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Cicloturismo como uma prática de lazer em Borda da Mata/MG, Caminho da Fé

Roberto Marin Viestel


Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Estudos do Lazer
Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional
Universidade Federal de Minas Gerais

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas


Campus Inconfidentes

Resumo
Inaugurado em 2003, o Caminho da Fé (CF) é uma rota de peregrinação de 415 km que tem
início no município de Águas da Prata, no Estado de São Paulo, atravessa nove cidades da
Mesorregião Sul/Sudoeste de Minas Gerais e finaliza no município de Aparecida, novamente
em São Paulo, onde se localiza o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida. Este trabalho
tem por objetivo apresentar como tem se dado o cicloturismo como prática de lazer no CF,
especialmente na cidade de Borda da Mata/MG, lugar onde o crescimento do cicloturismo entre
os moradores do município é visível, constituindo-se como uma das principais atividades de
lazer local.
O CF tem potencializado o cicloturismo na cidade; os finais de semana e feriados tem se
apresentado como principais momentos em que as cicloviagens têm acontecido. Os espaços
naturais estão sendo revelados e redescobertos pelos moradores, enriquecendo a cultura de
maneira geral.
Temos percebido que os peregrinos e os cicloturistas do Caminho da Fé estão sendo
compreendidos pelos cicloturistas locais e moradores, com mais tolerância e compreensão. Ao
mesmo tempo, os cicloturistas visitantes vêm conhecendo a pequena e charmosa cidade,
trazendo sua bagagem cultural e interagindo com a cultura local. A cidade, em seu perímetro
urbano e, principalmente, na zona rural, vem sendo descoberta por todos e isto tem trazido
várias questões e demandas novas para a dinâmica do lazer local, bem como toda a região do
entorno.

Palavras-chave: cicloturista; cicloviagem; peregrinação; turismo; natureza.

Abstract
Inaugurated in 2003, Caminho da Fé (CF) is a 415 km pilgrimage route that begins in the
municipality of Águas da Prata, in the state of São Paulo, traverses nine cities in the South /
Southwest Mesoregion of Minas Gerais and ends in the municipality from Aparecida, again in
São Paulo, where the National Sanctuary of Nossa Senhora Aparecida is located. This work
aims to present how cyclotourism has been taking place as a leisure practice in the CF,
especially in the city of Borda da Mata / MG, a place where the growth of cyclotourism among
residents of the municipality is visible, constituting itself as one of the main local leisure
activities.
The FC has boosted cycling tourism in the city; weekends and holidays have been presented as
the main moments in which cycle paths have taken place. The natural spaces are being revealed
and rediscovered by the residents, enriching the culture in general.
We have noticed that pilgrims and cyclists on the Caminho da Fé are being understood by local
cyclists and residents, with more tolerance and understanding. At the same time, visiting
cyclists are getting to know the small and charming city, bringing their cultural baggage and
interacting with the local culture. The city, in its urban perimeter and, mainly, in the rural area,
has been discovered by everyone and this has brought several new questions and demands to
the dynamics of the local leisure, as well as the entire surrounding region.

Keywords: cyclist; cycling; pilgrimage; tourism; nature

1. Introdução
No Brasil, desde os anos 2000, houve um aumento significativo no número de pessoas, de
diferentes partes do país, que têm se dedicado a realizar peregrinações religiosas (STEIL;
CARNEIRO, 2008). Diversos motivos são apontados para explicar esse fenômeno, como o
ideário de aperfeiçoamento pessoal; o treinamento físico para realizar o caminho em
Compostela, na Espanha; a necessidade de reviver, em terras brasileiras, a experiência vivida
em terras espanholas (STEIL, CARNEIRO, 2008); a busca pela transformação interior; o
compartilhamento da experiência em grupo (romaria) ou para fazer turismo (CALVELLI,
2006).
Inspirados no Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha, vários caminhos foram criados
no país, como o Caminho da Luz (Minas Gerais), o Caminho do Sol (São Paulo), o Caminho
das Missões (Rio Grande do Sul), o Caminho Passos de Anchieta (Espírito Santo) e o Caminho
da Fé (São Paulo e Minas Gerais). Em geral tem-se observado, nesses caminhos, um turismo
religioso (STEIL, 2003) com motivações que vão de encontro às peregrinações como
manifestação de fé e religiosidade e, ao mesmo tempo, como expressão cultural de turismo e
lazer.
O Caminho da Fé (CF), abordado neste artigo, que é parte de uma pesquisa em
desenvolvimento1, é um percurso de turismo religioso, cujo principal atrativo é o Santuário
Nacional de Nossa Senhora Aparecida. A peregrinação nesse trajeto também tem se constituído
como uma forma alternativa de religião, lazer e/ou cultura, motivações que, necessariamente,
não se excluem (CALVELLI, 2006), e que revelam que a ação de peregrinar vai, muitas vezes,
além do âmbito da religião.

1
Este trabalho é parte da pesquisa O Cicloturismo no Caminho da Fé/Porção Sul/Sudoeste de Minas Gerais,
desenvolvida em nível de doutorado no Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Estudos do Lazer, e
estabelece relações com o projeto de pesquisa Corpos, natureza e sensibilidades em perspectiva transnacional
(entre as décadas finais do século XIX e a década de 1970), financiada pelo Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Este caminho foi idealizado, em 1999, pelo Sr. Almiro Grings, morador da cidade de Águas da
Prata/SP, católico devoto de Nossa Senhora Aparecida, e que já havia percorrido o caminho
religioso de Santiago de Compostela, na Espanha (GRINGS, 2018), juntamente com os amigos
Clóvis Tavares e Iracema Tamashiro (AVENTURA & AÇÃO, 2009), como uma rota de
peregrinação brasileira.
Inaugurado em 2003 (CALVELLI, 2006), a sua construção contou com a colaboração de
prefeituras, paróquias e dioceses católicas; Fundação Banco do Brasil; Telemig Celular;
sindicatos; Jeep Club do Brasil, comércio de várias localidades; organizações não
governamentais; Associação Banco do Brasil de Ouro Fino e com a Associação dos Amigos do
Caminho da Fé – Águas da Prata do estado de São Paulo, atual administradora do CF
(MOREIRA, 2007).
Com 324 km de estradas de terra, altitude média de 1.000m e mais de 1.500km de trilhas, o CF
tem início e fim no estado de São Paulo, partindo do município de Águas da Prata e finalizando
em Aparecida. Em seu percurso passa em Minas Gerais, na mesorregião Sul/Sudoeste do Estado
(Mapa 1), que é caracterizada por terras altas, cadeias de montanhas, vales e planícies, sendo,
de maneira geral, muito acidentada. Os topos das montanhas conservam manchas de vegetação
da Mata Atlântica e abrigam uma variedade de espécies da flora e da fauna (HORTO
FLORESTAL, 2004). O clima é tropical de altitude, com chuvas bem distribuídas ao longo do
ano e temperaturas baixas, sendo excelente para a cultura do café. Destaca-se também, o
turismo gastronômico, fruto da pecuária leiteira e da produção artesanal de queijo
(FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 2003).

Mapa 1: Ramal Principal do Caminho da Fé

Fonte: https://caminhodafe.com.br/ptbr/blog/2017/02/16/ramal-aguas-da-prata-aparecida/
Nessa mesorregião há atrativos turísticos de altitude elevada onde “a ossatura rochosa da Terra”
surge (DARDEL, 2015, p.16). Em Andradas, o Pico do Gavião, com altitude de 1.679m, um
dos principais pontos para a prática de voo livre do mundo (MORAES; JIMÉNEZ-RUEDA,
2008), classificado como a 4a maior subida de Minas e a 14a no ranking nacional (CINTRA,
2016), é um verdadeiro paraíso para cicloturistas observarem a paisagem. Na cidade de
Paraisópolis, a Serra da Luminosa, com 1.725m de altitude, é a 3a maior subida de Minas e a
13a no ranking nacional (CINTRA, 2016). Suas montanhas são como mirantes privilegiados
para observação da natureza e ao mesmo tempo compõem a paisagem.
Vale destacar que a mesorregião Sul/Sudoeste de Minas Gerais abrange três microrregiões e
nove cidades, respectivamente: Poços de Caldas (Andradas, Inconfidentes e Ouro Fino), Pouso
Alegre (Borda da Mata, Estiva e Tocos do Moji) e Itajubá (Brazópolis, Consolação e
Paraisópolis) (SETUR, 2019a). Todas essas cidades, segundo a Secretaria de Estado de Turismo
de Minas Gerais (SETUR, 2019a) fazem parte dos seguintes circuitos turísticos2: Andradas
(Associação do Circuito Turístico Caminhos Gerais); Borda da Mata, Inconfidentes, Ouro Fino
(Associação do Circuito Turístico das Malhas do Sul de Minas); Brazópolis (Circuito Turístico
Caminhos da Mantiqueira); Consolação, Estiva, Paraisópolis e Tocos do Moji (Associação do
Circuito Turístico Serras Verdes do Sul de Minas) (SETUR, 2019b). Esses circuitos possuem
três grandes atrativos: o comércio de malhas, os símbolos religiosos e as paisagens naturais,
sendo estas as que mais atraem geralmente os cicloturistas (ROLDAN, 2000; CINI,
GUIMARÃES, 2017). Além disso, não há como fazer uma separação rígida entre esses
atrativos, pois de alguma maneira eles se complementam.
Considerando essa diversidade de atrativos e a riqueza cultural, paisagística e turística das
cidades por onde passa o CF; que o mesmo tem atraído mais de 40 mil peregrinos a cada ano,
sendo 52,43% deles cicloturistas (RELATÓRIO DE ATIVIDADES, 2017); estudos sobre o
CF, como Lima (2015), Moreira e Schwartz (2010), Calvelli (2009) e Moreira (2007) tratam
sobre temas variados, como relação entre a peregrinação e interfaces com o turismo, estado
emocional dos peregrinos durante uma caminhada longa, corporeidade na experiência da
peregrinação, atitudes pró-ambientais durante a caminhada, entre outros, mas que não há, nesses
estudos, foco em pessoas que fazem o percurso de bicicleta, muito menos problematização

2 “Os Circuitos Turísticos são a instância de governança regional integrados por municípios de uma mesma região
com afinidades culturais, sociais e econômicas, que se unem para organizar, desenvolver e consolidar a atividade
turística local e regional de forma sustentável, regionalizada e descentralizada, com a participação da sociedade
civil e do setor privado” (SETUR, 2019a).
sobre o cicloturismo, este trabalho tem por objetivo estudar o cicloturismo como prática de
lazer no CF, especialmente na cidade de Borda da Mata/MG.
2. O Cicloturismo e o Caminho da Fé
O termo cicloturismo foi cunhado pela primeira vez pelo francês Paul de Vivie, em 1888, e é
entendido como um conjunto de atividades que propiciam lazer, passeios curtos ou longos,
alimentação ou a circulação por rotas (FÉDÉRATION FRANÇAISE DE CYCLOTOURISME
- FFC, 2018). Vários autores mobilizam e constroem esse conceito. Para André Schetino
(2008), ele pode ser definido como qualquer viagem ou passeio turístico tendo a bicicleta como
meio de locomoção, seja só ou acompanhado. Já, para Gonçalves Júnior, Corrêa; Carmo e
Arévalo (2016), o cicloturismo é definido como uma viagem extensa ou curta e que ocorre nas
férias, finais de semana ou feriados, podendo ser tanto em regiões distantes quanto no entorno,
porém com a finalidade de conhecer pontos turísticos. Cini e Guimarães compreendem o
cicloturismo como “prática (que) ocorre por estradas vicinais, procurando fugir do trânsito
pesado das grandes rodovias, além da busca por um turismo mais sustentável” (2017, p. 9).
O cicloturismo é ainda definido por Roldan, em seu trabalho sobre Cicloturismo: planejamento
e treinamento, “como toda viagem de turismo que utiliza a bicicleta como forma principal de
transporte” (2000, p. 22); combina a paixão do ciclismo com o prazer de viajar; e está
relacionado com atividades praticadas ao ar livre e em contato com a natureza, aproximando-
se do enfoque ecológico de “conscientização da preservação do meio ambiente” (ROLDAN,
2000, p. 22). Alguns cicloturistas por ele pesquisados definiram o cicloturismo como o uso de
alforjes3 na bicicleta e a pernoite fora de casa.
Para esse autor o cicloturismo é considerado como a mais democrática das modalidades
ciclísticas ao alcance de todos. Concordamos em parte com este argumento, uma vez que se
trata de uma modalidade em que não há grandes barreiras sociais, bastando bom
condicionamento físico e determinação psicológica para percorrer pequenas e/ou grandes
distâncias; por outro lado, para participar dessa modalidade é necessário comprar uma bicicleta
de MTb resistente que no Brasil não custa menos de US$500.00 (quinhentos dólares).
Considerando que o salário mínimo brasileiro é de aproximadamente US$200.00, fica difícil
afirmar que o cicloturismo é uma modalidade democrática e acessível para todos em nosso
contexto.

3 Alforje é “duplo saco, fechado em ambas as extremidades e aberto no meio (por onde se dobra), formando duas
bolsas iguais; us. ao ombro ou na sela, para distribuir o peso dos dois lados” (HOUAISS, 2019). Na bicicleta o
alforje é utilizado preso a uma garupa de ferro, encaixado acima da roda de trás.
A partir destes diferentes autores e conceitos, o cicloturismo é compreendido neste trabalho
como o uso da bicicleta de MTb para a realizar viagens ao ar livre e em contato com a natureza,
em trajetos de distâncias diversas, aproximando-se de um turismo sustentável. Tem como uma
de suas barreiras4 às condições econômicas de quem o pratica, não sendo acessível para todos.
O CF mineiro é um lugar propício para o cicloturismo, uma vez que a maior parte de seu
percurso acontece em estradas de terra com belíssimos atrativos naturais. O contato com a
natureza, a aventura, as paisagens, o esporte e o ecoturismo estão entre as principais motivações
que levam as pessoas a percorrer o CF (CALVELLI, 2006; RELATÓRIO DE ATIVIDADES,
2017) e cada vez mais utilizando a bicicleta como meio de locomoção.
Muitos são cicloviajantes que utilizam bicicletas de montanha (MTb - Mountain Bike)
carregadas de bagagens em alforjes, dando-nos pistas de que essa atividade é importante no CF
e que precisa ser conhecida, investigada, como propõe este artigo, tendo como recorte espacial
a Mesorregião Sul/Sudoeste de Minas Gerais, na qual o CF perfaz 150 km de rota principal e
tem muitos atrativos turísticos, especialmente do patrimônio natural, devido à maior presença
de cadeias de montanhas com altitude média de 1.000m, sendo um lugar privilegiado para o
cicloturismo, uma vez que a altitude é um dos fatores que mais influencia essa prática.
Vale destacar que em uma viagem de cicloturismo as paisagens naturais destacam-se como
lugares diferenciados que dão singularidade a espaços geográficos únicos (DARDEL, 2015).
No CF/Sul de MG essa singularidade é dada particularmente pelas montanhas, um importante
atrativo para o cicloturismo. Embora haja uma divisão entre paisagem natural, que se refere aos
recursos naturais, e paisagem cultural, “entendida, assim, sempre como conjunto espacial
composto de elementos materiais construídos associados a determinadas morfologias e
dinâmicas naturais, formas estas que se vinculam a conteúdos e significados dados
socialmente”, as duas fazem parte de uma mesma realidade e estão inter-relacionadas
(PAISAGEM CULTURAL, 2019).
Para Schama, é “correto reconhecer que é [a] nossa percepção transformadora que estabelece a
diferença entre matéria bruta e paisagem” (1996, p. 20), pois nem todas as culturas abraçam a
natureza e a paisagem da mesma maneira. Para Besse (2014), as paisagens são encontros
pessoais, ou seja, o acontecimento do encontro entre o homem e o mundo que o cerca,
configurando-se como uma experiência. Para este autor, essa experiência é um encontro e uma

4 Além do fator econômico, Silva e Rosa (2011) e Romera e Poubel (2017) apontam outras barreiras que levam a
apropriação desigual do lazer, como: a distribuição do tempo disponível; as interclasses sociais, como o acesso à
escola; o sexo, sendo as mulheres as menos favorecidas por possuírem mais tarefas que os homens; a faixa etária;
o esquecimento de crianças e velhos; o fator tempo; a questão cultural quanto aos mais aptos (o preconceito),
dentro do que se entende como normalidade.
exposição ao real, como numa caminhada que, quando o corpo se cansa, torna-se disponível ao
mundo.
No cicloturismo, o corpo não só pode interagir com o ambiente, como se tornar parte dele. Um
bom exemplo é quando o cicloturista, depois de pedalar muitos quilômetros, está próximo ao
esgotamento físico e é recompensado com uma chuva que suaviza o seu cansaço. Esses
momentos são mágicos e difíceis de serem explicados em palavras textuais. Eles despertam
uma sensação de estar-no-mundo que dificilmente faz o cicloturista se sentir separado dele. A
experiência torna o cicloturista, a sua bicicleta e seu entorno paisagem.
O cicloturista tem a bicicleta como companheira de viagem (LANZILLOTTA, 2013) para
percorrer o caminho e entrar em contato com a natureza (OLIVEIRA, 2004). As montanhas
parecem ser não somente obstáculos a serem vencidos, mas também lugares de contemplação
e outras experiências. Para Dardel, “o espaço aparece essencialmente qualificado por uma
situação concreta que afeta o homem” (2015, p. 9). Inspirado nesse autor é possível afirmar
que, movidos por diferentes motivações, os cicloturistas percorrem as estradas de terra do Sul
das Gerais, alcançam o alto de uma montanha e qualificam o espaço não só a partir da
objetividade dos quilômetros percorridos ou do topo da montanha vencido, mas também por se
colocarem como um ser que é alcançado pela natureza. O homem, como afirma Dardel (2015),
coloca-se ao alcance das coisas.
A paisagem é constituída por objetos reais; elas podem despertar sentimentos nos cicloturistas
que são perceptíveis durante o esforço físico no ato de pedalar. Cicloturistas ao atingir o topo
de uma montanha, por exemplo, apresentam um estado de agitação que é comemorado com
gritos, pulos, sorrisos etc.
No cicloturismo, a paisagem é um local de interação; é como afirma Besse (2014), uma
exposição ao real. Contudo, nem sempre os seres humanos querem se confrontar com o real.
Ao longo do CF a paisagem oferece várias possibilidades de contemplação, geralmente sendo
valorizadas pelos cicloturistas em seus aspectos positivos quanto às belezas do lugar. No
entanto, nem sempre o meio ambiente é preservado, pois há agressões ambientais de várias
ordens, como a existência de sacos vazios com resíduos de agrotóxicos; resíduos sólidos, como
plásticos; e montanhas em processos erosivos.
Schama (1996) afirma que não é difícil imaginar que a humanidade interferiu e continua
interferindo em todos os sistemas naturais, sendo a cultura humana a grande responsável por
melhorar ou piorar a natureza. Se a paisagem é obra da mente humana e a sua percepção se dá
juntamente com a natureza (SCHAMA, 1996), para compreendê-la é preciso olhar para a
paisagem em todos os seus aspectos.
Entre as 56 cidades que compõem o CF, para este estudo foi escolhida a cidade de Borda da
Mata/MG com o objetivo de compreender como o cicloturismo vem ocorrendo nessa cidade,
seja no espaço urbano, seja no rural, pois se acredita que essa cidade seja um exemplo de como
o fenômeno do cicloturismo têm se apresentado no CF.

3. O cicloturismo em Borda da Mata/MG como uma prática de lazer


Borda da Mata é um município de 301,108 km2, com uma população de 17.118 habitantes,
sendo que 13.718 residem na zona urbana e 3.400 na zona rural. A estimativa para o ano de
2019 foi de 19.412 habitantes (INSTITUTO, 2010). É uma das cidades que compõe a porção
mineira do CF. Localizada a 426 km de Belo Horizonte, 226 km de São Paulo e 373 km do Rio
de Janeiro, tem atraído cicloturistas de várias regiões, principalmente do estado de São Paulo
(RELATÓRIO DE ATIVIDADES, 2017).
Mais de 14 mil residentes são católicos e aproximadamente 2 mil são evangélicos (INSTITUO,
2010). Dada a grande quantidade de fiéis que frequentam missas e cultos religiosos, pode-se
dizer que o número de cristãos praticantes é expressivo. No contexto do CF, isto confere à
cidade uma característica religiosa importante e potencializa o seu principal atrativo turístico,
a Basílica de Nossa Senhora do Carmo, ponto em que turistas e cicloturistas param para
visitação. Outro atrativo turístico de Borda da Mata é o Morro do Santo Cruzeiro, local que
permite uma vista panorâmica da cidade e abriga uma cruz de ferro com adesivos reflexivos e
iluminação noturna. Todavia, não possui sinalização turística, sendo pouco explorado por
cicloturistas visitantes ou mesmo cicloturistas locais.5 Outros atrativos têm se revelado, como,
por exemplo, a natureza do lugar, constituída entre outros elementos de serras, cachoeiras e
rios, os quais têm se constituído como locais privilegiados para o desenvolvimento do
cicloturismo e tem atraído tanto cicloturistas de fora da região quanto cicloturistas residentes
na cidade.
O movimento de bicicletas na cidade é cada vez mais presente em seu cotidiano, com
cicloturistas fazendo paradas para descansar, normalmente embaixo das belas árvores das
praças centrais6. Ao mesmo tempo, tem-se observado que o número de residentes borda-
matenses que tem adquirido bicicleta de Mountain Bike (MTb) para realizar cicloviagens vem

5
Por cicloturistas visitantes entendemos aqueles que não residem em Borda da Mata e que vem de outras cidades;
em contra partida, os cicloturistas locais são os residentes.
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Borda da Mata possui um conjunto de praças à frete e atrás da Igreja Matriz que embeleza o lugar e distribui
generosamente sombras e locais para descanso aos peregrinos e cicloturistas do Caminho da Fé.
aumentando consideravelmente. Quase que diariamente, cicloturistas locais realizam pequenas
viagens, percorrendo, em um dia, até 100 km, por exemplo.
A prática das cicloviagens na cidade e, muito provavelmente, em toda região que compõe o CF,
apresenta-se de três formas: a) o cicloturismo solo; b) o cicloturismo em grupo e c) o
cicloturismo organizado em eventos por particulares. O cicloturismo solo é realizado
individualmente. O cicloturista carrega sua própria bagagem 7 e alimentação; neste tipo de
modalidade, o cicloturista está por sua conta e risco, sem carro de apoio8, sem pontos
específicos de hidratação e, muito menos, ambulância para socorrê-lo. Esta forma de prática é
menos usual por pessoas da cidade e, quando ocorre, se dá em passeios curtos, com até 40 km,
e no máximo em até seis horas.
A prática do cicloturismo em grupo é a forma mais comum em Borda da Mata. Normalmente
os indivíduos combinam o passeio no dia anterior, estabelecendo possíveis rotas, tempo de
viagem, locais de paradas e proposta de cicloviagem em comum acordo. A natureza é o grande
elemento a ser levado em consideração para a escolha da rota.
Os cachorros na estrada são um capítulo à parte, pois os mesmos representam um grande perigo
para os cicloturistas: correm atrás das bicicletas e, não raro, mordem o condutor! Muitos sites
dedicados ao cicloturismo dão dicas para que o ciclista carregue spray de pimenta, traques
(pequenas bombinhas de pólvora) ou armas de choque, como alternativas para evitar os cães
bravos e perigosos A melhor medida, no entanto, tem sido conhecer o caminho e evitar o
contato, embora seja algo difícil de prever.
O cicloturismo de eventos é organizado por particulares, que batizam suas práticas com nomes,
como Pedal XTreme, Desafio da Onça, entre outros. Eles se configuram com rotas pré-
determinadas com lugares estratégicos para hidratação, carro de apoio para sanar problemas
mecânicos das bicicletas e ambulância de plantão para possíveis emergências. Uma taxa de
inscrição é cobrada e, na maioria das vezes, existe seguro de vida e seguro para acidentes para
os inscritos. O poder municipal limita-se a fornecer ambulância e comunicar à Polícia Militar
para fazer a escolta na zona urbana.

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A bagagem pode ser carregada em mochilas, nas costas, porém, esta forma de carregar causa muito desconforto.
As maneiras mais usuais são: a) os alforjes, bolsas que são transportadas na bagageira, encima da roda de trás da
bicicleta e, b) bikepacking, bolsas especiais que são presas embaixo do banco da bicicleta.
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Normalmente o carro de apoio é onde se carregam ferramentas para conserto das bicicletas, alimentos, primeiros
socorros para pequenos ferimentos, descanso e/ou transporte de cicloturistas. Costumam possuir, também, um
transbike, ou seja, um suporte para que a bicicleta seja presa no carro e transportada com segurança.
O cicloturismo tem sido muito praticado em Borda da Mata pelos cicloturistas locais9,
principalmente após a inauguração do Caminho da Fé, como uma importante opção de lazer.
Nos últimos anos, ele tem crescido na cidade graças à formação de grupos sociais virtuais, via
aplicativos de celular, que têm colocado pessoas em contato para a organização e realização de
cicloviagens. Em alguns desses grupos o número de participantes é expressivo, tendo mais de
150 integrantes, sendo que a maioria ainda é de adultos e homens. As principais motivações
desses grupos tem sido a aventura em realizar pequenas cicloviagens, o desejo de conhecer
novos lugares e o turismo a ser explorado, configurando-se como uma importante opção e
prática de lazer.
O cicloturismo vai de encontro ao entendimento de lazer de Gomes (2004), em que o lazer é
uma dimensão da cultura dos homens e é construído socialmente inter-relacionado nos
seguintes elementos: a) atitude, b) espaço-lugar, c) tempo e d) manifestações culturais. Desta
maneira, a) a atitude ou as ações que tomamos, baseiam-se no elemento lúdico, ou seja, em uma
expressão humana com significados culturais que possuem como referência o brincar consigo
mesmo, com a realidade e com outros; b) o espaço-lugar, que não significa necessariamente o
espaço físico, mas, antes, um “local” - um “lugar” – de encontro onde os indivíduos (sujeitos)
o transformam como ponto de encontro para o convívio social; c) o tempo, entendido como o
momento aproveitado, não necessariamente o tempo institucionalizado do lazer (como finais
de semana etc.); e, d) as manifestações culturais, vividas em relação à cultura como
possibilidade de desenvolvimento, descanso ou diversão.
Ao analisar o cicloturismo em Borda da Mata, identifica-se a dimensão da atitude no ato de
pedalar que evoca o elemento lúdico; isto é observado quando os grupos de cicloturistas
encontram-se para realizar uma cicloviagem; momento em que adultos parecem crianças:
brincam, fazem chacotas inocentes e se divertem em sorrisos sem fim. Quanto ao espaço-lugar,
observa-se que há dois principais lugares de encontros para o cicloturismo, sendo eles a praça
central, onde se localiza a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Carmo, e uma avenida da cidade,
onde se localiza um pequeno quiosque. O tempo, por sua vez, é construído de acordo com as
disponibilidades de cada praticante e a diversão parece motivar o ato do cicloturismo. Assim,
em uma conversa com o “Baiano”, um dos organizadores de eventos do grupo de cicloturismo
Pedal X-Treme de Cicloturismo, este ressalta a sua concepção de cicloturismo na organização

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Observamos que os cicloturistas locais predominantemente utilizam as bicicletas de Mountain bike (MTb) ou
bicicletas de montanha para o cicloturismo. Trata-se de bicicletas próprias para transitar em diversos terrenos,
tanto para asfalto, quanto para terra e são, também, bicicletas que possuem suspensão completa com amortecedores
resistentes, o que lhes permitem circular em terrenos sinuosos em grandes velocidades (SIDWELLS, 2012).
do grupo que coordena junto com o parceiro Dayvid, como a “liberdade em estar mais próximos
da natureza, vivenciando um clima de amizade e união entre os participantes... levando pra casa
medalha de participação e a lembranças; as fotos de recordações dos momentos que ali se
passaram naquele dia ...”.
Quanto à relação com a cultura, embora não seja uma regra, é interessante observar que os
nomes dos eventos têm relação com a maneira com que o cicloturismo é pensado, sendo assim,
os organizadores do evento Pedal X-Treme ofertam passeios de cicloturismo em níveis
diferentes, dando a opção do cicloturismo iniciante com roteiros curtos de distância entre 20 e
30km e altimetria relativamente baixa, até 600m; intermediário, com distância acima de 40km
e altimetria média entre 600m e 1.000m; e, por fim, avançado, acima de 40km e acima de
1.000m. No caso do nome X-Treme, o sentido dado é em relação ao nível avançado, uma vez
que os “brutos ou cavalos”, como são chamados os ciclistas experientes e com alto poder de
força, desafiam as montanhas em uma competição silenciosa para ver quem consegue chegar
primeiro.
O Desafio da Onça, organizado por Ramirez Sousa Medeiros (Pizi), é outro evento de
cicloturismo e competição que tem uma característica peculiar em sua história de formação e
que nos revela o contato do cicloturismo com a natureza. No dia 30 de junho de 2016, uma onça
suçuarana (indivíduo adulto) foi capturada pelo Corpo de Bombeiros de Minas Gerais,
juntamente com a Polícia Militar do Meio Ambiente (PMMA) e o Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente (IBAMA), em um campo de futebol no Bairro São Benedito, em Borda da Mata
(EPTV – SUL DE MINAS, 2016). Dizer que a cidade parou para ver a captura da onça seria
um exagero, contudo, o cotidiano do entorno ficou em estado de excitação para ver o desfecho
da história com o felino. A partir deste episódio organizou-se o cicloturismo Desafio da Onça,
um passeio onde supostamente mora a suçuarana. A primeira edição foi oferecida em 2017, em
Borda da Mata; já, a segunda, foi em 2018, nas cidades de Bueno Brandão e Bom Repouso o
percurso médio foi de 30 km com altimetria acima de 700m.
O episódio da onça expandiu os locais do cicloturismo, demonstrando que a natureza selvagem
povoa a imaginação dos cicloturistas, causando-lhes um estado de agitação. Essas três formas
de praticar o cicloturismo possuem características comuns, como, por exemplo, o horário de
saída para a viagem. Embora algumas pessoas prefiram pedalar ao final do dia, pelo fato do sol
estar mais ameno, observa-se que as primeiras horas da manhã são as preferidas para se praticar
o cicloturismo. Assim, as saídas das cicloviagens acabam acontecendo entre as 6 e 7 horas da
manhã. Mas não é somente o sol e o calor que influenciam o horário das saídas matinais, pois
há também a necessidade de tempo para a prática, considerando que há os trabalhadores que
começam a labuta às 9 horas da manhã. O tempo disponível é para o cicloturista um tempo
possível de ocorrência do lazer. Segundo Marcelino (1987), tempo algum é realmente livre de
normas sociais, condutas e coações. Ou seja, no cicloturismo, essas variáveis também estão
presentes e influenciam as práticas.
Observa-se que o cicloturista enfrenta muitas vezes conflitos sociais que nascem, em primeiro
lugar, em seu convívio social, como, por exemplo, na família. Como as saídas para o
cicloturismo são nas primeiras horas da manhã inicia-se uma incompatibilidade de tempo entre
o cicloturista e os não-cicloturistas, como esposa, mãe, filhos etc. Para que se possa estar pronto
para uma cicloviagem leve, de até 6h de duração, com 50 km de percurso e elevação de
altimetria de 600m, em um dia perfeito, ou seja, sem chuva e com sol suportável, com saída
programada para as 6 horas da manhã, é necessário acordar mais cedo em relação ao horário
programado de partida (geralmente levantar uma hora e meia a duas horas antes de realizar a
atividade), a fim de deixar o corpo e os equipamentos preparados para a atividade física,
sobretudo no CF, onde a altitude é generosa. Isso implica alterações, por vezes, na rotina
familiar.
A rotina não é simples e os cuidados são muitos. Antes de iniciar a prática, o corpo, como
recomendado por profissionais de educação física, deve ser alongado, uma vez que será exigido
dele muito movimento ao longo do ato de pedalar ou fazer um pedal, como se diz na gíria dos
cicloturistas; além disso, é necessária uma boa alimentação, que não deve ser nem leve e nem
pesada, com um café da manhã diversificado, com pão, manteiga, leite, frutas etc.
Antes de subir na bicicleta, o equipamento deve passar por supervisão, verificando freios,
suspensão, câmbio, estrutura da bicicleta, pedais, manetes, ferramentas a serem carregadas e
etc. Por fim, qual a melhor vestimenta a utilizar, verificando em sites de previsão meteorológica
se está previsto chuva, frio, sol intenso e etc. Não se esquecer de levar água para hidratação
constante e nem tampouco à alimentação que será consumida (via de regras as pessoas levam
bananas, para evitar as câimbras, ou barras de cereal). Independente se o dia será de pouco ou
muito sol, o uso de protetor solar meia hora antes de sair para a atividade física é indispensável.
Além disso, é necessário avisar aos entes queridos à sua volta que irá realizar o passeio x, com
pessoas y, no local w, pois, em caso de acidentes eles devem estar informados.
Tudo verificado, entre o café da manhã, alongamento e equipamento, gastam-se, pelo menos,
uma hora e meia. A depender do organismo de cada um, uma visita ao banheiro para as
necessidades básicas, antes de pedalar, pode fazer toda a diferença no momento do pedal.
Assim, se a saída está marcada para as 6h da manhã, o indivíduo deve se levantar pelo menos
às 4h30, para ter 1h30 de preparação. Considerando que em média, variando de indivíduo para
indivíduo, uma boa noite de sono deve consumir entre 6 e 8 horas, o cicloturista deverá se
recolher, no máximo, às 22 horas.
Ora, todo este movimento de uma cicloviagem mexe com o cotidiano de quem pratica o
cicloturismo, bem como o seu entorno social. O cicloturista terá de negociar socialmente com
os não-cicloturistas o seu tempo disponível para a prática desse lazer. Não é raro ouvir dos
cicloturistas de Borda da Mata que a esposa, o marido, a namorada, o namorado, a família,
enfim, o entorno social, comece a questionar a conduta de quem tem o cicloturismo como lazer,
acusando o cicloturista de não se importar com a família ou com os que estão à sua volta. As
normas sociais, então, são colocadas em xeque pelo cicloturista que passa a não se reconhecer,
por exemplo, no mundo de compromissos sociais, como festas, batizados etc. Ir a uma festa em
um dia anterior a uma viagem de cicloturismo tem de ser algo muito bem calculado, uma vez
que dormir tarde e consumir bebida alcoólica pode colocar o lazer a perder.
Simmel (1983), refletindo sobre a sociedade, afirma, por exemplo, que surgem novas formas e
modos de como os atores sociais comportam-se (uma interação que ele chama de sociação);
isto leva a disputas junto aos indivíduos, o que, segundo o autor, é um fator positivo, pois
libertaria a consciência do ator social. Fazendo um paralelo com o cicloturismo, não dá para
deixar de pensar que a vida social no cicloturismo é afetada na prática e os conflitos no entorno
social são iminentes.
O cicloturismo pode ser entendido, então, como um indicador que evidencia condutas, normas
e coações da vida social. Em Borda da Mata, ele mexe com as interações sociais. Mas, não se
trata de um cicloturismo qualquer, mas o realizado no Caminho da Fé ou, como dizem, “na
porta de nossa casa!”.
A rota principal do CF é muito utilizada por cicloturistas borda-matenses, principalmente nos
trechos de Ouro Fino, Borda da Mata e Tocos do Moji, nos finais de semana e feriados, em que
o lazer é uma possibilidade. Isto vai de encontro à pesquisa realizada por Stoppa e Isayama
(2017) sobre o lazer no Brasil, em que se indagou aos entrevistados, entre outras questões, sobre
os interesses culturais do lazer durante o fim de semana. Conforme os resultados apresentados,
as atividades físico-esportivas e de turismo apareceram em terceiro e quarto lugar,
respectivamente, o que vai de encontro como o cicloturismo borda-matense, que é mobilizado
também por esses dois interesses. Todavia, curiosamente não é somente nos finais de semana
que isto se dá, pois quase diariamente cicloturistas locais realizam pequenas cicloviagens, o que
parece estar relacionado com o fato da cidade fazer parte do Caminho da Fé.
O lazer experimentado e vivenciado, seja pela fé, espiritualidade, exercício ou qualquer outro
motivo, ganha significados no cicloturismo, possibilitando encontros e elementos culturais e a
construção de novos entendimentos de interações sociais.

4. Considerações finais
O cicloturismo vem acontecendo silenciosa e intensamente na cidade de Borda da Mata/MG,
sobretudo o cicloturismo local, seja solo ou de grupo.
O Caminho da Fé, desde que foi criado em 2003, tem potencializado o cicloturismo na cidade.
Observa-se que o número de pessoas que tem adotado a bicicleta como meio de transporte para
cicloviagens é relevante, pois mais de 150 pessoas têm se dedicado a essa atividade. Os finais
de semana e feriados tem se apresentado como principais momentos em que as cicloviagens
têm acontecido.
O cicloturismo tem se mostrado como uma opção de lazer cada vez mais presente na cidade.
Os espaços naturais têm sido revelados (redescobertos), enriquecendo a cultura; os peregrinos
e os cicloturistas de fora da região passam a ser compreendidos pelos cicloturistas locais, bem
como os moradores que têm se relacionado melhor com o cicloturismo e o ciclismo em geral,
exercendo o exercício da tolerância.
Quanto aos cicloturistas visitantes, muitos vêm conhecendo a pequena e charmosa cidade de
Borda da Mata, trazendo sua bagagem cultural e interagindo com a cultura local. A cidade, em
seu perímetro urbano e, principalmente, na zona rural, vem sendo descoberta por eles e isto tem
trazido várias questões e demandas novas para a dinâmica do lazer local, bem como toda a
região do entorno. Esse processo vem provocando mudanças nas formas como os moradores
enxergam as bicicletas e seus condutores, tornando-os mais receptivos.
Como limites, este trabalho, que esta em desenvolvimento, não estabelece relações do
cicloturismo em diferentes cidades do CF. No âmbito de Borda da Mata, não tematiza possíveis
impactos negativos dessa atividade.
O cicloturismo, uma prática de lazer, em uma cidade sul-mineira é uma experiência única.
Quem disse que Minas não tem mar estava equivocado, Minas tem mares de morros, cujas
ondas podem ser surfadas em duas rodas sobre suas cristas.

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