desenhado como uma variável independente para o
estudo das relações entre corpos e objetos, em conjunto com o controle de variáveis
parafraseada de Magnunson (2005), pode ser definida desta forma: Como os objetos
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OBJETIVO GERAL
músico-instrumento e bailarino-contexto.
Objetivos específicos
bailarinos e objetos
sujeitos
cronograma do projeto.
disciplinas de dança e música (além das divisões entre dança e música popular
ou tradicional) é essencial que o universo combinado da dança e música popular
social e por seu impacto terapêutico e social. Por outro lado, o impacto
para projetos desta natureza, optaremos pelo envio do projeto assim que os
Preparação
Revisão da literatura
estudo que envolve interface e sensores para captura de interações com objetos
comprados.
Compra de equipamentos
experimentos piloto seja realizada nos 6 primeiros meses do projeto. Assim que
Treinamento de bolsistas
impressora 3d, que será utilizado para copiar e modificar partes de objetos de
esperado que esta seleção seja coletada do espaço da cultura popular, a escolha
FASE EXPERIMENTAL
modelo tenha sido frutífero nas abordagens anteriores, não está descartado o
Desenho experimental
(Arduino). Em uma outra fase, a interação entre sujeito e objeto é alterada pelas
análises de dados.
Documentação e divulgação
LAKOFF, G.; JOHNSON, M. Metaphors we live by. [s.l.] Chicago London, 1980.
LAKOFF, G.; JOHNSON, M. Philosophy in the flesh: The embodied mind and its
challenge to Western thought. [s.l.] Basic Books, 1999.
NIJS, L.; LESAFFRE, M.; LEMAN, M. The musical instrument as a natural extension of
the musician. Proceeding of the 5th conference on Interdisciplinary Musicology,
2009.
PARNCUTT, R. Systematic Musicology and the History and Future of Western Musical
Scholarship. Journal of Interdisciplinary Music Studies, v. 1, n. 1, p. 1–32, 2007.
Objetivos
● Introduzir ao orientando os princípios básicos de planejamento de experimentos
científicos
● Promover um rotina de trabalho que impulsione o interesse científico do aluno.
● Treinar o bolsista para a aquisição de habilidades básicas para pesquisa na área de
programação e montagem de eletrônica básica.
● Promover o desenvolvimento do projeto através do gerenciamento dos experimentos e
manutenção dos trabalhos de pesquisa e disseminação em websites, contato com
pesquisadores e interessados.
Plano de trabalho
O plano de trabalho foi pensado para promover a formação de quadros de excelência para
atuação futura do aluno em sua carreira acadêmica. Embora o plano evidencie rotinas de
coleta de dados, análise e disseminação o bolsista será acompanhado para desenvolver
habilidades de planejamento, independência e pensamento crítico necessárias para o
prosseguimento de sua carreira.
O bolsista iniciará seus trabalhos auxiliando o planejamento e execução das revisões, compras
e prototipagens primeira fase do projeto. Durante este processo serão introduzidas habilidades
de programação de microcontroladores, eletrônica básica e planejamento de experimentos. No
decorrer do projeto o bolsista organizará e trabalhará na disseminação dos resultados por meio
de um website. Serão oferecidas todas as condições e treinamentos necessários para a
execução das tarefas.
Meses: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
Fase 1
1 Revisão da literatura
Fase 2
• Edição e gerenciamento de um website científico
6 Realização dos experimentos - Parte 1
•7 Análise
Publicação
dos dados de um relatório ou artigo científico sobre um tópico desenvolvido na
iniciação
8 Publicação de resultados preliminares
Cronograma
O cronograma da pesquisa descrito no projeto interage com o plano de trabalho do bolsista nas
áreas onde é possível a participação e onde as rotinas de processamento e não apresentem
complexidades técnicas. Estas atividades incluem a manutenção de laboratório, teste de
equipamentos, contatos com pessoas e preparação e experimentos, entre outras atividades
descritas em detalhe no projeto. A cor azul indica onde o bolsista será incluído dentro do
cronograma.
Meses: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
Período de vigência da bolsa - Azul = Participação do bolsista
Fase 1
1 Revisão da literatura
4 Prototipagem
Fase 2
1
Estruturas disponíveis
Referências
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LAKOFF, G.; JOHNSON, M. Philosophy in the flesh: The embodied mind and its challenge to
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NAVEDA, Luiz; MARTÍNEZ, Isabel; DAMENSÓN, Javier; GHIENA, Alejandro; HERRERA,
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movement trajectories. 11th International Symposium on Computer Music Multidisciplinary
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20morphology%20of%20dance_naveda2013mapping-idiomatic000.pdf>.
NAVEDA, Luiz; LEMAN, Marc. Mapping idiomatic elements in the morphology of dance
gestures: Meter, gender and cultural idiosyncrasies in the samba dance and music. In:
SHIFRES, FAVIO et al. (Org.). . Actas de ECCoM. Vol. 1 No1, “Nuestro Cuerpo en Nuestra
Música. 11o ECCoM”. Buenos Aires, Argentina: SACCoM, 2013b. v. 1. .
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NAVEDA, Luiz; SANTANA, Ivani. “Topos” toolkit for pure data: exploring the spatial features of
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University of Athens, 2014. . Disponível em:
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TOIVIAINEN, Petri; BURGER, Birgitta. MoCap Toolbox Manual. Jyväskylä, Finland: University
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VARELA, F J; THOMPSON, E; ROSCH, E. The embodied mind. [S.l.]: MIT Press Cambridge,
Mass, 1991.
YAFFE, Philip. The 7% Rule: Fact, Fiction, or Misunderstanding. Ubiquity, v. 2011, n. October,
p. 1:1–1:5, out. 2011. Acesso em: 30 abr. 2015.