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Universidade Federal Fluminense

Instituto de História

Disciplina: História Pública


Docente: Juniele Rabelo de Almeida
Discente: Gláucia Guidineli Garcia

Resenha

Que história pública queremos?


Ana Maria Mauad; Ricardo Santhiago; Viviane Trindade Borges.

O presente trabalho consiste em apresentar um recorte do livro “Que História Pública


Queremos?”, composto por ensaios de estudiosos e praticantes que buscam apresentar de
maneira enfática e bastante crítica, os modos pelos quais a história pública tem sido lida e
reinterpretada no Brasil, fomentando reflexões e práticas de pesquisa específicas, sendo elas
as mesmas que constroem um diálogo com tradições estrangeiras sem diminuí-las ou
igualá-las. O livro em questão é organizado em vinte ensaios e os mesmos são reescritos em
outra língua, procurando incluir e proporcionar novas experiências dentro do campo da
história. O projeto é pensado e organizado pelos seguintes nomes, Ana Maria Mauad, Ricardo
Santhiago e Viviane Trindade Borges. Assim como conta com a participação de grandes
autores como a própria Ana Maria Mauad, Paulo Knauss, Juniele Rabêlo de Almeida, Benito
Bisso Schmidt, Rodrigo de Almeida Ferreira, Marieta de Moraes Ferreira, José Newton
Coelho Meneses, Miriam Hermeto, Viviane Trindade Borges, Bruno Leal Pastor de Carvalho,
Sônia Meneses, Caroline Silveira Bauer, Samantha Viz Quadrat, Hebe Mattos, Keila
Grinberg, Martha Abreu, James N. Green, Rogério Rosa Rodrigues, Richard Cándida Smith,
Marta Gouveia de Oliveira Rovai e Ricardo Santhiago.
Porém, neste trabalho, o enfoque estará voltado para a contribuição do ensaio escrito pela
Samantha Viz Quadrat, que possui graduação em História pela Universidade Federal
Fluminense (1995), mestrado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(2000) e doutorado em História pela Universidade Federal Fluminense (2005). Atualmente
Samantha Viz Quadrat se encontra como professora associada de História da América
Contemporânea da Universidade Federal Fluminense, sendo atuante no Laboratório de
História Oral e Imagem (LABHOI) e no Núcleo de Pesquisa História e Ensino das Ditaduras
(NUPHED). Sua área de pesquisa voltada para o campo da História Latino-Americana, com
ênfase nas últimas ditaduras e também para os seguintes temas: violência política, direitos
humanos, memória, lugares de memória e consciência, ensino de História, biografias,
juventudes e HIV-AIDS.
A contribuição de Samantha para com o livro consiste no seu ensaio nomeado por “É
possível uma história pública dos temas sensíveis no Brasil?”. A construção da autora para
ao pensar o ensaio que compoe o livro conta com suas indagações sobre os temas sensíveis e
o que seriam os temas sensíveis no Brasil, fazendo com que o leitor se pergunte até sobre
determinadas abordagens de acontecimentos traumáticos ou catastróficos que ocuparam
meados do século XX, sendo eles anulados ou de alguma forma silenciados por se tornarem
temas sensíveis, como por exemplo a escravidão. Com isso, a autora apresenta alguns
acontecimentos que fazem parte da História e descreve a maioria como temas sensíveis e
apresenta três pontos que norteiam os seus argumentos em torno dos temas escolhidos para
serem retratados ao longo do seu ensaio.
Entre os pontos abordados pela autora, está o termo usado pela mesma, como “o passado
que não passa”, que tem como enfoque o passado que se encontra presente, um passado que
se estigmatiza e que ainda hoje marca a memória da uma sociedade, juntamente com esse
ponto se discute o tratamento ético e moral, pois mobilizam sentimentos e emoções, como
por exemplo empatia, ódio e etc. Pois é necessário entender que o sensível exige um cuidado,
e mencionar racismo, ditadura e outros temas que a mesma pontua, coloca em questão os
sentimentos e a memória da sociedade, principalmente daqueles que presenciaram e
presenciam tais acontecimentos. Dessa maneira, a autora menciona outro ponto que está
interligado com o compromisso da sociedade e o compromisso do estado para com as
memórias, trazendo a reflexão sobre o que é “dever de memória”, e apontando a necessidade
de trabalho para com esses temas sensíveis, descrevendo a importância de apresentar para a
sociedade, porém com o devido cuidado que os temas necessitam.
Ao descrever os pontos e mencionar os temas que servem como ponto de partida para a
discussão do ensaio, a autora começa a apresentar sua principal questão, que é exatamente
como lidar e apresentar os temas sensíveis, expor os mesmos diante da sociedade e os
espaços para suas discussões. “(...) é sobre a recuperação desses espaços que vou me deter
(...) para discutir as possibilidades da história pública dos temas sensíveis no Brasil.”
(Quadrat, Samantha viz. 2018. p. 214). Com isso a autora também traz questões sobre como
representar essas memórias e o horror que cercou a sociedade, sendo essas as que
acompanham os familiares e até mesmo as religiões afro-brasileiras, pois são acontecimentos
que ao serem entendidos como história e começaram a fazer parte de patrimônios históricos,
acabam por se tornarem memórias incômodas, fazendo com que os que recebem se
incomodem e dependendo dos espaços, “apreciem” de maneira banal. A partir disso, a autora
começa a apresentar alguns projetos que trabalham em função dessas memórias e desses
temas sensíveis para a sociedade, como por exemplo a Comissão da Verdade, bastante
mencionada pela autora, assim como a descrição de procedimentos para a recuperação desses
espaços e cita o Museu de Auschwitz, na Polônia, que se estruturou em 1947 e desde então
enfrentou inúmeros processos para que as memórias dos campos de concentração fossem
perpassados para a sociedade de forma que impactasse e trouxesse à memória a realidade,
para que não se criassem momentos como aqueles.
A autora mantém seu foco nas descrições dos temas sensíveis e se detém com mais
precisão para os temas de escravidão e ditadura, juntamente com os projetos que trabalham
para manter a memória desses acontecimentos viva dentro da sociedade de forma que alcance
o público. Dessa maneira, o enfoque desses projetos e dos museus apresentados pela a autora,
possuem o intuito de ocuparem lugares de maior alcance e construir lugares de memória
juntamente com lugares de consciência, fazendo com que o público volte suas atenções para
as memórias e reflitam sobre a história que acompanha a realidade de muitos, se tornando
assim uma história nacional. Exemplo claro disso, é o projeto “Passado Presente” que foi
pensado e colocado em prática pelo LABHOI/UFF juntamente com NUMEM/UNIRIO, que
tem como intenção maior, a construção de memória e o reconhecimento histórico para as
comunidades quilombolas e jongueiras, apresentando patrimônios imateriais que formam o
trajeto feito para o tráfico atlântico de africanos escravizados no Rio de Janeiro. Trabalho que
se assemelha, foi o projeto de exposição feito pelo Museu Histórico Nacional, que buscou
artefatos e documentos que pudessem escrever a história dos terreiros e tendas,
proporcionando contar para o público a realidade que os mesmo enfrentaram, assim como as
perseguições que as religiões afro-brasileiras enfrentam dentro da sociedade até hoje.
Nos momento finais do ensaio, Samantha também procura descrever sobre os projetos
que são voltados para a preservação da memória que cercam os acontecimentos da ditadura,
que se encontram até hoje em familiares e perseguidos durante o período que propiciou
traumas para os envolvidos e suas famílias. Assim como o projeto Passado Presente, a autora
também descreve sobre a mobilização que se originou com o Memorial Resistência, que
desde a sua fundação enfrentou algumas dificuldades, tendo seu nome invalidado e
modificado, então as intervenções começaram por partes dos familiares para que fosse
entendido e reconhecido como ato de resistência para as memórias, em respeito aos
sobreviventes e suas famílias, juntamente com militantes que lutavam pelos direitos
humanos.
A autora também reforça sobre a importância dos museus, argumento muito usado por
Paulo Knauss quando descreve os museus como espaços de encontro, de construção de
memória e consciência. Samantha então, finaliza as descrições sobre o Museu Resistência, e
procura fazer um breve resumo sobre ambos os projetos citados ao longo do seu ensaio, “O
Memorial é um museu e um lugar de memória e consciência, diferente do Passados Presentes.
No entanto, as experiências se aproximam na construção coletiva do conhecimento.”
(Quadrat, Samantha Viz. 2018. p.219). Porém, enfatiza a importância da construção de
lugares de memória e lugares de consciência que propiciem reflexões para o público, assim
como deixa explícito o quanto essas memórias e os locais de consciência e memória
influenciam o público, os jovens e a própria pedagogia.
Referências:

QUADRAT, S. V.. É possível uma história pública dos temas sensíveis no Brasil?. In: Ana
Maria Mauad; Ricardo Santhiago; Viviane Trindade Borges.. (Org.). Que história pública
queremos?. 1ed.São Paulo: Letra & Voz, 2018, v. 1, p. 213-220

Knauss, Paulo. História pública, artes visuais e museus. Disponível em:


<https://www.youtube.com/watch?v=qS3IGZt4Khw>. Acesso em: 11 de novembro de 2021.

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