Você está na página 1de 102

IMPV Vida Missionária

Sumário

Lição No 1 – Quem é Uma Pessoa Chamada?.........................................................................14


O Chamado...........................................................................................................................14
Qual é a Duração do Nosso Chamado?.................................................................................16
Chamado Falso – Motivos Errados.......................................................................................17
Não Chamado, mas Disponível.............................................................................................17
Lição No 2 – Qualificações Para o Missionário.......................................................................18
Qualificações.........................................................................................................................18
Cultivar o Relacionamento Pessoal com Deus......................................................................19
Prepara para sofrimento........................................................................................................19
Artigo: “Missionário: Maluco, mártir, mendigo ou o que?....................................................20
Lição No 3 – A Contribuição da Igreja, Escola e Agência.....................................................23
O Papel da Igreja...................................................................................................................23
Fase de Preparação do Candidato..........................................................................................23
Apoio da Igreja ao Missionário que Está no Campo Transcultural........................................24
Treinamento Formal (Como IMPV)......................................................................................24
Treinamento Não-formal.......................................................................................................24
A Função das Agências Missionárias....................................................................................25
Gráfico para somar as funções da igreja, escola e agência em relação de missionários.........26
Artigo: Igreja Local e o Envio de Missionários.....................................................................27
Lição No 4 – Desenvolvendo Seu Projeto Inicial.....................................................................32
Primeiro Passo – Planejamento.............................................................................................32
Segundo Passo – Pesquisar....................................................................................................32
Terceiro Passo – Montando seu projeto.................................................................................33
Lição No 5 – O Sustento Financeiro........................................................................................35
A Filosofia do Sustento Financeiro.......................................................................................35
Falta de sustento....................................................................................................................39
O que a Bíblia diz sobre levantar recursos para a obra de Deus?..........................................39
Entendendo os que contribuam.............................................................................................40
Sustento recebido de indivíduos............................................................................................41
Lição No 6 – Mantendo Contato entre o Missionário e a Retaguarda..................................43
Ideias Práticas para Fortalecer o Relacionamento com Mantenedores..................................43
Idéias Práticas para Cartas Circulares...................................................................................45
Carta de Apelo......................................................................................................................46
Dicas sobre o Uso de E-mail.................................................................................................46
Dicas sobre apresentações em igrejas....................................................................................46
Dicas Importantes para fazer uma boa apresentação ministerial...........................................47
Lição No 7 – Preparando Para Ir.............................................................................................49
Preparos Antes de Sair Para o Campo Missionário...............................................................49
Necessidades Imediatas ao Chegar ao Campo.......................................................................50
Dicas para Novos Missionários.............................................................................................51
Prioridades para o primeiro ano............................................................................................52
Definição e delimitação de suas tarefas.................................................................................52
Lição No 8 – Análises de Valores Culturais............................................................................54
Tensões na Questão do Tempo..............................................................................................54
Uma Perspectiva Bíblica com Respeito ao Tempo................................................................55

-1-
Tensões Sobre Objetivos.......................................................................................................55
Tensões no Gerenciamento de Crises....................................................................................56
Promover a União no Contexto Multicultural.......................................................................56
Análise de valores e atitudes culturais...................................................................................57
Lição No 9 – Adaptação e Integração no Campo Missionário...............................................60
Aprendizagem da Língua......................................................................................................60
Aprendizagem da Cultura......................................................................................................63
Leitura sobre o Princípio e a Prática da Encarnação..............................................................64
Lição No 10 – O Choque Cultural – Sua Vulnerabilidade.....................................................67
O Choque Cultural................................................................................................................67
Sintomas de Choque Cultural e Ansiedade............................................................................68
Benção do Choque Cultural..................................................................................................68
Artigo: Adaptação Cultural...................................................................................................69
Reconhecer Sua Vulnerabilidade: Quando é Certo Correr Riscos?.......................................71
Lição No 11 – Expectativas e Estafa; Mantendo a Saúde Espiritual, Emocional e Física. . .72
Expectativas e Estafa.............................................................................................................72
A vida a Sós com Deus.........................................................................................................73
Buscar a Saúde Emocional....................................................................................................73
Buscar a Saúde Mental e Física.............................................................................................75
Escala para Avaliar o Nível de Estresse................................................................................75
Lição No 12 – Manutenção Espiritual.....................................................................................77
Nossa Manutenção................................................................................................................77
Nossa Comissão....................................................................................................................77
Nosso Oponente....................................................................................................................78
Nossas Armas........................................................................................................................79
Lição No 13 – Relacionamentos no Campo.............................................................................80
Família..................................................................................................................................80
Missionários (as) Solteiros (as).............................................................................................83
Colegas Missionários Brasileiros..........................................................................................85
O Perigo da Formação do Gueto Missionário/Estrangeiro....................................................85
Colegas Missionários de Outras Nacionalidades...................................................................85
Com Colegas Nacionais (do país onde servimos)..................................................................86
Com as Igrejas Nacionais......................................................................................................86
Com o Povo não Cristão........................................................................................................87
Como Desenvolver Bons Relacionamentos no Contexto Transcultural................................87
Tome Cuidado com Algumas Características Pessoais.........................................................87
Faltas dos Missionários que Dificultam um Companheirismo Eficiente...............................88
Lição No 14 – Problemas Comuns e Resolvendo Conflitos....................................................92
Conflitos Dentro de uma Equipe Missionária Multicultural..................................................92
Resolvendo Problemas Interpessoais em Geral.....................................................................92
Identificando o Problema Verdadeiro....................................................................................92
Atitudes e Ações Corretas em Solucionar Problemas............................................................92
Confrontando Problemas com a Liderança Nacional............................................................93
Dificuldades Relacionadas com a Cultura.............................................................................94
Princípios Para Resolver Conflitos Transculturais................................................................94
Lição No 15 – Voltando do Campo..........................................................................................95
As Visitas à Pátria, e Férias...................................................................................................95
Aposentadoria/ Volta do Campo...........................................................................................95
Preparando-nos para a Saída do Campo................................................................................96

-2-
Uma Avaliação Pessoal.........................................................................................................96
Preparando-nos para a Reintegração em Casa.......................................................................97
Como a Igreja/Agência Pode/Deve Ajudar?..........................................................................98
REFERÊNCIAS.....................................................................................................................101
Anexo – Treinamento prático................................................................................................103
Habilidades.........................................................................................................................103
Equipamento.......................................................................................................................103
Artigo: Reparos -- O que ter na caixa de ferramentas em casa?.........................................103
Essenciais............................................................................................................................103
Desejáveis...........................................................................................................................104
Organização........................................................................................................................105
Prepara para o inesperado....................................................................................................105
25 Dicas para uma mudança organizada.............................................................................105
Servindo como um modelo..................................................................................................108
Estilo de Vida......................................................................................................................108
Hospitalidade......................................................................................................................109
Dicas de como ser um bom hóspede...................................................................................111

-3-
Lição No 1 – Quem é Uma Pessoa Chamada?
O Chamado

Não existe chamado a Cristo para a salvação, sem chamado para o discipulado, para o serviço,
para a renúncia por amor a Cristo, em resposta grata ao Senhor que sendo rico, santo, glorioso
por amor de nós se fez pobre, vulnerável, pecado (Lucas 9.23; Filipenses 2.5-8). Nesse sentido o
missionário não é diferente de qualquer outro cristão. O Espírito Santo foi dado à igreja, e a
todo cristão verdadeiro para nos fazer testemunhas de Jesus Cristo (Atos 1.8). Então, o que há
de especial no chamado missionário? Como posso saber se eu fui chamado, se outra pessoa foi
chamada?

Até certo ponto se trata de uma experiência subjetiva, no sentido de ser intensamente pessoal, e
íntima. Por outro lado precisa de confirmação objetiva, deve haver outros que reconhecem e
apóiam esse chamado. A pessoa vocacionada já deve estar produzindo frutos que confirmam
essa vocação.

Como a Bíblia nos ajuda saber se tenho um chamado?

Em primeiro lugar, a Bíblia mostra que não há dois chamados iguais, cada pessoa foi chamada
de uma maneira especial, mas todos os chamados de Deus eram reconhecidos pelos fiéis e
obedientes:

 Abraão foi chamado a abandonar sua família, sua terra e a peregrinar em terra
desconhecida;
 Moisés foi chamado quando não mais o desejava, e quando se sentia menos capacitado
e apesar de ter sido rejeitado pelo povo quando tentou ajudar;
 Davi, quando não pensava em nada além de sua tarefa de cuidar das ovelhas do pai;
 Samuel, quando era menino pequeno, consagrado pela mãe;
 Jeremias, como jovem sensível e tímido;
 Isaías como pessoa marcada pela visão da glória de Deus;
 Neemias porque foi sensibilizado com o sofrimento do seu povo, foi chamado a deixar
o luxo e conforto da corte e a se identificar com um povo que vivia em circunstâncias
simples, difíceis, e muita insegurança;
 Amós foi tirado de sua labuta no campo para levar a palavra de Deus ao povo que vivia
em rebelião contra o Senhor, adorando ídolos e cometendo injustiças sociais;
 Jonas, que não tinha o menor interesse na salvação dos assírios, é enviado e usado por
Deus para salvar a cidade que quer ver destruída;
 Pedro, quando reconheceu ser um pecador indigno, e Deus vai quebrando sua
inconstância e seus preconceitos e torna-o um instrumento para a salvação de muitos;
 Mateus, trabalhando na desprezada coletoria, foi chamado pessoalmente por Jesus;
 Paulo, em plena tarefa de perseguir a igreja... Paulo o judeu extremamente zeloso e
defensor das suas tradições torna-se o instrumento de Deus para escancarar a porta da
salvação para os gentios.

O que havia em comum é que uma vez chamados, esses homens de Deus não podiam se calar e
continuar seus caminhos como se nada tivesse acontecido.

Nem todo o chamado é para missões transculturais, mas toda igreja deve comprometer-se com
essa tarefa que Jesus lhe transmitiu. Isso faz parte da própria natureza e propósito básico da
Igreja. E toda pessoa chamada deve ter o apoio e a confirmação da sua igreja, de líderes cristãos
amadurecidos. Caso sua igreja não tenha ainda visão missionária, você pode ser um instrumento
para despertá-la e haverá outros líderes que reconhecerão o seu chamado (Veja o caso de

-4-
Barnabé, enviado pela igreja de Jerusalém; e Paulo e Barnabé, enviados pela igreja de
Antioquia).
(VAN DER MEER, 2004, p. 6-7)

No seu livro, On Being a Missionary, Thomas Hale sugere que o nosso chamado geral vem das
Escrituras — O chamado de todos os crentes é de seguir e obedecer a Cristo. Ele sente que o
nosso chamado específico vem do Espírito Santo. Muitas vezes o Espírito Santo usa as
Escrituras para confirmar e refinar o nosso chamado específico. O chamado pode vir através de
um sonho ou visão como a visão do apóstolo Paulo do homem da Macedônia. O nosso
chamado pode ser uma convicção gradual que Deus está nos chamando para um propósito
específico.

O chamado vem por meio da leitura da Palavra de Deus e motivação do Espírito Santo. O
chamado é confirmado por Deus com um senso de paz.

Obediência

Uma pessoa chamada por Deus não vive em paz enquanto não obedece a esse chamado, e
sentirá alegria e satisfação na obediência, recebendo o amor e a compaixão de Deus pelo povo
a quem deve servir. Estará disposta a abrir mão de vários projetos/ambições pessoais para
colocar a obediência ao chamado em primeiro lugar. Isso não significa que imediatamente seus
problemas, fraquezas e ambições são eliminadas. Como todos os demais cristãos ele também é
influenciado pela sua cultura e contexto, e precisará de muita graça e paciência de Deus para
aprender a desenvolver as atitudes mais próprias (veja a preparação de Pedro para sua visita a
Cornélio).

O chamado para servir a Deus através da nossa profissão é tão válido e espiritual quanto o de
deslocar-se a outras terras. Enquanto há cidades com excesso de profissionais no Brasil, há
outros lugares com grande carência. Por que não nos oferecemos a ir aos interiores carentes de
nossa terra?

Qual tipo de ministério?

Algumas correntes de pensamento dizem que o importante é saber para qual ministério você foi
chamado, você precisa verificar seus dons, seu treinamento, etc. e então definir onde poderá
melhor servir. Tem muito de verdade nisso. Nem toda a pessoa tem as qualificações e dons
apropriados para todo o tipo de ministério, Deus deu capacitações diferenciadas para os
membros do corpo. Normalmente um chamado missionário não é para começar a fazer aquilo
que nunca fez, mas para fazer aquilo que já está fazendo em outro contexto específico. Por outro
lado, há um perigo de ser muito rígido nessa concepção, de chegar ao campo e de não estar
disponível para fazer aquilo que é necessário, que se espera de nós, porque somos especialistas
em nossa própria área. Uma das qualificações importantes para o campo é a flexibilidade.

Onde?

Outros enfatizam muito a questão do local do chamado. O missionário em treinamento deve


saber para onde foi chamado, se não nem teria chamado. Alguns imaginam um lugar porque não
aguentam a pressão de ser alguém que não sabe; outros sofrem agonias tentando saber e decidir.
Eu creio que em muitos casos Deus dirige o vocacionado para um determinado local, mas essa
direção vem na hora que Ele achar conveniente. O importante é estar disponível, e andar de
acordo com a luz que já recebemos. E buscar informações sobre campos, agências,
possibilidades e necessidades, num processo de oração e confiança. Na hora certa o missionário
poderá tomar sua decisão com toda a confiança.

-5-
Alguns podem sentir a vocação como ameaça. “Se eu colocar minha vida à disposição de Deus,
Ele vai querer que eu me case com uma pessoa santa, mas sem graça, ou pior, vai querer que
eu não me case... Vai me levar a um lugar que eu detesto... Vai me obrigar a abandonar a
profissão que amo...” São pensamentos muito injustos. Será que Deus merece essa
desconfiança? Ele não é em primeiro lugar nosso Pai, e nós seus filhos amados? O Pai celestial
pode permitir o sofrimento (por um tempo limitado por Ele) na vida dos seus filhos para
santificá-los, e aproximá-los de si, para que resulte em maior glória para Seu Nome e na
conversão de mais pessoas. Mas certamente não nos quer ver frustrados. Ele não é também
nosso Criador, que nos fez de determinada maneira, para um determinado propósito, e com
certeza sentirá satisfação em nos ver desenvolver os talentos que Ele mesmo nos deu? Não é Ele
que nos dá os dons para o serviço? É justamente quando nós confiamos sem reservas nas mãos
do Senhor que descobrimos que Ele é fiel e bom, e encontramos uma satisfação e alegria que
nenhuma projeção social ou prosperidade material jamais podem oferecer.

E mais importante do que buscar nossa satisfação pessoal é o nosso compromisso sincero com o
Senhor que pagou um preço tão alto para fazer-nos seus, e para comprar para si pessoas de toda
tribo, língua, povo e nação (ver Gálatas 2.20). Ele é quem merece toda honra, glória, e
obediência irrestrita... Os pagãos procuram usar seus deuses para satisfazer seus desejos e
ambições pessoais e sem perceber vão se tornando escravos dos espíritos das trevas. Nós fomos
feitos realmente livres, não para seguir as inclinações de nossa carne, mas para servir a nosso
Senhor, de coração.
(VAN DER MEER, 2004, p. 7-8)

Cumprindo somente aquilo que Deus está pedindo para fazer

Uma “necessidade” no campo missionário não constitui um chamado. Só porque há uma


necessidade, não quer dizer que você tem que cumprir a mesma. Do outro lado, entendendo as
necessidades que existem no campo pode lhe ajudar a direcionar seu trabalho. Deus não vai nos
mandar para um local onde não há necessidades!

As necessidades num campo podem ser gigantescas. Deus nos chama para cumprir somente
parte delas. Temos que sentir afirmação do Espírito Santo que as necessidades que vamos
cumprir são aquelas que Deus está pedindo para nós fazermos.

Deus confirma a sua vontade com um senso de paz que transcende os nossos sentimentos
(Filipenses 4.7). Os nossos sentimentos podem ser como andar numa montanha russa, mas o
chamado de Deus não varia. Faça essas perguntas: O que Ele já falou para você? Como o seu
chamado foi confirmado? Segure nas verdades básicas (Filipenses 1.6) – Deus vai completar a
obra que começou em você. Muitas circunstâncias e pessoas vão testar o seu chamado, segure-
se na Rocha.

Qual é a Duração do Nosso Chamado?

Não precisamos nos comprometer a um campo missionário para toda a vida. Nosso
compromisso para vida toda é com Jesus Cristo. Do mesmo modo que Deus chama, Ele também
vai mostrar quanto tempo devemos permanecer num local e quando devemos seguir para outro.

Devemos estar dispostos a ouvir o chamado de Deus. Deus fala através de crentes maduros,
pastores e liderança na igreja. Podemos participar de estágios missionários, e de oportunidades
missionários de curto prazo para ver onde Deus está trabalhando para sentir se Ele está nos
chamando para unir-nos ao trabalho d’Ele naquele local. (O PV oferece várias oportunidades
através dos estágios e ministérios de fim de semana).

-6-
Chamado Falso – Motivos Errados

 Desejo de cumprir expectativas de outras pessoas para a sua vida;


 Desejo de cumprir suas próprias expectativas para provar o seu valor;
 Desejo de mudar de circunstância ou local – Insatisfeito com a circunstância ou local
atual;
 Desejo de ganhar favor de Deus;
 Sentimento de culpa – Culpa de que se tem muito, enquanto outros têm muito pouco;
 Emocional – Você se sente chamado por causa de um apelo emocional às necessidades
de um campo pelos quais sente compaixão;
 Romantismo – Você acha que seria muito romântico morar num lugar “exótico” com
um povo “primitivo”.
(HALE, p. 17-26)

Não Chamado, mas Disponível

Têm pessoas servindo em missões que não necessariamente tinham uma experiência clara de
chamado. Um exemplo é Dr. Dick Hillis, fundador da Overseas Crusades International (Sepal
no Brasil) e missionário por 18 anos na China. Ele disse:

“Eu nunca fui chamado para a China [...] Deus me deu o dom de ensino. Seu chamado é aquilo
que você tem que ser, e que é determinado pelo seu dom. Seu chamado nunca muda: sua direção
pode mudar. Se você está preocupado quanto ao seu chamado, é tempo de se preocupar com o
seu dom.”

Oswaldo Prado fez esta observação:

Fazendo parte da Igreja Evangélica Brasileira, temos consciência que somos muitas vezes
dirigidos pela emoção e pelas experiências que passamos. Desta forma, nunca passaria pela
nossa cabeça alguém de nossa igreja achar-se vocacionado para missões sem ter passado por
uma forte ‘experiência de chamado’.

Quando desejamos reconhecer novas vocações junto à igreja que pastoreamos ou lideramos,
seria interessante estarmos abertos para tipos de situações não muito usuais entre nós. Sempre é
bom lembrar que o nosso Deus trabalha de maneira incomum e precisamos estar abertos para as
surpresas que Ele nos proporciona.

O pastor e os líderes de missões devem estar atentos aos que estão bem convictos de seus dons e
que se sentiriam bem mais confortáveis sendo enviados para onde o Evangelho ainda não
chegou. Estas pessoas não nos dirão que receberam um chamado, como normalmente
gostaríamos. Simplesmente compreenderão que poderão ser úteis usando seus dons espirituais
em algum local onde o Evangelho não foi pregado e a Igreja de Jesus ainda não foi plantada.
(PRADO, 2001, p. 55, 56)

“JAMAIS TIVE UM CHAMADO. LI UMA ORDEM E OBEDECI”.


(Sophia Muller)

-7-
Lição No 2 – Qualificações Para o Missionário
Qualificações

1. A qualificação essencial é que sejamos marcados pela presença de Jesus em nossas


vidas, que as pessoas reconheçam em nós o seu amor, sua graça, sua verdade.

A Bíblica tem pouco dizer sobre métodos missionários e muita ênfase na intimidade
com Deus. Que Deus nos dê esse coração de procurar desenvolver a intimidade com
Ele, muito mais do que a eficiência ou a quantidade de nossas obras feitas para Ele
(Marcos 3.13-15; João 4.23; Êxodo 34.1-9).

2. Perseverança: (Mateus 24.13, 14 “Mas aquele que perseverar até o fim será salvo. E
este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo como testemunho a todas as
nações, e então virá o fim”).

Hoje surgiu uma teologia capitalista, com lucro fácil, pagando o menos possível, em
menos tempo. Combina com o espírito da época, mas não é bíblico. A cultura atual é
imediatista, triunfalista, contrária ao conceito bíblico de perseverança.

3. Firmeza: Estar pronto para enfrentar indiferença, rejeição, desaforos, desconfiança e


permanecer inabalável. O que não significa inflexibilidade, indisposição a ouvir aqueles
que discordam de nós, que pensam de maneira diferente... Missionários têm uma
teimosia própria e aceitável, no que concerne a obra que lhes foi confiada, mas também
às vezes uma teimosia imprópria, por falta de flexibilidade...

4. Flexibilidade: Aceitar o desafio de adaptar-se à cultura do povo a quem vamos servir,


bem como à cultura da igreja que encontraremos no campo, e que será diferente da
nossa. Isso não significa aceitar todas as coisas sem atitude crítica, mas que seja uma
atitude crítica baseada no amor, no respeito e na justiça.

5. Maturidade: Evidenciar maturidade espiritual e emocional para vencer as crises e o


desânimo. Isso não significa que nos tornamos invulneráveis. Reconhecemos nossos
limites, nossas fraquezas, assim como nossos dons e qualidades, buscando em Deus
nossa força e suficiência, aceitando a ajuda de outros e estando disponíveis para ajudar
ao irmão/irmã que estiver precisando de alguém para lhe ouvir, compreender e apoiar.

6. Humildade: Aceitar correção, ajuda, reconhecer falhas, trabalhar harmoniosamente em


equipe e submeter-se à liderança - tanto da missão, como dos líderes no campo.
Lembre-se que você é hóspede. Não significa aceitar acusações injustas, mas refutá-las
com amor e paciência, procurando compreender a outra pessoa.

7. Fé: Crer que o Senhor está na frente, realizando Sua obra. Haverá muita batalha, mas a
vitória já foi ganha por Ele. É preciso ter a mesma fibra de fé e coragem dos pais na fé
em Hebreus 11. Todo o poder do inimigo e todas as suas estratégias não podem
impedir que a obra avance, que qualquer pecador seja salvo, que qualquer povo se
liberte das trevas.
(VAN DER MEER, 2004, p. 11)

8. Amor: “Acima de tudo, porém, revistam-se do amor, que é o elo perfeito.” (Col. 3.14)

Há pelos menos dois requisitos envolvidos no ministério de Jesus: glorificar a Deus e


amar a Deus. A filantropia pode suprir as necessidades humanas, mas só o serviço
cristão pode compartilhar o amor de Deus e glorificar seu grande nome. Não podemos
glorificar o nome de Deus se não formos movidos por seu amor.

-8-
O ministério acontece quando os recursos divinos vêm ao encontro das necessidades
humanos pelos canais do amor para a glória de Deus .
(WIERSBE, 2013, p.41)

9. Coração de Servo: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a


sua cruz e siga-me.” (Mateus 16.24) “Os verdadeiros servos de Deus são alimentados
para servir. ‘Minha comida’, disse Jesus, ‘é fazer a vontade daquele que me enviou e
concluir a sua abra’ (João 4.34)”.
(WIERSBE, 2013, p. 31)

Cultivar o Relacionamento Pessoal com Deus

Deus está mais interessado em trabalhar em nós do que trabalhar através de nós.

Nossa fundação precisa ser a dedicação à oração e ao ministério da Palavra de Deus. (Atos 6.4)

Quando mais ocupados somos, mais fácil é deixar Deus fora de nosso trabalho. Precisamos
permanecer por que Jesus disse, “Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dará muito
fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma.” (João 15.5)

“A parte mais importante de sua vida é a parte que só Deus vê. O melhor é começar seu dia com
um tempo devocional pessoal com o Senhor, com a disciplina diária de exame, meditação e
intercessão, que é absolutamente essencial para o serviço cristão”.
(WIERSBE, 2013, p. 87)

Sem a Palavra de Deus e a oração, o ministério não é nada mais que uma atividade religiosa.
Aprenda tudo o que puder e que possa ajudá-lo a servir melhor ao povo de Deus, mas certifique-
se de impregnar seu ministério com a Palavra de Deus e a oração.
(WIERSBE, 2013, p. 91)

Prepara para sofrimento

Cumprir a tarefa missionária é estar disposto a correr todos os riscos possíveis e imagináveis. É
estar preparado para dar a própria vida, enfrentando situações-limite a cada momento. Por outro
lado, quem melhor conhece o cuidado e o livramento do Senhor, provavelmente, seja o
missionário, pois está distante daqueles que lhes são caros, sem o apoio espiritual direto de sua
igreja local, fragilizado emocionalmente por estar em uma outra cultura e, muitas vezes, aberto
para receber também ataque satânico, situações que não se podem negar especialmente no
campo missionário.

Com Jesus não seria diferente, pois, como verdadeiro Deus e, também, como verdadeiro
homem, Ele estaria sujeito a todas as dimensões do sofrimento humano. Nasceria como uma
criança qualquer, teria feições humanas, passaria pela experiência da dor, da tristeza, sentiria
fome e sede, contudo havia a promessa do Pai, registrada na profecia messiânica de Isaías”49.2,
‘O Senhor na sombra da sua mão me escondeu’.

Quantos temores nascem no coração daquele que recebe o chamado missionário. Ao longo de
minha vida tive oportunidade de conhecer jovens que se diziam vocacionados e posso recordar
que vários deles pararam no meio do caminho por absoluto receio de que não teriam forças para
enfrentar o que viria pela frente.
Nesses momentos devemos ter nossos olhos fitos em Cristo. Sua missão era infinitamente maior
do que a nossa. Sendo Deus, teria que deixar a glória do Pai para passar por experiências
terríveis, chegando à morte. Onde estava Sua confiança e esperança? O Senhor que O chamou O
esconderia na sombra de Sua mão, e nada, portanto, poderia derrotá-lo. Ele não estaria livre,

-9-
como também não estamos, do enfrentamento de lutas e problemas, mas, ainda assim, estaria
sob o cuidado constante do Pai Celeste.
(PRADO, 2001, p. 43, 44)

Artigo: “Missionário: Maluco, mártir, mendigo ou o que?

(escrito por Antonia Van der Meer)

Neste artigo, Antonia Van der Meer, missionária em Angola por dez anos e agora uma
professora no Centro Evangélico de Missões (CEM), mostra a percepção errado de muitas
pessoas sobre missionários. Com a discussão sobre as qualificações para um missionário, é bom
entender que não todas vão ver o missionário(a) como ele/ela é. Queremos que vocês fiquem
conscientes neste fato também.

A igreja evangélica brasileira em poucas décadas transformou-se de campo missionário em


“celeiro de missões”. Como a igreja está assumindo e tratando seus missionários?

MALUCO?

Fui convidada para falar sobre missões numa igreja bem viva e dinâmica. A família que me
hospedou não se cansava de ouvir minhas experiências missionárias. Até que, de repente, a filha
que estava para terminar o curso de medicina começou a mostrar que estava seriamente
considerando a possibilidade de servir na obra missionária. O ambiente mudou totalmente; Isso
seria uma loucura! Muitos cristãos ainda consideram o missionário basicamente um maluco.
Como é que uma pessoa de boa formação ou com responsabilidades dentro da família abandona
tudo e todos para embrenhar-se em alguma selva entre povos tribais ou para confrontar
situações de alto risco em países resistentes, onde há falta de segurança e de confortos básicos?
– Missionários solteiros, tudo bem (desde que não seja meu irmão ou minha filha), mas um
casal com filhos é o cúmulo do absurdo! É claro que Deus não pediria uma coisa dessas para
seus filhos!, é o pensamento de muitos. Será que Deus não pediria? O que lhe custou o seu
projeto missionário? A Bíblia afirma que se trata de uma loucura de Deus: uma loucura
poderosa para salvar e transformar vidas humanas. Graças a Deus pelos que aceitam ser “os
malucos de Deus” (1 Coríntios 1.21-29). Mas isso significa uma atitude irresponsável da parte
do missionário? Ou da Igreja? Infelizmente, muitas vezes tem sido! E aí já abandonamos a
categoria da loucura segundo Deus para uma loucura humana, irresponsável. Isso acontece
quando o missionário é enviado com um espírito ufanista, sem o preparo espiritual, bíblico,
missiológico e pastoral adequado. Quando ele ou sua igreja se sentem auto-suficientes, não
precisam de ajuda ou orientação, nem de missionários mais experientes, nem de líderes cristãos
nacionais. Assim, o missionário é enviado para ser benção, mas nem sempre será. Mas existe
outra irresponsabilidade ou loucura injustificável e pecaminosa que nossas igrejas têm
praticado. Enviam o missionário com a benção da igreja, que se orgulha em divulgar que
sustenta “X” missionários. Mas, de repente, surge um projeto de construção ou outra
necessidade urgente que demanda toda a atenção. Ora, o missionário é pessoa de fé, Deus cuida
dele e a igreja abandona seus missionários no campo. Será que o pastor também não é homem
de fé? Por que, então, tal atitude inconsequente? O missionário enfrenta dificuldades, às vezes
problemas de saúde, falta de recursos básicos, falta de explicações e comunicação, dívidas.
Como resultado, surge uma profunda crise. Às vezes trata-se de uma pessoa que se adaptou bem
ao campo, progrediu no estudo da língua nacional, relacionou-se bem com os nacionais e acaba
sendo derrotada por esse abandono! Gostamos de falar em guerra espiritual, mas abandonamos
nossa tropa de elite, nossos comandos no campo de batalha, sem orientação, sem recursos, às
vezes feridos, sem qualquer cuidado! Nenhum exército humano faria isso. Outra manifestação
dessa inconsistência acontece no momento em que o missionário põe os pés de volta no Brasil:
Voltou do campo? Deixou de ser missionário. Acabou o sustento! Um tremendo contraste com

- 10 -
empresas e governos, que enviam funcionários para servir em outras culturas ou situações de
risco, e sempre oferecem uma série de compensações. Mas, no caso dos nossos missionários, se
o sustento não acaba por completo, geralmente diminui consideravelmente, afinal “o
missionário é uma pessoa simples, chamada para sofrer”… Não nego que muitos sejam
chamados para sofrer. Mas esse sofrimento não deveria ser causado pela igreja que o envia e
sustenta, mas pelas condições do contexto de vida do local onde trabalha. É triste saber que
missionários brasileiros voltam prematuramente do campo muito mais por causa da falta de
preparo, de sustento e de apoio pastoral adequados, e por problemas de relacionamento com os
que os enviam, do que por problemas de ministérios ou de relacionamento com as pessoas a
quem servem, mesmo em países considerados de alto risco.

MÁRTIR?

Missionário?! Para mim é um ser muito mais santo, uma pessoa chamada para sofrer. É alguém
que não se preocupa com as coisas do mundo, despojado. Um verdadeiro mártir! É assim que
muitos veem o missionário. Um ideal que pode ser admirado e colocado num pedestal, não um
modelo para ser seguido. E é claro que uma pessoa que está no pedestal não precisa de minha
ajuda e compreensão. Está ali para ser admirada (ou apedrejada). Muitos missionários voltam
dos campos emocionalmente exaustos, confusos, quebrantados, precisando muito de um tempo
de renovação, cuidado e repouso. Mas são recebidos ou como heróis, como um programa lotado
de compromissos, ou sem nenhuma atenção. A igreja deveria ser a família onde fossem
recebidos com amor, carinho, cuidado, interesse neles como pessoas e não só no trabalho que
realizam. Há cristãos que, quando ouvem relatos de crises tremendas ou encontram o
missionário doente, magro e exausto, aplaudem: Esse é um verdadeiro missionário! Mas,
quando o mesmo missionário passa por uma fase mais tranquila, facilmente surgem críticas e
desconfianças: Ele fica viajando por aí com nosso dinheiro… Que trabalho realmente está
fazendo? Parece até que está passando muito bem! O que significa mártir? Vem da palavra “ser
testemunha”, “dar testemunho”. Mas aí o martírio não é privilégio só de missionários, e sim de
todo cristão verdadeiro… O que vemos na igreja primitiva? Certamente houve alguns mártires
que morreram pelo seu testemunho. Mas a maioria deles recebia vários tipos de apoio de igrejas
e irmãos, e não buscava o sofrimento. Este vinha sem ser convidado, muitas vezes inspirado, e
era enfrentado com fé e coragem pelos discípulos de Jesus, que até se sentiam honrados por
sofrerem pelo seu nome. Será que estou defendendo a volta de uma busca do martírio? Não!
Mas se não estamos dispostos a encarar seriamente essa possibilidade como consequência de
nosso ministério em situações de crise, teremos de abandonar muitos dos campos missionários
mais carentes. No século 19, muitos missionários iam ao continente africano sabendo que havia
um alto risco para suas vidas. Oitenta por cento morriam de malária, doença que ainda tem
matado alguns jovens missionários brasileiros na África. Isso é doloroso, mas não significa o
fim de nossa responsabilidade. Mais difícil é a situação em muitos países, onde o
fundamentalismo religioso vê o cristão como ameaça à sua cultura, família ou nação. Tem
havido muitos martírios, a maioria de simples cristãos nacionais, dispostos a arriscar suas vidas
no seu testemunho (martírio), muitas vezes sobrevivendo com salários ínfimos.

MENDIGO?

Ainda outros veem o missionário como mendigo: Na minha igreja, missionário não prega! Um
visitante estrangeiro, a quem um pastor foi constrangido a ceder o púlpito, transmitiu a
mensagem de Deus e, para surpresa do pastor preconceituoso, não pediu nada. Não estava ali
para pedir. Podemos perguntar mais uma vez: por que o pastor é digno de salário decente, plano
de saúde, auxílio para transporte, etc., e o missionário é obrigado a “pedir esmolas” para o seu
sustento? Pessoalmente, dou graças a Deus porque nunca precisei pedir pelo meu sustento. Os
próprios líderes da Missão escreveram algumas cartas e igrejas e irmãos se manifestaram com
boa disposição para ajudar no meu sustento, muitas vezes fontes inesperadas e fiéis. Nunca
faltou nada. Mas o missionário que é convidado para se apresentar com carta de sua agência

- 11 -
missionária com vistas a levantar sustento para o seu ministério não deveria se sentir e muito
menos ser tratado como mendigo. Ele não é um peregrino solitário, mas um enviado, um
embaixador, em primeiro lugar de Jesus Cristo, mas também da igreja. Missões é sempre um
ministério participativo, nunca uma tarefa isolada de um excêntrico. Conheci uma missionária
que, depois de vários anos de ministério frutífero no exterior, passou um tempo no Brasil para
mais treinamento. Ela sofria com dor de dente, mas não tinha coragem de compartilhar essa
necessidade com sua igreja, com medo de ouvir: “Lá vem nossa missionária pedir de novo!” A
igreja deveria providenciar este e outros cuidados naturalmente, livrando seus missionários de
tal constrangimento. Por outro lado, a igreja não deve ser ingênua, como muitas vezes tem se
mostrado. Há missionários com boa lábia, que despertam as emoções e levam as pessoas a
contribuir. Estes, nem sempre têm um bom testemunho no campo. Há outros que são fiéis e
respeitados no seu ministério: são mais humildes na apresentação e, por isso, são esquecidos. De
qualquer forma, parece ser algo extraordinário, não normal, contribuir com o sustento
missionário. A igreja deve saber também que é muito melhor sustentar alguns, com um
compromisso integral de intercessão e cuidado pastoral, que dar esmolas a muitos. Uma igreja
com coração missionário recebe bem seu missionário que vem de férias e o ajuda a conseguir
moradia, cuidados de saúde, apoio pastoral, um lugar para descansar. Muitas igrejas ainda não
têm essa visão. Assim, muitos missionários voltam ainda mais arrebentados para o campo. Uma
vez fui convidada insistentemente (quase forçada) para ir numa grande reunião de senhoras de
muitas congregações diferentes. Estava com pouco tempo, mas cedi ao convite. Quando chegou
o momento para o testemunho missionário, a dirigente falou: Tem uma pessoa aqui que veio nos
pedir uma coisa. Vamos lhe dar dois minutos? Sentindo-me humilhada, consertei: Não vim
pedir nada. Fui convidada para dar um testemunho. Se me ouvirem pelo menos cinco minutos,
disponho-me a falar. Soube que, numa grande conferência cristã na Inglaterra, alguém fez um
apelo para que os participantes guardassem os saquinhos de chá usados para doar aos
missionários. No dia seguinte, por toda parte, viam-se saquinhos secando ao sol. Por que não
pensaram em usar duas vezes o mesmo saquinho de chá e enviar saquinhos novos para os
missionários? Em várias igrejas, tenho pedido roupas e calçados usados e literatura evangélica
para ajudar os irmãos angolanos. Muitas estão dispostas a dar, mas não a selecionar, empacotar
e, muito menos, ajudar nos custos de transporte. É sempre uma feliz surpresa quando uma igreja
ou pessoa prontificam-se não apenas a doar, mas também a enviar as doações.

OU O QUÊ?

Afinal, quem é o missionário? É um ser humano, pecador, que comete erros, mas que foi salvo
pela graça. É um ser humano vulnerável, que vive pressões muito maiores que as de cristãos que
ficam em casa, e geralmente, têm muito menos estruturas de apoio. É um ser humano
seriamente comprometido com o reino de Deus, disposto a abrir mão de muitos confortos,
segurança e relacionamentos para obedecer ao seu chamado de amar e servir um povo diferente.
É um ser humano que precisa de pessoas que procurem compreendê-lo, interessar-se em seus
problemas, dores, projetos, sonhos e frustrações. É um ser humano muitas vezes deslocado,
desorientado, confuso, cansado, precisando de repouso, restauração de forças e amizade sincera.
O que vamos fazer com ele?

- 12 -
Lição No 3 – A Contribuição da Igreja, Escola e Agência
O Papel da Igreja

Fase de Preparação do Candidato

A Igreja pode ter um papel muito importante no despertamento de uma visão e compromisso
missionário dos seus membros, fazendo com que missões estejam sempre presentes no currículo
de atividades da igreja, através de lições da escola dominical, de visitas de missionários, e de
grupos de intercessão pela obra missionária. Será que nós podemos ajudar a organizar um
conselho missionário em nossa igreja?

A Igreja pode encorajar projetos missionários de curta duração, para líderes e membros, e isto
pode servir como despertamento de vocações, ou como uma experiência que abre os olhos e a
mente para a tarefa missionária, fazendo com que essas pessoas sejam mais comprometidas em
apoiar e sustentar os missionários.

A Igreja deve também ajudar os candidatos para a obra missionária, dando oportunidade para se
envolver na obra da igreja, orientando quanto às leituras proveitosas, e encaminhando para um
bom treinamento, mantendo sempre um relacionamento pessoal, e um cuidado pastoral ativo
durante o processo. A igreja conhece os seus membros e pode ir trabalhando em questões de
caráter, relacionamentos em equipe e com líderes, disciplina.

Margaretha Adiwardana, uma missionária e professora de missões, escreveu no seu livro


Valioso demais para que se perca, (citado por Prado, p. 77):

A igreja local é vital porque provê ao contexto para o preparo pessoal dos futuros missionários,
ajudando os candidatos a confirmar seu chamado para missões. Uma igreja que discípula seus
missionários conhece-os bem. Ela pode acompanhar os candidatos pelo processo de treinamento
anterior ao campo e dar sugestões específicas para o programa de cada um. Em seu contexto, os
candidatos podem pôr em prática o que estão aprendendo.

Pastor e missionário Oswaldo Prado no seu livro Do Chamado ao Campo adiciona:

Além de outros fatores, os vocacionados têm sentido certa falta de cuidado por parte daqueles
que fazem parte de sua própria ‘casa’. O treinamento preliminar que deveria acontecer no
ambiente mais próximo do candidato deixa muito a desejar, e gostaria de enfatizar que a igreja
deve se tornar este laboratório no treinamento inicial do futuro missionário. A formação
acadêmica sempre será essencial, mas será na igreja que o candidato a missionário efetivamente
dará, ou não, sinais de maturidade espiritual e emocional ao plantar ma nova igreja, dirigir um
grupo de estudo bíblico, ajudar no aconselhamento, etc.
(PRADO, 2001, p. 77, 78)

Importância de preparo adequado

Oswaldo Prado escreve:

Quando uma igreja tem diante de si um vocacionado são muitas as preocupações que surgem, contudo
nada é mais crucial do que capacitar o futuro missionário corretamente antes de enviá-lo. [...] Em geral, a
igreja Brasileira tem sido por demais negligentes na questão da formação missiológica e o resultado disto
tem sido catastrófico em muitos casos. Sabem-se hoje de casos onde missionários brasileiros, têm
cometido toda sorte de erros no campo, quebrando princípios culturais, demonstrando profunda
insensibilidade para com os nacionais, entre outras coisas, e ao buscarmos respostas para tal
comportamento nos deparamos com uma capacitação missiológica insuficiente.

- 13 -
No ano de 1997 tive oportunidade de participar de um encontro da Comissão de Missões da Aliança
Evangélica Mundial, na Inglaterra, onde foi tratado o tema do retorno antecipado dos missionários, o que
significa, em última análise, o abandono do trabalho no campo. No nosso caso, ficou constatado através
de uma pesquisa acurada feita por Ted Limpic, missionário da Sepal, junto a 24 organizações
missionárias brasileiras que uma das causas principais do retorno antecipado dos missionários era a falta
de “treinamento apropriado”. Ainda hoje isto é uma realidade, pois não se tem dado o peso necessário à
capacitação do missionário.
(PRADO, 2001, p. 75, 76)

Apoio da Igreja ao Missionário que Está no Campo Transcultural

Visitas de líderes com dons de aconselhamento pastoral são muito necessárias e apreciadas.
Além de conviver com o missionário (e sua família) em seu contexto, de oferecer oportunidade
para compartilhar suas lutas, dores, esperanças e alegrias, e de orar com eles; tais visitantes
podem depois despertar uma intercessão mais consciente e comprometida por parte da igreja, e
comunicar à igreja as necessidades dos missionários, e do grupo com que trabalham, na área de
saúde, das finanças, da vida espiritual, etc. Para a maioria das igrejas isso é um ideal inatingível.
A agência pode ter mais possibilidade de fazê-lo, e depois comunicar as informações à
liderança, ao conselho missionário da igreja local.

A igreja pode mandar seus boletins, CDs de programas especiais, cartões e cartas, para manter
os missionários em dia. Classes de crianças ou adolescentes da escola dominical podem adotar
filhos de missionários e escrever para eles. Podem mandar uma vez ou outra um pacote, com
algumas coisas pouco perecíveis da terra natal (para aniversário/natal), e com alguns presentes
para pessoas no campo (livros/roupas). Um telefonema de vez em quando pode ser uma grande
bênção. Recortes de jornais com notícias da vida nacional são muito apreciadas.

Treinamento Formal (Como IMPV)

Um dos pontos positivos deste tipo do treinamento formal é que ele estimula o aluno a reconhecer que
não tem todas as informações que imaginava ter. Tem sido comum ouvir alguns dos vocacionados
dizerem: ‘Ainda não sei porque não fui enviado... afinal já tenho experiência suficiente e conheço a
Palavra!’ Quando este mesmo candidato inicia sua formação acadêmica formal na área da missiologia,
rapidamente vai perceber que ainda resta muita coisa a aprender. [...]

O ensino formal leva a futuro missionário a exercer disciplina e perseverança, porque vivendo no
continente latino-americano, conhecemos bem nossa realidade de começar muitas coisas e concluir
poucas; ter muitos sonhos, mas deixá-los apenas na teoria, e o treinamento formal irá exigir do candidato
o missionário uma vida de profunda disciplina, ao ter que cumprir com uma agenda de dias e horários de
estudo, não somente no ambiente da escola, mas no preparo das tarefas, como também, demonstrar
perseverança para não desanimar, pois, certamente os obstáculos serão grandes e surgirá a tentação de
parar no meio do caminho.
(PRADO, 2001, p. 79, 80)

Treinamento Não-formal

William Taylor, no livro Capacitando a Força Missionária Internacional, (Ultimato, 1993),


explica treinamento não-formal na seguinte maneira:

A educação não-formal tende a enfatizar as atividades planejadas de estudo individuais ou em grupo, mas
não na sala de aula; a avaliação de viagens para o campo; aulas práticas e estágios dirigidos; treinamento
em serviço; direcionamento para o aprendizado através da ação; o envolvimento do corpo docente num
papel de discipulado e aconselhamento; a graduação como resultado da experiência e competência
ministerial, e não como consequência do cumprimento de cursos e programas.
(PRADO, 2001, p. 80 – 81)

- 14 -
Prado adiciona:
As instituições de ensino formal na área de missões também têm recorrido a este tipo de
formação não-formal. O aluno não somente recebe o ensino teórico, mas é levado a realizar algo
prático em função daquilo que aprendeu, o que normalmente chamamos de “estágio”. Ele pode
ser realizado junto a uma igreja, aos finais de semana, ou a uma equipe de evangelistas que está
plantando uma nova igreja, ou ainda, junto a um grupo que está evangelizando determinado
bairro. O aluno terá de gastar um determinado número de horas nets trabalho prático,
preparando relatórios de atividades para seus respectivos professores.
(PRADO, 2001, p. 81, 82)

A Função das Agências Missionárias

Missões Mundiais têm dependido em grande parte de pessoas de fé e visão que se uniram com
pessoas com visão e compromisso semelhantes (muitas vezes de outras igrejas), e formaram as
agências missionárias interdenominacionais, além das juntas denominacionais, com o objetivo
de enviar obreiros para alcançar aqueles povos que não estavam sendo alcançados com o
evangelho.

As agências podem oferecer uma estrutura de envio, de apoio, e de acompanhamento mais


segura que a grande maioria das igrejas locais. Elas também garantem uma maior continuidade
da obra missionária que não depende da presença de uma pessoa específica, mas deve
prosseguir mesmo se o missionário por uma razão ou outra voltar do campo. Elas devem
desenvolver uma boa cooperação com as igrejas enviadoras e no campo. Elas também facilitam
a cooperação no campo, normalmente terão mais pessoas no mesmo campo, que podem apoiar-
se mutuamente, e terão mais conhecimento e recursos disponíveis para dar orientação e apoio
pastoral aos missionários no campo. Além disso, estão mais preparadas para tratar de questões
práticas e burocráticas como vistos de entrada e de permanência, questões de cuidados de saúde,
viagens internacionais, problemas e possibilidades de moradia no campo. É bom conhecer bem
uma agência antes de entrar nela, suas bases doutrinárias, sua filosofia de trabalho, de
sustento/estilo de vida, etc.
(VAN DER MEER, 2004, p. 19)

Nos Estados Unidos, várias agências missionárias estão mudando de estratégia. Essas estão
investigando oportunidades para os “Fazedores de Tendas” usarem o modelo de fundar
companhias e fazer negócios para entrarem em países do Terceiro Mundo e em países de acesso
limitado ao evangelho. Através das companhias e negócios, os missionários podem empregar
pessoas, oferecer treinamento e ter a oportunidade de falar de Cristo e fazer discípulos.

- 15 -
Gráfico para somar as funções da igreja, escola e agência em relação de missionários

Função Igreja Escola Agência


Preparo Treinamento básico Ajuda aprender Treinamento
raciocinar, utilizar especializado e mais
Experiência prática de lógica profundo
ministério e exercício
dos dons (Efésios 4.11- Ajuda saber
16) pesquisar, integrar
conhecimentos

Providencia preparo
mais profundo e
especializado
Seleção Seleciona quem está Deve fornecer Confirma a seleção em
adepto e pronto para avaliações do aluno relação ao ministério e
ser missionário, (e deve ser vida transcultural –
julgando caráter, procurado para estas Ensina a igreja e a
espiritualidade, avaliações) escola sobre o tipo de
fidelidade, pessoa necessária para
conhecimento (da Deve procurar as o campo.
Bíblia) aptidão, e igrejas e agências
chamado. para saber o
(Filipenses 2.19-22) treinamento
adequado na escola
Envio O Espírito Santo envia Deve ser o alvo das Cuida da burocracia,
através da igreja escolas teológicas. contatos no campo,
(Atos 13.1-4) logística, estratégia no
campo.
Escolhe uma agência e
escola boa Apoio de quem já
viveu
transculturalmente.
Sustento O missionário é Deve também orar, Estabelece o nível do
sustentado ofertar; sustento necessário no
principalmente pela Oferecer reciclagem; campo;
igreja (no campo Enviar livros Canaliza o sustento;
também) (Filipenses relevantes. Verifica se o sustento
4.10-20). é suficiente.
Se sustentar alguém,
seja fiel no sustento.
Trabalho do Procura entender e Educar conforme a Coordenação
Missionário aprender. Bíblia e as estratégica;
necessidades do Trabalho em equipe.
Verifica se cabe dentro campo. Educação
de princípios bíblicos. teórica com
aplicação pratica.
Oração Apoiar o missionário Em cada aula, cultos; Ajuda a igreja a saber,
constantemente em Ensino sobre oração orar;
oração (Efésios 6.18). e missões. Mantém contato com
igreja sobre
necessidades.

- 16 -
Função Igreja Escola Agência
Comunicação Mantém constante Aprendizado através Mantém constante
comunicação com o do conhecimento do comunicação com o
missionário. missionário. missionário.

Mantém constante Viagens de curto Mantém constante


comunicação com a prazo. comunicação com
Junta. Igreja.
Recepção de volta Compreensão Convidar para Controle de tempo
do campo (Atos 14.26-28) compartilhar. adequado, época,
logística.
Verificar necessidades. Reciclagem.
Verificar saúde,
Amor, interesse Convida para dar atividades, descanso.
verdadeiro/cuidados. aulas.

(CAPACITANDO, No. 11, 2002, p. 34)

Artigo: Igreja Local e o Envio de Missionários

(Adaptação do livro do A. C. Nasser: Uma Igreja Apaixonada por Missões)

A Igreja local deve cuidar de seus filhos missionários com muita sabedoria. Não pode depender
simplesmente da Escola, depois da Agência, e dizer: Seja uma bênção!

O Recrutamento

O recrutamento exige um cuidado muito grande por parte da igreja. O que a igreja deve fazer
quando tem uma pessoa, ou um casal de membros que querem se dedicar à obra missionária?

Missionário Local

1. Ele deverá ser um crente com vivência apreciável na vida cristã.

Haverá candidatos sem preparo formal. Antes de enviá-lo para um treinamento teológico, onde
pode encontrar um ambiente acadêmico frio, questionador, ele deve receber um treinamento não
formal na igreja, acompanhado pelo pastor. Muitos se apresentam por um estímulo emocional.
A igreja deve checar as informações dadas pelo candidato e não pecar pela credulidade. Deve
também dar informações confidenciais honestas à escola, a respeito do candidato, e acompanhá-
lo durante o período de treinamento.

Haverá candidatos que já passaram pelo treinamento. A igreja deve se informar a respeito de
seu desempenho durante seu tempo de treinamento; seu testemunho na escola; seu
envolvimento na prática ministerial, etc. Deve também ser avaliado quanto ao seu preparo
espiritual, seu caráter, sua seriedade no trabalho, etc.

2. O candidato deverá ter suficiente ministério na igreja local.

Quem verdadeiramente envia o obreiro é a Igreja, que pode avaliar a vida e o trabalho do
missionário. Como em Atos 13, quando a igreja reconhece o trabalho e o testemunho do
missionário, pode enviá-lo com confiança.

3. O candidato deverá estar submisso às decisões do conselho de missões.

- 17 -
A Igreja não tem o dever de satisfazer os desejos individuais. É necessário que o Conselho tenha
estratégias claras, e a definição dos povos a serem alcançados. Se um candidato não se encaixa
nessas estratégias deve-se orar e discutir o assunto, podendo haver uma mudança de planos.
Uma estratégia clara não significa rigidez.

4. O candidato deve apresentar-se à igreja antes de fazê-lo à agência missionária.

É comum o obreiro iniciar o processo de recrutamento junto a uma agência e só depois de tudo
acertado procurar o sustento da Igreja. É a igreja que deveria reconhecer que aquele obreiro
realmente foi chamado e acompanhar todo esse processo.

5. O candidato deve ser alguém que aceita um preparo adequado.

Há pessoas que querem ir ao campo, com pressa e se rebelam contra um treinamento mais
prolongado. Infelizmente há muitos casos de missionários frustrados, fracassados, por falta de
um preparo adequado.

6. O candidato deve ser alguém disposto a ouvir e a aprender.

Há missionários que desejam ser os Careys, os Livingstones, mas demonstram tanta falta de
tato, de sensibilidade, por acharem ser sabedores de tudo. O candidato deve ser avaliado de
acordo com a sua disposição a aprender, sua humildade diante dos que ensinam. Os que não
estão dispostos a ouvir e aprender agora, como se posicionarão diante da liderança local no
campo?

Missionário Associado

A igreja deve agir com muito temor de errar, procurando as características acima descritas.
Deve contatar os pastores daqueles obreiros, pedindo informações confidenciais sobre seu
caráter, sua vida espiritual, ministérios desenvolvidos, relacionamentos interpessoais, etc. Se for
um missionário com experiência de campo, peça também informações confidenciais a líderes no
campo. Há pessoas que falam bem, mas que já fracassaram no campo e sempre conseguem o
apoio de novas igrejas, que não lhes conhecem.

1. O missionário deve se deixar conhecer pela igreja.

A Igreja precisa de uma convivência com o obreiro e sua família, para não apenas ouvir sua
pregação, mas conhecê-los como pessoas. Há pessoas que veem a igreja como banco -
Preenchem um currículo, um questionário e um pedido de verba e esperam respostas.

2. O missionário deve trazer informações e planos bem definidos, sobre seu envolvimento com
missões, e sua atuação na agência missionária.

 O sustento não envolve apenas salário. Pode haver necessidade de veículo, material de
trabalho, ajuda de nacionais, viagens e seguro médico.
 O trabalho missionário não envolve apenas plantar igrejas.

O Treinamento de Missionários

Caráter Cristão

Isso é um assunto sério. Há obreiros que agem sem honestidade, sem obediência e sem
equilíbrio. Há novatos que não aceitam a liderança dos líderes do campo, nem da sua agência e
muito menos dos nacionais. Vem fazendo críticas, alterando planos, desrespeitando e agindo por
conta própria. Pensam que podem fazer tudo melhor. Não respeitam os costumes dos povos a

- 18 -
quem servem: Por ex.: Qual é a posição da mulher naquele contexto? Que roupa é considerada
decente? Como é a maneira de louvar daquele povo?

Os moravianos eram caracterizados por um zelo temperado pela prudência, suavizado pela
mansidão, sustentado por uma coragem que nenhum perigo pode intimidar e por uma certeza
tranquila que nenhuma dificuldade pode exaurir. Muitas vezes nós temos preferido as polpudas
estatísticas em lugar da missão amorosa e sacrificial que Cristo nos deixou.

Perseverança/Sofrimento

Há missionários que querem passar uns meses no campo para voltar como professores de
missões. Precisamos desenvolver uma consciência da responsabilidade de prestar contas ao
Senhor que envia obreiros para a Seara dele. Devemos aprender com a história. David
Zeisberger desde l735 trabalhou 62 anos nas tribos Huron da América. Em 1781 bandidos
queimaram a igreja e suas dependências, incluindo todos os manuscritos da tradução das
Escrituras. Zeisberger abaixou a cabeça, em mansa submissão, e reiniciou o trabalho.

A Bíblia mostra que a tribulação produz a perseverança (Romanos 5.3). Mas nós temos medo da
tribulação, e até criamos uma teologia para fugir das dificuldades. Precisamos de um
treinamento em sofrimento. Não adianta procurar ignorá-lo, faz parte do trabalho missionário.

Na Guiana, 75 dos primeiros 160 missionários morreram de febres tropicais, envenenamento e


coisas parecidas. Até que ponto temos sido motivados pelo amor que se sacrifica, que está
disposto a morrer, em nome do Senhor?

Temos criado soldados de chocolate, que gostam de cantar hinos de guerra dentro das paredes
da fortaleza, mas se derretem na tribulação! A fragilidade de muitos missionários hoje é fruto do
estilo festivo das comunidades locais.

Convivência em Equipe

Conviver com outros obreiros não é fácil. É necessário aprender a ser transparente, o que nem
sempre queremos. Os mal-entendidos surgem facilmente. Todos estão sob pressão, numa
cultura estranha, e características inesperadas de nossa personalidade vem à tona.

1 Coríntios 12.12-25 nos ensina muito. Deus nos fez diferentes e complementar. Devemos
reconhecer quem somos, sem complexo de inferioridade, sem ficar chateados porque não temos
outro ministério. Cada membro é importantíssimo. Também mostra que todos têm limites. Cada
um deve fazer sua parte, reconhecendo que sua liberdade termina onde inicia a do outro. É
importante reconhecer que Deus não chamou astros, que brilham sozinhos, mas discípulos, que
aprendem através da interdependência real e necessária. Os membros/os ministérios talvez
aparentemente menos importantes são necessários e essenciais.

Numa equipe não só se trabalha junto, mas também se convive. Isso significa ceder, abrir o
coração, reconhecer o outro como superior, admitir culpas, elogiar, permitir ocupação de
espaços em nosso trabalho, desenvolver amizade familiar, etc. A equipe promove:

1. Proteção (Eclesiastes 4.9-12).


2. Estímulo ao Diálogo. Todos têm necessidade de falar sobre nossas carências, problemas,
dificuldades, frustrações. Com o aumento da confiança, o diálogo se aprofunda, e isso ajuda
muito.
3. Promoção de ajuda mútua.
4. Quebra de Barreiras Culturais. (Veja como os líderes em Atos 13.1-3 vieram de várias
culturas.) Hoje também podemos vir a trabalhar em equipes multiculturais.
5. Incentivo à Persistência. Surgem pequenos conflitos sobre a maneira de lavar louça, de
tomar banho, etc. É preciso aprender a ter paciência.

- 19 -
Treinamento na Palavra

É inaceitável ter missionários que não conheçam a Bíblia. A Igreja espera que a Escola ensine e
Bíblia e a Escola espera que a Igreja o faça, e tem havido obreiros com fraco conhecimento da
Palavra. Quais são os problemas que estes enfrentam?

1. Perda de Referenciais. Como o missionário se posiciona numa cultura onde o marido pode
deixar a mulher que não lhe dá filhos e tomar outra?
2. Falta de Visão do Reino de Deus. Quanto mais se conhece a Palavra, melhor se compreende
que a Unidade do corpo de Cristo deve ser real e praticada! E compreendem-se as
dimensões éticas e sociais da nossa fé cristã.
3. Pobreza de Ensino. O missionário terá muita responsabilidade na área de ensino. Os que
têm grande pressa para sair sem melhor treinamento serão mestres pobres.

Sustento

Quanto as Igrejas locais investem em missões? Geralmente menos do que na manutenção do


prédio da igreja. Falta uma visão correta e falta compromisso. Aspectos a serem considerados:

1. Cada campo tem seu custo de vida. As agências missionárias tem o controle e o
conhecimento necessário sobre isso. É necessário tratar esse assunto com sabedoria e não
ficar fazendo comparações como salário do missionário x salário do pastor.
2. A diferença entre agências denominacionais e agências independentes. As agências
denominacionais recebem ofertas das igrejas e repassam-nas aos missionários segundo
critérios internos. As agências independentes desafiam os candidatos a levantar o sustento
de acordo com a necessidade do campo. Nesse caso as agências apenas administram os
recursos e há mais flexibilidade.
3. A igreja deve compreender que é melhor manter um missionário dignamente, do que vários
em condições precárias. Há igrejas que proclamam que sustentam um grande número de
missionários e enviam uma quantidade ínfima a eles.
4. A responsabilidade da igreja envolve também o missionário após seu regresso. O
missionário quando volta continua a ter necessidades financeiras. Simplesmente cortar seu
sustento é submetê-lo a situações precárias e de grande angústia.
5. A importância da perseverança no envio do sustento. É muito comum uma Igreja assumir
compromissos, e de repente parar de contribuir, causando problemas aos obreiros. Assumir
um compromisso é algo sério e devemos ser fiéis.
6. O sustento deve ser digno. Há obreiros passando necessidades por causa de uma ideia de
que o bom missionário precisa sofrer.

Pastoreando os Candidatos e os Missionários

O missionário precisa do pastor para curar feridas, amenizar crises, incentivar os cansados e
abençoar a todos. Às vezes se pensa que a Agência cuidará de tudo. Mas a Agência tem muitos
obreiros, e quando é internacional, usa mais a língua inglesa, o que pode dificultar a
comunicação sobre assuntos mais profundos.
A correspondência pode ajudar bastante, não só exigindo relatórios, enviando o sustento e uma
cartinha formal, mas uma correspondência sincera, aberta e profunda. A visita ao campo é
excelente e pode ajudar muito, quando é possível.

Supervisão

1. O missionário deve prestar relatórios confiáveis à igreja.


Isso é bíblico. Paulo e Barnabé o fizeram (Atos 14.27).
2. A boa supervisão melhora as possibilidades de cuidado pastoral apropriado.
3. A igreja fica mais bem informada e mais interessada.

- 20 -
4. A boa supervisão evita o falso trabalho missionário (pessoas que fracassaram, mas não
voltam ao país de origem, ou apresentam relatórios fantasmas).

Regresso do Campo

A Igreja deve ajudar na questão de moradia, e ver a necessidade de condução.

1. Descanso. É merecido e importante, para sua restauração. Missionário é gente!


2. Reciclagem. A oportunidade de fazer cursos complementares. A ajuda de um conselheiro
para a reciclagem emocional e espiritual.
3. Divulgação. É importante, e desperta o compromisso missionário da igreja. A igreja pode
ajudar na preparação da agenda, priorizando os compromissos mais importantes para um
trabalho sério e estratégico, evitando uma sobrecarga.
4. Tratamento de Saúde. O missionário (e família) precisa de cuidados médicos e dentários.
5. Oferecendo oportunidades para ele falar à igreja.
6. Tratando o missionário com o devido respeito. (não como: Coitadinhos, veja como estão
magrinhos!)
7. Convidando para os lares, oferecendo amizade, ouvidos abertos. O missionário precisa das
pessoas com quem possa rir, chorar, discutir seus assuntos de coração.

Para mais informação sobre o treinamento de vocacionados a partir da igreja local veja:

Do Chamado ao Campo escrito por Oswaldo Prado, São Paulo: SEPAL/ACMI, 2001.
WWW.infobrasil.org/acmi
Associação de Conselhos Missionários da Igreja acmi@acmi.org.br

- 21 -
Lição No 4 – Desenvolvendo Seu Projeto Inicial
Ao se formar do IMPV, você vai ter gastos e necessidades para iniciar o seu ministério. O
propósito desta lição é lhe ajudar pensar sobre o seu futuro ministério e o que vai precisar para
iniciar o mesmo e como montar um projeto para apresentar para pastores, igrejas e
mantenedores.

Primeiro Passo – Planejamento

Para montar um projeto, você precisa decidir qual tipo de ministério está visando realizar, onde,
e com qual organização. Talvez você esteja planejando retornar para a sua igreja local e se
envolver com ministérios lá. Neste caso, vai precisar uma moradia e possivelmente um emprego
secular para custear as suas despesas. Talvez você gostaria de desenvolver um mistério com
povos indígenas. Se isto for seu o desejo, talvez seu próximo passo seja de estudar linguística no
ALEM. As suas necessidades neste caso vão ser o custo de transporte para ALEM, e o custo
para fazer o curso. Se você quer trabalhar com ribeirinhos, você vai precisar de um lugar para
morar, móveis, barco, rabeta ou motor de polpa, etc.

O primeiro passo é fazer um plano para o próximo ano (e depois para os próximos cinco anos).
Neste plano você vai tentar definir qual tipo de ministério você quer realizar (ministério tempo
integral ou parcial), o local do ministério, treinamento adicional necessário, e agência
missionária ou igreja local.

Segundo Passo – Pesquisar

O segundo passo vai requer pesquisar e comunicar com o campo. Neste passo você vai analisar
o que você já possui e o que você vai precisar comprar.

1. Necessidades Pessoais

A seguir é uma lista de perguntas para ajudar você determinar as suas necessidades pessoais.

 O que vou precisar inicialmente para viver no local para onde vou?
 Quais são os bens que já tenho? (móveis, panelas, lençóis, carro, etc.)
 Como eu posso transportar meus bens? Qual será o custo? Vale a pena de transportar
meus bens, ou é mais econômico vender alguns itens e comprar essas coisas no locar
onde vou ministrar? (O que os veteranos no campo recomendam?)
 Qual será o custo para comprar os móveis e outros bens básicos necessários para
começar a viver no local? (Fazer uma lista dos itens básicos você vai precisar e comece
a pesquisar sobre o custo dos mesmos.)
 Moradia. Onde vou morar? Vou ter que alugar uma casa? Vou ter que construir uma
casa (em uma aldeia indígena, numa comunidade ribeirinha?)

2. Equipamento Ministerial

Quais ferramentas eu vou precisar para realizar o meu ministério? (equipamento para o
escritório como laptop, impressor, gravador digital, e ferramentas para construir uma casa ou
para fazer manutenção, ferramentas para concertar equipamento mecânico como motores, etc..)

Vou precisar de um carro ou barco?

- 22 -
Qual tipo de energia está disponível no lugar? Vou precisar painéis solares?

Fazer uma lista de coisas essenciais para o ministério e uma lista de coisas que desejaria ter.
Comece a pesquisar os preços dos itens. Pergunte aos missionários veteranos no campo qual
equipamento é essencial ter e o melhor lugar para comprar.

Considere fazer tabelas de necessidades e preços.

Preço de frete para transportar os bens que já tenho


Opção de transportar seus bens Preço
Opção 1
Opção 2
Opção 3

Bens que tenho Valor Preço para vender Preço para comprar

Necessidades para a cozinha Preço no local

Necessidades - móveis Preço para comprar ou fazer

Necessidades para o escritório Preço para comprar em uma loja locar ou loja
online.

Terceiro Passo – Montando seu projeto

Com mais informação em mão, você pode começar a montar seu projeto. Você vai ter uma
melhor noção sobre as suas necessidades reais, custo de frete para seus bens, o custo de comprar
itens, e as sugestões do campo. Organize a informação em uma maneira clara e fácil de
entender. Às vezes indivíduos ou grupos nas igrejas querem ajudar com alguma coisa em
especifico – como uma máquina de lavar ou outro equipamento. Com informação em mão, é
fácil explicar suas necessidades reais.

Exemplo: Projeto do Missionário de Zé de Oliveira para 2016 (ou 2017)

O ministério que eu quero realizar: (pode incluir informação como seu testemunho, preparo já
realizado, chamado, etc.)

Agência missionária ou denominação/ Local:


Sustento necessário:
Sustento prometido:
Custo de transporte para o campo ou local onde eu vou receber mais treinamento (como
ALEM):

Os planos depois o treinamento adicional:


Custos iniciais:

- 23 -
 Custo de alugar um apartamento:
 Custo para fazer uma mudança e para comprar móveis básicos:
 Custo para equipamento básico para ministério (como laptop, impressora, etc.):

Data projetada para iniciar meu ministério:

Informação de contato: (e-mail, telefone, facebook, como pessoas podem receber sua carta
circular, informação para pessoas que querem contribuir financeiramente)

- 24 -
Lição No 5 – O Sustento Financeiro
A Filosofia do Sustento Financeiro

A filosofia do sustento financeiro varia entre uma agência e outra. Há agências que adotam o
princípio de viver pela fé e proíbem qualquer menção de necessidades financeiras nas cartas dos
missionários. Há outras que exigem um patamar bem elevado (algumas missões internacionais)
de sustento prometido que precisa ser levantado antes do missionário poder sair para o campo.
Há igrejas que têm assumido um compromisso sério e fiel, e outras que fazem promessas,
acham emocionante envolver-se com missões, mas logo se esquecem dos compromissos, ou
aparecem custos com a construção e o missionário descobre que ficou sem sustento. Quanto
mais tempo o missionário ficar no campo, mais fraco se mostra o compromisso.

Não há dúvida que Deus é fiel, e não abandona seus filhos que saem em obediência ao
chamado. Por outro lado, é uma atitude irresponsável, se a igreja e a agência esperam que Deus
sustente o missionário e não são fiéis no apoio ao obreiro que enviaram. Conheci missionários
brasileiros sem dinheiro para comer, que ficaram dependentes da ajuda de irmãos nacionais ou
de outros missionários. O missionário precisa de irmãos e igrejas que assumam um
compromisso sério de apoio financeiro e espiritual.

É necessário analisar o custo de vida no campo missionário, e promover o sustento adequado


àquele contexto. Muitas vezes surgem dificuldades no envio de dinheiro, no câmbio da moeda.
Mas podem ser encontradas alternativas criativas. Eu costumava comprar livros com meu
salário, que eram vendidos pela Associação de Evangélicos, e recebia depois o meu sustento em
moeda nacional. Outras missionárias recebiam roupas e vendiam parte delas para conseguir seu
sustento. Alguns missionários fizeram negócios lucrativos, pedindo dádivas para os angolanos
sofredores, e depois vendendo os produtos à classe mais rica.

A questão se complica às vezes com a diferença entre o câmbio oficial e o paralelo. Na Angola
(até 1992) no oficial 1 US$ = 30 kwanzas; no paralelo 1 US$ = 3.000 kwanzas. Quase nada se
conseguia comprar no mercado oficial, e no mercado paralelo os preços estavam baseados no
câmbio paralelo. Assim 1 frango custava mais de 100 dólares. O governo considerava negócios
do mercado paralelo como crime. Os líderes das igrejas pregavam que era pecado. Na prática
ninguém conseguia viver com salários oficiais e todos tinham de dar um jeito de sobreviver.
Alguns perdiam qualquer orientação ética e se enriqueciam explorando outros. Os que
defendiam o câmbio oficial também se aproveitavam da situação. Muitos crentes viveram
cheios de dúvidas e temores, sem possibilidade de sobrevivência se não se envolvessem de
alguma maneira com negócios “ilegais”. Qual deveria ser a atitude do missionário em tal
contexto?

A agência missionária tem muito mais experiência do que a igreja, sabe mais facilmente dar
orientação sobre o nível de sustento necessário, sobre maneiras de encaminhar o dinheiro, e a
agência não abandonará o missionário no campo, encontrará meios de trazê-lo de volta à casa,
está mais estruturada e informada para orientar o sustento do missionário no campo, e intervir
no caso de crises.

O compromisso financeiro com a obra missionária é uma bênção. Quando Deus coloca seu
amor no coração da igreja, sua pobreza não impede o compromisso. É uma grande bênção
receber os cinco reais mensais de uma pessoa que ganha o salário mínimo, e essa pessoa
receberá sua recompensa de Deus. A igreja que se compromete com o sustento da obra
missionária também não se tornará mais pobre, pelo contrário será abençoada (2 Coríntios 8.1-
9; Atos 4.32-34). Pense também nos cinco pães e dois peixinhos oferecidos com amor por um
jovem, e como Jesus multiplicou. Quando damos o que podemos, Deus proverá e abençoará os
que dão e os que são sustentados.
(VAN DER MEER, 2004, p. 20-21)

- 25 -
Betty Barnett, no seu livro Friend Raising- Building a Missionary Support Team That Lasts,
(Levantar Amigos – Estabelecendo uma Equipe de Sustento que Dura) (YWAM) Sugere 4
pilares para manter uma base de sustento.

MINISTÉRIO

1 2 3 4

Pilar No 1: Relacionamentos

Em estabelecer relacionamentos duradores Deus vai suprir as necessidades financeiras e


emocionais que vamos ter no campo. Devemos cultivar mais amizades do que ver as amizades
como fonte de sustento financeiro. “Quando o dinheiro é o nosso alvo principal, tudo que
fazemos no levantar do sustento vai ser marcado pelo amor ao dinheiro. Quando o estabelecer
de amizades é a nossa motivação principal, agiremos de acordo com o coração de Deus que é de
amar a Ele e amar o nosso próximo; esse é o alvo dos dois maiores mandamentos.”
(BARNETT, 2003, p. 23).

“Se tentarmos forçar pessoas a darem por motivo de obrigação, pressão, ou culpa, abafamos a
generosidade verdadeira e todos perdem as bênçãos. Os resultados também podem ser ganho
financeiro de curto prazo e relacionamentos quebrados de longo prazo.”
(BARNETT, 2003, p. 44)

Uma equipe mantenedora não é para o nosso benefício, mas para o benefício do mundo.
Betty Barnett

Pilar No 2: Generosidade

Generosidade provém um alicerce piedoso para nós levantarmos sustento. Devemos procurar
ser generosos e servir a outros acima de ser servidos (2 Corinto 9.10-12).

Há uma tentação de focar no “receber”. Deus quer que sejamos contentes com a quantia de
recursos que Ele dá (Provérbios 30.8, 9), e que tenhamos um estilo de vida de generosidade.
Jesus é o exemplo supremo de generosidade.

Não podemos esperar que o povo de Deus seja generoso com o nosso ministério se não
demonstramos um espírito de generosidade a outros. Quando somos generosos para outros
estamos ofertando a Deus. Generosidade sempre vai nos custar algo, seja o nosso tempo ou das
nossas finanças.

- 26 -
Pilar No 3: Comunicação

Comunicação foi criada por Deus para formar a interdependência entre indivíduos, a
evangelização e amizade. Em 1 João 1.3 o apóstolo João disse que ele e outros apóstolos
estavam proclamando o que haviam visto e ouvido.

Alguns missionários como George Müller e Hudson Taylor, comunicaram somente a Deus as
suas necessidades financeiras. Outros comunicam as suas necessidades para Deus e para outras
pessoas. Um exemplo de comunicação para Deus e para outras pode ser visto nas normas da
missão Missionary Aviation Fellowship (MAF).

É a norma de MAF comunicar honestamente e veridicamente compartilhar os desafios que


enfrentamos no nosso ministério em todo o mundo. Compartilhamos com os nossos amigos as
nossas necessidades e possíveis soluções para que eles possam avaliar em oração se gostariam
de ajudar financeiramente de acordo com o direcionamento e provisão de Deus. Cremos que a
motivação real vem através de Deus movendo no coração de pessoas. A nossa responsabilidade
é informar e dar a oportunidade para pessoas contribuírem sem impor obrigação ou pressão.

Tem hora para orar e hora para falar. Nunca devemos usar a nossa comunicação para manipular.
Deus deseja contentamento. Há também diferentes épocas em nossas vidas, as épocas de
abundância e a escassez. Deus deseja que sejamos contentes e dependentes nEle em cada
situação. Somente Ele pode prover uma base firme de sustento para o nosso ministério.

Em nossa experiência pessoal, procuramos oportunidades para compartilhar o ministério que


Deus tem nos dado e pedimos a Ele para levantar um grupo de pessoas comprometido a orar por
nós e nos manter financeiramente. Nós só falamos sobre a questão financeira para pessoas que
perguntam especificamente quais são as nossas necessidades. Queremos que Deus toque no
coração das pessoas que Ele quer que participem conosco financeiramente. Em todos os anos no
campo, Deus tem provido fielmente. Através dos anos, muitas pessoas têm orado por nós e dado
fielmente. Da nossa parte, temos sido fieis em demonstrar gratidão e também fieis na
comunicação. Oramos pelos nossos mantenedores e regularmente comunicamos com eles.
Procuramos meios para expressar a nossa gratidão através de cartas pessoais e pequenos
presentes.

Pilar No 4: Oração

Esse pilar vai ser a nossa fonte de maior força. É muito fácil sair para a batalha sem o poder e
proteção de oração. Ministério é difícil, não podemos confiar em nossas próprias forças.
Precisamos orar e também precisamos ter um grupo de pessoas orando por nós regularmente.
Também precisamos estar cada dia na Palavra de Deus, usando as verdades das Escrituras para
combater na batalha espiritual.

A. Possíveis Razões Porque Temos Dificuldade em Levantar Sustento

1. Manipulação (1 Coríntio 10.12, 13; Salmos 139.23, 24)


Corrie ten Boom falou para uma pessoa, “Eu prefiro ter um dólar que o Senhor lhe
direcionou a dar do que mil que Ele não direcionou a dar”.

J. Hudson Taylor escreveu: “Em uma regra geral, oração é respondida e os recursos
chegam, porém se temos que esperar, a benção espiritual é muito mais preciosa do que a
dificuldade”.

- 27 -
“Manipulação difama o caráter de Deus. Temos que ser transformados na imagem de
Cristo. Ele modelou graça, verdade e liberdade, mas nunca manipulação”.
(BARNETT, 2003, p.97)

2. Ataques espirituais do inimigo.


“Generosidade é batalhar espiritualmente contra a avareza e o materialismo. A
generosidade ataca o domínio que Satanás tem sobre o dinheiro.” (BARNETT, p. 101)

3. Negligenciar compromissos. Tanto o missionário quanto o mantenedor devem cumprir


seus compromissos (Números 30.1, 2; Mateus 5.37).

4. Espírito de pobreza. Quando um missionário tem dificuldade na área financeira, é


possível que ele não esteja dando seu dízimo e, muitas vezes, está endividado. Uma
falta de generosidade, não dando os nossos dízimos, não gerenciando bem as nossas
finanças e nos endividando pode causar um espírito de pobreza em nossas vidas. Peça a
Deus como deve gastar o seu dinheiro. Peça que lhe dê sabedoria quando for fazer as
compras.

5. Desobediência. (Salmos 128.1, 66.18, 19) Alguns missionários não verão melhoria no
seu sustento até que eles corrijam algumas questões pessoais nas suas vidas. Deus está
preocupado com todos os detalhes da nossa vida.

6. Ingratidão. Podemos ser ingratos quando não expressamos gratidão a Deus ou a um


mantenedor.

7. Falta de integridade (Mateus 25.21). Tem mais versículos bíblicos que tratam com a
questão do dinheiro do que quase qualquer outro assunto. Deus quer que tenhamos
integridade no gerenciamento das nossas finanças. Como gerenciamos e usamos o
nosso sustento financeiro será visto pelo mundo. Devemos continuamente testar o uso
do dinheiro que foi confiado a nós.

Teste de integridade financeira:


 Devemos prestar relatórios financeiros aos nossos mantenedores;
 Manter boa contabilidade das nossas finanças;
 Pagar os devidos impostos;
 Contatar os mantenedores se dinheiro pedido ou recebido, exercer as
necessidades do projeto. Pedir permissão dos mantenedores e a agência
missionária para usar o excesso do dinheiro para outro projeto;
 Seja completo e honesto nos relatórios. Não exagere o progresso do trabalho,
não omita informação importante;
 Dê informação verídica sobre as finanças e pedidos de oração;
 Seja honesto sobre dificuldades e batalhas. Não tente dar a impressão que é um
missionário perfeito, pois não existe um desses;
 Seja honesto e transparente com o Senhor, consigo mesmo e com seus
mantenedores.

- 28 -
8. Não perdoar (Salmos 133.1)
Nós precisamos perdoar nossos amigos e familiares se eles não correspondem conosco.
Se pararmos de corresponder com pessoas só porque não ouvimos delas podemos
magoar a elas e machucar a nós mesmos. Muitas vezes pessoas vão orar por nós ou
serão encorajados em ler as nossas cartas e e-mails, mas não mandam correspondência
para relatar esses fatos.
(BARNETT, p. 95-120)

9. Outra razão que não conseguimos levantar sustento é porque Deus acha que não
estamos prontos para o trabalho missionário. O tempo que leva para levantar o sustento
é um tempo de crescimento em nossas vidas.

Falta de sustento

A falta de sustento é uma situação quase que generalizada. Têm vários grupos específicos:

 Missionários que vão para o campo com promessas de sustento que não são
cumpridas;
 Missionários que têm sustento, mas de uma hora para outra o veem cortado – e isso
por “n” razões;
 Missionários que assumem um ministério sem sustento, “pela fé”, crendo que Deus
suprirá suas necessidades sem que tenham de fazer “nada” a respeito;
 Missionários que iniciam um ministério, recebendo um prazo da agência ou junta
de missões para alcancem seu sustento, mas o tempo vai passando e isso não
acontece;
 Missionários que “fazem tendas” e tentam conciliar o ministério com o trabalho
secular, crendo que assim “não precisarão se preocupar” com sustento;
 Missionários que se filiam a juntas denominacionais crendo que estas mesmas têm
obrigação de “pagar” o seu sustento.

Em quaisquer dos seis casos há três pontos em comum: falta de treinamento adequado,
desinformação a respeito do que a Bíblica diz sobre o assunto e falta de equilíbrio. Aqui
apresentar um princípio fundamental: levantar sustento não implica interrupção do ministério;
levantar sustento faz parte do próprio ministério, afinal, sem sustento não poderá haver
ministério.”
(MESQUITA, 2011, p. 22)

O que a Bíblia diz sobre levantar recursos para a obra de Deus?

Monica Mesquita, no seu livro, Missionários e Recursos, discutiu várias passagens bíblicos
para descobrir princípios neste assunto. A seguinte é uma parte do discurso.

1. O projeto do Tabernáculo
Êxodo 25.1, 2; 35.5, 20-29; 36.5 -7

O que podemos concluir nessa passagem:


 Tudo que existe pertence a Deus.
 As necessidades para suprimento da obra de Deus devem ser comunicadas ao povo de
Deus.
 Deus quer que seu povo participe materialmente de sua obra.
 A natureza da oferta deve estar pautada na voluntariedade.
 É Deus quem leva a seu povo a ofertar.

- 29 -
 Quando o padrão bíblico é observado, os resultados são positivos e podem até superar
as expectativas.

2. O sustento pessoal do profeta

1 Reis 17 – Elias é sustentado pela viúva em suas necessidades pessoais mais básicas. A
viúva não sustentou Elias por sua própria vontade, pois foi Deus quem lhe ordenou que
o fizesse (v.9). [...]

Nesse projeto em particular, observamos mais amiúde os resultados da relação


missionário e mantenedor. Onde há esse tipo de associação, duas vertentes fazem-se
presentes: o missionário é abençoado pelo mantenedor e o mantenedor é abençoado
pelo missionário. Sempre que há uma parceria ministerial entre um missionário e um
mantenedor, ambos passam a desenvolver uma amizade genuína, a compartilhar
necessidades das mais diversas, a desenvolver e aprimorar sua vida de oração e esse
tipo de relacionamento conduz ambos para mais perto de Deus, fazendo-os colher os
mais preciosos frutos espirituais.

3. O projeto dos muros

Neemias 2.1-10

 Sempre que o missionário tiver a oportunidade de expor seu projeto, deve


primeiramente buscar a Deus em oração.
 Seu projeto deve ser apresentado com coerência, detalhes e de forma
organizada e plausível.
 Deus pode usar quem ele quiser para prover meios de realizar a sua obra,
inclusive um ímpio. Obviamente vemos isso com uma exceção e não como
regra, afinal o ato de contribuir é um privilégio com implicações espirituais
para o povo de Deus.
(MESQUITA, 2011, p. 36-42)

Entendendo os que contribuam

O amigo – é aquele que contribui com o missionário porque é amigo pessoal dele. Já o conhecia
antes de ir ao campo, já se relacionavam, sabe de sua seriedade e compromisso. Acima de tudo
o considera seu grande amigo.

O frustrado – é o que contribui porque ele mesmo gostaria de ser um missionário. Contudo as
coisas não saíram como ele queria e contribuindo ele sente que tal missionário está sendo
missionário no lugar dele.

O visionário – esse contribuinte quer ver o propósito de Deus sendo cumprido no mundo e
sente-se responsável por isso. Seu pressuposto está em Mateus 28.19.

O constrangido – esse aqui sente desconforto em dizer “não” quando é desafiado e a se


envolver num ministério.

O apaixonado - é motivado pelo amor que sente por Jesus. Além disso, acha que dando ao
missionário está dando também a Deus.

O solidário – esse contribuinte é sensível à grande necessidade mundial do conhecimento de


Cristo. Ademais, ele se sensibiliza com a miséria, menores abandonados, epidemias, guerras,
ET. Ele também poderia ser chamado de o “empático”.

- 30 -
O paizão (ou mãezona) – geralmente são pessoas idosas, que resolver “adotar” o missionário e
trazê-lo guardado no coração como um filho.

O abençoado – esse aqui contribui porque recebe bênçãos as quais atribui ao fato de ter
ofertado.

O transvisionário- ele já é um missionário atuante e por admirar o ministério de alguém quer


abençoá-lo financeiramente.

O esclarecido – contribui por saber que o trabalho que determinado missionário realiza é, em
última instância, um trabalho de Deus.

O corporativo – esse aqui nem sequer conhece o missionário, mas conhece a missão ou
organização a que ele pertence e a admira muito; por isso, contribui.

O interesseiro – contribui para poder deduzir do imposto de renda.

O parente – esse contribui por ser parente do missionário. Ele pode nem ser crente, mas deseja
participar daquele “trabalho”.

O vaidoso - esse quer ver seu nome publicado no jornal da denominação ou na lista dos
contribuintes de determinado ministério.

O anônimo – em contrapartida, há aquele que deposita a oferta para alguém sem jamais se
identificar, crendo que o importante mesmo é Deus saber sobre seu ato e suas intenções.

O articulador – é aquele que, além de contribuir, movimenta a igreja, faz campanhas e incentiva
outros a contribuírem.

O indeciso – é aquele que a cada mês envia a oferta para um missionário diferente.

O Papai Noel – aquele que só contribui em dezembro.

O oportunista – só manda a oferta quando está bem financeiramente, sem dívidas, ou com
algum dinheiro sobrando.

O ovelha – só contribui para os projetos ao missionários autorizados pelo pastor da igreja.


(MESQUITA, 2011, p.56-58)

“Um ponto importante é que em geral não são os ricos que contribuem para missões, por
estarem tão envolvidos em tantas coisas, mas sim os mais pobres, idosos ou aposentados.”
(MESQUITA, 2011, p. 73)

Sustento recebido de indivíduos

Os valores das contribuições são menores.


Geralmente os indivíduos darem respostas mais rápidas.
As pessoas, em geral, não determinam o tempo em que estarão ofertando para o missionário.

Missionários precisam compreender que é possível formar uma equipe que possibilitará seu
envio e permanência no campo. É preciso também que se compreenda a importância de se
manterem sensíveis e atentos aos costumes e ao sistema de cada igreja local no que concerne ao
estilo litúrgico, aos horários das programações e à forma de contatar os membros de uma
comunidade. Um missionário pode abrir ou fechar uma porta – em caráter permanente – em
uma igreja local, pela sua postura. Certa feita, nós organizamos uma abençoada conferência

- 31 -
missionária numa das igrejas em que trabalhamos. Uma das missionárias que convidamos para
dar testemunho foi avisada que tinha 10 minutos para compartilhar com a igreja. Enfim, ela
falou quase 40 minutos, a despeito dos sinais que fazíamos, deixando o pastor da igreja
profundamente irritado. Após a conferência, ele comentou conosco que se dependesse dele
aquela missionária jamais retornaria à sua igreja. Esse é um clássico exemplo do que um
missionário não deve fazer. Por outro lado, você pode estar certo de que o missionário que
observa de maneira consciente e responsável as regras que lhe são apresentadas será sempre
muito bem-vindo a determinada igreja.
(MESQUITA, 2011, p.78)

- 32 -
Lição No 6 – Mantendo Contato entre o Missionário e a Retaguarda
Se tem havido irresponsabilidade da igreja, e dos mantenedores, em relação ao sustento, por
outro lado o missionário (a) não pode negligenciar o contato regular, sincero e honesto com sua
equipe de retaguarda. Deve compartilhar suas perspectivas, lutas, dificuldades e vitórias. Quanto
mais informados estiverem, melhor será o sustento em oração e maior compromisso haverá com
o sustento financeiro. Isso quer dizer, se não se trata de uma igreja/agência que fica cobrando
objetivos numéricos irrealistas, e assim quase força o missionário a fabricar histórias de
sucesso.

Mas tem havido gente fazendo cartas que apresentam líderes, cristãos ou questões da terra onde
trabalhamos de uma maneira ridícula e desonrosa. Isso pode levar as pessoas a ter mais pena do
coitado do missionário, mais cedo ou mais tarde as pessoas a quem servimos podem vir, a
saber, e com que cara ficaremos? Isso mostra amor cristão? Se somos os enviados de Jesus
Cristo devemos ir com as atitudes dele (e nos arrepender de atitudes contrárias).

Cartas circulares devem levar em conta que as pessoas que vão lê-las não sabem muito do país
onde estamos. Devemos mostrar um breve pano de fundo do país, a situação atual, o estilo/o
nível de vida dos nacionais, a vitalidade (ou não) dos cristãos e dos cultos nacionais, que tipo de
atividades nós desenvolvemos, como seria mais ou menos uma semana na vida do missionário -
Incluindo as compras / suprimento de água e energia / contatos com cristãos e não cristãos, etc.
Devem não apenas apresentar o trabalho do missionário, mas também das pessoas a quem serve,
numa perspectiva equilibrada (mostrar que nem tudo depende do missionário). E devem
apresentar pedidos específicos de intercessão. Se você tem jeito para desenhar, coloque uns
desenhos simples, se tem filhos descreva também sua vida, suas atividades, sua integração. É
bom usar o senso de humor, mas use-o mostrando como você é esquisito aos olhos dos
nacionais, e não como eles são esquisitos aos seus olhos.
(VAN DER MEER, 2004, p. 22-23)

Ideias Práticas para Fortalecer o Relacionamento com Mantenedores

1. Visite os mantenedores face a face. Procure maneiras para fazer memórias com eles.
Não dê prioridade aos relacionamentos com mantenedores que lhe sustenta com maio
valor financeiro. Lembre-se que aqueles que oram por você são tão importantes quanto
àqueles que lhe sustentam financeiramente.
2. Ligações telefônicas ou por Skype. Fale com os mantenedores expressando gratidão
pelas orações e sustento financeiro. Pergunte como eles estão passando e quais seus
pedidos de oração.
3. Cartas circulares. Escreva regularmente cartas circulares para dar notícias do ministério
e da família.
4. E-mail. Mande regularmente por e-mail notícias e pedidos de oração do ministério. Se
puder, coloque recados pessoais no e-mail isto vai ajudar a manter o contato pessoal
com os mantenedores.
5. Cartas pessoais. Cartas circulares são importantes, mas pessoas gostam de receber
cartas pessoais. Pelo menos uma vez por ano escreva uma carta pessoal para cada
mantenedor para expressar gratidão pelo sustento financeiro. Também reconheça
pessoalmente cada oferta especial. A expressão de gratidão é muito importante. Peça
para pessoas pedirem a sua permissão antes de colocar qualquer comunicação sua na
internet. Às vezes tem informação nas suas comunicações que não gostaria que
qualquer pessoa visse.

- 33 -
6. Facebook, blogs, e sites na internet. Facebook, blogs e sites no internet, podem ser úteis
para manter pessoas informadas com respeito ao seu trabalho. Tenha muito cuidado
com o que se coloca no internet. Lembre-se que tanto seus amigos como os seus
“inimigos” podem acessar informação na internet.
7. Comunique com igrejas. Mande informação que pode ser incluído nos boletins ou cartas
circulares das igrejas. Mande para igrejas mantenedores DVDs com apresentações de
PowerPoint e filmes do seu trabalho. Esses podem ser apresentados para a congregação
durante um culto ou escola dominical.
8. Presentear os mantenedores. Muitas vezes as agências missionárias têm artigos como
camisetas, canetas, livros, que podem ser dados como presentes ou lembranças para os
mantenedores. Procurem artigos da cultura com qual trabalha que podem ser dados
como presentes ou lembranças.
9. Esteja ciente dos acontecimentos na vida dos mantenedores. Peça para as suas igrejas
mandarem notícias, boletins e cartas circulares para que você fique ciente do que está
acontecendo com as pessoas nas igrejas. Assim você pode orar por elas e mandar cartas
de encorajamento.

Os nossos mantenedores e os que oram por nós é a equipe que sustenta a nossa vida. Eles são a
nossa torcida, e pessoas que tem o direito de fazer perguntas difíceis e cobrar de nós.
(BARNETT, 2003, p. 67)

No seu livro, Missionários e Recursos, Mônica Mesquita fala sobre a importância de cartas de
agradecimento.

A carta de agradecimento é a carta que o missionário envia a todas as igrejas e pessoas que de
alguma maneira participaram de seu ministério ou abençoaram a sua vida, seja através de:
hospedagem, doação de qualquer espécie, contribuição financeira, tratamento médico, ajuda
com documentos, apoio em momentos de crise, intercessão, etc. São incontáveis as maneiras de
alguém se envolver com um missionário. Conheço missionários que receberam milhas aéreas,
que receberam equipes voluntárias para a construção de uma casa na aldeia, que receberam
doação de motores a diesel, doação de veículos, ou algo mais simples, como um corte de cabelo,
uma sacola de roupas ou uma ida a um restaurante. Não importa o que tenha sido: tudo deverá
ser agradecido.

[...] Quando a igreja local recebe a sua, entende que você de fato recebeu a oferta enviada, e
aprecia sua atitude de gratidão. Outro aspecto de toda essa dinâmica é que carta de
agradecimento é um estímulo para as pessoas e igrejas continuarem firmes no envolvimento
com o seu ministério.
[...] A carta de agradecimento não é um jornal. Pode ser um simples cartão postal, um breve e-
mail, um cartãozinho confeccionado pelo próprio missionário. Se a quantidade for grande, use o
mesmo texto para todas, mudando apenas uma coisinha ou outra Simples. Não complicar .
(MESQUITA, p. 107, 108)

- 34 -
Idéias Práticas para Cartas Circulares

Carta circular não é um pretexto para ‘pedir dinheiro’, é uma carta que tem por objetivo
principal informar a respeito do ministério, compartilhar pedidos e respostas de oração, apontar
os próximos passos e, além disso, deve ser escrita de maneira que estimule e contagie as pessoas
e se manterem firmemente envolvidos com o ministério.
(MESQUITA, 2011, p. 109, 110)

Enviem no mínimo 4 (3 em 3 meses) e no máximo 6 (2 em 2 meses) cartas circulares por ano.


Devem ser cartas de no máximo duas páginas. Ocasionalmente devem conter fotos. Devem ser
muito bem escritas, tanto no que se refere à ortografia quanto à estética. A fonte não pode ser
muito pequena, para não dificultar a leitura. [...]

A carta circular também deve conter as possibilidades de contato com seu remetente: endereço,
e-mail, telefones, Skype, etc. [...]

Algo que deve ser dito é que a carta circular não é lugar para sermão. [...] Quem recebe a carta
do missionário não quer encontrar ali um sermão, mas notícias pertinentes o trabalho daquele
missionário. Não estou dizendo que você não pode compartilhar um versículo, vez por outra, em
sua carta, que porventura tenha falado ao seu coração naquele período.
(MESQUITA, 2011, p. 110, 111)

Dicas

 No primeiro parágrafo da carta faça com que o leitor fique interessado no que se quer
comunicar.
 Tenha uma apresentação atraente. A carta deve se bem planejada, e bem legível.
Coloque fotos e resuma bem o que quer comunicar.
 Seja honesto.
 A sua comunicação deve vir do coração.
 Comunique bem o que quer falar sem sobrecarregar a carta com informação e sem ser
muito genérico.
 De carta em carta, varia o tipo de informação dada.
 Comunique sobre a sua família, não só sobre o ministério.
 Seja específico com respeito aos pedidos de oração.
 Mande as cartas circulares regularmente pelo menos de três em três meses.
 Faça revisão da carta para corrigir qualquer erro.

Ore antes de mandar a sua carta para que Deus possa usá-la. Nunca se sabe quem vai ler a
carta e quem possa ser tocada pela mesma (Hebreus 10.24).

- 35 -
Carta de Apelo

A seguinte informação é do livro, Missionários e Recursos, escrito por Mônica Mesquita,


página 114.

A carta de apelo tem o objetivo convidar a pessoa, ou igreja, a se envolver com determinado
projeto missionário. A carta deve ser clara, com uma linguagem acessível, com uma boa
explicação do projeto e que se refere, das necessidades para a execução desse projeto, e, por fim
deve conter, sem rodeios, as opções que a pessoa tem de envolvimento.

A carta de apelo pode ir acompanhada por uma cópia do projeto missionário, para que o
destinatário tenha uma noção bem elucidada da proposta que está recebendo. Outra ação
importante é que a pessoa que lê deve entender muito bem o que precisa fazer no caso de
decidir se envolver com aquele projeto [...]

O próprio missionário pode ser o remetente da carta ou então o líder da organização a qual ele
pertence.

Não deve enviar uma carta de apelo para a mesma pessoa mais do que uma vez por ano. Se após
um ano de envio a pessoa ou igreja não concedeu nenhuma resposta, você pode fazer uma
segunda tentativa.

Uma variação da carta de apelo é aquela que é enviada de maneira institucional. Não é o
missionário, mas a organização missionária é quem assina e envia a carta, conclamando os
leitores a abraçarem determinada causa ou projeto. Ë fundamental numa carta como essa a
história que será contada. Deve ser uma história real (mesmo que os nomes dos protagonistas
precisem ser preservados) que retrate muito bem a maneira como Deus tem usado aquela
organização para que haja salvação e glórias a seu Nome.
(MESQUITA, 2011, p. 114)

Dicas sobre o Uso de E-mail

Pense sempre na pessoa para quem você enviará um e-mail. Será que ala tem um baixo
movimento em sua caixa de entrada? Será que ela é muito ocupada e recebe inúmeros e-mails
diariamente? Será que o computador dela possui o programa adequado para abrir seu anexo?
Será que a Internet dela tem uma boa velocidade e consegue abrir arquivos muito pesados?
Tudo isso faz parte do contesto de comunicação via e-mail. Não envie textos muito longos, nem
arquivos muito pesados, com muitas imagens. Utilize programas mais acessíveis à maioria das
pessoas. Produza conteúdos resumidos e bem elaborados, que levem o interlocutor a ler a
mensagem e não simplesmente, a apagá-lo.

Dicas sobre apresentações em igrejas

 Sempre que o missionário for a uma igreja, o ideal é que converse antes com o pastor,
para saber como funciona o sistema de contribuições naquele meio e se há liberdade
para falar com os membros a respeito desse assunto.
 No caso do uso de audiovisuais em igrejas, é preciso haver uma revisão contínua do
equipamento a ser usado: data show, laptop, retroprojetor, etc. O equipamento precisa
ser previamente checado e é bom que haja sempre lapadas sobressalentes, fios de
extensão, transformadores, lanternas, etc. Algumas vezes, inexplicavelmente, o arquivo

- 36 -
que está em seu pen drive resolve não abrir bem na hora da apresentação, por isso tenha
sempre à mão uma outra opção (você pode levar também um CD ou DVD).
 Se for levar material impresso, o missionário deve se informar com antecedência sobre
a média de participantes nos cultos. Isso evita que falte material ou que se leve material
em excesso.
 Uma chave para o sucesso é chegar com bastante antecedência. Isso fará com que tenha
tempo suficiente para preparar tudo e ainda ter um momento de oração antes do culto.
 Tão importante quanto chegar cedo é manter-se disponível após o culto para conversar
com todos os interessados. É constrangedor quando um missionário “sai correndo”
assim que termina a reunião.
 Se o missionário for casado, é muito bom que a família o acompanhe. A igreja gosta de
conhecer a esposa e os filhos.
 Uma ferramenta quase que imprescindível é o que chamamos de “cartão missionário”
ou “folder missionário”. Seria aquele impresso com a foto da família (ou pessoa), um
resumo do chamado missionário e uma parte destacável com as opções de
envolvimento. Há uma infinidade de modelos e sugestões. Escolha um que seja prático
e facilmente assimilável.
 Após a participação naquela igreja, é recomendável que o missionário envie uma
cartinha de agradecimento aos irmãos pela oportunidade concedida (se for com uma
foto, melhor ainda).
 Durante alguns meses, talvez por um ano, cada carta de oração ou carta circular que o
missionário enviar à sua lista deve ser enviada àquela igreja também.
 Em geral, demora para conceder uma data ao missionário. O pastor precisa consultar a
agenda e, dependendo da igreja, já existem programações marcadas para o semestre ou
o ano inteiro. Por isso, para planejar um período de divulgação, o missionário deve
começar a se organizar com bastante antecedência.
 O tempo de apresentação é bem resumido. Às vezes, o pastor ou responsável concede
10 ou 15 minutos. Há casos de 5 minutos ou outros de meia hora. Enfim, a apresentação
deve ser preparada de forma que o tempo seja aproveitado da melhor maneira possível.
 O uso de recursos audiovisuais é bem limitado. Muitas igrejas ainda não têm esse
equipamento.
 A liderança demora um bom tempo para dar a resposta ao missionário – que pode ser
um “sim” ou um “não” – pode levar meses.
 Os valores das contribuições das igrejas, na maioria das vezes, são baseados no salário
mínimo vigente: ½ SM, 1 sm, 2 sm, 3 sm ou mais, dependendo do caso.
 O compromisso firmado quase sempre é anual, podendo ser renovado por muitos anos,
ou não. Isso depende de vários fatores.
(MESQUITA, 2011, p. 73-76)

Dicas Importantes para fazer uma boa apresentação ministerial

“Independentemente do tempo que você tiver, a apresentação ainda assim seguirá esse formato,
e o que você fará é dividir as 4 partes em termos percentuais com relação ao tempo: Introdução
(20%), Causa (55%), Chamado (20%), e Desafio (5%).”
(MESQUITA, 2011, p.92)
Introdução:

A introdução é um momento crucial para a sua apresentação, “pois, dependendo de sua atitude e
do que disser, você verá captado a atenção de seus ouvintes ou...não!”

“Lembre-se: a apresentação de seu ministério não é um sermão. Pode dar alguma


informação importante sobre o país, povo ou nação em que trabalha, ou vai trabalhar mundiais
(não se esquecendo de mencionar a fonte) ou algo mais específico.”
(MESQUITA, 2011, p.94)

- 37 -
Causa:

A casa é o cerne da apresentação. É o momento que usufrui o maior tempo e é na causa que o
missionário usará seus argumentos de por que as pessoas que o ouvem devem abraçar aquele
ministério. Você pode compartilhar uma experiência marcante, a história de uma vida (ou
comunidade) que tenha sido alcançada e transformada pelo poder de Deus no seu campo
missionário. Se ainda não foi para o campo, você deve mencionar a grande carência espiritual
daquele povo, quais seus costumes e religião predominante, o que sabem de Cristo, se já
possuem a Bíblia na língua deles, se vai usar sua formação Professional e/ou acadêmica a favor
do ministério, o que pretender fazer, como funciona o processo para obtenção de visto, se há
perseguição religiosa, quanto tempo se passará até que volte ao Brasil, enfim, são apenas
algumas ideias e pode ser que você tenha outras ainda melhores.

Na causa você pode mencionar o valor da Agência, Junta ou Organização a que pertence,
lembrando que na maioria das vezes esses organismos são totalmente desconhecidos pelas
igrejas locais e até pelos seus lidere. Cuidado com o uso de siglas e termos que para você são
familiares, mas que para seus ouvintes podem não significar “nada”. Se o local de sua
apresentação oferece condições para o uso de imagens, você deve ser diligente quanto ao que
vai dizer somado à apresentação dessas imagens para que o tempo não se extrapole.
(MESQUITA, 2011, p.95)

Muitas igrejas ainda não possuem datashow e algumas pequenas congregações nem sequer têm um
retroprojetor. Informe-se com antecedência para saber da possibilidade de usar ou não um recurso
audiovisual. Sem esse aparato, você deve ser ainda mais criativo no uso do tempo que estiver a sua
disposição.
(MESQUITA, 2011, p. 96)

Chamado:

O chamado (o mesmo que testemunho) talvez seja a parte mais fácil da apresentação, uma vez
que você falará sobre si mesmo, e essa é a razão pela qual recomenda cautela. Quando falamos
sobre nós mesmos, acabamos por nos esquecer do tempo e nos delongamos demais. Lembre-se
de que 20% de seu tempo total de apresentação deve ser usado no chamado. Então, se você
tiver, por exemplo, 10 minutos, deverá fazer essa parte em 2 minutos. Na medida do possível,
fale como ocorreu seu chamado missionário, sobe sua formação acadêmico e sua atuação
profissional antes de vir para missões, sobre o tempo investido em seu preparo antes de se tornar
um missionário. Só for casado, mencione a família, filhos, como conheceu sua esposa, etc.
Quando o casal puder estar junto na apresentação, pode combinar de os dois participarem. Às
vezes, um tem mais jeito para a causa, o outro para o chamado, etc.
(MESQUITA, 2011, p. 96 - 97)

O Desafio:

A melhor maneira de evitar problemas na hora do desafio é estar muito bem preparado. Quando
ainda estiver em casa, deve-se escrever o que vai dizer, escolher as palavras, fazer alguns
ensaios para medir o tempo. Quando possível, pedir a opinião de alguém. Não deixar para
inventar qualquer coisa de última hora: isso certamente não dará certo. [...]

Mantenha-se focado naquilo que você quer. Se o que precisa é de pessoas que se envolvam
financeiramente em seu ministério, seja claro e específico. Obviamente haverá outras
necessidades [...] Outras necessidades poderão ser compartilhadas em outro momento e de
outras maneiras.
(MESQUITA, 2011, p. 98, 99)

- 38 -
Lição No 7 – Preparando Para Ir
Preparos Antes de Sair Para o Campo Missionário

Pastor e missionário Oswaldo Prado, no seu livro Do Chamado ao Campo, faz as seguintes
observações interessantes.

Quanto tempo levar para chegar ao campo?

Conheço missionários que hoje servem em campos missionários transculturais que levaram
entre 5 e 10 anos, e outros mais tempo, para chegarem ao campo. Durante todo este período
foram devidamente capacitados tanto na igreja local, como também junto a instituições
teológicas visando um preparo missiológico adequado. Desta maneira é muito difícil determinar
arbitrariamente quanto tempo o vocacionado leva para chegar ao seu destino, pois são inúmeras
as variáveis que compõe esta equação.
(PRADO, 2001, p. 69)

Se olharmos para a realidade missionário latino-americana reconheceremos rapidamente que


nosso ‘calcanhar de Aquiles’ reside naquilo que chamamos de imediatismo. Na verdade, aqui no
Brasil, este costume junta-se a outro fator que podemos denominar de ‘jeitinho brasileiro’, que
se traduz côo aquele comportamento muito comum de realizar as tarefas que temos em nossas
mão no último momento, quando não, fora do tempo determinado. Desta maneira junta-se a
rapidez inconsequente à uma inusitada irresponsabilidade no desenvolvimento cronológico das
nossas tarefas. [...]

Devemos relembrar que o trabalho que realizamos para a extensão do Reino de Deus na Terra
deve ser feito com a máxima seriedade. Não estamos realizando tal trabalho em nosso nome,
nem tampouco no de nossa instituição. Servimos Àquele que é Senhor sobre tudo e sobre todos.

O esforço de uma igreja local no sentido de ser bênção para aqueles que estarão indo para o
campo deve se refletir no cuidado para não queimar etapas em todo o processo, e para isso dois
cuidados devem ser tomados: o primeiro diz respeito àquilo que chamo de ‘síndrome da pressa’.
Para chegarmos a determinado local nos utilizamos uma estrada que foi construída exatamente
para aquele fim, iniciando a viagem no primeiro quilômetro de certa rodovia, mas também pode
acontecer algo diferente quando alguém nos diz que é possível chegar àquele destino por alguns
outros atalhos.

E é isto que normalmente acontece quando a pressa toma conta do processo de envio do
vocacionado de nossas igrejas. Buscamos caminhos mais curtos e que imaginamos, irão nos
trazer benefícios. Um grande engano! Estaremos apenas queimando etapas importantíssimas na
vida do vocacionado que se prepara para servir num determinado campo.

Mas também há um outro sinal de alerta para dimensionar a caminhada do vocacionado na vida
da igreja: se por um lado, a rapidez pode nos levar a cometer erros, também pode existir
procrastinação. Um comportamento exatamente contrário àquele que citamos acima, e nesse
caso, deixa-se tudo para depois, pois não há nenhuma pressa na condução do processo. As
consequências da procrastinação são terríveis, pois podem deixar de lado etapas importantes, ou
simplesmente destruir os sonhos daquele que se sente chamado para servir ao Senhor. Não são
poucos aqueles que deixaram de lado todo o ímpeto de servirem como missionários, pois suas
igrejas deixaram de observar algumas etapas que deveriam ser cumpridas no tempo
determinado.
(PRADO, 2001, p. 70 – 72)

- 39 -
Obtenha treinamento adequado em: Teologia, linguístico, profissionalizante, etc.

Preparo espiritual: Prepara-se espiritualmente, pois a batalha é espiritual. Desenvolva uma vida
devocional com Deus. Junte materiais que vão te ajudar a crescer espiritualmente e manter uma
vida devocional. Esses materiais podem ser livros de bons autores evangélicos, sermões em CD
ou baixados para o computador, etc.

Preparo emocional: Desenvolva uma equipe de pessoas comprometidas a orar por você e
corresponder-se com você. Seria bom achar uma pessoa chegada com qual possa corresponder e
compartilhar as suas lutas e vitórias mais pessoais. Essa pessoa seria uma pessoa “segura” com
qual pode compartilhar coisas difíceis sem ela se escandalizar.

Saúde: Fazer exames médicos, tomar vacinas requeridas pelo país onde está indo.

Finanças: Pague todas as suas dívidas. É muito importante sair para o campo sem qualquer
dívida. Pela graça de Deus, levante o sustento adequado para custear a viagem para o campo,
custear as despesas iniciais como móveis, eletrodomésticos, carro, estudo da língua, etc.
Levante o sustendo adequado para as despesas do dia a dia e também para exercer o ministério.

Planos de emergência: Entenda os procedimentos da sua missão referente a situações de


emergência, como casos de doenças, acidentes, morte, evacuações de missionários, sequestro,
etc.

O que levar para o campo? Considere fazer uma visita ao campo antes de mudar para lá.
Visitando o campo, você terá a oportunidade de ver de primeira mão o que é disponível naquele
local e o que deve levar contigo.

Passaportes e vistos: A sua agência missionária pode ajudar entender que tipo de documentação
vai precisar para imigrar para o campo missionário. Deve também consultar o consulado do país
para qual deseja imigrar para saber que tipo de documentação eles exigem.

Chegando ao campo: Vai ser muito bom se alguém puder te ajudar nos primeiros meses da sua
chegada ao campo.

Questões importantes para levantar durante o período de preparação antes do envio:


 Sendo casado ou casada, como anda seu relacionamento conjugal?
 Se, solteiro, como tem lidado com sua vida afetiva?
 Teria passado por experiências traumáticas na infância, adolescência ou mesmo na
mocidade?
 Os filhos estão preparados para ir? Se estão na adolescência, isto não causaria um
possível trauma?
 Como anda a saúde física?
 Têm acontecido momentos de depressão com certa regularidade?
 Há constante desequilíbrio financeiro resultando no descumprimento de compromissos
assumidos?
 Há demonstração de equilíbrio entre as atividades “eclesiásticas” e o lazer?
 Existe um círculo de amigos que esta pessoa faz questão de preservar?
 O que diriam as pessoas que foram subordinadas ou superiores deste candidato?
(PRADO, 2001, p. 85)

Necessidades Imediatas ao Chegar ao Campo

Documentação de imigração: Verificar se deve comparecer a um órgão governamental para


apresentar seus documentos de imigração.

- 40 -
Moradia, móveis e eletrodomésticos: É bom comprar móveis e eletrodomésticos próximos de
onde vai morar para poder começar a desenvolver um relacionamento com os lojistas.

Compras no supermercado: Tendo ajuda nas primeiras visitas ao supermercado vai facilitar
muito a sua vida. É muito útil saber o que é equivalente aos produtos que você está acostumado
no Brasil. As primeiras visitas ao supermercado podem ser uma aventura. E a aventura continua
em casa ao abrir os pacotes e descobre o que realmente tem dentro.

Transporte: É importante entender o sistema de transporte coletivo que existe no país e no local
aonde vai residir.

Carro: É importante saber como tirar uma carteira de habilitação no país, pois é possível que vá
querer emprestar ou comprar um carro. No Brasil é possível tirar no DETRAN uma carteira de
habilitação internacional. Veja se o país onde está indo permite conduzir um carro com uma
carteira de habilitação internacional.

Estudos e escolas: Logo ao chegar ao país é importante começar a aprendizagem da língua e


cultura. Contratando um tutor ou matriculando-se numa escola pode ajudar com essa
aprendizagem.

Educação para os filhos: É bom entender as opções disponíveis para a educação dos filhos.
Matriculando-os numa escola local vai ajudá-los a aprender a língua, cultura e integrar na
sociedade.

Antonia van der Meer faz uma série de perguntas para ajudar pais avaliar a maneira de educar
seus filhos no campo.

“Em relação aos filhos há a questão da educação: Quais são as possibilidades/limitações,


vantagens e desvantagens de integrar os filhos no sistema nacional de educação? Quais são os
problemas/dificuldades e vantagens de uma educação por correspondência (em que a mãe vira
professora, e faltam os colegas); ou de uma educação tipo internato afastando os filhos dos pais?
Como enfrentar o problema das más influências (que não é exclusivo ao campo missionário)?
Até que ponto os filhos podem ser submetidos a privações? Faz mal para o filho viver uma vida
mais simples? Quais são as vantagens e desvantagens de crescer numa cultura diferente? Como
ajudar os filhos a se integrarem bem na cultura do campo, sem perder o contato com a cultura
dos seus pais?”
(VAN DER MEER, 2004, p.49-50)
Dicas para Novos Missionários

Thomas Hale faz as seguintes sugestões aos novos missionários:

1. Comesse com um senso de gratidão que você foi chamado para participar na obra de
Deus.
2. Disponha-se para aprender.
3. Observe.
4. Faça perguntas.
5. Seja realista com os seus alvos.
6. Combine os seus alvos com os de outros.
7. Seja paciente.
8. Não julgue os outros, seja humilde e respeitoso.
9. Não critique, a crítica é um veneno que destrói equipes e que algum dia também lhe
destruirá.
(HALE, 1995, p. 162)

- 41 -
Antonia van der Meer faz as seguintes observações na sua apostila Vida Missionária:

Não devemos esperar que, quando estivermos envolvidos e comprometidos com a obra
missionária, os relacionamentos serão sempre agradáveis, com compreensão e apoio mútuo
constantes. A maioria dos missionários tem personalidades fortes, tomam iniciativas, e
facilmente surgem confrontos, conflitos. Isso não deve nos desanimar, já era assim como os
discípulos. Tiago e João acharam que podiam ter os melhores lugares no Reino de Deus. Jesus
aproveita o momento de tensão entre o grupo para dar um ensinamento muito importante sobre
o significado da liderança no Reino. Nós também podemos aprender dos conflitos quando
juntos buscamos resolvê-los. [...]

Líderes mais velhos (nacionais ou missionários) podem se sentir ameaçados pelos mais jovens e
mostrar-se defensivos, e dogmáticos. Os mais jovens precisam de paciência e sabedoria para
não exigir mudanças rápidas, respeitando o conhecimento e a experiência dos mais velhos, sem
perder sua visão e criatividade – esperando a hora e a maneira certa de introduzir as mudanças.”
(VAN DER MEER, 2004, p.48)

Dicas para você se aproximar de pessoas:

1. Faça suas refeições com não cristãos.


2. Ande mais a pé e menos de carro.
3. Seja um freguês em lojas próximas à sua casa.
4. Tente se envolver em passa tempos saudáveis com não cristãos.
5. Participe em eventos na cidade.
6. Veja como você pode se envolver na sua vizinhança.

Prioridades para o primeiro ano

1. O aprendizado, o melhor possível, da língua nacional e/ou local. Procurar aprender bem,
gastar tempo, atenção esforço. É muito importante para o ministério, para entender as pessoas e
comunicar-se efetivamente.

2. O aprendizado da cultura – fazer perguntas, assistir a TV, ler livros de autores nacionais, ser
curioso e procurar entender. É bom ter algumas pessoas maduras/abertas que se tornam nossos
informantes/conselheiros. Outros podem ter vergonha, procurar esconder algumas coisas de nós,
porque acham que não vamos entender, que vamos lhes desprezar, etc.

3. Desenvolver amizades com os nacionais: gastar tempo com as pessoas não é perder, mas
ganhar tempo. Ore por seus novos amigos, procure conhecer suas ambições, seus temores, seus
interesses e procure oportunidades para começar a compartilhar sua fé. Não é necessário falar
perfeitamente a língua para começar a evangelizar.
(VAN DER MEER, 2004, p.46)

Definição e delimitação de suas tarefas

É importante definir o que nossos vários superiores esperam de nós:

1. A agência/nossa igreja – os que nos enviam tem expectativas em relação ao nosso ministério,
e estas devem ser claras, discutidas e concordadas, e também que não se tornar uma camisa de
força quando enfrentamos problemas/oportunidades inesperadas. Podemos explicar – lhes quais
são as possibilidades e oportunidades reais, sem nos desviar dos objetivos e da linha principal
de ação. Mas é impossível fazer planos realistas, longe da realidade do campo.

2. O que os nacionais esperam de nós? Caso tenhamos ido a convite de uma igreja nacional, é
bom que haja um contrato onde se especifica da maneira mais clara possível quais serão nossas

- 42 -
responsabilidades. Isso servirá como um ponto de referência/segurança (às vezes pode ser difícil
aceitarem um não a uma tarefa que nos querem dar), se bem que não devem nos tornar
inflexíveis, rejeitando as oportunidades que vão surgindo.

3. O que eu mesmo espero de mim – quais foram meus objetivos principais ao vir para o
campo? Quais são esses objetivos revistos à luz da realidade? Isso também ajuda a saber
escolher e entender quando devemos dizer não, e que novas oportunidades abraçar.

4. O que Deus espera de mim? Isso é primordial. E Ele espera em primeiro lugar que eu
continue sensível à sua voz, em comunhão com Ele, não negligenciando minha vida devocional,
e também que continue desenvolvendo um caráter cristão, no serviço humilde, com amor.

Às vezes haverá conflitos entre estas expectativas, e precisamos de sabedoria e graça para
superá-los.

Tão importante quanto é saber o que é nossa tarefa, é saber quais são as delimitações. Não
podemos fazer tudo. Nem tudo depende de nossos esforços. Se tentarmos fazer tudo estaremos
logo numa estafa, e não podemos servir a ninguém. O mesmo Deus que nos chamou, colocará
outros ao nosso lado, para dividir a carga. E devemos ter a visão de transferir responsabilidades
aos nacionais, fazendo discípulos para continuarem e ampliarem a obra. Se fizermos um
trabalho lindo que cai quando nós tivermos de nos retirar por qualquer motivo, não fizemos o
melhor. Mas se o trabalho continua e cresce após nossa saída então teremos cumprido bem
nossa missão.
(VAN DER MEER, 2004, p.46, 47)

- 43 -
Lição No 8 – Análises de Valores Culturais
Cada um de nós pertence a uma cultura específica e também temos a nossa cultura pessoal. A
nossa cultura pessoal vem da nossa formação genética e história individual. Desenvolvemos a
nossa cultura pessoal através do convívio com os nossos pais e o relacionamento com a
comunidade onde fomos criados e o nosso ato de aceitar ou rejeitar a cultura ao nosso redor.
Cada indivíduo desenvolve o seu próprio estilo de vida, conjunto de valores que usa para
ordenar e organizar a sua vida.
(LINGENFELTER, 2003, p. 20)

A nossa cultura compartilhada é desenvolvida através do convívio com a nossa raça, língua, o
grupo em que nascemos, e as consequências das nossas escolhas.

A organização social é uma parte importante da nossa cultura compartilhada. Nós incluímos
pessoas que afirmam nossos valores e relacionamentos, excluímos aqueles que não conformam
aos nossos padrões ou relacionamentos sociais predeterminados. Essa atitude de incluir ou
excluir muitas vezes nos causa a temer e até rejeitar as mesmas pessoas as quais fomos
chamadas a servir.
(LINGENFELTER, 2003, p. 21)

Tensões na Questão do Tempo

Pessoas e culturas orientadas para o tempo preocupam-se muito com


horários/programas/pontualidade. Cada dia é organizado em períodos de uma duração
específica, e o uso de cada período é cuidadosamente planejado. Reuniões, trabalho e intervalos
são definidos pelo relógio, e as pessoas carregam suas agendas para organizar suas atividades.

Outro aspecto dessas culturas é a organização com objetivos em mente. Tais pessoas têm
objetivos específicos a serem alcançados em determinado tempo. Muitas vezes preenchem seu
tempo de acordo com o potencial máximo. Suas vidas têm um ritmo frenético. Nada é feito sem
planejamento prévio.

Orientação para o tempo/Para o acontecimento


Orientação para o tempo Orientação para o acontecimento
Preocupação com a pontualidade e quantidade do Preocupação com os detalhes do acontecimento,
tempo gasto. qualquer que seja o tempo necessário.

Alocação cuidadosa do tempo para alcançar o Consideração exaustiva do problema, até resolvê-lo.
máximo dentro de limites fixados.
Atividades marcadas com tempo fixo, e com Uma atitude “venha o que vier” sem presa em
objetivos específicos. qualquer esquema.

Oferecem-se recompensas como incentivos para o O esforço em completar o evento é uma recompensa
uso eficiente do tempo. em si mesma.

Ênfase em datas e história. Ênfase na experiência presente, em vez de no


passado ou no futuro.

- 44 -
Conceitos em Atraso
Cultura Atraso desculpando Ponto de tensão Hostilidade
Ilha de Yap no 2 horas 3 horas 4 horas
Pacífico
América Latina ½ hora 1 hora 2 horas
América do Norte 5 minutos 15 minutos ½ hora

Uma Perspectiva Bíblica com Respeito ao Tempo

A menção de tempo na Bíblia é menos específico, como de manhã, tarde, noite, ao cantar do
galo. Quando Jesus enfatiza o tempo, Ele se refere às oportunidades e não agendas (Exemplos
Mateus 4.17; 16.21). Muitas vezes quando pessoas são muito diferentes, elas ficam frustradas
umas com as outras e podem até se rejeitarem. Podem chegar ao ponto de não poderem
trabalhar juntas eficazmente. Quando a maneira de agir do missionário conflita inteiramente
com a cultura, a tentativa de comunicação e ministério pode ser caracterizada por hostilidade e
rixa.
(LINGENFELTER, 2007, p. 44)
Tensões Sobre Objetivos

Pessoas com orientação para tarefas encontram satisfação em alcançar seus objetivos e
completar seus projetos. Suas vidas são motivadas e dirigidas por uma sucessão interminável de
objetivos. Muitas vezes procuram realizar mais tarefas do que é humanamente possível. Por isso
suas vidas são frenéticas, cheias de atividades, e muitos se tornam trabalhólatras, as outras
pessoas são vistas como meros itens do seu esquema de atividades.

Pessoas com orientação para pessoas acham sua satisfação no relacionamento com outros. Sua
prioridade mais elevada é estabelecer e manter relacionamentos pessoais. Eles precisam da
aceitação e do estímulo do seu grupo. Gastam muito tempo e energia em cumprir as obrigações
da membresia do grupo e em manter laços pessoais.

Missionários, pastores e outros líderes orientados para a tarefa serão excelentes administradores,
podem ensinar bem, pregar bem e fazer boa tradução da Bíblia. Serão eficientes enquanto
puderem organizar suas atividades com certa independência dos outros. Muitas vezes ficam
frustrados e impacientes com colegas que mostram menos dedicação.

Em sociedades orientadas para as pessoas, uma pessoa que parece dura, pouco gentil, e
pressionada, não é bem aceita. Mas as missões ocidentais não recompensam os alunos e
candidatos orientados para as pessoas, mas os que preenchem o máximo de tarefas e estudos na
hora própria. Os que são mais orientados para as pessoas são tratados com impaciência.

Orientação para a Tarefa/Pessoa


Orientação para a Tarefa Orientação para a Pessoa
Enfoque em tarefas e princípios. Enfoque em pessoas e relacionamentos.
Acha satisfação em cumprir seus objetivos. Acha satisfação nos relacionamentos.
Procura amigos com objetivos semelhantes. Procura amigos orientados para o grupo.
Aceita a solidão e a privação social para poder Lastima a solidão; sacrifica realizações pessoais
alcançar realizações pessoais. pelos relacionamentos em grupo.
(LINGENFELTER, 1988, p. 82-85).
Exemplo:

Um pastor brasileiro no interior da Angola fez uma boa horta que produzia melhor que a dos
vizinhos. Depois pagou um irmão para fazer o trabalho diário da horta. O irmão parava o
trabalho toda vez que passava um conhecido para cumprimentar (saber como está cada membro

- 45 -
da família estendida, etc.). O pastor brasileiro brigou com ele: Você é pago para trabalhar, não
está fazendo nada. Foi chamado de colono pelos angolanos. Imagine que absurdo, um pastor
que proíbe os irmãos de se cumprimentar...
(VAN DER MEER, 2004, 0. 17)

Em Marcos 6.30-46, aprendemos uma lição muito poderosa em como Jesus lidou com pessoas.
Nenhum objetivo ou tarefa é mais importante do que pessoas para as quais Deus nos mandou
para ministrar. Finalmente em Marcos 6.48, Jesus alcançou o Seu objetivo, o objetivo de se
separar para orar. O tempo que Ele deu para Si mesmo foi do pôr do sol até a alvorada. Jesus
deu prioridade às pessoas necessitadas acima das suas próprias necessidades ou objetivos.

Do mesmo modo, nós devemos ajustar a nossa agenda para suprir as necessidades de outros.
Devemos colocar o ministério para pessoas e as suas necessidades acima das nossas tarefas. Não
devemos ficar frustrados com as interrupções ao longo do dia, mas vê-las como oportunidades
de ministério. Em Colossenses 3.12 Paulo escreveu, “Portanto, como povo escolhido de Deus,
santo e amado, revistam-se de profunda compaixão, bondade, humildade, mansidão e
paciência”.
(LINGENFELTER, 1988, p. 82-85).

Tensões no Gerenciamento de Crises

Orientado a Crise Não Orientado a Crise


Antecipa a crise Minimiza a possibilidade da crise
Enfatiza o planejamento Focaliza em experiências reais
Procura uma resolução rápida para uma crise Evita tomar ação; demora em tomar decisões.
eminente ou em andamento.
Segue repetidamente um plano autoritário, um Procura soluções de muitas opções
procedimento pré-planejado. disponíveis.
Procura conselho de um perito. Não confia em conselhos de peritos.

Estando envolvidos em ministério cristão, devemos esperar que o nosso senso de urgência
possa não ser compartilhada por outros.

Devemos perguntar se é mais importante fazer do nosso jeito ou trabalhar junto com outras
pessoas ao nosso redor, para desenvolver um entendimento mútuo e uma cooperação para fazer
decisões e resolver crises em uma maneira que é aceitável e beneficial para toda a comunidade.

Muitos missionários, pastores e leigos tem a tendência de julgar questões em termos espirituais
e não veem a dimensão cultural. Prontamente eles citam as Escrituras para provarem o seu
ponto de vista como algo deve ser feito, porém, eles não conseguem ver as evidências bíblicas
como outra maneira de agir possa ser correta também.
(LINGENFELTER, 2007, p. 73-76)

Promover a União no Contexto Multicultural

O nosso alvo deve ser de promover a união da comunhão do corpo de Cristo. Há centenas de
contextos culturais no mundo, e todos são válidos e úteis. Nosso desafio é aceitar as diferenças
em outros, e mesmo de nos tornar multiculturais, vivendo a partir de nossa própria cultura,
penetrando na cultura dos outros, e vivendo da sua maneira. Essa não é uma tarefa simples.
Nunca aprendemos a questionar nosso próprio contexto, aprendemos a aceitá-lo como normal e
correto.

Para aprender a viver numa cultura diferente, devemos aceitar a mudança de contexto. Devemos
crer que ele é válido e potencialmente bom, e reconhecer que nossa compreensão de nossa

- 46 -
própria cultura é inadequada. Devemos aprender como crianças, mas com a velocidade de
adultos.

Tentar pertencer a um grupo cujos padrões de comportamento entram em conflito com os


nossos leva ao estresse cultural. Devemos aceitar sua cultura como tão válida quanto a nossa,
qualquer que sejam suas imperfeições. Isso não implica na perda da integridade moral.

Nosso objetivo primário no desenvolvimento de relacionamentos com outra cultura deve ser o
de desenvolver o respeito mútuo, baseado na confiança. Devemos sempre nos perguntar: aquilo
que estou fazendo, pensando, ou dizendo edifica ou destrói a confiança? Se tivermos
preconceitos de superioridade em relação ao povo a quem servimos, ou se temos ressentimentos
contra aqueles com quem trabalhamos, essa atitude do coração vai ser sentida e percebida pelos
outros.

Devemos aprender como o outro povo vê questões como tempo, espaço e causas, a origem do
mundo, e o que causa enfermidades ou morte. Devemos tentar entrar na mente das pessoas para
ver o mundo com os olhos deles.
(SILVA, 2012, p. 22)

Faça o teste de análise de valores e atitudes culturais. Responda as seguintes perguntas: 1) O


que você aprendeu sobre si mesmo por meio desse exercício? 2) Em que áreas você vê que
precisa um pouco mais de crescimento pessoal?

Análise de valores e atitudes culturais

Há uma série de fatores culturais que podem ser analisadas, vamos nos deter a analisar dois
pares de tendências contrastantes em várias culturas, e analisar nossos valores e atitudes, em
contraste com os de outras culturas.

Analise até que ponto as seguintes declarações descrevem suas atitudes e sua maneira de
encarar a vida. Se a declaração não tem nada a ver com você escreva o nº 1 no espaço em
branco, se descreve exatamente você ponha o nº 7. Escreva 4 se mais ou menos se relaciona
com você, 2 ou 3 quando não lhe descrevem tão bem, e 5 ou 6 para as descrições mais corretas.
Responda todas as declarações com os números de 1 a 7.
1. ___ Eu procuro amigos e gosto de conversar sobre qualquer assunto que aparecer.

2. ___ Raramente penso no futuro; gosto de me envolver nas coisas quando elas aparecem.

3. ___Quando escolho um objetivo, me esforço para alcançá-lo, mesmo quando outras


áreas da minha vida fiquem prejudicadas.

4. ___ Sinto fortemente que o tempo é um recurso precioso e dou muito valor ao mesmo.

5. ___ Quando meu carro necessita de manutenção, eu vou à oficina autorizada, em vez de
pedir que meu vizinho, que trabalha em sua própria garagem faça o trabalho. Com
profissionais eu sei que o trabalho será bem feito.

6. ___Se me oferecerem uma promoção que envolve mudança para outra cidade, os
relacionamentos com pais e amigos não seriam empecilho para mim.

7. ___ Sempre uso um relógio e observo as horas frequentemente, para não me atrasar em
qualquer atividade/compromisso.

8. ___ Quando fico na fila, costumo conversar com pessoas que não conheço.

- 47 -
9. ___ Detesto chegar atrasado, às vezes desisto de participar, para evitar entrar atrasado.

10. ___Fico irritado com pessoas que querem parar a discussão e forçar o grupo a uma
tomada de uma decisão, especialmente quando nem todos tiveram a oportunidade de
expressar suas opiniões.

11. ___Eu planejo minhas atividades diárias e semanais. Fico irritado quando meu
programa ou minha rotina ficam interrompidos.

12. ___ Completar uma tarefa é muito importante para mim e não fico satisfeito até estar
pronto.

13. ___ Quando estou envolvido num projeto, tendo a trabalhar até completá-lo, mesmo se
isso signifique chegar tarde para outras coisas.

14. ____ Mesmo sabendo que poderia chover, eu participaria de um churrasco de um


amigo, em vez de me desculpar para consertar o estrago que a tempestade causou no
telhado da minha casa.

15. ____Eu converso com outras pessoas sobre meus problemas e peço seus conselhos.

16. ____Mesmo se estou com pressa em tratar de assuntos urgentes, eu paro no caminho
para conversar com um amigo.

17. ____ Eu fiz objetivos específicos para o que quero alcançar no próximo ano e nos
próximos cinco anos.

18. ____Eu resisto contra uma vida muito organizada, preferindo fazer as coisas quando
aparecem.

19. ____ Quando dirijo uma reunião, eu cuido em fazer com que inicie e termine na hora
certa.

- 48 -
Análise

Para determinar o seu perfil, preencha suas respostas às declarações correspondentes do


questionário. Por exemplo, se sua resposta para a pergunta 15 era 5 então coloque um 5 no
segundo espaço da alinha Orientado para a pessoa, etc. Depois some os 5 números de cada
linha e divida o total por cinco para obter a média de cada característica.

Respostas Total Média


Soma Total:
5
1. Orientado
para o ________ ________ ________ ________ ________
tempo 4 7 9 11 10
2. Orientado
para o ________ ________ ________ ________ ________
acontecime 2 10 13 14 18
nto
3. Orientado
para tarefa ________ ________ ________ ________ ________
3 5 6 12 17
4. Orientado
para a ________ ________ ________ ________ ________
pessoa 1 15 8 14 16
(LINGENFELTER, 1988, p. 34-38)

Para mais informação sobre valores e sobre a linguagem do coração veja:

Etnomusicologia escrito por Tom Avery, p. 593 -595, no livro Perspectivas, São Paulo: Vida
Nova, 2009.

Música para seus ouvidos escrito por Jack e Jo Popjes, p. 736, 737, no livro Perspectivas, São
Paulo: Vida Nova, 2009.

O jeito brasileiro escrito por Margaretha N. Adiwanrdana, p. 478- 480, no livro Perspectivas,
São Paulo: Vida Nova, 2009.

- 49 -
Lição No 9 – Adaptação e Integração no Campo Missionário
Aprendizagem da Língua

A aprendizagem de uma nova língua e cultura é um ato de sonegação. Nós temos que entrar
numa comunidade de desconhecidos, muitas vezes sem os confortos de casa. Temos que
aprender como crianças, aos pés daqueles que viemos para servir. Temos que nos tornar cristãos
mundiais. O desafio vai nos moldar, nos mudar e perturbar. Nossos corpos vão adoecer, nossas
mentes vão fatigar, e as nossas emoções vão nos levar ao ponto de êxtase e ao ponto de
depressão. Porém o nosso amor por Cristo vai nos sustentar e vamos poder identificar com
Paulo que disse, “Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar
alguns.” (1 Coríntios 9.22)
(LINGENFELTER, 2003, p. 25)

No seu livro Antropologia Missionária, Ronaldo Lidório comparilhou algumas conselhos


práticos para a aquisição linguistic e cultural.

1. Não faça de sua moradia um lugar de refúgio. Transite entre o povo e conviva com ele.
Participe da rotina de uma família local.

2. Não transforme o seu companheiro em intéprete cultural. Comumente marido ou


mulher, ou membros de uma mesma equipe, tendem a descansar sob o fato de que sue
companheiro está desenvolvendo o suficiente da compreensão linguistica e cultural para
lhe informar o que está acontecendo. Esta postura é desastrosa para a aquisição do
conhecimento e, em um segundo momento, o descompasso em tal aquisição cobrará
também seu preço de adaptação local e contentamento relacional junto ao povo.

*obs. Especialment no caso quando uma das pessoas conhece a lingua e o outro não, e
muito facil ficar sempre dependente no outro para entendimento, ajuda, etc. Esta
costume é muito dificil mudar.

3. Ande diariamento dentro da circunferência cultural.

4. Mantenha-se aberto a novos costumes e sistemas. Tempo e forma podem ser elementos
que mais geram desconforto. Se a forma de transmitir conhecimento é por meio da
repetição em um ambiente de tempo cíclico, por exemplo, acostume-se ouvir a mesma
história 15 vezes por noite. A melhor maneira de minimizar o desconforto relacionado
ao tempo e á forma é a participação.

5. Não tenha receio de errar. Eles vão rir. Os erros linguisticos irão gerar risadas e mais
risadas assim que você iniciar o processo de aprendizado. Ria também.

6. Adaptar não é criar conceitos de diversão, modo de vida, moradia, etc., mas transferir
seus conceitos formados e encaixá-los na cultura em que você se encontra. Adapte-se.

7. Aprenda a língua. A fluência não deve objetivar apenas o ministério, projetos e


pesquisa, mas também o relacionamento pessoal e contentamento no trabalho.
8. Exponha-se nada meno que quarto horas por dia.

- 50 -
9. Tenha senso de humor e simplifique a vida. Simplifique seu comportamento, atividades
e exigências para que esta crescente pressão não inviabilize sua permanência entre o
povo ou em sua equipe. Pessoas mais simples, com demandas pessoias e externas
também mais simples, tendem a viver com mais tranquilidade no campo de pesquisa.
(LIDÓRIO, 2008, p. 49-51)

Aprendagem linguistica e cultural é um processo “de longa familiaridade”. Para transforma os


valores do outro povo em valores escritos e inteligíveis para nós, é fundamental para entender
seu universo para comunicar eficaz com eles.

Os elementos que são essenciais para o estudo e aprendizado de uma língua incluiam:

1. Coleta e organização - – Observar o que precisa, ao seu redor, para sobreviver e


interagir. A mais importante é a observação seletiva, a fim de identifica aquilo que
lhe será útil. Tenham em casa um arquivo (em computador ou um caderno fixo) em
que passará todas as informações colhidas, de maneira mais organizda.
Três Arquivos principais:
A. Primeiro – Divide o primeiro arquivo em três partes – um parte dedicada aos
substantivos, a segunda dedicada aos verbos, e a terceira para registrar as
pequenas frases.
B. Segundo – Para análise linguistica na áreas de: fonética (sons), fonologia
(fonemas), morfologia (palavra), síntax (oração), semântica (significado),
discurso (texto), pragmática (lingua em uso).
C. Terceiro – Dedicado a um dicionário inicial, por ordem alfabética. Esse será seu
dicionário de referência.

2. Estudo e análise - Estude e aprenda o que você colheu. Faz uma gravação e ouça várias
fezes em diferentes horários – por exemplo, 20 minutos três vezes ao dia em vez de uma
hora corrida. Seu cérebro absorverá mais, e com menos cansaço, as informações. O
ideal seria não menos do que três horas por dia, de segunda a sexta, somando 15 horas
semanais e aproximadamente 60 horas mensais

3. Prática e convívio - Use de maneira intencional e também não intencional, informal,


equilo que você está estudando. Pratique com as crianças e não somente adultos.
Crianças são, nesse período inicial, ótimas interlocutoras. Peça para que lhe corrijam e
evite utilizar sua própria língua. Tenta em geral tomar 15 horas semanais, 3 horas
diárias, e ao longo de um ano com 10 meses de estudo você terá estudado e praticado
600 horas na língua-alvo, o que é algo relevante.

O informante e a preparação das sessões – Prepare as sessões com antecedência. Tenha um alvo
claro para cada sesão. Se estiver gravando a sessão, separe um arquivo apenas para o
vocabulário.

Deixe o informante sugira o dia e hora de estudo. Planeje o pagamento que ele receberá. Anote
em um caderninho as horas estudadas com ele e o pagamento a receber ou recebido, sempre
anotando perante ele para que tenha oportunidade de tirar alguma dúvida ou fazer sugestões
sobre o pagamento. Normalmente o pagamento poderá ser feito por horas de estudo ou por
sessões sempre com um valor fixo, de preferência.

- 51 -
4. O estudo individual. É importante saber que, em relação a uma íngua, a quantidade de
material colhido não é determinante para a fluência mas sim o domínio que você tem do
material estudado. Preocupe-se em dominar aquelas que você estuda. (Exemplo
possivelmente gastar 60% do seu tempo na coleta e 40 % na prática, dedicando-se a
análise quando ali não puder efetivamente estar.)

(*Para mais informações sobre aprendizagem de uma língua consulte o livro do Ronaldo
Lidório Dialektos – Método de Aquisição Linguística. Instituto Antropos. 2008. )

Só aprendendo uma língua não constitui a aprendizagem da cultura. Ambos devem ser
aprendidos.

Linguagens Silenciosas

David J. Hesselgrave, no seu livro Communicating Christ Cross-Culturally, lista vários tipos de
linguagens silenciosas.

1. Características físicas. Esses fatores incluem vários fatores físicos como dimensões
corporais, altura, peso, cor e tom da pele, aparência atraente, odor do corpo e do
hálito.
Informação importante e essencial: Que aparência corporal é admirada ou não? Como
que a aparência física do missionário vai ser vista? Como que as diferenças em
dimensões corporais afetam o relacionamento entre o missionário e o povo? Como que
a raça afeta os relacionamentos interpessoais?
2. Linguagem corporal. Inclui fatores como movimento do corpo, dos braços e pernas,
postura, qual é a postura apropriada para homens e mulheres, expressões do rosto,
gestos e gesticulações, como apontar, chamar.
Informação importante e essencial: Quais gestos e gesticulações são apropriados e
quais não são? Como as emoções são expressas? Quando o contato ocular é
apropriado?
3. Toque. Inclui toques, tapas, cumprimentos, despedidas, segurar e guiar o movimento
de outro.
Informação importante e essencial: O grupo X é um grupo de contato físico ou não?
Como cumprimenta? Com quem o toque é apropriado (especialmente entre sexo
oposto)?
4. Relação espacial. Inclui fatores como onde pessoas sentam. Onde que a liderança se
posiciona ou se senta? O que é considerado um amontoado? Tamanho e distribuição
física de uma residência.
Informação importante e essencial: qual é a distância confortável para conversar? A
que distância uma pessoa está antes que eu precise interagir com ela? As pessoas
locais se sentem a vontade na minha casa?
5. Relação temporal. Inclui fatores como: pontualidade, duração de reuniões, duração
de uma conversa, épocas especiais, e estações.
Informação importante e essencial: Qual é o valor do tempo? Como o tempo é
regulado? Quando que se devem ter reuniões? Quanto tempo deve ser alocado a
reuniões? Quando a pontualidade é importante? Quando que o atraso é ofensivo?
Quando que é apropriado fazer visitas domiciliares? Quando se pode tomar banho no
rio?

- 52 -
6. Para-língua. Inclui fatores como tom do som, ritmo de fala, articulação, ressonância,
pausas e inflexão de voz. Informação importante e essencial: Como o discurso público
difere de uma conversa particular? Quais são os diferentes tipos de discursos
apropriados para diversas ocasiões e para pessoas diferentes? Como um sermão pode
ser dado com eficácia, em termos de tom de voz, altura, e ritmo de fala? Como o
silêncio é interpretado?
7. Artefatos e fatores ambientais. Inclui os fatores: Estilo arquitetural, moveis,
decorações interiores, cheiro, cores, roupas, estilo de vida do povo e do missionário,
cosméticos, adornos, e materiais simbólicos.
Informação importante e essencial: Qual é o significado funcional e simbólico do
estilo de vida indigente? O que as cores comunicam? Quais posses constituem
símbolos de status?

Roupa pode cobrir tudo menos os olhos e pés, ou pode ser simplesmente uma tanga.
Roupa faz mais do que cobrir o corpo, ela comunica sexo, status, posição e idade.
Prédios e moveis também cumprem os seus papeis. Porém eles fazem mais, eles
ocasionam inveja ou pena. Uma pessoa pode se sentir em casa num prédio ou pode se
sentir desconfortável no mesmo. Há um mundo de comunicação às nossas portas.

Aprendizagem da Cultura

De acordo com antropólogos, a definição de cultura é a somatória das características distintas do


modo de viver de um povo. Cultura é o meio em que pessoas ordenam ou organizam as suas
vidas, interpretam as suas experiências, e avaliam o comportamento de outros.

Parte de entender uma cultura é de aprender identificar as dicas culturais. Uma dica cultural é
um sinal ou símbolo que pessoas usam para comunicar o sentido do seu comportamento. Um
exemplo é o mulçumano retirando os seus sapatos indicando que está se preparando para a
adoração. Outro exemplo é da ilha de Yap. Quando começam a mastigar noz de betel, é uma
dica para iniciar uma conversa. Não entendendo o significado de dicas culturais pode resultar
em desentendimentos, confusões e conflitos interpessoais.
(LINGENFELTER, 2003, p. 20)

Cegueira cultural

Quando uma pessoa está cega às dicas culturais de outra cultura, ela pode rejeitar as pessoas da
outra cultura e as suas ações. As pessoas da outra cultura podem rejeitar as pessoas e as ações
das pessoas que não entendem as suas dicas e normas culturais. Por exemplo, um Mulçumano
pode achar que um culto numa igreja cristã não é adoração, pois as pessoas não removem os
seus sapatos. Os cristãos não entenderam a dica cultural do povo mulçumano que exige que o
adorador retire os sapatos.

Cegueira cultural pode nos deixar ineficazes na nossa comunicação. Podemos achar que o
problema está com outros e não conosco. Por causa da nossa cegueira, temos que nos
“encarnar” na cultura e na vida das pessoas a quais fomos enviados para servir. Temos que
viver como crianças e “crescer” no meio deles. Temos que aprender deles antes, que podemos
ensiná-los a respeito de Cristo.

- 53 -
Como um adulto, é muito difícil adquirir uma nova língua e cultura. Precisamos que Deus faça
uma reorientação drástica no nosso modo de pensar. Temos que ser transformados pelo poder
do Espírito Santo e conformados à atitude de Cristo (Romanos 12). Essa aprendizagem vai
testar a nossa força interna, nossa fé, e acima de tudo nosso amor.

Leitura sobre o Princípio e a Prática da Encarnação

Jesus Cristo é nosso modelo missionário, Ele se identificou conosco para nos alcançar. Não veio
parecendo homem, mas tornou-se homem, assumindo nossa natureza humana, nossas lutas e
fraquezas, vivendo entre nós, como um de nós (Hebreus 2.14). O que isso significa para os
missionários hoje? Qualidades essenciais que marcaram a vida de Jesus e devem caracterizar
seus enviados, são a mansidão e bondade de Cristo (2 Coríntios 10.1). Em outras palavras: A
humilde sensibilidade do amor de Cristo.

Precisamos dessa sensibilidade humilde para ouvir cuidadosamente, para poder compreender
melhor a cultura do povo ao qual fomos enviados. Achar que temos todas as respostas e que
nosso único papel é de ensinar é ignorância arrogante. Devemos respeitar as pessoas e sua
cultura e não assumir um papel de superioridade. A humildade também significa comunicar-nos
com as pessoas onde elas realmente estão, levando a sério seus temores e frustrações, seus
sofrimentos e preocupações, sua fome, pobreza e opressão, aprendendo a chorar com os que
choram. Começar ali e levá-las adiante, para o conhecimento da graça e do amor de Jesus
Cristo.

Também devemos reconhecer humildemente que apesar de todo o nosso treinamento, há muitas
coisas que os cristãos nacionais podem fazer melhor que nós: Evangelizar, plantar igrejas,
traduzir as escrituras, e o aconselhamento cristão. Por isso nosso papel será sempre o de
andaimes, permitindo que o edifício da igreja cresça naquele contexto, enquanto nosso papel é
importante, mas passageiro - Somos úteis e necessários até que o edifício seja formado.

Jesus quis que a obra missionária fosse modelada segundo sua própria missão, com atitudes,
ações, relacionamentos e compromisso semelhante (João 20.21). Filipenses 2 mostra como
Cristo se identificou conosco. Sua identificação começou com uma atitude de espírito, e por isso
nós também devemos desenvolver uma perspectiva de que não somos superiores, deixando para
trás privilégios e posições.

Cristo se esvaziou... E se humilhou. O primeiro verbo fala de sacrifício, aquilo a que renunciou,
o segundo, de disposição ao serviço, através da sua identificação conosco. Quando lemos
Hebreus 1.2-3 temos uma ideia da dimensão dessa renúncia. Os missionários devem assumir
semelhante atitude de abrir mão do seu status e de servir com humildade, não assumindo o
controle do trabalho, mas assessorando os líderes nacionais, e submetendo-se a eles. Jesus
também se tornou dependente do serviço de outros: A água da Samaritana, o burro emprestado,
o barco emprestado, o túmulo emprestado. Devemos aprender a depender de outros. Quando as
pessoas estão nos servindo, tornam-se menos defensivas, porque nós estamos na posição de
dependência deles. Jesus renunciou a sua imunidade, expondo-se à tentação, ao sofrimento, à
limitação, à necessidade econômica, à dor e à solidão. O missionário também se tornará
vulnerável a tentações, perigos e doenças e a solidão.

Jesus identificou-se profundamente conosco. Ele se fez amigo de pobres e humildes, curou
doentes, alimentou famintos, tocou intocáveis e arriscou sua reputação associando-se com
pessoas rejeitadas pela sociedade. Paulo, o apóstolo missionário, seguiu esse princípio e tornou-
se todas as coisas para todas as pessoas para poder salvar alguns, identificando-se
profundamente com aqueles a quem procurava alcançar com o evangelho (1 Coríntios 9.19-23).

- 54 -
Joseph Damien (1840-1889) seguiu o exemplo de Jesus de forma radical. Ministrou aos
leprosos do Hawaí, vivendo com eles, longe da sociedade, na ilha de Molokai, ministrando as
suas necessidades físicas e espirituais, com muito amor e compaixão e vivendo com eles. Com o
tempo também se tornou um leproso, e aceitou isso sem revolta. Amava a seu rebanho. Até que
ponto Deus pede que nós nos identifiquemos?

Nem sempre podemos ser iguais ao povo, por mais que nos identifiquemos temos a
possibilidade de sair daquela situação quando precisamos do que eles não têm. A tentativa de
ser iguais pode parecer artificial. O que devemos fazer é identificar-nos ao máximo, sem negar
nossa própria identidade e respeitar as pessoas, sua cultura, seus hábitos e valores. Participar
com eles de suas alegrias e tristezas, mostrando um interesse genuíno. Até que ponto nós
sentimos que pertencemos ao povo e até que ponto eles sentem que pertencemos a eles?

A identificação nas coisas externas pode vir a ser ridícula como a de missionárias robustas
vestindo a roupa das havaianas (que fica bem para pessoas esbeltas). Uma havaiana comentou
que parecem búfalos vestindo os nossos ao dai. O mais importante é nos vestirmos e
comportarmos de maneira que as pessoas se sintam à vontade conosco. Na Angola a maioria das
igrejas e mesmo de pessoas fora da igreja não achava apropriada a mulher usar calça comprida
(muito menos bermuda) e uma missionária deixou de usá-las por 10 anos.

Não é necessário comer sempre, em casa, as mesmas comidas que os nacionais, mas é
importante aprender a apreciá-las, e adaptar nossos hábitos alimentares, isso mostra respeito e
aceitação da sua cultura. Se nos esforçarmos, com amor, não será tão difícil. Fazer caretas ou
comentários depreciativos sobre suas comidas fere sua dignidade. Se necessário ore, pedindo
graça para conseguir comer as coisas mais estranhas. Comer sua comida é um forte fator de
identificação, bastante apreciada pelos povos que dão valor à hospitalidade.

Uma das barreiras mais sérias entre missionários e nacionais tem sido os muros ou as cercas de
seus guetos (vilas residenciais missionárias), com casas lindas, cheias dos confortos do mundo
ocidental, onde os nacionais normalmente só entram como empregados. Isso pode dar um
sentimento de segurança para a comunidade missionária, mas claramente não segue o modelo
de encarnação de Jesus Cristo. Para alguns Fazedores de Tendas às vezes isso faz parte do seu
pacote do acordo com a empresa ou governo que o contratou. Aí o jeito é aproveitar ao máximo
as oportunidades de identificação como e quando aparecem, e não se fechar naquela pequena
comunidade estrangeira, praticamente isolada das lutas e sofrimentos da vida nacional.

Tem sido uma questão controvertida, e tem havido muitas vezes atitudes negativas em relação à
mensagem que transmitimos (do Cristo rico, que se tornou pobre), pela grande distância entre o
nível de vida dos nacionais e dos missionários.

Phil Parshall, um dos missionários bem-sucedidos entre os muçulmanos opina:

1. Importa o que os nacionais pensam sobre o perfil financeiro da comunidade


missionária. Geralmente ficam incomodados com a diferença que existe entre o padrão
de vida deles e o do missionário ocidental.
2. Solteiros ou casados sem filhos podem mais facilmente se adaptar a um estilo de vida
simples. Isto deve ser incentivado, sem ser, contudo, uma imposição.
3. Experiências devem ser permitidas, de casais com filhos se adaptarem a um estilo de
vida muito simples, sem pressão para continuarem quando sentem que devem mudar.
4. Cada família deve avaliar, em oração, suas próprias necessidades físicas e emocionais.
O alvo é viver o mais próximo possível do estilo de vida do povo, sem que haja
resultados adversos para a família.
5. O missionário pode viver em toda simplicidade na zona rural e ocasionalmente viajar
por um fim de semana à cidade vizinha para descansar e fazer as compras necessárias.

- 55 -
6. Devemos evitar atitudes de condenação dos que adotam padrões de vida diferentes aos
nossos, evitar discussões inúteis e respeitar os irmãos e sua própria contribuição.
(VAN DER MEER, 2004, p. 30-32, 62-63)

Levi Keidel, um missionário do Zaire por 30 anos escreveu que pessoas que vivem na pobreza
não estão buscando missionários que vão lhes intimidar, mas estão procurando missionários que
vão ser modelos de esperança e uma vida melhor. Como que o missionário faz decisões sobre
como fazer aquisições vai lhe ajudar a cumprir esse modelo? Comprar o que é disponível
localmente. Isto inclui moveis feitas por carpinteiros locais, comprar comida cultivado
localmente. Comprando as coisas localmente vai ajudar a economia local e vai demonstrar o
valor dos produtos e serviços locais. Seja prudente com respeito às coisas que importam para o
propósito do ministério. Também deve tomar em consideração a questão de ter veículo próprio
ou usar outros meios de transporte.

Outro tópico é como lidar com mendigos. Chegando a um campo missionário no exterior, uma
pessoa pode ser surpreendida com número de pessoas que vivem na miséria. Pessoas vão chegar
à sua porta pedindo auxilio. Busque o conselho de missionários mais experientes no seu campo
para saber como lidar com esses pedidos. Até você entender essa questão, você pode responder
algo assim, “Eu sei que pessoas aqui têm muitas necessidades. O seu pedido é válido, porém no
momento não posso te ajudar. Preciso de tempo para aprender mais sobre a sua cultura. Quando
eu for dar algo, eu quero saber que estou sendo sábio e justo no que estou dando”. Outra
maneira de responder é simplesmente, “Não posso fazer uma decisão no momento”. Procure
entender o significado de dar presentes na cultura. Visite as casas de pessoas para desenvolver
amizades. Peça ao Espírito Santo lhe guiar e dar discernimento em como reagia às pessoas que
pedem sua ajuda.
(KEIDEL, 1996, p. 33-36)

- 56 -
Lição No 10 – O Choque Cultural – Sua Vulnerabilidade
O Choque Cultural

Adaptar-se a um clima muito diferente, ou a uma altitude muito diferente, leva tempo e pode
baixar nossas energias físicas e nos deixar mais irritáveis.

No início existe a emoção da viagem e de ver paisagens e costumes diferentes. Comidas são
estranhas e interessantes, meios de transporte diferentes, há lindos artesanatos, pessoas exóticas,
religiões estranhas, muita coisa nova e fascinante.

Depois começamos a cair na realidade. Esse lugar estranho é nosso lar, nossos filhos vão crescer
aqui e pegar hábitos nativos, nós temos de nos integrar e adaptar a essa cultura estranha para
poder transmitir o Evangelho. As coisas exóticas começam a ser ameaçadoras. Começam a
surgir perguntas: Quem sou eu para vir a um lugar destes? Vou realmente conseguir me
adaptar? Vou sobreviver? Vou realmente conseguir trabalhar neste contexto?

É muito comum sentir solidão no princípio, seja por barreiras de língua [é difícil não conseguir
ter uma conversa significativa com outra(s) pessoa(s)]. No início não sabemos nem dizer o que
queremos comprar, não sabemos pagar, ou entender se o preço é justo, e se o troco está certo.
Além de aprender as palavras, você deve entender como se comunicar com pessoas mais velhas,
mais novas, mais importantes na escala social, etc. Depois de vários meses de estudo da língua
ainda só consegue falar sobre as coisas mais elementares... Mas não desista - O conhecimento
da língua é muito importante para você realmente chegar perto das pessoas.

A primeira vez que tomamos um ônibus também pode ser assustador - será que vamos
conseguir descer no lugar certo? Vamos nos perder nesse lugar estranho? A primeira vez que
precisamos de cuidados médicos, o que fazemos? Será que os hospitais são confiáveis - Ou vou
receber injeções com agulhas infectadas? Será que todo médico aqui é um tipo de curandeiro?
Vou conseguir explicar o problema e entender o diagnóstico?

No princípio pode ser que seu papel não fique tão bem definido, você que era uma pessoa
ocupada e eficiente, de repente só consegue sobreviver, precisa da ajuda de outras pessoas para
qualquer coisa... O choque cultural vem porque você perde as suas certezas, sua compreensão
do que realmente está acontecendo e qual é o seu lugar nessa nova sociedade. Você não entende
aqueles simples sinais tão indispensáveis na comunicação em qualquer cultura e precisa
aprender de novo, como criança: Como se sentar, caminhar, saudar as pessoas, receber
visitantes, aceitar presentes (ou não), convites, etc. (receber carona). Todas as pessoas a
princípio são tão parecidas, às vezes não sabemos se estamos encontrando um conhecido, ou
não.

O primeiro ano é um ano de aprendizagem da língua, da cultura, de todo esse mundo novo e
parece que a única coisa que fazemos é sobreviver, não estamos trabalhando, e podemos nos
sentir muito frustrados. Podemos nos sentir culpados, e irritados. Há hábitos dos nacionais que
parecem mostrar falta de ética, de seriedade, de compromisso e de decência. As pessoas
parecem preguiçosas, ou sujas, nos tornamos supercríticos, comparamos todas as coisas
desfavoravelmente com lá em casa. A tentação é de fugir da cultura e nos refugiar num grupo
de estrangeiros. Por outro lado, talvez estamos escandalizando os nacionais, como missionárias
na Índia que mostravam as pernas abaixo do joelho (considerada a parte mais sensual do corpo).

Começamos a viver em função das cartas que chegam de casa, e das coisas que vamos fazer
quando estivermos ali, e idealizar nossa própria cultura. Quando sofremos do choque cultural
temos reações e emoções exageradas. Mas o problema inicial não é tão sério. O pior é quando
continuar a viver constantemente estressados, aí pode surgir enfermidades físicas ou a
depressão. O nível de estresse de um missionário, com tão grandes mudanças simultâneas em

- 57 -
todas as áreas da sua vida é muito elevado. O período mais crucial é o primeiro ano, aí
precisamos aprender a nos ajustar e adaptar para ter um ministério bem integrado, e uma vida
equilibrada e feliz.

Pouco a pouco, imperceptivelmente, acabamos aprendendo a viver na cultura nova. Começamos


a nos virar na língua nova, já conseguimos nos locomover e fazer compras sem nos sentir
ameaçados. Começamos a fazer amizade com o povo. Aí podemos desenvolver atitudes
positivas para as pessoas e sua cultura, com apreciação e aceitação, aí começamos a nos tornar
um deles. Se continuarmos negativos e distantes/críticos, continuaremos estranhos e jamais nos
identificaremos com os nacionais. E assim nossa mensagem também vai parecer estrangeira. A
decisão de nos identificar o mais possível com o povo deve ser tomada logo e é o segredo de
nossa integração. Quando isso acontece começamos a apreciar as coisas da nossa nova terra,
hábitos, musicas, alimentos, amigos, valores (PRIOR, 1982, p. 23-32; HIEBERT, 1985, p. 64-
77).
(VAN DER MEER, 2004, p. 41-43)

Sintomas de Choque Cultural e Ansiedade

1. Fatiga. A ansiedade de tentar adaptar a uma cultura nova pode ser muito fatigante.
2. Desanimo e Depressão. Mais que nós achamos que estamos falhando e que estamos
sendo comparado com outros, mais nós ficamos desencorajados. O problema do
desanimo é que nos deixa paralisados. Temos que sair da paralisia se vamos fazer
amizades e superar o choque cultural.
3. Um espírito crítico. É fácil culpar outras pessoas pelos nossos problemas. Culpando
outros não resolve o problema.
4. Pessimismo. Pessimismo também inclui que a sua contribuição não vale nada.
5. Autocomiseração (quitado de mim!). Lembre-se que Jesus não veio para ser
apreciado, e agradecido. Temos que seguir o exemplo d’Ele, amar sem esperar receber
qualquer coisa em retorno.

Choque cultural não é uma coisa que se supere uma vez por todas. É geralmente a acumulação
de várias coisas pequenas ao longo do tempo que afetam a sua atitude. Quando esses sintomas
de choque cultural se manifestar, avalie a sua vida para ver se em parte a sua dificuldade em
superá-la não é um problema espiritual.
(HALE, 1995, p. 84, 88, 89)
Benção do Choque Cultural

 Enfrentando o choque cultural nos dá a oportunidade de melhorar o nosso caráter;


 A nossa fé pode ser aprofundada;
 Pode nos incentivar a aprender mais;
 Ajuda-nos a nos entender melhor;
 Ajuda a nossa habilidade em adaptar;
 Ajuda-nos a madurecer.
 Para mais informação sobre valores e sobre a linguagem do coração veja:

- 58 -
Artigo: Adaptação Cultural

A seguinte informação é de um artigo sobre Adaptação Cultural por Embaixada do Brasil em


Oslo/Ministério das Relações Exteriores.

1. Choque Cultural

Refere-se à ansiedade e sentimentos (de surpresa, desorientação, incerteza, confusão


mental, etc.) sentidos quando as pessoas têm de conviver dentro de uma diferente e
desconhecida cultura ou ambiente social. Após deixar o que era familiar para trás, as
pessoas têm de encontrar o caminho em uma nova cultura que tem um modo de vida
diferente e uma mentalidade diferente, tal quando em um país estrangeiro. A partir daí,
nascem as dificuldades de assimilar a nova cultura, causando dificuldades em saber o
que é adequado e o que não é. Muitas vezes combinada com uma aversão ou mesmo
nojo (moral ou estético) com certos aspectos da nova cultura.

Choque cultural tem muitos efeitos diferentes, intervalos de tempo, e graus de


severidade. Muitas pessoas passam por essas dificuldades e não reconhecem o que o
está incomodando.

2. Fases de adaptação

O choque (de mudança para um país estrangeiro) frequentemente consiste em fases


distintas, embora nem todo mundo passa por estas fases e nem todos estão tempo
suficiente na nova cultura para passar por todas:

Fase de Lua de Mel: Durante este período, as diferenças entre a cultura antiga e a nova
são vistos sob uma ótica romântica, maravilhosa e nova. Por exemplo, o indivíduo pode
amar a nova comida, o ritmo de vida, os hábitos das pessoas, as construções e assim por
diante. Durante as primeiras semanas, a maioria das pessoas ficam fascinadas pela nova
cultura. Eles se aproximam dos nativos, que falam outra língua e são educados com os
estrangeiros. Este período é cheio de observações e novas descobertas. Como toda lua
de mel, esta fase, eventualmente, termina. "Quando um indivíduo se propõe a estudar,
viver ou trabalhar em um novo país, ele ou ela vai invariavelmente experimentar
dificuldades com a língua, moradia, amigos, escola, trabalho etc."

Fase de Negociação: Depois de algum tempo (geralmente três meses, mas pode variar
de acordo com a pessoa), as diferenças entre a cultura antiga e nova se tornam aparentes
e isso pode criar ansiedade. A empolgação pode dar lugar a sentimentos desagradáveis
de frustração e raiva, de acordo com a vivência de eventos desfavoráveis que podem
ser percebidos como estranhos e ofensivos para a cultura do indivíduo. Barreiras
linguísticas, grandes diferenças na higiene pública, na segurança do trânsito,
acessibilidade e qualidade dos alimentos podem aumentar a sensação de desconexão
com o novo ambiente. Quando transferido para um ambiente diferente, há mais
pressão nas habilidades de comunicação e existem dificuldades práticas para superar,
como adaptação da flora intestinal a diferentes níveis de bactérias e
concentrações nos alimentos e água; dificuldade em buscar tratamento para a doença,
pois medicamentos podem ter nomes diferentes dos do seu país e os mesmos princípios
ativos podem ser difícil de se reconhecer. Ainda assim, a mudança mais importante no
período é a comunicação: as pessoas que estão se ajustando a uma nova cultura podem
se sentir sozinhos e com saudades de casa porque tem que se acostumar ao novo
ambiente e conhecer pessoas com quem não estão familiarizados, todos os dias. A
barreira da língua pode tornar-se um grande obstáculo na criação de novos
relacionamentos: atenção especial deve ser dada a linguagem corporal do estrangeiro

- 59 -
e dos nativos e suas características específicas e culturais, gafe linguística (falar algo
que não soa bem no país estrangeiro), tom de conversação, nuances linguísticas e
costumes, e palavras que são parecidas nas duas línguas, mas com significados
completamente diferentes e podem causar confusão (false friends). 

Fase de Ajustagem: Mais uma vez, depois de algum tempo (geralmente de 6 a 12


meses), a pessoa se acostuma à nova cultura e desenvolve rotinas. A pessoa já sabe o
que esperar na maioria das situações e o país anfitrião não é mais tamanha novidade. A
pessoa fica preocupada com o cotidiano novamente, e as coisas se tornam mais
"normais". A pessoa começa a desenvolver habilidades para resolver problemas em
lidar com a cultura, e começa a aceitá-la com uma atitude positiva. A cultura começa a
fazer sentido, com menos reações e respostas em relação a ela.

Resultados: Há três resultados básicos da fase de ajustamento:

Algumas pessoas acham impossível aceitar a cultura estrangeira e se integrar.


Eles se isolam do ambiente do país anfitrião, que eles acham hostil, formam
"guetos" e veem o retorno à sua própria cultura como a única saída. Esses
também têm os maiores problemas de reintegração à volta para casa após o
regresso.

Algumas pessoas integram-se plenamente e assumem toda a cultura do novo país


e perdem sua identidade original. Eles normalmente permanecem no país de
acolhimento para sempre. Esse grupo é por vezes conhecido como "adopters"
(adotantes ou os que adotam).

Algumas pessoas conseguem adaptar os aspectos da cultura de acolhimento que


eles veem como positiva, mantendo alguns dos seus próprios e criam sua
mistura única. Eles não têm grandes problemas de voltar para casa ou
relocalizar em outros lugares. Este grupo pode ser pensado como um pouco
cosmopolita.

Fase do Domínio: Nessa fase o indivíduo é capaz de participar plenamente na cultura de


acolhimento. Domínio não significa conversão total; muitas vezes as pessoas mantêm
muitos traços de sua cultura anterior, tais como sotaque e língua. É muitas vezes
referida como a fase de biculturalismo.

3. Choque de Transição – Sintomas

O choque cultural é uma subcategoria de uma construção mais universal chamada


choque de transição. Choque de transição é um estado de perda e desorientação
provocado por uma mudança em seu ambiente familiar que requer ajuste. Há muitos
sintomas de choque de transição, alguns dos quais incluem: preocupação excessiva com
limpeza e saúde; sentimentos de desamparo e retirada; irritabilidade; olhar vidrado;
saudades de casa e velhos amigos; reações fisiológicas de estresse; nostalgia; tédio;
afastamento; ficar “preso” em uma coisa apenas; sono excessivo; comer
compulsivamente, beber, ganhar peso; estereotipar o povo; hostilidade com o país de
acolhimento.

4. Choque Cultural Invertido

Existe também um Choque cultural invertido. Choque cultural reverso:  pode


acontecer voltando para casa após ter crescido acostumado a um novo país. Pode
produzir os mesmos efeitos descritos acima. Isso resulta das consequências

- 60 -
psicossomáticas e psicológicas do processo de reajustamento da cultura primária. A
pessoa afetada muitas vezes acha isso mais surpreendente e difícil de lidar do que o
choque cultural original.

Não há sintomas fixo atribuídos ao choque cultural pois cada pessoa é afetada de uma
forma diferente.
(ADAPTAÇÃO Cultural, 2015)

Reconhecer Sua Vulnerabilidade: Quando é Certo Correr Riscos?

Somos vulneráveis como pessoas, a várias situações:

1. Relacionamentos com o sexo oposto: Quando você é missionário (a) solteiro (a) e não
têm relacionamentos satisfatórios com colegas, você ficará mais vulnerável às atenções
e iniciativas de pessoas nacionais que, por vários motivos, gostariam de namorar ou se
casar com estrangeiros. Isso tem causado uma série de problemas. Cuidado em não
deixar se levar pela sua carência afetiva.

2. Perigos de guerra: Há situações de guerra extensiva, em que se pode levar uma vida
mais ou menos regular. É necessário seguir as orientações do governo/dos líderes
cristãos nacionais. Há outras situações extremas, quando o governo do país recomenda
a evacuação de estrangeiros. Geralmente as famílias com crianças vão primeiro, depois
os outros. Até que ponto deveu ficar, ou sair? Será que podemos complicar a vida de
nacionais se insistimos em ficar? Ou temos um papel/uma convicção profunda de que
devemos ficar?

3. Entenda a posição da sua agência missionária com respeito ao pagamento de resgate


para missionários sequestrados. Essa posição está registrada no regimento da missão?
Você concorda com a posição da missão? A sua família entende e concorda com a
posição da missão? A agência missionária tem planos de contingência em casos de
emergências?

4. Estude as dinâmicas sociais, econômicas e políticas da cultura em que se encontra como


hóspede. Qual é o clima político? É pré-revolucionária, revolucionária ou pós-
revolucionário? Como que você pode se preparar para uma situação de instabilidade
política?

5. Situações de perseguição/liberdades restritas: Precisamos ouvir o governo, os líderes


cristãos e agir com prudência. Correr certos riscos, e não atender seus conselhos pode
criar riscos para eles. Muitas vezes os nacionais são castigados pelas falhas cometidas
pelos estrangeiros imprudentes.

6. Vulnerabilidade a doenças/infecções: Mesmo que em casa possamos ferver e filtrar


água, e desinfetar as verduras/frutas, o que fazemos quando somos visitas ou hóspedes
honrados e bem cuidados de acordo com os padrões nacionais? Muitas pessoas
oferecem o único alimento de valor aos seus visitantes. Jesus tornou-se vulnerável
quando se encarnou, e nós também o somos. Devemos nos cuidar quando possível (usar
repelente, etc.), mas não permitir que o zelo pelo nosso bem-estar crie barreiras com o
povo. O resultado podem ser algumas infecções intestinais...

- 61 -
Lição No 11 – Expectativas e Estafa; Mantendo a Saúde Espiritual,
Emocional e Física
Expectativas e Estafa

O material nessa lição vem do livro Expectations and Burnout – Women Surviving the
Great Commission. (Expectativas e Estafa – Mulheres Sobrevivendo o Grande
Mandamento) 2010, escrito por Sue Eengenburg e Robynn Bliss.

Uma das pressões que sentimos vem das nossas próprias expectativas e do nosso idealismo.
Outra pressão vem por motivo do que pensamos que outros (como as nossas igrejas ou agência
missionária) querem que façamos. Esses podem ser expectativas verdadeiras ou expectativas
que achamos que outros têm por nós.

Muitas vezes somos tentados em nos comparar com outros missionários que parecem que estão
fazendo um trabalho melhor do que nós. Podemos nos comparar também com missionários do
passado, que vemos em livros, que pareciam muito espirituais e heróicos. Muitas vezes as
nossas expectativas e sonhos não batem com a realidade.

Como podemos sobreviver às pressões do ministério transcultural, a fatiga, a solidão, e o


choque cultural? A seguir há algumas dicas de sobrevivência.

1. Lembre-se que somos chamados, escolhidos, mas também vasos de barro (2 Coríntios
4.7). Sendo simplesmente barro, nos força a depender em Deus. Se pudéssemos operar
na nossa própria força, Deus não receberia toda a glória.
2. Reserve tempo para meditar na Palavra de Deus (Por exemplo, medite na passagem 2
Coríntios 4.7-18).
3. Seja realista sobre as suas expectativas. Aprenda a depender de Deus completamente.
No livro Experiencing God, Henry Blackaby escreveu: “Veja onde Deus está
trabalhando e una-se a Ele”. Molde as suas expectativas de acordo com o trabalho que
Deus quer realizar em você e através de você.
4. Lembrar que devemos perseverar pela graça de Deus (Colossenses 1.11). O resultado da
nossa perseverança é a nossa maturidade (Tiago 1.2-4).
5. Reconheça o amor que Cristo tem pela Sua noiva.
 Seja uma noiva que está alegremente esperando a chegado do seu noivo.
 Ame os membros do corpo de Cristo. Estamos no corpo de Cristo para
completar e não para competir ou julgar.
 Lembre-se que está trabalhando com pessoas imperfeitas, e que você também é
uma pessoa imperfeita. Muitas vezes missionários chegam ao campo preparado
para aprender uma cultura nova, buscar amizades com os nacionais, mas não
esperam ter dificuldades com seus colegas na equipe missionária. Um dos
motivos principais que um missionário deixa o campo é por causa de problemas
de relacionamento com outros missionários.
6. Reconhecer que há uma batalha espiritual. Satanás busca destruir os relacionamentos de
equipes.
7. Lembrar que nossa moradia é no céu (Hebreus 11.8-10, 13-16). Nossos problemas aqui
na terra são passageiros.

- 62 -
8. Deixe Deus ser Deus. Lembrar que Deus nem sempre responde as nossas orações da
maneira que desejamos, mas nós podemos descansar n’Ele. Nossa fé deve ser baseada
em quem Deus é (Habacuque 3.17-20).
9. Confie em Deus em vez de “Se isto acontecesse... Se Deus tivesse agido assim ou
assado...” Lembre o que Maria e Marta falaram para Jesus: “Senhor, si o tivesse aqui, o
nosso irmão não teria morrido”. É fácil culpar a Deus ou ficar desencorajado. Porém o
plano de Deus é mais glorioso. No caso de Lázaro, deixando-o morrer, e o
ressuscitando, fez com que muitas pessoas colocassem a sua fé em Jesus. Temos que
olhar além do finito que podemos ver com os nossos olhos físicos, e olhar para o
infinito com os nossos olhos de fé. Podemos chegar confiantemente ao trono da graça.
Podemos contar para o Senhor as nossas lutas e desapontamentos e pedir para Ele
trabalhar e curar.
10. Conte as suas picadas de mosquito. Coisas estressantes como disenteria por um longo
tempo, perdas, batalha espiritual, conflito com colegas, podem ser como irritações de
picadas de mosquitos. Uma ou duas picadas podem ser desconfortáveis, mas pode lidar
com as mesmas. As mesmas irritações dia após dia, mês após mês, ano após ano, podem
se tornar insuportáveis. A estafa vem quando a nossa carga é maior do que o nosso
poder. É nessa hora, temos que pedir que Jesus carregue a nossa carga.
11. Ore que possa ser uma benção para outros mesmo quando as nossas forças falham. Peça
para Deus multiplique as suas forças.

A vida a Sós com Deus

Se for difícil manter nossa vida devocional em dia quando estudamos ou trabalhamos, não ficará
mais fácil no campo missionário. Haverá inúmeras oportunidades de ministério e necessidades
gritantes, e se não compreendemos que é uma necessidade prioritária, começaremos a deixá-la
mais e mais em segundo plano, e nossa vida espiritual ficará ressecada, murcha, nosso ensino se
torna teórico, repetitivo; nossas vidas mostrando mais nossa dedicação e esforço humano, com
todas as falhas que temos, do que a graça e o amor de Deus. Seria muito bom ter uma pessoa no
campo ou na retaguarda a quem prestaremos contas regularmente a respeito de nossa vida
devocional. Leve material, livros e CDs que possam ajudar e ser um estímulo para sua vida
espiritual.

Buscar a Saúde Emocional

Procure resolver problemas pessoais antes de ir ao campo. Não pense que dá para fugir deles. É
melhor enfrentá-los em terreno familiar, com pessoas que podem nos ajudar, do que reprimi-los
e depois perceber que dificultam nossas vidas e relacionamentos no campo. Haverá suficiente
estresse e tensões de qualquer maneira. Não tenha medo deles, mas aprenda a lidar com seus
problemas antes de ir.

A vida missionária é uma experiência rica. Mas como qualquer coisa de grande valor, tem seu
preço. Não espere que tudo seja um mar de rosas, nem que tudo será um tremedal de mágoas.
Há muitas alegrias e há muitas lutas. Existe muita diferença entre a reação de uma e outra
pessoa à adaptação a um novo lugar, novo estilo de vida, nova língua, distância da família, etc.
Não devemos nos sentir fracassados e culpados quando experimentamos momentos de
desorientação e depressão. Jesus advertiu que seus seguidores passariam por tribulações (João
16.33), mas que no meio da tribulação encontrariam paz nele. Paulo experimentou inúmeras
lutas em sua carreira missionária (2 Coríntios 1.10). Paulo descreveu suas lutas como
oportunidades para uma nova intimidade no relacionamento com o Senhor (2 Coríntios 4.8-11).

- 63 -
A melhor maneira de enfrentar tais crises é de aceitar que podem ser experiências úteis. A nossa
própria sensação de insegurança, nervosismo e fraqueza nos levará a buscar mais ao Senhor, e
encontraremos não só força para o momento, mas novas dimensões no relacionamento com ele.
Quando passamos por períodos prolongados de estresse é bom lembrar que não estamos
sozinhos. Deus prometeu que não nos abandonaria (Hebreus 13.5). Muitas vezes isso parece
apenas uma teoria, quando as nuvens da aflição nos escondem da presença de Deus. Ou
projetamos a imagem do nosso pai sobre Deus, e problemas de relacionamento da nossa
infância. Teremos perguntas e dúvidas como: Onde está Deus? Será que Ele não se importa?
Apresente essas perguntas diante de Deus, ou diante de amigos cristãos, não às reprima. Escreva
seus sentimentos e procure se firmar em alguns dos seus versículos preferidos.

Peça a Deus também a coragem e a força necessária, e ser-lhe-ão dadas. Coragem para
desenvolver respostas novas e criativas, e paz em meio às tribulações.

Outra maneira de confrontar o estresse é usar a ira criativa. A ira geralmente faz parte do
estresse prolongado. Não é pecado em si, Jesus irou-se e purificou o templo. Deus se irou
muitas vezes, no relato bíblico. O importante é discernir entre ira destrutiva e ira criativa. A ira
criativa tem emoções apropriadas; uma avaliação realista da situação e leva à tomada de
decisões sábias.

Emoções apropriadas significam controle na qualidade e quantidade das emoções sentidas e


expressas. Ira destrutiva leva a explosões emocionais na hora errada e em quantidades
excessivas. O excesso de cansaço pode levar a reações exageradas. A avaliação realista da
situação é impossível com ira destrutiva. Nesse caso há exageros, e interpretações
demasiadamente negativas, ou má interpretação das circunstâncias. Ira construtiva nos ajuda a
avaliar aspectos positivos e negativos da situação, a compreender algumas das causas, e a
começar a pensar em soluções. A tomada de decisões sábias é impossível com a ira destrutiva.
Por isso é bom deixar a poeira baixar antes de avaliar fatos e tomar decisões. Pode ser útil
descansar uns dias, ou conversar com uma pessoa que nos ajude a ver as coisas na perspectiva
própria.

O estresse prolongado pode resultar em depressão, e esta geralmente é agravada pelos


sentimentos de culpa e pelos amigos de Jó que tendem a aumentar essa carga de culpa. Nesses
momentos a oração, a leitura bíblica e o louvor parecem insignificantes. Ficamos numa nuvem
de desespero, sem perspectiva de saída. É uma reação humana normal. Vários Salmos tratam de
tais sentimentos, como o Salmo 42, onde o salmista expressa seus sentimentos de solidão e
abandono, ou o Salmo 130, onde ele clama a Deus, das profundezas. Deus responde,
reafirmando-o com Sua presença e amor, e lembrando-o de tempos de Sua alegria restauração e
libertação.

É importante encontrar alguém a quem podemos confessar os sentimentos de desespero, receber


afirmação da outra pessoa e liberdade nova para uma visão mais realista da situação. No apoio e
compreensão amorosa a esperança volta a nascer.

Quando o estresse se prolonga muito, a reação pode ser de fuga, exaustão ou escape. Ficamos
muito aflitos, irritáveis, sofrendo de insônia, falta de apetite, ansiedade excessiva sobre coisas
insignificantes, e sentimentos de desespero. Há pessoas que são colocadas em tarefas para as
quais não se sentem adequadas e se não superam esse conflito interior, depois de um tempo
poderá haver sintomas como enfermidades, problemas antigos virão à tona, e necessitarão de
cuidados médicos. Por que é que as pessoas chegam a esse momento de estafa? Pode ser o
resultado da batalha espiritual em que estamos envolvidos. A guerra é constante, mas
precisamos sair um pouco da linha de frente e descansar. Infelizmente, muitas vezes tais
missionários são encarados como fracassos: Espera-se que um missionário seja um herói da fé e
sempre esteja por cima.

- 64 -
Também pode ser o resultado de problemas não resolvidos do passado que vem à tona nesses
momentos de fraqueza e cansaço extremos. Emoções reprimidas de amargura, ira, e
ressentimento são muito perigosos. Devem ser tratadas, e superadas com a graça de Deus.

Procure prevenir a fase de estafa, tirando dias de descanso, achando pessoas com quem possa
conversar e desabafar construtiva e regularmente. Fale com Deus, escreva seus sentimentos, em
salmos de lamento e de súplicas. Tire uma folga para ver a situação e tomar decisões que vão
ajudar a equilibrar as coisas. Escute músicas ou mensagens inspiradoras. No cansaço extremo a
leitura bíblica e a oração ficam mais difíceis. Busque momentos de desabafo com Deus, e
leituras breves. Caminhe observando a natureza.
(FOYLE, 1987, p. 14-24 citada de Eengenburg e Bliss)

Buscar a Saúde Mental e Física

Sue Eengenburg e Robynn Bliss, missionárias com Christar fazem as seguintes sugestões para
manter boa saúde mental e física:

1. Aprenda a entender a si mesmo para que possa estabelecer expectativas realistas.


Entendendo a si mesmo inclui entender as suas limitações, seus dons, e nível de energia
física e mental.
2. Não se compare com outros. Na parábola dos mordomos, foram dados diferentes
números de talentos para gerenciar. O mordomo que recebeu mais talentos não foi
valorizado acima daqueles que receberam menos talentos. Cada um deve ser fiel com os
talentos dados por Deus.
3. Não julgue os seus colegas, mas tente entende-los. Invés de criticar os colegas procure
oportunidades para amar, ajudar, ouvir e encorajar.
4. Procure ter tempo de lazer e exercício. O estresse pode levar à enfermidade e danificar
relacionamentos. Na sua lei, Deus ordenou que descansássemos um dia por semana.
Esse tempo deve ser dedicado ao descanso e ao louvor a Deus.
5. Tente desenvolver grupo suporte onde vive e com pessoas da sua própria pátria.
6. Procure alguém para te mentorear.
7. Perdoe aquelas pessoas que te decepcionaram ou não alcançaram as suas expectativas.
Abra mão das expectativas que você tem por outras pessoas.
8. Lembre-se que sofrer por Cristo é um privilégio. Deus pode até usar a estafa para nos
moldar e nos levar a um relacionamento mais íntimo consigo (2 Timóteo 2:10).
(EENIGENBURG e BLISS, 2010, p. 191-225)

Escala para Avaliar o Nível de Estresse

A escala de Holmes-Rahe refere-se uma pesquisa realizada na década de 70, pelos especialistas
em Estresse da Universidade de Washington, Holmes e R. Rahe, onde descobriram que o
estresse produzido por importantes “mudanças de vida” era um fator de previsão de futuras
doenças.

Apesar das críticas e censuras, nada mais foi acrescentado até hoje de real, no rastro danoso
provocado pelo Estresse, no tocante as doenças somáticas.

Criaram então um índice de 43 mudanças possíveis, atribuindo a cada uma um valor quanto à
capacidade de provocar Estresse em uma escala de 1 a 100.

- 65 -
Para se avaliar, segundo essa escala, adicione as pontuações atribuídas aos acontecimentos
constantes desta lista que tenha experimentado ao longo do ano passado.

Um total superior a 150 dá-lhe 50% de probabilidades de ter um problema de saúde em um


futuro próximo; se o total ultrapassar os 300, as probabilidades referidas serão de 90% - a
menos que tome medidas eficazes contra o Estresse.

Acontecimento Pontos
Morte do cônjuge 100
Divórcio 73
Ser preso 63
Morte da pessoa querida da família 63
Ferimento ou doença pessoal grave 53
Casamento 50
Demissão do emprego 47
Reconciliação com cônjuge 45
Aposentadoria 45
Doença grave em pessoa da família 45
Gravidez 40
Dificuldades sexuais 39
Chegada de novo membro à família 39
Adaptação a novo emprego ou negócio 39
Alteração da situação financeira 38
Morte de amigo(a) querido(a) 37
Mudança para outra área de trabalho 36
Variação na frequência de discussões com o 35
cônjuge
Dívidas 31
Mudança de responsabilidade no emprego 29
Filho(a) saindo de casa 29
Dificuldades com os sogros 29
Façanha pessoal incomum 28
Cônjuge começa ou para de trabalhar 26
Inicio ou término de estudo escolares 26
Alteração nas condições de vida 25
Revisão de hábitos pessoas 24
Dificuldades com o chefe 23
Mudança nas condições ou horários de 20
trabalho
Mudança de escola 20
Mudança de tipo de lazer 19
Mudança de atividades sociais 18
Alteração nos hábitos de dormir 16
Alteração nos hábitos de comer 15
Férias 13
Natal 12
Transgressões (não graves) da lei 11

Fonte de Consulta: Dicionário de Medicina Natural, 1997 por Reader’s Digest Brasil Ltda.
<http://nenossolar.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=523:escala-de-
holmes-rahe-para-avaliacao-do-estresse&ca>. Acesso em: 22/06/2015

- 66 -
Lição No 12 – Manutenção Espiritual
Nossa Manutenção

Morando numa comunidade indígena tem nos ensinado que precisamos sempre fazer
manutenção. Sabemos que sempre vamos ter que combater cupins, ficar de olho nos postes da
antena do rádio, concertar coisas que quebram, tampar goteiras no telhado, etc. Na nossa vida
espiritual também precisamos ficar atentos aos problemas que surgem. Não vamos poder ter um
ministério eficaz se não mantemos a nossa vida espiritual em dias.

Manutenção da nossa vida espiritual vem por meio do estudo, meditação e obediência à Palavra
de Deus. Precisamos cultivar uma vida de oração e enganar na batalha espiritual.

O missionário Richard Webster, que trabalhou na Taiwan por muitos anos, escreveu um livro
poderoso chamado Tearing Down Strongholds (Demolindo Fortalezas). A grande parte do
material dessa lição veio de princípios compartilhados por Webster.

Nossa Comissão

Webster compara a comissão dada para crentes pelo nosso Senhor em Mateus 28.18-20 com a
comissão dado por Deus a Josué em Josué 1.1-9. A nossa comissão é o mesmo que foi dado a
Josué. Ao entrar em território ainda não alcançado pelo Evangelho, precisamos entender que vai
ser o mesmo tipo de ofensiva de Josué quando entrou na Terra Prometida. Deus não
simplesmente deu a Terra Prometida a Josué e ao povo de Israel, mas eles tiveram que lutar para
conquistar cada centímetro da terra.

Deus deseja que estejamos envolvidos no conflito espiritual. Ele deseja que nós desenvolvemos
a nossa fé e aprendamos como lutar na batalha espiritual. Deus quer que nós coloquemos a
nossa confiança n’Ele para ver os grandes feitos d’Ele e provar as doces vitórias.

Webster escreve que há quatro princípios na comparação entre a comissão de Josué e a


comissão dado por Jesus aos seus seguidores.

A. Deus falou para Josué atravessar o Rio Jordão. Jesus falou para ir. Essas duas
passagens ensinam que não podemos ficar parados, mas temos que ir.
B. Deus falou três vezes para Josué ser forte e corajoso. A batalha pertence ao Senhor,
veja Salmos 24.8-10 e Isaías 42.13.
C. Deus fala para Josué quatro vezes “Estou contigo”. Jesus disse, “Estou contigo até o
fim...”. Moisés pediu que a presença do Senhor o acompanhasse (Êxodo 33.15).
D. Deus mandou que Josué meditasse na Palavra Dele. 2 Timóteo 3.16, 17 nos ensina que
a Palavra de Deus nos equipa. Davi é um exemplo excelente de uma pessoa que sabia
a importância de meditar na Palavra de Deus.

Warren W. Wiersbe escreveu um excelente livro sobre a batalha espiritual chamado The
Strategy of Satan, How to Detect and Defeat Him (A Estratégia de Satanás, Como
Detectar e Vencê-lo). Abaixo, tem uma tabela com princípios desse livro.

- 67 -
Nosso Oponente

Características Enganador Destruidor Príncipe do Acusador


de Satanás Jo 8.44; Ap12.9 Jo 10.10 mundo Ap 12.10
Jo 12.31
Jo 14.30
Personagens Eva Jó Davi Josué e a nação
bíblicas que Gn 3.1-7 Jó 1, 2 1 Cr 21.1, 2 de Israel
Satanás atacou 7, 8, 14-19 Zc 3
O alvo de A mente O corpo (lembre A vontade O caráter
Satanás que o seu corpo
é o templo do
Espírito Santo)
As armas de Mentiras Sofrimento Orgulho Acusação
Satanás 1 Pe 5.5, 6
O propósito de nos fazer nos fazer nos fazer agir nos enche de
Satanás é de ignorantes da impacientes com independente da receios, remorso.
vontade de a vontade de vontade de Satanás tenta
Deus. Deus. Deus. nos convencer
que depois que
Defesa: Defesa: Exemplo: pecamos não
Sl 119.105 Tg 5.11 2 Cr 26.16 podemos ser
Cl 1.9 perdoados.
Sl 40.8
Defesa:
2 Co 2.7, 8, 11
Nossa defensa A Palavra de A graça de Deus Temos o Cristo intercede
Deus é sempre Espírito Santo por nós
Sl 119.11 suficiente habitando em 1 Jo 2.1
Sl 37.31 nós
Jo 14.26
O desejo de que nós que sejamos que sejamos que nós nos
Deus é entendemos e pacientes. humildes. arrependamos.
obedecemos a 2 Co 12.7-10 Rm 12.1-3 1 Jo 1.9
Sua Palavra. 1 Pe 5.10 Fl 2.1-8
Jo 3.27

- 68 -
Nossas Armas

Webster nos lembra de que estamos numa guerra. As armas que foram dadas para nós são
defensivas e ofensivas (Efésios 6.10-17; 2 Coríntios 10.3, 4).

Arma Seu uso


Cinturão da verdade Defender-se das mentiras de Satanás
Couraça da justiça Deus quer que nós sejamos vestidos com a
Sua justiça e santidade (Is 59.17; 2 Co 7.1).
Sem essa couraça podemos cair facilmente nas
ciladas de Satanás.
Calçados da paz do evangelho O evangelho nos leva a conhecer a Cristo, e
quando aceitamos Seu sacrifício, temos paz
com Deus. Devemos permanecer alicerçados
no evangelho e ter a confiança que estamos em
paz com Deus (Rm 8.31, 37-39) .

Escudo da fé A nossa fé em Deus nos protege dos dardos de


Satanás. (Sl 18.30; Pr 30.5)
Capacete da salvação O capacete nos protege contra as mentiras e
calúnias de Satanás. Satanás quer amaldiçoar o
cristão com dúvidas a respeito da sua salvação,
mas Deus nos deu o capacete de esperança da
eterna salvação.
(Rm 15.13; Jo 6.37-39; Jo 10.28, 29; Fl 1.6;
1 Pe 1.3-5)
Espada do Espírito – a Palavra de Deus Arma ofensiva para lutar contra Satanás. Jesus
e Satanás duelaram usando a Palavra de Deus.
(Mt 4.1-10; Hb 4.12,13)
Oração (Ef 6.18; Tg 5.16) Usado para libertação e livramento
Veja as orações de Davi em Sl 59-64
Veja a oração de Josafá em 2 Cr 20
Jesus ensinou Seus discípulos a orarem e pedir
que Deus os livrasse do mal.
O nome de Deus Quando Davi lutou contra o gigante Golias,
ele disse que veio no nome do Senhor dos
Exércitos. O nome de Deus e do Senhor Jesus
Cristo têm poder.

- 69 -
Lição No 13 – Relacionamentos no Campo
Jesus nos envia assim como o Pai o enviou (João 20.21). Ele é o Verbo de Deus, o Salvador, o
Supremo Pastor, não em primeiro lugar pelo que fez, mas pelo que é. Nossa tendência é de
enfocar nossa atenção no fazer. A influência de Jesus dependia dos seus relacionamentos
pessoais com gente de todos os níveis sociais, idade, sexo e raça em todo o tipo de contexto e
situação de vida. Isso mostra o quanto é importante àquilo que somos como missionários
transculturais, e isso vem à tona através dos relacionamentos, da maneira como reagimos às
crises, tensões e conflitos.

Não devemos esperar que, quando estivermos envolvidos e comprometidos com a obra
missionária, os relacionamentos serão sempre agradáveis, com compreensão e apoio mútuo
constante. A maioria dos missionários tem personalidades fortes, tomam iniciativas, e
facilmente surgem confrontos e conflitos. Isso não deve nos desanimar, já era assim com os
discípulos. Tiago e João acharam que podiam ter os melhores lugares no Reino de Deus. Jesus
aproveita o momento de tensão entre o grupo para dar um ensinamento muito importante sobre
o significado da liderança no Reino. Nós também podemos aprender dos conflitos quando
juntos buscamos resolvê-los.

As vezes os conflitos surgem porque algumas pessoas fazem nos sentirmos ameaçadas, ou por
nossos preconceitos: Os americanos são mesmo assim. Classificamos o colega e não
conhecemos a pessoa verdadeira. As pessoas têm seus próprios ritmos. Há os que estão cheios
de disposição de manhã, mas não tem graça depois das 22:00 horas. Outros não querem saber de
conversa de manhã e estão ativos e dispostos à noite. Algumas pessoas são rápidas, outras são
lentas. Não podemos pressionar as pessoas a serem iguais, mas devemos reconhecer e respeitar
nossas diferenças.

Líderes mais velhos (nacionais ou missionários) podem sentir-se ameaçados pelos mais jovens e
mostrarem-se defensivos, e dogmáticos. Os mais jovens precisam de paciência e sabedoria para
não exigir mudanças rápidas, respeitando o conhecimento e a experiência dos mais velhos, sem
perder sua visão e criatividade - Esperando a hora e a maneira certa de introduzir as mudanças.

Família

1. Família no campo – Cônjuges

Casais missionários enfrentam não só as tensões de todos os outros casais, mais as


tensões causadas por todas as inseguranças, temores e crise de identidade que podem
surgir na adaptação a uma cultura diferente. Ao mesmo tempo existe a expectativa de
seu casamento ser um modelo do ensino bíblico para o seu contexto de vida missionária.
Realmente, como estrangeiros estão sendo constantemente observados pelos nacionais.
Quando surgem problemas entre o casal, eles precisam de aconselhamento pastoral.

Para que é o chamado de Deus? O chamado é só para o marido? É para o casal ou é para
a família toda? Às vezes o marido teve uma convicção de chamado e praticamente
forçou a esposa a acompanhá-lo. Isso cria problemas. É muito importante os dois
estarem convencidos de sua vocação e dispostos de coração para trabalharem juntos
antes de irem ao campo.
Surgem problemas em várias áreas. Com a esposa, se ela não tiver seu próprio campo de
atuação e de responsabilidade. Em muitos contextos se encara o marido como o obreiro
e não a esposa (como acontece também com os líderes cristãos locais). Como envolver a
esposa no ministério? Como pode encontrar o seu espaço pessoal? Especialmente em
países islâmicos espera-se que ela se comporte como esposa, não aparecendo em
público e restringindo sua vida social de acordo com os padrões locais.

- 70 -
Há mães que ficam cansadas de ficar em casa, restringindo seu papel à de dona de casa,
e de professora de seus filhos. Algumas aproveitaram a situação para estudar a história e
literatura local, aprendendo muita coisa importante e interessante. Podem ter uma
influência e ministério com outras mulheres estrangeiras, e pouco a pouco com outras
mulheres nacionais.

O marido como o líder espiritual do lar precisa ajudar a sua esposa a achar um
equilíbrio entre família e ministério. É muito importante e também gratificante ministrar
como um casal. A esposa precisa sentir que Deus a chamou para ministrar junto ao
marido e que ela é importante para o ministério. Também é muito importante o marido
entender que o ministério mais importante que ele tem é no seu próprio lar, guiando
espiritualmente sua esposa e filhos.

2. Relacionamentos dos filhos/com os filhos

Considere as seguintes coisas:

 As primeiras pessoas que devemos evangelizar são nossos próprios filhos.


 Procure pessoas que vão orar pelos seus filhos cada dia.
 Procure meios para envolver seus filhos no ministério.
 Procure abraçar a vida. Ao invés de focar nas coisas dos quais teve que abrir
mão, aprenda a olhar para o futuro com antecipação para ver as experiências e
bênçãos que Deus via prover. Muitas vezes Deus dá experiências que nunca
teríamos se não fossemos ao campo missionário. Encara a vida como uma
aventura.
 Ensine seus filhos a verem a presença de Deus.
 Reveja frequentemente com a família como Deus está agindo e as Suas
respostas de oração.
 Ore pelos seus filhos para que eles tenham um relacionamento pessoal com
Deus.
 Crie um lar estável. Impressione em seus filhos que eles são importantes e de
grande valor para você.
 Ensine seus filhos a servirem com alegria.

O tempo com seus filhos em casa é curto. Aproveite cada momento que Deus lhe dê
para estar com a família. Peça a Deus lhe ajudar a viver sem receios de oportunidades
perdidas. Lembre-se que sempre vai ter mais trabalho do que se conseguiria fazer numa
vida toda.

3. Características da criança da Terceira Cultura

A seguinte informação é extraída do livro Filhos longe da Pátria: o desafio de criar


filhos em outras culturas, escrito por Márcia Tostes, Araçariguama: Vale da Benção,
2011.

É importante reconhecermos que, quando falamos das características da Criança da


Terceira Cultura, falamos de forma geral. Nem mesmo duas crianças têm exatamente as
mesmas experiências ou as percebe como semelhantes. Diversas variáveis moldam
essas crianças de foras diferentes. Por exemplo: uma pessoa que viveu em um país da
África com a idade de 1 a 7 anos não é impactada pela cultura africana da mesma forma
que uma pessoa que viveu no mesmo local com a idade de 1 a 18 anos. Alguém que
chegue ao continente com 7 anos e o deixe aos 18 experimenta ainda outro impacto. O
período de desenvolvimento em que o indivíduo vive em outra cultura define os
detalhes da sua experiência.

- 71 -
Segundo características específicas, as Crianças da Terceira Cultura:
 Pensam e agem de forma diferente de filhos de pais que não são missionários
transculturais;
 Relacionam-se melhor com pessoas que têm a mesma experiência do que com
lugares;
 Costumam viajar muito, conhecem vários países e, normalmente, falam mais de
um idioma;
 Desenvolvem flexibilidade, adaptabilidade e habilidade de ajuste devido às
muitas experiências em lugares diferentes;
 Costumam ter o senso de estar entre duas culturas, sendo difícil responder a
pergunta: “De onde você é?”
 Costumam enfrentar crises entre as duas culturas, principalmente quando
adolescentes, pois têm experiências em ambas as culturas e se identificam com
ambas, mas têm o sentimento de não pertencer a nenhuma delas ou de não ser
pertencidas por nenhuma delas;
 Não consideram que o seu “ir para casa” é o mesmo “ir para casa” dos seus pais
(quando os seus pais vão para o país de origem para visitar igrejas, familiares e
amigos, dizem que estão “indo para casa”, mas as Crianças da Terceira Cultura
sentem que estão “indo para casa” no final do período de divulgação do
ministério, quando retornam para o país onde moram) e, por isso, é comum que,
em visitas ao país de origem dos pais, ouça-se elas dizerem que querem “ir para
casa”;
 Podem sentir-se “em casa” em qualquer lugar e em lugar algum, tudo ao mesmo
tempo, pois a “casa” delas pode ser em qualquer lugar, o que pode causar o
sentimento de falta de raízes;
 Podem parecer pouco patrióticas ou leais ao país de origem dos pais, que
normalmente é o país do passaporte delas;
 Podem se impacientes com pessoas que têm uma visão menor de mundo;
 São cidadãs padrão do século 21;
 Têm as mesmas necessidades que qualquer outro ser humano.

Exemplos específicos de cuidados com as Crianças da Terceira Cultura:

 Programação de mudanças
As mudanças de campo missionário precisam ser programadas. Crianças
menores vão a qualquer lugar e se sentem bem desde que a mamãe e papai
estejam com elas, mas uma mudança pode ser difícil para adolescentes. [...]
Se eles são informados sobre o novo campo e têm uma ideia clara sobre as
possibilidades de educação e sobre a possível vida social, costumam ser
cooperativos.

 Observações de aspectos educacionais e de relacionamentos


Mudar durante os anos educacionais pode ser muito prejudicial. Devido a
inúmeras mudanças, pode ser difícil para as crianças estabelecer vínculos
duradouros. Quanto a esse aspecto, há um paradoxo – por um lado, é fácil
para as Crianças da Terceira Cultura fazer novas amizades, mas, por outro,
elas podem guardar-se para não sofrer na hora da separação.

 Atenção aos sentimentos


É importante dar às crianças a permissão de vivenciar o luto de cada
separação. Raiva, depressão ou super simpatia com pessoas em luto podem
ser sinais de luto não resolvido. Igualmente importante é que se permita às

- 72 -
crianças experimentar, expressar e processar os seus sentimentos em
relação às mudanças que ocorrerem.

 Checagem da independência
As Crianças da Terceira Cultura podem tornar-se muito independentes, o
que é uma habilidade necessária para quem precisa locomover-se tanto e, às
vezes, até viajar de um país para outro sem a companhia dos pais. Quando a
independência não é checada, porém, pode resulta em consequências ruins,
dentre elas, solidão.

 Interação
É preciso cuidar para que as crianças não fiquem orgulhosas de sua posição
em relação às suas experiências e ao conhecimento que adquirem. Isso se
manifesta no relacionamento com crianças que foram criadas em uma única
cultura. Na verdade, a interação é a melhor saída. As Crianças da Terceira
Cultura precisam aprender muito sobre outras crianças e sobre a cultura de
seus pais. Assim como as demais crianças, elas podem beneficiar-se pelo
conhecimento mais amplo de outros indivíduos.
(TOSTES, 2011, p. 29-32)

4. Família no Brasil

Como manter vivo o contato e a comunhão, apesar da distância? Como manter vivo, nas
crianças, a memória e o carinho pela família? Como preparar a família para aceitar os
netos com hábitos talvez estranhos? Como os pais podem preparar os filhos para essa
adaptação transcultural para a pátria deles? Como enfrentar o problema da carência
afetiva (mais especialmente dos solteiros)? Como podemos dar e receber o apoio que
nós e que eles (os pais/irmãos/avós/tios) precisam? Como a missão/igreja enviadora
pode e deve ajudar? Há necessidade de separar tempo para a família nas visitas à
pátria!

Missionários (as) Solteiros (as)

Muitas não têm convicção do dom do celibato, mas o compromisso com a vocação resulta na
manutenção (temporária?) da sua situação de solteira. Isso pode causar conflitos emocionais: A
falta da parceria do companheiro, a falta de filhos, e mais carência emocional e vulnerabilidade
que pode trazer outras dificuldades:

Você é uma anomalia, algo que não existe naquela sociedade. Você não é vista nem como
homem, nem como mulher, nem como pessoa adulta - O que pode dificultar sua integração na
sociedade. Através do ministério pode desenvolver bons relacionamentos, e fazer amizades
tanto com homens como com mulheres - De qualquer maneira você continua a ser algo
estranho. Na Angola perguntam: Você é casada? Se a gente responde que não, a seguinte
pergunta é: Quantos filhos você tem? Se a gente diz: Nenhum. Ficam com pena, ou dizem:
Deixou eles no Brasil, não é? É inconcebível uma mulher adulta que não tenha (concebido)
filhos.

Muitas agências missionárias se preocupam com a moradia apropriada dos casados, mas não
dos solteiros (as). Esses podem viver de qualquer jeito, ou podem mudar quantas vezes for
necessário. É claro que as famílias precisam de um lar, mas os solteiros também precisam estar
bem, ter seu canto que podem organizar como desejam, onde podem receber visitas, e se sentir
em casa.

Muitas vezes as solteiras vivem juntas, e isso pode trazer tensões, por personalidades e hábitos
diferentes, e porque muitas vezes essas companheiras são passageiras. Uma missionária se

- 73 -
queixou que em 16 anos teve de conviver com 18 colegas diferentes. Outras missões decidem
que elas devem viver sozinhas, quando seria desejável compartilhar um apartamento. A
convivência também pode vir a ser uma oportunidade de aprender a ter paciência, a dar espaço
para outra pessoa, aprendendo a compreender sua maneira de ser. Choques iniciais podem ser
superados através do compartilhar honesto, em amor, e da oração em conjunto.

Isso não significa uma obrigação constante de compartilhar tudo, mas a aceitação e o respeito
mútuo, e a abertura para respeitar a privacidade da outra pessoa, e deixar crescer naturalmente o
nível de aprofundamento de confiança mútua.

A pessoa solteira deve evitar curtir a solidão, e o melhor remédio é se dar em amor a pessoas
que precisam de nossa atenção.

Amizades com nacionais podem ajudar e enriquecer nossa vida, mas precisamos pesquisar e
seguir padrões culturalmente aceitáveis de amizade, especialmente com o sexo oposto, para
evitar fofocas, desconfianças e escândalos baseados em falsos rumores.

Há missionários (as) que esperam que os impulsos sexuais desapareçam quando nos dedicamos
totalmente ao Senhor, e aceitamos o estado de ser solteiro (a) como a vontade de Deus para nós
(pelo menos para o momento). Não desaparecem! Se somos pessoas normais, vamos continuar a
sentir atração sexual e devemos aprender a conviver com isso. Parte da nossa energia sexual
pode ser canalizada para atividades criativas como o cuidado e relacionamentos com outras
pessoas. É bom reafirmar de vez em quando nossa disposição à castidade, por amor a Deus,
numa vida de serviço, em obediência a Ele. E ao mesmo tempo aceitar os impulsos sexuais
como sinais de que somos pessoas perfeitamente normais.

Devemos evitar situações em que a tentação pode se tornar muito forte, e caso estas surgirem,
manter firme o nosso propósito de ser fiel em nossa obediência à vontade de Deus. Podemos
resistir e escapar. Também é bom lembrar que a entrega a uma satisfação momentânea e parcial
trará tantas consequências negativas, que o custo de resistir é menor.

Masturbação pode ser uma tentação, e pode vir a acontecer, em momentos de tensão e fraqueza.
Isso não deve levar a sentimentos fortes de fracasso, e nem deve ser aceito como normal. É
melhor procurar entender o que causou essa atitude: Se foram sentimentos de tristeza, de
cansaço excessivo, de fantasias sexuais? A masturbação certamente não resolve o problema.
Procure descansar, procure compartilhar e orar com uma pessoa de confiança, pedindo
libertação. Concentrar-se na culpa não ajuda, procure antes aliviar as tensões que a causaram.

Tem havido casos em que missionários (as) solitários (as) têm desenvolvido relacionamentos
homossexuais, por causa de solidão, e a necessidade tremenda de pertencer a alguém. E esses
ficam tão perturbados (as) com a situação que não tem coragem de pedir ajuda, e procuram
esconder o problema. Por isso é necessário que haja cuidado pastoral disponível para poder
ajudar as pessoas a sair destas ou de outras situações.

Pessoas solteiras podem se basear no modelo de Jesus Cristo e desenvolver relacionamentos de


amor verdadeiro com pessoas de todas as idades. Não é necessário ser amargo ou frustrado
porque ficamos solteiros, podemos ser pessoas plenas, vivendo vidas de satisfação e serviço,
sem fechar a porta para um casamento que pode aparecer até em idade mais avançada.

O que a igreja pode fazer para cuidar de suas missionárias (os) solteiras (os)? Que tipo de
acompanhamento pastoral pode disponibilizar? Como se manter sensível às lutas e tentações
que elas enfrentam? Um grupo pequeno de confiança, ou pelo menos uma ou duas pessoas que
realmente oram, escrevem, se interessam pode ajudar bastante.

- 74 -
Para mais informação veja: “Desafios missionários para mulheres brasileiras” escrito por
Antonia Lenora van der Meer, p.476, 477 do livro Perspectivas, São Paulo: Vida Nova, 2009.

Colegas Missionários Brasileiros

É muito importante manter a comunhão, podem tornar-se uma verdadeira família. Mas existe o
perigo das “panelinhas”, criando a mentalidade de eles x nós, perde-se a sensibilidade e
acessibilidade enquanto nos influenciamos negativamente, estimulando preconceitos e uma
idealização da pátria que deixamos.

Como podemos desenvolver um relacionamento positivo, de apoio, estímulo e correção mútua,


evitando as ciladas do relacionamento doentio? Como podemos ajudar os missionários mais
novos (ou os mais velhos)? Como receber/pedir ajuda?

No campo estamos distantes de nossos amigos e familiares, distante dos papéis que nos davam
significado e importância, procurando adaptar-nos a uma cultura diferente, e isso pode nos fazer
extremamente críticos com os colegas nacionais:
 Porque eles parecem se integrar tão bem com a cultura, enquanto nós temos
dificuldades. Eles são valorizados, e as pessoas não reconhecem nosso valor. Ou porque
eles se dão bem com alguns líderes com que sempre temos problema/desentendimentos.
 Porque eles não se integram da maneira como nós achamos própria e bíblica, mantém
certas distâncias do povo e vivem um estilo de vida que nós achamos impróprio.
Desenvolvemos atitudes negativas em vez de ajudar a se integrarem melhor e
reconhecer o valor do que eles estão fazendo.

Se mostrarmos amor e paciência uns aos outros e formos honestos, num clima de respeito
mútuo e de disposição de ouvir à outra pessoa podemos aprender muito, uns dos outros.

O Perigo da Formação do Gueto Missionário/Estrangeiro

Isso acontece quando um grupo pequeno de pessoas desenvolve um estilo de vida isolado da
sociedade onde vivem. Perdem o contato e o interesse na sociedade onde vivem (deixam de ler
jornais/de ouvir notícias locais). Surge então um excesso de preocupação com problemas
internos: Relacionamentos, problemas pessoais, etc. Os padrões de comportamento e as atitudes
são praticamente impostos sobre pessoas novas. Surgem emoções doentias, desconfianças,
fofocas.

Precisamos evitar essa tendência, mantendo um equilíbrio saudável entre o contato com a
sociedade e com a comunidade missionária. Leia jornais e livros locais para se integrar na
cultura e participe de eventos nacionais. Procure desenvolver contatos e amizades com pessoas
nacionais.

Colegas Missionários de Outras Nacionalidades

Às vezes surgem preconceitos de superioridade por parte dos missionários de 1 mundo (que
têm os recursos financeiros). Às vezes surgem dificuldades por causa do complexo de
inferioridade (ou até inveja) dos missionários do 3 mundo. Às vezes gastamos demasiada
energia na adaptação transcultural a outros missionários, em prejuízo da adaptação à cultura
nacional.

Como achar o equilíbrio? Ser sensíveis para perceber e corrigir os erros nossos, e nos exortar
uns aos outros no amor fraternal.

Uma missionária filipina de uma equipe multinacional no Japão, queixou-se que sua colega
holandesa, era contra ideias novas e insiste naquilo que ela gosta, a alemã é uma pessoa muito

- 75 -
negativa que sempre se queixa e pergunta por que, a australiana acha difícil aceitar líderes
filipinos.

Um missionário paquistanês nas Filipinas ficou chocado pelos namoros dos filipinos cristãos e
triste com a atitude do diretor americano, sempre tão ocupado que não tinha tempo para ele. Um
missionário da Tonga, nas Filipinas ficou ofendido pela maneira brusca como o líder indiano lhe
repreendia dizendo: Isso está muito mal. Você não deveria agir assim. Faça-o de novo.

Quando pessoas de várias culturas tentam adaptar-se e servir numa cultura diferente, mais cedo
ou mais tarde surgem choques culturais e mal-entendidos entre eles. É necessário procurar
entender a cultura dos seus colegas, como base para um relacionamento de amor e respeito, uma
unidade transcultural em Cristo e uma edificação mútua enriquecedora.

Podemos reduzir o estresse cultural quando o reconhecemos, aceitamos a nova cultura, e


melhoramos a comunicação. Os missionários podem falar sobre suas próprias culturas num
contexto de amor e aceitação mútua, e aí se sentirão menos solitários e melhor compreendidos.

A língua pode ser um problema. Quando o Inglês não é a língua materna de todos os
missionários, palavras ou expressões podem ser mal-entendidas. Outro perigo consiste em fazer
brincadeiras e gozação sobre o sotaque, a maneira de vestir, ou de se comportar. Isso pode ser
entendido como ridicularização, a não ser que as pessoas tenham muita liberdade no
relacionamento. É bom ter um senso de humor, mas esse pode ser facilmente mal-entendido em
outra cultura.

Com Colegas Nacionais (do país onde servimos)

Muitas vezes são extremamente sensíveis a atitudes paternalistas. Como aprender com eles,
perguntar, ouvir? Como mostrar que respeitamos sua dignidade, sabedoria, maneira de agir?
Como superar as tensões que surgem porque se sentem ameaçados com a nossa presença,
influência, maneira de agir?

É muito importante ter uma humildade genuína, reconhecer que eles conhecem bem melhor os
problemas e as necessidades do seu próprio país, eles têm mais capacidade de avaliar
candidatos, de reconhecer se uma pessoa que nos procura é sincera ou interesseira. Eles sabem
que tipo de relacionamentos, atividades e atitudes são aceitáveis em seu contexto ou não.
Quando nós mostramos abertos para ouvir e aprender, eles nos ajudarão. Se mostrarmos
arrogância, ou autossuficiência eles vão ressentir isso, irão criar barreiras, e não abrirão o
coração conosco. Apesar de sua formação superior, e do seu ritmo mais intenso e rápido de
trabalho, tente ser um parceiro, trabalhar lado a lado - Assim você pode aprender e também
ensinar a eles, sem superioridade.

Com as Igrejas Nacionais

É importante sermos acessíveis (como Jesus), comer sua comida, acolher-lhes. Procurar
pessoas que podemos discipular, convidar para participar em nosso ministério.

A importância de colocar limites (Jesus retirava-se com seus discípulos/ evitava as aldeias/ não
fazia nada enquanto não chegasse a sua hora “kairós”). Como diminuir um fluxo de visitas
constantes, em certas culturas, sem perder a amizade? Como encontrar e respeitar nosso próprio
ritmo e continuar sensíveis às necessidades dos outros?

Amigos

Nessa área enfrentamos muitos dos perigos e dificuldades já mencionadas. Alguns pontos para
reflexão são:

- 76 -
 Se todos os nossos amigos são brasileiros ou outros estrangeiros, que mensagem
transmitimos aos nacionais?
 Na amizade com nacionais do sexo oposto devemos ter muito cuidado em respeitar as
normas locais de conduta e respeito. Que tipo de relacionamento podemos ter nessa área
com crentes/ descrentes? Como permanecer sensíveis às reações dos nacionais ao nosso
comportamento?
 Com famílias nacionais. Como mostrar apreciação pelas honras que recebemos como
visitas, e superar barreiras, nos tornando acessíveis? Como compartilhar suas alegrias e
tristezas, desenvolvendo um relacionamento sem criar dependências, mas aberto para
lhes apoiar em algumas de suas necessidades?

Em contexto muçulmano as pessoas também são hospitaleiras, e gostam de receber visitas. É


bastante aceitável falar sobre nossos costumes e nossa religião, se estamos também interessados
em ouvir o que eles querem falar sobre seus costumes e sua religião. Às vezes podemos orar
juntos, e isso pode despertar neles uma grande sede - Percebendo a nossa intimidade e
relacionamento com Deus.

Com o Povo não Cristão

1. Vizinhos
Como aproveitar as oportunidades, desenvolver amizades sinceras, estar ao lado deles
em momentos difíceis, estar aberto para eles, e manter a privacidade necessária? Como
reagir aos que sempre pedem, sem realmente precisar?

2. Outros
Muitos gostam de ter amigos estrangeiros. Muitas vezes pelo interesse sincero em nós,
por querer conhecer melhor nossos costumes, coisas da nossa terra. Outros o fazem por
interesse. Como discernir seus interesses, lhes mostrar o amor de Deus? Onde colocar
os limites da nossa disponibilidade?

3. Empregados
Como podemos testemunhar através do nosso relacionamento? O que devemos/
podemos exigir? Como podemos lhes ajudar, sem criar dependência de estrangeiros?

Como Desenvolver Bons Relacionamentos no Contexto Transcultural

Em relacionamentos superficiais podemos aprender algo a respeito de uma cultura, mas, a não
ser que façamos amizades mais profundas, vamos continuar a ser estranhos. Para fazer amizades
reais é necessário uma aceitação mútua a um nível profundo. Isso não acontece
automaticamente. Exige esforço, perseverança e habilidade.

Ninguém escolheu sua nacionalidade ou raça, por isso ter orgulho ou preconceito contra outros
pela maneira como Deus lhes fez só pode ser chamado de pecado. Só vamos desenvolver
verdadeiras amizades com pessoas de outra cultura quando aprendermos a confiar uns nos
outros. O respeito mútuo vai crescer enquanto crescemos em amor e apreciação mútua. Isso leva
tempo. É essencial ser flexível e adaptável. Se não formos observadores e sensíveis, vamos
semear sementes de desconfiança, conflito e hostilidade que levam muito tempo para ser
superados.

Tome Cuidado com Algumas Características Pessoais

Uma atitude paternalista: Dando a impressão de que estamos lhes fazendo um favor ao tornar-
nos seu amigo. Eles não querem que façamos as coisas para eles, mas com eles. Querem ser

- 77 -
aceitos como iguais. Temos de aprender deles, ouvir sobre suas necessidades, e não
monopolizar as conversas.

Superficialidade: Devemos estar dispostos a gastar tempo com nossos amigos, mostrando que
nos interessamos neles. É melhor aprofundar o relacionamento com alguns amigos, que manter
relacionamentos superficiais com muitas pessoas.

O orgulho: Pensamos que nossa maneira de fazer as coisas é a melhor. Temos de estar dispostos
a reconhecer algumas deficiências em nossa maneira de viver, e receber críticas. E ao mesmo
tempo apreciar e respeitar as realizações e a cultura de nossos amigos. Nada cria mais
ressentimento do que uma atitude (geralmente inconsciente) de superioridade.

Falta de compreensão: É muito importante aprender a conhecer a cultura e não ficar fazendo
perguntas estúpidas, ou pensando neles como inferiores e atrasados. Também devemos
compreender que em muitas questões não se trata da maneira correta, mas diferente.

Não nos desanimemos diante da responsabilidade! Não somos superiores aos demais cristãos,
temos nossos defeitos e limitações. Mas é fundamental manter-nos abertos para aprender, para
nos corrigir, e depender a cada dia da graça e da sabedoria do Senhor, além de ter irmãos
amigos, brasileiros e nacionais da terra onde servimos, que tenham graça, paciência, interesse e
sabedoria para nos ouvir, nos avaliar, e nos ajudar a continuar no caminho do crescimento e do
serviço para a glória de Deus e da edificação do próximo.
(VAN DER MEER, 2004, p. 49-57, 60-62)

Faltas dos Missionários que Dificultam um Companheirismo Eficiente

Artigo: Algumas Conclusões da Conferência da África Ocidental Sobre o: Companheirismo


Entre as Missões e as Igrejas Nacionais (Abidjan, Costa do Marfim) Faltas dos Missionários
que Dificultam um Companheirismo Eficiente

Sentimentos de superioridade: A maioria dos missionários vem de sociedades mais fortes para
sociedades mais fracas. Ter os recursos para doar faz com que o doador desenvolva sentimentos
de superioridade, muitas vezes difíceis de reconhecer. Essa atitude de superioridade inibe a
capacidade de aprender do missionário e a troca de ideias com os nacionais.

Racismo e arrogância cultural. Geralmente os missionários negam ter tais atitudes. O


missionário branco tem a tendência de ver seus hospedeiros na sua qualidade racial, e não
segundo suas qualidades pessoais e humanas. O nativo é sempre diferente do missionário,
mesmo quando se torna cristão.

Falta de amor. O missionário pode ver as pessoas como objetos de sua missão - Almas para
serem convertidas e anotadas em estatísticas. O missionário permanece um estranho cujo
interesse é o de cumprir sua missão, com pouco interesse em desenvolver um relacionamento
com seus hospedeiros. Sem um relacionamento de amor e respeito é impossível, o missionário e
os nacionais andarem juntos como atores dignos no grande drama de redenção de Deus.

Obsessão com preocupações e coisas pessoais. Ele muitas vezes é visto como demasiadamente
preocupado com seu bem-estar pessoal, em contraste com sua tarefa de trabalhar com as
pessoas. A família, a casa, o carro e o trabalho do escritório muitas vezes tomam precedência
sobre o ministério propriamente dito. Tal atitude leva à sua rejeição pelo povo.

Muitas vezes o povo pensa que o missionário tem a competência e a boa vontade necessárias
para a solução dos seus problemas. Tornam-se frustrados quando o missionário se torna um
problema em vez de uma solução. Um missionário respondeu a uma associação que exigia que

- 78 -
prestasse contas: Quando vocês pagarem meu salário, e providenciarem carro e casa, terão o
direito de exigir mais informação sobre o meu trabalho!
Uma mente fechada, e partidarismo. Acham que as coisas sempre devem ser feitas da mesma
maneira, em todos os lugares. Alguns veem heresias, pecados e o diabo em todo o lugar. Ditam
às igrejas o que sabem ser a boa doutrina. Ai do nacional que apresentar uma ideia contrária à
sua visão! Como ousa desafiar o guardião da verdade de Deus?

Paternalismo. Essa talvez seja a crise mais séria no relacionamento entre missionários e
nacionais. Pode se comparar a um pai que continua controlando a vida do seu filho adulto,
sempre lhe lembrando como foi criado e sobre a necessidade de manter a honra da família.
Parece que o missionário diz: “Vamos dar uma chance aos nacionais, mas continuar a
acompanhá-los, ainda falta muito para eles adquirirem a maturidade”. Os missionários têm a
tendência de manter sob sua autoridade algumas áreas de poder, especialmente o controle das
Instituições.

Ficar por um período longo demais. Por quanto tempo o missionário deveria permanecer numa
posição de liderança no campo? O melhor é encontrar um Timóteo nativo e deixar que ele
cresça enquanto o missionário diminui. A maioria dos missionários tende a segurar suas
posições, especialmente em áreas cruciais de liderança. Alguns são como presidentes Africanos
que seguram o poder até a hora da morte, ou de um golpe de estado, e assim frustram e sufocam
líderes nacionais emergentes. Há missionários que depois de 25 anos continuam na liderança
com a desculpa: “Não achei a pessoa capaz para me substituir”. Isso mostra o fracasso do
missionário.

Crises que Emanam dos Nacionais

O complexo de inferioridade. Muitos líderes nacionais não estão conscientes de que parte do seu
ressentimento contra os missionários pode ser causado por seu complexo de inferioridade e falta
de confiança em si mesmos, que impedem um relacionamento maduro com estrangeiros. É hora
dos cristãos africanos se levantarem e lançarem de si a insegurança e a timidez, porque Jesus
Cristo os declarou filhos do Deus vivo e pessoas livres pela sua graça.

A crise do racismo invertido, e do nacionalismo cego. Assim como é comum ouvir os brancos
dizerem que estes africanos são assim ou assado, os africanos podem cair na mesma armadilha
e considerar todos os estrangeiros suspeitos. Quando atitudes racistas e o nacionalismo são
combinados, a situação frequentemente é desastrosa, mesmo entre cristãos.

A crise da desonestidade e do abuso de confiança. A verdade é que muitos líderes nacionais


violaram a confiança que lhes foi dada, tirando vantagem de sua posição de liderança, em
proveito próprio. Esse abuso de confiança tem sido usado como justificação do controle
contínuo das Instituições pelos missionários. O pior resultado é que todos os nacionais, mesmo
os que são íntegros, se tornam suspeitos.

A crise da mendicância e do espírito de pobreza. Muitas pessoas começam a tirar vantagem dos
cristãos, especialmente quando estes têm mais coisas e são estrangeiros. Muitas vezes abusa-se
tanto dos missionários, que estes desenvolvem uma atitude defensiva contra os nacionais,
porque muitos que lhes visitam, tentam tirar algum proveito desta visita. É impossível
desenvolver um relacionamento maduro entre o missionário e os nacionais a não ser que os
cristãos nacionais tratem honestamente desse problema e eliminem essas atitudes.

A crise da imaturidade teológica e espiritual. Muitos líderes não têm muita consciência do
porquê da denominação e misturam estruturas e costumes de várias denominações. Isso pode
levar a gastar energias em conflitos entre pastores e pastores ou entre pastores e os membros de
sua igreja, em vez de preocuparem-se com a evangelização e missão.

- 79 -
A crise da incompetência e da indisciplina. Muitos líderes não leem nenhum livro relacionado
com seu ministério. Muitos não têm nenhum plano para desenvolver seu trabalho. Vivem dia a
dia, sem objetivos e sem direção. Não pregam um sermão que tem sentido, nem dão uma
liderança significativa às suas comunidades. Em vez de ajudar os outros a resolverem seus
problemas, eles tornam-se o problema; em vez de ajudarem a unir as pessoas, tornam-se a
principal causa das divisões. Assim as chances de um bom companheirismo entre as igrejas, e
com os de fora, ficam muito reduzidas.

A crise das ambições destrutivas e da luta pelo poder. Não é um problema só dos africanos,
existe onde quer que haja grupos de pessoas. Mas é um problema comum nas igrejas Africanas.
Muitas pessoas farão qualquer coisa para serem eleitos como responsáveis. Como alguém pode
fazer campanha para tornar-se servo? O fato é que muitos querem ser líderes, visando seu
proveito próprio e não o serviço. Na tradição Africana, líderes são reconhecidos (na
comunidade) e convidados a ajudar na liderança. Eles não fazem campanhas. Fazer campanhas
pela liderança além de ser não-cristão é também não-africano.

Crise de tribalismo. Um dos maiores problemas africanos é o tribalismo. Tribos dominantes


tendem a desprezar as tribos menores; e as menores podem se unir entre si contra o que veem
como a hegemonia da tribo forte. Tal polarização é prejudicial à igreja, porque pode impedir
que as pessoas que têm capacidade/dons para o ministério sejam escolhidas.

A crise da dependência. Será que é possível chegar a um estado de interdependência em que o


missionário e o nacional creem que podem depender/confiar um no outro e acima de tudo, em
que ambos dependem de Jesus Cristo? Os cristãos africanos devem ter a fé e a coragem para
proclamar o Evangelho com os seus próprios meios e ver qualquer coisa que recebam de
missões estrangeiras como apenas uma energia a mais para apressar a realização da tarefa, sem
criar dependência. A atitude do missionário, de controlar o dinheiro, dado pelo povo de Deus do
seu próprio país como se fosse dinheiro privado é teologicamente questionável, e é uma
vergonha para os nacionais precisar pedir as coisas que lhes deveriam ter sido dadas livremente,
num espírito de amor.

Bases para o Companheirismo entre Missões/Igrejas Africanas

É necessário que reconheçam, em primeiro lugar que acima de tudo eles são cristãos, servos de
Jesus Cristo. Pessoas que consideram sua raça, nação ou categoria como missionário ou
nacional como tendo precedência nunca podem unir-se num companheirismo cristão.

O reconhecimento que somos servos, chamados a servir. A tendência humana é a tentativa de


descobrir quem é o maior. Buscamos proeminência, reconhecimento e lugares de autoridade,
mesmo dentro do Reino de Deus.

Devemos lembrar um ao outro frequentemente que nosso compromisso com Jesus Cristo nos
deu padrões que devemos seguir. Ninguém de nós tem seu próprio evangelho. Somos
mordomos e cada um será julgado de acordo com sua obediência e fidelidade ao evangelho de
Cristo. O que Deus lhe deu como missionário ou nacional pertence a todo o povo de Deus, e não
deve ser guardado com ciúmes ou compartilhado de má vontade.

Sempre devemos pedir pela direção do Espírito Santo na maneira como planejamos e tomamos
decisões que tratam do estabelecimento da obra de Deus.

A Necessidade de Fundamentos Teológicos Sólidos

Os três aspectos da comunidade cristã: Comunhão, Testemunho e Serviço devem ser


empregados: Devemos unir as pessoas para comunhão, enviar evangelistas para testemunho e
construir escolas, hospitais e centros comunitários para serviço, realizado em nome de Cristo.

- 80 -
Culturas locais, quando não contradizem ou entram em conflito com o evangelho de Jesus
Cristo, devem ser reconhecidas e empregadas.
Missionários e nacionais são membros do mesmo corpo. Quando a perna dói, todo o corpo
sofre. Cada qual fica com sua identidade e função dentro do corpo. É um grave engano destruir
a identidade das pessoas. E é pior quando membros do mesmo corpo trabalham um contra o
outro. O resultado será indigestão, dores de cabeça, paralisia e até mesmo câncer.

O papel da Missão deveria ser suplementar, complementar ou de companheirismo com o das


igrejas nacionais? Como é que os recursos materiais e humanos, quer sejam da Missão ou dos
Cristãos nacionais podem ser aproveitados ao máximo? Como podemos desenvolver um
relacionamento caloroso e íntimo? Relacionamentos baseados sobre a ignorância e acordos
vagos podem ser muito precários e confusos. É duro e doloroso estabelecer e desenvolver um
relacionamento sadio, claro e objetivo. Mas é melhor aceitar essa tarefa, que permitir que
surjam questões amargas no futuro. Uma Missão que se mantém com base em registros oficiais,
contra a vontade do povo de um país, deve compreender que sua missão já foi à falência, e que
sua responsabilidade moral seria a de se retirar.

- 81 -
Lição No 14 – Problemas Comuns e Resolvendo Conflitos
Conflitos Dentro de uma Equipe Missionária Multicultural

Trabalhando com membros de uma equipe de outras culturas pode ser desafiador. Desafios
podem aparecer no diálogo, escolha de palavras, formas de lógica, e estilos de liderança. Os
membros da equipe devem entender como os outros membros pensam e agem nessas quatro
áreas. Fazendo isto, vai ajudar a analisar e resolver desentendimentos. Os membros devem
afirmar e respeitar o modo de pensar e agir de outra cultura, que possam aparecer estranhos,
mas não são errados em si. Devemos demonstrar os frutos do Espírito, especialmente a
paciência em casos de desentendimento. Devemos demonstrar amor e humildade nos casos em
que se deve pedir perdão.
(KEIDEL, 1996, p. 22, 23)

Resolvendo Problemas Interpessoais em Geral

O que Deus fala sobre enfrentar problemas?


 Falar a verdade em amor (Efésios 4.15)
 Ensinar e aconselhar uns aos outros (Colossenses 3.16)
 Corrigir em particular (Mateus 18.15)
 Ter alto controle
o Dar respostas calmas desvia a fúria (Provérbios 15.1)
o Pense antes de falar (Provérbios 13.3)
o Seja bondoso e humilde (Provérbios 13.10)

Identificando o Problema Verdadeiro

 Peça a Deus sabedoria para te ajudar definir exatamente o problema. Escreva os seus
pensamentos e ore sobre o que você quer falar antes de começar a discutir o conflito
com a outra pessoa (Salmos 139.23-24).
 Aceita responsabilidade pessoal. Como que eu contribuí para o problema?
 Discute as possíveis soluções para o problema. O que podemos fazer para evitar esse
problema no futuro?
 Discutir cada solução e escolhe uma. Concordar como cada pessoa vai trabalhar para
solucionar o problema.
 Marcar um tempo para discutir o progresso em solucionar o problema.

Atitudes e Ações Corretas em Solucionar Problemas

 Focalizar nos positivos, nas qualidades positivas da outra pessoa, focalizar na relação
com a outra pessoa (Filipenses 4.8).
 Não tente “ganhar” o argumento – É melhor ter um entendimento mútuo e solucionar
o problema do que ser o “vencedor” da discussão.
 Aprender a comunicar ideias e sentimentos mais claramente.
 Seja cuidadoso em descarregar sentimentos hostis.
 Aprende a respeitar as diferenças de outras pessoas.
 Reconhecer o poder de orar juntos.
 Praticar o perdão. (MAYHALL, 1996, p. 99-108)

- 82 -
Confrontando Problemas com a Liderança Nacional

É muito importante aprender as normas de respeito / o que significa ser líder / quais as
semelhanças e diferenças em relação à nossa cultura.

Muitas vezes há certa abertura para estrangeiros, mas essa se perde facilmente e nossas atitudes
negativas produzem frutos amargos que afetarão a abertura para outros missionários.

É importante respeitar líderes nacionais, mesmo se têm nível educacional inferior. Somos
visitantes, e devemos respeitar os donos da casa. Como aproveitar a abertura que temos como
visitantes, sem fechar as portas para nós ou para nossos sucessores? Como discernir os limites,
as normas? A quem pedir ajuda, orientação? E quando erramos?
No contexto moderno ocidentalizado os modelos de liderança são mais baseados no conceito de
gerência empresarial, que segundo o exemplo de Jesus Cristo. Preocupamo-nos em colocar os
objetivos, métodos, as tarefas a ser realizadas, o tempo necessário para fazê-las, e como ter a
máxima eficiência. Se os outros não fazem o trabalho devidamente, nós mesmos o fazemos,
mostrando nosso dinamismo e dedicação. Podemos realizar muitas tarefas, mas falhamos na
principal que é a de capacitar nossos irmãos daquele país e apoiar e servir-lhes como parceiros e
irmãos em Cristo. É muito melhor que o líder nacional seja a pessoa em destaque para que o
ministério dependa mais dele, e não das capacidades ou do dinheiro do missionário.

Se agirmos assim, como parceiros, devemos respeitar a pessoa, seu ritmo de trabalho, e suas
prioridades, e não procurar forçar nossa maneira de fazer as coisas sobre ele. É importante ir
transferindo responsabilidades para os nacionais, permitindo que aprendam mesmo através de
erros, estar ao lado deles para orar, estimular, avaliar e reanimar, e não ficar controlando a obra.
Com o tempo vamos ver como a criatividade dos líderes nacionais os levará a fazer um trabalho
mais contextualizado e apropriado do que o nosso. E quando chegar a hora de nossa saída não
haverá descontinuidade ou queda brusca no progresso do trabalho, mas um crescimento
contínuo.

Quando não há verdadeira parceria desenvolve-se tensão, desunião, e frustração, nossa e dos
líderes nacionais.

Observação de um missionário brasileiro na Angola sobre o relacionamento com líderes


nacionais:

Um dos pastores me disse que na casa do aleijado não se pode sorrir à toa. O desprezo sofrido
no passado ainda marca o presente. O relacionamento com os líderes nacionais deve ser
marcado pela irmandade, não pela superioridade. É importante não contradizer, nem apresentar
nossas ideias publicamente. As opiniões sugeridas em conversa particular têm muito mais
resultado, e mantêm a dignidade do líder local. Tem havido situações desagradáveis por
conflitos entre missionários e líderes nacionais.

É também importante ouvir os líderes nacionais sobre o tipo de missionários que precisam e não
pensar apenas em estabelecer filiais da sua missão, ou denominação. Muitas vezes observamos
que as missões e agências se preocupam mais em seguir a última moda missionária (para
agradar os doadores) do que em analisar e ouvir o que a igreja/o país realmente necessita.

O respeito é um dos valores fundamentais da cultura que devemos honrar. Não vamos
influenciar os líderes nacionais pela imposição, nem pelo confronto direto. Uma atitude que
provoca irritação é a falta de disposição para ouvir, demonstrada por alguns missionários
quando querem começar um trabalho. Exigem simplesmente a cooperação da igreja em
conseguir visto, e hospedagem, na data que eles querem para abrirem um trabalho que eles
acham necessário.

- 83 -
Dificuldades Relacionadas com a Cultura

 A burocracia, com processos complicados para resolver os problemas : Há muitas


reuniões importantes que tomam tanto tempo que a ação prática fica prejudicada (mas
pense nos grandes encontros, seja sobre problemas mundiais, com participação dos
governos; seja sobre a obra missionária, com participação das igrejas - Tantas reuniões
e tão poucas transformações).
 Padrões tradicionais de autoridade: O líder religioso tradicional
(feiticeiro/adivinho/curandeiro) e o líder civil das aldeias tinham uma autoridade muito
grande e pouco compartilhada (se bem que os líderes civis realizavam reuniões e
conselhos em que se debatiam os problemas). O líder era uma pessoa diferente das
demais porque nele se concentravam os poderes dos antepassados. Os líderes evitavam
o confronto na solução de conflitos, e resolviam os problemas pela adivinhação:
Descobria-se quem foi o causador espiritual da algum mal ou conflito. Esses eram
castigados e o conflito era superado sem o líder ter de tomar uma posição. Eles
guardavam zelosamente seus segredos, e somente à hora da morte os líderes religiosos
transferiam seu poder para um membro de sua linhagem, e os líderes civis eram
sucedidos por uma pessoa destacada de sua linhagem, que recebia o apoio do conselho
de anciãos. Através de uma cerimônia de iniciação tornava-se uma pessoa diferente.
Hoje, os líderes cristãos ainda têm certa influência desses padrões, e acham difícil
partilhar a autoridade.
 Sincretismo: Há pastores de igrejas chamadas evangélicas que têm um quartinho para o
culto aos antepassados em sua casa, ou que em secreto praticam feitiçarias tradicionais,
até para manter e melhorar sua posição de autoridade na igreja.
 Desconfiança: Na cultura tradicional, quando uma pessoa fica muito doente, ou quando
alguém morre procura-se saber quem é o culpado que provocou tal mal (pelo feitiço).
Geralmente desconfiam de pessoas da própria família, que fariam isso para se
autopromover ou enriquecer. Isso significa que a linha entre a confiança e a
desconfiança é muito fina. Precisamos conquistar a confiança e continuar a merecê-la, e
não nos desanimar com uma desconfiança ocasional.
 Reservas na comunicação: Por um lado a vida do africano é muito comunitária, muito
partilhada. Por outro lado, existe uma tendência grande de guardar segredos, mesmo
que as pessoas se considerem amigas, de medir o que se deve dizer, de não se expor.
Uma das características apreciadas da pessoa sábia é a de guardar segredos.
(VAN DER MEER, 2004, p. 59-60)

Princípios Para Resolver Conflitos Transculturais

Duane Elmer, no seu livro, Cross-Cultural Conflict, sugere esses princípios para resolver
conflitos transculturais:
1. A importância de escolher um meio direto ou indireto para bordar um problema vai
depender dos valores culturais como vergonha e honra.
2. Se a outra pessoa foi exposta extensamente à cultura ocidental, bordando problemas
diretamente pode ser apropriado, se for feito com sensitividade.
3. Toda confrontação deve ser feita em particular se for possível, para minimizar
vergonha.
4. Entenda as várias maneiras de confronto indireto da cultura e em que circunstâncias são
usadas.
5. Estabeleça um relacionamento com uma pessoa da cultura para que ela possa lhe ajudar
a interpretar situações que confundem.
6. Peça a Deus para lhe dar sabedoria.
7. As Escrituras têm a autoridade suprema sobre qualquer forma de resolução de conflito.

- 84 -
Lição No 15 – Voltando do Campo
As Visitas à Pátria, e Férias

O missionário que vem do campo vem com o coração cheio das dores, necessidades e alegrias
do seu trabalho, e precisa de oportunidades para conversas pessoais com pastores, para falar de
sua vida, seu trabalho, suas lutas, além de receber oportunidade para compartilhar com a igreja
sobre seu trabalho. Se a igreja não tem tal visão, o missionário não deve ficar aborrecido, mas
através de contatos pessoais procurar abrir um espaço para esse ministério. É gostoso encontrar
pastores e líderes com o coração aberto para missões e para o missionário, e estes podem
trabalhar para despertar tal visão na igreja, aproveitando as visitas dos missionários, sem esgotá-
los num excesso de tarefas. Geralmente a igreja começará a se interessar mais, pouco a pouco,
mas se o missionário mostrar uma atitude crítica negativa, a tendência da igreja será de se tornar
mais fechada para a obra missionária.

Uma igreja madura pode ajudar com aconselhamento pastoral, encorajar o missionário a ter o
descanso necessário, e ajudá-lo na programação de atividades de divulgação de tal maneira que
sirva para o despertamento de um compromisso missionário mais firme, incluindo a intercessão
e a contribuição em favor da tarefa missionária, mas sem que ele se sobrecarregue de tal
maneira que voltará mais esgotado ao campo.

Os filhos dos missionários também precisam de atenção sensível e de ajuda. Os pais podem
estar felizes por estarem de volta em casa, mas os filhos vêm para uma terra que não conhecem,
para ser beijados e admirados ou criticados por todo o tipo de pessoas. Principalmente os
adolescentes são muito sensíveis a serem considerados E.T.s, e muitas vezes não entendem os
costumes do país dos seus pais. Seria bom haver famílias sensíveis dando apoio, organizando
atividades, se possível com crianças e jovens com experiências e lutas semelhantes, alguns
encontros para a readaptação ao seu país.

Aposentadoria/ Volta do Campo

É uma experiência transcultural traumática, em que os missionários necessitam de cuidados


pastorais, além de ajuda prática para sua reentrada na vida ativa na igreja e na sociedade: Onde
vão viver? Onde os filhos vão estudar? Que possibilidades de emprego existem? De que
maneira a igreja pode e deve continuar o apoio financeiro? Qual será seu papel na igreja?
Novamente tanto a igreja precisa de uma atitude sensível, como também o missionário deve ser
humilde e paciente.

O processo de retorno não é fácil. Quanto melhor nos integramos e adaptamos em nosso campo
de ação, nos tornamos pessoas diferentes, fixamos nossas raízes, estávamos em casa, e arrancar
novamente essas raízes não é tão fácil. Por outro lado, em casa também, nosso país já não é
aquele que deixamos, as coisas ali também mudaram, nossos familiares e amigos mudaram.
Estávamos bem integrados e úteis no campo, voltamos para casa onde tudo de repente parece
estranho, e é muito normal sofrer novo choque cultural, e um sentimento de perda e de
insegurança. Se for assim para os adultos, seus filhos ainda ficam mais inseguros.

Um missionário voltando no campo escreveu: “Eu pessoalmente me senti como planta que
arrancou as raízes, e teve dificuldade em se encaixar numa terra diferente. Fiquei meio murcha,
perdi muito da minha alegria e dinamismo, e só pouco a pouco voltei a me sentir em casa. A
princípio preferia me esconder, não tinha desejo de sair, de fazer compras, etc. Entrar num
shopping ou mesmo andar numa rua cheio de lojas a princípio me deixava assustada e insegura.
Por um lado, não entendia o valor do dinheiro, nem o hábito de ter de escolher entre tantas
opções. Usar o cartão eletrônico no banco era um mistério, assim como várias expressões que
não existiam antes da minha saída. Havia também alegrias, mas a dor da despedida era muito

- 85 -
mais forte. E isso apesar de ter tido uma despedida cheia de palavras de amor e de apreciação
por parte dos amigos nacionais e outros missionários”.

Imagine a dor de quem sai por causa de desentendimentos, por causa de decisões dos seus
superiores, de problemas de saúde, etc. E quando não se tem nenhuma perspectiva de um novo
trabalho satisfatório. Infelizmente muita gente volta do campo com problemas emocionais, mas
geralmente recebe pouco apoio pastoral e compreensão dos que nos enviaram (e às vezes nem o
sustento). E mais uma vez há a pressão de ser o herói bem sucedido. Algumas pessoas procuram
superar isso assumindo a máscara de que tudo está bem, mas aquelas feridas enterradas mais
cedo ou mais tarde vão começar a incomodar. Precisamos tratar essas questões e problemas, até
chegarmos a aceitar a volta como a vontade de Deus para nós, naquela altura. Reconhecer que
Ele pode continuar a cuidar da obra, usando outras pessoas, e que Ele ainda tem boas coisas
preparadas para nós, e tem paciência e amor com a planta arrancada, que luta para sobreviver
numa terra diferente (Jeremias 29.5-13).

Preparando-nos para a Saída do Campo

É bom começar a trabalhar nos seus sentimentos enquanto ainda está no campo. Se há conflitos,
procure alcançar a reconciliação, antes de sair. Comece a orar pelo processo de transferência e
de despedida, e pelo processo de reentrada. Converse com seus filhos a respeito, e mostre
compreensão pelos seus temores e inseguranças.

Um exercício que pode ser muito útil, é o de separar uma manhã para refletir sobre sua
experiência de campo com base em Filipenses 4.8-9: Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é
respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa
fama... Seja isso o que ocupa o vosso pensamento. Faça uma lista no seu caderno, das coisas
pelas quais pode ser grato (a), em sua experiência missionária, lembrando as categorias: O que é
verdadeiro, o que é respeitável, o que é justo, o que é puro, etc. Pensando no seguinte:

 O que aprendi durante minha experiência no campo missionário?


 O que recebi de Deus através dessa experiência?
 O que vi na vida de colegas e amigos que gostaria de assimilar em minha vida?
 O que vi Deus fazer na vida das pessoas a quem estava ministrando?

Peça que Deus lhe mostre como assimilar esse aprendizado na sua vida quando estiver
novamente em casa. Pense nos obstáculos que podem impedir você de assimilá-lo. Ore sobre
maneiras para superar essas barreiras.

Pense também nas mudanças que aconteceram em você e lá em casa, preparando-se


psicologicamente para sua reintegração. Sua cosmovisão com certeza mudou, e você precisará
de paciência com sua família e igreja, se algumas atitudes deles parecem estreitas, materialistas
ou preconceituosas. E sempre levar em consideração os sentimentos dos seus filhos.

Você, e cada membro de sua família também poderiam refletir sobre e responder às perguntas
seguintes para se prepararem para o retorno. Depois podem compartilhar o que escreveram e
orar juntos.

Uma Avaliação Pessoal

1. O país em que servimos:


 Quanto tempo você esteve longe do seu país?
 De que maneiras você se identificou com a nova cultura?
 Quais são as semelhanças e as diferenças entre a cultura do país em que servimos, e
a do nosso próprio país (clima, padrão de vida, política, maneira de se vestir,
hábitos, grupos étnicos, religião, etc.)

- 86 -
 Qual foi o grau de satisfação que você sentiu no trabalho e na experiência de
campo? Como foi essa experiência para você?
 Como será para você o fato de estar longe do seu país adotivo (amigos, lugares,
ministério)?

2. Características pessoais:
 Descreva sua saúde física (nutrição, hábitos alimentares, nível de estresse,
exercícios físicos).
 Identifique e anote algumas qualidades pessoais que podem ajudar ou dificultar sua
readaptação.
 Quais são algumas mudanças importantes que aconteceram em você enquanto
viveu no exterior? Faça uma lista.
 Descreva alguma transição importante que está acontecendo em você ou em outro
membro da família (casamento, filhos deixando o lar, entrar na meia idade ou na
aposentadoria, nascimentos, mortes).
 De que maneira você está se preparando para o retorno?

3. Nossa pátria:
 Quanto tempo vai ficar em casa (no seu país)?
 Descreva os propósitos e as expectativas principais em relação ao seu retorno.
 Como foram experiências anteriores de retorno?
 Até que ponto você está em dia quanto aos acontecimentos e mudanças que
aconteceram em sua terra (através das notícias, cartas, telefonemas)?
 Descreva a qualidade dos seus grupos de apoio no seu país (família, amigos,
igreja).

Preparando-nos para a Reintegração em Casa

Jesus enviou 70 discípulos para uma tarefa missionária, eles voltaram entusiasmados com tudo
o que tinham feito e visto (Lucas 10.17-20). Jesus ficou satisfeito com seu desempenho, mas
percebeu que eles estavam tentando basear sua identidade (seu sentido de valor) naquilo que
tinham feito. Por isso mostrou que sua identidade não se baseava no que eles tinham realizado,
mas no fato de serem filhos de Deus. No reino de Deus a única credencial importante é essa: De
sermos filhos de Deus, e não o reconhecimento das pessoas em relação ao trabalho que fizemos.

Muitas vezes esperamos ser tratados como pessoas especiais. Não seremos! E quando somos
tratados como heróis isso pode ser prejudicial para nós e para os que nos ouvem (imagine um
mero cristão normal aspirar a um ministério semelhante). Mas o que realmente importa é que
Deus tenha aprovado nosso trabalho. Precisamos novamente nos ajustar à maneira como as
coisas funcionam em casa, e não esperar que nossa igreja vá funcionar como a comunidade
missionária. Mais uma vez precisamos de humildade para ouvir, e aprender.

Nossa experiência no campo missionário não nos dá o direito de menosprezar os cristãos em


casa. A experiência no campo nos ensinou muita coisa, por isso devemos nos mostrar mais
maduros, i.e. mais pacientes, com outros e não mostrar atitudes arrogantes. É melhor procurar
entender as necessidades, perspectivas e lutas de nossa comunidade e oferecer nosso serviço,
onde eles o desejarem. Sirva com humildade, e conquiste novamente sua confiança, e haverá
bom aproveitamento dos seus dons, na hora própria.

Procure também desenvolver relacionamentos de confiança, com pessoas com quem você pode
orar e compartilhar suas lutas e dificuldades. Muitas pessoas ficam isoladas, inseguras, e podem
mesmo cair em pecados de relações sexuais ilícitas, quando aparece uma pessoa amável e
compreensiva, que não é crente (ou até pode ser irmão/ã). Você não é invulnerável às tentações,
pelo contrário, na instabilidade emocional da readaptação, você é mais vulnerável.

- 87 -
Se você fica decepcionado com a falta de interesse na sua experiência de campo, não se
desanime, procure conhecer os interesses e as preocupações das pessoas e desenvolva novos
relacionamentos. Não alimente a auto-piedade porque “ninguém me entende”.

É bom procurar o nosso pastor e conversar com ele sobre:

 O que Deus fez na sua vida durante a sua ausência.


 Quais foram as coisas que Deus usou para operar essas mudanças em sua vida.
 Sugestões sobre maneiras como gostaria de compartilhar suas experiências com a
igreja. Faça sugestões específicas.
 Responda as perguntas do pastor.
 Reafirme seu desejo de cooperar, e sua necessidade do cuidado pastoral dele.
 Pergunte se há alguma área da vida da igreja onde você pode ser útil.

Seja criativo, procurando lugares/meios para compartilhar suas experiências, e não espere
que a iniciativa venha dos outros. Pode ser num encontro de jovens, na reunião de oração, na
sociedade de senhoras, etc. Não exceda o tempo que lhe foi dado para falar. Deixe um tempo
livre, no fim, para perguntas. Se possível, faça uma pequena exposição de fotos e objetos para
as pessoas poderem ver, após ouvirem sua mensagem (Jordan, 1992).

Como a Igreja/Agência Pode/Deve Ajudar?

Em primeiro lugar reconhecendo que o missionário (a) é uma pessoa humana, que geralmente
tem uma vida mais difícil, e por outro lado, que se acostumou a ser tratado como uma pessoa
especial. Procure entender o missionário (a) e lhe dê o direito de compartilhar sinceramente não
só as vitórias, mas as dificuldades, as frustrações, as dúvidas. Ajude-o (a) a ter umas férias de
verdade, a se divertir, e também a ter oportunidades para receber, ouvindo bons sermões,
participando de encontros/acampamentos onde pode ser renovado/restaurado.

Dê-lhe oportunidades para falar de sua experiência, da maneira honesta, para despertar as
pessoas a orarem por ele/a com discernimento. Ajude-o/a na programação de atividades de
divulgação missionária, colocando um número máximo de compromissos por semana. Ajude-o
(a) a conseguir fazer os tratamentos médicos e dentários necessários. Ajude-o (a) a pagar o
I.N.S.S. Ajude-o/a, fotocopiando e enviando suas cartas de orações (poupando custos com
correspondência internacional). E principalmente quando voltar definitivamente, não volte as
costas para ele, ajude-o e à sua família no processo de reintegração: Procura de
casa/emprego/escola, necessidades financeiras na fase de transição.
(VAN DER MEER, 2004, p. 23-29)

- 88 -
Trabalhos para receber nota Bônus

Bônus 1

Lia as seguintes passagens e responda as perguntas: Daniel 1.3-20; 3.8-18 - Bolsistas

Todo líder cristão, e especialmente os que trabalham num contexto transcultural ou não cristão,
onde outros valores predominam, enfrentam algumas áreas especiais de tensão/perigo, que
devem ser enfrentadas com determinação, firmeza, e clareza nos objetivos prioritários:

A área de adaptação/acomodação aos valores da outra cultura: O que posso aceitar, ou não;
onde devo estar flexível e onde devo estar muito firme em manter meus princípios.

A separação de tempo regular a sós com Deus. A tentação é de nos sobrecarregar com
responsabilidades, reuniões, e compromissos na área profissional, no testemunho cristão e
mesmo na vida familiar e ficar sem tempo de qualidade a sós com Deus.

A palavra de Deus mostra claramente o que significa andar de modo digno da nossa vocação.
Significa em primeiro lugar passar tempo em comunhão com Deus, ouvindo a Ele, e falando
com Ele (Marcos 3.14). E significa também estar no mundo, encarnando-nos no contexto (como
Jesus fez), sem jamais comprometer os valores do Reino (João 17.14-18). Daniel era um líder
comprometido com sua fé, servindo num grande império idólatra, cuja vida fez uma diferença.

1. Quais foram as condições sociais e pessoais que levaram Daniel, seus três amigos, e outros
com eles, a serem qualificados para receberem essa bolsa de estudos? Como isso poderia
afetar sua disposição a adaptar-se?
2. Como a maioria (anônima) dos bolsistas reagiu? Com que resultados? Por que Daniel e seus
amigos se comportaram de maneira diferente?
3. Em que aspectos Daniel e seus amigos se adaptaram/acomodaram? Em que aspectos
recusaram acomodar-se? Por quê?
4. Como o Daniel jovem enfrentou essa área de conflito? O que fez com que não houvesse
repressão? O que lhe deu tamanha calma e coragem?
5. Como os 3 amigos enfrentaram um conflito muito mais aberto? O que sua resposta ao rei
mostra a respeito de sua vivência com Deus?
O que podemos aprender desse modelo quanto à nossa adaptação num contexto em que todas as
áreas da vida igualmente estão permeadas de uma religião diferente?

Bônus 2

Leia a seguinte passagem e responda as perguntas: Daniel 6.1-9 - A Pessoa Interior


1. O que caracterizava a vida de Daniel e que impacto isso tinha em seu relacionamento com
seus colegas e superiores?
2. Qual o significado do fato de seus colegas invejosos prepararem uma cilada para Daniel na
área do seu relacionamento com Deus?
Como sua vida se compararia com a de Daniel se passasse pelo mesmo teste?

- 89 -
Bônus 3

Leia a seguinte passagem e responda as perguntas: Daniel 6.10-16 - O Lugar Interior

1. O que aconteceu depois de Daniel saber do edito real? Como ele reagiu?
2. O que isso nos mostra sobre o segredo do caráter e da fé de Daniel?
3. Como suas responsabilidades afetam seu tempo pessoal de comunhão com Deus?
4. Que você pode aprender de Daniel?

Bônus 4

Leia a seguinte passagem e responda as perguntas: Daniel 6.17-28 - O Impacto do Exterior

1. Qual foi o impacto da vida de Daniel sobre: O Rei, os falsos acusadores, todo o Reino?
2. Porque você pensa que o rei mudou a adoração de si mesmo, para a adoração do Deus de
Daniel?
3. Como esse estudo nos ajuda a nos preparar, comportar, e a ter fé de que nosso testemunho
pode fazer uma diferença, por mais corrompido, idólatra ou ateu que seja o contexto onde
Deus nos colocar? Você tem alguma experiência positiva, uma preocupação, ou aparente
fracasso a compartilhar?

- 90 -
REFERÊNCIAS

ADAPTAÇÃO Cultural. Embaixada do Brasil em Oslo/Ministério das Relações Exteriores.


jun 2015. Disponível em: <http://oslo.itamaraty.gov.br/pt-br/adaptacao_cultural.xml>. Acesso
em: 30 jun. 2015.

BARNETT, Betty. Friend Raising – Building a Missionary Support Team that Lasts. 2 ed.
Seattle: YWAM Publishing, 2003.

BURNS, Bárbara Helen; MACHADO, Jonas. O Papel da Igreja Local no Preparo


Missionário: capacitando para missões transculturais. Revista Missiológica da Associação de
Professores de Missões no Brasil. São Paulo: APMB, No. 11, 2002.

EENIGENBURG, Sue; BLISS, Robynn. Expectations and Burnout- Women Surviving the
Great Commission. Pasadena: William Carey Library, 2010.

ELMER, Duane. Cross-Cultural Conflict. Downers Grove: Intervarsity Press.

ELMER, Duane. Cross-Cultural Servanthood. Downers Grove: Intervarsity Press, 2006.

FOYLE, Marjory F. Honorably Wounded. England: MARC Europe, 1987.

HALE, Thomas. On Being a Missionary. Pasadena: William Carey Library, 1995.

HIEBERT, Paul G. Anthropological Insights for Missionaries. Grand Rapids: Baker Book
House, 1985.

JORDAN, Peter. Re-Entry: Making the Transition from Mission to Life at Home. Seattle:
YWAM, 1992.

KIEDEL, Levi. Conflict or Connection – Interpersonal Relationships in Cross-cultural


Settings. Carol Stream: Evangelical Missions Information Service, 1996.

LIDÓRIO, Ronaldo. Antropologia Missionária. São Paulo: Instituto Antropos, 2008.

LINGENFELTER, Sherwood G.; MAYERS, Marvin K. Ministering Cross Culturally. Grand


Rapids: Baker Academic, 2007.

MARTINS, Mário. 25 Dicas para uma mudança organizada. Disponível em:


<http://sossolteiros.bol.uol.com.br/mudanca-organizada-25-dicas/>. Acesso em: 30 jun. 2015.

MAYHALL, Jack; CAROLE. Marriage Takes More Than Love. Edição revisada. NavPress,
1996.

MESQUITA, Mônica de. Missionários e Recursos: parcerias no reino de Deus. Belo


Horizonte: Betânia, 2011.

PRADO, Oswaldo. Do Chamado ao Campo. São Paulo: SEPAL/ACMI, 2001.

PRIOR, Ian. The Christian At Work Overseas. Teddington: Tear Fund, 1982.

RIGLER, Sheila. Como ser um bom hóspede. 6 set. 2013. Disponível em:
<http://sheilarigler.com.br/?p=653>. Acesso em: 14 maio 2015.

- 91 -
SILVA, Messias Dias. Apostila do curso Vida Missionária. IMPV, 2012.

TOSTES, Márcia. Filhos longe da Pátria: o desafio de criar filhos em outras culturas.
Araçariguama: Vale da Bênção, 2011.

TSH. HOSTING overnight guests. 10 jun. 2008. Disponível em:


<http://theartofsimple.net/tips-to-help-guests-feel-welcome/>. Acesso em: 26 jan. 2015.

VAN DER MEER, Antonia Leonara. Missionário: Maluco, mártir, mendigo ou o que?
Disponível em: <https://ricomass.wordpress.com/artigos/missionario-maluco-martir-mendigo-
ou-o-que/>. Acesso em: 22 abr. 2015.

VAN DER MEER, Antonia Leonara. Vida Missionária. Viçosa: CEM, 2004.

WEBSTER, Richard A. Tearing Down Strongholds. Taipei, Taiwan: Campus Evangelical


Fellowship, 1990.

WIERSBE, Warren W. The Strategy of Satan. Wheaton: Tyndale House Publishers, Inc.,
1979.

WIERSBE, Warren W.; WIERSBE, David W. Princípios poderosos para o serviço cristão.
São Paulo: Shedd Publicações, 2013.

WITTIG, Raquel. Reparos | O que ter na caixa de ferramentas em casa? Disponível em:
< http://morandosemgrana.com.br/reparos-o-que-ter-na-caixa-de-ferramentas-em-casa/>.
Acesso em: 30 jun. 2015.

- 92 -
Anexo – Treinamento prático
Habilidades

É comum questionar porque o Senhor nos deu várias aptidões, talentos ou interesses. Em geral,
se você tem a oportunidade de aprender uma habilidade nova, fizer um curso de curto prazo ou
aperfeiçoar uma habilidade ou talento, faça! Claro, não é bom senso de roubar tempo dos
estudos ou do ministério para alguma coisa que não presta, mas no outro lado, nós não sabemos
como o Senhor vai usar nossas habilidades. Se possível faz um curso ou aprender uma
habilidade sem distraiu dos seus estudos ou ministério, considere isto uma oportunidade de
aumentar seus contatos e adquirir mais ferramentas úteis para o futuro.

Equipamento

Equipamento de manutenção de casa


Serrote, serrote de arco, serrote para cortar metal (e canos PVC)
Cavadeira, pá, enxada, rastelo, terçado
Tela (para repor tela danificada), grampeador para tela
Canos PVC, juntas e joelhos, cola para cano PVC, lixa
Torneiras
Cola araldite, durepox, fita veda rosca
Pregos de vários tamanhos
Material para tampar buracos em tela de alumínio (maça, fita (uma fita que tem uma camada de
um tipo de papel alumínio com base de asfalto.)
Venenos para cupim, barata, etc.

Equipamento de manutenção de equipamento mecânico


Jogo de chaves de boca métrica e de polegada, chave de pressão
Jogo de chaves de fenda e chave Philips
Martelos

Equipamento elétrico
Multímetro
Ferro de solda e solda
Fita isolante
Fio de várias bitolas, grampos para fixar fios

Artigo: Reparos -- O que ter na caixa de ferramentas em casa?

Essenciais

 Chave de fenda e philips: ambas têm a mesma finalidade, muito úteis na hora de
pendurar um quadro com parafuso ou colocar uma prateleira, para trocar um chuveiro
também é necessário ter uma destas.

 Alicate: alicate possui várias funções desde firmar algo para trabalhar com outra
ferramenta, apertar um arame ou até mesmo soltar um parafuso que não possua a chave
correta.

 Martelo: pode ser útil para pendurar um quadro com prego, na falta de furadeira.
Também pode ser usado para consertos em geral.

- 93 -
Desejáveis

 Chave de grifo: Muito útil quando uma torneira ou registro emperram, esta chave é
própria para enroscar e desenroscar canos. O mais interessante é que esta chave trava
mesmo em canos lisos.

 Jogo de chaves estria/boca: Vários itens do lar utilizam parafusos sextavados e estes
necessitam deste tipo de chave. Uma boa dica é que para fixar coisas muito pesadas em
paredes, parafusos sextavados são o ideal, por permitirem um melhor aperto.

  Chave inglesa média: Esta ferramenta pode substituir parcialmente o jogo de chaves
anterior. Pode ser muito útil também quando faltar alguma medida, principalmente as
maiores.

  Serra/Serrote: Apesar de ambas serem utilizadas pra serrar, o material que cada uma
trabalha é diferente. O serrote é utilizado para madeiras em geral, já a serra pode ser
usada para metal e plástico.

  Trena: Uma grande utilidade é medir a posição de um furo que será feito na parede,
ajuda a encontrar, por exemplo, o centro da parede onde iremos fixar um quadro.

 Desengripante: Sabe aquele parafuso enferrujado que não conseguimos tirar ou então
aquela porta rangendo? Esta é a solução, o desengripante é um lubrificante e anti-
ferrugem de alto poder de penetração, basta um pequeno jato e alguns segundos que,
como mágica, os parafusos se soltam facilmente.

Extra

 Furadeira: Este item, apesar de caro, pode ser útil em vários momentos. Em uma casa
o principal uso é furos em parede. Caso a furadeira seja também parafusadeira é melhor
ainda, pode evitar uma boa dor muscular de tanto apertar parafusos!

 Jogo de chaves para furadeira/parafusadeira: É um kit com chave de fenda e philips


de vários tamanhos, próprios para a furadeira/parafusadeira.
 Jogo de brocas: É bom ter de várias medidas, as mais utilizadas em casa são as de 6 e
8mm. Importante saber também que existem tipos de broca diferentes para parede,
madeira e metal.

Para parede utilize a broca de videa e a furadeira deve estar na configuração impacto
(simbolizado por uma marreta).

Para metal também deve ser utilizada a broca certa e a furadeira não deve estar configurada
para impacto.

Para madeira também existe uma broca específica, porém a madeira é fácil de furar com
qualquer tipo de broca, e com qualquer tipo de broca sempre deve ser furado sem impacto.

É sempre bom ter em casa para algum reparo de emergência:

 Fita veda rosca;


 Fita isolante;
 Resistência para chuveiro;
 Parafusos;

- 94 -
 Buchas de parede;
 Pregos;
 Reparo de torneira;
 Durepox;
 Adesivo instantâneo.

WITTIG, Raquel. Reparos: O que ter na caixa de ferramentas em casa? Disponível em:
<http://morandosemgrana.com.br/reparos-o-que-ter-na-caixa-de-ferramentas-em-casa/.>.

Organização

Prepara para o inesperado

Em geral, antes de começar uma atividade ou projeto, pense se tem tudo que precisa. Sempre
planeje mais tempo do que você acha que uma tarefa ou atividade vai requerer. Quando você
aprender a planejar, vai descobrir que seu nível de estresse vai diminuir. Prepare-se para o
inesperado. Em outras palavras, em nossa vida, especialmente em ministério, quase sempre têm
coisas que acontecem, interrupções ou desafios inesperados. Se nós aprendermos a planejar e
organizar, provavelmente teremos menos situações que causariam estresse, agitação e
frustração.

Em Ministério

Por não ser incomum ter visitantes inesperados, tente sempre ter alguma coisa na sua dispensa
para fazer uma refeição rápida ou um lanche.

Provavelmente a todas vocês já foram pedidos para ensinarem uma lição/pregação numa igreja
sem que tivessem tempo suficiente para prepará-la (como, por exemplo, dez minutos antes do
culto). Por essa razão, sempre é uma boa ideia ter na sua Bíblia ou sua bolsa uma lição/pregação
preparada que possa ser usada com crianças, jovens ou adultos.

Faz Listas

Se você pode aprender de ser organizada e fizer listas, vai ajudar em cada área da vida e
ministério. Isso inclui lista de compras regulares, inventores dos bens num posto missionário
interior, tarefas para completar, pessoas para visitar, cartas de agradecimento para escrever,
pedidos de oração, datas importantes para transferir no próximo calendário no fim de ano, etc.
Você não precisa ser um escravo de suas listas, mas usa suas listas para facilitar a sua vida e
reduzir estresse.

Provavelmente uma das coisas mais desagradável e comum de uma vida missionária é as
mudanças. O seguinte é um artigo com 25 dicas para uma mudança organizada.

25 Dicas para uma mudança organizada

Antes de falar das 25 dicas propriamente ditas, vale deixar uma dica de ouro para tudo que você
for fazer: FAÇA LISTAS! Isso mesmo, faça lis tas! Checklista básico, sabe? Quadradinho do
lado, tarefa do outro. Fez? Marca que fez! Só para não esquecer de cada passo da sua mudança,
tá esperto?

- 95 -
O que passou, passou

Corra longe de levar na sua mudança coisas que você nunca mais vai precisar. Não jogar fora
tudo aquilo que você não vai precisar vai te custar tempo, espaço na nova morada e dinheiro —
tempo é dinheiro! A regra de ouro é se você não usa agora, provavelmente não vai usar mais.

Organize a bagunça

Antes de se mudar, organize aquela bagunça que sempre fica escondida em algum canto. São
ferramentas quebradas, brinquedos velhos e roupas que você não usa mais. Dê tudo pra
caridade, antes de se mudar. Só não vale dar coisas que não prestem mais, hein?

Não pechinche na mudança

Não cometa a besteira que eu cometi de alugar um reboque e tentar fazer a mudança eu mesmo,
junto com minha esposa. Não mesmo! Escolha uma empresa com experiência, seus móveis e
geladeira agradecem. Escolher alguém sem experiência vai te dar dor de cabeça e prejuízo, ouve
o conselho de quem sabe.

Recrute os amigos na mudança

Você vai poupar muito tempo se conseguir alguns parentes e amigos para ajudar a encaixotar e
desencaixotar as coisas. Se tiver filhos que já sejam velhos suficientes para ajudar, ótimo! Mas
cuidado para eles não pedirem um reforço na mesada por conta disso.

Encaixota tudo

Caixas, caixas, caixas e mais caixas. Enfia tudo em caixas. Tudo? Sim, tudo! Um lugar fácil de
conseguir caixas é em supermercados e mercados de bairro. Alguns grandes supermercados
mandam suas caixas para prensa para ocupar menos espaço. Mas em mercados atacadistas,
estilo Makro e Atacadão, sempre tem umas caixas dando sopa nos corredores. Caso não
encontre de jeito nenhum, dá um pulo no centro de reciclagem da cidade e compra algumas por
valor bem baratinho.

Crie um sistema ABC

Nem tudo que você vai encaixotar precisará ser desencaixotado já no primeiro dia seu no novo
lar, correto? Então separe as caixas por prioridade. Como assim? Se os itens precisarem ser
usados já no mesmo dia, reúna-os em uma caixa comum e marque com um grande A nela, que
definirá prioridade máxima para aquela caixa e vai ser útil na hora de procurar as coisas naquele
mar de caixas que será formado. Se os itens são importantes, mas não essenciais, marque com
um B. Se são itens que você só usa 1x no ano, como decoração de natal, etc., marque com um
C, e serão as caixas que vão ser abertas por último. Então, desencaixote A, B e C, nessa ordem.

Embrulhe

Você vai precisar de muito jornal e fita adesiva. Quase sempre as coisas que são embrulhadas
com jornal ficam com tinta que as folhas soltam, então depois de desembrulhar você
provavelmente vai precisar limpá-las. As empresas de mudança usam jornal sem ser impresso
(papel jornal). Para itens que não podem pegar essa tinta de jeito nenhum, compre o papel em

- 96 -
uma papelaria. Papel seda e papel ondulado também são ótimos para embrulhar coisas e podem
ser adquiridos em papelarias. Estes papéis também são ótimos para dar amortecimento para
itens frágeis como copos, pratos e frascos.

Marque

Marcadores permanentes (vulgo piloto) são ótimos para marcar as caixas com informações
importantes, como cômodo de destino, conteúdo da caixa, frágil e “este lado para cima.

Etiquete

Como você está encaixotando tudo, coloque etiquetas, pinte, ponha adesivos circulares, para
que as caixas fiquem facilmente identificadas e fáceis de distinguir das que levam itens de
cozinha, quarto do casal, das crianças, do banheiro e lavanderia, por exemplo. Use uma cor
diferente para cada cômodo. Se necessário, faça uma lista de legendas, então você saberá
facilmente o que tem em cada caixa. Se quiser, você ainda pode ir antes no seu novo lar e colar
adesivos de cores correspondentes, nas portas de cada cômodo que receberá as respectivas
caixas com itens dele.

Deixe tudo mais leve

O papelão das caixas pode ser manuseado melhor se não exceder 25kg de carga por caixa.
Tenha isso em mente quando estiver encaixotando.

Cômodo por cômodo

Encaixote as coisas cômodo por cômodo, mantendo o conteúdo de diferentes espaços em


diferentes caixas. Isso vai eliminar confusão e poupar tempo quando estiver desencaixotando.

Encaixote antes

Mesmo que você encaixote apenas 2 caixas por dia, em 30 dias você vai ter encaixotado 60
caixas! Comece por locais onde as coisas não são tão utilizadas, como a garagem, quarto de
bagunça, quarto de visitas, etc.

Etiquetas de endereço

Faça algumas etiquetas com seu novo endereço antes de se mudar para a nova casa. Vai ser
muito útil para deixar com os moradores da sua antiga casa para que eles possam encaminhar
qualquer correspondência que chegue após sua mudança. É interessante deixar dinheiro com
eles para cobrir qualquer custo de postagem, né?

Faça um kit de sobrevivência

Imagine que você na sua primeira noite na nova casa vai estar tão perdido quanto o pessoal de
Lost, ok? Não é tão assim, tá certo! Mas é quase isso. O kit deve ter itens essenciais para passar
a 1a noite caso seja tarde demais para ficar fuçando caixas ou caso o pessoal da mudança
simplesmente não tiver aparecido ainda (sim, isso pode ocorrer). Alguns itens que podem ajudar
nestes casos: comida não-perecível, abridor de latas, pratos descartáveis, utensílios de plástico,
garrafas d’água, uma lanterna, algumas toalhas, lençóis, produtos de higiene, cobertor, papel
higiênico, caneta e papel, alguns joguinhos ou revistas e uma troca de roupa para todo mundo.

- 97 -
Arrume uma babá

Se você tiver crianças, ainda mais se forem pequenas, é uma boa ideia arrumar alguém para
cuidar delas enquanto você se envolve com a mudança, nas horas de encaixotar, desencaixotar,
etc. As crianças sendo cuidadas não vão te interromper no foco da tarefa e você vai conseguir
fazer mais em menos tempo.

Regra do Quarto Vazio

Assim que chegar na casa nova defina o Quarto Vazio. Esse quarto vai ser uma zona livre de
caixas e vai servir para que você e sua família possam descansar e relaxar de todo o trabalho de
desencaixotar coisas; sem olhar para mais caixas, de preferência!

Bichinhos seguros

Se você tiver animais de estimação, tenha um plano para chegada da mudança. Ponha o gato no
banheiro com a caixa de areia e o cachorro num cercado no quintal ou na lavanderia. Dessa
forma você evita que qualquer acidente possa acontecer com seus bichinhos. Além disso, pro-
cure dar uma atenção para eles no primeiro dia, pois mudança de ambiente é mais brusca para
eles do que para você e sua família. Animais demoram mais a se adaptar.

Primeira noite especial

Faça a primeira noite na sua nova casa a mais especial de todas! Peça comida chinesa, pizza,
etc. Rola também de por algumas velas, decoração rápida e prática e muita música. Vai fazer
muita diferença isso e ajudar você e sua família a relaxarem e desestressarem.

Bole um plano

Antes de começar a rasgar caixas feito um louco, tenha um plano. Sente com sua família e
bolem um plano, isso inclui o que vai pra onde e quem é responsável pelo quê. Vai ajudar para a
coisa toda rolar mais suave e com menos stress.

(MARTINS, 2015)
Servindo como um modelo

Estilo de Vida

Sem dúvida, nossa casa vai refletir o nosso estilo de vida, ou o estilo de vida que queremos que
pessoas ao nosso redor pensem que temos. Especialmente no contexto de ministério, como as
pessoas percebem nosso estilo de vida e as decorações, móveis, e outros pertences pode
impactar o ministério.

Claro que precisamos ter um equilíbrio. Não há muitos missionários e famílias que querem
habitar em uma maloca com um grupão de uma tribo indígena. Por outro lado, se um
missionário faz uma casa imensa e moderna de tijolos e ladrilho no meio da floresta quando seu
rebanho mora em casas de paxiuba e palha, é provável que ele não vá ficar muito tempo no
campo missionário.

Precisamos criar um lar onde nos sentimos confortáveis, mas não podemos criar ciúmes ou
barreiras com nossos vizinhos. Devemos sempre nos perguntar:

- 98 -
 O que estou comunicando com esta cor, ou estilo?
 Vai ser apropriado para este convívio?
 Vai ser possível para outras pessoas neste convívio imitar?
 Vai contribuir para o meu ministério ou meu bem-estar?
 O Senhor vai ser glorificado?

Hospitalidade

“Tawake nas amna amohtopo poko. Amna yaw esewahtocoko, kapore nasî pawana komo ya.”
Ebrew 13.2 na língua Wai Wai. (“Estamos felizes que vocês chegaram. Dizemos para os nossos
visitantes venham e amarram suas redes” Hebreus 13.2). Quando um visitante chega a uma
aldeia Wai Wai, a primeira coisa que o povo vai fazer é decidir onde o visitante vai ser
hospedado.

O que é hospedagem? Eu acho que hospedagem inclui a provisão de alimento e um lugar de


repouso (fisicamente e espiritualmente) para uma pessoa em transição. Não é a provisão de uma
habitação permanente, mas é a provisão temporária para suprir uma necessidade.

Princípios de hospedagem tirado de 2 Samuel 17.27-29

A) Saber as necessidades de outros. 2 Samuel 17.29 “pois sabiam que o exército estava
cansado, com fome e com sede no deserto”.

B) Suprir necessidades básicas de outros generosamente. “trouxeram Davi e ao seu


exército camas, bacias e utensílios de cerâmica e também trigo, cevada, farinha, grãos
torrados, feijão, lentilha, mel e coalhada, ovelhas e queijo de vaca” (2 Samuel 17.28).

C) Revigorar a alma de seu hóspede desanimado (2 Samuel 19.34-39) “O rei beijou


Barzilai e o abençoou”.

Outros Exemplos Bíblicos:

Recebendo refrigério: Romanos 16.32; 2 Coríntios 7.13

O hóspede trouxe ânimo: 1 Coríntios 16.18, “Alegrei-me com a vinda de Estéfanas, Fortunato e
Acaico, porque eles supriram o que estava faltando da parte de vocês. Eles trouxeram alívio ao
meu espírito, e ao de vocês também. Valorizem homens como estes.” (Veja também 2 Timóteo
1.16-18)

Amor que reanima o coração: Filemom 1-7

O Senhor quer que pratiquemos a hospitalidade e supramos as necessidades de outros (Romanos


12.13; Gálatas 6.20). Uma das características de um bispo é ser hospitaleiro (1 Timóteo 3.2;
Tito 1.8). Com a nossa hospitalidade, temos a oportunidade não só de suprir as necessidades
temporárias dos outros crentes, mas também de revigorar as suas almas. Por isso, precisamos
sempre ficar prontos para recebermos pessoas em casa com uma palavra de encorajamento, um
copo de água, um suco frio, uma xícara de chá ou cafezinho e uma despensa de generosidade.

Dicas para dar hospedagem:

“Viver simplesmente – crescer – honrar relacionamentos – celebrar”. O desejo da autora que


escreveu este artigo e sua família é fazer seu lar um refúgio para todos os hóspedes, para honrar

- 99 -
os relacionamentos. Ela deu as seguintes dez maneiras para ajudar seus hóspedes a se sentirem
mais “em casa” durante sua visita.

1. Seja real. Os hóspedes não têm expectativas de uma casa imaculada e


geralmente não querem criar uma pressão. Se você está se sentindo estressada,
o hóspede vai sentir essa tensão também.

2. Permita que seus hóspedes se sintam em casa. (Isso não quer dizer que você
precisa cumprir todos os pedidos, especialmente se é demais, se você não tem
condições ou se você não se sente confortável. Por exemplo, se a pessoa quer
cuidar de seu cachorro em sua casa, mas você não gosta de animais dentro da
casa, não se sinta pressionada a permitir).

3. Se possível, providencie artigos de toalete como pasta de dente, sabão, xampu e


uma escova de dente (na embalagem) disponível.

4. Coloque os itens básicos onde pessoas podem achar facilmente. Por exemplo,
coloque toalhas em cima da cama ou em cima no armário. Se o hóspede levanta
de manhã mais cedo do que você, coloque as coisas para o café da manhã –
inclusive, os talheres, pratos, copos, etc. – onde o hóspede pode achar
facilmente e se servir.

Se seu hóspede chegou de uma viagem cansativa, providencie um lanche ou


pelo menos uma fruta e uma garrafa de água. Outra cortesia é colocar uma nota
de bem-vindo no quarto onde a pessoa vai dormir.

5. Faça café ou chá. Tanto faz; se você é acostumado a tomar café ou chá, é
sempre uma gentileza oferecer uma bebida quente.

6. Tente pensar nas coisas pequenas e extras que criem um ambiente tranquilo ou
ajude numa necessidade. Pode colocar flores num vaso no quarto. A provisão
de um relógio pode ser uma grande ajuda.

7. Outra gentileza é colocar revistas ou livros do tipo devocionais ou leitura


edificante no quarto ou na sala, disponíveis para o hóspede.

8. Possivelmente possa dar informação sobre lugares de interesse perto de casa, ou


de eventos especiais ou de interesse que vão acontecer durante o tempo de sua
visita. Talvez um presente pequeno possa ser dado, como, por exemplo, coisas
da sua região ou cidade.

9. Permita a seu hóspede ajudar se ele pedir. Ele vai se sentir mais em casa se
permitido ajudar em uma maneira ou outra. Não precisa ser alguma coisa
grande; ele pode ajudar a arrumar a mesa ou ajudar na cozinha.

10. Mantenha a rotina da sua própria família. Especialmente se você tem filhos
pequenos, é importante manter a rotina à noite e o tempo com a sua própria
família. Os filhos não vão reclamar por mais atenção se a rotina estabelecida
continuar tendo hóspede ou não.

(TSH, 2008)

- 100 -
Dicas de como ser um bom hóspede

As seguintes dicas foram incluídas num artigo com o mesmo título escrito por Sheila Rigler em
2013.

1. Se o convite for para uma casa ou campo ou de praia, pergunte se deve levar roupas de
cama e banho.
2. Avise quem vai, os anfitriões não devem ser surpreendidos.
3. Avisar com antecedência a hora e o local de sua chegada. Se alguém ficou de buscá-lo
no aeroporto e não chegaram, telefone para saber se seus anfitriões estão bem, mas
ofereça-se para pegar um táxi e chegar por seus próprios meios.
4. Se combinar três dias, fique dois. Nunca quatro.
5. Coloque na mala, secador de cabelos, xampu, cremes, creme dental, sabonetes,
perfumes, toalhas e outras coisas de uso pessoal, como bucha.
6. Não leve muita roupa, dê preferência a tecidos que não amarrotam.
7. Nunca peça emprestado aos anfitriões objetos de uso pessoal.
8. Leve lembrança que combine com seus anfitriões, e se tiver crianças na casa leve
lembranças para eles também, isso conta muito.
9. Respeite a rotina da casa, preste atenção nos horários de dormir, acordar, trabalhar ou
passear. Nada mais desagradável do que um hóspede que acorde ao meio dia, quando na
casa a rotina é tomar café da manhã até as nove horas.
10. Lembre-se sempre que você não está em sua casa, então não saia dando ordens,
julgando, dando palpites na decoração e no comportamento de quem quer que seja.
11. Cuidado com os trajes que você costuma usar, principalmente para dormir. Não andar
de cueca pela casa, nem mesmo na hora de dormir, se não gostar de usar pijamas, leve
um calção ou uma bermuda. O mesmo vale para as mulheres, não sair desfilando de
camiseta e calcinha, lembre-se que você não está na sua casa.
12. Respeite especialmente a rotina matinal: se seus anfitriões estiverem trabalhando
enquanto você estiver lá, evite usar o banheiro enquanto eles se arrumam para sair.
13. Nunca demore demais debaixo do chuveiro e não molhe muito o banheiro. Cuidado
também para não esquecer a toalha jogada no chão, ou qualquer outra peça.
14. Deixe sempre seus objetos de toalete (creme dental, escova, desodorante, etc.) dentro da
necessidade e nunca espalhados pelo banheiro ou pelo quarto. Enxugue a pia e saída do
box após o uso. Lembre-se da descarga, e de não deixar “vestígios" do que você fez,
procure por uma escovinha para limpar o vaso, e depois lembrar também de abaixar a
tampa do mesmo.
15. Outra dica muito valiosa é levar a roupa que você vai usar para o banheiro e sair de lá
vestido, ficar andando de toalha pelo meio da casa é muito feio e mais uma vez: "Nunca
deixe suas coisas espalhadas".
16. Mantenha seu quarto em ordem, e sempre destrancado. Faça sua cama mesmo que
existam empregados para fazê-lo.
17. Não deixe sua mala aberta no meio do quarto, procure um cantinho e a mantenha
fechada.
18. Use o telefone somente se for muito necessário, sempre peça permissão aos anfitriões
para usá-lo e chamadas interurbanas faça sempre a cobrar, cuidado para não fazer e nem
receber telefonemas em horários “estranhos”.
19. Lembre-se que quer o bom humor é prova de civilidade, principalmente para um
hóspede, seja uma pessoa de bom humor e bem-disposta. Não há coisa mais
desagradável do que aquele hospede que nunca tem vontade de fazer nada, não è
solícito e está sempre de mal com a vida.
20. Seja simpático, brinque com o cachorro, cumprimente todo mundo e seja legal com as
crianças - mesmo que você as odeie.
21. O tempo máximo de estádia é de uma semana, mais que isso a visita passa a ser um
incômodo (Lembre-se sempre do ditado: Hóspedes e peixes, após alguns dias, começam
a cheirar mal) uma dica é ficar três dias, dá para aproveitar e deixar saudades.

- 101 -
22. Quanto às despesas, converse com o dono da casa para saber se ele quer que divida os
gastos com comida etc., é simpático convidar os anfitriões para um jantar fora. Pague
você a conta!
23. Não abra a geladeira, a não ser que alguém autorizou ou pediu para você pegar alguma
coisa. Se quer beber uma água gelada, pergunte se pode pegar na geladeira, mas nunca
faça isso sem o consentimento de alguém.
24. Ofereça ajuda: "Eu posso lavar essa louça" ou "Pode deixar que eu ponho a mesa”, lave
o copo em que bebeu água.
25. Nunca se aproprie do telecomando da televisão, mesmo que o seu time esteja
disputando a final do campeonato, use a educação e pergunte se dá para colocar no jogo
ou em qualquer outro canal.
26. Nunca coloque os pés no sofá, esse é um detalhe importantíssimo e que deve ser levado
em consideração.
27. Hora do jantar e almoço, se a família preza por esse momento, cabe a você respeitar.
Pegar o prato e ir jantar na sala, dispensar a refeição, ou simplesmente comunicar que
vai jantar mais tarde não é legal! Lembre-se que você é a visita e precisa se adequar às
regras da casa.
28. Não faça exigências quanto à comida, as instalações e os horários.
29. Não use a casa dos outros só para dormir e sujar roupa de cama. Dê atenção aos
anfitriões.
30. Respeite as regras da casa, se tirarem os sapatos antes de entrar na sala, você tira
também.
31. Evite marcar horários de voo de madrugada, mas se for inevitável despeça-se de seus
anfitriões de véspera.
32. Flores são sempre bem recebidas, portanto, deixe encomendado um buquê a ser
entregue à dona da casa com cartão (escrito a mão e sem aquele batidíssimo "desculpa
qualquer coisa") após a sua viagem agradecendo por tudo e convidando os seus
anfitriões para passarem um tempo com vocês.
33. Agradeça aos anfitriões, mesmo que não tenha sido, por quaisquer razões, os melhores
dias da sua vida, e cópias das eventuais fotos que tenha feito.

(RIGLER, 2013)

- 102 -

Você também pode gostar