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Trabalho de Pesquisa 7

Sutura de Feridas: material e técnicas

ÍNDICE pág.

1- INTRODUÇÃO..........................................................................................................9

2 – ABORDAGEM SISTEMÁTICA AO TRATAMENTO DE FERIDAS.....................11

2.1 – OBSERVAR A FERIDA PARA AVALIAR AS OPÇÕES DE SUTURA..............12


2.1.1 – Risco de Infecção..........................................................................................12
2.1.2 – Localização da Ferida, Tensão dos Bordos e Complexidade..................13
2.2 – ANESTESIAR A FERIDA...................................................................................14
2.2.1 – Possíveis Efeitos Adversos dos Anestésicos Locais...............................16
2.3 – LIMPAR A FERIDA............................................................................................16
2.3.1 – Irrigação.........................................................................................................17
2.3.2 – Remoção de Cabelo......................................................................................17
2.3.3 – Desbridamento..............................................................................................18
2.4 – PREPARAÇÃO DO EQUIPAMENTO................................................................18
2.5 – SUTURA DA FERIDA........................................................................................19
2.5.1 – Alternativas à Sutura....................................................................................19
2.5.2 – Selecção do Tipo do Ponto e Técnicas de Sutura.....................................21
2.5.3 – Suturas de Feridas Complexas...................................................................28
2.6 – AVALIAR OS RESULTADOS, PREVER AS COMPLICAÇÕES.......................29
2.7 –VACINAR CONTRA O TÉTANO.........................................................................30
2.8 – ENSINAR O DOENTE A TRATAR DA FERIDA................................................31

3 – MATERIAL DE SUTURA......................................................................................32

3.1 – CLASSIFICAÇÃO DOS FIOS DE SUTURA......................................................32


3.2 – CARACTERÍSTICAS DOS FIOS.......................................................................34
3.3 – DESCRIÇÃO DOS FIOS DE SUTURA..............................................................38
3.3.1 – Absorvíveis....................................................................................................38
3.3.2 – Não Absorvíveis............................................................................................40
3.4 – CALIBRE............................................................................................................47
3.5 – AGULHAS..........................................................................................................48
3.5.1 – Tipos de Agulhas..........................................................................................49
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4 – PROCEDIMENTO.................................................................................................54

5 – CONCLUSÃO.......................................................................................................61

BIBLIOGRAFIA..........................................................................................................62
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1- INTRODUÇÃO

A elaboração deste trabalho surge no âmbito do Ensino Clínico X de


Enfermagem Médico-Cirúrgica, integrado no 4º ano 8º semestre, no curso de
Licenciatura em Enfermagem, tendo como tema de trabalho: Sutura de Feridas:
material e técnicas.
O tema surgiu pelo facto da técnica de suturar ser uma das actividades
desenvolvidas com frequência, pela equipa de enfermagem, a nível do Serviço de
Urgência.
Tendo em conta o tema proposto, tracei os seguintes objectivos:
 Abordar, de forma sistemática, a sutura de feridas, atendendo a alguns
critérios, nomeadamente a observação da ferida, a anestesia da
mesma, a limpeza, o equipamento necessário, a técnica de suturar, a
avaliação do resultado e o ensino ao doente;
 Enunciar o tipo de suturas e as suas características;
 Descrever a técnica de suturar;
 Expor o material de sutura, caracterizando os principais intervenientes,
o fio de sutura e a agulha;

O presente trabalho está estruturado numa única parte. Esta é composta por
três capítulos teóricos, realizada a partir da consulta e análise bibliográfica.
Num primeiro capítulo desenvolverei a abordagem sistemática ao tratamento
de feridas, tendo em conta alguns critérios (observação, anestesia, limpeza,
material, a técnica, as complicações e o ensino ao doente). Num segundo capítulo
abordarei de forma mais pormenorizada as características e aplicações dos
diferentes tipos de fios de sutura, bem como dos diferentes tipos de agulha. Por
último, num terceiro farei uma síntese de todo o procedimento, desde a preparação
do doente, até à técnica em si.

Assim, com a realização deste trabalho espero contribuir para a aquisição de


novos conhecimentos e consolidação dos já existentes, permitindo aplicação
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correcta da técnica de suturar, além do conhecimento de todos os critérios que a


envolvem, para que o doente receba a melhor intervenção possível.
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2 – ABORDAGEM SISTEMÁTICA AO TRATAMENTO DE FERIDAS

As feridas são lesões em que existe uma solução de continuidade da barreira


cutânea. São lesões traumáticas com ruptura da pele, sendo que esta proporciona
uma porta de entrada a germes. Por este facto, quando surge uma ferida é
obrigatório a sua limpeza, desinfecção e encerramento da lesão produzida
(VALLEJO et al., 2000).
Os profissionais de saúde esforçam-se por conseguir os melhores resultados
possíveis quando suturam feridas recentes. Se o resultado não é bom, o doente
infelizmente pode ter de o exibir, como uma marca, durante o resto da vida. Deste
modo, há pontos que devem ser retidos, como aspectos básicos de avaliação,
limpeza, anestesia e sutura de feridas, além de técnicas básicas de sutura (simples,
interrompida, corrida e vertical de colchoeiro). Uma atenção cuidadosa a detalhes na
sutura de feridas, como selecção e preparação cuidadosa do equipamento, uso
adequado de métodos de encerramento específicos e educação eficaz do doente,
podem ajudar a evitar os riscos de infecção, deiscência e cicatrização extensa e a
garantir um prognóstico bom (WILSON et al., 2001).

Neste capítulo, farei uma abordagem sistemática, organizada da sutura de


feridas baseada na mnemónica LACERATE (QUADRO 1). Esta abordagem inclui
uma série de passos na avaliação e sutura de feridas que pode ser aplicada
sistematicamente a todas as feridas recentes (WILSON et al., 2001).
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QUADRO 1 – LACERATE: uma abordagem sistemática na sutura de feridas

L (look) Observar a ferida para avaliar as opções terapêuticas


A Anestesiar a ferida
C (clean) Limpar a ferida
E Equipamento. Preparar o equipamento
R (repair) Suturar a ferida
A Avaliar o resultado, prevendo as complicações
T Tétano. Vacinar contra o tétano
E Ensinar o doente a tratar da ferida

Fonte: WILSON, Julie L. ; KOCUREK, Kristen ; DOTY, Barbara J. – Uma abordagem sistemática ao
tratamento de feridas: Truques para garantir o resultado estético adequado. Postgraduate Medicine.
Algés. Vol.15. Nº6 (2001), p. 84.

2.1 – OBSERVAR A FERIDA PARA AVALIAR AS OPÇÕES DE SUTURA

O primeiro passo é inspeccionar a ferida para avaliar o risco de infecção, grau


de lesão tecidular, necessidade de desbridamento, qualquer tensão sobre os bordos
e a sua complexidade. A consideração destes factores, conjuntamente com a idade
e a colaboração do doente, pode ajudar a estabelecer um plano eficaz para a sutura
da ferida que minimize o risco de infecção, deiscência e um mau resultado estético
(WILSON et al., 2001).

2.1.1 – Risco de Infecção

O risco de infecção depende das características da ferida e do mecanismo da


lesão. As taxas de infecção são maiores em feridas:
 Significativamente contaminadas com terra ou fezes;
 Resultantes de mordedura humana ou de animais;
 Abertas há mais de 1 hora;
 Localizadas nas porções distais dos membros ou no períneo, genitais,
axilas ou outras áreas intertriginosas;
 Lacerações contusas e feridas com mais de 5 cm;
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O tamanho, forma e comprimento da ferida determinam o grau de risco.


Lacerações contusas e as feridas com mais de 5 cm têm uma taxa de infecção
superior às pequenas lacerações lineares. As feridas por impacto traumático, como
buracos de bala ou lesões por explosivos, levam a lesão tecidular extensa que
podem comprometer a resistência da ferida à infecção e a resposta a antibióticos
profilácticos.
Uma abordagem relativamente às feridas predispostas para infecção é adiar o
encerramento primário. A ferida é inicialmente limpa e desbridada, se necessário, e
depois coberta com gaze. É prescrito um antibiótico profiláctico de espectro largo e é
dito ao doente que volte passados 2 dias para observação. A maioria das infecções
surge nas 48 horas após a ocorrência da ferida. Se não existem sinais de infecção
na reobservação, a ferida pode ser encerrada.
Esta abordagem não está indicada em feridas muito contaminadas, como as
que resultam de mordedura humana ou de gato ou nas infectadas com material
fecal, porque estas feridas têm uma taxa de inoculação e um risco infeccioso
extraordinariamente elevados (WILSON et al., 2001).

2.1.2 – Localização da Ferida, Tensão dos Bordos e Complexidade

Os resultados estéticos são muito melhores quando é colocada uma tensão


mínima sobre os bordos da ferida na altura da sutura. As feridas mais favoráveis são
aquelas em que o maior eixo é paralelo às linhas de tensão natural da pele; a sutura
dessas feridas vai levar a cicatrizes lineares finas e com bom aspecto estético. O
grau de tensão sobre os bordos da ferida pode ser calculado medindo a distância
dos bordos da ferida ao centro da lesão. Uma retracção marcada (> 5 mm) aponta
para uma grande tensão da pele. Nestas feridas, deve considerar-se a colocação de
uma sutura na derme com encerramento em dois planos, possivelmente em
simultâneo com regularização dos bordos da ferida e atenção cuidadosa à
manutenção da integridade vascular.
As crianças têm uma tensão cutânea superior à das pessoas mais velhas; é
por isso que uma incisão cirúrgica «feia» da criança pequena pode ser pior do que
uma cicatriz abdominal pequena de operação em idade mais avançada. As feridas
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dos membros e na área do músculo deltóide, costas e peito têm muito maior
probabilidade de levar a cicatrizes grandes, devido à tensão aumentada da pele
nestas áreas.
Em feridas de tensão aumentada, é crucial minimizar o risco de infecção e
hemorragia assim como a tensão sobre as margens. Estas feridas têm tendência
para a deiscência especialmente quando o doente é fisicamente activo ou a ferida
está perto de uma articulação. Também pode ocorrer deiscência se a ferida infecta,
quando se forma um grande hematoma após o encerramento, ou se não se remove
adequadamente o tecido necrosado (WILSON et al., 2001).

2.2 – ANESTESIAR A FERIDA

O encerramento da ferida pode ser feito por fita, suturas ou agrafos. A


anestesia local é necessária em caso de suturas e agrafos (SHEEHY, 2001). Deve-
se valorizar a necessidade de anestesiar a zona para evitar dor desnecessária ao
doente e facilitar o desenvolvimento da técnica (VELASCO et al., 2003).
A maioria das lacerações é anestesiada com infiltração local de lidocaína 1%,
com ou sem adrenalina (vasoconstritor), nos bordos da ferida com uma agulha de
calibre 27 a 30 (WILSON et al., 2001). A lidocaína é o fármaco preferido para
anestesia local e regional por ser altamente potente, pouco irritante e ter uma acção
anestésica prolongada (SHEEHY, 2001).
Deve usar-se lidocaína sem adrenalina em zonas pouco vascularizadas
(dedos das mãos e dos pés, orelhas, pénis e nariz), porque a adrenalina pode
causar vasoconstrição, levando a compromisso vascular dos tecidos (WILSON et al.,
2001), que se traduz em complicações graves como sejam necrose de feridas,
arritmias, choque, entre outros (VELASCO et al., 2003).
Nas crianças, em quem é uma preocupação importante a ansiedade e o medo
associados com as agulhas, pode usar-se um anestésico tópico como uma
combinação de lidocaína, adrenalina e tetracaína. Este preparado pode ser aplicado
sobre a ferida com uma compressa que é deixada no local durante 20 a 30 minutos
para conseguir uma anestesia adequada (WILSON et al., 2001).

Os PASSOS a seguir para anestesiar são:


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1) Colocar luvas.
2) Limpar a pele na vizinhança do sítio onde vai dar a injecção com álcool
e algodão.
3) Inserir a agulha, com um ângulo de 30º a 45º, através da pele saudável
num ponto próximo de um dos lados do ferimento (FIGURA 1).

FIGURA 1 – Posição e Local da Anestesia

Fonte: Universidade de Aveiro. Tratamento de Feridas [em linha] Aveiro. [citado em 11 de Março de
2008]. Disponível em <URL: http://portal.ua.pt/projectos/mermaid/mermaid.htm>.

4) Verificar se não se atinge um vaso sanguíneo, aspirando.


5) Injectar o anestésico ao mesmo tempo que retira a agulha,
administrando cerca de 0,1 a 0,2 ml de lidocaína.
6) Inserir agora a seringa num outro ponto distante, aproximadamente, de
1 cm e volte a administrar cerca de 0,1 a 0,2 ml de lidocaína.
7) Continuar a repetir o procedimento até que este lado do ferimento
esteja anestesiado e então repetir o procedimento para o outro lado do
ferimento.
8) Esperar cerca de 5 minutos para que a anestesia actue. Verificar se o
local está anestesiado picando, cuidadosamente, com a agulha.
9) Colocar a agulha usada na caixa das agulhas usadas (site).
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2.2.1 – Possíveis Efeitos Adversos dos Anestésicos Locais

Os anestésicos locais poderão ter efeitos adversos a nível local ou a nível


sistémico.

A nível LOCAL:
 Dor, equimoses/hematomas, infecção, lesão nervosa.

A nível SISTÉMICO:
 Derivados da toxicidade por sobredosagem: pode aparecer por utilizar
doses de anestésico superior à dose máxima recomendada, ou por
utilizar doses correctas administradas no espaço intravascular. A
sintomatologia pode ser a nível do SNC de tipo leve (sabor metálico,
formigueiro, náuseas, vómitos, vertigens e inquietude), moderada
(nistagmo, alucinações, fasciculações, tremores e convulsões) e
severa, como apneia e coma. A nível cardiovascular provoca
hipotensão, arritmias e choque com paragem cardiorespiratória.
 Derivados da Reacção Alérgica
 Derivados da Reacção Psicógena: complicação que se apresenta com
maior frequência. Consiste em palidez, sudorese, náuseas,
hiperventilação e síncope (VELASCO et al., 2003).

2.3 – LIMPAR A FERIDA

A limpeza e preparação da ferida para a sutura pode envolver irrigação,


remoção de cabelo e desbridamento de tecido necrosado (WILSON et al., 2001).
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2.3.1 – Irrigação

As lacerações são irrigadas de preferência com uma solução estéril como


soro fisiológico. É ideal o uso de um dispositivo de pressão de irrigação moderada:
isto consegue-se facilmente fazendo vários buracos na tampa do frasco de soro ou
solução estéril com uma agulha de grande calibre ou usando uma seringa de 30 a
60 cc com uma ponta borrifadora. Deve ser usada uma protecção para os olhos se
não existir uma ponta borrifadora.
A irrigação antes do encerramento da ferida não reduz a taxa de infecção em
feridas não contaminadas da face ou couro cabeludo.
Se não estiver disponível uma solução estéril, pode usar-se água limpa da
torneira, uma vez que o movimento de lavagem do fluido de irrigação remove as
bactérias e diminui o risco de infecção (WILSON et al., 2001).

2.3.2 – Remoção de Cabelo

Se existe cabelo dentro ou à volta da ferida, deve ser removida a quantidade


suficiente para minimizar a contaminação e permitir uma boa visualização da ferida e
do material de sutura. Uma excepção a esta regra são as feridas do sobrolho. Os
pêlos das sobrancelhas têm características de padrão de capilar únicas, e uma vez
removidos, podem não crescer adequadamente ou nem voltarem a crescer.
O cabelo deve ser cortado, não rapado, porque o rapar pode aumentar o
traumatismo dos tecidos e dessa forma o risco de infecção. Se é uma prioridade a
perda mínima de cabelo, pode usar-se bacitracina para manter o cabelo colado e
afastado dos bordos para não contaminar a ferida.
Nalguns casos, tem sido usado o cabelo do doente no encerramento de
feridas pequenas do couro cabeludo. Para conseguir esse encerramento com «nó
de cabelo» dois pequenos feixes de cabelo de lados opostos da ferida são ou atados
com meio nó e depois torcidos, ou simplesmente torcidos sem o meio nó inicial. A
porção torcida é depois presa com um elástico pequeno na base e deixada durante
7 a 10 dias. A limpeza cuidadosa do couro cabeludo e do cabelo pode começar 24
horas depois, tal como numa sutura fechada ou com a colocação de agrafos
(WILSON et al., 2001).
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2.3.3 – Desbridamento

Geralmente, o desbridamento deve ser conservador e limitar-se à remoção de


tecido desvitalizado, que, se for deixado no local, vai actuar como meio de cultura
promovendo o crescimento bacteriano. Os bordos de ferida não regulares devem ser
aproximados meticulosamente, se possível, para conseguir o melhor resultado
estético. Quando os bordos irregulares de feridas estão desvitalizados e não podem
ser reaproximados o uso de uma incisão com plastia em W é um método de
desbridamento melhor que a abordagem elíptica, que produz maior tensão sobre os
bordos da ferida (WILSON et al., 2001).

2.4 – PREPARAÇÃO DO EQUIPAMENTO

Deve seleccionar-se o equipamento e o local mais adequados para um


encerramento bem sucedido de uma ferida com base no tipo de sutura planeado,
conforto e colaboração do doente e conforto do profissional de saúde. A colocação
do banco de observador, mesa de instrumentos e luzes assim como o
posicionamento do doente devem contribuir para o máximo conforto do operador e
melhor acesso à ferida.
O equipamento deve ser todo cuidadosamente inspeccionado antes de o
operador colocar as luvas esterilizadas e arranjar um campo esterilizado.
O conforto do doente também deve ser tomado em atenção quando se
selecciona um método de encerramento que facilite uma remoção fácil da sutura ou
elimine de todo a necessidade de remoção da sutura (WILSON et al., 2001).

No capítulo 3, será desenvolvida, de forma pormenorizada, as características


dos materiais que podem ser utilizados na sutura de uma ferida, principalmente o fio
de sutura e a agulha.
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2.5 – SUTURA DA FERIDA

O objectivo da sutura é aproximar tecidos com as mesmas características a


fim que cicatrizem correctamente. É imprescindível conseguir uma boa eversão dos
bordos (os bordos da ferida virados parcialmente para fora), evitando tanto a
inversão, como uma tensão excessiva isquemizante (VELASCO et al., 2003).
Devem considerar-se todas as opções de sutura da ferida, incluindo
alternativas à sutura, tipo de sutura e encerramento num plano versus vários planos
(WILSON et al., 2001).

2.5.1 – Alternativas à Sutura

O encerramento da ferida pode ser feito com:


 Fita (Steri-Strips);
 Sutura;
 Agrafos.

Ambos têm vantagens e desvantagens. A escolha da técnica assenta na


dimensão, na profundidade e no local da ferida (SHEEHY, 2001).

a) Encerramento com Fitas

As fitas têm-se revelado equivalentes, e nalguns aspectos melhores do que


as suturas no encerramento de feridas simples, limpas em crianças. Estas não
devem ser utilizadas sobre as articulações, nas mãos, pés, lábios ou mucosas; em
feridas infectadas, perfurantes ou com bordos irregulares; em doentes com má
circulação ou tendência para formar quelóides.
A limpeza e o desbridamento são necessários com qualquer método de
encerramento e, por isso, pode ser necessária anestesia quando se usam fitas.
Estas são aplicadas topicamente sobre os bordos da ferida. São desenhados para
feridas de baixa tensão (FIGURA 2 e 3).

As vantagens são:
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 Menos tempo para tratar a ferida;


 Menos material necessário;
 Menos dor durante o tratamento;
 Eliminação da necessidade de remover suturas ou agrafos numa consulta de
seguimento (WILSON et al., 2001).

FIGURA 2 – Encerramento com Fitas

Fonte: www.promed.ie/acatalog/02216steristrips.jpg

FIGURA 3 – Aplicação de Fitas de Encerramento

Fonte: Universidade de Aveiro. Tratamento de Feridas [em linha] Aveiro. [citado em 11 de Março de
2008]. Disponível em <URL: http://portal.ua.pt/projectos/mermaid/mermaid.htm>.

Outro autor refere que além deste tipo de encerramento de ferida ser utilizado
para feridas superficiais, em que a tensão é mínima, pode ser também utilizada
como complemento, após remoção das suturas, em doentes com pele fina e frágil,
como é o caso de doentes idosos ou a receber esteróides. O encerramento com fita
é também mais fácil em doentes obesos, uma vez que o tecido adiposo tem
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tendência para provocar eversão dos bordos da ferida. Também se pode usar
depois do encerramento de camadas mais profundas com suturas.
Não é necessário anestésico, e o risco de infecção também é menor. As fitas
mantêm-se até caírem (SHEEHY, 2001).

b) Agrafos

A colocação de agrafos leva menos tempo e é menos cara que a sutura, mas
está limitada porque pode ser difícil uma coaptação exacta e um alinhamento fiel dos
bordos da ferida.
O couro cabeludo, pescoço, braços, nádegas, tronco e pernas são as zonas
mais adequadas para a colocação de agrafos. As taxas de infecção e resposta
inflamatória não são maiores do que com as suturas.
Durante a aplicação de agrafos, um colaborador pode ajudar a elevar os
bordos da ferida enquanto o operador principal os coloca (WILSON et al., 2001).
O encerramento com agrafos não tem a mesma qualidade que com a sutura,
uma vez que a cicatriz é mais pronunciada, pelo que os agrafos são aconselháveis
apenas em regiões em que a cicatriz não fique visível.
Os agrafos, normalmente, permanecem entre 7 a 10 dias. Para os tirar, é
necessário uma tesoura de agrafos especial (SHEEHY, 2001).

2.5.2 – Selecção do Tipo do Ponto e Técnicas de Sutura

Deve-se colocar o mínimo número de pontos que consiga uma boa


aproximação com tensão suficiente, e evite espaços mortos (colocar muitos não
melhora o resultado estético), além disso estes devem ser colocados de forma
regular (FIGURA 4) (VELASCO et al., 2003).

FIGURA 4 – Distribuir os pontos da sutura regularmente


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Sutura de Feridas: material e técnicas

Fonte: VELASCO, MªC Yegler [et. al] – Cirurgía en lesiones dérmicas superficiales (III de III) –
Procedimiento: realización de la técnica. Revista ROL de Enfermería. Barcelona. Vol.26. Nº 11
(2003), p. 9.

I. SUTURAS DESCONTÍNUAS

As suturas descontínuas são aquelas suturas em que cada ponto é


independente do seguinte, repartidos de maneira uniforme ao longo da ferida. É
mais fácil distribuir a tensão, favorece a drenagem da ferida e os pontos são
retirados com mais facilidade.
Uma técnica correcta de suturar consiste em:
1) Traccionar do bordo da ferida realizando eversão com uma pinça de
dissecção com dentes, de forma que se visualize bem, tanto o lugar
por onde entra a agulha como o lugar por onde é extraída no interior da
ferida;
2) O segundo passo consiste em traccionar do mesmo modo o bordo
contrário, passando a agulha desde o interior da ferida até ao exterior
da pele (FIGURA 5);

FIGURA 5 – Traccionar e Aproximar os Bordos


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Sutura de Feridas: material e técnicas

Fonte: VELASCO, MªC Yegler [et. al] – Cirurgía en lesiones dérmicas superficiales (III de III) –
Procedimiento: realización de la técnica. Revista ROL de Enfermería. Barcelona. Vol.26. Nº 11
(2003), p.8.

3) Proceder ao nó exercendo a tensão necessário, realizando ao menos


três nós e cortando o fio, deixando sempre uma ponta, curta o
suficiente para ser facilmente retirado (VELASCO et al., 2003).

Dentro das suturas descontínuas podem-se diferenciar o ponto simples e


ponto colchoeiro ou em U:
 Ponto simples: é o utilizado com maior frequência pela sua rapidez e
simplicidade de execução; deve abarcar 0,5 cc tanto em amplitude
como em profundidade. Deixa-se o nó a um lado para favorecer a
inspecção, a higiene e a retirada posterior do ponto (FIGURA 6).
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Sutura de Feridas: material e técnicas

FIGURA 6 – Aplicação do Ponto Simples

Fonte: VELASCO, MªC Yegler [et. al] – Cirurgía en lesiones dérmicas superficiales (III de III) –
Procedimiento: realización de la técnica. Revista ROL de Enfermería. Barcelona. Vol.26. Nº 11
(2003), p. 7

 Ponto colchoeiro ou em U: pode ser horizontal ou vertical; utiliza-se


em feridas com muita tensão ou para conseguir uma melhor eversão
dos bordos (palma e planta dos pés), e em feridas com bordos muito
separados, sobretudo periarticulares. É uma sutura mais isquemizante
que o ponto simples.

 Ponto em U ou colchoeiro vertical : a agulha entra a um centímetro


de uma das margens da ferida e sairá igualmente a um centímetro do
bordo contrário (com a mesma técnica que o ponto simples) para voltar
a entrar a um milímetro da saída, no mesmo bordo, e volta ao bordo
contrário, onde se prenderá com a ponta inicial. Pode-se dizer que é
um ponto em profundidade (FIGURA 7).
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Sutura de Feridas: material e técnicas

FIGURA 7 – Aplicação de um ponto em «U» ou colchoeiro vertical

Fonte: VELASCO, MªC Yegler [et. al] – Cirurgía en lesiones dérmicas superficiales (III de III) –
Procedimiento: realización de la técnica. Revista ROL de Enfermería. Barcelona. Vol.26. Nº 11
(2003), p. 8.

 Ponto em U ou colchoeiro horizontal : realiza-se um ponto simples,


contudo antes de dar o nó e fazer tensão fixamo-nos a um lado para
realizar, sem cortar o fio, outro ponto simples paralelo em sentido
contrário. Finalmente realizamos o nó com as pontas que saiem pelo
mesmo bordo da ferida (FIGURA 8) (VELASCO et al., 2003).

FIGURA 8 – Aplicação de um ponto em «U» ou colchoeiro horizontal

Fonte: VELASCO, MªC Yegler [et. al] – Cirurgía en lesiones dérmicas superficiales (III de III) –
Procedimiento: realización de la técnica. Revista ROL de Enfermería. Barcelona. Vol.26. Nº 11
(2003), p. 8
Trabalho de Pesquisa 26
Sutura de Feridas: material e técnicas

II. SUTURAS CONTÍNUAS

As suturas contínuas são aquelas em que os pontos se efectuam


continuamente, sem cortar o fio. Dificultam a drenagem da ferida, pelo que estão
contra-indicadas em suspeita de infecção. Contudo, o seu resultado estético é
melhor, mas os pontos retiram-se com mais dificuldade.
Realizam-se com mais rapidez que as descontínuas, embora a habilidade
para as praticar correctamente requer mais experiência.
Não estão indicadas em lesões profundas, se não se tiver realizado sutura por
planos, já que esta sutura só aproxima camadas mais superficiais da derme, e o fio
nunca deve passar pelo tecido subcutâneo (VELASCO et al., 2003).

Outro autor apresenta uma revisão das técnicas de sutura, das suas
vantagens e desvantagens comparativas e aplicações (QUADRO 2).
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QUADRO 2 – Resumo de Pontos e Técnicas de Sutura


TIPO DE
VANTAGENS DESVANTAGENS APLICAÇÕES
SUTURA
Fácil de aprender, Difícil de conseguir uma Feridas simples de
Simples
colocação precisa tensão uniforme, suturas baixa tensão ou após
interrompida
de pontos muito apertadas redução da tensão
Simples (de Fácil de aprender, Fácil de desemaranhar, Feridas simples de
chuleio distribuição igual menor ajuste tensional em tensão baixa ou após
contínua) da tensão cada ponto redução da tensão
Melhor para Demorada a realizar,
Colchoeiro feridas com tensão tendência para deixar Feridas de tensão
vertical aumentada nos marcas na pele, se for elevada
bordos da pele deixada muito tempo
O ponto profundo é Melhor para feridas
Colchoeiro Versão rápida do
colocado às cegas e difícil com tensão
vertical rápido colchoeiro vertical
de aprender bem aumentada
Contínua
Forte, eversão Colchoeiro simples e
combinando
excelente, Má para os tecidos frágeis horizontal alternando
simples e
remoção fácil com simples
colchoeiro
Sutura absorvível
Ajuda a reduzir a com os pontos
Subdérmica Risco de infecção
tensão e encerra o enterrados: camada
absorvível aumentado
espaço morto profunda de uma
sutura em 2 planos
Melhor para áreas Demorada, difícil de
Sutura corrida
em que o aprender bem, risco
subcuticular
Subcuticular resultado estético aumentado de infecção
enterrada com sutura
é da maior possível, não serve para
absorvível
importância áreas de grande tensão

Fonte: WILSON, Julie L. ; KOCUREK, Kristen ; DOTY, Barbara J. – Uma abordagem sistemática ao
tratamento de feridas: Truques para garantir o resultado estético adequado. Postgraduate Medicine.
Algés. Vol.15. Nº6 (2001), p. 89.

2.5.3 – Suturas de Feridas Complexas


Trabalho de Pesquisa 28
Sutura de Feridas: material e técnicas

As feridas complexas envolvem várias camadas, têm bordos


significativamente irregulares, cruzam territórios estéticos importantes (por exemplo,
lábio, orelha, nariz) ou têm falta de tecidos ou bordos em bisel ou retalhos. As
abordagens específicas destas feridas de apresentação difícil podem produzir ou
inviabilizar o efeito estético desejado (VELASCO et al., 2003).

FERIDAS COM BORDOS EM BISEL

Fazer coincidir as camadas é um problema frequente nas feridas com bordos


em bisel. No bordo mais largo deve dar-se um ponto perto do bordo da ferida, mas
que incorpore maior quantidade de tecido subcutâneo. No bordo mais fino deve dar-
se um ponto mais longe da ferida, mas que incorpore menos tecido subcutâneo.
Esta técnica leva os bordos a um posicionamento e aposição correctos (FIGURA 9)
(VELASCO et al., 2003).

FIGURA 9 – Técnica de Encerramento em feridas com bordos em bisel

Fonte: WILSON, Julie L. ; KOCUREK, Kristen ; DOTY, Barbara J. – Uma abordagem sistemática ao
tratamento de feridas: Truques para garantir o resultado estético adequado. Postgraduate Medicine.
Algés. Vol.15. Nº6 (2001), p. 90.
Trabalho de Pesquisa 29
Sutura de Feridas: material e técnicas

APLICAÇÃO DE PONTOS NOS CANTOS

Muitas feridas complexas têm bordos irregulares e dentados. Os cantos da


pele e os retalhos são vulneráveis a um mau resultado porque recebem a sua
irrigação sanguínea apenas de pequenos capilares a partir da base intacta.
O ponto de canto é basicamente uma sutura de colchoeiro horizontal e é uma
técnica segura para imobilizar um canto sem interromper os pequenos capilares. A
agulha é inserida através da epiderme e derme na borda da ferida em direcção ao
canto, passa horizontalmente através da derme do canto da ferida e volta ao mesmo
plano da derme e epiderme do lado oposto. Para o retalho, a sutura passa
horizontalmente através da derme, e não verticalmente através da derme e
epiderme. O resto do retalho pode ser fechado com suturas descontínuas
percutâneas (WILSON et al., 2001).

2.6 – AVALIAR OS RESULTADOS, PREVER AS COMPLICAÇÕES

Cada sutura de ferida deverá ser avaliada cuidadosa e exaustivamente como


segue: avaliar como é que foram cumpridos os princípios de tratamento de feridas.
Lembrar que a sutura de feridas é uma arte aprendida e que a técnica pode
ser melhorada tomando muita atenção aos resultados conseguidos e aos métodos
usados para os conseguir. Devemos aprender com os insucessos assim como com
os êxitos, e não ter medo de admitir que existe sempre a possibilidade de melhorar.
Finalmente, prever as complicações potenciais com a cicatrização da ferida,
incluindo infecção, edema, hemorragia, deiscência e acompanhamento deficiente do
doente. Tentar criar planos de contingência para resolver estas situações (WILSON
et al., 2001).

Ainda no seguimento da previsão de complicações, alguns autores valorizam


a cicatrização por primeira intenção, através da observação de sinais normais ou
anormais de cicatrização. Estes sinais são descritos no quadro seguinte.
Trabalho de Pesquisa 30
Sutura de Feridas: material e técnicas

QUADRO 3 – Valorização da Cicatrização por primeira intenção


SINAIS ANORMAIS SINAIS NORMAIS

(1) Bordos bem aproximados;


(2) Boa resposta inflamatória inicial: eritema, calor, dor;
(3) Ausência de drenagem nas primeiras 48 horas, após encerramento;
(4) Presença de cicatriz aos 7 ou 9 dias da intervenção.

(1) Bordos mal aproximados;


(2) Diminuição ou ausência de resposta inflamatória;
(3) Persistência de drenagem por mais de 48 horas após encerramento;
(4) Ausência de cicatriz ao nono dia de intervenção: cicatriz hipertrófica
ou formação de quelóide.

Fonte: VELASCO, MªC Yegler [et. al] – Cirurgía en lesiones dérmicas superficiales (II de III) –
Procedimiento: preparación de la técnica. Revista ROL de Enfermería. Barcelona. Vol.26. Nº 10
(2003), p. 9.

2.7 –VACINAR CONTRA O TÉTANO

O estado de vacinação do doente contra o tétano deve ser avaliado e se


necessário deve administrar-se a vacina (QUADRO 4) (WILSON et al., 2001).

QUADRO 4 – Normas de Vacinação contra o Tétano no Tratamento de Feridas


Estado de FERIDAS PEQUENAS LIMPAS OUTRAS FERIDAS
vacinação contra
DAR TD? DAR TIG? DAR TD? DAR TIG?
o tétano
Desconhecido
Sim Não Sim Sim
ou < 3 doses
Não (sim se > Não (sim se >
> 3 doses 10 anos desde Não 5 anos desde não
a última dose a última dose)
Fonte: WILSON, Julie L. ; KOCUREK, Kristen ; DOTY, Barbara J. – Uma abordagem sistemática ao
tratamento de feridas: Truques para garantir o resultado estético adequado. Postgraduate Medicine.
Algés. Vol.15. Nº6 (2001), p.91.
2.8 – ENSINAR O DOENTE A TRATAR DA FERIDA
Trabalho de Pesquisa 31
Sutura de Feridas: material e técnicas

A educação do doente é um passo crucial para garantir resultados excelentes


no tratamento das feridas. Por exemplo, pode determinar a diferença relativamente à
rapidez com que os profissionais de saúde vão ter oportunidade de trata a infecção
ou a deiscência (isto é, logo que ocorrem ou depois de o pior já ter acontecido). Os
folhetos que se dão ao doente devem incluir instruções sobre como tratar das
feridas, uma lista de sinais e sintomas de infecção ou deiscência precoce e
instruções precisas sobre como e quando contactar o médico ou a unidade de
saúde, se surgir alguma preocupação. As instruções devem ser fáceis de ler e de
preferência escritas na língua natal do doente. Devem ser descritas quaisquer
limitações de actividades, como tomar duche, exercício físico pesado, ou uso do
membro doente.
No folheto para o doente também deve ser incluída a data da observação
seguinte. Um acompanhamento adequado e a remoção atempada da sutura são
aspectos cruciais dos cuidados adequados com as feridas. Particularmente, em
idosos e crianças, o acesso limitado a meios de transporte pode levar a faltas às
consultas e a atraso na avaliação ou na intervenção quando ocorrem complicações
(WILSON et al., 2001).
Trabalho de Pesquisa 32
Sutura de Feridas: material e técnicas

3 – MATERIAL DE SUTURA

O conhecimento adequado das características dos materiais de sutura e das


suas aplicações pode tornar menos desconfortável as opções sobre as suturas
(WILSON et al., 2001).
Os fios de sutura cirúrgica foram conceituados por Goffi; Tolosa como
materiais utilizados para selar vasos sanguíneos e aproximar tecidos, em acções de
ligar e suturar. Surgiram e forma desenvolvidos ao longo dos séculos em função da
necessidade de controlar hemorragias e também de favorecer a cicatrização de
ferimentos ou incisões por primeira intenção (RIBEIRO & GRAZIANO, 2003).
A primeira referência a materiais de sutura ocorre na literatura egípcia no
século XVI a.C., no papiro de Edwin Smith. Uma variado leque de materiais foi
usado, ao longo da história, como suturas: ouro; tendão de canguru; crina de cavalo
preto; tântalo; linho; arame; tecido intestinal; algodão; seda e, nos nossos dias,
materiais sintéticos. Esta grande variedade, deve-se à permanente procura de uma
sutura ideal, que ainda hoje não existe (COUTO, 1998).

3.1 – CLASSIFICAÇÃO DOS FIOS DE SUTURA

Quanto à classificação dos fios de sutura, estes podem classificar-se quanto à


sua origem, quanto à sua permanência no organismo e ainda quanto à sua forma
de apresentação (COUTO, 1998).
Nos quadros seguintes, serão apontados os diferentes tipos de fios,
consoante o tipo de classificação (QUADRO 5, 6 e 7).
Trabalho de Pesquisa 33
Sutura de Feridas: material e técnicas

QUADRO 5 – Classificação dos Fios de Sutura quanto à ORIGEM


Catgut
Animal

NATURAIS
Seda
Linho
Vegetal
Algodão
Aço
Mineral
Prata
Ac. Poliglicólico (Dexon)
Poliglactina (Vicryl)
SINTÉTICAS

Polidioxanona (PDS II)


Poliamida (Ethilon, Supramid)
Poliéster (Ethibond, Ticron)
Polipropileno (Prolene)
Polietileno (Dermalene)
Fonte: COUTO, Helena – Material de Sutura. Nursing. Lisboa. Ano 10. Nº 119 (1998), p.26.

QUADRO 6 – Classificação dos Fios de Sutura quanto à PERMANÊNCIA NO


ORGANISMO
Normal – 6 a 7 dias
Catgut
ABSORVÍVEIS

Cromado – 15 a 20 dias
Ac. Poliglicólico – 90 dias

Poliglactina – 70 dias
Polidioxanona – 180 dias
Algodão
NÃO ABSORVÍVEIS

Linho
Seda
Aço
Poliamida
Poliéster
Polipropileno
Polietileno
QUADRO 7 – Classificação dos Fios de Sutura quanto à FORMA DE
APRESENTAÇÃO
MONOFILAMEN

Polidioxona
 Estrutura física única;
Polipropileno  Geralmente finos;
 Uniformes e homogéneos.
Poliamidas
Trabalho de Pesquisa 34
Sutura de Feridas: material e técnicas

TOS
Metálicos
Torcidos (catgut, seda,  Fios monofilamentos
linho, poliamida, aço) muito finos;
MULTIFILAMENTOS Recobertos (ac.  > Resistência, flexibilidade
Poliglicólico, e maleabilidade;
poliglactina,  > Capilaridade e adesão
poliamidas, bacteriana  > risco de
poliésteres) infecção tratamento
Entrançados
anticapilar
(seda, poliésteres,
poliamidas)

Fonte: COUTO, Helena – Material de Sutura. Nursing. Lisboa. Ano 10. Nº 119 (1998), p.26.

3.2 – CARACTERÍSTICAS DOS FIOS

Em cada sutura realizada, de acordo com o tipo de tecido ou a estrutura onde


o material está sendo implantado e as particularidades do doente, o profissional de
saúde busca encontrar o Fio Ideal.
Alguns autores apontam características, tais como:
 Alta resistência à ruptura permitindo o uso de diâmetros menores;
 Boa segurança do nó;
 Baixa reacção tecidual;
 Não favorecimento da instalação ou continuidade de um processo infeccioso;
 Manutenção das bordas da incisão aproximadas até a fase proliferativa da
cicatrização;
 Boa visualização no campo operatório;
 Desaparecer do tecido onde foi implantado, quando não for mais necessário
(RIBEIRO & GRAZIANO, 2003).

As características dos fios podem ser: mecânicas e biológicas.

I - MECÂNICAS
Trabalho de Pesquisa 35
Sutura de Feridas: material e técnicas

a) Resistência à tracção
 Máxima força que um fio pode suportar submetido a um esforço
longitudinal (FIGURA 10).

FIGURA 10 – Resistência à tracção dos materiais de sutura

Fonte: COUTO, Helena – Material de Sutura. Nursing. Lisboa. Ano 10. Nº 119 (1998), p.26.

b) Deformação
 Quando um fio é submetido a uma força longitudinal sofre 2
tipos de deformação:
 Longitudinal;
 Contracção do calibre.
 Deformação não permanente – o fio retorna às características
iniciais  elástico.
 Deformação permanente – o fio não retorna às características
iniciais  plástico.

c) Trabalho de ruptura
 Mede a capacidade de um fio para suportar um choque
repentino de uma energia determinada.

d) Flexibilidade
Trabalho de Pesquisa 36
Sutura de Feridas: material e técnicas

 Facilidade de manipulação e realização de nós, > número de


zonas amorfas  > flexibilidade.
 É maior quando é menor o calibre, é multifilamento. (FIGURA
11)

FIGURA 11 – Flexibilidade comparada dos diversos materiais de sutura

Fonte: COUTO, Helena – Material de Sutura. Nursing. Lisboa. Ano 10. Nº 119 (1998), p.27.

e) Superfície e Capilaridade
 Traumatismo provocado nos tecidos é maior nos multifilamentos
entrançados;
 Segurança dos nós é maior nos multifilamentos;
 Capilaridade é maior nos torcidos e entrançados.

Capilaridade – capacidade de absorção de um líquido, através de um fio de sutura


(COUTO, 1998).

II – BIOLÓGICAS

1. Aderência Bacteriana
 Depende da configuração do fio;
Trabalho de Pesquisa 37
Sutura de Feridas: material e técnicas

 > nos multifilamentos devido a capilaridade e rugosidade da


superfície.

2. Reacção Tecidual
Depende da:
 Quantidade de material;
 Estrutura química, pode provocar uma acção antigénica ou
irritante;
 Composição de corantes, lubrificantes e conservantes.

3. Reabsorção
 Enzimática;
 Hidrólise (desdobramento das moléculas de determinados
compostos pela acção da água) (COUTO, 1998).
Trabalho de Pesquisa 38
Sutura de Feridas: material e técnicas

3.3 – DESCRIÇÃO DOS FIOS DE SUTURA

Os diferentes tipos de fios são:


1. Absorvíveis naturais;
2. Absorvíveis sintéticos;
3. Não absorvíveis naturais;
4. Não absorvíveis sintéticos (COUTO, 1998).

3.3.1 – Absorvíveis

Aquele que é produzido com material que pode ser digerido pelas células e
fluidos corporais durante e após a cicatrização dos tecidos. É submetido de tal forma
a processos de tratamento que o tempo de absorção coincide com o tempo de
absorção de tecidos (COUTO, 1998).
A absorção é feita por degradação enzimática, ou seja, são digeridos por
enzimas, ou hidrolisadas pelos fluidos tecidulares (COUTO, 1998).
As suturas absorvíveis são usadas nas suturas subcutâneas e em dois
planos, não são removidas; perdem a sua força de tensão dentro de 60 dias. Por
terem grande tendência para a infecção, as suturas absorvíveis só devem ser
usadas em feridas limpas (WILSON et al., 2001).

I – ABSORVÍVEIS NATURAIS

Designam-se por catguts e obtêm-se a partir da submucosa do intestino de


ovelha ou da serosa do intestino de vaca.

a) Catguts
 Simples (Catgut simples, Plain, Flexigut simples);
 Crómico (Catgut cromado, Chromic, Flexigut cromado);
 Absorção é por degradação enzimática;
 Apresentação habitual é normalmente um invólucro com líquido
conservante e flexibilizante;
Trabalho de Pesquisa 39
Sutura de Feridas: material e técnicas

 Os catguts simples têm maior facilidade de manipulação pois têm


menor rigidez (FIGURA 12).
 Principais áreas de utilização – suturas do estômago, intestino,
vesícula e vias biliares, vias urinárias, útero, aponevroses, tecido
celular subcutâneo, pulmão.

Sutura Força Tensil Absorção


Simples 7-10 dias 60-90 dias
Crómico 17-21 dias 90-110 dias

FIGURA 12 – Catgut

Fonte: http://www.suturmedic.com.br/

II – ABSORVÍVEIS SINTÉTICOS

Porquê?
 Minimizar a reactividade dos tecidos;
 Prever a absorção no tempo;
 Aumentar a força tênsil.

Quanto à Composição

a) Acido Poliglicólico e Poliglactina (Dexon, Vicryl)


 Degradação é feita por hidrólise química;
Trabalho de Pesquisa 40
Sutura de Feridas: material e técnicas

 Reacção tecidular mínima;


 Podem apresentar-se como mono ou multifilamento;
 Principais áreas de aplicação: suturas de aponevroses, peritoneu,
estômago, intestino, vesícula e vias biliares, vias urinárias, cavidade
oral, cirurgia ginecológica, cirurgia torácica.

b) Polidioxanona (PDS II)


 Degrada-se por hidrólise;
 Apresenta-se como monofilamento;
 São mais flexíveis que os anteriores;
 Resistem à tensão durante muito tempo;
 Têm baixa reacção tecidular;
 Principais áreas de utilização: similares aos anteriores com maior
vantagem, pois são de maior flexibilidade, oftalmologia, cirurgia
torácica (coartação da aorta) (COUTO, 1998).

3.3.2 – Não Absorvíveis

É aquele que não é absorvido nem digerido pelos tecidos durante a


cicatrização. Com o tempo torna-se encapsulado por tecido fibroso. Quando usado
na pele ou em pontos de retenção este tipo de fio é retirado (COUTO, 1998).
As suturas não absorvíveis usam-se para encerramento da epiderme e devem
ser removidas após 5 a 10 dias (WILSON et al., 2001).

III – NÃO ABSORVÍVEIS NATURAIS

a) Seda
 São fibras proteicas naturais produzidas pelo bicho da seda;
Trabalho de Pesquisa 41
Sutura de Feridas: material e técnicas

 Basicamente é uma proteína;


 Apresenta-se como multifilamento entrançado ou torcido (FIGURA
13);
 Pouco elástica;
 Dos fios não absorvíveis são dos que produzem maior reacção
tecidular;
 Principais áreas de utilização: pele, laqueação de vasos.

FIGURA 13 – Seda

Fonte: http://www.suturmedic.com.br/

 Vantagens:
 Tem uma grande força tensional;
 Não é irritante (há menos reacção tecidual que com o
catgut);
 É submetido a um processo de tratamento que a torna
resistente às serosidades;
 É relativamente barata;
 O nó permanece firme e sem deslizar;
 A cicatrização é geralmente muito mais rápida do que
com o catgut;
 É boa para manusear e dar os nós.
 Desvantagens:
 Não deve ser usada quando há infecção;
Trabalho de Pesquisa 42
Sutura de Feridas: material e técnicas

 Aumenta o tempo operatório pois exige uma técnica


meticulosa;
 Não é comum ser utilizada em certos tecidos como rim,
bexiga ou uréter, pois torna-se um núcleo para um
cálculo;
 Se for usada como pontos de demora estes causaram um
certo desconforto ao serem removidos, pois o tecido
cresce nas fibras do fio;
 Se permanece muito tempo num tecido funciona como
um corpo estranho (COUTO, 1998).

b) Fio de Aço
 É aço puro, pode ser monofilamento (FIGURA 14) (Steel, Surgisteel,
Steelwire);
 Ou multifilamento entrançado (Flexon);
 Principais áreas de utilização: cirurgia plástica, cirurgia traumática e
ortopédica, cirurgia torácica (encerramento do esterno).
 Vantagens:
 Reacção tecidular praticamente nula (é inerte nos
tecidos);
 É a sutura mais resistente de todas;
 Tem uma grande força tensional proporcional ao seu
diâmetro;
 É facilmente removido dos tecidos quando usado como
sutura de tensão;
 É indicado nos casos em que se espera uma cicatrização
lenta;
 Pode ser usado em casos de infecção;
 É maleável;
 É relativamente barato;
 É facilmente esterilizado.
 Desvantagens:
Trabalho de Pesquisa 43
Sutura de Feridas: material e técnicas

 É mais difícil de manusear do que qualquer outro fio, com


perigo de furar as luvas;
 Entorta com mais facilidade;
 Não tem elasticidade;
 Nós volumosos;
 É opaco ao raio X;
 É de difícil manejo (COUTO, 1998).

FIGURA 14 – Fio de Aço

Fonte: http://www.suturmedic.com.br/

c) Linho
 Extraído do caule de limm usilatisisimum;
 Pouco usado actualmente;
 Não apresenta diâmetro homogéneo;
 Principais áreas de utilização: sutura de feridas em que seja
necessário elevada resistência e longa permanência (FIGURA 15)
(COUTO, 1998).

FIGURA 15 – Linho
Trabalho de Pesquisa 44
Sutura de Feridas: material e técnicas

Fonte: http://www.suturmedic.com.br/

d) Algodão
 É um fio não absorvível, feito de algodão de fibras longas, submetido
a um processo de tratamento que o torna macio. Utilizado há 1500
anos. Foi usado na guerra civil americana e na Segunda Guerra
Mundial (COUTO, 1998).

IV – NÃO ABSORVÍVEIS SINTÉTICOS

Segundo COUTO (1998), nos fios de sutura não absorvíveis sintéticos temos
os seguintes tipos:

Nylon Monofilamento (Ethilon)


Poliamid Multifilamento (Nurolon)
Suprami Monofilamento
a Multifilamento
d
Monofilamento (Mirafil)
Poliéster
Multifilamento (Ethibond, Ticron)
Polietileno  Monofilamento (Dermalene)
Monofilamento (Prolene, Surgilene)
Polipropileno
Multifilamento

a) Poliamidas

a1) Nylon
 Monofilamento (FIGURA 16) ou multifilamento entrançado;
 Vantagens:
 Superfície lisa (monofilamento);
Trabalho de Pesquisa 45
Sutura de Feridas: material e técnicas

 São resistentes à água;


 Tem elevada elasticidade e resistência à tracção;
 Desvantagens:
 Rigidez e pouca segurança dos nós;
 Principais áreas de utilização: pele, aponevroses, pontos de
retenção, encerramento em massa de parede abdominal, tendões
(COUTO, 1998).

FIGURA16 – Nylon

Fonte: http://www.suturmedic.com.br/

a2) Supramid
 Apresenta-se como monofilamento e multifilamento;
 Principais áreas de utilização: encerramento de feridas
superficiais, usada como alternativa à seda em neurocirurgia e
cardiovascular por ser menos reactivo e 25% mais forte (COUTO,
1998).

b) Poliéster
 Apresenta-se como monofilamento (Mirafil);
 Multifilamento entrançado (Ethibond (FIGURA 17), Ticron);
 Elevada resistência à tracção e segurança dos nós;
 Escassa reacção tecidular;
 Principais áreas de utilização: frequentemente utilizada em cirurgia
cardíaca (implante de válvulas cardíacas artificiais), hérnias e
cirurgia geral. Ethibond: poliéster, entrançado, com um revestimento
de polibutilato que não sai no campo operatório (ao contrário do
Trabalho de Pesquisa 46
Sutura de Feridas: material e técnicas

Ticron). Ticron: poliéster, entrançado, impregnado em silicone


(COUTO, 1998).

FIGURA 17 – Poliéster (Ethibond)

Fonte: http://www.suturmedic.com.br/

c) Polietileno
 É um monofilamento (Dermalene);
 Tem elevada resistência à tensão;
 Mínima reacção tecidular;
 Perda gradual da força com eventual ruptura (COUTO, 1998).

d) Polipropileno

d1) Monofilamento (Prolene, Surgilene) (FIGURA 18)


 Resistência à tracção é aproximada à do nylon;
 Deformação permanente, após esforço longitudinal;
 Reacção tecidular mínima;
 Mantêm a resistência inicial no organismo, após longos períodos de
tempo;
 Principais áreas de utilização: cirurgia vascular, cirurgia cardíaca
(anastomoses de bypass coronários, encerramento de cavidades
cardíacas, etc), cirurgia plástica, parede abdominal, reparação de
nervos, aponevroses (COUTO, 1998).

FIGURA 18 – Polipropileno
Trabalho de Pesquisa 47
Sutura de Feridas: material e técnicas

Fonte: http://www.suturmedic.com.br/

3.4 – CALIBRE

Ao material de sutura é atribuída uma designação numérica (0-0 a 6-0) que


reflecte a força de tensão e a espessura com os números mais baixos a
representarem maior diâmetro e maior força de tensão do que os números mais
altos (WILSON et al., 2001), ou seja, o grossura do fio de sutura mede-se em zeros,
quantos mais zeros menor calibre (4/0 é mais fino que 2/0) (VELASCO et al., 2003).
As linhas de sutura designadas 3/0 ou 4/0 são usadas para encerrar feridas
em áreas de maior tensão ou de baixo significado estético, como as costas, peito ou
membros inferiores. As linhas de sutura designadas 5/0 ou 6/0 são usadas para
encerrar feridas em áreas de tensão baixa ou de alto significado estético, como a
face (WILSON et al., 2001).

No quadro seguinte, será resumida a escolha do calibre e tipo de material de


sutura em função da localização anatómica (QUADRO 8).

QUADRO 8 – Escolha do Calibre e Tipo de Material de Sutura segundo a


Localização Anatómica

ZONA FIO DE SUTURA CALIBRE

Couro cabeludo Agrafos ou seda 3/0


Cara Seda ou nylon 5/0
Trabalho de Pesquisa 48
Sutura de Feridas: material e técnicas

Mão e Pé Seda ou nylon 4/0

Tórax, abdómen, braço e perna Seda ou nylon 3/0-4/0

Costas Seda ou nylon 3/0-4/0

Crianças poliglactina 3/0-6/0

Fonte: VELASCO, MªC Yegler [et. al] – Cirurgía en lesiones dérmicas superficiales (II de III) –
Procedimiento: preparación de la técnica. Revista ROL de Enfermería. Barcelona. Vol.26. Nº 10
(2003), p.10.

3.5 – AGULHAS

A escolha de uma agulha é tão importante como a escolha do material de


sutura.
Quando se selecciona uma agulha, deve-se ter em conta:
 A agulha não deve ter qualquer papel no processo de cicatrização, e
a alteração tecidular provocada deve ser mínima, já que o seu papel
é somente introduzir a sutura no tecido a aproximar, e não atrasar de
qualquer forma a intervenção;
 Deve ser suficientemente larga e de tamanho, forma e calibre
apropriados à aplicação prevista.

Resumindo: trauma tecidular mínimo. Suficientemente penetrante para ultrapassar


a resistência tecidular. Deve ser suficientemente resistente para não dobrar, mas ao
mesmo tempo flexível, para dobrar antes de quebrar. Estéril e resistente à corrosão
(COUTO, 1998).
3.5.1 – Tipos de Agulhas

As agulhas podem classificar-se quanto ao corpo da agulha e/ou quanto à


ponta da agulha.

a) Quanto ao corpo da agulha


 Rectas: não indicadas em pequenas cirurgias;
Trabalho de Pesquisa 49
Sutura de Feridas: material e técnicas

 Curvas: que se manuseia com o porta-agulhas (FIGURA 19),


permitindo uma maior precisão e acessibilidade. O seu tamanho
descreve-se pela fracção de circunferência do seu arco (3/8, ½)
(VELASCO et al., 2003).

FIGURA 19 – Porta-Agulhas

Fonte: http://www.suturmedic.com.br/

b) Quanto à ponta da agulha

Quanto à ponta da agulha, estas podem ser agulhas cilíndricas, agulha


lanceolada e agulha espatulada.

I – AGULHAS CILÍNDRICAS (NÃO CORTANTES)

Estas agulhas têm corpo arredondado e são usadas em tecidos que oferecem
pouca resistência à passagem da agulha (FIGURA 20).
Tendem a afastar os tecidos para o lado mais que a cortá-los. São as agulhas
utilizadas com mais frequência.

FIGURA 20 – Agulhas Cilíndricas


Trabalho de Pesquisa 50
Sutura de Feridas: material e técnicas

Fonte: http://www.suturmedic.com.br/

i) Ponta Afiada
 Tem o corpo arredondado adelgaçando-se até se tornar ponctiforme
(FIGURA 21);
 Esta agulha é geralmente escolhida quando se pretende que haja o
mínimo traumatismo dos tecidos;
 Principais áreas de utilização: tecido mole: peritoneu, fáscia, vasos
sanguíneos, útero, e tecidos subcutâneos (COUTO, 1998).

FIGURA 21 – Agulha Cilíndrica de Ponta Afiada

Fonte: http://www.suturmedic.com.br/

ii) Ponta Romba


 A agulha de ponta romba ou atraumática é uma agulha sem bico
(FIGURA 22) usada para suturar tecidos friáveis (órgãos
compactos), como o fígado, rim, baço, ou cervix (COUTO, 1998).
Trabalho de Pesquisa 51
Sutura de Feridas: material e técnicas

FIGURA 22 – Agulha Cilíndrica de Ponta Romba

Fonte: http://www.suturmedic.com.br/

iii)Visiblack
 É uma agulha de ponta cónica fina;
 Tem melhor penetração, o traumatismo é mínimo e é colorida de
preto para melhor visibilidade (aumenta a sua visibilidade no campo
operatório e reduz o reflexo das luzes do mesmo);
 Principais áreas de utilização: cardiovascular, anastomose das
trompas uterinas (COUTO, 1998).

II – AGULHA LANCEOLADA (CORTANTES)

São agulhas que produzem um pequeno corte no tecido. São usadas em


tecidos em que uma ponta redonda não poderia atravessar como a pele, tendão ou
periósteo.

i) Tapercut
 Tem uma extremidade cortante confinada apenas à ponta.
 Ponta lanceolada – melhor penetração;
 Corpo cilíndrico – menor traumatismo.
 Principais áreas de utilização – cirurgia cardíaca, fáscia, ginecologia
(COUTO, 1998).
Trabalho de Pesquisa 52
Sutura de Feridas: material e técnicas

ii) Lanceolada de corte convencional


 Tem dois bordos cortantes laterais e um terceiro na curvatura interior
(procura a superfície) e o corpo é achatado (FIGURA 23);
 Principais áreas de utilização: pele, ligamentos, tendões, cavidade
nasal, orofaringe (COUTO, 1998).

FIGURA 23 – Agulha Lanceolada de Corte Convencional

Fonte: http://www.suturmedic.com.br/

iii)Lanceolada de corte invertido


 Tem dois bordos cortantes laterais e um terceiro na curvatura
exterior (procura a profundidade) (FIGURA 24);
 Devido à ponta, é mais forte e elimina o risco de a sutura rasgar o
tecido;
 Principais áreas de utilização: pele, cirurgia plástica, ortopedia
(COUTO, 1998).

FIGURA 24 – Agulha Lanceolada de Corte Invertido


Trabalho de Pesquisa 53
Sutura de Feridas: material e técnicas

Fonte: http://www.suturmedic.com.br/

III – AGULHA ESPATULADA

 A agulha é afiada, achatada, com bordos laterais cortantes (FIGURA


25);
 Principais áreas de utilização: cirurgia oftalmológica (COUTO, 1998).

FIGURA 25 – Agulha Espatulada

Fonte: http://www.suturmedic.com.br/
Trabalho de Pesquisa 54
Sutura de Feridas: material e técnicas

4 – PROCEDIMENTO

Neste capítulo, será apresentada de forma sucinta todo o procedimento de


suturar uma ferida, desde a preparação do doente, passando pelo material e a
técnica em si.

Como em qualquer outra técnica de enfermagem é necessário começar


tranquilizando o doente e deitá-lo comodamente para evitar reacções como sincope
vasovagal.
Deve-se ainda realizar anamnese sobre doenças de interesse, tratamentos
farmacológicos actuais, alergias e vacinação antitetânica (VELASCO et al., 2003).

Informação ao Doente

Sobre a necessidade de realizar a técnica, em que consiste e as possíveis


complicações, assim como o tempo aproximado que se gasta para realizar a sutura
e como pode colaborar durante a mesma. Responde-se a todas as dúvidas do
doente e deve solicitar o seu consentimento (VELASCO et al., 2003).

Preparação do Material

 Fio de sutura e agulha;


 Bisturi;
 Porta-agulhas;
 Pinças de dissecção;
 Tesoura;
 Compressas;
 Soro fisiológico;
 Anestesia (lidocaína);
 Seringas;
 Agulhas;
Trabalho de Pesquisa 55
Sutura de Feridas: material e técnicas

 Campo esterilizado;
 Anti-séptico.

Preparação da Ferida

Consiste em irrigar a ferida com soro fisiológico abundante, retirar restos de


matéria orgânica e inorgânica, valorizar a profundidade, lesão de estruturas e
sangramento. Explorar a ferida em busca de corpos estranhos (palpação e
visualização). Aplicar um anti-séptico diluído no interior da ferida (iodopovidona a 10
ou 20% para evitar dor e irritação, sensibilização e efeitos citotóxicos); igualmente e
para delimitar o campo perioperatório, aplicar anti-séptico sobre a pele integra,
desde os bordos da ferida até ao exterior.
Durante a realização da técnica deve-se ir realizando a homeostasia em cada
ponto; geralmente o sangramento cessa com a compressão directa com compressa,
se tal não acontecer, solicitar o médico para ligadura dos vasos (VELASCO et al.,
2003).

Resumindo, o procedimento…
1. Preparação do doente, do material e da ferida;
2. Retirar a agulha e a linha que encontram embaladas esterilizadamente e
prontas para serem usadas (FIGURA 26);

FIGURA 26 – Agulha e linha de sutura prontas a serem usadas

Fonte: Universidade de Aveiro. Tratamento de Feridas [em linha] Aveiro. [citado em 11 de Março de
2008]. Disponível em <URL: http://portal.ua.pt/projectos/mermaid/mermaid.htm>.

3. O ponto de inserção deve ser no lado do ferimento mais distante. O ponto de


saída é do lado que se encontrar mais próximo (FIGURA 27).
Trabalho de Pesquisa 56
Sutura de Feridas: material e técnicas

FIGURA 27 – Inserção da Agulha no lado distal

Fonte: Universidade de Aveiro. Tratamento de Feridas [em linha] Aveiro. [citado em 11 de Março de
2008]. Disponível em <URL: http://portal.ua.pt/projectos/mermaid/mermaid.htm>.

4. Puxar a linha, deixando uma pequena ponta no ponto da inserção. Segurar o


suporte de agulha paralelamente com o ferimento, sobre o meio do ferimento
e entre o ponto de inserção e o ponto de saída (FIGURA 28).

FIGURA 28 – Puxar a linha e deixar uma pequena ponta no ponto de inserção

Fonte: Universidade de Aveiro. Tratamento de Feridas [em linha] Aveiro. [citado em 11 de Março de
2008]. Disponível em <URL: http://portal.ua.pt/projectos/mermaid/mermaid.htm>.

5. Enrolar e passar duas vezes a linha com a agulha pelo suporte da agulha
(FIGURA 29).

FIGURA 29 – Enrolar e passar duas vezes a linha pelo suporte da agulha


Trabalho de Pesquisa 57
Sutura de Feridas: material e técnicas

Fonte: Universidade de Aveiro. Tratamento de Feridas [em linha] Aveiro. [citado em 11 de Março de
2008]. Disponível em <URL: http://portal.ua.pt/projectos/mermaid/mermaid.htm>.

6. Com o suporte da agulha, prender a pequena ponta da linha que está no


ponto de inserção.

7. Apertar bem o primeiro nó e de modo a ficar situado sobre o ponto de


inserção e não sobre o meio do ferimento (FIGURA 30).

FIGURA 30 – Apertar bem o primeiro nó

Fonte: Universidade de Aveiro. Tratamento de Feridas [em linha] Aveiro. [citado em 11 de Março de
2008]. Disponível em <URL: http://portal.ua.pt/projectos/mermaid/mermaid.htm>.

8. Colocar o suporte da agulha paralelamente com o ferimento, mas sobre a


longa ponta da linha e sobre o ponto de inserção. Enrolar uma vez a longa
ponta no suporte da agulha, o qual está aberto e apertar a ponta mais
pequena (FIGURA 31).

FIGURA 31 – Dar novo nó


Trabalho de Pesquisa 58
Sutura de Feridas: material e técnicas

Fonte: Universidade de Aveiro. Tratamento de Feridas [em linha] Aveiro. [citado em 11 de Março de
2008]. Disponível em <URL: http://portal.ua.pt/projectos/mermaid/mermaid.htm>.

9. Apertar bem (FIGURA 32)

FIGURA 32 – Apertar bem o segundo nó

Fonte: Universidade de Aveiro. Tratamento de Feridas [em linha] Aveiro. [citado em 11 de Março de
2008]. Disponível em <URL: http://portal.ua.pt/projectos/mermaid/mermaid.htm>.
10. Cortar ambas as pontas e deixá-las ficar com cerca de 1 cm. O próximo ponto
é feito da mesma forma que o anterior. A distância entre pontos deve ser
cerca de 1 cm (FIGURA 33).
Trabalho de Pesquisa 59
Sutura de Feridas: material e técnicas

FIGURA 33 – Distanciar 1 cm o ponto seguinte

Fonte: Universidade de Aveiro. Tratamento de Feridas [em linha] Aveiro. [citado em 11 de Março de
2008]. Disponível em <URL: http://portal.ua.pt/projectos/mermaid/mermaid.htm>.

11. Colocar um penso esterilizado sobre o ferimento.

Esta técnica dos nós é igual tanto para suturas profundas como para suturas
superficiais.

Remoção da Sutura

Dependendo da localização da ferida, assim se aconselha manter a sutura um


determinado tempo, que oscila em função da localização (QUADRO 9) (VELASCO
et al., 2003).

QUADRO 9 – Tempo aconselhado para remoção dos pontos de sutura segundo a


localização anatómica
Trabalho de Pesquisa 60
Sutura de Feridas: material e técnicas

ZONA TEMPO DE REMOÇÃO


Couro cabeludo 9 dias
Cara 3-4 dias
Tórax, Abdómen, Braço e
7-10 dias
Perna
Costas 12-14 dias
Mão e Pé 10 dias no dorso e 7 dias na palma
Zonas Periarticulares 12-14 dias

Fonte: VELASCO, MªC Yegler [et. al] – Cirurgía en lesiones dérmicas superficiales (III de III) –
Procedimiento: realización de la técnica. Revista ROL de Enfermería. Barcelona. Vol.26. Nº 11
(2003), p.10.

Para retirar a sutura é necessário umas pinças de dissecção sem dentes,


tesouras esterilizadas ou lâmina de bisturi nº11 de corte recto.
A remoção da sutura procede-se traccionando a ponta e cortando entre o nó e
a pele, seccionando só uma das pontas (a mais próxima do nó), e retirando o ponto
num só movimento (FIGURA 34). É a técnica mais recomendada para evitar restos
de sutura não reabsorvíveis permaneçam acidentalmente no interior da ferida com
as suas consequências (granulomas), sobretudo nos pontos de colchoeiro
(VELASCO et al., 2003).

FIGURA 34 – Remoção da Sutura

Fonte: Universidade de Aveiro. Tratamento de Feridas [em linha] Aveiro. [citado em 11 de Março de
2008]. Disponível em <URL: http://portal.ua.pt/projectos/mermaid/mermaid.htm>.
Trabalho de Pesquisa 61
Sutura de Feridas: material e técnicas

5 – CONCLUSÃO

Após a realização deste trabalho, torna-se possível a melhoria dos cuidados a


nível da execução da técnica de suturar feridas. A busca de conhecimento culmina
com a consolidação das aprendizagens já vivenciadas e com a aquisição de
competências que tornam cada indivíduo capaz de prestar cuidados com qualidade.
Assim, deste modo foi possível definir a abordagem sistemática para o
tratamento de feridas, tendo em conta a mnemónica LACERATE, que contempla
entre vários aspectos, a observação da ferida para avaliar as opções terapêuticas, a
anestesia e limpeza da ferida, a preparação do material, a escolha da técnica de
sutura adequada, a avaliação dos resultados, a determinação do estado de
vacinação contra o tétano do doente e o ensino ao doente de como tratar da ferida.
Além desta abordagem sistemática para o tratamento da ferida, pôde-se
enunciar algumas das características dos principais materiais utilizados na sutura, o
fio de sutura e a agulha, sendo que o que se deparou é que existe uma grande
diversidade de tipos quer de fios quer de agulhas, sendo que cada uma das suas
características depende da localização da ferida, do tecido envolvido…
E por fim, foi abordada de forma sucinta todo o decorrer do procedimento de
suturar, desde a preparação do doente até à realização da técnica em si.
Finalizo este trabalho com a ideia de que poderá ser um contributo para a
ampliação de conhecimentos e sobretudo para a melhoria da prestação de cuidados.
Trabalho de Pesquisa 62
Sutura de Feridas: material e técnicas

BIBLIOGRAFIA

COUTO, Helena – Material de Sutura. Nursing. Lisboa. Ano 10. Nº 119 (1998), p.26-
31.

http://www.suturmedic.com.br/

RIBEIRO, Anita Romano ; GRAZIANO, Kazuko Uchikawa – Os fios de sutura


cirúrgica e a enfermeira de centro cirúrgico: critérios de previsão e provisão segundo
a natureza das instituições hospitalares. Revista da Escola de Enfermagem da
Universidade de São Paulo. São Paulo. Vol.37. Nº4 (2003), p.61-68.

Universidade de Aveiro. Tratamento de Feridas [em linha] Aveiro. [citado em 11 de


Março de 2008]. Disponível em <URL:
http://portal.ua.pt/projectos/mermaid/mermaid.htm>.

VALLEJO, José Carlos Bellido [et. al] – Heridas Suturadas por Enfermería. Revista
ROL de Enfermería. Barcelona. Vol.23. Nº 1(2000), p. 33-38.

VELASCO, MªC Yegler [et. al] – Cirurgía en lesiones dérmicas superficiales (II de III)
– Procedimiento: preparación de la técnica. Revista ROL de Enfermería. Barcelona.
Vol.26. Nº 10 (2003), p. 7-10.

VELASCO, MªC Yegler [et. al] – Cirurgía en lesiones dérmicas superficiales (III de
III) – Procedimiento: realización de la técnica. Revista ROL de Enfermería.
Barcelona. Vol.26. Nº 11 (2003), p. 7-10.

WILSON, Julie L. ; KOCUREK, Kristen ; DOTY, Barbara J. – Uma abordagem


sistemática ao tratamento de feridas: Truques para garantir o resultado estético
adequado. Postgraduate Medicine. Algés. Vol.15. Nº6 (2001), p. 83-91.

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