Você está na página 1de 32

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/309209745

Resenha Crítica da Obra a Teoria Crítica, de Marcos Nobre

Research · October 2016


DOI: 10.13140/RG.2.2.30901.88809

CITATIONS READS

0 581

1 author:

Harry Edmar Schulz


Hydro Engineering Solutions - Auburn - AL
280 PUBLICATIONS   724 CITATIONS   

SEE PROFILE

Some of the authors of this publication are also working on these related projects:

Meios Porosos View project

Air transport in spillways and hydraulic jumps: Modelling and application of the square wave statistics in the two-phase regions
of air-water flows View project

All content following this page was uploaded by Harry Edmar Schulz on 18 October 2016.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


Resenha da Teoria Crítica, Harry Edmar Schulz

Resenha Crítica da Obra

A Teoria Crítica
de Marcos Nobre

Harry Edmar Schulz


Nota explicativa: O presente texto fundamenta-se na obra
“A Teoria Crítica”, de Marcos Nobre, publicada por Jorge
Zahar Editor, em 2004. A metodologia seguida foi a
apresentação do número do parágrafo considerado, seu
resumo e o comentário crítico, indicado com HES.
Entendeu-se que esta seria a metodologia mais adequada.

São Carlos, Outubro de 2011

São Carlos, 2011. 1


Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
Resenha da Teoria Crítica, Harry Edmar Schulz

Resenha Crítica da Obra


A Teoria Crítica, de Marcos Nobre

Harry Edmar Schulz


2011

1 Introdução
1o e 2o parágrafos, pgs. 7 e 8.
Resumo: O autor menciona que ter uma teoria sobre algo
é ter uma hipótese ou conjunto de argumentos que explica
fenômenos. Se uma teoria é científica, deve poder prever
eventos futuros, fazer prognósticos. Entretanto, o autor
menciona o dito “na prática a teoria é outra”, que, num
sentido mostra a diferença entre manipular objetos e dizer
como eles são.
HES: Os parágrafos são introdutórios e expositivos.

3o e 4o parágrafos, pgs. 8 e 9.
Resumo: Num segundo sentido, a diferença é entre “o
que as coisas são” e que “deveriam ser”. A prática é um
“conjunto de ideais que orientam a ação”. O autor
menciona que, para Kant, este sentido de “prático” é o
mais elevado, abrangendo a moral, a ética, a política e o
direito. A diferença mencionada deve permanecer,
mantendo tanto a teoria como a prática. Se a teoria é feita
para dizer como deve ser, não se sabe como é. Se diz
como é, não há como ser outra coisa. Surge um fosso que
exige suprimir a lógica do “conhecer” ou do “agir”.

São Carlos, 2011. 2


Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
Resenha da Teoria Crítica, Harry Edmar Schulz

HES: Ainda se trata de uma descrição, onde a idéia de


Kant prevalece e é mencionada a necessidade de
considerar apenas ou o conhecer ou o agir. .

5o e 6o parágrafos, pg. 9.
Resumo: O autor questiona o título “Teoria Crítica”. Se
é, como criticar no contexto da teoria? Criticar não é
mostrar como deveria ser? Se se critica a teoria, não se
abdica de mostrar como é, não se abandona o conhecer
pelo agir? Portanto, não se teria ação cega, sem
considerar como é? Daí o autor diz que a Teoria Crítica
não quer nem a ação cega, nem um conhecimento vazio
(ignora poder ser de outra forma), mas questiona o
sentido e distinção de “teoria” e “prática”
HES: O autor define o objetivo da “Teoria Crítica”,
exemplificando a partir da posição de que a teoria estaria
dizendo como as coisas são. Nesses parágrafos não se
exemplifica o caso de a teoria estar mostrando como as
coisas deveriam ser. Apesar disso, o autor conclui que a
teoria crítica não defende nem uma nem outra posição.

7o e 8o parágrafos, pgs. 9 e 10.


Resumo: O autor coloca a crítica como ser: dizer o que é
em vista do que ainda não é, mas pode ser. Menciona ser
uma forma de enxergar as melhores potencialidades do
mundo real, embutido em si. Mas não se abdica de
mostrar como é, nem de prognosticar. Entretanto, o
crítico não vê completamente como as coisas são, nem
como deveriam ser, e daí um novo ponto de vista da
crítica aparece: aquele que aponta as dificuldades a
superar para que as potencialidades possam acontecer.
HES: O fato de haver apenas uma possibilidade parcial
de indicar o que é ou deveria ser permite que um espectro
amplo de possibilidades se abra, uma vez que ninguém
sabe de fato a que se destina o objeto sob análise. Isso é
colocado como uma abertura de um novo ponto de vista,

São Carlos, 2011. 3


Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
Resenha da Teoria Crítica, Harry Edmar Schulz

de sobrepujar obstáculos. Mas ao leitor pode parecer uma


forma de reafirmar nossa incapacidade de conhecer algo
absolutamente, seja como é, seja como deveria ser.

9o e 10o parágrafos, pgs. 10 e 11.


Resumo: Criticamente, o “a ser” que partiria do “ser”,
mostra este último como o obstáculo à realização das
potencialidades, uma dominação vigente. A Teoria
Crítica apresenta o “é” como tendência presente do
processo histórico, como emancipação e arranjo dos
obstáculos em cada momento histórico.
HES: Este trecho é uma explicação da causalidade no
arranjo da realidade social, e da dependência entre a
possibilidade e o presente.

11o e 12o parágrafos, pgs. 11 e 12.


Resumo: O autor afirma que a teoria se confirma na
prática transformadora das “relações sociais vigentes”. O
curso histórico permite avaliar a confirmação ou
refutação da teoria, envolvendo questões “sociais e
políticas. A prática é um momento da teoria. Os
resultados comparados aos prognósticos são
retrabalhados continuamente pela teoria, que passa a ser
também um momento da prática. O autor conclui a
introdução comentando o objeto tratado como a “idéia”
da teoria crítica, e justificando a apresentação histórica
que se seguirá.
HES: Neste parágrafo o autor se localiza essencialmente
no contexto histórico social, evidenciando que sua
discussão se vincula ao desenrolar das sociedades, com
suas questões políticas e embates sociais. Portanto, não se
trata de uma teoria crítica para uma ciência no contexto
de seus princípios básicos. O último parágrafo é um fecho
às primeiras páginas e informa os procedimentos
seguintes.

São Carlos, 2011. 4


Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
Resenha da Teoria Crítica, Harry Edmar Schulz

2 Teoria crítica e escola de Frankfurt


13o e 14o parágrafos, pgs. 12 e 13.
Resumo: Horkheimer é apresentado como quem cunhou
primeiramente o conceito de teoria crítica, mencionando a
revista e o instituto com os quais esteve envolvido, bem
como enfatizando os momentos históricos.
HES: Os dois parágrafos são um breve passeio pela
época conflituosa na qual o conceito foi desenvolvido.

15o e 16o parágrafos, pgs. 13 e 14.


Resumo: O Instituto de Pesquisa Social criado com a
doação de um cerealista, para investigar cientificamente a
obra de Karl Marx, portanto visando o marxismo e seu
método. Como o marxismo era marginalizado, foram
necessárias gestões para criar o Instituto e conferir-lhe um
diretor.
HES: Vê-se o desenvolvimento do instituto vinculado
aos procedimentos alemães e à realidade política vigente.

17o e 18o parágrafos, pgs. 14 e 15.


Resumo: O nome escolhido estava vinculado ao
movimento operário e a um periódico que publicava
estudos a este respeito, que passou a ser do instituto. Com
a subida de Horkenheimer ao cargo de diretor, a Teoria
Crítica passou a ser objeto de trabalho.
HES: Nota-se que a personalidade dos atores históricos
também confere personalidade à instituição gerada,
vinculando-a aos estudos dos movimentos trabalhistas e,
posterioremente, à Teoria Crítica.

19o e 20o parágrafos, pgs. 15 e 16.


Resumo: O autor menciona o lançamento das bases de
um trabalho coletivo interdisciplinar, com unidade dada
pela referência à obra de Marx, dito “materialismo

São Carlos, 2011. 5


Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
Resenha da Teoria Crítica, Harry Edmar Schulz

interdisciplinar”. A Teoria Crítica surge com o sentido:


“pesquisadores de diferentes especialidades trabalhando
em regime interdisciplinar e tendo como referência
comum a tradição marxista”. É lançado o periódico
“revista de pesquisa social”. Nomes relevantes são
mencionados.
HES: O relato do trabalho de organização de um instituto
sob um conceito é interessante. Mostra-se que se
menciona a autonomia e independência das disciplinas,
mas ao mesmo tempo se enfatiza a unidade, sugerindo
objetividade na direção do Instituto. Infere-se que o
periódico foi um elemento agregador, uma vez que o
meio acadêmico necessita manifestar suas idéias em um
veículo próprio, que, ele próprio, dá personalidade ao
conjunto de pesquisadores que dele se utiliza.

21o e 22o parágrafos, pgs. 16 e 17.


Resumo: A Escola de Frankfurt é mencionada, pelos
nomes citados, enfatizando que havia divergências
decorrentes das interpretações das obras de Marx. Os
nomes a incluir nesta escola poderiam ser tomados das
contribuições à revista (incluindo nomes que não se
referenciam a Marx), ou como membros do Instituto
(implicando em variações ao longo dos anos).
HES: O aspecto interessante nessa parte do texto é a
menção da “Escola de Frankfurt” como uma convenção
contraditória. Não tendo havido uma “escola”
propriamente dita, passa-se a idéia de um movimento
intelectual direcionado, que, contudo, também não é
verdadeira, porque os nomes tinham opiniões divergentes.
Assim, a “escola” fica, nessa parte do texto, como uma
entidade ainda a ser melhor decifrada.

23o e 24o parágrafos, pgs. 17 e 18.


Resumo: Fundado em 1931 com bases marxistas e
contendo pesquisadores de origem judaica, o instituto

São Carlos, 2011. 6


Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
Resenha da Teoria Crítica, Harry Edmar Schulz

criou uma sede em Genebra. Com a subida de Hitler à


chancelaria em 1933, o Instituto transferiu seu capital
para a Holanda e mudou-se para Genebra, abandonando
Frankfurt. Horkheimer foi exonerado do cargo, as
instalações físicas do instituto foram depredadas, a
editora alemã não podia mais publicar a revista e o exílio
durou até 1950.
HES: O contexto histórico é interessantíssimo,
mostrando as preocupações e o caráter preditivo das
decisões, considerando um possível desenvolvimento
político desfavorável.

25o e 26o parágrafos, pgs. 18 e 19.


Resumo: A revista é editada na França, até sua ocupação
pela Alemanha, e a sede do Instituto passa a Nova York,
com a emigração de pesquisadores aos EUA. Os dois
últimos números da revista são editados nos EUA. O
nome “Escola de Frankfurt” é usado apenas após 1950,
como um rótulo a posteriori da experiência do instituto.
Têm mais influência na moldagem do nome os
intelectuais que dirigiram o instituto e a universidade no
pós-guerra, entre eles Horkheimer e Adorno.
HES: A narrativa é interessantíssima, mostrando que a
própria idéia do “instituto” era algo etérea, mutável,
sujeita aos ditames das condições políticas favoráveis.
Nesse contexto, não se pode deixar de admirar a busca de
uma identidade daquilo que deveria ter sido o instituto, ou
seja, a identidade de uma idéia a posteriori, denominada
de escola de Frankfurt.

27o e 28o parágrafos, pgs. 19 e 20.


Resumo: O rótulo da “escola” foi importante nos debates
públicos sobre a experiência nazista, a experiência
comunista da DDR, a busca de entendimento do
capitalismo como agente social e o papel da ciência e da
técnica, por exemplo. Esses são temas que formam a

São Carlos, 2011. 7


Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
Resenha da Teoria Crítica, Harry Edmar Schulz

“Escola de Frankfurt”, que mostram ser essa uma idéia de


uma Teoria Crítica, e uma forma de intervenção político-
intelectual no debate público do pós-guerra.
HES: Surge a idéia de Teoria Crítica como uma
ferramenta para direcionar os debates no pós-guerra
alemão. Em tendo tido sucesso, pode ter conferido uma
nova identidade ao público, em torno da idéia da
Alemanha, agora desvestida dos ideais nazistas. É muito
interessante considerar esta hipótese, uma vez que o
público necessitava superar as antigas concepções daquilo
que era ser alemão, para abraçar novas. Considerando o
sucesso alemão nas décadas seguintes, é possível que esta
ferramenta tenha sido parte importante neste êxito. Nesse
sentido, trata-se de um exemplo da utilidade de efetuar
discussões filosófico-políticas junto ao público.

29o e 30o parágrafos, pgs. 20 e 11.


Resumo: O autor argumenta que a experiência anterior
da dita “escola” permitiu acomodar divergências e
associar à “escola” um núcleo teórico comum realmente
inexistente, mas permitindo que uma relação entre
“membro e conjunto” se estabelecesse. Portanto, a força
da “escola” está na inexistência da unidade, mas com sua
afirmação enfática.
HES: Ao leitor desponta o aspecto utilitário da escola.
Considerando as necessidades históricas decorrentes da
recente extrema violência de uma guerra amparada pela
melhor tecnologia de então, há a necessidade de defender
uma pretensa unidade para que se possa confiar no seu
papel de intervenção político-social. Em atingindo o
sucesso, a escola passa a ser supérflua, e a própria Teoria
Crítica de então passa a ser um componente a entrar em
segundo plano, justamente por permitir a identidade com
a escola. Entretanto, para que se possa levar adiante o
projeto crítico, ou sua utilidade, convém redirecioná-la,
ou reformatá-la.

São Carlos, 2011. 8


Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
Resenha da Teoria Crítica, Harry Edmar Schulz

3 A idéia de teoria crítica


31o e 32o parágrafos, pgs. 21 e 22.
Resumo: Teoria Crítica aqui considera um campo teórico
e um grupo selecionado de intelectuais. O campo é
demarcado a partir da obra de Marx. E a assim dita Teoria
Crítica em sentido amplo possui os elementos teóricos
fundamentais que a distinguem de outras teorias.
HES: O autor delimita o seu próprio campo de estudo a
partir das concepções originais de Horkheimer. Assim, o
trabalho parece que se tornará uma interpretação do que,
a posteriori, se entende que tenha sido o início dos
trabalhos em torno de uma estrutura voltada para o
marxismo.

33o e 34o parágrafos, pgs. 22 e 23.


Resumo: O autor apresenta o conceito de Teoria Crítica
em sentido restrito, como sendo a conceituação de
Horkheimer da Teoria Crítica. Assim, a interpretação dos
princípios gerais (fundamentados em Marx) e a aplicação
são Teoria Crítica em sentido restrito. Modelos são
mencionados, que permitem diagnósticos e prognósticos,
baseados nas tendências históricas.
HES: No contexto da sua definição de modelos, o autor
permite entender a Teoria Crítica como uma ciência
incipiente, uma vez que o modelo reproduz e é calibrado
com um evento ou conjunto de eventos passados e
presentes, denominado de diagnóstico, e permite
previsões, denominado de prognóstico. A exatidão dos
prognósticos, se verificável, permite estabelecer, daí, uma
ciência.

35o e 36o parágrafos, pgs. 23 e 24.


Resumo: A autor menciona que a Teoria é
constantemente renovada e exercitada, não sendo fixada

São Carlos, 2011. 9


Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
Resenha da Teoria Crítica, Harry Edmar Schulz

em um conjunto de teses imutáveis. Posteriormente,


alguns dados históricos e referências consideradas
importantes são apresentados.
HES: Relevante é reconhecer, nas palavras do autor, que
o modelo a ser discutido admite calibrações repetitivas,
para cada momento que serve de base para o diagnóstico,
permitindo o prognóstico considerando as tendências
históricas momentâneas.

37o e 38o parágrafos, pgs. 24 e 25.


Resumo: Teoria Crítica aqui é todo o modelo
fundamentado no modelo de Horkheimer de 1937,
baseado nos escritos de Horkheimer de 1930 (e não
necessariamente nos escritos de Marx).
HES: A definição permite delimitar o campo de
discussão da obra aos escritos de Horkheimer e a seus
principais desdobramentos. Assim, é uma Teoria Crítica
particular.

39o e 40o parágrafos, pg. 25.


Resumo: Matriz da Teoria Crítica: capitalismo de Marx.
O mercado capitalista é o centro das atividades de
produção e reprodução da sociedade. A tarefa da Teoria é
compreender a natureza do mercado capitalista, como se
distribui o poder político e a riqueza, o Estado, a família,
a religião, entre outros aspectos.
HES: Nesses parágrafos o autor coloca o capitalismo
como o centro de sua análise.

41o e 42o parágrafos, pgs. 25 e 26.


Resumo: No mercado, todos os valores se subordinam a
troca mercantil, e tudo pode ser trocado. A mercadoria é a
unidade, e todo e qualquer bem tem um valor.
HES: A materialização de “todo e qualquer bem” é ainda
um pouco etérea. Vale a ressalva de que o autor não

São Carlos, 2011. 10


Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
Resenha da Teoria Crítica, Harry Edmar Schulz

eliminou outros valores, mas os subordinou à troca


mercantil.

43o e 44o parágrafos, pgs. 26 e 27.


Resumo: O trabalho se tornou uma mercadoria,
vendendo-se a força do trabalho. A separação entre os
instrumentos e a força decorre da forma histórica do
capitalismo. O capitalismo acarreta desenvolvimento
tecnológico, com os instrumentos ficando mais
complexos, exigindo mais capital para comprá-los.
HES: O autor coloca a força de trabalho separada do
instrumento e discorre sobre as características conhecidas
a posteriori do capitalismo, como até o momento nós o
conhecemos.

45o e 46o parágrafos, pg. 27.


Resumo: O início do crescimento é colocado como o uso,
na compra de máquinas, da riqueza concentrada,
tornando-a “capital”. O século XV marca o início do
êxodo rural europeu, com os indivíduos vendendo, nos
centros urbanos, sua força de trabalho. Este novo
proletariado gasta seu salário em bens de consumo e
move um mercado interno.
HES: A descrição histórica visa o entendimento da
Teoria Crítica. Evidentemente há coincidências históricas
que podem ser consideradas com mais detalhe em estudos
vinculados à realidade novo-mundista. Coincide que o
século XV marcou o início do holocausto novo-mundista,
com grandes aportes de riquezas na Europa provindas do
novo mundo. Toda seqüência de concentração de
riquezas, de avanço científico (renascimento), de
aplicação dessas riquezas, é conseqüência primeira de
uma transferência compulsória das riquezas e destruição
de seus criadores. O autor não tece comentários a esse
respeito. Evidentemente Marx não teceu comentários a
este respeito. A realidade marxista assume a riqueza

São Carlos, 2011. 11


Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
Resenha da Teoria Crítica, Harry Edmar Schulz

presente já na Europa, independente de suas causas extra-


continentais.

47o e 48o parágrafos, pgs. 27 e 28.


Resumo: A divisão entre os capitalistas (que detém os
meios de produção) e proletários (que vendem sua força
de trabalho em troca de um salário) é apresentada, bem
como o aprofundamento das desigualdades, seguindo a
proposta de Marx.
HES: Trata-se da apresentação das definições clássicas
de Marx.

49o e 50o parágrafos, pgs. 28 e 29.


Resumo: O mercado, tendo origem justa, também
permite colocar esta origem para o mercado capitalista,
que deveria garantir a liberdade e a igualdade de todos.
Mas, como a mais-valia está presente (excedente de
trabalho agregado à mercadoria produzida e não pago
pelo salário), fornecendo lucro ao capitalista, as
diferenças se intensificam. Assim, havendo lucro, não há
liberdade e igualdade.
HES: Novamente, a apresentação das definições clássicas
de Marx.

51o e 52o parágrafos, pgs. 29 e 30.


Resumo: O mecanismo descrito acima efetivamente
estabelece-se, sendo o capitalismo a primeira formação
histórica que permite o crescimento maciço da técnica e
da produção, tornando possível a igualdade e a liberdade.
Segundo Marx, essa formação tende a se extinguir. A
tendência é de abolição do capital, mas o capitalismo
impede também essa conclusão.
HES: Novamente, a apresentação das definições clássicas
de Marx.

São Carlos, 2011. 12


Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
Resenha da Teoria Crítica, Harry Edmar Schulz

53o e 54o parágrafos, pgs. 30 e 31.


Resumo: Passa-se à conscientização do proletariado e de
sua emancipação pela revolução. Em seguida são
apresentados os princípios fundamentais da Teoria
Crítica. A consecução da liberdade e igualdade é uma
possibilidade real que não depende da teoria, mas da
prática. Assim, a Teoria Crítica só se confirma na “prática
transformadora das relações sociais vigentes”.
HES: Tem-se a apresentação final das definições
clássicas de Marx, e a apresentação da Teoria Crítica
como fundamentada na prática. Ainda que contraditória
no uso dos termos, a idéia é interessante.
55o e 56o parágrafos, pgs. 31 e 32.
Resumo: A prática transformadora é relevante, mas
também é relevante a teoria na análise das estruturas
reais, na excução do diagnóstico e do prognóstico, com
base na tendência histórica momentânea. A teoria não se
limita a dizer como as coisas funcionam, mas visam a
emancipação possível e bloqueada pelas relações sociais
vigentes. A orientação para a emancipação é dita ser o
primeiro princípio fundamental da Teoria Crítica.
HES: Ou seja, tem-se a calibração do modelo e seu uso
na previsão. A prática se efetuará após o estudo
decorrente do modelo. Caso não haja modelo, os
procedimentos de análise o incorporam de forma
implícita. Isto porque qualquer prognóstico necessita de
um modelo que diga de onde se parte (diagnóstico,
calibração) e o cenário provável.
57o e 58o parágrafos, pgs. 32 e 33.
Resumo: O autor menciona que a teoria não pode se
limitar a descrever o mundo social, mas deve procurar o
melhor que pode ser, sendo a expressão de um
comportamento crítico relativo ao conhecimento da
realidade social. Este comportamento crítico é o segundo
princípio fundamental da Teoria Crítica. Os dois

São Carlos, 2011. 13


Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
Resenha da Teoria Crítica, Harry Edmar Schulz

princípios caracterizam a posição social do proletariado


(classe), que mostram as potencialidades e os obstáculos
à emancipação.
HES: Os aspectos mencionados pelo autor “orientação
para a emancipação” e o “comportamento crítico”
funcionam como a condição inicial do modelo e a função
que é representada pelo próprio modelo. Em outras
palavras, a orientação estabelece em que sentido a
mudança deverá ocorrer e o comportamento crítico
estabelece a “intensidade” ou “velocidade” com que isto
ocorrerá (note-se que está-se falando de um modelo
genérico, ou seja, de uma possível análise teórica de
diagnóstico e prognóstico).
59o parágrafo, pgs. 33 e 34.
Resumo: Os dois princípios, segundo o autor, excluem
teóricos que constroem modelos abstratos (utópicos ou
normativistas) e os que reduzem a teoria a uma descrição
neutra do funcionamento da sociedade (positivistas). A
teoria não descreve apenas, mas também identifica
potencialidades e obstáculos em cada momento histórico.
HES: O campo de trabalho do autor exclui então os
extremos abstratos e neutros, estabelecendo um campo de
ação próprio, cuja abrangência deverá ser esclarecida.

4 A teoria crítica segundo Max Horkheimer


60o e 61o parágrafos, pgs. 34e 35.
Resumo: O autor menciona que deve-se mostrar como
Horkheimer trabalha os dois princípios. O conhecimneto
crítico opõem-se a todo outro conhecimento gerado sem
base nesses dois princípios. Deve-se mostrar que este
conhecimento é parcial, devendo-se integrá-lo no
conhecimento crítico, produzido sob condições sociais
capitalistas, denominado de “Teoria Tradicional”.
HES: Trata-se da introdução ao escrito de Horkheimer.

São Carlos, 2011. 14


Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
Resenha da Teoria Crítica, Harry Edmar Schulz

62o e 63o parágrafos, pgs. 35 e 36.


Resumo: A concepção tradicional da teoria inicia com a
descrição de teoria para as ciências, como o uso de
princípios abstratos para formar leis, aplicáveis a casos
particulares que, se confirmados, confirmam a própria
teoria. Nesse caso, nas ciências, as interconexões na
natureza se dão independente da interferência do
cientista. O objetos são abstraídos das qualidades e do
sentido que podem ter no contexto das relações sociais,
sendo elementos de uma cadeia causal. Esta é a
concepção tradicional da teoria.
HES: A teoria tradicional é compreensível como um
modelo (uma lei natural), onde interferências do
observador não são consideradas. Isto é simples de ser
compreendido.

64o e 65o parágrafos, pg. 36.


Resumo: O autor questiona a aplicação de tal teoria à
sociedade, onde os objetos são decorrentes da ação
humana e a dificuldade da definição de um fenômeno
social. Para tanto, o observador deve ser diferenciado do
agente social. O que ele observa e o que avalia a partir de
seus valores devem ser reconhecidos.
HES: Um modelo, em essência, deve ser independente do
observador. Havendo a possibilidade de existir alguma
influência, seria necessário estabelecer critérios
corretivos. A questão da interpretação, ou avaliação da
sociedade ou dos resultados do modelo como dependente
do observador coloca um foco de desvio também no
observador (e não no modelo).

66o e 67o parágrafos, pgs. 36 e 37.


Resumo: Para haver a separação mencionada nos
parágrafos anteriores, é preciso aplicar um método
científico, como nas ciências naturais, que impeça o

São Carlos, 2011. 15


Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
Resenha da Teoria Crítica, Harry Edmar Schulz

cientista social de dirigir a investigação para a


comprovação de seus valores pessoais. Ou seja, o
cientista não pode valorar o objeto, mas somente sua
classificação segundo parâmetros neutros.
HES: A discussão, portanto, volta à necessidade de uma
observação isenta, nos moldes das ciências naturais, para
que possa produzir resultados vinculados ao objeto
estudado, e não ao observador.

68o e 69o parágrafos, pgs. 37 e 38.


Resumo: A teoria, então, não pode ter objetivo prático.
Deve só mostrar a interrelação dos fenômenos sociais.
Sendo possível a investigação do geral sem estar sujeito
ao particular (observador) estabelece-se a disciplina
científica. Os exemplos são a sociologia, antropologia
social, ciência política, reorientando a história, a
psicologia e o direito.
HES: Esta parte da discussão está clara. Como nas
ciências naturais, um resultado isento é obtido sem a
interferência do observador. Qualquer interferência
tendenciosa é fraude, e é irrelevante para o conhecimento,
porque gera uma conexão ficcional entre causas e efeitos.

70o e 71o parágrafos, pg. 38.


Resumo: O autor se concentra na atitude crítica.
Menciona que Horkheimer argumenta que, nesse caso, a
sociedade de classes, sendo uma forma histórica presente
da dominação, passa a ser vista, pela teoria tradicional,
como necessária. Daí põe-se a questão de se é necessário
separar “conhecer” e “agir”, se se quer o conhecimento
científico da realidade.
HES: O autor questiona se há algo a mais a fazer do que
a teoria tradicional. Note-se que ela é um sucesso,
considerando os avanços nas disciplinas mencionadas.

São Carlos, 2011. 16


Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
Resenha da Teoria Crítica, Harry Edmar Schulz

72o e 73o parágrafos, pgs. 38 e 39.


Resumo: O autor comenta que Horkheimer afirma ser o
conhecimento da realidade um momento da própria ação
social. A realidade é o resultado da ação humana,
determinada no contexto de estruturas históricas, por uma
forma de organização social. O autor menciona que a
teoria tradicional expulsa da reflexão as condicionantes
históricas. Mas considerar as condicionantes nos força a
trabalhar superficialmente. Tradicionalmente, o método
torna-se uma instância atemporal, que tenta eliminar o
cerne histórico.
HES: Esta forma de abordagem não parece convincente.
A sociedade ser resultante de seus momentos históricos
passados (estrutura histórica) é bastante evidente.
Entender isto e observar a sociedade de hoje com base
nisso é atemporal: será feito em qualquer tempo, com as
sociedades passadas e com a sociedade presente, no
presente e no futuro. O nosso momento presente interferir
na interpretação dos fatos do passado é inevitável, mas
ainda assim, essa interpretação deve ser feita para que se
possam estabelecer cenários futuros de aplicação do
modelo utilizado. Ademais, sempre que se aplica um
modelo, subentende-se que haverá uma comprovação,
ainda que seja no futuro. A partir dela, pode-se
estabelecer 1) se o modelo foi inadequado, 2) se a
interpretação dos fatos foi inadequada. Portanto, nesse
estágio de checagem poderá ser recalibrado o modelo e
poderá ser feita uma interpretação menos sujeita aos erros
já cometidos pelo observador. A afirmação de que ou se
tem uma investigação superficial mascara o esforço de
tentar estabelecer todas as condições de contorno que
possam estabelecer uma previsão mais confiável.

74o e 75o parágrafos, pgs. 39 e 40.


Resumo: O comportamento crítico visa conhecer sem
abdicar da reflexão sobre o caráter histórico do

São Carlos, 2011. 17


Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
Resenha da Teoria Crítica, Harry Edmar Schulz

conhecimento produzido. Reafirma-se o contexto do


mercado capitalista, com sua produção de mercadorias,
dizendo ainda que uma teoria que não considera a
sociedade de classes e o exercício da ciência como um
momento dessa sociedade produtora de mercadorias e
uma concepção parcial de ciência. Daí o autor afirma que
o comportamento crítico pretende mostrar que “a
produção científica de extração tradicional” é parcial,
pois gera uma imagem, uma aparência, a qual é produzida
pela lógica ilusória do capital (liberdade e igualdade não
serão obtidas no capitalismo). Assim essa parcialidade é
real, porque mostra-se como característica de uma
sociedade de classes.
HES: Aqui há o pressuposto de que há uma atividade
científica que produz imagens parciais de um fato. A
aplicação da teoria tradicional seria a causa desta imagem
parcial. Também há o pressuposto de que os
pesquisadores não percebem que seus resultados são
vinculados a um momento histórico e sujeitos aos seus
próprios valores, cujo efeito deve ser minimizado.
Mesmo admitindo que hajam pesquisadores que não
observem essas características, deve-se também admitir
que provavelmente a maioria as observa e busca
relativizar as suas conclusões e seus prognósticos. Se, ao
fazer isso, esses pesquisadores estão abandonando a
teoria tradicional e adentrando na teoria restrita, parece
antes uma convenção acadêmica do que uma modificação
de procedimento a ser imputada aos pesquisadores. Em
outros termos, o problema posto pode ser encarado como
“um sinal de advertência” aos pesquisadores, para que
considerem esta possibilidade.

76o e 77o parágrafos, pgs. 40 e 41.


Resumo: O autor cita Horkheimer, para o qual à teoria
tradicional deve ser dada consciência da sua limitação,
superando então a sua função de legitimação da

São Carlos, 2011. 18


Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
Resenha da Teoria Crítica, Harry Edmar Schulz

dominação, estabelecida na sua origem “objetiva e


neutra”. Daí se menciona que a Teoria Crítica considera o
conhecimento produzido sob condições capitalistas e à
realidade que o conhecimento procurou apreender,
mostrando que o comportamento crítico tem sua fonte na
orientação para a emancipação.
HES: Surge uma posição algo desconfortável para o
leitor. A teoria tradicional é apresentada como tendo uma
origem objetiva e neutra, que são, em princípio, adjetivos
positivos para uma teoria. Como os desvios acerca dos
quais se argumentou decorrem dessa origem, fica a
pergunta de se a Teoria Crítica, então, tem uma origem
que não é objetiva e neutra. E parece que isso é fato, ao
enfatizar agora a “orientação para a emancipação”, não
indicando como ela será reconhecida sem haver uma
referência. Orienta-se sob qual critério? Para adotar uma
imagem, pode-se perguntar: orienta-se pelo curso do rio
ou pelo Sol? Note-se que apenas se quer colocar o fato de
que assumir que haja uma “orientação para a
emancipação” não responde a questão da referência. É
claro que a referência é marxista, como Horkheimer deixa
claro. Mas também é claro que essa referência é
arbitrária, como ilustra o exemplo de orientar-se pelo rio
ou pelo Sol. Assim, a referência para a orientação não é
neutra, mas ditada pelo marxismo, considerado adequado
para o estudo proposto. Embora isto não tenha sido
explorado nesta resenha, outros podem considerar que
podem haver outras referências também válidas.

78o e 79o parágrafos, pg. 41.


Resumo:.O autor menciona que o método da teoria
tradicional envolve distinções rígidas, e que a Teoria
Crítica mostra que as divisões rígidas são características
de uma sociedade ainda não emancipada. A Teoria
Crítica permite compreender o sentido da divisão imposta
pelo capitalismo e “reconciliar”a sociedade. O

São Carlos, 2011. 19


Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
Resenha da Teoria Crítica, Harry Edmar Schulz

comportamento critico é fundado na emancipação, na


realização da liberdade e da igualdade que o capitalismo
bloqueia.
HES: Esta parte do texto parece mais um esforço de
doutrinação. A Teoria Crítica permite que se adote o
comportamento crítico para orientar-se no sentido da
liberdade, igualdade, reconciliação da sociedade. Embora
haja essa impressão de doutrinação, pode-se também
entender as propostas como “objetivos”, como “fins”,
tornando esta leitura mais isenta.

80o e 81o parágrafos, pg. 42.


Resumo:.O autor concentra-se no materialismo
interdisciplinar, mencionando que a característica de
permanente renovação permite a Horkheimer atualizar as
propostas de Marx. O autor menciona as diferenças entre
a economia política entendida por Marx e a atual.
HES: Está-se contextualizando o estudo a seguir.

82o e 83o parágrafos, pgs. 42 e 43.


Resumo:.O autor menciona que a especialização parece
ir contra o modelo de análise do capitalismo proposto por
Marx, prejudicando a apreensão do todo. Mas se é preciso
que a teoria tradicional se incorpore à Teoria Crítica, o
procedimento tem que ser válido para a especialização
científica. Diz-se que isso é possível reconhecendo os
condicionantes históricos da especialização, em seu
sentido social. Mas a especialização, a divisão da
sociedade em fragmentos, impede a visão do geral e
justifica a presente ordem.
HES: O autor afirma que deve-se considerar a
especialização sob um ponto de vista histórico-social,
mas ao mesmo tempo diz que a especialização permite
justificar a presente ordem. Em princípio, não está dito
que será usada a aespecialização como ferramenta, ainda

São Carlos, 2011. 20


Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
Resenha da Teoria Crítica, Harry Edmar Schulz

se valorizando a visão do todo. Mas não está dito como se


fará algo mais objetivo sem haver a especialização.

84o e 85o parágrafos, pgs. 43 e 44.


Resumo: Horkheimer percebe isso e “pretende encontrar
um sentido positivo para o movimento em direção à
crescente especialização, a fim de orientá-lo no sentido
crítico”. Daí justifica-se a presença do materialismo
interdisciplinar, com uma miríade de pesquisadores de
diferentes áreas tendo como base o marxismo. Todos
tentariam ver seus resultados sob a ação da sociedade
capitalista, mostrando como superar esta dominação. Diz
o autor que esta forma de trabalho permitiu Horkheimer
diagnosticar o momento presente, interpretando o
pensamento de Marx e utilizando este resultado para a
análise do momento presente. Isto inaugurou a Teoria
Crítica em sentido restrito.
HES: Assim, a especialização é um movimento natural
da sociedade. Esse movimento é contrário ao modelo de
Marx. Portanto, forçosamente é preciso reinterpretar
Marx, se há o desejo de aplicar seus conceitos. Esse
exercício estabelece novas bases, vinculadas ao
marxismo, mas reinterpretadas por Horkheimer.

86o e 87o parágrafos, pgs. 44 e 45.


Resumo: O autor concentra-se no diagnóstico do
momento presente, mencionando três elementos
fundamentais. O primeiro elemento diz que as tendências
destrutivas do capitalismo não estavam acirradas, tendo
este passado da concorrência ao monopólio. O Estado
interfere no mercado, e, segundo Marx, se isto se
perenizar, destrói a lógica de valorização do capital.
HES: O autor descreve as bases para o diagnóstico do
momento presente.

São Carlos, 2011. 21


Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
Resenha da Teoria Crítica, Harry Edmar Schulz

88o e 89o parágrafos, pgs. 45 e 46.


Resumo: O segundo elemento é o reconhecimento da
diferenciação econômica do proletariado, que não levou
ao empobrecimento, como previra Marx, mas de uma
aristocracia operária e da melhoria das condições de vida
do operariado. Também a concentração em torno de um
pólo de pobreza e um de riqueza não se observa, havendo
diferentes níveis e camadas sociais. O terceiro elemento é
a ascensão do nazismo e do fascismo, possibilitada pela
classe operária, mas que mostra que foi superestimada a
capacidade de resistência da classe trabalhadora à
dominação capitalista, mencionando o controle espiritual
das massas.
HES: Nesse caso, o autor mostra que as previsões de
Marx não se efetivaram, o que aponta contra o seu
modelo. Ou este estava errado em suas bases, ou a
interpretação de Marx estava equivocada (ou seja,
eventualmente o observador interferiu no resultado de sua
observação). Acerca da ascensão de governos ditatoriais,
o autor evidencia a capacidade de formar opinião dos
meios de comunicação e entretenimento.

90o e 91o parágrafos, pgs. 46 e 47.


Resumo: Com os elementos descritos por Horkheimer,
este conclui que aquele momento histórico mostrava que
o potencial de emancipação estava bloqueado. Assim, a
prática estava bloqueada, restando ao exercício crítico
apenas a teoria. As contradições à teoria de Marx
evidenciaram-se, tendo sido retomadas posteriormente.
HES: Conclui-se, portanto, com o estabelecimento de um
limite da própria teoria original, que fundamenta as
interpretações de Horkheimer. Portanto, também se limita
a discussão em torno da sociedade, cujo comportamento
fugiu àquilo que era esperado e que poderia ser
considerado pela teoria. Embora dramático, isto mostra
que não houve condições de “ajustar a sociedade à

São Carlos, 2011. 22


Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
Resenha da Teoria Crítica, Harry Edmar Schulz

teoria”, e que há influências que determinam o


comportamento das sociedades que não haviam sido
anteriormente consideradas.

92o parágrafo, pg. 47.


Resumo: O texto original de Horkheimer é descrito como
complexo, procurando conciliar elementos contraditórios,
o que faz com que a análise do autor se fixe no texto de
1937 de Horkheimer. Menciona-se que dois modelos são
apresentados em suas grande slinhas na seqüência do
texto.
HES: É um parágrafo de fechamento, que lança na
complexidade do tema original a opção por um segmento
deste tema para a posterior discussão.

5 Modelos de teoria crítica


93o e 94º parágrafos, pgs. 47 e 48.
Resumo: O autor menciona os pesquisadores que
utilizaram ou podem ter utilizado as idéias de
Horkheimer, bem como quem o influenciou. Comenta
que o texto visa fornecer elementos fundamentais para
posterior aprofundamento.
HES: O autor contextualiza o início de sua apresentação
de modelos.

95o e 96º parágrafos, pgs. 48 e 49.


Resumo: Os modelos da Dialética do Esclarecimento
(Horkheimer e Adorno) e o modelo comunicativo
(Habermas) são mencionados. O primeiro foi escrito
durante o exílio nos EUA, contendo o ensaio do
“Conceito do Esclarecimento”, um ensaio sobre a
indústria cultural e uma análise do anti-semitismo,
concluindo com pequenos textos e fragmentos de
diversos temas.

São Carlos, 2011. 23


Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
Resenha da Teoria Crítica, Harry Edmar Schulz

HES: É uma descrição do texto que apresenta o primeiro


modelo.

97o e 98º parágrafos, pgs. 49 e 50.


Resumo: O modelo abandona alguns pressupostos do
materialismo interdisciplinar e, por conseguinte, da
própria Teoria Crítica (pressuposto da produção de uma
ilusão de igualdade e liberdade, e da realização concreta
destas). Esta possibilidade estaria bloqueada pela
propaganda nazista. Mas no pós guerra, a intervenção do
Estado deu margem ao Capitalismo de Estado, ou, nos
termos de Horkheimer e Adorno, ao capitalismo ou
mundo administrado. De qualquer forma, há desvios dos
comportamentos “previstos” por Marx.
HES: Nesse caso, apresentam-se os condicionantes do
primeiro modelo, que apontam um direcionamento mais
uma vez corrigido (Note-se que a primeira aproximação
tinha sido a interpretação das bases de Marx. Agora, é o
abandono de conceitos e adequação para uma sociedade
não prevista).

99o e 100º parágrafos, pgs. 50 e 51.


Resumo: Segundo a descrição do autor, o capitalismo
regido por si próprio permite a resistência do
proletariado. Mas o capitalismo administrado bloqueia a
emancipação e a ação transformadora. A auto regulação
do mercado não existe, mas um controle que ajusta os
meios a fins estabelecidos exteriormente.
HES: Mais uma vez vê-se a descrição de um momento
que fugiu a uma previsão anterior (ou seja, os
prognósticos não se verificaram). Entretanto, descreve-se
uma nova situação, que pode ser usada para calibrar o
modelo (diagnóstico) e permitir novas previsões
(prognósticos), agora sem a interferência interpretativa “a
priori” das condições pré-guerra, mas uma análise dos

São Carlos, 2011. 24


Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
Resenha da Teoria Crítica, Harry Edmar Schulz

acontecimentos ocorridos e de sua influência na nova


realidade.

101o e 102º parágrafos, pg. 51.


Resumo: O projeto de emancipação previa a discussão
dos fins, porém o capitalismo administrado impõe um
ajuste dos meios para atingir um fim pré-determinado.
Isto não apenas determina a economia, a política e a
burocracia, mas a socialização, o aprendizado e a
formação da personalidade. Daí surge a questão: porque a
razão humana voltou-se a uma função instrumental, ao
invés de buscar a liberdade e igualdade humanas.
HES: O autor argumenta provavelmente no sentido
apontado por Horkheimer e Adorno. Entendo,
inicialmente, que ambos se reportam ao “mundo
capitalista” e não ao “bloco comunista”, estabelecidos no
pós-guerra. Parece-me, entretanto, que ambos os “blocos”
apresentam características de “burocracias dominantes”
que estabelecem os fins e aos quais se ajustam os meios.
Também, em ambos os “blocos”, as influências se
fizeram sentir até a formação da personalidade. Havendo,
portanto, dois universos amostrais diferentes, ou duas
sociedades “diferentes” em desenvolvimento, vale efetuar
um estudo das analogias e discrepâncias entre as linhas
gerais tratadas pelo autor. Não parece que tal estudo tenha
sido efetuado neste texto, o que também limita uma
argumentação mais embasada no presente momento.

103o e 104º parágrafos, pgs. 52 e 53.


Resumo: O capitalismo administrado é apontado como
permitindo apenas a forma de pensamento ilusória, do
conformismo à dominação vigente. A Teoria Crítica não
encontra mais base nessas condições. A possibilidade de
crítica torna-se extremamente precária.
HES: Interessantemente, não se está descrevendo um
modelo, ou seja, não se está descrevendo como se pode

São Carlos, 2011. 25


Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
Resenha da Teoria Crítica, Harry Edmar Schulz

diagnosticar o presente para efetuar prognósticos a partir


das tendências históricas. Note-se que é justamente isto
que está sendo enfatizado, mas não há modelo, ou
ferramenta previsiva em questão. Ou seja, trata-se de uma
descrição estática da situação momentânea.

105o e 106º parágrafos, pgs. 52 e 53.


Resumo: O autor se concentra no modelo comunicativo
de Habermas, que pretende criticar a posição descrita por
Horkheimer e Adorno. A posição desses dois autores
colocava em risco o projeto crítico, tanto em relação ao
conhecimento como em relação a orientação para a
emancipação.
HES: Trata-se da descrição da situação encontrada por
Habermas, a ser discutida.

107o e 108º parágrafos, pgs. 53 e 54.


Resumo: Habermas concorda que o capitalismo
administrado eliminou a possibilidade de colapso interno
do capitalismo e da organização do proletariado contra a
dominação. Entretanto, esta última não está
estruturalmente bloqueada, sendo necessário repensar esta
emancipação (em relação a Marx e Horkheimer).
HES: Chegando ao ponto de impossibilidade, mas
percebendo que esta impossibilidade não pode impedir a
crítica, deve haver uma solução teórica para que ainda se
possa adotar o comportamento crítico. Ou seja, é
necessário adaptar, corrigir a teoria para que possa
considerar também essa nova realidade. O que ocorre é
que a teoria antiga caiu em dificuldades, decorrente dos
rumos não previstos da sociedade, sendo necessário ou
substituí-la, ou ajustá-la.

109o e 110º parágrafos, pgs. 54 e 55.


Resumo: Habermas conclui que as formulações originais
de Marx devem ser abandonadas, porque os conceitos

São Carlos, 2011. 26


Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
Resenha da Teoria Crítica, Harry Edmar Schulz

originais não são suficientemente críticos na nova


realidade. Habermas, para fugir à situação apontada por
Horkheimer e Adorno, propõe um novo conceito de
racionalidade.
HES: Para que se possa desvencilhar o “nó” conceitual
decorrente da base marxista, ainda que reinterpretada por
Horkheimer, apenas abandonando esta base, ou seja,
criando novos conceitos.

111o e 112º parágrafos, pg. 55.


Resumo: A racionalidade, inicialmente definida como
instrumental por Horkheimer, passa a conviver com uma
segunda modalidade, dita comunicativa. Habermas cria
uma teoria da ação. O desenvolvimento leva a uma
diferenciação entre os dois tipos de razão.
HES: Trata-se de um artifício, uma hipótese, cuja
validade deve ser testada considerando os possíveis
cenários observáveis das sociedades organizadas.

113o e 114º parágrafos, pgs. 55 e 56.


Resumo: A racionalidade instrumental dirige-se para o
êxito, perseguindo um fim definido previamente. É a ação
que caracteriza o trabalho e permitem a reprodução
material da sociedade. A racionalidade comunicativa
volta-se ao entendimento, permitindo a reprodução
simbólica da sociedade.
HES: Nesses parágrafos, diferenciam-se os dois tipos de
racionalidade.

115o e 116º parágrafos, pgs. 56 e 57.


Resumo: A ação comunicativa está presente de fato, mas
a ação para o entendimento depende de condições
inicialmente colocadas como ideais sem obstáculos, para
dizer posteriormente que essas são as condições reais.
HES: O texto visa o ajuste da teoria, o que faz com que
tenha componentes paradoxais, eventualmente

São Carlos, 2011. 27


Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
Resenha da Teoria Crítica, Harry Edmar Schulz

minimizados em textos posteriores. Esses elementos


paradoxais não podem ser explicados sem uma leitura
mais profunda dos textos originais.

117o e 118º parágrafos, pgs. 57 e 58.


Resumo: A ação comunicativa pressupõe uma série de
condições, que jamais se cumprem no mundo real. Mas
Habermas argumenta que os sujeitos antecipam
necessariamente as condições ideais. A comunicação se
dá pela antecipação das condições ideais nas situações
reais. Isto desbloqueia a orientação para a emancipação.
HES: Subentende-se que os argumentos convencem que
a situação ideal é necessariamente antecipada.
Subentende-se também que a ação comunicativa
efetivamente ocorre. Subentende-se que não pode não
ocorrer. Em sendo o caso, o problema teórico parece
suplantado, e pode-se novamente falar em uma Teoria
Crítica.

119o e 120º parágrafos, pg. 58.


Resumo: Habermas cria a idéia de uma racionalidade
dupla, com as partes complementares. Cada racionalidade
não pode ir além de seus limites, o que seria uma
patologia social. A teoria é crítica em relação à realidade
social, mas dista conceitualmente bastante da teoria
original de Marx. Emancipação deixa de ser sinônimo de
revolução. Surge o potencial emancipatório presente na
participação do Estado democrático de direito.
HES: Como foi mencionado, a conceituação evolui e
abandona partes não verificadas nos desenvolvimentos
sociais. A adequação e as limitações devem ser testadas a
partir dos desenvolvimentos sociais vindouros.

São Carlos, 2011. 28


Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
Resenha da Teoria Crítica, Harry Edmar Schulz

6 Breve nota final


Em um breve texto de cinco parágrafos o autor menciona
a pluralidade de modelos no campo da Teoria Crítica, e a
conveniência de estudos mais profundos. Questões
interessantes são colocadas, procurando incentivar o
espírito mais investigador, levando a Teoria Crítica
adiante, e não deixando-a apenas como um marco da
história.

Bibiografia
Nobre, M. (2004), A Teoria Crítica, Jorge Zahar Editor,
Rio de Janeiro, R.J., 80p.

Imagem da capa:

A fotografia da capa é um telhado na região do


“Römer”, em Frankfurt, utilizada como uma metáfora
visual para a “Escola de Frankfurt”.

São Carlos, 2011. 29


Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.
Resenha da Teoria Crítica, Harry Edmar Schulz

Posfácio à Resenha

Todos os textos do projeto “Humanização como


ferramenta de aumento de interesse nas exatas” envolvem
uma leitura inicial de um autor, seguindo-se o resumo da-
quilo que foi compreendido, e dos comentários próprios.
O presente estudo foi efetuado no contexto disciplinar do
curso de Filosofia da Universidade Federal de São Carlos.
Nota-se, ao longo de sua leitura, que a característica
descritiva do texto original torna a compreensão mais
imediata. Não há a proposta de uma nova forma de
abordagem, mas a descrição de momentos históricos e do
período de ascensão e declínio de uma abordagem no
contexto dos estudos sociais. Esta forma de apresentação,
descritiva, não produz desconfortos intransponíveis ao
leitor, mostrando que é uma boa ferramenta na
transmissão de idéias (objeto principal do estudo em
curso). Evidentemente, houveram simplificações
decorrentes do recorte proposto pelo autor, mas ainda
assim, o procedimento não prejudicou a transmissão das
idéias dimensionadas neste recorte. Nesse sentido, o
planejamento de recortes de temas a serem comunicados
aos alunos é um procedimento considerado positivo no
presente estudo (Planejamento é a palavra forte aqui).

Harry Edmar Schulz


EESC/USP
Outubro de 2011

São Carlos, 2011. 30


Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.

View publication stats

Você também pode gostar