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Salone Internazionale del Gusto e Terra Madre 2010

Comida +/= territórios, uma nova geografia do planeta foi o lema da oitava edição do
Salone Internazionale del Gusto que se realizou em Turim, na Lingotto Fiere, entre 21 e
25 de Outubro, em paralelo com o Terra Madre - encontro mundial das comunidades do
alimento.
Com o Ano Internacional da Biodiversidade em pano de fundo, o Salone del Gusto e a
Terra Madre reuniram pequenos produtores artesanais das quatro partidas do mundo para
celebrar a diversidade de comidas, sabores, culturas e saberes que desempenham um
papel fundamental para alimentar as populações e o planeta.
Paolo di croce, o responsável máximo da Terra Madre resume assim este evento único:”O
encontro de Turim é uma ocasião de intercâmbio e entendimento entre os produtores e
todos os outros intervenientes do sector da alimentação. Representa uma abordagem
diferente à produção alimentar: respeitadora dos recursos ambientais e do equilíbrio
planetário, do desenvolvimento sustentável, da preservação da biodiversidade, da
qualidade dos produtos e da qualidade de vida dos produtores.”
A Terra Madre reuniu mais de cinco mil pessoas, entre pequenos produtores,
agricultores, pescadores artesanais, cozinheiros, pesquisadores e activistas e
representantes dos convivia e fortalezas Slow Food de 150 países. Portugal esteve
representado por membros dos convivia do Ribatejo e Oeste e de Évora que para além de
divulgarem alguns dos produtos das respectivas regiões partilharam experiências e
conhecimentos com delegados do mundo inteiro. Já no interior do Salone del Gusto, na
zona do Mercado Internacional, onde se podiam conhecer e provar produtos dos cinco
continentes, estava presente uma representação dos produtores de carne Mirandesa que
dava a provar a famosa chouriça mirandesa, mais famosa em Turim, já que aí é
conhecida desde a primeira edição do certame em 1998, do que propriamente em
Portugal onde practicamente só é conhecida e comida no (seu) território que é o
Nordeste Trasmontano. Neste babélico mercado que ocupava todo o pavilhão1
encontravam-se ainda trutas da Tasmânia, algas da Galiza, enchidos de porco preto de
Bigorre nos Pirinéus franceses, lavagantes da Frízia, queijo fumado polaco, podia-se
beber mescal de Oaxaca acompanhado de grilos fritos com sal, ou beber uma poção
preparada por um xaman Tupí à base de pó de guaraná ralado com uma língua seca de
peixe que parece lixa, como “tira-gosto” petiscavam-se cabeças de formiga gigante do
Amazonas que têm um travo picante alimonado. Nos outros dois enormes pavilhões
estavam presentes as comidas de todos os territórios de Itália: queijo Fontina do Val
d’Aoste, toucinho de Colonnata, botarga da Sardenha, trufas brancas de Alba,
“fougassas” de Génova, “Ndujas” da Calábria... e mais uma profusão de legumes, frutas,
doçarias, azeites e vinhos de todas as regiões transalpinas. Uma opulenta montra do
melhor que a Itália tem para oferecer, apreciada por mais de 200.000 visitantes.
Noutras àreas do imenso complexo do Lingotto que em tempos foi a fábrica-mãe da
FIAT, decorriam em parelo um sem número de actividades: conferências e debates,
exposições como a do Concurso de embalagens de alimentos sustentáveis, ateliers de
educação do gosto para crianças, laboratórios de prova, apresentações culinárias ao vivo,
masterclasses de grandes especialistas, jantares de degustação cozinhados por chefs
famosos como Michel Bras, Paolo Lo Priore, Kylie Kwong, Yves Camdeborde, Moreno
Cedroni e o grande Alain Ducasse.
Sem qualquer pretensão de querer suscitar junto dos nossos leitores sentimentos menos
elevados como a gula, a cobiça ou mesmo a inveja, passo a descrever de maneira breve e
por ordem cronológica algumas das provas, experiências e descobertas nos quatro dias
que passei em Turim: Jantar de degustação Enoteca Palatium de Lázio à base de azeites
da região: tártaro de vitela, alcachofras, conquilhas (tellina), sopa de feijão e cardo, rabo
de boi, leite créme com azite picante; vinhos frascati, cesanese, aleatico. Prova de
Tequilas 100% agave com Julio Bermejo, o rei da tequila (www.tommystequila.com).
Apresentação Slow Fish 2011, degustação de “petiscos” genoves, vinhos regionais.
“Parmigiano Reggiano e o prodígio do tempo”- abertura e prova de uma “forma” com 90
meses de cura. Região Abruzzo- Degustação:“Il brodetto alla vastese”, a famosa sopa
pobre dos pescadores de Vasto. Laboratório sobre o Shochu Manzen, o nobre destilado
japonês feito artesanalmente na ilha de Kyushu, prova de cinco tipos distintos
acompanhados de iguarias da região como satsuma-age ( bolo frito de pasta de peixe) e
kaku-ni (terrina de porco preto japonês). Jantar de “Street-Food” com amigos do gabinete
de imprensa: Fritos da Sicília, “bombetta(s)” de cachaço de porco da Puglia, Azeitonas
recheadas e fritas de Ascoli, foccacias, piadinas e cervejas artesanais. Visita ao mercado
da “Porta Pallazzo”, o maior mercado ao ar livre da Europa, café e aperitivo no
Mulassano na Piazza Castello. Almoço ligeiro de queijos e enchidos da Emilia Romagna
no bar da Sala de Imprensa, Asti Rosé. Laboratório de conservas Islandesas – Prova de
peixes secos e fumados, carnes fumadas com bosta de ovelha, diferentes pães cozidos nas
furnas e assados na sertâ, cervejas artesanais da Skjálfti (cervejaria Terramoto). Aperitivo
da casa “Varnelli” com charuto toscano”Garibaldi”, prelecção do famoso barman Dom
Costa sobre a história dos cocktails. Jantar de degustação no pavilhão de Val d’Aosta -
queijos Fontina, toucinhos e fumados, sopa gratinada de pão repolho e queijo, vitelão dos
Alpes com polenta, tarte tatin de maçã com natas àcidas, vinhos regionais, licor de
“genepi”. Prova de vinhos: “A Mosela de Dr Loosen”. Apresentação e degustação de
conservas da Sardenha – bottarga de tainha e de atum, coração de atum seco, tainha e
atum fumados, vinhos da região. “Liberation 2010”- apresentação mundial do novo Rum
de “Gianni” Capovilla e dos irmãos Gargano, produzido na ilha caribenha de Marie
Galante; acompanhado por um charuto toscano “originale” apresentado por Stephano
Fanticelli do clube “Maledetto Toscano”; chocolates de Claudio Corallo. Teatro del
Gusto: apresentação e prova das criações do jovem e prodigioso chef Pier Giorgio Parini
do “Povero Diavolo” em Torriana, proximo de Rimini: Arroz “em branco” com calda de
Cipreste, Pombo bravo, peito e terrina, trufa de cacau e miúdos de pombo, vinhos Barolo
e Barolo quinado. O que acabo de relatar representa apenas uma pequena parte das
actividades que constituem a programação do maior encontro gastronómico mundial.
Para terminar, é de realçar que o Salone del Gusto e a Terra Madre 2010, mantiveram o
compromisso de respeitar o meio-ambiente, continuado o caminho já tomado nos anos
anteriores com o objectivo de reduzir o impacto ambiental dos eventos. A planificação
do certame foi desenvolvida pelo Departamento de Desenho Industrial da Universidade
Politécnica de Turim e pelo Slow Food, em colaboração com a Universidade dos Estudos
de Ciências Gastronômicas, baseia-se num projeto eficiente na preparação, nos
transportes de mercadorias, na gestão do desperdício, da água e da energia. Um belo
exemplo que nos faz sonhar com um mundo quase-perfeito. Daqui a dois anos há mais,
entretanto, podem aderir ao movimento ou pelo menos ir praticando, escolhendo melhor
o que come para que todos possamos viver melhor.

http://www.slowfood.com

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