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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 397.498 - ES (2001/0193337-0)

RELATÓRIO

EXMA. SRA. MINISTRA LAURITA VAZ:


Trata-se de recurso especial interposto pela UNIÃO, com fundamento no art.
105, inciso III, alínea a, da Constituição Federal, em face de decisão proferida pelo Tribunal
Regional Federal da 2.ª Região, que restou ementada nos seguintes termos, litteris :
"ADMINISTRATIVO - LEI 8.112/90 - ARTIGO 230 -
RESSARCIMENTO - DESPESAS MÉDICAS - MAGISTRADO -
INEXISTÊNCIA - CERCEAMENTO - DEFESA.
I - Inexistência de cerceamento de defesa, já que o ônus da prova é
da União Federal, que deveria diligenciar a juntada dos votos que
indeferiram o pleito do autor na esfera administrativa;
II - Desnecessária a intervenção do Ministério Público Federal, já
que não incide a hipótese do artigo 82, do Código de Processo Civil;
III - O artigo 230, da Lei 8.112/90 assegura ao servidor público
federal o direito à assistência médica, nele se inserindo o magistrado;
IV - Deve ser reconhecido o direito do magistrado em ter ressarcida
as despesas médicas, farmacêuticas e ambulatoriais por ele efetuadas, em
época em que não havia nem para os servidores da Justiça Federal de 1ª
Instância, nem para os magistrados a assistência à saúde;
V - Os juros de mora devem incidir a partir da citação;
VI - Recurso improvido e remessa necessária parcialmente
provida." (fl. 137)
Sustenta a União, nas razões do especial, contrariedade ao art. 230 da Lei n.º
8.112/90. Aduz, para tanto, que a mencionada Lei tem como destinatários os servidores públicos
federais, sendo, pois, equivocada a sua extensão aos magistrados.
Alega, também, negativa de vigência ao art. 399 do Código de Processo Civil,
asseverando a ocorrência de cerceamento de defesa.
É o relatório.

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RECURSO ESPECIAL Nº 397.498 - ES (2001/0193337-0)

EMENTA

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. CERCEAMENTO


DE DEFESA. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA.
IMPOSSIBILIDADE. MAGISTRADO. INEXISTÊNCIA DE PLANO DE
SAÚDE. PEDIDO DE RESSARCIMENTO DE DESPESAS
MÉDICO-HOSPITALARES. ART. 230 DA LEI N.º 8.112/90. DIREITO
INEXISTENTE.
1. Para se inverter o julgado do Tribunal a quo, que reconheceu a
inexistência de cerceamento de defesa, seria imprescindível, in casu, o reexame
do conjunto fático-probatório constante dos autos, o que não se coaduna com a
via eleita, por força do comando da Súmula n.º 7 desta Corte.
2. A Lei n.º 8.112/90 é aplicável aos servidores públicos civis da União,
das autarquias e das fundações públicas federais, não estando os magistrados
incluídos nesse conceito.
3. Ainda que se pudesse cogitar da aplicabilidade subsidiária do art. 230
da Lei n.º 8.112/90 na hipótese sub examine – tendo em vista que a Lei Orgânica
da Magistratura Nacional não trata da questão ora apreciada –, não seria possível
o reconhecimento do pretendido direito, já que o mencionado dispositivo não
impõe, às entidades e aos órgãos públicos, a obrigatoriedade de firmarem
convênio com plano de saúde privado ou de fornecerem, diretamente, a
assistência médico-hospitalar.
4. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, provido.

VOTO

EXMA. SRA. MINISTRA LAURITA VAZ (RELATORA):


Inicialmente, no tocante ao alegado cerceamento de defesa, o Tribunal a quo
entendeu ser desnecessária a juntada dos votos que indeferiram o pedido do Autor na esfera
administrativa, por considerar que tal providência seria meramente protelatória. Desse modo, não
pode esta Corte concluir diversamente, em face do óbice sumular n.º 07 deste Tribunal.
A propósito:
"PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO
ESPECIAL. DISSÍDIO PRETORIANO NÃO-DEMONSTRADO. SUPOSTA
VIOLAÇÃO DOS ARTS. 126, 237, 245 E 525, DO CPC. CERCEAMENTO DE
DEFESA E NULIDADE REJEITADOS PELO TRIBUNAL A QUO. REEXAME
DE FATOS E PROVAS. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ.
DESPROVIMENTO.
[...]
4. O julgamento da pretensão recursal – para fins de afastar a
convicção firmada pelo julgador a quo e, assim, reconhecer eventual
cerceamento de defesa – pressupõe, necessariamente, o reexame do
contexto fático-probatório, atividade cognitiva vedada nesta instância
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superior (Súmula 7/STJ) .
5. Agravo regimental desprovido." (AgRg no REsp 625.827/RJ, 1.ª
Turma, Rel. Min. DENISE ARRUDA, DJ de 31/08/2006; sem grifo no original.)
No mais, a controvérsia restringe-se em saber se o ora Recorrido, Juiz Federal do
Estado do Espírito Santo, tem direito ao ressarcimento, pela União, das despesas
médico-hospitalares realizadas em época em que os magistrados e servidores federais daquela
Seção Judiciária não tinham plano de assistência à saúde oferecido pelo Tribunal, em face do que
dispõe o art. 230 da Lei n.º 8.112/90.
O Tribunal a quo decidiu a controvérsia nos seguintes termos, litteris :
"[...]
O artigo 230, da Lei n. 8.112/90 assegura ao servidor público
federal o direito à assistência à saúde, quando dispõe que:
"Art. 230. A assistência à saúde do servidor, ativo ou inativo, e
de sua família, compreende assistência médica, hospitalar, odontológica,
psicológica e farmacêutica, prestada pelo Sistema Único de Saúde ou
diretamente pelo órgão ou entidade ao qual estiver vinculado o servidor,
ou, ainda, mediante convênio, na forma estabelecida em regulamento."
Pela simples leitura do dispositivo supracitado, depreende-se que o
direito à assistência médica, hospitalar, odontológica e farmacêutica
(ambulatorial) é garantido a todo servidor, nele se insere o magistrado."
(fls. 133/134)
De início, cumpre esclarecer que a Lei n.º 8.112/90 é aplicável aos servidores
públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais, não estando os
magistrados incluídos nesse conceito.
Noutra vertente, ainda que se possa cogitar de sua aplicabilidade subsidiária em
determinadas situações, tendo em vista que a LOMAN – Lei Complementar n.º 35, de 14 de
março de 1979 (Lei Orgânica da Magistratura Nacional) – não trata da questão sub examine,
compulsando os termos do aludido dispositivo legal (art. 230 da Lei n.º 8.112/90), não se
vislumbra a existência do pretendido direito, in verbis :
"Art. 230. A assistência à saúde do servidor, ativo ou inativo, e de
sua família, compreende assistência médica, hospitalar, odontológica,
psicológica e farmacêutica, prestada pelo Sistema Único de Saúde ou
diretamente pelo órgão ou entidade ao qual estiver vinculado o servidor, ou,
ainda, mediante convênio, na forma estabelecida em regulamento. "
Como se vê, o art. 230 da Lei n.º 8.112/90 limita-se a estabelecer a proteção à
saúde dos servidores, sem impor, contudo, aos órgãos e às entidades públicas, a obrigatoriedade
de firmarem convênio com plano de saúde privado ou de fornecerem, diretamente, a assistência
médico-hospitalar.
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Ademais, a utilização do plano de saúde oferecido pelas entidades e órgãos
públicos é facultativa para o servidor, o qual poderá não julgar conveniente, por exemplo, a forma
de custeio, os profissionais credenciados ou a cobertura oferecida, hipótese em que poderá,
inclusive, optar por aderir a um outro plano de saúde privado.
Assim, entendo inexistir obrigação de reembolso, pela União, ao ora Recorrido,
com base no art. 230 da Lei n.º 8.112/90, já que o mencionado dispositivo, ao contrário do
concebido pelas instâncias ordinárias, não disciplina a obrigatoriedade de ressarcimento dos
serviços de atendimento à saúde prestados pela rede privada.
Ante o exposto, CONHEÇO PARCIALMENTE do recurso especial e, nessa
extensão, DOU-LHE PROVIMENTO, a fim de julgar improcedente o pedido autoral,
invertendo-se os ônus sucumbenciais.
É como voto.

MINISTRA LAURITA VAZ


Relatora

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