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PROTAGONISMO JUVENIL: A PARTICIPAÇÃO DOS JOVENS PARA

A TRANSFORMAÇÃO SOCIAL
YOUTH PROTAGONISM: THE PARTICIPATION OF YOUNG PEOPLE FOR SOCIAL CHANGE

Adriani Semicheche1
Klicia Miyeko Higa2
Lucimaira Cabreira3
SEMICHECHE, A.; HIGA, K. M.; CABREIRA, L. Protagonismo
juvenil: a participação dos jovens para a transformação social.
Akrópolis Umuarama, v. 20, n. 1, p. 21-38, jan./mar. 2012.

Resumo: Este artigo apresenta um estudo sobre o Pro-Jovem e o de-


senvolvimento do Protagonismo Juvenil. Tendo como objetivo analisar
se o Pro-Jovem é realmente um espaço que potencializa o desenvol-
vimento do Protagonismo Juvenil. Para alcançar este objetivo foi reali-
zada uma breve revisão bibliográfica sobre o assunto e uma pesquisa
de campo onde foram entrevistados jovens e profissionais da equipe
técnica do Pro-Jovem Adolescente de Cascavel- PR. A partir deste
estudo pode-se perceber que tanto os jovens como a equipe técnica
compreende o protagonismo como possibilidade de transformação so-
cial, visto que todas as reflexões e vivencias oriundas do espaço do
1
Acadêmica do 4º ano de Psicologia da Uni-
versidade Paranaense – UNIPAR, Campus Pro-Jovem, transcendem as barreiras físicas e são materializadas em
Cascavel, Paraná. Contato: Cachoeira Alta, ações nos locais onde estes jovens vivem cotidianamente. É possível
Cascavel, Paraná. Endereço eletrônico: concluir com este estudo, que o Pro-Jovem é um espaço que desen-
adrisemicheche@hotmail.com. volve o protagonismo, porque propicia um espaço de pertencimento e
2
Acadêmica do 4º ano de Psicologia da Uni- reconhecimento deste jovem, enquanto sujeito de potencialidades e
versidade Paranaense – UNIPAR. Campus capacidade de mudanças e transformações.
Cascavel – Paraná. Contato: Rua Pernam- Palavras-chave: Pro-Jovem, Protagonismo Juvenil, Jovem.
buco, 861. Cascavel, Paraná. Endereço ele-
trônico: klicia_kmh@hotmail.com.
Abstract: This article presents a study about the project ProJovem
3
Orientadora. Psicóloga. Especialista em and about the development of youth protagonism. It was analyzed if
Psicologia e saúde. Docente do curso de this project is really a space that maximizes the development of youth
Psicologia da Universidade Paranaense – protagonism. So the study reviewed a detailed bibliographic about the
UNIPAR, Campus Cascavel, Paraná. Con-
tato: Rua Pernambuco, 2205. Cascavel, subject and a fieldwork, where young people and professionals from a
Paraná. Endereço eletrônico: lucimaira@ technical team of ProJovem from Cascavel-PR were interviewed. The
unipar.br. study demonstrated that both the young people and the technical team
understand the protagonism like possibility of social transformation,
since all the reflections and experience from ProJovem transcend
physical barriers and they are materialized into action in places where
these young people live. It was possible to conclude that this program
develops the protagonism, mainly because it provides a space of be-
longing and recognition of these young people, while potential indivi-
duals with capacity of changes and transformations.
Keywords: ProJovem, youth protagonism, young people.

Recebido em novembro de 2011


Aceito em março de 2012

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SEMICHECHE, A.; HIGA, K. M.; CABREIRA, L.

INTRODUÇÃO siderações finais do estudo.

A compreensão da juventude é algo que ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE JU-


instiga diversos pesquisadores das mais varia- VENTUDE
das áreas, entre elas está a Psicologia. Nas di-
versas perspectivas teóricas que compõem a ci- A juventude é um tema que está sendo
ência psicológica, muitos são os estudiosos que bastante abordado nos últimos anos no Brasil,
procuram compreender as características da ju- os meios de comunicação criaram diversos pro-
ventude. Os estudos das diferentes áreas sobre gramas envolvendo música, moda, esporte e
juventude e o levantamento de necessidades lazer,voltados para o público jovem, mas quan-
para este público, fizeram com que a socieda- do estão presentes nos noticiários o que mais se
de e o Estado se mobilizassem, criando políticas fala é do jovem relacionado com a violência, cri-
públicas com o objetivo da garantia de direitos mes, drogadição ou formas de combater essas
para infância e juventude em âmbito nacional. problemáticas (ABRAMO, 1997).
Um dos resultados desta mobilização em A academia também voltou a refletir e in-
prol de políticas destinadas a este público foi à vestigar sobre os jovens por meio de teses de
criação de serviços e programas que ofereçam dissertação e mestrado, porém na maioria das
atividades destinadas ao jovem, procurando o vezes estes são destinados a debater sobre as
desenvolvimento de sua autonomia enquanto instituições presentes na vida deles, especial-
sujeito social, possibilitando vivenciar sua cida- mente as escolares, a família, sistemas jurídicos
dania. Partindo deste pressuposto, criaram-se e penais, ou ainda sobre jovens em situação de
espaços como o Pro-JovemAdolescente - Servi- risco, mas recentemente há um crescimento no
ço sócio educativo -, programa que atende ado- número de estudos relacionados ao modo como
lescentes e jovens em todo território nacional, os próprios jovens vivem, quais são suas per-
tendo como um de seus eixos norteadores o de- cepções, meios de socialização, como elabo-
senvolvimento do Protagonismo Juvenil. ram as experiências e situações vivenciadas e
Diante destas considerações, o objeti- a respeito também de sua atuação como parte
vo deste estudo é analisar se o Pro-Jovem efe- de instituições governamentais e não governa-
tivamente potencializa o desenvolvimento do mentais (ABRAMO, 1997).Jovens em situação
Protagonismo Juvenil, que se mostra como um de risco são pessoas quedevido a determina-
recurso do jovem para vivenciar sua cidadania e dos fatores em suas vidas, podem serlevadas
ser realmente participante ativo da sua própria a adquirir comportamentos ou vivenciar eventos
história, assim como da sua sociedade. Para al- prejudiciais tanto para si mesmo como para a
cançar tal objetivo, pretende-se identificar o que sociedade, entre eles a repetência e evasão es-
os jovens e equipe técnica compreendem como colar, não trabalhar e estudar, o uso de drogas,
Protagonismo Juvenil e de que forma o protago- condutas violentas e a iniciação sexual (BANCO
nismo é desenvolvido neste espaço. MUNDIAL, 2007).
E é de responsabilidade da Psicologia, Inicialmente apresentaremos alguns con-
em conjunto com outras áreas do saber, promo- ceitos para a palavra juventude, porém defini-la
ver e potencializar espaços para que o Prota- não é algo simples, mesmo existindo diversas
gonismo Juvenil seja uma realidade, vivenciada definições elaboradas por escolas teóricas dife-
por muitos jovens, capazes de promover mudan- rentes estes não conseguem elaborar um único
ças e transformações necessárias, para uma so- significado que realmente consiga compreender
ciedade mais justa e solidária. a juventude em sua totalidade.A perspectiva de-
O presente artigo organiza-se primeira- senvolvimentista de Eric Erickson, que incorpora
mente com um levantamento bibliográfico, con- a psicanálise ao campo da antropologia cultural,
tendo algumas reflexões sobre a juventude, em estabelece o triângulo pai - mãe - filho, por meio
seguida uma breve reflexão sobre a participação de um modelo que une em um vértice a família,
do jovem no decorrer da história e Protagonis- no segundo a dimensão tempo - sociedade - cul-
mo Juvenil, e por fim, realiza-se algumas con- tura e por terceiro o próprio indivíduo, isto é, há
siderações sobre o Pro-Jovem. Posteriormente, uma interação entre dimensões institucionais,
apresenta-se a metodologia, seguida pela apre- socioculturais, histórica e biológica. Erickson em
sentação e análise dos dados e por fim, as con- sua teoria elaborou oito etapas de desenvolvi-

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mento psicossocial (OLIVEIRA, 2006), cada a realidade social e econômica a qual os jovens
uma delas é marcada por conflitos ou crises que pertencem são vistos como marginais, perigo-
precisam ser resolvidos, seja de forma positiva sos, alienados, irresponsáveis, muitas vezes
(promove o desenvolvimento) ou negativa (retar- são relacionados à violência e ao desvio de con-
da o desenvolvimento). duta (BAQUERO; NAZZARI, 2010).
E é na juventude que os indivíduos vão No cotidiano encontramos uma série de
se deparar com questões importantes para o seu representações em torno da juventude que inter-
desenvolvimento, como a constituição da identi- vêm na forma como compreendemos os jovens,
dade, a busca de autonomia frente aos pais e de uma delas é considerar a juventude como uma
novas relações significativas, por isso essa fase condição de transição, o jovem como um “vir a
vai demandar que o jovem tenha uma integra- ser”, tendo no futuro e no caminho para a vida
ção das tarefas psicossociais anteriores (SILVA; adulta o significado das suas ações no presente.
COSTA, 2005). E a partir dessa visão existe uma tendência de
A forma de se compreender a juventude, encarar a juventude na sua negatividade, como
seus limites, suas atribuições, suas caracterís- alguém que ainda não chegou a ser(SALEM
ticas e suas responsabilidades tem se transfor- apud DAYRELL, 2003).
mado periodicamente, juntamente a esse fato, Segundo Dayrell (2003), há também uma
a juventude, idealizada como uma categoria so- visão romântica da juventude, que é considerada
cial pode ser pensada como uma visão contem- como momento de liberdade e de expressão de
porânea. Portanto, existem dúvidas a respeito comportamentos. É vista como um tempo para a
de como abordar o assunto no contexto atual, experiência, para o erro, um período caracteriza-
e uma das questões é em relação aos critérios do pelo prazer e pela irresponsabilidade. Outra
para atribuir uma definição, um sentido para a tendência é restringir a compreensão do jovem
classe jovem (BAQUEIRO; CUNHA, 2010). somente ao campo da cultura, como se ele só
A juventude é vivida como um processo expressasse a sua condição juvenil nos finais
determinado a partir de uma evidente singulari- de semana ou quando envolvido em atividades
dade, pois é a fase da vida em que se começa culturais.
a procura da autonomia para construção de ele- A juventude também é vista como um
mentos da identidade pessoal e coletiva (SPO- momento de crise, uma etapa complicada, sub-
SITO, 2008).Segundo Dayrell (2003, p. 41), “a jugada por conflitos com a autoestima e com a
juventude é, ao mesmo tempo, uma condição personalidade. Outra tendência que está rela-
social e um tipo de representação”, ou seja, cionada a esta é associar a juventude ao dis-
assim como existe um caráter comum a todos tanciamento da família, assinalando para uma
decorrentes das transformações do indivíduo possível crise da família como instituição socia-
numa determinada faixa etária, na qual ocorre lizadora (DAYRELL, 2003).Os jovens muitas ve-
o desenvolvimento do corpo e mudanças psi- zes se percebem autônomos, independentes e
cológicas (começa assumir responsabilidades, a família por sua vez tem vivenciado nas últimas
buscar independência), há também distintas décadas, grandes mudanças em que os pais
construções históricas e sociais relacionadas a deixam de desempenhar seu papel de autorida-
esse ciclo da vida, sendo assim, cada sociedade de. Os jovens por vezes, deparam-se com uma
e cada grupo social encara e representa a juven- situação de abandono (SZAPIRO; RESENDE,
tude de formas diferentes. 2010).
A juventude deve ser compreendida Muitos jovens na sociedade moderna
como componente de um processo mais amplo querem ser percebidos, reconhecidos, vão con-
de constituição de sujeitos, não apenas como tra as normas sociais como uma tentativa de
uma fase para a entrada do mundo adulto, não afirmação de si mesmos, desafiam as frontei-
se restringe a uma transição, ela é influenciada ras para procurar o sentido da vida. No entanto,
também pelo meio social no qual se desenvolve podem se perder em caminhos repletos de con-
e pela qualidade das interações. Não existe um flitos, pela ausência de uma atuação comparti-
único modo de ser jovem, há várias formas de lhada com a comunidade em que vivem, sem
ser jovem (PERALVA, apud DAYRELL, 2003). O conseguir achar uma direção que promova seu
senso comum geralmente concebe a juventude crescimento (BAQUERO; NAZZARI, 2010). Se-
a partir de estigmas e estereótipos. E conforme gundo Abramo (2000, p. 169),

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SEMICHECHE, A.; HIGA, K. M.; CABREIRA, L.

A tematização da juventude pela óptica do deles, mas da sociedade da qual fazem parte,
“problema social” é histórica e já foi assina- lembrando também, da sua capacidade criativa,
lada por muitos autores: a juventude só se participativa, solidária, inovadora, isto é, olhar
torna objeto de atenção enquanto representa para o jovem como um parceiro, perceber suas
uma ameaça de ruptura com a continuida-
potencialidades e necessidades, deixar de vê-
de social - ameaça para si própria ou para
a sociedade. Seja porque o indivíduo jovem
-los somente como causadores de problemas
se desvia do seu caminho em direção à inte- (ROCHA, 2006). Os jovens precisam ser ouvi-
gração social - por problemas localizados no dos, para que possam colaborar para a ideali-
próprio indivíduo ou nas instituições encarre- zação, para a prática e avaliação das políticas e
gadas de sua socialização ou ainda por ano- propostas a eles designadas. Portanto, é neces-
malia do próprio sistema social -, seja porque sário ouvir, planejar, agir e avaliar com os jovens,
um grupo ou movimento juvenil propõe ou acreditar em sua capacidade de ideias, de com-
produz transformações na ordem social ou preensão de suas necessidades e de efetivação
ainda porque uma geração ameace romper de propostas diferenciadas (ROCHA, 2006).
com a transmissão da herança cultural.
E após a exposição de alguns concei-
tos a respeito da juventude, abordaremos em
A juventude também é conceituada algu-
seguida, uma questão que acreditamos ser de
mas vezes conforme seu caráter revolucionário,
fundamental importância para compreender os
de força positiva e transformadora. Em outras
espaços que potencializam a participação dos
ocasiões, é identificada como causadora de
jovens para a transformação social, que é o Pro-
problemas para a sociedade e como um estilo
tagonismo Juvenil.
de vida que demanda cuidados específicos. Os
jovens por vezes são compreendidos em sua
A PARTICIPAÇÃO DOS JOVENS NO DE-
potencialidade, mas são vistos também como
CORRER DA HISTÓRIA E O PROTAGONIS-
vítimas de processos de exclusão ou como po-
MO JUVENIL
pulação em vulnerabilidade (FREZZA, MARAS-
CHIN; SANTOS, 2009).Nesse sentido, os jovens
As diversas mudanças decorrentes das
que não possuem condições de satisfazer suas
transformações experimentadas pela sociedade
necessidades e aspirações vivem o dilema entre
contemporânea fizeram com que aparecesse
submeter-se aos que tem mais do que necessi-
um conjunto de desafios aos jovens, em meio a
tam ou se rebelar e fazer voto de pobreza. Pare-
incertezas e as expectativas de melhores con-
ce que a juventude está condenada a subordina-
dições de vida (NAZZARI, 2006a), o fato é que
ção não apenas em relação aos pais e avós, aos
ainda hoje, em grande parte das mobilizações
chefes e governantes, mas também ao mundo
de massa, a participação sempre está compro-
deles ou ao desespero, muitos se afundam na
metida com o que Marx e Engels (apud SOUZA,
delinquência, nas drogas e na morte precoce.
2010) apontam de “pressuposto da existência
No entanto, existe também parte da juventude
humana” como as lutas pelas condições básicas
que acredita que conseguem construir um mun-
de vida, trabalho e saúde.
do melhor, mais justo e livre (SINGER, 2008).
A participação pode ser entendida “como
Para Singer (2008), ajudar o mundo a
processo social, no qual o homem se descobre
mudar é uma das questões do qual a juventude
enquanto sujeito político, capaz de estabelecer
almeja, mas grande parte dela, antes de ser ca-
uma relação direta com os desafios sociais”
paz de contribuir para uma transformação, tam-
(SOUZA, 2010).
bém precisa de ajuda, de uma garantia de renda
Vázquez diz que a participação consiste:
que seja suficiente para permitir que a juventu-
de frequente escolas e cursos de educação de Na busca de determinados objetivos (ou rei-
jovens e adultos para aqueles que necessitam vindicações), que se relacionam diretamente
trabalhar para sustentar a família, que tenham aos interesses das classes sociais. Em cada
as bases materiais mínimas de sobrevivência. situação concreta, a realização desses obje-
É fundamental ver o jovem como um tivos está condicionada às possibilidades ob-
sujeito de direitos, que implica na participação jetivas inscritas na própria realidade social.
de projetos pessoais e coletivos, no entanto é (VÁZQUEZ apud SOUZA, 2010, p.170)
possível ver que os problemas não são somente

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Mas de acordo com Brener (2004), a par- capital social é a de que consente ações coo-
ticipação social dos jovens não é uma questão perativas comunitárias e resolve as dificuldades
nova na história brasileira, ela tem se desenvol- comuns da coletividade. Deste modo, a defini-
vido conforme o contexto histórico e econômi- ção de capital social agrupa uma quantidade
co em que vivemos. A juventude dos anos 60 e de características da vida social especialmente
70, por exemplo, ficou conhecida principalmente para aspectos negligenciados ou camuflados de
pela sua participação social e política, na qual uma cidade.
os estudantes foram os protagonistas, faziam Nesse sentido, “se pode afirmar que a
manifestações nas ruas para mostrar a insatisfa- juventude brasileira, historicamente, participou
ção não apenas com os assuntos estudantis da das mudanças na sociedade” (CARRANO apud
época, mas com questões nacionais e mundiais. NAZZARI, 2006b, p. 91) e nas lutas populares
Carrano (apud NAZZARI, 2006b) menciona que e de massa, se acredita que é por meio destes
as manifestações estudantis têm capacidade de que se opõem e se torna possível a construção
colaborar para melhorar as relações e institui- de um novo projeto hegemônico (NOGUEIRA,
ções democráticas na sociedade do nosso país. 2010). Sendo que hegemonia segundo Gramsci
De acordo com Nogueira (2010), em (1998), é um tipo de dominação consentida, sig-
1937 o primeiro segmento da comunidade aca- nifica obter um lugar de superioridade na socie-
dêmica a se organizar fundou a União Nacional dade, onde um grupo tem a capacidade de dirigir
dos Estudantes (UNE), entidade de representa- outros por meio de sua aceitação.
ção máxima estudantil no Brasil. A UNE fez cam- A opinião das classes dominante, as
panhas como “O Petróleo é nosso” e desenca- quais detêm o poder, relatam que a juventude
deou várias atividades envolvendo-se nos rumos não participa e não quer participar de política,
da política no país. Sua sede foi incendiada e a porém, em contrapartida a esse posicionamento
entidade tornou-se ilegal durante o período mili- conservador, o Instituto Cidadania realizou uma
tar. A UNE foi reconstruída na década de 1970 e pesquisa, no Projeto Juventude, que constatou
voltou a participar dos movimentos políticos, cul- que 85% dos jovens entrevistados consideram
turais e educacionais do país. A entidade apoiou que a política é importante e 65% sabem que
na organização da Campanha das “Diretas Já” e ela influi diretamente em suas vidas. Nesta pes-
das passeatas pelo impeachment de Fernando quisa ainda, demonstrou que entre 40 e 60%
Collor de Melo. Durante o governo de Fernando dos entrevistados têm interesse em participar
Henrique Cardoso a UNE fez várias manifesta- de organizações sociais, e que 84% dos jovens
ções contra as privatizações de empresas esta- acreditam que podem transformar o mundo (NO-
tais e em defesa da universidade pública. GUEIRA, 2010).
Nogueira (2010, p.4) traz que: Outras pesquisas desenvolvidas nos
últimos anos sobre a participação do jovem na
Entendemos, pois, que a juventude brasilei- política juvenil têm demonstrado que ela ocorre
ra, que historicamente participa de embates numa situação complexa, à participação política
políticos através de sua organização nos do jovem tem sido caracterizada como apática,
movimentos sociais, sendo um deles o movi- passiva, cética, desconfiada e com pouco inte-
mento estudantil, vem a contribuir com o pro-
resse pelos modos tradicionais de fazer política.
cesso de edificação de uma nova hegemo-
nia. A participação do jovem nestas disputas Compete-nos lembrar, que a “participação polí-
sociais o torna um indivíduo consciente, fa- tica da juventude não pode ser vista como algo
zendo com que, além de atuar politicamente fixo e/ou determinado. Ela é uma construção
no presente, futuramente será um ser huma- social, na qual a juventude reflete a elaboração,
no fundamental na constituição deste projeto a re-significação, a interpretação e a transforma-
hegemônico no Brasil. ção da política” (BAQUEIRO; CUNHA, 2010, p.
60).
Carrano (2006) aponta que a participa- Nogueira (2010) traz que foram estabe-
ção pode auxiliar na eficácia política e é uma lecidos lugares institucionais de participação ju-
variável do capital social de uma comunidade. venil, empoderando os jovens a se tornarem su-
Segundo Baquero (2003) o capital social exis- jeitos transformadores da realidade, tendo como
te em uma “relação social”, vive nas relações e finalidade vencer as visões da camada dominan-
não individualmente. E a ideia fundamental do te por meio da promoção de consciência e cultu-

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SEMICHECHE, A.; HIGA, K. M.; CABREIRA, L.

ra das classes menores.Sendo assim de acordo e atenção, pois “é democratizando o poder por
com Teixeira (2002), empoderamento é este pro- meio da criação dos espaços políticos que se
cesso pelo qual as pessoas, as organizações, amplia a participação e,consequentemente, se
as comunidades assumem o domínio de seus exerce influência nas decisões” (NOGUEIRA,
próprios assuntos, de sua própria vida, tomam 2010).Segundo Costa (2000), no Protagonismo
consciência da sua capacidade e competência Juvenil a participação dos jovens se tornam o
para produzir, inventar e conduzir seus destinos. elemento fundamental dessa prática, colabo-
Entretanto, a vulnerabilidade social em que per- rando tanto para um desenvolvimento pessoal
manecem os jovens das camadas populares, como das comunidades em que estão inseridos,
tem se ampliado, mesmo quando a Constituição e ainda contribui para a formação de pessoas
Federal os considera como prioridade absoluta mais autônomas e comprometidas socialmente,
na formulação de políticas públicas e na destina- com valores de solidariedade e respeito mais
ção de recursos financeiros (SILVA, 2003). incorporados, favorecendo assim para uma pro-
Silva (2003) apresenta que o potencial posta de transformação social. Para este autor:
criativo e investigador, peculiar da juventude, in-
corporada a falta de programas e políticas con- Protagonismo juvenil é a participação do
sistentes e abrangentes, num contexto familiar e adolescente em atividade que extrapolam os
comunitário de baixa renda, tem provocado na âmbitos de seus interesses individuais e fa-
juventude uma dinâmica de violência e de re- miliares e que podem ter como espaço a es-
cola, os diversos âmbitos da vida comunitá-
produção dessas práticas. Desse modo, o Pro-
ria; igrejas, clubes, associações e até mesmo
tagonismo Juvenil vem sendo utilizado como o a sociedade em sentido mais amplo, através
próprio autor retrata de “antídoto” que afastam de campanhas, movimentos e outras formas
crianças, adolescentes e jovens de práticas con- de mobilização que transcendem os limites
sideradas negativas e os orientam a práticas de seu entorno sócio-comunitário (COSTA
conscientes, construtivas e coletivas (COSTA apud BRENER, 2004, p. 19).
apud SILVA, 2003).
A juventude, muitas vezes, só se torna O Protagonismo Juvenil é um compo-
objeto de uma política pública, quando associa- nente de uma prática de educação para a cida-
da aos estereótipos negativos, como a delinqu- dania, em que o jovem ocupa uma posição de
ência, a violência e o abuso de drogas (MORA- centralidade no desenvolvimento de atividades,
ES, 2006), “produz-se um discurso qualificando . E isso contribui para proporcionar sentidos po-
esses mesmos jovens como os principais, quan- sitivos e projetos de vida, e ao mesmo tempo
do não os únicos, responsáveis pelo aumen- possibilitam a reconstrução de valores éticos,
to progressivo da violência” diz Fraga (2010). como os de solidariedade e responsabilidade
Pois segundo Moraes (2006), o jovem precisa social (ABRAMOVAY et al., 2002). Deste modo,
de políticas que possam garantir uma escola percebe-se a atuação dos jovens como persona-
acessível e de qualidade, formação profissional gens fundamentais de uma iniciativa, atividade
apropriada, oportunidades de emprego e renda, ou projeto volvido para resolver problemáticas
alternativas de lazer saudável e aconselhamento autênticas (COSTA apud SILVA, 2003).
sobre reprodução e saúde sexual. Minayo (apud É uma maneira de reconhecer que a par-
SALES, 2010) traz que crianças, adolescentes ticipação dos jovens tem poder para provocar
e jovens ainda hoje no Brasil, “são alvo de uma transformações decisivas na realidade social,
violência social, expressa na falta de projetos de ambiental, cultural e política no qual estão in-
vida, no desemprego, nas dificuldades de aces- seridos. Nesse sentido, participar é envolver-se
so a serviços públicos de educação, saúde, cul- em processos de discussão, decisão, desenho
tura, esporte e lazer de qualidade”. Concluindo e execução de ações, visando, por meio do seu
então, que as “novas gerações”, “pessoas em envolvimento na solução de problemas reais,
desenvolvimento” encontram-se em estado de desenvolverem o seu potencial criativo e a sua
risco (SALES, 2010). força transformadora (COSTA apud BRENER,
Silva (2003) afirma que “a educação é 2004), onde o jovem deixe de ser visto como um
um processo construído a partir das relações problema para ser uma solução.
sociais, se desenvolve no tempo histórico e tem Segundo Silva (2003, p.87):
várias dimensões”. O jovem precisa de apoio

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Protagonismo Juvenil: A Participação...

Deve se possibilitar as crianças e adolescen- órgãos responsáveis pela sua coordenação nas
tes o processo de humanidade e respeito, modalidades a seguir: Pro-Jovem Adolescente
expresso no fortalecimento de sua autoes- que é um Serviço Socioeducativo de caráter pre-
tima, da estética, da sociabilidade, no reco- ventivo e proporciona atividades de convívio e
nhecimento de sua origem e historia, na cria-
trabalho socioeducativo que priorizam o desen-
tividade, na valorização das emoções. Nesse
processo a criança e o adolescente podem
volvimento da autonomia e cidadania do jovem
se reconhecer como ser que deseja, que é e a prevenção de situações de risco social; Pro-
protagonista. -Jovem Urbano tem como objetivo garantir aos
jovens brasileiros ações que aumentem o nível
Sendo assim, para que o Protagonismo escolar, tendo em vista o término do ensino fun-
Juvenil possa se desenvolver é imprescindível damental, aprimoramento profissional inicial e
que o adulto deixe de ser alguém que transmi- participação cidadã; a finalidade do Pro-Jovem
te informações apenas para ser um colaborador Campo é a oferecer escolarização em nível fun-
e um companheiro do jovem na descoberta de damental, para educação de jovens e adultos,
novos conhecimentos e na ação comunitária destina-se a jovens agricultores residentes na
(COSTA apud BRENER, 2004). zona rural, que já saibam ler e escrever mas que
Apesar do número de ações e progra- ainda falta concluir o ensino fundamental; e Pro-
mas destinados a adolescentes e jovens terem -Jovem Trabalhador que prepara o jovem para
aumentado, ainda fica muitas vezes a sensação ocupações em empresas ou outras atividades
de que faltam instrumentos e habilidade para se que sejam produtoras de renda, estimulando as-
relacionar com os jovens, essa fase que é con- sim a inserção no mundo do trabalho (BRASIL,
siderada como difícil de lidar. No entanto, exis- 2008).
tem também projetos que se fundamentam na As intervenções se deram a partir dos
ideia de Protagonismo Juvenil, isto é, procuram seguintes indicadores: entrada limitada a educa-
desenvolver atividades que incentiva os jovens ção de qualidade e frágeis condições para per-
a participarem e a desenvolverem ações educa- manência nos sistemas escolares; desqualifica-
tivas (ABRAMO, 1997). No item a seguir, será ção para o mundo do trabalho; envolvimento com
apresentada as ideias centrais do Pro-Jovem, drogas, gravidez precoce, mortes por homicídio,
programa federal que tem como foco o atendi- trânsito e suicídio; baixo acesso as atividades de
mento de jovens e o desenvolvimento do prota- esporte, lazer e cultura (MORAES; MEDEIROS,
gonismo juvenil. 2008). Portanto o Pro-Jovem atende jovens que:
• vivem nas periferias das grandes ci-
PRO-JOVEM - PROGRAMA NACIONAL DE IN- dades, encontram-se excluídos da escola e do
CLUSÃO DE JOVENS trabalho e marcados por discriminação étnico-
-racial, de gênero, geracional, de religião, entre
Em relação à inserção social, trabalho, outros;
acesso à saúde, educação, estímulo a participa- • vivenciam a globalização, juntamente
ção política e proteção social, as políticas públi- com realidades locais de exclusão;
cas voltadas para a juventude no Brasil se de- • apresentam especificidades quanto a
senvolveram de forma lenta e foram conduzidas linguagens, motivações, valores, comportamen-
sob a exclusão social. No decorrer da história as tos, modos de vida e, além disso, em relação
intervenções se modificaram da clássica cidada- ao trabalho, à escola, saúde, religião, violência,
nia tutelada para as propostas fundamentadas questões sexuais etc.;
em modelos participativos e democráticos. Hou- • os caminhos que percorrem são dife-
ve algumas mudanças devido às diversas inicia- renciados, porém são marcadas pelo o que é im-
tivas como a construção do Programa Nacional posto pela sociedade de consumo, por situações
de Inclusão de Jovens – Pro-Jovem (MORAES; de violência, mas também por novas formas de
MEDEIROS, 2008) que foi estabelecido pela Lei engajamento social que favorecem para a au-
nº 11.129, de trinta de junho de 2005, e é regido tovalorização e para construção de identidades
pela Lei nº 11.692, de dez de junho de 2008. coletivas (BRASIL, 2005).
Foi regulamentado pelo Decreto nº
6.629, de quatro de novembro de 2008 e por
disposições complementares constituídas pelos

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SEMICHECHE, A.; HIGA, K. M.; CABREIRA, L.

METODOLOGIA apresentada primeiramente para a equipe técni-


ca, depois para os jovens com idades entre 14 a
PARTICIPANTES DA PESQUISA 18 anos. As entrevistas foram realizadas indivi-
dualmente, e tiveram como foco questionamen-
Participaram da pesquisa como amostra, tos ligados ao Protagonismo Juvenil.
cinco jovens do Pro-Jovem Adolescente, sendo
que na instituição existem atualmente duzentos ANÁLISE DOS DADOS
e cinquenta jovens participando, além de dois
profissionais que compõem equipe técnica, de A análise foi pautada na pesquisa qua-
Cascavel- PR. Os participantes foram seleciona- litativa, que de acordo com Richardson (1999)
dos por fazerem parte do Pro-Jovem da cidade pode se caracterizar como uma forma de com-
onde foi realizada a pesquisa e se dispuseram preender os detalhes dos significados e caracte-
a participar, pois os demais jovens estavam de- rísticas situacionais trazidas pelos entrevistados.
senvolvendo suas atividades e os outros mem- Além de ser uma opção do investigador justifica-
bros da equipe técnica não estavam presentes -se por ser uma forma para entender a natureza
na instituição. de um fenômeno social. Ainda para este autor,
os estudos que se concentram em um método
INSTRUMENTO qualitativo podem descrever a complexidade de
certos problemas, analisar a interação de de-
Para a coleta de dados foi utilizado à terminadas variáveis, compreender e classificar
entrevista semiestruturada, construída pelas métodos dinâmicos vividos pelos grupos sociais,
próprias pesquisadoras (apêndice 01), que teve colaborar na mudança de determinado grupo e
por finalidade obter dados para posterior aná- possibilitar o entendimento do comportamento
lise. Segundo Triviños (1987) a entrevista se- dos indivíduos.
miestruturada é aquela se baseia em determi- E as informações obtidas nas entrevistas
nados questionamentos, amparados em teoria foram analisadas por meio da análise do discur-
e hipóteses, que interessam a pesquisa e que so. Segundo Orlandi (2001) é por meio do dis-
propiciam um vasto campo para interrogativas, curso que o sujeito pode transformar tanto a si
ao mesmo tempo em que surgem novas supo- mesmo como o contexto em que vive. A análise
sições conforme as respostas fornecidas pelo do discurso vai além da transmissão de conheci-
entrevistado, sendo que este segue espontane- mento, envolve um complexo processo de cons-
amente a linha de seu raciocínio, pensamento e trução dos sujeitos e produção de sentidos, são
de suas experiências dentro do foco central pro- processos de identificação, argumentação, sub-
posto pelo investigador. jetivação, construção da realidade, entre outros.

PROCEDIMENTOS APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Inicialmente entrou-se em contato com o CONSIDERAÇÕES SOBRE O PRO-JOVEM


responsável pelo Pro-Jovem Adolescente, para EM CASCAVEL
permissão da pesquisa nessa instituição. Com
o consentimento deste, o projeto de pesquisa Com a reformulação em 2008 do Pro-
foi elaborado e enviado para o Comitê de Éti- grama Federal Agente Jovem para o Programa
ca. Depois de ser aprovado, recebemos o certi- FederalPro-Jovem Adolescente - Serviço So-
ficado do Comitê de Ética (anexo 01), entrou-se cioeducativo - Convivência e Fortalecimento de
novamente em contanto com o Pro-Jovem Ado- vínculo familiar e Comunitário, o Município de
lescente, para o agendamento das entrevistas, Cascavel através da Secretaria Municipal de As-
as quais foram realizadas com a equipe técnica sistência Social e dos Centros de Referência de
do Pro-Jovem e com adolescentes participantes Assistência Social (CRAS) passou a desenvol-
do projeto, indicados pela coordenação do Pro- ver o Pro-Jovem Adolescente.
-Jovem e que aceitaram participar da pesquisa. Atualmente, contam com a participação
Todos assinaram o termo de consentimento livre de 250 (duzentos e cinquenta jovens) com idade
e esclarecido e em seguida a entrevista se deu de 15 e 17 anos pertencentes a famílias benefi-
nas dependências do Pro-Jovem. A pesquisa foi ciários do Programa Bolsa Família ou que pos-

28 Akrópolis, Umuarama, v. 20, n. 1, p. 21-38, jan./mar. 2012


Protagonismo Juvenil: A Participação...

suem o perfil de renda do Programa, egressos relações sociais que se constituem no decorrer
de medida socioeducativa de internação ou em da vida, relações estas que devem transcen-
cumprimento de outras medidas, ou de proteção der os espaços privados, restritos a família, e
e do Programa de Erradicação do Trabalho In- existir também nos espaços públicos. Segundo
fantil – PETI, ou vinculados a programas e servi- Jacques (1998) em geral a identidade, está re-
ços de combate ao abuso e exploração sexual. lacionada a conteúdos ligados a traços, a ima-
A equipe técnica do programa é composta por: gens, aos sentimentos que estão presentes no
psicólogo, assistente social, pedagogo, educa- indivíduo. Existem várias formas da identidade
dores sociais e estagiários de diversas áreas. ser representada: pelo nome, pelo pronome eu e
As atividades são desenvolvidas em modelos entre outras, como aquelas referentes ao papel
de oficinas, com temáticas que facilitem a dis- desenvolvido na sociedade, ou seja, a identida-
cussão e a reflexão, prezando pela participação de se refere a um conjunto de representações
do jovem na sociedade. As informações foram que responde a pergunta “quem és”.
obtidas junto a coordenação do Pro-Jovem Ado- Nessa perspectiva, Moraes (2006) traz
lescente da cidade de Cascavel, Paraná. que é indispensável oferecer recursos para tra-
balhar inteiramente o potencial do jovem e de-
ANALISANDO OS DADOS senvolver ações que visem mobilizá-lo nesses
espaços públicos. Conforme o que foi dito pela
Conforme descrito na metodologia, foi equipe técnica é preciso “despertar o interesse
realizada entrevista semiestruturada com os da participação, tanto na área escolar como na
participantes. O conteúdo originado da coleta de comunidade” (sic); “oferecer uma forma de atuar
dados foi analisado a partir dos pressupostos da diferente do que eles atuariam ociosos dentro da
análise do discurso. A seguir serão descritos e comunidade (...)” (sic).Além disso, percebeu-se
problematizados trechos das entrevistas, para em outra fala que eles consideram o jovem como
que sejam analisados, possibilitando compre- alguém com capacidades e habilidades a serem
ender a visão dos jovens e da equipe técnica a desenvolvidas, pois acreditam que “Protagonis-
respeito do Protagonismo Juvenil e a contribui- mo todos nós carregamos, temos potencialida-
ção do Pro-Jovem adolescente enquanto espa- des o que precisa é trabalhar, desenvolver” (sic),
ço que potencializa o empoderamento do jovem. Moraes (2006) afirma ainda que os jovens de-
Foi possível perceber nas falas dos jo- vem ser vistos como sujeitos capazes de parti-
vens, o quanto eles valorizam o espaço propor- cipar, ampliar, comunicar e transformar projetos,
cionado pelo Pro-Jovem, como sendo um lugar programas e atividades, inclusive as que são
onde se sentem acolhidos, a extensão do am- promovidos pelas esferas governamentais.
biente familiar. Algumas falas ilustram claramen- De encontro com tal afirmativa podemos
te tal constatação, “o Pro-Jovem representa uma citar a fala de um dos membros da equipe téc-
grande parte da minha vida, eu quase não fico nica, que relata que são propostas: “(...) ativi-
em casa” (sic); “eu almoço aqui, fico a tarde in- dades, basicamente lúdicas, então tem oficinas
teira, bom representa tudo, amigos, educadores de teatro, musica, artes, comunicação, tudo que
já são praticamente da família” (sic); outras falas visa desenvolver as habilidades que eles já têm,
reforçam esta sensação de pertencimento que mas que eles podem vir a nunca manifestar se
o Pro-Jovem propicia a estes jovens e ainda um não tiver um espaço para isso” (sic).Considerar
espaço que contribui para a construção de sua que o jovem é capaz de ser protagonista, não
identidade,“para mim o projeto é duas coisas é suficiente, são necessários espaços que fa-
bem simples, minha segunda casa e minha se- voreçam a participação destes sujeitos na vida
gunda família, é muito importante para mim, (...) pública.
eu vou levar o projeto e as pessoas que eu co- Conforme descrito pelo MDS (Ministério
nheci aqui para o resto da minha vida” (sic).Em do Desenvolvimento Social) as atividades do
relação a isso Sarti (2004), afirma que os jovens Pro-Jovem são organizadas a partir de ações
precisam de outras referências para construir sócio educativas, que se referem a um conjunto
sua identidade fora do contexto familiar, como de atividades como grupos e campanhas sócio
parte de seu processo de individuação diante da educativas, grupos de convivência familiar, gru-
família e da sociedade. pos de desenvolvimento familiar, e grupos de
A identidade é construída a partir das desenvolvimento local das comunidades cada

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SEMICHECHE, A.; HIGA, K. M.; CABREIRA, L.

um ressaltando uma atividade. O desenvolvi- se quer modificar, transformar um grupo é pre-


mento de um ou de outro acontecerá conforme ciso transformar as relações que existem nesse
a vulnerabilidade das famílias ou necessidades grupo.
locais (LIMA; CARLOTO, 2009). Desta forma, Apesar do esforço dos profissionais do
a equipe técnica relatou que: “a gente trabalha Pro-Jovem, há uma preocupação de como viabi-
aqui com grupo sócios educativos”; “trabalha- lizar aos jovens uma reflexão crítica diante de di-
mos diferentes temáticas, desde Estatuto da versos saberes existentes. De acordo com eles
Criança e do Adolescente, a questão do Prota- é imprescindível:“disponibilizar de recursos que
gonismo Juvenil, e temas que eles trazem da façam eles pensarem e que façam com que eles
própria comunidade, violência, educação, saú- reflitam, que façam que eles vejam de uma ma-
de, serviços públicos (...)” (sic).Haddad (apud neira diferente (...) normalmente a gente acaba
NAZZARI; LUZ, 2010) nos traz que um grande lutando contra a maré, porque o Protagonismo
desafio é a percepção de práticas socioeduca- Juvenil hoje é estabelecido a partir de uma crí-
tivas, que evidencia conteúdos importantes de tica social, as condições sociais que são postas
forma lúdica, e que passam despercebidas aos são feitas para que eles não pensem, não refli-
olhos das escolas. tam” (sic).Estas questões estão relacionadas há
É possível perceber que o Pro-Jovem ca- presença predominante na constituição social
racteriza-se como um espaço que potencializa o contemporânea de relações de dominação, que
desenvolvimento do protagonismo, pois, favore- segundo Guareschi (2008), é quando a relação
ce a participação juvenil. Fica evidente nos rela- entre os sujeitos se dá de maneira injusta e de-
tos, especialmente da equipe técnica, que são sigual, quando uma das partes desta relação se
criados espaços de experimentação, através de apodera do poder de outros. Poder entendido
atividades lúdicas nas quais estes indivíduos segundo autor, como a capacidade para realizar
se percebem capazes. A educação lúdica está uma ação, a autonomia que o indivíduo desen-
distante da concepção simples de divertimento, volve a partir das relações sociais que o permite
de brincadeira, e diversão superficial; ela é uma ocupar um espaço de produtor da história.
ação inerente na criança, no adolescente, no jo- É no processo de cristalização de rela-
vem e no adulto e aparece sempre como uma ções de dominação, que se produz a alienação,
forma de transmitir um conhecimento, que se re- que pode contaminar todas as relações sociais,
define na elaboração constante do pensamento pois o sujeito não se reconhece como alguém
individual e coletivo (ALMEIDA, 1998). O efeito capaz de transformar a sociedade por ele cons-
destas experimentações é que elas ultrapassam truída, conforme Serra (2008) deixa de ser au-
a barreira do lúdico e tornam-se ações reais e de tônomo, de ser “senhor” de si próprio, para se
efetiva participação nos espaços públicos. tornar propriedade de outro, que assume suas
Outro aspecto presente na fala dos en- decisões. Ou seja, o processo de alienação im-
trevistados é a existência de uma relação de possibilita que o indivíduo perceba as contradi-
afeto entre os componentes do Pro-Jovem, tanto ções existem na vida cotidiano, dando origem
equipe técnica como os participantes. No relato ao processo de naturalização, no qual o sujeito
da equipe técnica pode-se notar uma relação de entende que não pode promover nenhum tipo de
afeto entre os profissionais para com os jovens. mudança, conforme aponta Lane (1999) a alie-
Além do empenho destes em contribuir na vida nação é caracterizada pela naturalização aos
dos participantes do projeto: “a equipe mesmo fatos sociais, o ser humano deixa de ser social
não tendo muitas condições faz mesmo, por isso e histórico e passa a conceber como uma ma-
que é interessante ver a evolução dos jovens, nifestação da natureza, fazendo com que todo
talvez isso não seja resultado da estrutura, seja conhecimento seja analisado como verdadeiro
resultado do afeto dos profissionais, do compro- ou falso e universal, sustentando a alienação em
metimento ético que cada um tem” (sic). É pos- relação o que ele é como pessoa, logo o que ele
sível perceber o envolvimento e o compromisso é socialmente.
dos profissionais na constituição de relações Pensar o desenvolvimento do protago-
que perpassam os jovens e profissionais, fazen- nismo juvenil é romper com relações de domina-
do uma espécie de junção para a formação de ção, é favorecer que os sujeitos se constituam
um grupo, que só acontecerá se houver relações a partir de espaços verdadeiramente democrá-
(GUARESCHI, 2008). Segundo o autor quando ticos, para isso são necessárias pensar em re-

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Protagonismo Juvenil: A Participação...

lações que Guareschi (2008) define como co- algumas falas ilustram estas afirmações:“(...) a
munitárias. De encontro com esta perspectiva, sociedade só sabe falar do jovem relacionado à
podemos citar a fala de um dos membros da violência, não abrem espaço para falar o contrá-
equipe técnica que afirma: “(...) eu tenho conhe- rio, eles não mostram o outro lado da moeda”
cimento técnico, mas eles têm um conhecimento (sic).
de vivencia que transcende, então assim na ver- De acordo com Stamato (2009), por meio
dade, é uma troca de saberes eu vou vir com re- do empoderamento do jovem é possível haver
cursos, artifícios, e eles vão vir com uma realida- modificações das relações dos jovens com a
de que eu não conheço” (sic).Guareschi (2008) sociedade, bem como, vencer concepções es-
traz que as relações fundamentadas em práticas tereotipadas e preconceituosas, deixando trans-
comunitárias consistem em relações igualitárias parecer a alteridade presente nas diferentes
que implicam em direitos e deveres iguais, em juventudes, e de encontro com isso vem a fala
que todos possam ter voz e vez, são capazes dos jovens trazendo que uma das maiores difi-
de por em prática suas iniciativas e desenvolver culdades encontradas por eles: “é o preconceito
sua criatividade. (...) hoje em dia falar em jovens é tudo bandido,
Desta forma, não importa qual seja a co- é tudo marginal, sem vergonha que só pensa em
munidade, ela possui um conhecimento e um sexo, drogas, cigarro, álcool (...)”(sic); e ainda “a
saber, que não é inferior, nem superior, é dife- maioria só fala que jovem é maconheiro, ban-
rente. E quando são realizadas atividades é pre- dido, ladrão, nem fala jovens, fala elementos”
ciso respeitar o saber dos outros, estar atento (sic).
para o que as pessoas dizem e fazem. Porém, Para isso Moraes (2006) traz que é fun-
é fundamental que a inserção na comunidade damental que o Estado tenha uma preocupação
aconteça de forma cuidadosa e com humildade, com a população jovem que tem aumentado
como alguém que pede autorização para po- consideravelmente no Brasil. Então, se faz ne-
der participar, além disso, é importante incluir o cessário políticas públicas específicas para esta
diálogo e a partilha de saberes, a garantia de faixa etária da população, sendo notável a vul-
autonomia e de autogestão das comunidades, nerabilidade na qual estes jovens estão expos-
pois são eles que permanecerão a viver no lo- tos como desemprego, violência e drogas, que
cal. Sendo assim, quem oferece seus serviços vêm aumentar as problemáticas derivadas da
e está ali para compartilhar seu conhecimento, falta de investimentos reafirma Moraes (2006).
não pode remover das comunidades o direito de De encontro com o que propõe o autor,
liberdade e autonomia, a autogestão é o auge os jovens entrevistados afirmaram que é neces-
de uma relação verdadeiramente democrática, sário que se criem espaços destinados aos jo-
onde há participação de todos (GUARESCHI, vens, disseram: “tem que ter mais projeto como
2008). este, fazer ampliações e melhorar o que já tem”
Outro aspecto fundamental a ser dis- (sic); “oportunidade para o jovem estar se des-
cutido é o estereótipo criado socialmente para tacando, mostrando o que sabe, as habilidades
definir o jovem. Para Gooffman (1988) estigma deles” (sic); “(...) se a sociedade desse espaço
se refere a uma característica profundamente a maioria dos jovens poderiam fazer a diferença,
depreciativa, ou seja, menosprezada, é quando falta dar voz para eles, para eles falarem e se
o social impõe modelos de classes e “carimba” expressarem”(sic).
as pessoas conforme as características vistas Em relação à possibilidade do jovem me-
como comuns àquela classe, mas o que é preci- lhorar as condições do nosso país, os jovens
so na realidade é uma linguagem de relações e participantes afirmaram que: “com certeza os
não de atribuições. Um atributo que estigmatiza jovens podem melhor a situação do nosso país,
alguém pode confirmar a normalidade de outros, o jovens de hoje não é o futuro, é o presente,
portanto ele não é em si mesmo, nem honroso porque as ações que a gente faz agora é o que
nem desonroso. Um estigma é na realidade um vão refletir mais para frente. Se a gente melho-
tipo especial de relação entre atributo e estere- rar agora, no futuro a gente vai ter isso como
ótipo. Durante as entrevistas os participantes do recompensa” (sic); sendo assim o jovem mos-
projeto, consideraram que a presença de ava- tra que viver a juventude não é esperar o futuro
liações negativas contra o jovem é a maior difi- para um provável vir a ser, a era da juventude
culdade que eles encontram em seu cotidiano, encontra-se no aqui agora, como pode ser per-

Akrópolis, Umuarama, v. 20, n. 1, p. 21-38, jan./mar. 2012 31


SEMICHECHE, A.; HIGA, K. M.; CABREIRA, L.

cebido na fala do participante do projeto “se eu apresenta um tipo de evolução, tem alguns mais
conscientizar um ele vai conscientizar o outro vai tímidos que você vê ele aprendendo a se comu-
conseguir um resultado, vai ser uma corrente, nicar melhor, ele aprendendo a interagir melhor
começa por você, mas primeiro você tem que (...) você observa uma crítica social, um novo
mudar para depois querer mudar alguma coi- olhar sobre os problemas e questões sociais que
sa, o país” (sic).Deste modo eles se situam no acontecem” e ainda “outro destaque é o comuni-
presente e nele vão se construindo como jovens tário como protagonista, que ele toma gosto por
(DAYRELL, 2003). certos assuntos e de uma forma lúdica acabam
Mas, para que haja essa construção é indo para a comunidade aplicar”(sic).
necessário que o adulto seja um parceiro do Percebeu-se na fala da equipe técnica
jovem na descoberta de novos conhecimen- que a Psicologia em relação o desenvolvimen-
tos e na vida comunitária, possibilitando assim to do Protagonismo Juvenil, tem por objetivo dar
o Protagonismo Juvenil. Segundo Costa (apud condições, autonomia, oferecendo alternativas
BRENER, 2004), Protagonismo Juvenil é a parti- reais e de participação dentro da comunidade e
cipação do adolescente em atividades que ultra- na família, para que esta assuma suas respon-
passam seus interesses individuais, familiares, sabilidades. A fala de um dos entrevistados da
que podem ter como espaço diversos âmbitos: equipe técnica explica tal situação: “então a fun-
escola, vida comunitária e sociedade. Para os ção da Psicologia é dar amparo familiar para que
participantes Protagonismo Juvenil:“(...) é se essa família de condições para ele vir a mani-
destacar na casa, na sociedade (...) protagoniza festar o Protagonismo Juvenil, não existe como
o que a gente aprendeu aqui” (sic); “é você levar manifestar se você está padecendo de fome, se
essa informação, passar adiante, é fazer o seu você não tem onde morar, se você não tem como
papel” (sic); “é você ser o principal, ou seja, estar ir e vir, então eu penso que a primeira coisa seria
à frente de ações da comunidade, projetos da dar condições para que a família ganhe autono-
família” (sic); “é ter iniciativa” (sic); “não é você mia suficiente para repassar para que ele exerça
ser um adolescente, é você ser “O” adolescente” o Protagonismo Juvenil”e ainda “ela consegue
(sic). ter uma interação, um olhar social, a psicologia
Abramovay (et al., 2002) vai de encontro social vem contribuindo para o desenvolvimento
com o que foi relatado nas falas acima, trazen- de uma comunidade, é aquele olhar tridimensio-
do que o Protagonismo Juvenil faz parte de uma nal que perpassa a pedagogia, serviço social e
prática de educação para a cidadania na qual vai fazendo um grande leque contribuindo mui-
o jovem ocupa um lugar central no desenvolvi- to para o processo sócio educativo ajudando a
mento de atividades, e isso colabora para pro- se perceber a realidade que o cerca e instigar o
porcionar sentidos positivos e projetos de vida, Protagonismo Juvenil” (sic).
e ao mesmo tempo possibilitar a reconstrução Para Sawaia (2009), todos querem ga-
de valores éticos, como os de solidariedade e rantir a presença da Psicologia Social na análise
responsabilidade social. de temas sociais, sendo este um saber presen-
Deste modo, percebeu-se a atuação dos te nas ações em comunidade, em movimentos
participantes do Pro-Jovem como personagens sociais, em políticas públicas de saúde e de as-
principais na iniciativa de atividades ou projetos sistência social, bem como em outras atuações
voltados para questões que consideram impor- coletivas. A Psicologia Social fundamenta-se em
tantes como álcool, drogas, e violência, e ainda objetos sociais de grupos e indivíduos que cons-
que estes compreendem o significado do Prota- tituem a sua realidade social, produzindo tanto
gonismo Juvenil. vínculos de solidariedade como de diferenças.
Investir no Protagonismo Juvenil é desfa- Outro item que merece ser analisado é a
zer a relação entre “juventude – violência – alie- importância do trabalho em rede, para que espa-
nação”, que fazem parte dos estigmas da socie- ços como o Pro-Jovem possam ser efetivos no
dade e impulsionar o jovem a ser sujeito ativo desenvolvimento do Protagonismo Juvenil. Se-
de sua história, apto para pensar e intervir com gundo Bourguignon (2001), uma rede pode ser
autonomia e criatividade sobre as dificuldades decorrente de ações envolvendo várias organi-
(STAMATO, 2009), como ressalta um membro zações afins, em torno de um interesse comum.
da equipe técnica a respeito das mudanças ob- Em uma das falas a equipe técnica relatou que
servadas nos participantes do projeto: “Cada um “dentro da medida do possível, a gente vai para

32 Akrópolis, Umuarama, v. 20, n. 1, p. 21-38, jan./mar. 2012


Protagonismo Juvenil: A Participação...

a escola, converso com as redes públicaspara democráticos, baseados em relações de igualda-


tentar fazer encaminhamento cabível, conversar de. Comunidade, entendida de acordo com Marx
com a saúde,(...) é um problema de saúde, mas (apud GUARESCHI, 2008) como uma forma de
isso reflete aqui, vamos conversar com a saú- vida em sociedade “onde todos são chamados
de, para ver o que a saúde pode fazer, e o que pelo nome”, ou seja, o sujeito tem uma experi-
eu posso estar fazendo aqui,basicamente o meu ência em sociedade, onde possui um nome pró-
serviço seria de articulação, articular a equipe prio, conserva sua identidade e singularidade,
aqui dentro, articular os adolescentes com a apresenta possibilidade de participar, de expor
equipe, e articular aqui com os serviços públicos sua ideia, de manifestar seu pensamento, enfim
existentes, articular os diversos atores envolvi- tem o poder de ser alguém.
dos nesse Protagonismo Juvenil” (sic).
Assim sendo, atuar em rede é um enor- CONSIDERAÇÕES FINAIS
me desafio para os que trabalham em políticas
públicas, pois demandam harmonia com a rea- Nesta pesquisa buscou-se analisar se
lidade local e costumes da organização social. o Pro-Jovem é um espaço que realmente po-
A palavra rede implica a ideia de articulação, tencializa o Protagonismo Juvenil, ou seja, se
conexão, vínculos, atuações complementares, contribui para que os jovens tenha papel ativo
relações horizontais entre parceiros, interdepen- na transformação social. A partir do estudo rea-
dência de serviços para proporcionar a integra- lizado, foi possível alcançar o objetivo proposto,
lidade da atenção aos segmentos sociais vulne- visto que pode-se concluir que o Pro-Jovem é
rabilizados ou em situação de risco pessoal e um espaço que promove o desenvolvimento do
social (BOURGUIGNON, 2001). Protagonismo Juvenil, uma vez que potencializa
A partir da análise dos discursos dos jo- o empoderamento destes indivíduo.
vens e da equipe técnica apresentado, pode ser Foi possível verificar na análise do dis-
observado que realmente o Pro-Jovem poten- curso dos entrevistados que realmente ocorre
cializa o Protagonismo Juvenil, tendo em vista uma transformação nesses jovens, e o Pro-Jo-
que esse proporciona um espaço onde há um vem é um espaço que leva estes indivíduos a
empoderamento desse jovem, um espaço que transcender os espaços físicos do equipamento
favorece a saída de espaços de alienação, para social, podendo ser percebido seus efeitos na
espaços de consciência e reflexão. No entan- escola, na família, na comunidade, no bairro e no
to, ainda existem desafios na sociedade para próprio projeto. Além de mostrar novas possibi-
serem superados, como por exemplo, a dificul- lidades de solucionar os problemas do cotidiano
dade da sociedade em acreditar no jovem, que e despertar o interesse em buscar o seu espaço
pode ser observado nas falas da equipe técnica: na sociedade, participando e reivindicando seus
“(...) o problema maior que a gente encontra é a direitos, assim tendo voz e vez na vida social.
efetivação desse Protagonismo Juvenil, não por Os dados obtidos nos permitiram outras
parte do serviço, mas por parte muitas vezes do reflexões, como a importância da Psicologia
acreditar da sociedade (...) se ele não tiver uma dentro dessa instituição e as dificuldades en-
oportunidade na comunidade, seja aonde ele for contradas por esses jovens para a efetivação
e se não derem espaço não acreditarem no que do protagonismo na sociedade contemporânea.
eles podem fazer, eles não vão conseguir conti- Pode se perceber que uma das funções dos
nuar com o Protagonismo Juvenil” (sic). E ainda profissionais de Psicologia é fortalecimento de
uma fala de desabafo de um jovem participante vínculos seja estes familiares e/ou comunitá-
do projeto que afirma: “é difícil ser protagonista rios, além de facilitar espaços que promovam o
nesta sociedade” (sic).Por isso, é importante que desenvolvimento da consciência reflexiva e da
os jovens tenham vez e voz, que se acredite na autonomia dos sujeitos. E ainda, proporciona
capacidade deles de serem Protagonistas Juve- junto aos demais profissionais a reflexão sobre
nis e por meio da participação destes é possível as particularidades da juventude e desta forma
transformar a realidade vivida, para que exista intervenções que sejam coerentes com o perfil
realmente uma vivência comunitária. do público atendido. Outro papel desempenha-
E talvez, o Protagonismo Juvenil, seja do por este profissional é o assessoramentoàs
uma das possibilidades para que existam verda- família, assim como a articulação com a rede
deiras comunidades e a efetivação de espaços de serviços e com os demais profissionais que

Akrópolis, Umuarama, v. 20, n. 1, p. 21-38, jan./mar. 2012 33


SEMICHECHE, A.; HIGA, K. M.; CABREIRA, L.

compõem a equipe técnica do Pro-Jovem. co no Brasil: achados relevantes para as políti-


Quanto à dificuldade da participação do cas públicas. Relatório técnico n. 32310-BR, v. I.
jovem na sociedade, é fundamental que esta Brasília: Banco Mundial, 2007.
ofereça oportunidades, deixando de ver o jovem
como um sujeito incapaz, irresponsável e alie- Disponível em: <http://siteresources.
nado que na maioria das vezes está relaciona- worldbank.org/BRAZILINPOREXTN/
do com violência, drogas e outros estereótipos. Resources/3817166-1185895645304/4044168-
E este é um aspecto, que foi identificado pelos 1186331278301/20Vol1PortGlos.pdf>. Acesso
próprios participantes do Pro-Jovem, que se em: 19 nov. 2011.
demonstraram insatisfeitos com tal realidade e
dispostos a promover mudanças neste cenário BAQUERO, M. Construindo uma outra socieda-
social. de: o capital social na estruturação de uma cul-
A partir deste estudo sugere-se que pes- tura política participativa no Brasil. Rev. Sociol.
quisas como estas sejam desenvolvidas, com Polit. Curitiba, n. 21, nov. 2003. Disponível em:
outros coletivos de Pro-Jovem, e ainda com ou- < http://www.scielo.br/pdf/rsocp/n21/a07n21.pdf
tros programas e serviços que atendam o públi- >. Acesso em: 19 nov. 2011.
co jovem. Assim como, estudos que avaliem a
BAQUERO, M.; CUNHA, P. R. C. A corrupção
eficiência das políticas públicas, analisando se
como limite à participação política juvenil: um
realmente os jovens são considerados como su-
estudo em democracias sul-americanas. In: BA-
jeitos de direitos.
QUERO, R.; NAZZARI, R. K. Formas de (ex)
Ao finalizar esta pesquisa, conclui-se
pressão juvenil e (in)visibilidade social. Cas-
que é preciso considerar o jovem como um ser
cavel: Coluna do Saber, 2010, p. 55-77.
de potencialidades, proporcionando a eles espa-
ços onde sejam ouvidos e possam se expressar
BAQUERO, R.; NAZZARI, R. K. Formas de (ex)
de forma autêntica. E ainda, que o Protagonismo
pressão juvenil e (in)visibilidade social. Casca-
Juvenil só poderá ser desenvolvido se existirem
vel: Coluna do Saber, 2010.
outros espaços como o Pro-Jovem, capazes de
promover a estes sujeitos a sensação de per- BOURGUIGNON, J. A. Concepção de rede in-
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36 Akrópolis, Umuarama, v. 20, n. 1, p. 21-38, jan./mar. 2012


Protagonismo Juvenil: A Participação...

y son materializadas en acciones en locales donde


estos jóvenes viven cotidianamente. Es posible con-
cluir con este estudio que el Pro joven es un espacio
que desarrolla el protagonismo, porque propicia un
espacio de perteneciente y reconocimiento de este
joven, mientras sujeto de potencialidades y capaci-
dad de cambios y transformaciones.
Palabras clave: Pro Joven, Protagonismo Juvenil,
Joven.

Akrópolis, Umuarama, v. 20, n. 1, p. 21-38, jan./mar. 2012 37


SEMICHECHE, A.; HIGA, K. M.; CABREIRA, L.

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e Ciências Correlatas.

• Periodicidade: Semestral

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