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Departamento de Física
História da Física
Prof. Dr. Salomon Sylvain Mizrahi
A HISTÓRIA DO ELETROMAGNETISMO E O
FENÔMENO DA
SUPERCONDUTIVIDADE
Alunos:
Luciana Camargo Cabrelli RA: 269492
Pablo Felipe Marins Finotti RA: 269590
Christhiano Henrique Menezes de Ávila Peres RA: 269581
ELETROMAGNETISMO
INTRODUÇÃO
Os estudos da supercondutividade tem como base, entre outras coisas, as leis do
eletromagnetismo. Mas nem sempre tivemos eletromagnetismo – e sim, eletricidade e
magnetismo. A partir de Hans Christian Ørsted que começa-se a desenvolver a teoria do
eletromagnetismo, consolidada por James Clerk Maxwell. Para isso, mostra-se a evolução das
idéias da eletricidade, do magnetismo, e a ligação entre essas duas teorias.
Tales de Mileto foi um grego pré-socrático, nascido em 624/625 A.C. em Mileto, na
Ásia Menor, atualmente representa a região da Turquia. É considerado o primeiro filósofo
ocidental de que se tem notícia. Ele é o marco inicial da filosofia ocidental. Com uma vida
rica de produções, faleceu aproximadamente em 556 ou 558 a.C.
No século VI a.C. Tales observou que o âmbar, uma resina fóssil, ao ser atritado em
lã, adquiria a propriedade de atrair objetos leves e secos (sementes de grama, palha, folhas,
etc.). Para ele, o âmbar possuía alma; por isso podia atrair coisas.
Em uma de suas viagens a Ásia (na época província da Grécia) para Magnésia (nome
da região da Ásia) constatou que pequenas pedrinhas estavam sendo atraídas na ponta de
ferro do seu cajado. A explicação dada por Tales para esse fenômeno é relatado em um livro
de Aristóteles Da Alma. Aristóteles escreve: “E afirmam alguns que ela (a alma) está
misturada com o todo. É por isso que, talvez, Tales pensou que todas as coisas estão cheias de
deuses. Parece também que Tales, pelo que se conta, supôs que a alma é algo que se move, se
é que disse que a pedra (ímã) tem alma, porque move o ferro”.
Na Antiguidade não era feita uma ligação entre eletricidade e magnetismo. Somente
no século XIX desenvolveu-se uma relação entre os fenômenos. O magnetismo na
Antiguidade era conhecido através do mineral magnetita, e seu uso e suas propriedades eram
envolvidos por muito misticismo. Somente no século XVI, através de William Gilbert, como
será citado posteriormente, foi desenvolvido um trabalho metódico sobre as propriedades do
magnetismo.
Somente no século XIII teremos mais estudos sobre o magnetismo. Pedro de
Maricourt, também citado como Pierre Pèlerin de Maricourt (na França), Peter Peregrinus
(na Inglaterra) e Petrus Peregrinus de Maharncuria (denominação latina) foi um estudioso
Frances do século XIII que realizou experimentos sobre magnetismo e escreveu o primeiro
tratado existente sobre as propriedades dos ímas. Seu trabalho se destaca ainda pela primeira
descrição detalhada de uma bússola.
Datado de 8 de agosto de 1269, Pedro escreveu um trabalho chamado Epistola Petri
Peregrini de Maricourt ad Sygerum de Foucaucourt, militem, de magnete (Carta sobre o
Magneto de Pedro Peregrino de Maricourt para Sygerus de Foucaucourt, Militar), chamada
simplesmente Epístola do Magneto. As experiências e instrumentos apresentados na carta
aparentemente datam de vinte anos antes, como mostram referências em vários trabalhos
de Roger Bacon.
A carta de Pedro de Marincourt explica como identificar os pólos de uma bússola.
Também descreve as leis da atração e repulsa magnética, bem como a descrição de bussolas,
uma dos quais poderia direcionar seus passos para cidades e ilhas e qualquer lugar do
mundo.
Estudiosos da Oxford University citavam freqüentemente a Epístola. A primeira
edição impressa foi lançada em Augsburg, 1558, por Achilles Gasser.
Em Epístola, Peregrinus nomeia quatro características do íma: cor (ele deve
assemelhar-se ao ferro polido manchado pela oxidação com o ar), homogeneidade (apesar de
um íma raramente ser homogêneo, o mais homogêneo é mais eficiente como íma), peso
(conseqüência da homogeneidade e densidade – um magneto pesado é um magneto melhor),
e virtude, ou poder de atrair ferro.
Embora as propriedades de orientação norte-sul de uma bússola magnética já eram
conhecidas - desde o século XI (e provavelmente antes) na China e desde o século XII no
oeste latino e apesar de ter sido conhecido desde a Antiguidade que os ímãs poderiam atrair e
repelir o ferro - Peregrinus deixou o primeiro relato existente sobre a polaridade magnética e
métodos para determinar os pólos de um ímã.
Peregrinus também pode ter sido o primeiro a aplicar o termo Polus para pólo
magnético. Assim como na esfera celeste tem um norte e Pólo Sul, também faz cada ímã.
Já no século XVII, estendendo os estudos de Peregrinus, temos William Gilbert
(1540-1603), físico e médico inglês. Embora fosse um médico renomado, ficou conhecido na
história como o primeiro cientista a publicar um livro descrevendo fenômenos elétricos e
magnéticos: De Magnete, Magneticisque Corporibus, et de Magno Magnete Tellure (Sobre
os ímãs, os corpos magnéticos e o grande ímã terrestre) publicado em 1600. Essa seria seu
principal trabalho.
Em seu trabalho descreve diversas de suas experiências com seu modelo de terra
chamado Terrella – uma pequena esfera simulando a Terra com o seu campo magnético. Das
experiências, ele conclui que a Terra era magnética e esse era o motivo pelo qual
as bússolas apontam para o norte (anteriormente, era se dito que isto se devia a estrela
polar ou as grandes ilhas magnéticas no pólo norte que atraiam a bússola). Em seu livro, ele
também estudou eletricidade estática usando âmbar; em grego, âmbar é chamado elektron,
então, Gilbert decidiu chamar isso de eletricidade. Ele foi o primeiro a usar os termos de
força elétrica, atração elétrica, e pólo magnético. A unidade de força magnetomotriz, também
conhecido como potencial magnético, é nomeado de Gilbert em sua homenagem. Morreu
de peste bubônica em Londres, em 10 de Dezembro de 1603.
Mais um século se passou sem que os cientistas dessem o verdadeiro valor para a
eletricidade. Somente em 1727 que Stephen Gray (1666-1736) deu um decisivo passo.
Stephen Gray foi um tintureiro inglês e astrônomo amador. Ele foi o primeiro a experimentar
a sistemática de condução elétrica, ao invés de geração simples de cargas estáticas e as
investigações dos fenômenos estáticos.
Durante esse tempo ele começou novamente a realizar experimentos com eletricidade
estática, usando um tubo de vidro como um gerador de atrito.
Gray friccionou um tubo longo e oco, de vidro, com mais ou menos um metro de
comprimento. O tubo atraiu penas, mostrando que a eletricidade havia penetrado nele.
Como o tubo era aberto em ambas as extremidades, Gray pensou que a poeira pudesse
penetrar nele, inutilizando sua experiência, e, por isso, vedou-as com rolhas de cortiça. Então,
notou um fato estranho: as penas eram atraídas para as rolhas, também. Ela, porém, havia
friccionado apenas o vidro, e não as rolhas. Concluiu que, ao colocar eletricidade no tubo, ele
penetrara, também, nas rolhas de cortiça.
Querendo aprofundar seus estudos, ele colocou um pequeno bastão de abeto (tipo de
madeira) colocado no centro da cortiça, e percebeu que as cargas contidas na cortiça
passavam para o bastão. Gray experimentos tamanhos maiores de bastão, e finalmente ele
adicionou um fio conectado numa boa de marfim. Nesse processo ele descobriu que a força
elétrica pode atuar à distância, e que a bola de marfim agiria para atrair objetos leves como se
fosse o tubo de vidro eletrificado. Ou seja, ele concluiu que a "virtude" elétrica (como então
se dizia) era transportável de um corpo para outro, através de um fio ou até por simples
aproximação.
Em 1729 Gray tenta uma experiência de maior envergadura: a transmissão de
eletricidade horizontalmente ao longo das paredes do seu laboratório. Para estas experiências
pediu a colaboração do seu amigo Wheler. Dispuseram fios ao longo das paredes do
laboratório suspensas por fitas de seda, conseguindo assim transmitir eletricidade a uma
distância de cerca de 90 m.
Tentando prolongar a experiência utilizaram como suspensão fios de latão e
verificaram que a eletricidade não era transmitida. Foi o emprego deste fio de latão que
conduziu à importante descoberta da distinção dos corpos em condutores e não condutores de
eletricidade. Gray não demorou a convencer-se que era a natureza da seda e não outra
circunstância, que impedia a perda da eletricidade. Um fio metálico, qualquer que fosse a sua
grossura, deixava sempre escapar a eletricidade, enquanto que o cordão de seda a retinha
sempre.
Uma outra descoberta importante de Gray foi a das cargas induzidas ou da
eletricidade por influência: o fato de a eletricidade poder ser transportada sem contato direto
do tubo com a linha de comunicação. No fim da sua vida avançou com a hipótese, mais tarde
verificada por Benjamin Franklin, de que a faísca elétrica parecia ser da mesma natureza que
o raio atmosférico.
Stephan Gray
Fonte: http://www.cti.furg.br/~santos/apostilas/fisica3/personagens_arquivos/image027.jpg
O pêndulo eletrostático.
Fonte:
http://cepa.if.usp.br/e-fisica/imagens/eletricidade_magnetismo/basico/cap01/fig16.gif
F∝
A força entre as esferas é diretamente
d proporcional as suas cargas elétrica
icas. Portanto,
temos que:
F∝
k≡
A partir dos estudos de Ørsted, ficou clara a relação entre eletricidade e magnetismo.
Hans Christian Ørsted (1777- 1851) foi um físico e químico dinamarquês.
Doutorou-se em 1799. Após ter realizado uma longa viagem de estudo pela Europa, foi
nomeado, em 1804, professor de Física da Universidade de Copenhague. Foi também
inventor do piezômetro (aparelho que serve para medir a compressibilidade dos líquidos).
Apesar de ter realizado estudos de química, os seus trabalhos incidiram
principalmente sobre problemas de eletromagnetismo, tendo descoberto em 1820 o efeito que
tem o seu nome.
Enquanto se preparava para uma palestra na tarde de 21 de Abril de 1820, Ørsted
desenvolveu uma experiência que forneceu evidências que o surpreenderam. Enquanto
preparava os seus materiais, reparou que a agulha de uma bússola defletia do norte
magnético quando a corrente elétrica da bateria que estava a usar era ligada e desligada. Esta
deflexão convenceu-o que os campos magnéticos radiam a partir de todos os lados de um fio
carregando uma corrente elétrica, tal como ocorre com a luz e o calor, e que isso confirmava
uma relação direta entre eletricidade e magnetismo.
À época desta descoberta, Ørsted não sugeriu nenhuma explicação satisfatória para o
fenômeno, nem tentou representar o fenômeno numa estrutura matemática. No entanto, três
meses mais tarde deu início a investigações mais intensivas. Pouco depois publicou as suas
descobertas, provando que a corrente elétrica produz um campo magnético à medida que flui
através de um fio. A unidade CGS da indução magnética (Ørsted) foi assim designada em
honra dos seus contributos no campo do eletromagnetismo.
As suas descobertas resultaram numa pesquisa intensa em eletrodinâmica por parte da
comunidade científica, influenciando o desenvolvimento de uma forma matemática única que
representasse as forças magnéticas entre condutores portadores de corrente por parte do físico
francês André-Marie Ampère.
André-Marie Ampére (1775 – 1836) foi um físico e matemático francês reconhecido
pelas inúmera descobertas no campo do eletromagnetismo. Em sua homenagem foi dado o
nome á medida de corrente elétrica, Ampére.
Lei de Ampère é a lei que relaciona o campo magnético sobre um laço com a corrente
elétrica que passa através do laço. É o equivalente magnético da lei de Gauss; foi proposta
originalmente por André-Marie Ampère e modificada por James Clerk Maxwell (por isso é
chamada também de lei de Ampère-Maxwell).
Pode-se calcular o campo magnético resultante em um ponto devido a qualquer
distribuição de correntes através da lei de Biot-Savart. Entretanto, se essa distribuição
apresentar um certo grau de simetria, é possível aplicar a Lei de Ampère para determinar o
campo magnético com um esforço consideravelmente menor.
A Lei de Ampère pode ser expressa matematicamente por:
Portanto:
onde:
V é a diferença de potencial elétrico (ou tensão, ou ddp) medida em Volts
R é a resistência elétrica do circuito medida em Ohms
I é a intensidade da corrente elétrica medida em Ampères
nas equações, as equações de Maxwell foram tidas como servindo apenas para
expressar o eletromagnetismo no referencial inercial do éter luminífero (o meio postulado
para a luz, cuja interpretação foi consideravelmente debatida). Os experimentos de
Michelson-Morley, conduzido por Edward Morley e Albert Abraham Michelson, produziu
um resultado nulo para a hipótese da mudança da velocidade da luz devido ao movimento
hipotético da Terra através do éter. Porém, explicações alternativas foram buscadas por
Lorentz e outros. Isto culminou na teoria de Albert Einstein da relatividade especial, que
postulava a ausência de qualquer referencial absoluto e a invariância das equações de
Maxwell em todos os referenciais.
As equações do campo eletromagnético têm uma íntima ligação com a relatividade
especial: as equações do campo magnético podem ser derivadas de considerações das
equações do campo elétrico sob transformações relativísticas sob baixas velocidades (em
relatividade, as equações são escritas em uma forma mais compacta,
manifestamente covariante, em termos de um quadritensor da intensidade do campo anti-
simétrico de ordem 2, o que unifica os campos elétrico e magnético em um único objeto).
Kaluza e Klein demonstraram na década de 1920 que as equações de Maxwell podem
ser derivadas ao se estender a relatividade geral a cinco dimensões. Esta estratégia de se usar
dimensões maiores para unificar diferentes forças é uma área de interesse ativo na pesquisa
da física de partículas.
Em 1888, Heinrich Rudolf Hertz (1857 - 1894) pôs em evidência a existência das
ondas eletromagnéticas imaginadas por James Maxwell em 1873.
Em 1886, 22 anos após os trabalhos de Maxwell, Hertz observou que durante
descargas de uma Garrafa de Leiden, centelhas secundárias foram observadas em um local
afastado dentro do Laboratório, as quais não podiam ser explicadas pela indução clássica. Ele
inferiu que estas descargas eram oscilatórias na freqüência aproximada de 80 MHz, que
permitia a irradiação de energia em forma de ondas eletromagnéticas como predito
por Maxwell. Hertz expôs suas descobertas na Academia de Berlin em 1887 e ganhou o
prêmio Berlin. Seus experimentos mostraram que essas radiações recentemente descobertas,
comportavam-se como a luz, sendo parte do mesmo espectro eletromagnético. Em
experimentos subseqüentes, Hertz provou que as ondas se propagavam com a velocidade da
luz e que possuíam propriedades similares às da luz (reflexão, difração, polarização).
Garrafa de Leiden
Fonte: http://www.rc.unesp.br/igce/fisica/lem/imagens/hertz1.jpg
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Eq
Equação 1 – Equação de van der Waals
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substances and also the course followed by phyiscal phenomena, are generally quite
different from those at our normal and higher temperatures, and a knowledge of these
changes is of fundamental importance in answering many of the questions of modern
physics”. Palavras essas que se confirmaram com o passar dos anos.
Todo o início, porém, se deu com os experimentos de Faraday. Em 1823, o físico
britânico conseguiu, através do aparato experimental da figura 2, liquefazer gás Cloro. O
gás, dentro do tubo em V, sob pressão, é aquecido de um lado, aumentando ainda mais a
pressão interna. Do outro lado, mergulhado numa vasilha com gelo, o gás sob pressão
tinha sua temperatura diminuída, e o gás ali contido, influenciado pela alta pressão do
resto do tubo e pela temperatura moderada, se condensava.
Além do Cloro, Faraday conseguiu o feito com quase todos os gases conhecidos
na época. Muito embora fossem usadas pressões cada vez mais altas, alguns gases como
o oxigênio, o nitrogênio e o hidrogênio não puderam ser liquefeitos, daí a razão de serem
chamados, por Faraday, de gases permanentes. A razão da não liquefação desses gases
só foi entendida quando o químico irlandês Thomas Andrews (1813-1885), em 1861,
começou a analisar as experiências realizadas pelo químico francês de la Tour, que
estudou o papel desempenhado tanto pela pressão quanto pela temperatura na liquefação
de certos gases, em experiências envolvendo o álcool, o éter e a água. Desta análise,
percebeu que com uma ligeira modificação nas condições das experiências realizadas por
Andrews, poderia então liquefazer certos gases, principalmente o CO2 (que já fora
liquefeito por Faraday), já que este se apresenta gasoso na temperatura ambiente. Na
continuação de suas experiências, Andrews fez uma importante descoberta que foi
comunicada por ele em uma reunião da Royal Society of London, em 17 de junho de
1869, e apresentada em artigo publicado ainda em 1869 (Philosophical Transactions of
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the Royal Society of London 159, p. 575). Andrews descobriu, em suas experiências, que
acima de uma determinada temperatura (a qual chamou de crítica), o CO2, em particular,
e todos os gases em geral, a pressão alguma, por maior que seja, pode causar sua
liquefação. Nessas experiências, Andrews chegou ainda a determinar os valores de certas
temperaturas, como a do CO2 (31 0C) e do éter (200 0C). Também como resultado de suas
pesquisas, Andrews fez uma descoberta igualmente importante, a de que havia uma
distinção entre vapor e gás, sendo o vapor um gás em qualquer temperatura abaixo de
sua temperatura crítica. Publicou juntamente as chamadas Isotermas de Andrews (figuras
3 e 4 para o dióxido de carbono), constatando, entre outras coisas, que para uma
substância pura, a liquefação acontece à temperatura e pressão constantes, dadas certas
condições de temperatura e pressão. É oportuno destacar que o químico russo Dmitri
Ivanovich Mendeleev (1834-1907), em 1860, fizera uma observação análoga a essa de
Andrews, quando era aluno de pós-graduação na Universidade de Heidelberg, na
Alemanha, mas que, no entanto, passara desapercebida. Nessa ocasião, Mendeleev
chamou de “temperatura absoluta de ebulição” para a temperatura crítica. A descoberta
de Mendeleev-Andrews indicava que os gases permanentes poderiam valor foi mais tarde
estimada por intermédio da equação dos gases reais de van der Waals, obtida em 1873 e
completada em 1881. Desse modo, liquefez-se um gás atrás do outro.
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Figura 4 – Isotermas de Andrews para CO2
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Figura 5 – Efeito Joule-Thompson
É oportuno destacar que Pictet usou o CO2 e o dióxido de enxofre (SO2) em sua
experiência da seguinte maneira: em um tubo adicionou SO2 sob alta pressão até
liquefazê-lo quase que por completo. Um tubo a vácuo ligado a este primeiro tubo retirou
parte do gás, fazendo com que parte do líquido restante evaporasse dentro do tubo. O que
sobrou de SO2 líquido alcançava uma temperatura próxima de – 65ºC. Esse mesmo
dióxido de enxofre líquido resfriado era usado para abaixar a temperatura do dióxido de
carbono gasoso em outro recipiente. Neste outro recipiente, o CO2 já sob alta pressão e
baixa temperatura se liquefazia quase que por completo. Do mesmo modo que o gás
anterior, parte do dióxido de carbono gasoso era retirado. Por conseqüência, parte do
restante líquido se evaporava e o restante, já pela baixa temperatura inicial, se
solidificava. Pictet calculou que a temperatura final desse sólido era aproximadamente os
– 140ºC já citados. Esse CO2 sólido era usado para resfriar um tubo de cobre sob alta
pressão onde passava o gás oxigênio. Na saída desse tubo de gás O2, havia uma válvula
onde, quando aberta, saía tanto gás quanto líquido de oxigênio. Pictet afirmou então que
conseguiu, finalmente, obter oxigênio líquido, quando na verdade o que acontecia era o
efeito Joule-Thompson na saída da válvula. E em momento algum o O2 se liquefazia no
tubo, até porque sabe-se hoje que a temperatura conseguida pelo contato do CO2 sólido
com o tubo de cobre utilizado pelo Químico francês foi maior que – 118 ºC, a temperatura
crítica do oxigênio.
Aquelas duas comunicações foram lidas naquela Academia, no dia 24 de
dezembro de 1877 e publicadas ainda em 1877 (Comptes Rendus Hebdomadaires des
Séances de l´Académie des Sciences de Paris 85, pgs. 1213; 1214). Em 1882, Cailletet
tentou, sem êxito, obter oxigênio líquido na forma estável, usando para isso etileno
líquido na pressão atmosférica. Com esse procedimento, ele conseguiu obter apenas a
temperatura de – 105ºC, valor esse acima da temperatura crítica do oxigênio. Logo em
1883 (Wiedmann´s Annalen der Physik und Chemie 20, p. 256), o Físico Zygmunt
Florent von Wroblewski (1845-1888) e o Químico Karol Stanislaw Olszewski (1846-
1915), poloneses liquefizeram grandes quantidades de oxigênio, por intermédio dessa
mesma técnica de Cailletet, isto é, usando o etileno líquido, porém na pressão de 1/3 da
pressão atmosférica. Com essa técnica, eles conseguiram temperaturas da ordem de –
130ºC. Ainda nesse trabalho, eles liquefizeram o nitrogênio (N) e o monóxido de carbono
(CO). Esses dois cientistas, agora trabalhando independentemente, em 1884, tentaram,
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porém sem êxito, liquefazer o hidrogênio (H). Este, no entanto, só foi liquefeito pelo
Físico e Químico inglês Sir James Dewar (1842-1923), em 10 de maio de 1898 [e
anunciado em 1902 (Notices of the Proceedings of the Royal Institution of Great Britain
16, pgs. 1; 212)], na temperatura de – 252,5 ºC e na pressão normal de uma atmosfera.
Note-se que Dewar também solidificou o H, em 1899, com o seu anúncio apresentado em
1902 (Notices of the Proceedings of the Royal Institution of Great Britain 16, p. 473).
O último gás permanente a ser liquefeito foi o Hélio (He), coadjuvante de todas as
próximas histórias.
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oxigênio líquido era tão confiável que continuou a funcionar mesmo depois da morte de
Kamerlingh Onnes em 1926.
Enquanto Dewar, em Londres, de forma um pouco egoísta, talvez ciumenta,
monopolizava completamente seu laboratório no que diz respeito ao uso de seus
equipamentos, Onnes recebia qualquer um que quisesse realmente trabalhar em Leiden.
Por isso esteve perto de grandes cientistas e competentes técnicos. Mesmo com um
financiamento não muito satisfatório, ele conseguiu ter em seu laboratório o melhor
glassblower da Alemanha, Kesselring, que juntamente com o mecânico Flim, formaram
uma equipe notável de assistentes. Para melhor aproveitamento do talento de seus
assistentes, Onnes construiu ainda uma escola próxima a seu laboratório, para formação
de profissionais especializados em instrumentação científica e formação de novos
glassblowers. Rapidamente esses formandos encontraram espaço nos mais diversos
laboratórios de Física da Europa. Essa escola existe ainda hoje e os glassblowers ocupam
papel de destaque na indústria holandesa.
Tendo em mãos todo o aparato técnico e de pessoal, chegou finalmente a vez do
He, gás descoberto a partir de um eclipse observado na Índia em 18 de Agosto de 1869,
através da análise do espectro solar.
Na atmosfera é encontrado na proporção de 1:100.000 partes; é encontrado
também em poços de petróleo e na maioria dos minerais radioativos. Kamerlingh Onnes
o extraia a partir da Monazita, um fosfato castanho-avermelhado contendo metais, terras
raras e uma fonte importante de Tório, Lantânio e Cério. Conseguia várias toneladas
desse mineral advindas do estado da Carolina do Norte, nos EUA. Uma equipe de
químicos em seu laboratório, através de um processo térmico, esquentavam o mineral,
destilavam o resíduo em ar atmosférico e purificavam o gás remanescente através da
passagem do mesmo por carvão vegetal resfriado. O resultado era um estoque de 360
litros de gás por processo. Com tal quantidade, um estudo das isotermas pôde ser
sistematicamente realizado, chegando a conclusão de que sua temperatura crítica era de
aproximadamente 6K.
Kamerlingh Onnes deixou registrado de forma detalhada como aconteceu a
primeira liquefaçao, o qual é explicitado como se segue.
Tudo estava pronto em 10 de julho de 1908, para a tentativa da liquefação. Flim, o
mecânico chefe, estava no dever de preparar o liquefador. Pela manhã, 20 litros de
hidrogênio foi coletado, tudo para resfriar o equipamento. A grande jogada na liquefação
do He, na época e ainda hoje, é ter certeza absoluta que nada de ar escapa do
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equipamento. Por outro lado, o ar pode se solidificar durante o processo de pré-
resfriamento e bloquear os tubos, especialmente a válvula de escape. Três horas após o
início do pré-resfriamento, o He foi introduzido e começou a circular no sistema. Nessa
hora, cada passo era uma nova aventura. O único padrão que controlava o que acontecia
com o He era a pressão. E ela estava caindo. Significava que a temperatura também
estava caindo. De repente, entretanto, a pressão parou de se modificar. Nada acontecia, e
já eram 7:30 da noite. O experimento parecia morto. O termômetro também tinha parado.
Todos do laboratório sabiam que havia algum grande resultado a caminho, apesar da
apreensão, e estavam hávidos por notícias. Quando iluminaram finalmente o reservatório
onde continha o gás, tiveram a certeza de que naquele momento o mesmo estava em
processo de transição de fase.
Com essa técnica de liquefação dominada, Leiden ocupou um lugar de
superioridade dentro das pesquisas em ciência pura e criogenia por muito tempo. O ritmo
intenso de trabalho no laboratório, fixado pro Kamerlingh Onnes, se manteve mesmo
depois de sua morte. E um dos trabalhos consistia em medir as propriedades da matéria a
baixas temperaturas. E medidas de resistividade pela temperatura ocupou um lugar de
destaque em todo esse grande projeto. Medidas prévias ja haviam mostrado que a
resistência cai com o decrécimo da temperatura, e Kamerlingh Onnes já supunha que isso
era devido às vibracoes dos íons da rede que diminuíam, e com isso diminuíam as
interaçoes entre a rede e os elétrons livres.
A resistividade, já usando He líquido, era tradicionalmente medida com uma
ponte de Wheatstone. E o Hg, por ser facilmente encontrado, foi escolhido para as
medidas. Como uma medida precisa exige bons contatos elétricos entre o metal e os fios
da ponte, era fácil com o Hg, já que bastava mergulhar os fios no metal, que é líquido à
temperatura ambiente e se solidifica a aproximadamente – 40 0C.
Nessa época, dois cientistas começaram a trabalhar no laboratório. O graduado em
Física e Matemática pela Eidgenössische Technische Hochschule Zürich (Swiss Federal
Institute of Technology at Zurich), Gilles Holst, para começar seu Doutorado, e o já
Doutor C. Dorsman. E foi Gilles Holst, como parte de suas tarefas, que fez todas as
medidas.
E o resultado foi uma completa surpresa. Ao invés de um decréscimo suave até
perto do zero absoluto, a resistividade do mercúrio caia abruptamente de 0.002 ohm para
menos de 10-6 ohm a uma temperatura próxima de 4.20K (figura 6). A
Supercondutividade, então, havia sido descoberta!
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Figura 6 – Temperatura (em Kelvin), na escala horizontal x Resistência, na escala vertical, para o Hg.
E o primeiro experimento para testar esse novo fenômeno foi feito gerando uma
corrente em uma espira no estado supercondutor. Se a resistência era nula, não haveria
problemas, portanto, em retirar a fonte de tensão, quando se esperava que a corrente
permaneceria inalterada. Como corrente elétrica gera campo magnético, Onnes mediu
esse campo, e por hora alguma seu valor sofreu alteração.
Para o físico inglês J. J. Thomson, a supercondutividade confirmava sua teoria da
matéria, fato que foi refutado veementemente por Einstein em um seminário em Leiden
em 1920. Antes disso, em 1915, F. A. Lindermann sugeriu que os elétrons formavam
uma rede que deslizava sem resistência através da rede cristalina do metal. Em 1916 e
1917, C. Benedicks e P. W. Bridgman escreveram uma série de artigos defendendo a
hipótese de que são os elétrons da camada de valência que saltam de um átomo para o
outro. A baixas temperaturas, certos elétrons podem facilmente se mofer ao longo de toda
a cadeia de moléculas e o material se tornaria supercondutor.
Os resultados experimentais foram publicados por Kamerlingh Onnes no The
Communications of the Leiden Laboratory. Sobre Holst e Dorsman, fez apenas o seguinte
agradecimento: “I acknowledge with gratitude my debt to Dr. C. Dorsman for his
intelligent assistence during this entire investigation and to Mr. G. Holst, who carefully
carried out all the measurements with the Wheatstone bridge”.
É verdade que a supercondutividade requereu novas técnicas experimentais e
equipamentos, porém toda a montagem eletrônica e a precisão das medidas de
resistividade se devem a Holst.
De acordo com o Físico holandês Hendrik Casimir, Kamerlingh Onnes era um
verdadeiro déspota em seu laboratório, apesar da boa imagem internacional que possuía.
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Tinha tais atitudes até mesmo com o renomado Físico Hendrik Lorentz, que por vir de
uma origem humilde, nunca atacou de frente as atitudes de Onnes, sempre aceitando
calado certas formas de humilhação. Holst abandonou o laboratório pouco tempo após a
descoberta.
Havia uma empresa localizada em Eindhoven que vinha fazendo bons negócios no
mercado de lâmpadas. Tal empresa queria abrir um laboratório de pesquisas que
estudasse fenômenos físicos e químicos, a fim de desenvolver novas tecnologias. Holst
foi o primeiro a comandar este laboratório, chamado de Nat.Lab., da que hoje é a gigante
multinacional Royal Philips Eletronics.
Apesar de tudo, o laboratório de Kamerling Onnes teve um papel importante na
história da ciência, tanto por dar início às estreitas relações entre laboratórios de pesquisa
e universidades, quanto por abrigar grandes cientistas, como Hendrik Casimir, Hendrik
Lorentz, Paul Ehrenfest e Peter Debye, sem contar, claro, suas inovações e
desenvolvimentos dentro da Física experimental, além das resultantes descobertas
científicas.
HIPÓTESES
Este fenômeno conseguiu reunir o melhor dos esforços de um time fenomenal,
que incluia Niels Bohr, Werner Heisenberg, Bloch, Landau, Bethe, Brillouin, Kronig,
entre outros. Mas a dificuldade para se encontrar uma teoria era tão grande que Felix
Bloch chegou a formular a seguinte frase: “Qualquer teoria sobre a Supercondutividade
provavelmente será falsa”. Diferentes hipóteses foram levantadas no encontro em Leiden
em 1920, onde estiveram presentes, entre outros, Langevin, Einstein, Kamerlingh Onnes
e Lorentz. Einstein, por exemplo, sugeriu que os elétrons caminhariam através de um
movimento em espiral, de um átomo para o outro, em uma espécie de estado ligado. Esse
modelo, inclusive, é considerado para a tentativa de se explicar supercondutores
modernos. Já Landau não quis se preocupar em explicar as correntes supercondutoras, e
sim em abordar a transição de fase. Ele partiu da idéia de que quando um sistema vai de
uma fase para outra, uma das fases é sempre mais ordenada que a segunda. Quando a
água congela, por exemplo, as moléculas, que se movem aleatóriamente na fase líquida,
se comportam de forma mais ordenada na fase sólida. Do mesmo modo, os momentos
magnéticos se alinaham em uma mesma direção e sentido no estado ferromagnético.
12 | P á g i n a
Antes disso, Ehrenfest notou que transicoes de fase podem acontecer de duas
formas, que chamou de transição de fase de primeira ordem e transição de fase de
segunda ordem.
Em transições de fase de primeira ordem, todos os constituintes de uma parte
significante do sistema mudam de fase de uma só vez. Calor latente pode ser absorvido
ou retirado para promover a mudança, assim como o gelo derrete ou a água evapora.
Todas as moléculas da água passam repentinamente de cristais de gelo para líquido, se
energia suficiente for fornecida para promover essa mudança global.
Já as transições de fase de segunda ordem, por outro lado, não envolvem calor, e a
passagem de um estado para outro acontece progressivamente. Quanto mais próximo o
sistema está da transição, menos ordenado (ou desordenado) o sistema vai se mantendo.
A transição ocorre quando toda a ordenação (ou desordenação) termina. A diferença de
energia do sistema imediatamente antes da transição para o sistema imediatamente depois
da transição é infinitesimal, e não há calor latente envolvido. Fazendo analogias, uma
transição de segunda ordem é como um jogo de boliche. Alguns pinos cairão na primeira
tentativa, alguns outros na segunda. O sistema não desaparecerá até que o último pino
esteja de pé. E uma transição de primeira ordem é como um castelo de cartas, onde há
apenas duas possibilidades, as cartas ordenadas formando o castelo, ou as cartas
desordenadas formando as “ruínas”.
Landau queria obter uma descrição quantitativa de transição de fase de segunda
ordem, que acreditava ele ser característica da transição de fase supercondutora. Para
isso, encontrou um certo “parâmetro de ordem”, que por definição vale zero para um
estado totalmente desordenado e um para um estado perfeitamente ordenado. A
dificuldade (e, obviamente, a grande sacada) foi exatamente na escolha do parâmetro de
ordem. Para um conjunto de pinos que o jogador de boliche tenta derrubar, uma escolha
clara de parametro de ordem seria a taxa de pinos que restam de pé em relação à
quantidade total de pinos. A decisao de Landau foi mais difícil, porém uma vez feita,
pôde expressar a diferença de energia entre os dois estados em termos deste parâmetro.
Essa diferença ia a zero para transicoes de segunda ordem desde que não fosse necessário
nenhuma quantidade adicional de energia. Com uma considerável intuição, Landau
propos uma expressão matemática, de caráter completamente geral, para transicoes de
segunda ordem, providas de dois outros parâmetros que foram ajustados para o caso em
particular. Uma vez a energia calculada desta forma, todos as as outras quantidades
termodinâmicas, como entropia e calor específico, se tornam calculáveis. Esta elegante
13 | P á g i n a
descrição se mostrou eficiente em outras áreas. Representa um dos grandes sucessos do
chamado método fenomenológico em Física. Tal descrição foi completada por Ginzburg,
e publicada em 1950 (equacão 2), para o caso supercondutor. Hoje é conhecida como
teoria de Ginzburg-Landau.
EXPERIMENTOS E INTERPRETAÇÕES
A pesquisa experimental em supercondutividade pode ser dividida em três ramos
principais. A primeira, relacionada com estudos empíricos de materiais supercondutores,
na verdade nunca cessou, sempre obtendo sucessos. Gera ainda interesse devido à
aplicações industriais e também por encontrar padroes dentre as propriedades de novos
materiais supercondutores.
O estudo de propriedades térmicas de supercondutores foi o segundo foco de
pesquisas, e isso levou a uma primeira descrição da supercondutividade, baseada na
termodinâmica.
O terceiro ramo consistiu em investigações de propriedades magnéticas de
supercondutores. Dados experimentais de todos os tipos foram produzidos, e era difícil
dicernir sobre o que poderia ser usado para chegar a uma visão coerente do assunto.
Porém, duas interpretações influenciaram de forma marcante. Uma, baseada na idéia de
que os supercondutores são apenas condutores perfeitos, levou a interpretaçõres errôneas
dos experimentos. A outra, que acabou se mostrando muito útil, é devida a London, e não
foi aceita logo no início.
O casal russo Lev Shubnikov e Olga Trapeznikova, após passarem um tempo no
laboratório em Leiden, voltaram para a Rússia e lá criaram um laboratório para baixas
temperaturas, e executaram medidas de susceptibilidade magnética em vários
supercondutores encontrados, e chegaram a conclusão de que, no estado supercondutor, a
susceptibilidade variava de forma muito suave, enquanto a resistividade se mantinha
rigorosamente nula (figura 7).
14 | P á g i n a
Figura 7 – Susceptibilidade magnética de uma amostra de PrBa2Cu3O7-y, sintetizada pelo Grupo de Materiais de Dispositivos do
Departamento de Fïsica da Universidade Federal de São Carlos, sob responsabilidade do Prof. Dr. Fernando Manuel Araújo-Moreira.
Da temperatura de transição, aproximadamente 90K, até a temperatura de aproximadamente 30K, a variação da susceptibilidade é
extremamente pequena.
15 | P á g i n a
Lei de Silsbee – Relação entre campo e corrente críticas para um fio supercondutor
Figura 9 – Tabela periódica com a descrição dos elementos que são supercondutores.
Tabela retirada da apresentação da Profa. Dra. Thereza Cristina de Lacerda Piva, do Instituto de Física da UFRJ. Disponível em
http://omnis.if.ufrj.br/~joras/disciplinas/07.1/topicos/tclp.pdf
16 | P á g i n a
depende diretamente do ordenamento cristalino. Os átomos não estavam envolvidos
diretamente. O fenômento, aparentemente, dependia apenas dos portadores de carga, os
elétrons. Mesmo porque as investigações revelaram que não havia mudança na estrutura
cristalina, não havia discontinuidades na condutividade térmica e não havia calor latente
associado com a mudança de fase.
Se um supercondutor é apenas um condutor perfeito, deveria obedecer as
equações de Maxwell para um caso de condutividade infinita. De fato, o próprio Maxwell
colocou a questão de como um condutor com condutividade infinita se comportaria, e
usou suas equações para calcular como um desses reagiria se colocado na presença de um
campo magnético.
O modo de testar as equações de Maxwell foi aplicado à supercondutividade.
Colocou-se um anel supercondutor em um campo magnético. A espessura do anel não é
relevante neste caso, já que a resistividade é nula. Em seguida, resfriou-se o anel até
abaixo de sua temperatura crítica com o campo magnético ainda aplicado, e entao cortou-
se o campo. A mudaça no campo deve induzir uma corrente no anel, de intensidade tal
que produza um campo magnético de mesma intensidade. E como não há resistividade,
esse campo permanecerá “congelado”. É como se o anel tivesse uma “memória”.
Correntes persistentes com seu fluxo magnético congelado parecem ser bem
explicados através das equações de Maxwell num caso de condutividade infinita. Logo,
não havia razão para suspeitar que um supercondutor era não mais que um condutor
perfeto. E essa convicção estava tão bem estabelecida para os físicos da época que levou
Kamerling Onnes a tirar conclusões precipitadas de um experimento que fez, como o do
anel, porém agora usando uma esfera oca de material supercondutor. Nesse experimento,
foi constatado que, após a esfera ser resfriada na presença de campo magnético, em seu
interior a distribuição do campo magnético não havia sofrido alteração alguma durante a
transição de fase. E após retirado o campo externo, continuou intacto. Ou seja, ao longo
de todo o processo, o campo magnético não sofreu a menor alteraçao. Devido ao
experimento anterior com o anel, concluíram que esse experimento agia como se
houvesse vários anéis circulando a esfera, que o campo dentro de cada anel permaneceu o
mesmo. Pensavam também que se o campo fosse aplicado após a esfera ser resfriada, os
resultados deveriam ser diferentes.
Essa concepção errada faria com que a transição supercondutora não se
comportasse como uma transição de fase de acordo com a termodinâmica. A uma dada
temperatura e pressão, gelo é gelo. Não importa, por exemplo, se a água foi congelada
17 | P á g i n a
antes ou depois de ter a pressão aumentada. Transições de fase são reversíveis, mas a
transição supercondutora parecia ser irrevesível. A idéia do fluxo congelado dentro de um
metal supercondutor (esfera, por exemplo) era, entretanto, um conceito difícil de ser
batido. E dependia de medidas que não eram fáceis de serem feitas. O método era colocar
um pequeno fio de bismuto em posições apropriadas dentro da esfera. A resistividade do
bismuto varia fortemente na presença de um campo magnético, e a variação é maior ainda
a baixas temperaturas. Se o experimento tivesse sido realizado de forma precisa,
chegariam à conclusão de que o campo magnético no interior da esfera é menor que o
campo inicial. Ou melhor, zero!
Mesmo com a relutância de muitos físicos experimentais, teóricos como Bloch e
Landau continuavam acreditando que a transição supercondutora era uma transição de
fase suportada pela termodinâmica. E quanto a isso, Fritz London, ao publicar suas
equações que descrevem o eletromagnetismo supercondutor, fez inclusive uma analogia
entre supercondutividade e ferromagnetismo: Bloch and Landau formulated a program
whose realization has generally been considered as the task of a futue theory of
superconductivity. It seemed necessary to imagine a mechanism that, without any
external field, would make it possible for a metal in its most stable state to support a
current. The thermodynamic stability of the superconducting state and in particular the
stability of the persistent currents themselves seem necessarily to lead to this idea. In this
connection, one often thinks of the exemple of ferromagnetism, where the most stabe
states consist of permanent magnetization without the involvement of any external field.
O “problema” do fluxo congelado dentro da esfera estava fadado a terminar .
Por volta do ano de 1930 foi-se descoberta a propriedade realmente característica
de um supercondutor, que não é a resistência zero, mas sim o diamagnetismo perfeito.
Esse efeito, descoberto por W. Meissner e R. Ochsenfeld, não foi derivado diretamente
das equações de Maxwell para um condutor perfeito. A J. Rutgers, aluno de Ehrenfest,
concluiu matematicamente que supercondutores se comportam de forma diferente – no
que diz respeito à transição de fase – quando suas temperaturas são levadas a valores
abaixo de seus valores críticos, se estão sob efeito de um campo magnético externo ou
não. Ou seja, a transição de fase ocorrida sem campo aplicado é uma transição de
segunda Ordem. Na linguagem assumida por Ehrenfest, ocorria uma transição de fase de
primeira ordem, que envolvia calor latente, caso o material fosse resfriado na presença de
um campo. Sem a presença de um campo, ocorria uma transição de segunda ordem, sem
calor latente envolvido. Mas essa distinção não ficou muito bem clara num primeiro
18 | P á g i n a
momento. Casimir e C. J. Gorter mostraram ainda que a fase supercondutora é mais
ordenada que a fase normal. O importante foi que nesta fase se deu a descoberta de que o
supercondutor é um diamagneto perfeito, independente da sequência de fatos ocorridos
até o alcance da transição de fase (figura 10).
19 | P á g i n a
Figura 11 – Gráfico superior: sem campo aplicado, transição de segunda ordem e sem calor latente envolvido. Gráfico inferior: com
campo aplicado, transição de primeira ordem.
O próximo avanço na área veio com os irmãos Fritz e Heinz London, que
completaram a descrição do efeito Meissner adicionando o parâmetro conhecido por
comprimento de penetração, comumente defindo pela letra λ, identificando ainda que o
campo magnético criado pelo supercondutor acontece através de correntes superficiais.
Esse comprimento define quanto o campo magnético penetra na superfície da amostra e
qual o seu valor (equação 2; figura 12). Os valores típicos de λ variam entre 50 e 500nm.
Equação 2 – Valor do campo magnético que penetra na amostra, e o valor do comprimento de peletração de London.
20 | P á g i n a
Figura 12 – Decréscimo do comprimento de penetração ao longo do interior do material
O trabalho dos irmãos London não foi imediatamente aceito. Entretanto, este
trabalho marcou o início das modernas teorias a respeito da supercondutividade. Um
desenvolvimento em especial teve importância em fazer com que a teoria de London não
fosse logo aceita. Experimentos do russo Shubnikov mostraram que o efeito Meissner era
imperfeito em algumas situações. E de fato o é, porém para tipos específicos de
supercondutores. Landau interpretou esses resultados como uma evidência da existência
de um estado intermediário entre o estado normal e o estado supercondutor.
Durante esse período, London teve um leitor de seus artigos em especial: John C.
Slater, Físico de Harvard. Slater discutia estes artigos com um de seus alunos, John
Bardeen, e acabou por escrever dois artigos citando importantes implicações a respeito da
teoria de London: os elétrons do estado supercondutor devem se mover em orbitas
grandes – são “deslocalizados”. E isso foi de fundamental importância para as teorias que
viriam em seguida.
21 | P á g i n a
um fenômeno novo ocorria. Para valores baixos de campo magnético aplicado, havia
ainda o efeito Meissner. E a partir de um certo valor bem definido, o campo penetrava na
amostra, pouco a pouco. O físico russo Alexei Abrikosov, em 1957, previu que nesse
estado o campo penetrava na forma de vórtices magnéticos, ou fluxóides. Cada fluxóide
contém um quantum de fluxo (equação 3). Um fluxóide consiste em um núclero
cilíndrico de fluxo magnético, alinhado com o campo aplicado, com um raio designado
por Pippard como comprimento de coerência. Este núcleo está rodeado por um cilindro
de supercorrentes que fluem num vórtice circular, numa espessura igual ao comprimento
de penetração λ, gerando o quantum de fluxo (figuras 13, 14 e 15). Estes foram chamados
de supercondutores impuros, ou tipo II. Esse tipo de supercondutor tem como
característica o que é chamado de estado misto, e que está relacionado com dois valores
de campo magnético crítico (figura 14).
Figura 13 - Retirada da apresentação da Profa. Dra. Thereza Cristina de Lacerda Piva, do Instituto de Física da UFRJ. Disponível em
http://omnis.if.ufrj.br/~joras/disciplinas/07.1/topicos/tclp.pdf
Figura 14 - Retirada da apresentação da Profa. Dra. Thereza Cristina de Lacerda Piva, do Instituto de Física da UFRJ. Disponível em
http://omnis.if.ufrj.br/~joras/disciplinas/07.1/topicos/tclp.pdf
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Figura 14
Figura 15 – Pontos indicam os vórtices de Abrikosov. Análise feita por microscopia eletrônica.
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-α
Tc ∝ M
Equação 4
Figura 16 – Variação da temperatura crítica do Hg em relação a seus isótopos. Retirada da apresentação da Profa. Dra. Thereza
Cristina de Lacerda Piva, do Instituto de Física da UFRJ. Disponível em http://omnis.if.ufrj.br/~joras/disciplinas/07.1/topicos/tclp.pdf
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Na Austrália, pouco tempo depois, Schafroth, que pesquisava sobre gás de bosons,
publicou uma nota sobre supercondutividade, que dizia: So far, no molecular theory of
superconductivity has been found. The most succesful attempts in this direction have been
made by Fröhlich and Bardeen on the asumption that the occurrence of this phenomenon
is due to the interaction of the conduction electrons with lattice vibrations. However, it
has not so far been possible to show that a strong enough lattice-electron interaction can
account for the characteristic equilibrium phenomena of superconductivity, namely the
phase transition and the Meissner-Ochsenfeld effect.
De fato, as teorias de Fröhlich e Bardeen encontraram severas complicações
matemáticas. Schafroth encontrou uma saída supondo que um gás de bosons poderia
ocorrer no fenômeno da supercondutividade, justificando que um condensado de Bose-
Einstein é um fenômeno único e singular, e que é responsável pela superfluidez. Logo,
seria razoável supor que a supercondutividade nos metais era devido ao aparecimento de
bonsos carregados. E o que poderiam ser esses bósons carregados, já que os elétrons tem
spin ½, era justamente a consideração de dois elétrons emparelhados formando uma única
entidade, um bóson com carga. Essa foi uma primeira contribuição, porém ainda não
explicava qual mecanismo faria com que os elétrons se emparelhassem, de tal forma que
suprisse a repulsão coulombiana.
Bardeen, que fazia seu Ph.D. em Princeton, aprendeu novas ferramentas
matemáticas no que dizia respeito a interações eletrônicas em cristais, e decidiu abordar o
fenômeno da supercondutividade através de quatro frentes distintas: a primeira,
desenvolvendo uma descrição fenomenológica que descrevesse como um todo todos os
resultados experimentais obtidos até então, levando em conta interações entre elétrons e
fônons de alta frequência, que chamou de polaron; a segunda foi trabalhando com os
físicos Francis Low e T. D. Lee, dois teóricos, e considerava a interação elétron-fônon
como algo nem suficientemente forte, nem suficientemente fraca; a terceira, Bardeen
considerava a repulsão coulombiana entre os elétrons na interação elétron-fonon. Essa
análise chegou a um curioso resultado que previa que dois elétrons em um sólido não
estavam fadados necessariamente a se repelirem. Parecia possível que, sob certas
condições, eles, se atraíssem; e a quarta, que considerava um gap de energia que existia
na mudança de fase, e não foi considerado em nenhuma aproximação anterior. Para tal,
procurou um teórico que pudesse ajudá-lo nessas ideias, e por recomendação, encontrou
Leon Cooper. Chamou também seu recém aluno de doutorado Robert Schriffer, que havia
concluído sua graduação no MIT.
25 | P á g i n a
As discussões começaram com inúmeras reuniões onde Leon Cooper explicava aos
outros dois tanto sobre funções de Green quanto sobre os diagramas de Feynman. E os
primeiros resultados surgiram na primavera de 1956, quando Cooper descreveu que as
interações entre dois elétrons no estado supercondutor eram atrativas, que estavam
ligados. E isso explicaria o motivo da energia no estado supercondutor ser menor.
Bastava uma quantidade finita de energia ser oferecida para que os elétrons se
separassem. Bardeen concluiu que isso era a peça chave de todo o quebra-cabeças, além
dessa descrição ser melhor que a já publicada pelos australianos. Ela considerava que os
elétrons emparelhados tinham momentos bem definidos, e bem próximos a zero,
enquanto os autralianos consideravam que os elétrons tinham posições bem definidas. A
descrição de Cooper, portanto, concluía que os pares não estavam bem localizados na
rede. E todos eles juntos faziam aparecer um efeito macroscópico no material. Essa foi a
ideia trabalhada, e acertada.
Além do mais, a energia dos elétrons calculada era bem próxima, e pouco menor, do
nível de Fermi. Os elétrons só são espalhados (= resistência) porque há estados finais
disponíveis. No estado supercondutor abre-se um gap, e próximo ao nível de Fermi não
há estados acessíveis – não há dissipassão. (figura 17).
Figura 17 - Retirada da apresentação da Profa. Dra. Thereza Cristina de Lacerda Piva, do Instituto de Física da UFRJ. Disponível em
http://omnis.if.ufrj.br/~joras/disciplinas/07.1/topicos/tclp.pdf
Publicado o trabalho dos três cientistas, uma nova fronteira se abriu para a descrição
da supercondutividade. Em 1957, o físico brasileiro Newton Bernardes (1931-2007)
apresentou uma nova interpretação para o “gap” referido acima. Com efeito, com o
objetivo de explicar esse “gap”, Bernardes usou uma aproximação de um elétron naquele
modelo, aproximação essa que havia desenvolvido enquanto fazia sua Tese de Mestrado,
26 | P á g i n a
na Universidade de Illinois, em Urbana (USA), sob a orientação de Bardeen, em 1955-
1956. Nesse seu trabalho, Bernardes calculou o “gap” como sendo da ordem de 3 kTC no
zero absoluto (0 K), o qual vai decrescendo com a temperatura até anular-se em TC. Além
do mais, ele encontrou uma curva do tipo exponencial para o calor específico eletrônico,
que já havia sido obtida por Ginsburg. Porém, diferentemente de Cooper, para Bernardes
o “gap” era devido à excitação de uma “quase-partícula”.
Com relação a esse trabalho de Bernardes, é oportuno registrar que quando ele deixou a
Universidade de Illinois, para trabalhar na Universidade de Washington, no final de 1956,
ele continuou mantendo correspondência com Bardeen e com Schrieffer sobre a
supercondutividade. Em duas cartas dessa correspondência, uma de Schrieffer
(12/02/1957) e outra de Bardeen (20/02/1957), eles falaram da importância do modelo de
Bernardes, e Bardeen sugere que Bernardes publique seu modelo na Physical Review, o
que de fato aconteceu.
Porém, a equação que descreve a energia desses elétrons tem uma escala tal que ela
só faz sentido se a temperatura crítica for no máximo e aproximadamente 30K. Há aqui,
portanto, a limitação da teoria BCS quando do surgimento dos chamados
supercondutores de alta temperatura crítica (figura 18).
Figura 18 – Evolução dos materiais supercondutores. Retirada da apresentação da Profa. Dra. Thereza Cristina de Lacerda Piva, do
Instituto de Física da UFRJ. Disponível em http://omnis.if.ufrj.br/~joras/disciplinas/07.1/topicos/tclp.pdf
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SUPERCONDUTIVIDADE DE ALTA TEMPERATURA CRÍTICA
Desde que a supercondutividade foi descoberta, em 1911, inúmeros supercondutores
foram descobertos, e suas temperaturas críticas aumentando ano após anos. Mais de 2000
materiais supercondutores foram descobertos de 1975 até hoje. Em 1973 foi encontrado,
na liga Nb3Ge, a maior temperatura até então, 22.3K. Esse valor não seria batido por 10
anos.
Quando a teoria BCS mostrou sua elegante explicação para o fenômeno
supercondutor, vários cientistas acreditavam que não seria possível encontrar novos
supercondutores a temperaturas acima de 30K se não fosse descrito um novo fenômeno
supercondutor. Fröhlich, em 1954, chegou a esboçar um modelo para os chamados High-
Tc Superconductors.
Sleight, em 1975, publicou que havia encontrado supercondutividade no sistema
BaPb(1-x)BixO3, e que sua Tc variava de acordo com a dopagem. Isso foi o início das
pesquisas com óxidos supercondutores.
No início dos anos 80, investigadores de todo o mundo começaram a procurar por
novos tipos de supercondutividade. O governo japonês lançou um projeto chamado
Novos Materiais Supercondutores, tendo início em 1984, e nos EUA foi montada uma
conferência em 1985 chamada Materiais e Mecanismos da Supercondutividade.
Em 1983, Müller e Bednorz iniciaram suas pesquisas testando sistematicamente a
supercondutividade em novas cerâmicas. Finalmente, em janeiro de 1986, depois de haver testado
quase 10 mil amostras de cerâmicas, encontraram uma cerâmica do tipo cuprato com La e bário
(Ba): BaxLa5-xCu5O5(3-y). Esse material é uma cerâmica do tipo perovskita, com uma estrutura de
camadas. As perovskitas, na forma de silicatos, são os materiais mais abundantes da crosta
terrestre, a velha areia. Os sub-índices da fórmula mostram que eles partiram de um composto
normal, um óxido de cobre com bário e lantanho, e foram retirando oxigênio em várias
proporções. Quando x=0,75, o material apresentava uma fase cuja resistividade caía a zero perto
de 30K. Essa descoberta de Müller e Bednorz foi anunciada em abril de 1986, em artigo
publicado na Zeitschrift für Physik, e no ano seguinte foram agraciados com o prêmio Nobel de
Física. É interessante registrar que Müller teve a ideia de testar a supercondutividade no tipo de
cerâmica que utilizou, quando estava sentado nos jardins do Monastério Medieval em Erice, na
Itália, no verão de 1983. Mais tarde leu o trabalho dos químicos franceses Claude Michel e
Bernard Raveau, escrito em 1982, no qual indicava que, em um composto cerâmico daquela
classe, havia sinais de condutância elétrica. Aliás, esses sinais já haviam sido observados por
Michel, Raveau, L. Er-Rakho e J. Provost, em 1981. [Karl Alexander Müller and Johannes Georg
Bednorz, Nobel Lectures (08 de Dezembro de 1987)].
28 | P á g i n a
Logo em 1987, dois grupos de pesquisadores, formados por Paul Chu, P. H. Hor, R.
L. Meng, L. Gao, Z. J. Hang e Y. Q. Wang da Universidade de Houston, e por R. J. Cava, R. B.
van Dover, B. Batlogg e E. A. Rietman, dos Bell Laboratories, anunciaram que haviam
conseguido cerâmicas supercondutoras envolvendo cupratos formadas, respectivamente, dos
compostos LaBaCuO (aprox. 40 K) e LaSrCuO (aprox. 36 K ). Ainda por essa mesma época,
Maw-Kuen Wu (aluno de Chu) e seu grupo, da Universidade do Alabama, juntaram-se ao grupo
de Chu e, ao substituírem o La pelo Ítrio (Y), e em um trabalho conjunto (Wu, Jim R. Ashburn,
Chuan-Jue Torng, Hor, Meng, Gao, Huang, Wang e Chu) anunciaram no começo de 1987 que
haviam obtido uma nova cerâmica supercondutora com a composição YBaCuO, cuja temperatura
era de aproximadamente 93K. Essa descoberta foi confirmada por Hor, Gao, Meng, Huang,
Wang, K. Forster, J. Vassilious e Chu, ainda em 1987. É oportuno destacar que a descoberta do
composto YbaCuO, com nitrogênio (N), foi também anunciada independentemente pela equipe
do físico chinês Zhong-Xian Zhao do Instituto de Física da Academia Chinesa de Ciências, cujo
estudo ele havia iniciado no final de 1986. É interessante registrar que essas novas descobertas
sobre cerâmicas supercondutoras na base de cupratos foram anunciadas no Simpósio da
Sociedade Americana de Física, realizado em março de 1987, no Hotel Hilton de Nova York,
com a participação de cerca de 3000 físicos no salão principal, e cerca de 3000 físicos do lado de
fora, assistindo através de um sistema interno de transmissão, e que ficou conhecido como o
“Woodstock da Física”.
Na década de 1990, novos supercondutores foram descobertos. Por exemplo, logo em
1991, foi observado que cristais feitos de buckminsterfullereno ou fulereno (C60) (que é uma
estrutura formada de 60 átomos de carbono (C) organizados nos vértices de um icosaedro
truncado, tendo a forma de uma bola de futebol (com 12 pentágonos e 20 exágonos), e descoberta
em 1985 (Nature 318, p. 162), por H. W. Kroto, J. R. Heath, S. C. O´Brien, R. F. Curl e R. E.
Smalley) dopados com metais alcalinos como potássio (K), rubídio (Rb) e césio (Cs), se tornam
supercondutores no seguinte intervalo de TC: 18 - 33 K. Mais tarde, em 1995, um cuprato com
mercúrio (Hg), cálcio (Ca) e Ba e dopado com tálio (Tl) (Hg0.8Tl0.2Ba2Ca2Cu3O8.33), tornou-se
supercondutor na temperatura crítica de 138K, na pressão atmosférica, e atingiu a temperatura TC
de 164K, em altas pressões. Por fim, na atual década de 2000, novas surpresas aconteceram com
compostos que se tornam supercondutores e que são diferentes dos cupratos. Logo em 2001
(Nature 410, p. 63), os físicos japoneses J. Nagamatsu, N. Nakagawa, T. Muranaka, Y. Zenitani e
Jun Akimitsu anunciaram que o diboreto de magnésio (MgB2) (conhecido desde 1950) se torna
supercondutor na temperatura crítica de 39,2 K. Essa descoberta foi confirmada, em 2002 por
Paul C. Canfield e Sergey L. Bud´ko. Esse supercondutor, diferentemente dos cupratos, é
explicado pela Teoria BCS. Uma nova surpresa sobre os compostos químicos que exibem
supercondutividade foi decorrente da descoberta realizada pela equipe de pesquisa do físico
japonês Hideo Hosono no Instituto de Tecnologia de Tóquio, em 2006, segundo a qual os
29 | P á g i n a
pnictogenetos de ferro, formados com base no arsenieto de ferro (FeAs), se tornavam
supercondutores no seguinte intervalo de temperatura crítica TC: 4 - 56 K. Em 2007, Kenjiro K.
Gomes, Abhay N. Pasupathy, Aakash Pushp, Shimpei Ono, Yoichi Ando e Ali Yazdani, da
Universidade de Princeton trabalharam com um outro cuprato, envolvendo bismuto (Bi), Ca e Sr,
o composto: Bi2Sr2CaCu2O8+x cuja temperatura crítica é de aproximadamente 90 K. Um ano
depois, em 2008, Hosono e seu grupo (Yoichi Kamihara, Takumi Watanabe e Masahiro Hirano)
anunciaram que o composto do tipo LaO1-xFx FeAs, com x = 0,05-0,12, tornava-se supercondutor
em 26K. Também em 2008, os físicos chineses Jie Yang, Zheng-Cai Li, Wei Lu, Wei Yi, Xiao-Li
Shen, Zhi-An Ren, Guang-Can Che, Xiao-Li Dong, Li-Ling Sun, Fang Zhou e Zhao anunciaram a
descoberta de uma nova família de pnictogenetos de ferro com gadolínio (Gd), o composto
GdFeAsO1-x, que atingiu TC = 53,5K. Até o presente momento, ainda se discute sobre a
aplicabilidade da Teoria BCS nos cupratos e nos pnictogenetos de ferro.
CURIOSIDADE
Não há nenhuma teoria que explique satisfatoriamente o mecanismo de supercondução
nos High-Tc. O que há, para o caso específico dos cupratos, é a suspeita de que os portadores de
carga percorrem a rede através dos planos de cobre-oxigênio (figura 19).
Porém, Araújo-Moreira et al. mostrou que, para estruturas de YBaCuO dopadas com Pr,
a supercondutividade surge normalmente, desde que haja tratamento térmico específico durante a
síntese do material. E é válido tanto para filmes finos, quanto para poli e monocristais. Estes
resultados vão contra as espectativas da maior parte da comunidade científica, que sugere que
átomos de Pr influenciam diretamente nos planos de Cu-O, quebrando assim a
supercondutividade. Isso nos leva a crer que, portanto, a supercondutividade, ou parte dela, não
ocorre em tais planos.
Para uns, as controvérsias estão na questão ou não da supercondutividade no sistema
YxPr(1-x)Ba2Cu3O7-y. Para outros, na questão da supercondutividade surgir nos planos de Cu-O.
Porém, resultados experimentais definitivos mostram que o composto é supercondutor e que,
portanto, certas teorias devem ser revistas.
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Figura 19 – Estrutura do YBa2Cu3O7-y
ALGUMAS APLICAÇÕES
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Um cabo de BSCCO (Bi2Sr2CaCu2O9) de 1Kg/m equivale a um cabo de Cu de 72Kg/m.
Já a construção e utilização de geradores de eletricidade em usinas geradoras têm grande
potencial. Como a eficiência desses geradores é maior que 99% e seu tamanho é a metade
daquele dos geradores convencionais feitos de cobre, eles são muito atrativos e várias
empresas têm planos para construí-los. A empresa americana General Eletric é uma delas
e está atualmente desenvolvendo um protótipo capaz de gerar 100 MVA (megawatt-
ampere).
Além de produzir e transmitir eletricidade, os supercondutores podem também ser
usados para armazená-la. Existem dois tipos principais de baterias que podem ser
construídas. O primeiro tipo é o das SMES (super-conducting magnetic energy storage –
figura 20a), que podem ser descritas como bobinas gigantes, matendo uma alta corrente,
que podem ser usadas quando desejado. O segundo tipo é chamado comumente de
"flywheel" e consiste em um ímã permanente em formato cilíndrico, com grande massa,
girando com alta velocidade sobre um supercondutor (figura 20b). Esta bateria utiliza-se
do efeito Meissner, que faz os supercondutores repelirem fortemente qualquer imã
permanente.
Figura 20
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MagLev
Como altas correntes elétricas podem ser mantidas nos supercondutores, altos
campos magnéticos podem ser gerados (figura 21), de acordo com as leis da eletricidade
e magnetismo. Uma das aplicações é a levitação magnética que pode ser utilizada em
veículos de transporte, como trens, eliminando a fricção com os trilhos. Trens desse tipo
podem ser feitos com magnetos convencionais, pois utilizam basicamente atração e
repulsão magnéticas na levitação. Entretanto, os magnetos convencionais desperdiçam
energia elétrica na forma de calor e precisam ser bem maiores que os magnetos
supercondutores para fornecerem os campos magnéticos necessários à levitação. Na
década de 90, trens comerciais começaram a ser desenvolvidos principalmente no Japão,
onde o desenvolvimento da tecnologia MA-GLEV ganhou apoio maciço do governo.
Recentemente o último protótipo desenvolvido, MLX01 (figura 22), chegou a 552 Km/h
em uma composição tripulada, de 5 vagões. Outros trens estão sendo desenvolvidos e
devem entrar em operação nos próximos anos na Alemanha e nos Estados Unidos.
Figura 21 – Densidade de corrente elétrica por campo aplicado para diferentes materiais
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Figura 21
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