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Conferência:

A Segurança nas Instituições Culturais da Perspectiva da Conservação das


Obras de Arte

Proferida por Francisco de La Fuente Ramos, diretor da Divisão de Segurança


do Patrimônio Histórico da Prosegur.
Nas ultimas décadas é crescente a conscientização das instituições públicas e
privadas que abrigam o patrimônio cultural móvel da necessidade de investir
nas questões referentes à segurança destes como forma de garantir a
permanência e a sobrevida das coleções.
Em vista desta necessidade a área tem se profissionalizado, desenvolvido
pesquisas que levam ao aprimoramento técnico dos meios de proteção passiva
e encontrado novas soluções para a proteção das obras de arte.
Para falar sobre a área o Centro Cultural São Paulo e o Comitê Paulista do
Escudo Azul, com o patrocínio da Fundação Prosegur (Espanha), promovem a
conferência A segurança nas instituições culturais a partir da perspectiva da
conservação das obras de arte, com o especialista Francisco de la Fuente
Ramos, diretor da Divisão de Segurança do Patrimônio Histórico da Prosegur.
Francisco de la Fuente tem ampla experiência na área e foi responsável, por 18
anos, pela segurança da Fundação Thyssen-Bornemisza, em Madri, Espanha.
“A Arte Perdura, a Vida é Curta.” – Hipócrates

Visando proteger o patrimônio histórico, bem de toda a humanidade, que vem


sofrendo uma grande variedade de agressões, sejam de origem financeira, de
instalação, de depósito, etc., foi criada na Espanha a PROTECTURI
(Associación para La Seguridad del Patrimonio Histórico), uma associação sem
fins lucrativos.

A associação surgiu por iniciativa dos diretores de segurança dos museus


espanhóis e do ministério da cultura que anualmente se reúnem para discutir
as questões ligadas à segurança dessas instituições, constituindo-se na figura
jurídica sob a qual se organizam todos os eventos dirigidos à necessidade de
preservar o patrimônio histórico.

Seu caráter é internacional e visa incorporar entre seus sócios museus de


outros países europeus e de qualquer outro continente que manifestem o
desejo de integrá-la, cumpram os preceitos fundamentais e demonstrem a
firme vontade de proteger o patrimônio histórico à margem de ideologias,
religiões, circunstâncias políticas, etc.

São definidos como objetivos principais:

1. Promover o estudo da segurança em instituições museísticas, das obras


de arte em geral;
2. Velar pelos princípios da ética profissional nesse setor;
3. Investigação, denúncia e divulgação da origem dos riscos, bem como
das medidas e meios de preservação dos mesmos;
4. Programar as ações necessárias para elaborar estudos e programas
teórico-práticos dirigidos à formação e treinamento dos responsáveis
pela segurança em instituições culturais;
5. A representação e defesa de seus membros ante a Administração do
Estado e toda classe de pessoas, entidades, organizações e instituições;
6. Redação e difusão de publicações técnicas referentes a temas de
segurança em instituições culturais;
7. Conscientizar aos sócios e à sociedade sobre a importância de
conservar o patrimônio histórico artístico;
8. Formular, propor e reclamar atuações públicas e privadas que
combatam os riscos às instalações, aos edifícios e às obras artísticas
dos museus e em qualquer outro local em que se encontrem obras de
arte, restos e vestígios arqueológicos de interesse cultural ou ancestral;
9. Formular sugestões de melhora na segurança das obras de arte e
instalações ou recintos em que as mesmas se encontrem, bem como a
remessa de verbas para combater as carências e garantir a melhor
proteção possível;
10. Impulsionar e promover a cultura da proteção e segurança em
instituições museísticas e culturais;
11. Organizar conferências, seminários, jornadas de estudo e atos
formativos de divulgação;
12. A criação de fórum permanente de análise, de reflexão e de debate
inter-setorial profissional e de prospecção de riscos em matéria de
segurança museística;
13. Organizar visagens e visitas de interesse a museus, exposições,
instalações, recintos e locais onde se exibam obras de arte;
14. Criar e conceder prêmio e distinções honorárias como reconhecimento
da Associação a trajetórias, projetos e demais trabalhos de destaque.

LINHAS DE ATUAÇÃO

A associação será a titular de todas as ações que se desenvolvam para


proteção do patrimônio histórico, sendo esta a garantia de que se respeitarão
ao máximo as garantias de capital e os acordos firmados com as entidades que
sustentam economicamente os diferentes projetos, com os estamentos, as
organizações e todos os implicados por ambas as partes; para isso, é preciso
que exista uma eficaz organização e um nexo comum.

A PROSEGUR – Divisão Para a Segurança do Patrimônio Histórico

A Prosegur é uma empresa de segurança que há 30 anos presta serviços de


segurança para museus e edifícios patrimoniais em 13 países. Diante das
falhas e dificuldades no segmento, foi aberta a Divisão Para a Segurança do
Patrimônio Histórico, que presta serviços exclusivamente para instituições
culturais e patrimoniais (Museus, Arquivos, Bibliotecas, Igrejas, Conventos,
Mosteiros, Sítios Arqueológicos, etc.), respeitando as necessidades específicas
da conservação das obras de arte.

Para isso foi realizada uma extensa pesquisa junto a universidades de grande
prestígio, laboratórios especializados e departamentos de restauração de
museus de renome mundial para oferecer um equipamento especializado que,
sendo uma novidade no setor do patrimônio histórico, contribua com soluções
aos problemas que até agora não receberam uma resposta adequada.

Os principais problemas levantados foram:

 Falta de especialização e formação tanto das empresas que transportam


as obras de arte quanto dos funcionários dos museus e edifícios
patrimoniais;
 Falta de medidas de segurança nos espaços expositivos e no transporte
das obras;
 Falta de avaliação de riscos;
 Necessidade de proteção contra incêndios (passiva – prevenção - e
ativa – sistemas de extinção especializados visando causar o menor
dano possível às obras - e explosões;
 Proteção contra inundações;
 Vigilância Especializada nos espaços expositivos (o segurança é um
mediador antes de tudo; é ele quem observa diariamente esse espaço e
os eventos que nele ocorrem e interage com os visitantes);
 Poeira / Inertizações.

Princípios norteadores da Divisão Para a Segurança do Patrimônio Histórico da


PROSEGUR:

1. Evoluir para a especialização de forma que toda a estrutura da empresa


conheça a necessidade da proteção do patrimônio histórico;
2. Formar o pessoal a serviço das instituições culturais para o melhor
desenvolvimento de suas funções;
3. Velar pelo respeito aos princípios da ética profissional da segurança;
4. Investigação e divulgação da origem dos riscos, bem como das medidas
e meios de prevenção dos mesmos;
5. Publicação e difusão de publicações técnicas referentes a temas de
segurança em instituições culturais;
6. Propor soluções que combatam os riscos das instalações, edifícios e
obras artísticas dos locais em que se encontrem obras de arte, restos e
vestígios arqueológicos de interesse cultural ou ancestral;
7. Estudar as condições sociais do meio e ajudar a melhorar o impacto
social das instituições culturais;
8. Organizar e participar de conferências, seminários, jornadas de estudo e
atos formativos de divulgação;
9. Pesquisar novas soluções técnicas, organizativas, procedimentos que
dêem resposta às necessidades das instituições culturais;
10. Promover a responsabilidade social da empresa.

A FACULDADE DE PATRIMÔNIO HISTÓRICO

A Faculdade de Patrimônio Histórico foi criada pela PROSEGUR objetivando


formar tanto os funcionários da empresa quanto das instituições culturais, da
formação mais genérica à mais especializada, tudo online.

As principais questões tratadas estão discriminadas abaixo:

Segurança das Obras de Arte

Segurança: proteger as obras de todo tipo de agressão, voluntária ou


involuntária.

As obras de arte são extremamente delicadas; uma mudança na temperatura,


na umidade, um toque, ou qualquer circunstância pode provocar um grande
dano.

Agressões Voluntárias:

São aquelas efetuadas com a intenção de causar danos, podendo ser


consideradas delito:

 Roubo;
 Corte da tela com a intenção de desprender em sua totalidade do
enquadramento como possível forma de roubo;
 Agressões como cortes, projeção de líquidos agressivos, etc.

Agressões Involuntárias:

São efetuadas involuntariamente, geralmente por descuido e falta de formação.

 Toques que depositam pouco a pouco a sujeira das mãos;


 Aproximações excessivas ao contemplar as obras muito de perto,
depositando o CO2 da respiração;
 Toque com objetos durante a manutenção tais como limpezas, reparos
nas proximidades, etc.;
 Uso de luzes inapropriadas (sem filtro);
 Agressões produzidas por sistema de segurança (uso de luz
infravermelha em detectores ativos anti-intrusos; uso de luz
infravermelha no sistema de circuito fechado quando se emprega
iluminação para visão noturna das áreas com câmeras);
 Sistemas de extinção de incêndios (emprego de produtos prejudiciais).

Conservação das Obras de Arte

Os 3 principais elementos para a conservação das obras podem ser


considerados:

 Umidade

É o elemento mais importante para a conservação de qualquer objeto (livros,


móveis, quadros, etc.) porque sua variação brusca pode provocar: mudanças
de dimensões do objeto, como inchaço da madeira; aparecimento de
craquelado na camada pictórica de quadros, levando à perda de definição da
imagem e à fragilidade, já que o craquelado pode fazer com que pedaços da
camada pictórica se desprendam; e, no caso de livros, provocar a união das
folhas e a dissolução de tintas. Além disso, a umidade excessiva facilita a
aparição de fungos e bactérias, que podem causar danos sérios e irreversíveis.

Por todos esses motivos, a umidade deve se manter nos museus aos 50% + -
1%.

 Temperatura
A partir dos 80ºC as obras sofrem danos e a partir dos 140ºC estes são
irreversíveis. É importante lembrar, então, que toda medida deve ser tomada
não só contra incêndios, durante os quais a temperatura chega a 600ºC, mas
também selecionar os meios mais apropriados de extinção para não danificar
as obras e manter a equipe segura.

 Iluminação

A luz infravermelha, que faz parte do espectro visual, pode chegar a descorar
os pigmentos, pelo que poderia ser perdida parte da camada pictórica durante
exposições prolongadas. Por isso é preciso, ao iluminar a obra, filtrar a luz para
eliminar tanto a luz infravermelha quanto a ultravioleta. Isso se consegue
utilizando filtros nos próprios focos. A luz natural proveniente das janelas
também deve ser filtrada com o uso de filtros nos cristais.

 Vibrações

Podem craquelar a camada pictórica, ou provocar desprendimentos em


camadas já frangilizadas, pelo que devemos tomar precauções em relação a
vibrações produzidas por efeito de obras no edifício ou zonas próximas.

Conceitos Organizativos

Para conseguir que todo o exposto até agora se cumpra com um grau de
eficácia satisfatório, é necessário estudar todas as circunstâncias que em um
dado momento possam gerar situações de risco, com o objetivo de eliminá-las
na medida que seja possível e, se não, minimizar a possibilidade de que gerem
riscos, isto é, realizar um trabalho de prevenção, conceito este básico no
mundo da segurança.

Além disso, devemos estudar todas as ações a serem tomadas numa situação
de emergência e para minimizar os danos produzidos.

Análise de riscos

O documento gerado a partir da análise de todas as situações que possam


gerar riscos às obras de arte deve ser vivo, ou seja, revisado periodicamente e
atualizado sempre que necessário.
Manutenção das condições de conservação

Deve ser incluído tudo o que seja relacionado com trabalhos de manutenção,
limpeza, etc.

Formação Multidisciplinar do Pessoal

A formação é fundamental em toda atividade profissional e mais quando afete


bens que necessitem de conservação especial como é o caso das obras de
arte.

Neste caso, devemos distinguir entre dois tipos de formação, uma mais
extensa encaminhada ao pessoal que deve intervir na conservação das obras
de arte e uma mais genérica direcionada a toda a equipe.

Transporte de obras de arte

Os principais problemas levantados durante o transporte de obras de arte são:

 Falta de organização a nível internacional, com muitos problemas para


obter escolta oficial em cada país;
 Falta de uma legislação internacional;
 Pouca infraestrutura em matéria de segurança, com pouca presença de
segurança privada;
 Falta de sistemas de seguimento (GPS);
 Falta de controle e telemetria de controle das embalagens;
 Falta de infraestrutura ao longo de percurso, que possa garantir a
custódia dos caminhões em caso de emergência (como incêndio,
capotamente, etc.);
 Pouco planejamento do transporte, tendo em conta que faz falta uma
capacidade de resposta em caso de sinistro, para o salvamento e
translado das obras;
 Falta de embalagens adequadas que protejam as obras de possível
riscos.

Exemplos de Soluções Apresentadas Durante a Conferência

 Sensores nas obras de arte: Atrás de cada quadro e também na


estrutura das esculturas e instalações é colocado um sensor. A cada 15
segundos, o sensor envia um relatório da situação da obra de arte: se foi
tocada, se houve algum tipo de trepidação, se a temperatura e a
umidade estão corretas. Dessa forma, é realizado a cada 15 segundos
um inventário das obras do museu. Um exemplo do que o sistema
permite é, por exemplo, que se encaminhe uma obra para o setor de
restauração para ser limpa, sempre que ela for tocada um determinado
número de vezes. Além disso, a bateria não pode ser trocada, pois o
sensor não pode ser removido do compartimento onde fica instalado. A
razão é que se houver a tentativa de retirada do dispositivo da obra um
sinal avisando é emitido, pois o ato pode configurar tentativa de roubo.
 Sensores no chão: os sensores são uma espécie de placa fina que é
instalada sobre o assoalho e pode ser pintado para se integrar ao
mesmo. Uma das principais utilidades desse tipo de sensor é informar
se há pessoas circulando por espaços não permitidos.
 Caixas para transporte de obras: Um alumínio especial foi
desenvolvido para confeccionar as caixas nas quais as obras de arte
são transportadas. Ele resiste à temperatura, protegendo as mesmas em
casa de incêndio, e são impermeáveis, protegendo-as em caso de
enchente. Além disso, elas têm um tamanho padrão externamente mas
são ajustáveis internamente para as obras que se encaixem
perfeitamente e não sofram trepidações nem choques.
 Material corta-fogo: foi demonstrado em vídeo exibido durante a
conferência que acaba de ser desenvolvido – e que então ainda não era
comercializado: ele não só impede o fogo de agir sobre o local ou o
objeto como também não é transmissor de calor. Assim, se o museu
pegar fogo, por exemplo, mas a reserva técnica estiver revestida com
esse material, seu conteúdo não será afetado.

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