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XV SIMPÓSIO DE RECURSOS HÍDRICOS DO NORDESTE

POLÍTICA NACIONAL DE SEGURANÇA DE BARRAGENS: UMA


ANÁLISE DO GRAU DE IMPLEMENTAÇÃO NO RIO GRANDE DO NORTE
E DA FORMA DE AQUISIÇÃO DE DADOS

Valteson da Silva Santos11;Allan Benício Silva de Medeiros2;Romário Stéffano Amaro da


Silva3;Olavo Francisco dos Santos Junior4;Osvaldo de Freitas Neto5

RESUMO – A promulgação da Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB) em 2010 é um


marco quanto ao fomento de uma cultura de segurança de barragens no Brasil. Vigente há 10 anos, é
preciso avaliar o grau de implementação dessa legislação, bem como a necessidade de melhorar
algumas de suas ferramentas. Este trabalho objetiva avaliar a implementação das medidas previstas
na PNSB no estado do Rio Grande do Norte, as fichas propostas pela Agência Nacional de Águas
(ANA) para inspeção regular de barragens e as fichas de notificação de acidentes e incidentes. Fez-
se uso dos dados disponíveis nos relatórios de segurança de barragens para atribuir notas quanto à
implementação dos objetivos da PNSB, seguindo o método de gap analysis. Utilizou-se dados
disponíveis na literatura para justificar as observações feitas sobre as fichas disponibilizadas pela
ANA. Assim, é possível inferir que os objetivos previstos na PNSB têm sido parcialmente cumpridos
no estado, havendo pontos que carecem de melhorias. Por fim, fez-se sugestões relativas às fichas de
notificação de eventos, com vistas a torná-las menos subjetivas e mais próximas às fichas de inspeção.

ABSTRACT– The institution of the National Dam Safety Policy (PNSB) in 2010 is a mark with
regard to the encouragement of a dam safety culture in Brazil. Ten years after its enactment, it is
necessary to assess the consolidation of this legislation, besides the necessity for improvement in
some of its mechanisms. The aims of this paper were to evaluate the PNSB objectives implementation
in the state of Rio Grande do Norte, also to appraise the inspection sheets proposed by Nacional Water
Agency (ANA) to dams regular inspections and the notification sheets for accidents and incidents.
Were used the data contained in ANA annual reports to evaluate by grades the PNSB objectives
implementation, using the gap analysis method, moreover utilizing literature data for explain the
observations of the ANA sheets. In this way, it is possible to infer that the PNSB objectives has been
partially fulfilled in the state, but there are still some points to improve. Finally, it was provided some
suggestions regarding the notification sheets, looking for make it less subjective and more like the
inspection sheets.

Palavras-Chave – PNSB; Segurança de barragens; Implementação;

1) Universidade Federal do Rio Grande do Norte: Natal, RN, 84 99429-2618,valtesomdasilva3@gmail.com


2) Universidade Federal do Rio Grande do Norte: Natal, RN, 84 99894-9495, allanbenicio08@gmail.com
3) Universidade Federal do Rio Grande do Norte: Natal, RN, 84 99827-4183, romario.tw@gmail.com
4) Universidade Federal do Rio Grande do Norte: Natal, RN, 84 3215-3775, olavo.santos@ufrn.edu.br
5) Universidade Federal do Rio Grande do Norte: Natal, RN, 84 3215-3775, osvaldocivil@ufrn.edu.br

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1 - INTRODUÇÃO

A Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB), por meio da Lei 12.334 de 2010, e da
Resolução nº 144 de 2012, do Ministério do Meio Ambiente, elenca como alguns de seus objetivos a
reunião de informações que fundamentem o gerenciamento das barragens nacionais e o incentivo à
cultura de segurança de barragens e gestão de risco. A PNSB estabelece três ferramentas a serem
implantadas em âmbito nacional: o Relatório Anual de Segurança de Barragens (RSB), o Sistema
Nacional de Informações Sobre Segurança de Barragens (SNISB) e para cada barragem a elaboração
do Plano de Segurança da Barragem.
A divulgação dos relatórios de segurança de barragens garante a publicidade dos dados relativos
às condições das barragens com categoria de risco alto e aos eventos adversos ocorridos. O
acompanhamento das condições de funcionamento das barragens visa reduzir o risco de acidentes e
os impactos econômicos, sociais e ambientais associados a esses. Tais dados também subsidiam o
aprimoramento das técnicas empregadas pela engenharia de barragens brasileira, uma vez que a
investigação dos acidentes, incidentes ou ainda da ocorrência de defeitos reportados durante as
fiscalizações periódicas garante a possibilidade da revisão de critérios de projeto, métodos de
dimensionamento e técnicas construtivas.
Passados dez anos da promulgação da Lei 12.334, existem ainda inconformidades observadas
nas diversas barragens brasileiras. Dados do Relatório de Segurança de Barragens referente ao ano
de 2018, produzido pela ANA, apontam que no estado do Rio Grande do Norte nenhuma das
barragens possui Plano de Ação de Emergência (PAE), objetivo previsto na PNSB. Pereira (2019)
aponta falhas na manutenção de todas as barragens potiguares avaliadas, evidenciadas principalmente
pela presença de vegetação excessiva, canaletas obstruídas e deterioração em estruturas de concreto.
Segundo Pereira (2019), a barragem Marechal Dutra (Acari – RN) foi a única barragem das
classificadas como crítica pelo RSB 2017 que passou por recuperação estrutural. Souza et al. (2016)
já apontavam a necessidade de recuperação no corpo da barragem Marechal Dutra por apresentar
fissuras e via necessidade de estudos avançados para detectar suas causas. Pereira (2019) chama a
atenção para o fato de que, apesar dos serviços de recuperação executados, ocorreram novas fissuras
na barragem Marechal Dutra.
Os trabalhos citados são exemplos, no Rio Grande do Norte, de um processo de coleta de
informações baseado na metodologia recomendada pela ANA, que gera como produto uma descrição
consistente das situações das barragens investigadas. Partindo de uma perspectiva comparativa entre
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estes e os disponíveis nos relatórios de segurança de barragens, percebe-se uma marcante diferença
na questão da profundidade com a qual as situações reportadas estão descritas. No sentido de
proporcionar o arcabouço minimamente necessário para fundamentarem estudos mais robustos sobre
eventos adversos e diagnóstico de situação das barragens brasileiras, os dados disponíveis nos RSB
anuais deixam a desejar em função da pouca acuidade. Se faz necessário o provimento destes na
forma de relatórios mais detalhados, ainda que concisos.
Dentro dessa perspectiva, neste trabalho avaliou-se o grau de implantação da PNSB no estado
do Rio Grande do Norte, assim como discutiu-se a metodologia atual adotada pela ANA para a
captação e divulgação dos dados associados às condições atuais das barragens brasileiras fiscalizadas
e ainda dos eventos adversos ocorridos. Deu-se enfoque à análise de lacunas na avaliação da
implementação dos objetivos da PNSB no RN. Quanto à avaliação da coleta de dados das barragens,
analisaram-se as fichas de inspeção de campo, de modo a poder sugerir melhorias consideradas
oportunas em todo o processo.

2 - METODOLOGIA

Para o desenvolvimento dessa pesquisa foram recolhidos os dados mais recentes disponíveis no
SNISB (Agência Nacional de Águas, 2020), referentes à situação das barragens do estado do Rio
Grande do Norte, os quais foram avaliados segundo os objetivos previstos na PNSB. Utilizou-se um
método de gap analysis ou análise de lacunas (Kochahar e Suri, 1992), para avaliar o percentual de
implementação de macroindicadores. Para tanto, adotou-se como macroindicadores os três
instrumentos principais da PNSB trazidos pela Resolução nº 144, de 10 de julho de 2012: Plano de
Segurança da Barragem; Relatório de Segurança de Barragens e Sistema Nacional de Informações
Sobre Segurança de Barragens. Como microindicadores foram adotadas as diretrizes da Resolução nº
144, relacionando-as com os macroindicadores, como mostrado na Tabela 1.
Foram consideradas apenas as barragens sujeitas à lei Nº 12.334 de 2010. A amostra, portanto,
foi composta por 230 barragens. Para cada barragem foi avaliado o cumprimento de cada um dos
microindicadores da Tabela 1, quando aplicáveis. Considerou-se a nota do conjunto de barragens para
cada indicador como sendo a média aritmética das notas individuais de tais barragens em cada aspecto
avaliado. Cada microindicador, quando cumprido, soma 1 (um) ponto ao total do seu respectivo
macroindicador. Em caso de não cumprimento, o microindicador não soma pontos ao total. Desta
forma, a nota de um macroindicador pode ser obtida a partir da razão entre o seu total de pontos
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somados e a quantidade máxima de pontos possíveis, que é a quantidade de microindicadores a ele
relacionados. Escolheu-se o formato de porcentagem para representar essas notas.

Tabela 1 – Macroindicadores e Microindicadores utilizados no estudo.


I - Identificação do empreendedor;
II - Dados técnicos referentes à implantação do empreendimento;
SEGURANÇA DA

III - Estrutura organizacional e qualificação técnica dos profissionais da equipe de segurança da barragem;
BARRAGEM
PLANO DE

IV - Manuais de procedimentos dos roteiros de insp. de seg. e de monit. e relat. de segurança da barragem;
V - Regra operacional dos dispositivos de descarga da barragem;
VI - Indicação da área do entorno das instalações e seus respectivos acessos;
VII - Plano de Ação de Emergência (PAE), quando exigido;
VIII - Relatórios das inspeções de segurança;
IX - Revisões periódicas de segurança.
I - Os cadastros de barragens mantidos pelos órgãos fiscalizadores;
RELATÓRIO DE SEG.

II - A implementação da Política Nacional de Segurança de Barragens;


DE BARRAGENS

III - A relação das barragens que apresentem categoria de risco alto;


IV - As principais ações para melhoria da seg. de barragem implementadas pelos empreendedores;
V - A descrição dos principais acidentes e incidentes durante o per. de competência do relatório;
VI - Relação dos órgãos fiscalizadores que remeteram inf. para a ANA com a síntese das inf. enviadas;
VII - Os recursos dos orçamentos fiscais da União e Estados prev. e aplicados durante o per. de competência do
relatório;
I-A- Desenvolver plataforma para sistema de coleta, tratamento e armazenamento de dados;
SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES SOBRE

II-A- Estabelecer mecanismos e coordenar a troca de inf. com os demais órgãos fiscalizadores;
III-A- Definir as informações que deverão compor o SNISB em articulação com os demais órgãos;
SEGURANÇA DE BARRAGENS (SNISB)

IV-A- Disponibilizar o acesso a dados e informações para a sociedade por meio da WEB.
Aos órgãos fiscalizadores:
I-B- Manter cadastro atualizado das barragens sob sua jurisdição;
II-B- Disponibilizar o cadastro e demais inf. sobre as barragens sob sua jurisdição e em formato que permita sua
integração ao SNISB, em prazo a ser definido pela ANA em articulação com os órgãos fiscalizadores;
III-B- Manter atualizada no SNISB a classificação das barragens sob sua jurisdição por categoria de risco, por
dano potencial associado e pelo seu volume;
Aos empreendedores:
I-C - Manter atualizadas as inf. cadastrais relativas às suas barragens junto ao respectivo órgão fiscalizador;
II-C - Articular-se com o órgão fiscalizador, com intuito de permitir um adequado fluxo de informações;
O SNISB deverá buscar a integração e a troca de informações, no que couber, com:
I-D– O Sistema Nacional de Informações sobre o Meio Ambiente- SINIMA;
II-D – O Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental;
III-D – O Cadastro Téc. Federal de Ativ. Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos Ambientais;
IV-D - O Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos – SNIRH;

Para classificação da nota obtida para cada macroindicador escolheu-se a escala de classificação
proposta por Maiello et al. (2018), conforme mostrado na Tabela 2.

Tabela 2 – Escala qualitativa para interpretação das percentagens.

0-20 21-40 41-60 61-80 81-100


Insignificante Mínimo Intermediário Suficiente Satisfatório

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Também foram analisadas as fichas de inspeção de campo para a realização de levantamentos
periódicos in loco das barragens bem como os formulários de comunicação de ocorrência de eventos
adversos em barragens, fornecidos pela ANA.
Confrontaram-se então as sistemáticas percebidas em ambos os casos e avaliou-se sua
eficiência com base em critérios tais como clareza, objetividade, precisão e principalmente
completude das informações disponibilizadas. Por fim, comparou-se o formato das informações
disponibilizadas para o público pelos relatórios da ANA com o utilizado por dois trabalhos científicos
que utilizaram a metodologia de inspeção de campo implementada por este mesmo órgão federal para
a investigação das condições de algumas barragens localizadas no estado do Rio Grande do Norte.

3 - GRAU DE IMPLEMENTAÇÃO DA PNSB NO RIO GRANDE DO NORTE

A partir da análise dos dados, foi possível calcular o grau de implantação de cada um dos
indicadores da PNSB no estado do Rio Grande do Norte. Na Figura 1 é exposto o desempenho do
macroindicador “Plano de segurança da Barragem”, calculado a partir da média aritmética dos seus
microindicadores. Para esse macroindicador obteve-se grau de implantação de 43%, com desvio
padrão de 45%, e classificação de desempenho como intermediário.

Figura 1 – Grau de implementação dos indicadores do plano de segurança da barragem.

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Na Figura 2 é exposto o desempenho do macroindicador Relatório de Segurança de Barragens.
A exigência normativa de menção desses indicadores nos relatórios anuais é integralmente cumprida.
Esse macroindicador obteve um grau de implantação de 100% e classificação como satisfatório.

Figura 2 – Grau de implementação Relatório de Segurança de Barragens.

Na Figura 3 é exposto o desempenho do macroindicador SNISB. A média aritmética dos seus


microindicadores resultou em um grau de implantação de 67%, com desvio padrão de 45%, e
classificação como suficiente. Ressalta-se que o desempenho desse macroindicador considera o
desempenho conjunto de empreendedores, fiscalizadores e Agência Nacional de Águas.

Figura 3 – Grau de implementação dos indicadores do SNISB.

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A partir da Figura 4 percebe-se o desempenho conjunto dos três macroindicadores estudados e
já apresentados. Em relação ao Relatório de Segurança de Barragens, pode-se dizer que foram
alcançados os objetivos da PNSB quanto à sua implementação. O SNISB carece ainda de integração
com outros sistemas governamentais. Em decorrência disto, sua implementação está como
incompleta. Estes dois macroindicadores refletem a implantação da PNSB em âmbito nacional, e são
pouco afetados por um baixo rendimento que qualquer estado da federação possa ter.
Já o Plano de Segurança da Barragem tem forte dependência de ações estaduais. Este
macroindicador apresentou baixo grau de implantação no estado. De fato, as informações presentes
na Figura 1 mostram que dos oito indicadores utilizados, apenas quatro apresentaram nota superior a
10%. Salienta-se também que os indicadores que alcançaram maior desempenho são de natureza
burocrática, enquanto aqueles mais voltados ao conhecimento das condições de operação e risco
potencial das barragens não foram cumpridos. Tal fato evidencia a necessidade de cumprimento de
todos os objetivos da PNSB.

Figura 4 – Grau de implementação de macroindicadores da PNSB.

4 - ANÁLISES DAS FICHAS DE INCIDENTE E ACIDENTE DISPONIBILIZADAS PELA


ANA

A partir da análise da ficha disponibilizada pela ANA para reportar incidentes, percebe-se que
a mesma é uma ferramenta capaz de prover dados suficientes para uma análise técnica e estatística
do evento ocorrido e reportado. Contudo, nota-se que a obtenção de dados depende diretamente do
preenchimento feito pelo responsável técnico encarregado, criando assim um grau de subjetividade
em tal atividade e uma maior facilidade de perda de dados. Essa perda de dados se justifica na margem
deixada para o não preenchimento de todas as informações pertinentes, a depender do julgamento do
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técnico responsável, podendo criar assim lacunas nas informações repassadas. De forma análoga,
tem-se margem para ambiguidades de interpretações dos fatos narrados, tornado possível a ocorrência
de catalogações diferentes de eventos similares. É possível perceber lacunas desse tipo ao observar
os dados disponíveis nos relatórios de segurança de barragens.
Uma vez que as fichas utilizadas para reportar casos de acidentes são similares às utilizadas
para incidentes, todos os aspectos anteriormente mencionados aplicam-se ao seu caso. Ainda, uma
vez que eventos de acidentes são mais graves, lapsos como os indicados tendem a assumir um maior
caráter de negligência, visto que os esforços de investigação são geralmente tanto maiores quanto as
proporções e consequências do evento ocorrido.
Sendo procedida avaliação similar nas fichas para inspeção regular de barragem, é notada
também uma grande gama informacional compilada em dados preenchidos de forma simples.
Entretanto, diferente das duas fichas previamente analisadas, para essas fichas de inspeção é
perceptível a diminuição na possibilidade de evasão de dados e de análises ambíguas de condições
similares, uma vez que a maioria do preenchimento é feita de forma objetiva, com parâmetros bem
definidos através dos quais há o enquadramento da situação entre opções pré-estabelecidas pelo
roteiro de investigação a ser seguido.
Estas fichas de inspeção contam com um manual de preenchimento que indica de forma clara
como devem ser catalogados os eventos de interesse, cabendo ao responsável técnico apenas assinalar
de forma racional e embasada os eventos, suas consequências e possíveis causas ao longo de sua
inspeção. Esta preocupação em racionalizar os dados, tornando-os tratáveis, é o que permite análises
técnicas e estatísticas desses dados dispostos.
Neste sentido, Souza et al. (2016) e Pereira (2019) catalogaram as condições de segurança e
manutenção de barragens diversas localizadas no estado do Rio Grande do Norte utilizando a
metodologia proposta pelas fichas disponibilizadas pela ANA. A utilização de fichas de inspeção
pelos autores citados garantiu a avaliação de todos as situações passíveis de ocorrência com base em
um histórico de anomalias descritas na literatura e mencionadas nas referidas fichas. Além do mais,
possibilitou a comparação dos resultados obtidos para 4 barragens avaliadas por ambos os
pesquisadores a partir de filtros comuns. Pereira (2019) também registrou tanto o agravamento de
algumas anomalias observadas por Souza et al. (2016) quanto a correção de outras. Destaca-se aqui
a importância da catalogação das anomalias possíveis de serem encontradas para garantir um trabalho
progressivo de manutenção e melhoria da capacidade de operação das barragens, de acordo com o
que prevê a PNSB.
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Desta forma, percebe-se a importância de tornar mais objetiva e direta possível a aquisição de
dados de interesse científico, de modo a subsidiar estudos como os supracitados. Assim sendo, é
notada a necessidade da alteração nas fichas para reportar acidentes e incidentes, disponibilizadas
pela ANA, tornando-as objeto de estudos e avalições técnicas, assim como um acervo para consulta
com dados reais sobre os eventos ocorridos no Brasil.
Estas mudanças partem inicialmente da concepção das fichas, uma vez que as mesmas
deveriam nortear-se em uma forma mais direta de preenchimento de dados, de modo a tornar menos
subjetivo o preenchimento, enquadrando os acidentes, incidentes, causas e quaisquer informação
desejável em categorias assinaláveis, tal como é feito na metodologia das fichas para inspeção regular
de barragem disponibilizadas pelo mesmo órgão. Se faz necessário nesse caso também a proposição
de um manual de preenchimento detalhado e disponibilizado pela ANA, de forma a explicar as
categorias e auxiliar o fiscal a assegurar as informações de forma estritamente objetiva e direta.

5 - CONCLUSÕES

A PNSB completa dez anos em vigência, entretanto diversos mecanismos por ela
implementadas ainda carecem de devida calibração, enquanto outros ainda precisam entrar em vigor.
A ferramenta de análise de lacunas mostrou-se eficiente na determinação dos pontos fortes e fracos
da implementação da PNSB no Rio Grande do Norte, sendo possível observar um panorama geral da
situação atual de parcial implementação dos objetivos estabelecidos. Desta forma os resultados
consolidados neste trabalho apontam para uma demanda existente da implementação de medidas
voltadas à gestão das barragens do estado que vão desde o levantamento de informações básicas para
cadastramento no SNISB até elaboração dos Planos de Ação de Emergência, sendo este um ponto
ausente em todas as barragens avaliadas. Conclui-se também que a qualidade das informações obtidas
pelas fichas de acidentes e incidentes, por ora questionável, pode vir a ser melhorada com a adoção
de fichas mais objetivas, produzidas de maneira a contemplar um preenchimento mais simples, direto
e completo, visando amenizar a ocorrência de evasão de dados, a exemplo de como se procede nas
fichas de inspeção de campo.

6 - REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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<http://arquivos.ana.gov.br/institucional/sof/barragens/relatorio_barragens.csv>. Acesso em: 10
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AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. (2017). Relatório de Segurança de Barragens 2016.
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2016/relatorio-de-seguranca-de-barragens-2016.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2020
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