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PAULO FREIRE E DEMOCRATIZAÇÃO DA TECNOLOGIA

Em “Pedagogia da autonomia”, Paulo Freire trata a autonomia como um


processo de amadurecimento contínuo. Amadurecer é tornar-se mais capaz de
compreender a realidade que nos cerca, de construir conhecimentos sobre essa
realidade e de compartilhá-los. Este ato de partilhar o conhecimento é um ato social
revolucionário, capaz de transformar realidades. Quando um grupo de indivíduos
compartilha seus conhecimentos, surge dessa comunhão novos saberes e novas
possibilidades de empregar estes saberes na construção de um mundo mais justo e
igualitário. O papel do professor é ser um agente mediador, auxiliando os
estudantes a se apropriar dos conhecimentos já elaborados e a partir disto interagir
com seus pares, mostrando caminhos que possam viabilizar essa comunhão de
saberes e, deste modo, contribuindo em tornar cada educando um sujeito mais
socialmente engajado, ativo, consciente e autônomo.

Para Paulo Freire, uma educação progressista busca a transformação social,


trata-se, portanto, da compreensão da educação como caminho revolucionário.
Essa transformação social almejada passa pela construção da autonomia do
educando. Para fomentar a autonomia, é necessário que as vivências dos
educandos possam se tornar ferramentas da práxis pedagógica.
Para Freire, o sistema capitalista se baseia na continuidade de práticas
históricas de opressão, os mais ricos se valem de seus recursos para manter seus
privilégios sociais que decorriam da opressão dos demais.

Para que ocorra a emancipação do oprimido é preciso que, primeiro, ele


tenha consciência de sua condição e se posicione como protagonista histórico, o
que só pode se dar na medida em que este oprimido se torne capaz de construir
enunciados que deem conta de explicitar sua condição e sirvam de base para a
união de todos aqueles que vivenciam as mesmas condições.
A opressão que Freire menciona é análoga à alienação descrita por Marx, um
elemento de estruturação social no qual mesmo o opressor não tem consciência de
seu papel, já que no decorrer dos anos em regime de opressão é naturalizado por
todos e aprisiona a todos em seus papéis sociais.
Segundo Freire, a tarefa histórica do oprimido é a de libertar não só a si
mesmo, mas também ao seu opressor. Na sociedade estruturada como uma
máquina movida à opressão, não há homem que seja livre, nem aquele que oprime.
Mas, para Freire somente quem mais sente o rigor da opressão poderá voltar-se
contra ela.

Nesse contexto, é preciso ter em conta que construir autonomia não é ato
meramente ideológico, conquanto suas motivações éticas sejam ideológicas, é
preciso que recursos materiais sejam colocados à disposição dos educadores e dos
educandos. A democratização da tecnologia pode servir como caminho para alterar
um tipo de ordenamento social que fora até então imutável. Nosso estudo considera
que o domínio do uso de tecnologias e mídias digitais torna-se requisito para o
acesso a conhecimentos produzidos no mundo todo. Assim, a democratização do
acesso a essas tecnologias e mídias deve ser elencada como objetivo visado por
toda pedagogia que pretenda auxiliar na construção de uma sociedade mais justa e
igualitária.

O ideal de uma educação universal surge do compromisso iluminista de


oferecer igualdade de acesso aos bens sociais a todas as pessoas. Assim, um
primeiro problema clássico à pedagogia sempre foi como, a despeito das
disparidades que emergem do modo de produção capitalista e da divisão desigual
da riqueza, fazer com que ao menos a educação seja igualitária, fornecendo a todos
as bases para o exercício da cidadania e as condições de se engajar na sociedade
economicamente por intermédio do trabalho e, deste modo, viver com dignidade. A
este problema acrescentou-se um novo, não de menor importância: como o uso
didático de tecnologia pode ajudar na meta pedagógica de promoção da igualdade?
E, se antes as disparidades econômicas já se refletiam em disparidades nas
possibilidades pedagógicas, existe um risco ainda maior de que a dificuldade de
acesso aos recursos digitais agora aprofundem desigualdades. As novas
tecnologias e mídias estão se convertendo cada vez mais em via régia para o
acesso à informação e para a produção e disseminação de conhecimento.
Para os professores Sales e Nonato (elencados no referencial teórico
sugerido para a presente seletiva), antes da Pandemia, também não notamos em
que medida o problema da exclusão ou sub-inclusão digital era amplo e urgente,
mas a pandemia evidenciou a necessidade em ampliar esforços para democratizar
o acesso às tecnologias da informação para, apenas deste modo, possibilitar uma
educação igualitária para o século XXI.

Referência:
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia . Disponível em:
https://cpers.com.br/wp content/uploads/2019/09/9.-Pedagogia-da-Autonomia.pdf
SALES, Mary; NONATO, Emanuel (Orgs.). Dossiê: "Educação e cultura digital na Covid 19".
Revista Práxis Educacional. Práxis Educacional/Revista do Programa de Pós Graduação em
Educação da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia –v.17, n.45, abr./jun. 2021 –Vitória
da Conquista: Edições UESB. Disponível em:
https://periodicos2.uesb.br/index.php/praxis/issue/view/448

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