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VERLAG DASHOFER – Manual de Higiene, Segurança e Saúde do Trabalho

Autora: Olga Mayan

8.2 – HIGIENE DO TRABALHO E SAÚDE OCUPACIONAL

O trabalho sendo um vector fundamental para o desenvolvimento das comunidades


deve, nos dias de hoje, deixar de ser encarado como uma mera fonte de recursos mas
sim como uma componente da realização integral do homem. Esta realização pessoal e
profissional está dependente da qualidade de vida no trabalho, em particular da
existência de condições de segurança, higiene e saúde no local de trabalho.

O trabalho permite organizar e gerir o tempo, estimular a criatividade, dar sentido de


utilidade social e recursos, possibilitar o contacto social e, eventualmente, ser definidor
de estatuto social, sendo, por isso, um meio de realização pessoal. Contudo, no local de
trabalho são muitas vezes criadas situações que podem originar riscos para a saúde e
para a integridade física dos trabalhadores, e portanto a actividade profissional pode
representar um factor nocivo para o ser humano.

Cerca de 2/3 da vida do homem é passada no exercício de uma actividade profissional e


por isso, as condições de trabalho têm uma grande importância para o seu estado de
saúde, com reflexos na sua produtividade. Representando a população activa cerca de
45% da população mundial, criar condições de trabalho que permitam a manutenção do
seu estado de saúde, é um importante requisito para o desenvolvimento económico e
social da humanidade. Por outro lado, nas sociedades actuais, que se pretendem
imbuídas nos princípios do humanismo, é inaceitável que o exercício da actividade
profissional acarrete riscos para a integridade física, mental e social do homem.

As empresas, face à competitividade existente, só poderão sobreviver se cultivarem uma


organização capaz de produzir um bem e/ou serviço que, a um custo inferior ao
concorrente, conquiste a preferência do consumidor. Por outro lado, na óptica do
desenvolvimento sustentado, a produção de bens e serviços deve ser guisada
preservando o ambiente.

Face ao exposto, a estratégia empresarial deve assentar a sua actuação cumprindo as


regras inerentes aos conceitos de Produtividade, Qualidade e Ambiente.

Para a Produtividade é fundamental a contribuição dos recursos humanos afectos a todas


as actividades inerentes à produção, pelo que o bem-estar e motivação dos trabalhadores
são elementos potenciadores da produtividade.

O conceito de Qualidade tem evoluído, desde um conjunto de acções que visam a


satisfação do cliente, para a necessidade de se ter eficiência e eficácia no
relacionamento de todos os elementos que compõem o modelo da empresa (Qualidade
Total). As acções empreendidas no sentido da qualidade total, envolvem portanto o
cliente/consumidor, os recursos humanos, e a envolvente ambiental.
A preservação do Ambiente passa pela escolha de processos produtivos mais limpos e
utilização de produtos menos tóxicos, bem como por uma adequada gestão dos resíduos
e emissões.

Assim, a gestão de unidades produtivas de qualquer sector de actividade deverá criar


TRABALHO, sem por em causa os clientes/utentes e os recursos internos e o meio
envolvente.

Embora seja consensual e reconhecida por todos a importância que o TRABALHO tem
para o desenvolvimento:

 do Homem, (contribuindo para a sua realização individual),


 das unidades produtivas, tornando-as mais competitivas,
 de toda a sociedade, permitindo a sua evolução económica e social,

são frequentes as situações de perigo em que são desempenhadas as actividades


profissionais.

A nível mundial, fontes ligadas à OMS (Organização Mundial de Saúde) referem que as
condições de trabalho de cerca de 2/3 da população activa estão abaixo dos padrões
mínimos de qualidade, ou seja representam um risco real para a saúde e integridade
física das pessoas. As estatísticas mundiais, referentes ao ano de 1999, apontam a
ocorrência de:

• 120 milhões de acidentes de trabalho;


• 220 mil acidentes fatais:
• 157 milhões de novos casos de doenças profissionais.

Os custos associados a estas ocorrências são incalculáveis e podem, em certas situações,


ter reflexos nas gerações futuras – exposição a agentes mutagénicos e teratogénicos.

Considerando apenas os custos económicos, relativos a perdas de materiais e de dias de


trabalho, assistência médica e indemnizações, os números são preocupantes. Na reunião
da International Occupational Hygiene Association (IOHA), realizada em Setembro de
1997, em Crans (Suiça), foi referido, por um representante da OMS, que os custos
económicos causados por más condições de trabalho atingiam, em certos países, 10-
15% do PNB (produto nacional bruto).

Dados relativos à União Europeia, fornecidos pela Direcção Geral para o Emprego e
Assuntos Sociais (UE), referem que em 1999, aqueles custos atingem mais de 3% do
produto interno bruto.

A mesma fonte, em informação publicada em Agosto de 2004 e também referente à UE,


apontam para cerca de 210 milhões de dias perdidos/ano devido a acidentes de trabalho
e cerca de 350 milhões devido a doenças relacionadas com o trabalho.

Apesar da grandeza destes números, tem vindo a assistir-se a uma melhoria nas
condições de segurança e saúde no trabalho no espaço europeu. Entre 1994 e 2001,
como resultado da aplicação de um conjunto de acções que visando a prevenção,
verificou-se um decréscimo de 15% nos acidentes de trabalho e de 31% nos acidentes
mortais.

Do exposto se infere que, apesar das acções desenvolvidas, os factores de risco


inerentes ao trabalho estão presentes de forma significativa no mundo laboral, pondo em
risco um número demasiado elevado de trabalhadores, com reflexos negativos em todas
as sociedades. Estes riscos podem advir do equipamento e métodos de trabalho
utilizados (acidentes de trabalho, posturas incorrectas), do ar ambiente no local de
trabalho (poluição física, química e biológica) ou da própria organização do trabalho
(ritmos de trabalho, monotonia, horários, relações humanas, …).

Assim, no local de trabalho, coexistem várias fontes, potenciais geradoras de risco, e


que se encontram:

∗ nas instalações, equipamentos e actos;


∗ na organização dos espaços interiores e dos locais de trabalho
∗ nos métodos de trabalho;
∗ no ambiente de trabalho (ar inalado)

Os efeitos associados aos riscos reflectem-se no património e meio ambiente, na


integridade física e no organismo dos trabalhadores (efeitos fisiológicos e psicológicos).

A acuidade dos diferentes factores de risco inerentes ao trabalho varia com o estado de
desenvolvimento económico das sociedades.

Nos países em vias de desenvolvimento, os métodos de trabalho são muitas vezes


artesanais, ou tecnologicamente pouco evoluídos, o normativo legal é praticamente
inexistente, pelo que condições de trabalho são muito deficientes, com elevados níveis
de poluição do ambiente de trabalho. As doenças profissionais causadas por inalação de
elevadas concentrações de poluentes e o contacto com produtos tóxicos são problemas
graves e constituem os principais riscos a combater.

Nas sociedades mais desenvolvidas onde os processos são tecnologicamente mais


evoluídos, os problemas relacionados com as posturas, movimentação de cargas tomam
maior relevância. Por outro lado, estão a ser alvo de estudos os efeitos das exposições
multifactoriais; da exposição, de longo prazo, a baixas concentrações de certos agentes,
e também o perfil toxicológico de algumas substâncias, procurando conhecer a sua
acção a nível do património genético.

Em Portugal, podemos dizer que habitam estas duas realidades. Por um lado, algumas
características tradicionais, com destaque para uma deficiente cultura prevencionista, e
o facto de, nos diferentes graus de ensino, não ser suficientemente abordado os aspectos
da segurança e saúde no local de trabalho, faz com que sejam relevantes alguns dos
problemas das sociedades menos desenvolvidas. Por outro lado, como país integrado na
UE, são aplicados os conceitos e princípios dos países desenvolvidos que estão patentes
no normativo.

ao e por isso alguns problemas estão solucionados pelo que existem regras que têm de
ser cumpridas na criação de postos de trabalhos.
8.2.1 – Saúde Ocupacional / Segurança, Higiene e Saúde no Local de Trabalho

O estudo da relação Trabalho / Saúde é a área de intervenção da SAÚDE


OCUPACIONAL.

Compete à Saúde Ocupacional o estudo da relação Homem / Trabalho nas várias


vertentes, numa perspectiva de prevenir todos os riscos associados à actividade
profissional. Considerando as diferentes valências que o conceito Trabalho encerra, a
abordagem da Saúde Ocupacional é abrangente e pluridisciplinar.

A definição de Saúde Ocupacional proposta pelo grupo de trabalho que integra


membros da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do International Labour Office
(ILO) é a seguinte:

“Saúde Ocupacional é a área que se dedica à promoção e manutenção do mais


elevado padrão de bem-estar físico, mental e social dos trabalhadores de todos os
sectores de actividade; à prevenção das alterações de saúde provocadas pelas suas
condições de trabalho; à protecção dos trabalhadores contra os riscos resultantes de
factores adversos, no seu local de trabalho; a proporcionar ao trabalhador, um
ambiente de trabalho adaptado ao seu equilíbrio fisiológico e psicológico.”

Em síntese, a Saúde Ocupacional procura “a adaptação do trabalho ao homem e de


cada homem ao seu trabalho”.

Assim, como objectivos fulcrais da Saúde Ocupacional destacam-se os seguintes:

-criar e manter condições de trabalho que permitam atingir padrões de bem estar
físico, mental e social nos trabalhadores e na comunidade envolvente;

-desenvolver métodos de prevenção que permitam eliminar e/ou conter os riscos


profissionais em níveis considerados aceitáveis.

Com base na definição apresentada, a OMS estabeleceu como metas a atingir em


2010 a eliminação ou controlo dos riscos do meio laboral, a protecção e promoção da
saúde da população activa e a promoção da humanização do trabalho.

Para serem atingidas estas metas são fundamentais dois tipos de intervenção, uma
dirigida aos componentes do trabalho e a outra ao próprio trabalhador, que podem ser
sintetizadas da seguinte forma:

 Conhecer as condições de exercício das actividades profissionais de forma a


caracterizar as situações de risco e implementar as medidas de controlo
adequadas.

 Prevenir a doença e promover a saúde da população activa através da


caracterização e vigilância do estado de saúde da população activa e da
implementação de programas de promoção estilos de vida mais saudáveis.
Considerando a diversidade de factores de risco a analisar e controlar, é necessária a
contribuição de várias técnicas e ciências. Assim na Saúde Ocupacional são
distinguidas várias intervenções das quais se destacam as seguintes áreas:

Intervenção em: Área

Instalações, Equipamento e Segurança


Procedimentos
Ambiente Higiene do Trabalho
Interface homem/máquina; Ergonomia
Posturas; Movimentos
Medicina do Trabalho
Homem Enfermagem do Trabalho
Homem (em grupo); Psicologia/ Psicosociologia
Organização do trabalho; do Trabalho
Relações de trabalho

São também importantes os conhecimentos de outras áreas científicas, nomeadamente


da Toxicologia (efeito dos agentes no organismo), da Epidemiologia (estudo da
associação entre agente agressor e efeitos) e da Bioestatística (análise da informação
veiculada pelas diversas fontes de estudo).

De realçar também que, sendo a Saúde Ocupacional um conceito essencialmente


preventivo, todas as suas áreas de intervenção devem desenvolver as suas actividades,
com o principal objectivo do controlo dos riscos.

Nos locais de trabalho, a implementação das praticas da saúde ocupacional constituem a


acção dos serviços de Segurança, Higiene e Saúde no local de Trabalho (SHST).

Protecção do património genético

A Lei nº 35/2004, de 29 de Julho que veio regulamentar o Código do Trabalho, inclui


no capítulo V, divisão II é feita referência à protecção do património genético. No artigo
41º é feita menção à utilização de agentes susceptíveis de implicar riscos para o
património genético. Remete a identificação destes agentes para uma lista a elaborar por
serviços competentes do ministério responsável pela saúde e aprovada por portaria dos
ministros responsáveis pelas áreas da saúde e laboral. No mesmo capítulo, divisão III
são regulamentadas as actividades que são proibidas ou condicionadas por serem
susceptíveis de implicar riscos para o património genético do trabalhador ou seus
descendentes.

No caso dos agentes físicos, químicos e biológicos proibidos só é permitida a sua


utilização para fins exclusivos de investigação e actividades destinadas a sua
eliminação. Nestes casos o empregador tem de, previamente ao início da actividade,
comunicar ao organismo do ministério responsável pela área laboral com competência
na matéria da segurança, higiene e saúde informações relativas à identificação do agente
em causa, quantidades utilizadas, operações e processos envolvidos, número de
trabalhadores abrangidos e as medidas técnicas e de organização com vista a prevenir a
exposição dos trabalhadores. Não é feita qualquer menção a comunicação desta
informação a qualquer organismo da área da saúde.

No caso das actividades que envolvam agentes físicos, químicos e biológicos


condicionados, estas só poderão ser iniciadas após a avaliação dos riscos e adopção das
medidas de prevenção adequadas. O empregador é obrigado a notificar o organismo
competente do ministério da área laboral e a Direcção Geral de Saúde do início de
actividade. Na notificação têm de constar: identificação do local onde aquela se
desenvolve; identificação do responsável pelo serviço de SHST e for pessoa diferente,
do médico do trabalho; resultado da avaliação dos riscos e a espécie de agente e as
medidas de prevenção e controlo.

Neste diploma legal estão contemplados várias situações relacionadas com cuidados a
ter na utilização e manuseamento dos agentes susceptíveis de implicar riscos para o
património genético, das quais se destacam as referências a: avaliação dos riscos (artigo
46; exposição (previsível – artigo 50º e imprevisível – artigo 51º) e vigilância da saúde
(artigo 54º).

Assim para a avaliação dos riscos, que deve constar de documento escrito, o
empregador deve determinar a natureza, grau e tempo de exposição. No caso de
utilização de vários agentes a avaliação tem de ter em consideração esse facto. Na
avaliação tem de estar equacionadas todas as formas de exposição e vias de absorção, e
devem ser atendidas as informações dos programas de vigilância de saúde estabelecidos.

As exposições previsíveis, associadas a locais delimitados e assinalados, devem estar


salvaguardadas através de medidas que impeçam a exposição permanente do
trabalhador e limitem a exposição ao estritamente necessário e com a distribuição pelos
trabalhadores de equipamentos de protecção individual ajustados à situação em causa.

No caso das exposições imprevisíveis, o empregador deve informar o trabalhado e os


representantes dos trabalhadores, limitar o acesso à área afectada e apenas a pessoal
com equipamento de protecção adequado e restringir a actividades apenas a trabalhos de
reparação ou outros necessários.

No caso da vigilância da saúde (artigo 54º), são referidas as linhas gerais dos exames de
saúde da responsabilidade do médico de trabalho, e na alínea 9 é destacada a
necessidade do médico responsável de comunicar os casos de cancro identificados como
resultantes da exposição a agentes físicos, químicos e biológicos susceptíveis de
implicar riscos para o património genético. Estranhamente, a comunicação deve ser
veiculada ao organismo do ministério responsável pela área laboral, com competente em
matéria de segurança, higiene e saúde no trabalho, sendo omisso que a informação
chegue ao ministério responsável pela área da saúde.

Higiene do Trabalho. Definição, Objectivo e Missão

A Higiene do Trabalho ou Higiene Ocupacional, por vezes também designada por


Higiene Industrial, é a área da Saúde Ocupacional que estuda a exposição humana a
factores do ambiente (químicos, físicos e biológicos) analisando os eventuais efeitos
adversos dessa exposição. Estuda portanto a relação do indivíduo com o seu ambiente
de trabalho (ar inalado e contacto com agentes nocivos), com vista à prevenção de
doenças profissionais e à promoção da saúde. Também cabe à Higiene do Trabalho o
estudo do impacte dos resíduos sólidos e emissões (líquidas e gasosas) do processo
produtivo, na envolvente (ambiente e comunidade).

A definição de Higiene do Trabalho (Ocupacional) proposta pela American Industrial


Hygiene Association (AIHA) é a seguinte:

“a ciência e a arte dedicadas a prever, identificar, avaliar e controlar os factores de


risco associados ao ambiente, gerados no ou pelo trabalho, e que podem causar
doença, alteração na saúde e bem-estar ou desconforto significativo e ineficiência,
entre os trabalhadores ou entre os cidadãos da comunidade envolvente”.

Esta área de intervenção tem carácter eminentemente preventivo pelo que a sua
participação (análise da situação, identificação de potenciais riscos e estudo de
medidas de controlo) deve iniciar-se logo na fase de projecto e concepção dos locais
de trabalho. Do mesmo modo, antes de se proceder a alterações no lay-out, de
processos, de organização do trabalho, de equipamentos ou de materiais, deve ser
analisado o seu impacte no ambiente de trabalho, os eventuais perigos identificados e
controlados, bem como a análise dos resíduos produzidos.

O principal objectivo da Higiene do Trabalho é portanto a prevenção das doenças


profissionais, pelo que as suas actividades são complementares às da Medicina do
Trabalho. O campo de actuação da Higiene é no ambiente e organização portanto na
envolvente do indivíduo, enquanto que a Medicina do Trabalho centra a sua
actividade no ser humano, através de programas de vigilância da saúde individual e
de grupo. De referir, face ao objectivo a grande interacção que existe entre aquelas
duas valências da Saúde Ocupacional, pelo que os seus intervenientes devem manter
uma estreita colaboração.

Por outro lado ressalta a multidisciplinaridade da Higiene do Trabalho, que requer a


contribuição de outras áreas de conhecimento, nomeadamente da Toxicologia, da
Química, da Epidemiologia e Bioestatistica e da Engenharia, para identificar os
perigos, analisar a exposição e estudar medidas de controlo dos riscos.

A missão da Higiene do Trabalho visa controlar dos riscos ambientais e o contacto


com agentes nocivos criando postos de trabalho mais saudáveis, contribuindo para a
competitividade das empresas, através do aumento da produtividade e da melhoria da
sua imagem.

Para cumprir a sua missão, como principais actividades desenvolvidas pela Higiene
do Trabalho, as seguintes:

• dar parecer sobre os espaços onde instalar as unidades produtivas, escolha do


processo produtivo, planificação dos locais de trabalho, selecção de matérias
primas e outros produtos;
• identificar os potenciais factores de risco ambientais (químicos, biológicos e
físicos) inerentes a uma determinada actividade laboral;

• eliminar e/ou manter dentro de níveis aceitáveis a exposição dos trabalhadores


aos agentes libertados e/ou gerados nos locais de trabalho;

• propor acções correctivas e de prevenção para os riscos identificados, e


implementar as medidas seleccionadas;

• proceder, periodicamente, ao controlo da eficácia dos sistemas de prevenção


implantados;

• promover ou colaborar nas acções de formação e informação em segurança,


higiene e saúde;

• colaborar com a área da medicina do trabalho, nos programas de vigilância de


saúde, e na identificação das causas das doenças profissionais detectadas;

• verificar as condições de emissão dos efluentes líquidos e gasosos e de


remoção dos resíduos sólidos, salvaguardando o ambiente e a comunidade
envolvente.

Os factores do ambiente que interagem com o indivíduo, podendo provocar alterações


no seu estado de saúde, são designados por agentes e classificam em:

- Agentes químicos: partículas, fibras, fumos, aerosóis, gases e vapores;

- Agentes biológicos: microorganismos (bactérias, virus e fungos), cultura de


tecidos, OGM (organismos geneticamente modificados), material biológico (penas,
ácaros, …).
- Agentes físicos: ruído, vibrações, condições térmicas, radiações ionizantes,
radiações não ionizantes.

Considerando as actividades da Higiene do Trabalho são diferenciados quatro campos


de intervenção: Higiene de Campo, Higiene Analítica, Higiene Normativa e Higiene
Operativa.

Higiene de Campo

As actividades da Higiene de Campo são desenvolvidas no local de trabalho e


incluem uma fase inicial de recolha de informação e uma segunda fase de medição do
nível de alguns parâmetros ambientais e recolha de amostras representativas de ar,
para posterior análise laboratorial.

A informação a recolher inclui a caracterização das condições estruturais do edifício,


da organização dos espaços e posicionamento dos locais de trabalho e equipamentos.
É também muito importante a recolha de informação sobre: ciclo produtivo (processo
e operações); postos de trabalho (tarefas desempenhadas - locais e duração; métodos
de trabalho); equipamentos (máquinas e ferramentas); matérias-primas e outros
produtos; meios de controlo e prevenção; procedimentos relativamente a resíduos e
emissões. É também útil a recolha de informação sobre eventuais doenças
profissionais e/ou sintomas referidas pelos trabalhadores.

A análise da informação recolhida permite identificar potenciais perigos - agentes


nocivos gerados ou libertados nos diferentes postos de trabalho - bem como as
respectivas fontes emissoras.

Na segunda fase procede-se à medição dos níveis de alguns agentes utilizando


métodos de leitura directa e à recolha de amostras de ar, representativas do ar inalado
pelo trabalhador, para posterior análise laboratorial dos diferentes analitos (químicos
e biológicos).

Em qualquer daquelas situações - colheita de amostras de ar e medição directa - é


fundamental analisar a situação e proceder a uma criteriosa escolha dos locais, da
duração da medição ou da colheita de ar, da altura do turno de trabalho e do número
de observações, de forma a que o que for medido ou recolhido (níveis ou amostras de
ar) seja representativo da exposição do trabalhador.

A representatividade das amostragens é um passo fundamental para uma correcta


avaliação das situações.
.
Do exposto se infere da importância deste ramo de intervenção - Higiene de Campo –
uma vez que a sua actuação é que vai permitir a identificação dos perigos (agentes em
causa) e das fontes emissoras (equipamento, processo, operação ou método de
trabalho), a análise da exposição dos trabalhadores, a caracterização das condições de
higiene e salubridade dos edifícios e espaços e das medidas preventivas existentes,

A recolha incorrecta da informação de qualquer daqueles aspectos compromete


irremediavelmente o procedimento de apreciação da exposição dos trabalhadores aos
agentes químicos, físicos e biológicos e portanto as acções a desenvolver para
salvaguarda da saúde dos trabalhadores.

Higiene Analítica

A Higiene Analítica engloba todas as actividades de índole laboratorial da Higiene do


Trabalho. Ao laboratório são remetidas as amostras de ar, recolhidas em vários tipos
de suportes dependendo do agente a avaliar e da técnica analítica utilizada. Nos locais
de trabalho é frequente a existência de mais do que um contaminante no ar ambiente,
a análise das amostras de ar permite a identificação qualitativa e quantitativa dos
agentes presentes.

Para cada amostra de ar analisada é registado o conjunto de analitos presentes


(contaminantes existentes no ar) e a concentração de cada um.

As técnicas instrumentais de análise a utilizar são muito variadas, dependendo do tipo


de analito. Para uma cobertura analítica de base são necessárias as seguintes técnicas:
 Gravimetria: partículas
 Espectrofotometria de absorção atómica: metais
 Cromatografia gasosa: compostos orgânicos voláteis
 Cromatografia líquida de alta pressão (HPLC): compostos iónicos
 Difracção de raios X

Por outro lado tem de ser garantida a qualidade dos resultados, pelo que o laboratório
tem de utilizar métodos validados, materiais de referência, ter programas de controlo
de qualidade internos e participar em programas interlaboratoriais de controlo da
qualidade.

Nas actividades laboratoriais também estão incluídos os estudos de monitorização


biológica (ver 10.6)

Higiene Normativa

A acção desta ramo da Higiene do Trabalho – Higiene Normativa - visa fixar valores
de referência, para os quais não é de prever, para a maioria das pessoas, alterações
funcionais. Estes valores de referência, no caso da exposição profissional a agentes
químicos, sãos designados por valores limite de exposição (ver secção 8.4.3.2). Por
outro lado podemos considerar como actividade deste ramo da Higiene, a construção
para cada trabalhador, com base na informação recolhida pela Higiene de Campo e
Higiene Analítica, do seu “padrão de exposição” aos diferentes agentes presentes no
seu posto de trabalho.

O estabelecimento dos valores de referência para a exposição tem por base a


informação veiculada por diversas fontes, com destaque para: estudos toxicológicos,
incluindo a experimentação animal, estudos in vitro e com voluntários; estudos
epidemiológicos e informação da prática industrial.

É fundamental para esta área a contribuição da Toxicologia, em particular a sua


vertente Toxicologia Ocupacional. Para prevenir os efeitos na saúde da exposição a
um agente tóxico é necessário conhecer o seu ciclo toxicológico, envolvendo os
processos de toxicocinética (actuação do organismo sobre o tóxico) e toxicodinâmica
(actuação do agente tóxico nas estruturas celulares).

O ciclo toxicológico do tóxico no organismo inicia-se com a entrada – penetração -


utilizando as seguintes vias de entrada: inalatória (a principal no caso da exposição
profissional), cutânea e digestiva; a placenta, no caso do feto, representa também uma
importante via de entrada para alguns tóxicos, factor a acrescentar aos cuidados a ter
com a mulher grávida no trabalho.

Após a penetração iniciam-se os processos de toxicocinética, com a absorção, que se


define como um conjunto de equilíbrios bioquímicos que permite que o agente passe
para a corrente sanguínea. Segue-se a distribuição, onde agentes tóxicos,
transportados na corrente sanguínea, se distribuem pelo organismo, fixando-se de
forma activa (local de acção) ou passiva (local de deposição) em alguns grupos
celulares. A entrada de um corpo estranho no organismo (xenobiótico) dá origem, da
parte deste, a um conjunto de reacções químicas catalisadas por enzimas, que tendem
a alterar o tóxico, daí resultando novas moléculas (metabolitos); este processo é
designado por biotransformação (metabolização). Por fim segue-se a
eliminação/excreção do tóxico ou dos seus metabolitos. A principal via de excreção
dos tóxicos é a via renal, seguindo-se a via biliar e a via pulmonar

A informação veiculada nos estudos toxicológicos inclui toxicocinética e


toxicodinâmica do agente tóxico, identificação dos orgãos alvo, efeito crítico, curvas
de dose-efeito e dose-resposta.

Os valores de referência são encontrados através do cruzamento de várias fontes de


informação: dados obtidos pela prática industrial, experimentação animal e estudos
em voluntários e estudos epidemiológicos e são permanentemente actualizados.
Assim, estes valores não devem ser encarados como um linha divisória fixa, entre
risco e não risco, pois os organismo modos diferentes de reacção aos agentes.. Por
outro lado estes valores acompanham a evolução do conhecimento sobre efeitos dos
agentes no organismo.

Outra actividade é a análise da informação recolhida pela higiene de campo e os


resultados emitidos pela higiene analítica e construir a "exposição do trabalhador"
para cada posto de trabalho; em seguida, e por comparação com os valores de
referência, são identificadas as situações de risco.

Higiene Operativa

O ramo da Higiene Operativa dedica-se ao estudo das medidas para


eliminar/controlar o risco de higiene que foi identificado.

A hierarquização das medidas a implementar deve obedecer à seguinte ordem: fonte,


ambiente e indivíduo. As metodologias de actuação podem apresentar as seguintes
vertentes:

1 - Medidas de engenharia:
- substituição do agente nocivo ou operação perigosa,
- modificar o processo
- isolar a operação perigosa ou o trabalhador (cabine) / confinar a área
- captação do agente na fonte (exaustão localizada)
- ventilação geral (arejamento) do local de trabalho.

2 - Práticas de trabalho: alteração nos métodos de trabalho


- introdução de boas práticas de trabalho
- programas de verificação periódica dos métodos de trabalho e controlo de
equipamento (máquinas e ferramentas)
- implementar boas práticas de limpeza
- proibição de fumar, comer, aplicar cosméticos na área de trabalho.

3 - Medidas administrativas:
- rotação das operações mais perigosas por vários trabalhadores para diminuir
a exposição
- escalar as operações mais problemáticas para períodos de menor
- permanência de trabalhadores.

4 - Equipamento de Protecção Individual (EPI's) (máscara, luvas, fato, avental


óculos, …). O EPI deve ser seleccionado de acordo com a situação de risco
detectada, deve: estar ajustada ao trabalhador; ser utilizada de acordo com as
instruções; ter manutenção e ser substituída quando necessário. De referir que
esta medida deve ser considerada como último recurso.

HIGIENE DO TRABALHO. METODOLOGIA

A Higiene do Trabalho tem de estudar a contaminação do ambiente dos locais de


trabalho e controlar os factores de risco de modo a estarem garantidas condições
que não comprometam a saúde dos trabalhadores.

Para garantir trabalho saudável a cada trabalhador é necessário uma análise


criteriosa da sua exposição aos diferentes agentes ambientais e o estudo de
eventuais estratégias de controlo de potenciais riscos.

A análise da exposição profissional é um instrumento essencial não só para


compreender, gerir, controlar e reduzir os riscos para a saúde nos locais de
trabalho, mas também como informação complementar para os estudos
toxicológicos, epidemiológicos e tecnológicos necessários ao estabelecimento de
valores limite, ao desenvolvimento de novas técnicas produtivas e/ou meios de
prevenção.

A existência de bases de dados nacionais sobre exposição profissional poderia


contribuir, de forma significativa, para o estabelecimento de prioridades na saúde
ocupacional e para uma melhor compreensão do perfil de saúde da população
activa.

Torna-se por isso muito importante a compreensão do conceito "exposição


profissional" e de outros conceitos a este associados.

Assim, define-se

• "Exposição profissional": acto ou condição de estar exposto (como


consequência do trabalho) a um agente químico, físico ou biológico, ou a um
procedimento, prática ou comportamento específicos ou uma organização de
trabalho. Representa portanto um perigo que contacta com o organismo ou é
experienciado pelo trabalhador.

• “Agente”: factor que interage com o organismo.

• “Xenobiótico”: factor (substância) estranha ao organismo.

• “Toxicidade”: capacidade intrínseca a um agente de produzir efeitos tóxicos


no organismo.
• “Agente tóxico”: todo o factor que provoca efeito nocivo no organismo.

• “Dose”: quantidade de agente, potencialmente perigoso, que foi absorvido ou


retido pelo organismo.

• “Risco (higiene, ambiente): probabilidade de ocorrência de um dano tóxico


(efeito nocivo), ou seja a probabilidade da toxicidade de um agente se
manifestar.

• “Apreciação da exposição”: processo que, através da informação recolhida


por diferentes meios, permite conhecer a dose externa de cada agente
(quantidade de agente que contacta com o organismo) referente ao período de
tempo utilizado para o valor limite, permitindo portanto a classificação do
risco ambiental associado.

Análise da exposição profissional

Na estratégia da análise da exposição devem ser caracterizados o padrão e o local de


trabalho sendo o procedimento desenvolvido em três fases: identificação da
exposição potencial (identificação dos agentes presentes); determinação dos factores
que influenciam a exposição; apreciação da exposição

Identificação da exposição potencial:

Nesta fase são preparadas listas de todos os agentes ambientais (químicos, físicos e
biológicos) que podem estar presentes. Estes agentes podem estar relacionados com
matérias-primas, impurezas, produtos intermédios, produtos finais, produtos de
reacções do processo produtivo ou equipamentos.

Determinação dos factores que influenciam a exposição:

Esta fase trata da avaliar a contribuição do ciclo produtivo e lay-out para a exposição
dos trabalhadores. Para o efeito é necessário recolher informação sobre::

- condições estruturais do local de trabalho e localização dos postos de trabalho;


- processo produtivo (operações, tarefas);
- actividades desenvolvidas pelo trabalhador e sua duração (padrão de trabalho)
- práticas de trabalho;
- carga de trabalho;
- organização do trabalho e horas trabalhadas;
- medidas de segurança e procedimentos de segurança;
- sistemas de ventilação e outras formas de controlo de engenharia

Apreciação da exposição:
A apreciação, processo que permite a valorização do risco ambiental em cada postos
de trabalho. integra a informação das duas fases anteriores e respectivas interligações,
e pode ser conduzida em três estádios:

• análise inicial
• estudo preliminar
• estudo detalhado.

A análise inicial produz uma consideração, com base na informação recolhida, sobre
a possibilidade da exposição estar presente. Existem várias variáveis que influenciam
os níveis dos agentes no ambiente próximo do trabalhador, com destaque para:

- fontes emissoras (número, taxas de emissão, localização);


- eficiência dos sistemas de ventilação geral e localizada (exaustão ou insuflação)
- dispersão dos agentes libertados;
- volume de produção;

Se a consideração produzida for no sentido do agente estar presente no ar do local de


trabalho, é necessário proceder a uma análise mais aprofundada.

O estudo preliminar fornece dados quantitativos relativamente à exposição dos


trabalhadores, em particular no caso de actividades associadas a exposições de nível
mais elevado. As fontes para este estudo são: medições anteriores; medições em
instalações ou processo de trabalho semelhantes; modelos matemáticos, ou simples
cálculos matemáticos integrando dados quantitativos pertinentes.

O estudo detalhado tem por objectivo fornecer informação quantitativa, fiável e


validada sobre a exposição do trabalhador. Existem dois tipos de estudo:
monitorização ambiental e monitorização biológica (ver secção 10.6).

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