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Chegamos a essa conclusão a partir do estudo que fizemos sobre os mitos antigos e os sonhos

modernos, do exame do ponto de vista interno da rápida feminização da principal comunidade


religiosa, da nossa reflexão sobre as rápidas mudanças dos papéis sexuais na sociedade como
um todo e dos nossos anos de prática clínica, durante os quais nos tornamos cada vez mais
conscientes de que falta alguma coisa essencial na vida interior de muitos homens que
procuram psicoterapia. O que está faltando não é, em geral, o que muitos psicólogos supõem;
isto é, a ligação adequada com o lado feminino interior. Em muitos casos, esses homens que
vêm buscar ajuda foram, e continuam sendo, esmagados pelo feminino. O que lhes faltou foi a
ligação adequada com as energias masculinas profundas e instintivas, com o potencial da
masculinidade amadurecida. Tiveram essa ligação bloqueada pelo próprio patriarcado, e pela
crítica feminista a pouca masculinidade que ainda lhes restava. E estavam sendo bloqueados
pela falta, em suas vidas, de qualquer processo de iniciação transformador e significativo
através do qual pudessem alcançar um sentido da masculinidade. Verificamos, quando esses
homens buscavam as suas próprias vivências das estruturas masculinas através da meditação,
das orações e do que os junguianos chamam de imaginação ativa, que, conforme iam entrando
em contato cada vez maior com seus arquétipos interiores de masculinidade madura, eles se
tornavam cada vez mais capazes de abandonar os modelos patriarcais de comportamento, a
maneira de sentir e pensar que magoava a si mesmo e aos outros, e se tornavam mais
verdadeiramente fortes, centrados e produtivos em relação a si mesmo e aos outros — tanto
homens como mulheres.

Na atual crise da masculinidade, não precisamos, como dizem algumas feministas, de menos
poder masculino. Precisamos de mais. Porém amadurecido. Necessitamos de mais psicologia
do Homem. Temos que desenvolver uma noção de tranqüilidade acerca do poder masculino,
para que não precisemos atuar (act-out) de modo dominador e desautorizador em relação aos
outros. Há muita injúria e ofensa tanto do masculino quanto do feminino no patriarcado, assim
como na reação feminista. A crítica em defesa das mulheres, quando não é suficientemente
sensata, fere ainda mais uma masculinidade autêntica já acossada. É possível, na verdade, que
nunca tenha havido na história da humanidade um período de ascendência da masculinidade
(ou feminilidade) amadurecida. Não temos certeza quanto a isso. O que sabemos é que ela não
predomina atualmente.

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