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ACÓRDÃO
NOTAS TAQUIGRÁFICAS
VOTO
Antônio Marcos Leal Cortes foi denunciado pela Justiça Pública da Comarca de Juiz de Fora, como
incurso nas disposições do art. 12 c/c 18, III e IV, da Lei nº 6.368/76.
O MM. Juiz julgou parcialmente procedente a denúncia para condenar o réu tão-só pelo tráfico
ilícito, agravado pela causa especial do inciso IV do artigo 18 da referida Lei.
Fixou a pena em 04 (quatro) anos e 08 (oito) meses de reclusão e multa de 77 (setenta e sete) dias-
multa, à base de 1/30 do salário mínimo vigente, reprimenda esta a ser cumprida em regime fechado.
Inconformado, Antônio Marcos Leal Cortes interpôs recurso de apelação. Alega que a droga
encontrada no estabelecimento do réu era destinada ao seu uso e que o insigne Magistrado, ao
condená-lo, inverteu o ônus da prova, na medida em que não haviam nos autos qualquer elemento
que justificasse sua condenação.
Aduz, ainda, que os depoimentos das testemunhas lhe são favoráveis. Suplica, destarte, a
desclassificação para o delito do art. 16 da Lei Antitóxicos.
Breve o Relatório.
Continuando as buscas, acharam, ainda, dentro do guarda-roupa existente no mesmo local, uma
pequena caixa de relógio, contendo em seu interior erva verde e próximo um cigarro artesanal da
mesma substância, semi-combusto, totalizando 400 gramas, aproximadamente, de substância
vulgarmente conhecida como "maconha".
A materialidade está provada pelo auto de constatação de fls. 16-TJ e pelo laudo de exame
toxicológico de fls. 45- TJ.
A autoria, em que pese à negativa obstinada do réu do tráfico, está cabalmente comprovada.
Com efeito, a propriedade da droga é expressamente admitida pelo réu, em ambas as oportunidades
em que foi ouvido (fls. 09 e 39-TJ).
No entanto, data venia, não creio estar configurado o intuito mercantil da referida substância.
É que, após o exame atento do quadro probatório, não creio que o local, as denúncias anônimas, o
resultado negativo do exame de dependência, autorizem, "permissa venia", o reconhecimento da
narcotraficância.
A uma, porque o local tratava-se de um bar, que segundo o levantamento feito pelos policias, em
razão das denúncias anônimas, muito movimentado, mas que, conforme declarado pelo próprio
policial Jamil Antônio de Paiva, (fls. 54-TJ), responsável pelo levantamento:
"Que o movimento do bar era grande, não podendo atestar a testemunha se era apenas para compra
de drogas ou para compra de bebidas".
Assim, não há falar-se em notório ponto de tráfico como indício para o seu reconhecimento.
Demais disso, já é de ordinária sabença que a quantidade de droga apreendida não é suficiente para
caracterizar o tráfico, cabendo ao órgão acusador a prova disso, o que, data venia, não considero
comprovado.
Por fim, o simples fato do resultado do exame de dependência ter sido negativo, não é, outrossim,
indício da mercancia, porquanto a maconha, como cediço, não causa dependência.
De outra face, cumpre registrar que não há nos autos qualquer depoimento de que a droga destinava-
se a terceiros.
Ora, em casos tais, inexistindo elementos quantum statis, para embasar um decreto condenatório por
tráfico, a decisão mais justa é, sem dúvida, a desclassificação do delito para o art. 16 da Lei6.368/76.
É que, para que se reconheça a existência do comércio de drogas, é mister prova absolutamente
segura. Simples ilações, indícios ou presunções não bastam por si sós à prolação de decreto
condenatório.
Nesse sentido, confira-se jurisprudência desta Câmara, em voto da lavra do eminente Des.
EDELBERTO SANTIAGO, verbis:
"Inexistindo prova de associação criminal e de que a droga apreendida se destinava ao tráfico ilícito
desclassifica-se o delito para o previsto no art. 16 da Lei 6.368/76, mormente havendo confissão
judicial dos acusados de que são usuários de drogas, com ressonância na prova testemunhal"(in:
Jurisprudência Mineira, vol 118/265).
E ainda:
"Não se demonstrando a ocorrência de qualquer fato concreto que pudesse revelar a ocorrência de
tráfico de entorpecente e estando a decisão baseada em indícios e presunções, impõe-se - diante da
incerteza quanto à real condição dos agentes - a solução que lhes é mais favorável, desclassificando-
se o crime para o do art. 16 da Lei 6.368/76"(in Jurisprudência Mineira, vol 104/279).
Embora o tipo complexo do art. 12 da Lei nº 6.368/76 contemple, dentre as diversas condutas
criminosas, a de guardar ou ter em depósito substância entorpecente, o mesmo diploma legal, em
seu art. 16, prevê como crime de menor gravame o ato de guardar ou trazer consigo, para uso
próprio, a referida substância, causadora de dependência física ou psíquica.
Recurso especial não conhecido" (Resp. Nº 115.660 - GO - rel. Min. VICENTE LEAL, publicado in
DJU de 01.09.97, pág. 40898).
Com tais considerações, dou provimento ao recurso, para desclassificar o delito para o do art. 16 da
lei 6.368/76 e condenar o réu à pena de 12 (doze) meses de detenção e pagamento de 40 (quarenta)
dias-multa, tendo em vista a gravidade da conduta a ele imputada e já considerada a reincidência.
VOTO
DE ACORDO.
VOTO
DE ACORDO.
Com efeito, é cediço que a condenação criminal somente é viável se os elementos de prova colhidos na
instrução indicarem de forma cabal, segura e firme, que o acusado praticou a conduta típica imputada na
vestibular, ao contrário, deve prevalecer o brocardo “in dúbio pro reo”.
É certo que a posse de pequena quantia de drogas e a ausência de prova da venda do produto ilícito não
são argumentos para elidir o tráfico, contudo, nestas hipóteses a prova da prática de tal crime deve advir
de outros fatos que indiquem o comércio de drogas de forma contundente.
Outrossim, dispõe o § 2º, do artigo 28, da Lei n.º 11.343/06 que “para determinar se a droga destinava-se
a consumo pessoal, o juiz atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às
condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e
aos antecedentes do agente”.
Portanto, não há nos autos, data vênia, prova robusta que indique que a substância aprendida com o
apelante se destinava ao tráfico, pelo que a desclassificação do delito, como requer a defesa, é medida
que se impõe.
Pelo exposto o parecer conclui pelo conhecimento e provimento da presente apelação, para o fim de ser o
delito imputado ao acusado desclassificado para o previsto no artigo 28, da Lei n.º 11.343/06, com
remessa do feito ao Juizado Especial Criminal para as providências cabíveis.
Data de distribuição:06/10/2008
Data de julgamento:26/02/2009
101.501. Apelação
Origem: 50120080006189 Porto Velho/RO (1ª Vara de Delitos de Tóxicos)
Apelante: Sebastiana Vieira da Rocha Neta
Defensor Público: João Luís Sismeiro de Oliveira (OAB/RO 294)
Apelado: Ministério Público do Estado de Rondônia
Relator: Desembargador Eliseu Fernandes
Revisor: Juiz Francisco Prestello de Vasconcellos
RELATÓRIO
Sebastiana Vieira da Rocha Neta recorre da sentença que a condenou por infração ao
art. 33, caput, da lei n. 11.343/2006, à pena-base de 5 anos de reclusão e 500 dias-multa,
diminuída em 1/6, em razão do benefício do § 4º do art. 33 da mesma lei, tornando-a
definitiva em 4 anos e 2 meses de reclusão e 416 dias-multa, à razão de 1/30 do salário
mínimo vigente à época dos fatos.
Consta dos autos que, no dia 24 de janeiro de 2008, por volta das 11h, na rua Erexim,
4114, bairro Jardim Santana, nesta cidade, Sebastiana Vieira foi presa em flagrante por
manter em depósito 4 invólucros de cocaína, no peso total de 3,0g (três gramas).
O Procurador de Justiça Airton Pedro Marin Filho, no parecer de fls. 134/139, opinou pelo
provimento do recurso, por insuficiência de prova à condenação.
É o relatório.
VOTO
A recorrente pede a desclassificação do crime de tráfico para o de uso, dizendo não existir
prova da traficância.
Consta que, com base em denúncia de funcionar ponto de venda de droga na residência
da recorrente, a polícia fez busca no local, apreendendo 4 invólucros de cocaína, pesando
3,0g (três gramas) no total.
É bem verdade que o fato de ser dependente química não impossibilita à recorrente atuar
no tráfico de substância entorpecente. Contudo, não há prova suficiente da prática dessa
conduta.
Sabe-se que o ônus da prova é de competência do órgão acusador, não sendo lícito exigir
do acusado que promova prova inversa, isto é, prove não ser traficante, sob pena de
violação ao princípio da presunção de inocência.
De acordo com a lei, para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz
atenderá a natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em
que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e
aos antecedentes do agente (art.28, § 2º, da lei n. 11.343/06).
Com efeito, ante a fragilidade da prova em relação à prática efetiva do tráfico, sobremodo
porque a recorrente não tem antecedentes criminais, entendo razoável a desclassificação.
Ante o exposto, dou provimento ao recurso para desclassificar o crime de tráfico para o de
posse para uso. Considerando que a esse delito a lei n. 11.343/06 prevê pena condizente
à recuperação dos usuários de droga, e, considerando que a recorrente respondeu ao
processo em liberdade, aplico-lhe a pena de prestação de serviços à comunidade pelo
período de 6 (seis) meses. Determino a restituição dos bens apreendidos no estado em
que se encontravam.
É como voto.
DECLARAÇÃO DE VOTO
Então, penso que essa compensação de que se fala não tem razão de ser, simplesmente
estaríamos alterando a punição indevidamente.
De modo que, com a devida vênia e até constrangidamente, absolvo o apelante nos
termos do que foi comentado.
Data de distribuição:06/10/2008
Data de julgamento:26/02/2009
101.501. Apelação
Origem: 50120080006189 Porto Velho/RO (1ª Vara de Delitos de Tóxicos)
Apelante: Sebastiana Vieira da Rocha Neta
Defensor Público: João Luís Sismeiro de Oliveira (OAB/RO 294)
Apelado: Ministério Público do Estado de Rondônia
Relator: Desembargador Eliseu Fernandes
Revisor: Juiz Francisco Prestello de Vasconcellos
EMENTA
ACÓRDÃO