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ARTIGO ORIGINAL
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COLECISTECTOMIA LAPAROSCÓPICA
Cirurgia de Ambulatório
RESUMO
Efectuou-se um estudo retrospectivo de 105 doentes submetidos a colecistectomia
laparoscópica (CL) em regime de cirurgia de ambulatório (CA) com o objectivo de
avaliar a segurança do procedimento.
Todos os doentes foram criteriosamente seleccionados tendo em conta a indicação
cirúrgica e os critérios de admissão e exclusão para CA. Foram analisados: os factores
que motivaram o prolongamento da estadia e a readmissão; a necessidade de cuidados
médicos ou de enfermagem após a alta; o grau de satisfação e as causas de insatisfação
dos doentes. O nosso estudo mostrou uma percentagem baixa de admissão em
internamento e um elevado grau de satisfação dos doentes seleccionados para esta
intervenção cirúrgica.
A nossa experiência permitiu concluir que, em doentes seleccionados, esta cirurgia,
realizada em regime de ambulatório, é um procedimento seguro.
SUMMARY
LAPAROSCOPIC CHOLECYSTECTOMY
Day Case Procedure
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COLECISTECTOMIA LAPAROSCÓPICA
ao critério do anestesista. Os doentes iniciaram dieta lí- Quadro III – Características demográficas da população em
estudo
quida cerca de quatro horas após a intervenção cirúrgica.
Foi-lhes administrada analgesia endovenosa (metamizol CARACTERIÍSTICAS DEM OGRÁFICAS
magnésico 2 g de 8/8h e/ou paracetamol 1g de 8/8h) e
Idade M é dia (anos) 52
antiemético endovenoso (ondansetron 8 mg e/ou
metoclopramida 10 mg) se apresentassem queixas de náu- Se xo (F:M) 82:23
seas ou vómitos no pós-operatório imediato.
Entre as 18:00 e as 20:00 a maioria dos doentes teve Apre s e ntação clínica:
alta hospitalar, acompanhados de adulto responsável e Cólica Biliar/dispepsia 100
Colecistite aguda prévia 3
após tolerarem a dieta líquida e urinarem espontaneamen- Pancreatite Aguda prévia* 1
te. A todos os doentes foi prescrita medicação analgési- Dilatação da via biliar principal* 1
ca, foi fornecida a informação para contacto hospitalar
rápido e feito ensino de sinais/sintomas de alerta. Os do- Diagnós tico e cográfico:
entes foram referenciados a consulta externa de cirurgia Litíase vesicular 98
Sludge 2
geral, para controlo, na primeira semana pós-operatório. Pólipo 5
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selecção5, a maioria dos autores defende a aplicação de Apesar do enorme desenvolvimento dos fármacos
critérios na selecção dos doentes. No nosso estudo, to- anestésicos, as náuseas e vómitos são uma queixa fre-
dos os doentes classificados em ASA III e seleccionados quente do pós-operatório imediato5,6. Estes sintomas têm
para este procedimento foram admitidos em internamento sido geralmente atribuídos à anestesia, embora se admita
por opção conjunta do cirurgião e do anestesista. Em to- que o gás intra-abdominal residual possa também contri-
dos os casos, as co-morbilidades associadas não garanti- buir para acentuar as queixas. A elaboração de protocolos
ram a devida segurança para a alta prevista no mesmo dia. para a anestesia de doentes submetidos a intervenção ci-
Apesar da nossa amostra ser limitada, não consideramos rúrgica em ambulatório poderá ajudar a contornar esta
os doentes ASA III bons candidatos para CL em CA. morbilidade que é motivo frequente de internamento. Al-
O papel da CPRE em doentes com coledocolitíase, au- guns autores sugeriram a diminuição de anestésicos volá-
mentou o número de candidatos a cirurgia de ambulatório, teis e de analgésicos opioides5. O anti-emético profilático
pois evita a colangiografia intra-operatória. Os cálculos tem-se mostrado ficaz na maioria das vezes11. Preconiza-
retidos têm sido uma das causas mais frequentes de se ainda a aspiração do conteúdo gástrico imediatamente
morbilidade pós-operatória que motiva a readmissão6. antes da retirada da sonda nasogástrica.
Apesar de se encontrar demonstrado cerca de 10% de A nossa taxa de readmissão de 1% é comparável à des-
incidência de cálculos retidos em doentes submetidos a crita na literatura6. O seu valor baixo pode relacionar-se com
colecistectomia, na sua maioria são assintomáticos e es- os critérios rigorosos de selecção por nós utilizados.
tão relacionados com a mobilização de pequenos cálculos O elevado grau de satisfação dos doentes por este
durante a intervenção cirúrgica. Com o desenvolvimento procedimento cirúrgico em regime de ambulatório traduziu
da CPRE e de outros meios de diagnóstico imagiológicos, essencialmente o maior conforto do domicílio conjugado
é frequentemente adoptada uma abordagem selectiva para com o sentimento de segurança por ser fácil o contacto/
o tratamento de cálculos residuais. Na nossa experiência, acesso ao hospital caso houvesse necessidade. Apenas
os dois doentes com suspeita de coledocolitíase foram os doentes cujas queixas não foram eficazmente controla-
submetidos a CPRE com ETE pré-operatório, não se regis- das com terapêutica prescrita manifestaram a sua prefe-
tando morbilidades associadas nestes dois casos. rência pelo internamento (5%).
Alguns autores tentaram definir factores preditivos da
necessidade de internamento. Doentes com idade supe- CONCLUSÃO
rior a 50 anos, com ASA igual ou superior a III, ou cuja
intervenção cirúrgica termine após as 13 h, tem mais de Este estudo permitiu-nos concluir que, a colecistecto-
50% de probabilidade de serem admitidos em internamen- mia laparoscópica efectuada em regime ambulatório é um
to7. O tempo operatório, a dificuldade da dissecção hilar, o procedimento seguro que apresenta elevado grau de ade-
grau de hemorragia na dissecção e a espessura da parede rência e satisfação por parte do doente. É necessária uma
da vesicula biliar na ecografia são outros factores selecção prévia dos doentes baseada em critérios cirúrgi-
referenciados8,9. cos e anestésicos, e deve estar assegurado um acesso
As principais queixas por nós registadas no pós-ope- fácil ao centro hospitalar. A existência de protocolos ci-
ratório imediato foram a dor, as náuseas e vómitos. Com rúrgicos e anestésicos poderão minimizar a já reduzida
nenhum destes sintomas se encontrou relação entre o seu taxa de morbilidade e de internamento ou readmissão.
aparecimento e o tempo operatório prolongado. Em rela-
ção à dor, esta parece ter origem na irritação peritoneal e BIBLIOGRAFIA
diafragmática resultante do estiramento, da persistência
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