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Resumo
1 - Considerações Iniciais
Nos últimos trinta anos, vários países promoveram reformas de suas máquinas
públicas, num movimento que ficou conhecido como Reforma do Estado. Os motivos e os
objetivos destas iniciativas variaram entre estes diversos países, mas apresentaram alguns
pontos comuns que as identificam como partes de um mesmo fenômeno. Em relação aos
motivos, é recorrente a justificativa da crise fiscal do estado, do tamanho exagerado de sua
estrutura e da falência do modelo intervencionista. Já em relação aos objetivos, giraram em
torno da necessidade de prestar melhores serviços para a sociedade, preservar o equilíbrio
fiscal e pautar a sua atuação mais por iniciativas de regulação e fomento, ao invés de
execução direta. (SILVA, 2003, p.10-20)
O primeiro país a promover uma reforma nestes termos foi a Inglaterra, em 1979, sob
a gestão de Margareth Thatcher. É uma experiência que se modificou ao longo de sua
implantação, passando pelo Gerencialismo Puro, pelo Consumerism e pela Public Service
Orientation.
1
Bacharel em Administração Pública pela Escola de Governo da Fundação João Pinheiro; Bacharelando em
Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais; Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental
da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão de Minas Gerais.
2
Bacharel em Administração Pública pela Escola de Governo da Fundação João Pinheiro; Bacharel em Ciências
Sociais pela Universidade Federal de Minas Gerais; Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental
da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão de Minas Gerais.
3
Bacharel em Administração Pública pela Escola de Governo da Fundação João Pinheiro; Bacharel em
Administração pela Universidade Federal de Minas Gerais; Especialista em Políticas Públicas e Gestão
Governamental da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão de Minas Gerais.
O Brasil, no âmbito federal, iniciou a sua reforma do estado em 1995, por meio do
Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado. Essa iniciativa teve como pressuposto
basilar a divisão do Estado em quatro setores, tendo cada qual recebido uma sugestão de
forma de propriedade e de forma de gestão. Assim, o primeiro destes setores é o chamado
Núcleo Central, no qual se concentram os Agentes Políticos, que recebeu a sugestão de
permanência sob a propriedade estatal e forma de administração mista, burocrática e
gerencial. O segundo setor é o de Atividades Exclusivas, no qual se concentram as ações que
dependem do poder de império do Estado, que recebeu a sugestão de propriedade estatal e
forma de administração gerencial. O terceiro setor é o de Atividades Não-Exclusivas, no qual
se concentram aquelas atividades que podem ser executadas igualmente pela iniciativa
privada e pelo Poder Público, sendo usualmente executadas por este devido às externalidades
positivas que geram ou pelo grande volume de recursos requeridos. Para este setor foi
sugerida a propriedade pública não-estatal, ou, em outros termos, que fossem transferidas para
a execução por entidades de direito privado, sem fins lucrativos, sob responsabilidade e
fomento do Estado, fenômeno que foi intitulado publicização. Obviamente, a forma de
administração sugerida é a gerencial, focada em resultados e eficiência no gasto dos recursos
públicos. Por fim, o quarto setor é o de Produção para o Mercado, no qual o Estado atua como
agente privado produtor de mercadorias e serviços. Para este setor foi sugerida a retirada do
Estado por meio da privatização, ou seja, a transferência da propriedade para a iniciativa
privada. Ainda, para este setor foi sugerida a forma de administração gerencial. (MARE,
1995; PEREIRA, 1999)
2.1 – Da Qualificação
Para qualificar-se como OSCIP a Lei Estadual nº 14.870/03 dispõe que a entidade
deve ter uma das seguintes finalidades (art.4º): I – assistência social; II – cultura, defesa e
conservação do patrimônio histórico e artístico; III – ensino fundamental ou médio gratuitos;
IV – saúde gratuita; V – segurança alimentar e nutricional, VI – defesa, preservação e
conservação do meio ambiente, gestão de recursos hídricos e desenvolvimento sustentável;
VII – trabalho voluntário; VIII – desenvolvimento econômico social e combate à pobreza; IX
– experimentação não lucrativa de novos modelos socioprodutivos e de sistemas alternativos
de produção, comércio, emprego e crédito; X – defesa dos direitos estabelecidos, construção
de novos direitos e assessoria jurídica gratuita, XI – defesa da ética, da paz, da cidadania, dos
direitos humanos, da democracia e de outros valores universais, XII – estudos e pesquisas,
desenvolvimento de tecnologias, produção e divulgação de informações e conhecimentos
técnicos e científicos, XIII – fomento do esporte amador, XIV - ensino profissionalizante ou
superior. (MINAS GERAIS, 2008a)
Percebe-se, portanto, que a qualificação proposta pela lei estadual identifica as
entidades que compõem o setor privado com finalidades de interesse público, sendo um ato
vinculado do gestor público, ou seja, desde que presentes todos os requisitos legais e
entregues toda a documentação exigida, a entidade será qualificada.
Consoante informações da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão de Minas
Gerais (SEPLAG-MG), o Estado possui 130 (cento e trinta) entidades sem fins lucrativos
qualificadas como OSCIPs1, distribuídas principalmente nas áreas de assistência social, meio
ambiente e desenvolvimento econômico e social, conforme observa-se no seguinte gráfico:
OSCIPs QUALIFICADAS POR ÁREA DE ATIVIDADE
Saúde Estudos e
Cultura Pesquisas
10%
10% 9%
3 - CASES2
R$ 8.000.000,00
R$ 7.511.107,18
Arrecadação
R$ 7.000.000,00
R$ 6.000.000,00 R$ 5.690.234,83
R$ 5.000.000,00 R$ 5.301.293,70
R$ 4.115.538,75
R$ 4.000.000,00 R$ 3.931.782,24
R$ 3.000.000,00
2003 2004 2005 2006 2007
75,3
Arrecadação Própria / Receita total
60%
Realizado
50%
40%
30%
20%
10%
0%
1 2 3 4 5 6 7 8 9
Período Avaliatório
Meta Realizado
R$ 600.000,00
R$ 525.000,00
Arrecadação
R$ 450.000,00
R$ 375.000,00
R$ 300.000,00
R$ 225.000,00
R$ 150.000,00
R$ 75.000,00
R$ -
1 2 3 4 5 6 7 8 9
Período Avaliatório
Meta Realizado
120
100
80
60
40
20
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9
Período Avaliatório
Meta Realizado
4
A ELO foi criada em 2005, a partir de um grupo de professores e pesquisadores da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG), integrantes do Programa Pólos de Cidadania, que promovia a mediação de conflitos em
áreas de risco desde 1995. De acordo com informações disponíveis no site da entidade
(www.elocidadania.org.br), sua missão é “incluir e emancipar grupos sociais e indivíduos com histórico de
exclusão e trajetória de risco” e sua visão é “tornar-se referência em projetos de inclusão social”.
No primeiro semestre de 2005, 4 mil jovens eram atendidos regularmente pelo
Programa Fica Vivo!, em 2007, este número saltou para 12 mil. No Programa Mediação de
Conflitos, os atendimentos subiram de menos de 3.500 (em 2005), para quase 10 mil (em
2007). No Programa Central de Apoio às Penas Alternativas, o número de incluídos em penas
e medidas alternativas passou de 1 mil (em 2005) para quase 4 mil (em 2007). Já no Programa
de Reintegração Social do Egresso, o atendimento subiu de menos de 200 (em 2005), para
mais de 700 pessoas (em 2007).
Outro indicativo do sucesso da parceria é o reconhecimento, por parte de todos os
entrevistados, dos aspectos positivos e das vantagens trazidas pela parceria.
Por parte do Estado, foi destacada a possibilidade de ampliação da política pública, a
legitimidade da parceria, a eficiência e transparência da associação no gasto do recurso
público. De acordo com a fala de um representante da SEDS, “a boa gestão da ELO nos
permite verificar com clareza como recurso é gasto e o fato de sabermos que ela está
otimizando o uso do recurso, fortalece a parceria. Fica evidente que o Estado está gastando da
melhor forma”.
Por parte da associação a percepção é a mesma. A ELO entende que está agregando
à execução da política pública maior agilidade, eficiência, economia e rigor na gestão
financeira. Os representantes da associação afirmam que a experiência adquirida no trabalho
com indivíduos com trajetória de risco antes da parceria e o conhecimento adquirido ao longo
da parceria, permitiram-lhe entender melhor a política de prevenção à criminalidade e hoje
eles se sentem em melhores condições de contribuir com seu aprimoramento.
4 – DESAFIOS
5 - POTENCIALIDADES
A nova forma de contratualização que está sendo utilizada traz em seu bojo algumas
possibilidades interessantes de trabalhar a própria democracia. A intersetorialidade intrínseca
ao modelo, uma vez que se reúnem Primeiro e Terceiro Setor (Estado e Sociedade Civil,
respectivamente), enseja uma maior participação no que tange tanto à definição quanto à
execução das políticas públicas. Antes da formalização do Termo de Parceria, há diversos
momentos em que se reúnem o Órgão Estatal Parceiro, a OSCIP e a SEPLAG para
amadurecer o projeto, definindo seus objetivos, metas, ações e o orçamento do mesmo.
Tal aumento da participação influi diretamente na capacidade de se dar mais
transparência aos processos e resultados, haja vista que ao envolver mais de um ator, o
trabalho há que ser feito de maneira que a informação produzida seja internalizada por todos
os envolvidos, inclusive pela sociedade. Além disto, todas as informações geradas da
celebração e acompanhamento do Termo de Parceria são disponibilizadas num sitio eletrônico
pelo governo3.
Ligada ao aumento da transparência e da participação, aumenta também a
possibilidade de se promover a accountability e a responsiveness (responsividade) dos
governos4. Os entes públicos devem perceber que tornando uma política pública mais
permeável à sociedade, a probabilidade de questionamentos é maior do que no modelo de
implementação de projetos apenas por parte do Estado, aumentando por conseqüência a
possibilidade de aplicação de sanções pela sociedade aos governantes.
Agilidade / Flexibilidade
Analisando as prerrogativas e sujeições características de uma OSCIP, quando trata
com recursos públicos por meio de um Termo de Parceria, percebe-se uma maior agilidade e
flexibilidade neste modo de implementação das políticas públicas.
Apreende-se que com a não utilização dos procedimentos licitatórios, e do mecanismo
de contratação por concurso público, em que pese a utilização de um manual de compras,
aquisições e contratações, a entidade ganha em celeridade, e pode aumentar o grau de
eficiência com que realiza os projetos de interesse público.
No entanto, é importante frisar que não se quer com o modelo fugir das amarras do
Direito Administrativo, como pensam alguns autores5, as entidades estarão sempre adstritas
aos princípios da administração pública, e devem ser fiscalizadas dentro deste escopo. O que
se impõe é uma nova interpretação do mesmo em face do imperativo da administração
gerencial.
Adaptabilidade
6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante de todo o exposto, cabe enfatizar o processo de aprendizagem que tem ocorrido
ao longo destes três anos de parcerias. Pelo fato de se propor um novo arranjo institucional,
diferente dos utilizados nas últimas décadas, as dificuldades e desafios são inerentes, e
definitivamente contribuem para o aprimoramento do modelo. O que não se concorda é com a
veiculação de críticas infundadas e um apego em demasia às formas do passado que não se
apresentam no atual contexto com possibilidades de incrementar a efetividade da
implementação de políticas públicas e, por conseqüência, atender às demandas da população.
Está-se em frente a uma mudança de paradigma, e este estudo visa contribuir para a discussão
de como melhor prover os serviços de que a sociedade necessita.
Reconhece-se que o mecanismo do Termo de Parceria precisa ser aprimorado e
amadurecido, encontrando formas de minimizar influências políticas sem, contudo, perder a
noção de políticas de governo bem alinhadas, estruturadas e ágeis.
Outro ponto que deve ser aprimorado é a difusão do modelo, de modo que Órgão
Estatal Parceiro, OSCIP e Órgãos de Controle Externo e Interno, entendam a lógica da
parceria, e passem agir de forma consonante, se ajudando mutuamente, dentro dos limites da
legalidade, evitando, assim, conflitos desnecessários que podem surgir ao longo da parceria.
Em que pese os desafios atuais, entende-se que uma parceria bem discutida e bem
implementada, com a colaboração contínua dos parceiros, pode gerar resultados que o Estado
sozinho dificilmente conseguiria, haja vista os cases mencionados, em que se percebeu a
importância da sinergia entre os parceiros para o bom atingimento dos resultados.
Desta maneira, conclui-se que o Termo de Parceria deve continuar a ser utilizado para
se conseguir efetivamente medir seus resultados como instrumento de gestão capaz de
potencializar a implementação das políticas públicas. Não se quer propor a idéia de panacéia
do mecanismo, mesmo porque, se mal utilizado, pode resultar no desperdício de recursos
públicos e ineficiência, apesar disso, as possibilidades de ganhos de efetividade são visíveis e
não devem ser descartadas. Apresentou-se aqui, uma alternativa de gestão que poderá ser bem
ou mal sucedida, dependendo muito mais de seu modo de utilização pelos gestores públicos e
pelas OSCIPs do que por deficiências intrínsecas ao modelo.
Referências