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All content following this page was uploaded by Elsa Mota Pereira on 18 April 2016.
Resumo
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2. Crowdfunding
2.1. Conceito e seu surgimento
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de acordo com a Comissão Europeia (2013), variar entre projetos sociais a iniciativas de
negócios ou até mesmo de consumo privado.
Entre os objetivos mais comuns da corrida ao crowdfunding, podemos destacar,
por exemplo, a procura de apoios para artistas, pequenos negócios, start-ups,
campanhas políticas, iniciativas de software livre, projetos jornalísticos e de
investigação, filantropia e os apoios para regiões atingidas por desastres. A Fundação
Calouste Gulbenkian et al. (2014:2) defendem que este mecanismo financeiro tem como
objetivo “aumentar os montantes disponíveis e diversificar as fontes de capital para
financiar o setor social”. Segundo Massolution (2012), atualmente a maior parte das
atividades financiadas por crowdfunding são aquelas baseadas em projetos de causas,
em que o retorno daqueles que participam não é monetário.
O processo de requerimento deste financiamento é bem menos seletivo do que os
tradicionais mecanismos dos Bancos. Os indivíduos ou empresas interessados criam
uma conta numa plataforma online destinada ao efeito e a partir daí dão a conhecer ao
público inscrito nesse espaço o seu projeto, as suas metas, eventuais recompensas e qual
a duração da campanha. Não existem requisitos especiais para os candidatos a este
financiamento, assim como não há requisitos para os objetivos de cada campanha
publicada.
Esta modalidade de financiamento começou a ganhar força, de acordo com Lemos
(2015), a partir da crise mundial de 2008, uma vez que as instituições bancárias se
retraíram e diminuíram o número de créditos concedidos, tanto a particulares como a
empresas. Esta dificuldade de obtenção de investimento por parte das empresas faz com
que a atividade económica, o empreendedorismo e o emprego não sejam estimulados,
ficando a economia estagnada. Assim, a procura de modos alternativos de
financiamento tornou-se urgente.
Neste contexto, surge, então, o crowdfunding como uma alternativa mais
económica, acessível e pluralista de financiamento. Para isto, em muito contribuiu a
evolução das tecnologias da web 2.0, do seu uso generalizado e o desenvolvimento das
redes sociais e dos mecanismos de pagamento online.
Estes foram, segundo Lemos (2015:6), ingredientes cruciais para uma “utilização
mais interativa da web”, que possibilitou aos promotores, ou seja, aqueles que
pretendem obter um determinado financiamento, alcançar um grande número de
pessoas, potenciais apoiantes, de um modo mais rápido e eficaz do que no passado.
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Ainda sobre este cariz ágil que o mundo online confere ao crowdfunding,
Belleflamme et al (2010) referem que estas plataformas acabam por ser um excelente
meio não só para se obter financiamento como para dar a conhecer os seus produtos e,
até, obter feedback sobre o produto ou o serviço que se pretende desenvolver, acabando
este por ser um estudo de mercado mais económico para os promotores.
Este modelo acaba por ser peculiar, segundo Lemos (2015), uma vez que os
apoiantes são clientes ou futuros clientes e vice-versa. Um exemplo ilustrativo disto foi
o caso de sucesso do primeiro relógio inteligente - o Pebble - em 2012, que resultou de
uma campanha que ganhou forma num dos mais famosos sites de crowdfunding, o
Kickstarter.
Apesar de parecer uma iniciativa já conhecida, Lemos (2015) chama a atenção
para o facto do crowdfunding continuar a ser confundido com a angariação de fundos
tradicional – o fundraising (terminologia em inglês). Dehling (2013), por sua vez,
afirma que, embora o crowdfunding se tenha inspirado em modelos de microfinanças,
há a considerar que o mesmo constitui uma categoria única e diferenciada de
fundraising.
No fundo, o crowdfunding é uma evolução do fundraising tradicional para uma
forma de angariação coletiva de financiamento online que, segundo a nota de
investigação “Crowdfunding e investimento social” desenvolvida pela Fundação
Calouste Gulbenkian et al. (2014:3), por se operacionalizar online, permite atrair
promotores e apoiantes de iniciativas num mercado global “a um custo muito reduzido e
despendendo menos tempo”.
No caso das instituições do Terceiro Setor, a sua escolha recai, por norma, nas
plataformas de fundraising. O artigo Crowdfunding para o Terceiro Setor: Dicas e Exemplos
(2015), inserido na plataforma de crowdfunding brasileira Kickante, revela que, segundo os Médicos
sem Fronteiras, para o género de iniciativas deste setor, “qualquer valor é bem-vindo” e não podem
perder as doações, o que numa plataforma usual de crowdfunding podia acontecer no processo de
“tudo ou nada” (explicado na alínea 2.3).
Os autores que se debruçaram sobre este tema descrevem diversas motivações que podem
levar as pessoas a participar nos projetos de crowdfunding e, na sua maioria, defendem que as
mesmas são de ordem social. Citados por Mourão (2009), Kolm (2000), De Ven (2000) e Clotfelter
(2002) afirmam que para a dádiva, em geral, podemos considerar seis grandes motivações: o
altruísmo, o egoísmo (ganhar satisfação pessoal), o Warm Glow (gosto em dar), a estratégia
(estabelecer confiança ou laços pessoais e/ou profissionais), a justiça social (ou
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responsabilidade social) e a sobrevivência (reforçar a presença do doador em
comunidades baseadas em trocas voluntárias).
No que concerne à dádiva no crowdfunding, importa perceber as motivações dos
participantes, contudo a índole ou a intenção humana por trás dessa motivação não é tão relevante,
isto é, não importa muito a motivação ser o altruísmo ou o egoísmo desde que a pessoa sinta vontade
de contribuir e o faça. Bretschneider et al. (2014) referem como principais motivações para a
participação em projetos de crowdfunding o altruísmo e a identificação pessoal com o projeto ou
promotor. A Comissão Europeia (2013) e Hemer (2011) dizem que as pessoas participam com o
intuito de interagirem com o projeto a ser desenvolvido.
Ainda Hemer (2011) e De Buysere et al. (2012) referem a satisfação ao ver que o projeto foi
bem-sucedido e se vai realizar, ou seja, a participação deve-se ao retorno social esperado. Por último,
vários autores defendem, ainda, que a maior motivação é, muitas vezes, a recompensa oferecida, até
porque, por norma, angariam-se mais participantes para um projeto quando há uma recompensa
(Agrawal et al., 2013; De Buysere et al., 2012; Hui, 2014; Hemer, 2011). De salientar que esta
recompensa não tem necessariamente valor comercial e, muitas vezes, pode ser um simples
agradecimento simbólico.
O crowdfunding pode ser utilizado para diversas finalidades e, por isso, pode
apresentar-se sob, pelo menos, quatro modelos. Os modelos existentes (ver Figura 1.)
são, então, os seguintes: financiamento através de donativo, com recompensa, por
empréstimo e de capital.
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Como a própria designação indica, no modelo através de donativo, os apoiantes da
iniciativa fazem doações, isto é, contribuem para o projeto sem esperar receber
nenhuma recompensa. Assim, tudo o que os dadores podem receber em troca do seu ato
altruísta são benefícios intangíveis (Bretschneider et al., 2014), como manifestações de
afeto ou um agradecimento (Hemer, 2011). Os projetos que, por norma, optam por este
modelo são, de acordo com De Buysere et al. (2012), de carácter social, ambiental,
educativo, focados em questões de saúde, comunidade e religião.
Segundo avança a Comissão Europeia (2013), o tamanho das campanhas inseridas
nesta modalidade é pequeno e têm, em média, metas de 500€ na Europa. Estas
campanhas atraem especialmente indivíduos com uma relação próxima com a área em
que o projeto se está a desenvolver ou para quem o projeto tem um apelo emocional
(Fundação Calouste Gulbenkian et al., 2014:4).
O único risco associado é de o contributo não ser utilizado para os fins
anunciados, tratando-se de um esquema fraudulento, ressalva a Comissão Europeia
(2013), também possível nos outros modelos e nos mecanismos tradicionais de doação
ou caridade. Por fim, as contribuições angariadas são, normalmente, pequenas, dado não
existir uma recompensa ou um incentivo ao investimento, pelo que se torna mais
complicado atingir volumes substanciais.
Por outro lado, no modelo de recompensa, “o modelo mais popular de
crowdfunding” (Lemos, 2015:16), a doação tem um retorno. Apesar de não receber uma
recompensa financeira, como num empréstimo tradicional, o apoiante pode receber
produtos de baixo valor como uma t-shirt, livros, CD, bilhetes para eventos (Pazowski e
Czudec, 2014), reconhecimento, nos créditos de um filme, por exemplo, promoções
(Bretschneider et al., 2014) ou um protótipo do produto final ou uma versão adiantada
de um produto ou serviço (De Buysere et al., 2012). Nesta (2012) explica, ainda, que
quanto maior a contribuição, maior é a recompensa esperada.
As campanhas que se enquadram neste modelo são, também, pequenas e em
média pretendem obter valores que rondam os 3.000€ (Comissão Europeia, 2013).
Grande parte das iniciativas são, no fundo, pré-vendas de um determinado produto que
se pretende desenvolver. Os produtos mais frequentemente vendidos incluem software,
hardware ou produtos de consumo (Mollick, 2014). Cabe aos promotores estipular uma
recompensa aliciante, na medida em que quanto mais elevadas as contribuições, mais
atrativa a recompensa (Fundação Calouste Gulbenkian et al., 2014:4).
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Neste modelo, as condições de compensação estabelecidas são simples e permite a
criação de “buzz” no lançamento de novos produtos (Fundação Calouste Gulbenkian et
al., 2014:4). Não existe, porém, um potencial de retorno financeiro e existe pouca
protecção e controlo perante a recompensa a obter. Os modelos de crowdfunding de
recompensa e de donativo eram, na verdade, os únicos modelos permitidos pela
legislação portuguesa até setembro do passado ano.
O crowdfunding via empréstimo, por sua vez, é semelhante ao último, com
recompensa, o que se altera é o facto de a recompensa ser financeira, ou seja, o apoiante
é reembolsado pelo seu empréstimo. A taxa de juro é definida à partida ou, caso seja um
empréstimo social, o reembolso é efetuado sem juros associados (Comissão Europeia,
2013), sendo devolvido num montante fixo ou ao longo do tempo seguindo um tipo de
plano de pagamento (Pazowski e Czudec, 2014). Este modelo de crowdfunding permite,
assim, a obtenção de empréstimos para fins específicos com taxas de juro mais baixas
do que as praticadas nas instituições bancárias (De Buysere et al., 2012).
Por último, no modelo de capital, também designado por crowdfunding à base de
investimento, os apoiantes da campanha são investidores (Mollick, 2014) que recebem
uma pequena participação no capital, como acções, dividendos, um retorno do
investimento se o negócio ou projeto correr bem ou direito de voto (Comissão Europeia,
2013). Este modelo é muito usual em startups e PMEs (De Buysere et al., 2012) e
apenas foi possível nos Estados Unidos da América após a criação da lei Jobs act,
aprovada por Barack Obama em Abril de 2012 (Stemler, 2013).
Entre os quatro modelos, é este o que angaria montantes mais elevados, o que é
natural uma vez que os retornos que podem advir do mesmo também são maiores. No
entanto, devido à falta de regulamentação específica relativa ao crowdfunding, o
crescimento deste modo de investimento tem crescido lentamente (Nesta, 2012).
Embora lentamente, de 2011 para 2012 o crowdfunding de capital cresceu 30%, mas,
segundo Massolution (2013), o modelo apenas representa 5% de todo o investimento
existente no crowdfunding.
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Gulbenkian et al., 2014:5). As mesmas opções podem, ainda, ser designadas por “tudo
ou nada” e “ficar com tudo” (Hemer, 2011).
Quando a campanha se propõe a um tudo ou nada, o financiamento só é
canalizado para o projeto se, e só se, no fim do prazo de divulgação, o objetivo
financeiro da campanha previamente estipulado for atingido. Assim, se o mesmo não
acontecer, o valor angariado é devolvido aos participantes na campanha integralmente.
Num tudo ou nada, o risco é reduzido, uma vez que há uma garantia dada aos potenciais
apoiantes de que os promotores das iniciativas implementarão o projeto, caso seja
atingida a meta estabelecida.
Na maior plataforma de crowdfunding portuguesa - a PPL, a política da casa dita
que apenas projetos inseridos nesta forma de financiamento são permitidas.
“Acreditamos que a mecânica do ‘tudo ou nada’ é mais transparente e traz segurança
adicional aos apoiantes” (PPL, 2016).
De acordo com a PPL (2016), esta regra induz os promotores a propor o menor
montante possível, para haver maior probabilidade de o atingir, mas, por outro lado, o
suficiente para que possam executar o projeto. Por exemplo, se um projeto necessita de
5.000€ para se concretizar mas apenas 100€ forem angariados, a realização do mesmo é
improvável de acontecer, pelo que as pessoas são reembolsadas.
A opção flexível de financiamento difere da anterior, na medida em que, mesmo
que o objetivo financeiro não seja cumprido, o promotor pode decidir devolver os
fundos aos apoiantes ou não. Esta opção é mais utilizada em caso de acções sociais, em
que todo o capital angariado pode ser útil para a mesma causa, mesmo que a proposta
inicial não seja passível de concretização. Comparativamente, esta opção tem um risco
mais elevado.
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Além disto, o crowdfunding permite, segundo Couffinhal (2014:46), a obtenção
dos primeiros clientes da empresa ou do produto, do financiamento para desenvolver
produtos ou serviços inovadores e das garantias necessárias que são muito menores do
que numa outra situação de financiamento. O especialista Julien Coussot, também
entrevistado no estudo de Couffinhal (2014), acrescenta, ainda, que estas campanhas
trazem notoriedade e clientes, que ficam motivados para vender, para falar do conceito,
do produto e eventualmente o desejo e a necessidade pelo mesmo serão criados,
havendo um efeito multiplicador dos pequenos investidores interessados.
Um aspeto simplificador do crowdfunding é o facto de não existir um
envolvimento direto no processo de tomada de decisão, disponibilização de tempo ou
necessidade de conhecimento sobre a iniciativa pela parte dos apoiantes do projeto
(Lemos, 2015). De salientar que esta modalidade é crucial, logo à partida, para a criação
de emprego e do auto-emprego, uma vez que é, muitas vezes, um impulso para ideias de
negócio originais e inovadoras com um potencial de desenvolvimento muito promissor.
Relativamente às desvantagens, Johanna Caraire aponta o pesado efeito de “spam”
ao qual o criador do projeto está sujeito, pois recebe um grande número de emails
indesejáveis, quando a própria criação e manutenção de uma campanha já requerem a
disponibilização de muito tempo. Por outro lado, Caraire alerta, se a angariação de
fundos não for bem-sucedida, a imagem do projeto pode ficar manchada e pode perde-
se o apoio da comunidade.
Como vimos anteriormente, o crowdfunding pode ser visto como uma alternativa
ao financiamento tradicional concedido pelas instituições bancárias. Neste sentido,
Pazowski e Czudec (2014) sublinham que o crowdfunding pode ser uma ameaça para
estas instituições.
Contudo, Belleflamme et al. (2012) afirmam que ainda falta provar que, de facto,
o crowdfunding será capaz de substituir as fontes tradicionais de financiamento. Ainda
assim, vemos que, atualmente, a internet tem cada vez um papel mais decisivo para os
empresários alcançarem redes de investidores ou consumidores que financiem pequenos
negócios ou projetos, que de outra forma provavelmente não seriam concretizados.
Em suma, podemos concluir que o crowdfunding pode integrar o capitalismo e o
altruísmo num mesmo modelo, usando as novas tecnologias, e aplicar técnicas de
marketing específicas (Dehling, 2013). Isto levanta, obviamente, questões sociais, já
que vivemos numa era de conexão mundial, devido às tecnologias de hoje (web 2.0), em
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que as pessoas se elevam de empatia, autodeterminação e consciência acerca dos
problemas globais.
Assim, através da internet, ou, em particular, de modalidades como o
crowdfunding, as pessoas têm a possibilidade de experienciar soluções mais rápidas e
mais simples para problemas de carácter global ou local e, até, para os seus meros
“desejos por conveniência” (Williams, 2013).
3. Crowdfunding no mundo
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Em Portugal, desde Setembro de 2015 que o crowdfunding passou a ter um
enquadramento legal e passaram a ser permitidos os quatro modelos de crowdfunding
enumerados anteriormente. A legislação portuguesa acrescenta, ainda, um limite que
cada pessoa pode aplicar nas plataformas de investimento e de empréstimo, o que,
segundo Afonso Eça, um dos fundadores da Raize, uma plataforma online de
empréstimos a empresas, cria “barreiras” à entrada e podem, até, “inviabilizar certos
modelos de negócio”. Na americana Kickstarter, por exemplo, não existe esta limitação.
A inscrição nas plataformas é, na grande maioria das plataformas existentes pelo
globo, gratuita tanto para o empreendedor como para os apoiantes (Lemos, 2015). A
comissão que os gestores das plataformas cobram é, geralmente, de 5% do montante
angariado, como é o caso da americana Kickstarter e da portuguesa PPL. Contudo,
segundo um dos criadores da PPL, Pedro Domingos, o mercado português é muito
pequeno e, com uma comissão de apenas 5%, admite que “o negócio não é muito
rentável”.
4. Análise de dados
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Gráfico 1 - Montante obtido pelas
plataformas americanas Kickstarter e
Indiegogo
Milhões de dolares
4.350
1.170
138
330.024
239.883
24.704
2011 2013 2015
Desde que foi fundada, a PPL recolheu, em território nacional, um total de 1,5
milhões de euros, encontrando-se a atividade em crescimento. Sites internacionais como
o Kickstarter ou o Indiegogo, por sua vez, chegam a angariar 12 milhões de euros num
só projeto, ou seja, muito mais do que o total angariado pela maior plataforma
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portuguesa ao longo da sua existência e somando todos os fundos. Obviamente que
Portugal é um país de dimensões mais reduzidas e a modalidade já existe há mais tempo
nos EUA, pelo que comparar diretamente as duas realidades não chega sequer a ser
razoável.
O maior projeto alguma vez realizado na PPL, a 3D Antártida, conseguiu 22 mil
euros, com 300 apoiantes, o que permitiu ao Grupo Polar da Universidade de Lisboa
obter a verba necessária para a compra de um drone que permite uma monitorização
topográfica detalhada para os respectivos estudos científicos.
A tentativa do humorista de Nuno Markl em chegar aos 100 mil euros para fazer
um filme ficou-se por 40% desse valor – ainda assim, um recorde em Portugal (Público,
2015). Esta campanha foi, também, a primeira do PPL a integrar chamadas de valor
acrescentado como canal complementar para contribuições.
Segundo a PPL (2016), foram atingidos novos recordes de volume, tráfego e
quase 2.000 apoiantes nesta última campanha. Nas palavras de Nuno Markl, foi "o
falhanço mais bem-sucedido de sempre", isto porque, apesar de não ser atingido o
montante, a campanha permitiu que fossem realizados os contactos necessários para a
realização do projeto - o filme “Por ela”.
304
145
125
69
13 5
14
vemos que o número de projetos publicados aumentou para 145, sendo que destes
47,6% foram apoiados. Em 2015, apesar do crescimento de projetos publicados
continuar, a percentagem de projetos apoiados desceu 6,5 pontos percentuais para
41,1%.
O contributo médio de cada participante evoluiu também ao longo do tempo, em
2013 este valor assumia na PPL 46€, segundo Lemos (2015). Atualmente, a PPL (2016)
revela que o mesmo baixou para 34€, ainda muito abaixo da média da Kickstarter, de
cerca de $87 (79,6€) (ver Gráfico 4). O modelo de crowdfunding que consegue
arrecadar mais ofertas, em ambas as plataformas, é o modelo com recompensas (Lemos,
2015 e Shopify, 2016).
Atualmente, de acordo com o PPL (2016), esta plataforma apresenta uma taxa de
sucesso superior ao ano transato, de 45%, uma taxa de sucesso superior à maior
plataforma internacional Kickstarter, de 43,4%, e a Indiegogo, de apenas 9,8%
(Shopify, 2016). A plataforma portuguesa PPL (2016) continua o aumento dos projetos
publicados no presente ano, albergando hoje mais de mil e cem projetos, quatro vezes
mais do que em 2015, e 57 mil membros.
Apesar das animadoras taxas de sucesso, tanto em Portugal como nos EUA, é
importante perceber em que áreas o sucesso se tem feito notar, ou seja, quais as
atividades que despertam mais a atenção dos potenciais apoiantes das plataformas. As
campanhas realizadas são muito variadas, mas o campo artístico destaca-se claramente
dos restantes (ver Gráfico 5), nas plataformas de crowdfunding americanas Kickstarter e
Indiegogo.
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Gráfico 5 - Taxa de sucesso de cada atividade nas plataformas Kickstarter e
Indiegogo em 2015
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Os projetos que obtêm uma taxa de sucesso maior são aqueles ligados ao meio
artístico, nomeadamente as campanhas relacionadas com teatro têm uma taxa de sucesso
de cerca de 45%, a mais elevada registada. Os pequenos negócios, por sua vez, são os
projetos que apresentam uma taxa de sucesso mais baixa, com cerca de 5% apenas.
O número de campanhas pode também ser um fator a considerar, visto que a
dança e a banda desenhada, por exemplo, são as duas áreas em que existem menos
ptojetos publicados, quatro mil e seis mil campanhas, respectivamente, e têm uma taxa
de sucesso elevadíssima (dos 40 aos 44%).
Por outro lado, áreas como a sociedade têm dos números de propostas lançadas
mais elevados, cerca de 63 mil campanhas, e talvez por isso nem todas consigam obter
resposta, sendo a taxa de sucesso baixa, de somente 9,5%. A categoria que tem mais
presença nas plataformas, os filmes/vídeos, fez-se representar, em 2015, por 63 mil
campanhas, porém, revela uma taxa de sucesso mediana, de 25% (Shopify, 2016).
Em Portugal, desde o surgimento da primeira plataforma de crowdfunding até aos
dados mais recentes que a atividade com uma taxa de sucesso mais elevada é a música,
ou seja, as artes continuam a evidenciar-se (Lemos, 2015). Apesar desta tendência se
assemelhar às plataformas americanas, vemos que esta categoria, a música, é também,
em Portugal, a categoria com mais campanhas criadas desde 2011, com um total de 264
mil euros, obtido através de 7.648 apoiantes, representando 23% de todo o valor
angariado na plataforma (Lemos, 2015:90).
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4.1 Números de uma campanha bem-sucedida
Não há dúvida que, de facto, os apoiantes são a força máxima para uma
campanha ser bem-sucedida (Lemos, 2015:33). Por isso, para uma campanha ser bem-
sucedida e o projeto realizado, o mais importante à partida será captar o interesse e a
motivação dos participantes da melhor forma. Assim, o caminho para o sucesso não é
linear nem simples e, por isso, várias variáveis se inserem no processo e interagem entre
si (ver Figura 2.).
17
546 “Gosto(s)” na página de Facebook da campanha são o suficiente para o montante
desejado ser atingido.
Também o valor almejado afeta o sucesso de uma campanha, as campanhas que
pedem menos de mil dólares são as que têm uma taxa de sucesso mais elevado, de
exatamente 61% (Shopify, 2016). Bayus (2014) afirma, ainda, que os apoios diminuem
consideravelmente assim que o montante angariado supera o objetivo antes do prazo da
campanha expirar. O mesmo autor defende ainda que existe uma maior tendência dos
apoiantes em participar na primeira e na última semana da campanha do que no restante
período.
De acorodo com Hui (2014) o sucesso de uma campanha reside bastante na
procura ativa do feedback antes e depois da campanha, que deve, inclusive, iniciar-se no
círculo próximo de amizades e família. Contudo, ver este feedback como como
elemento único de análise pode ser altamente incompleto e pouco ou nada
representativo da opinião pública, pelo que, muitas vezes, leva mesmo ao insucesso de
uma campanha.
Belleflamme et al. (2013) identificam, por fim, como um fator positivo no sucesso
de uma campanha o facto de o promotor ser uma organização sem fins lucrativos ou
empreendedores que não visam obter lucro. Isto porque, como vimos anteriormente,
uma das principais motivações dos participantes é precisamente o retorno social.
5. Conclusão
Concluiu-se que o crowdfunding surgiu pela urgência económica em criar uma nova
forma de financiamento, decorrente da crise económica e financeira de 2008, e pelo
ambiente digital disponível, nomeadamente o desenvolvimento de mecanismos de
pagamentos online e a utilização cada vez mais interativa da web 2.0. Os objetivos que
se podem inserir nesta atividade são os mais variados, desde a realização de projetos
sociais a iniciativas de negócios ou até mesmo ao consumo privado.
Desde a sua criação que o crowdfunding se tem vindo a expandir e ganhando peso
(em número de projetos e em dinheiro angariado). Em quatro anos, de 2011 a 2015 a
atividade tem vindo a crescido nos EUA, representativo da realidade internacional, e,
também, em Portugal.
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De 2013 a 2015, na plataforma americana Kickstarter, o montante angariado quase
que quadruplicou e, no mesmo período de tempo, na plataforma portuguesa PPL, foi
praticamente dez vezes maior. Mostrando, assim, o grande potencial de crescimento
português que apenas se iniciou em 2011, dois anos após a internacional Kickstarter.
Não obstante, há a considerar o facto da dimensão da economia portuguesa não estar
à escala da economia norte-americana. Desde que foi fundada, a PPL recolheu, em
território nacional, um total de 1,5 milhões de euros e tem estado em claro crescimento
desde o momento da sua criação, mas sabemos que sites internacionais como o
Kickstarter chegam, por vezes, a angariar 12 milhões de euros num só projeto, ou seja,
muito mais que o total angariado no tempo de vida da atividade em Portugal.
A taxa de sucesso da plataforma portguesa PPL é mais elevada que a americana
Kickstarter, sendo atualmente de 45% e 43,4%, respectivamente, o que pode ser
originado pela menor quantidade de projetos publicados em Portugal. A média das
doações é em Portugal, contudo, muito inferior, de 34€, sendo a da Kickstarter de 79,6€.
As atividades mais bem-sucedidas nestas plataformas são aquelas ligadas às artes,
tanto na realidade portuguesa como na americana. A música, em particular, evidencia-se
bastante em Portugal, representando 23% de todo o valor angariado na plataforma PPL.
Por fim, concluiu-se que as motivações dos participantes focam-se na expetativa de
um retorno social, na identificação que existe entre si e o projeto e na recompensa,
sendo as campanhas com mais sucesso aquelas que se focam em objetivos sociais sem
fins lucrativos. Assim, o modelo mais popular é mesmo o modelo de crowdfunding com
recompensa, mesmo quando a recompensa é meramente simbólica ou de
reconhecimento.
Em suma, podemos afirmar que, no fundo, a tarefa do crowdfunding é juntar o
capitalismo e o altruísmo na prossecução de objetivos e, por isso e pelas provas de
crescimento e flexibilidade dadas, este pode ser um modo de financiamento alternativo
ao financiamento tradicional.
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