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Responsabilidade objetiva no Código de


Defesa do Consumidor

LEONARDO ROSCOE BESSA


Doutor em Direito Civil pela UERJ. Mestre em Direito pela UnB. Professor
do UniCEUB. Ex-Presidente do Instituto Brasileiro de Política e Direito do
Consumidor – BRASILCON (2006-2010). Procurador-Geral de Justiça do
Distrito Federal (MPDFT).

SUMÁRIO: 1 Introdução • 2 Da responsabilidade subjetiva à responsabilidade objetiva • 3 A cláusula


geral da responsabilidade civil no CDC: art. 6o, VI • 4 Responsabilidade pelo fato do produto e do
serviço • 5 Responsabilidade pelo vício do produto e do serviço • 6 Conclusão • 7 Referências.

RESUMO: Este artigo aborda a responsabilidade objetiva no Código de Defesa do Consumidor


– Lei no 8.078/90. Antes, apresenta-se uma breve trajetória histórica da teoria da culpa no direito
civil do sistema civil law e elabora-se crítica à visão simplificadora no sentido de que os danos
aos consumidores decorrem ou de fato ou de vício do produto ou serviço (arts. 12 a 25 da Lei no
8.078/90). Sustenta-se que o Código de Defesa do Consumidor, ao estabelecer n° art. 6o, VI, o
direito básico do consumidor “a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais”,
instituiu cláusula geral de responsabilidade objetiva para as relações de consumo. Por fim, é
feita uma análise dos aspectos polêmicos concernentes ao significado da responsabilidade
objetiva na disciplina por fato e vício do produto e serviço.

PALAVRAS-CHAVE: Responsabilidade Objetiva • Código de Defesa do Consumidor •


Responsabilidade Civil • Fato do Produto e do Serviço • Vício do Produto e do Serviço.

Revista Jurídica da Presidência Brasília v. 20 n. 120 Fev/Maio 2018 p. 20-43


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Objective liability on the Consumer Protection Code

CONTENTS: 1 Introduction • 2 From tortious liability to objective liability • 3 The general


clause of civil liability on the Consumer Protection Code: art. 6, VI • 4 Service and products
liability • 5 Liability for services and products defect • 6 Conclusion • 7 References.

ABSTRACT: This article addresses the objective liability in the Consumer Protection
Code - Law no. 8,078/90. Firstly, however, a brief historical trajectory of the theory
of guilt in civil law of the civil law system is presented, and a critic to the simplistic
view that the damages to consumers result from either services and products
liability or defect (arts. 12 to 25 of Law No. 8,078/90) is made. It is argued that the
Consumer Protection Code, when established the basic consumer right "to effectively
prevent and remedy property and moral damage" in its article 6o, VI, instituted a
general clause of objective liability for consumer relations. Finally, an analysis of the
controversial aspects concerning the meaning of objective liability in the discipline
by services and products liability or defect is made.

KEYWORDS: Objective Liability • Consumer Protection Code • Civil Liability


• Service and Products Liability • Services and Products Defect.

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Responsabilidad objetiva en el Código de Defensa del Consumidor

CONTENIDO: 1 Introducción • 2 De la responsabilidad subjetiva a la responsabilidad objetiva


• 3 La cláusula general de la responsabilidad civil en el CDC: art. 6, VI • 4 Responsabilidad
por el hecho del producto y del servicio • 5 Responsabilidad por el vicio del producto y del
servicio • 6 Conclusión • 7 Referencias.

RESUMEN: Este artículo aborda la responsabilidad objetiva en el Código de


Defensa del Consumidor - Ley nº 8.078/90. En primer lugar, se presenta una breve
trayectoria histórica de la teoría de la culpa en el derecho civil del sistema civil law
y se elabora una crítica a la visión simplificadora en el sentido de que los daños a
los consumidores derivan o de hecho o de vicio del producto o servicio (arts. 12 a
25 de la Ley nº 8.078/90). Se sostiene que el Código de Defensa del Consumidor, al
establecer en el art. 6, VI, el derecho básico del consumidor a "la efectiva prevención
y reparación de daños patrimoniales y morales", instituyó una cláusula general de
responsabilidad objetiva para las relaciones de consumo. Por último, se hace un
análisis de los aspectos polémicos concernientes al significado de la responsabilidad
objetiva en la disciplina por hecho y vicio del producto y del servicio.

PALABRAS CLAVE: Responsabilidad Objetiva • Código de Defensa del Consumidor •


Responsabilidad Civil • Hecho del Producto y del Servicio • Vicio del Producto y del Servicio.

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1 Introdução
O presente artigo aborda a responsabilidade objetiva no Código de Defesa do
Consumidor. Antes, apresenta uma breve trajetória histórica da teoria da culpa no
direito civil do sistema civil law. Destacam-se as críticas à responsabilidade subjetiva
que ensejeram a mudança de paradigma para teoria do risco, com natural e esperada
influência na legislação editada no Brasil ao final do século XX e início do século XXI.
O surgimento do Código de Defesa do Consumidor, no início da década de 1990, ocorre
em um ambiente de forte censura à teoria da culpa como referência padrão da cláusula geral
de responsabilidade civil nas relacões privadas. A Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990,
absorve as críticas e estabelece a responsabilidade objetiva como regra para os danos materiais
e morais decorrentes de atividades desenvolvidas no mercado de consumo (BRASIL, 1990).
A par das referências históricas, que indicam que a teoria da culpa, ao
contrário do que sustentam alguns autores, nunca encontrou consenso absoluto, o
artigo ressalta como a responsabilidade objetiva, com base na teoria do risco, se
apresenta no Código de Defesa do Consumidor.
Assim, elabora-se uma crítica à visão simplificadora que entende que os danos
aos consumidores decorrem ou de fato ou de vício do produto ou do serviço, conforme
previsto nos arts. 12 a 25 da Lei no 8.078/90. Há inúmeras e variadas situacões fáticas no
mercado de consumo que exigem outra abordagem. Sustenta-se que o Código de Defesa
do Consumidor – CDC, ao estabelecer em seu art. 6o, VI, o direito básico do consumdor “a
efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais” (BRASIL, 1990), instituiu
cláusula geral de responsabilidade objetiva para as relações de consumo.
Nesse contexto, questiona-se a tendência a simplificar o regime da responsabilidade
civil no CDC, classificando-a em dois grandes grupos: 1) responsabilidade pelo vício
do produto e do serviço (arts. 18 a 25); e 2) responsabilidade pelo fato do produto e
do serviço (arts. 12 a 17). Algumas situações de danos no mercado de consumo não se
encaixam nessa divisão, mas estão sob o manto da cláusula geral de responsabilidade
civil decorrente do art. 6o, V. O exemplo mais emblemático refere-se aos danos
decorrentes ao tratamento indevido dos dados do consumidor (art. 43).
Ao lado da importância de demonstrar a existência de cláusula geral da
responsabilidade civil no Código de Defesa do Consumidor, o artigo aborda
questões específicas relacionadas a fato do produto e do serviço e a importância
de eventual culpa do forncedor na responsabilidade pelo vício do produto no
caso de comercialização de produtos perecíveis.

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2 Da responsabilidade subjetiva à responsabilidade objetiva


A ideia da responsabilidade civil, presente em qualquer comunidade social, está
vinculada, primeiramente, ao preceito moral de não prejudicar o outro – neminem laedere
– e, num segundo momento, ao dever de reparação do dano (indenização) a terceiro.
No direito romano, a responsabilidade civil baseava-se, inicialmente, na vingança
privada, com reação espontânea e natural contra o mal sofrido. “É a vingança pura e
simples, a justiça feita pelas próprias mãos da vítima de uma lesão, ou seja, a pena
privada perfeita” (LIMA, 1998, p. 19-20). Posteriormente, a vingança privada passa
ao domínio público, como reação legalizada e regulada: o poder público passa a
interferir no sentido de admiti-la ou não, conforme o caso. “É a pena de Talião, da
qual se encontram traços na Lei das XII Tábuas” (LIMA, 1998, p. 19-20).
Surge, então, a fase da composição voluntária, quando o lesado recebe um
resgate, uma soma em dinheiro ou entrega de objetos. A este período sucede o da
composição tarifada, imposto pela Lei das XII Tábuas, que fixava, em casos concretos,
o valor da pena a ser paga pelo ofensor. “É a reação contra a vingança privada, que
é assim abolida e substituída pela composição obrigatória” (LIMA, 1998, p. 20-21).
A Lei Aquília, editada provavelmente no século III a. C, contava com três capítulos
específicos para casos concretos, como morte e ferimento de escravos e animais.
Todavia, já “se encerrava um princípio de generalização, regulando o dannum injuria
datum” (LIMA, 1998, p. 22-23). Essa Lei, além de ter especificado melhor os atos ilícitos,
substituiu as penas editadas por leis anteriores, considerando basicamente o valor venal
da coisa. A maior lembrança contemporânea desse ato normativo refere-se à introdução
da culpa como requisito essencial para estabelecer o dever de indenizar, bem como suas
repercussões no direito privado moderno a partir do Código Civil francês de 18041.
Embora se afirme que a teoria da culpa é decorrente do direito romano, há,
na verdade, divergências quanto à existência e ao grau de importância da culpa
nessa época, particularmente como decorrência da Lex Aquilia. Marcelo Calixto, após
destacar alguma dúvida entre os romanistas quanto à introdução do elemento culpa
pela lei em comento, observa que o significado da culpa para os romanos seria
muito diverso do entendimento atual:

1 De fato, sob a influência do Código Civil napoleônico de 1804 (arts. 1.382 e 1.383) e da doutrina
francesa, a responsabilidade subjetiva, baseada na teoria da culpa, foi a regra nos países que adotam
o sistema do civil law. Assim, para surgir o dever de indenizar, com base na responsabilidade subjetiva
extracontratual, exigem-se, em regra, quatro requisitos: 1) ação ou omissão; 2) dano; 3) relação de
causalidade entre ação ou omissão e o dano; e 4) culpa.

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De fato acredita-se que o significado originário da culpa estivesse mais


próximo de uma questão de imputação objetiva do dano ou de nexo
de causalidade entre a conduta e o resultado danoso, o que explicaria,
igualmente, a responsabilidade das crianças e dos loucos pelos danos
causados. (2008, p. 127-129).

Alguns autores negam que a noção da culpa estivesse inserida na Lex Aquilia.
Argumentam, inclusive, que o princípio in lege aquilia et levissim culpa venit decorreu
de mera interpolação. Para Aguiar Dias, “a noção de culpa sempre foi precária no
direito romano, onde jamais chegou a ser estabelecida como princípio geral ou
fundamento da responsabilidade [...]” (1997, p. 44).
De qualquer modo, foi na Lex Aquilia que se esboçou um princípio geral da
reparação do dano, constituindo-se, ainda que se considere ausente o elemento
culpa, em fonte direta da concepção de responsabilidade civil extracontratual,
nomeada também de responsabilidade aquiliana.
Domat e Pothier debruçaram-se sobre a noção de responsabilidade civil do
direito romano para construir “a teoria inspiradora do Código Civil francês e de todas
as legislações modernas”. Foi no Código Civil Napoleônico, de 1804 (arts. 1382 e
1383), que o mundo ocidental foi buscar os pressupostos da responsabilidade civil
baseada na teoria da culpa (DIAS, 1997, p. 44). Alvino Lima também refere-se à
divergência quanto ao elemento culpa na Lei Aquília para depois concluir:

[...] é incontestável, entretanto, que a evolução do instituto da


responsabilidade extracontratual ou aquiliana se operou, no direito
romano, no sentido de se introduzir o elemento subjetivo da culpa, contra o
objetivismo do direito primitivo, expurgando-se do direito a idéia de pena,
para substituí-la pela reparação do dano sofrido. (1998, p. 26).

Não se discute, em que pesem as divergências entre romanistas, que, sob


a influência do Código Civil napoleônico de 1804 e da doutrina francesa, a
responsabilidade subjetiva, baseada na teoria da culpa, tornou-se regra nos
países que adotam o sistema do civil law. Todavia, o progresso científico e
tecnológico trouxe, ao lado de inúmeras vantagens materiais, um aumento
considerável de acidentes. Se é certo, de um lado, que era impossível evitar
e prevenir grande parte dos acidentes, menos verdade não é que se deveria
proporcionar soluções jurídicas mais eficazes, que possibilitassem realmente
a indenização das vítimas dos danos.

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Como sintetiza Orlando Gomes: “o teor da vida moderna mostrou a


insuficiência da idéia de culpa para legitimar o dever de indenizar prejuízos
dignos de reparação” e, ainda, que toda a evolução no sentido da responsabilidade
objetiva “denota a imprestabilidade do conceito de culpa para a solução dos
casos que reclamavam a atribuição do dever de indenizar independentemente
da comprovação do erro da conduta do agente” (1986, p. 339).
A vítima de danos decorrentes de defeito nos produtos tinha o pesadíssimo
ônus de provar a culpa do fabricante, com quem, de regra, não mantinha qualquer
vínculo contratual. A exigência dessa prova, nas palavras de Barros Leães, converte-
se, via de regra, em objetivo impossível, afastando a pretensão indenizatória:

De fato, o simples desconhecimento da vítima a respeito da organização


produtiva do fabricante impede-a de lograr tal intento. Na verdade, pôr a
cargo da vítima, além da prova da existência do defeito e do nexo causal
que o ligou ao dano, a incumbência de situar concretamente, no todo do
processo produtivo, a ação ou omissão culposa do fabricante, significa
praticamente negar a possibilidade do ressarcimento, tal a dificuldade que
isso representa. (1987, p. 139).

Até o final do século XIX, justificava-se a adoção da responsabilidade subjetiva


entre outras razões, como meio de estimular o desenvolvimento da indústria, que
traria benefícios a toda comunidade e melhoraria sua qualidade de vida. De fato,
“a dificuldade de demonstração da culpa atendia, em boa medida, ao interesse
liberal que rejeitava a limitação da autonomia privada, salvo nas hipóteses de uso
flagrantemente inaceitável da liberdade individual” (SCHREIBER, 2007, p. 17).
A industrialização e a crescente produção em massa trouxeram beneficios:
incremento de produtividade, racionalização e qualificação da produção, economia
de escala. A consequência indesejada foi o aumento de acidentes. O descompasso
entre os fatos e o direito era esperado, já que, “via de regra, os códigos dos países
industrializados foram elaborados numa época de escassa industrialização. A
norma legal existente era inadequada para disciplinar a responsabilidade civil do
fornecedor numa sociedade industrializada” (ROCHA, 2000, p. 26-27).
Para amenizar as dificuldades impostas à vitima do dano, João Calvão Silva
esclarece que algumas soluções construtivas foram formuladas pela doutrina, como
a inversão do ônus da prova e a adoção da teoria do fato da coisa própria, bem como
a responsabilidade do produtor como comitente (1990, p. 387-421).
Nesse contexto, no final do séc. XIX, surge movimento da doutrina francesa com
fortes críticas à teoria da culpa. Em 1897, em decorrência de um aumento vertiginoso

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de riscos e danos como consequências diretas da Revolução Industrial e, ainda, por


influência de teses socialistas do direito, é publicada por Saleilles na França a obra
Les accidentes de travail et la responsabilité civile.
No mesmo ano, Josserand publica obra relativa à responsabilidade civil pelo
fato da coisa. Ambos chegam a conclusões semelhantes – em síntese, desenvolvem
a teoria do risco, um dos fundamentos atuais da responsabilidade objetiva. Em
determinada passagem, Josserrand exemplifica a teoria dos riscos:

[...] não comete falta quem, com licença da administração, monta


um estabelecimento incômodo, insalubre, perigoso, ruidoso, ou
pestilencial. Mas é obrigado a indenizar os vizinhos prejudicados pelo
seu funcionamento. A estrada de ferro não pode estar em culpa quando
faz trafegar seus trens, mas se as fagulhas da locomotiva incedeiam as
plantações, se a fumaça prejudica a lavandaria, instalada anteriormente,
têm as vítimas dos prejuízos direito à reparação e a estrada o dever de
satisfazê-lo. (JOSSERRAND apud DIAS, 1997, p. 63).

Os debates doutrinários criticaram fortemente o elemento culpa e promoveram,


consequentemente, o seguinte consenso: a responsabilidade subjetiva era ineficaz
e incompatível com a insegurança material trazida com o progresso científico
e industrial. Disseminou-se a necessidade de uma responsabilidade objetiva
fundada na teoria do risco, que propugna que a pessoa deve responder pelos riscos
– e danos – decorrentes da sua atividade.
Esta percepção é fruto da mudança de contexto histórico e ideológico.
Até então, a responsabilidade subjetiva estava em consonância com o ideário
individualista e liberal da Revolução francesa, inclusive com a percepção
de que um sistema de responsabilidade civil mais rigoroso poderia inibir o
incipiente desenvolvimento industrial. 
A polêmica doutrinária entre culpa e risco, entre responsabilidade subjetiva
e objetiva, ainda permanece. Muitos ordenamentos jurídicos convivem com os
dois sistemas. No Brasil, assiste-se evolução no sentido de ampliar as hipóteses
de responsabilidade objetiva. O Código de Defesa do Consumidor adota a
responsabilidade objetiva como regra. O Código Civil, em parlalelo à cláusula
de responsabilidade subjetiva (arts. 186 e 927, caput), prevê cláusula geral de
responsabilidade objetiva no art. 927, parágrafo único: “haverá obrigação de
reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou
quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por
sua natureza, risco para os direitos de outrem” (BRASIL, 2002).

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Especificamente em relação aos empresários e seus produtos, o Código Civil de 2002


absorve as críticas relativas à insuficiência da teoria da culpa para a atualidade e, no seu art
931, prevê hipótese de responsabilidade objetiva para os empresários em face de danos
causados pelos produtos: “ressalvados outros casos previstos e lei especial, os empresários
individuais e as empresas respondem independentemente de culpa pelos danos causados
pelos produtos postos em circulação” (BRASIL, 2002). Embora não seja objeto de análise do
presente artigo, a diferença com campo de aplicação do art. 931 em paralelo com a disciplina
do CDC deve considerar dois elementos: 1) a circulação do produto; e 2) a compreensão de
empresários individuais e empresas. O termo circulação pode ser compreendido a partir do
momento em que o produto sai da esfera de poder do fabricante.
Na verdade, a atenção maior do direito, conforme variadas circunstâncias, pode
recair sobre o causador do dano ou sobre a vítima. O objetivo principal da norma
jurídica parece ser de censura ao causador do dano, quando se exige o pressuposto
culpa para ensejar o dever de indenizar. Já quando a preocupação maior é com a vítima
do dano (a reconstituição de seu patrimônio), o fim maior, naturalmente, não é a censura
(reprovação da conduta humana), devendo a reparação ocorrer independentemente
da valoração da conduta daquele que terá obrigação de indenizar.
O interesse em restabelecer o equilíbrio econômico jurídico alterado pelo dano é a causa
geradora da responsabilidade civil. As teorias nada mais fazem, no fundo, do que indicar quem
deve suportar o dano. Quanto maior o número de presupostos exigidos para gerar a obrigação
de indenizar, maior, também, é a probabilidade da própria vítima arcar com o prejuízo sofrido.
O fundamento ético da responsabilidade objetiva está na injustiça intrínseca
decorrente da diminuição patrimonial de uma pessoa pelo fato do titular de outro
patrimônio. Entre a vítima e o causador do dano, o direito faz a opção de proteger
a primeira, considerando que o agente estava em condições de tirar benefícios da
atividade que originou o prejuízo. A responsabilidade civil, nesta ótica, não mais
se fundamenta na noção de culpa e sim na de risco2. Entre dois valores – censura
e reprovação da conduta do causador do dano e reconstituição do patrimônio da
vítima – a lei confere preponderância ao último.

2 Diversas teorias foram desenvolvidas para embasar a chamada responsabilidade civil objetiva. Merecem
referências a teoria do risco proveito – que considera que aquele que tem os benefícios de determinada
atividade deve arcar com os respectivos ônus (ubi emolumentum, ibi onus) – e a teoria do risco criado
– que considera que toda atividade humana gera riscos de prejuízos para os outros, devendo responder
pelos danos a pessoa que criou o risco. Na verdade, as teorias servem especialmente como fundamento
moral da norma jurídica. É incorreto, portanto, buscar as soluções de uma situação em concreto com
base nos postulados de determinada teoria, pois muitas vezes o direito opta por não seguir estritamente
os modelos teóricos previamente formulados pela doutrina ou por ordenamentos jurídicos alienígenas.

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O Código de Defesa do Consumidor, editado na década de 1990, seguiu a tendência


internacional de afastar a teoria da culpa. Estipula, no seu art. 6o, VI, cláusula geral de
responsabilidade civil objetiva e, nas disciplinas específicas de fato e vício do produto
e do serviço afasta, como regra, as dicussões sobre eventual culpa do fornecedor.

3 Cláusula geral da responsabilidade civil no Código de Defesa do


Consumidor
O Código de Defesa do Consumidor, em tema de responsabilidade civil, disciplina
– em duas seções específicas – responsabilidade pelo fato e vício do produto e do
serviço. Todavia, antes disso, estabelece no art. 6o, VI, que é direito básico do consumidor
a “efetiva prevenção e reparação de danos morais e materiais” (BRASIL, 1990).
O referido dispositivo, embora nem sempre destacado como tal, institui
verdadeira cláusula geral da responsabilidade civil no mercado de consumo, ou seja,
serve de fundamento amplo para permitir indenização de lesões (patrimoniais e
morais) ocasionadas ao consumidor quando a situação fática geradora do dano não
se configura responsabilidade pelo fato ou vício do produto ou do serviço.
É equivocado pensar que toda e qualquer lesão causada ao consumidor
decorre necessariamente de vício ou fato do produto ou do serviço. Muitos
danos (morais e/ou materiais) ocasionados ao consumidor são consequências
de atividades que não se enquadram em fato ou vício do produto ou do serviço.
Nessas situações, o fundamento da responsabilidade civil deve ser buscado
no dispositivo que abrange, de modo geral, os danos inerentes às atividades
desenvolvidas no mercado de consumo.
A ideia de que o art. 6o, VI, do CDC se caracteriza como cláusula geral da
responsabilidade civil nas relações de consumo não tem sido debatida pela
doutrina, estimulando o equívoco de se procurar encaixar toda situação fática
de dano ao consumidor nas categorias de vício e fato do produto ou do serviço.
Aponte-se, como exceção, artigo escrito por Nelson Nery Júnior, logo após a
edição do CDC, do qual se extrai a seguinte passagem:

No que respeita à responsabilidade civil, a regra geral do CDC é a da


responsabilidade objetiva, fundada na teoria do risco da atividade,
que é absolutamente incompatível com o sistema da responsabilidade
subjetiva, com culpa, regra geral do Código Civil (art. 159)³. Logo, é
inaplicável às relações de consumo o sistema da responsabilidade com
culpa do Código Civil. O regime da responsabilidade objetiva do CDC
deve aplicar-se, de conseguinte, a todas as hipóteses de relação de

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consumo quando surgir a questão do dever de indenizar o consumidor


pelos danos por ele experimentados. Isto porque o fundamento da
indenização integral do consumidor, constante do art. 6°, VI, do CDC, é
o risco da atividade, que encerra em si o princípio da responsabilidade
objetiva praticamente integral [...]. (1992, p. 58).

Não deve o intérprete e aplicador do direito se apegar a formulas ou expressões


tradicionais para visualizar o fundamento e a cláusula geral da responsabilidade civil em
determinado setor. Poderia o CDC, é verdade, estabelecer algo como “o fornecedor que, no
exercício de suas atividades desenvolvidas no mercado de consumidor, causar dano moral
ou patrimonial ao consumidor, possui o dever de indenizar”. Todavia, o caminho não foi esse.
Optou-se por focar na vítima do dano (consumidor) e estabelecer que é seu direito básico “a
efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais [...]” (BRASIL, 1990).
Exemplifique-se a utilização da cláusula geral de responsabilidade civil no
CDC com a questão dos danos decorrentes das atividades dos bancos de dados de
proteção ao crédito (art. 43). Não é correto afirmar, na linha da jurisprudência, que
a responsabilidade civil dos arquivos de consumo decorre do disposto no art. 14 do
CDC (responsabilidade por fato do serviço) e que a vítima do dano seria protegida
como consumidor equiparado, conforme art. 17 (BRASIL, 1990).
Ilustrativamente, registre-se:

[...] É objetiva a responsabilidade do fornecedor pelos danos advindos de


sua deficiente prestação do serviço, dispensando-se, assim, a comprovação
da culpa: art. 14 do CDC. A ocorrência de fraude é incapaz de desobrigar
o fornecedor de indenizar pelos danos advindos da indevida negativação
do nome do consumidor em cadastros de inadimplentes. 3. Nas situações
de registro ilegal em órgãos de restrição creditícia, não se faz necessária
a prova efetiva do dano, bastando a comprovação da anotação indevida.
(BRASIL, 2011).

Ora, para se chegar a tal conclusão, deve-se pressupor que o vínculo contratual
estabelecido entre a empresa (fonte da informação) e a entidade de proteção ao crédito
configura uma relação de consumo, o que é incorreto, já que o empresário que utiliza os
serviços de proteção ao crédito não deve ser caracterizado como consumidor. Primeiro,
porque a contratação de serviços das entidades de proteção ao crédito insere-se na
própria atividade empresarial. Segundo, mesmo considerando a corrente denominada
finalismo aprofundado,3 não se constata a vulnerabilidade da empresa consulente

3 O finalismo aprofundado sustenta que a pessoa jurídica, para ser considerada consumidora, deve
demonstrar sua vulnerabilidade no caso concreto. Sobre o tema, vide MARQUES, 2017, p. 97-108.

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em face da entidade de proteção ao crédito. Aliás, o consulente, na medida em que


também alimenta os bancos de dados de proteção ao crédito (com informações sobre
consumidores), possui papel fundamental para a própria dinâmica dos serviços de
proteção ao crédito, podendo, inclusive, figurar no polo passivo de demanda indenizatória.
Portanto, se não há uma relação de consumo entre entidade de proteção ao crédito
e a empresa que oferece os serviços para permitir a consulta aos arquivos, não há que
se falar em acidente de consumo (fato do serviço) e, muito menos, como consequência,
em consumidor equiparado (art. 17 do CDC). Não tem cabimento utilizar o art. 14
do CDC – que institui a responsabilidade por fato do serviço – para fundamentar a
pretensão indenizatória do consumidor lesado pelo tratamento irregular de seus
dados (BRASIL, 1990). A solução é mais simples e direta: a responsabilidade objetiva
dos arquivos de consumo decorre diretamente do disposto no art. 6o, V, ou seja, da
cláusula geral de responsabilidade civil do Código de Defesa do Consumidor.
Ao lado do disposto no art. 6o, VI, do CDC, o art. 16 da Lei no 12.414, de 9 de junho de
2011 – Lei do Cadastro Positivo, determina expressamente que a responsabilidade civil
por tratamento irregular de dados é objetiva. O diálogo das fontes entre os dois diploma
conduz exatamente à mesma conclusão: a responsabilidade por danos causados ao
consumidor é objetiva. Fica portanto afastada qualquer necessidade de se perquirir a
respeito de culpa do fornecedor (fonte da informação) ou do arquivo de consumo em
face de eventual tratamento de dados que não tenha observado os pressupostos legais.
É possível vislumbrar outro exemplo a partir de danos causados aos consumidores
pela veiculação ilícita de publicidades. O Código de Defesa do Consumidor proíbe,
no seu art. 37, a realização de publicidade enganosa e abusiva. A lei esclarece que
a publicidade enganosa é aquela total ou parcialmente falsa ou “por qualquer outro
modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da
natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e
quaisquer outros dados sobre produtos ou serviços” (BRASIL, 1990).
De outro lado, a lei indica, em relação exemplificativa, o significado de
publicidade abusiva que é, dentre outras

a discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore


o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e
experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz
de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à
sua saúde ou segurança. (BRASIL, 1990).

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32 Responsabilidade objetiva no código de defesa do consumidor

A publicidade constitui-se, no mercado de consumo, em relevante momento


pré-contratual no qual os produtos e serviços são apresentados ao consumidor. A lei
estipula limites às atividades publicitárias tanto em relação a transparência e lealdade
(publicidade enganosa) como no tocante a respeito de valores da sociedade (publicidade
abusiva). Assim, independentemente da comercialização efetiva do produto ou serviço, é
possível que a atividade ilícita concernente a veiculação de publicidades proibidas gere
danos ao consumidor, tanto em ótica individual como em perspectiva coletiva.
Os danos decorrentes de publicidade enganosa e abusiva podem ocorrer
antes e independentemente de qualquer contrato de consumo. A questão que se
coloca é justamente a seguinte: qual o fundamento da responsabilidade do fornecedor/
anunciante? Mais uma vez, não se vislumbra fato nem vício do produto ou do serviço, o
que, por consequência, afasta a responsabilidade prevista nos artigos 12 a 21 do Código
de Defesa do Consumidor. Trata-se de hipótese de responsabilidade extracontratual
decorrente de atividade ilícita. O fundamento da responsabilidade civil deve ser
buscado na cláusula geral prevista no art. 6o, VI, que, repita-se, prevê o direito básico do
consumidor a “efetiva reparação de danos morais e materiais” (BRASIL, 1990).
A cláusula geral da responsabilidade civil no Código de Defesa do
Consumidor atende justamente a situações de danos decorrentes de atividades
desenvolvidas no mercado de consumo, quando não for hipótese de fato e vicio do
produto, além de servir de diretriz hermenêutica para aplicação do CDC.

3.1 Responsabilidade objetiva


A responsabilidade civil decorrente do disposto na cláusula geral do Código
de Defesa do Consumidor (art. 6o, VI) é objetiva, pois o dispositivo em nenhum mo­
mento se refere à culpa (negligência, imprudência ou imperícia) como pressuposto
ou requisito para gerar o dever de indenizar.
As hipóteses normativas de responsabilidade civil subjetiva devem prever
expressamente a culpa como requisito necessário para gerar o dever de indenizar. Além
da ausência de qualquer referência à culpa, o dispositivo (art. 6o, VI) utiliza o adjetivo
efetivo para ressaltar a importância da realização da indenização do consumidor/vítima.
Não se deve incidir no erro de imaginar que a previsão normativa de
responsabilidade objetiva requer o uso da expressão independentemente da
existência de culpa ou equivalente. A expressão é, antes de tudo, didática e exerceu
importante papel, em contexto específico de evolução histórica, normativa e cultural
da responsabilidade subjetiva para a objetiva.

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Talvez, o melhor exemplo da desnecessidade de se estabelecer a locução


independentemente de culpa pode ser colhido do art. 37, § 6o, da Constituição
Federal, que dispõe:

As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras


de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa
qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o
responsável nos casos de dolo ou culpa (BRASIL, 1988).

O dispositivo é o fundamento para a responsabilidade objetiva do Estado


e não faz qualquer referência à culpa como pressuposto para gerar o dever de
indenizar. O dolo ou culpa são referidos apenas como exigência em eventual ação
de regresso do Estado contra o agente causador do dano.
A definição normativa da responsabilidade civil diz respeito a quem deve arcar
com danos inerentes à vida em sociedade. Para que a vítima do dano não suporte
o próprio prejuízo, é necessário estabelecer, por norma jurídica, os requisitos ou
pressupostos para que uma terceira pessoa tenha o dever de indenizar prejuízo
alheio. Configurados os pressupostos em determinado caso concreto, surge o
dever (obrigação sucessiva) de indenizar dano causado a terceiro. Como a regra
é que a própria vítima arque com seus danos, os pressupostos ou requisitos
para que terceiro assuma tal dano devem ser explícitos na norma definidora
de responsabilidade civil. A culpa – que é o pressuposto caracterizador da
responsabilidade civil subjetiva – deve estar expressa, a exemplo do revogado art.
159 do Código Civil de 1916 (BRASIL, 1916).
Nessa linha, desnecessário utilizar a expressão independentemente da existência de
culpa ao se estabelecer, nos artigos 12 e 14 do CDC, os pressupostos caraterizadores
da responsabilidade civil do fornecedor por fato do produto ou do serviço. Todavia,
como o Código de Defesa do Consumidor foi editado quando ainda estava em vigor
o Código Civil de 1916 e sob cultura jurídica da responsabilidade civil subjetiva, o
dispositivo desempenhou, na época de sua promulgação, importante função didática.
Esse Código foi editado num contexto de crítica à teoria da culpa e de
consequente ampliação das hipóteses de responsabilidade objetiva. Ademais,
considera-se a vulnerabilidade do consumidor no mercado e a importância de
efetiva proteção à saúde, segurança e patrimônio do consumidor. Eventual exceção à
regra de responsabilidade objetiva no CDC deve vir expressa, a exemplo da previsão
da responsabilidade pelo fato do serviço quando se trata de professional liberal,
conforme disposto no art. 14, § 4o (BRASIL, 1990).

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34 Responsabilidade objetiva no código de defesa do consumidor

4 Responsabilidade objetiva pelo fato do produto e do serviço


O Código de Defesa do Consumidor, nos artigos 12 a 17, disciplina a
responsabilidade civil do fornecedor pelo fato do produto e do serviço. Trata-se
de regime indenizatório em relação aos danos oriundos de defeitos dos produtos
e serviços, os quais abrangem tanto a ofensa à saúde e segurança como ao
patrimônio material do consumidor.
Nesta espécie de responsabilidade, também denominada responsabilidade
por acidente de consumo, a preocupação básica é no sentido de que os produtos
e serviços lançados no mercado de consumo sejam seguros: não ofendam a
saúde, segurança, direitos da personalidade e patrimônio do consumidor4.
A noção de defeito, para fins de caracterização da responsabilidade em questão,
nem sempre coincide com sua ideia vulgar. O defeito do produto é conceito
normativo que se vincula basicamente com a compreensão de legítima expectativa
de segurança (art. 12, § 1o e art. 14, §1o). Ressalte-se que não é propósito da norma
simplesmente eliminar do mercado de consumo os produtos que apresentem algum
grau de risco à segurança e saúde, tanto que o art. 8o do CDC expressamente permite
a comercialização de “riscos normais e previsíveis” em decorrência da natureza e
modo de fruição de produtos e serviços (BRASIL, 1990).
Há produtos e serviços que, pela natureza, possuem maior grau de
periculosidade, como uma motosserra, uma faca, serviço de dedetização etc.
Eles não estão proibidos: apenas se intensifica o dever de informar de modo
a prevenir acidentes e danos ao consumidor. Existem produtos e serviços que
trazem risco intrínseco (periculosidade inerente) e outros que, por falhas no
processo de produção ou comercialização, tornam-se defeituosos (periculosidade
adquirida). Ao direito do consumidor importa principalmente as situacões de
dano concernentes à periculosidade adquirida.
Em termos materiais, a grande novidade do Código de Defesa do Consumidor,
em relação à sistemática anterior (Código Civil de 1916), é o fato de se afastar
o pressuposto culpa como elemento da responsabilidade civil do fornecedor.
Para oferecer concretude a direitos básicos relativos à proteção da saúde, da
segurança e do patrimônio do consumidor (art. 6o), os artigos 12 a 17 disciplinam
a responsabilidade pelo fato do produto e do serviço.

4 Vide o disposto no caput do art. 8o do CDC (BRASIL, 1990).

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O CDC estabelece, como regra, a responsabilidade – objetiva – do fornecedor em


face dos danos causados por defeitos nos produtos e serviços, após estabelecer que:

[...] os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão


riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados
normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-
se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias
e adequadas a seu respeito. (BRASIL, 1990, art. 8o).

O artigo 12 do Código de Defesa do Consumidor, que se refere a fato do


produto, é explícito no sentido de que o dever de reparar os danos decorrentes de
defeitos dos produtos e serviços independe da existência de culpa, consagrando-
se, à evidência, hipótese de responsabilidade objetiva. O art. 14, concernente a
fato do serviço, possui redação semelhante.
A responsabilidade independe do requisito culpa. Não há necessidade de
demonstrar conduta intencional ou negligente do fornecedor. Na verdade, em
relação aos produtos, a lei, num primeiro momento, não considera as ações do
fornecedor relativas a fabricação, produção ou construção do produto. O que
importa é a análise do produto pronto, sem defeitos. O que houve antes, na
cadeia de produção – atitude diligente ou negligente do fornecedor – em nada
altera o dever de indenizar se, obviamente, presentes os demais pressupostos
(defeito, dano e relação de causalidade entre ambos).
A adoção dos postulados da responsabilidade objetiva também não
significa que não há qualquer possibilidade do fornecedor eximir-se do dever
de indenizar. O próprio Código de Defesa do Consumidor expressamente previu
hipóteses nas quais o consumidor não será indenizado pelo fornecedor tanto
em relação aos produtos (art. 12.  §. 3 o) como no tocante aos serviços (art. 14,
§ 3 o). Portanto, não cabe ao lesado a tarefa de demonstrar que o fornecedor
tenha agido com culpa. Todavia, e isto parece evidente, há necessidade de
prova dos demais pressupostos da responsabilidade: dano, defeito do produto,
bem como relação de causalidade entre ambos.
Ressalte-se, como já adiantado, que o dispositivo legal refere-se ao nexo
causal entre o defeito e o dano (moral e/ou material) sofrido pela vítima. Não se
exige uma cadeia de causalidade da conduta do fornecedor até o dano. Basta a
relação, nem sempre fácil de se comprovar, entre o defeito e o dano.
Exceção expressa restou estipulada no caso de acidentes de consumo decorrentes
de serviços oferecidos no mercado de consumo pelos profissionais liberais, hipótese

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36 Responsabilidade objetiva no código de defesa do consumidor

em que a responsabilidade pessoal será apurada mediante a verificação de culpa


(art. 12, § 4o). Nesse caso, a lei acrescenta expressamente outro pressuposto para
gerar o dever de indenizar o consumidor (BRASIL, 1990). Além da prestação de
serviço defeituoso, nexo causal e dano, deve-se demontrar a presenca do elemento
culpa – ainda que pelo sistema da inversão do ônus da prova5 – de modo a obter
êxito em eventual ação indenizatória.
A inversão do ônus da prova em favor do consumidor é possível quando
houver dificuldade processual de demonstrar determinado fato. Os pressupostos
estão estipulados no art. 6o, VIII, do CDC. Além da dificuldade de produzir a prova, a
alegação do consumidor deve ser verossímil.
Cuida-se de exceção expressa e pontual em relação à regra geral da
responsabilidade objetiva do fornecedor nos acidentes de consumo.

4.1 Produtos perecíveis: hipótese de culpa do fornecedor?


Na discussão da culpa, em relação a fato dos produtos, outro ponto que merece
atenção diz respeito à responsabilidade do comerciante em caso de “não conservar
adequadamente os produtos perecíveis”, conforme redação do art. 13, III, do CDC (BRASIL,
1990). O dispositivo possui especial aplicação em relação aos alimentos que, sob pena
de se tornarem impróprios ao consumo humano, precisa de condições diferenciadas de
local de venda e armazenamento (exemplos: carne, queijo, iogurte etc.).
Cabe destacar que a responsabilidade do comerciante na hipótese é solidária,
ou seja, não afasta a responsabilidade do produtor, especificamente no exemplo
de alimentos que precisam de conservação adequada. Ressalte-se, inicialmente,
que o art. 13, caput, ao estabelecer que “o comerciante é igualmente responsável
nos termos do artigo anterior” (BRASIL, 1990), não oferece qualquer margem para
interpretação de que a responsabilidade do comerciante, na hipótese, é exclusiva.
Não cabe aqui perplexidade pelo fato de não conservar adequadamente os produtos
perecíveis ser conduta típica do comerciante e que, portanto, a responsabilidade
deveria recair unicamente sobre ele. Ora, a lei, ao estabelecer a solidariedade
passiva dos fornecedores não está preocupada, ao menos em momento inicial,
com a identificação do causador do dano ou a quem se poderia, ao final, imputar
a responsabilidade. O que se pretende é aumentar as chances de o consumidor

5 A inversão do ônus da prova em favor do consumidor é possível quando houver dificuldade processual
de demonstrar determinado fato. Os pressupostos estão estipulados no art. 6o, VIII, do CDC. Além da
dificuldade de produzir a prova, a alegação do consumidor deve ser verossímil.

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de ser efetivamente indenizado (art. 6o, VI, do CDC), presumindo-se, corretamente,


que os fornecedores, justamente por atuarem profissionalmente no mercado, podem
melhor definir entre eles em qual medida e proporção cada qual irá, ao final, assumir
com os valores decorrentes de indenização ao consumidor lesado.
A questão principal que se coloca, considerando o objetivo do artigo, é
definir se o CDC, no art. 13, III, teria instituído excepcionalmente hipótese de
responsabilidade subjetiva, já que a análise de conservação adequada de produto
envolve, invariavelmente, exame de conduta culposa do fornecedor.
Fábio Ulhoa Coelho sustenta que o dispositivo faz previsão pontual de
responsabilidade subjetiva. Para tanto, argumenta que “o legislador fez referência
à má conservação de produtos perecíveis, o que centra o foco da questão sobre a
conduta do comerciante e recupera o princípio da culpabilidade”. Acrescenta, na
sequência, que esta posição em nada altera a forma de distribuição do ônus da
prova, cabendo ao comerciante provar que “não incorreu em prática culposa na
conservação do produto [...] De qualquer forma, não se imporá ao consumidor, em
nenhuma circunstância, a prova diabólica da culpa do comerciante na conservação
do produto perecível” (1994, p. 96).
Discorda-se. O disposto no inc. III do art. 13 não institui hipótese excepcional
de responsabilidade subjetiva nas relações de consumo. Não há dúvida de que o
exame de conservação adequada de produtos envolve, inexoravelmente, aspectos
relacionados à conduta culposa do comerciante. Conservar adequadamente produtos
perecíveis exige cuidados. O oposto, a falta de conservação adequada, caracteriza
negligência e/ou imperícia do estabelecimento comercial. Todavia, e este é o ponto
nevrálgico, a apuração de eventual culpa do comerciante não deve ocorrer na ação
proposta pelo consumidor e sim em eventual ação de regresso, ou seja, tal discussão
só tem cabimento na ação entre fornecedores.
Realmente, o parágrafo único do art. 13 é claro ao esclarecer que o fornecedor
que efetivar o pagamento ao consumidor lesado “poderá exercer o direito de
regresso contra os demais responsáveis, segundo sua participação na causação do
evento danoso” (BRASIL, 1990). Assim, se um produtor, um frigorífico, por exemplo,
foi acionado por venda de carne que tenha causado danos à saúde do consumidor,
poderá, num segundo momento, em ação regressiva, contra o comerciante (açougue
ou supermercado) demonstrar que o acidente de consumo ocorreu por falha na
conservação do produto no estabelecimento comercial e receber de volta o valor
que pagou ao consumidor a título de indenização.

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38 Responsabilidade objetiva no código de defesa do consumidor

Assim, na linha desse raciocínio, para que o consumidor inclua o comerciante


no polo passivo da demanda indenizatória, basta haver indícios ou dúvidas relativos
à má conservação de produto perecível. A discussão definitiva sobre o assunto,
particularmente se houve conservação adequada ou não, ocorrerá apenas em
eventual ação de regresso. Tal interpretação é a mais consentânea com o espírito
de proteção da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo e, também,
com o direito básico de efetiva prevenção e reparação de danos (art. 6o, VI, do CDC).
Em outras palavras e para concluir, o disposto no art. 13, III, do CDC não
estabelece hipótese excepcional de responsabilidade subjetiva entre consumidor e
fornecedor, já que a discussão sobre conservação adequada de produtos perecíveis
deve ocorrer somente entre fornecedores.

5 Responsabilidade pelo vício do produto e do serviço


O Código de Defesa do Consumidor, logo após a disciplina concernente à
responsabilidade por fato do produto e do serviço, ou seja, responsabilidade
decorrente dos acidentes de consumo (arts. 12 a 17), regulamenta os chamados
vícios dos produtos e dos serviços (arts. 18 a 25)6.
Enquanto na responsabilidade pelo fato a preocupação maior é com a segurança
dos produtos e serviços, na responsabilidade pelo vício o foco principal é a sua
adequação real às finalidades próprias, ou seja, o ar condicionado deve esfriar o
ambiente; a televisão, transmitir imagens e sons; a caneta, possibilitar a escrita; o
serviço de colocação de telhas, impedir que a água da chuva ingresse no imóvel etc.
A disciplina dos vícios dos produtos é paralela à regulamentação dos vícios
redibitórios (arts. 441-446 do Código Civil). Assim, havendo relação de consumo,
aplicam-se primordialmente os arts. 18 a 25 do CDC. Caso contrário, incide, em favor
do comprador, a disciplina própria do Código Civil.
A disciplina do CDC em relação à matéria objetivou afastar as deficiências
da tutela do comprador apontadas pela doutrina e jurisprudência em relação ao
CC/1916, além de considerar as dificuldades inerentes à vulnerabilidade7 do

6 Parte da doutrina diferencia vício dos produtos e serviços do defeito dos produtos e serviços. O defeito
estaria relacionado ao fato do produto ou do serviço (acidente de consumo), enquanto os vícios com a
impropriedade, inadequação às finalidades, enfim, à disciplina constante no art. 18 e seguintes. Todavia,
nosso ordenamento jurídico não faz distinção rigorosa em relação aos termos vício e defeito, utilizando
um pelo outro como, a exemplo do que ocorre no art. 26, § 3o do CDC.

7 Sobre vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo, vide Bessa, 2009.

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consumidor no mercado. O CDC, promulgado em setembro de 1990 – portanto,


antes do Código Civil de 2002 –, foi o primeiro diploma legal a apresentar reações
à tímida proteção conferida ao comprador pelo direito privado.

5.1 A importância da culpa na responsabilidade por vício do


produto
A responsabilidade do fornecedor por vícios dos produtos e serviços é
objetiva. A culpa do fornecedor não é requisito para estabelecer os deveres
decorrentes do vício do produto ou do serviço. O Código de Defesa do Consumidor
institui noção objetiva de qualidade do produto ou serviço e afasta-se qualquer
importância da eventual culpa do fornecedor.
A lei não estabelece a expressão indepentemente da existência de culpa
na responsabilidade pelo vício do produto e do serviço. Para que se configure
responsabilidade subjetiva, o pressuposto culpa deve estar expresso na
norma. A locução independetemente de culpa ou outra com o mesmo sentido
é desnecessária: cumpre, na verdade, função didática, particularmente quando
há inovação legislativa e mudança de regime. Na hipótese, como não houve
mudança de regime em relação à lei vigente (Código Civil de 1916), entendeu-se
ser desnecessário destacar tal aspecto.
No direito civil, a culpa do alienante em relação aos vícios redibitórios não
era nem é pressuposto para possibilitar o exercício das alternativas colocadas à
disposição do comprador (redibição do contrato ou abatimento proporcional do
preço). A lei apenas alude ao conhecimento ou não do vício, sem qualquer preocupação
em vincular a origem do problema a ação ou omissão anterior do alienante.
A culpa é irrelevante no direito privado – tanto no Código de 1916 como no atual
- para estabelecer responsabilidade pelos vícios redibitórios. Com redação semelhante
ao CC/1916, o Código Civil atual estabelece em seu art. 443: “Se o alienante conhecia o
vício ou defeito da coisa, restituirá o que recebeu com perdas e danos; se o não conhecia,
tão somente restituirá o valor recebido, mais as despesas do contrato” (BRASIL, 2002).
Portanto, a ignorância – e não culpa – em relação ao vício serve apenas
para verificar a possibilidade de adicional condenação em perdas e danos
decorrentes do vício. O art. 443 do Código Civil, correspondente ao art. 1.103
do Código de 1916, permite a exoneração contratual da responsabilidade
apenas na hipótese de ignorância dos vícios. Ressalte-se: somente na hipótese
de desconhecimento dos vícios. Em outros termos, em caso de ciência prévia do

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40 Responsabilidade objetiva no código de defesa do consumidor

vício, não teria efeito qualquer disposição contratual que objetivasse excluir a
responsabilidade do alienante.
Tanto no CC como, com muito mais razão, no CDC, não se perquire se o vício
decorre de conduta culposa ou dolosa do vendedor ou de qualquer outro integrante da
cadeia de produção e circulação do bem. Constatado o vício, surge a responsabilidade.
A questão parece tão óbvia que a doutrina, de um modo geral, nao se alonga em tal
discussão. Sérgio Cavalieri Filho está entre os poucos que abordam o tema: “Ademais,
se nem o Código Civil exige culpa tratando-se de vício redibitório, seria um retrocesso
exigi-la pelos vícios do produto e do serviço disciplinados no Código do Consumidor,
cujo sistema adotado é da responsabilidade objetiva” (2003, p. 495). Cláudia Lima
Marques, na mesma linha, sustenta que a desnecessidade de discussão sobre a culpa
na responsabilidade pelo vício do produto (2014, p. 1288-1291).
O conhecimento do vício, no direito privado, tem como consequência a
condenação adicional em perdas e danos. No direito do consumidor, o conhecimento
do vício é absolutamente irrelevante para fins de eventual indenização do
consumidor em face de vício do produto. O art. 23 é expresso neste sentido: “Art.
23. A ignorância do fornecedor sobre os vícios de qualidade por inadequação dos
produtos e serviços não o exime de responsabilidade” (BRASIL, 1990). Sobre o tema,
registre-se a seguinte decisão:

A garantia legal por vícios preexistente tem por finalidade proteger o


adquirente, em razão de imperfeições de informação, estabelecendo
instrumentos que assegurem a manutenção do sinalagma contratual mesmo
nas hipóteses em que o alienante desconhecia o vício (BRASIL, 2015).

6 Conclusão
A seguir, são elencadas as principais conclusões do presente artigo.
Entende-se que o Código de Defesa do Consumidor foi promulgado em contexto
jurídico de forte censura à teoria da culpa. Assim, a Lei no 8.078/90 absorveu as
críticas e estabeleceu a responsabilidade objetiva como regra para os danos materiais
e morais decorrentes de atividades desenvolvidas no mercado de consumo.
Ao estabelecer, em seu art. 6o, VI, o direito básico do consumdor a efetiva prevenção
e reparação de danos patrimoniais e morais, o diploma legal instituiu cláusula geral
de responsabilidade objetiva para as relações de consumo.

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A claúsula geral da responsabilidade civil (art. 6o, VI) é o fundamento jurídico


para inúmeras situacões fáticas que não atraem a responsabilidade por vicio e fato
do produto e do serviço. A responsabilidade pelo fato do produto e do serviço é
objetiva. O disposto no art. 13, III, do CDC, que se refere a conservação adequada
de produtos perecíveis, não estabelece hipótese excepcional de responsabilidade
subjetiva entre consumidor e fornecedor, já que a discussão sobre conservação
adequada de produtos perecíveis deve ocorrer somente entre fornecedores.
Dessa forma, a responsabilidade do fornecedor por vícios dos produtos e serviços
é objetiva, e a culpa do fornecedor não é requisito para estabelecer os deveres
decorrentes do vício do produto ou do serviço. O Código de Defesa do Consumidor
institui noção objetiva de qualidade do produto ou serviço, afastando qualquer
importância da eventual culpa do fornecedor.

7 Referências
ALVIM, Arruda et al. Código do Consumidor Comentado. 2 ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1995.

BENJAMIN, Antônio Herman. Teoria da Qualidade. In: BENJAMIN, Antonio Herman;


MARQUES, Cláudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de Direito do Consumidor.
7 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais: 2016.

BESSA, Leonardo Roscoe. Relação de consumo e aplicação do Código de Defesa do


Consumidor. 2. ed. São Paulo: RT, 2009.

BRASIL. Lei no 3.071, de 1o de janeiro de 1916. Diário Oficial da União. Brasília, 1916.
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Diário Oficial da União. Brasília, 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
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______. Lei no 12.414, de 9 de junho de 2011. Diário Oficial da União. Brasília, 2011.
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