Trata-se de recurso especial interposto pela UNIÃO, com fundamento no art. 105, inciso III, alínea a, da Constituição Federal, em face de decisão proferida pelo Tribunal Regional Federal da 2.ª Região, que restou ementada nos seguintes termos, litteris : "ADMINISTRATIVO - LEI 8.112/90 - ARTIGO 230 - RESSARCIMENTO - DESPESAS MÉDICAS - MAGISTRADO - INEXISTÊNCIA - CERCEAMENTO - DEFESA. I - Inexistência de cerceamento de defesa, já que o ônus da prova é da União Federal, que deveria diligenciar a juntada dos votos que indeferiram o pleito do autor na esfera administrativa; II - Desnecessária a intervenção do Ministério Público Federal, já que não incide a hipótese do artigo 82, do Código de Processo Civil; III - O artigo 230, da Lei 8.112/90 assegura ao servidor público federal o direito à assistência médica, nele se inserindo o magistrado; IV - Deve ser reconhecido o direito do magistrado em ter ressarcida as despesas médicas, farmacêuticas e ambulatoriais por ele efetuadas, em época em que não havia nem para os servidores da Justiça Federal de 1ª Instância, nem para os magistrados a assistência à saúde; V - Os juros de mora devem incidir a partir da citação; VI - Recurso improvido e remessa necessária parcialmente provida." (fl. 137) Sustenta a União, nas razões do especial, contrariedade ao art. 230 da Lei n.º 8.112/90. Aduz, para tanto, que a mencionada Lei tem como destinatários os servidores públicos federais, sendo, pois, equivocada a sua extensão aos magistrados. Alega, também, negativa de vigência ao art. 399 do Código de Processo Civil, asseverando a ocorrência de cerceamento de defesa. É o relatório.
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Superior Tribunal de Justiça RECURSO ESPECIAL Nº 397.498 - ES (2001/0193337-0)
EMENTA
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. CERCEAMENTO
DE DEFESA. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. MAGISTRADO. INEXISTÊNCIA DE PLANO DE SAÚDE. PEDIDO DE RESSARCIMENTO DE DESPESAS MÉDICO-HOSPITALARES. ART. 230 DA LEI N.º 8.112/90. DIREITO INEXISTENTE. 1. Para se inverter o julgado do Tribunal a quo, que reconheceu a inexistência de cerceamento de defesa, seria imprescindível, in casu, o reexame do conjunto fático-probatório constante dos autos, o que não se coaduna com a via eleita, por força do comando da Súmula n.º 7 desta Corte. 2. A Lei n.º 8.112/90 é aplicável aos servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais, não estando os magistrados incluídos nesse conceito. 3. Ainda que se pudesse cogitar da aplicabilidade subsidiária do art. 230 da Lei n.º 8.112/90 na hipótese sub examine – tendo em vista que a Lei Orgânica da Magistratura Nacional não trata da questão ora apreciada –, não seria possível o reconhecimento do pretendido direito, já que o mencionado dispositivo não impõe, às entidades e aos órgãos públicos, a obrigatoriedade de firmarem convênio com plano de saúde privado ou de fornecerem, diretamente, a assistência médico-hospitalar. 4. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, provido.
VOTO
EXMA. SRA. MINISTRA LAURITA VAZ (RELATORA):
Inicialmente, no tocante ao alegado cerceamento de defesa, o Tribunal a quo entendeu ser desnecessária a juntada dos votos que indeferiram o pedido do Autor na esfera administrativa, por considerar que tal providência seria meramente protelatória. Desse modo, não pode esta Corte concluir diversamente, em face do óbice sumular n.º 07 deste Tribunal. A propósito: "PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. DISSÍDIO PRETORIANO NÃO-DEMONSTRADO. SUPOSTA VIOLAÇÃO DOS ARTS. 126, 237, 245 E 525, DO CPC. CERCEAMENTO DE DEFESA E NULIDADE REJEITADOS PELO TRIBUNAL A QUO. REEXAME DE FATOS E PROVAS. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. DESPROVIMENTO. [...] 4. O julgamento da pretensão recursal – para fins de afastar a convicção firmada pelo julgador a quo e, assim, reconhecer eventual cerceamento de defesa – pressupõe, necessariamente, o reexame do contexto fático-probatório, atividade cognitiva vedada nesta instância Documento: 1993178 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 2 de 4 Superior Tribunal de Justiça superior (Súmula 7/STJ) . 5. Agravo regimental desprovido." (AgRg no REsp 625.827/RJ, 1.ª Turma, Rel. Min. DENISE ARRUDA, DJ de 31/08/2006; sem grifo no original.) No mais, a controvérsia restringe-se em saber se o ora Recorrido, Juiz Federal do Estado do Espírito Santo, tem direito ao ressarcimento, pela União, das despesas médico-hospitalares realizadas em época em que os magistrados e servidores federais daquela Seção Judiciária não tinham plano de assistência à saúde oferecido pelo Tribunal, em face do que dispõe o art. 230 da Lei n.º 8.112/90. O Tribunal a quo decidiu a controvérsia nos seguintes termos, litteris : "[...] O artigo 230, da Lei n. 8.112/90 assegura ao servidor público federal o direito à assistência à saúde, quando dispõe que: "Art. 230. A assistência à saúde do servidor, ativo ou inativo, e de sua família, compreende assistência médica, hospitalar, odontológica, psicológica e farmacêutica, prestada pelo Sistema Único de Saúde ou diretamente pelo órgão ou entidade ao qual estiver vinculado o servidor, ou, ainda, mediante convênio, na forma estabelecida em regulamento." Pela simples leitura do dispositivo supracitado, depreende-se que o direito à assistência médica, hospitalar, odontológica e farmacêutica (ambulatorial) é garantido a todo servidor, nele se insere o magistrado." (fls. 133/134) De início, cumpre esclarecer que a Lei n.º 8.112/90 é aplicável aos servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais, não estando os magistrados incluídos nesse conceito. Noutra vertente, ainda que se possa cogitar de sua aplicabilidade subsidiária em determinadas situações, tendo em vista que a LOMAN – Lei Complementar n.º 35, de 14 de março de 1979 (Lei Orgânica da Magistratura Nacional) – não trata da questão sub examine, compulsando os termos do aludido dispositivo legal (art. 230 da Lei n.º 8.112/90), não se vislumbra a existência do pretendido direito, in verbis : "Art. 230. A assistência à saúde do servidor, ativo ou inativo, e de sua família, compreende assistência médica, hospitalar, odontológica, psicológica e farmacêutica, prestada pelo Sistema Único de Saúde ou diretamente pelo órgão ou entidade ao qual estiver vinculado o servidor, ou, ainda, mediante convênio, na forma estabelecida em regulamento. " Como se vê, o art. 230 da Lei n.º 8.112/90 limita-se a estabelecer a proteção à saúde dos servidores, sem impor, contudo, aos órgãos e às entidades públicas, a obrigatoriedade de firmarem convênio com plano de saúde privado ou de fornecerem, diretamente, a assistência médico-hospitalar. Documento: 1993178 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 3 de 4 Superior Tribunal de Justiça Ademais, a utilização do plano de saúde oferecido pelas entidades e órgãos públicos é facultativa para o servidor, o qual poderá não julgar conveniente, por exemplo, a forma de custeio, os profissionais credenciados ou a cobertura oferecida, hipótese em que poderá, inclusive, optar por aderir a um outro plano de saúde privado. Assim, entendo inexistir obrigação de reembolso, pela União, ao ora Recorrido, com base no art. 230 da Lei n.º 8.112/90, já que o mencionado dispositivo, ao contrário do concebido pelas instâncias ordinárias, não disciplina a obrigatoriedade de ressarcimento dos serviços de atendimento à saúde prestados pela rede privada. Ante o exposto, CONHEÇO PARCIALMENTE do recurso especial e, nessa extensão, DOU-LHE PROVIMENTO, a fim de julgar improcedente o pedido autoral, invertendo-se os ônus sucumbenciais. É como voto.
MINISTRA LAURITA VAZ
Relatora
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