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Janeiro 2019
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COORDENAÇÃO TÉCNICA E EQUIPA DE PERITOS
CIENTÍFICA
Ana Filipa Santos
Médica interna de Pneumologia no Hospital de
Pedro Vasconcelos Egas Moniz - Centro Hospital Lisboa Ocidental
Enfermeiro do Instituto Nacional de Emergência Médica na VMER de Cascais
Médica, com competência VMER e SIV
Enfermeiro da ambulância SIV Lisboa e do SHEM
– Serviço de Helitransporte de Emergência Cláudia Alfarrobinha
Médica Enfermeira no serviço de urgência pediátrica do
Enfermeiro especialista em Enfermagem Hospital São Bernardo
Médico-Cirúrgica Enfermeira especialista em Enfermagem Médico-
Mestre em Enfermagem à Pessoa em Situação Cirúrgica
Crítica Mestre em Enfermagem à Pessoa em Situação
Pós-graduado em Intervenção Humanitária e Crítica
Catástrofe Instrutora de SBV e SAV Pediátrico do Hospital São
Instrutor ITLS - International Trauma Life Support Bernardo
Instrutor de SBV e SAV pela American Heart
Association Nuno Delicado
Formador do INEM – Instituto Nacional de Enfermeiro no serviço de urgência do Centro
Emergência Médica Hospitalar Lisboa Central.
Professor Coordenador da Pós-Graduação de
Gestão da Emergência Pré-Hospitalar do ISCIA –
Instituto Superior de Ciências da Informação e da
Administração
Stephanie Mer
Médica interna de Anestesiologia no Hospital São
Francisco Xavier - Centro Hospital Lisboa
Ocidental
Médica na VMER de São Francisco Xavier
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ABREVIATURAS
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ÍNDICE
0.INTRODUÇÃO 6
Pedro Vasconcelos
3.TRANSPORTE INTRA-HOSPITALAR 18
Pedro Vasconcelos, Paulo Monteiro
4.TRANSPORTE INTER-HOSPITALAR 23
Pedro Vasconcelos
5.TRANSPORTE TERRESTRE 26
Pedro Vasconcelos
6.TRANSPORTE AÉREO 30
Pedro Vasconcelos
9.CHOQUE 49
Pedro Vasconcelos
10.MONITORIZAÇÃO HEMODINÂMICA 54
Paulo Monteiro
12.TRANSPORTE DO POLITRAUMATIZADO 64
Pedro Vasconcelos
13.TRANSPORTE DO QUEIMADO 69
Tiago Amaral
14.TRANSPORTE DA CRIANÇA 73
Cláudia Alfarrobinha, Rui Pereira
APÊNDICES 85
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0.INTRODUÇÃO
O transporte do doente crítico é uma realidade que médicos e enfermeiros que trabalham em
qualquer serviço hospitalar lidam diariamente. Seja na transferência de doentes instáveis para o
bloco operatório ou para a realização de exames fundamentais ao seu diagnóstico e
tratamento, seja entre serviços com um nível assistencial inferior para outros de maior
diferenciação, todos os dias ocorrem dezenas de transportes de doentes em situação crítica em
qualquer hospital do país. Com o objectivo de dar resposta a esta necessidade, foi publicado o
despacho nº 10319/2014 que define as características da rede de serviços de urgência e os seus
níveis de responsabilidade, sublinhando a formação pós-graduada que médicos e enfermeiros
devem deter. Este despacho define que, para todos os níveis da rede, tanto médicos como
enfermeiros devem ser detentores, entre outras, de formação em transporte de doente crítico.
Surge assim este curso de transporte de doente crítico que muito orgulho temos em apresentar,
de forma a oferecer a médicos e enfermeiros uma oferta pedagógica de qualidade e que se
pretende venha ser de referência a nível nacional. Não sendo um pré-requisito para a
frequência do curso, é no entanto desejável que os médicos e enfermeiros que o frequentam
detenham já formação e experiência em suporte avançado de vida e do suporte avançado de
trauma.
O manual que serve de sustentação teórica ao curso foi elaborado tendo em conta os
documentos nacionais e internacionais mais relevantes nesta temática, incorporando a revisão
de artigos de relevância científica que ofereçam ao leitor a mais recente evidência disponível
na área do transporte do doente crítico.
Pedro F. Vasconcelos
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1.EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO TRANSPORTE DO DOENTE CRÍTICO
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sentida por todo o país, o Governo cria o então a concessão de alvarás para a
Serviço Nacional de Ambulâncias (SNA) em actividade de transporte de doentes.
1971, através do Decreto-Lei nº 511/71 de 22
de Novembro, assumindo assim o SNA o As pontes urgiam criar entre os normativos e
papel de Coordenação do Serviço 115 e as boas práticas, levaram a que a
alargando o sistema a todo o território, Sociedade Portuguesa de Cuidados
coordenando as actividades das várias Intensivos (SPCI) publicasse em 1997 o seu
entidades que concorriam para o primeiro Guia de Transporte de Doentes
funcionamento do sistema: Bombeiros, Cruz Críticos, a que se seguiram em 2001 a ARS
Vermelha Portuguesa, PSP e GNR. Norte com a Norma de Transporte de
Transporte Secundário de Doentes.
Percebendo-se que um Sistema de
Emergência Extra-Hospitalar seria Mais recentemente, em 2008 a Sociedade
indissociável dos Cuidados Hospitalares, Portuguesa de Cuidados Intensivos revê o
através de Resolução do Conselho de Guia de Transporte de Doentes em
Ministros, a 11 de março de 1980 foi criado conjunto com a Ordem dos Médicos,
o Gabinete de Emergência Médica (GEM), criando um documento orientador e de
que teve como objectivo estudar um recomendações para o Transporte de
modelo de funcionamento de um Doente Crítico adaptado à luz do
organismo coordenador do Sistema conhecimento e tendo em consideração o
Integrado de Emergência Médica. É a partir impacto no aumento do número de
do trabalho realizado pelo GEM que é transportes associado à reorganização da
criado através do Decreto-Lei nº 234/81, o rede de Urgências e encaminhamento. Em
Instituto Nacional de Emergência Médica, 2012, o INEM elabora o seu manual de
extinguindo-se assim o SNA e o GEM, transporte de doente crítico que serve de
passando o INEM a assumir a função de fundamentação teórica para um módulo
organismo coordenador do Sistema de formação integrado nos cursos de VMER
Integrado de Emergência Médica em e SIV.
Portugal.
Importa assim perceber que actualmente o
Compete desde então ao INEM, entre Transporte do Doente Crítico em Portugal se
outras atribuições, o transporte assistido das deve orientar através de três normativos: o
vítimas para o local adequado e a actual Regulamento de Transporte de
articulação entre os vários intervenientes do Doentes, publicado através da Portaria do
SIEM. Ministério da Saúde n.º 260/2014 de 15 de
Dezembro, o Transporte Regional do
O transporte do doente crítico conforme o Doente Crítico publicado com o Despacho
conhecemos hoje, tem uma história muito n.º 10109/2014 de 6 de Agosto do Gabinete
recente. Desde sempre que os Hospitais do Secretário de Estado Adjunto do Ministro
criaram e mantiveram processos que da Saúde e o Transporte Integrado do
visavam o transporte de doentes entre si. Doente Crítico publicado no Despacho
n.º5058-D/2016 do Gabinete do Secretário
As dimensões e formas do transporte do de Estado Adjunto e da Saúde
doente crítico variam à escala planetária e
regional, objectivando-se, no entanto, em O actual Regulamento de Transporte de
1992 a criação de Normas de Boas Práticas Doentes define regras, com vista a
Clínicas para o Transporte Secundário de disciplinar, em concreto, e de forma
Doentes, pela Sociedade Americana de distinta, o exercício da actividade de
Cuidados Intensivos. transporte de doentes urgentes e
emergentes, por um lado, e por outro, o
Foi também em 1992 que em Portugal se dá exercício da actividade de transporte de
os primeiros passos para a criação de um doentes não urgentes.
Enquadramento Legal para o Transporte de
Doentes com a publicação do Decreto-Lei No que ao Transporte de Doentes em
n.º 38/92, passando a haver a partir de Situação Crítica diz respeito o mesmo
regulamento prevê a existência de
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Ambulâncias de Socorro e de Ambulâncias urgência básicos, médico-cirúrgicos ou
de Cuidados Intensivos, permitindo assim polivalentes devem deter formação
separar as actividades de Emergência Extra específica em transporte de doente crítico.
Hospitalar, do transporte secundário do
Doente Crítico, sendo que as suas Importa por fim perceber de que forma se
configurações e equipamento exigidos organiza o Transporte Integrado do Doente
variam entre si indo de encontro não só às Crítico, uma vez que este é assegurado no
necessidades das equipas de emergência âmbito do SIEM e o INEM assume um papel
extra hospitalar / transporte de doente de apoio e suporte aos estabelecimentos
crítico, mas acima de tudo de forma a se hospitalares do Serviço Nacional de Saúde
adaptar à organização dos serviços de no que ao Transporte de Doentes Críticos
emergência existentes em Portugal. diz respeito.
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2. ORGANIZAÇÃO DO TRANSPORTE DO DOENTE CRÍTICO
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Qualquer transporte acarreta custos e Considerando todos os riscos associados ao
riscos, quer para o doente quer para a transporte do doente crítico, a primeira
equipa de transporte, pelo que é tarefa da equipa de transporte será evitar
fundamental reflectir e ponderar muito bem todos os transportes considerados
se a realização de um determinado exame desnecessários ou cujos riscos sejam
traz benefícios para o tratamento do superiores ao eventual benefício do
doente que superem os riscos. transporte.
DECISÃO DO TRANSPORTE
SEGURANÇA NO TRANSPORTE
Tal como referido no ponto anterior, o
primeiro passo no transporte do doente
De uma forma conceptual, podemos definir crítico é decidir se, de facto, o transporte é
a segurança no transporte como a ou não desnecessário para o doente ou se
ausência de erros ou de eventos adversos os riscos associados ao transporte são
com potencial dano para o doente. De superiores ao benefício que dele o doente
uma forma pragmática, podemos afirmar poderá extrair.
que um transporte seguro é aquele em que
não existe deterioração do doente durante A decisão de transportar um doente crítico
o transporte. é, em Portugal e de acordo com a
Sociedade Portuguesa de Cuidados
Alguns dos eventos adversos mais comuns Intensivos, um acto médico.
que podem condicionar risco e/ou
agravamento da condição clínica do Nesta etapa devem ser equacionados os
doente durante o transporte estão riscos do transporte face aos eventuais
relacionados com perda de via aérea benefícios, nomeadamente em situações
definitiva durante o transporte, falha de de hipoxémia, instabilidade hemodinâmica,
equipamentos, degradação da condição hipertensão intra-craneana ou risco de
clínica do doente por má avaliação prévia agravamento de lesão medular. O princípio
ao transporte, perda de acessos ou drenos deverá ser o transporte do doente após a
e transporte efectuado por profissionais sem sua estabilização no serviço referente. No
formação específica em transporte de entanto, situações haverá em que será
doente crítico. imprescindível o transporte do doente
crítico ainda que instável, com o objectivo
Apesar de existirem cada vez mais de o colocar no local de tratamento
publicações científicas dentro deste tema, definitivo. Bom exemplo disto é o transporte
a verdade é que continua a ser difícil do politraumatizado que necessita de
consubstanciar em números as abordagem cirúrgica urgente ou do doente
complicações ocorridas no transporte do em falência renal que necessita de
doente crítico. Dificuldades na definição de instituição emergente de técnica dialítica.
erros ou eventos adversos, transportes Tanto numa situação como noutra não
efectuados sob a responsabilidade de existem gestos terapêuticos que resolvam o
diversas entidades e a ausência de registos problema de base pelo que a transferência
clínicos durante o transporte contribuem para o local de tratamento definitivo (bloco
para a falta de números e de evidência. operatório ou unidade de cuidados
intensivos) é prioritária e emergente.
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Já em âmbito de UCI, o transporte está Equipamento certo: selecção do
muitas vezes relacionado com a equipamento certo, incluindo
necessidade de realização de exames que equipamento de VA e ventilação,
sejam considerados necessários e monitorização e mala de transporte;
imprescindíveis para melhor dirigir o Documentação certa: garantir que
tratamento do doente internado. toda a documentação clínica
relevante do doente acompanha o
Em âmbito de serviço de internamento, a doente no transporte.
decisão de transporte do doente crítico
está geralmente relacionada com um O contacto prévio com o serviço de destino
episódio de descompensação aguda do é um aspecto fundamental do
doente internado, que necessita de um planeamento do transporte do doente
outro local com maior capacidade de crítico. Seja para a realização de um
tratamento ou monitorização. Um bom exame, seja para uma transferência para
exemplo disso é uma paragem cardio- uma UCI, o serviço de destino deve ser
respiratória recuperada, que necessitará de contactado previamente, não apenas para
transferência para UCI. garantir a existência de vaga mas também
para que o serviço esteja preparado para
Ainda na fase de decisão está integrada a receber o doente à hora prevista de
obtenção do consentimento informado. O chegada.
doente, quando consciente, deverá ser
informado da necessidade de proceder ao A previsão da hora de chegada é
transporte e dos riscos a ele inerentes, para importante para que o serviço receptor
que possa ser ele mesmo a decidir da esteja preparado para receber o doente e
realização ou não do transporte. se este sofre um atraso ou se for cancelado
é fundamental que o serviço seja
informado.
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Esta grelha, ainda que não seja totalmente norma, cada serviço deverá dispor da sua
vinculativa, pode apoiar a decisão dos mala de transporte, adaptada para o tipo
elementos que devem fazer parte da de doentes que habitualmente tem
equipa de transporte. necessidade de transportar. Também o
equipamento de monitorização portátil
Parâmetro Condição Pontos
deverá estar disponível e ser adequado à
Nenhuma 0
Via aérea monitorização do doente crítico durante o
VA básica 1
artificial
VA avançada 2 transporte.
FR 10-24 cpm 0
Respiração FR 25-36 cpm 1
FR <10 ou >36 cpm 2 Para as transferências inter-hospitalares,
Suporte
Nenhum 0 deverá ser equacionada nesta fase o tipo
Oxigénio 1
ventilatório
Ventilação mecânica 2
de transporte. Na realidade nacional, o tipo
Nenhum 0 de transporte difere entre o terrestre
Acesso venoso Periférico 1 (efectuado em ambulância) ou o aéreo
Central 2
Nenhuma 0 (efectuado em helicóptero ou avião).
Monitorização
Desejável 1
ECG
Imprescindível 2 A documentação é também uma área
Nenhum 0
Risco de disritmia ou EAM >48 horas 1
sensível do planeamento. Não é raro serem
disritmias disritmia grave ou EAM <48 2 trocados exames, relatórios ou processos
horas
clínicos, como também acontece que
Estável 0
Instabilidade moderada 1 parte ou a totalidade da informação clínica
Estado (<15ml/min) fique esquecida no serviço de origem.
hemodinâmico Instabilidade – necessidade 2
de fluid challenge
(>15ml/min) Assim, tendo em conta algumas
GCS=15 0 condicionantes como a partilha de
Estado
GCS 8-14 1
neurológico informação online e em rede, deverá ser
GCS<8 2
Nenhum 0 garantida que toda a informação clínica
Pacemaker Transcutâneo 1
Endovenoso 2
segue com o doente até ao serviço de
Nenhum 0 destino. Isto inclui:
Inotrópicos, vasodilatadores,
antiarrítmicos, sedação e
Suporte analgesia, 1
Processo clínico e respectiva nota de
técnico e anticonvulsivantes, manitol transferência;
farmacológico 20%
Documentação relacionada com o
Inotrópicos, vasodilatadores,
trombolíticos, antestésicos 2 transporte;
gerais Todos os exames, laboratoriais e de
imagem relacionados no serviço de
Pontuação Veículo Equipa
origem.
recomendado recomendada
Técnico de Ainda durante a fase de planeamento, a
emergência ou
<3 Ambulância
Assistente equipa deverá saber prever e antecipar
Operacional possíveis complicações relacionadas com o
3–6 Ambulância Enfermeiro
transporte do doente, nomeadamente a
Ambulância
Enfermeiro e
>6 medicalizada extubação acidental do tubo traqueal, a
Médico
ou helicóptero
perda de acessos venosos, reserva
inadequada de oxigénio, avaria no
ventilador de transporte, exteriorização
O equipamento é também um aspecto que
acidental de drenos e falta de
não pode ser descurado durante o
carga/bateria dos equipamentos de
transporte. O bom funcionamento de
transporte. O doente deverá estar o mais
materiais e equipamentos de monitorização
bem estudado e estabilizado possível antes
e administração terapêutica são
de se iniciar o transporte, salvo os casos em
fundamentais na prevenção do erro e dos
que tal estabilização seja impossível e só o
efeitos adversos.
serviço de destino possa providenciar o
Quanto ao material e equipamento de tratamento definitivo de que o doente
transporte, a generalidade dos hospitais necessita.
dispõe de uma mala de transporte. Por
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EFECTIVAÇÃO uma falha no ventilador de transporte
ou uma extubação acidental.
Doentes com drenos torácicos devem
A responsabilidade desta fase do transporte ser submetidos à colocação de válvulas
do doente crítico fica a cargo da equipa anti-refluxo e conectados a sacos
de transporte, cujas responsabilidades estéreis.
técnica e legal só cessam no momento da A monitorização adequada ao doente
entrega do doente à equipa do serviço deve ser colocada de forma visível
destinatário. No caso de não haver para a equipa durante todo o
transferência de responsabilidade no transporte.
serviço de destino, por exemplo durante a Doentes com risco elevado de
realização de um exame complementar de desenvolver disritmia devem ser
diagnóstico, a equipa de transporte deverá monitorizados com eléctrodos multi-
permanecer com o doente até ao regresso funções.
ao serviço de origem. Os acessos venosos devem ser
confirmados e colocados de forma
Durante a efectivação do transporte, o
redundante. É preferível a colocação
nível de cuidados não deve ser inferior ao
de um acesso a mais no doente do que
verificado no serviço de origem, devendo
ter de puncionar um acesso durante o
estar prevista pela equipa a necessidade
transporte por algum dos acessos ter
de elevar até esse nível durante o
perdido a sua permeabilidade.
transporte.
Todos os fármacos em perfusão devem
A equipa de transporte deverá efectuar estar bem identificados e as seringas
uma cuidadosa abordagem do doente perfusoras colocadas em local de fácil
antes de proceder ao transporte, devendo acesso para suspensão ou alteração de
manter uma reavaliação frequente durante ritmos de infusão durante o transporte.
o transporte dirigida aos aspectos mais Os fármacos e fluidos cuja utilização
sensíveis do doente em causa. seja previsível durante o transporte
devem estar previamente preparados e
A preparação do doente prévia ao identificados.
transporte é um passo essencial para a As drogas de “emergência” devem
segurança do doente e do transporte. também estar preparadas e colocadas
em local acessível.
Para além de uma cuidadosa abordagem Deve ser equacionada a necessidade
ABCDE, alguns cuidados devem ser tidos de colocação de acesso vascular
em conta ao preparar o doente para o central (nomeadamente em doentes
transporte: com necessidade de fluid-challenge ou
sob a perfusão de vasopressores).
O nível de consciência deve ser
Intervenções como a administração de
realizado. Em doentes sob VMI deve ser
alimentação entérica devem ser
optimizada sedação e curarização
suspensas. A sonda deve ser colocada
quando indicado.
em drenagem livre previamente ao
Doentes com necessidade de VA
transporte.
avançada devem ser submetidos a IOT.
A administração de antibioterapia deve
O tubo endotraqueal deve estar bem
ser efectuada antes ou depois do
fixo e deve ser confirmado o nível à
transporte. Deve ser evitada a
comissura.
administração de antibioterapia
Garantir fonte de oxigénio suficiente
durante o transporte.
para o transporte.
Todos os frascos e sacos de drenagem
Os doentes sob VMI devem ter uma
devem ser esvaziados antes do
avaliação gasimétrica prévia ao
transporte.
transporte.
Todo o equipamento eléctrico deve
Um insuflador manual e máscara
estar conectado a fonte de energia
adaptada ao tamanho do doente
sempre que possível.
devem estar preparados caso surja
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A equipa de transporte deve reavaliar o do handover, isto é, o momento em que a
doente após conexão ao equipamento de responsabilidade clínica do doente é
transporte (ventilador, monitor, etc.) antes transferida da equipa do serviço referente
de abandonar o local. Deve ser efectuada para a equipa de transporte e desta para a
nova reavaliação dentro da ambulância equipa do serviço de destino. Uma das
antes de ser iniciada marcha. vantagens em que a equipa de transporte
seja a mesma que é responsável pelo
Por definição, o doente deve ser reavaliado doente no serviço referente, é a abolição
sempre que haja uma mudança de local e de um destes momentos de handover. Isto
sempre após qualquer intervenção. é possível, por exemplo, quando a equipa
que recebe o doente na sala de
Dominando e reduzindo a hipótese de erro
emergência seja a mesma equipa que vai
associado ao equipamento e à equipa,
transferir o doente para a UCI. Neste caso, é
resta controlar o factor mais independente:
abolido um momento de transferência da
a evolução clínica do doente.
responsabilidade sobre o doente o que
ajuda a reduzir perda de informação
Um outro aspecto fundamental prévio ao
considerada crítica ou relevante sobre o
início do transporte é garantir que todo o
mesmo. No entanto, em muitas situações
processo clínico, imagens e resultados de
isso não é possível, nomeadamente quando
MCDT acompanham de facto o doente
a equipa de transporte é externa ao serviço
(confirmando a correcta identificação do
ou unidade hospitalar onde se encontra o
doente, do processo e dos exames).
doente, por exemplo, quando uma equipa
Uma correcta preparação do doente de helitransporte é accionada para
imediatamente antes do transporte vai proceder ao transporte de um doente
reduzir a necessidade de intervenções crítico entre dois hospitais.
durante o transporte.
Pensando no circuito que o doente crítico
TRANSMISSÃO DA INFORMAÇÃO percorre, são múltiplos os momentos de
handover em que é possível a perda,
Durante as diversas fases do transporte do omissão ou enviesamento da informação
doente crítico, desde o planeamento até à clínica. Pensemos no exemplo do doente
execução, várias podem ser as vezes em que é abordado no pré-hospitalar por uma
que é transmitida a informação. Seja no equipa de VMER, que faz o handover do
contacto inicial ao pedir vaga na unidade doente na sala de emergência, que
de destino, seja na transmissão da posteriormente transfere o doente para
informação da equipa do hospital referente uma unidade de cuidados intensivos. A
à equipa de transporte, seja na transmissão corrupção da informação clínica pode ter
da informação desta última para a equipa impactos devastadores na tomada de
que recebe o doente na unidade de decisão da equipa que fica responsável
destino. pelo doente.
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transferência electiva, é preferível efectuar expectativas relacionadas com a
o planeamento para que esta seja transferência.
realizada durante o dia e não de
madrugada. À parte da estruturação da informação
clínica verbal, é importante a definição de
Naturalmente que o ambiente tem também protocolos de handover, com a criação de
influência na segurança do handover. O layouts ou templates específicos para a
handover numa sala de emergência com elaboração dos registos clínicos antes e
ruído e múltiplos factores distractivos (por durante o transporte.
exemplo, mais doentes a serem admitidos
em simultâneo, presença de várias equipas O handover e a transmissão de informação
a executarem tarefas, etc) tem maior clínica é uma área muitas vezes
potencial de erro do que o handover numa subvalorizada em detrimento de outras
unidade de cuidados intensivos, em que competências clínicas. Esta é no entanto
toda a equipa está focalizada na recepção uma área que exige atenção por parte das
de um único doente e em que existe equipas, pelo que o treino na transmissão
controlo de ruído e redução de outros de informação clínica deve ser encorajada,
factores distractivos. por exemplo, em momentos de formação
contínua no seio dos serviços.
Ainda que a informação clínica do doente
deva ser escrita, garantindo a clareza e a GESTÃO DO RISCO
legibilidade da informação (o ideal é que
O transporte do doente crítico não está,
as notas de transferência sejam redigidas
como vimos, isento de erros e riscos, tanto
em computador e impressas), nas diversas
para o doente como para a equipa.
situações em que a transmissão de
informação seja efectuada de forma
A segurança no transporte ultrapassa em
verbal, esta deve ser estruturada e
larga medida o espectro temporal do
organizada de acordo com a metodologia
transporte. A cultura organizacional, a
ISBAR: estrutura dos serviços envolvidos e o
equipamento estão intimamente ligados
I – Identificação: O médico e/ou enfermeiro
com a segurança e com a gestão do risco,
responsável pelo doente devem identificar-
para além das condicionantes de equipa
se e procurar saber a identificação a quem
seleccionada para a efectivação do
estão a transmitir a informação. Também o
transporte e as condicionantes, claro, do
doente deve ser identificado de acordo
doente.
com o seu nome, data de nascimento e/ou
número de processo clínico.
Como parte da cultura organizacional,
cada unidade de saúde deverá ter um
S – Situação actual: deve ser descrita a
programa de melhoria contínua, sob a
situação de saúde actual e o motivo da
responsabilidade de um médico ou
transferência.
enfermeiro, que vise a identificação dos
B – Background: Devem ser riscos e a sua avaliação, bem como a
contextualizados todos os dados clínicos definição de acções de melhoria contínua
relevantes, bem como directivas a desencadear.
antecipadas de vontade.
Este programa deverá incluir a
A – Avaliação: Informações sobre o estado identificação das medidas preventivas a
do doente, terapêutica instituída, tomar, bem como a implementação de
estratégias de diagnóstico e de tratamento medidas reactivas perante erros que sejam
tomadas, informações relativas à evolução identificados durante as três fases do
do doente durante o transporte. transporte.
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transversal de todo o processo de de interacção que venham a ser mais tarde
transporte, da concepção à acção, uma mais-valia na operacionalização do
visando o envolvimento de transporte.
responsabilidades de gestão, de
coordenação e de operacionalização do Ainda dentro da cultura organizacional e
transporte, tendo por meta a segurança do da gestão do risco associado ao transporte
doente e a prestação de cuidados do doente crítico, é imprescindível que
altamente diferenciados enquadrados sejam preenchidos em plataforma própria,
naquela que é a mais recente evidência já existente na maioria dos hospitais, os
disponível. eventos adversos ocorridos durante o
transporte para que possam ser
A gestão do risco associado ao transporte identificados e corrigidos. A criação de
do doente crítico é pois um processo reuniões multidisciplinares de feed-back e
colectivo que deve envolver gestores, análise de casos podem também ser úteis
médicos, enfermeiros, team-leaders, na promoção do trabalho de equipa e na
seniores e profissionais em formação, com o correcção de erros identificados pela
fim último de garantir a segurança dos equipa.
doentes e das equipas durante o transporte
intra ou inter-hospitalar, evitando eventos REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
adversos que em alguns casos poderão ter
consequências graves. Bastando os eventos
INEM. (2012). Transporte do Doente Crítico.
que não são controláveis, é missão primeira Lisboa
tanto da equipa directiva como da equipa
executiva garantir se não a extinção, pelo Intensive Care Society. (2011). Guidelines for
menos a redução ao mínimo de todos os the transport pf the critically ill adult. London:
erros considerados evitáveis. Sendo que na Intensive Care Society.
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3.TRANSPORTE INTRA-HOSPITALAR
ESCOLHA DA EQUIPA
COORDENAÇÃO DO TRANSPORTE
A determinação da necessidade e a
Confirmação prévia de que o serviço composição da equipa de transporte
para onde o doente vai ser devem ser efectuadas com base em
transportado está pronto para o critérios objectivos. Tanto a SPCI como
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a OM recomendam o uso da grelha de do doente, possa ser necessária
Etxeberria et al. durante o transporte.
Idealmente, o transporte deverá ser Seringas e bombas infusoras de forma a
efectuado pelo médico e enfermeiro evitar doses de administração erráticas
responsáveis pelo doente. São eles que durante o transporte.
melhor conhecem a sua história e que
O equipamento utilizado para o transporte
melhor poderão passar a informação à
deverá ser específico para o efeito. Deve
equipa do serviço de destino. Desta
ser material pequeno, portátil, durável e
forma reduz-se a probabilidade de
resistente, nomeadamente quando falamos
perda de informação.
de serviços com elevada casuística de
Quando, em qualquer circunstância, a
transporte intra-hospitalar, como as salas de
responsabilidade clínica não é
emergência. Ainda que a tradição em
transferível para o serviço de destino
Portugal seja o de investimento em material
por ausência de médico e/ou
fixo para as salas de emergência, o
enfermeiro (como por exemplo num
recomendado é que estas salas estejam
serviço de radiologia), a equipa de
equipadas com material o mais portátil
transporte deverá permanecer com o
possível. O risco de queda ou de embate
doente durante a realização do MCDT
dos equipamentos é relativamente grande,
ou procedimento e deverá com ele
pelo que devem ser o mais resistentes
regressar até ao serviço de origem.
possíveis (nomeadamente os ventiladores
de transporte e os monitores cardíacos).
EQUIPAMENTO DE TRANSPORTE
Para além disso, o equipamento de
Cada serviço deverá ter, desejavelmente, transporte não deve ser
um conjunto de equipamento onde se colocado/amontoado em cima da maca
inclui uma mala de transporte, que deverá ou junto do doente. Deve ser
ser mantida e revista regularmente para especialmente desenhado para ser
que possa estar sempre operacional. Na aplicado em trolley ou na própria maca de
impossibilidade deste conjunto de forma segura e que permita a
equipamento existir em todos os serviços, visualização/monitorização constante por
deverá existir pelo menos nos serviços com parte da equipa de transporte.
maior casuística de transporte de doente
Para além de todo o material e fármacos
crítico (SU e UCI). Deverão fazer também
que devem acompanhar a equipa
parte deste conjunto de equipamento:
correctamente acondicionados na mala de
Aspirador portátil. transporte, é prático que a equipa prepare
Fonte de oxigénio com capacidade em seringa o ou os fármacos que
previsível para todo o tempo estimado previsivelmente poderão necessitar durante
de transporte, com uma reserva o transporte, poupando tempo em caso de
adicional para 30 minutos. necessidade. Por exemplo, no transporte de
Material de via aérea básica e um doente com risco previsível de
avançada. convulsão (TCE, mal convulsivo, etc.) é lícito
Ventilador de transporte, com que a equipa leve preparada uma ampola
possibilidade de monitorização de de diazepam diluída até 10ml de soro
volume/minuto e da pressão da via fisiológico.
aérea e com alarmes de desconexão e
pressão máxima da via aérea.
Monitor de transporte, com alarmes MALA DE TRANSPORTE
visuais e sonoros adaptados ao padrão
Para o transporte do doente crítico é
do doente. Idealmente este monitor
fundamental que todo o material esteja
deverá também ser monitor-
reunido para que os cuidados prestados e a
desfibrilhador.
vigilância se mantenham no nível prévio ao
Fármacos dos algoritmos de suporte
transporte ou se necessário e justificável
avançado de vida e outra medicação
aumentar nível assistencial. Por exemplo, se
que, de acordo com o contexto clínico
o doente se encontrava internado numa
19
unidade de cuidados intensivos, o nível de distintas para doentes adultos ou
cuidados durante o transporte deve ser de idade pediátrica (tal divisão é
garantido a esse nível. Para isso é já mais ou menos comum em
fundamental que os equipamentos e alguns meios pré-hospitalares,
materiais adequados estejam disponíveis como as VMER por exemplo);
durante todo transporte. Assim, propomos a existência e
acondicionamento do seguinte material:
Ao longo de vários anos têm surgido a nível
internacional orientações com requisitos 1) Material de Via Aérea e Ventilação (A e
mínimos de equipamentos para o B) (caso não exista uma mala
transporte de doentes críticos. dedicada)
Estetoscópio
Para além de equipamentos como
Máscaras de oxigénio (pelo menos uma
ventiladores, monitores desfibrilhadores,
simples e uma de alto débito)
oxigénio, seringas infusoras, etc., existe
Adjuvantes básicos da via aérea (tubos
diverso material que deve estar orofaríngeos e tubos nasofaríngeos, um
devidamente acondicionado e organizado de cada tamanho)
e rapidamente acessível. Habitualmente Máscaras laríngeas
este material é acondicionado numa mala Tubos endotraqueais
de transporte. Existem disponíveis várias Câmara expansora para fármacos
marcas e modelos no mercado e cada inalados
instituição adquire estas malas de acordo Insuflador manual com válvula de PEEP
com os critérios estabelecidos. e saco reservatório para O2
Máscaras para insuflador manual (uma
A mala de transporte deve ter as dimensões de cada tamanho)
necessárias ao acondicionamento de todo Equipamento de aspiração: sondas
o material, deve ser fabricada com material Yankauer e sondas de aspiração
leve, lavável, resistente e ser facilmente flexíveis
visível e deve também ter diversos conjunto de laringoscopia (cabo e
compartimentos (preferencialmente lâminas de laringoscopia, condutor,
sonda tipo Frova e pinça Maguil)
ajustáveis) para a adequada organização
Kit de cricotiroidotomia
de todos os materiais.
Equipamento de drenagem pleural
emergente
É fundamental que a mala de transporte
Válvula de Heimlich
seja revista periodicamente, à semelhança
Filtros para circuito de ventilação
do carro de urgência, e que seja reposta
mecânica
de imediato após o seu uso. Com estes
procedimentos minimiza-se o risco de 2) Material de circulação (C) e
eventos adversos, relacionado com falta de administração de fármacos e
materias. fluidoterapia
Catéteres venosos periféricos
Existem diversas orientações que
Cateteres venosos centrais
descriminam os equipamentos e os
Catéteres arteriais
materiais que devem estar disponíveis no Soros (NaCl 0,9%, NaCl 0,45%, Soro
transporte do doente crítico. Propõe-se em Polielectrolítico, Lactato de Ringer,
seguida uma possível compilação de Dextrose 10% e a 30%)
materiais que devem estar disponíveis na Sistemas de soros e prolongamentos
mala de transporte, mas deve ter-se em Sistemas arteriais
atenção o seguinte: Seringas para infusão contínua de
fármacos (50-60 ml)
Respeitar as orientações ou normas Prolongamentos para seringas de
de cada instituição/serviço bem infusão contínua
como os procedimentos mais Torneiras de 3 vias
habituais; Seringas e agulhas
Dependendo do tipo de serviço Agulhas intraóssea
pode fazer sentido ter malas Penso de fixação
20
Manga de pressão Anafilaxia
Adesivo Broncoespasmo
Solução de desinfecção cutânea Hipoglicémia
Convulsões
21
A mala de transporte é fundamental no
transporte do doente crítico. A sua
composição deve ser adequada e realista,
contendo as quantidades correctas de
materiais para ser facilmente transportada
e utilizada.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
22
4.TRANSPORTE INTER-HOSPITALAR
23
deverá ser informado atempadamente particulares e excepcionais serem usados
do mesmo. recursos do INEM para apoio a este
O serviço de destino deve ser transporte.
informado previamente de toda a
Muitos hospitais, sobretudo os hospitais mais
informação clínica relevante e das
periféricos, optaram por adoptar uma
intervenções diagnósticas e
política de formação de equipas de
terapêuticas previsíveis, bem como de
transporte. Face ao número de transportes
eventual necessidade de estabelecer
e às horas a que os profissionais ficam fora
medidas de isolamento (sejam elas de
do serviço, face à necessidade de
contacto ou respiratória).
transportar doentes de hospitais distritais
Devem ser registados os nomes e
que não dispõem de todas as valências
contactos dos intervenientes no
para hospitais centrais geralmente sediados
processo de transferência.
apenas nas grandes cidades, estes hospitais
Devem acompanhar o doente todos os
adoptaram a estratégia de criação de
registos médicos e de enfermagem,
equipas de transporte que são accionadas,
incluindo todas as imagens obtidas
retirando do serviço emissor a
através de MCDTs e não apenas os
responsabilidade de seleccionar a equipa.
respectivos relatórios.
Em alguns casos, o Serviço de Helitransporte
de Emergência Médica (SHEM) pode
também ser utilizado, mediante a presença
ESCOLHA DA EQUIPA
de alguns critérios (nomeadamente a
A escolha da equipa para o transporte necessidade de acompanhamento por
inter-hospitalar é um factor chave para a uma equipa de suporte avançado de vida
redução dos riscos associados ao (SAV) e o distância entre o hospital de
transporte. Não importa aqui as destino, sobretudo em patologias tempo-
reconhecidas qualidades enquanto dependentes).
intensivista porque o transporte para fora
Também aqui, a escala de Etxeberria et al.
das portas do hospital atira o doente e a
pode ser utilizada como apoio à decisão
equipa para um ambiente hostil e que
do tipo de equipa que deve acompanhar o
requer por parte da equipa um treino
doente durante o transporte.
específico e adequado. O aumento
exponencial da duração do transporte Seja qual for a estratégia adoptada
face ao transporte intra-hospitalar, a (profissionais integrantes do serviço de
necessidade de trabalhar em ambientes origem ou equipa dedicada ao transporte
com espaço francamente mais reduzido de doente crítico), é fundamental que
(célula sanitária de ambulância, quem transporta o doente tenha a
helicóptero, etc.) e com maior necessidade formação considerada necessária para
de planeamento face ao equipamento e manter a segurança do doente durante o
fármacos necessários para o transporte transporte. Essa formação inclui:
oferecem ao transporte inter-hospitalar um
Suporte Avançado de Vida;
nível de dificuldade acrescido.
Suporte Avançado de Vida Pediátrico
Nem sempre é fácil a escolha da equipa (no caso de transporte de crianças);
que procederá ao transporte. Muitos Suporte Avançado de Vida em Trauma
hospitais não dispõem de recursos humanos (no caso de transporte de
adequados, seja em número seja em politraumatizados);
diferenciação exigida para esta função. Os Formação e experiência em ventilação
serviços de urgência, habitualmente invasiva;
sobrelotados, trabalham já normalmente no Formação e experiência em transporte
seu limite dos recursos humanos. Apesar do doente crítico.
destas dificuldades, a responsabilidade do
Mais do que um conjunto de certificados,
transporte secundário do doente crítico é
importa que tanto médico como
do hospital de origem, pelo que os hospitais
enfermeiro que vão acompanhar o doente
devem preparar e manter operacionais
crítico estejam à vontade na actuação
equipas de transporte podendo, em casos
24
emergente, decisão em situação de stress e transport of critically ill patients; expect
lidem diariamente com o doente crítico. Faz surprises. Critical Care.
por isso sentido que, à parte da formação
Flabouris A, Runciman WB, Levings B. (2006).
acima descriminada, o enfermeiro seja
Incidents during out-of-hospital patient
especialista na área da pessoa em situação transportation. Anaesth Intensive Care, 228-
crítica e o médico seja da área de 236.
competência em emergência, intensivismo
ou anestesiologia. INEM. (2012). Transporte do Doente Crítico.
Lisboa
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
25
5.TRANSPORTE TERRESTRE
26
comunicação da equipa. O transporte encarroçamento, a célula sanitária oferece
do doente crítico não tem geralmente uma limitação de espaço face
habitualmente características tão ao que as equipas hospitalares estão
dependentes do tempo como a habituadas. Para além da limitação de
abordagem urgente/emergente, pelo espaço, o posicionamento da maca
que o uso de sirenes deve ser (geralmente mais baixo que as macas ou
francamente restringido ao camas hospitalares) e a iluminação
considerado pela equipa como (geralmente mais fraca do que a disponível
absolutamente essencial; em ambiente hospitalar) oferecem
Temperatura: o controlo da dificuldade acrescida na abordagem ao
temperatura da célula sanitária não é doente.
tão eficaz como dentro do hospital,
Todos estes aspectos devem ser conhecidos
podendo o doente estar mais
por parte da equipa de transporte, que
vulnerável a situações de temperatura
deve antecipar as intervenções em
extremas, sejam elas o calor ou o frio. É
transporte e estabilizar ao máximo o doente
importante que a equipa saiba
antes deste ser colocado na ambulância.
antecipar esta questão e diminuir as
amplitudes térmicas com recurso à Os materiais e equipamentos diferem entre
gestão da temperatura da célula as ambulâncias, pelo que é importante que
sanitária com ajuste do ar as equipas conheçam a ambulância onde
condicionado, mantas isotérmicas e vão efectuar o transporte e garantir que
mantas de aquecimento activo, todo o material necessário para o
temperatura da fluidoterapia transporte está disponível.
administrada;
Duração do transporte: em transportes
longos (mais de meia hora), para além ORGANIZAÇÃO DO TRANSPORTE TERRESTRE
do desconforto para o doente, pode EM PORTUGAL
ser colocada em causa a integridade
cutânea, pelo que na medida do O transporte secundário de doentes por via
possível deverão ser aliviadas zonas de terrestre é efectuado em ambulâncias que
pressão durante o transporte. Esta podem estar sob a responsabilidade dos
situação é particularmente sensível no bombeiros, da cruz vermelha portuguesa ou
transporte das vítimas de trauma, de empresas privadas. A sua manutenção,
tradicionalmente sujeitas à imobilização adequada higienização e a verificação
total de coluna com colar cervical e contínua e sistematizada de equipamentos
plano duro (situação que será discutida de transporte são fundamentais à
mais à frente neste manual). Estas segurança do doente crítico que é
situações devem ser antecipadas pela submetido a transporte.
equipa e o transporte deve ser A actividade de transporte de doentes
efectuado em maca de vácuo. Em encontra-se regulada nos termos
situações clínicas que assim o exijam, a conjugados do Decreto-Lei nº 38/92, de 28
duração do transporte pode ser factor de março, da Lei nº 12/97, de 21 de maio
condicionante para eleição de outra (na redacção conferida pela Lei nº 14/2013,
via de transporte, como por exemplo o de 31 de janeiro) e do Regulamento de
transporte por via aérea. Transporte de Doentes (publicado pela
Portaria nº 260/2014 de 15 de dezembro),
constituindo uma actividade cuja disciplina
Para além de conhecer e antecipar as e fiscalização compete ao Ministério da
questões relacionadas com a fisiologia do Saúde.
transporte por via terrestre, a equipa deve
estar preparada para trabalhar em O transporte de doentes urgentes ou
condições bastante diversas do que o seu emergentes circunscreve-se à utilização de
ambiente normal de trabalho, seja o serviço ambulâncias de tipo B e está reservado ao
de urgência seja a UCI. INEM e às entidades por ele reconhecidas
Independentemente dos diversos tipos de nos termos da lei, que constituam Postos de
27
Emergência Médica (PEM) ou Postos de Denominada no âmbito dos bombeiros por
Reserva, no âmbito do protocolo celebrado ABTD (Ambulância de Transporte de
com essa finalidade. Note-se que este tipo Doentes) é uma ambulância concebida e
de transporte está intimamente ligado com equipada para o transporte de doentes
a rede de emergência e, por isso, com o cuja situação clínica não faz prever risco
transporte primário do doente, crítico ou instalado, ou iminente, de falência de
não. funções vitais, que podem ser dos seguintes
tipos:
O transporte de doentes não urgentes pode
ser realizado através de Veículos Dedicados Tipo A1: ambulância de transporte
ao Transporte de Doentes (VDTD), individual — destinada ao transporte de
ambulâncias do tipo A e ambulâncias do um doente em maca, banco ou
tipo C (estas últimas habitualmente cadeira de rodas, e de um
denominadas de ambulâncias acompanhante;
medicalizadas), mediante autorização do Tipo A2: ambulância de transporte
Ministério da Saúde, que compreende a múltiplo — destinada ao transporte de
concessão do alvará, da competência do um ou mais doentes em maca e/ou
INEM. Neste âmbito, compete também ao cadeira de rodas e do seu
INEM proceder à certificação dos veículos acompanhante. Pode transportar mais
utilizados na actividade de transporte de do que um doente.
doentes, definir e publicar programas e
conteúdos de formação exigidos aos
tripulantes de ambulância e de VDTD,
definir o equipamento mínimo de cada tipo
de veículo e proceder à fiscalização da
actividade de transporte de doentes. A
certificação e licenciamento deste tipo de
veículos variam em função da sua tipologia,
dependendo no entanto da verificação de
um conjunto de requisitos relativos tanto à
tripulação como aos equipamentos.
De acordo com o exposto até aqui, As ambulâncias tipo A não devem estar
depreender-se-á que o transporte equipadas com sinalização luminosa nem
secundário do doente crítico é realizado acústica (com excepção às ambulâncias
em ambulâncias do tipo C. Existem no pertencentes a corpos de Bombeiros e à
entanto algumas excepções, Cruz Vermelha Portuguesa).
nomeadamente quando é o próprio INEM a
assumir o transporte secundário em que
muitas das vezes utiliza tripulações SIV ou Ambulância tipo B – ambulância de
VMER para medicalizar ambulâncias do tipo emergência
B. Habitualmente designada por ABSC
VDTD – Veículos Destinados a Transporte de (ambulância de socorro) é uma
Doentes ambulância concebida e equipada para o
transporte e prestação de cuidados de
O VDTD é por definição um veículo ligeiro, emergência médica a doentes urgentes e
destinado ao transporte de doentes cuja emergentes. O RTS prevê que as
situação clínica não impõe, ambulâncias do tipo B possam actuar
previsivelmente, a necessidade de como ambulâncias do tipo C, desde que
cuidados de saúde durante o transporte. estejam dotadas dos recursos humanos e
Não será pois âmbito de estudo meios técnicos necessários para o efeito.
aprofundado neste manual. Isto acontece quando, por vezes,
Ambulância Tipo A – Ambulância de ambulâncias tipo B dos bombeiros são
Transporte de Doentes chamadas por hospitais para efectuar
transporte secundário de doentes e é o
hospital que coloca na ambulância a
28
equipa (médico e enfermeiro) e Todos os equipamentos constantes nas
equipamento (ventilador, monitor, …) de ambulâncias, seja de que tipo for, estão
forma a dotá-la dos requisitos necessários normalizados pelo INEM, não apenas no
para o transporte do doente em causa. que se refere ao equipamento de parede
mas também à constituição das malas de
abordagem.
29
6. TRANSPORTE AÉREO
30
otalgia e desconforto durante a subida ou deverá ser administrado oxigénio
a aterragem de aparelhos aéreos. humidificado. Em transportes mais longos os
olhos do doente devem ser lubrificados
Doentes críticos com massas gasosas
com lágrimas artificiais. Os cuidados à
patológicas serão afectados com a altitude
higiene oral são também importantes.
e com a consequente redução da pressão
atmosférica. Por esse motivo, um doente ACELERAÇÃO E DESACELERAÇÃO
com pneumotórax deverá ser sujeito a
As consequências fisiológicas aos vectores
colocação de um dreno torácico prévio ao
de aceleração e desaceleração mantêm-
transporte, sob pena de que o
se, como discutido no capítulo anterior. A
pneumotórax ganhe em vôo um
questão é que excluindo os momentos da
componente hipertensivo.
subida e da aterragem, o movimento dos
Doentes com pneumoencéfalo constituem aparelhos aéreos é em geral mais suave do
contra-indicação para transporte por via que por via terrestre, uma vez que mantêm
aérea uma vez que a expansão de volume durante a sua rota uma velocidade
poderá conduzir a uma elevação constante.
dramática da PIC.
No entanto, para os momentos da
Em casos de doentes com obstrução aterragem e da subida, as considerações
intestinal, cirurgia abdominal recente ou expostas no capítulo anterior mantêm-se,
pneumoperitoneu deverá ser equacionada
OUTRAS CONSIDERAÇÕES PARA O
a hipótese do vôo ser efectuado a baixa
TRANSPORTE AÉRES
altitude (da decisão e responsabilidade
exclusiva do comandante) ou ser O ruído é um aspecto em ter em conta nas
ponderado transporte por via terrestre. evacuações aeromédicas, sobretudo em
helicópteros. Mesmo nos doentes
Ainda derivado do efeito da altitude na
inconscientes, deverão ser colocadas
expansão dos gases, a equipa deve estar
protecções auriculares. O ruído acaba
atenta aos dispositivos clínicos e
também por ter implicações para a equipa,
equipamento médico com gás em câmara
uma vez que inviabiliza praticamente a
fechada. São exemplos disso os cuffs dos
comunicação entre os elementos,
tubos endotraqueais. A altitude conduz à
comunicação essa apenas possível através
expansão do cuff que pode conduzir a
da utilização de headsets.
lesão da parede da traqueia. Por esse
motivon na preparação dos doentes para A vibração é a causa mais comum de
transporte aéreo, o cuff deverá ser fadiga em pessoal de vôo, pelo que as
preenchido com água destilada em vez de equipas não devem estar sujeitas a muitas
ar. horas seguidas em transporte aéreo. A
vibração também afecta algum do
TEMPERATURA
equipamento de monitorização,
Por cada 1.000 pés de altitude a nomeadamente os medidores de pressão
temperatura do ar desce cerca de 2ºC. O arterial não invasivos que funcionam
risco de hipotermia é por isso grande pelo através do método oscilométrico. Por esse
que todos os cuidados devem ser tidos em motivo, doentes sob tratamento com
conta pela equipa não apenas na redução aminas que necessitem de um controlo e
das perdas mas também no aquecimento vigilância apertados sobre a pressão arterial
activo do doente (infusão com soros deverá ter linha arterial e avaliação de
aquecidos e colocação de manta térmica pressão arterial invasiva. Também os leitores
de aquecimento activo). de pulso-oxímetro e monitorização
cardíaca poderão ser afectados pela
HUMIDADE
vibração, dando valores erróneos no
A humidade reduz com a altitude pelo que primeiro e uma leitura com inúmeros
o risco de desidratação aumenta. O efeito artefactos na segunda, pelo que a sua
mais rapidamente sentido a altitudes mais avaliação deve ser adaptada à situação.
elevadas é o facto de as secreções O melhor indicador de ventilação/perfusão
tornarem-se mais espessas. Por esse motivo
31
em vôo é sem dúvida alguma a integrarem equipas de helitransporte, seja
capnometria. integrados no serviço de helitransporte de
emergência médica (SHEM) do INEM, seja
Outro aspecto a ter em conta é a limitação
integrados em equipas da Força Aérea
de espaço, sobretudo em helicópteros.
Portuguesa (FAP).
Aqui, o espaço é ainda mais limitado do
que nas ambulâncias terrestres o que São consideradas contra-indicações
dificulta uma série de intervenções clínicas clínicas absolutas para helitransporte:
como sejam a abordagem avançada da
Doenças terminais;
via aérea, a colocação de acessos ou a
Doentes em PCR;
realização de manobras de ressuscitação.
Pneumotórax não-drenado;
Por esse motivo, todas as intervenções
Presença de ar intracraniano;
devem ser planeadas em antecipação e
Grávida em trabalho de parto;
efectuadas em terra.
Doentes psiquiátricos ou agressivos não
Apesar de todas as considerações sedados;
fisiológicas abordadas, na prática, muitas Doentes com instabilizada
delas acabam por não se verificar no hemodinâmica que ainda não foi
helitransporte em Portugal. Isto porque, corrigida em unidade hospitalar com
sobretudo nas regiões centro e sul, o capacidade para o fazer.
helitransporte é efectuado a baixa altitude
São consideradas contra-indicações
(cerca de 1.000 pés). A excepção é
relativas para helitransporte:
quando têm de ser ultrapassados em
altitude grandes maciços montanhosos Gás na cavidade ocular (pós-
(podendo ainda haver a hipótese de serem operatório de cirurgia de descolamento
contornados). de retina, por exemplo);
Oclusão intestinal;
Os aparelhos de asa fixa voam a altitudes
Enfisema bolhoso;
muito superiores em relação às dos
Acidente de mergulho por
helicópteros (geralmente 7.000-9.000 pés)
descompressão;
mas as suas cabines são pressurizadas e
Crise aguda de doença de células
com temperatura ajustável, o que limita em
falciformes.
muito os efeitos fisiológicos da altitude.
No caso de presença de contra-indicações
Em Portugal continental, as evacuações
relativas, o recurso ao helitransporte deve
aeromédicas são asseguradas por uma
ser equacionado caso os benefícios
rede de helitransporte do INEM. As
resultantes do helitransporte justifiquem, de
evacuações com aparelhos de asa fixa são
forma evidente, o risco acrescido para o
efectuadas apenas nos arquipélagos ou
doente.
entre estes e o continente.
A avaliação das contra-indicações deve ter
em consideração as vantagens inerentes
HELITRANSPORTE ao helitransporte, avaliando o tempo
dispendido de transporte por oposição às
O helitransporte medicalizado constitui um
alternativas (transporte terrestre) e a
meio rápido e eficaz para o transporte
possibilidade de “voar baixo”.
diferenciado desde o local de lesão até ao
centro para tratamento definitivo ou para
providenciar o transporte de um centro
ORGANIZAÇÃO DO SHEM
menos diferenciado para outro que possa
prover o tratamento definitivo do doente. Em território continental, as evacuações
aeromédicas são operacionalizadas pelo
As especificidades inerentes ao
INEM, através da rede de helitransporte –
helitransporte implicam formação e
Serviço de Helitransporte de Emergência
conhecimento sobre fisiologia de vôo,
Médica (SHEM).
comunicações e segurança em vôo, pelo
que os profissionais dedicados a esta área O SHEM, de acordo com a circular
deverão ter formação específica antes de normativa do Departamento de
32
Emergência Médica 03/2018, tem por diagnóstico provisório (por exemplo,
missão o transporte rápido de uma equipa TCE ou grande queimado) obriga a
médica diferenciada (médico e enfermeiro) uma evacuação primária cujo tempo
ao local de ocorrência de doença súbita total se prevê superior por via terrestre
ou acidente, tendo por objectivo a ou em condições de segurança menos
estabilização pré-hospitalar e o respectivo adequadas;
acompanhamento e transporte à unidade Necessidade de reforço de equipas
hospitalar, bem como o suporte no médicas no local em situações
tratamento e transporte secundário do multivítimas.
doente crítico.
A equipa clínica do SHEM é constituída por Em relação aos critérios para transporte
um médico e um enfermeiro com secundário, estes regem-se perante
experiência e formação específica em algoritmo de triagem próprio do CODU.
doente crítico, juntamente com dois pilotos. Critérios como o tempo de transporte
Os helicópteros do SHEM estão disponíveis (superior a 30 minutos) e a distância
para a realização de transporte primário ou (superior a 50km) constituem valores
secundário 24h/dia, estando a sua meramente indicativos que nãos e devem
operacionalidade dependente das sobrepor ao melhor tratamento para o
condições meteorológicas. doente.
33
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
34
7.ABORDAGEM DO DOENTE CRÍTICO
35
ambiente onde é realizada (pré-hospitalar, brônquicas que possam condicionar a
sala de emergência, cuidados intensivos, permeabilidade da via aérea, deverá ser
etc.) bem como pela diferenciação dos aspirado com recurso a sondas flexíveis.
meios humanos e recursos técnicos Uma rápida avaliação da via aérea deverá
disponíveis. Independentemente dos incluir a pesquisa de corpos estranhos como
recursos, a metodologia ABCDE deverá ser peças dentárias entre outros.
facilitadora não apenas da identificação e
correcção de situações consideradas Na avaliação do doente crítico que tenha
ameaçadoras para a vida, como a nível já uma via aérea artificial colocada, seja
hospitalar deverá ajudar a classificar a ela básica ou avançada, a equipa deve
tipologia do choque bem como o grau de avaliar a sua permeabilidade e correcta
compromisso de hipoperfusão do doente e colocação, bem como avaliar da
o início de estratégias clínicas e necessidade de efectuar um upgrade.
farmacológicas para a sua correcção. Exemplo disso é um doente trazido por uma
equipa de uma ambulância de
A metodologia de abordagem ABCDE não emergência médica a quem foi colocado
se confina à abordagem inicial do doente um tubo orofaríngeo por diminuição franca
em contexto urgente ou emergente. Deve do estado de consciência e, à chegada a
ser também esta a metodologia de uma unidade hospitalar ou perante uma
avaliação e reavaliação de qualquer equipa diferenciada, deva ser ponderada
doente crítico em qualquer contexto, a colocação de uma via aérea avançada
inclusivamente em ambiente de cuidados como o tubo endotraqueal. Outro exemplo
intensivos, nomeadamente antes, durante e é um doente a quem foi colocado um
depois de qualquer situação de transporte. dispositivo supra-glótico durante as
manobras de PCR e, depois de recuperada,
ser trocada por um tubo orotraqueal.
36
A permeabilidade da via aérea não sensibilidade lesões torácicas e abdominais
assegura por si só uma adequada (derrames pleurais, hemotórax,
ventilação. A avaliação clínica da pneumotórax, lesões major da aorta,
djnâmica ventilatória deve incluir: 1) presença de liquido livre abdominal, etc.)
Avaliação da frequência e o padrão mas também permitindo avaliar o
respiratório bem como sinais de esforço preenchimento vascular de forma a melhor
respiratório como seja a cianose e utilização dirigir o tratamento com fluidoterapia ou
de musculatura acessória; 2) A exposição aminas.
da região cervical de forma a avaliar a
presença de ingurgitamento jugular (sinal D – ESTADO NEUROLÓGICO
de choque mecânico ou obstrutivo), o
A escala de coma de Glasgow (GCS) é um
alinhamento da traqueia e a presença de
método simples e rápido para determinar o
enfisema subcutâneo; 3) Inspecção da
nível de consciência. Uma diminuição do
parede torácica pesquisando assimetrias,
estado de consciência do doente critico
sinais de crepitação, feridas aspirativas ou
pode indicar deficiente oxigenação ou
objectos empalados (mais direcionado
perfusão cerebral. A hipoglicémia pode
para situações de trauma); 4) Auscultação
alterar o nível de consciência, pelo que
pulmonar e cardíaca; 5) percussão da
deve ser rapidamente excluída. A
parede torácica perante assimetrias
intoxicação por álcool ou outras
evidentes da auscultação pulmonar.
substâncias de abuso pode também alterar
Esta avaliação deve ser complementada o nível de consciência não devendo no
com a avaliação das saturações periféricas entanto ser entendidas primariamente
de oxigénio e da capnografia (em doentes como causas de alteração do nível de
com VA avançada). consciência, até que todos os outros
problemas estejam excluídas. A GCS tem no
Em contexto hospitalar, é mandatória a entanto algumas limitações, como sejam a
realização de uma gasimetria arterial de presença de défices prévios e doentes sob
forma a consubstanciar a avaliação clínica sedação. Nos doentes submetido a sedo-
e melhor dirigir o tratamento do doente. analgesia, a GCS não está indicada e
deverá ser equacionada a utilização de
C – CIRCULAÇÃO E ABORDAGEM DO outras escalas.
CHOQUE
Nestas situações poderão ser utilizadas as
Nesta fase, a avaliação clínica deverá escalas de Ramsey e de Richmond, sendo
incluir: 1) o ritmo e as características do que em Portugal a escala de sedação mais
pulso; 2) as características da pele difundida nas UCI é a escala de Richmond
(nomeadamente a presença de palidez, (RASS – Richmond Agitation-Sedation
sudurese e aumento do tempo de Scale). Uma das vantagens desta escala é
preenchimento capilar); 3) a inspecção e que para além de avaliar o nível de
palpação da parede abdominal à procura sedação do doente, permite ainda avaliar
de feridas major e hematomas que possam e registar os níveis de agressividade e
sugerir hemorragia interna; 4) identificação combatividade do doente crítico. A RASS
de instabilidade pélvica e identificação de pode ser avaliada nos seguintes
fracturas de ossos longos. parâmetros:
37
mantém contacto visual MCDT devem ser realizados na própria sala
por mais de 10 segundos de emergência, como a gasimetria e a
-2 Sedação leve Acorda rapidamente,
mantém contacto visual
ecografia. Em situações de politrauma, a
por menos de 10 realização FAST e Rx bacia devem também
segundos estar incluídas na avaliação inicial de forma
-3 Sedação reage à estimulação
a confirmar ou excluir lesões ameaçadoras
moderada verbal mas sem abertura
dos olhos da via, como hemotórax, pneumotórax,
-4 Sedação não responde à voz mas tamponamento cardíaco, lesão intra-
profunda movimenta-se ou abre os abdominal e fractura pélvica.
olhos com estimulação
física
A realização de outros MCDT devem ser
-5 Não Incapaz de ser
despertável despertado; Não diferidos para uma avaliação secundária. A
responde à estimualação realização de TAC, angio-TAC ou RM
verbal nem à estimulação obrigam ao transporte do doente crítico,
física
que deve ser feito após exclusão de lesões
que possam ser identificadas e resolvidas
A monitorização neurológica durante o em contexto de sala de reanimação.
transporte do doente crítico é fundamental
Em contexto de sala de emergência,
na prevenção de eventos adversos, sejam
importa que o material e equipamento
a combatividade e desadaptação do
sejam “o mais portáteis possíveis”. Mais do
ventilador, sejam o agravamento de
que um ventilador topo de gama, interessa
condições clínicas como a hipertensão
nesta fase conectar o doente a um
intra-craneana, entre outras.
ventilador de transporte, para não atrasar o
E – EXPOSIÇÃO E CONTROLO DE encaminhamento do doente para o local
TEMPERATURA de tratamento definitivo. O mesmo é válido
para os equipamentos de monitorização,
O controlo da temperatura é um aspecto que deverão também ser portáteis
fundamental na abordagem do doente evitando assim perdas de tempo
crítico. Numa situação de politrauma, por desnecessárias na troca de equipamento
exemplo, em que a hipotermia está antes do transporte.
associada ao aumento da mortalidade, o
aquecimento é considerado fundamental. Seja em contexto de sala de emergência,
No entanto, outras situações existem em seja em contexto de unidade de cuidados
que a normotermia ou até a hipotermia intensivos, seja em contexto de emergência
ligeira podem ser consideradas pré-hospitalar, a avaliação do doente
terapêuticas, nomeadamente na crítico por prioridades é fundamental para
mitigação de défices neurológicos no pós garantir a segurança durante o transporte.
paragem cardiorrespiratória. Durante a efectivação do transporte, a
reavaliação contínua deve ser efectuada
PREPARAÇÃO PARA O TRANSPORTE também de acordo com esta metodologia.
38
8.VIA AÉREA E VENTILAÇÃO
39
adequado disponível para abordagem da como interface entre o ventilador artificial e
via aérea. o doente.
40
inspiratória é a resistência das vias aéreas. alterações gasimétricas, sobretudo
Valores excessivos (>40 cmH2O), podem hipocapnia por hiperventilação, com
causar barotrauma, com complicações alcalose respiratória, disritmias, alterações
como pneumotórax ou pneumomediastino. hemodinâmicas, e até barotrauma e
PEEP (positive end expiratory pressure): é volutrauma. A monitorização dos volumes
uma pressão positiva aplicada nas vias correntes e do CO2 no ar expirado através
aéreas no final da expiração, utilizada para de espirómetros e capnógrafos portáteis
evitar o colapso alveolar, melhorando a ajuda a evitar estes riscos. Manter uma PEEP
oxigenação. O valor normalmente utilizado adequada é também difícil, havendo risco
é de, pelo menos, 5 cmH2O (considerado de hipoxemia, pelo que a utilização de
um valor fisiológico). válvulas geradoras de PEEP pode ser útil. A
Pressão de suporte: pressão aplicada FiO2 também não pode ser regulada de
durante a inspiração e que apoia o forma precisa com este tipo de sistema,
estímulo inspiratório do doente. levando muitas vezes a hiperoxigenação
Relação inspiração:expiração (I:E): relação inadvertida, que pode ser prejudicial. Além
entre o tempo de inspiração e o tempo de destes riscos, acresce a desvantagem de
expiração, normalmente de 1:2 em ser necessário um elemento da equipa
ventilação espontânea. dedicado exclusivamente à ventilação.
Ainda, um ventilador mecânico de
Ventilação mecânica vs ventilação manual pequenas dimensões é mais fácil de
manobrar através de portas, corredores e
A ventilação invasiva pode ser feita de
elevadores do que uma pessoa a efectuar
forma mecânica ou manual. A ventilação
ventilação manual, cujos movimentos
mecânica faz-se através da utilização de
podem ser mais limitados.
ventiladores que, intermitentemente,
insuflam determinados volumes de ar na via
A ventilação mecânica pode ser realizada
aérea (volume corrente ou volume tidal -
com recurso a um ventilador mecânico de
VT). Este movimento de gás ocorre devido à
transporte ou com recurso ao próprio
geração de um gradiente de pressão entre
ventilador do doente. Os ventiladores de
as vias aéreas superiores e os alvéolos,
transporte consistem num pequeno circuito
conseguido pela aplicação de uma
respiratório com um sistema de controlo e
pressão positiva nas primeiras (ventilação
um monitor com alarmes, permitindo definir
por pressão positiva). Neste gás, é possível
parâmetros ventilatórios ajustados ao
ainda controlar a concentração de O2
doente. Algumas unidades de cuidados
(fração inspirada de oxigénio - FIO2)
intensivos possuem ventiladores com
necessária para se obter uma pressão
módulos destacáveis que podem ser
parcial de oxigénio adequada no sangue
facilmente transportados com o doente,
arterial (PaO2).
evitando desconexões e alterações de
parâmetros ventilatórios.
A ventilação invasiva também pode ser
Este controlo sob a ventilação do doente
realizada na forma de ventilação manual.
proporciona uma maior estabilidade
Esta é realizada utilizando um insuflador
respiratória, ácido-base e hemodinâmica
manual (“balão-válvula”, “Ambu®”) ou
do que a ventilação manual. Muitos autores
sistema de ventilação manual (ex.:
referem que o uso de ventiladores
Mapleson C). É frequentemente utilizada
mecânicos é mais benéfico que a
por razões prácticas: tem um baixo custo, é
ventilação manual durante o transporte, e
de fácil utilização, tem rápida curva de
existem, de facto, alterações gasimétricas
aprendizagem, e é sustentada por energia
significativas (nomeadamente, hipocapnia
humana. No entanto, o volume corrente,
e acidose) associadas a ventilação manual.
frequência respiratória, e pressão aplicados
No entanto, estas alterações não foram
são muito variáveis e dependentes do
associadas a diferenças significativas no
operador, existindo risco comprovado de
outcome dos doentes e não há evidência
científica comprovada para a utilização de
41
42
Outras informações incluem: o estado da inicie o esforço inspiratório. Assim, a SIMV
bateria e o consumo de gás. parece ser um modo mais vantajoso em
relação à IMV, na medida em que evita
Antes de utilizar o ventilador deve ser que o ventilador inicie um fluxo inspiratório
realizada a sua verificação e configuração, num momento em que o doente poderá
através dos seguintes passos: estar numa expiração durante um ciclo
• Fazer o teste de performance e espontâneo. Os fluxos mandatórios da SIMV
calibração; podem ter como trigger o tempo ou o
• Ajustar os parâmetros ventilatórios de esforço do doente, caso o doente inicie
acordo com o doente; uma ventilação espontânea antes da
• Verificar se os alarmes estão ligados e entrega de fluxo tempo-definida (p.ex. se a
ajustados ao doente (limites e volume); frequência mandatória definida é 10 cpm,
• Conectar o ventilador ao doente e o ventilador inicia um ciclo inspiratório a
confirmar que este está a ser cada 6 segundos, se não houver esforço
corretamente ventilado devendo ser inspiratório por parte do doente durante
dado o tempo necessário para este tempo).
adaptação do doente a esse novo Quer na IMV, quer na SIMV, a ventilação
equipamento. mandatória intermitente pode ocorrer com
volume controlado ou com pressão
Existem diversos modos ventilatórios, sendo controlada.
abordadas adiante apenas aqueles que
estão presentes na maioria dos ventiladores Na ventilação mandatória controlada ou
de transporte habitualmente utilizados 2,11: contínua (CMV), o ventilador entrega um
volume corrente pré-definido (volume
1. IMV (Ventilação mandatória controlado) numa frequência também pré-
intermitente) e/ou SIMV (Ventilação estabelecida, controlando, portanto, o
mandatória intermitente sincronizada); volume minuto do doente. Este modo
2. CMV (Ventilação mandatória ventilatório deve apenas ser utilizado
controlada ou contínua) e PRVC; quando o doente estiver adequadamente
3. PSV (Ventilação com pressão de sedado e, se necessário, sob bloqueio
suporte); neuromuscular, visto que qualquer esforço
4. CPAP (Ventilação com pressão positiva inspiratório do doente seria como tentar
contínua nas vias aéreas). respirar com uma via aérea
completamente obstruída.
IMV (Ventilação mandatória intermitente) e
As indicações para a ventilação
SIMV (Ventilação mandatória intermitente
mandatória controlada incluem doentes
sincronizada)
com mínimo ou nenhum esforço respiratório
Na IMV, o doente recebe um volume tidal
(p.ex. doente anestesiado ou com
pré-definido de forma programada,
disfunção do sistema nervoso central) e
podendo iniciar respirações espontâneas
situações em que o esforço respiratório está
entre os ciclos respiratórios definidos (o
contra-indicado (p.ex. vollet costal).
ventilador permite que ciclos espontâneos
Neste modo ventilatório é também possível
ocorram entre ciclos mandatórios,
administrar um volume corrente através de
ajustando a cadência dos ciclos de acordo
uma pressão pré-definida (pressão
com o trigger do doente).
controlada). Esta opção pode diminuir a
Quando o ventilador permite que o início
incidência de barotrauma mas existe o risco
dos ciclos mandatórios ocorra em sincronia
de o volume corrente sofrer variações
com o esforço do doente (pressão negativa
indesejáveis nos ciclos respiratórios (p.ex se
ou fluxo positivo), estamos perante o modo
alteração da complacência torácica).
de ventilação mandatória intermitente
PRVC (volume controlado regulado por
sincronizada (SIMV). Na SIMV, o ventilador
pressão) é um modo de ventilação
fornece volume adicional no momento da
controlada presente nos ventiladores mais
inspiração espontânea do doente e,
recentes, que agrega as vantagens da
adicionalmente, consegue fornecer o
ventilação por pressão controlada e
volume pré-definido caso o doente não
volume controlado. O ventilador entrega o
43
volume corrente pré-estabelecido com a COMPLICAÇÕES ASSOCIADAS AO
menor pressão possível, através de um fluxo TRANSPORTE DO DOENTE VENTILADO
desacelerado, considerado menos lesivo
para o pulmão. O primeiro ciclo entregue O transporte do doente ventilado, como já
ao doente é volume controlado. É então referido, está associado a vários riscos e
medida a pressão plateau, que é usada complicações, com consequências
para estabelecer o nível de pressão para o imediatas e rápida deterioração fisiológica.
ciclo respiratório seguinte. O volume Por este motivo, a equipa que realiza o
entregue é ajustado ciclo a ciclo: se os transporte deve estar preparada para
volumes medidos pelo ventilador forem qualquer uma das seguintes situações:
superiores ao volume pré-definido, a
COMPLICAÇÕES ASSOCIADAS AO DOENTE
pressão diminui gradualmente (até ao
máximo de 3 cmH2O) em ventilações
Compromisso da via aérea
consecutivas até o volume pré-definido ser
entregue. É uma das complicações mais graves. O
compromisso pode ocorrer por: perda da
A ventilação com pressão de suporte (PSV) patência da via aérea numa via aérea
é um modo ventilatório assistido, usado previamente competente (alteração do
para diminuir o trabalho respiratório. estado de consciência, edema da VA,
Consiste na aplicação de níveis pré- vómito/aspiração de conteúdo gástrico,
definidos de pressão positiva e constante incapacidade de lidar com secreções
(plateau) durante a fase inspiratória, abundantes, etc), ou por complicações
reduzindo o trabalho dos músculos num doente intubado, por exemplo,
inspiratórios, sendo o doente que determina extubação acidental. O risco de extubação
a duração da inspiração, a frequência acidental ocorre principalmente durante as
respiratória e o volume tidal. Não é definida, transferências entre camas/macas e à
portanto, uma frequência respiratória entrada e saída da célula sanitária, pelo
mínima - o ventilador assiste a ventilação que o tubo orotraqueal/cânula de
espontânea do doente entregando uma traqueostomia deve ser bem fixo antes do
pressão que se mantém constante até ao transporte (adesivo ou fita de nastro). A
final da fase inspiratória. Pode ser usada sedação e o relaxamento neuromuscular
como suporte parcial ou total da ventilação reduzem este risco.
espontânea, podendo ser associada à SIMV Em qualquer caso, deve estar disponível
(não estando activa durante as inspirações material de aspiração da via aérea no local
mandatórias). Como desvantagem, este de destino e durante o transporte para
modo ventilatório, quando utilizado longas distâncias, ou mesmo para
isoladamente, funciona apenas quando o distâncias menores no caso de doentes
doente apresenta drive respiratório. com secreções abundantes nas vias
aéreas.
Ventiladores comumente utilizados nos Se houver risco de aspiração de conteúdo
nossos hospitais: gástrico, sobretudo durante o movimento,
deve ser ponderada colocação de sonda
gástrica (se ainda não tiver sido colocada),
a alimentação por sonda deve ser
interrompida, e ponderar administrar
bloqueadores dos receptores H2 .
Hiperventilação
44
alcalose respiratória com desvio da curva podem ser causa de hipotensão ou
de dissociação de hemoglobina para a disritmias.
esquerda, com consequente redução na
entrega de O2 aos tecidos. Aumento da pressão intracraniana (PIC)
desenvolvimento de atelectasias.
COMPLICAÇÕES ASSOCIADAS AO
Hipoxia EQUIPAMENTO
45
aguda e crónica, de várias etiologias. Nos de gerir não devem ser transportados
últimos anos, a VNI tem ganho um papel com VNI.
crescente nas salas de emergência no
tratamento de doentes seleccionados, com
destaque para as agudizações de Doença ESCOLHA DA EQUIPA
Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) e do
Todos os doentes transportados com
edema pulmonar cardiogénico. O seu
VNI devem ser acompanhados por
sucesso exige, para além de experiência
médico e enfermeiro treinados em
clínica, um balanço cuidadoso do
abordagem da via aérea e
benefício da terapêutica versus o risco de
ressuscitação cardiorrespiratória;
deterioração e a necessidade de
A equipa que procede ao transporte
ventilação invasiva.
deve conhecer e dominar as
A evidência actual aponta para que, modalidades de suporte ventilatório, as
idealmente, o transporte inter-hospitalar inferfaces e saber reconhecer e
não seja feito com recurso a ventilação não solucionar problemas frequentes na
invasiva, pois a deterioração da condição VNI;
ventilatória do doente, com necessidade A equipa que vai receber o doente (no
de proceder a entubação orotraqueal, caso das transferências para outros
num espaço pequeno como a ambulância serviços) deve ser informada
é desaconselhado. Assim, sempre que previamente, para que possa estar
possível, o transporte do doente em VNI pronta para receber o doente,
deve ser evitado, devendo ser preparando o material e programando
equacionadas outras soluções. o ventilador (no caso de haver
necessidade de troca de dispositivo).
A organização intra-hospitalar implica,
muitas vezes, o deslocamento do doente
para realização de exames
EQUIPAMENTO
complementares de diagnóstico ou a sua
transferência para outras áreas dentro do O equipamento deve ser leve e
hospital. Idealmente, o transporte intra- facilmente transportável;
hospitalar de um doente com necessidade O ventilador deve ser especificamente
de VNI não deve exceder os 15 minutos. preparado para administração de
ventilação não invasiva e com bateria
interna. A equipa deve ter experiência
SELECÇÃO DO DOENTE no uso do referido ventilador,
conhecendo os modos ventilatórios,
O doente a transportar com suporte
funções e parametrizações disponíveis;
ventilatório não invasivo deve estar
Se for possível, o ventilador de
hemodinamicamente estável, em
transporte deve ser o mesmo ao qual o
ventilação espontânea e ter
doente se encontra previamente
capacidade de proteção da via aérea;
adaptado. Havendo necessidade de
Doentes com resposta apenas parcial à
trocar de equipamento, deve tentar
técnica, não são candidatos
manter-se o mesmo modo ventilatório e
adequados a transporte com VNI, pois
nível de suporte. Deverá ser feito um
têm um risco não negligenciável de
período de observação prévio ao
agravamento durante o transporte;
transporte, avaliando o nível de
Doentes que se encontram mal
adaptação do doente ao novo
sincronizados com o sistema ou que se
equipamento;
mantém francamente dispneicos
O doente deve ser transportado com a
apesar da optimização dos parâmetros,
interface adequada. De um modo
podem necessitar de melhor avaliação
geral, e na ausência de evidência
e estabilização antes do transporte;
científica mais específica neste assunto,
Do mesmo modo, doentes não
o doente deve ser transportado com a
colaborantes ou com broncorreia difícil
interface à qual se encontra
previamente bem adaptado. Deve ser
46
sempre verificada a adaptação do pressão positiva com recurso ao fluxo de
doente antes da transferência e oxigénio.
frequentemente durante o transporte,
Por esse motivo, é passível que algumas
pois são frequentes os deslocamentos
equipas de VMER o utilizem na abordagem
acidentais das máscaras e,
pré-hospitalar para estabilização do doente
consequentemente, as fugas de ar
com o diagnóstico de insuficiência
neste contexto com prejuízo da
cardíaca descompensada até à sala de
ventilação.
emergência e que, em contexto hospitalar,
as equipas devam estar preparadas para
MONITORIZAÇÃO receber estes doentes e eventualmente
transferi-los para outros departamentos
Durante o transporte intra-hospitalar do
como os serviços de observação ou
doente com VNI, os seguintes parâmetros
unidades de cuidados intermédios.
devem estar disponíveis:
A sua utilização é relativamente simples:
Monitorização cardíaca contínua;
Pressão arterial não invasiva; Inicialmente deve ser escolhida a
Oximetria periférica contínua; máscara que melhor se ajuste ao
Frequência respiratória e volumes doente,
correntes expiratórios; Em seguida adapta-se a válvula de
Sincronia doente-ventilador (quer pela Boussignac a essa mesma máscara,
adaptação subjetiva do doente e Na válvula de Boussignac existem duas
decorrente da observação, que entradas: a principal, à qual se adapta
através da interpretação de curvas de à fonte de oxigénio e uma secundaria
pressão e fluxo); à qual será ajustado o manómetro de
Vigilância clinica durante todo o pressão,
transporte, com particular atenção ao Após ter a máscara ajustada ao
nível de consciência, auscultação doente, basta ajustar o fluxo de
cardiopulmonar se clinicamente oxigénio para obtenção da pressão
necessário e adaptação da máscara e desejada,
fugas de ar. Por fim, e após se obter a pressão
desejada, pode desadaptar-se o
manómetro de pressão e fechar essa
TRANSPORTE DO DOENTE SOB CPAP entrada.
47
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Intrahospital transport of the adult
48
9.CHOQUE
49
administração de hemoderivados e anti- O quadro típico relacionado com a
fibrinolíticos, por exemplo. redução do volume circulante é a
taquicardia, vasoconstrição periférica
Dependendo do motivo que condiciona a (palidez cutânea e sudorese) e hipotensão.
hipoperfusão, alguns sintomas podem ser Os sintomas serão tanto mais graves quanto
distintos: mais grave for a perda de volume.
50
O tratamento do choque distributivo deverá CHOQUE CARDIOGÉNICO
ser dirigido à causa. Na anafilaxia o
tratamento inicial deverá recair sobre a
administração de adrenalina 0,5mg IM, O choque cardiogénico está relacionado
ressuscitação hídrica com cristalóides e com a falência da função de bomba do
administração de anti-histamínicos e coração devido a falência valvular ou do
terapêutica corticóide. Na sépsis, para além miocárdio. A causa mais comum é o
da ressuscitação hídrica com fluidos e enfarte agudo do miocárdio.
administração precoce de antibioterapia,
Uma vez mais, o tratamento definitivo
poderá ser equacionado tratamento com
destes doentes encontra-se na sala de
vasopressores (noradrenalina) caso não
hemodinâmica pelo que poderá haver
exista resposta satisfatória à fluidoterapia.
necessidade de se proceder ao transporte
No choque neurogénico devido a lesão
com instabilidade hemodinâmica.
vertebro-medular está indicado o
tratamento precoce com vasopressores O tratamento de suporte durante o
está indicado. transporte para além da estabilização da
função ventilatória, está relacionada com o
CHOQUE OBSTRUTIVO
tratamento dirigido ao síndrome coronário
agudo. Perante a necessidade de instituir
O choque obstrutivo está associado a uma tratamento com vasopressor, a escolha
causa mecânica que impede a função de inicial deverá recair sobre a noradrenalina
bomba do coração. Os exemplos mais uma vez que tem um efeito cronotrópico
típicos são o pneumotórax hipertensivo e o reduzido e pode beneficiar o doente com
tamponamento cardíaco. Clinicamente, o um aumento da pré-carga.
choque obstrutivo para além de cursar com
TRANSPORTE DO DOENTE EM CHOQUE
alteração do estado de consciência,
hipotensão severa e taquicardia, apresenta
também ingurgitamento ou distensão das Seja qual for a etiologia do choque, é
veias do pescoço como resultado do fundamental que a equipa saiba identificar
aumento da pré-carga, isto se não existirem a presença de choque e iniciar medidas de
outros factores que condicionem redução correcção e/ou estabilização
severa do volume circulante. hemodinâmica.
51
Independentemente da etiologia do isquémia da mesentérica e processos
choque, é frequente que o transporte do embólicos das extremidades. Bólus
doente crítico em choque envolva o inadvertidos de noradrenaliona conduzem
manuseamento de vasopressores em a picos hipertensivos severos.
perfusão contínua, cujos efeitos devem ser
continuamente monitorizados durante o Dopamina: percussor natural da
transporte de forma a detectar noradrenalina, a dopamina é também um
precocemente reacções adversas. potente vasoconstritor. Em doses baixas, é
responsável pela activação dos receptores
Todos os vasopressores devem ser dopaminérgicos conduzindo a
administrados através de cateter central e vasodilatação renal, esplénica, mesentérica
o doente deve ser submetido a avaliação e coronária. Em doses intermédias, a
contínua de pressão arterial invasiva. As dopamina activa os receptores beta1
linhas venosas devem estar colocadas e conduzindo a uma elevação da PAM, FC,
identificadas de forma a excluir a volume de ejecção e débito cardíaco
possibilidade de administração de bólus de (efeito inotrópico). Em doses mais elevadas,
forma inusitada. estimula os receptores alfa1, aumentando a
PAM. Embora a noradrenalina seja mais
Adrenalina: potente alfa e beta agonista, a eficaz na correcção da hipotensão no
adrenalina aumenta a PAM através do choque de etiologia séptica, a dopamina
aumento do débito cardíaco e da pode ser uma alternativa aceitável em
vasoconstrição periférica. Em doses mais doentes com menor risco de taquidisritmia
baixas, a adrenalina estimula os receptores ou em doentes com bradicardia. Por
beta, aumentando a frequência cardíaca oposição, a dopamina deve ser evitada em
e o débito cardíaco e relaxando a doentes com taquidisritmia presente ou em
musculatura lisa. Em doses mais elevadas, maior risco de a desenvolver e está contra-
estimula os receptores alfa conduzindo à indicada em doentes com
vasoconstrição e ao efeito inotrópico. A sua pheocromocitoma.
administração pode estar associada a
elevação do lactato sérico, pelo que este Dobutamina: catecolamina sintética, a
deixa de ser um elemento fidedigno de dobutamina é um potente inotrópico que
avaliação e monitorização do choque. Em aumenta o débito cardíaco através da
administrações prolongadas ou em alta estimulação dos receptores beta1 e beta2.
dose, a adrenalina pode estar associada a Em doses baixas, a dobutamina aumenta o
lesão e isquemia tecidular bem como volume de ejecção sem efeitos
efeitos cardiotóxicos e eventual lesão significativos ao nível da FC. Em doses mais
miocárdica. elevadas, conduz a taquicardia que pode
dificultar o preenchimento ventricular no
Noradrenalina: é um potente vasoconstritor momento da diástole. É o inotrópico de
com limitado efeito inotrópico, através do eleição no choque cardiogénico e pode
seu papel alfa-agonista, sem efeitos beta2- também ser escolhido no tratamento do
agonistas e com limitado efeito beta1- choque séptico como suporte a doentes
agonista. Os efeitos sobre a PAM são por que não respondem adequadamente ao
isso consequência do aumento da pressão fluid-challenge e aos vasopressores de
arterial e do aumento das resistências primeira linha. Pode estar associada a
vasculares periféricas. É actualmente o disritmias severas. Sobretudo em doentes
vasopressor de primeira linha, com estenose aórtica e em doentes com
recomendado pela maior parte das fibrilação auricular.
sociedades científicas. Doentes submetidos
a doses elevadas de noradrenalina ou a um
tratamento prolongado estão sujeitos a
lesões tecidulares importantes e REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
cardiotoxicidade importante que pode
Dept of Anaesthesia & Intensive Care of The
evoluir para isquémia miocárdica. Deve ser
Chinese University of Hong Kong. (2016).
evitada em doentes com suspeita de
52
Basic Assesment & Suport in Intensive Care.
Hong Kong.
53
10.MONITORIZAÇÃO HEMODINÂMICA
54
CAPNOGRAFIA corresponde ao início da expiração. A fase
III (ou plateau) representa o esvaziamento
A capnografia é uma forma de do espaço alveolar, à medida que a
monitorização amplamente aceite no expiração ocorre. (A) corresponde a toda a
transporte do doente crítico, justificada em fase expiratória e (B) a fase inspiratória do
grande parte pelo risco de extubação ciclo respiratório.
acidental e como método para verificar a
correcta introdução do tubo orotraqueal. É
fortemente recomendada, nomeadamente
pela Sociedade de Cuidados Intensivos do
Reino Unido. A B
55
valor de capnografia podem sugerir à monitorização, mas também para
equipa deslocação do tubo endotraqueal direccionar estratégias terapêuticas
ou agravamento da condição fisiológica relacionadas com oxigenoterapia ou
do doente. ventilação mecânica (invasiva e não
invasiva). No entanto, apesar de ser um
OXIMETRIA DE PULSO método relativamente fiável, apresenta
algumas limitações e existem circunstâncias
A oximetria de pulso é talvez a forma de
que podem conduzir a erros de leitura. Os
monitorização mais standardizada no
mais frequentes são:
contexto de serviço de urgência,
permitindo obter uma estimativa da
Movimentos frequentes do local onde se
saturação de oxigénio arterial de forma não
encontra o sensor de oximetria (tremor);
invasiva. É importante compreender que Verniz nas unhas, tons de pele escuros,
com este método o objecto de pele fria, hipotensão, sudorese;
monitorização é a oxigenação e não a Luz ambiente, especialmente se for
ventilação. É uma mais-valia na vigilância e pulsátil;
na detecção precoce de hipoxemia mas Variações da pulsação arterial e venosa.
deve ser contextualizada na avaliação
global do doente e não ser interpretada de A oximetria de pulso é precisa em doentes
forma individual, o que poderá levar a erros com hipoxemia ligeira a moderada
de interpretação e de diagnóstico. (SPO2>75%) mas apenas na ausência de
Este método de monitorização da hipotensão ou hipoperfusão severas. Não
oxigenação baseia-se na Lei de Beer- substitui a gasimetria arterial que fornece
Lambert, que determina que a dados muito precisos acerca da
concentração de uma substância pode ser oxigenação, do pH, equilibrio ácido-base e
determinada transmitindo uma intensidade electrolítico.
conhecida de luz através de uma solução.
Na monitorização da SpO2, é transmitida luz PRESSÃO ARTERIAL NÃO INVASIVA
vermelha com um comprimento de onda
de 600 nm e luz próxima do infra-vermelho A avaliação da pressão arterial pode ser
com comprimento de onda de 940 nm feita de duas formas (não invasiva e
através do leito vascular, normalmente num invasiva).
dedo. Estes dois tipos de luz penetram nos A avaliação da pressão arterial por método
tecidos onde os seus comprimentos de não invasivo (PNI) como conhecemos hoje
onda são absorvidos. A luz vermelha (660 foi introduzida em Itália em 1896 pelo físico
nm) é absorvida pela hemoglobina Riva-Rocci que desenvolveu o
reduzida (desoxi-hemoglobina), enquanto esfigmomanómetro. O príncipio consiste na
que a luz próxima de infra-vermelho (940 colocação de braçadeira à volta do braço
nm) é absorvida pela hemoglobina ou da perna, em locais onde existam
saturada de O2 (oxi-hemoglobina). Um artérias de grande calibre (p. ex. braquial,
detector de fotodiodo posicionado em radial, popliteia), e de seguida insuflar a
posição oposta à fonte de luz, mede a braçadeira até atingir uma pressão
quantidade transmitida e o racio entre os suficientemente elevada para ocluir o fluxo
dois tipos de luz é calculado e comparado sanguíneo. Posteriormente a braçadeira é
com valores de referência, originado os desinsuflada lentamente permitindo o
resultados visualizados no monitor. retorno do fluxo sanguíneo. A pressão pode
Habitualmente os monitores com oximetria ser determinada pelos seguintes métodos:
avaliam também a frequência de pulso.
Existem vários tipos e sensores de oximetria. Auscultatório: Colocando um estetoscópio
Os mais comuns são os sensores de dedo, sobre a artéria ocluída e auscultando os
sons de Korotoff. Ao desinsuflar
de orelha e da região frontal.
lentamente a braçadeira a pressão
Pela facilidade de utilização, a oximetria de
arterial sistólica corresponde ao primeiro
pulso é utilizada de forma frequente em
batimento aucultado. À medida que se
todos os contextos de cuidados ao doente
continua a desinsuflar a braçadeira os
crítico. Não só é utilizada para sons vão ficando progressivamente menos
56
audíveis. O último batimento auscultado MONITORIZAÇÃO INVASIVA
corresponde à pressão arterial diastólica.
É um método que requer treino do
profissional na auscultação, uma vez que PRESSÃO ARTERIAL INVASIVA
em situações de baixo débito, a
intensidade dos sons de Korotoff está A monitorização da pressão arterial invasiva
diminuída o que pode levar a erros de é altamente recomendada no transporte
avaliação. secundário do doente crítico. Permite uma
Oscilatório: Este método utiliza o princípio avaliação precisa do estado
da plestimografia para detectar variações hemodinâmico e ajuda na definição da
pulsáteis. As variações de pressão na estratégia terapêutica. Também é útil para
artéria (pulso) serão transmitidas à recolha de amostras sanguíneas sem a
braçadeira insuflada, calculadas necessidade de puncionar o doente
electronicamente e os valores fornecidos repetidamente. As complicações sérias são
no monitor. É um método muito utilizado
pouco comuns, embora o local de
nos mais diversos contextos clínicos, mas
canulação deva ser escolhido
cuja precisão pode ser relativamente
criteriosamente. As artérias comummente
baixa. Para isso contribui a não calibração
utilizadas são as artérias radiais, umerais e
regular do equipamento, movimentos
involuntários do doente ou mesmo a femurais. Excepcionalmente recorre-se às
incorrecta selecção da braçadeira. artérias pediosas. A artéria braquial/umeral
é uma opção, embora não insenta de
A medição não invasiva da pressão arterial riscos, uma vez que em caso de
requer braçadeiras de tamanho adequado lesão/obstrução por tentativas repetidas de
ao diâmetro do braço do doente. punção pode comprometer a perfusão de
Braçadeiras demasiado pequenas podem quase todo o membro superior. A artéria
originar valores de pressão arterial mais femural é uma escolha válida, quer pelo
elevados enquanto que braçadeiras grande calibre, quer pela sua fácil
demasiado grandes podem originar valores localização. Os riscos associados à punção
mais baixos. femural são o de hemorragia oculta para o
espaço retroperitoneal (se punção proximal
Pelo facto de não transmitir um valor
acima do ligamento inguinal), trombose e
totalmente fidedigno, a avaliação de
infecção.
pressão arterial pelo método não invasivo
deve ser efectuada de forma seriada. Uma Para a inserção da linha arterial utiliza-se a
única avaliação não deve ser tida como técnica de Seldinger preferencialmente
rigorosa, pelo que deve ser confirmada por com recurso a ecografia.
avaliações subsequentes. Para além de
permitir a confirmação dos valores obtidos, A canalização arterial para monitorização
a seriação na avaliação da PNI permite à invasiva da pressão arterial tem indicação
equipa ter uma noção sobre a estabilidade em todos os doentes que apresentam (ou
ou degradação da condição fisiológica do estão em risco de) instabilidade
doente durante o transporte. hemodinâmica, necessidade de
monitorização rigorosa da pressão arterial e
O método não invasivo é válido no colheita seriada de amostras sanguíneas.
transporte primário do doente crítico, ou
seja no contexto pré-hospitalar, em que o A morfologia da curva de pressão arterial
recurso ao método invasivo é obtida pelo método invasivo varia de
desaconselhado quer pelo tempo que acordo com a artéria canalizada. De notar
demora a sua colocação, quer pelas que a pressão arterial sistólica (PAS)
questões da assépsia bem como pelo aumenta gradualmente desde a circulação
equipamento necessário. O central até à circulação periférica e que a
esfigmomanómetro dever ser parte pressão diastólica estreita nesse sentido, o
integrante do monitor/desfibrilhador que que faz com que a pressão arterial média
acompanha o doente durante o transporte. se mantenha inalterada.
57
PRESSÃO VENOSA CENTRAL sendo que alguns até demonstram o
aumento de complicações. Contudo estes
A maior parte dos doentes críticos em dados não são suficientemente
contexto de UCI terão colocado um acesso convincentes e o recurso ao CAP pode ser
venoso central. Para além da advogado em situações cujo benefício
administração de fármacos e fluidos, a supere os riscos.
presença de um cateter venoso central
permite a avaliação e monitorização da É importante referir que o recurso ao CAP
pressão venosa central (PVC). As veias mais para monitorização, implica staff médico e
utilizadas para canulação venosa central de enfermagem treinado e com
são as veias jugulares internas, as veias conhecimentos na interpretação dos dados
subclávias e as veias femurais. A obtidos. Podem ser encontrados doentes
localização é escolhida de acordo com as com este tipo de catéteres que necessitem
características do doente e das indicações. de transporte. Para além das
potencialidade ao nível da monitorização
A pressão venosa central (PVC), é útil para hemodinâmica, o CAP permite
ter uma ideia acerca do preload do administração de terapêutica como um
ventrículo direito e deve ser avaliada com o catéter venoso central convencional. A
transdutor ao nível do eixo flebostático. principal indicação para colocação de
Uma vez que a PVC é alterada com o CAP é a monitorização de doentes com
aumento da pressão intratorácica insufuciência cardíaca direita e hipertensão
associada à inspiração, esta deve ser pulmonar, pelo que a sua utilização
medida no fim da expiração. actualmente está algo restringida a
unidades de cardiologia.
Apesar da medição da PVC ser realizada
há décadas para se perceber o estado de Com o CAP é possivel monitorizar as
preenchimento do doente, a evidência pressões sistólica, diastólica e média da
mais recente tem vindo a demonstrar uma artéria pulmonar, a pressão venosa central,
utilidade bastante limitada na prática a pressão do ventrículo direito e a pressão
clínica. Uma correcta avaliação da PVC de encravamento da artéria pulmonar que
está influenciada por uma série de reflecte a pressão telediastólica do
determinantes como o posicionamento do ventriculo esquerdo. É possível medir a SvO2
doente, o volume circulante, as interacções e calcular o débito cardíaco, o index
entre a circulação pulmonar e a circulação cardíaco, a resistência vascular sistémica e
sistémica ou a influência da respiração. a resistência vascular pulmonar.
58
Extravasamento da artéria pulmonar
Ruptura da artéria pulmonar
59
11.PARAGEM CARDIO-RESPIRATÓRIA DURANTE O TRANSPORTE
60
cardíaco e o gradiente de pressão intra- desfibrilhações devem ser administradas
torácica na fase de descompressão, consecutivamente perante as seguintes
garantem a qualidade das compressões condições (cumulativas):
durante todas as fases do transporte, para
Um desfibrilhador manual está
além de garantirem a segurança da equipa
imediatamente disponível;
(que não tem de ir de pé na ambulância) e
A PCR é presenciada;
optimizar a gestão das manobras,
O doente está monitorizado no
libertando um elemento da equipa de
momento da PCR;
transporte (geralmente com um curto
O ritmo (FV/TVsP) persiste após cada
número de elementos face à realidade
desfibrilhação.
intra-hospitalar) para a realização de outras
tarefas como a manutenção de uma VA Para além das condições acima descritas, 3
eficaz, preparação e administração de desfibrilhações seguidas devem ser
drogas e julgamento clínico e crítico do também utilizadas em doentes no pós-
cenário de PCR. operatório de cirurgia cardíaca.
DESFIBRILHAÇÃO
IDENTIFICAÇÃO E TRATAMENTO DA CAUSA
Os ritmos considerados de melhor SUBJACENTE
prognóstico da PCR do adulto de causa
médica são os ritmos desfibrilháveis Regra geral, no transporte secundário de
(FV/TVsP). A probabilidade de sucesso da doentes, a equipa conhece a história
desfibrilhação reduz-se com o tempo, actual de doença bem como
aproximadamente 7-10% por minuto, daí antecedentes importantes do doente, o
que seja fundamental que um desfibrilhador que pode ajudar a conduzir o pensamento
acompanhe o doente crítico durante o clínico para a identificação e tratamento
transporte. da causa subjacente à PCR.
61
De acordo com a American Heart indicada no tratamento dos ritmos
Association, existem 10 causas de PCR desfibrilháveis (FV e TVs/P), havendo no
potencialmente reversíveis: entanto alguns estudos que podem apontar
a um eventual benefício noutras situações,
5 Hs 5 Ts
nomeadamente assistolia.
Hipovolémia Tamponamento
cardíaco No entanto, existem várias outras situações,
descritas acima no quadro das causas
Hipotermia Pneumotórax potencialmente reversíveis que, produzindo
Hipertensivo
geralmente PCR com ritmos não
Hidrogenião Tromboelbolismo desfibrilháveis (nomeadamente a
(acidose) pulmonar actividade eléctrica sem pulso) carecem
Hipo-hiperkaliémia Tromboembolismo de ser identificadas e prontamente
cardíaco (SCA) corrigidas. A correcção destas causas pode
passar pela intervenção invasiva como a
Hipóxia Tóxicos
descompressão torácica no pneumotórax
hipertensivo, por exemplo, ou através de
É fundamental que a equipa avalie clinica fármacos como o cloreto de cálcio nos
e criticamente o doente e identifique a casos de hiperkaliémia.
causa provável de PCR. A manutenção das Independentemente da causa, se esta não
manobras de suporte básico e avançado for identificada e corrigidas durante as
de vida garantem apenas um suporte manobras, as probabilidades de
clínico que garantem a manutenção da recuperação de circulação expontânea
perfusão durante a PCR mas não tratam diminuem drasticamente.
directamente a causa da PCR. É
fundamental intervir sobre a causa para
melhorar a hipótese de sobrevivência.
62
American Heart Association, 2015
63
12.TRANSPORTE DO POLITRAUMATIZADO
64
transportado muitas vezes em situação de necessidade de transferir secundariamente
instabilidade hemodinâmica e com doentes de trauma que necessitem de
potencial de agravamento durante o abordagem cirúrgica ou internamento em
transporte, pelo que a equipa deve estar serviços de especialidade, como
preparada para responder de forma pronta neurocríticos, queimados ou crianças.
a este agravamento. Muitas vezes, existe
necessidade de proceder ao transporte do No entanto, esta transferência deverá ser
politraumatizado com terapêutica realizada apenas após estabilização
transfusional em curso, por exemplo, o que médica ou cirúrgica de lesões torácicas,
acarreta um risco extra a um transporte já abdominais ou pélvicas que possam
de si delicado. condicionar outcomes desfavoráveis ao
doente.
A necessidade de transferência urgente ou
emergente para bloco operatório não No caso de poder estar indicado o
pode, todavia, servir de desculpa para uma helitransporte, algumas lesões devem estar
transferência desorganizada ou descartadas ou resolvidas, nomeadamente
atabalhoada. Exige sim, mais do que todas aquelas que condicionem a
noutras situações, uma equipa presença de ar numa cavidade fechada,
multidisciplinar altamente treinada, como pneumoencéfalo ou pneumotórax.
diferenciada e, de preferência, habituada
PREPARAÇÃO DA TRANSFERÊNCIA
a trabalhar entre si.
Para além de todas as precauções
No entanto, para além da transferência
genéricas que devem ser efectuadas
emergente para o bloco operatório, o
previamente ao transporte e que foram já
politraumatizado pode ter de ser sujeito a
previamente abordadas neste manual,
inúmeros transportes, seja na transferência
existem algumas questões específicas a ter
entre serviço de urgência e UCI, seja para a
em atenção no grande trauma.
realização de exames de imagem como
TAC, angio-TAC e RM. Ainda que de forma
Doentes que tenham critério de
mais controlada e planeada, estas
imobilização de coluna e que não tenham
transferências continuam a constituir um
sido ainda estudados ou que têm lesão de
desafio para a equipa de transporte,
coluna confirmada, necessitam de
sobretudo no que à restrição de
cuidados de imobilização durante todo o
movimentos diz respeito se esta estiver
transporte. A forma mais correcta de
indicada. Exemplo disso são os doentes
transportar é com recurso à maca de
com trauma vertebro-medular e que
vácuo que deve ser sempre preferida ao
deverão ser mobilizados sempre mantendo
uso do plano duro. O plano duro, para além
o correcto alinhamento de todo o eixo
de estar associado a taxas elevadas de
cervico-dorso-lombar. Esta situação será
úlceras de pressão (nomeadamente
abordada mais à frente neste capítulo. occipitais e sagradas), pode ser deletério
nos doentes com trauma pélvico e não
TRANSFERÊNCIA INTER-HOSPITALAR
garante a mesma estabilidade para toda a
A transferência inter-hospitalar do coluna durante o transporte.
politraumatizado deve estar reservada para
A colocação do doente na maca de
doentes que foram estabilizados
vácuo deve ser realizada com recurso ao
hemodinamicamente no serviço referente.
levantamento com maca scoop.
O ideal, seria reduzir a necessidade deste
tipo de transferências, seja através de uma
De referir que a protecção avançada da
melhor referenciação pré-hospitalar do
VA deve ser considerada em doentes que
grande trauma seja através de fazer
são transportados com imobilização total
deslocar a equipa médica ao local
de coluna, pelo risco aumentado de vómito
referente ao invés de estar a fazer deslocar
e consequente aspiração. Sempre que
o doente ao local onde se encontra o
existir dúvida em relação à garantia de
médico de determinada especialidade. No
uma VA avançada, ela deverá ser
entanto, manter-se-á sempre a
65
assegurada em contexto de sala de via terrestre seja em transporte por via
emergência. Já é suficientemente aérea.
desafiante a intubação de um doente de
trauma grave com lesão cervical real ou
potencial em condições óptimas de
espaço e luz, pelo que é de evitar que a
mesma tenha de ser efectuada em
contexto de ambulância.
66
para a segurança do doente e do A maca de vácuo, para além de ser mais
transporte. confortável para o doente, traduz-se em
menor iatrogenia no que diz respeito a
IMOBILIZAÇÃO DO POLITRAUMATIZADO úlceras de pressão e garante uma maior
estabilidade do doente durante o
Este tema é dos mais controversos na
transporte. A maca de vácuo oferece
abordagem e transporte do doente de
também maior estabilidade à bacia, se
trauma. Durante anos, a colocação de
bem que nos doentes com suspeita de
colar cervical e imobilização total de
trauma pélvico está sempre indicada a
coluna com recurso a plano duro, apoios
aplicação de cintos pélvicos por forma a
laterais de cabeça e cinto aranha foi
controlar a extensão a hemorragia interna
considerado como standard para todos os
associada.
doentes de trauma. No entanto, a
evidência produzida e publicada na última A equipa de transporte deverá também
década, tem vindo a demonstrar não só saber verificar a correcta colocação do
que a sua utilidade é duvidosa como colar cervical. Quando excessivamente
podem encerrar em si iatrogenia em apertados, os colares cervicais interferem
diversas situações. com a permeabilidade dos vasos do
pescoço e em doentes com TCE grave
Assim, diversas escolas como o International
podem ser responsáveis pelo agravamento
Life Support (ITLS) e o Anaesthesia, Trauma
da hipertensão intracraniana.
and Critical Care (ATACC) preconizam
critérios para imobilização de coluna. São A decisão de imobilizar ou não imobilizar
eles: não cabe apenas às equipas pré-
hospitalares. Sobretudo num contexto em
Doente inconsciente;
que a rede pré-hospitalar é algo
Doente consciente com dor de coluna;
indiferenciada e se rege ainda pelo
Doente com défice neurológico
princípio de imobilizar a maior parte dos
instalado;
doentes de trauma, as equipas intra-
Doente que estando consciente,
hospitalares devem estar preparadas para
apresenta algum tipo de intoxicação
a remoção precoce dos dispositivos de
(etanólica, por exemplo) que impede a
imobilização. O que se pretende, sobretudo
correcta identificação ou exclusão de
na abordagem intra-hospitalar, é uma
lesão neurológica;
restrição de movimentos e não
Doente com lesões distractivas (por
propriamente a imobilização completa do
exemplo, amputação do membro
doente de trauma.
inferior).
Esta remoção de material de trauma não
Por oposição, doentes conscientes, sem
deve, contudo, ser entendida como a
nenhuma intoxicação e sem lesões
prioridade da equipa da sala de
distractivas e que não apresentem qualquer
emergência. A sistematização da
sinal de compromisso neurológico, não
abordagem por prioridades (ABCDE ou
carecem de imobilização de coluna.
outra) deve ser seguida. Após identificação,
correcção e estabilização de problemas
A imobilização em plano duro está
em ABC, será no D que a avaliação das
relacionada com diversa iatrogenia, pelo
condicionantes que podem afectar o
que quando indicado o transporte com
estado neurológico deve ser efectuada,
imobilização total de coluna este deve ser
com a decisão de manter ou não
realizado em maca de vácuo. O plano
dispositivos de imobilização e a realização
duro configura-se assim como um
ou não de meios de diagnostico de apoio à
dispositivo de extracção, mas não como
um dispositivo indicado para transporte do decisão.
doente de trauma, sobretudo quando este
De acordo com a normativa da DGS que
transporte excede os 30 minutos.
regula a organização dos cuidados
urgentes ao traumatizado, os exames a
efectuar durante a abordagem primária
67
(primeiros 20 minutos) são a gasimetria ITLS. (2016). Internatiional Trauma Life Support
arterial, o FAST e o Rx bacia. Exames como for Emergency Care Providers, 8th Ed.
TAC CE, de coluna e outros exames são Pearson.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
68
13.TRANSPORTE DO QUEIMADO
A International Society for Burn Injuries (ISBI) Uma vez que o conceito de golden hour
sublinha a importância da existência de um não é aplicado ao grande queimado, já
sistema integrado assistencial à pessoa que as alterações fisiopatológicas
vítima de queimadura. acontecem com algum atraso, torna-se
Após a prestação dos primeiros socorros e mais importante a correcta avaliação,
da assistência pré-hospitalar, seguem-se o instituição e gestão do tratamento ao invés
transporte para a unidade hospitalar do transporte imediato para um centro de
adequada, a gestão do período de trauma com Unidade de Queimados (UQ).
emergência e a prevenção de Contudo, e após assegurada a assistência
complicações. Estes são os 5 princípios inicial tendo por base os princípios supra-
sobre os quais deve estar assente a citados, a referenciação primária para a
abordagem no período de emergência UQ deve ser o gold standard uma vez que
segundo a European Burn Association (EBA). os outcomes serão melhores
Vários estudos demonstram melhores comparativamente a uma referenciação
outcomes, espelhados na diminuição da secundária.
mortalidade e morbilidade, quando o Em cerca de 24% dos casos em ambiente
tratamento é efectuado em unidades de militar e em < 7% em ambiente civil, está
queimados, no caso das pessoas com associado outro tipo de trauma à ferida por
queimadura > 50% da área de superfície queimadura.
corporal queimada (ASCQ), com Ao contrário de outros tipos de lesões
queimadura da via aérea e em crianças traumáticas, as queimaduras são
com idade inferior a 12 anos. visualmente intimidatórias e, muitas vezes,
Segundo a EBA, as indicações para podem levar a que a ferida se torne o
referenciação do queimado são: primeiro foco de atenção em detrimento
da avaliação do estado geral do
- Queimaduras ≥ 20% ASCQ em adultos e ≥ politraumatizado.
10% se idade < 10 ou > 65 anos; É de extrema importância verificar se existe
- Queimaduras de 3º grau; outro trauma associado que coloque em
- Queimaduras da face, mãos, genitais, risco a vida da vítima, efectuando-se assim
articulações major e/ou circunferenciais; o transporte primário do politraumatizado
- Queimaduras eléctricas ou químicas para a instituição de saúde adequada mais
major; próxima com o intuito de efectuar o
- Lesão inalatória; damage control, na indisponibilidade do
centro de trauma e/ou centro de
- Pessoas com necessidades especiais ou
queimados em tempo útil.
comorbilidades associadas que afectem
Salienta-se que a decisão do destino do
o tratamento ou sobrevida;
doente cabe, geralmente, à equipa
- Pessoas com doenças associadas a médica pré-hospitalar que o aborda,
queimadura se a área da pele envolvida
articulando a decisão e planeando o
> 10% ASCQ em crianças ou > 15% em
transporte com o centro de orientação de
adultos.
doentes urgentes (CODU).
Segundo a Norma nº 022/2012 de Após estabilização, pode e deve ser
26/12/2012, actualizada a 13/07/2017 da referenciado ao centro de trauma com
DGS, para além dos critérios previamente unidade de queimados. A vaga deverá ser
referidos, são também condições primeiramente assegurada na unidade
indicadoras da necessidade de hospitalar receptora. Este contacto é da
transferência para um centro de responsabilidade do hospital de origem que
tratamento de doentes as queimaduras dos deverá garantir o transporte secundário.
pés de 2º ou 3º graus e/ou Esta deverá ser a regra e não a excepção.
carboxihemoglobina > 10%. Neste caso ainda poderá ser solicitado
apoio ao CODU no sentido de encontrar
vaga para o grande queimado. O INEM
69
poderá ainda ceder uma ambulância de da temperatura, a perda de calor é
emergência médica que levará a equipa agravada pela administração de fluidos por
diferenciada da unidade de saúde que via endovenosa à temperatura ambiente,
solicitou esse mesmo transporte e, em última pela irrigação do tecido queimado, assim
instância, assegurará uma equipa como pela temperatura ambiente. Por
diferenciada para o transporte. Em algumas outro lado, também a utilização de água
situações, o transporte secundário do para arrefecimento da queimadura leva à
grande queimado poderá mesmo ser hipotermia. Contudo é indispensável fazer-
assegurado pela equipa de helitransporte se este arrefecimento. Ele poderá ser
do INEM. instituído com sucesso até 3 horas após a
A assistência ao grande queimado, assim queimadura, resgatando a zona de estase.
como o de qualquer vítima de trauma A água a ser utilizada deverá ter uma
grave, é realizada segundo a abordagem temperatura entre 8º e 25º Celsius. O
ABCDE. Tendo em conta a especificidade arrefecimento deverá ser efectuado com
do doente queimado, valorizam-se os água corrente, pese embora que, tal não
cursos especializados na área seja possível e caso se usem compressas
nomeadamente o EMSB e o SAVQ, os quais esterilizadas irrigadas, estas terão de ser
têm em conta o “F” de fluidos. A adesão a mudadas frequentemente, uma vez que
estas guidelines aumenta a probabilidade estão sobre o corpo e aquecem
da pessoa grande queimada chegar ao rapidamente.
centro de trauma e/ou centro de Quando pensamos deverá ser tido em
queimados sem comprometer, consideração, entre outros: 1) promover o
indevidamente, a sua segurança. conforto; 2) diminuir a perda de calor; 3)
Aprofundando esta abordagem, é de prevenir a desidratação; 4) prevenir a
salientar que o agravamento do infecção; 5) controlar a dor. Não existe um
prognóstico do doente poderá ser penso ideal e passível de ser usado em
secundário à intubação traqueal já que todas as situações pelo que temos de ter
tendencialmente estes doentes ficam mais em atenção à escolha de acordo com o
hipotérmicos. Por este facto, ressalva-se que caso que se nos apresenta.
a entubação traqueal não deverá ser
preventiva, mas sim usada somente nos
casos de doentes com grande ASCQ e/ou
com semiologia de queimadura por
inalação. Existe uma lesão presumível da
via aérea quando o índice de Clark > 2
(score clínico da lesão inalatória), tendo em
conta os seguintes parciais: 1) espaço
fechado; 2) dispneia; 3) alteração
consciência; 4) rouquidão; 5) queimadura Imagem: Transporte de doente com
da face; 6) expectoração carbonácea; 7) queimaduras protegidas com cling film.
fervores/alterações à auscultação.
Dados das UQ revelam que actualmente O penso deverá ser realizado com a
cerca de 25% dos doentes admitidos são técnica o mais limpa possível (a nível pré-
extubados nas primeiras 24 horas. Uma hospitalar nem sempre é possível respeitar
avaliação objectiva e sistematizada poderá os princípios de assépsia) e proceder à
evitar uma intubação traqueal lavagem da queimadura com solução
desnecessária e simultaneamente outras salina. A protecção poderá ser efectuada,
complicações associadas. Outro aspecto a por exemplo, com: 1) cling film (ter em
ter em conta é o benefício da intubação atenção que o tempo de utilização não
gástrica precoce pelo risco acrescido de deverá exceder 4 horas por risco de
gastroparésia nestes doentes. maceração); 2) pensos de hidrogel (ter em
A descida da temperatura em 1º Celsius atenção que está contra-indicado em
aumenta significativamente a mortalidade ASCQ > 15% em adultos e em queimaduras
do doente queimado. Para além da perda de qualquer área em crianças e idosos pelo
do mecanismo fundamental de regulação risco hipotermia); 3) gaze gorda (ter em
70
atenção o risco de hipotermia em ASCQ que é importante despistar grandes
elevadas; tal como o cling film não deverá queimados que acabam por ser
ser aplicado de forma circular contínua encaminhados para salas de trauma de
pelo risco de efeito garrote). forma inadequada.
A fluidoterapia, por ter um importante papel O compromisso neurovascular e a
no prognóstico do doente grande consequente necessidade de
queimado, e é calculada segundo a descompressão dos tecidos lesados são
Fórmula de Parkland modificada (FPM). A relativamente comuns no tratamento de
Northern Burn Care Network usa nos seus queimaduras. A justificação surge da
documentos de referenciação hospitalar necessidade de evitar que o edema em
para as queimaduras complexas no adulto redor da área atingida possa interferir com
(NBCN Adult Complex Referral Form v1.0 a circulação de um membro podendo
May 2012) uma fórmula que nos dá já o levar à sua perda ou, no caso concreto do
valor a instituir por hora, nas primeiras 8 tórax, poder causar interferência com a
horas: respiração, de tal modo que a expansão
nos pulmões e o retorno cardíaco não serão
FLUIDOTERAPIA possíveis, constituindo-se uma emergência
Cálculo para as primeiras oito horas médica. Razão pela qual é importante
(baseada na fórmula de Parkland) despistar sinais de compromisso
0,1875 mL Hartmnn’s solution x Peso (Kg) x % neurovascular e, se necessário, proceder-se
ASCQ = ml/hora a escarotomias. Contudo, e na sequência
de síndrome compartimental secundário a
queimaduras eléctricas e/ou queimaduras
Esta fórmula de ressuscitação por fluidos é atingindo tecidos abaixo das aponevroses
baseada na Fórmula de Parkland e fornece musculares, poderá ser necessário
o valor a instituir por hora, para as primeiras combinar as escarotomias com
8 horas. Nota: Para valores de ASCQ > 50%, fasciotomias. Por forma a evitar ou minimizar
a fórmula é fixada para um valor de ASCQ este problema é benéfica a elevação da
de 50%, efectuando-se ajustes adicionais de parte do corpo afectada durante o
acordo com o débito urinário e o estado tratamento inicial e o transporte. Por cada
hemodinâmico do doente queimado. centímetro de elevação, há uma
diminuição de 0,8 mmHg da pressão do
A salientar que este cálculo começa na
compartimento.
hora em que foi instituída a queimadura e
A dor secundária às queimaduras,
não na hora de início de intervenção dos
frequentemente subtratada, leva ao
meios pré-hospitalares. O objectivo é
aumento do consumo de oxigénio
manter um volume sanguíneo circulante
provocado pela ativação do sistema
adequado e produzir uma diurese de pelo
simpático-adrenérgico levando a agitação,
menos 1 ml/Kg/h). Em queimaduras > 20%
ansiedade e contratura muscular, pelo que
ASCQ em adultos e em queimaduras do
a gestão da dor é uma prioridade. A
períneo a colocação do cateter urinário é
utilização de ketamina no grande
fundamental.
queimado poderá ser uma boa escolha.
A infusão de fluidos deverá ser assegurada
por dois cateteres venosos periféricos de
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
grande calibre, colocados em pele não
queimada, sendo que, se necessário, Almeida & Trindade (2017). Lesão inalatória e
poderá considerar-se a introdução de um abordagem da via aérea. In Amaral, T. (Eds),
acesso intra-ósseo ou de um acesso na veia SAVQ – Suporte Avançado de Vida em
Queimados: Manual do Curso (2ª Ed.) (pp.
jugular externa. A vigilância permanente no
36). Portugal: Tiago Manuel Ferreira do
que se refere à sua permeabilidade e Amaral. ISBN: 978-989-20-7669-0
fixação é imprescindível. O soro de eleição Amaral, T. (2013). Garantindo a
é o lactato de ringer. Continuidade dos Cuidados de Enfermagem
à Pessoa Adulta Grande Queimada.
Entre as escalas de cálculo de ASCQ Dissertação de Mestrado em Enfermagem –
salienta-se a “regra dos 9”. O cálculo Área de Especialização Enfermagem em
deverá ser o mais preciso possível uma vez Pessoa em Situação Crítica. Lisboa: Escola
Superior de Enfermagem de Lisboa.
71
Amaral (2017). Abordagem e assistência
emergentes. In Amaral T. (Eds), SAVQ –
Suporte Avançado de Vida em Queimados:
Manual do Curso (2ª Ed.) (pp. 28). Portugal:
Tiago Manuel Ferreira do Amaral. ISBN: 978-
989-20-7669-0
Amaral & Martins (2017). Organização e
Assistência à Pessoa Vítima de Queimadura.
In Amaral T. (Eds), SAVQ – Suporte Avançado
de Vida em Queimados: Manual do Curso
(2ª Ed.) (pp. 8). Portugal: Tiago Manuel
Ferreira do Amaral. ISBN: 978-989-20-7669-0
American College of Surgeons (9ª Ed.) (2012)
ATLS – Advanced Trauma Life Support.
Suporte Avançado de Vida no Trauma para
Médicos. EUA: ACS Committee on Trauma.
ISBN 13: 978-1-880696-02-6
ANZBA - Australian and New Zealand Burn
Association (15ª Ed.) (2012) Emergency
Management of Severe Burns (EMSB) Course
Manual, UK version for the British Burn
Association. Albany Creek, Australia: ANZBA.
British Burn Association (2012). EMSB:
Emergency Management of the Severe Burn
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72
14.TRANSPORTE DA CRIANÇA
Neste capítulo será abordado o transporte dia, todos os dias do ano e a sua equipa é
da criança em situação crítica, que se constituída por médicos e enfermeiros das
distingue do transporte do adulto pela unidades de cuidados intensivos pediátricas
existência de importantes diferenças e de neonatologia. Contudo, é importante
anatómicas e fisiológicas da criança e por relembrar que até à chegada do TIP
todas as especificidades inerentes a esta (período de tempo que pode ser longo)
faixa etária, nomeadamente a necessidade e/ou podendo este não estar disponível,
de recursos humanos, materiais e técnicos cabe à equipa do hospital de origem o
específicos e complexos. reconhecimento da criança gravemente
doente e o seu precoce tratamento e
São vários os estudos que demonstram que estabilização. Em situações pontuais em
a estabilização e transporte de doentes que o TIP esteja inoperacional ou ocupado
críticos, realizada por uma equipa com outro transporte, pode ser necessário
especializada, têm um impacto marcado que seja a equipa do hospital a proceder
na redução da morbilidade e mortalidade. ao transporte para um centro mais
O objectivo é que as condições do diferenciado.
transporte sejam sempre iguais ou superiores
às condições antes do transporte e nunca Geralmente as crianças que necessitam de
inferiores. estabilização e transferência para unidades
de cuidados intensivos requerem das
No que se refere ao transporte inter- equipas conhecimentos e competências
hospitalar, a necessidade de transportar especializadas na abordagem à criança
uma criança em situação crítica para outro em situação crítica, o que pode gerar
hospital relaciona-se com a centralização alguma insegurança e ansiedade nos
das Unidades de Cuidados Intensivos mesmos. Tal facto reforça a necessidade de
Pediátricos nos grandes centros e com a todos os profissionais de saúde que prestam
impossibilidade de todos os hospitais cuidados a crianças estarem preparados,
periféricos possuírem unidades treinados e dotados de formação
especializadas para prestar os cuidados específica e actualizada sobre abordagem
diferenciados que as crianças gravemente e transporte seguro da criança em situação
doentes necessitam. crítica.
73
anatómicas, tal como atrésia das coanas, a uma obstrução da via aérea, dada a
ou de natureza mecânica, como sondas ou posição elevada da epiglote e laringe.
adesivos obstruindo parcialmente as A posição cefálica da laringe cria um
narinas. ângulo mais fechado entre a orofaringe
e a glote, tornando a visualização
Relação cabeça / pescoço desta com o laringoscópio mais difícil.
A cabeça de um lactente é grande, Neste caso, a utilização de uma lâmina
proporcionalmente ao corpo e, em reCta pode ser mais eficaz que uma
combinação com um occipital curva.
proeminente, tende a provocar flexão do Quando não se consegue uma
pescoço em decúbito dorsal, causando visualização total, a introdução de um
obstrução a nível dos tecidos moles da tubo traqueal pode ser dificultada pela
faringe. Com o aumentar da idade, a comissura anterior das cordas vocais,
cabeça torna-se relativamente menor em mais alta que a comissura posterior.
relação ao tórax, o pescoço mais longo e a Tradicionalmente, em crianças com
laringe mais resistente a pressão externa, menos de 8 anos podem ser usados
diminuindo o risco de obstrução da via tubos sem cuff, visto que o diâmetro do
aérea. tubo é determinado pela parte mais
A face e a boca de um lactente são estreita da via aérea superior,
pequenas, e a língua relativamente grande nomeadamente a nível da cricóide. Um
obstrui facilmente a via aérea numa tubo de diâmetro correcto formará um
criança inconsciente. O pavimento da selo adequado na região da cricóide,
boca é também facilmente compressível, permitindo uma ventilação com
pelo que é necessário cuidado nas pressão positiva sem fuga significativa,
manobras de abertura da via aérea, pois obviando assim a necessidade de cuff.
pode ocorrer obstrução. A utilização de tubos com cuff não era
de todo aconselhada em crianças com
Laringe menos de 8 anos, até há pouco tempo.
A laringe do lactente encontra-se alta, a No entanto, segundo a evidência
nível de C1, em comparação com o adulto científica mais recente existente e
(em quem se localiza a nível das 5ª e 6ª devido ao melhoramento do design dos
vértebras cervicais). A epiglote tem forma tubos, um tubo com cuff, de diâmetro
de U (ou Ω), faz protusão em direção à correto e com monitorização de
faringe a 45º e as cordas vocais são curtas. pressão do cuff (que deve ser inferior a
Em crianças abaixo de 8 anos, a laringe é 25 Cm H20), pode ser usado com
afunilada, com a secção mais estreita a segurança em crianças pequenas,
nível da cartilagem cricóide. Em crianças excepto no recém-nascido.
mais velhas a laringe é cilíndrica, O lactente tem uma via aérea
prolongando-se esse formato pela traqueia proporcionalmente mais estreita e
até à carina. com diâmetro absoluto mais
Estas particularidades anatómicas têm as pequeno que o adulto, sendo
seguintes implicações práticas: particularmente vulnerável a
Em crianças muito novas não se devem edema e inflamação. Há que ter
tentar manobras de remoção de um em consideração, que devido a
corpo estranho da via aérea se a essa vulnerabilidade as infecções
obstrução for parcial, pois podem levar respiratórias representam uma
a que essa obstrução se torne total. De maior proporção na morbilidade e
facto, o corpo estranho pode encravar mortalidade da criança em
na zona mais estreita da laringe, a relação ao adulto.
cricóide.
Quando se introduz a lâmina de um RESPIRAÇÃO (B)
laringoscópio, o controlo da língua, Os pulmões, à altura do nascimento, são
relativamente grande, pode ser difícil, imaturos, com uma interface ar/alvéolo de
levando o seu deslocamento posterior, 3m2, quando a do adulto é de 70m2.Desde
o nascimento até à vida adulta há um
74
aumento de 10 vezes no número de Uma das dificuldades ao lidar com crianças
pequenas vias aéreas. A expansão alveolar muito jovens pode ser a sua incapacidade
pode estar dificultada em pequenos de comunicar eficazmente. Todos os
prematuros, ao nascer, devido à esforços devem ser feitos para lidar com
deficiência de surfactante. Nestes casos crianças doentes ou traumatizadas de um
será necessária a administração de modo empático e adequado à sua idade.
surfactante exógeno para conseguir essa É fácil de entender que uma criança
expansão. doente, trazida ao hospital por familiares
A mecânica respiratória também se angustiados, entrando num ambiente
modifica com a idade. No lactente, as estranho, onde pessoas desconhecidas
costelas são menos rígidas, mais flexíveis e podem estar a realizar procedimentos
os músculos intercostais são relativamente desconfortáveis, se sinta assustada. O
fracos e ineficazes comparativamente ao conhecimento pode aliviar o medo e por
diafragma. Este é o principal músculo isso é importante explicar as coisas à
respiratório no lactente: a sua contração e criança de modo claro e perceptível. Estas
movimento em direcção ao abdómen explicações devem ser dadas em
geram uma pressão negativa intratorácica, linguagem que a criança entenda. Deve
fazendo o ar entrar nos pulmões. permitir-se aos pais ficar junto aos seus filhos,
Obstáculos mecânicos à contracção do mesmo durante a prestação de cuidados
diafragma, de origem abdominal (distensão mais complexos ou avançados. A sua
gástrica, oclusão intestinal, presença durante a realização de
pneumoperitoneu) ou torácica procedimentos pode reduzir o medo e
(hiperinsuflação por bronquiolite, asma ou ansiedade da criança e toda a tensão
corpo estranho) podem levar a ventilação para si e para a família.
ineficaz. A capacidade de comunicação da
Na criança maior, os intercostais estão mais criança geralmente melhora com a idade.
desenvolvidos e contribuem mais para a No entanto, devemos lembrar-nos que o
mecânica ventilatória. As costelas estão comportamento de uma criança pode
mais ossificadas e comportam-se mais tomar- se mais semelhante ao de uma
como um suporte rígido, menos susceptível criança mais nova quando está com dor,
de colapsar em situações de esforço medo ou ansiedade. Este facto deve ser
respiratório marcado. considerado quando se realiza uma
Na insuficiência respiratória em crianças avaliação mais detalhada do estado
mais pequenas pode haver retracções neurológico de uma criança. Existe uma
(tiragem) significativas a nível esternal e modificação da escala de coma de
intercostal, devido à maior colapsabilidade Glasgow, para uso em crianças abaixo dos
da grelha costal; esta retracção é menos 5 anos, dada a sua imaturidade em termos
evidente em crianças maiores. de comunicação. ~
75
corporal. Nesta régua estão também B = Breathing (Respiração)
assinaladas, a intervalos adequados, as
doses de fármacos e os tamanhos de C = Circulation (Circulação)
diversos equipamentos de reanimação
D = Disability (Disfunção neurológica)
(p.ex. TET), indicados para cada
estatura/peso. A estimativa de peso
E = Exposure (Exposição)
efectuada por estas réguas é mais exacta
que a das fórmulas. Actualmente, existem Esta metodologia pressupõe a avaliação
diversas aplicações para smartphones que rápida e prática da função respiratória,
permitem ao médico e ao enfermeiro cardíaca e neurológica, incluindo a
obterem rapidamente a informação que avaliação dos sinais vitais e da saturação
necessitam. de oxigénio por oximetria de pulso. Assenta
na premissa de problema encontrado
RECONHECIMENTO DA CRIANÇA problema resolvido, tendo como principal
GRAVEMENTE DOENTE objectivo detectar situações ameaçadoras
à vida tratando primeiro o que “mata
Para que as equipas de saúde possam primeiro”.
estabilizar e proceder ao transporte da
criança em situação crítica é imperativo AVALIAÇÃO RESPIRATÓRIA: VIA AÉREA E
que saibam reconhecer atempadamente VENTILAÇÃO (A/B)
quando estão perante uma, e quando há a
necessidade de transferir essa criança para Via Aérea (A)
um hospital com recursos superiores ao de
Para garantir uma entrada e saída de ar
origem.
adequadas, ou seja uma ventilação/minuto
Para tal pode-se recorrer a duas etapas adequada, a via aérea da criança tem
importantes para a avaliação da criança: a que estar desobstruída e estável. Se a via
impressão inicial através do triângulo de aérea está em risco e não estável, pode vir
avaliação pediátrico (TAP) e a abordagem a ficar obstruída (Ex. numa criança
primária através do modelo ABCDE. inconsciente com respiração espontânea, a
queda da língua pode obstruir a via aérea,
A impressão inicial consiste na primeira ou na laringite, com a progressão da
observação rápida da criança “logo à doença, o edema pode causar obstrução
entrada”. É uma observação visual e total do lúmen laríngeo). Para melhorar a
auditiva inicial da aparência, circulação entrada de ar, a criança com uma
(cor) e respiração da criança, realizada em obstrução parcial ou total da via aérea,
poucos segundos. aumenta a sua frequência respiratória e o
esforço respiratório. Na avaliação da
permeabilidade da via aérea é necessário
lembrar que a existência de movimentos
torácicos não implica uma via aérea livre. A
entrada de ar deve ser avaliada ouvindo os
sons respiratórios através da auscultação
torácica e sentido do ar através da boca e
nariz da criança.
Respiração (B)
Frequência Respiratória
76
metabólica (Ex. no choque, cetoacidose compromisso importante da função
diabética, intoxicação por salicilatos ou na respiratória.
insuficiência renal).
Balanceio da cabeça e respiração
As variações da frequência respiratória ao paradoxal
longo do tempo são muito importantes.
Uma frequência respiratória a aumentar Quando o trabalho respiratório aumenta, o
representa uma crescente compensação esternocleidomastóideo pode ser usado
fisiológica da deterioração da função como músculo acessório. No lactente isto
respiratória. Uma redução súbita da pode originar um movimento de balanceio
frequência respiratória numa criança com da cabeça para cima e para baixo,
doença aguda é um achado altamente diminuindo a eficácia da ventilação.
significativo, podendo representar um
A respiração paradoxal consiste num
evento pré-terminal. Pode ser causada por
movimento paradoxal do abdómen
hipotermia, exaustão ou depressão do
durante a inspiração: o abdómen expande
sistema nervoso central. O cansaço é
e a parede torácica anterior retrai com a
sempre de considerar como importante nas
contração do diafragma. Isto constitui uma
crianças, um lactente com uma frequência
respiração ineficaz, porque há redução do
respiratória de 80 ciclos/min cansa-se muito
volume corrente com aumento do esforço
depressa, e uma descida súbita da
muscular.
frequência respiratória é um sinal de mau
prognóstico.
Ruídos inspiratórios e expiratórios
77
lactente e criança pequena. É causado monitorizada na criança gravemente
pelo movimento do ar exalado contra uma doente.
glote parcialmente fechada, numa
tentativa de gerar uma pressão positiva no RECONHECIMENTO DA INSUFICIÊNCIA
final da expiração de modo prevenir o RESPIRATÓRIA
colapso da via aérea. O gemido pode ser
Função Respiratória Normal - Uma função
ouvido em crianças com condições
respiratória normal implica uma entrada e
predisponentes ao colapso alveolar e
saída de ar adequadas nos pulmões e a
perda do volume pulmonar (edema
troca de oxigénio e dióxido de carbono,
pulmonar, pneumonia, atelectasia, ou
através da membrana alvéolo-capilar.
SDRA). Está descrito em doenças das vias
aéreas superiores e inferiores, doenças
A ventilação/minuto (VM) (principal
cardíacas (miocardite), infecções graves
determinante da remoção do dióxido de
como sépsis e meningite e na obstrução
carbono) depende do volume corrente
intestinal. Em geral o gemido é um
(VC) (volume de ar em cada ciclo
indicador de doença grave. respiratório) e da frequência respiratória
(FR) VM = VC x FR
Volume corrente: Eficácia da respiração
A respiração normal necessita de um
A expansão torácica pode ser avaliada
esforço mínimo; a frequência respiratória
através da inspecção, palpação,
diminui com o aumento da idade da
percussão e auscultação. A inspecção e
criança como se pode observar na tabela,
palpação permitem ver o grau e simetria
mas em qualquer idade aumenta nos
da expansão torácica. A percussão pode
estados de agitação, ansiedade ou febre.
ser útil na deteção de áreas de colapso
(macicez) ou híper-ressonância (como no
IDADE Frequência
pneumotórax).
(Anos) Respiratória
A auscultação do tórax dá uma indicação (ciclos/min)
do volume de ar que entra e sai. O
<1 30-60
murmúrio vesicular deve ser simétrico e
facilmente audível. Uma auscultação 2-5 24-40
cuidadosa de todas as regiões do tórax,
particularmente nas áreas axilares, deve 5-12 22-34
detetar ruídos respiratórios transmitidos de
outras áreas (Ex. pneumotórax ou >12 12-16
atelectasia). É útil fazer a comparação
entre os dois lados. Uma franca diminuição
do murmúrio vesicular ou tórax silencioso é
O volume corrente espontâneo mantém-se
um sinal de mau prognóstico, indicando
praticamente constante durante toda a
uma redução muito significativa do volume
vida e é cerca de 7-9mlIkg. Pode ser
corrente.
avaliado qualitativamente através da
Oxigenação: Cianose e palidez auscultação pulmonar, procurando ouvir a
entrada de ar em todas as zonas
A cianose é um sinal inconsistente na pulmonares e observando o movimento da
falência respiratória. É mais aparente na parede torácica com a respiração.
mucosa bucal e no leito ungueal. Quando
é limitada às extremidades é habitualmente Mecanismos de Disfunção Respiratória
consequência de falência circulatória
A insuficiência respiratória aguda pode ser
(cianose periférica) e não da falência
causada por qualquer doença que interfira
respiratória (cianose central). A hipóxia
com a entrada e saída de ar nos pulmões,
também pode causar vasoconstrição e
o que leva a uma alteração da eliminação
palidez, que vão mascarar a cianose.
do dióxido de carbono (ventilação) e/ou
Mesmo na ausência de cianose, a SPO2
alteração das trocas gasosas ao nível da
deve ser continuamente avaliada e
78
membrana alvéolo capilar (oxigenação). A trocas gasosas e melhorar a perfusão
diminuição da ventilação/minuto, ou tecidular.
hipoventilação alveolar, está associada a
uma subida da paCO2. Pode ser secundária Falência respiratória
a uma redução da frequência respiratória
Do ponto de vista fisiológico, a falência
(p. ex. intoxicação por opiáceos) ou a uma
respiratória é habitualmente definida como:
diminuição do volume corrente (p. ex.
“Incapacidade do sistema respiratório em
obstrução das vias aéreas ou doença
manter uma PaO2>60mmHg (=9 kPa) com
neuromuscular).
21% de FiO2, correspondendo
A disfunção da membrana alvéolo / capilar aproximadamente a uma SpO2 de 90%, ou
é habitualmente secundária a uma uma PCO2<60mmHg (= 9 kPa)”.
acumulação de líquido intra-alveolar e
Esta definição implica a realização de uma
origina uma redução dos níveis arteriais de
gasimetria arterial que pode ser difícil de
oxigénio e uma maior rigidez pulmonar (Ex.
obter nas crianças. Para além disso, uma
uma diminuição da compliance pulmonar).
criança com dificuldade respiratória pode
A diminuição dos níveis de 02 estimula o
conseguir manter os gases do sangue
centro respiratório o que leva a um
dentro de limites relativamente normais, à
aumento da frequência respiratória. Em
custa de um aumento do esforço
simultâneo surge um maior esforço
respiratório. É por isso importante conseguir
respiratório pelo aumento da frequência
avaliar se estamos perante uma situação
respiratória e da rigidez pulmonar.
estável, ou se está iminente a evolução
A cianose central aparece quando a SPO2 para falência respiratória descompensada.
é <80% (indica que a hemoglobina não Esta avaliação implica um conhecimento
saturada é > 5 g/dl). A ausência de dos sinais e sintomas da falência
cianose, em particular em doentes com respiratória. Quando os mecanismos de
anemia, não implica níveis de SP02 normais. compensação falham, a deterioração é
A hipercápnia pode ser traduzida por muito rápida e a paragem
taquicardia, vasoconstrição e pulsos cardiorrespiratória iminente tem que ser
amplos, mas estes são sinais pouco antecipada.
específicos.
79
resultam em bradicardia, que indica uma fazer o diagnóstico de choque
paragem cardiorrespiratória eminente. precocemente.
Idade Frequência Média Frequência O volume sistólico pode ser avaliado pela
em vígilia em sono palpação da amplitude do pulso (artéria
RN a 3 85 a 2015 140 80 a 160 carótida, axilar ou femoral). À medida que
meses o volume sistólico diminui a amplitude do
3 meses a 100 a 190 130 75 a 160 pulso também diminui, esta amplitude
2 anos reflete a diferença entre a pressão arterial
2 a 10 anos 60 a 140 80 60 a 90 sistólica e diastólica. A amplitude dos pulsos
> 10 anos 60 a 100 75 50 a 90 periféricos (Braquial, radial, tibial…) diminui
mais rapidamente que o pulso das artérias
centrais. Os pulsos periféricos podem estar
Pressão arterial diminuídos por vasoconstrição periférica
secundária a febre, frio ou ansiedade,
Os mecanismos compensatórios para enquanto a diminuição dos pulsos centrais
restabelecer o débito cardíaco quando há é sinal de alarme para paragem
diminuição do volume vascular são: cardiorrespiratória eminente.
vasoconstrição; taquicardia e maior
contractibilidade do miocárdio. Perfusão periférica
80
A – ALERTA clínica da criança, sem negligenciar
nenhum parâmetro importante, a equipa
V – Responde apenas à VOZ responsável pelo planeamento da
transferência pode utilizar o impresso em
D – Responde apenas à dor
anexo (APÊNDICE I). Esta avaliação
estruturada permite valorizar, parametrizar
S – Sem resposta
todos os sistemas fisiopatológicos da
criança e ajustar, com base nos protocolos
clínicos institucionais e com base no
Exposição (E) aconselhamento prévio da equipa do
hospital receptor ou da equipa da
Ao expor a criança para observação, é Ambulância TIP, qual o suporte
importante detectar alterações relevantes hemodinâmico que deve ser aplicado.
que podem ser uma condição subsequente
(ex. sinais de discrasia hemorrágica, tais DETERMINAÇÃO DO NÍVEL DE GRAVIDADE
como petéquias, lesões compatíveis com CLÍNICA
maus tratos, etc…).
A determinação do nível de gravidade
Proceder à avaliação da temperatura clínica da criança que necessita de ser
corporal. transferida para outro serviço, para um nível
assistencial superior ou para realização de
exames complementares/terapêutica não
existentes no hospital de origem, é
AVALIAÇÃO E ESTABILIZAÇÃO CLÍNICA DA
fundamental para planear quais os recursos
CRIANÇA
humanos e materiais que devemos reunir
A estabilização da criança gravemente para uma transferência segura. A escolha
doente é um processo contínuo que se destes recursos deve estar de acordo com
inicia no serviço de origem e deve as características do doente a transportar.
continuar em parceria com a equipa de
É vital a existência de escalas de
transporte. Assegurar as melhores
pontuação para definir as necessidades
condições clínicas antes da transferência
logísticas de acompanhamento no
pode ser uma fase demorada mas
transporte inter-hospitalar pediátrico. Este
necessária. No entanto, as situações em
manual e o curso ATSDC recomendam o
que o tratamento definitivo é urgente e não
preenchimento do impresso (APÊNDICE II)
está disponível no local (traumatologia,
que corresponde a uma escala de
neurocríticos, etc.), devem constituir uma
pontuação que determina os recursos com
excepção a esta regra. A estabilização da
base no nível de gravidade ou do risco de
criança gravemente doente requer uma
agravamento previsível da condição clínica
avaliação sistemática por ordem de
da criança a transferir. Esta é uma
prioridades ABCDE, já descrita
ferramenta adaptada de Etxebarría et al.,
anteriormente.
(1998) onde foram incluídos alguns
Importa ressalvar que na área pediátrica a parâmetros da escala POPS (Paediatric
abordagem à criança/jovem doente é Observation Priority Score) de Roland et al.,
centrada no binómio familiar, assente numa para se adaptar e respeitar as
parceria de cuidados. Sendo a família um características especificas da realidade
alvo de cuidados, e tendo em conta que a pediátrica. O resultado da aplicação do
alteração do estado clínico da referido impresso, define quatro níveis de
criança/jovem, destabiliza a dinâmica gravidade. Estes quatro níveis seguem uma
familiar, é fundamental manter estes ordem de gravidade crescente e
informados sobre todos os procedimentos correspondem a uma cor, à semelhança
que se estão a planear, apresentar os dos protocolos de triagem: A -Verde; B –
profissionais envolvidos e dar informações Amarelo; C – Laranja e D – Vermelho.
práticas sobre a evolução clínica. De forma
SELECÇÃO DA EQUIPA
a sistematizar a avaliação da condição
81
Para que o transporte inter-hospitalar vimos, depende destes o reconhecimento,
pediátrico seja realizado de forma segura, avaliação inicial e estabilização da criança.
com a ocorrência mínima de efeitos Por outro lado, a equipa TIP poderá não
adversos, é fundamental colocar a equipa estar disponível (por estar alocada a outra
certa com as competências mais situação urgente/emergente) e o
adequadas às necessidades de cada transporte ter de ser assegurado por uma
doente. A equipa pode ser constituída por equipa do hospital referente, pelo que se
profissionais de saúde da instituição de exige destes formação e treino frequente
origem (equipa local) ou pela equipa da em transporte de doente crítico.
Ambulância TIP, dependendo do que for
decidido em acordo pelos responsáveis da
equipa médica e pela disponibilidade dos
SELECÇÃO DO TRANSPORTE
meios. Idealmente o doente crítico (nível D)
deverá ser transportado pela equipa mais
Os critérios para a selecção do tipo de
diferenciada e com os recursos mais
transporte não difere do que foi já discutido
apropriados. De forma a determinar a
neste manual para o transporte do doente
composição da equipa de
em idade adulta.
acompanhamento devem ser seguidas as
indicações do IMPRESSO B (Apêndice 2) Existem no entanto algumas
que determina objectivamente os particularidades afectas à criança que
elementos necessários em função de podem determinar algumas adaptações
critérios objectivos. As equipas podem ser durante o transporte.
constituídas por médicos, enfermeiros e
tripulantes de ambulância dependendo do Especialmente em contexto pediátrico, as
nível de gravidade da condição clínica da forças de aceleração de desaceleração
criança. Preferencialmente, um dos podem ter efeitos fisiológicos significativos
elementos deve ser o enfermeiro nas crianças mais pequenas e
responsável pelo doente, com experiência particularmente nos latentes. O transporte
em reanimação e treino em transporte de deve ser por isso realizado de forma o mais
doentes críticos. Desta forma e tendo em suave possível e com velocidade
conta que o contexto pediátrico é apropriada. É aconselhável que as sirenes
altamente específico, a equipa deve ter sejam utilizadas o mínimo possível devido ao
formação e experiência nesta área. De risco de causar stress fisiológico e
acordo com a OMS, todas as crianças que psicológico à criança.
possam necessitar de intervenção
emergente ou urgente durante o transporte Outro aspecto de segurança a considerar
devido à sua condição clínica devem ser diz respeito aos dispositivos de contenção
acompanhadas por médico e enfermeiro. adequados ao tamanho da criança,
chamados de Sistemas de Retenção de
É obviamente vantajoso ter equipas Crianças (SRC). Dentro das ambulâncias
especializadas, que têm competências existe um ambiente complexo no que
próprias em detrimento de equipas com respeita à protecção dos ocupantes, com
elementos menos diferenciados. No entanto riscos claros de segurança, não existindo no
é igualmente importante fazer uma gestão entanto normas de segurança formais. Esta
de recursos em função das necessidades. ausência de restrições de contenção
Neste campo, a rede de transporte inter- legislada pode levar a consequências
hospitalar pediátrico disponibilizada pelo físicas graves a uma criança e desta forma,
INEM constitui-se como uma mais-valia a gestão da segurança durante o
tremenda na promoção da qualidade e transporte é uma preocupação para a
segurança do transporte da criança equipa pediátrica de acompanhamento. A
gravemente doente. No entanto, tal não utilização do Kidy Safe®, que pode existir
pode constituir um factor de eventualmente nos serviços de área
desinvestimento da qualificação e pediátrica é uma opção viável como
diferenciação das equipas de hospitais sistema de retenção que se adapta a todas
considerados periféricos porque, como as idades.
82
podemos esquecer que a criança tem o
direito à não separação com os seus pais,
como é clarificado no Artigo 9.º da
Convenção sobre os Direitos da Criança.
83
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WHO Document Production Services.
84
APÊNDICE I
Impresso A: Avaliação da condição
clínica da criança/jovem
85
IDENTIFICAÇÃO DA CRIANÇA/JOVEM HOSPITAL/SERVIÇO DE DESTINO:
(COLAR ETIQUETA)
MÉDICO QUE RECEBE A CRIANÇA/JOVEM:
F - A família está presente? [ ] Não [ ] Sim Quem? [ ] Mãe [ ] Pai [ ] Avó [ ] Avô [ ] Irmãos [ ] Outro:________________
FAMILY
- Estão informados sobre a situação clínica da criança/jovem? [ ] Não [ ] Sim Quem informou?____________________
- O acompanhante da criança/jovem está emocionalmente estável? [ ] Não [ ] Sim
- O acompanhante da criança/jovem possui meios próprios de transporte? [ ] Não [ ] Sim
*Adaptado de SEM-P. IBE: Información Básica Estructurada de Paciente. Maio 2011 (v2.0; v1.0: Junho 2009)
86
APÊNDICE II
Impresso B: Avaliação para o
transporte inter-hospitalar pediátrico
87
AVALIAÇÃO PARA O TRANSPORTE INTER-HOSPITALAR PEDIÁTRICO
(A avaliação dos parâmetros, é realizada no serviço de origem, perante a condição clínica da criança/jovem no momento,
após a sua estabilização)
PARÂMETRO PONTUAÇÃO
1. VIA AÉREA ARTIFICIAL*
Não 0
Sim (adjuvantes básicos) 1
Sim (TET ou traqueostomia) 2
2. FREQUÊNCIA RESPIRATÓRIA**
30 – 40 0
0 – 1 anos** 25 - 29 41 – 50 1
(0 – 12 meses)
<25 50+ 2
25 – 35 0
1 – 2 anos** 20 - 24 36 - 50 1
(12 – 24 meses)
<20 50+ 2
25 - 30 0
2 – 5 anos** 20 - 24 31 - 40 1
(24 – 60 meses)
<20 +40 2
20 - 25 0
5 – 12 anos** 15 - 19 26 - 46 1
<15 40+ 2
15 - 20 0
13 – 16
12 - 14 20 - 25 1
anos**
<12 25+ 2
10 - 14 0
17 – 18 anos* 15 – 25 1
<10 35+ 2
3. SUPORTE RESPIRATÓRIO*
Não 0
Sim (oxigenoterapia com FiO2 < 40%) 1
Sim (oxigenoterapia com FiO2 ≥ 40% ou Ventilação Mecânica) 2
4. ACESSOS VENOSOS*
Não 0
Acesso Periférico em criança/jovem estável (não exclui catéter obturado) 1
Acesso Periférico em criança/jovem instável ou Acesso Central 2
5. AVALIAÇÃO HEMODINÂMICA*
Estável (FC e TAS dentro dos parâmetros normais para a idade – consultar tabela no final do documento) 0
Moderadamente estável 1
Instável (sob inotrópicos ou hemoderivados) 2
6. MONITORIZAÇÃO CARDIO-RESPIRATÓRIA*
Não 0
Sim (desejável) 1
Sim (em doente instável) 2
88
7. RISCO DE ARRITMIAS*
Não 0
Sim, baixo risco - sem risco imediato de vida ou sem necessidade de intervenção terapêutica imediata. 1
Sim, alto risco - com risco imediato de vida ou necessitando de intervenção terapêutica imediata. 2
8. ESTADO DE CONSCIÊNCIA (AVDS)**
Alerta (A) 0
Reativo a estímulo Verbal (V) 1
Reativo a estímulo Doloroso (D) ou Sem resposta a estímulos (S) 2
9. SUPORTE TÉCNICO E FARMACOLÓGICO REALIZADO/EM CURSO*
Nenhum dos abaixo indicados 0
Grupo I (Corticosteróides, Manitol 20%, NaCl 3%, Analgésicos) 1
Grupo II (Inotrópicos; Vasodilatadores; Antiarrítmicos; Bicarbonato; Antiepiléticos;
Anestésicos gerais; dreno torácico) 2
10. DOENÇA CRÓNICA**
Não 0
Sim – sem influência na condição clínica actual e/ou sem potencial de
descompensação pela condição clínica actual 1
Sim – com influência na condição clínica actual e/ou com potencial de
descompensação pela condição clínica actual 2
11. PREMATURIDADE ACTUAL*
RN > 2000g ou não aplicável 0
RN ≥ 1500g ≤ 2000g 1
RN < 1500g 2
TOTAL:
EQUIPAMENTO
PONTOS NÍVEL VEÍCULO EQUIPA MONITORIZAÇÃO
PREFERENCIAL
0–2
Apenas O2 Ambulância
ou acesso Tipo A
A Tripulantes Nenhuma “Standard”
venoso (amb. de
periférico transporte)
obturado
Aspirador de
secreções +
3 Ambulância
Tripulantes SPO2, ECG, FC, Material de SBV +
Sem nenhum Tipo B
B Enfermeiro FR, Temp., TA não monitor de
item com (amb. de
Generalista invasiva transporte +
pontuação 2 socorro)
medicação
prescrita
Acima descrito +
Ambulância Tripulantes
4–6 Material SAV +
Tipo C Enfermeiro SPO2, ECG, FC,
Sem nenhum monitor
C (amb. de Especialista FR, Temp., TA não
item de desfibrilhador +
cuidados em ESCJ invasiva
pontuação 2 seringas e bombas
intensivos) (desejável)
perfusoras
Tripulantes
Ambulância SPO2, ECG, FC, Acima descrito+
≥7 Enfermeiro
Tipo C FR, Temp., TA não Material de VA
ou < 7 com Especialista
D (amb. de invasiva/invasiva, avançada +
um item de em ESCJ
cuidados ETCO2 (se ventilador de
pontuação 2 (desejável)
intensivos) ventilado) transporte.
Médico
*Adaptado de Etxebarria et al., Eur J Emerg Med, 1998. ** Adaptado de Roland et al., Open Jounal or Emergency Medicine, 2016.
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