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UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI – URCA

UNIVERSIDADE DESCENTRALIZADA DE IGUATU – UDI


CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS
DISCIPLINA: ECONOMIA DO CEARÁ
PROFESSORA: MARIA DANIELE CRUZ DOS SANTOS

ANÁLISE ECONÔMICO-SOCIAL – SÉCULOS XVIII E XIX

Claudênia Xavier de Souza

IGUATU – CE
2021
➢ De acordo com o vídeo sobre a Revolução Industrial, faça comparações sobre a
economia e a sociedade do Estado do Ceará e a inglesa no período. Que
características sociais inglesas se assemelham com as do cearense do século XVIII? E
do século XIX? Como ocorreu o processo evolutivo da sociedade na zona urbana na
Inglaterra e no Ceará? E o mercado de trabalho? E a tecnologia? Que indicadores
foram importantes para inserção do Ceará no comércio internacional?

No começo do século XVIII, na Inglaterra, ainda não existia cidades, apenas aldeias
com fazendas e pequenas propriedades rurais de extensos pastos abertos e grandes florestas. A
maior parte da sociedade dedicava-se à lavoura ou exercia outras atividades rurais.
Semelhantemente à Inglaterra, no Ceará, a sociedade dedicava-se a uma atividade rural, o
pastoreiro. O caráter salino do solo, as pastagens abundantes (na época das chuvas), as vastas
áreas sertanejas foram algumas das razões que possibilitaram essa atividade.

Na Inglaterra, as técnicas de cultivo eram rudimentares e as técnicas de aumento da


produção de alimentos eram desconhecidas. Os métodos da atividade pastoril, no Ceará,
também eram rudimentares, porém suficientes para a época.

Durante o inverno da Inglaterra, que era rigoroso, havia pouco alimento para os
animais de criação e a maioria morria. No Ceará acontecia algo parecido, mas, em vez de ser
o inverno, eram as calamitosas secas que dizimavam o rebanho.

Naquela época, a manufatura de lã (indústria têxtil) era a principal atividade


econômica inglesa. Em todas as casas encontrava-se uma roda de fiar e em todas as aldeias
um tear manual. Esse método de manufatura foi denominado sistema doméstico. Já no Ceará,
a principal atividade econômica estava relacionada a indústria pastoril.

Na sociedade inglesa, os mestres tecelões habitavam nas aldeias ou no campo com


todo conforto e levavam adiante os negócios com capital próprio. Ele também executava o
trabalho manual e quase todo o processo de beneficiamento de lã era realizado em sua própria
casa. Além do seu tear, ele era proprietário de uma pequena fazenda. O mestre tecelão e sua
família produziam eles próprios quase todos os produtos que consumiam. Eles cultivavam na
fazenda os cereais que os alimentavam, manufaturavam o tecido de lã com que se vestiam e
satisfaziam as demais necessidades com o produto da venda do tecido por eles manufaturado.
Tanto os aprendizes quanto os artesãos comiam e dormiam na casa do mestre tecelão. Os
mestres e seus empregados eram geralmente ligados pela feição, a ponto de não desejarem se
separar. Consequentemente, um trabalhador vivia e morria no mesmo local aonde havia
nascido. Semelhante ao que acontecia na Inglaterra, as fazendas do Ceará tinham um caráter
autônomo e auto-suficiente. A baixa rentabilidade da pecuária ensejava o uso do couro para a
fabricação de utensílios do dia-a-dia sertanejo – chapéus, roupas, bainhas de faca, botas, etc –,
além de produtos como porta das cabanas, mobílias, entre outros. Era a chamada “civilização
do couro”. Mas ao contrário da relação entre o mestre tecelão e seus empregados, nas
fazendas do Ceará imperava a vontade dos senhores proprietários, os coronéis. Um dos
empregados do coronel, o vaqueiro, era quem fazia todo o trabalho da fazenda relacionado ao
rebanho.

Na Inglaterra, o pagamento do aprendiz de tecelagem era muito pouco e, por esse


motivo, o relacionamento entre o mestre e os trabalhadores tinha seus conflitos. Naquela
época, existia uma lei do governo proibindo aos trabalhadores de fazerem greve para
reivindicar aumento salarial. O trabalhador dificilmente se arriscava a fazer greve e não podia
procurar trabalho em outro lugar, recebia uma remuneração irrisória pelo seu serviço. Ele
ocupava, na realidade, uma posição intermediária entre escravo e homem livre, ou mais
precisamente, entre servo e cidadão. No Ceará, o vaqueiro não recebia salário – após trabalhar
certo tempo na fazenda (geralmente 4 ou 5 anos), recebia uma cria de cada quatro nascidas
anualmente. Assim, com o tempo, poderia o vaqueiro fundar uma fazenda por conta própria
(daí por que a condição de vaqueiro era uma situação que muitos desejavam).

Por volta de 1760, a nação inglesa começou a se transformar e o estilo de vida do povo
inglês iria sofrer uma transformação radical. Essa transformação é a chamada Revolução
Industrial. No ano de 1765, a máquina de fiação manual foi aperfeiçoada passando a ter fusos
múltiplos. Dessa forma, em vez de fiar um fio de cada vez, fiava-se oito fios,
simultaneamente, movidos com uma manivela. Logo depois, foi desenvolvida uma outra
máquina, que fiava dezesseis fios ao mesmo tempo. Uma pessoa podia realizar o trabalho que
antes era executado por mais de cem pessoas. Em 1784, foi criado o tear mecânico, uma
máquina na qual era movimentada através da fonte de energia produzida pela força da água
corrente. Essa máquina acelerou, assim, o processo de industrialização e o trabalho manual,
na indústria têxtil, como também o sistema doméstico de manufatura foram abandonados. A
produção passou a ser realizada em prédios aonde funcionavam vários teares. Dessa forma, a
partir dessa época, o tecelão passou a morar em um lugar e a trabalhar em outro. Por volta de
1781, o motor a vapor, desenvolvido para retirar água das minas de carvão, foi aperfeiçoado e
convertido em grande fonte de força. Ele era barato e podia ser utilizado para dar movimento
a todos os tipos de máquina. Com esse novo motor a vapor e com o aperfeiçoamento dos
métodos de beneficiamento do ferro e do aço, a Revolução Industrial era um fato consumado.
Com isso, a máquina de fiação e o tear manual foram abandonados. Começaram a surgir as
grandes cidades e no lugar do mestre tecelão apareceu o capitalista, proprietário de muitos
teares e empregador de centenas de trabalhadores. Já no Ceará, nessa época, não era
desenvolvido nada na área da tecnologia. Nessa época, os rebanhos bovinos eram conduzidos
pelos tangerinos para a venda em outras capitanias. Percorriam muitas “estradas sertanejas” e,
nos cruzamentos de muitas destas, surgiram algumas cidades. A venda de gado em algumas
capitanias não era tão lucrativo – o gado emagrecia, perdia-se, morria por ataque de feras, era
assaltado. Havia ainda o peso dos impostos. Assim, os criadores do gado do litoral passaram a
vender seus rebanhos na forma de charque (carne seca salgada ao sol), produzido nas oficinas
ou charqueadas. Para o desenvolvimento das charqueadas no litoral cearense, contribuíram,
entre outros aspectos, o próprio fato da técnica salineira não exigir muitos conhecimentos e
nem muito investimento. O charque trouxe mudanças socioeconômicas para o Ceará.
Verificou-se uma divisão de trabalho na capitania (áreas para criar gado e áreas para
charquear), uma maior integração comercial entre sertão e litoral, um crescimento do
pequeníssimo mercado interno local, o enriquecimento de um grupo de latifundiários e
comerciantes, o crescimento de centros urbanos e uma diversificação de produção
(comercialização e até exportação de couro). Contudo, no final do século XVIII, o charque
local entrou em decadência, devido às calamitosas secas do período (que dizimavam os
rebanhos), a concorrência com Rio Grande do Sul, e a atenção que os cearenses passaram a
dar ao algodão (que então alcançava bons preços no mercado externo). Foi então que a
atividade de cotonicultura começou a ser desenvolvida no Ceará. Isso devido, principalmente,
aos bons preços do algodão no mercado internacional e à demanda da Inglaterra, que usava a
fibra em suas fábricas têxteis, típicas da primeira fase da Revolução Industrial. Pela primeira
vez o Ceará tinha um produto voltado diretamente para o mercado internacional.

Com a Revolução Industrial, a Inglaterra transformou-se na fábrica do mundo no


século XIX. Ser um inglês, no início do século XIX, significava ter acesso, se fosse um inglês
rico, a todas as comodidades e prazeres que o mundo podia oferecer. Mas, nesse período, a
maior parte da sociedade caía cada vez mais na indigência e na miséria. As crianças
começavam a trabalhar na tecelagem com 7 anos e tinham uma carga horária de trabalho de,
aproximadamente, 15 horas por dia. Os homens eram empregados nas minas de carvão para o
serviço de escavação. As mulheres e também algumas crianças eram encarregadas de arrastar
a carga do carvão bruto. Trabalhavam presos com um cinto e uma corrente juntamente à
família. O novo poderil econômico inglês e a supremacia no comércio mundial sustentavam-
se na exploração da mão de obra e moradias subumanas, e na imensa miséria do proletariado.
No Ceará, a atividade de cotonicultura pouco empregou-se o negro escravo – o curto ciclo
vegetativo da fibra tornava desvantajoso o emprego de muitos africanos. Era mais barato usar
mulheres e crianças ou a mão de obra livre não absorvida no pastoreio.

O problema social, na Inglaterra, era dramático e ela seria fatalmente tragada por uma
revolução civil sangrenta, mas, apesar de tudo, a revolução sangrenta não foi tão severa como
foi na França, e isso por dois motivos: a reforma e a produtividade. Durante anos houve muito
debate público pela reforma dos males sociais causados pela Revolução Industrial. Em 1842,
o parlamento aprovou a primeira de uma longa série de reformas, a Lei das Minas,
determinando que, a partir daquela data, o trabalho de mulheres e crianças menores de 10
anos, nas minas de carvão, estava proibido. Em 1847, foi aprovada a Lei das 10 horas, na qual
determinava que, a jornada de trabalho de mulheres e crianças, na indústria têxtil, não deveria
ser superior a 10 horas. Em 1875, os sindicatos, que até aquela data tinha os seus poderes de
negociação limitados por lei, ganharam proteção legal. A partir de então, o operário tinha o
amparo legal para se reunir com seus companheiros em defesa de melhores condições de
trabalho, redução da jornada e aumento salarial. Assim como a reforma, a produtividade
evitou outros problemas sociais da industrialização que causassem uma revolução civil. Um
exemplo referente à produção é que, na época do trabalho manual, antes do advento das
máquinas, a produção de um sapato exigia, aproximadamente, 18 horas de trabalho, pois um
único artesão executava todas as etapas de produção. O preço do sapato feito a mão era
elevado e consequentemente poucas pessoas podiam pagar. Com o advento da máquina, a
produtividade dos trabalhadores cresceu espantosamente e implementou-se a divisão do
trabalho. Do beneficiamento do couro até o produto acabado, cada operário executava
somente uma operação, repetindo-a várias vezes. Desde que o couro estivesse beneficiado,
um sapato podia ser produzido em menos de 20 minutos. Dessa forma, cada homem produzia
mais, graças à máquina, e sua produtividade cresceu. As horas de trabalho em toda indústria
foram diminuídas, o salário aumentou e os preços dos produtos baixaram. Assim, o operário
podia comprar o seu próprio produto e mais pessoas podiam se beneficiar da crescente riqueza
do país. No Ceará, na segunda metade do século XIX, o comércio de algodão favoreceu
Fortaleza, que passou a crescer a passos largos, superando Aracati (abalada com a crise do
charque) e assumindo a condição de principal núcleo urbano cearense. Fortaleza começou a
ser dotada de uma infra-estrutura administrativa (porto, estrada, alfândega, etc.), que
possibilitou tornar-lhe o grande centro coletor e exportador de algodão do Ceará. No final do
período colonial, devido à recuperação da cotonicultura dos EUA, o algodão e, por
conseqüência, o próprio Ceará entraram em crise, o que contribuiu para o envolvimento de
cearenses na “Revolução” Pernambucana de 1817 e na Confederação do Equador. O auge do
algodão cearense aconteceu nesse período, beneficiado com a desorganização da produção
americana em virtude da Guerra da Secessão (1861-65).

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