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Cultura organizacional e marketing Recebimento:
interorganizacional 19/06/2017
Editor responsável:
Prof. Dr. Ignacio Canales
Fabiano Larentis1
1Universidade de Caxias do Sul, Programa de Pós-Graduação
em Administração, Caxias do Sul, Brasil Avaliado pelo sistema:
Double Blind Review
Claudia Simone Antonello2
Luiz Antonio Slongo2
2Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de
Pós-Graduação em Administração, Porto Alegre, Brasil
Resumo
Objetivo – Este estudo analisa a contribuição dos relacionamentos
interorganizacionais entre fornecedores e clientes às mudanças culturais
organizacionais.
Metodologia – Realizou-se um estudo qualitativo de casos múltiplos
em dois canais de marketing, por meio de entrevistas em profundidade,
observação e análise de dados com base na grounded theory.
Resultados – Identificou-se a importância da confiança, do
comprometimento, da cooperação e dos processos de aprendizagem
nas mudanças culturais organizacionais e na redução dos conflitos de
papel dos boundary spanners, assim como o papel da rotatividade de
pessoal em enfraquecer essas dimensões e respectivas relações.
Contribuições – Evidenciou-se o desenvolvimento de uma cultura
interorganizacional, como um sistema de símbolos e significados
compartilhados por grupos ou indivíduos de diferentes organizações,
em uma base transitória, com o predomínio da perspectiva cultural da
fragmentação. É uma cultura originada dos relacionamentos através da
intersecção de culturas, ou seja, uma cultura das fronteiras.
Palavras-chave – Cultura organizacional; marketing de relacionamento;
perspectivas culturais; relacionamentos interorganizacionais; cultura
interorganizacional.
DOI: 10.7819/rbgn.v20i1.3688
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Fabiano Larentis / Claudia Simone Antonello / Luiz Antonio Slongo
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Cultura organizacional e marketing de relacionamento: uma perspectiva interorganizacional
longo do tempo e como estruturas e culturas linguagem, na história, nos mitos, nos rituais,
divergentes estão alinhadas (Moorman & nas cerimônias e nos artefatos (Alvesson &
Day, 2016). Em terceiro lugar, pesquisa-se um Sveningsson, 2008). Os símbolos são fontes
contexto de mercado emergente. De acordo externas de informação e são usados como
com Narasimhan, Srinivasan e Sudhir (2015), a representação dos processos sociais e psicológicos.
pesquisa em mercados emergentes é cada vez mais Ritos, rituais e cerimônias são atos que moldam
crítica para acadêmicos e gestores, fornecendo expressões e dão valor aos símbolos. O mito, como
orientação gerencial e ampliando o conhecimento uma narrativa dramática de eventos imaginados,
substantivo e teórico de mercados e marketing. geralmente explica origens ou mudanças, combina
as formas culturais e consolida-as em um evento
2 Contexto teórico específico (Strati, 1998).
As organizações são marcadas por práticas
2.1 Cultura organizacional sociais que podem ser consideradas culturais.
Essas práticas, no entanto, podem não representar
A cultura implica uma coletividade. As a organização como um todo: a cultura é
organizações são entidades simbólicas, porque desenvolvida em ambientes de trabalho (Van
funcionam seguindo modelos implícitos na Maanen & Barley, 1985). Nesse sentido, Martin
mente de seus membros (Hofstede, 2001), o et al. (2006) propõem quatro perspectivas
que interferirá na satisfação dos envolvidos e, diferentes de cultura organizacional: perspectiva
consequentemente, no desempenho da empresa de integração, perspectiva de diferenciação,
(Gregory, Harris, Armenakis & Shook, 2009). perspectiva de fragmentação e um quadro de
A cultura é um produto histórico de um grupo, três perspectivas. Na perspectiva da integração,
que afeta interpretações e orienta comportamentos a cultura é um conjunto de expressões culturais
(Alvesson, 2013; Hogan & Coote, 2014; Van que geram o consenso de toda a organização,
Maanen & Barley, 1985; Vetráková & Smerek, denominada cultura unitária por Van Maane e
2016; Yin, Lu, Yang & Jing, 2014). Barley (1985). Segundo eles, isso acontece quando
Cavedon (2003) trata da cultura os membros de uma organização lidam com os
organizacional como uma rede de significados mesmos problemas e quando um sistema comum
que flui dentro e fora do espaço organizacional, de compreensão é adotado.
sendo simultaneamente ambígua, contraditória, É questionável, no entanto, se a cultura
complementar, diversa e análoga, mostrando organizacional é tipicamente uma característica
homogeneidade e heterogeneidade organizacional. da organização como um todo, ou se é particular
Para Alvesson (2013), a cultura organizacional é de grupos ou subculturas dentro dela (Deshpandé
vista como um sistema de símbolos e significados, & Webster, 1989). As organizações são marcadas
compartilhado no contexto organizacional, de por práticas sociais que podem ser consideradas
forma que os indivíduos definem seu meio, culturais, mas essas práticas podem ser confinadas
expressam suas crenças e fazem julgamentos. O a grupos específicos, ou subculturas (Van Maane
significado refere-se à forma como um objeto ou & Barley, 1985), ou seja, a perspectiva de
expressão/fala é entendido. O símbolo condensa diferenciação. Uma organização pode incluir
um conjunto de significados em um objeto departamentos e grupos de trabalho culturalmente
específico e o anuncia de forma compacta. diversificados (Hofstede, 2001).
O autor enfatiza que a cultura não estabelece Na perspectiva da fragmentação, as
necessariamente clareza e consenso entre grandes relações entre as expressões culturais não são
grupos de pessoas, mas as orienta a lidar com os nem claramente consistentes nem claramente
casos de ambiguidade sem muita anarquia. inconsistentes. São complexas e têm muitos
A cultura organizacional, portanto, elementos contraditórios e problemáticos. O
envolve símbolos e significados, considerando consenso não abrangeria toda a organização,
símbolos a expressão dos significados, como na nem seria específico para determinado subgrupo
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organizacional. Seria transitório e específico para que os grupos de pessoas interagem socialmente
uma questão determinada, levando a afinidades uns com os outros, em um estado de fluxo sem
de curto prazo entre os indivíduos e sendo limites claros (Lee, Kim & Park, 2015). Nesse
substituído por diferentes modelos, à medida que sentido, a abertura a novas ideias é essencial para
outras questões chamem a atenção. Uma cultura a mudança cultural (Alvesson & Sveningsson,
organizacional não é um conjunto sólido e bem 2008).
formado ou um conjunto estável de subculturas,
que é fácil de compreender. Refere-se, no entanto, 2.2 M arketing de relacionamento e
a misturas de manifestações culturais de diferentes relacionamentos interorganizacionais
tipos e níveis (Alvesson, 2013). Organizações que fazem parte de uma
Finalmente, Mar tin et al. (2006) cadeia de valor reconhecem os benefícios do
apresentam um quadro de três perspectivas, em marketing de relacionamento, definido como
que alguns valores, interpretações e práticas geram um processo de interação e engajamento que
consenso em toda a organização, outros causam estabelece, desenvolve e mantém relacionamentos
conflitos e alguns ainda não estão bem definidos. cooperativos de longo prazo com benefícios
Nas organizações, segundo eles, haveria uma mútuos entre as partes (Hakansson & Snehota,
existência simultânea de elementos de integração, 1995; Morgan & Hunt, 1994; Palmatier, 2008). A
conflito, poder e incerteza. interação mostra que os resultados vêm de ações e
Por outro lado, o desenvolvimento de uma reações, realizadas pelos envolvidos, porque ambos
cultura é um processo de aprendizagem, uma vez os lados desempenham papéis ativos (Hakansson
que os fundadores da organização (Dauber, Fink & Snehota, 1995; Pels, Moller & Saren, 2009).
& Yolles, 2012; Gagliardi, 1986) consideram um Segundo Cannon e Perreault (1999),
conjunto de crenças, mesmo que não sejam claras.
relacionamentos eficazes ajudam as partes
À medida que certos grupos aprendem a lidar
envolvidas a gerenciar a incerteza e a dependência,
com seus problemas de adaptação e integração,
aumentar a eficiência por meio da redução de
desenvolve-se a cultura organizacional, que é
custos e melhorar a orientação do mercado, por
ensinada aos novos membros desde que seja
meio de uma melhor compreensão dos clientes. O
considerada e sentida como correta (Schein,
marketing de relacionamento tem como objetivo
1991). As respostas a uma organização por parte
gerar relacionamentos lucrativos a longo prazo
de seus membros são formuladas para resolver
entre os parceiros (Miquel-Romero, Caplliure-
um problema e também diminuir a ansiedade
Giner & Adame-Sánchez, 2014). A este respeito,
relacionada a ele (Gagliardi, 1986). Indivíduos
quanto mais ambas as partes estiverem motivadas
e grupos mais poderosos, entretanto, podem
a manter o relacionamento e imbricadas entre si,
influenciar a interpretação dos outros sobre
menor o risco da dissolução da relação e maior a
eventos (Lucas & Kline, 2008).
As mudanças na cultura, além dos aspectos disposição delas a investir nesse relacionamento
materiais, também incluem uma redefinição – sobretudo em investimentos não recuperáveis
de significados, mas não necessariamente de (Scheer, Miao & Palmatier, 2015).
valores e significados-chave (Alvesson, 2013; As estratégias de marketing de
Alvesson & Sveningsson, 2008). Por outro lado, relacionamento, porém, não são uma solução para
alguns aspectos mais enraizados na cultura são todos os clientes em todas as situações possíveis
difíceis de mudar, além do que a cultura pode (Agariya & Singh, 2011; Schakett, Flaschner,
mudar para permanecer o que sempre foi: as Gao & El-Ansary, 2011). Os relacionamentos
mudanças no comportamento não significam dependem do tempo para serem desenvolvidos.
necessariamente mudanças nas crenças e valores Além disso, alguns clientes não desejam manter um
(Alvesson & Sveningsson, 2008; Gagliardi, 1986; relacionamento próximo com seus fornecedores
Ogbonna & Harris, 2014). A cultura, contudo, é e vice-versa. Nesse sentido, os relacionamentos
constantemente criada e transformada à medida precisam ser estáveis o suficiente para durar um
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Cultura organizacional e marketing de relacionamento: uma perspectiva interorganizacional
tempo e dinâmicos o suficiente para assegurar fronteiras são lugares de contato altamente
o desenvolvimento de capacidades (Batt & carregado, onde ocorrem diferenças e trocas
Purchase, 2004). (conflito, poder e conversão de recursos) (Halley,
Confiança, comprometimento e 2001). Elas ajudam a estabelecer e manter hábitos,
cooperação são alguns dos elementos-chave expectativas e papéis, além de fornecer defesa e
dos relacionamentos (Agariya & Singh, 2011; permitir o intercâmbio (Araujo et al., 2003, Halley,
Gummesson, 2017; Palmatier et al., 2006). 2001). Quanto mais as organizações dependem de
Confiança, crença da empresa sobre a honestidade relacionamentos interorganizacionais, mais suas
e boa vontade do outro (Geyskens, Steenkamp & fronteiras podem mudar (Araujo et al., 2003).
Kumar, 1999), faz com que parceiros fiquem mais Assim, os relacionamentos interorganizacionais
propensos a compartilhar informações, aumenta podem ser vistos como dutos através das fronteiras
a sensação de segurança e reduz o oportunismo organizacionais (Ballantyne, Christopher &
(Palmatier et al., 2006). No entanto, ela diminui Payne, 2003).
em ambientes instáveis (Kang & Jindal, 2015). Os boundary spanners representam o
Comprometimento é a vontade permanente veículo mais importante para construir e manter
de manter um relacionamento (Palmatier et relacionamentos sólidos (Palmatier, 2008). Um
al., 2006). Além disso, os relacionamentos são dos problemas que está muito relacionado a eles,
moldados por um ambiente social que permite no entanto, é o conflito de papéis, definido como
a cooperação, quando as interações passadas as incertezas proeminentes enfrentadas (Singh &
são vistas favoravelmente e as ações futuras são Rhoads, 1991). À medida que eles interagem com
consideradas construtivas (Morgan, 2000). O membros de outros grupos, podem experimentar
comprometimento influencia a cooperação expectativas conflitantes sobre como desempenhar
de forma positiva; ambos são influenciados seu papel, o que pode levar a efeitos negativos
positivamente pela confiança (Morgan & Hunt, em seus relacionamentos (Friedman & Podolny,
1994; Palmatier et al., 2006). 1992). A existência de relacionamentos pessoais
Em relação a esse aspecto, Plewa (2009) de boa qualidade reduz o conflito de papéis,
afirma que, em situações incertas, as pessoas atenuando os significados divergentes (Haytko,
devem prestar atenção ao aumento da confiança 2004).
e à diminuição das diferenças entre os parceiros;
em condições mais estáveis, é preciso concentrar- 2.3 Cultura organizacional e marketing
se no desenvolvimento do comprometimento. de relacionamento
Miquel-Romero et al. (2014) argumentam que O desenvolvimento dos relacionamentos
a geração de confiança e comprometimento, que não só exige investimento de recursos e seleção
resulta em lealdade, é um objetivo estratégico de parceiros, mas também confiança, valores
e uma fonte de rentabilidade a longo prazo, compatíveis, comprometimento, estabilidade,
embora a proporção maior de interdependência frequência e qualidade das interações
esteja associada a uma maior cooperação díade, (Gummesson, 2008; Iglesias et al., 2011;
que pode ser significativamente menor quando Palmatier et al., 2006). Depende de como a
a interdependência se baseia em custos de confiança e o comprometimento se transformam
transferência em vez de interdependência do valor em cooperação e, portanto, em ação. Por outro
do relacionamento (Scheer et al., 2015). lado, como afirmado por Luthans (2010),
No s re l a c i o n a m e n t o s , u m a g e n t e quanto mais atividades forem compartilhadas,
significativo é o boundary spanner, que atua como mais interações ocorrerão e mais fortes serão
um representante da organização ou intérprete do os sentimentos entre as pessoas; quanto mais
ambiente externo em fronteiras organizacionais frequentes forem as interações, mais as atividades
(Araujo, Dubois & Gadde, 2003), por exemplo, e sentimentos serão compartilhados; quanto mais
vendedores, compradores e gerentes relacionados fortes forem os sentimentos, mais pessoas vão
a relacionamentos interorganizacionais. As compartilhar atividades e interagir.
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Cooperação: Eles (loja) começam a procurar Sempre que você tem uma franquia com
novos mercados, sabem que a empresa irá maior rotatividade de funcionários, os
dar-lhes apoio. Antes, tinham muito medo, processos também vêm com um nível de
devido ao seu investimento. Agora há muitas dificuldade maior. Geralmente, quando
possibilidades com esta loja, eles pedem a franquia tem um volume de negócios
opiniões, sugestões. Há essa abertura, de menor, a área de vendas desempenha o
palpitar. Ele os devolveu. Ouvi nesta loja no papel esperado, a equipe operacional/
início que eles estavam órfãos e abandonados administrativa já percebe o que falta ou
(Supervisor de Vendas M).
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Cultura organizacional e marketing de relacionamento: uma perspectiva interorganizacional
o que precisa ser organizado. O volume para ouvir os problemas dos intermediários. Essas
de negócios é um grande problema. O que descobertas indicam uma relação entre culturas
causa a insatisfação do cliente é o volume de organizacionais e práticas de relacionamento (Ellis
negócios (Assistente Financeiro S). et al., 2006; Gummesson, 2008; Iglesias et al.,
2011; Winklhofer et al., 2006).
Algumas dessas dificuldades seriam
maiores se as empresas não estivessem abertas
Tabela 1
Comparações relativas ao relacionamento – Empresas M e S
Dimensões Empresa M Empresa S
• Importância da transparência
Confiança • Confiabilidade sobre informações fornecidas, ações realizadas e pessoas
• Compartilhamento de informações e ideias
• Cumprir as responsabilidades
Comprometimento • Alcançar os objetivos
• Cuidar bem das pessoas e dos negócios
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Tabela 2
Culturas organizacionais das empresas pesquisadas
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Cultura organizacional e marketing de relacionamento: uma perspectiva interorganizacional
está disponível para ajudar. Eles são pessoas intermediários. Outro aspecto que se destaca tem
educadas e humildes (Intermediário M) a ver com as premiações constantes que a empresa
Quanto às expressões culturais (símbolos), recebe, o que geralmente melhora o espírito de
os mitos dos fundadores dos grupos industriais equipe.
foram identificados, as pessoas de origem humilde.
Há também o mito do “Patinho Feio”, alusão à 4.3 Mudanças culturais organizacionais
rentabilidade da Empresa M e à necessidade As mudanças culturais nas expressões,
de investimentos. A partir das cerimônias, bem como em significados, que ocorreram ao
que envolvem vários ritos, além das festas de longo do tempo, puderam ser identificadas, tanto
confraternização internas, há também eventos para os intermediários quanto para as empresas,
de confraternização com os intermediários. Na com uma contribuição dos relacionamentos
Empresa M, existe a “Convenção das Lojas de interorganizacionais, considerando que uma
Móveis”, quando as ações são oficializadas e as cultura se desenvolve à medida que certos grupos
ideias são compartilhadas. Na Empresa S, há uma organizacionais aprendem a lidar com problemas,
reunião de franqueados, pelo menos uma vez bem como com a forma de percebê-los ao longo
por ano, sob a responsabilidade do franqueado, do tempo (Schein, 1991). Os resultados empíricos
para a troca de ideias e integração com novos são apresentados na Tabela 3.
Tabela 3
Mudanças culturais organizacionais
• Valores compatíveis
Contribuição das empresas aos
• Processos de sistema e gestão
intermediários em mudanças culturais
• Intermediários (proprietários) como funcionários das empresas no passado
Contribuição dos intermediários às • Entendimento das necessidades de mercado
empresas em mudanças culturais • Experiências passadas com outros fornecedores
Contribuição de outros • Aspectos culturais além das organizações envolvidas (como subculturas profissionais)
• Características culturais que facilitam o surgimento ou fortalecimento de outras
Relações entre as contribuições do • Papel da liderança
fornecedor e do intermediário • Assimetria do poder
• Natureza conservadora e estável das culturas
Considerando a contribuição das dos ex-funcionários das empresas que agora são
empresas aos intermediários em mudanças intermediários. Nesse caso, as características da
culturais, identificaram-se valores compatíveis, cultura organizacional do fornecedor, por ser, no
especificamente significados/valores apreciados passado, a principal referência de organização para
p e l o s i n t e r m e d i á r i o s . Os e n t re v i s t a d o s eles, têm contribuído com o desenvolvimento da
enfatizaram a humildade e a importância dada cultura organizacional da nova empresa, apesar
aos relacionamentos, que foram reforçadas com dos desafios enfrentados para desempenhar o
a interação. papel de empresários.
As mudanças culturais também estão
relacionadas com práticas de gestão, devido à Nossa escola está lá. Em nossos valores há um
falta de referências em gestão dos intermediários. bocado de S. Eu acredito que uma franquia
Na Empresa M, o “Conceito”, um conjunto de com as pessoas que foram criadas dentro de S
orientações estratégicas e operacionais, faz parte faz dos valores muito mais presentes. Mas, ao
do vocabulário e práticas dos proprietários da loja. longo do tempo, os valores são absorvidos por
Na Empresa S, há uma forte influência das práticas osmose. Eu vejo a rede de franquias de forma
de gestão de pessoas. Há também a situação muito transparente. Não estamos pensando
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Eu acho que a visão de mercado por parte Por outro lado, uma característica cultural
da Empresa S evoluiu muito. Hoje podemos pode permitir ou facilitar o surgimento ou o
mudar algumas coisas lá dentro. Eles estão reforço de uma outra característica cultural. A
ouvindo mais. O mercado determina os cultura é transformada à medida que as pessoas
caminhos. Depois de conversar muito, eles interagem socialmente com os outros (Lee et al.,
começam a entender o que o mercado quer 2015), e abertura para novas ideias é essencial para
(Franquia S). a mudança cultural (Alvesson & Sveningsson,
2008). O nível de abertura das empresas a novas
Outro ponto são as experiências passadas ideias permitiu uma melhor abordagem do
dos intermediários com outros fornecedores, mercado. Além disso, uma maior interação das
contribuindo com os atuais. Na Empresa M, um empresas com os intermediários e a necessidade
dos empresários com o melhor desempenho na de resolver problemas, principalmente na Empresa
rede de lojas foi varejista exclusivo de outra marca S, acabaram fazendo departamentos que não
por muitos anos, com um foco muito intensivo têm contato direto com o mercado mudar seu
em resultados. Este proprietário de loja, apesar de ponto de vista. As percepções do departamento
desaprovar tal aspecto, continua a ter um maior operacional tornaram-se mais semelhante aos do
foco em resultados do que a Empresa M, herança departamento de vendas, levando à aproximação
do antigo fornecedor. das áreas organizacionais da empresa.
Os líderes moldam a cultura (Moorman &
Alguns varejistas trouxeram elementos Day, 2016). O papel da liderança em mudanças
interessantes à rede, o que era algo que eles culturais foi identificado na Empresa M, com
estavam procurando incorporar como um o ex-gerente de vendas que desenvolveu o
valor, a busca do lucro pela venda, a vontade “Conceito”. Na Empresa S, com um ex-diretor,
de vender, o que não era, e ainda talvez não que lançou muitas estratégias de gestão de pessoas.
seja, um valor da M. Eles trouxeram valores, Além disso, identificaram-se algumas evidências
mas também eles próprios incorporaram a relacionadas com a assimetria de poder, tendo em
filosofia M (Ex-Gerente de Vendas M). conta a influência de indivíduos e grupos mais
poderosos na interpretação de outros sobre os
Além disso, houve uma contribuição dos eventos (Lucas & Kline, 2008).
significados dos outros, externa aos fornecedores Com relação a isso, considerando a
e intermediários, que mostra uma relação de natureza conservadora e estável das culturas
subculturas profissionais (Martin et al, 2006; (Alvesson & Sveningsson, 2008; Gagliardi, 1986),
Van Maanen & Barley, 1985). Na Empresa M, muitos dos significados permanecem juntos dentro
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Cultura de
Cultura do Departamentos
Fornecedor (a) Perspectiva de do Fornecedor
Perspectiva de fragmentação (c)
integração dentro do Perspectiva de
fornecedor diferenciação
Perspectiva de Cultura de
Cultura do fragmentação Departamentos
intermediário (b) dentro do do Intermediário
Perspectiva de intermediário (d)
integração Perspectiva de
Elementos iniciais de IC diferenciação
*Significados compartilhados Elementos resultants de IC
*Símbolos compartilhados *Práticas de cooperação
*Abertura a novas ideias *Significados (novos,
*Frequência e qualidade das Elementos intermediários de
redefinidos, fortalecidos)
interações IC
*Confiança relacionada à *Símbolos (novos,
*Papel dos boundary redefinidos, fortalecidos)
spanners informação, às ações e às
pessoas *Redução do conflito de
*Experiências e trajetórias papéis dos boundary
passadas *Comprometimento com as
ações, resultados e pessoas spanners
*Papel da liderança *Aproximação das áreas
*Assimetria do poder *Processos e resultados de
aprendizagem organizacionais das empresas
Elementos de enfraquecimento de CI
*Nível de rotatividade dos boundary spanners
*Significados não compartilhados *Símbolos não compartilhados
Contexto
Aspectos culturais além das organizações envolvidas
Dinâmica ambiental (econômica, social natural, tecnológica,)
Figura
Figura 1.1. Esquema
Esquema conceitual:
conceitual: Desenvolvimento
Desenvolvimento de cultura
de uma uma cultura interorganizacional
interorganizacional
OSupõe-se
e s q u e mque
a chaveria
o n c e i tum
u a ldesenvolvimento
propõe da cultura
através interorganizacional
de elementos nas zonas
intermediários de
(confiança
que o desenvolvimento
intersecção de umaculturais
entre as perspectivas relacionada
culturado fornecedor (“a”à einformação, às ações e culturais
“c”) e perspectivas às pessoas,
interorganizacional, com base em elementos comprometimento com ações, resultados,
do intermediário
iniciais (significados(“b” e “d”),compartilhados,
e símbolos a partir da perspectivae de
comfragmentação, em que o consenso
as pessoas, processos seriade
e resultados
abertura a novas
específico paraideias, a frequência
um problema oue acontexto aprendizagem),
qualidadedeterminado (Martin et que poderãoAscontribuir
al., 2006). mais
perspectivas
das interações, o papel dos boundary spanners, tarde com os elementos resultantes (práticas
de fragmentação
experiências no fornecedor
e trajetórias passadas, e no intermediário
papel da desempenhariam
cooperativas, um papele indireto
significados símbolosnonovos,
seu
liderança e assimetria de poder), é influenciado redefinidos e reforçados, redução do conflito
desenvolvimento. Essas áreas de intersecção reforçam a natureza da cultura
pelos relacionamentos interorganizacionais, do papel do boundary spanner e aproximação
interorganizacional como uma rede de significados que flui dentro e fora do espaço
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organizacional, constantemente criada e transformada à medida que grupos de pessoas
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Cultura organizacional e marketing de relacionamento: uma perspectiva interorganizacional
das áreas organizacionais das empresas). Estes diferentes organizações e funciona como um
elementos e as relações entre eles são influenciados agente de ligação (Grueso-Hinestroza & Antón-
pelos elementos de enfraquecimento (nível de Rubio, 2015). Como as práticas do marketing
rotatividade dos boundary spanners e significados de relacionamento dependem de quanto elas são
e símbolos não compartilhados). Além disso, esse valorizadas em nível organizacional e enraizadas
desenvolvimento está relacionado com o contexto, na cultura organizacional, desempenham, nesse
além das organizações envolvidas (aspectos sentido, um papel fundamental, porque permitem
culturais, como outras culturas organizacionais o desenvolvimento de pontos de encontro de
e elementos das culturas nacionais, bem como diferentes culturas, uma vez que a interação com
dinâmica ambiental). É importante observar que as pessoas é construída em premissas culturais
os elementos iniciais e intermediários, resultantes (Ellis et al., 2006; Plewa, 2009; Winklhofer et
e de enfraquecimento, bem como o contexto, al., 2006).
foram originados a partir de categorias emergentes
identificadas no estudo, fundamentadas nos 5 Considerações finais
resultados.
A partir de uma abordagem cultural, as O marketing de relacionamento consiste
fronteiras são definidas com base em significados em processos de interação e engajamento para
compartilhados, e a cultura é transformada em a manutenção de relacionamentos cooperativos
um estado de fluxo sem qualquer limite claro: de longo prazo (Hakansson & Snehota, 1995;
culturas organizacionais formam combinações de Morgan & Hunt, 1994; Palmatier, 2008).
manifestações culturais (Alvesson, 2013; Lee et Embora o campo do marketing de relacionamento
al, 2015). Assim, na estrutura proposta, as linhas tenha sido um tema importante da pesquisa
tracejadas representam a permeabilidade entre acadêmica por mais de duas décadas, parece ainda
perspectivas culturais, elementos relacionados mais significativo quando os relacionamentos são
com o desenvolvimento de uma cultura considerados complexos e multifacetados (Payne
interorganizacional, e contexto. As setas duplas & Frow, 2017).
representam interações entre os elementos Os relacionamentos interorganizacionais,
(relações de interdependência). Elementos iniciais bem como as culturas organizacionais, são
podem influenciar e ser influenciados mais tarde complexos. Para seu desenvolvimento, eles
por elementos intermediários e os elementos dependem da comunicação, da aprendizagem, da
resultantes da cultura interorganizacional. confiança, do comprometimento, de significados e
Assim, nosso estudo indica que a cultura de símbolos compartilhados. Os relacionamentos
interorganizacional pode ser vista como uma cultura não são escolhidos, mas desenvolvidos (Hunt et
de intersecção, dada a associação das perspectivas al., 2006). Por outro lado, a cultura organizacional
culturais entre fornecedores e intermediários, ou, apresenta variação e contradição (Alvesson, 2013).
ainda, uma cultura de fronteiras. Isso se deve ao Este estudo analisou a contribuição dos
fato de a cultura poder criar limites e permitir relacionamentos entre comprador e vendedor nas
significados compartilhados entre fronteiras mudanças nas culturas organizacionais envolvidas.
(Halley, 2001), e os relacionamentos envolverem Foi possível identificar que os relacionamentos
o ponto de encontro de diferentes culturas interferem em questões culturais, considerando
(Plewa, 2009). Seria também possível encarar a quantidade e a qualidade de interações
a cultura interorganizacional como a cultura entre diferentes organizações, a confiança, o
dos boundary spanners, envolvendo a interação comprometimento, a cooperação e os processos
dos boundary spanners dos intermediários de aprendizagem. Essas alterações, não restritas
(incluindo os proprietários) com os das aos intermediários, interferirão na continuidade
empresas, principalmente naquelas áreas em dos relacionamentos. Sobre isso, observou-se o
que predominam, como marketing/vendas. A papel dos boundary spanners como profissionais de
cultura constrói a coesão entre as pessoas de fronteira, assim como a importância de considerar
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Notas
¹ Artigo derivado da tese de doutorado “Marketing de relacionamento e cultura organizacional: uma perspectiva
interorganizacional” defendida por Fabiano Larentis em 2010, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Escola de
Administração. Programa de Pós-Graduação em Administração, sob orientação do Prof. Dr. Luiz Antônio Slongo.
² Uma versão preliminar deste artigo foi apresentada no XXXIV EnANPAD 2010, Rio de Janeiro. “Marketing de
Relacionamento e Transformações Culturais Organizacionais: Um Estudo de Casos Múltiplos em Díades”
Sobre os autores:
1. Fabiano Larentis, Doutor em Administração, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre,
Brasil. E-mail: flarenti@ucs.br
ORCID
0000-0001-8390-0271
2. Claudia Simone Antonello, Doutora em Administração, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Porto Alegre, Brasil. E-mail: claudia.antonello@ufrgs.br
ORCID
0000-0001-9654-5125
3. Luiz Antonio Slongo, Doutor em Administração, Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil. E-mail:
luiz.slongo@ufrgs.br
ORCID
0000-0002-8269-4338
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