Você está na página 1de 3

· Processo Judicial Eletrônico - 2º Grau 07/12/2020 21:21

Poder Judiciário da União


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS

Gabinete Desembargador George Lopes Leite

HABEAS CORPUS CRIMINAL (307) 0751627-35.2020.8.07.0000

PACIENTE: MARCELO MARINHO DE NORONHA


IMPETRANTE: CLEBER LOPES DE OLIVEIRA, MARCEL ANDRE VERSIANI CARDOSO, MURILO
MARCELINO DE OLIVEIRA, RITA NOGUEIRA MACHADO

AUTORIDADE: JUIZO DA SEGUNDA VARA DE ENTORPECENTES DO DF

DECISÃO
Os advogados Cléber Lopes de Oliveira, Marcel André Versiani Cardoso, Murilo
Marcelino de Oliveira e Rita Nogueira Machado impetram habeas corpus em favor de Marcelo
Marinho de Noronha contra ato do Juízo do Núcleo de Audiência de Custódia que lhe converteu a
prisão flagrancial em preventiva para garantia da ordem pública. Informam que ele foi preso acusado
de infringir os artigos 33, § 1º, inciso II, e 35, ambos da Lei 11.343/2006, ao cabo de uma operação
deflagrada pela Corregedoria da Polícia Civil do Distrito Federal originária de denúncia anônima de
que o paciente estaria traficando drogas em associação com sua companheira e seus dois filhos.
Todavia, a prisão se mostra demasiadamente severa sendo a sua fundamentação inidônea, uma vez
que o próprio Juiz menciona a insuficiência de elementos para análise da segregação cautelar, de
modo que se mostra incompreensível o fato de não ter acolhido a representação da Autoridade
Policial, quando pediu a aplicação de cautelares diversas. Asseveram que o paciente é Delegado de
Polícia há mais de vinte e dois anos, já exerceu a função de Diretor do Presídio PDF II, de modo que
causa estranheza o enquadramento como traficante. Alegam ainda que ele passou a cultivar e fazer
uso da cannabis para fins medicinais, possuindo uma receita prescrita por médico da Califórnia,
Estados Unidos. Invocam o princípio da presunção de inocência para requererem a liberdade,
postulando que sejam intimados para procederem à sustentação oral.

O paciente conta cinquenta e quatro anos de idade e está preso desde o dia
04/12/2020. O seu interrogatório preliminar, no auto de prisão em flagrante, colhido na Delegacia, foi
gravado em meio audiovisual, mas a mídia não foi inserida no PJe. Todavia, consta da Ocorrência
Policial 28/2020 – CGP, que a Divisão da Polícia Civil – DIIP – recebeu denúncia em 15/10/2020, via
DICOE, informando a prática de tráfico de drogas pelo paciente, que é pai de Ana Flávia Rubenich, de
forma associada com esta e com seu outro filho, Marcos Rubenich, os quais trabalhariam em um
escritório onde faziam o comércio de “skunk”, droga de elevado padrão de qualidade, só comparável
ao produto encontrado na Europa, com compradores certos no Distrito Federal. No levantamento
realizado pela Polícia sobre a investigada Ana Flávia verificou-se ser filha do Delegado Marcelo
Marinho de Noronha, lotado na Comissão Permanente de Disciplina da Polícia Civil do Distrito
Federal. Ele passou a ser monitorado na manhã do dia 14/11/2020, apurando-se que no pela manhã e
no início da noite ele se deslocava com os dois filhos até a Chácara nº 35, no Núcleo Rural Nova
Betânia, indo sozinho nos finais de semana.

Utilizando drones, verificou-se que na área externa da casa havia vinte e seis vasos
https://pje2i.tjdft.jus.br/pje/ConsultaPublica/DetalheProcesso…4804a2b2ac713e0e835d8ed57906883b3e5842&idProcessoDoc=22015941 Página 1 de 3
· Processo Judicial Eletrônico - 2º Grau 07/12/2020 21:21

Utilizando drones, verificou-se que na área externa da casa havia vinte e seis vasos
com plantas semelhantes à cannabis sativa L, em local dotado de iluminação artificial para melhor
cultivo da espécie. Solicitados e obtidos mandados de busca e apreensão, uma equipe de policiais
constatou que o local tinha uma estrutura capaz de produzir maconha em escala industrial, com
vários vasos plásticos para o plantio de mudas, quatorze luminárias, vinte e quatro plantas grandes e
cento e cinco mudas da planta cannabis, uma balança de precisão, tesouras apropriadas para o trato
das plantas e da preparação de maconha, além de diversos documentos, projéteis de calibre 12, uma
arma de fogo pertencente ao arsenal da Polícia Civil. Tinha também cômodos projetados para
servirem de estufa.

Consta, ainda, do relatório da investigação que o paciente teria mencionado que


viajara entre os dias 14 e 21 de novembro, junto com a sua atual companheira, Teresa Cristina
Cavalcante Lopes, teria viajado até Bogotá, na Colômbia, para comprar sementes selecionadas
de cannabis, tendo falado, tambem que fornecia maconha para seus amigos mais chegados.

O Juízo do Núcleo de Audiências de Custódia homologou o flagrante em


05/12/2020, afirmando a presença dos requisitos da prisão preventiva, que seria indispensável para
acautelar a ordem pública, haja vista a grande quantidade de plantas apreendidas, que seriam
utilizadas para a produção de maconha em um imóvel rural vinculado aos autuados. Isso indicaria
uma produção intensiva, incompatível para uma produção com finalidade de autoconsumo,
sugerindo a existência de uma associação dedicada à difusão do entorpecente. Ressaltou, ainda, que
durante a investigação se constatou que vários indivíduos que visitaram a chácara tinham
antecedentes penais, inclusive por tráfico de drogas, e que o paciente, junto com os filhos, trabalhava
na plantação produzindo maconha há algum tempo, com claros indícios de dedicação às atividades
criminosas, o que afastaria a o tráfico privilegiado. O Juiz se declarou incompetente para analisar se a
droga seria efetivamente utilizada para fins terapêuticos, porquanto as normas da audiência de
custódia não lhe permitem analisar o mérito da demanda em profundidade. Conclui afirmando que a
gravidade concreta da ação e a sofisticação demonstrada na produção de maconha, utilizando uma
chácara e equipamentos que possibilitariam o plantio em larga escala, reforçariam a necessidade da
prisão preventiva como garantia da ordem pública.

Observa-se, numa análise perfunctória, os fatos se apresentam ainda nebulosos,


apesar de sua gravidade, de modo que a análise do pedido liminar exige maior prudência, devendo
ser feita depois da oitiva do Juiz e do Ministério Público. Solicitem-se, pois, com urgência, informações
pormenorizadas ao Juízo da Terceira Vara de Entorpecentes, que deverá: 1) juntar cópia integral da
medida cautelar de busca e apreensão; 2) esclarecer a atuação de cada um dos indiciados na
associação criminosa; e 3) inserir no PJe as mídias dos depoimentos inquisitoriais dos investigados.
Em seguida, venha o parecer do Ministério Público, e, após, nova conclusão.

George Lopes Leite

Relator

Assinado eletronicamente por: GEORGE LOPES LEITE

https://pje2i.tjdft.jus.br/pje/ConsultaPublica/DetalheProcesso…4804a2b2ac713e0e835d8ed57906883b3e5842&idProcessoDoc=22015941 Página 2 de 3
· Processo Judicial Eletrônico - 2º Grau 07/12/2020 21:21

Assinado eletronicamente por: GEORGE LOPES LEITE


07/12/2020 21:17:14
https://pje2i.tjdft.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam
ID do documento: 22015941

20120721171405000000021354816
IMPRIMIR GERAR PDF

https://pje2i.tjdft.jus.br/pje/ConsultaPublica/DetalheProcesso…4804a2b2ac713e0e835d8ed57906883b3e5842&idProcessoDoc=22015941 Página 3 de 3

Você também pode gostar