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1. INTRODUÇÃO
Antes de realizar quaisquer elucubrações acerca do tema ora proposto é necessário tecer
alguns comentários a título de intróito ao assunto.
Nesta seara, faz-se premente ressaltar um dos vários problemas atinentes aos centros
urbanos, qual seja, a acessibilidade e a locomoção de pessoas, não se olvidando, em grau
distinto, daquelas dotadas de necessidades especiais.
Como é cediço, as calçadas, vias públicas e passeios, na grande maioria dos Estados
Brasileiros não refletem grande importância aos seus administradores, que, muitas das
vezes, relegam a este particular pífias promessas eleitoreiras.
Tanto o é, que em nosso cotidiano mesmo as pessoas sem nenhum tipo de necessidade
especial sofrem diariamente com a irregularidade e falta de manutenção das vias públicas,
podendo se tomar como exemplo as calçadas formadas por petit pavê na qual muitas das
pedras se soltam provocando quedas e lesões aos munícipes.
Não fosse o bastante, outro dado igualmente lamentável no que diz respeito a este mesmo
tipo de pavimentação, foi oportunamente ressaltado pelo Ex-Vereador Municipal e atual
ouvidor do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia - CREA-PR, Antônio
Borges dos Reis ao afirmar que "esse tipo de pavimento muitas vezes é utilizado como
instrumento para a violência, porquanto delinqüentes aproveitam-se destas "pedras soltas"
para atirá-las contra pessoas inocentes".
Não se pode olvidar neste particular, que os danos causados pela falta de manutenção dos
passeios e até mesmo a ausência de fiscalização quanto a sua correta construção geram
ao Estado o efetivo dever de indenizar os munícipes quais são as verdadeiras vitimas desta
atitude negligente e omissiva do ente Estatal.
"PASSEIO - parte da calçada ou da pista de rolamento, neste último caso, separada por
pintura ou elemento físico separador, livre de interferências, destinada à circulação
exclusiva de pedestres e, excepcionalmente, de ciclistas "[2]
Fixada a responsabilidade dos Entes Públicos quanto à manutenção dos passeios e vias
públicas, há que se considerar que para aferir a efetiva omissão do Estado na manutenção
das referidas vias, faz-se mister constatar a ausência dos elementos determinantes para
construção de um passeio seguro e de qualidade.
Com este mister, segundo Philip Anthony Gold[4], existem três aspectos a serem
observados para auferir a efetiva qualidade de uma calçada, a saber:
"Uma calçada com fluidez apresenta largura e espaço livre compatíveis com os fluxos de
pedestres, que conseguem andar com velocidade constante. Em relação à fluidez existe o
conceito técnico de Nível de Serviço para calçadas, com definição de vários níveis de
fluidez e, ainda, conforto. Esse conceito fica fora do escopo da presente Nota Técnica mas
pode ser
encontrado em vários itens da bibliografia fornecida ao final da Nota.
Uma calçada com conforto apresenta um piso liso e antiderrapante, mesmo quando
molhado. O piso é quase horizontal, com declividade transversal para escoamento de
águas pluviais de não mais de 2%. Não há descontinuidades, tipo degrau, buraco etc. Não
há obstáculos dentro do espaço livre ocupado pelos pedestres, obrigando os pedestres a
desviar do seu caminho. Uma calçada segura não oferece aos pedestres nenhum perigo de
queda ou tropeço."
Desta feita, cada Município deve emitir normas específicas para construção de passeios em
conformidade com o seu padrão técnico, prezando sempre pela acessibilidade de pessoas
com necessidades especiais, bem como, assegurando passeios seguros a todos os
cidadãos.
Porém, a realidade que se extrai da simples observação dos calçamentos dos grandes
centros urbanos, revela-se diametralmente oposta às premissas expostas pelo Código de
Transito Brasileiro, uma vez que, não raras são as situações em que os cidadãos deparam-
se com calçadas esburacadas e defeituosas, quais, muito freqüentemente, são percussoras
de quedas e lesões aos transeuntes.
Aliás, como se não bastassem as lesões provocadas às pessoas sem nenhuma necessidade
especial, tampouco se comente sobre os acidentes ocasionados aos portadores de
limitações, quais, por vezes, são totalmente ignorados pelo Poder Público que sequer se
preocupa em assegurar uma aceitável condição de circulação.
Desta sorte, em não havendo a devida fiscalização por parte do Estado para manutenção e
construção correta de passeios seguros, exsurge-se como ato inequívoco a sua omissão.
Saliente-se também, que quanto às rampas de acesso às cadeiras de rodas, esta obrigação
decorre expressamente da Constituição Federal, uma vez que em seu art. 5º, II, dispõe
como direito fundamental de todo o cidadão a igualdade de condições.
Desta sorte pode-se afirmar sem sombras de duvidas, que a omissão do Estado decorre da
normativa que lhe incumbe o dever de garantir aos transeuntes a um trânsito em
condições seguras, além de ser sua obrigação promover um mínimo de condições de
acessibilidade aos portadores de necessidades especiais, quais, sob qualquer aspecto, não
podem ser alvo discriminações.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo.
O mesmo Código ainda comina o conceito civil de ato ilícito, conforme se vê:
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Assim, é evidente o que o Estado deve ser responsabilizado pelos danos causados aos
particulares, sobretudo, quando age em flagrante omissão aos seus deveres legalmente
definidos, pelo que ocasiona prejuízos e sofrimentos aos cidadãos.
Salutar igualmente, a consideração de que a atual Constituição Federal ainda exara em seu
art. 37, § 6º que a responsabilidade do Estado é objetiva, ou seja, independente da
comprovação de culpa, quanto aos atos praticados por seus agentes.
Acerca do assunto, leciona Yussef Said Cahali que "não parece haver dúvida de que a
responsabilidade civil do Estado pode estar vinculada a uma conduta ativa ou omissiva da
Administração, como causa do dano reclamado pelo ofendido".
4. CONCLUSÃO
[4] o qual realizou importante estudo sobre o passeio nas cidades brasileiras.