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Organizadoras


 

Normas compiladas e atualizadas conforme


Edital DP 01/2022 VUNESP/ACADEPOL
ARACELI MARTINS BELIATO
ELISA MOREIRA
Organizadoras

RETA FINAL

DIREITOS
HUMANOS
PARA OS FUTUROS DELEGADOS DA PC-SP

Normas compiladas e atualizadas conforme


Edital DP 01/2022 VUNESP / ACADEPOL
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Beliato, Araceli Martins. Moreira, Elisa.


Direitos Humanos para os futuros Delegados da
PC-SP: normas compiladas e atualizadas conforme
Edital DP 01/2022 Vunesp/Acadepol [livro
eletrônico]. Beliato, Araceli Martins / Moreira,
Elisa. São Paulo: ESDP eBook, 2022.

PDF

Bibliografia
ISBN 978-65-00-41454-7

1. Concursos públicos 2. Direitos humanos 3.


Polícia civil. 

22-104552 CDU – 342.7 (81) (079)

Índice para catálogo sistemático:

1. Direitos Humanos: Concursos : Direito Público.


342.7 (81) (079)
Maria Alice Ferreira – Bibliotecária – CRB - 8/7964

Editora ESDP eBook


Tv. Dona Paula, 13
Higienópolis-São Paulo / SP
CEP 01239-050

Copyright © ESDP eBook 2022. Todos os direitos reservados. Distribuição gratuita para fins acadêmicos.
AS AUTORAS

ARACELI MARTINS BELIATO

Mestra em Direito Político e Econômico e Bacharela em Direito pela


Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pós-Graduada em Filosofia e Direitos Humanos pela
UNIBF-PR. Pós-Graduada em Direito Penal e Processo Penal pelas Faculdades
Metropolitanas Unidas (FMU). Capacitada em Feminism and Social Justice, pela University
of California - Santa Cruz (EUA). Especializada em Filosofia dos Direitos Humanos Aplicada
a Atuação Policial, pela Rede SENASP-MJ. Escrivã de Polícia no Estado de São Paulo, em
exercício da Academia de Polícia – ACADEPOL. Coordenadora Pedagógica da Pós-
Graduação em “Inteligência Policial e Segurança Pública” e “Direitos Humanos e Atividade
Policial” da Faculdades Integradas Potencial (FIP) / Escola Superior de Direito Policial.

@aracelibeliato

ELISA MOREIRA

Mestranda em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de


Minas Gerais (PUCMinas). Especialista em Ciências Penais pela Universidade Federal de Juiz
de Fora (UFJF). Bacharela em Direito pelo Instituto Brasileiro de Mercados de Capitais
(IBMEC/RJ). Coordenadora da Pós-graduação em Segurança Pública e Polícia Judiciária da
Faculdade Supremo (MG). Cofundadora, Professora e Mentora do Curso EMDELTA,
Preparadora para concursos públicos. Professora especializada na disciplina de Direitos
Humanos. Palestrante. Delegada de Polícia no Estado de Minas Gerais.

@elisamoreira
APRESENTAÇÃO

A cobrança do conteúdo expresso da legislação (letra da lei) em concursos


públicos não é nenhuma novidade e, se em um passado próximo as normas que
versam sobre Direitos Humanos foram tangenciadas e, muitas vezes,
negligenciadas pelas bancas organizadoras dos certames, hoje a realidade é outra:
de coadjuvante, a disciplina de Direitos Humanos ocupa lugar fulcral e está cada
vez mais em evidência, sobretudo nos editais voltados para as carreiras policiais.

Este eBook apresenta, de forma objetiva, os principais conceitos exigidos


no Edital DP 01/2022 – Vunesp / Acadepol-SP para o cargo de Delegado de
Polícia, bem como compila e organiza cronologicamente os Tratados, Pactos,
Convenções, Declarações e outros documentos relevantes na seara dos Direitos
Humanos, além da legislação pátria que versa sobre direitos fundamentais e que
foi expressamente elencada no rol de conteúdo programático da disciplina de
Legislação Especial do concurso em tela.

A disciplina de Direitos Humanos será objeto de questionamentos nas três


fases do concurso (provas objetiva, dissertativa e oral), sendo que as duas
primeiras estão previstas para ocorrer no dia 12/06/2022, na parte da manhã e da
tarde, respectivamente. Só na primeira fase serão 14 questões, em formato de
múltipla escolha, o que é uma novidade em relação aos editais anteriores e
demonstra a importância ascendente que está sendo dada a tal conteúdo. De igual
modo, as diversas leis que abordam os direitos fundamentais e assuntos sensíveis
aos direitos humanos poderão ser cobrados na disciplina Legislação Especial,
reforça-se, nas citadas três provas. A íntegra do edital pode ser acessada aqui.

Esperamos que, tendo em mãos uma obra sistematizada, organizada e


objetiva, você possa fazer uma boa revisão e otimizar seu tempo, traçando, assim,
a melhor estratégia nessa reta final rumo à aprovação.

Boa preparação!
EDITAL DP 01/2022
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DE DIREITOS HUMANOS E
LEGISLAÇÃO ESPECIAL QUE VERSA SOBRE DIREITOS FUNDAMENTAIS

DIREITOS HUMANOS

1. Direitos Humanos: conceito, surgimento, evolução histórica, classificação e


características. Documentos históricos. Organização nas Nações Unidas: papel,
surgimento e objetivos.

2. Dignidade humana. Vigência e eficácia dos direitos civis e políticos, dos direitos
econômicos, sociais e culturais e dos demais direitos.

3. Incorporação dos tratados internacionais de direitos humanos ao Direito


brasileiro. Conflitos.

4. Declaração Universal dos Direitos Humanos, Tratados, Pactos e Convenções


Internacionais sobre Direitos Humanos incorporados pelo ordenamento jurídico
brasileiro.

5. Sistema Internacional de Promoção e Proteção dos Direitos Humanos. Sistemas


Regionais de Proteção aos Direitos Humanos. Sistema Interamericano.

6. Protocolo de Prevenção, Supressão e Punição do Tráfico de Pessoas,


Especialmente Mulheres e Crianças.

7. Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei


(Adotado pela Assembleia Geral das Nações Unidas na sua Resolução 34/169,
de 17 de dezembro de 1979). Regras Mínimas das Nações Unidas para o
Tratamento dos Presos. Regras das Nações Unidas para o Tratamento de
Mulheres Presas e Medidas Não Privativas de Liberdade Para Mulheres Infratoras
(Regras de Bangkok).

8. Declaração sobre o Direito e a Responsabilidade dos Indivíduos, Grupos ou


Órgãos da Sociedade de Promover e Proteger os Direitos Humanos e Liberdades
Fundamentais Universalmente Reconhecidos (Defensores de Direitos Humanos)
(Resolução 53/144 da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 9 de dezembro
de 1998).
9. Declaração dos Princípios Básicos de Justiça Relativos às Vítimas da
Criminalidade e de Abuso de Poder (1985).

10. Grupos vulneráveis e minorias. Diversidades: história, preconceito, discriminação,


racismo, homofobia, transfobia, igualdade, ações afirmativas.

11. Princípios de Yogyakarta (Indonésia, 2006).

12. Declaração e Plataforma de Ação de Pequim (IV Conferência Mundial sobre as


Mulheres, China, 1995).

13. Estatuto de Roma e o Tribunal Penal Internacional.

14. Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação Racial e Formas


Correlatas de Intolerância (Guatemala, 2013).

15. Programa Estadual de Direitos Humanos (Decreto Estadual nº 42.209, de 15 de


setembro de 1997).

16. Programa Nacional de Direitos Humanos – PNDH-3 (Decreto 7.037, de 21 de


dezembro de 2009).

17. Lei 13.874/2019 (Declaração de Direitos de Liberdade Econômica e garantias de


livre mercado)

18. Lei Estadual nº 10.948 de 05 de novembro de 2001 (Dispõe sobre as penalidades


a serem aplicadas à prática de discriminação em razão de orientação sexual e dá
outras providências).

19. Decreto Estadual nº 55.589, de 17 de março de 2010 (Regulamenta a Lei nº


10.948/2001).

20. Lei Estadual nº 14.187/2010 (Dispõe sobre penalidades administrativas a serem


aplicadas pela prática de atos de discriminação racial).

21. Decreto Estadual nº 55.588 de 17 de marco de 2010 (Dispõe sobre o tratamento


nominal das pessoas transexuais e travestis nos órgãos públicos do Estado de
São Paulo e dá providências correlatas).

22. Decreto Estadual nº 55.839, de 18 de maio de 2010 (Institui o Plano Estadual de


Enfrentamento à Homofobia e Promoção da Cidadania LGBTQI+ e dá
providências correlatas).

23. Lei Estadual nº 17.431/2021.


LEGISLAÇÃO ESPECIAL

1. Lei nº 2.889/1956 (Genocídio)

2. Decreto nº 8.858/2016 (regulamenta art. Lei nº 7.210/1984 - Lei de Execução


Penal)

3. Lei nº 7.716/1989 (Preconceito racial)

4. Lei nº 8.069/1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente)

5. Lei nº 9.029/1995 (Práticas discriminatórias relativas à gravidez no trabalho)

6. Lei nº 9.455/1997 (Tortura)

7. Lei nº 10.741/2003 (Estatuto do Idoso)

8. Lei nº 11.340/2006 (Lei “Maria da Penha”)

9. Lei nº 12.288/2010 (Estatuto da Igualdade Racial)

10. Lei nº 12.852/2013 (Estatuto da Juventude)

11. Lei nº 12.984/2014 (Lei contra Discriminação de Portadores de HIV)

12. Lei nº 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência)

13. Lei nº 13.257/2016 (Políticas Públicas para a Primeira Infância)

14. Lei nº 13.260/2016 (Lei Antiterrorismo)

15. Lei nº 13.445/2017 (Lei de Migração)

16. Lei nº 14.232/2021 (Institui a Política Nacional de Dados e Informações


relacionadas à Violência contra as Mulheres)
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 10

SUMÁRIO

CAPÍTULO I – CONCEITOS BÁSICOS

1. DIREITOS HUMANOS

1.1 CONCEITO
1.2 SURGIMENTO
1.3 EVOLUÇÃO HISTÓRICA

1.4 DOCUMENTOS HISTÓRICOS

1.5 CLASSIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS

1.6 ORGANIZAÇÃO NAS NAÇÕES UNIDAS: PAPEL, SURGIMENTO E


OBJETIVOS

2. DIGNIDADE HUMANA

3. GRUPOS VULNERÁVEIS E MINORIAS

4. DIVERSIDADES

4.1 HISTÓRIA

4.2 PRECONCEITO

4.3 DISCRIMINAÇÃO

4.4 RACISMO

4.5 HOMOFOBIA

4.6 TRANSFOBIA

4.7 IGUALDADE

4.8 AÇÕES AFIRMATIVAS

5. VIGÊNCIA E EFICÁCIA DOS DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS, DOS DIREITOS


ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS E DOS DEMAIS DIREITOS

6. INCORPORAÇÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS


HUMANOS AO DIREITO BRASILEIRO. CONFLITOS

7. SISTEMA INTERNACIONAL DE PROMOÇÃO E PROTEÇÃO DOS DIREITOS


HUMANOS

8. SISTEMAS REGIONAIS DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS

9. PROGRAMA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS PNDH - 3


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 11

10. TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL E O ESTATUTO DE ROMA

CAPÍTULO II – ATOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS

1. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, DE 1948

2. TRATADOS, PACTOS E CONVENÇÕES INTERNACIONAIS SOBRE DIREITOS


HUMANOS INCORPORADOS PELO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

2.1 CONVENÇÃO SOBRE A ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA – 1926 E PROTOCOLO


SUPLEMENTAR (DECRETO Nº 58.563/1966)

2.2 CONVENÇÃO PARA A PREVENÇÃO E A REPRESSÃO DO CRIME DE


GENOCÍDIO - 1948 (DECRETO Nº 30.822/52)

2.3 CONVENÇÃO RELATIVA AO ESTATUTO DOS REFUGIADOS – 1951


(DECRETO Nº 50.215/1961)

2.4 PACTO INTERNACIONAL DOS DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E


CULTURAIS - 1966 (DECRETO Nº 591/1992)

2.5 PACTO INTERNACIONAL SOBRE DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS – 1966


(DECRETO Nº 592/1992)

2.6 CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS


FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO RACIAL - 1966 (DECRETO Nº 65.810/1969)

2.7 CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS (PACTO DE SÃO


JOSÉ DA COSTA RICA) – 1969 (DECRETO Nº 678/1992)

2.8 CONVENÇÃO SOBRE ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE


DISCRIMINAÇÃO CONTRA A MULHER -1979 (DECRETO Nº 4.377/2002)

2.9 CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA E OUTROS TRATAMENTOS OU PENAS


CRUÉIS, DESUMANOS OU DEGRADANTES – 1984 (DECRETO Nº 15, DE 15 DE
FEVEREIRO DE 1991)

2.10 CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA E PROTOCOLOS


FACULTATIVOS - 1989 (DECRETO Nº 99.710/90)
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 12

2.11 CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA PREVENIR, PUNIR E ERRADICAR A


VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER, CONCLUÍDA EM BELÉM DO PARÁ, EM 9 DE
JUNHO DE 1994 (DECRETO Nº 1.973/1996)

2.12 PROTOCOLO FACULTATIVO À CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DA


CRIANÇA REFERENTE À VENDA DE CRIANÇAS, À PROSTITUIÇÃO INFANTIL
E À PORNOGRAFIA INFANTIL – 2000 (DECRETO Nº 5007/2004)

2.13 CONVENÇÃO INTERAMERICANA CONTRA O TERRORISMO – 2002


(DECRETO Nº 5.639/2005)

2.14 CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS CONTRA A CORRUPÇÃO (CONVENÇÃO


DE MÉRIDA) – 2003 (DECRETO Nº 5687/2006)

2.15 CONVENÇÃO SOBRE A PROTEÇÃO E PROMOÇÃO DA DIVERSIDADE DAS


EXPRESSÕES CULTURAIS - 2005 (DECRETO Nº 6.177/20070

2.16 CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS


FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO CONTRA AS PESSOAS PORTADORAS DE
DEFICIÊNCIA (DECRETO Nº 3956/2001)

2.17 CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS


COM DEFICIÊNCIA E SEU PROTOCOLO FACULTATIVO – 2007 (DECRETO Nº
6.949/2009)

2.18 TRATADO DE MARRAQUECHE – 2013 (DECRETOS NºS 9522/2018 E


10.882/2021)

2.19 CONVENÇÃO INTERAMERICANA CONTRA O RACISMO, A DISCRIMINAÇÃO


RACIAL E FORMAS CORRELATAS DE INTOLERÂNCIA – 2013 (DECRETO Nº
10.932/2022)

3. PROTOCOLO ADICIONAL À CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS CONTRA O


CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL RELATIVO À PREVENÇÃO, REPRESSÃO E
PUNIÇÃO DO TRÁFICO DE PESSOAS, EM ESPECIAL MULHERES E CRIANÇAS -
2000 (DECRETO Nº 5017/2004)

4. CÓDIGO DE CONDUTA PARA OS FUNCIONÁRIOS RESPONSÁVEIS PELA


APLICAÇÃO DA LEI (RESOLUÇÃO 34/169, DE 17 DE DEZEMBRO DE 1979 - ONU)

5. REGRAS DE NELSON MANDELA: REGRAS MÍNIMAS DAS NAÇÕES UNIDAS PARA


O TRATAMENTO DE RECLUSOS - RESOLUÇÃO 70/175, DE 2015
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 13

6. REGRAS DE BANGKOK: REGRAS DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O TRATAMENTO


DE MULHERES PRESAS E MEDIDAS NÃO PRIVATIVAS DE LIBERDADE PARA
MULHERES INFRATORAS - RESOLUÇÃO Nº 2010/16, DE 2010

7. DECLARAÇÃO SOBRE O DIREITO E A RESPONSABILIDADE DOS INDIVÍDUOS,


GRUPOS OU ÓRGÃOS DA SOCIEDADE DE PROMOVER E PROTEGER OS DIREITOS
HUMANOS E LIBERDADES FUNDAMENTAIS UNIVERSALMENTE RECONHECIDOS
(DEFENSORES DE DIREITOS HUMANOS) – (RESOLUÇÃO 53/144 DA ASSEMBLEIA
GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS, DE 1998)

8. DECLARAÇÃO DOS PRINCÍPIOS BÁSICOS DE JUSTIÇA RELATIVOS ÀS VÍTIMAS


DA CRIMINALIDADE E DE ABUSO DE PODER, DE 1985

9. PRINCÍPIOS DE YOGYAKARTA - 2006

10. DECLARAÇÃO E PLATAFORMA DE AÇÃO DE PEQUIM (IV CONFERÊNCIA


MUNDIAL SOBRE AS MULHERES, CHINA) - 1995

11. ESTATUTO DE ROMA E O TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL - 1998 (DECRETO


Nº 4388/2002)

CAPÍTULO III – NORMAS INTERNAS PARA CONSOLIDAÇÃO DOS DIREITOS


HUMANOS

1. PROGRAMA ESTADUAL DE DIREITOS HUMANOS (DECRETO ESTADUAL Nº


42.209, DE 15 DE SETEMBRO DE 1997)

2. PROGRAMA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS – PNDH-3 (DECRETO 7.037,


DE 21 DE DEZEMBRO DE 2009)

3. LEI 13.874/2019 (DECLARAÇÃO DE DIREITOS DE LIBERDADE ECONÔMICA E


GARANTIAS DE LIVRE MERCADO)

4. LEI ESTADUAL Nº 10.948 DE 05 DE NOVEMBRO DE 2001 (DISPÕE SOBRE AS


PENALIDADES A SEREM APLICADAS À PRÁTICA DE DISCRIMINAÇÃO EM RAZÃO
DE ORIENTAÇÃO SEXUAL E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS)

5. DECRETO ESTADUAL Nº 55.589, DE 17 DE MARÇO DE 2010 (REGULAMENTA A


LEI Nº 10.948/2001)
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 14

6. LEI ESTADUAL Nº 14.187/2010 (DISPÕE SOBRE PENALIDADES


ADMINISTRATIVAS A SEREM APLICADAS PELA PRÁTICA DE ATOS DE
DISCRIMINAÇÃO RACIAL)

7. DECRETO ESTADUAL Nº 55.588 DE 17 DE MARCO DE 2010 (DISPÕE SOBRE O


TRATAMENTO NOMINAL DAS PESSOAS TRANSEXUAIS E TRAVESTIS NOS
ÓRGÃOS PÚBLICOS DO ESTADO DE SÃO PAULO E DÁ PROVIDÊNCIAS
CORRELATAS)

8. DECRETO ESTADUAL Nº 55.839, DE 18 DE MAIO DE 2010 (INSTITUI O PLANO


ESTADUAL DE ENFRENTAMENTO À HOMOFOBIA E PROMOÇÃO DA CIDADANIA
LGBTQIA+ E DÁ PROVIDÊNCIAS CORRELATAS)

9. LEI ESTADUAL Nº 17.431/2021 – PROTEÇÃO À MULHER

CAPÍTULO IV – LEIS ESPECIAIS QUE VERSAM SOBRE DREITOS


FUNDAMENTAIS

1. LEI Nº 2.889/1956 (CONTRA O GENOCÍDIO)

2. LEI Nº 7.716/1989 (CONTRA O PRECONCEITO RACIAL)

3. LEI Nº 8.069/1990 (ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE)

4. LEI Nº 9.029/1995 (PRÁTICAS DISCRIMINATÓRIAS RELATIVAS À GRAVIDEZ NO


TRABALHO)

5. LEI Nº 9.455/1997 (CONTRA A TORTURA)

6. LEI Nº 10.741/2003 (ESTATUTO DO IDOSO)

7. LEI Nº 11.340/2006 (LEI MARIA DA PENHA)

8. LEI Nº 12.288/2010 (ESTATUTO DA IGUALDADE RACIAL)

9. LEI Nº 12.852/2013 (ESTATUTO DA JUVENTUDE)

10. LEI Nº 12.984/2014 (CONTRA A DISCRIMINAÇÃO DE PORTADORES DE HIV)

11. LEI Nº 13.146/2015 (ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA)

12. LEI Nº 13.257/2016 (POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A PRIMEIRA INFÂNCIA)


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 15

13. LEI Nº 13.260/2016 (LEI ANTITERRORISMO)

14. DECRETO Nº 8858/2016 – REGULAMENTA ART. 199 DA LEI Nº 7210/1984 (LEI


DE EXECUÇÃO PENAL)

15. LEI Nº 13.445/2017 (LEI DE MIGRAÇÃO)

16. LEI Nº 14.232/2021 (INSTITUI A POLÍTICA NACIONAL DE DADOS E


INFORMAÇÕES RELACIONADAS À VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES).
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 16
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 17
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 18

ÍNDICE DO CAPÍTULO I – CONCEITOS BÁSICOS

1. DIREITOS HUMANOS

1.1 CONCEITO

1.2 SURGIMENTO

1.3 EVOLUÇÃO HISTÓRICA

1.4 DOCUMENTOS HISTÓRICOS

1.5 CLASSIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS

1.6 ORGANIZAÇÃO NAS NAÇÕES UNIDAS: PAPEL, SURGIMENTO E


OBJETIVOS

2. DIGNIDADE HUMANA

3. GRUPOS VULNERÁVEIS E MINORIAS

4. DIVERSIDADES

4.1 HISTÓRIA

4.2 PRECONCEITO

4.3 DISCRIMINAÇÃO

4.4 RACISMO

4.5 HOMOFOBIA

4.6 TRANSFOBIA

4.7 IGUALDADE

4.8 AÇÕES AFIRMATIVAS

5. VIGÊNCIA E EFICÁCIA DOS DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS, DOS DIREITOS


ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS E DOS DEMAIS DIREITOS

6. INCORPORAÇÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS


HUMANOS AO DIREITO BRASILEIRO. CONFLITOS

7. SISTEMA INTERNACIONAL DE PROMOÇÃO E PROTEÇÃO DOS DIREITOS


HUMANOS

8. SISTEMAS REGIONAIS DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS

9. PROGRAMA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS PNDH - 3

10. TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL E O ESTATUTO DE ROMA


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 19

1. DIREITOS HUMANOS

1.1 CONCEITO

Os Direitos Humanos formam um núcleo de direitos indispensáveis para assegurar a


existência humana com dignidade, protegidos pela ordem internacional e que, por meio de
instrumentos jurídicos de Direito Internacional (especialmente Tratados, Convenções, Pactos
etc.) podem ensejar a responsabilização do Estado que violá-los.

Pérez Luño (apud TAVARES, 2020 p. 450) afirma que os Direitos Humanos
compreendem “um conjunto de faculdades e instituições que, em cada momento histórico,
concretizam as exigências da dignidade, liberdade e igualdade humanas, as quais devem ser
reconhecidas positivamente pelos ordenamentos jurídicos em nível nacional e internacional”.

Acerca da dignidade humana e dos direitos humanos, pondera Barroso que eles “são
duas faces de uma mesma moeda: uma voltada para a filosofia moral e a outra para o Direito.
Direitos humanos são valores morais sob a forma de direitos” (BARROSO, 2020, p. 509).

Os Direitos Humanos diferem-se dos Direitos Fundamentais basicamente no


espectro da tutela. Enquanto os direitos humanos são tutelados no âmbito internacional – como
dito, sob a égide do Direito Internacional –, os direitos fundamentais são consagrados e
protegidos no ordenamento interno dos Estados, especialmente (mas não apenas) nas
Constituições Federais.

“De fato, sabe-se que a proteção jurídica dos direitos das pessoas pode provir ou vir a
provir da ordem interna (estatal) ou da ordem internacional (sociedade internacional).
Quando é a primeira que protege os direitos de um cidadão, está-se diante da proteção
de um direito fundamental da pessoa; quando é a segunda que protege esse mesmo
direito, está-se perante a proteção de um direito humano dela”. (MAZZUOLI, 2021, p. 23).

“Os direitos fundamentais, por sua vez, são os direitos humanos incorporados ao
ordenamento jurídico doméstico” (BARROSO, 2020, p. 511).

Há ainda que se ter em mente no que consiste os Direitos do Homem, expressão em


desuso em muitos países e (legislações) devido a sua carga discriminatória, que se “liga à
determinação de gênero que faz relativamente ao ‘homem’ (sexo masculino), sugerindo
eventual discriminação aos direitos da ‘mulher’” (MAZZUOLI, 2021, p. 24), que dizem respeito
aos direitos naturais - jusnaturalista (ainda não positivados), inerentes a todos os seres
humanos, e que independem de positivação no âmbito interno (direitos fundamentais) ou no
âmbito internacional (direitos humanos). A expressão mais adequada hoje seria “Direitos das
Pessoas”, conforme sintetiza Mazzuoli.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 20

Fonte: MAZZUOLI, 2021, p.23.

DIREITOS X GARANTIAS
DIREITOS GARANTIAS

São disposições assecuratórias


São disposições declaratórias
Instrumentos para defesa, fruição, exercício da
Bens protegidos constitucionalmente ou pela
defesa.
legislação infraconstitucional. Ex: Direito à
Ex: Habeas Corpus
locomoção / à liberdade

1.2 SURGIMENTO

O ano de 1945 é o marco da internacionalização dos Direitos Humanos, contexto


posterior ao fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), período de barbárie e matança
generalizada que assinalou (e assinala) a humanidade de tempos em tempos. Todavia, admite-
se como termo formal inicial dos Direitos Humanos a publicação da Declaração Universal dos
Direitos Humanos (DUDH), em 1948.

“(...) a compreensão da dignidade suprema da pessoa humana e de seus direitos, no


curso da História, tem sido, em grande parte, o fruto da dor física e do sofrimento moral.
A cada grande surto de violência, os homens recuam, horrorizados, à vista da ignomínia
que afinal se abre claramente diante de seus olhos; e o remorso pelas torturas, pelas
mutilações em massa, pelos massacres coletivos e pelas explorações aviltantes faz
nascer nas consciências, agora purificadas, a exigência de novas regras de uma vida
mais digna para todos” (COMPARATO, 2015, p. 50).

Precedem a DUDH “concepções oferecidas desde a filosofia clássica até a moderna,


bem como diversos textos legais, originados de distintos países, visando assegurar garantias
para cidadãos contra os abusos, omissões e excessos dos governantes” (LEITE, 2018, p. 23).
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 21

Celso Lafer relembra que na antiguidade clássica, Aristóteles já fazia uma “distinção
dicotômica entre lei particular e lei comum”. Em seu livro Retórica aduz que

“Lei particular é aquela que cada povo dá a si mesmo, podendo as normas dessa lei
particular ser escrita ou não-escrita. Lei comum é aquela conforme à natureza, pois existe
algo que todos, de certo modo, adivinhamos sobre o que por natureza é justo ou injusto
em comum, ainda que não haja nenhuma comunidade ou acordo” (LAFER, 1988, p. 35).
Relembra ainda Antígona, da peça de Sófocles, quando esta evoca as “imutáveis e não
escritas leis do céu, que não nasceram hoje nem ontem, que não morrem e que ninguém sabe
de onde provieram” como argumento para poder enterrar seu irmão Polinices, por ser isto “justo
por natureza” (LAFER, 1988, p. 35).

Direitos humanos não se confundem, todavia, com direitos naturais. As normas


anteriores e superiores ao direito estatal positivado (jusnaturalismo) são fruto da razão humana
e inerentes à existência humana, mas os direitos humanos decorrem de evolução histórica
da sociedade e de seus valores morais consagrados em cada período. São, portanto,
conquistas das lutas encetadas no seio social e, por isso, dotados da característica da
historicidade.

1.3 EVOLUÇÃO HISTÓRICA

De acordo com Fabio Konder Comparato (2015), a evolução histórica dos Direitos
Humanos pode ser assim sintetizada:

PERÍODO AXIAL (Séc. VIII a II a.C.) Mudança de paradigma no pensamento filosófico, que passa
a ser centrado no ser humano, sem, contudo, abandonar o
pensamento religioso e o mitológico.

REINO DAVÍDICO (Séc. XI e X a.C), Dizem respeito às formas políticas que limitaram a atuação e
DEMOCRACIA ATENIENSE (Séc. VIII a.C) o poder dos governantes, subordinando-os à lei, seja por
fundamento divino ou religioso (Reino de Davi), por interesse
E REPÚBLICA ROMANA
democrático (Atenas) ou pela estrutura segmentada e
organizada da sociedade (Roma).

BAIXA IDADE MÉDIA Marca a reação de setores da sociedade contra a retomada


do poder, exigindo o respeito da direitos de liberdade.
- Declaração das Côrtes de Leão - 1188
- Magna Carta - 1215.

SÉCULO XVII Marca o renascimento de ideais republicanos e democráticos,


com destaque para o sentimento de liberdade e resistência a
governos absolutistas:

- Petition of Rights - 1628


- Habeas corpus Act- 1679
- Bill Of Rights - 1689
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 22

INDEPENDÊNCIA AMERICANA E Período que marca o nascimento dos Direitos Humanos, com
REVOLUÇÃO FRANCESA despontamento da legitimidade democrática, resguardo aos
direitos de cidadania e valorização da dignidade.
SÉCULO XVIII
- Declaração de Virgínia - 1776
- Declaração de Independência dos EUA – 1789
- Revolução Francesa - 1789
- Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão – 1789
- Constituição Francesa - 1791.

RECONHECIMENTO DOS DIREITOS Marca a reação da classe operária e difusão do pensamento


HUMANOS ECONÔMICOS E SOCIAIS socialista, que viabilizou o reconhecimento dos direitos
econômicos e sociais como Direitos Humanos.

- Constituição do México – 1917


- Constituição Russa – 1918 (Lênin proclamou a Declaração
dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado, um ano após a
revolução socialista, tendo como principal fundamento a
eliminação da exploração da força de trabalho).
- Constituição de Weimar (Alemanha) - 1919

PRIMEIRA FASE DE 1 - Surgimento do Direito Internacional Humanitário (ou


INTERNACIONALIZAÇÃO DOS DIREITOS Direito da Guerra ou Direito dos Conflitos Armados), pode ser
HUMANOS compreendido como princípios e regras que têm a finalidade
de limitar a forma da violência em período de conflito armado
e para isso busca-se proteger os combatentes feridos,
doentes, os prisioneiros de guerra, os náufragos e os civis.
Criação do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (1863).

*No Brasil, a Cruz Vermelha foi fundada em 1908, sendo seu


primeiro presidente o médico Oswaldo Cruz.

2- Liga das Nações - criada após a Primeira Guerra Mundial


(1914-1918), tinha por objetivo a promoção da cooperação
entre as Nações, na busca pela paz e segurança internacional.

3 - Regulação dos direitos trabalhistas e criação da


Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 1919,

Esses eventos abrem o caminho para a internalização dos


Direito Humanos, na medida em que rompem as barreiras da
soberania estatal absoluta, ao permitirem a interferência
externa no plano nacional e ainda, colocam o indivíduo na
condição de sujeito de direito internacional.

EVOLUÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS A Início da efetiva internacionalização dos Direitos Humanos,
PARTIR DE 1945 – com o reconhecimento da dignidade da pessoa como valor
supremo e intrínseco a cada ser humano.
INTERNACIONALIZAÇÃO
Ano do fim da Segunda Guerra Mundial e da criação da ONU.

Consagração na contemporaneidade com a elaboração da


Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 23

1.4 DOCUMENTOS HISTÓRICOS

Os principais documentos históricos são:

• 1188 - Declaração das Côrtes de Leão (Península Ibérica)


• 1215 - Magna Carta Libertatum (Inglaterra)
• 1628 - Petition of Rights (Inglaterra)
• 1679 - Habeas Corpus Act (Inglaterra)
• 1689 - Bill of Rights (Inglaterra)
• 1776 - Declaração de Direitos da Virgínia (Estados Unidos)
• 1789 - Declaração de Independência dos Estados Unidos
• 1789 - Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (França)
• 1791 - Constituição Francesa
• 1917 - Constituição Mexicana
• 1919 - Constituição de Weimar (Alemanha)
• 1948 - Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) – documento paradigma
e marco da história internacional dos direitos humanos na contemporaneidade.

1.5 CLASSIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS

1.5.1 Características

• Universalidade: característica consagrada quando da aprovação da Declaração


Universal dos Direitos Humanos (1948) e posteriormente confirmada nas Conferências
Mundiais de Direitos Humanos de Teerã (1968) e de Viena (1993), que indica que os
direitos humanos formam uma categoria comum a todas as culturas e a todos os seres
humanos indistintamente. São, portanto, oponíveis a todos os seres humanos,
independentemente de raça, etnia, procedência nacional, sexo, gênero, religião etc.

Recebe críticas dos defensores do relativismo cultural, pois acreditam que a


concepção de direitos humanos que foi adotada na Declaração Universal tem natureza
ocidental e não leva em consideração as diferentes culturas existentes no mundo. Diante
dessa discussão entre o universalismo e o relativismo cultural, várias teorias filosóficas
surgiram:

A teoria da hermenêutica diatópica criada por Boaventura de Souza Santos foi uma
delas. Para ele estamos diante do multiculturalismo e de valores que devem ser
respeitados por cada cultura, obrigatoriamente. Há ainda a teoria do universalismo de
chegada ou confluência, defendida por Herrera Flores, para quem não se deve negar
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 24

que os direitos humanos possam alcançar a universalidade, todavia esse universalismo


não pode ser “de partida”, mas sim deve ser “de chegada”, mediante uma construção
democrática decorrente de diálogos construídos entre as diferentes culturas.

Outro pilar da universalidada é a possibilidade de o indivíduo pleitear perante instâncias


internacionais a satisfação dos direitos inobservados no plano interno.

• Unidade, indivisibilidade, complementariedade ou interdependência: preza que


todos os direitos humanos possuem a mesma hierarquia, mas a dignidade humana
somente é respeitada quando todos os direitos humanos são protegidos, justamente
porque todos formam um único conjunto que não se pode dividir e que são
interdependentes, ou seja, um depende do outro. Estão conectados, interligados e se
complementam.
As Conferências Mundiais de Direitos Humanos da ONU em Teerã (1958) e em Viena
(1993) ressaltaram a existência dessas características, visto que não é possível ter direito
à liberdade e não ter direito à saúde, ou ter direito a vida, mas não ter um meio ambiente
sadio. Para Ramos (2021, p. 148), a característica de indivisibilidade possui duas facetas:
“A primeira implica reconhecer que o direito protegido apresenta uma unidade incindível
em si. A segunda faceta, mais conhecida, assegura que não é possível proteger apenas
alguns dos direitos humanos reconhecidos”.

• Indisponibilidade ou irrenunciabilidade: embora possa haver divisão doutrinária


sobre os conceitos, a ideia central é a de impossibilidade de o titular dispor do núcleo
essencial ou mínimo dos seus direitos humanos. Não se pode simplesmente renunciar ao
direito a saúde, por exemplo. Ainda que em algum momento a pessoa não cuide de sua
saúde, possui o direito mesmo assim. O núcleo essencial não pode ser renunciado.

• Limitabilidade ou relatividade: Significa que, como regra, os direitos humanos


podem ser relativizados, sopesados, ponderados, a exemplo da vida privada, liberdade de
expressão, liberdade de locomoção, direitos políticos etc. Basta lembrar que, apesar de
todos termos garantida a liberdade de locomoção, durante a pandemia causada pela
Covid-19 houve restrição de locomoção e impedimento de aglomeração. Tal situação
inclusive é explicitada nos artigos 22 e 27 do Decreto n.º 678/92 (Pacto de São José da
Costa Rica).

Nem mesmo o direito a vida é absoluto, posto que se admite a interrupção – exemplos
na legislação nacional são o aborto em casos de estupro, para salvar a vida da gestante e
nos casos de anencefalia e a pena de morte nos casos de guerra declarada. Na legislação
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 25

externa, citamos a “morte piedosa” nos países que legalizaram a eutanásia e as restrições
ao direito à vida previstas no art. 4º do Decreto n.º 678/92. Contudo, a doutrina aponta
alguns direitos (exceções) que podem ser considerados absolutos:

a) O direito de não ser torturado1. A Constituição Federal de 1988 proíbe a


prática da tortura e a aplicação de penas desumanas ou degradantes2. O Direito
Internacional dos Direitos Humanos também não permite nenhuma exceção à
vedação da tortura, considerando a sua proibição uma norma de jus cogens (Corte
Interamericana de Direitos Humanos, Caso Myrna Mack Chang vs. Guatemala)3.,
bem como o art. 2º, item 2, da Convenção contra a tortura e outros tratamentos ou
penas cruéis, desumanos ou degradantes prevê que não há nenhuma exceção ou
argumento que justifique a prática da tortura: “2. Em nenhum caso poderão invocar-
se circunstâncias excepcionais tais como ameaça ou estado de guerra, instabilidade
política interna ou qualquer outra emergência pública como justificação para
tortura”.
O artigo 1º da referida Conveção especifica o conceito de “tortura” para seus fins:

“1. Para os fins da presente Convenção, o termo "tortura" designa qualquer ato pelo qual
dores ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos intencionalmente a uma
pessoa a fim de:
(i) obter, dela ou de uma terceira pessoa, informações ou confissões;
(ii) de castigá-la por ato que ela ou uma terceira pessoa tenha cometido ou seja suspeita
de ter cometido;
(iii) de intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas;
(iv) ou por qualquer motivo baseado em discriminação de qualquer natureza; quando
tais dores ou sofrimentos são infligidos por um funcionário público ou outra pessoa no
exercício de funções públicas, ou por sua instigação, ou com o seu consentimento ou
aquiescência. Não se considerará como tortura as dores ou sofrimentos que sejam
conseqüência unicamente de sanções legítimas, ou que sejam inerentes a tais sanções
ou delas decorram”.

1
A teoria da bomba-relógio não é admitida em nosso ordenamento jurídico. “Apresentada pela primeira vez na obra Les
Centurions, escrita em 1960 pelo jornalista e ex-soldado francês Jean Lartéguy, que narra os episódios vividos por um
batalhão na Guerra da Indochina, da Argélia e de Suez, a teoria se desenvolve quando a personagem principal, o Capitão
Julien Boisfeuras, descobre um plano iminente de explosão de bombas em massa e, nessa situação, lidera a prática da
tortura para encerrar a campanha terrorista”. (SPINIELI, 2017, p. 303).
2
Além da vedação constitucional, o Brasil ratificou a Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou penas
cruéis, desumanos ou degradantes de 1984 (Decreto 15, de 15/02/1991) Vide Capítulo II, item 2.7, promulgou a Lei
9455/1997 vide Capítulo IV, item 5, e em 2013, criou o Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura, o Comitê
Nacional de Prevenção e Combate à Tortura e o Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura, por intermédio
da Lei nº 12.847/2013.
3
Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_101_esp.pdf
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 26

b) O direito de não ser escravizado. O ordenamento jurídico brasileiro também


proíbe a escravidão de maneira absoluta. No mesmo caminho, o Direito
Internacional dos Direitos Humanos não admite a relativização da vedação à
escravidão e a Corte Interamericana de Direitos Humanos considera a vedação à
escravidão uma norma de jus cogens (Caso Trabalhadores da Fazenda Brasil Verde
vs. Brasil)4.

“Há alguns que valem em qualquer situação e para todos os homens indistintamente: são
os direitos acerca dos quais há exigência de não serem limitados nem diante de casos
excepcionais, nem com relação a esta ou àquela categoria, mesmo restrita, de membros
do gênero humano (é o caso, por exemplo, do direito de não ser escravizado e de não
sofrer tortura). Esses direitos são privilegiados porque não são postos em concorrência
com outros direitos, ainda que também fundamentais” (BOBBIO, 1992, p. 20).

c) O direito de não ser compulsoriamente associado em uma associação.


Ninguém pode ser compelido a se associar ou a permanecer associado, contra a
sua vontade.

A liberdade de associação é um tema muito caro aos Direitos Humanos e está


assegurada em diversos textos internacionais: Declaração Universal dos Direitos
Humanos (art. 20º); no, da Convenção Europeia dos Direitos do Homem (art. 11, 1);
na Convenção n. 87 da Organização Internacional do Trabalho; Convenção
Interamericana dos Direitos do Homem (art. 16), Pacto Internacional de Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais (art. 8º) e Pacto Internacional dos Direitos Civis e
Políticos (art. 22). Também é assegurada no artigo 5º, XX, da CF/88. O STF, na ADI
30455 já teve oportunidade de se manifestar sobre o tema, destacando a dupla
dimensão desse direito:

“Revela-se importante assinalar, neste ponto, que a liberdade de associação tem uma
dimensão positiva, pois assegura a qualquer pessoa (física ou jurídica) o direito de
associar-se e de formar associações. Também possui uma dimensão negativa, pois
garante a qualquer pessoa o direito de não se associar, nem de ser compelida a filiar-se
ou a desfiliar-se de determinada entidade. Essa importante prerrogativa constitucional
também possui função inibitória, projetando-se sobre o próprio Estado, na medida em que
se veda, claramente, ao Poder Público, a possibilidade de interferir na intimidade das
associações e, até mesmo, de dissolvê-las, compulsoriamente, a não ser mediante
regular processo judicial”

4
Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_318_por.pdf

5
ADI 3045, voto do Rel. Min. Celso de Mello, j. em 10.08.2005, Plenário, DJ 01.6.2007.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 27

d) O direito de não ser extraditado. A Constituição Federal de 1988 veda a


extradição6 de brasileiro nato. A “entrega” de brasileiro nato ao Tribunal Penal
Internacional é permitida, uma vez que se trata de instituto diverso da extradição.

• Inexauribilidade ou não tipicidade: Significa que não há a possibilidade de alcançar


um rol taxativo de direitos humanos, mas, ao contrário, é possível expandir, acrescer,
constituir novos direitos. O artigo 5º, §2º da CRFB/88 afirma que “os direitos e garantias
expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios
por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil
seja parte”.

• Historicidade: os direitos humanos são produto da construção social, resultado do


aperfeiçoamento da convivência em sociedade. Atrelam-se, portanto, à própria história do
ser humano.

“os direitos do homem constituem uma classe variável, como a história destes últimos
séculos demonstra suficientemente...Não é difícil de prever que, no futuro, poderão surgir
novas pretensões que no momento sequer podemos imaginar... O que demonstra que
não existem direitos por natureza. O que parece fundamental numa época histórica e
numa determinada civilização não é fundamental em outras épocas e em outras culturas”
(BOBBIO, 1992, p.19).

• Imprescritibilidade: Na definição de Mazzuoli:

“São os direitos humanos imprescritíveis, não se esgotando com o passar do tempo e


podendo ser a qualquer tempo vindicados, não se justificando a perda do seu exercício
pelo advento da prescrição. Em outras palavras, os direitos humanos não se perdem ou
divagam no tempo, salvo as limitações expressamente impostas por tratados
internacionais que preveem procedimentos perante cortes ou instâncias internacionais”
(MAZZUOLI, 2021, p. 29).

• Vedação ao retrocesso: Trata-se da proibição ao retrocesso ou efeito cliquet. Diz


respeito à impossibilidade de se eliminar ou inutilizar uma conquista já alcançada,
permitindo-se apenas aprimoramento e expansão dos direitos. Como exemplo, não pode
haver qualquer tentativa de impedir o direito de as mulheres votarem.

“Outra expressão utilizada pela doutrina é o ‘entrenchment’ ou entrincheiramento, que


consiste na preservação do mínimo já concretizado dos direitos fundamentais, impedindo
o retrocesso, que poderia ser realizado pela supressão normativa ou ainda pelo
amesquinhamento ou diminuição de suas prestações à coletividade” (RAMOS, 2021,
155).

• Essencialidade ou Inerência: os Direitos Humanos decorrem da essência do ser


humano, são inerentes à condição humana.

6
Lei de Migração – “Art. 81. A extradição é a medida de cooperação internacional entre o Estado brasileiro e outro Estado
pela qual se concede ou solicita a entrega de pessoa sobre quem recaia condenação criminal definitiva ou para fins de
instrução de processo penal em curso”. “Art. 82. Não se concederá a extradição quando: I - o indivíduo cuja extradição é
solicitada ao Brasil for brasileiro nato”.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 28

• Inalienabilidade: “Pugna pela impossibilidade de se atribuir uma dimensão pecuniária


dos direitos humanos para fins de venda.” (RAMOS, 2021, p. 154). Não se podem alienar
de forma gratuita ou onerosa os direitos humanos.

Em complemento, Ramos aponta que os direitos humanos têm em comum “quatro ideias-
chaves ou marcas distintivas: universalidade, essencialidade, superioridade normativa
(preferenciabilidade) e reciprocidade”.

“A universalidade consiste no reconhecimento de que os direitos humanos são direitos


de todos, combatendo a visão estamental de privilégios de uma casta de seres superiores.
Por sua vez, a essencialidade implica que os direitos humanos apresentam valores
indispensáveis e que todos devem protegê-los. Além disso, os direitos humanos são
superiores a demais normas, não se admitindo o sacrifício de um direito essencial para
atender as “razões de Estado”; logo, os direitos humanos representam preferências
preestabelecidas que, diante de outras normas, devem prevalecer.

Finalmente, a reciprocidade é fruto da teia de direitos que une toda a comunidade


humana, tanto na titularidade (são direitos de todos) quanto na sujeição passiva: não há
só o estabelecimento de deveres de proteção de direitos ao Estado e seus agentes
públicos, mas também à coletividade como um todo. Essas quatro ideias tornam os
direitos humanos como vetores de uma sociedade humana pautada na igualdade e na
ponderação dos interesses de todos (e não somente de alguns)”. (RAMOS, 2021, p. 46).

1.5.2 Eficácia dos direitos humanos

Outra classificação comum doutrinariamente é em relação a eficácia dos direitos


humanos, que pode ser:

a) VERTICAL: aplicação dos direitos humanos às relações entre o Estado e a


sociedade.
b) HORIZONTAL: aplicação obrigatória e direta dos direitos humanos às relações
privadas, em que os envolvidos na relação partem de um equilíbrio.

c) DIAGONAL: aplicação dos direitos humanos nas relações entre particulares em


que haja desequilíbrio fático; demonstram a hipossuficiência de uma das partes (p.
ex., relações de trabalho ou consumo).

1.5.3 Gerações x Dimensões x Famílias de Direitos Humanos

A classificação dos direitos humanos quanto às gerações (ou dimensões ou famílias)


também é ponto muito explorado em concursos públicos. A adoção de uma terminologia entre
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 29

as três ainda é mais questão de preferência7 de cada doutrinador do que de fundamentação


teórica, de modo que elas podem ser usadas como expressões sinônimas sem problemas.

Ademais, Declaração e Programa de Ação de Viena de 1993, em seu artigo quinto,


preconiza que:

“5. Todos os direitos humanos são universais, indivisíveis interdependentes e inter-


relacionados. A comunidade internacional deve tratar os direitos humanos de forma
global, justa e eqüitativa, em pé de igualdade e com a mesma ênfase. Embora
particularidades nacionais e regionais devam ser levadas em consideração, assim como
diversos contextos históricos, culturais e religiosos, é dever dos Estados promover e
proteger todos os direitos humanos e liberdades fundamentais, sejam quais forme seus
sistemas políticos, econômicos e culturais”.

Os primeiros ensinamentos sobre o tema foram lançados em 1979 por Karel Vasak, na
conferência proferida no Instituto Internacional de Direitos Humanos, onde classificou os
direitos humanos em três gerações, associando-as ao lema da Revolução Francesa: “liberdade,
igualdade e fraternidade” (BOBBIO, 1992), mas de lá para cá inevitavelmente os direitos
humanos se ampliaram (em face do princípio da proibição do retrocesso) e as classificações
têm apenas um fim didático e representam “a valorização de determinados direitos em
momentos históricos distintos” (OLIVEIRA; VAZ, 2018, p. 55). Não há, portanto, divisão ou
hierarquia entre os direitos humanos.

O quadro abaixo sintetiza a o cenário político que corresponde à divisão das dimensões
dos direitos humanos para fins didáticos:

1ª GERAÇÃO 2ª GERAÇÃO 3ª GERAÇÃO 4ª GERAÇÃO

LIBERDADE IGUALDADE FRATERNIDADE DIGNIDADE

Compreende os direitos Compreende os direitos Compreende o direito ao Compreende os direitos


civis, políticos, as econômicos, sociais e meio ambiente decorrentes da
liberdades clássicas, culturais, educação, equilibrado, à qualidade engenharia genética,
segurança, saúde, lazer, trabalho de vida, previdência tecnologia, bioética,
nacionalidade, etc. social, à biodireito, plurarismo
propriedade, voto etc. autodeterminação dos político, direito de
povos, à paz. e outros informação, direito à
direitos difusos e diferença,
coletivos (ou desarmamento nuclear
transindividuais), etc. etc.

7
Observa-se que os doutrinadores modernos preferem os termos dimensões e famílias, superando a expressão gerações
utilizada na década de 1980.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 30

Período de Revoluções Origem nos Momento pós 2ª Guerra Modernidade e


Liberais – Séc. XVII a IX Movimentos proletários Mundial – segunda Globalização dos
socialistas pós 1ª metade do Séc. XX. Direitos Humanos
Guerra Mundial (1914- - Criação da ONU Séc. XXI
1919) – Início do Séc.
- Carta da ONU
XX
- Criação do Sistema
Global de Proteção ao
Direitos Humanos

Buscam menos Têm por objetivo garantir Buscam reerguer a Fundado na defesa da
intervenção do Estado, aos indivíduos condições comunidade dignidade humana.
limitação ao poder do materiais para o pleno internacional após os Afasta intervenções
Estado. Igualdade gozo e fruição dos horrores promovidos abusivas do poder
Formal. Demandam direitos. Demandam pela Segunda Guerra público e de particulares
abstenção Estatal. atuação estatal (fazer Mundial. na esfera individual.
Indivívuo e mero súdito, estatal). Buscam
mero objeto. Igualdade Material.

Documentos Documentos Documento Documentos


representativos: Magna representativos: representativo: representativos:
Carta (1215), Habeas Constituição Mexicana Carta da ONU (1945), Todos os Tratados
Corpus Act (1679), Bill (1917, Constituição de Declaração Universal Internacionais de
of Rights (1689), Weimar (1919), Tratado de Direitos Humanos Direitos Humanos
Declaração do Bom de Versalhes (1919). (1948).
Povo do Estado da
Virgínia (1776),
Declaração do Homem
e do Cidadão (1789)

Estado Absolutista Estado Liberal Estado Social Estado Constitucional

No Brasil: CFs 1824 / CF 1934 CFs 1946 / 1988 ADI 3510, de 2005 e Lei
1891 de Biossegurança

OBS: Há doutrinadores que defendem a existência de outras dimensões de direitos, além das
supracitadas, bem como enquandram alguns direitos em categorias diferentes, como o direito
à felicidade, que alguns defendem que se trata de direito de 5ª geração e outros como direito
de 6ª geração.

O direito à paz, por exemplo, que na classificação do jurista tcheco-francês Karel Vasak, é um
direito de 3ª geração, para o jurista brasileiro Paulo Bonavides (2009, p. 590), seria um direito
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 31

de 5ª Geração. Zulmar Fachin e Deise Marcelino da Silva (2010, p. 74-80) defendem a


existência de uma 6ª dimensão de direitos, que abarca o direito de acesso à água potável.

1.6 ORGANIZAÇÃO NAS NAÇÕES UNIDAS: PAPEL, SURGIMENTO E OBJETIVOS

- Papel: “A ONU possui papel central no processo histórico de afirmação dos direitos
humanos, sendo inquestionável que, a partir de sua atuação, a proteção internacional desses
direitos se expandiu bastante” (BARRETTO, 2019, p. 142).

É ela a entidade que coordena o sistema global de direitos humanos e produz os


documentos internacionais que integram essa ordem jurídica.

Estão inter-relacionados com o sistema global os chamados sistemas regionais de


proteção. São considerados não iniciantes ou não incipientes os sistemas Interamericano,
Europeu e Africano, que pensam os direiros humanos de modo regionalizado, mas não
excluem o sistema global.

- Surgimento: A ONU foi criada em 24 de outubro de 1945, com o fito de unir esforços
precipuamente pela paz mundial, haja vista que os países acabavam de vivenciar os horrores
da Segunda Guerra. Além da realização da paz global, ela busca facilitar a cooperação em
matéria de direito internacional, segurança internacional, desenvolvimento econômico,
progresso social e direitos humanos.

São princípios centrais da ONU: paz mundial, tolerância entre os povos, não intervenção
e solução pacífica das controvérsias. A lógica era não mais se valer da estrutura bélica para
solucionar conflitos.

A ONU é formada por 193 países e sua sede fica em Nova Iorque. O Brasil é um dos 51
membros fundadores. A primeira reunião da Assembleia Geral ocorreu em Londres, em 1946,
quando foi decidido que a sede permanente seria nos Estados Unidos. Ficou definido que a
comunicação seria em seis idiomas oficiais: inglês, francês, espanhol, árabe, chinês e russo.

O Artigo 7.1. da Carta das Nações Unidas define que são órgãos principais da ONU:

1 - Assembleia Geral8
2 - Conselho de Segurança9

8
Principal órgão deliberativo da ONU, onde todos os Estados-Membros da ONU se reúnem para discutir os assuntos
relevantes de interesses de todos, a exemplo da paz e segurança, aprovação de novos membros, cooperação
internacional etc. Emite resoluções. Todo Estado tem direito a voto. Disponível em: https://unric.org/pt/orgaos-da-onu/.

9
O órgão da ONU responsável pela paz e segurança internacionais. É composto por 15 membros, sendo 5 permanentes
(EUA, Rússia, Reino Unido, França e China) e 10 não-permanentes, que são eleitos pela Assembleia-Geral para um
mandato de 2 anos, sendo vedada a reeleição para período imediato. Disponível em: https://unric.org/pt/orgaos-da-onu/.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 32

3 - Conselho Econômico e Social10


4 - Conselho de Tutela11
5 - Corte Internacional de Justiça12
6 - Secretariado13
Outros órgãos subsidiários podem ser estabelecidos conforme necessidade.

- Objetivos: No Preâmbulo da Carta das Nações Unidas, ficam claros os objetivos da


ONU:

NÓS, OS POVOS DAS NAÇÕES UNIDAS, RESOLVIDOS a preservar as gerações


vindouras do flagelo da guerra, que por duas vezes, no espaço da nossa vida, trouxe sofrimentos
indizíveis à humanidade, e a reafirmar a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no
valor do ser humano, na igualdade de direito dos homens e das mulheres, assim como das nações
grandes e pequenas, e a estabelecer condições sob as quais a justiça e o respeito às obrigações
decorrentes de tratados e de outras fontes do direito internacional possam ser mantidos, e a
promover o progresso social e melhores condições de vida dentro de uma liberdade ampla.

E PARA TAIS FINS, praticar a tolerância e viver em paz, uns com os outros, como bons
vizinhos, e unir as nossas forças para manter a paz e a segurança internacionais, e a garantir, pela
aceitação de princípios e a instituição dos métodos, que a força armada não será usada a não ser
no interesse comum, a empregar um mecanismo internacional para promover o progresso
econômico e social de todos os povos.

RESOLVEMOS CONJUGAR NOSSOS ESFORÇOS PARA A CONSECUÇÃO DESSES


OBJETIVOS. Em vista disso, nossos respectivos Governos, por intermédio de representantes
reunidos na cidade de São Francisco, depois de exibirem seus plenos poderes, que foram achados
em boa e devida forma, concordaram com a presente Carta das Nações Unidas e estabelecem, por
meio dela, uma organização internacional que será conhecida pelo nome de Nações Unidas.

10
Órgão coordenador do trabalho econômico e social da ONU, das Agências Especializadas e das demais instituições
integrantes do Sistema das Nações Unidas. É composto de cinquenta e quatro Membros das Nações Unidas eleitos pela
Assembleia Geral, sendo dezoito Membros do Conselho Econômico e Social serão eleitos cada ano para um período de
três anos, podendo, ao terminar esse prazo, ser reeleitos para o período seguinte. Disponível em:
https://unric.org/pt/orgaos-da-onu/.
11
O Conselho de Tutela foi estabelecido em 1945 e suspenso em 1994. Tinha a incumbência de supervisionar
internacionalmente 11 Territórios Fiduciários que haviam sido administrados por sete Estados-membros, e assegurar que
fossem tomadas medidas adequadas para preparar esses territórios para a autodeterminação, a autogovernação e a
independência. Em 1994, todos os territórios sob tutela alcançaram o autogoverno ou a independência e por isso as
operações do Conselho foram suspensas. Disponível em: https://unric.org/pt/orgaos-da-onu/.
12
A Corte Internacional de Justiça é o principal órgão judiciário das Nações Unidas. Sua sede fica no Palácio da Paz em
Haia, na Holanda. É composta por 15 juízes, eleitos pela Assembleia-Geral e pelo Conselho de Segurança em votações
separadas. Os juízes exercem mandato de 9 anos, a título pessoal. Disponível em: https://unric.org/pt/orgaos-da-onu/.

13
O secretário-geral é o principal funcionário administrativo da Organização, sendo nomeado pela Assembleia Geral, por
recomendação do Conselho de Segurança, por um período renovável de cinco anos. s funcionários das Nações Unidas
são recrutados internacionalmente e localmente, trabalhando em postos de serviço e em missões de manutenção da paz
em todo o mundo. Disponível em: https://unric.org/pt/orgaos-da-onu/.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 33

2. DIGINIDADE HUMANA

Dignidade humana consiste

“na qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano, que o protege contra todo
tratamento degradante e discriminação odiosa, bem como assegura condições materiais
mínimas de sobrevivência . Consiste em atributo que todo indivíduo possui, inerente à sua
condição humana, não importando qualquer outra condição referente à nacionalidade,
opção política, orientação sexual, credo etc. Tanto nos diplomas internacionais quanto
nacionais, a dignidade humana é inscrita como princípio geral ou fundamental, mas não
como um direito autônomo. De fato, a dignidade humana é uma categoria jurídica que,
por estar na origem de todos os direitos humanos, confere-lhes conteúdo ético. Ainda, a
dignidade humana dá unidade axiológica a um sistema jurídico, fornecendo um substrato
material para que os direitos possam florescer”. (RAMOS, 2021, p. 121).
Moraes (2020, p. 69), por seu turno, define a dignidade como:

“um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se manifesta singularmente na


autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a
pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo-se um mínimo
invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que, somente
excepcionalmente, possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais,
mas sempre sem ‘menosprezar a necessária estima que merecem todas as pessoas
enquanto seres humanos’ e a busca ao ‘Direito à Felicidade’.”

Para Sarlet (2001, p.60), dignidade da pessoa humana é:

“a qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo
respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido,
um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra
todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as
condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover
sua participação ativa corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em
comunhão dos demais seres humanos’.

Ramos relembra que dois elementos caracterizam a dignidade humana, sendo um


positivo e outro negativo:

“O elemento negativo consiste na proibição de se impor tratamento ofensivo, degradante


ou ainda discriminação odiosa a um ser humano. Por isso, a própria Constituição dispõe
que “ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante” (art.
5º, III) e ainda determina que “a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos
e liberdades fundamentais” (art. 5º, XLI).
Já o elemento positivo do conceito de dignidade humana consiste na defesa da
existência de condições materiais mínimas de sobrevivência a cada ser humano. Nesse
sentido, a Constituição estabelece que a nossa ordem econômica tem “por fim assegurar
a todos existência digna” (art. 170, caput). (RAMOS, 2021, p. 122)”.

Jorge Miranda (1998, p.169) difere “dignidade da pessoa humana” de “dignidade


humana”:
"Da mesma maneira que não é o mesmo falar em direitos do homem e direitos humanos,
não é exactamente o mesmo falar em dignidade da pessoa humana e dignidade humana"
(sic). A dignidade da pessoa humana dirige-se ao homem individualmente, enquanto a
dignidade humana se refere à humanidade, entendida como qualidade comum a todos os
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 34

homens ou como conjunto que os engloba e ultrapassa. O princípio da dignidade da


pessoa humana afasta qualquer interpretação que pudesse permitir o sacrifício dos
direitos ou até da personalidade individual em nome de pretensos interesses coletivos”.
É um princípio fundamental e um fundamento consagrado na CF/88 (artigo 1º, inciso III),
assim como em muitas outras Constituições em vigor pelo mundo.

“A dignidade figura em praticamente todas as declarações e tratados internacionais sobre


direitos humanos, e está consagrada em nada menos que 149 constituições nacionais,
das 194 que hoje estão em vigor.

Ademais, a sua eficácia também é reconhecida em países cujas constituições não contêm
menção expressa ao princípio, como a França8 e os Estados Unidos.

A dignidade da pessoa humana tem sido invocada com grande frequência por diversas
cortes constitucionais estrangeiras e por tribunais internacionais, e se tornou um
parâmetro para a contestação jurídica, social e política da ação opressiva dos Estados,
de entidades internacionais e do poder privado”. (SARMENTO, 2016, p. 13-14).

Os Tratados Internacionais que versam sobre Direitos Humanos trazem, de forma


implícita ou explícita, a noção de prevalência da dignidade da pessoa humana, sendo
“incorporada por todos os tratados e declarações de direitos humanos, que passam a integrar
o chamado Direito Internacional dos Direitos Humanos” (PIOVESAN, 2002, p. 146).

A dignidade humana apresenta uma dupla função: unificadora (eixo axiológico ou


valorativo do ordenamento jurídico) e hermenêutica (inspira e limita a aplicação do Direito).

UNIFICADORA: Na medida em que constitui eixo axiológico


(eixo valorativo) do ordenamento jurídico.
DUPLA FUNÇÃO
HERMENÊUTICA: Inspira e limita a aplicação do direito.

3. GRUPOS VULNERÁVEIS E MINORIAS

Grupos vulneráveis são compostos por pessoas historicamente marginalizadas,


segregadas e oprimidas, por vezes impedidas de usufruir da vida em sociedade e das políticas
formuladas pelo Estado em condição de igualdade com os demais. Tais pessoas assim são
posicionadas por conta de raça, etnia, procedência nacional, gênero, sexo, idade, dentre outros.

“No que diz respeito à proteção dos direitos humanos, as noções de igualdade e de
vulnerabilidade estão unidas. São vulneráveis quem tem diminuídas, por diferentes
razões, suas capacidades de enfrentar as eventuais violações de direitos básicos, de
direitos humanos. Essa diminuição de capacidades, essa vulnerabilidade está associada
a determinada condição que permite identificar o indivíduo como membro de um grupo
específico que, como regra geral, está em condições de clara desigualdade material em
relação ao grupo majoritário”. (BELTRÃO et. al., 2014)
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 35

Diferentemente do que o senso comum sinaliza, o conceito de minoria não


necessariamente está atrelado à questão numérica, mas à ideia de dominância em determinado
contexto; está ligado, pois, à noção de desvantagem social. Pode ocorrer (como de fato ocorre
em alguns casos) uma coincidência entre a minoria representar numericamente a menor
parcela da população, mas não é o fator numérico por si só que define a posição de minoria em
termos antropológicos.

A palavra minoria se refere a:

“um grupo de pessoas que de algum modo e em algum setor das relações sociais
se encontra numa situação de dependência ou desvantagem em relação a um outro
grupo, “maioritário”, ambos integrando uma sociedade mais ampla. As minorias
recebem quase sempre um tratamento discriminatório por parte da maioria.”
(CHAVES, 1971).
Há doutrinadores que utilizam os termos minoria e grupos vulneráveis como sinônimos.
Outros, entendem que grupos vulneráveis são gênero, do qual são espécies as minorias. E
mais, essa “espécie se subdivide em minorias étnicas, raciais, religiosas, sexuais, silvícolas,
deficientes, mulheres, crianças, entre tantos outros traços que formam as minorias existentes
nas sociedades” (SIQUEIRA, CASTRO, 2017).

As minorias buscam ter direitos, bem como exercê-los, preservando o objeto


de discriminação, o traço cultural, o elemento identificador que une o indivíduo
aos demais de seu grupo específico.

Na prática, tanto os grupos vulneráveis quanto as minorias sofrem discriminação e são


vítimas da intolerância.

O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos de 1966 foi o primeiro


instrumento normativo internacional da ONU a tratar sobre o tema, ainda assim, sem fornecer
uma definição de minoria, apenas exigindo o respeito aos direitos dos grupos minoritários, como
evidenciado em seu artigo 27.

Nem mesmo a Declaração sobre os Direitos das Pessoas Pertencentes a Minorias


Nacionais ou Étnicas, Religiosas e Linguísticas (aprovada pela Assembleia Geral da ONU,
por meio da Resolução 47/135, de 18 de dezembro de 1992) propôs uma definição, nem em
seu preâmbulo, nem em sua parte dispositiva.

A Declaração da Corte interamericana de Direitos Humanos 01/2020, de 09 de abril


de 2020, elencou grupos considerados especialmente vulneráveis, em razão da pandemia
COVID-19 e exortou os Estados Membros da Convenção Americana sobre Direitos Humanos
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 36

à empregarem esforços para conter o agravamento da situação desses grupos, no que diz
respeito à vida e à saúde pública.

São, assim, considerados especialmente vulneráveis durante a pandemia o seguintes


grupos:

→ Mulheres (principalmente gestantes ou no período imediato ao parto)


→ Crianças
→ Idosos
→ Pessoas com doenças prévias
→ Migrantes, refugiados e apátridas
→ Comunidades e povos indígenas
→ Pessoas de baixa renda ou sem renda fixa
→ População carcerária
→ População sem moradia ou de moradia precária
→ Profissionais da área da saúde
→ LGBTQIA+
→ Afrodescendentes

4. DIVERSIDADES

Diversidade é o “conjunto de diferenças e valores de um dado grupo humano, seja de


gênero, etnia, religião, situação econômica, nacionalidade, idade, orientação sexual e outros”
(GLOSSÁRIO DA DIVERSIDADE, 2017, p. 31).

A diversidade se liga à construção de espaços plurais, com representatividade das


multiculturas não como “tolerância”, mas como reconhecimento de que não há nenhuma cultura
ou grupo humano melhor ou superior a outro.

4.1 PRECONCEITO

O preconceito é uma crença, ideia ou opinião formada antecipadamente, sem base, sem
ponderação e sem conhecimento dos fatos. Em outras palavras, é uma ideia pré-concebida,
elaborada sem uma análise crítica e fundada num sentimento desfavorável e generalizado ou
numa concepção irracional e a priori.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 37

4.2 DISCRIMINAÇÃO

É o “ato de diferenciar, discernir, distinguir as pessoas, dando-lhes um tratamento


desigual ou injusto em função de preconceitos de alguma ordem, inclusive relacionados à
diversidade sexual.” (GLOSSÁRIO DA DIVERSIDADE, 2017, p. 09).

A discriminação tem um viés prático e diz respeito a qualquer ação que faça distinção,
que implique em “exclusão, restrição ou preferência” de uns em detrimento a outros e pode
configurar ato criminoso.

A discriminação racial ou étnico-racial é

“toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência


ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto anular ou restringir o reconhecimento,
gozo ou exercício, em igualdade de condições, de direitos humanos e liberdades
fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou em qualquer outro
campo da vida pública ou privada”; (Art. 1º, I, Estatuto da Igualdade Racial, Lei 12.228
de 20 de julho de 2010)

A discriminação contra as pessoas portadoras de deficiência significa

a) (...) toda diferenciação, exclusão ou restrição baseada em deficiência, antecedente de


deficiência, conseqüência de deficiência anterior ou percepção de deficiência presente ou
passada, que tenha o efeito ou propósito de impedir ou anular o reconhecimento, gozo ou
exercício por parte das pessoas portadoras de deficiência de seus direitos humanos e
suas liberdades fundamentais.

b) Não constitui discriminação a diferenciação ou preferência adotada pelo Estado Parte


para promover a integração social ou o desenvolvimento pessoal dos portadores de
deficiência, desde que a diferenciação ou preferência não limite em si mesma o direito à
igualdade dessas pessoas e que elas não sejam obrigadas a aceitar tal diferenciação ou
preferência. Nos casos em que a legislação interna preveja a declaração de interdição,
quando for necessária e apropriada para o seu bem-estar, esta não constituirá
discriminação. (Art. 2º da Convenção Interamericana para a eliminação de todas as
formas de discriminação contra as pessoas portadoras de deficiência).

Quanto à discriminação com base na orientação sexual ou identidade gênero, a carta


de Princípios de Yogyakarta adverte que se trata de

“qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada na orientação sexual ou


identidade de gênero que tenha o objetivos ou efeito de anular ou prejudicar a igualdade
perante à lei ou proteção igual da lei, ou o reconhecimento, gozo ou exercício, em base
igualitária, de todos os direitos humanos e das liberdades fundamentais. A discriminação
baseada na orientação ou identidade de gênero pode ser, e comumente é, agravada por
discriminação decorrente de outras circunstâncias, inclusive aquelas relacionadas ao
gênero, raça, idade, religião, necessidades especiais, situação de saúde e status
econômico”. (Art. 2º - Princípios de Yogyakarta)

O conjunto de atitudes preconceituosas e discriminatórias constitui o que se chama de


intolerância.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 38

Recentemente, por meio do Decreto 10.932/2022, foi promulgada no Brasil, com status
de Emenda Constitucional, a Convenção Interamericana contra o Racismo, a
Discriminação Racial e Formas Correlatas de Intolerância (Convenção da Guatemala, de
05 de junho de 2013), a qual apresenta algumas terminologias, dentre elas, o conceito de
Intolerância. Para fins de tal Convenção, Intolerância é:

“um ato ou conjunto de atos ou manifestações que denotam desrespeito, rejeição ou


desprezo à dignidade, características, convicções ou opiniões de pessoas por serem
diferentes ou contrárias, podendo se manifestar como a marginalização e a exclusão de
grupos em condições de vulnerabilidade da participação em qualquer esfera da vida
pública ou privada ou como violência contra esses grupos”.

4.3 RACISMO

A título preliminar, é preciso recordar que:


“Os Estados que hoje compõem o continente americano surgiram após tornar-se
independente de diferentes colonizadores europeus. Uma dos principais características e
legados do colonialismo europeu na América foi o estabelecimento de sociedades
coloniais baseadas no racismo, nas quais foram claramente diferenciados os
colonizadores das populações de indígenas e afrodescendentes. Uma das principais
consequências da colonialismo foram as múltiplas formas de discriminação e racismo a
que indígenas e afrodescendentes foram submetidos em toda a extensão do continente
americano.
Por sua vez, a escravidão, além de sustentar as economias coloniais durante séculos nas
Américas e no Caribe, foi também a origem de várias formas de discriminação e racismo
contra pessoas afrodescendentes. Atitudes de intolerância e discriminação racial e etnia
foram reforçadas durante os processos de independência no início do XIX, quando as
novas autoridades continuaram com políticas de exclusão e deliberadamente
estigmatizaram e subjugaram nativos americanos e afro-americanos” (CIDH, 2015).

Segundo Almeida (2019, p. 24). o racismo pode ser entendido a partir de três
concepções: individualista (relação entre racismo e subjetividade), institucional (relação
entre racismo e Estado) e estrutural (relação entre racismo e modo de produção na economia
capitalista).
→ Racismo individual: fenômeno ético ou psicológico de caráter individual ou coletivo,
atribuído a grupos isolados.
→ Racismo institucional: diz respeito à desigualdade de tratamento entre negros e
brancos que ocorre dentro das instituições do Estado. Pode se manifestar tanto na
desigualdades de oferta de oportunidades a um grupo quanto na concessão de privilégios
a outro com base unicamente no tom de pele de cada um.
→ Racismo estrutural: o racismo é fruto de um processo histórico, uma combinação de
atos discriminatórios que tem profundas raízes na sociedade, sendo fato que há o
privilégio a certos grupos étnico-raciais em detrimento de outros; uma decorrência da
própria estrutura social, do modo “normal” com que se constituem as relações políticas,
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 39

econômicas, jurídicas e até familiares, não sendo uma patologia social e nem um
desarranjo institucional” (BELIATO; BORGES, 2022, p. 15).

Na concepção de Jones (1973), além do racismo individual e institucional, existe o


racismo cultural que junta elementos dos dois primeiros e se manifesta na cultura – como o
próprio nome sugere -, nos valores, nas crenças, na língua, na religião etc.
O racismo cultural criou o institucional; ademais, fomenta a perpetuação do individual
quando repassa crenças, valores e culturas de um grupo a outro de forma distorcida:

“No seu sentido mais amplo, o racismo cultural está mais estreitamente ligado ao
etnocentrismo. No entanto, um fator significativo que transcende o simples etnocentrismo
é o poder. Este poder para atingir de maneira significativa as vidas de pessoas étnica ou
culturalmente diversas é o fato que transforma o etnocentrismo branco em racismo
cultural branco”. (JONES, 1973, p.134).

No plano das relações internacionais, a República Federativa do Brasil rege-se, dentre


outros, pelo princípio de: “VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo” (Art. 4º, VIII, CRFB).
No plano interno, emite mandado de criminalização, determinando que a prática de
racismo constitui “crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da
lei” (Art. 5º, XLII, CRFB).

A Lei n.º 7716/1989 (com os acréscimos da Lei n.º 9459/2013) elenca os crimes
resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência
nacional. Condutas que configuram crimes de racismo, exigindo-se, em todas, que tenham
sido praticadas por motivo de discriminação de raça, cor, etnia, religião ou procedência
nacional.

✓ Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente habilitado, a qualquer cargo da


Administração Direta ou Indireta, bem como das concessionárias de serviços públicos.
(Art. 3º)
✓ Obstar a promoção funcional (Art.3º, § único)
✓ Negar ou obstar emprego em empresa privada (art. 4º)
✓ Deixar de conceder os equipamentos necessários ao empregado em igualdade de
condições com os demais trabalhadores; (Art. 4º, §1º, I)
✓ Impedir a ascensão funcional do empregado ou obstar outra forma de benefício
profissional (Art. 4º, §1º, II)
✓ Proporcionar ao empregado tratamento diferenciado no ambiente de trabalho,
especialmente quanto ao salário (Art. 4º, §1º, III)
✓ Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a servir,
atender ou receber cliente ou comprador (Art. 5º)
✓ Recusar, negar ou impedir a inscrição ou ingresso de aluno em estabelecimento de
ensino público ou privado de qualquer grau (Art. 6º).
✓ Impedir o acesso ou recusar hospedagem em hotel, pensão, estalagem, ou qualquer
estabelecimento similar (Art. 7º).
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 40

✓ Impedir o acesso ou recusar atendimento em restaurantes, bares, confeitarias, ou


locais semelhantes abertos ao público (Art. 8º).
✓ Impedir o acesso ou recusar atendimento em estabelecimentos esportivos, casas de
diversões, ou clubes sociais abertos ao público (Art. 9º).
✓ Impedir o acesso ou recusar atendimento em salões de cabeleireiros, barbearias,
termas ou casas de massagem ou estabelecimento com as mesmas finalidades (Art. 10º).
✓ Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou residenciais e
elevadores ou escada de acesso aos mesmos (Art. 11)
✓ Impedir o acesso ou uso de transportes públicos, como aviões, navios barcas,
barcos, ônibus, trens, metrô ou qualquer outro meio de transporte concedido (Art. 12).
✓ Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em qualquer ramo das Forças
Armadas (Art. 13).
✓ Impedir ou obstar, por qualquer meio ou forma, o casamento ou convivência familiar
e social (Art. 14).
✓ Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião
ou procedência nacional (Art 20).
✓ Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos,
distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação
do nazismo. (Art. 20, §1º)

O artigo 140, §3º do Código Penal, por sua vez, tipifica o crime de injúria racial, o qual
dispõe:

Injúria
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:
I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria;
II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.
§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo
meio empregado, se considerem aviltantes:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à
violência.
§ 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia,
religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência:
Pena - reclusão de um a três anos e multa.

Enquanto a injúria racial consiste em ofender a honra de alguém específico valendo-se


de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem, o crime de racismo atinge uma
coletividade indeterminada de indivíduos, discriminando toda a integralidade de uma raça.

Ao contrário da injúria racial, o crime de racismo é inafiançável e imprescritível. Todavia,


tal entendimento pode vir a se alterar em um futuro breve, posto que o Senado aprovou em
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 41

novembro de 2021 Projeto de lei que tipifica a injúria racial como crime de racismo
(PL 4.373/2020) e aumenta a pena para tal crime. O PL seguiu para a análise da Câmara dos
Deputados14

Outra legslação importante sobre o tema é o Estatuto da Igualdade Racial (Lei nº


12.288/2010) e seu Decreto regulamentador (Decreto nº 8.136/2013), que aprova o
Regulamento do Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial – SINAPIR.

Importante, ainda, transcrever os dois primeiros artigos, que explicitam o objetivo do


Estatuto e apresentam algumas terminologias que podem ser objeto de questionamento na
prova do concurso:

“Art. 1o Esta Lei institui o Estatuto da Igualdade Racial, destinado a garantir à população
negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos
individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de
intolerância étnica.

Parágrafo único. Para efeito deste Estatuto, considera-se:

I - discriminação racial ou étnico-racial: toda distinção, exclusão, restrição ou


preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tenha
por objeto anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício, em igualdade de
condições, de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político,
econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública ou privada;

II - desigualdade racial: toda situação injustificada de diferenciação de acesso e fruição


de bens, serviços e oportunidades, nas esferas pública e privada, em virtude de raça, cor,
descendência ou origem nacional ou étnica;

III - desigualdade de gênero e raça: assimetria existente no âmbito da sociedade que


acentua a distância social entre mulheres negras e os demais segmentos sociais;

IV - população negra: o conjunto de pessoas que se autodeclaram pretas e pardas,


conforme o quesito cor ou raça usado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), ou que adotam autodefinição análoga;

V - políticas públicas: as ações, iniciativas e programas adotados pelo Estado no


cumprimento de suas atribuições institucionais;

VI - ações afirmativas: os programas e medidas especiais adotados pelo Estado e pela


iniciativa privada para a correção das desigualdades raciais e para a promoção da
igualdade de oportunidades’.

A citada Convenção Interamericana contra o Racismo, a discriminação Racial e


Formas Correlatadas de Intolerância, além de apresentar o conceito de Intolerância, traz no
artigo 1º os conceitos de discriminação racial, discriminação racial indireta e discriminação
múltipla ou agravada e racismo. Vejamos:

14
Disponível em: Agência Senado. https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2021/11/18/senado-aprova-projeto-
que-classifica-injuria-racial-como-racismo-texto-vai-a-camara.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 42

“1. Discriminação racial é qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência, em


qualquer área da vida pública ou privada, cujo propósito ou efeito seja anular ou restringir
o reconhecimento, gozo ou exercício, em condições de igualdade, de um ou mais direitos
humanos e liberdades fundamentais consagrados nos instrumentos internacionais
aplicáveis aos Estados Partes. A discriminação racial pode basear-se em raça, cor,
ascendência ou origem nacional ou étnica.

2. Discriminação racial indireta é aquela que ocorre, em qualquer esfera da vida pública
ou privada, quando um dispositivo, prática ou critério aparentemente neutro tem a
capacidade de acarretar uma desvantagem particular para pessoas pertencentes a um
grupo específico, com base nas razões estabelecidas no Artigo 1.1, ou as coloca em
desvantagem, a menos que esse dispositivo, prática ou critério tenha um objetivo ou
justificativa razoável e legítima à luz do Direito Internacional dos Direitos Humanos.

3. Discriminação múltipla ou agravada é qualquer preferência, distinção, exclusão ou


restrição baseada, de modo concomitante, em dois ou mais critérios dispostos no Artigo
1.1, ou outros reconhecidos em instrumentos internacionais, cujo objetivo ou resultado
seja anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício, em condições de igualdade,
de um ou mais direitos humanos e liberdades fundamentais consagrados nos
instrumentos internacionais aplicáveis aos Estados Partes, em qualquer área da vida
pública ou privada.

4. Racismo: “qualquer teoria, doutrina, ideologia ou conjunto de ideias que enunciam um


vínculo causal entre as características fenotípicas ou genotípicas de indivíduos ou grupos
e seus traços intelectuais, culturais e de personalidade, inclusive o falso conceito de
superioridade racial”.

4.4 HOMOFOBIA

Homofobia é aversão, ódio, atitudes e sentimentos negativos exteriorizados em relação


às pessoas homossexuais.

Homossexual é a “pessoa que se sente atraída porpessoa do mesmo gênero”


(ACADEPOL, 2022).

A Carta de Princípios de Yogyakarta trata sobre a aplicação da legislação internacional


de direitos humanos em relação à orientação sexual e identidade de gênero, estabelecendo
que “a orientação sexual15 e a identidade gênero16 são essenciais para a dignidade e
humanidade de cada pessoa e não devem ser motivo de discriminação ou abuso”. Foi
concebida pela Comissão Internacional de Juristas e o Serviço Internacional de Direitos
Humanos, em nome de uma coalizão de organizações de direitos humanos, “com o objetivo de

15
“Compreendemos orientação sexual como uma referência à capacidade de cada pessoa de ter uma profunda atração
emocional, afetiva ou sexual por indivíduos de gênero diferente, do mesmo gênero ou de mais de um gênero, assim como
ter relações íntimas e sexuais com essas pessoas” (Princípio de Yogyakarta, 2006).

16
“Compreendemos identidade de gênero a profundamente sentida experiência interna e individual do gênero de cada
pessoa, que pode ou não corresponder ao sexo atribuído no nascimento, incluindo o senso pessoal do corpo (que pode
envolver, por livre escolha, modificação da aparência ou função corporal por meios médicos, cirúrgicos ou outros) e outras
expressões de gênero, inclusive vestimenta, modo de falar e maneirismos”. (Princípio de Yogyakarta, 2006).
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 43

desenvolver um conjunto de princípios jurídicos internacionais sobre a aplicação da legislação


internacional às violações de direitos humanos com base na orientação sexual e identidade de
gênero, no sentido de dar mais clareza e coerência às obrigações de direitos humanos dos
Estados” . 17

Os Princípios de Yogyakarta afirmam normas jurídicas internacionais vinculantes, que


devem ser cumpridas por todos os Estados e cada princípio está acompanhado de
recomendações aos Estados e a outros atores que também têm responsabilidades na
promoção e proteção dos direitos humanos.

Embora o Brasil não possua legislação específica que criminalize atos homofóbicos e
transfóbicos, o Supremo Tribunal Federal, no ano de 2019, equiparou tais atos ao crime de
racismo (previsto na Lei n.º 7.716/1989)18. Assim, toda a violência baseada em preconceito
e discriminação com base na orientação sexual e identidade de gênero das vítimas é
considerada crime de racismo.

No campo administrativo, o Estado de São Paulo prevê punição contra toda “manifestação
atentatória ou discriminatória praticada contra cidadão homossexual, bissexual ou
transgênero”, consoante Lei nº 10.948, de 05 de novembro de 2001, expressamente
mencionada no Edital.

“Artigo 1.º - Será punida, nos termos desta lei, toda manifestação atentatória ou
discriminatória praticada contra cidadão homossexual, bissexual ou transgênero.

Artigo 2.º - Consideram-se atos atentatórios e discriminatórios dos direitos individuais e


coletivos dos cidadãos homossexuais, bissexuais ou transgêneros, para os efeitos desta
lei:

I - praticar qualquer tipo de ação violenta, constrangedora, intimidatória ou vexatória, de


ordem moral, ética, filosófica ou psicológica;

II - proibir o ingresso ou permanência em qualquer ambiente ou estabelecimento público


ou privado, aberto ao público;

III - praticar atendimento selecionado que não esteja devidamente determinado em lei;

IV - preterir, sobretaxar ou impedir a hospedagem em hotéis, motéis, pensões ou


similares;
V - preterir, sobretaxar ou impedir a locação, compra, aquisição, arrendamento ou
empréstimo de bens móveis ou imóveis de qualquer finalidade;

17
Para retormar o conceito de discriminação em razão da identidade de gênero e orientação sexual da Carta de
Princípios de Yogyakarta, vide item 4.2 – Discrimação.

18
ADO 26 - DF e MI 4.733
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 44

VI - praticar o empregador, ou seu preposto, atos de demissão direta ou indireta, em


função da orientação sexual do empregado;

VII - inibir ou proibir a admissão ou o acesso profissional em qualquer estabelecimento


público ou privado em função da orientação sexual do profissional;

VIII - proibir a livre expressão e manifestação de afetividade, sendo estas expressões e


manifestações permitidas aos demais cidadãos.

Artigo 3.º - São passíveis de punição o cidadão, inclusive os detentores de função


pública, civil ou militar, e toda organização social ou empresa, com ou sem fins lucrativos,
de caráter privado ou público, instaladas neste Estado, que intentarem contra o que
dispõe esta lei”.

São previstas as seguintes penalidades, no artigo 6º

I - advertência;
II - multa de 1000 (um mil) UFESPs - Unidades Fiscais do Estado de São Paulo;
III - multa de 3000 (três mil) UFESPs - Unidades Fiscais do Estado de São Paulo, em
caso de reincidência;
IV - suspensão da licença estadual para funcionamento por 30 (trinta) dias;
V - cassação da licença estadual para funcionamento.
§ 1.º - As penas mencionadas nos incisos II a V deste artigo não se aplicam aos órgãos e
empresas públicas, cujos responsáveis serão punidos na forma do Estatuto dos
Funcionários Públicos Civis do Estado - Lei n. 10.261, de 28 de outubro de 1968.

Os servidores públicos que, “no exercício de suas funções e/ou em repartição pública,
por ação ou omissão, deixarem de cumprir os dispositivos da presente lei”, serão
responsabilizados conformidade do Estatuto dos Funcionários Públicos do Estado de São
Paulo.

4.5 TRANSFOBIA19

Segundo a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH, 2017),

“O termo trans é um termo “guarda-chuva” usado para descrever as diferentes variantes


da identidade de gênero, cujo denominador comum é a não conformidade entre o sexo
atribuído ao nascimento da pessoa e a identidade de gênero tradicionalmente atribuída a
ela. Uma pessoa transgênero ou trans pode se identificar com os conceitos de homem,
mulher, homem trans, mulher trans e pessoa não binária, ou com outros termos como
hijra, terceiro gênero, biespiritual, travesti, fa'afafine, queer, transpinoy, muxé, wariae
meti”.

19
Para acesso a glossário detalhado sobre identidade de gênero e orientação sexual, vide UEDA, Fernana dos Santos.
Gênero líquido e a formação do policial brasileiro. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade de Sorocaba,
Sorocaba, 2020. Disponível em: Link.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 45

Transfobia pode ser definida como o ódio ou intolerância às pessoas transgêneros /


transexuais e à diversidade de gênero a partir da crença enraizada de que a identidade de uma
pessoa deve necessariamente corresponder ao seu sexo biológico20.

Transgênero/Transexuais são “pessoas que psicologicamente são de um sexo e


anatomicamente de outro, rejeitando o próprio órgão sexual biológico” (UEDA, 2020, p. 231).

Transhomem ou homem transgênero: “quem se identifica com o gênero masculino


(homem) e não com o sexo biológico de nascimento (feminino), independente de operação de
redesignação de sexo, harmonização e alteração documental” (ACADEPOL, 2022).

Transmulher ou mulher transgênero: “quem se identifica com o gênero feminino


(mulher) e não com o sexo biológico de nascimento (masculino), independentemente de
operação de redesignação de sexo, harmonização e alteração documental” (ACADEPOL,
2022).

A Travesti: “Conceito autodeclarado de indivíduo que, embora nascido com o sexo


masculino, se identifica com o universo feminino, usa vestes femininas e se comporta como
pessoa do gênero feminino” (ACADEPOL, 2022).

No atendimento na delegacia de polícia, quando do registro de ocorrência envolvendo


mulher ou homem trans, travesti ou pessoa de gênero neutro, deverá ser indagado o NOME
SOCIAL, que deverá constar no sistema e em todas as peças de polícia judiciária, em
conformidade com a Lei nº 10948/2001 e Decreto Estadual nº 55.588/2010 (ACADEPOL, 2022).

4.6 IGUALDADE

Conceito que teve origem na formação do Estado Liberal e se consubstanciava na mera


abstração legal baseada na previsão legislativa de submissão de todos aos ditames da lei
(igualdade formal).

“Naquele cenário, não é de se admirar que a igualdade tenha se tornado um instrumento


que beneficiava apenas uma elite econômica. Tratava-se de uma igualdade apenas
formal, que fechava os olhos para a injustiça e a opressão presentes na vida social. Na
sua abstração, ela permitia a circulação de bens entre os proprietários, mas não se
propunha a modificar o status quo de profunda assimetria social existente, coonestando,
com seu silêncio, a opressão dos mais fortes sobre os mais fracos. (...) Assim, pode-se
dizer que no Estado Liberal-Burguês, como na Fazenda dos Bichos de George Orwell,

20
Sexo biológico: “características biológicas observadas no nascimento (cromossomos, genitais e órgãos reprodutivos).
A pessoa pode ter sido identificada ao nascer como masculino / macho (escroto e pênis), feminino / fêmea (vulva e
vagina) ou intersexual (quando apresenta traços dos dois sexos)”. (ACADEPOL, 2022).

Gênero: “Refere-se às identidades, papéis e atributos socialmente construídos de mulheres e homens e o significado
social e cultural atribuído a essas diferenças biológicas” (CIDH, 2017).
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 46

todos eram iguais, mas alguns eram mais iguais do que os outros” (SARMENTO, 2006,
p. 143).
Ante a necessidade de se corrigir os graves problemas sociais, o Estado precisou atuar
e promover políticas públicas com uma distribuição de renda e de oportunidades, sob pena de
inviabilizar na prática o exercício, pela maioria do povo, dos direitos legalmente previstos. Ao
implantar políticas públicas com a finalidade de atender aos objetivos fundamentais da ordem
jurídica cristalizados na Constituição Federal, o Estado assegura a igualdade substancial, e não
meramente formal.

“Só na fase final do século XX, a preocupação com o direito à diferença incorpora-se
definitivamente ao discurso da igualdade. Torna-se evidente, então, que o direito de cada
pessoa de ser tratada com igualdade em relação aos seus concidadãos exige uma
postura de profundo respeito e consideração à sua identidade cultural, ainda quando esta
se distancie dos padrões hegemônicos da sociedade envolvente. O respeito, a
preservação e a promoção das culturas dos grupos minoritários convertem-se assim
numa das dimensões fundamentais do princípio da igualdade. [...] Neste quadro, a
afirmação concreta dos direitos dos afrodescendentes no Brasil precisa transcender a
isonomia meramente formal, para buscar a inclusão efetiva dos negros na sociedade, em
igualdade real de condições com os brancos” (SARMENTO, 2006, p. 146-147).

Nessa conjuntura, ganham destaque as ações afirmativas para a promoção da


igualdade material.

4.7 AÇÕES AFIRMATIVAS

Ações afirmativas ou (discriminações positivas) são “programas e medidas especiais


adotadas pelo Estado ou pela iniciativa privada para a prevenção ou correção das
desigualdades socioeconômicas, de gênero, raça, deficiência, ou outra, para a promoção da
igualdade de oportunidades” (baseado no Estatuto da Igualdade Racial, Lei n.º 12.228 de 20
de julho de 2010).

“Para possibilitar que a igualdade material entre as pessoas seja levada a efeito, o Estado
pode lançar mão de políticas de cunho universalista, que abrangem um número
indeterminado de indivíduos, mediante ações de natureza estrutural, seja de ações
afirmativas, que atingem grupos sociais determinados, de maneira pontual, atribuindo a
estes certas vantagens, por um tempo limitado, de modo a permitir-lhes a superação de
desigualdades decorrentes de situações históricas particulares” (BRASIL, 2012a, p. 4-5).

5. VIGÊNCIA E EFICÁCIA DOS DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS, DOS DIREITOS


ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS E DOS DEMAIS DIREITOS

Destaca a doutrina que, devido aos conflitos latentes entre os blocos mundiais soviético
e "ocidental" após o fim da Segunda Guerra Mundial, a ideia inicial das Nações Unidas – de
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 47

construir uma Carta Internacional de Direitos Humanos, composta pela Declaração Universal
e um pacto internacional – acabou sendo cindida em dois Pactos, sendo um deles liberal,
voltado aos direitos civis e políticos e outro mais social, voltado aos direitos econômicos, sociais
e culturais.

Acertadamente, Hector Gros Espiell (1986, p. 16-17) reforça a característica de


indivisibilidade e a interdependência dos direitos humanos. Sobre os direitos civis e políticos e
direitos econômicos, sociais e culturais, preleciona que:

“Só o reconhecimento integral de todos esses direitos pode assegurar a existência real
de cada um deles, já que sem a efetividade de gozo dos direitos econômicos, sociais e
culturais, os direitos civis e políticos se reduzem a meras categorias formais.
Inversamente, sem a realidade dos direitos civis e políticos, sem a efetividade da liberdade
entendida em seu mais amplo sentido, os direitos econômicos, sociais e culturais
carecem, por sua vez, de verdadeira significação.
Essa idéia da necessária integralidade, interdependência e indivisibilidade quanto ao
conceito e à realidade do conteúdo dos direitos humanos, que de certa forma está implícita
na Carta das Nações Unidas, se compila, amplia e sistematiza em 1948, na Declaração
Universal de Direitos Humanos, e se reafirma definitivamente nos Pactos Universais de
Direitos Humanos, aprovados pela Assembléia Geral em 1966, e em vigência desde 1976;
na Proclamação de Teerã, de 1968; e na Resolução da Assembléia Geral, adotada em
16 de dezembro de 1977, sobre os critérios e meios para melhorar o gozo efetivo dos
direitos e das liberdades fundamentais (Resolução n. 32/130)”.

O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (PIDCP) e o Pacto Internacional dos
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC) vieram, então, para assegurar a força
jurídica vinculante da DUDH.

A junção destes dois Pactos e a DUDH formam a Carta Internacional dos Direitos
Humanos (International Bill of Rights) (PIOVESAN, 2007, p. 152).

O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (PIDCP) foi promulgado no Brasil
pelo Decreto nº 592, de 06 de julho de 1992.

Principais direitos consagrados (Art. 6º e ss - PIDCP):

→ Vida
→ Anistia, indulto ou comutação da pena
→ Não condenação à pena de morte para crimes cometidos por menores de 18 anos
ou mulheres em estado de gravidez
→ Não ser torturado
→ Não ser submetido a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes
→ Não ser submetido a experiências médicas ou científicas sem consentimento
→ Não ser escravizado
→ Não ser submetido à servidão
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 48

→ Não ser obrigado a executar trabalhos forçados


→ Liberdade e segurança pessoal
→ Não ser preso arbitrariamente
→ Se preso, ser informado das razãoes da prisão e ser conduzido à presença do juiz
ou outra autoridade habilitada por lei a exercer as funções judiciais
→ Julgamento em prazo razoável
→ Recorrer a um Tribunal, em caso de condenação
→ Reparação nos casos de prisões ilegais
→ Não ser preso por inadimplemento de obrigação contratual
→ Circular livremente no território do Estado e escolher a residência, desde que se
ache legalmente em tal território
→ Presunção de inocência enquanto não for legalmente comprovada sua culpa.
→ Reconhecimento da personalidade jurídica
→ Não ter ingerências arbitrárias ou ilegais na vida privada, em sua família, em seu
domicílio ou em sua correspondência
→ Liberdade de expressão, pensamento, de consciência e de religião.
→ Reunir-se pacificamente.
→ Livre Associação.
→ Participação política
→ Acesso, em condições gerais de igualdade, às funções públicas de seu país

O Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais foi promulgado


no Brasil pelo Decreto n.º 591 de 06 de julho de 1992.

Principais direitos consagrados (Art. 6º e ss - PIDESC):

→ Trabalho livremente escolhido ou aceito


→ Salário eqüitativo e uma remuneração igual por um trabalho de igual valor
→ À segurança e a higiene no trabalho;
→ Igual oportunidade para todos de serem promovidos, em seu trabalho, à categoria
superior que lhes corresponda, sem outras considerações que as de tempo de
trabalho e capacidade
→ Descanso, lazer, limitação razoável das horas de trabalho e férias periódicas
remuneradas, assim como a remuneração dos feridos
→ Fundar sindicatos e filiar-se a sindicato de escolha
→ Greve
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 49

→ Proteção especial às mães por um período de tempo razoável antes e depois do


parto – licença remunerada ou licença acompanhada de beneficios previdenciários
adequados
→ Alimentação, vestimenta, moradia
→ Desfrutar o mais elevado nível possível de saúde física e mental
→ Educação primária obrigatória e acessível gratuitamente a todos
→ Vida cultural

6. INCORPORAÇÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS


AO DIREITO BRASILEIRO. CONFLITOS

6.1 Incorporação dos Tratados Internacionais de Direitos Humanos ao direito brasileiro

As fases para incorporação dos Tratados Internacionais de Direitos Humanos ao direito


brasileiro são:

1 - ASSINATURA PELO PRESIDENTE: competência privativa do Presidente da


República. É aceite precário.
2 - APROVAÇÃO PELO CONGRESSO NACIONAL: é a fase do Decreto
Legislativo.
3 - RATIFICAÇÃO E DEPÓSITO NO ÓRGÃO INTERNACIONAL: certidão de
nascimento jurídico do tratado internacional - vinculação internacional. A
confirmação se dá por critérios de conveniência e oportunidade e é ato de
competência exclusiva do Presidente da República.
4 - PROMULGAÇÃO DO TRATADO INTERNACIONAL - transformação do tratado
internacional em lei interna do país (produção de efeitos internos). No Brasil, ocorre
a edição de um decreto executivo promulgando o tratado.

Teses doutrinárias sobre a natureza jurídica formal dos tratados internacionais sobre
direitos humanos:
a) natureza supraconstitucional - os tratados valem mais do que a própria
Constituição, de modo que prevalecem sobre a constituição num eventual conflito;
b) natureza constitucional - os tratados valem tanto quanto a Constituição, estando
hierarquicamente equiparados às normas constitucionais;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 50

c) natureza supralegal - os tratados valem menos do que a Constituição, mas mais


do que a lei, de modo que não se sobrepõem à Constituição, mas prevalecem sobre
a lei.
d) natureza legal - os tratados valem menos do que a Constituição e tanto quanto
uma lei, de modo que não podem jamais se sobreporem à Constituição.

Com o advento da Emenda Constitucional 45/2004, que acrescentou o § 3º ao art. 5°


da CRFB/88, os Tratados passaram a ter natureza supralegal como regra e terão natureza
constitucional (status de Emenda Constitucional) se forem aprovados em cada Casa do
Congresso Nacional, em dois turnos, por 3/5 dos votos.

A natureza supralegal abrange todos os tratados sobre direitos humanos que não
passaram pelo procedimento do art. 5, § 3º, inclusive aqueles que foram aprovados antes da
EC 45/04.

Até o presente momento, são quatro os tratados vigentes no Brasil com status de
emenda constitucional:

I.CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

II.PROTOCOLO FACULTATIVO À CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DAS


PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

A Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência e seu Protocolo Facultativo


têm por propósito “promover, proteger e assegurar o desfrute pleno e eqüitativo de todos os
direitos humanos e liberdades fundamentais por parte de todas as pessoas com deficiência e
promover o respeito pela sua inerente dignidade”.

E considera Pessoas com deficiência “aquelas que têm impedimentos de natureza


física, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir
sua participação plena e efetiva na sociedade com as demais pessoas”.

III. TRATADO DE MARRAQUECHE

O Tratado de Marraqueche para Facilitar o Acesso a Obras Publicadas às Pessoas


Cegas, com Deficiência Visual ou com Outras Dificuldades para Ter Acesso ao Texto Impresso
(“Tratado de Marraqueche”) (Decreto nº 9.522, de 8 de outubro de 2018), objetiva suprir a
carência de livros e de outras obras vivenciada pelas pessoas com deficiência em todo o
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 51

mundo, criando condições para a disseminação de obras intelectuais em formatos acessíveis


mediante limitações ou exceções obrigatórias aos direitos autorais.

Após a promulgação do Tratado, o Governo Federal, por meio da Secretaria Nacional


de Direitos Autorais e Propriedade Intelectual – SNDAPI da Secretaria Especial da Cultura,
criou um Grupo de Trabalho com o objetivo de analisar e propor ações, procedimentos e
instrumentos normativos para a regulamentação e a implementação do Tratado, sendo
publicado em 03 de dezembro de 2021 o novel Decreto nº 10.882.

O Tratado reforça as previsões da Lei nº 13.146/2018 (Estatuto da Pessoa com


Deficiência) que prevê em seu artigo 42, § 1º, que “é vedada a recusa de oferta de obra
intelectual em formato acessível à pessoa com deficiência, sob qualquer argumento, inclusive
sob a alegação de proteção dos direitos de propriedade intelectual.”.

O Tratado de Marraqueche tem como escopo a produção e troca de livros a partir de


entidades autorizadas e o fornecimento gratuito aos beneficiários. “Desse modo, essas duas
normas são complementares e não excludentes, tendo como intuito ampliar a oferta de livros
em formatos acessíveis” (BRASIL, 2021).

IV.CONVENÇÃO INTERAMERICANA CONTRA O RACISMO, A DISCRIMINAÇÃO


RACIAL E FORMAS CORRELATAS DE INTOLERÂNCIA

A Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação Racial e Formas


Correlatas de Intolerância, também conhecida como Convenção da Guatemala, foi adotada
na ocasião da 43ª Sessão Ordinária da Assembleia Geral da Organização dos Estados
Americanos, em 5 de junho de 2013., aprovada no Brasil pelo Congresso Nacional em 18 de
fevereiro de 2021 (Decreto Legislativo nº 1/2021) e internalizada com status constitucional, após
seguir o procedimento descrito no art. 5º, §3º, CR/88, sendo finalmente promulgada pelo
Decreto nº 10.932, de 10 de janeiro de 2022.

Reforçam-se, com este Tratado, os valores defendidos na Constituição Federal e nas


Leis nºs 7.716/1989 (Preconceito Racial) e Lei nº 12.288/2010 (Estatuto da Igualdade Racial),
afirmando-se a igualdade entre todos os seres humanos e igual proteção contra o racismo, a
discriminação racial e formas correlatas de intolerância, em qualquer esfera da vida pública ou
privada.

Além de determinar expressamente que os Estados devem “prevenir, eliminar, proibir e


punir os atos e manifestações de racismo, discriminação racial e formas correlatas de
intolerância”, há ainda ordem para que se adotem políticas especiais e ações afirmativas para
a garantia desses direitos.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 52

6.2 Conflitos e o Controle de Convencionalidade

Conflito entre DIDH x Legislação ordinária

O Direito Internacional dos Direitos Humanos (DIDH) prevalece sobre a legislação


ordinária. Quando há conflito entre ela e o tratado internacional de direitos humanos, vale o
tratado (que conta com primazia, com posição hierárquica superior), sendo indiferente se o
direito ordinário é precedente ou posterior ao tratado. Em ambas as hipóteses, desde que
conflitante com o DIDH, afasta-se a sua aplicabilidade (sua validade).
Quando ocorre a incompatibilidade vertical ascendente (entre o direito interno e o
DIDH) resolve-se em favor da norma hierarquicamente superior (norma internacional),
que produz "efeito paralisante" da eficácia da norma inferior (c.f. voto do Min. Gilmar
Mendes ).

Conflito entre DIDH x CRFB

Quando os tratados internacionais conflitam com a Constituição brasileira, isto é, quando


a incompatibilidade vertical ocorrer entre o DIDH e a CF, pode gerar duas situações:

(a) Se o Tratado não restringe nem elimina qualquer direito ou garantia previsto
na CF brasileira (explicita ou amplia o seu exercício), não se discute a validade e
prevalência da norma internacional (porque ela está complementando a CRFB,
especificando um direito ou garantia ou ampliando o seu exercício). (cf. RHC 79.785,
rel. Min. Sepúlveda Pertence), compondo, assim, o chamado "bloco de
constitucionalidade" (que é a somatória daquilo que se adiciona à Constituição, em
razão dos seus valores e princípios).

Quando tratados ampliam o exercício de um direito ou garantia, eles terão incidência,


paralisando-se a eficácia normativa da regra interna em sentido contrário (eficácia
paralisante - invalidante), como ocorreu no caso sobre prisão civil do depositário
infiel. Não houve “revogação” do artigo constitucional que previa a prisão, mas
invalidade porque conflitante com normas de direitos humanos mais favoráveis
(princípio pro homine), no caso o Pacto de San José da Costa Rica (art. 7º, 7) e o
PIDCP (art. 11).

(b) Quando o Tratado conflita com a CF/88 (restringindo, suprimindo, impondo


modificação gravosa ou eliminando um direito ou garantia constitucional), não há que
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 53

se discutir sobre a primazia do texto constitucional, até mesmo em razão do princípio


da proibição de retrocesso em matéria de direitos humanos. Ao caso concreto, aplica-
se sempre a norma mais favorável ao exercício do direito ou da garantia.

Controle de convencionalidade

O controle de convencionalidade, cumpre explanar a lição de Mazzuoli (2021, p. 888)


para quem o controle de convencionalidade consite:

“na análise da compatibilidade dos atos internos (comissivos ou omissivos) em face das
normas internacionais (tratados, costumes internacionais, princípios gerais de direito, atos
unilaterais, resoluções vinculantes de organizações internacionais).
Esse controle pode ter efeito negativo ou positivo: o efeito negativo consiste na
invalidação das normas e decisões nacionais contrárias às normas internacionais,
resultando no chamado controle destrutivo ou saneador de convencionalidade; o efeito
positivo consiste na interpretação adequada das normas nacionais para que estas sejam
conformes às normas internacionais (efeito positivo do controle de convencionalidade),
resultando em um controle construtivo de convencionalidade”.
Dessa forma, o controle de convencionalidade serve como instrumento para garantir
aplicação mais qualificada das normas jurídicas e demais espécies normativas produzidas no
sistema doméstico, bem como das decisões emanadas de tribunais internacionais de direitos
humanos. “Os tratados incorporados pelo rito especial previsto no art. 5º, § 3º, da CF/88
passam a integrar o bloco de constitucionalidade restrito, ... podendo servir de parâmetro para
avaliar a constitucionalidade de uma norma infraconstitucional qualquer” (MAZZUOLI, 2021, p.
872).

Segundo Ibrahin, “no Brasil, o controle de convencionalidade vem sendo, ainda que
timidamente, aplicado pelos Tribunais e Juízes”, como ocorreu no supracitado entedimento do
Supremo Tribunal Federal em relação a prisão do depositário infiel, e em outros casos como
quando “a Corte Superior decidiu pela inexigência do diploma de curso superior para o exercício
da profissão de jornalista21; ao decidir a respeito da Audiência de Custódia22; quando o Superior
Tribunal de Justiça analisou a compatibilidade do delito de desacato23 face aos tratados
internacionais de Direitos Humanos, decidindo ao final por sua convencionalidade” (IBRAHIN,
2021, p. 52).

É crescente na doutrina o entendimento de que o Delegado de Polícia, autoridade


pública de carreira jurídica e primeira garantidora da legalidade e da justiça (BRASIL, 2012b),
deve fazer a aferição da convencionalidade das leis no caso concreto, “ainda que em juízo de

21
STF, RE 511961, Relator Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 17/06/2009.
22
STF, ADI 5240/SP, Voto do Min. Teori Zavascki, julgado em 20/08/2015.
23
STJ, HC 379.269/MS, 3ª Seção, julgado em 29/05/2017.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 54

congnição sumária”, sempre “balizando suas decisões em sua autonomia profissional e


conhecimentos técnico-jurídicos... e zelando pelo prevalecimento do respeito aos direitos e
garantias preconizados constitucionalmente e conforme os precedentes da Corte
Interamericana de Direitos Humanos” (LIMA, 2022, p. 268). A esse respeito, imperiosa a
transcrição da lição de Mazzuoli sobre o tema:

“Poderá o Delegado de Polícia, assim, detectar a inconvencionalidade de norma interna


que inviabilize, v.g., a efetivação de uma garantia pessoal amparada pelo sistema
internacional de proteção de direitos humanos.

A Corte Interamericana de Direitos Humanos já deliberou sobre o tema no Caso Jesus


Vélez Loor Vs. Panamá, quando entendeu que ‘ditas características não só devem
corresponder aos órgãos estritamente jurisdicionais, senão que as disposições do artigo
8.1 da Convenção se aplicam também às decisões de órgãos administrativos’,
determinando, em conclusão, que ‘[t]oda vez que em relação a esta garantia corresponda
ao funcionário a tarefa de prevenir ou fazer cessar as detenções ilegais ou arbitrárias, é
imprescindível que dito funcionário tenha a faculdade de por em liberdade a pessoa caso
sua detenção tenha sido ilegal ou arbitrária’.

Em suma, a Polícia Judiciária é instituição que exerce função de Estado e à qual


também compete destinar ao investigado e à vítima uma atuação diligente,
respeitosa, garantista e que atente a uma duração razoável. (MAZZUOLI, 2021, p.
400)”. (g.n).

No mesmo sentido, Ibrahin (2021, p. 56):

“O Delegado de Polícia tem legitimidade24 e o dever de aferir o controle de


convencionalidade em suas decisões, de forma motivada e devidamente fundamentada.
Após, novamente o controle de convencionalidade deverá ser apreciado pelo Poder
Judiciário e aferido pelo Ministério Público. Há um encadeamento de autoridades em
busca da concretização da justiça”.

Assim, em sua atuação profissional e especialmente na presidência do inquérito policial


– seu principal instrumento de trabalho - o Delegado de Polícia deverá proceder à “devida
investigação legal” (BALDAN, p. 165) ou como prefere Coelho (2017, p. 48) “devida
investigação criminal” o que pressupõe assegurar o respeito à dignidade da pessoa humana
(princípio de maior valor axiológico na Constituição Federal e base dos Direitos Humanos),
possuindo legitimidade (e o dever) para aferir a constitucionalidade e a convencionalidade na
sua análise técnico-jurídica dos fatos.

24
Projeto de Lei nº2622 de 2019, em trâmite perante o Senado Federal que pretende alterar a Lei nº 12.830, de 20 de
junho de 2013, para estabelecer a possibilidade de o delegado de polícia realizar o controle difuso de constitucionalidade
e de convencionalidade. Disponível em: Link
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 55

7. SISTEMA INTERNACIONAL DE PROMOÇÃO E PROTEÇÃO DOS DIREITOS


HUMANOS

O sistema global (ou universal ou onusiano) de direitos humanos é o sistema estruturado


em torno da Organização das Nações Unidas (ONU), inaugurado com a Carta das Nações
Unidas, em 1945, em São Francisco, nos Estados Unidos. A cientista brasileira e ativista
feminista Bertha Lutz (1894-1976) foi uma das responsáveis pela inclusão do tópico da
igualdade de gênero, de direitos de homens e mulheres na Carta das Nações Unidas.

“Do ponto de vista de sua estrutura organizacional, a ONU possui diversos órgãos que
atuam em torno dos direitos humanos, a exemplo do Alto Comissariado para os Direitos
Humanos e do Conselho de Direitos Humanos. O Alto Comissariado das Nações Unidas
para os Direitos Humanos é uma espécie de escritório central sobre direitos humanos e o
Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas é um órgão que assessora a
Assembléia Geral da ONU em matéria de Direitos Humanos. A ONU possui ainda diversos
Comitês, instituídos em cada convenção específica, com denominação correspondente
ao instrumento normativo” (BARRETTO, 2019, p. 140).

A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), é o principal instrumento do


sistema global de direitos humanos. Foi aprovada com status de Resolução, daí que,
originariamente, do ponto de vista formal, ela não teria força de lei e não seria juridicamente
obrigatória. Todavia, de forma gradativa, ganhou força a necessidade de se reconhecer o valor
jurídico material da Declaração, no sentido de ela ser fonte de interpretação de todo o Direito
Internacional dos Direitos Humanos, “o que significa dizer que não se pode afirmar que ela seja
desprovida de força jurídica” (BARRETTO, 2019, p. 148).

Além da DUDH, outros dois instrumentos são os pilares de sustentação do sistema global:
o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (Pacto Civil) e o Pacto Internacional sobre
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (Pacto Social), assinados em Nova York, em 1966 e
formam o que a doutrina chama de “Carta Internacional de Direitos” (International Bill of Rights)
(PIOVESAN, 2007, p. 152).
O Edital do concurso para Delegado no Estado de São Paulo prevê possível cobrança de
conhecimento desses instrumentos, bem como de todos os Tratados de Direitos Humanos
ratificados pelo Brasil (tanto do sistema global de proteção, quanto do regional). No capítulo II
deste Ebook você encontrará tais instrumentos, organizados de forma cronológica

8. SISTEMAS REGIONAIS DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS

Atualmente, são três os sistemas regionais de proteção em funcionamento: o Europeu, o


Interamericano e o Africano. Cada qual possui especificidades de acordo com seu território de
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 56

atuação. Um quarto sistema começa a despontar, a Liga dos Estados Árabes, mas ainda é
muito incipiente. A Carta Árabe dos Direitos Humanos25, de 1994, é seu documento fundador.

Importa frisar que

“os sistemas global e regional não são dicotômicos, mas complementares. Inspirados nos
valores e princípios da Declaração Universal, compõem o universo instrumental de
proteção dos direitos humanos no plano internacional. Sob essa ótica, os diversos
sistemas interagem em benefício dos indivíduos protegidos. O propósito da coexistência
de distintos instrumentos jurídicos - garantindo os mesmos direitos - é, pois, ampliar e
fortalecer a proteção dos direitos humanos. O que importa é o grau de eficácia da proteção
e, por isso, deve ser aplicada a norma que ofereça melhor proteção à vítima, em cada
caso concreto” (PIOVESAN, 2004, p. 25).

• O SISTEMA EUROPEU

Ante as atrocidades ocorridas durante as grandes Guerras Mundiais, o continente


europeu concluiu que deveria ser implantado um “standard” mínimo de proteção aos direitos
humanos, na esperança de se evitar novos flagelos. Assim, buscaram a união e cooperação
entre si para atuar individualmente no cenário internacional e algumas organizações
internacionais começaram a ser criadas (PIOVESAN, 2002).

Esses padrões mínimos de proteção foram estabelecidos na Convenção sobre Direitos


Humanos de 1950, que criou três órgãos de monitoramento: a Comissão Europeia de Direitos
Humanos (1954), a Corte Europeia de Direitos Humanos (1959) e o Comitê de Ministros do
Conselho da Europa (1959).

• O SISTEMA AFRICANO

O Sistema Regional Africano foi criado em 1963, durante a sessão ordinária da


Assembleia de Chefes de Estado e Governo, que criou a Organização da Unidade Africana
(OUA), substituída posteriormente pela União Africana (UA), o alicerce do Sistema Regional
Africano. Os objetivos da OUA, segundo o artigo 2º do ato constitutivo firmado em AdisAbeba,
eram os seguintes:

1) reforçar a unidade e a solidariedade entre os membros;

2) defender sua soberania, integridade territorial e independência;

3) eliminar todas as formas de colonialismo na África.

Em junho de 1981, foi votado o projeto da Carta Africana (conhecida como Carta de
Banjul), que foi aprovado e assinado pelos membros da organização. Cinco anos mais tarde,

25
Disponível versão em inglês: http://hrlibrary.umn.edu/instree/loas2005.html.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 57

em 21 de outubro de 1986, após atingir o número mínimo de ratificações necessárias, a Carta


entrou em vigor (PIOVESAN, 2002).

• O SISTEMA INTERAMERICANO

O sistema interamericano de proteção aos direitos humanos é formado pelos Estados


membros da Organização dos Estados Americanos (OEA) e integra o sistema regional de
proteção juntamente com os sistema europeu e africano.

Considera-se seu início formal com a aprovação da Declaração Americana de Direitos


e Deveres do Homem, em 1948, na Colômbia (antes mesmo da aprovação da DUDH). Além
da Declaração Americana, há outros instrumentos de alcance geral que fazem parte do
sistema interamericano, como a Convenção Americana sobre os Direitos Humanos ou “Pacto
de San José” (1969), ratificada pelo Brasil em 25/09/92, e instrumentos de alcance especial,
como a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a Corte Interamericana de
Direitos Humanos, meios de proteção previstos no referido Pacto.

Ao ratificar a Convenção Americana, o Brasil aceitou compulsoriamente a competência


da Comissão para receber denúncias de casos individuais de violações de direitos humanos.
Todavia, para que a competência contenciosa da Corte seja aceita, é necessário que o Estado
assim se manifeste expressamente – o que o Brasil fez, pelo Decreto Legislativo 89.

O único órgão internacional que têm competência para aceitar denúncias de casos
individuais do Brasil é a Comissão Interamericana conforme estabelece a Convenção
Americana no seu artigo 44:

“Qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade não-governamental legalmente


reconhecida em um ou mais Estados-membros da Organização, pode apresentar à
Comissão petições que contenham denúncias ou queixas de violação desta Convenção
por um Estado-parte.”

Não existe hierarquia entre o sistema global e o sistema regional (interamericano) de


proteção dos direitos humanos. Ambos unem esforços para proteger da forma mais integral
possível os direitos da pessoas humana e por isso o critério adotado para evitar eventuais
conflitos entre os vários instrumentos internacionais é o de prevalência da norma mais
benéfica para a vítima de violações de direitos humanos.

O Sistema Interamericano foi concebido contando com dois órgãos de funções


complementares, mas distintas: a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a Corte
Interamericana de Direitos Humanos.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 58

→ Comissão Interamericana de Direitos Humanos

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos é o órgão principal e autônomo da


Organização dos Estados Americanos (OEA), e um dos dois órgãos de monitoramento do
Sistema Interamericano de proteção e promoção dos direitos humanos, regida por um Estatuto
(Aprovado pela resolução AG/RES. 447 (IX‐O/79), adotada pela Assembleia Geral da OEA, em
La Paz, Bolívia, em outubro de 1979).

Dentre suas atribuições está receber, analisar e investigar petições, realizar visitas in
loco, fazer recomendações aos Estados membros, apresentar casos à jurisdição da Corte
Interamericana, solicitar opiniões consultivas à Corte Interamericana, realizar e publicar estudos
sobre diferentes temas, dentre outros.

É composta por sete membros independentes que atuam a título pessoal, eleitos pela
Assembleia Geral da OEA, os quais não representam nenhum país em particular. Os membros
da Comissão serão eleitos por quatro anos e só poderão ser reeleitos uma vez.

A Comissão recebe petições individuais e interestatais contendo alegações de


violações de direitos humanos em relação à Convenção Americana sobre Direitos
Humanos, e não somente a vítima pode peticionar, como qualquer outra pessoa pode
denunciar a violação de direitos humanos de terceiros, sendo que a própria Comissão pode, de
ofício, iniciar um procedimento contra determinado Estado, para verificar essa suposta violação
(RAMOS, 2021, p. 684).

→ Corte Interamericana De Direitos Humanos

A Corte Interamericana de Direitos Humanos está sediada em São José, Costa Rica, e
é uma instituição judicial autônoma da OEA. Tem a função de interpretar e aplicar a
Convenção Americana sobre Direitos Humanos e outros tratados do Sistema
Interamericano de Proteção. Foi criada em 1979 e é composta de sete juízes, escolhidos pelos
Estados Partes da Convenção, para um mandato de seis anos e só poderão ser reeleitos
uma vez.

Tais juízes são eleitos a título pessoal, os quais possuem “a mais alta reputação moral e
reconhecida competência no campo dos direitos humanos”. Apenas dois juristas brasileiros já
ocuparam o cargo de juízes permanentes (desconsiderando-se os juízes ad hoc): (i) Juiz
Cançado Trindade (1995-2006 – dois mandatos) e (ii) Juiz Roberto Caldas (2013-2018 –
mandato único, tendo renunciado por motivos pessoais antes do seu fim do seu período
(RAMOS, 2021, p. 695).
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 59

A Corte possui competência contenciosa e consultiva. Apenas Estados e Comissão


podem acionar diretamente a Corte.

As últimas manifestações da CIDH em relação ao Brasil foram estas26:

02/03/2022
Washington D.C. - A Relatoria Especial para a Liberdade de Expressão da Comissão
Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) condena o assassinato do jornalista
Givanildo Oliveira em Fortaleza, Ceará, e insta que o Estado brasileiro investigue os fatos
de forma completa, efetiva e imparcial, levando em consideração o trabalho do jornalista
como possível motivo do crime, e sancione os responsáveis.

24/01/2022

Washington, D.C./ Santiago do Chile - A Comissão Interamericana de Direitos Humanos


(CIDH) e o Escritório Regional para a América do Sul da ONU Direitos Humanos
condenam os recentes assassinatos de ativistas ambientais e defensoras e defensores
da terra no Brasil e convocam o Estado a proteger quem defende o meio ambiente e o
território, assim como a realizar investigações de maneira rápida, exaustiva e imparcial.

12/01/2022

Washington, D.C. – A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) apresentou,


em 5 de janeiro de 2022, perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte
IDH), o Caso Comunidades Quilombolas de Alcântara, relativo ao Brasil, sobre a violação
da propriedade coletiva de 152 comunidades, devido à falta da emissão de títulos de
propriedade das suas terras, à instalação de uma base aeroespacial sem a devida
consulta e consentimento prévio, a expropriação das suas terras e territórios, e a falta de
recursos judiciais para remediar tal situação.

10/01/2022

Washington, D.C. – A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH)


apresentou em 26 de novembro de 2021 perante a Corte Interamericana de Direitos
Humanos (Corte IDH) o caso Manoel Luiz da Silva, relativo ao Brasil. O caso se refere à
responsabilidade internacional do Estado pela falta da devida diligência na investigação
do assassinato do trabalhador rural e membro do Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra, Manoel Luiz da Silva, ocorrido em 1997, e pela situação de impunidade.

26
Disponível em: https://www.oas.org/pt/cidh/expressao/showarticle.asp??lID=4&artID=1227
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 60

9. PROGRAMA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS – PNDH 3

O Programa Nacional de Direitos Humanos está na sua 3ª versão, tendo a 1ª sido


elaborada em 1996. Possui a principal missão de nortear as medidas governamentais em prol
da defesa dos direitos humanos no Brasil. Segundo o PNDH-3,

“Uma das finalidades do PNDH-3 é dar continuidade à integração e ao aprimoramento


dos mecanismos de participação existentes, bem como criar novos meios de construção
e monitoramento das políticas públicas sobre Direitos Humanos no Brasil.

No âmbito institucional, o PNDH-3 amplia as conquistas na área dos direitos e garantias


fundamentais, pois internaliza a diretriz segundo a qual a primazia dos Direitos Humanos
constitui princípio transversal a ser considerado em todas as políticas públicas”.

O PNDH-3 revoga o PNDH-2 (que, por sua vez, revogou o PNDH-1) e amplia os direitos
inseridos na Política Nacional de Direitos Humanos para a terceira geração. A Política Nacional
de Direitos Humanos tem como objetivos proteger e promover esses direitos e os PNDHs
evoluíram historicamente no sentido de alcançar essas finalidades.
O PNDH-3 é composto de 6 eixos orientadores e 25 diretrizes, que se desdobram em
objetivos estratégicos e ações programáticas. Traz a visão de transversalidade, ampliando a
responsabilidade de promoção e proteção e chamando à contribuição o Poder Executivo em
âmbito distrital, estadual e municipal, além de estender aos Poderes Legislativo, Judiciário e ao
Ministério Público, convidados a aderir.
Ante a diversidade regional e a competência administrativa comum para proteção dos
direitos humanos, vários Estados adotaram programas em suas respectivas esferas de
atuação, sendo que o Estado de São Paulo foi o primeiro a instituir o Programa Estadual de
Direitos Humanos (PEDH) (Decreto n. 42.209, de 15 de setembro de 1997).

PROPOSTAS DE AÇÕES PARA O GOVERNO E PARA A SOCIEDADE PREVISTAS NO


PEDH DE SÃO PAULO

1. Construção da Democracia e Promoção dos Direitos Humanos

1.1. Educação para a Democracia e os Direitos Humanos

1.2. Participação Política

2. Direitos Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais

2.1. Direito ao desenvolvimento humano

2.2. Emprego e Geração de Renda

2.3. Política agrária e fundiária

2.4. Educação
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 61

2.5. Comunicação

2.6. Cultura e Ciência

2.7. Saúde

2.8. Bem-Estar, Habitação e Transporte

2.9. Consumo e Meio Ambiente

3. Direitos Civis e Políticos

3.1. Acesso á Justiça e Luta Contra a Impunidade

3.2. Segurança do Cidadão e Medidas Contra a Violência

3.3. Sistema prisional e ressocialização

3.4. Promoção da Cidadania e Medidas contra a Discriminação

3.5. Crianças e Adolescentes

3.6. Mulheres

3.7. População Negra

3.8. Povos Indígenas

3.9. Refugiados, Migrantes Estrangeiros e Brasileiros

3.10. Terceira Idade

3.11. Pessoas Portadoras de Deficiência

3.12. Homossexuais e Transexuais

4. Implementação e Monitoramento de Políticas de Direitos Humanos

10. TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL E SEU ESTATUTO, ROMA

Criação

O Tribunal Penal Internacional foi aprovado em 17 de julho de 1998, na Conferência


de Roma, e em 01 de julho de 2002, seu Estatuto entrou em vigor27. Trata-se de uma
“instituição permanente, com jurisdição sobre as pessoas responsáveis pelos crimes de maior
gravidade com alcance internacional” (art. 1º), de acordo com seu Estatuto, e complementar às
jurisdições penais nacionais, com sede em Haia, Países Baixos.

27
O Brasil promulgou o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional em 25 de setembro de 2002, por meio do
Decreto nº 4388.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 62

Sob o ponto de vista da organização, o TIP é constituído por quatro órgãos principais,
conforme artigo 34 do seu Estatuto:
a) A A Presidência;
b) B As Secções Judiciais: de instrução, de julgamento e de recurso
c) C O Gabinete do Procurador
d) D A Secretaria

Competência

A competência do TPI está prevista no artigo 5º do Estatuto, a saber:

Crimes da Competência do Tribunal (art. 5º)

1. A competência do Tribunal restringir-se-á aos crimes mais graves, que afetam a


comunidade internacional no seu conjunto. Nos termos do presente Estatuto, o Tribunal
terá competência para julgar os seguintes crimes:

a) O crime de genocídio;
b) Crimes contra a humanidade;
c) Crimes de guerra;
d) O crime de agressão.

Em relação ao crime de genocídio, o Estatuto acolheu a mesma definição estipulada


pelo artigo 2º da Convenção para a Prevenção e Repressão do Genocídio (1948).
Anteriormente, diferenciava-se o crime de genocídio dos crimes contra a humanidade, “pois
esses últimos estavam restritos aos períodos de guerra. Com a ampliação do conceito de
crimes contra a humanidade também para períodos de paz, o crime de genocídio passou a ser
considerado a mais grave espécie de crime contra a humanidade” (PIOVESAN; IKAWA, 2018,
p. 160).
O fator distintivo do crime de genocídio frente a outros crimes é encontrado em seu dolo
específico, ou seja, a finalidade de “destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico,
racial ou religioso”, essa destruição pode ser física ou cultural.

▪ Crime de Genocídio (art. 6º)

Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por "genocídio", qualquer um dos


atos que a seguir se enumeram, praticado com intenção de destruir, no todo ou em
parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, enquanto tal:

a) Homicídio de membros do grupo;


b) Ofensas graves à integridade física ou mental de membros do grupo;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 63

c) Sujeição intencional do grupo a condições de vida com vista a provocar a sua


destruição física, total ou parcial;
d) Imposição de medidas destinadas a impedir nascimentos no seio do grupo;
e) Transferência, à força, de crianças do grupo para outro grupo.

Como bem acentuam Piovesan e Ikawa (2018), os crimes contra a humanidade,


previstos no artigo 7º, destacam-se pela ampliação da tipificação quanto aos crimes ligados ao
gênero28, “compreendendo a agressão sexual, a prostituição forçada, a gravidez forçada, a
esterilização forçada ou qualquer outra forma de violência no campo sexual de gravidade
comparável. A nota distintiva desses crimes está no fato de fazerem parte de um ataque
sistemático, ou em grande escala, contra civis”.

▪ Crimes contra a Humanidade (art. 7º)

Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por "crime contra a humanidade",


qualquer um dos atos seguintes, quando cometido no quadro de um ataque, generalizado
ou sistemático, contra qualquer população civil, havendo conhecimento desse ataque:
a) Homicídio;
b) Extermínio;
c) Escravidão;
d) Deportação ou transferência forçada de uma população;
e) Prisão ou outra forma de privação da liberdade física grave, em violação das
normas fundamentais de direito internacional;
f) Tortura;
g) Agressão sexual, escravatura sexual, prostituição forçada, gravidez forçada,
esterilização forçada ou qualquer outra forma de violência no campo sexual de
gravidade comparável;
h) Perseguição de um grupo ou coletividade que possa ser identificado, por motivos
políticos, raciais, nacionais, étnicos, culturais, religiosos ou de gênero, tal como
definido no parágrafo 3o, ou em função de outros critérios universalmente
reconhecidos como inaceitáveis no direito internacional, relacionados com qualquer
ato referido neste parágrafo ou com qualquer crime da competência do Tribunal;
i) Desaparecimento forçado de pessoas;
j) Crime de apartheid;
k) Outros atos desumanos de caráter semelhante, que causem intencionalmente
grande sofrimento, ou afetem gravemente a integridade física ou a saúde física ou
mental.

28
Artigo 7, item 3: “Para efeitos do presente Estatuto, entende-se que o termo ‘gênero’ refere-se à dois sexos, masculino
e feminino, no contexto da sociedade. O termo ‘gênero’ não indica qualquer significado diferente do acima”. Texto
original - “For the purpose of this Statute, it is understood that the term “gender” refers to the two sexes, male and female,
within the context of society. The term “gender” does not indicate any meaning different from the above” (tradução livre).
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 64

Os crimes de guerra derivam precipuamente das quatro Convenções de Genebra de


1949 e da Convenção de Haia IV de 1907, abarcando a proteção tanto a combatentes (Haia),
quanto a não combatentes (Genebra). “Como não se estabelece aqui qualquer restrição quanto
à magnitude das ofensas, acredita-se, em princípio, que haveria jurisdição mesmo no que se
refere a casos isolados. O Estatuto inova, ainda, ao prever violações para as situações de
conflitos internos, e não apenas para os internacionais” (PIOVESAN; IKAWA, 2018).

▪ Crimes de guerra (art. 8º)

Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por "crimes de guerra":

a) As violações graves às Convenções de Genebra, de 12 de Agosto de 1949, a


saber, qualquer um dos seguintes atos, dirigidos contra pessoas ou bens
protegidos nos termos da Convenção de Genebra que for pertinente:
b) Homicídio doloso;
c) Tortura ou outros tratamentos desumanos, incluindo as experiências biológicas;
d) O ato de causar intencionalmente grande sofrimento ou ofensas graves à
integridade física ou à saúde;
e) Destruição ou a apropriação de bens em larga escala, quando não justificadas por
quaisquer necessidades militares e executadas de forma ilegal e arbitrária;
f) O ato de compelir um prisioneiro de guerra ou outra pessoa sob proteção a servir
nas forças armadas de uma potência inimiga;
g) Privação intencional de um prisioneiro de guerra ou de outra pessoa sob proteção
do seu direito a um julgamento justo e imparcial;
h) Deportação ou transferência ilegais, ou a privação ilegal de liberdade;
i) Tomada de reféns;

- Diversas outras violações graves das leis e costumes aplicáveis em conflitos


armados internacionais no âmbito do direito internacional (ver artigo completo).

A tipificação dos crimes de agressão não consta na redação original do Estatuto e


somente ocorreu em 11 de junho de 2010, quando o Grupo de Trabalho sobre o crime de
agressão adotou a Resolução RC/ Res 6, que acrescentou ao artigo 8º (bis) a disposição
abaixo, a qual, entre nós, foi aprovada pela resolução da Assembleia da República n.º 31, de
20 de fevereiro de 2017.

Artigo 8.º Bis


Crime de agressão

1 - Para efeitos do presente Estatuto, entende-se por ‘crime de agressão’, o


planeamento, a preparação, o desencadeamento ou a execução por uma pessoa que se
encontre em posição de controlar ou conduzir de forma efetiva a ação política ou militar
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 65

de um Estado de um ato de agressão que, pelo seu carácter, pela sua gravidade e
dimensão, constitui uma violação manifesta da Carta das Nações Unidas.

2 - Para efeitos do n.º 1, entende-se por ‘ato de agressão’, o uso da força armada por um
Estado contra a soberania, integridade territorial ou independência política de outro
Estado, ou de qualquer outra forma incompatível com a Carta das Nações Unidas.
Independentemente da existência ou não de uma declaração de guerra, em conformidade
com a Resolução n.º 3314 (XXIX) da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 14 de
dezembro de 1974, qualquer um dos seguintes atos deverá ser considerado um ato de
agressão:

a) A invasão do território de um Estado ou o ataque contra o mesmo pelas forças armadas


de outro Estado, ou qualquer ocupação militar, ainda que temporária, decorrente dessa
invasão ou desse ataque, ou a anexação pelo uso da força do território, no todo ou em
parte, de um outro Estado;

b) O bombardeamento do território de um Estado pelas forças armadas de outro Estado,


ou o uso de quaisquer armas por um Estado contra o território de outro Estado;

c) O bloqueio dos portos ou das costas de um Estado pelas forças armadas de outro
Estado;

d) O ataque pelas forças armadas de um Estado contra as forças terrestres, navais ou


aéreas, ou contra a marinha mercante e a aviação civil de outro Estado;

e) A utilização das forças armadas de um Estado, que se encontram no território de outro


Estado com o consentimento do Estado recetor, em violação das condições previstas no
acordo, ou qualquer prolongamento da sua presença naquele território após o termo
desse mesmo acordo;

f) O facto de um Estado permitir que o seu território por ele posto à disposição de um outro
Estado, seja por este utilizado para perpetrar um ato de agressão contra um Estado
terceiro;

g) O envio por um Estado, ou em seu nome, de bandos ou de grupos armados, de forças


irregulares ou de mercenários que pratiquem contra um outro Estado atos de força
armada de gravidade equiparável à dos atos acima enumerados, ou que participem
substancialmente nesses atos.

Antecedentes históricos

As tentativas de se estabelecer um Tribunal para julgar causas que afetassem toda


humanidade podem ser assim sintetizadas:
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 66

→ 1474 – Tribunal de Breisach, Alemanha: “para julgar Peter Von Hagenbach, por
haver permitido que suas tropas estuprassem e matassem civis, saqueando suas
propriedades” (PIOVESAN; IKAWA, 2018, p. 155).

→ 1860 - Tribunal Penal Internacional, Genebra, Suiça: idealizado por Gustav


Monnyier (um dos fundadores da Cruz Vermelha), para pocessar e julgar graves violações
da Convenção de Genebra de 1864.

→ 1907 – Tribunal Internacional das Presas (International Prize Court), em Haia,


Países Baixos, adotando-se a Convenção XII, de 18 de outubro de 1907, foi criado um
Tribunal Internacional com jurisdição obrigatória, “constituído por quinze Juízes (artigo 14)
com poderes para julgar penalmente indivíduos envolvidos em capturas de barcos e das
cargas por estes transportadas (artigo 1)”. (BRITO, 2018, p. 09). Este Tribunal, reconhecido
como um órgão superestatal, foi considerado como um Tribunal de toda a comunidade
internacional com jurisdição obrigatória e com competência para revogar e substituir as
decisões dos Tribunais nacionais, contudo, por não ter sido ratificada, a Convenção não
entrou em vigor, mas abriu importante precedente influenciando “fortemente o pensamento
internacionalista sobre a necessidade e de um Tribunal Internacional Penal” (BRITO, 2018,
p. 09).

→ 1919 – Tratado de Versailles: Após o fim da I Guerra Mundial (1914-1919), na


Conferência de Paz de Paris, os Aliados debateram a possibilidade de realização de
julgamentos criminais de guerra a alemães e oficiais turcos por “crimes contra as leis da
humanidade”, especialmente do Kaiser Alemão Wilhelm II. Os Aliados concordaram
quanto aos termos de um Tratado de Paz entre os Aliados e os Poderes Associados e
Alemanha (Tratado de Versailles, concluído em 28 de junho de 1919), o qual prevê, no
artigo 227, a criação de um tribunal penal internacional ad hoc para julgar Kaiser Wilhelm
II. “O tribunal, contudo, não se efetivou, seja porque Wilhem II fugiu para a Holanda, país
que não concordou em entregá-lo, seja porque a Alemanha nunca aceitou os termos do
tratado” (PIOVESAN; IKAWA, 2018, p. 156).

→ 1937 - A Liga das Nações adotou uma Convenção contra o Terrorismo29, cujo
protocolo continha um Estatuto para criação de um Tribunal Criminal Internacional, o qual
nunca foi instituído tendo em vista que apenas a Índia o ratificou.

29
Convenção de Genebra para a Prevenção e Repressão do Terrorismo, de 16 de novembro de 1937, Liga das Nações,
doc. off, SDN, C. 94, M. 94, 1938.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 67

→ 1945 – Tribunal Militar Internacional de Nuremberg, Alemana: Após o fim da II


Guerra Mundial (1939-1945), ante as atrocidades cometidas, os Aliados propuseram a
criação de dois Tribunais Internacionais: de Nuremberg e de Tóquio. O Acordo de Londres,
que criou O Tribunal Militar Internacional em Nuremberg, criado, então, pelo Acordo de
Londres, foi assinado pelos quatro poderes aliados – Estados Unidos, Reino Unido, França
e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – em 8 de agosto de 1945 e visava à
responsabilização criminal de indivíduos acusados de da prática de crimes contra a paz,
crimes de guerra e crimes contra a humanidade (art. 6), alcançando até mesmo indivíduos
anteriormente respaldados por imunidades, como os Chefes de Estado (art. 8).
(PIOVESAN; IKAWA, 2018, p. 157). Foi fortemente criticado por ser constituído para julgar
crimes anteriores à sua criação.

→ 1946 – Tribunal de Tóquio, Japão: O Estatuto da Corte Militar Internacional


encarregada de julgar os grandes criminosos de guerra no Extremo Oriente (International
Military Tribunal for the Far East – IMTFE), promulgado em Tóquio, em 19 de janeiro de
1946,
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 68

REFERÊNCIAS

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Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 71
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 72
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 73

ÍNDICE DO CAPÍTULO II
ATOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS

1. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, DE 1948

2. TRATADOS, PACTOS E CONVENÇÕES INTERNACIONAIS SOBRE DIREITOS


HUMANOS INCORPORADOS PELO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

2.1 CONVENÇÃO SOBRE A ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA – 1926 E PROTOCOLO


SUPLEMENTAR (DECRETO Nº 58.563/1966)

2.2 CONVENÇÃO PARA A PREVENÇÃO E A REPRESSÃO DO CRIME DE


GENOCÍDIO - 1948 (DECRETO Nº 30.822/52)

2.3 CONVENÇÃO RELATIVA AO ESTATUTO DOS REFUGIADOS – 1951


(DECRETO Nº 50.215/1961)

2.4 PACTO INTERNACIONAL DOS DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E


CULTURAIS - 1966 (DECRETO Nº 591/1992)

2.5 PACTO INTERNACIONAL SOBRE DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS – 1966


(DECRETO Nº 592/1992)

2.6 CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS


FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO RACIAL - 1966 (DECRETO Nº 65.810/1969)

2.7 CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS (PACTO DE SÃO


JOSÉ DA COSTA RICA) – 1969 (DECRETO Nº 678/1992)

2.8 CONVENÇÃO SOBRE ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE


DISCRIMINAÇÃO CONTRA A MULHER -1979 (DECRETO Nº 4.377/2002)

2.9 CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA E OUTROS TRATAMENTOS OU PENAS


CRUÉIS, DESUMANOS OU DEGRADANTES – 1984 (DECRETO Nº 15, DE 15 DE
FEVEREIRO DE 1991)

2.10 CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA E PROTOCOLOS


FACULTATIVOS - 1989 (DECRETO Nº 99.710/90)
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 74

2.11 CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA PREVENIR, PUNIR E ERRADICAR A


VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER, CONCLUÍDA EM BELÉM DO PARÁ, EM 9 DE
JUNHO DE 1994 (DECRETO Nº 1.973/1996)

2.12 PROTOCOLO FACULTATIVO À CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DA


CRIANÇA REFERENTE À VENDA DE CRIANÇAS, À PROSTITUIÇÃO INFANTIL
E À PORNOGRAFIA INFANTIL – 2000 (DECRETO Nº 5007/2004)

2.13 CONVENÇÃO INTERAMERICANA CONTRA O TERRORISMO – 2002


(DECRETO Nº 5.639/2005)

2.14 CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS CONTRA A CORRUPÇÃO (CONVENÇÃO


DE MÉRIDA) – 2003 (DECRETO Nº 5687/2006)

2.15 CONVENÇÃO SOBRE A PROTEÇÃO E PROMOÇÃO DA DIVERSIDADE DAS


EXPRESSÕES CULTURAIS - 2005 (DECRETO Nº 6.177/20070

2.16 CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS


FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO CONTRA AS PESSOAS PORTADORAS DE
DEFICIÊNCIA (DECRETO Nº 3956/2001)

2.17 CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS


COM DEFICIÊNCIA E SEU PROTOCOLO FACULTATIVO – 2007 (DECRETO Nº
6.949/2009)

2.18 TRATADO DE MARRAQUECHE – 2013 (DECRETOS NºS 9522/2018 E


10.882/2021)

2.19 CONVENÇÃO INTERAMERICANA CONTRA O RACISMO, A DISCRIMINAÇÃO


RACIAL E FORMAS CORRELATAS DE INTOLERÂNCIA – 2013 (DECRETO Nº
10.932/2022)

3. PROTOCOLO ADICIONAL À CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS CONTRA O


CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL RELATIVO À PREVENÇÃO, REPRESSÃO E
PUNIÇÃO DO TRÁFICO DE PESSOAS, EM ESPECIAL MULHERES E CRIANÇAS -
2000 (DECRETO Nº 5017/2004)

4. CÓDIGO DE CONDUTA PARA OS FUNCIONÁRIOS RESPONSÁVEIS PELA


APLICAÇÃO DA LEI (RESOLUÇÃO 34/169, DE 17 DE DEZEMBRO DE 1979 - ONU)

5. REGRAS DE NELSON MANDELA: REGRAS MÍNIMAS DAS NAÇÕES UNIDAS PARA


O TRATAMENTO DE RECLUSOS - RESOLUÇÃO 70/175, DE 2015
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 75

6. REGRAS DE BANGKOK: REGRAS DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O TRATAMENTO


DE MULHERES PRESAS E MEDIDAS NÃO PRIVATIVAS DE LIBERDADE PARA
MULHERES INFRATORAS - RESOLUÇÃO Nº 2010/16, DE 2010

7. DECLARAÇÃO SOBRE O DIREITO E A RESPONSABILIDADE DOS INDIVÍDUOS,


GRUPOS OU ÓRGÃOS DA SOCIEDADE DE PROMOVER E PROTEGER OS DIREITOS
HUMANOS E LIBERDADES FUNDAMENTAIS UNIVERSALMENTE RECONHECIDOS
(DEFENSORES DE DIREITOS HUMANOS) – (RESOLUÇÃO 53/144 DA ASSEMBLEIA
GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS, DE 1998)

8. DECLARAÇÃO DOS PRINCÍPIOS BÁSICOS DE JUSTIÇA RELATIVOS ÀS VÍTIMAS


DA CRIMINALIDADE E DE ABUSO DE PODER, DE 1985

9. PRINCÍPIOS DE YOGYAKARTA - 2006

10. DECLARAÇÃO E PLATAFORMA DE AÇÃO DE PEQUIM (IV CONFERÊNCIA


MUNDIAL SOBRE AS MULHERES, CHINA) - 1995

11. ESTATUTO DE ROMA E O TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL - 1998 (DECRETO


Nº 4388/2002)
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 76

1. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS


(ADOTADA E PROCLAMADA PELA ASSEMBLEIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS
(RESOLUÇÃO 217 A III) EM 10 DE DEZEMBRO 1948

Preâmbulo

Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de


seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo,

Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em atos bárbaros que
ultrajaram a consciência da humanidade e que o advento de um mundo em que mulheres e homens gozem de
liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado
como a mais alta aspiração do ser humano comum,

Considerando ser essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo império da lei, para que o ser
humano não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra a tirania e a opressão,

Considerando ser essencial promover o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações,

Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé nos direitos fundamentais
do ser humano, na dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos do homem e da mulher
e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla,

Considerando que os Países-Membros se comprometeram a promover, em cooperação com as Nações


Unidas, o respeito universal aos direitos e liberdades fundamentais do ser humano e a observância desses
direitos e liberdades,

Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da mais alta importância para
o pleno cumprimento desse compromisso,

Agora portanto a Assembleia Geral proclama a presente Declaração Universal dos Direitos Humanos
como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo
e cada órgão da sociedade tendo sempre em mente esta Declaração, esforce-se, por meio do ensino e da
educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de
caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos,
tanto entre os povos dos próprios Países-Membros quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição.

Artigo 1

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e
consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.

Artigo 2

1.Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta
Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de
outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.

2. Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, jurídica ou internacional do
país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de um território independente, sob tutela, sem
governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania.

Artigo 3

Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Artigo 4
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 77

Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos
em todas as suas formas.

Artigo 5

Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.

Artigo 6

Todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa perante a lei.

Artigo 7

Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm
direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer
incitamento a tal discriminação.

Artigo 8

Todo ser humano tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédio efetivo para os atos
que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei.

Artigo 9

Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Artigo 10

Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiência por parte de um tribunal
independente e imparcial, para decidir seus direitos e deveres ou fundamento de qualquer acusação criminal
contra ele.

Artigo 11

1.Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente até que a sua
culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido
asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.

2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituíam delito
perante o direito nacional ou internacional. Também não será imposta pena mais forte de que aquela que, no
momento da prática, era aplicável ao ato delituoso.

Artigo 12

Ninguém será sujeito à interferência na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua
correspondência, nem a ataque à sua honra e reputação. Todo ser humano tem direito à proteção da lei contra
tais interferências ou ataques.

Artigo 13

1. Todo ser humano tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada
Estado.

2. Todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio e a esse regressar.

Artigo 14

1. Todo ser humano, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 78

2. Esse direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por crimes de
direito comum ou por atos contrários aos objetivos e princípios das Nações Unidas.

Artigo 15

1. Todo ser humano tem direito a uma nacionalidade.

2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de


nacionalidade.

Artigo 16

1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade ou religião, têm
o direito de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao
casamento, sua duração e sua dissolução.

2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes.

3. A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do


Estado.

Artigo 17

1. Todo ser humano tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros.

2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.

Artigo 18

Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; esse direito inclui a
liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença pelo ensino, pela
prática, pelo culto em público ou em particular.

Artigo 19

Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; esse direito inclui a liberdade de, sem
interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e
independentemente de fronteiras.

Artigo 20

1. Todo ser humano tem direito à liberdade de reunião e associação pacífica.

2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.

Artigo 21

1. Todo ser humano tem o direito de tomar parte no governo de seu país diretamente ou por intermédio
de representantes livremente escolhidos.

2. Todo ser humano tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país.

3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; essa vontade será expressa em eleições
periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure
a liberdade de voto.

Artigo 22
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 79

Todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito à segurança social, à realização pelo esforço
nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos
econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua
personalidade.

Artigo 23

1. Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis
de trabalho e à proteção contra o desemprego.

2. Todo ser humano, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho.

3. Todo ser humano que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória que lhe assegure,
assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana e a que se
acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.

4. Todo ser humano tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para proteção de seus
interesses.

Artigo 24

Todo ser humano tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e a
férias remuneradas periódicas.

Artigo 25

i. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e à sua família saúde, bem-
estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais
indispensáveis e direito à segurança em caso de desemprego, doença invalidez, viuvez, velhice ou
outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle.

ii. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças, nascidas
dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social.

Artigo 26

1. Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares
e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível
a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito.

2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do


fortalecimento do respeito pelos direitos do ser humano e pelas liberdades fundamentais. A instrução
promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou
religiosos e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.

3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos.

Artigo 27

1. Todo ser humano tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as
artes e de participar do progresso científico e de seus benefícios.

2. Todo ser humano tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer
produção científica literária ou artística da qual seja autor.

Artigo 28

Todo ser humano tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades
estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 80

Artigo 29

1. Todo ser humano tem deveres para com a comunidade, na qual o livre e pleno desenvolvimento de
sua personalidade é possível.

2. No exercício de seus direitos e liberdades, todo ser humano estará sujeito apenas às limitações
determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito
dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e
do bem-estar de uma sociedade democrática.

3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos
objetivos e princípios das Nações Unidas.

Artigo 30

Nenhuma disposição da presente Declaração poder ser interpretada como o reconhecimento a qualquer
Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à
destruição de quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 81

2. TRATADOS, PACTOS E CONVENÇÕES INTERNACIONAIS SOBRE


DIREITOS HUMANOS INCORPORADOS PELO ORDENAMENTO JURÍDICO
BRASILEIRO

2.1 CONVENÇÃO PELA ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA – 1926 PROTOCOLO


SUPLEMENTAR (DECRETO Nº 58.563/1966)

DECRETO Nº 58.563, DE 1º DE JUNHO DE 1966.

Promulga e Convenção sobre Escravatura de 1926 emendada pelo Protocolo de 1953 e a Convenção Suplementar sobre a Abolição
da Escravatura de 1956.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , Havendo o Congresso Nacional aprovado pelo Decreto Legislativo nº


66, de 1965 a Convenção sobre a escravatura assinada em Genebra a 25 de setembro de 1926 e emendada
pelo Protocolo aberto à assinatura na sede das Nações Unidas, em Nova York a 7 de dezembro de 1953 e a
Convenção Suplementar sobre a Abolição da escravatura do Tráfico de Escravos e das Instituições e Práticas
Análogas à Escravatura, adotada em Genebra a 7 de setembro de 1956.

E havendo as referidas Convenções entrado em vigor para o Brasil a 6 de janeiro de 1966, data em que
foi efetuado o depósito do instrumento brasileiro de adesão junto ao Secretário Geral das Nações Unidas.

Decreta que as mesmas apensas por cópia ao presente decreto, sejam executadas e cumpridas tão
inteiramente como nelas se contem.

Brasília 1º de junho de 1966; 145º da Independência e 78º da República.

H. Castello Branco

Juracy Magalhães

Este texto não substitui o publicado no D.O.U, de 3.6.1966 e retificado em 10.6.1966

CONVENÇÃO SUPLEMENTAR SÔBRE A ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA, DO


TRÁFEGO DE ESCRAVOS E DAS INSTITUIÇÕES E PRÁTICAS ANÁLOGAS À
ESCRAVATURA

Preâmbulo

Os Estados partes à presente Convenção,

Considerando que a liberdade é um direito que todo ser humano adquire ao nascer;

Consciente de que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé na dignidade e no valor da
pessoa humana;

Considerando que a Declaração Universal dos Direitos do Homem proclamada pela Assembléia Geral
como o ideal comum ou a atingir por todos os povos e nações, dispõe que ninguém será submetido a escravidão
ou servidão e que a escravidão e o tráfego de escravos estão proibidos sob todas as suas formas;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 82

Reconhecendo que, desde a conclusão, em Genebra, em 25 de setembro de 1926, da Convenção sobre


a escravatura que visava suprimir a escravidão e o tráfego de escravos novos progressos foram realizados
nesse sentido;

Levando em conta a Convenção de 1930 sobre o Trabalho Forçado e o que foi ulteriormente pela
Organização Internacional do Trabalho em relação ao trabalho forçado ou obrigatório;

Verificando, contudo que a escravidão, o tráfego de escravos e as instituições e práticas análogas à


escravidão ainda não foram eliminados em todas as regiões do mundo;

Havendo decidido em conseqüência, que a Convenção de 1926, a qual continua em vigor, deve agora ser
ampliada por uma convenção suplementar destinada a intensificar os esforços, tanto nacionais como
internacionais, que visam abolir a escravidão, e tráfego de escravos e as instruções e práticas análogas à
escravidão.

Convieram no seguinte:

Seção I

Instituições e práticas análogas à escravidão

Artigo 1º

Cada um dos Estados Partes a presente Convenção tomará todas as medidas, legislativas e de outra
natureza que sejam viáveis e necessárias, para obter progressivamente logo que possível a abolição completa
ou o abandono das instituições e práticas seguintes onde quer ainda subsistam, enquadram-se ou não na
definição de escravidão que figura no artigo primeiro da Convenção sobre a escravidão assinada em Genebra,
em 25 de setembro de 1926:

a) A servidão por dividas, isto é, o estado ou a condição resultante do fato de que um devedor se haja
comprometido a fornecer, em garantia de uma dívida, seus serviços pessoais ou os de alguém sobre o qual
tenha autoridade, se o valor desses serviços não for eqüitativamente avaliado no ato da liquidação de dívida
ou se a duração desses serviços não for limitada nem sua natureza definida;

b) a servidão isto é, a condição de qualquer um que seja obrigado pela lei, pelo costume ou por um acordo,
a viver e trabalhar numa terra pertencente a outra pessoa e a fornecer a essa outra pessoa, contra remuneração
ou gratuitamente, determinados serviços, sem poder mudar sua condição.

c) Toda instituição ou prática em virtude da qual:

I, Uma mulher é, sem que tenha o direito de recusa prometida ou dada em casamento, mediante
remuneração em dinheiro ou espécie entregue a seus país, tutor, família ou a qualquer outra pessoa ou grupo
de pessoas;

II, O marido de uma mulher, a família ou o clã deste tem o direito de cedê-la a um terceiro, a título oneroso
ou não;

III - A mulher pode, por morte do marido ser transmitida por sucessão a outra pessoa;

d) Toda instituição ou prática em virtude da qual uma criança ou um adolescente de menos de dezoito
anos é entregue, quer por seu pais ou um deles, quer por seu tutor, a um terceiro, mediante remuneração ou
sem ela, com o fim da exploração da pessoa ou do trabalho da referida criança ou adolescente.

Artigo 2º

Com o propósito de acabar com as instituições e práticas visadas na alíneas c do artigo primeiro da
presente Convenção, os Estados Partes se comprometem a fixar, onde couber idades mínimas adequadas
para o casamento, a estimular a adoção de um processo que permitam a ambos os futuros conjugues exprimir
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 83

livremente o seu consentimento ao matrimônio em presença de uma autoridade civil ou religiosa competente,
e a fomentar o registro dos casamentos.

Seção II

Tráficos de Escravos

Artigo 3º

1. O ato de transportar ou tentar transportar escravos de um país a outro, por qualquer meio de transportes,
ou a cumplicidade nesse ato constituirá infração penal segundo a lei dos Estados Partes à Convenção, e as
pessoas reconhecidas culpadas de tal informação serão passíveis de penas muito rigorosas.

2. a) Os Estados Partes tomarão todas as medidas necessárias para impedir que os navios a aeronaves
autorizados a arvorar suas bandeiras transportem escravos e para punir as pessoas culpadas desse ato ou
culpadas de utilizar o pavilhão nacional para tal fim.

b) Os Estados Partes tomarão todas as medidas necessárias para que seus portos, seus aeródromos e
suas costas não possam servir para os transportes de escravos.

3. Os Estados Partes à Convenção trocarão informações a fim de assegurar a coordenação prática das
medidas tomadas pelos mesmos na luta contra o tráfico de escravos e se comunicarão mutuamente qualquer
caso de tráfico de escravos e qualquer tentativa de infração desse gênero de que tenham conhecimento.

Artigo 4º

Todo escravo que se refugiar a bordo de um navio de Estado Parte a presente Convenção será livre ipso
facto.

Seção III

Escravidão e Instituições e Práticas Análogas à Escravidão

Artigo 5º

Em qualquer país em que a escravidão ou as instituições e práticas mencionadas no artigo primeiro da


presente convenção não estejam ainda completamente abolidas ou abandonadas, o ato de mutilar de marcar
ferro em brasa ou por qualquer outro processo um escravo ou uma pessoa de condição servil - para indicar sua
condição, para infligir um castigo ou por qualquer outra razão - ou a cumplicidade em tais atos constituirá
infração penal em face da lei dos estados Partes à Convenção, e as pessoas reconhecidas culpadas serão
passíveis de pena.

Artigo 6º

1. O ato de escravizar uma pessoa ou de incitá-la a alienar sua liberdade ou a de alguém na sua
dependência, para escravizá-la, constituirá infração penal em face da lei dos Estados Partes à presente
Convenção, e as pessoas reconhecidas culpadas serão passíveis de pena; dar-se-á o mesmo quando houver
participação num entendimento formado com tal propósito, tentativa de cometer esses delitos ou cumplicidade
neles.

2. Sob reserva das disposições da alínea introdutório do artigo primeiro desta Convenção as disposições
do parágrafo primeiro do presente artigo se aplicarão igualmente ao fato de incitar alguém a submeter ou a
submeter um a pessoa na sua dependência a uma condição servira resultante de alguma das instituições ou
práticas mencionadas no artigo primeiro; assim também quando houver participação num entendimento
formado com tal propósito, tentativa de cometer tais delitos ou cumplicidade neles.

Seção IV
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 84

Definições

Artigo 7º

Para os fins da presente Convenção

a) "Escravidão", tal como foi definida na Convenção sobre a Escravidão de 1926, é o estado ou a condição
de um indivíduo sobre o qual se exercem todos ou parte dos poderes atribuídos ao direito de propriedade e
"escravo" é o indivíduo em tal estado ou condição;

b) "Pessoa de condição servil" é a que se encontra no estado ou condição que resulta de alguma das
instituições ou práticas mencionadas no artigo primeiro da presente Convenção;

c) "Tráfico de escravos" significa e compreende todo ato de captura, aquisição ou cessão de uma pessoa
com a intenção de escravizá-lo; todo ato de um escravo para vendê-lo ou trocá-lo; todo ato de cessão por venda
ou troca, de uma pessoa adquirida para ser vendida ou trocada, assim como, em geral todo ato de comércio
ou transporte de escravos, seja qual for o meio de transporte empregado.

SEÇÃO V

Cooperação entre os Estados Partes e Comunicação de Informações

Artigo 8º

1) Os Estados Partes a Convenção se comprometem a prestar-se mutuo concurso e a cooperar com a


Organização das Nações Unidas para a aplicação das disposições que precedem.

2) Os Estados Partes se comprometem a enviar ao Secretário Geral das Nações Unidas exemplares de
toda lei todo regulamento e toda decisão administrativa adotados ou posta em vigor para aplicar as disposições
da presente Convenção.

3) O Secretário Geral comunicará as informações recebidas em virtude do parágrafo 2 do presente artigo


às outras Partes e ao Conselho Econômico e Social, como elemento de documentação para qualquer debate
que o Conselho venha a empreender com o propósito de formular novas recomendações para a abolição da
escravidão, do tráfico de escravos ou das instituições e práticas que são objeto da Convenção.

SEÇÃO VI

Cláusulas Finais

Artigo 9º

Não será admitida nenhuma reserva à Convenção

Artigo 10º

Qualquer litígio que surja entre os Estados Partes à Convenção quanto à sua interpretação ou aplicação,
- que não seja resolvido por meio de negociação, será submetido á Corte Internacional de Justiça a pedido de
uma das Partes em litígio, a menos que estas convenham em resolvê-lo de outra forma.

Artigo 11º

1. Apresente Convenção ficará aberta, até 1º de julho de 1957, à assinatura de qualquer Estado membro
das Nações Unidas ou dos organismos especializados. Será submetida a ratificação dos Estado signatários e
os instrumentos de ratificação serão depositados em poder do Secretário Geral das Nações Unidas, que o
comunicará a todos os Estados signatários ou aderentes.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 85

2. Depois de 1º de julho de 1957, a Convenção ficará aberta à adesão de qualquer Estado membro das
Nações Unidas haja convidado a aderir. A adesão se efetuará pelo depósito de um instrumento na devida forma
em poder do Secretário Geral das Nações Unidas, que o comunicará a todos os Estados signatários e
aderentes.

Artigo 12º

1. A presente Convenção se aplicará a todos os territórios não autônomos. Sob tutela, coloniais e outros
territórios não metropolitanos representados por um Estado Parte no plano Internacional; sob reserva das
disposições do parágrafo 2 do presente artigo, a parte interessada deverá no momento na assinatura ou da
ratificação da Convenção, ou ainda da adesão á Convenção, declarar o ou os territórios não metropolitanos
aos quais a presente Convenção se aplicará ipso facto por força dessa assinatura ratificação ou adesão.

2. Quando for necessário o consentimento prévio de um território não metropolitano em virtude das leis ou
práticas constitucionais do Estado Parte ou do território não metropolitano, a Parte deverá esforçar-se por não
obter o consentimento do território não metropolitano dentro do prazo de doze meses a partir da data da sua
assinatura, e uma vez obtido esse consentimento a Parte deverá notificá-lo ao Secretário Geral. A partir da
data do recebimento dessa notificação por parte do Secretário Geral, a Convenção se aplicara ao território ou
territórios mencionados na referida notificação.

3. Terminado a prazo de onze meses mencionados no parágrafo precedente, as Partes interessadas


informarão o Secretário Geral dos resultados das consultas com os territórios não metropolitanos cujas reações
internacionais lhes incumbam a que não hajam dado o seu consentimento para a aplicação da presente
Convenção.

Artigo 13º

1. A Convenção entrara em vigor na data em que dois Estados sejam Partes à mesma.

2. Entrará depois em vigor, no tocante a cada Estado e território, na data do depósito do instrumento de
ratificação ou de adesão do Estado interessado ou da notificação da sua aplicação a esse território.

Artigo 14º

1. A aplicação da presente Convenção será dividida em períodos sucessivos de três anos, o primeiro dos
quais começará a contar-se a partir da data da entrada em vigor da Convenção, segundo o disposto no
parágrafo 1 do artigo 13.

2. Qualquer Estado Parte poderá denunciar a presente Convenção, dirigindo, no mínimo seis meses antes
da expiração do período trienal em curso, uma notificação ao Secretário Geral. Este comunicará essa
notificação e a data do seu recebimento a todas as outras Partes.

3. As denúncias surtirão efeitos ao expirar o período trienal em curso.

4. Nos casos em que, de conformidade com o disposto no artigo 12, a presente Convenção se haja tornado
aplicável a um território não metropolitano de uma das Partes, esta poderá, como consentimento do território
de que se trate, notificar, desde então a qualquer momento ao Secretário Geral das Nações Unidas, que a
Convenção é denunciada em relação a esse território A denúncia surtirá efeito um ano depois da data do
recebimento da notificação pelo Secretário Geral, que comunicará a todos os outros Estados Partes essa
notificação e a data em que tenha recebido.

Artigo 15º

A presente Convenção, cujos textos inglês, chinês, espanhol, francês e russo são igualmente autênticos,
será depositada no arquivo da Secretaria das Nações Unidas. O Secretario Geral fornecerá cópias certificadas
autenticadas da Convenção para que sejam enviadas aos Estados Partes, assim como a todos os outros
Estados Membros das Nações Unidas e organismos especializados.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 86

Em fé do que os abaixo assinados, devidamente autorizados por seus respectivos Governos, assinaram a
presente Convenção nas datas que figuram ao lado das suas respectivas assinaturas.

Feito o escritório Europeu das Nações Unidas, em Genebra, em sete de setembro de mil novecentos e
cinqüenta e seis.

CONVENÇÃO SOBRE A ESCRAVATURA ASSINADA EM GENEBRA, EM 25 DE


SETEMBRO DE 1926, E EMENDA PELO PROTOCOLO ABERTO À ASSINATURA OU A
ACEITAÇÃO NA SEDE DA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, NOVA YORK, EM 7
DE DEZEMBRO DE 1953.

Artigo 1º

Para fins da presente Convenção fica entendido que:

1º A escravidão é o estado ou condição de um indivíduo sobre o qual se exercem, total ou parcialmente,


os tributos do direito de propriedade;

2º O tráfico de escravos compreende todo ato de captura, aquisição ou sessão de um indivíduo com o
propósito de escravizá-lo; todo ato de aquisição de um escravo com o propósito de vendê-lo ou trocá-lo; todo
ato de sessão, por meio de venda ou troca e um escravo adquirido para ser vendido ou trocado; assim como
em geral todo ato de comércio ou de transporte de escravos.

Artigo 2º

As Altas Partes contratantes se comprometem, na medida em que ainda não haja tomado as necessárias
providências e cada uma no que diz respeito aos territórios colocados sob a sua soberania, jurisdição, proteção,
suserania ou tutela:

a) a impedir a reprimir o tráfico de escravos;

b) a promover a abolição completa da escravidão sob todas as suas formas, progressivamente e logo que
possível.

Artigo 3º

As Altas partes contratantes se comprometem a tomar todas as medidas necessárias para impedir e
reprimir o embarque e o transporte de escravos nas suas águas territoriais, assim como, em geral, em todos
os navios que arvorem os seus respectivos pavilhões.

As Altas Partes contratantes se comprometem a negociar, logo que possível, uma Convenção Geral sobre
o tráfico de escravos que lhes outorgue direitos e lhes imponha obrigações da mesma natureza dos que foram
previstos na Convenção de 17 de junho de 1925 relativa ao Comércio Internacional de Armas (Artigos 12, 20,
21, 22, 23, 24 e parágrafo 3, 4, 5 da seção II do anexo II) sob reserva das adaptações necessárias, ficando
entendido que essa Convenção Geral não colocará os navios (mesmo de pequena tonelagem) de nenhuma
das Altas Partes contratantes numa posição diferente da das outras Altas Partes contratantes.

Fica igualmente entendido que, antes e depois da entrada em vigor da mencionada Convenção geral, as
Altas Partes contratantes conservam toda liberdade de realizar entre si, sem, contudo derroga os princípios
estipulados no parágrafo precedente, entendimentos especiais que, em razão da sua situação peculiar, lhes
pareçam convenientes para conseguir, com a mais brevidade possível, a abolição completa do tráfico de
escravos.

Artigo 4º
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 87

As Altas Partes contratantes prestarão assistência umas às outras para lograr a supressão da escravidão
e do tráfico de escravos.

Artigo 5º

As Altas Partes contratantes reconhecem que o recurso ao trabalho forçado ou obrigatório pode ter graves
conseqüências e se comprometem, cada uma no que diz respeito aos territórios submetidos á sua soberania,
jurisdição, proteção, suserania ou tutela, a tomar as medidas necessárias para evitar que o trabalho forçado ou
obrigatório produza condições análogas à escravidão.

Fica entendido que:

1º Sob reserva das disposições transitórias enunciadas no parágrafo 2 abaixo, o trabalho forçado ou
obrigatório somente pode ser exigido para fins públicos;

2º Nos territórios onde ainda existe o trabalho forçado ou obrigatório para fins que não sejam públicos, as
Altas Partes contratantes se esforçarão por acabar com essa prática progressivamente e com a maior rapidez
possível, e enquanto substituir, o trabalho forçado ou obrigatório só será empregado a título excepcional, contra
remuneração adequada e com a condição de não poder ser imposta a mudança do lugar habitual de residência.

3º Em todos os casos, as autoridades centrais competentes do território interessado assumirão a


responsabilidade com recurso ao trabalho forçado ou obrigatório.

Artigo 6º

As Altas Partes contratantes, cuja legislação não seja desde já suficiente para reprimir as infrações às leis
e regulamentos promulgados para aplicar a presente Convenção, se comprometem a tomar as medidas
necessárias para que essas infrações sejam severamente punidas.

Artigo 7º

As Altas Partes contratantes se comprometem a comunicar umas às outras e ao Secretário Geral da


Organização das Nações Unidas as leis e regulamentos que promulgarem para a aplicação das disposições
da presente Convenção.

Artigo 8º

As Altas Partes Contratantes convêm em que todos os litígios, que possam surgir entre as mesmas quanto
a interpretação ou à aplicação da presente Convenção, serão encaminhados à Corte Internacional de Justiça,
se não puderem ser resolvidos por negociação direta. Se os Estados entre os quais surgir algum litígio, ou um
deles, não forem Partes no Estatuto da Corte Internacional de Justiça, esse litígio será submetido, à vontade
dos Estados interessados, quer à Corte Internacional de justiça, quer a um tribunal de arbitragem constituído
em conformidade com a Convenção de 18 de outubro de 1907 para a solução pacífica dos conflitos
internacionais, quer a qualquer outro tribunal de arbitragem.

Artigo 9º

Cada uma das Altas Partes contratantes pode declarar, quer no momento da sua assinatura, quer no
momento da sua ratificação ou adesão, que, no que diz respeito à aplicação das disposições da presente
Convenção ou de algumas delas, sua aceitação não vincula todos ou qualquer dos territórios que se acham
sob a sua soberania, jurisdição, proteção, suserania ou tutela; e cada uma das Altas Partes contratantes poderá
posteriormente aderir em separado, total ou parcialmente, em que nome de qualquer deles.

Artigo 10

Se suceder que uma das Altas Partes contratantes queira denunciar a presente Convenção, a denúncia
será notificada por escrito ao Secretário Geral da Organização das Nações Unidas, que enviará imediatamente
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 88

uma cópia autêntica da notificação a todas as outras Altas partes contratantes, informando-as da data de
recebimento.

A denúncia somente produzirá efeito em relação ao Estado que a tenha notificado, e um ano depois de
haver chegado à notificação ao Secretário Geral da Organização das Nações Unidas.

A denúncia poderá, outrossim, ser feita separadamente no que diz respeito a que qualquer território que
se ache sob a sua soberania, jurisdição, proteção, suserania ou tutela.

Artigo 11

A presente Convenção, que será datada de hoje e cujos textos francês e inglês são igualmente autênticos,
ficará aberta até 1º de abril de 1927 à assinatura dos Estados membros da Sociedade das Nações.

A presente Convenção será aberta à adesão de todos os Estados, inclusive os Estados não membros da
Organização das Nações Unidas, aos quais o Secretário Geral haja enviado uma cópia autenticada da
Convenção.

A adesão se efetuará pelo depósito de um instrumento na devida forma em poder do Secretário Geral da
Organização das Nações Unidas, que dará disso conhecimento a todos os Estados partes à Convenção e a
todos os outros Estados contemplados no presente artigo, indicando-lhes a data em que cada um desses
instrumentos de adesão foi depositado.

Artigo 12

A presente Convenção será retificada e os instrumentos de ratificação serão depositados no Escritório do


Secretário Geral da Organização das Nações Unidas, que o notificará às Altas Partes contratantes.

A Convenção produzirá seus efeitos para cada Estado, a partir da data do depósito do instrumento de
ratificação ou adesão.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 89

2.2 CONVENÇÃO PARA A PREVENÇÃO E A REPRESSÃO DO CRIME DE


GENOCÍDIO - 1948 (DECRETO Nº 30.822/52)

DECRETO Nº 30.822, DE 6 DE MAIO DE 1952

Promulga a convenção para a prevenção e a repressão do crime de Genocídio, concluída em Paris, a 11 de


dezembro de 1948, por ocasião da III Sessão da Assembléia Geral das Nações Unidas.

O Presidente da República, do Estados Unidos do Brasil:

Tendo o Congresso Nacional aprovado pelo Decreto Legislativo nº 2, de 11 de abril de 1951, a convenção
para a prevenção e a repressão do crime de Genocídio, concluída em Paris a 11 de dezembro de 1948, por
ocasião da III Sessão da Assembléia Geral das Nações Unidas; e

Tendo sido depositado no secretariado geral da Organização das Nações Unidas, em Lake Sucess, Nova
York, a 15 de abril de 1952, o Instrumento Brasileiro de ratificação:

DECRETA:

Que a referida convenção, apensa por cópia ao presente decreto, seja executada e cumprida tão
inteiramente como nela se contém.

Rio de Janeiro, em 06 de maio de 1952; 131º da Independência e 64º da República.

GETULIO VARGAS
João Neves da Fontoura

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 9.5.1952

CONVENÇÃO PARA A PREVENÇÃO E A REPRESSÃO DO CRIME DE GENOCÍDIO

As Partes Contratantes,

Considerando que a Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas, em sua Resolução 96 (1) de
11 de dezembro de 1945, declarou que o genocídio é um crime contra o Direito Internacional, contrário ao
espírito e aos fins das Nações Unidas e que o mundo civilizado condena;

Reconhecendo que todos os méritos da história o genocídio causou grandes perdas à humanidade;

Convencidas de que, para libertar a humanidade de flagelo tão odioso, a cooperação internacional é
necessária:

Convém no seguinte:

ARTIGO I

As Partes Contratantes confirmam que o genocídio quer cometido em tempo de paz ou em tempo de
guerra, é um crime contra o Direito Internacional, que elas se comprometem a prevenir e a punir.

ARTIGO II

Na presente Convenção entende-se por genocídio qualquer dos seguintes atos, cometidos com a intenção
de destruir no todo ou em parte, um grupo nacional. étnico, racial ou religioso, como tal:

a) matar membros do grupo;


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 90

b) causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do grupo;

c) submeter intencionalmente o grupo a condição de existência capazes de ocasionar-lhe a destruição


física total ou parcial;

d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio de grupo;

e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo.

ARTIGO III

Serão punidos os seguintes atos:

a) o genocídio;
b) a associação de pessoas para cometer o genocídio;
c) a incitação direta e pública a cometer o genocídio;
d) a tentativa de genocídio;
e) a co-autoria no genocídio.
ARTIGO IV

As pessoas que tiverem cometido o genocídio ou qualquer dos outros atos enumerados no Artigo III serão
punidas, sejam governistas, funcionários ou particulares.

ARTIGO V

As Partes Contratantes assumem o compromisso de tomar, de acordo com suas respectivas constituições
as medidas legislativas necessárias a assegurar as aplicações das disposições da presente Convenção, e,
sobretudo a estabelecer sanções penais eficazes aplicáveis às pessoas culpadas de genocídio ou de qualquer
dos outros atos enumerados no Artigo III.

ARTIGO VI

As pessoas acusadas de genocídio ou qualquer dos outros atos enumerados no Artigo III serão julgadas
pelos tribunais competentes do Estado em cujo território foi o ato cometido ou pela Corte Penal Internacional
competente com relação às Partes Contratantes que lhe tiverem reconhecido a jurisdição.

ARTIGO VII

O genocídio e os outros atos enumerados no Artigo III não serão considerados crimes políticos para efeitos
de extradição.

As partes Contratantes se comprometem em tal caso a conceder a extradição de acordo com sua
legislação e com os tratados em vigor.

ARTIGO VIII

Qualquer Parte Contratante pode recorrer aos órgãos competentes das Nações Unidas a fim de que estes
tomem, de acordo com a Carta das Nações Unidas, as medidas que julguem necessárias para a prevenção e
a repressão dos atos de genocídio ou em qualquer dos outros atos enumerados no Artigo III.

ARTIGO IX

As controvérsias entre as Partes Contratantes relativas à interpretação, aplicação ou execução da presente


Convenção bem como as referentes à responsabilidade de um Estado em matéria de genocídio ou de qualquer
dos outros atos enumerados no Artigo III, serão submetidas à Corte Internacional de Justiça, a pedido de uma
das Partes na controvérsia.

ARTIGO X

A presente Convenção, outros textos inglês, chinês, espanhol, francês e russo serão igualmente autênticos
terá a data de 09 de dezembro de 1948.

ARTIGO XI
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 91

A presente Convenção ficará aberta, até 31 de dezembro de 1949, à assinatura de todos os Membros das
Nações Unidas e de todo Estado não -membro ao qual a Assembléia Geral houver enviado um convite para
esse fim.

A presente Convenção será ratificada e dos instrumentos de ratificação far-se-á depósito no Secretariado
das Nações Unidas.

A partir de 1º de janeiro de 1950, qualquer Membro das nações Unidas e qualquer Estado não-membro
que houver recebido o convite acima mencionado poderão aderir à presente Convenção.

Os instrumentos de adesão serão depositados no Secretariado das Nações Unidas.

ARTIGO XII

Qualquer Parte Contratante poderá a qualquer tempo, por notificação dirigida ao Secretário Geral das
Nações Unidas, estender a aplicação da presente Convenção a todos os territórios ou a qualquer dos territórios
ou qualquer dos territórios de cujas relações exteriores seja responsável.

ARTIGO XIII

Na data em que os vinte primeiros instrumentos de ratificação ou adesão tiverem sido depositados, o
Secretário Geral lavrará uma ata, e transmitirá cópia da mesma a todos os membros das Nações Unidas e aos
Estados não-membros a que se refere o Artigo XI.

A presente Convenção entrará em vigor noventa dias após a data do depósito do vigésimo instrumento de
ratificação ou adesão.

Qualquer ratificação ou adesão efetuada posteriormente à última data entrará em vigor noventa dias após
o deposito do instrumento de ratificação ou adesão.

ARTIGO XIV

A presente Convenção vigorará por dez anos a partir da data de sua entrada em vigor.

Ficará, posteriormente, em vigor por um período de cinco anos e assim sucessivamente, com relação às
Partes Contratantes que não tiverem denunciado pelo menos seis meses antes do termo do prazo.

A denuncia será feita por notificação escrita dirigida ao Secretário Geral das Nações Unidas.

ARTIGO XV

Se, em conseqüência de denúncias, o número das Partes na presente Convenção se reduzir a menos de
dezesseis, a Convenção cessará de vigorar a partir da data na qual a última dessas denúncias entrar em vigor.

A Assembléia Geral decidirá com relação ás medidas que se deve tomar, se for o caso, com relação a
esse pedido.

ARTIGO XVII

O Secretário Geral das Nações Unidas notificará todos os membros das nações Unidas e os Estados não-
membros mencionados no Artigo XI:

a) das assinaturas, ratificações e adesões recebidas de acordo com o Artigo XI;


b) das notificações recebidas de acordo com o Artigo XII;
c) da data em que a presente Convenção entrar em vigor de acordo com o Artigo XIII;
d) das denúncias recebidas de acordo com o Artigo XIV;
e) da aprovação da Convenção de acordo com o Artigo XV;
f) das notificações recebidas de acordo com o Artigo XVI.
ARTIGO XVIII

O original da presente Convenção será depositado nos arquivos da Organização das Nações Unidas.

Enviar-se-á cópia autêntica a todos os Membros das Nações Unidas e aos Estados não-membros
mencionados no Artigo XI.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 92

ARTIGO XIX

A presente Convenção será registrada pelo Secretário Geral das Nações Unidas na data de sua entrada
em vigor.

Pelo Afeganistão - Pela Argentina - Pela Austrália: Herbert V. Evatt - 11 de dezembro de 1948.

Pelo Reino da Bélgica - Pela Bolívia. A Costa du Rels - 11 de dezembro de 1948.

Pelo Brasil: João Carlos Muniz - 11 de dezembro de 1948.

Pela União da Birmânia - Pela República Socialista Soviética da Bielo-Russia - Pelo Canadá - Pelo Chile:
com a reserva que requer também a aprovação do Congresso do meu país - H. Arancibia Laso.

Pela China - Pela Colômbia - Por Costa Rica - Por Cuba - Pela Tchecoslováquia - Pela Dinamarca - Pela
República Dominicana: Joaquim Balaguer - 11 de dezembro de 1948.

Pelo Equador: Homero Viteri - La fronte - 11 de dezembro de 1948.

Pelo Egito: Ahmed Mohamed Khachaba - 12 de dezembro de 1948.

Por el Salvador - Pela Etiópia: - Aklilou - 11 de dezembro de 1948.

Pela França: Robert Schuman - 11 de dezembro de 1948.

Pela Grécia - Pela Guatemala - Por Haiti: (ilegível) - 11 de dezembro de 1948.

Por Honduras - Pela Islândia - Pela Índia - Pelo Irã - Pelo Iraque - Pelo Líbano - Pela Libéria: Henry Coop
- 11 de dezembro de 1948.

Pelo Grão Ducado de Luxemburgo - Pelo México: L. Padilha Nervo - 14 de dezembro de 1948.

Pelo Reino dos Países Baixos - Pela Nova Zelândia - Pela Nicarágua - Pelo Reino da Noruega: Finn Moe,
- 11 de dezembro de 1948.

Pelo Paquistão: Zafrullah Khan - 11 de dezembro de 1948.

Pelo Panamá: R. J. Alfaro - 11 de dezembro de 1948.

Pelo Paraguai: (ilegível) - 11 de dezembro de 1946.

Pelo Peru: f. Berckmeyer - 11 de dezembro de 1948.

Pela República das Filipinas: Carlos P. Rômulo - 11 de dezembro de 1948.

Pela Polônia - Pela Arábia Saudita - Pelo Sião - Pela Suécia - Pela Síria - Pela Turquia - Pela República
Socialista Soviética da Ucrânia - Pela União Sul Africana - Pela União das República Socialistas Soviéticas -
Pelo Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte -Pelos Estados Unidos da América: Ernest A . Gross -
11 de dezembro de 1948.

Pelo Uruguai : Enrique C. Armanã Ugon - 11 de dezembro de 1948. Pela Venezuela - Pelo Iemen - Pela
Iugoslávia: Ales Bebler - 11 de dezembro de 1948.

A presente é a tradução oficial, em idioma português, do texto original e autêntico da Convenção para a
Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio, firmada em Paris, em dezembro de 1948, por ocasião da 3ª
Sessão da Assembléia Geral das Nações Unidas.

Secretaria de Estado das Relações Exteriores, Rio de janeiro, D.F., em 28 de abril de 1952. - Jayme de
Barros Gomes. Chefe da Divisão de Atos, Congressos e Conferências Internacionais.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 93

2.3 CONVENÇÃO RELATIVA AO ESTATUTO DOS REFUGIADOS – 1951 (DECRETO


Nº 50215/1961)

DECRETO No 50.215, DE 28 DE JANEIRO DE 196130


Promulga a Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados, concluída em Genebra, em 28 de julho de 1951.

Vide Decreto nº 70.946, de 1972

Vide Decreto nº 99.757, de 1990

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA:

Havendo o Congresso Nacional aprovado, pelo Decreto Legislativo nº 11, de 7 de julho de 1960, com
exclusão dos seus artigos 15 e 17, a Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados, concluída em Genebra a
28 de julho de 1951, e assinada pelo Brasil a 15 de julho de 1952; e tendo sido depositado a 15 de novembro
de 1960, junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas, o Instrumento Brasileiro de Ratificação da referida
Convenção, com exclusão dos artigos citados, (Redação dada pelo Decreto nº 98602, de 1989)

Decreta que a mencionada Convenção, apensa por cópia ao presente Decreto, seja, com exclusão dos
seus artigos 15 e 17, executada e cumprida tão inteiramente como nela se contém, e que, para os efeitos da
mesma, com relação ao Brasil, se aplique o disposto na Seção B.1 (b), do artigo 1º. (Redação dada pelo
Decreto nº 98602, de 1989)

Brasília, em 28 de janeiro de 1961; 140º a Independência e 73º da República.

JUSCELINO KUBITSCHEK
Horácio Lafer

Este texto não substitui o publicado no DOU de 30.1.1961 e retificado em 11.2.1961

CONVENÇÃO RELATIVA AO ESTATUTO DOS REFUGIADOS (1951)

As Altas Partes Contratantes,

Considerando que a Carta das Nações Unidas e a Declaração Universal dos Direitos Humanos aprovada
em 10 de dezembro de 1948 pela Assembléia Geral afirmaram o princípio de que os seres humanos, sem
distinção, devem gozar dos direitos humanos e das liberdades fundamentais, Considerando que a Organização
da Nações Unidas tem repetidamente manifestado a sua profunda preocupação pelos refugiados e que ela tem
se esforçado por assegurar a estes o exercício mais amplo possível dos direitos humanos e das liberdades
fundamentais,

Considerando que é desejável rever e codificar os acordos internacionais anteriores relativos ao estatuto
dos refugiados e estender a aplicação desses instrumentos e a proteção que eles oferecem por meio de um
novo acordo,

Considerando que da concessão do direito de asilo podem resultar encargos indevidamente pesados para
certos países e que a solução satisfatória dos problemas cujo alcance e natureza internacionais a Organização
da Nações Unidas reconheceu, não pode, portanto, ser obtida sem cooperação internacional,

Exprimindo o desejo de que todos os Estados, reconhecendo o caráter social e humanitário do problema
dos refugiados, façam tudo o que esteja ao seu alcance para evitar que esse problema se torne causa de

30
A Lei nº 9474, de 22 de julho de 1997, em vigor, que define mecanismos para a implementação do Estatuto dos
Refugiados de 1951, não consta expressamente no Edital DP 01/2022 – VUNESP/ACADEPOL. Vide:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9474.htm
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 94

tensão entre os Estados, Notando que o Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados tem a
incumbência de zelar pela aplicação das convenções internacionais que assegurem a proteção dos refugiados,
e reconhecendo que a coordenação efetiva das medidas tomadas para resolver este problema dependerá da
cooperação dos Estados com o Alto Comissário31,

Convieram nas seguintes disposições:

Capítulo I

DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 1º - Definição do termo "refugiado"

A. Para os fins da presente Convenção, o termo "refugiado" se aplicará a qualquer pessoa:

1) Que foi considerada refugiada nos termos dos Ajustes de 12 de maio de 1926 e de 30 de junho de 1928,
ou das Convenções de 28 de outubro de 1933 e de 10 de fevereiro de 1938 e do Protocolo de 14 de setembro
de 1939, ou ainda da Constituição da Organização Internacional dos Refugiados;

As decisões de inabilitação tomadas pela Organização Internacional dos Refugiados durante o período do
seu mandato, não constituem obstáculo a que a qualidade de refugiados seja reconhecida a pessoas que
preencham as condições previstas no parágrafo 2 da presente seção;

2) Que, em conseqüência dos acontecimentos ocorridos antes de 1º de janeiro de 1951 e temendo ser
perseguida por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, se encontra fora do
país de sua nacionalidade e que não pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se da proteção desse
país, ou que, se não tem nacionalidade e se encontra fora do país no qual tinha sua residência habitual em
conseqüência de tais acontecimentos, não pode ou, devido ao referido temor, não quer voltar a ele.

No caso de uma pessoa que tem mais de uma nacionalidade, a expressão "do país de sua nacionalidade"
se refere a cada um dos países dos quais ela é nacional. Uma pessoa que, sem razão válida fundada sobre
um temor justificado, não se houver valido da proteção de um dos países de que é nacional, não será
considerada privada da proteção do país de sua nacionalidade.

B. 1) Para os fins da presente Convenção, as palavras "acontecimentos ocorridos antes de 1º de janeiro


de 1951", do art. 1º, seção A, poderão ser compreendidas no sentido de ou

a) "acontecimentos ocorridos antes de 1º de janeiro de 1951 na Europa"; ou b) "acontecimentos ocorridos


antes de 1º de janeiro de 1951 na Europa ou alhures"; e cada Estado Contratante fará, no momento da
assinatura, da ratificação ou da adesão, uma declaração precisando o alcance que pretende dar a essa
expressão do ponto de vista das obrigações assumidas por ele em virtude da presente Convenção.

2) Qualquer Estado Contratante que adotou a fórmula a) poderá em qualquer momento estender as suas
obrigações adotando a fórmula b) por meio de uma notificação dirigida ao Secretário-Geral das Nações Unidas.

C. Esta Convenção cessará, nos casos abaixo, de ser aplicável a qualquer pessoa compreendida nos
termos da seção A, acima:

1) se ela voltou a valer-se da proteção do país de que é nacional; ou

2) se havendo perdido a nacionalidade, ela a recuperou voluntariamente;

ou

31
Adotada em 28 de julho de 1951 pela Conferência das Nações Unidas de Plenipotenciários sobre o Estatuto dos
Refugiados e Apátridas, convocada pela Resolução n. 429 (V) da Assembléia Geral das Nações Unidas, de 14 de
dezembro de 1950. Entrou em vigor em 22 de abril de 1954, de acordo com o artigo 43. Série Tratados da ONU, Nº 2545,
Vol. 189, p. 137.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 95

3) se adquiriu nova nacionalidade e goza da proteção do país cuja nacionalidade adquiriu; ou

4) se se estabeleceu de novo, voluntariamente, no país que abandonou ou fora do qual permaneceu por
medo de ser perseguido; ou

5) se, por terem deixado de existir as circunstâncias em conseqüência das quais foi reconhecida como
refugiada, ela não pode mais continuar a recusar valer-se da proteção do país de que é nacional;

Contanto, porém, que as disposições do presente parágrafo não se apliquem a um refugiado incluído nos
termos do parágrafo 1 da seção A do presente artigo que pode invocar, para recusar valer-se da proteção do
país de que é nacional, razões imperiosas resultantes de perseguições anteriores;

6) tratando-se de pessoa que não tem nacionalidade, se, por terem deixado de existir as circunstâncias
em conseqüência das quais foi reconhecida como refugiada, ela está em condições de voltar ao país no qual
tinha sua residência habitual;

Contanto, porém, que as disposições do presente parágrafo não se apliquem a um refugiado incluído nos
termos do parágrafo 1 da seção A do presente artigo que pode invocar, para recusar voltar ao país no qual
tinha sua residência habitual, razões imperiosas resultantes de perseguições anteriores.

D. Esta Convenção não será aplicável às pessoas que atualmente se beneficiam de uma proteção ou
assistência da parte de um organismo ou de uma instituição da Nações Unidas que não o Alto Comissário da
Nações Unidas para refugiados.

Quando esta proteção ou assistência houver cessado, por qualquer razão, sem que a sorte dessas
pessoas tenha sido definitivamente resolvida de acordo com as resoluções a ela relativas adotadas pela
Assembléia Geral das Nações Unidas, essas pessoas se beneficiarão de pleno direito do regime desta
Convenção.

E. Esta Convenção não será aplicável a uma pessoa considerada pelas autoridades competentes do país
no qual esta pessoa instalou sua residência como tendo os direitos e as obrigações relacionados com a posse
da nacionalidade desse país.

F. As disposições desta Convenção não serão aplicáveis às pessoas a respeito das quais houver razões
sérias para pensar que:

a) elas cometeram um crime contra a paz, um crime de guerra ou um crime contra a humanidade, no
sentido dos instrumentos internacionais elaborados para prever tais crimes;

b) elas cometeram um crime grave de direito comum fora do país de refúgio antes de serem nele admitidas
como refugiados;

c) elas se tornaram culpadas de atos contrários aos fins e princípios das Nações Unidas.

Art. 2º - Obrigações gerais

Todo refugiado tem deveres para com o país em que se encontra, os quais compreendem notadamente a
obrigação de se conformar às leis e regulamentos, assim como às medidas tomadas para a manutenção da
ordem pública.

Art. 3º - Não discriminação

Os Estados Contratantes aplicarão as disposições desta Convenção aos refugiados sem discriminação
quanto à raça, à religião ou ao país de origem.

Art. 4º - Religião
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 96

Os Estados Contratantes proporcionarão aos refugiados em seu território um tratamento ao menos tão
favorável quanto o que é proporcionado aos nacionais no que concerne à liberdade de praticar a sua religião e
no que concerne à liberdade de instrução religiosa dos seus filhos.

Art. 5º - Direitos conferidos independentemente desta Convenção

Nenhuma disposição desta Convenção prejudicará os outros direitos e vantagens concedidos aos
refugiados, independentemente desta Convenção.

Art. 6º - A expressão "nas mesmas circunstâncias"

Para os fins desta Convenção, os termos "nas mesmas circunstâncias" implicam que todas as condições
(e notadamente as que se referem à duração e às condições de permanência ou de residência) que o
interessado teria de preencher, para poder exercer o direito em causa, se ele não fosse refugiado, devem ser
preenchidas por ele, com exceção das condições que, em razão da sua natureza, não podem ser preenchidas
por um refugiado.

Art. 7º - Dispensa de reciprocidade

1. Ressalvadas as disposições mais favoráveis previstas por esta Convenção, um Estado Contratante
concederá aos refugiados o regime que concede aos estrangeiros em geral.

2. Após um prazo de residência de três anos, todos os refugiados se beneficiarão, no território dos Estados
Contratantes, da dispensa de reciprocidade legislativa.

3. Cada Estado Contratante continuará a conceder aos refugiados os direitos e vantagens de que já
gozavam, na ausência de reciprocidade, na data de entrada em vigor desta Convenção para o referido Estado.

4. Os Estados Contratantes considerarão com benevolência a possibilidade de conceder aos refugiados,


na ausência de reciprocidade, direitos e vantagens além dos de que eles gozam em virtude dos parágrafos 2
e 3, assim como a possibilidade de fazer beneficiar-se da dispensa de reciprocidade refugiados que não
preencham as condições previstas nos parágrafos 2 e 3.

5. As disposições dos parágrafos 2 e 3 acima aplicam-se assim às vantagens mencionadas nos artigos 13,
18, 19, 21 e 22 desta Convenção como aos direitos e vantagens que não são por ela previstos.

Art. 8º - Dispensa de medidas excepcionais

No que concerne às medidas excepcionais que podem ser tomadas contra a pessoa, os bens ou os
interesses dos nacionais de um Estado, os Estados Contratantes não aplicarão tais medidas a um refugiado
que seja formalmente nacional do referido Estado unicamente em razão da sua nacionalidade. Os Estados
Contratantes que, pela sua legislação, não podem aplicar o princípio geral consagrado neste artigo concederão,
nos casos apropriados, dispensa em favor de tais refugiados.

Art. 9º - Medidas provisórias

Nenhuma das disposições da presente Convenção tem por efeito impedir um Estado Contratante, em
tempo de guerra ou em outras circunstâncias graves e excepcionais, de tomar provisoriamente, a propósito de
uma pessoa determinada, as medidas que este Estado julga indispensáveis à segurança nacional, até que o
referido Estado determine que essa pessoa é efetivamente um refugiado e que a continuação de tais medidas
é necessária a seu propósito no interesse da segurança nacional.

Art. 10 - Continuidade de residência

1. No caso de um refugiado que foi deportado no curso da Segunda Guerra Mundial, transportado para o
território de um dos Estados Contratantes e aí resida, a duração dessa permanência forçada será considerada
residência regular nesse território.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 97

2. No caso de um refugiado que foi deportado do território de um Estado Contratante no curso da Segunda
Guerra Mundial e para ele voltou antes da entrada em vigor desta Convenção para aí estabelecer sua
residência, o período que precede e o que segue a essa deportação serão considerados, para todos os fins
para os quais é necessária uma residência ininterrupta, como constituindo apenas um período ininterrupto.

Art. 11 - Marítimos refugiados

No caso de refugiados regularmente empregados como membros da equipagem a bordo de um navio que
hasteie pavilhão de um Estado Contratante, este Estado examinará com benevolência a possibilidade de
autorizar os referidos refugiados a se estabelecerem no seu território e entregar-lhes documentos de viagem
ou de os admitir a título temporário no seu território, a fim, notadamente, de facilitar a sua fixação em outro
país.

Capítulo II

SITUAÇÃO JURÍDICA

Art. 12 - Estatuto pessoal

1. O estatuto pessoal de um refugiado será regido pela lei do país de seu domicílio, ou, na falta de domicílio,
pela lei do país de sua residência. 2. Os direitos adquiridos anteriormente pelo refugiado e decorrentes do
estatuto pessoal, e notadamente os que resultam do casamento, serão respeitados por um Estado Contratante,
ressalvado, sendo o caso, o cumprimento das formalidades previstas pela legislação do referido Estado,
entendendo-se, todavia, que o direito em causa deve ser dos que seriam reconhecidos pela legislação do
referido Estado se o interessado não se houvesse tornado refugiado.

Art. 13 - Propriedade móvel e imóvel

Os Estados contratantes concederão a um refugiado um tratamento tão favorável quanto possível, e de


qualquer maneira um tratamento que não seja desfavorável do que o que é concedido, nas mesmas
circunstâncias, aos estrangeiros em geral, no que concerne à aquisição de propriedade móvel ou imóvel e a
outros direitos a ela referentes, ao aluguel e aos outros contratos relativos a propriedade móvel ou imóvel.

Art. 14 - Propriedade intelectual e industrial

Em matéria de proteção da propriedade industrial, notadamente de invenções, desenhos, modelos, marcas


de fábrica, nome comercial, e em matéria de proteção da propriedade literária, artística e científica, um
refugiado se beneficiará, no país em que tem sua residência habitual, da proteção que é conferida aos nacionais
do referido país. No território de qualquer um dos outros Estados Contratantes, ele se beneficiará da proteção
dada no referido território aos nacionais do país no qual tem sua residência habitual.

Art. 15 - Direitos de associação

Os Estados Contratantes concederão aos refugiados que residem regularmente em seu território, no que
concerne às associações sem fins políticos nem lucrativos e aos sindicatos profissionais, o tratamento mais
favorável concedido aos nacionais de um país estrangeiro, nas mesmas circunstâncias.

Art. 16 - Direito de estar em juízo

1. Qualquer refugiado terá, no território dos Estados Contratantes, livre e fácil acesso aos tribunais.

2. No Estado Contratante em que tem sua residência habitual, qualquer refugiado gozará do mesmo
tratamento que um nacional, no que concerne ao acesso aos tribunais, inclusive a assistência judiciária e a
isenção da cautio judicatum solvi.

3. Nos Estados Contratantes outros que não o que tem sua residência habitual, e no que concerne às
questões mencionadas no parágrafo 2, qualquer refugiado gozará do mesmo tratamento que um nacional do
país no qual tem sua residência habitual.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 98

Capítulo III

EMPREGOS REMUNERADOS

Art. 17 - Profissões assalariadas

1. Os Estados Contratantes darão a todo refugiado que resida regularmente no seu território o tratamento
mais favorável dado, nas mesmas circunstâncias, aos nacionais de um país estrangeiro no que concerne ao
exercício de uma atividade profissional assalariada.

2. Em qualquer caso, as medidas restritivas impostas aos estrangeiros ou ao emprego de estrangeiros


para a proteção do mercado nacional do trabalho não serão aplicáveis aos refugiados que já estavam
dispensados na data da entrada em vigor desta Convenção pelo Estado Contratante interessado, ou que
preencham uma das seguintes condições:

a) contar três anos da residência no país;

b) ter por cônjuge uma pessoa que possua a nacionalidade do país de residência. Um refugiado não poderá
invocar o benefício desta disposição no caso de haver abandonado o cônjuge;

c) ter um ou vários filhos que possuam a nacionalidade do país de residência.

3. Os Estados Contratantes considerarão com benevolência a adoção de medidas tendentes a assimilar


os direitos de todos os refugiados no que concerne ao exercício das profissões assalariadas aos dos seus
nacionais, e em particular para os refugiados que entraram no seu território em virtude de um programa de
recrutamento de mão-de-obra ou de um plano de imigração.

Art. 18 - Profissões não assalariadas

Os Estados Contratantes darão aos refugiados que se encontrarem regularmente no seu território
tratamento tão favorável quanto possível e, em todo caso, tratamento não menos favorável do que o que é
dado, nas mesmas circunstâncias, aos estrangeiros em geral, no que concerne ao exercício de uma profissão
não assalariada na agricultura, na indústria, no artesanato e no comércio, bem como à instalação de firmas
comerciais e industriais.

Art. 19 - Profissões liberais

1. Cada Estado dará aos refugiados que residam regularmente no seu território e sejam titulares de
diplomas reconhecidos pelas autoridades competentes do referido Estado e que desejam exercer uma
profissão liberal, tratamento tão favorável quanto possível, e, em todo caso, tratamento não menos favorável
do que é dado, nas mesmas circunstâncias, aos estrangeiros em geral.

2. Os Estados Contratantes farão tudo o que estiver ao seu alcance, conforme as suas leis e constituições,
para assegurar a instalação de tais refugiados nos territórios outros que não o território metropolitano, de cujas
relações internacionais sejam responsáveis.

Capítulo IV

BEM-ESTAR

Art. 20 - Racionamento

No caso de existir um sistema de racionamento ao qual esteja submetido o conjunto da população e que
regularmente a repartição geral dos produtos que há escassez, os refugiados serão tratados como os nacionais.

11

Art. 21 - Alojamento
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 99

No que concerne ao alojamento, os Estados Contratantes darão, na medida em que esta questão seja
regulada por leis ou regulamentos ou seja submetida ao controle das autoridades públicas, aos refugiados que
residam regularmente no seu território, tratamento tão favorável quanto possível e, em todo caso, tratamento
não menos favorável do que o que é dado, nas mesmas circunstâncias, aos estrangeiros em geral.

Art. 22 - Educação pública

1. Os Estados Contratantes darão aos refugiados o mesmo tratamento que aos nacionais no que concerne
ao ensino primário.

2. Os Estados Contratantes darão aos refugiados um tratamento tão favorável quanto possível, e em todo
caso não menos favorável do que o que é dado aos estrangeiros em geral, nas mesmas circunstâncias, quanto
aos graus de ensino além do primário e notadamente no que concerne ao acesso aos estudos, ao
reconhecimento de certificados de estudos, de diplomas e títulos universitários estrangeiros, à isenção de
direitos e taxas e à concessão de bolsas de estudo.

Art. 23 - Assistência pública

Os Estados Contratantes darão aos refugiados que residam regularmente no seu território o mesmo
tratamento em matéria de assistência e de socorros públicos que é dado aos seus nacionais.

Art. 24 - Legislação do trabalho e previdência social

1. Os Estados Contratantes darão aos refugiados que residam regularmente no seu território o mesmo
tratamento dado aos nacionais no que concerne aos seguintes pontos:

a) Na medida em que estas questões são regulamentadas pela legislação ou dependem das autoridades
administrativas: a remuneração, inclusive adicionais de família quando estes adicionais fazem parte da
remuneração, a duração do trabalho, as horas suplementares, as férias pagas, as restrições ao trabalho
doméstico, a idade mínima para o emprego, o aprendizado e a formação profissional, o trabalho das mulheres
e dos adolescentes e o gozo de vantagens proporcionadas pelas convenções coletivas.

b) A previdência social (as disposições legais relativas aos acidentes do trabalho, às moléstias
profissionais, à maternidade, à doença, à invalidez, à velhice e ao falecimento, ao desemprego, aos encargos
de família, bem como a qualquer outro risco que, conforme a legislação nacional, esteja previsto em um sistema
de previdência social), observadas as seguintes limitações:

i) pode haver medidas apropriadas visando à manutenção dos direitos adquiridos e dos direitos em curso
de aquisição;

ii) disposições particulares prescritas pela legislação nacional do país de residência e concernentes aos
benefícios ou frações de benefícios pagáveis exclusivamente dos fundos públicos, bem como às pensões
pagas às pessoas que não preenchem as condições de contribuição exigidas para a concessão de uma pensão
normal.

2. Os direitos a um benefício pela morte de um refugiado em virtude de um acidente de trabalho ou de uma


doença profissional não serão afetados pelo fato de o beneficiário residir fora do território do Estado
Contratante.

3. Os Estados Contratantes estenderão aos refugiados o benefício dos acordos que concluíram ou vierem
a concluir entre si, relativamente à manutenção dos direitos adquiridos ou em curso de aquisição em matéria
de previdência social, contanto que os refugiados preencham as condições previstas para os nacionais dos
países signatários dos acordos em questão.

4. Os Estados Contratantes examinarão com benevolência a possibilidade de estender, na medida do


possível, aos refugiados, o benefício de acordos semelhantes que estão ou estarão em vigor entre esses
Estados Contratantes e Estados não contratantes.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 100

Capítulo V

MEDIDAS ADMINISTRATIVAS

Art. 25 - Assistência Administrativa

1. Quando o exercício de um direito por um refugiado normalmente exigir a assistência de autoridades


estrangeiras às quais não pode recorrer, os Estados Contratantes em cujo território reside providenciarão para
que essa assistência lhe seja dada, quer pelas suas próprias autoridades, quer por uma autoridade
internacional.

2. As autoridades mencionadas no parágrafo 1 entregarão ou farão entregar, sob seu controle, aos
refugiados, os documentos ou certificados que normalmente seriam entregues a um estrangeiro pelas suas
autoridades nacionais ou por seu intermédio.

3. Os documentos ou certificados assim entregues substituirão os atos oficiais entregues a estrangeiros


pelas suas autoridades nacionais ou por seu intermédio, e farão fé até prova em contrário.

4. Ressalvadas as exceções que possam ser admitidas em favor dos indigentes, os serviços mencionados
no presente artigo poderão ser retribuídos; mas estas retribuições serão moderadas e de acordo com o que se
cobra dos nacionais por serviços análogos.

5. As disposições deste artigo em nada afetarão os artigos 27 e 28.

Art. 26 - Liberdade de movimento

Cada Estado Contratante dará aos refugiados que se encontrem no seu território o direito de nele escolher
o local de sua residência e de nele circular, livremente, com as reservas instituídas pela regulamentação
aplicável aos estrangeiros em geral nas mesmas circunstâncias.

Art. 27 - Papéis de identidade

Os Estados Contratantes entregarão documentos de identidade a qualquer refugiado que se encontre no


seu território e que não possua documento de viagem válido.

Art. 28 - Documentos de viagem

1. Os Estados Contratantes entregarão aos refugiados que residam regularmente no seu território
documentos de viagem destinados a permitir-lhes viajar fora desse território, a menos que a isto se oponham
razões imperiosas de segurança nacional ou de ordem pública; as disposições do Anexo a esta Convenção se
aplicarão a esses documentos. Os Estados Contratantes poderão entregar tal documento de viagem a qualquer
outro refugiado que se encontre no seu território; darão atenção especial aos casos de refugiados que se
encontre em seu território e que não estejam em condições de obter um documento de viagem do país de sua
residência regular.

2. Os documentos de viagem entregues nos termos de acordos internacionais anteriores pelas Partes
nesses acordos serão reconhecidos pelos Estados Contratantes, e tratados como se houvessem sido
entregues aos refugiados em virtude do presente artigo.

Art. 29 - Despesas fiscais

1. Os Estados Contratantes não submeterão os refugiados a direitos, taxas, impostos, de qualquer espécie,
além ou mais elevados do que os que são ou serão dos seus nacionais em situação análogas.

2. As disposições do parágrafo anterior não se opõem à aplicação aos refugiados das disposições das leis
e regulamentos concernentes às taxas relativas à expedição aos estrangeiros de documentos administrativos,
inclusive papéis de identidade.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 101

Art. 30 - Transferência de bens

Cada Estado Contratante permitirá aos refugiados, conforme as leis e regulamentos do seu país, transferir
os bens que trouxeram para o seu território, para o território de outro país no qual foram admitidos a fim de nele
se reinstalarem.

2. Cada Estado Contratante considerará com benevolência os pedidos apresentados pelos refugiados que
desejarem obter a autorização de transferir todos os outros bens necessários à sua reinstalação em outro país
onde foram admitidos a fim de se reinstalarem.

Art. 31 - Refugiados em situação irregular no país de refúgio

1. Os Estados Contratantes não aplicarão sanções penais em virtude da sua entrada ou permanência
irregulares, aos refugiados que, chegando diretamente do território no qual sua vida ou sua liberdade estava
ameaçada no sentido previsto pelo art. 1º, cheguem ou se encontrem no seu território sem autorização,
contanto que se apresentem sem demora às autoridades e lhes exponham razões aceitáveis para a sua entrada
ou presença irregulares.

2. Os Estados Contratantes não aplicarão aos deslocamentos de tais refugiados outras restrições que não
as necessárias; essas restrições serão aplicadas somente enquanto o estatuto desses refugiados no país de
refúgio não houver sido regularizado ou eles não houverem obtido admissão em outro país. À vista desta última
admissão os Estados

Contratantes concederão a esses refugiados um prazo razoável, assim como todas as facilidades
necessárias.

Art. 32 - Expulsão

1. Os Estados Contratantes não expulsarão um refugiado que se encontre regularmente no seu território
senão por motivos de segurança nacional ou de ordem pública.

2. A expulsão desse refugiado somente ocorrerá em virtude de decisão proferida conforme o processo
previsto por lei. A não ser que a isso se oponham razões imperiosas de segurança nacional, o refugiado deverá
ter permissão de fornecer provas que o justifiquem, de apresentar um recurso e de se fazer representar para
esse fim perante uma autoridade competente ou perante uma ou várias pessoas especialmente designadas
pela autoridade competente.

3. Os Estados Contratantes concederão a tal refugiado um prazo razoável para procurar obter admissão
legal em outro país. Os Estados Contratantes podem aplicar, durante esse prazo, a medida de ordem interna
que julgarem oportuna.

Art. 33 - Proibição de expulsão ou de rechaço

1. Nenhum dos Estados Contratantes expulsará ou rechaçará, de maneira alguma, um refugiado para as
fronteiras dos territórios em que a sua vida ou a sua liberdade seja ameaçada em virtude da sua raça, da sua
religião, da sua nacionalidade, do grupo social a que pertence ou das suas opiniões políticas.

2. O benefício da presente disposição não poderá, todavia, ser invocado por um refugiado que por motivos
sérios seja considerado um perigo para a segurança do país no qual ele se encontre ou que, tendo sido
condenado definitivamente por crime ou delito particularmente grave, constitui ameaça para a comunidade do
referido país.

Art. 34 - Naturalização

Os Estados Contratantes facilitarão, na medida do possível, a assimilação e a naturalização dos


refugiados. Esforçar-se-ão notadamente para acelerar o processo de naturalização e reduzir, na medida do
possível, as taxas e despesas desse processo.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 102

Capítulo VI

DISPOSIÇÕES EXECUTÓRIAS E TRANSITÓRIAS

Art. 35 - Cooperação das autoridades nacionais com as Nações Unidas

1. Os Estados Contratantes se comprometem a cooperar com o Alto Comissariado das Nações Unidas
para os Refugiados, ou qualquer outra instituição das Nações Unidas que lhe suceda, no exercício das suas
funções e em particular para facilitar a sua tarefa de supervisionar a aplicação das disposições desta
Convenção.

2. A fim de permitir ao Alto Comissariado ou a qualquer outra instituição das Nações Unidas que lhe suceda
apresentar relatório aos órgãos competentes das Nações Unidas, os Estados Contratantes se comprometem
a fornecer-lhes, pela forma apropriada, as informações e dados estatísticos pedidos relativos:

a) ao estatuto dos refugiados,

b) à execução desta Convenção, e

c) às leis, regulamentos e decretos que estão ou entrarão em vigor que

concerne aos refugiados.

Art. 36 - Informações sobre as leis e regulamentos nacionais

Os Estados Contratantes comunicarão ao Secretário-Geral das Nações Unidas o texto das leis e dos
regulamentos que promulguem para assegurar a aplicação desta Convenção.

Art. 37 - Relações com as convenções anteriores

Sem prejuízo das disposições do parágrafo 2 do art. 28, esta Convenção substitui, entre as Partes na
Convenção, os acordos de 5 de julho de 1922, de 31 de maio de 1924, de 12 de maio de 1926, de 30 de julho
de 1928 e de 30 de julho de 1935, bem como as Convenções de 28 de outubro de 1933, de 10 de fevereiro de
1938, o Protocolo de 14 de setembro de 1939 e o acordo de 15 de outubro de 1946.

Capítulo VII

CLÁUSULAS FINAIS

Art. 38 - Solução dos dissídios

Qualquer controvérsia entre as Partes nesta Convenção relativa à sua interpretação ou à sua aplicação,
que não possa ser resolvida por outros meios, será submetida à Corte Internacional de Justiça, a pedido de
uma das Partes na controvérsia.

Art. 39 - Assinatura, ratificação e adesão

1. Esta Convenção ficará aberta à assinatura em Genebra a 28 de julho de 1951 e, após esta data,
depositada em poder do Secretário-Geral das Nações Unidas. Ficará aberta à assinatura no Escritório Europeu
das Nações Unidas de 28 de julho a 31 de agosto de 1951, e depois será reaberta à assinatura na Sede da
Organização das Nações Unidas, de 17 de setembro de 1951 a 31 de dezembro de 1952.

2. Esta Convenção ficará aberta à assinatura de todos os Estados membros da Organização das Nações
Unidas, bem como de qualquer outro Estado não-membro convidado para a Conferência de Plenipotenciários
sobre o Estatuto dos Refugiados e dos Apátridas ou de qualquer Estado ao qual a Assembléia Geral haja
dirigido convite para assinar. Deverá ser ratificada e os instrumentos de ratificação ficarão depositados em
poder do Secretário-Geral das Nações Unidas.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 103

3. Os Estados mencionados no parágrafo 2 do presente artigo poderão aderir a esta Convenção a partir
de 28 de julho de 1951. A adesão será feita pelo depósito de um instrumento de adesão em poder do
SecretárioGeral das Nações Unidas.

Art. 40 - Cláusula de aplicação territorial

1. Qualquer Estado poderá, no momento da assinatura, ratificação ou adesão, declarar que esta
Convenção se estenderá ao conjunto dos territórios que representa no plano internacional, ou a um ou vários
dentre eles. Tal declaração produzirá efeitos no momento da entrada em vigor da Convenção para o referido
Estado.

2. A qualquer momento ulterior, esta extensão será feita por notificação dirigida ao Secretário-Geral das
Nações Unidas e produzirá efeitos a partir do nonagésimo dia seguinte à data na qual o Secretário-Geral das
Nações Unidas houver recebido a notificação ou na data de entrada em vigor da Convenção para o referido
Estado, se esta última data for posterior.

3. No que concerne aos territórios aos quais esta Convenção não se aplique na data da assinatura,
ratificação ou adesão, cada Estado interessado examinará a possibilidade de tomar, logo que possível, todas
as medidas necessárias a fim de estender a aplicação desta Convenção aos referidos territórios, ressalvado,
sendo necessário por motivos constitucionais, o consentimento do governo de tais territórios.

Art. 41 - Cláusula federal

No caso de um Estado federal ou não unitário, aplicar-se-ão as seguintes disposições:

a) No que concerne aos artigos desta Convenção cuja execução dependa da ação legislativa do poder
legislativo federal, as obrigações do governo federal serão, nesta medida, as mesmas que as das Partes que
não são Estados federais.

b) No que concerne aos artigos desta Convenção cuja aplicação depende da ação legislativa de cada um
dos Estados, províncias ou cantões constitutivos, que não são, em virtude do sistema constitucional da
federação, obrigados a tomar medidas legislativas, o governo federal levará, o mais cedo possível, e com o seu
parecer favorável, os referidos artigos ao conhecimento das autoridades competentes dos Estados, províncias
ou cantões.

c) Um Estado federal Parte nesta Convenção fornecerá, a pedido de qualquer outro Estado Contratante
que lhe haja sido transmitido pelo Secretário-Geral das Nações Unidas, uma exposição sobre a legislação e as
práticas em vigor na Federação e suas unidades constitutivas, no que concerne a qualquer disposição da
Convenção, indicando a medida em que, por uma ação legislativa ou outra, se deu efeito à referida disposição.

Art. 42 - Reservas

1. No momento da assinatura, da ratificação ou da adesão, qualquer

Estado poderá formular reservas aos artigos da Convenção, outros que não os arts. 1º, 3º, 4º, 16 (1), 33,
36 a 46 inclusive.

2. Qualquer Estado Contratante que haja formulado uma reserva conforme o parágrafo 1 deste artigo,
poderá retirá-la a qualquer momento por uma comunicação para esse fim dirigida ao Secretário-Geral das
Nações Unidas.

Art. 43 - Entrada em vigor

1. Esta Convenção entrará em vigor no nonagésimo dia seguinte à data do depósito do sexto instrumento
de ratificação ou de adesão.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 104

2. Para cada um dos Estados que ratificarem a Convenção ou a ela aderirem depois do depósito do sexto
instrumento de ratificação ou de adesão, ela entrará em vigor no nonagésimo dia seguinte à data do depósito
por esse Estado do seu instrumento de ratificação ou de adesão.

Art. 44 - Denúncia

1. Qualquer Estado Contratante poderá denunciar a Convenção a qualquer momento por notificação
dirigida ao Secretário-Geral das Nações Unidas.

2. A denúncia entrará em vigor para o Estado interessado um ano depois da data na qual houver sido
recebida pelo Secretário-Geral das Nações Unidas.

3. Qualquer Estado que houver feito uma declaração ou notificação conforme o art. 40 poderá notificar
ulteriormente ao Secretário-Geral das Nações Unidas que a Convenção cessará de se aplicar a todo o território
designado na notificação. A Convenção cessará, então, de se aplicar ao território em questão um ano depois
da data na qual o Secretário-Geral houver recebido essa notificação.

Art. 45 - revisão

1. Qualquer Estado Contratante poderá, a qualquer tempo, por uma notificação dirigida ao Secretário-Geral
das Nações Unidas, pedir a revisão desta Convenção.

2. A Assembléia Geral das Nações Unidas recomendará as medidas a serem tomadas, se for o caso, a
propósito de tal pedido.

Art. 46 - Notificações pelo Secretário-Geral das Nações Unidas

O Secretário-Geral das Nações Unidas notificará a todos os Estados membros das Nações Unidas e aos
Estados não-membros mencionados no art. 39:

a) as declarações e as notificações mencionadas na seção B do art. 1º;

b) as assinaturas, ratificações e adesões mencionadas no art. 39;

c) as declarações e as notificações mencionadas no art. 40;

d) as reservas formuladas ou retiradas mencionadas no art. 42;

e) a data na qual esta Convenção entrar em vigor, de acordo com o art. 43;

21

f) as denúncias e as notificações mencionadas no art. 44

g) os pedidos de revisão mencionados no art. 45

Em fé do que, os abaixo-assinados, devidamente autorizados, assinaram, em nome de seus respectivos


Governos, a presente Convenção.

Feita em Genebra, aos 28 de julho de mil novecentos e cinqüenta e um, em um só exemplar, cujos textos
inglês e francês fazem igualmente fé e que será depositada nos arquivos da Organização das Nações Unidas
e cujas cópias autênticas serão remetidas a todos os Estados membros das Nações Unidas e aos Estados
não-membros mencionados no Art. 39.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 105

2.4 ACTO INTERNACIONAL DOS DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E


CULTURAIS - 1966 (DECRETO Nº 591/1992)

DECRETO No 591, DE 6 DE JULHO DE 1992.

Atos Internacionais. Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Promulgação.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso VIII, da
Constituição, e

Considerando que o Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais foi adotado pela
XXI Sessão da Assembléia-Geral das Nações Unidas, em 19 de dezembro de 1966;

Considerando que o Congresso Nacional aprovou o texto do referido diploma internacional por meio do
Decreto Legislativo n° 226, de 12 de dezembro de 1991;

Considerando que a Carta de Adesão ao Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais foi depositada em 24 de janeiro de 1992;

Considerando que o pacto ora promulgado entrou em vigor, para o Brasil, em 24 de abril de 1992, na
forma de seu art. 27, parágrafo 2°;

DECRETA:

Art. 1° O Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, apenso por cópia ao presente
decreto, será executado e cumprido tão inteiramente como nele se contém.

Art. 2° Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 06 de julho de 1992; 171º da Independência e 104° da República.

FERNANDO COLLOR

Celso Lafer

Este texto não substitui o publicado no DOU de 7.7.1992

ANEXO AO DECRETO QUE PROMULGA O PACTO INTERNACIONAL SOBRE DIREITOS ECONÔMICOS,


SOCIAIS E CULTURAIS/MRE

PACTO INTERNACIONAL SOBRE DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS

PREÂMBULO

Os Estados Partes do presente Pacto,

Considerando que, em conformidade com os princípios proclamados na Carta das Nações Unidas, o
relacionamento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e dos seus direitos iguais e
inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo,

Reconhecendo que esses direitos decorrem da dignidade inerente à pessoa humana,

Reconhecendo que, em conformidade com a Declaração Universal dos Direitos do Homem. O ideal do
ser humano livre, liberto do temor e da miséria. Não pode ser realizado a menos que se criem condições que
permitam a cada um gozar de seus direitos econômicos, sociais e culturais, assim como de seus direitos civis
e políticos,
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 106

Considerando que a Carta das Nações Unidas impõe aos Estados a obrigação de promover o respeito
universal e efetivo dos direitos e das liberdades do homem,

Compreendendo que o indivíduo, por ter deveres para com seus semelhantes e para com a coletividade
a que pertence, tem a obrigação de lutar pela promoção e observância dos direitos reconhecidos no presente
Pacto,

Acordam o seguinte:

PARTE I

ARTIGO 1º

1. Todos os povos têm direito a autodeterminação. Em virtude desse direito, determinam livremente seu
estatuto político e asseguram livremente seu desenvolvimento econômico, social e cultural.

2. Para a consecução de seus objetivos, todos os povos podem dispor livremente de suas riquezas e de
seus recursos naturais, sem prejuízo das obrigações decorrentes da cooperação econômica internacional,
baseada no princípio do proveito mútuo, e do Direito Internacional. Em caso algum, poderá um povo ser privado
de seus próprios meios de subsistência.

3. Os Estados Partes do Presente Pacto, inclusive aqueles que tenham a responsabilidade de administrar
territórios não-autônomos e territórios sob tutela, deverão promover o exercício do direito à autodeterminação
e respeitar esse direito, em conformidade com as disposições da Carta das Nações Unidas.

PARTE II

ARTIGO 2º

1. Cada Estado Parte do presente Pacto compromete-se a adotar medidas, tanto por esforço próprio como
pela assistência e cooperação internacionais, principalmente nos planos econômico e técnico, até o máximo
de seus recursos disponíveis, que visem a assegurar, progressivamente, por todos os meios apropriados, o
pleno exercício dos direitos reconhecidos no presente Pacto, incluindo, em particular, a adoção de medidas
legislativas.

2. Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a garantir que os direitos nele enunciados e
exercerão em discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra
natureza, origem nacional ou social, situação econômica, nascimento ou qualquer outra situação.

3. Os países em desenvolvimento, levando devidamente em consideração os direitos humanos e a


situação econômica nacional, poderão determinar em que garantirão os direitos econômicos reconhecidos no
presente Pacto àqueles que não sejam seus nacionais.

ARTIGO 3º

Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a assegurar a homens e mulheres igualdade no


gozo de todos os direitos econômicos, sociais e culturais enumerados no presente Pacto.

ARTIGO 4º

Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem que, no exercício dos direitos assegurados em
conformidade com presente Pacto pelo Estado, este poderá submeter tais direitos unicamente às limitações
estabelecidas em lei, somente na medida compatível com a natureza desses direitos e exclusivamente com o
objetivo de favorecer o bem-estar geral em uma sociedade democrática.

ARTIGO 5º

1. Nenhuma das disposições do presente Pacto poderá ser interpretada no sentido de reconhecer a um
Estado, grupo ou indivíduo qualquer direito de dedicar-se a quaisquer atividades ou de praticar quaisquer atos
que tenham por objetivo destruir os direitos ou liberdades reconhecidos no presente Pacto ou impor-lhe
limitações mais amplas do que aquelas nele previstas.

2. Não se admitirá qualquer restrição ou suspensão dos direitos humanos fundamentais reconhecidos ou
vigentes em qualquer país em virtude de leis, convenções, regulamentos ou costumes, sob pretexto de que o
presente Pacto não os reconheça ou os reconheça em menor grau.

PARTE III
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 107

ARTIGO 6º

1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito ao trabalho, que compreende o direito de
toda pessoa de ter a possibilidade de ganhar a vida mediante um trabalho livremente escolhido ou aceito, e
tomarão medidas apropriadas para salvaguardar esse direito.

2. As medidas que cada Estado Parte do presente Pacto tomará a fim de assegurar o pleno exercício
desse direito deverão incluir a orientação e a formação técnica e profissional, a elaboração de programas,
normas e técnicas apropriadas para assegurar um desenvolvimento econômico, social e cultural constante e o
pleno emprego produtivo em condições que salvaguardem aos indivíduos o gozo das liberdades políticas e
econômicas fundamentais.

ARTIGO 7º

Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito de toda pessoa de gozar de condições de
trabalho justas e favoráveis, que assegurem especialmente:

a) Uma remuneração que proporcione, no mínimo, a todos os trabalhadores:

i) Um salário eqüitativo e uma remuneração igual por um trabalho de igual valor, sem qualquer distinção;
em particular, as mulheres deverão ter a garantia de condições de trabalho não inferiores às dos homens e
perceber a mesma remuneração que eles por trabalho igual;

ii) Uma existência decente para eles e suas famílias, em conformidade com as disposições do presente
Pacto;

b) À segurança e a higiene no trabalho;

c) Igual oportunidade para todos de serem promovidos, em seu trabalho, à categoria superior que lhes
corresponda, sem outras considerações que as de tempo de trabalho e capacidade;

d) O descanso, o lazer, a limitação razoável das horas de trabalho e férias periódicas remuneradas, assim
como a remuneração dos feridos.

ARTIGO 8º

1. Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a garantir:

a) O direito de toda pessoa de fundar com outras, sindicatos e de filiar-se ao sindicato de escolha,
sujeitando-se unicamente aos estatutos da organização interessada, com o objetivo de promover e de proteger
seus interesses econômicos e sociais. O exercício desse direito só poderá ser objeto das restrições previstas
em lei e que sejam necessárias, em uma sociedade democrática, no interesse da segurança nacional ou da
ordem pública, ou para proteger os direitos e as liberdades alheias;

b) O direito dos sindicatos de formar federações ou confederações nacionais e o direito destas de formar
organizações sindicais internacionais ou de filiar-se às mesmas.

c) O direito dos sindicatos de exercer livremente suas atividades, sem quaisquer limitações além daquelas
previstas em lei e que sejam necessárias, em uma sociedade democrática, no interesse da segurança nacional
ou da ordem pública, ou para proteger os direitos e as liberdades das demais pessoas:

d) O direito de greve, exercido de conformidade com as leis de cada país.

2. O presente artigo não impedirá que se submeta a restrições legais o exercício desses direitos pelos
membros das forças armadas, da política ou da administração pública.

3. Nenhuma das disposições do presente artigo permitirá que os Estados Partes da Convenção de 1948
da Organização Internacional do Trabalho, relativa à liberdade sindical e à proteção do direito sindical, venham
a adotar medidas legislativas que restrinjam - ou a aplicar a lei de maneira a restringir as garantias previstas na
referida Convenção.

ARTIGO 9º

Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito de toda pessoa à previdência social, inclusive
ao seguro social.

ARTIGO 10
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 108

Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem que:

1. Deve-se conceder à família, que é o elemento natural e fundamental da sociedade, as mais amplas
proteção e assistência possíveis, especialmente para a sua constituição e enquanto ele for responsável pela
criação e educação dos filhos. O matrimonio deve ser contraído com o livre consentimento dos futuros cônjuges.

2. Deve-se conceder proteção especial às mães por um período de tempo razoável antes e depois do
parto. Durante esse período, deve-se conceder às mães que trabalham licença remunerada ou licença
acompanhada de benefícios previdenciários adequados.

3. Devem-se adotar medidas especiais de proteção e de assistência em prol de todas as crianças e


adolescentes, sem distinção alguma por motivo de filiação ou qualquer outra condição. Devem-se proteger as
crianças e adolescentes contra a exploração econômica e social. O emprego de crianças e adolescentes em
trabalhos que lhes sejam nocivos à moral e à saúde ou que lhes façam correr perigo de vida, ou ainda que lhes
venham a prejudicar o desenvolvimento norma, será punido por lei.

Os Estados devem também estabelecer limites de idade sob os quais fique proibido e punido por lei o
emprego assalariado da mão-de-obra infantil.

ARTIGO 11

1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito de toda pessoa a um nível de vida
adequando para si próprio e sua família, inclusive à alimentação, vestimenta e moradia adequadas, assim como
a uma melhoria contínua de suas condições de vida. Os Estados Partes tomarão medidas apropriadas para
assegurar a consecução desse direito, reconhecendo, nesse sentido, a importância essencial da cooperação
internacional fundada no livre consentimento.

2. Os Estados Partes do presente Pacto, reconhecendo o direito fundamental de toda pessoa de estar
protegida contra a fome, adotarão, individualmente e mediante cooperação internacional, as medidas, inclusive
programas concretos, que se façam necessárias para:

a) Melhorar os métodos de produção, conservação e distribuição de gêneros alimentícios pela plena


utilização dos conhecimentos técnicos e científicos, pela difusão de princípios de educação nutricional e pelo
aperfeiçoamento ou reforma dos regimes agrários, de maneira que se assegurem a exploração e a utilização
mais eficazes dos recursos naturais;

b) Assegurar uma repartição eqüitativa dos recursos alimentícios mundiais em relação às necessidades,
levando-se em conta os problemas tanto dos países importadores quanto dos exportadores de gêneros
alimentícios.

ARTIGO 12

1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito de toda pessoa de desfrutar o mais elevado
nível possível de saúde física e mental.

2. As medidas que os Estados Partes do presente Pacto deverão adotar com o fim de assegurar o pleno
exercício desse direito incluirão as medidas que se façam necessárias para assegurar:

a) A diminuição da mortinatalidade e da mortalidade infantil, bem como o desenvolvimento é das crianças;

b) A melhoria de todos os aspectos de higiene do trabalho e do meio ambiente;

c) A prevenção e o tratamento das doenças epidêmicas, endêmicas, profissionais e outras, bem como a
luta contra essas doenças;

d) A criação de condições que assegurem a todos assistência médica e serviços médicos em caso de
enfermidade.

ARTIGO 13

1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito de toda pessoa à educação. Concordam
em que a educação deverá visar ao pleno desenvolvimento da personalidade humana e do sentido de sua
dignidade e fortalecer o respeito pelos direitos humanos e liberdades fundamentais. Concordam ainda em que
a educação deverá capacitar todas as pessoas a participar efetivamente de uma sociedade livre, favorecer a
compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e entre todos os grupos raciais, étnicos ou
religiosos e promover as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 109

2. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem que, com o objetivo de assegurar o pleno exercício
desse direito:

a) A educação primaria deverá ser obrigatória e acessível gratuitamente a todos;

b) A educação secundária em suas diferentes formas, inclusive a educação secundária técnica e


profissional, deverá ser generalizada e torna-se acessível a todos, por todos os meios apropriados e,
principalmente, pela implementação progressiva do ensino gratuito;

c) A educação de nível superior deverá igualmente torna-se acessível a todos, com base na capacidade
de cada um, por todos os meios apropriados e, principalmente, pela implementação progressiva do ensino
gratuito;

d) Dever-se-á fomentar e intensificar, na medida do possível, a educação de base para aquelas pessoas
que não receberam educação primaria ou não concluíram o ciclo completo de educação primária;

e) Será preciso prosseguir ativamente o desenvolvimento de uma rede escolar em todos os níveis de
ensino, implementar-se um sistema adequado de bolsas de estudo e melhorar continuamente as condições
materiais do corpo docente.

1. Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a respeitar a liberdade dos pais e, quando for
o caso, dos tutores legais de escolher para seus filhos escolas distintas daquelas criadas pelas autoridades
públicas, sempre que atendam aos padrões mínimos de ensino prescritos ou aprovados pelo Estado, e de fazer
com que seus filhos venham a receber educação religiosa ou moral que esteja de acordo com suas próprias
convicções.

2.Nenhuma das disposições do presente artigo poderá ser interpretada no sentido de restringir a liberdade
de indivíduos e de entidades de criar e dirigir instituições de ensino, desde que respeitados os princípios
enunciados no parágrafo 1 do presente artigo e que essas instituições observem os padrões mínimos prescritos
pelo Estado.

ARTIGO 14

Todo Estado Parte do presente pacto que, no momento em que se tornar Parte, ainda não tenha garantido
em seu próprio território ou territórios sob sua jurisdição a obrigatoriedade e a gratuidade da educação primária,
se compromete a elaborar e a adotar, dentro de um prazo de dois anos, um plano de ação detalhado destinado
à implementação progressiva, dentro de um número razoável de anos estabelecidos no próprio plano, do
princípio da educação primária obrigatória e gratuita para todos.

ARTIGO 15

1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem a cada indivíduo o direito de:

a) Participar da vida cultural;

b) Desfrutar o processo científico e suas aplicações;

c) Beneficiar-se da proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de toda a produção cientifica,
literária ou artística de que seja autor.

2. As Medidas que os Estados Partes do Presente Pacto deverão adotar com a finalidade de assegurar o
pleno exercício desse direito incluirão aquelas necessárias à convenção, ao desenvolvimento e à difusão da
ciência e da cultura.

3.Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a respeitar a liberdade indispensável à pesquisa
cientifica e à atividade criadora.

4. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem os benefícios que derivam do fomento e do


desenvolvimento da cooperação e das relações internacionais no domínio da ciência e da cultura.

PARTE IV

ARTIGO 16

1. Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a apresentar, de acordo com as disposições


da presente parte do Pacto, relatórios sobre as medidas que tenham adotado e sobre o progresso realizado
com o objetivo de assegurar a observância dos direitos reconhecidos no Pacto.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 110

2. a) Todos os relatórios deverão ser encaminhados ao Secretário-Geral da Organização das Nações


Unidas, o qual enviará cópias dos mesmos ao Conselho Econômico e Social, para exame, de acordo com as
disposições do presente Pacto.

b) O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas encaminhará também às agências


especializadas cópias dos relatórios - ou de todas as partes pertinentes dos mesmos enviados pelos Estados
Partes do presente Pacto que sejam igualmente membros das referidas agências especializadas, na medida
em que os relatórios, ou partes deles, guardem relação com questão que sejam da competência de tais
agências, nos termos de seus respectivos instrumentos constitutivos.

ARTIGO 17

1. Os Estados Partes do presente Pacto apresentarão seus relatórios por etapas, segundo um programa
a ser estabelecido pelo Conselho Econômico e Social no prazo de um ano a contar da data da entrada em vigor
do presente Pacto, após consulta aos Estados Partes e às agências especializadas interessadas.

2. Os relatórios poderão indicar os fatores e as dificuldades que prejudiquem o pleno cumprimento das
obrigações previstas no presente Pacto.

3. Caso as informações pertinentes já tenham sido encaminhadas à Organização das Nações Unidas ou
a uma agência especializada por um Estado Parte, não será necessário reproduzir as referidas informações,
sendo suficiente uma referência precisa às mesmas.

ARTIGO 18

Em virtude das responsabilidades que lhe são conferidas pela Carta das Nações Unidas no domínio dos
direitos humanos e das liberdades fundamentais, o Conselho Econômico e Social poderá concluir acordos com
as agências especializadas sobre a apresentação, por estas, de relatórios relativos aos progressos realizados
quanto ao cumprimento das disposições do presente Pacto que correspondam ao seu campo de atividades.
Os relatórios poderão incluir dados sobre as decisões e recomendações referentes ao cumprimento das
disposições do presente Pacto adotadas pelos órgãos competentes das agências especializadas.

ARTIGO 19

O Conselho Econômico e Social poderá encaminhar à Comissão de Direitos Humanos, para fins de estudo
e de recomendação de ordem geral, ou para informação, caso julgue apropriado, os relatórios concernentes
aos direitos humanos que apresentarem os Estados nos termos dos artigos 16 e 17 e aqueles concernentes
aos direitos humanos que apresentarem as agências especializadas nos termos do artigo 18.

ARTIGO 20

Os Estados Partes do presente Pacto e as agências especializadas interessadas poderão encaminhar ao


Conselho Econômico e Social comentários sobre qualquer recomendação de ordem geral feita em virtude do
artigo 19 ou sobre qualquer referência a uma recomendação de ordem geral que venha a constar de relatório
da Comissão de Direitos Humanos ou de qualquer documento mencionado no referido relatório.

ARTIGO 21

O Conselho Econômico e Social poderá apresentar ocasionalmente à Assembléia-Geral relatórios que


contenham recomendações de caráter geral bem como resumo das informações recebidas dos Estados Partes
do presente Pacto e das agências especializadas sobre as medidas adotadas e o progresso realizado com a
finalidade de assegurar a observância geral dos direitos reconhecidos no presente Pacto.

ARTIGO 22

O Conselho Econômico e Social poderá levar ao conhecimento de outros órgãos da Organização das
Nações Unidas, de seus órgãos subsidiários e das agências especializadas interessadas, às quais incumba a
prestação de assistência técnica, quaisquer questões suscitadas nos relatórios mencionados nesta parte do
presente Pacto que possam ajudar essas entidades a pronunciar-se, cada uma dentro de sua esfera de
competência, sobre a conveniência de medidas internacionais que possam contribuir para a implementação
efetiva e progressiva do presente Pacto.

ARTIGO 23

Os Estados Partes do presente Pacto concordam em que as medidas de ordem internacional destinada
a tornar efetivos os direitos reconhecidos no referido Pacto incluem, sobretudo, a conclusão de convenções, a
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 111

adoção de recomendações, a prestação de assistência técnica e a organização, em conjunto com os governos


interessados, e no intuito de efetuar consultas e realizar estudos, de reuniões regionais e de reuniões técnicas.

ARTIGO 24

Nenhuma das disposições do presente Pacto poderá ser interpretada em detrimento das disposições da
Carta das Nações Unidas ou das constituições das agências especializadas, as quais definem as
responsabilidades respectivas dos diversos órgãos da Organização das Nações Unidas e agências
especializadas relativamente às matérias tratadas no presente Pacto.

ARTIGO 25

Nenhuma das disposições do presente Pacto poderá ser interpretada em detrimento do direito inerente a
todos os povos de desfrutar e utilizar plena e livremente suas riquezas e seus recursos naturais.

PARTE V

ARTIGO 26

1. O presente Pacto está aberto à assinatura de todos os Estados membros da Organização das Nações
Unidas ou membros de qualquer de suas agências especializadas, de todo Estado Parte do Estatuto da Corte
internacional de Justiça, bem como de qualquer outro Estado convidado pela Assembléia-Geral das Nações
Unidas a torna-se Parte do presente Pacto.

2. O presente Pacto está sujeito à ratificação. Os instrumentos de ratificação serão depositados junto ao
Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas.

3. O presente Pacto está aberto à adesão de qualquer dos Estados mencionados no parágrafo 1 do
presente artigo.

4. Far-se-á a adesão mediante depósito do instrumento de adesão junto ao Secretário-Geral da


Organização das Nações Unidas.

5. O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas informará todos os Estados que hajam assinado
o presente Pacto ou a ele aderido, do depósito de cada instrumento de ratificação ou de adesão.

ARTIGO 27

1. O presente Pacto entrará em vigor três meses após a data do depósito, junto ao Secretário-Geral da
Organização das Nações Unidas, do trigésimo-quinto instrumento de ratificação ou de adesão.

2. Para os Estados que vierem a ratificar o presente Pacto ou a ele aderir após o depósito do trigésimo-
quinto instrumento de ratificação ou de adesão, o presente Pacto entrará em vigor três meses após a data do
depósito, pelo Estado em questão, de seu instrumento de ratificação ou de adesão.

ARTIGO 28

Aplicar-se-ão as disposições do presente Pacto, sem qualquer limitação ou exceção, a todas as unidades
constitutivas dos Estados Federativos.

ARTIGO 29

1. Qualquer Estado Parte do presente Pacto poderá propor emendas e depositá-las junto ao Secretário-
Geral da Organização das Nações Unidas. O Secretário-Geral comunicará todas as propostas de emenda aos
Estados Partes do presente Pacto, pedindo-lhes que o notifiquem se desejam que se convoque uma
conferência dos Estados Partes destinada a examinar as propostas e submetê-las à votação. Se pelo menos
um terço dos Estados Partes se manifestar a favor da referida convocação, o Secretário-Geral convocará a
conferência sob os auspícios da Organização das Nações Unidas. Qualquer emenda adotada pela maioria dos
Estados Partes presentes e votantes na conferência será submetida à aprovação da Assembléia-Geral das
Nações Unidas.

2. Tais emendas entrarão em vigor quando aprovadas pela Assembléia-Geral das Nações Unidas e
aceitas, em conformidade com seus respectivos procedimentos constitucionais, por uma maioria de dois terços
dos Estados Partes no presente Pacto.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 112

3. Ao entrarem em vigor, tais emendas serão obrigatórias para os Estados Partes que as aceitaram, ao
passo que os demais Estados Partes permanecem obrigatórios pelas disposições do presente Pacto e pelas
emendas anteriores por eles aceitas.

ARTIGO 30

Independentemente das notificações previstas no parágrafo 5 do artigo 26, o Secretário-Geral da


Organização das Nações Unidas comunicará a todos os Estados mencionados no parágrafo 1 do referido
artigo:

a) as assinaturas, ratificações e adesões recebidas em conformidade com o artigo 26;

b) a data de entrada em vigor do Pacto, nos termos do artigo 27, e a data de entrada em vigor de quaisquer
emendas, nos termos do artigo 29.

ARTIGO 31

1. O presente Pacto, cujos textos em chinês, espanhol, francês, inglês e russo são igualmente autênticos,
será depositado nos arquivos da Organização das Nações Unidas.

2. O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas encaminhará cópias autenticadas do presente


Pacto a todos os Estados mencionados no artigo 26.

Em fé do quê, os abaixo-assinados, devidamente autorizados por seus respectivos Governos, assinaram


o presente Pacto, aberto à assinatura em Nova York, aos 19 dias no mês de dezembro do ano de mil
novecentos e sessenta e seis.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 113

2.5 PACTO INTERNACIONAL SOBRE DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS – 1966


(DECRETO Nº 592/1992)

DECRETO No 592, DE 6 DE JULHO DE 1992.

Atos Internacionais. Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos. Promulgação

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso VIII, da
Constituição, e

Considerando que o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos foi adotado pela XXI Sessão da
Assembléia-Geral das Nações Unidas, em 16 de dezembro de 1966;

Considerando que o Congresso Nacional aprovou o texto do referido diploma internacional por meio do
Decreto Legislativo n° 226, de 12 de dezembro de 1991;

Considerando que a Carta de Adesão ao Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos foi depositada
em 24 de janeiro de 1992;

Considerando que o Pacto ora promulgado entrou em vigor, para o Brasil, em 24 de abril de 1992, na
forma de seu art. 49, parágrafo 2;

DECRETA:

Art. 1° O Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, apenso por cópia ao presente Decreto, será
executado e cumprido tão inteiramente como nele se contém.

Art. 2° Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 06 de julho de 1992; 171° da Independência e 104° da República.

FERNANDO COLLOR

Celso Lafer

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 7.7.1992

ANEXO AO DECRETO QUE PROMULGA O PACTO INTERNACIONAL SOBRE DIREITOS CIVIS E


POLÍTICOS/MRE

PACTO INTERNACIONAL SOBRE DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS

PREÂMBULO

Os Estados Partes do presente Pacto,

Considerando que, em conformidade com os princípios proclamados na Carta das Nações Unidas, o
reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e
inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo,

Reconhecendo que esses direitos decorrem da dignidade inerente à pessoa humana,

Reconhecendo que, em conformidade com a Declaração Universal dos Direitos do Homem, o ideal do ser
humano livre, no gozo das liberdades civis e políticas e liberto do temor e da miséria, não pode ser realizado e
menos que se criem as condições que permitam a cada um gozar de seus direitos civis e políticos, assim como
de seus direitos econômicos, sociais e culturais,

Considerando que a Carta das Nações Unidas impõe aos Estados a obrigação de promover o respeito
universal e efetivo dos direitos e das liberdades do homem,
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 114

Compreendendo que o indivíduo, por ter deveres para com seus semelhantes e para com a coletividade
a que pertence, tem a obrigação de lutar pela promoção e observância dos direitos reconhecidos no presente
Pacto,

Acordam o seguinte:

PARTE I

ARTIGO 1

1. Todos os povos têm direito à autodeterminação. Em virtude desse direito, determinam livremente
seu estatuto político e asseguram livremente seu desenvolvimento econômico, social e cultural.

2. Para a consecução de seus objetivos, todos os povos podem dispor livremente de suas riquezas e
de seus recursos naturais, sem prejuízo das obrigações decorrentes da cooperação econômica internacional,
baseada no princípio do proveito mútuo, e do Direito Internacional. Em caso algum, poderá um povo ser privado
de seus meios de subsistência.

3. Os Estados Partes do presente Pacto, inclusive aqueles que tenham a responsabilidade de


administrar territórios não-autônomos e territórios sob tutela, deverão promover o exercício do direito à
autodeterminação e respeitar esse direito, em conformidade com as disposições da Carta das Nações Unidas.

PARTE II

ARTIGO 2

1. Os Estados Partes do presente pacto comprometem-se a respeitar e a garantir a todos os indivíduos


que se achem em seu território e que estejam sujeitos a sua jurisdição os direitos reconhecidos no presente
Pacto, sem discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo. língua, religião, opinião política ou de outra
natureza, origem nacional ou social, situação econômica, nascimento ou qualquer condição.

2. Na ausência de medidas legislativas ou de outra natureza destinadas a tornar efetivos os direitos


reconhecidos no presente Pacto, os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a tomar as
providências necessárias com vistas a adotá-las, levando em consideração seus respectivos procedimentos
constitucionais e as disposições do presente Pacto.

3. Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a:

a) Garantir que toda pessoa, cujos direitos e liberdades reconhecidos no presente Pacto tenham sido
violados, possa dispor de um recurso efetivo, mesmo que a violência tenha sido perpetrada por pessoas que
agiam no exercício de funções oficiais;

b) Garantir que toda pessoa que interpuser tal recurso terá seu direito determinado pela competente
autoridade judicial, administrativa ou legislativa ou por qualquer outra autoridade competente prevista no
ordenamento jurídico do Estado em questão; e a desenvolver as possibilidades de recurso judicial;

c) Garantir o cumprimento, pelas autoridades competentes, de qualquer decisão que julgar procedente tal
recurso.

ARTIGO 3

Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a assegurar a homens e mulheres igualdade no


gozo de todos os direitos civis e políticos enunciados no presente Pacto.

ARTIGO 4

1. Quando situações excepcionais ameacem a existência da nação e sejam proclamadas oficialmente,


os Estados Partes do presente Pacto podem adotar, na estrita medida exigida pela situação, medidas que
suspendam as obrigações decorrentes do presente Pacto, desde que tais medidas não sejam incompatíveis
com as demais obrigações que lhes sejam impostas pelo Direito Internacional e não acarretem discriminação
alguma apenas por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião ou origem social.

2. A disposição precedente não autoriza qualquer suspensão dos artigos 6, 7, 8 (parágrafos 1 e 2), 11,
15, 16, e 18.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 115

3. Os Estados Partes do presente Pacto que fizerem uso do direito de suspensão devem comunicar
imediatamente aos outros Estados Partes do presente Pacto, por intermédio do Secretário-Geral da
Organização das Nações Unidas, as disposições que tenham suspenso, bem como os motivos de tal
suspensão. Os Estados partes deverão fazer uma nova comunicação, igualmente por intermédio do Secretário-
Geral da Organização das Nações Unidas, na data em que terminar tal suspensão.

ARTIGO 5

1. Nenhuma disposição do presente Pacto poderá ser interpretada no sentido de reconhecer a um


Estado, grupo ou indivíduo qualquer direito de dedicar-se a quaisquer atividades ou praticar quaisquer atos que
tenham por objetivo destruir os direitos ou liberdades reconhecidos no presente Pacto ou impor-lhe limitações
mais amplas do que aquelas nele previstas.

2. Não se admitirá qualquer restrição ou suspensão dos direitos humanos fundamentais reconhecidos
ou vigentes em qualquer Estado Parte do presente Pacto em virtude de leis, convenções, regulamentos ou
costumes, sob pretexto de que o presente Pacto não os reconheça ou os reconheça em menor grau.

PARTE III

ARTIGO 6

1. O direito à vida é inerente à pessoa humana. Este direito deverá ser protegido pela lei. Ninguém
poderá ser arbitrariamente privado de sua vida.

2. Nos países em que a pena de morte não tenha sido abolida, esta poderá ser imposta apenas nos
casos de crimes mais graves, em conformidade com legislação vigente na época em que o crime foi cometido
e que não esteja em conflito com as disposições do presente Pacto, nem com a Convenção sobra a Prevenção
e a Punição do Crime de Genocídio. Poder-se-á aplicar essa pena apenas em decorrência de uma sentença
transitada em julgado e proferida por tribunal competente.

3. Quando a privação da vida constituir crime de genocídio, entende-se que nenhuma disposição do
presente artigo autorizará qualquer Estado Parte do presente Pacto a eximir-se, de modo algum, do
cumprimento de qualquer das obrigações que tenham assumido em virtude das disposições da Convenção
sobre a Prevenção e a Punição do Crime de Genocídio.

4. Qualquer condenado à morte terá o direito de pedir indulto ou comutação da pena. A anistia, o indulto
ou a comutação da pena poderão ser concedidos em todos os casos.

5. A pena de morte não deverá ser imposta em casos de crimes cometidos por pessoas menores de
18 anos, nem aplicada a mulheres em estado de gravidez.

6. Não se poderá invocar disposição alguma do presente artigo para retardar ou impedir a abolição da
pena de morte por um Estado Parte do presente Pacto.

ARTIGO 7

Ninguém poderá ser submetido à tortura, nem a penas ou tratamento cruéis, desumanos ou degradantes.
Será proibido, sobretudo, submeter uma pessoa, sem seu livre consentimento, a experiências médicas ou
científicas.

ARTIGO 8

1. Ninguém poderá ser submetido à escravidão; a escravidão e o tráfico de escravos, em todos as suas
formas, ficam proibidos.

2. Ninguém poderá ser submetido à servidão.

3. a) Ninguém poderá ser obrigado a executar trabalhos forçados ou obrigatórios;

b) A alínea a) do presente parágrafo não poderá ser interpretada no sentido de proibir, nos países
em que certos crimes sejam punidos com prisão e trabalhos forçados, o cumprimento de uma pena de trabalhos
forçados, imposta por um tribunal competente;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 116

c) Para os efeitos do presente parágrafo, não serão considerados "trabalhos forçados ou


obrigatórios":

i) qualquer trabalho ou serviço, não previsto na alínea b), normalmente exigido de um indivíduo que
tenha sido encarcerado em cumprimento de decisão judicial ou que, tendo sido objeto de tal decisão, ache-se
em liberdade condicional;

ii) qualquer serviço de caráter militar e, nos países em que se admite a isenção por motivo de
consciência, qualquer serviço nacional que a lei venha a exigir daqueles que se oponham ao serviço militar por
motivo de consciência;

iii) qualquer serviço exigido em casos de emergência ou de calamidade que ameacem o bem-estar
da comunidade;

iv) qualquer trabalho ou serviço que faça parte das obrigações cívicas normais.

ARTIGO 9

1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoais. Ninguém poderá ser preso ou
encarcerado arbitrariamente. Ninguém poderá ser privado de sua liberdade, salvo pelos motivos previstos em
lei e em conformidade com os procedimentos nela estabelecidos.

2. Qualquer pessoa, ao ser presa, deverá ser informada das razões da prisão e notificada, sem demora,
das acusações formuladas contra ela.

3. Qualquer pessoa presa ou encarcerada em virtude de infração penal deverá ser conduzida, sem
demora, à presença do juiz ou de outra autoridade habilitada por lei a exercer funções judiciais e terá o direito
de ser julgada em prazo razoável ou de ser posta em liberdade. A prisão preventiva de pessoas que aguardam
julgamento não deverá constituir a regra geral, mas a soltura poderá estar condicionada a garantias que
assegurem o comparecimento da pessoa em questão à audiência, a todos os atos do processo e, se necessário
for, para a execução da sentença.

4. Qualquer pessoa que seja privada de sua liberdade por prisão ou encarceramento terá o direito de
recorrer a um tribunal para que este decida sobre a legalidade de seu encarceramento e ordene sua soltura,
caso a prisão tenha sido ilegal.

5. Qualquer pessoa vítima de prisão ou encarceramento ilegais terá direito à reparação.

ARTIGO 10

1. Toda pessoa privada de sua liberdade deverá ser tratada com humanidade e respeito à dignidade
inerente à pessoa humana.

2. a) As pessoas processadas deverão ser separadas, salvo em circunstâncias excepcionais, das


pessoas condenadas e receber tratamento distinto, condizente com sua condição de pessoa não-condenada.

b) As pessoas processadas, jovens, deverão ser separadas das adultas e julgadas o mais rápido
possível.

3. O regime penitenciário consistirá num tratamento cujo objetivo principal seja a reforma e a
reabilitação moral dos prisioneiros. Os delinqüentes juvenis deverão ser separados dos adultos e receber
tratamento condizente com sua idade e condição jurídica.

ARTIGO 11

Ninguém poderá ser preso apenas por não poder cumprir com uma obrigação contratual.

ARTIGO 12

1. Toda pessoa que se ache legalmente no território de um Estado terá o direito de nele livremente
circular e escolher sua residência.

2. Toda pessoa terá o direito de sair livremente de qualquer país, inclusive de seu próprio país.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 117

3. Os direitos supracitados não poderão constituir objeto de restrições, a menos que estejam previstas
em lei e no intuito de proteger a segurança nacional e a ordem, a saúde ou a moral públicas, bem como os
direitos e liberdades das demais pessoas, e que sejam compatíveis com os outros direitos reconhecidos no
presente Pacto.

4. Ninguém poderá ser privado arbitrariamente do direito de entrar em seu próprio país.

ARTIGO 13

Um estrangeiro que se ache legalmente no território de um Estado Parte do presente Pacto só poderá
dele ser expulso em decorrência de decisão adotada em conformidade com a lei e, a menos que razões
imperativas de segurança nacional a isso se oponham, terá a possibilidade de expor as razões que militem
contra sua expulsão e de ter seu caso reexaminado pelas autoridades competentes, ou por uma ou várias
pessoas especialmente designadas pelas referidas autoridades, e de fazer-se representar com esse objetivo.

ARTIGO 14

1. Todas as pessoas são iguais perante os tribunais e as cortes de justiça. Toda pessoa terá o direito
de ser ouvida publicamente e com as devidas garantias por um tribunal competente, independente e imparcial,
estabelecido por lei, na apuração de qualquer acusação de caráter penal formulada contra ela ou na
determinação de seus direitos e obrigações de caráter civil. A imprensa e o público poderão ser excluídos de
parte ou da totalidade de um julgamento, quer por motivo de moral pública, de ordem pública ou de segurança
nacional em uma sociedade democrática, quer quando o interesse da vida privada das Partes o exija, que na
medida em que isso seja estritamente necessário na opinião da justiça, em circunstâncias específicas, nas
quais a publicidade venha a prejudicar os interesses da justiça; entretanto, qualquer sentença proferida em
matéria penal ou civil deverá tornar-se pública, a menos que o interesse de menores exija procedimento oposto,
ou o processo diga respeito à controvérsias matrimoniais ou à tutela de menores.

2. Toda pessoa acusada de um delito terá direito a que se presuma sua inocência enquanto não for
legalmente comprovada sua culpa.

3. Toda pessoa acusada de um delito terá direito, em plena igualdade, a, pelo menos, as seguintes
garantias:

a) De ser informado, sem demora, numa língua que compreenda e de forma minuciosa, da natureza
e dos motivos da

contra ela formulada;

b) De dispor do tempo e dos meios necessários à preparação de sua defesa e a comunicar-se com
defensor de sua escolha;

c) De ser julgado sem dilações indevidas;

d) De estar presente no julgamento e de defender-se pessoalmente ou por intermédio de defensor


de sua escolha; de ser informado, caso não tenha defensor, do direito que lhe assiste de tê-lo e, sempre que o
interesse da justiça assim exija, de ter um defensor designado ex-offício gratuitamente, se não tiver meios para
remunerá-lo;

e) De interrogar ou fazer interrogar as testemunhas de acusação e de obter o comparecimento e o


interrogatório das testemunhas de defesa nas mesmas condições de que dispõem as de acusação;

f) De ser assistida gratuitamente por um intérprete, caso não compreenda ou não fale a língua
empregada durante o julgamento;

g) De não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se culpada.

4. O processo aplicável a jovens que não sejam maiores nos termos da legislação penal levará em
conta a idade dos mesmos e a importância de promover sua reintegração social.

5. Toda pessoa declarada culpada por um delito terá o direito de recorrer da sentença condenatória e
da pena a uma instância superior, em conformidade com a lei.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 118

6. Se uma sentença condenatória passada em julgado for posteriormente anulada ou se um indulto for
concedido, pela ocorrência ou descoberta de fatos novos que provem cabalmente a existência de erro judicial,
a pessoa que sofreu a pena decorrente dessa condenação deverá ser indenizada, de acordo com a lei, a menos
que fique provado que se lhe pode imputar, total ou parcialmente, a não-revelação dos fatos desconhecidos
em tempo útil.

7. Ninguém poderá ser processado ou punido por um delito pelo qual já foi absolvido ou condenado por
sentença passada em julgado, em conformidade com a lei e os procedimentos penais de cada país.

ARTIGO 15

1. Ninguém poderá ser condenado por atos ou omissões que não constituam delito de acordo com o
direito nacional ou internacional, no momento em que foram cometidos. Tampouco poder-se-á impor pena mais
grave do que a aplicável no momento da ocorrência do delito. Se, depois de perpetrado o delito, a lei estipular
a imposição de pena mais leve, o delinqüente deverá dela beneficiar-se.

2. Nenhuma disposição do presente Pacto impedirá o julgamento ou a condenação de qualquer


indivíduo por atos ou omissões que, no momento em que foram cometidos, eram considerados delituosos de
acordo com os princípios gerais de direito reconhecidos pela comunidade das nações.

ARTIGO 16

Toda pessoa terá direito, em qualquer lugar, ao reconhecimento de sua personalidade jurídica.

ARTIGO 17

1. Ninguém poderá ser objeto de ingerências arbitrárias ou ilegais em sua vida privada, em sua família,
em seu domicílio ou em sua correspondência, nem de ofensas ilegais às suas honra e reputação.

2. Toda pessoa terá direito à proteção da lei contra essas ingerências ou ofensas.

ARTIGO 18

1. Toda pessoa terá direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião. Esse direito
implicará a liberdade de ter ou adotar uma religião ou uma crença de sua escolha e a liberdade de professar
sua religião ou crença, individual ou coletivamente, tanto pública como privadamente, por meio do culto, da
celebração de ritos, de práticas e do ensino.

2. Ninguém poderá ser submetido a medidas coercitivas que possam restringir sua liberdade de ter ou
de adotar uma religião ou crença de sua escolha.

3. A liberdade de manifestar a própria religião ou crença estará sujeita apenas à limitações previstas
em lei e que se façam necessárias para proteger a segurança, a ordem, a saúde ou a moral públicas ou os
direitos e as liberdades das demais pessoas.

4. Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a respeitar a liberdade dos pais – e, quando
for o caso, dos tutores legais – de assegurar a educação religiosa e moral dos filhos que esteja de acordo com
suas próprias convicções.

ARTIGO 19

1. Ninguém poderá ser molestado por suas opiniões.

2. Toda pessoa terá direito à liberdade de expressão; esse direito incluirá a liberdade de procurar,
receber e difundir informações e idéias de qualquer natureza, independentemente de considerações de
fronteiras, verbalmente ou por escrito, em forma impressa ou artística, ou por qualquer outro meio de sua
escolha.

3. O exercício do direito previsto no parágrafo 2 do presente artigo implicará deveres e


responsabilidades especiais. Conseqüentemente, poderá estar sujeito a certas restrições, que devem,
entretanto, ser expressamente previstas em lei e que se façam necessárias para:

a) assegurar o respeito dos direitos e da reputação das demais pessoas;


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 119

b) proteger a segurança nacional, a ordem, a saúde ou a moral públicas.

ARTIGO 20

1. Será proibida por lei qualquer propaganda em favor da guerra.

2. Será proibida por lei qualquer apologia do ódio nacional, racial ou religioso que constitua incitamento
à discriminação, à hostilidade ou a violência.

ARTIGO 21

O direito de reunião pacífica será reconhecido. O exercício desse direito estará sujeito apenas às
restrições previstas em lei e que se façam necessárias, em uma sociedade democrática, no interesse da
segurança nacional, da segurança ou da ordem públicas, ou para proteger a saúde ou a moral públicas ou os
direitos e as liberdades das demais pessoas.

ARTIGO 22

1. Toda pessoa terá o direito de associar-se livremente a outras, inclusive o direito de constituir
sindicatos e de a eles filiar-se, para a proteção de seus interesses.

2. O exercício desse direito estará sujeito apenas às restrições previstas em lei e que se façam
necessárias, em uma sociedade democrática, no interesse da segurança nacional, da segurança e da ordem
públicas, ou para proteger a saúde ou a moral públicas ou os direitos e liberdades das demais pessoas. O
presente artigo não impedirá que se submeta a restrições legais o exercício desse direito por membros das
forças armadas e da polícia.

3. Nenhuma das disposições do presente artigo permitirá que Estados Partes da Convenção de 1948
da Organização Internacional do Trabalho, relativa à liberdade sindical e à proteção do direito sindical, venham
a adotar medidas legislativas que restrinjam – ou aplicar a lei de maneira a restringir – as garantias previstas
na referida Convenção.

ARTIGO 23

1. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e terá o direito de ser protegida pela
sociedade e pelo Estado.

2. Será reconhecido o direito do homem e da mulher de, em idade núbil, contrair casamento e constituir
família.

3. Casamento algum será celebrado sem o consentimento livre e pleno dos futuros esposos.

4. Os Estados Partes do presente Pacto deverão adotar as medidas apropriadas para assegurar a
igualdade de direitos e responsabilidades dos esposos quanto ao casamento, durante o mesmo e por ocasião
de sua dissolução. Em caso de dissolução, deverão adotar-se disposições que assegurem a proteção
necessária para os filhos.

ARTIGO 24

1. Toda criança terá direito, sem discriminação alguma por motivo de cor, sexo, língua, religião, origem
nacional ou social, situação econômica ou nascimento, às medidas de proteção que a sua condição de menor
requerer por parte de sua família, da sociedade e do Estado.

2. Toda criança deverá ser registrada imediatamente após seu nascimento e deverá receber um nome.

3. Toda criança terá o direito de adquirir uma nacionalidade.

ARTIGO 25

Todo cidadão terá o direito e a possibilidade, sem qualquer das formas de discriminação mencionadas no
artigo 2 e sem restrições infundadas:

a) de participar da condução dos assuntos públicos, diretamente ou por meio de representantes livremente
escolhidos;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 120

b) de votar e de ser eleito em eleições periódicas, autênticas, realizadas por sufrágio universal e igualitário
e por voto secreto, que garantam a manifestação da vontade dos eleitores;

c) de ter acesso, em condições gerais de igualdade, às funções públicas de seu país.

ARTIGO 26

Todas as pessoas são iguais perante a lei e têm direito, sem discriminação alguma, a igual proteção da
Lei. A este respeito, a lei deverá proibir qualquer forma de discriminação e garantir a todas as pessoas proteção
igual e eficaz contra qualquer discriminação por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou
de outra natureza, origem nacional ou social, situação econômica, nascimento ou qualquer outra situação.

ARTIGO 27

Nos Estados em que haja minorias étnicas, religiosas ou lingüísticas, as pessoas pertencentes a essas
minorias não poderão ser privadas do direito de ter, conjuntamente com outros membros de seu grupo, sua
própria vida cultural, de professar e praticar sua própria religião e usar sua própria língua.

PARTE IV

ARTIGO 28

1. Constituir-se-á um Comitê de Diretores Humanos (doravante denominado o "Comitê" no presente


Pacto). O Comitê será composto de dezoito membros e desempenhará as funções descritas adiante.

2. O Comitê será integrado por nacionais dos Estados Partes do presente Pacto, os quais deverão ser
pessoas de elevada reputação moral e reconhecida competência em matéria de direito humanos, levando-se
em consideração a utilidade da participação de algumas pessoas com experiência jurídica.

3. Os membros do Comitê serão eleitos e exercerão suas funções a título pessoal.

ARTIGO 29

1. Os membros do Comitê serão eleitos em votação secreta dentre uma lista de pessoas que
preencham os requisitos previstos no artigo 28 e indicadas, com esse objetivo, pelos Estados Partes do
presente Pacto.

2. Cada Estado Parte no presente Pacto poderá indicar duas pessoas. Essas pessoas deverão ser
nacionais do Estado que as indicou.

3. A mesma pessoa poderá ser indicada mais de uma vez.

ARTIGO 30

1. A primeira eleição realizar-se-á no máximo seis meses após a data de entrada em vigor do presente
Pacto.

2. Ao menos quatro meses antes da data de cada eleição do Comitê, e desde que não seja uma eleição
para preencher uma vaga declarada nos termos do artigo 34, o Secretário-Geral da Organização das Nações
Unidas convidará, por escrito, os Estados Partes do presente Protocolo a indicar, no prazo de três meses, os
candidatos a membro do Comitê.

3. O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas organizará uma lista por ordem alfabética de
todos os candidatos assim designados, mencionando os Estados Partes que os tiverem indicado, e a
comunicará aos Estados Partes do presente Pacto, no máximo um mês antes da data de cada eleição.

4. Os membros do Comitê serão eleitos em reuniões dos Estados Partes convocadas pelo Secretário-
Geral da Organização das Nações Unidas na sede da Organização. Nessas reuniões, em que o quórum será
estabelecido por dois terços dos Estados Partes do presente Pacto, serão eleitos membros do Comitê os
candidatos que obtiverem o maior número de votos e a maioria absoluta dos votos dos representantes dos
Estados Partes presentes e votantes.

ARTIGO 31
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 121

1. O Comitê não poderá ter mais de um nacional de um mesmo Estado.

2. Nas eleições do Comitê, levar-se-ão em consideração uma distribuição geográfica equitativa e uma
representação das diversas formas de civilização, bem como dos principais sistemas jurídicos.

ARTIGO 32

1. Os membros do Comitê serão eleitos para um mandato de quatro anos. Poderão, caso suas
candidaturas sejam apresentadas novamente, ser reeleitos. Entretanto, o mandato de nove dos membros
eleitos na primeira eleição expirará ao final de dois anos; imediatamente após a primeira eleição, o presidente
da reunião a que se refere o parágrafo 4 do artigo 30 indicará, por sorteio, os nomes desses nove membros.

2. Ao expirar o mandato dos membros, as eleições se realizarão de acordo com o disposto nos artigos
precedentes desta Parte do presente Pacto.

ARTIGO 33

1. Se, na opinião unânime dos demais membros, um membro do Comitê deixar de desempenhar suas
funções por motivos distintos de uma ausência temporária, o Presidente comunicará tal fato ao Secretário-
Geral da Organização das Nações Unidas, que declarará vago o lugar que o referido membro ocupava.

2. Em caso de morte ou renúncia de um membro do Comitê, o Presidente comunicará imediatamente


tal fato ao Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, que declarará vago o lugar desde a data da
morte ou daquela em que a renúncia passe a produzir efeitos.

ARTIGO 34

1. Quando uma vaga for declarada nos termos do artigo 33 e o mandato do membro a ser substituído
não expirar no prazo de seis messes a contar da data em que tenha sido declarada a vaga, o Secretário-Geral
da Organização das Nações Unidas comunicará tal fato aos Estados Partes do presente Pacto, que poderão,
no prazo de dois meses, indicar candidatos, em conformidade com o artigo 29, para preencher a vaga.

2. O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas organizará uma lista por ordem alfabética
dos candidatos assim designados e a comunicará aos Estados Partes do presente Pacto. A eleição destinada
a preencher tal vaga será realizada nos termos das disposições pertinentes desta parte do presente Pacto.

3. Qualquer membro do Comitê eleito para preencher uma vaga em conformidade com o artigo 33 fará
parte do Comitê durante o restante do mandato do membro que deixar vago o lugar do Comitê, nos termos do
referido artigo.

ARTIGO 35

Os membros do Comitê receberão, com a aprovação da Assembléia-Geral da Organização das Nações


Unidas, honorários provenientes de recursos da Organização das Nações Unidas, nas condições fixadas,
considerando-se a importância das funções do Comitê, pela Assembléia-Geral.

ARTIGO 36

O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas colocará à disposição do Comitê o pessoal e os


serviços necessários ao desempenho eficaz das funções que lhe são atribuídas em virtude do presente Pacto.

ARTIGO 37

1. O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas convocará os Membros do Comitê para a


primeira reunião, a realizar-se na sede da Organização.

2. Após a primeira reunião, o Comitê deverá reunir-se em todas as ocasiões previstas em suas regras
de procedimento.

3. As reuniões do Comitê serão realizadas normalmente na sede da Organização das Nações Unidas
ou no Escritório das Nações Unidas em Genebra.

ARTIGO 38
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 122

Todo Membro do Comitê deverá, antes de iniciar suas funções, assumir, em sessão pública, o
compromisso solene de que desempenhará suas funções imparcial e conscientemente.

ARTIGO 39

1. O Comitê elegerá sua mesa para um período de dois anos. Os membros da mesa poderão ser
reeleitos.

2. O próprio Comitê estabelecerá suas regras de procedimento; estas, contudo, deverão conter, entre
outras, as seguintes disposições:

a) O quórum será de doze membros;

b) As decisões do Comitê serão tomadas por maioria de votos dos membros presentes.

ARTIGO 40

1. Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a submeter relatórios sobre as medidas por
eles adotadas para tornar efetivos os direitos reconhecidos no presente Pacto e sobre o processo alcançado
no gozo desses direitos:

a) Dentro do prazo de um ano, a contar do início da vigência do presente Pacto nos Estados Partes
interessados;

b) A partir de então, sempre que o Comitê vier a solicitar.

2. Todos os relatórios serão submetidos ao Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, que
os encaminhará, para exame, ao Comitê. Os relatórios deverão sublinhar, caso existam, os fatores e as
dificuldades que prejudiquem a implementação do presente Pacto.

3. O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas poderá, após consulta ao Comitê,


encaminhar às agências especializadas interessadas cópias das partes dos relatórios que digam respeito a sua
esfera de competência.

4. O Comitê estudará os relatórios apresentados pelos Estados Partes do presente Pacto e transmitirá
aos Estados Partes seu próprio relatório, bem como os comentários gerais que julgar oportunos. O Comitê
poderá igualmente transmitir ao Conselho Econômico e Social os referidos comentários, bem como cópias dos
relatórios que houver recebido dos Estados Partes do presente Pacto.

5. Os Estados Partes no presente Pacto poderão submeter ao Comitê as observações que desejarem
formular relativamente aos comentários feitos nos termos do parágrafo 4 do presente artigo.

ARTIGO 41

1. Com base no presente Artigo, todo Estado Parte do presente Pacto poderá declarar, a qualquer
momento, que reconhece a competência do Comitê para receber e examinar as comunicações em que um
Estado Parte alegue que outro Estado Parte não vem cumprindo as obrigações que lhe impõe o presente Pacto.
As referidas comunicações só serão recebidas e examinadas nos termos do presente artigo no caso de serem
apresentadas por um Estado Parte que houver feito uma declaração em que reconheça, com relação a si
próprio, a competência do Comitê. O Comitê não receberá comunicação alguma relativa a um Estado Parte
que não houver feito uma declaração dessa natureza. As comunicações recebidas em virtude do presente
artigo estarão sujeitas ao procedimento que se segue:

a) Se um Estado Parte do presente Pacto considerar que outro Estado Parte não vem cumprindo as
disposições do presente Pacto poderá, mediante comunicação escrita, levar a questão ao conhecimento deste
Estado Parte. Dentro do prazo de três meses, a contar da data do recebimento da comunicação, o Estado
destinatário fornecerá ao Estado que enviou a comunicação explicações ou quaisquer outras declarações por
escrito que esclareçam a questão, as quais deverão fazer referência, até onde seja possível e pertinente, aos
procedimentos nacionais e aos recursos jurídicos adotados, em trâmite ou disponíveis sobre a questão;

b) Se, dentro do prazo de seis meses, a contar da data do recebimento da comunicação original pelo
Estado destinatário, a questão não estiver dirimida satisfatoriamente para ambos os Estados Partes
interessados, tanto um como o outro terão o direito de submetê-la ao Comitê, mediante notificação endereçada
ao Comitê ou ao outro Estado interessado;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 123

c) O Comitê tratará de todas as questões que se lhe submetem em virtude do presente artigo somente
após ter-se assegurado de que todos os recursos jurídicos internos disponíveis tenham sido utilizados e
esgotados, em consonância com os princípios do Direito Internacional geralmente reconhecidos. Não se
aplicará essa regra quanto a aplicação dos mencionados recursos prolongar-se injustificadamente;

d) O Comitê realizará reuniões confidenciais quando estiver examinando as comunicações previstas


no presente artigo;

e) Sem prejuízo das disposições da alínea c), o Comitê colocará seus bons ofícios à disposição dos
Estados Partes interessados no intuito de alcançar uma solução amistosa para a questão, baseada no respeito
aos direitos humanos e liberdades fundamentais reconhecidos no presente Pacto;

f) Em todas as questões que se lhe submetam em virtude do presente artigo, o Comitê poderá solicitar
aos Estados Partes interessados, a que se faz referência na alínea b), que lhe forneçam quaisquer informações
pertinentes;

g) Os Estados Partes interessados, a que se faz referência na alínea b), terão direito de fazer-se
representar quando as questões forem examinadas no Comitê e de apresentar suas observações verbalmente
e/ou por escrito;

h) O Comitê, dentro dos doze meses seguintes à data de recebimento da notificação mencionada na
alínea b), apresentará relatório em que:

(i) se houver sido alcançada uma solução nos termos da alínea e), o Comitê restringir-se-á, em seu
relatório, a uma breve exposição dos fatos e da solução alcançada.

(ii) se não houver sido alcançada solução alguma nos termos da alínea e), o Comitê, restringir-se-á,
em seu relatório, a uma breve exposição dos fatos; serão anexados ao relatório o texto das observações
escritas e as atas das observações orais apresentadas pelos Estados Partes interessados.

Para cada questão, o relatório será encaminhado aos Estados Partes interessados.

2. As disposições do presente artigo entrarão em vigor a partir do momento em que dez Estados Partes
do presente Pacto houverem feito as declarações mencionadas no parágrafo 1 desde artigo. As referidas
declarações serão depositadas pelos Estados Partes junto ao Secretário-Geral da Organização das Nações
Unidas, que enviará cópias das mesmas aos demais Estados Partes. Toda declaração poderá ser retirada, a
qualquer momento, mediante notificação endereçada ao Secretário-Geral. Far-se-á essa retirada sem prejuízo
do exame de quaisquer questões que constituam objeto de uma comunicação já transmitida nos termos deste
artigo; em virtude do presente artigo, não se receberá qualquer nova comunicação de um Estado Parte uma
vez que o Secretário-Geral tenha recebido a notificação sobre a retirada da declaração, a menos que o Estado
Parte interessado haja feito uma nova declaração.

ARTIGO 42

1. a) Se uma questão submetida ao Comitê, nos termos do artigo 41, não estiver dirimida
satisfatoriamente para os Estados Partes interessados, o Comitê poderá, com o consentimento prévio dos
Estados Partes interessados, constituir uma Comissão ad hoc (doravante denominada "a Comissão"). A
Comissão colocará seus bons ofícios à disposição dos Estados Partes interessados no intuito de se alcançar
uma solução amistosa para a questão baseada no respeito ao presente Pacto.

b) A Comissão será composta de cinco membros designados com o consentimento dos Estados
Partes interessados. Se os Estados Partes interessados não chegarem a um acordo a respeito da totalidade
ou de parte da composição da Comissão dentro do prazo de três meses, os membro da Comissão em relação
aos quais não se chegou a acordo serão eleitos pelo Comitê, entre os seus próprios membros, em votação
secreta e por maioria de dois terços dos membros do Comitê.

2. Os membros da Comissão exercerão suas funções a título pessoal. Não poderão ser nacionais dos
Estados interessados, nem de Estado que não seja Parte do presente Pacto, nem de um Estado Parte que não
tenha feito a declaração prevista no artigo 41.

3. A própria Comissão elegerá seu Presidente e estabelecerá suas regras de procedimento.

4. As reuniões da Comissão serão realizadas normalmente na sede da Organização das Nações


Unidas ou no Escritório das Nações Unidas em Genebra. Entretanto, poderão realizar-se em qualquer outro
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 124

lugar apropriado que a Comissão determinar, após consulta ao Secretário-Geral da Organização das Nações
Unidas e aos Estados Partes interessados.

5. O secretariado referido no artigo 36 também prestará serviços às comissões designadas em virtude


do presente artigo.

6. As informações obtidas e coligidas pelo Comitê serão colocadas à disposição da Comissão, a qual
poderá solicitar aos Estados Partes interessados que lhe forneçam qualquer outra informação pertinente.

7. Após haver estudado a questão sob todos os seus aspectos, mas, em qualquer caso, no prazo de
doze meses após dela ter tomado conhecimento, a Comissão apresentará um relatório ao Presidente do
Comitê, que o encaminhará aos Estados Partes interessados:

a) Se a Comissão não puder terminar o exame da questão, restringir-se-á, em seu relatório, a uma
breve exposição sobre o estágio em que se encontra o exame da questão;

b) Se houver sido alcançado uma solução amistosa para a questão, baseada no respeito dos direitos
humanos reconhecidos no presente Pacto, a Comissão restringir-se-á, em seu relatório, a uma breve exposição
dos fatos e da solução alcançada;

c) Se não houver sido alcançada solução nos termos da alínea b), a Comissão incluirá no relatório
suas conclusões sobre os fatos relativos à questão debatida entre os Estados Partes interessados, assim como
sua opinião sobre a possibilidade de solução amistosa para a questão, o relatório incluirá as observações
escritas e as atas das observações orais feitas pelos Estados Partes interessados;

d) Se o relatório da Comissão for apresentado nos termos da alínea c), os Estados Partes
interessados comunicarão, no prazo de três meses a contar da data do recebimento do relatório, ao Presidente
do Comitê se aceitam ou não os termos do relatório da Comissão.

8. As disposições do presente artigo não prejudicarão as atribuições do Comitê previstas no artigo 41.

9. Todas as despesas dos membros da Comissão serão repartidas eqüitativamente entre os Estados
Partes interessados, com base em estimativas a serem estabelecidas pelo Secretário-Geral da Organização
das Nações Unidas.

10. O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas poderá, caso seja necessário, pagar as
despesas dos membros da Comissão antes que sejam reembolsadas pelos Estados Partes interessados, em
conformidade com o parágrafo 9 do presente artigo.

ARTIGO 43

Os membros do Comitê e os membros da Comissão de Conciliação ad hoc que forem designados nos
termos do artigo 42 terão direito às facilidades, privilégios e imunidades que se concedem aos peritos no
desempenho de missões para a Organização das Nações Unidas, em conformidade com as seções pertinentes
da Convenção sobre Privilégios e Imunidades das Nações Unidas.

ARTIGO 44

As disposições relativas à implementação do presente Pacto aplicar-se-ão sem prejuízo dos


procedimentos instituídos em matéria de direito humanos pelos – ou em virtude dos mesmos – instrumentos
constitutivos e pelas Convenções da Organização das Nações Unidas e das agências especializadas e não
impedirão que os Estados Partes venham a recorrer a outros procedimentos para a solução de controvérsias
em conformidade com os acordos internacionais gerais ou especiais vigentes entre eles.

ARTIGO 45

O Comitê submeterá à Assembléia-Geral, por intermédio do Conselho Econômico e Social, um relatório


sobre suas atividades.

PARTE V

ARTIGO 46
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 125

Nenhuma disposição do presente Pacto poderá ser interpretada em detrimento das disposições da Carta
das Nações Unidas e das constituições das agências especializadas, as quais definem as responsabilidades
respectivas dos diversos órgãos da Organização das Nações Unidas e das agências especializadas
relativamente às questões tratadas no presente Pacto.

ARTIGO 47

Nenhuma disposição do presente Pacto poderá ser interpretada em detrimento do direito inerente a todos
os povos de desfrutar e utilizar plena e livremente suas riquezas e seus recursos naturais.

PARTE VI

ARTIGO 48

1. O presente Pacto está aberto à assinatura de todos os Estados Membros da Organização das
Nações Unidas ou membros de qualquer de suas agências especializadas, de todo Estado Parte do Estatuto
da Corte Internacional de Justiça, bem como de qualquer outro Estado convidado pela Assembléia-Geral a
tornar-se Parte do presente Pacto.

2. O presente Pacto está sujeito a ratificação. Os instrumentos de ratificação serão depositados junto
ao Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas.

3. O presente Pacto está aberto à adesão de qualquer dos Estados mencionados no parágrafo 1 do
presente artigo.

4. Far-se-á a adesão mediante depósito do instrumento de adesão junto ao Secretário-Geral da


Organização das Nações Unidas.

5. O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas informará todos os Estados que hajam
assinado o presente Pacto ou a ele aderido do depósito de cada instrumento de ratificação ou adesão.

ARTIGO 49

1. O presente Pacto entrará em vigor três meses após a data do depósito, junto ao Secretário-Geral da
Organização das Nações Unidas, do trigésimo-quinto instrumento de ratificação ou adesão.

2. Para os Estados que vierem a ratificar o presente Pacto ou a ele aderir após o depósito do trigésimo-
quinto instrumento de ratificação ou adesão, o presente Pacto entrará em vigor três meses após a data do
depósito, pelo Estado em questão, de seu instrumento de ratificação ou adesão.

ARTIGO 50

Aplicar-se-ão as disposições do presente Pacto, sem qualquer limitação ou exceção, a todas as unidades
constitutivas dos Estados federativos.

ARTIGO 51

1. Qualquer Estado Parte do presente Pacto poderá propor emendas e depositá-las junto ao Secretário-
Geral da Organização das Nações Unidas. O Secretário-Geral comunicará todas as propostas de emenda aos
Estados Partes do presente Pacto, pedindo-lhes que o notifiquem se desejam que se convoque uma
conferência dos Estados Partes destinada a examinar as propostas e submetê-las a votação. Se pelo menos
um terço dos Estados Partes se manifestar a favor da referida convocação, o Secretário-Geral convocará a
conferência sob os auspícios da Organização das Nações Unidas. Qualquer emenda adotada pela maioria dos
Estados Partes presentes e votantes na conferência será submetida à aprovação da Assembléia-Geral das
Nações Unidas.

2. Tais emendas entrarão em vigor quando aprovadas pela Assembléia-Geral das Nações Unidas e
aceitas em conformidade com seus respectivos procedimentos constitucionais, por uma maioria de dois terços
dos Estados Partes no presente Pacto.

3. Ao entrarem em vigor, tais emendas serão obrigatórias para os Estados Partes que as aceitaram, ao
passo que os demais Estados Partes permanecem obrigados pelas disposições do presente Pacto e pelas
emendas anteriores por eles aceitas.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 126

ARTIGO 52

Independentemente das notificações previstas no parágrafo 5 do artigo 48, o Secretário-Geral da


Organização das Nações Unidas comunicará a todos os Estados referidos no parágrafo 1 do referido artigo:

a) as assinaturas, ratificações e adesões recebidas em conformidade com o artigo 48;

b) a data de entrada em vigor do Pacto, nos termos do artigo 49, e a data em entrada em vigor de
quaisquer emendas, nos termos do artigo 51.

ARTIGO 53

1. O presente Pacto, cujos textos em chinês, espanhol, francês, inglês e russo são igualmente
autênticos, será depositado nos arquivos da Organização das Nações Unidas.

2. O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas encaminhará cópias autênticas do presente


Pacto a todos os Estados mencionados no artigo 48.

Em fé do quê, os abaixo-assinados, devidamente autorizados por seus respectivos Governos, assinaram


o presente Pacto, aberto à assinatura em Nova York, aos 19 dias do mês de dezembro do ano de mil
novecentos e sessenta e seis.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 127

2.6 CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS


FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO RACIAL - 1966 (DECRETO Nº 65.810/1969)

DECRETO Nº 65.810, DE 8 DE DEZEMBRO DE 1969.

Promulga a Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , HAVENDO o Congresso Nacional aprovado pelo Decreto Legislativo


nº 23, de 21 de junho de 1967, a Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de
Discriminação Racial, que foi aberta à assinatura em Nova York e assinada pelo Brasil a 07 de março de 1966;

E HAVENDO sido depositado o Instrumento brasileiro de Ratificação, junto ao Secretário-Geral das


Nações Unidas, a 27 de março de 1968;

E TENDO a referida Convenção entrada em vigor, de conformidade com o disposto em seu artigo 19,
parágrafo 1º, a 04 de janeiro de 1969;

DECRETA que a mesma, apensa por cópia ao presente Decreto, seja executada e cumprida tão
inteiramente como ela nele contém.

Brasília, 08 de dezembro de 1969; 148º da Independência e 81º da República.

EMÍLIO G. MÉDICI
Mário Gibson Barbosa

Este texto não substitui o original publicado no Diário Oficial de 10.12.1969

A CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE


DISCRIMINAÇÃO RACIAL

Os Estados Partes na presente Convenção,

Considerando que a Carta das Nações Unidas baseia-se em princípios de dignidade e igualdade inerentes
a todos os seres humanos, e que todos os Estados Membros comprometeram-se a tomar medidas separadas
e conjuntas, em cooperação com a Organização, para a consecução de um dos propósitos das Nações Unidas
que é promover e encorajar o respeito universal e observância dos direitos humanos e liberdades fundamentais
para todos, sem discriminação de raça, sexo, idioma ou religião.

Considerando que a Declaração Universal dos Direitos do Homem proclama que todos os homens nascem
livres e iguais em dignidade e direitos e que todo homem tem todos os direitos estabelecidos na mesma, sem
distinção de qualquer espécie e principalmente de raça, cor ou origem nacional,

Considerando todos os homens são iguais perante a lei e têm o direito à igual proteção contra qualquer
discriminação e contra qualquer incitamento à discriminação,

Considerando que as Nações Unidas têm condenado o colonialismo e todas as práticas de segregação e
discriminação a ele associados, em qualquer forma e onde quer que existam, e que a Declaração sobre a
Conceção de Independência, a Partes e Povos Coloniais, de 14 de dezembro de 1960 (Resolução 1.514 (XV),
da Assembléia Geral afirmou e proclamou solenemente a necessidade de levá-las a um fim rápido e
incondicional,

Considerando que a Declaração das Nações Unidas sobre eliminação de todas as formas de Discriminação
Racial, de 20 de novembro de 1963, (Resolução 1.904 ( XVIII) da Assembléia-Geral), afirma solenemente a
necessidade de eliminar rapidamente a discriminação racial através do mundo em todas as suas formas e
manifestações e de assegurar a compreensão e o respeito à dignidade da pessoa humana,
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 128

Convencidos de que qualquer doutrina de superioridade baseada em diferenças raciais é cientificamente


falsa, moralmente condenável, socialmente injusta e perigosa, em que, não existe justificação para a
discriminação racial, em teoria ou na prática, em lugar algum,

Reafirmando que a discriminação entre os homens por motivos de raça, cor ou origem étnica é um
obstáculo a relações amistosas e pacíficas entre as nações e é capaz de disturbar a paz e a segurança entre
povos e a harmonia de pessoas vivendo lado a lado até dentro de um mesmo Estado,

Convencidos que a existência de barreiras raciais repugna os ideais de qualquer sociedade humana,

Alarmados por manifestações de discriminação racial ainda em evidência em algumas áreas do mundo e
por políticas governamentais baseadas em superioridade racial ou ódio, como as políticas de apartheid,
segregação ou separação,

Resolvidos a adotar todas as medidas necessárias para eliminar rapidamente a discriminação racial em,
todas as suas formas e manifestações, e a prevenir e combater doutrinas e práticas raciais com o objetivo de
promover o entendimento entre as raças e construir uma comunidade internacional livre de todas as formas de
separação racial e discriminação racial,

Levando em conta a Convenção sobre Discriminação nos Emprego e Ocupação adotada pela Organização
internacional do Trabalho em 1958, e a Convenção contra discriminação no Ensino adotada pela Organização
das Nações Unidas para Educação a Ciência em 1960,

Desejosos de completar os princípios estabelecidos na Declaração das Nações unidas sobre a Eliminação
de todas as formas de discriminação racial e assegurar o mais cedo possível a adoção de medidas práticas
para esse fim,

Acordaram no seguinte:

PARTE I

Artigo I

1. Nesta Convenção, a expressão “discriminação racial” significará qualquer distinção, exclusão restrição
ou preferência baseadas em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tem por objetivo ou
efeito anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício num mesmo plano,( em igualdade de condição),
de direitos humanos e liberdades fundamentais no domínio político econômico, social, cultural ou em qualquer
outro domínio de vida pública.

2. Esta Convenção não se aplicará ás distinções, exclusões, restrições e preferências feitas por um Estado
Parte nesta Convenção entre cidadãos e não cidadãos.

3. Nada nesta Convenção poderá ser interpretado como afetando as disposições legais dos Estados
Partes, relativas a nacionalidade, cidadania e naturalização, desde que tais disposições não discriminem contra
qualquer nacionalidade particular.

4. Não serão consideradas discriminação racial as medidas especiais tomadas com o único objetivo de
assegurar progresso adequado de certos grupos raciais ou étnicos ou de indivíduos que necessitem da
proteção que possa ser necessária para proporcionar a tais grupos ou indivíduos igual gozo ou exercício de
direitos humanos e liberdades fundamentais, contando que, tais medidas não conduzam, em conseqüência, à
manutenção de direitos separados para diferentes grupos raciais e não prossigam após terem sidos alcançados
os seus objetivos.

Artigo II

1. Os Estados Partes condenam a discriminação racial e comprometem-se a adotar, por todos os meios
apropriados e sem tardar uma política de eliminação da discriminação racial em todas as suas formas e de
promoção de entendimento entre todas as raças e para esse fim:

a) Cada Estado parte compromete-se a efetuar nenhum ato ou prática de discriminação racial contra
pessoas, grupos de pessoas ou instituições e fazer com que todas as autoridades públicas nacionais ou locais,
se conformem com esta obrigação;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 129

b) Cada Estado Parte compromete-se a não encorajar, defender ou apoiar a discriminação racial praticada
por uma pessoa ou uma organização qualquer;

c) Cada Estado Parte deverá tomar as medidas eficazes, a fim de rever as políticas governamentais
nacionais e locais e para modificar, ab-rogar ou anular qualquer disposição regulamentar que tenha como
objetivo criar a discriminação ou perpetrá-la onde já existir;

d) Cada Estado Parte deverá, por todos os meios apropriados, inclusive se as circunstâncias o exigirem,
as medidas legislativas, proibir e por fim, a discriminação racial praticadas por pessoa, por grupo ou das
organizações;

e) Cada Estado Parte compromete-se a favorecer, quando for o caso as organizações e movimentos multi-
raciais e outros meios próprios a eliminar as barreiras entre as raças e a desencorajar o que tende a fortalecer
a divisão racial.

2) Os Estados Partes tomarão, se as circunstâncias o exigirem, nos campos social, econômico, cultural e
outros, as medidas especiais e concretas para assegurar como convier o desenvolvimento ou a proteção de
certos grupos raciais ou de indivíduos pertencentes a estes grupos com o objetivo de garantir-lhes, em
condições de igualdade, o pleno exercício dos direitos do homem e das liberdades fundamentais.

Essas medidas não deverão, em caso algum, ter a finalidade de manter direitos grupos raciais, depois de
alcançados os objetivos em razão dos quais foram tomadas.

Artigo III

Os Estados Partes especialmente condenam a segregação racial e o apartheid e comprometem-se a


proibir e a eliminar nos territórios sob sua jurisdição todas as práticas dessa natureza.

Artigo IV

Os Estados partes condenam toda propaganda e todas as organizações que se inspirem em idéias ou
teorias baseadas na superioridade de uma raça ou de um grupo de pessoas de uma certa cor ou de uma certa
origem ética ou que pretendem justificar ou encorajar qualquer forma de ódio e de discriminação raciais e
comprometem-se a adotar imediatamente medidas positivas destinadas a eliminar qualquer incitação a uma tal
discriminação, ou quaisquer atos de discriminação com este objetivo tendo em vista os princípios formulados
na Declaração universal dos direitos do homem e os direitos expressamente enunciados no artigo 5 da presente
convenção, eles se comprometem principalmente:

a) a declarar delitos puníveis por lei, qualquer difusão de idéias baseadas na superioridade ou ódio raciais,
qualquer incitamento à discriminação racial, assim como quaisquer atos de violência ou provocação a tais atos,
dirigidos contra qualquer raça ou qualquer grupo de pessoas de outra cor ou de outra origem técnica, como
também qualquer assistência prestada a atividades racistas, inclusive seu financiamento;

b) a declarar ilegais e a proibir as organizações assim como as atividades de propaganda organizada e


qualquer outro tipo de atividade de propaganda que incitar a discriminação racial e que a encorajar e a declara
delito punível por lei a participação nestas organizações ou nestas atividades.

c) a não permitir as autoridades públicas nem as instituições públicas nacionais ou locais, o incitamento ou
encorajamento à discriminação racial.

Artigo V

De conformidade com as obrigações fundamentais enunciadas no artigo 2, Os Estados Partes


comprometem-se a proibir e a eliminar a discriminação racial em todas suas formas e a garantir o direito de
cada uma à igualdade perante a lei sem distinção de raça , de cor ou de origem nacional ou étnica,
principalmente no gozo dos seguintes direitos:

a) direito a um tratamento igual perante os tribunais ou qualquer outro órgão que administre justiça;

b) direito a segurança da pessoa ou à proteção do Estado contra violência ou lesão corporal cometida que
por funcionários de Governo, quer por qualquer indivíduo, grupo ou instituição.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 130

c) direitos políticos principalmente direito de participar às eleições - de votar e ser votado - conforme o
sistema de sufrágio universal e igual direito de tomar parte no Governo, assim como na direção dos assuntos
públicos, em qualquer grau e o direito de acesso em igualdade de condições, às funções públicas.

d) Outros direitos civis, principalmente,

i) direito de circular livremente e de escolher residência dentro das fronteiras do Estado;

ii) direito de deixar qualquer país, inclusive o seu, e de voltar a seu país;

iii) direito de uma nacionalidade;

iv) direito de casar-se e escolher o cônjuge;

v) direito de qualquer pessoa, tanto individualmente como em conjunto, à propriedade;

vi) direito de herda;

vii) direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião;

viii) direito à liberdade de opinião e de expressão;

ix) direito à liberdade de reunião e de associação pacífica;

e) direitos econômicos, sociais culturais, principalmente:

i) direitos ao trabalho, a livre escolha de seu trabalho, a condições equitativas e satisfatórias de trabalho à
proteção contra o desemprego, a um salário igual para um trabalho igual, a uma remuneração equitativa e
satisfatória;

ii) direito de fundar sindicatos e a eles se filiar;

iii) direito à habitação;

iv) direito à saúde pública, a tratamento médico, à previdência social e aos serviços sociais;

v) direito a educação e à formação profissional;

vi) direito a igual participação das atividades culturais;

f) direito de acesso a todos os lugares e serviços destinados ao uso do público, tais como, meios de
transporte hotéis, restaurantes, cafés, espetáculos e parques.

Artigo VI

Os Estados Partes assegurarão a qualquer pessoa que estiver sob sua jurisdição, proteção e recursos
efetivos perante os tribunais nacionais e outros órgãos do Estado competentes, contra quaisquer atos de
discriminação racial que, contrariamente à presente Convenção, violarem seus direitos individuais e suas
liberdades fundamentais, assim como o direito de pedir a esses tribunais uma satisfação ou repartição justa e
adequada por qualquer dano de que foi vítima em decorrência de tal discriminação.

Artigo VII

Os Estados Partes, comprometem-se a tomar as medidas imediatas e eficazes, principalmente no campo


de ensino, educação, da cultura e da informação, para lutar contra os preconceitos que levem à discriminação
racial e para promover o entendimento, a tolerância e a amizade entre nações e grupos raciais e éticos assim
como para propagar ao objetivo e princípios da Carta das Nações Unidas da Declaração Universal dos Direitos
do Homem, da Declaração das Nações Unidas sobre a eliminação de todas as formas de discriminação racial
e da presente Convenção.

PARTE II

Artigo VIII
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 131

1. Será estabelecido um Comitê para a eliminação da discriminação racial (doravante denominado “o


Comitê) composto de 18 peritos conhecidos para sua alta moralidade e conhecida imparcialidade, que serão
eleitos pelos Estados Membros dentre seus nacionais e que atuarão a título individual, levando-se em conta
uma repartição geográfica equitativa e a representação das formas diversas de civilização assim como dos
principais sistemas jurídicos.

2. Os Membros do Comitê serão eleitos em escrutínio secreto de uma lista de candidatos designados pelos
Estados Partes, Cada Estado Parte poderá designar um candidato escolhido dentre seus nacionais.

3. A primeira eleição será realizada seis meses após a data da entrada em vigor da presente Convenção.
Três meses pelo menos antes de cada eleição, o Secretário Geral das Nações Unidas enviará uma Carta aos
Estados Partes para convidá-los a apresentar suas candidaturas no prazo de dois meses. O Secretário Geral
elaborará uma lista por ordem alfabética, de todos os candidatos assim nomeados com indicação dos Estados
partes que os nomearam, e a comunicará aos Estados Partes.

4. Os membros do Comitê serão eleitos durante uma reunião dos Estados Partes convocada pelo
Secretário Geral das Nações Unidas. Nessa reunião, em que o quórum será alcançado com dois terços dos
Estados Partes, serão eleitos membros do Comitê, os candidatos que obtiverem o maior número de votos e a
maioria absoluta de votos dos representantes dos Estados Partes presentes e votantes.

5. a) Os membros do Comitê serão eleitos por um período de quatro anos. Entretanto, o mandato de nove
dos membros eleitos na primeira eleição, expirará ao fim de dois anos; logo após a primeira eleição os nomes
desses nove membros serão escolhidos, por sorteio, pelo Presidente do Comitê.

b) Para preencher as vagas fortuitas, o Estado Parte, cujo perito deixou de exercer suas funções de
membro do Comitê, nomeará outro perito dentre seus nacionais, sob reserva da aprovação do Comitê.

6. Os Estados Partes serão responsáveis pelas despesas dos membros do Comitê para o período em que
estes desempenharem funções no Comitê.

Artigo IX

1. Os Estados Partes comprometem-se a apresentar ao Secretário Geral para exame do Comitê, um


relatório sobre as medidas legislativas, judiciárias, administrativas ou outras que tomarem para tornarem
efetivas as disposições da presente Convenção:

a) dentro do prazo de um ano a partir da entrada em vigor da Convenção, para cada Estado interessado
no que lhe diz respeito, e posteriormente, cada dois anos, e toda vez que o Comitê o solicitar. O Comitê poderá
solicitar informações complementares aos Estados Partes.

2. O Comitê submeterá anualmente à Assembléia Geral, um relatório sobre suas atividades e poderá fazer
sugestões e recomendações de ordem geral baseadas no exame dos relatórios e das informações recebidas
dos Estados Partes. Levará estas sugestões e recomendações de ordem geral ao conhecimento da Assembleia
Geral, e se as houver juntamente com as observações dos Estados Partes.

Artigo X

1. O Comitê adotará seu regulamento interno.

2. O Comitê elegerá sua mesa por um período de dois anos.

3. O Secretário Geral da Organização das Nações Unidas foi necessários serviços de Secretaria ao
Comitê.

4. O Comitê reunir-se-à normalmente na Sede das Nações Unidas.

Artigo XI

1. Se um Estado Parte Julgar que outro Estado igualmente Parte não aplica as disposições da presente
Convenção poderá chamar a atenção do Comitê sobre a questão. O Comitê transmitirá, então, a comunicação
ao Estado Parte interessado. Num prazo de três meses, o Estado destinatário submeterá ao Comitê as
explicações ou declarações por escrito, a fim de esclarecer a questão e indicar as medidas corretivas que por
acaso tenham sido tomadas pelo referido Estado.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 132

2. Se, dentro de um prazo de seis meses a partir da data do recebimento da comunicação original pelo
Estado destinatário a questão não foi resolvida a contento dos dois Estados, por meio de negociações bilaterais
ou por qualquer outro processo que estiver a sua disposição, tanto um como o outro terão o direito de submetê-
la novamente ao Comitê, endereçando uma notificação ao Comitê assim como ao outro Estado interessado.

3. O Comitê só poderá tomar conhecimento de uma questão, de acordo com o parágrafo 2 do presente
artigo, após ter constatado que todos os recursos internos disponíveis foram interpostos ou esgotados, de
conformidade com os princípios do direito internacional geralmente reconhecidos. Esta regra não se aplicará
se os procedimentos de recurso excederem prazos razoáveis.

4. Em qualquer questão que lhe for submetida, Comitê poderá solicitar aos Estados-Partes presentes que
lhe forneçam quaisquer informações complementares pertinentes.

5. Quando o Comitê examinar uma questão conforme o presente Artigo os Estados Partes interessados
terão o direito de nomear um representante que participará sem direito de voto dos trabalhos no Comitê durante
todos os debates.

Artigo XII

1. a) Depois que o Comitê obtiver e consultar as informações que julgar necessárias, o Presidente nomeará
uma Comissão de Conciliação ad hoc (doravante denominada “ A Comissão”, composta de 5 pessoas que
poderão ser ou não membros do Comitê. Os membros serão nomeados com o consentimento pleno e unânime
das partes na controvérsia e a Comissão fará seus bons ofícios a disposição dos Estados presentes, com o
objetivo de chegar a uma solução amigável da questão, baseada no respeito à presente Convenção.

b) Se os Estados Partes na controvérsia não chegarem a um entendimento em relação a toda ou parte da


composição da Comissão num prazo de três meses os membros da Comissão que não tiverem o assentimento
do Estados Partes, na controvérsia serão eleitos por escrutínio secreto entre os membros de dois terços dos
membros do Comitê.

2. Os membros da Comissão atuarão a título individual. Não deverão ser nacionais de um dos Estados
Partes na controvérsia nem de um Estado que não seja parte da presente Convenção.

3. A Comissão elegerá seu Presidente e adotará seu regimento interno.

4. A Comissão reunir-se-á normalmente na sede nas Nações Unidas em qualquer outro lugar apropriado
que a Comissão determinar.

5. O Secretariado previsto no parágrafo 3 do artigo 10 prestará igualmente seus serviços à Comissão cada
ver que uma controvérsia entre os Estados Partes provocar sua formação.

6. Todas as despesas dos membros da Comissão serão divididos igualmente entre os Estados Partes na
controvérsia baseadas num cálculo estimativo feito pelo Secretário-Geral.

7. O Secretário Geral ficará autorizado a pagar, se for necessário, as despesas dos membros da Comissão,
antes que o reembolso seja efetuado pelos Estados Partes na controvérsia, de conformidade com o parágrafo
6 do presente artigo.

8. As informações obtidas e confrontadas pelo Comitê serão postas à disposição da Comissão, e a


Comissão poderá solicitar aos Estados interessados sede lhe fornecer qualquer informação complementar
pertinente.

Artigo XIII

1. Após haver estudado a questão sob todos os seus aspectos, a Comissão preparará e submeterá ao
Presidente do Comitê um relatório com as conclusões sobre todas as questões de fato relativas à controvérsia
entre as partes e as recomendações que julgar oportunas a fim de chegar a uma solução amistosa da
controvérsia.

2. O Presidente do Comitê transmitirá o relatório da Comissão a cada um dos Estados Partes na


controvérsia. Os referidos Estados comunicarão ao Presidente do Comitê num prazo de três meses se aceitam
ou não, as recomendações contidas no relatório da Comissão.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 133

3. Expirado o prazo previsto no parágrafo 2º do presente artigo, o Presidente do Comitê comunicará o


Relatório da Comissão e as declarações dos Estados Partes interessadas aos outros Estados Parte na
Comissão.

Artigo XIV

1. Todo o Estado parte poderá declarar e qualquer momento que reconhece a competência do Comitê
para receber e examinar comunicações de indivíduos sob sua jurisdição que se consideram vítimas de uma
violação pelo referido Estado Parte de qualquer um dos direitos enunciados na presente Convenção. O Comitê
não receberá qualquer comunicação de um Estado Parte que não houver feito tal declaração.

2. Qualquer Estado parte que fizer uma declaração de conformidade com o parágrafo do presente artigo,
poderá criar ou designar um órgão dentro de sua ordem jurídica nacional, que terá competência para receber
e examinar as petições de pessoas ou grupos de pessoas sob sua jurisdição que alegarem ser vítimas de uma
violação de qualquer um dos direitos enunciados na presente Convenção e que esgotaram os outros recursos
locais disponíveis.

3. A declaração feita de conformidade com o parágrafo 1 do presente artigo e o nome de qualquer órgão
criado ou designado pelo Estado Parte interessado consoante o parágrafo 2 do presente artigo será depositado
pelo Estado Parte interessado junto ao Secretário Geral das Nações Unidas que remeterá cópias aos outros
Estados Partes. A declaração poderá ser retirada a qualquer momento mediante notificação ao Secretário
Geral, mas esta retirada não prejudicará as comunicações que já estiverem sendo estudadas pelo Comitê.

4. O órgão criado ou designado de conformidade com o parágrafo 2 do presente artigo, deverá manter um
registro de petições e cópias autenticada do registro serão depositadas anualmente por canais apropriados
junto ao Secretário Geral das Nações Unidas, no entendimento que o conteúdo dessas cópias não será
divulgado ao público.

5. Se não obtiver repartição satisfatória do órgão criado ou designado de conformidade com o parágrafo 2
do presente artigo, o peticionário terá o direito de levar a questão ao Comitê dentro de seis meses.

6. a) O Comitê levará, a título confidencial, qualquer comunicação que lhe tenha sido endereçada, ao
conhecimento do Estado Parte que, pretensamente houver violado qualquer das disposições desta Convenção,
mas a identidade da pessoa ou dos grupos de pessoas não poderá ser revelada sem o consentimento expresso
da referida pessoa ou grupos de pessoas. O Comitê não receberá comunicações anônimas.

b) Nos três meses seguintes, o referido Estado submeterá, por escrito ao Comitê, as explicações ou
recomendações que esclarecem a questão e indicará as medidas corretivas que por acaso houver adotado.

7. a) O Comitê examinará as comunicações, à luz de todas as informações que forem submetidas pelo
Estado parte interessado e pelo peticionário. O Comitê só examinará uma comunicação de peticionário após
ter-se assegurado que este esgotou todos os recursos internos disponíveis. Entretanto, esta regra não se
aplicará se os processos de recurso excederem prazos razoáveis.

b) O Comitê remeterá suas sugestões e recomendações eventuais, ao Estado Parte interessado e ao


peticionário.

8. O Comitê incluirá em seu relatório anual um resumo destas comunicações, se for necessário, um resumo
das explicações e declarações dos Estados Partes interessados assim como suas próprias sugestões e
recomendações.

9. O Comitê somente terá competência para exercer as funções previstas neste artigo se pelo menos dez
Estados Partes nesta Convenção estiverem obrigados por declarações feitas de conformidade com o parágrafo
deste artigo.

Artigo XV

1. Enquanto não forem atingidos os objetivos da resolução 1.514 (XV) da Assembléia Geral de 14 de
dezembro de 1960, relativa à Declaração sobro a concessão da independência dos países e povos coloniais,
as disposições da presente convenção não restringirão de maneira alguma o direito de petição concedida aos
povos por outros instrumentos internacionais ou pela Organização das Nações Unidas e suas agências
especializadas.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 134

2. a) O Comitê constituído de conformidade com o parágrafo 1 do artigo 8 desta Convenção receberá cópia
das petições provenientes dos órgãos das Nações Unidas que se encarregarem de questões diretamente
relacionadas com os princípios e objetivos da presente Convenção e expressará sua opinião e formulará
recomendações sobre petições recebidas quando examinar as petições recebidas dos habitantes dos territórios
sob tutela ou não autônomo ou de qualquer outro território a que se aplicar a resolução 1514 (XV) da
Assembléia Geral, relacionadas a questões tratadas pela presente Convenção e que forem submetidas a esses
órgãos.

b) O Comitê receberá dos órgãos competentes da Organização das Nações Unidas cópia dos relatórios
sobre medidas de ordem legislativa judiciária, administrativa ou outra diretamente relacionada com os princípios
e objetivos da presente Convenção que as Potências Administradoras tiverem aplicado nos territórios
mencionados na alínea “a” do presente parágrafo e expressará sua opinião e fará recomendações a esses
órgãos.

3. O Comitê incluirá em seu relatório à Assembléia um resumo das petições e relatórios que houver
recebido de órgãos das Nações Unidas e as opiniões e recomendações que houver proferido sobre tais
petições e relatórios.

4. O Comitê solicitará ao Secretário Geral das Nações Unidas qualquer informação relacionada com os
objetivos da presente Convenção que este dispuser sobre os territórios mencionados no parágrafo 2 (a) do
presente artigo.

Artigo XVI

As disposições desta Convenção relativas a solução das controvérsias ou queixas serão aplicadas sem
prejuízo de outros processos para solução de controvérsias e queixas no campo da discriminação previstos
nos instrumentos constitutivos das Nações Unidas e suas agências especializadas, e não excluirá a
possibilidade dos Estados partes recomendarem aos outros, processos para a solução de uma controvérsia de
conformidade com os acordos internacionais ou especiais que os ligarem.

PARTE III

Artigo XVII

1. A presente Convenção ficará aberta à assinatura de todo Estado Membro da Organização das Nações
Unidas ou membro de qualquer uma de suas agências especializadas, de qualquer Estado parte no Estatuto
da Côrte Internacional de Justiça, assim como de qualquer outro Estado convidado pela Assembléia-Geral da
Organização das Nações Unidas a torna-se parte na presente Convenção.

2. A presente Convenção ficará sujeita à ratificação e os instrumentos de ratificação serão depositados


junto ao Secretário Geral das Nações Unidas.

Artigo XVIII

1. A presente Convenção ficará aberta a adesão de qualquer Estado mencionado no parágrafo 1º do artigo
17.

2. A adesão será efetuada pelo depósito de instrumento de adesão junto ao Secretário Geral das Nações
Unidas.

Artigo XIX

1. Esta convenção entrará em vigor no trigéssimo dia após a data do deposito junto ao Secretário Geral
das Nações Unidas do vigésimo sétimo instrumento de ratificação ou adesão.

2. Para cada Estado que ratificar a presente Convenção ou a ele aderir após o depósito do vigésimo sétimo
instrumento de ratificação ou adesão esta Convenção entrará em vigor no trigésimo dia após o depósito de seu
instrumento de ratificação ou adesão.

Artigo XX

1. O Secretário Geral das Nações Unidas receberá e enviará, a todos os Estados que forem ou vierem a
torna-se partes desta Convenção, as reservas feitas pelos Estados no momento da ratificação ou adesão.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 135

Qualquer Estado que objetar a essas reservas, deverá notificar ao Secretário Geral dentro de noventa dias da
data da referida comunicação, que não aceita.

2. Não será permitida uma reserva incompatível com o objeto e o escopo desta Convenção nem uma
reserva cujo efeito seria a de impedir o funcionamento de qualquer dos órgãos previstos nesta Convenção.
Uma reserva será considerada incompatível ou impeditiva se a ela objetarem ao menos dois terços dos Estados
partes nesta Convenção.

3. As reservas poderão ser retiradas a qualquer momento por uma notificação endereçada com esse
objetivo ao Secretário Geral. Tal notificação surgirá efeito na data de seu recebimento.

Artigo XXI

Qualquer Estado parte poderá denunciar esta Convenção mediante notificação escrita endereçada ao
Secretário Geral da Organização das Nações Unidas. A denúncia surtirá efeito um ano após data do
recebimento da notificação pelo Secretário Geral.

Artigo XXI

Qualquer Controvérsia entre dois ou mais Estados Parte relativa a interpretação ou aplicação desta
Convenção que não for resolvida por negociações ou pelos processos previstos expressamente nesta
Convenção, será o pedido de qualquer das Partes na controvérsia. Submetida à decisão da Côrte Internacional
de Justiça a não ser que os litigantes concordem em outro meio de solução.

Artigo XXII

Qualquer Controvérsia entre dois ou mais Estados Partes relativa à interpretação ou aplicação desta
Convenção, que não for resolvida por negociações ou pelos processos previstos expressamente nesta
Convenção será, pedido de qualquer das Partes na controvérsia, submetida à decisão da Côrte Internacional
de Justiça a não ser que os litigantes concordem em outro meio de solução.

Artigo XXIII

1. Qualquer Estado Parte poderá formular a qualquer momento um pedido de revisão da presente
Convenção, mediante notificação escrita endereçada ao Secretário Geral das Nações Unidas.

2. A Assembléia-Geral decidirá a respeito das medidas a serem tomadas, caso for necessário, sobre o
pedido.

Artigo XXIV

O Secretário Geral da Organização das Nações Unidas comunicará a todos os Estados mencionados no
parágrafo 1º do artigo 17 desta Convenção.

a) as assinaturas e os depósitos de instrumentos de ratificação e de adesão de conformidade com os


artigos 17 e 18;

b) a data em que a presente Convenção entrar em vigor, de conformidade com o artigo 19;

c) as comunicações e declarações recebidas de conformidade com os artigos 14, 20 e 23.

d) as denúncias feitas de conformidade com o artigo 21.

Artigo XXV

1. Esta Convenção, cujos textos em chinês, espanhol, inglês e russo são igualmente autênticos será
depositada nos arquivos das Nações Unidas.

2. O Secretário Geral das Nações Unidas enviará cópias autenticadas desta Convenção a todos os Estados
pertencentes a qualquer uma das categorias mencionadas no parágrafo 1º do artigo 17.

Em fé do que os abaixos assinados devidamente autorizados por seus Governos assinaram a presente
convenção que foi aberta a assinatura em Nova York a 7 de março de 1966.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 136

2.7 CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS (PACTO DE SÃO


JOSÉ DA COSTA RICA) – 1969 (DECRETO Nº 678/1992)

DECRETO No 678, DE 6 DE NOVEMBRO DE 1992

Promulga a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), de 22 de
novembro de 1969.

O VICE-PRESIDENTE DA REPÚBLICA , no exercício do cargo de PRESIDENTE DA REPÚBLICA , no


uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso VIII, da Constituição, e Considerando que a Convenção
Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), adotada no âmbito da Organização
dos Estados Americanos, em São José da Costa Rica, em 22 de novembro de 1969, entrou em vigor
internacional em 18 de julho de 1978, na forma do segundo parágrafo de seu art. 74;

Considerando que o Governo brasileiro depositou a carta de adesão a essa convenção em 25 de setembro
de 1992; Considerando que a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa
Rica) entrou em vigor, para o Brasil, em 25 de setembro de 1992 , de conformidade com o disposto no segundo
parágrafo de seu art. 74;

DECRETA:

Art. 1° A Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), celebrada
em São José da Costa Rica, em 22 de novembro de 1969, apensa por cópia ao presente decreto, deverá ser
cumprida tão inteiramente como nela se contém.

Art. 2° Ao depositar a carta de adesão a esse ato internacional, em 25 de setembro de 1992, o Governo
brasileiro fez a seguinte declaração interpretativa: "O Governo do Brasil entende que os arts. 43 e 48, alínea d
, não incluem o direito automático de visitas e inspeções in loco da Comissão Interamericana de Direitos
Humanos, as quais dependerão da anuência expressa do Estado".

Art. 3° O presente decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 6 de novembro de 1992; 171° da Independência e 104° da República.

ITAMAR FRANCO

Fernando Henrique Cardoso

Este texto não substitui o publicado no DOU de 9.11.1992

ANEXO AO DECRETO QUE PROMULGA A CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS


(PACTO DE SÃO JOSE DA COSTA RICA) - MRE

CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS

PREÂMBULO

Os Estados americanos signatários da presente Convenção, Reafirmando seu propósito de consolidar neste
Continente, dentro do quadro das instituições democráticas, um regime de liberdade pessoal e de justiça social,
fundado no respeito dos direitos essenciais do homem;

Reconhecendo que os direitos essenciais do homem não deviam do fato de ser ele nacional de determinado
Estado, mas sim do fato de ter como fundamento os atributos da pessoa humana, razão por que justificam uma
proteção internacional, de natureza convencional, coadjuvante ou complementar da que oferece o direito
interno dos Estados americanos;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 137

Considerando que esses princípios foram consagrados na Carta da Organização dos Estados Americanos,
na Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem e na Declaração Universal dos Direitos do Homem
e que foram reafirmados e desenvolvidos em outros instrumentos internacionais, tanto de âmbito mundial como
regional;

Reiterando que, de acordo com a Declaração Universal dos Direitos do Homem, só pode ser realizado o
ideal do ser humano livre, isento do temor e da miséria, se forem criadas condições que permitam a cada
pessoa gozar dos seus direitos econômicos, sociais e culturais, bem como dos seus direitos civis e políticos; e

Considerando que a Terceira Conferência Interamericana Extraordinária (Buenos Aires, 1967) aprovou a
incorporação à próprias sociais e educacionais e resolveu que uma convenção interamericana sobre direitos
humanos determinasse a estrutura, competência e processo dos órgãos encarregados dessa matéria,

Convieram no seguinte:

PARTE I

Deveres dos Estados e Direitos Protegidos

CAPÍTULO I

Enumeração de Deveres

ARTIGO 1

Obrigação de Respeitar os Direitos

1. Os Estados-Partes nesta Convenção comprometem-se a respeitar os direitos e liberdades nela


reconhecidos e a garantir seu livre e pleno exercício a toda pessoa que esteja sujeita à sua jurisdição, sem
discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de qualquer outra
natureza, origem nacional ou social, posição econômica, nascimento ou qualquer outra condição social.

2. Para os efeitos desta Convenção, pessoa é todo ser humano.

ARTIGO 2

Dever de Adotar Disposições de Direito Interno

Se o exercício dos direitos e liberdades mencionados no artigo no artigo 1 ainda não estiver garantido por
disposições legislativas ou de outra natureza, os Estados-Partes comprometem-se a adotar, de acordo com as
suas normas constitucionais e com as disposições desta Convenção, as medidas legislativas ou de outras
natureza que forem necessárias para tornar efetivos tais direitos e liberdades.

CAPÍTULO II

Direitos Civis e Políticos

ARTIGO 3

Direitos ao Reconhecimento da Personalidade Jurídica

Toda pessoa tem direito ao reconhecimento de sua personalidade jurídica.

ARTIGO 4

Direito à Vida
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 138

1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser protegido pela lei e, em geral,
desde o momento da concepção. Ninguém pode ser privado da vida arbitrariamente.

2. Nos países que não houverem abolido a pena de morte, esta só poderá ser imposta pelos delitos mais
graves, em cumprimento de sentença final de tribunal competente e em conformidade com lei que estabeleça
tal pena, promulgada antes de haver o delito sido cometido. Tampouco se estenderá sua aplicação a delitos
aos quais não se aplique atualmente.

3. Não se pode restabelecer a pena de morte nos Estados que a hajam abolido.

4. Em nenhum caso pode a pena de morte ser aplicada por delitos políticos, nem por delidos comuns conexos
com delitos políticos.

5. Não se deve impor a pena de morte à pessoa que, no momento da perpetração do delito, for menor de
dezoito anos, ou maior de setenta, nem aplicá-la a mulher em estado de gravidez.

6. Toda pessoa condenada à morte tem direito a solicitar anistia, indulto ou comutação da pena, os quais
podem ser concedidos em todos os casos. Não se pode executar a pena de morte enquanto o pedido estiver
pendente de decisão ante a autoridade competente.

ARTIGO 5

Direito à Integridade Pessoal

1. Toda pessoa tem o direito de que se respeito sua integridade física, psíquica e moral.

2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou tratos cruéis, desumanos ou degradantes. Toda
pessoa privada da liberdade deve ser tratada com o respeito devido à dignidade inerente ao ser humano.

3. A pena não pode passar da pessoa do delinqüente.

4. Os processados devem ficar separados dos condenados, salvo em circunstâncias excepcionais, a ser
submetidos a tratamento adequado à sua condição de pessoal não condenadas.

5. Os menores, quando puderem ser processados, deve ser separados dos adultos e conduzidos a tribunal
especializado, com a maior rapidez possível, para seu tratamento.

6. As penas privativas da liberdade devem ter por finalidade essencial a reforma e a readaptação social dos
condenados.

ARTIGO 6

Proibição da Escravidão e da Servidão

1. Ninguém pode ser submetido à escravidão ou a servidão, e tanto estas como o tráfico de escravos e o
tráfico de mulheres são proibidos em todas as formas.

2. Ninguém deve ser constrangido a executar trabalho forçado ou obrigatório. Nos países em que se
prescreve, para certos delitos, pena privativa da liberdade acompanhada de trabalhos forçados, esta disposição
não pode ser interpretada no sentido de que proíbe o cumprimento da dita pena, importa por juiz ou tribunal
competente. O trabalho forçado não deve afetar a dignidade nem a capacidade física e intelectual do recluso.

3. Não constituem trabalhos forçados ou obrigatórios para os efeitos deste artigo:

a) os trabalhos ou serviços normalmente exigidos de pessoal reclusa em cumprimento de sentença ou


resolução formal expedida pela autoridade judiciária competente. Tais trabalhos ou serviços de devem ser
executados sob a vigilância e controle das autoridades públicas, e os indivíduos que os executarem não devem
ser postos à disposição de particulares, companhias ou pessoas jurídicas de caráter privado:
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 139

b) o serviço militar e, nos países onde se admite a isenção por motivos de consciências, o serviço nacional
que a lei estabelecer em lugar daquele;

c) o serviço imposto em casos de perigo ou calamidade que ameace a existência ou o bem-estar da


comunidade; e

d) o trabalho ou serviço que faça parte das obrigações cívicas normais.

ARTIGO 7

Direito à Liberdade Pessoal

1. Toda pessoa tem direito à liberdade e á segurança pessoais.

2. Ninguém pode ser privado de sua liberdade física, salvo pelas causas e nas condições previamente fixadas
pelas constituições políticas dos Estados-Partes ou pelas leis de acordo com elas promulgadas.

3. Ninguém pode ser submetido a detenção ou encarceramento arbitrários.

4. Toda pessoa detida ou retida deve ser informada das razões da sua detenção e notificada, sem demora,
da acusação ou acusações formuladas contra ela.

5. Toda pessoa detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, á presença de um juiz ou outra autoridade
autorizada pela lei a exercer funções judiciais e tem direito a ser julgada dentro de um prazo razoável ou a ser
posta em liberdade, sem prejuízo de que prossiga o processo. Sua liberdade pode ser condiciona a garantias
que assegurem o seu comparecimento em juízo.

6. Toda pessoa privada da liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal competente, a fim de que
este decida, sem demora, sobre ou tribunal competente, a fim de que este decida, sem demora, sobre a
legalidade de sua prisão ou detenção e ordene sua soltura se a prisão ou a detenção forem ilegais. Nos
Estados-Partes cujas leis prevêem que toda pessoa que se vir ameaçada de ser privada de sua liberdade tem
direito a recorrer a um juiz ou tribunal competente a fim de que este decida sobre a legalidade de tal ameaça,
tal recurso não pode ser restringido nem abolido. O recurso pode ser interposto pela própria pessoa ou por
outra pessoa.

7. Ninguém deve ser detido por dívida. Este princípio não limita os mandados de autoridade judiciária
competente expedidos em virtude de inadimplemento de obrigação alimentar.

ARTIGO 8

Garantias Judiciais

1. Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um
juiz ou tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de
qualquer acusação penal formulada contra ela, ou para que se determinem seus direitos ou obrigações de
natureza civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza.

2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se comprove
legalmente sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias
mínimas:

a) direito do acusado de ser assistido gratuitamente por tradutor ou intérprete, se não compreender ou não
falar o idioma do juízo ou tribunal;

b) comunicação prévia e pormenorizada ao acusado da acusação formulada;

c) concessão ao acusado do tempo e dos meios adequados para a preparação de sua defesa;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 140

d) direito do acusado de defender-se pessoalmente ou de ser assistido por um defensor de sua escolha e de
comunicar-se, livremente e em particular, com seu defensor;

e) direito irrenunciável de ser assistido por um defensor proporcionado pelo Estado, remunerado ou não,
segundo a legislação interna, se o acusado não se defender ele próprio nem nomear defensor dentro do prazo
estabelecido pela lei;

f) direito da defesa de inquirir as testemunhas presente no tribunal e de obter o comparecimento, como


testemunhas ou peritos, de outras pessoas que possam lançar luz sobre os fatos.

g) direito de não ser obrigado a depor contra si mesma, nem a declarar-se culpada; e

h) direito de recorrer da sentença para juiz ou tribunal superior.

3. A confissão do acusado só é válida se feita sem coação de nenhuma natureza.

4. O acusado absolvido por sentença passada em julgado não poderá se submetido a novo processo pelos
mesmos fatos.

5. O processo penal deve ser público, salvo no que for necessário para preservar os interesses da justiça.

ARTIGO 9

Princípio da Legalidade e da Retroatividade

Ninguém pode ser condenado por ações ou omissões que, no momento em que forem cometidas, não sejam
delituosas, de acordo com o direito aplicável. Tampouco se pode impor pena mais grave que a aplicável no
momento da perpetração do delito. Se depois da perpetração do delito a lei dispuser a imposição de pena mais
leve, o delinqüente será por isso beneficiado.

ARTIGO 10

Direito a Indenização

Toda pessoa tem direito de ser indenizada conforme a lei, no caso de haver sido condenada em sentença
passada em julgado, por erro judiciário.

ARTIGO 11

Proteção da Honra e da Dignidade

1. Toda pessoa tem direito ao respeito de sua honra e ao reconhecimento de sua dignidade.

2. Ninguém pode ser objeto de ingerências arbitrárias ou abusivas em sua vida privada, na de sua família,
em seu domicílio ou em sua correspondência, nem de ofensas ilegais à sua honra ou reputação.

3. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais ingerências ou tais ofensas.

ARTIGO 12

Liberdade de Consciência e de Religião

1. Toda pessoa tem direito à liberdade de consciência e de religião. Esse direito implica a liberdade de
conservar sua religião ou suas crenças, ou de mudar de religião ou de crenças, bem como a liberdade de
professar e divulgar sua religião ou suas crenças, individual ou coletivamente, tanto em público como em
privado.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 141

2. Ninguém pode ser objeto de medidas restritivas que possam limitar sua liberdade de conservar sua religião
ou suas crenças, ou de mudar de religião ou de crenças.

3. A liberdade de manifestar a própria religião e as próprias crenças está sujeita unicamente às limitações
prescritas pelas leis e que sejam necessárias para proteger a segurança, a ordem, a saúde ou moral pública
ou os direitos ou liberdades das demais pessoas.

4. Os pais, e quando for o caso os tutores, têm direito a que seus filhos ou pupilos recebam a educação
religiosa e moral que esteja acorde com suas próprias convicções.

ARTIGO 13

Liberdade de Pensamento e de Expressão

1. Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento e de expressão. Esse direito compreende a liberdade
de buscar, receber e difundir informações e idéias de toda natureza, sem consideração de fronteiras,
verbalmente ou por escrito, ou em forma impressa ou artística, ou por qualquer outro processo de sua escolha.

O exercício do direito previsto no inciso precedente não pode estar sujeito à censura prévia, mas a
responsabilidades ulteriores, que devem ser expressamente fixadas pela lei a ser necessária para assegurar:

a) o respeito aos direitos ou à reputação das demais pessoas; ou

b) a proteção da segurança nacional, da ordem pública, ou da saúde ou da moral pública.

3. Não se pode restringir o direito de expressão por vias ou meios indiretos, tais como o abuso de controles
oficiais ou particulares de papel de imprensa, de freqüências radioelétricas ou de equipamentos e aparelhos
usados na difusão de informação, nem por quaisquer outros meios destinados a obstar a comunicação e a
circulação de idéias e opiniões.

4. A lei pode submeter os espetáculos públicos à censura prévia, com o objetivo exclusivo de regular o
acesso a eles, para proteção moral da infância e da adolescência, sem prejuízo do disposto no inciso 2º.

5. A lei deve proibir toda propaganda a favor da guerra, bem como toda apologia ao ódio nacional, racial ou
religioso que constitua incitação à discriminação, à hostilidade, ao crime ou à violência.

ARTIGO 14

Direito de Retificação ou Resposta

1. Toda pessoa atingida por informações inexatas ou ofensivas emitidas em seus prejuízos por meios de
difusão legalmente regulamentados e que se dirijam ao público em geral, tem direito a fazer, pelo mesmo órgão
de difusão, sua retificação ou resposta, nas condições que estabeleça a lei.

2. Em nenhum caso a retificação ou a resposta eximirá das outras responsabilidades legais em que se houver
incorrido.

3. Para a efetiva proteção da honra e da reputação, toda publicação ou empresa jornalística, cinematográfica,
de rádio ou televisão, deve ter uma pessoa responsável que não seja protegida por imunidades nem goze de
foro especial.

ARTIGO 15

Direito de Reunião

É reconhecido o direito de reunião pacífica e sem armas. O exercício de tal direito só pode estar sujeito às
restrições previstas pela lei e que sejam necessárias, uma sociedade democrática, no interesse da segurança
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 142

nacional, da segurança ou da ordem públicas, ou para proteger a saúde ou a moral públicas ou os direitos e
liberdades das demais pessoas.

ARTIGO 16

Liberdade de Associação

1. Todas as pessoas têm o direito de associar-se livremente com fins ideológicos, religiosos, políticos,
econômicos, trabalhistas, sociais, culturais, desportivos, ou de qualquer outra natureza.

2. O exercício de tal direito só pode estar sujeito às restrições previstas pela lei que sejam necessárias, numa
sociedade democrática, no interesse da segurança nacional, da segurança ou da ordem públicas, ou para
proteger a saúde ou a moral públicas ou os direitos e liberdades das demais pessoas.

3. O disposto neste artigo não impede a imposição de restrições legais, e mesmo a privação do exercício do
direito de associação, aos membros das forças armadas e da polícia.

ARTIGO 17

Proteção da Família

1. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e deve ser protegida pela sociedade e pelo
Estado.

2. É reconhecido o direito do homem e da mulher de contraírem casamento e de fundarem uma família, se


tiverem à idade e as condições para isso exigidas pelas leis internas, na medida em que não afetem estas o
princípio da não discriminação estabelecido nesta Convenção.

3. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno consentimento dos contraentes.

4. Os Estados-Partes devem tomar medidas apropriadas no sentido de assegurar a igualdade de direitos e


a adequada equivalência de responsabilidades dos cônjuges quanto ao casamento, durante o casamento e em
caso de dissolução do mesmo. Em caso de dissolução, serão adotadas disposições que assegurem a proteção
necessária aos filhos, com base unicamente no interesse e conveniência dos mesmos.

5. A lei deve reconhecer iguais direitos tanto aos filhos nascidos fora do casamento como aos nascidos
dentro do casamento.

ARTIGO 18

Direito ao Nome

Toda pessoa tem direito a um prenome e aos nomes de seus pais ou ao de um destes. A lei deve regular a
forma de assegurar a todos esses direito, mediante nomes fictícios, se for necessário.

ARTIGO 19

Direitos da Criança

Toda criança tem direito às medidas de proteção que a sua condição de menor requer por parte da sua
família, da sociedade e do Estado.

ARTIGO 20

Direito à Nacionalidade

1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade.


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 143

2. Toda pessoa tem direito à nacionalidade do Estado em cujo território houver nascido, se não tiver direito
à outra.

3. A ninguém se deve privar arbitrariamente de sua nacionalidade nem do direito de mudá-la.

ARTIGO 21

Direito à Propriedade Privada

1. Toda pessoa tem direito ao uso e gozo dos seus bens. A lei pode subordinar esse uso e gozo ao interesse
social.

2. Nenhuma pessoa pode ser privada de seus bens, salvo mediante o pagamento de indenização justa, por
motivo de utilidade pública ou de interesse social e nos casos e na forma estabelecidos pela lei.

3. Tanto a usura como qualquer outra forma de exploração do homem pelo homem devem ser reprimidas
pela lei.

ARTIGO 22

Direito de Circulação e de Residência

1. Toda pessoa que se ache legalmente no território de um Estado tem direito de circular nele e de nele
residir conformidade com as disposições legais.

2. toda pessoa tem o direito de sair livremente de qualquer país, inclusive do próprio.

3. O exercício dos direitos acima mencionados não pode ser restringido senão em virtude de lei, na medida
indispensável, numa sociedade democrática, para prevenir infrações penais ou para proteger a segurança
nacional, a segurança ou a ordem públicas, a moral ou a saúde públicas, ou os direitos e liberdades das demais
pessoas.

4. O exercício dos direitos reconhecidos no inciso 1 pode também ser restringido pela lei, em zonas
determinadas, por motivos de interesse público.

5. Ninguém pode ser expulso do território do Estado do qual for nacional, nem ser privado do direito de nele
entrar.

6. O estrangeiro que se ache legalmente no território de uma Estado-Parte nesta Convenção só poderá dele
ser expulso em cumprimento de decisão adotada de acordo com a lei.

7. Toda pessoa tem o direito de buscar e receber asilo em território estrangeiro, em caso de perseguição por
delitos políticos ou comuns conexos com delitos políticos e de acordo com a legislação de cada estado e com
os convênios internacionais.

8. Em nenhum caso o estrangeiro pode ser expulso ou entregue a outro país, seja ou não de origem, onde
seu direito à vida ou liberdade pessoal esteja em risco de violação por causa da sua raça, nacionalidade,
religião, condição social ou de suas opiniões políticas.

9. É proibida a expulsão coletiva de estrangeiros.

ARTIGO 23

Direitos Políticos

1. Todos os cidadãos devem gozar dos seguintes direitos e oportunidades:


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 144

a) de participar da direção dos assuntos públicos, diretamente ou por meio de representantes livremente
eleitos;

b) de votar e se eleitos em eleições periódicas autênticas, realizadas por sufrágio universal e igual e por voto
secreto que garanta a livre expressão da vontade dos eleitores; e

c) de ter acesso, em condições gerais de igualdade, às funções públicas de seu país.

2. A lei pode regular o exercício dos direitos e oportunidades e a que se refere o inciso anterior,
exclusivamente por motivos de idade, nacionalidade, residência, idioma, instrução, capacidade civil ou mental,
ou condenação, por juiz competente, em processo penal.

ARTIGO 24

Igualdade Perante a Lei

Todas as pessoas são iguais perante a lei. Por conseguinte, têm direito, sem discriminação, a igual proteção
da lei.

ARTIGO 25

Proteção Judicial

1. Toda pessoa tem direito a um recurso simples e rápido ou a qualquer outro recurso efetivo, perante os
juízos ou tribunais competentes, que a proteja contra atos que violem seus direitos fundamentais reconhecidos
pela constituição, pela lei ou pela presente Convenção, mesmo quando tal violação seja cometida por pessoas
que estejam atuando no exercícios de suas funções oficiais.

2. Os Estados-Partes comprometem-se:

a) a assegurar que a autoridade competente prevista pelo sistema legal do Estado decida sobre os direitos
de toda pessoa que interpuser tal recurso;

b) a desenvolver as possibilidades de recurso judicial; e

c) a assegurar o cumprimento, pelas autoridades competente, de toda decisão em que se tenha considerado
procedente o recurso.

CAPÍTULO III

Direitos Econômicos, Sociais e Culturais

ARTIGO 26

Desenvolvimento Progressivo

Os Estados-Partes comprometem-se a adotar providência, tanto no âmbito interno como mediante


cooperação internacional, especialmente econômica e técnica, a fim de conseguir progressivamente a plena
efetividade dos direitos que decorrem das normas econômicas, sociais e sobre educação, ciência e cultura,
constantes da Carta da Organização dos Estados Americanos, reformada pelo Protocolo de Buenos Aires, na
medida dos recursos disponíveis, por via legislativa ou por outros meios apropriados.

CAPÍTULO IV

Suspensão de Garantias, Interpretação e Aplicação

ARTIGO 27
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 145

Suspensão de Garantias

1. Em caso de guerra, de perigo público, ou de outra emergência que ameace a independência ou segurança
do Estado-Parte, este poderá adotar disposições que, na medida e pelo tempo estritamente limitados às
exigências da situação, suspendam as obrigações contraídas em virtude desta Convenção, desde que tais
disposições não sejam incompatíveis com as demais obrigações que lhe impõe o Direito Internacional e não
encerrem discriminação alguma fundada em motivos de raça, cor, sexo, idioma, religião ou origem social.

2. A disposição precedente não autoriza a suspensão dos direitos determinados nos seguintes artigos: 3
(Direito ao Reconhecimento da Personalidade Jurídica), 4 (Direito à vida), 5 (Direito à Integridade Pessoal), 6
(Proibição da Escravidão e Servidão), 9 (Princípio da Legalidade e da Retroatividade), 12 (Liberdade de
Consciência e de Religião), 17 (Proteção da Família), 18 (Direito ao Nome), 18 (Direitos da Criança), 20 (Direito
à Nacionalidade) e 23 (Direitos Políticos), nem das garantias indispensáveis para a proteção de tais direitos.

3. Todo Estado-Parte que fizer uso do direito de suspensão deverá informar imediatamente os outros
Estados-Partes na presente Convenção, por intermédio do Secretário-Geral da Organização dos Estados
Americanos, das disposições cuja aplicação haja suspendido, dos motivos determinantes da suspensão e da
data em que haja dado por terminado tal suspensão.

ARTIGO 28

Cláusula Federal

1. Quando se tratar de um Estado-Parte constituído como Estado federal, o governo nacional do aludido
Estado-Parte cumprirá todas as disposições da presente Convenção, relacionadas com as matérias sobre as
quais exerce competência legislativa e judicial.

2. No tocante às disposições relativas às matérias que correspondem à competência das entidades


componentes da federação, o governo nacional deve tomar imediatamente as medidas pertinentes, em
conformidade com sua constituição e suas leis, a fim de que as autoridades competentes das referidas
entidades possam adotar as disposições cabíveis para o cumprimento desta Convenção.

3. Quando dois ou mais Estados-Partes decidiram constituir entre eles uma federação ou outro tipo de
associação, diligenciarão no sentido de que o pacto comunitário respectivo contenha as disposições
necessárias para que continuem sendo efetivas no novo Estado assim organizado as normas da presente
Convenção.

ARTIGO 29

Normas de Interpretação

Nenhuma disposição desta Convenção pode ser interpretada no sentido de:

a) permitir a qualquer dos Estados-Partes, grupo ou pessoa, suprimir o gozo e exercício dos direitos e
liberdades reconhecidos na Convenção ou limitá-los em maior medida do que a nela prevista;

b) limitar o gozo e exercício de qualquer direito ou liberdade que possam ser reconhecidos de acordo com
as leis de qualquer dos Estados-Partes ou de acordo com outra convenção em que seja parte um dos referidos
Estados;

c) excluir outros direitos e garantias que são inerentes ao ser humano ou que decorrem da forma democrática
representativa de governo; e

d) excluir ou limitar o efeito que possam produzir a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem
e outros atos internacionais da mesma natureza.

ARTIGO 30
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 146

Alcance das Restrições

As restrições permitidas, de acordo com esta Convenção, ao gozo e exercício dos direitos e liberdades nela
reconhecidos, não podem ser aplicadas senão de acordo com leis que forem promulgadas por motivo de
interesse geral e com o propósito para o qual houverem sido estabelecidas.

ARTIGO 31

Reconhecimento de Outros Direitos

Poderão se incluídos no regime de proteção desta Convenção outros direitos e liberdades que forem
reconhecidos de acordo com os processos estabelecidos nos artigos 69 e 70.

CAPÍTULO V

Deveres das Pessoas

ARTIGO 32

Correlação entre Deveres e Direitos

1. Toda pessoa tem deveres para com a família, a comunidade e a humanidade.

2. Os direitos de cada pessoa são limitados pelos direitos dos demais, pela segurança de todos e pelas
justas exigências do bem comum, numa sociedade democrática.

PARTE II

Meios da Proteção

CAPÍTULO VI

Órgãos Competentes

ARTIGO 33

São competentes para conhecer dos assuntos relacionados com o cumprimento dos compromissos
assumidos pelos Estados-Partes nesta Convenção:

a) a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, doravante denominada a Comissão; e

b) a Corte Interamericana de Direitos Humanos, doravante denominada a Corte.

CAPÍTULO VII

Comissão Interamericana de Direitos Humanos

Seção 1 - Organização

ARTIGO 34

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos compor-se-á de sete membros, que deverão ser pessoas
de alta autoridade moral e de reconhecimento saber em matéria de direitos humanos.

ARTIGO 35

A Comissão representa todos os Membros da Organização dos Estados Americanos.


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 147

ARTIGO 36

1. Os membros da Comissão, serão eleitos a título pessoal, pela Assembléia-Geral da organização, de uma
lista de candidatos propostos pelos governos dos Estados-Membros.

2. Cada um dos referidos governos pode propor até três candidatos, nacionais do Estado que os propuser
ou de qualquer outro Estado-Membro da organização dos Estados Americanos. Quando for proposta uma lista
de três candidatos, pelo menos um deles deverá ser nacional de Estado diferente do proponente.

ARTIGO 37

1. Os membros da Comissão serão eleitos por quatro anos e só poderão ser reeleitos uma vez, porém o
mandato de três dos membros designados na primeira eleição expirará ao cabo de dois anos. Logo depois da
referida eleição, serão determinados por sorteio, na Assembléia-Geral, os nomes desse três membros.

2. Não pode fazer parte da Comissão mais de um nacional de um mesmo Estado.

ARTIGO 38

As vagas que ocorrerem na Comissão, que não se devam à expiração normal do mandado, serão
preenchidas pelo Conselho Permanente da Organização, de acordo com o que dispuser o Estatuto da
Comissão.

ARTIGO 39

A Comissão elaborará seu estatuto e submetê-lo-á à aprovação da Assembléia-Geral e expedirá seu próprio
regulamento.

ARTIGO 40

Os serviços de secretaria da Comissão devem ser desempenhados pela unidade funcional especializada
que faz parte da Secretaria-Geral da Organização e deve dispor dos recursos necessários para cumprir as
tarefas que lhe forem confiadas pela Comissão.

Seção 2 - Funções

ARTIGO 41

A Comissão tem a função principal de promover a observância e a defesa dos direitos humanos e, no
exercício do seu mandato, tem as seguintes funções e atribuições:

a) estimular a consciência dos direitos humanos nos povos da América;

b) formular recomendações aos governos dos Estados-Membros, quando o considerar conveniente, no


sentido de que adotem medidas progressivas em prol dos direitos humanos no âmbito de suas leis internas e
seus preceitos constitucionais, bem como disposições apropriadas para promover o devido respeito a esses
direitos;

c) preparar os estudos ou relatórios que considerar convenientes o desempenho de suas funções;

d) solicitar aos governos dos Estados-Membros que lhe proporcionem informações sobre as medidas que
adotarem em matéria de direitos humanos;

e) atender às consultas que, por meio da Secretaria-Geral da Organização dos Estados Americanos, lhe
formularem os Estados-Membros sobre questões relacionadas com os direitos humanos e, dentro de suas
possibilidades, prestar-lhes o assessoramento que eles lhe solicitarem;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 148

f) atuar com respeito às petições e outras comunicações, no exercício de sua autoridade, de conformidade
com o disposto nos artigos 44 a 51 desta Convenção; e

g) apresentar um relatório anual a Assembléia-Geral da Organização dos Estados Americanos.

ARTIGO 42

Os Estados-Partes devem remeter à Comissão cópia dos relatórios e estudos que, em seus respectivos
campos, submetem anualmente às Comissões Executivas do Conselho Interamericano Econômico e Social e
do Conselho Interamericano de Educação, Ciência e Cultura, a fim de que aquela vele por que se promovem
os direitos decorrentes das normas econômicas, sociais e sobre educação, ciência e cultura constantes da
Carta da Organização dos Estados Americanos, reformada pelo Protocolo de Buenos Aires.

ARTIGO 43

Os Estados-Partes obrigam-se a proporcionar à Comissão as informações que esta lhes solicitar sobre a
maneira pela qual o seu direito interno assegura a aplicação efetiva de quaisquer disposições desta Convenção.

Seção 3 - Competência

ARTIGO 44

Qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade não governamental legalmente reconhecida em um ou


mais Estados-Membros da Organização, pode apresentar à Comissão petições que contenham denúncias ou
queixas de violação desta Convenção por um Estado-Parte.

ARTIGO 45

1. Todo Estado-Parte pode, no momento do depósito do seu instrumento de ratificação desta Convenção ou
de adesão a ela, ou em qualquer momento posterior, declarar que reconhece a competência da Comissão para
receber e examinar as comunicações em que um Estado-Parte alegue haver outro Estado-Parte incorrido em
violações direitos humanos estabelecidos nesta Convenção.

2. As comunicações feitas em virtude deste artigo só podem ser admitidos e examinadas se forem
apresentadas por um Estado-Parte que haja feito uma declaração pela qual reconheça a referida competência
da Comissão. A Comissão não admitirá nenhuma comunicação contra um Estado-Parte que não haja feito tal
declaração.

3. As declarações sobre reconhecimento de competência podem ser feitas para que esta vigore por tempo
indefinido, por período determinado ou para casos específicos.

4. As declarações serão depositadas na Secretaria-Geral da Organização dos Estados Americanos, a qual


encaminhará cópia das mesmas aos Estados-Membros da referida Organização.

ARTIGO 46

1. Para que uma petição ou comunicação apresentada de acordo com os artigos 44 ou 45 seja admitida pela
Comissão, será necessário:

a) que hajam sido interpostos e esgotados os recursos da jurisdição interna, de acordo com os princípios de
direito internacional geralmente reconhecidos;

b) que seja apresentada dentro do prazo de seis meses, a partir da data em que o presumido prejudicado
em seus direitos tenha sido notificado da decisão definitiva;

c) que a matéria da petição ou comunicação não esteja pendente de outro processo de solução internacional;
e
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 149

d) que, no caso do artigo 44, a petição contenha o nome, a nacionalidade, a profissão, o domicílio e a
assinatura da pessoa ou pessoas ou do representante legal da entidade que submeter a petição.

2. as disposições das alíneas "a" e "b" do inciso 1º deste artigo não se aplicarão quando:

a) não existir, na legislação interna do Estado de que se tratar, o devido processo legal para a proteção do
direito ou direitos que se alegue tenha sido violados;

b) não se houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o acesso aos recursos da jurisdição
interna, ou houver sido ele impedido de esgotá-los; e

c) houver demora injustificada na decisão sobre os mencionados recursos.

ARTIGO 47

A Comissão declarará inadmissível toda petição ou comunicação apresentada de acordo com os artigos 44
ou 45 quando:

a) não preencher algum dos requisitos estabelecidos no artigo 46;

b) não expuser fatos que caracterizem violação dos direitos garantidos por esta Convenção;

c) pela exposição do próprio peticionário ou do Estado, for manifestamente infundada a petição ou


comunicação ou for evidente sua total improcedência; ou

d) for substancialmente reprodução de petição ou comunicação anterior, já examinada pela Comissão ou por
outro organismo internacional.

seção 4 Processo

ARTIGO 48

1. A Comissão, ao receber uma petição ou comunicação na qual se alegue violação de qualquer dos direitos
consagrados nesta Convenção, procederá da seguinte maneira:

a) se reconhecer a admissibilidade da petição ou comunicação, solicitará informações ao Governo do Estado


ao qual pertença a autoridade apontada como responsável pela violação alegada e transcreverá as partes
pertinentes da petição ou comunicação. As referidas informações devem ser enviadas dentro de um prazo
razoável, fixado pela Comissão ao considerar as circunstâncias de cada caso;

b) recebidas às informações, ou transcorrido o prazo fixado sem que sejam elas recebidas, verificará se
existem ou subsistem os motivos da petição ou comunicação. No caso de não existirem ou não subsistirem,
mandará arquivar o expediente;

c) poderá também declarar a inadmissibilidade ou a improcedência da petição ou comunicação, com base


em informação ou prova superveniente;

d) se o expediente não houver sido arquivado, e com o fim de comprovar os fatos, a Comissão procederá,
com conhecimento das partes a um exame do assunto exposto na petição ou comunicação. Se for necessário
e conveniente, a Comissão procederá a uma investigação para cuja eficaz realização solicitará, e os Estado
interessados lhe proporcionarão, todas as facilidades necessárias;

e) poderá pedir aos Estados interessados qualquer informação pertinente e receberá, se isso lhe for
solicitado, as exposições verbais ou escritas que apresentarem os interessados; e

f) por-se-á à disposição das partes interessadas, a fim de chegar a uma solução amistosa do assunto,
fundada no respeito aos direitos humanos reconhecidos nesta Convenção.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 150

2. Entretanto, em casos graves e urgentes, pode ser realizada uma investigação, mediante prévio
consentimento do Estado em cujo território de alegue haver sido cometido à violação, tão somente com a
apresentação de uma petição ou comunicação que reúna todos os requisitos formais de admissibilidade.

ARTIGO 49

Se houver chegado a uma solução amistosa de acordo com as disposições do inciso 1, f, do artigo 48, a
Comissão redigirá um relatório que será encaminhado ao peticionário e aos Estados-Partes nesta Convenção
e, posteriormente, transmitido, para sua publicação, ao Secretário-Geral da Organização dos Estados
Americanos. O referido relatório conterá uma breve exposição dos fatos e da solução alcançada. Se qualquer
das partes no caso o solicitar, ser-lhe-á proporcionada a mais ampla informação possível.

ARTIGO 50

1. Se não se chegar a uma solução, e dentro do prazo que for fixado pelo Estatuto da Comissão, esta redigirá
um relatório no qual exporá os fatos e suas conclusões. Se o relatório não representar, no todo ou em parte, o
acordo unânime dos membros da Comissão, qualquer deles poderá agregar ao referido relatório seu voto em
separado. Também se agregarão ao relatório às exposições verbais ou escritas que houverem sido feitas pelos
interessados em virtudes do inciso 1º, e, do artigo 48.

2. O relatório será encaminhado aos Estados interessados, aos quais não será facultado publicá-lo.

3. Ao encaminhar o relatório, a Comissão pode formular as proposições e recomendações que julgar


adequada.

ARTIGO 51

1. Se no prazo de três meses, a partir da remessa aos Estados interessados do relatório da Comissão, o
assunto não houver sido solucionado ou submetido a submetido à decisão da Corte pela Comissão ou pelo
Estado interessado, aceitando sua competência, a Comissão poderá emitir, pelo voto da maioria absoluta dos
seus membros, sua opinião e conclusões sobre a questão submetida à sua consideração.

2. A comissão fará as recomendações pertinentes e fixará um prazo dentro do qual o Estado deve tomar as
medidas que lhe competirem para remediar a situação examinada.

3. Transcorrido o prazo fixado, a Comissão decidira, pelo voto da maioria absoluta dos seus membros, se o
Estado tomou ou não medidas adequadas e se publica ou não seu relatório.

CAPÍTULO VIII

Corte Interamericana de Direitos Humanos

Seção 1 - ORGANIZAÇÃO

ARTIGO 52

1. A Corte compor-se-á de sete juízes, nacionais dos Estados Membros da Organização, eleitos a títulos
pessoal dentre juristas da mais alta autoridade moral, de reconhecida competência em matéria de direitos
humanos, que reúnam as condições requeridas para o exercício das mais elevadas funções judiciais, de acordo
com a lei do Estado do qual sejam nacionais, ou do Estado que os propuser como candidatos.

2. Não deve haver dois juízes da mesma nacionalidade.

ARTIGO 53

1. Os juízes da Corte serão eleitos, em votação secreta e pelo voto da maioria absoluta dos Estados-Partes
na Convenção, na Assembléia-Geral da Organização, de uma lista de candidatos propostos pelos mesmos
Estados.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 151

2. Cada um dos Estados-Partes pode propor até três candidatos, nacionais do Estado que os propuser ou
de qualquer outro Estado-Membro da Organização dos Estados Americanos. Quando se propuser uma lista de
três candidatos, pelo menos um deles deverá ser nacional de Estado diferente do proponente.

ARTIGO 54

1. Os juízes da Corte serão eleitos por um período de seis anos e só poderão ser reeleitos uma vez. O
mandato de três dos juízes designados na primeira eleição expirará ao cabo de três anos. Imediatamente
depois da referida eleição, determinar-se-ão por sorteio, na Assembléia-Geral, os nomes desses três juízes.

2. O juiz eleito para substituir outro cujo mandato não haja expirado, completará o período deste.

3. Os juízes permanecerão em suas funções até o término dos seus mandatos. Entretanto, continuarão
funcionando nos casos de que já houverem tomado conhecimento e que se encontrem em fase de sentença e,
para tais efeitos, não serão substituídos pelos novos juízes eleitos.

ARTIGO 55

1. O juiz que for nacional de algum dos Estados-Partes no caso submetido à Corte conservará o seu direito
de conhecer o mesmo.

2. Se um dos juízes chamados a conhecer do caso for de nacionalidade de um dos Estados-Partes, outro
Estado-Partes no caso poderá designar uma pessoa de sua escolha para integrar a Corte na qualidade de
juiz ad hoc.

3. Se, dentre os juízos chamados a conhecer do caso, nenhuma for da nacionalidade dos Estados partes,
cada um destes poderá designar um juiz ad hoc.

4. O juiz ad hoc deve reunir os requisitos indicados no artigo 52.

5. Se vários Estados-Partes na Convenção tiverem o mesmo interesse no caso, serão considerados como
uma só parte, para os fins das disposições anteriores. Em caso de dúvida, a Corte decidirá.

ARTIGO 56

O quorum para as deliberações da Corte é constituído por cinco juízes.

ARTIGO 57

A Comissão comparecerá em todos os casos perante a Corte.

ARTIGO 58

1. A Corte terá sua sede4 no lugar que for determinado, na Assembléia-Geral da Organização, pelos
Estados-Partes na Convenção, mas poderá realizar reuniões no território de qualquer Estado-Membro da
Organização dos Estrados Americanos em que o considerar conveniente pela maioria dos seus membros e
mediante prévia aquiescência do Estado respectivo. Os Estados-Partes na Convenção podem, na Assembléia-
Geral, por dois terços dos seus votos, mudar a sede da Corte.

2. A Corte designará seu Secretário.

3. O Secretário residirá na sede da Corte e deverá assistir às reuniões que ela realizar fora da mesma.

ARTIGO 59

A Secretaria da Corte será por esta estabelecida e funcionará sob a direção do Secretário da Corte, de
acordo com as normas administrativas da Secretaria-Geral da Organização em tudo o que não for incompatível
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 152

com a independência da Corte. Seus funcionários serão nomeados pelo Secretário-Geral da Organização, em
consulta com o Secretário da Corte.

ARTIGO 60

A Corte elaborará seu estatuto e submetê-lo-á à aprovação da Assembléia-Geral e expedirá sus regimento.

Seção 2 - Competência e Funções

ARTIGO 61

1. Somente os Estados-Partes e a Comissão têm direito de submeter caso à decisão da Corte.

2. Para que a Corte possa conhecer de qualquer caso, é necessário que sejam esgotados os processos
previstos nos artigos 48 a 50.

ARTIGO 62

1. Toda Estado-Parte, pode, no momento do depósito do seu instrumento de ratificação desta Convenção
ou de adesão a ela, ou em qualquer momento posterior, declarar que reconhece como obrigatória, de pleno
direito e sem convenção especial, a competência da Corte em todos os casos relativos à interpretação ou
aplicação desta Convenção.

2. A declaração pode ser feita incondicionalmente, ou sob condição de reciprocidade, por prazo determinado
ou para casos específicos. Deverá ser apresentada ao Secretário-Geral da Organização, que encaminhará
cópias da mesma aos outros Estados-Membros da Organização e ao Secretário da Corte.

3. A Corte tem competência para conhecer de qualquer caso relativo à interpretação e aplicação das
disposições desta Convenção que lhe seja submetido, desde que os Estados-Partes no caso tenham
reconhecido ou reconheçam a referida competência, seja por declaração especial, como prevêem os incisos
anteriores, seja por convenção especial.

ARTIGO 63

1. Quando decidir que houve violação de um direito ou liberdade protegido nesta Convenção, a Corte
determinará que se assegure ao prejudicado o gozo do seu direito ou liberdade violados. Determinará também,
se isso for procedente, que sejam reparadas as conseqüências da medida ou situação que haja configurado a
violação desses direitos, bem como o pagamento de indenização justa à parte lesada.

2. Em casos de extrema gravidade e urgência, e quando se fizer necessário evitar danos irreparáveis às
pessoas, a Corte, nos assuntos de que estiver conhecendo, poderá tomar as medidas provisórias que
considerar pertinente. Se tratar de assuntos que ainda não estiverem submetidos ao seu conhecimento, poderá
atuar a pedido da Comissão.

ARTIGO 64

1. Os Estados-Partes da Organização poderão consultar a Corte sobre a interpretação desta Convenção ou


de outros tratados concernentes à proteção dos direitos humanos nos Estados americanos. Também poderão
consultá-la, no que lhes compete, os órgãos enumerados no capítulo X da Carta da Organização dos Estados
Americanos, reformada pelo Protocolo da Buenos Aires.

2. A Corte, a pedido de um Estado-Membro da Organização, poderá emitir pareceres sobre a compatibilidade


entre qualquer de suas leis internas e os mencionados instrumentos internacionais.

ARTIGO 65
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 153

A Corte submeterá à consideração da Assembléia-Geral da Organização, em cada período ordinário de


sessões, um relatório sobre suas atividades no ano anterior. De maneira especial, e com as recomendações
pertinentes, indicará os casos em que um Estado não tenha dado cumprimento a suas sentenças.

Seção 3 - Processo

ARTIGO 66

1. A sentença da Corte deve ser fundamentada.

2. Se a sentença não expressar no todo ou em parte a opinião unânime dos juízes, qualquer deles terá direito
a que se agregue à sentença o seu voto dissidente ou individual.

ARTIGO 67

A sentença da Corte será definitiva e inapelável. Em caso de divergência sobre o sentido ou alcance da
sentença, a Corte interpretá-la-á, a pedido de qualquer das partes, desde que o pedido seja apresentando
dentro de noventa dias a partir da data da notificação da sentença.

ARTIGO 68

1. Os Estados-Partes na Convenção comprometem-se a cumprir a decisão da Corte em todo caso em que


forem partes.

2. A parte da sentença que determinar indenização compensatória poderá ser executada no país respectivo
pelo processo interno vigente para a execução de sentença contra o Estado.

ARTIGO 69

A sentença da Corte deve ser notificada às partes no caso e transmitida aos Estados-Partes na Convenção.

CAPÍTULO IX

Disposições Comuns

ARTIGO 70

1. Os juízes da Corte e os membros da Comissão gozam, desde o momento de sua eleição e enquanto durar
o seu mandato, das imunidades reconhecidas aos agentes diplomáticos pelo Direito Internacional. Durante o
exercício dos seus cargos gozam, além disso, dos privilégios diplomáticos necessários para o desempenho de
suas funções.

2. Não se poderá exigir responsabilidade em tempo algum dos juízes da Corte, nem dos membros da
Comissão, por votos e opiniões emitidos no exercício de suas funções.

ARTIGO 71

Os cargos de juiz da Corte ou de membro da Comissão são incompatíveis com outras atividades que possam
afetar sua independência ou imparcialidade conforme o que for determinado nos respectivos estatutos.

ARTIGO 72

Os juízes da Corte e os membros da Comissão perceberão honorários e despesas de viagem na forma e


nas condições que determinarem os seus estatutos, levando em conta a importância e independência de suas
funções. Tais honorários e despesas de viagem serão fixados no orçamento-programa da organização dos
Estados Americanos, no qual devem ser incluídas, além disso, as despesas da Corte e da sua Secretaria. Para
tais efeitos, a Corte elaborará o seu próprio projeto de orçamento e submetê-lo-á aprovação da Assembléia-
Geral, por intermédio da Secretaria-Geral. Esta última não poderá nele introduzir modificações.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 154

ARTIGO 73

Somente por solicitação d a Comissão ou da Corte, conforme o caso, cabe á Assembléia-Geral da


Organização resolver sobre as sanções aplicáveis aos membros da Comissão ou aos juízes da Corte que
incorrerem nos casos previstos nos respectivos estatutos. Para expedir uma resolução, será necessária maioria
de dois terços dos votos dos Estados-Membros da Organização, no caso dos membros da Comissão; e, além
disso, de dois terços dos votos dos Estados-Partes na Convenção, se tratar dos juízes da Corte.

PARTE III

Disposições Gerais e Transitórias

CAPÍTULO X

Assinatura, Ratificação, Reserva, Emenda, Protocolo e Denúncia

ARTIGO 74

1. Esta Convenção fica aberta à assinatura e à ratificação ou adesão de todos os estados-Membros da


Organização dos Estados Americanos.

2. A ratificação desta Convenção ou a adesão a ela efetuar-se-á mediante depósito de um instrumento de


ratificação ou de adesão na Secretaria-Geral da Organização dos Estados Americanos. Esta Convenção
entrará em vigor logo que onze Estados houverem depositado os seus respectivos instrumentos de ratificação
ou de adesão. Com referência a qualquer outro Estado que a ratificar ou que a ela aderir ulteriormente, a
Convenção entrará em vigor na data do depósito do seu instrumento de ratificação ou de adesão.

3. O Secretário-Geral informará todos os Estados Membros da Organização sobre a entrada em vigor da


Convenção.

ARTIGO 75

Esta Convenção só pode ser objeto de reservas em conformidade com as disposições da Convenção de
Viena sobre Direito dos Tratados assinados em 23 de maio de 1969.

ARTIGO 76

1. Qualquer Estado-Parte, diretamente, e a Comissão ou a Corte, por intermédio do Secretário-Geral, podem


submeter a Assembléia-Geral, para o que julgarem conveniente, proposta de emenda a esta Convenção.

2. As emendas entrarão em vigor para os Estados que ratificarem as mesmas na data em que houver sido
depositado o respectivo instrumento de ratificação que corresponda ao número de dois terços dos Estados-
Partes nesta Convenção. Quando aos outros Estados-partes, entrarão em vigor na data em que depositarem
eles os seus respectivos instrumentos de ratificação.

ARTIGO 77

1. De acordo com a faculdade estabelecida no artigo 31, qualquer Estado-Parte e a Comissão podem
submeter à consideração dos Estados-Partes reunidos por ocasião da Assembléia-Geral, projetos de
protocolos a esta Convenção, com a finalidade de incluir progressivamente no regime de proteção da mesma
outros direitos e liberdades.

2. Cada protocolo deve estabelecer as modalidades de sua entrada em vigor e será aplicado semente entre
os Estados-Partes no mesmo.

ARTIGO 78
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 155

1. Os Estados-Partes poderão denunciar esta Convenção depois de expirado um prazo de cinco anos, a
partir da data de entrada em vigor da mesma e mediante aviso prévio de um ano, notificando o Secretário-Geral
da Organização, o qual deve informar as outras Partes.

2. Tal denúncia não terá o efeito de desligar o Estado-Parte interessado das obrigações contidas nesta
Convenção, no que diz respeito a qualquer ato que, podendo constituir violação dessas obrigações, houver
sido cometido por ele anteriormente à data na qual a denúncia produzir efeito.

CAPÍTULO XI

Disposições Transitórias

Seção 1 - Comissão Interamericana de Direitos Humanos

ARTIGO 79

Ao entrar em vigor esta Convenção, o Secretário-Geral pedirá por escrito a cada Estado-Membro da
Organização que apresente, dentro de um prazo de noventa dias, seus candidatos a membro da Comissão
Interamericana de Direitos Humanos. O Secretário-Geral preparará uma lista por ordem alfabética dos
candidatos apresentados e a encaminhará aos Estados-Membros da Organização pelo menos trinta dias antes
da Assembléia-Geral seguinte.

ARTIGO 80

A eleição dos membros da Comissão far-se-á dentre os candidatos que figurem na lista a que se refere o
artigo 79, por votação secreta da Assembléia-Geral, e serão declarados eleitos os candidatos que obtiverem
maior número de votos e a maioria absoluta dos votos dos representantes dos Estados-Membros. Se, para
eleger todos os membros da Comissão, for necessário realizar várias votações, serão eliminados
sucessivamente, na forma que for determinada pela Assembléia-Geral, os candidatos que receberem menor
número de votos.

Seção 2 - Corte Interamericana de Direitos humanos

ARTIGO 81

Ao entrar em vigor esta Convenção, o Secretário-Geral solicitará por escrito a cada Estado-Parte que
apresente, dentro de uma prazo de noventa dias, seus candidatos a juiz da Corte Interamericana de Direitos
Humanos. O Secretário-Geral prepara uma lista por ordem alfabética dos candidatos apresentados e a
encaminhará aos Estados-Partes pelo menos trinta dias antes da Assembléia-Geral seguinte.

ARTIGO 82

A eleição dos juízes da Corte far-se-á dentre os candidatos que figurem na lista a que se refere o artigo 81,
por votação secreta dos Estados-Partes, na Assembléia-Geral, e serão declarados eleitos os candidatos que
obtiverem maior número de votos e a maioria absoluta dos votos dos representantes dos Estados-Partes. Se
para eleger todos os juízes da Corte, for necessário realizar várias votações, serão eliminados sucessivamente,
na forma que for determinada pelos Estados-Partes, os candidatos que receberem menor número de votos.

Declaração e reservas

Declaração do Chile

A Delegação do Chile apõe sua assinatura a esta Convenção, sujeita á sua posterior aprovação parlamentar
e ratificação, em conformidade com as normas constitucionais vigentes.

Declaração do Equador
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 156

A Declaração do Equador tem a honra de assinar a Convenção Americana sobre Direitos Humanos. Não crê
necessários especificar reserva alguma, deixando a salvo tão-somente a faculdade geral constante da mesma
Convenção, que deixa aos governos a liberdade de ratificá-la.

Reserva do Uruguai

O artigo 80, parágrafo 2, da Constituição da República Oriental do Uruguai, estabelece que se suspende a
cidadania "pela condição de legalmente processado em causa criminal de que possa resultar pena de
penitenciária". Essa limitação ao exercício dos direitos reconhecidos no artigo 23 da Convenção não está
prevista entre as circunstâncias que a tal respeito prevê o parágrafo 2 do referido artigo 23, motivo por que a
Delegação do Uruguai forma a reserva pertinente.

Em fé do que, os plenipotenciários abaixo-assinados, cujos plenos poderes foram encontrados em boa e


devida forma, assinam esta Convenção, que se denominará "Pacto de São Jose da Costa Rica", na cidade de
São Jose, Costa Rica, em vinte e dois de novembro de mil novecentos e sessenta e nove.

***

DECLARAÇÃO INTERPRETATIVA DO BRASIL

Ao depositar a Carta de Adesão à Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da
Costa Rica), em 25 de setembro de 1992. O Governo brasileiro fez a seguinte declaração interpretativa sobre
os artigos 43 e 48, alínea "d":

" O Governo do Brasil entende que os artigos 43 e 48, alínea Comissão Interamericana de Direitos Humanos,
as quais dependerão da anuência expressa do Estado."
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 157

2.8 CONVENÇÃO SOBRE ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE


DISCRIMINAÇÃO CONTRA A MULHER -1979 (DECRETO Nº 4.377/2002)

DECRETO Nº 4.377, DE 13 DE SETEMBRO DE 2002.


Promulga a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, de 1979, e revoga o Decreto
no 89.460, de 20 de março de 1984.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso VIII, da
Constituição, e

Considerando que o Congresso Nacional aprovou, pelo Decreto Legislativo no 93, de 14 de novembro de
1983, a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, assinada pela
República Federativa do Brasil, em Nova York, no dia 31 de março de 1981, com reservas aos seus artigos 15,
parágrafo 4o, e 16, parágrafo 1o, alíneas (a), (c), (g) e (h);

Considerando que, pelo Decreto Legislativo no 26, de 22 de junho de 1994, o Congresso Nacional revogou
o citado Decreto Legislativo no 93, aprovando a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra a Mulher, inclusive os citados artigos 15, parágrafo 4o, e 16, parágrafo 1o , alíneas (a), (c),
(g) e (h);

Considerando que o Brasil retirou as mencionadas reservas em 20 de dezembro de 1994;

Considerando que a Convenção entrou em vigor, para o Brasil, em 2 de março de 1984, com a reserva
facultada em seu art. 29, parágrafo 2;

DECRETA:

Art. 1o A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, de 18 de


dezembro de 1979, apensa por cópia ao presente Decreto, com reserva facultada em seu art. 29, parágrafo 2,
será executada e cumprida tão inteiramente como nela se contém.

Art. 2o São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional quaisquer atos que possam resultar em revisão
da referida Convenção, assim como quaisquer ajustes complementares que, nos termos do art. 49, inciso I, da
Constituição, acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional.

Art. 3o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 4o Fica revogado o Decreto no 89.460, de 20 de março de 1984.

Brasília, 13 de setembro de 2002; 181o da Independência e 114o da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Osmar Chohfi

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 16.9.2002

CONVENÇÃO SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO


CONTRA A MULHER

Os Estados Partes na presente convenção,


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 158

CONSIDERANDO que a Carta das Nações Unidas reafirma a fé nos direitos fundamentais do homem,
na dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos do homem e da mulher,

CONSIDERANDO que a Declaração Universal dos Direitos Humanos reafirma o princípio da não-
discriminação e proclama que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos e que
toda pessoa pode invocar todos os direitos e liberdades proclamados nessa Declaração, sem distinção alguma,
inclusive de sexo,

CONSIDERANDO que os Estados Partes nas Convenções Internacionais sobre Direitos Humanos têm
a obrigação de garantir ao homem e à mulher a igualdade de gozo de todos os direitos econômicos, sociais,
culturais, civis e políticos,

OBSERVANDO as convenções internacionais concluídas sob os auspícios das Nações Unidas e dos
organismos especializados em favor da igualdade de direitos entre o homem e a mulher,

OBSERVANDO, ainda, as resoluções, declarações e recomendações aprovadas pelas Nações Unidas


e pelas Agências Especializadas para favorecer a igualdade de direitos entre o homem e a mulher,

PREOCUPADOS, contudo, com o fato de que, apesar destes diversos instrumentos, a mulher continue
sendo objeto de grandes discriminações,

RELEMBRANDO que a discriminação contra a mulher viola os princípios da igualdade de direitos e do


respeito da dignidade humana, dificulta a participação da mulher, nas mesmas condições que o homem, na
vida política, social econômica e cultural de seu país, constitui um obstáculo ao aumento do bem-estar da
sociedade e da família e dificulta o pleno desenvolvimento das potencialidades da mulher para prestar serviço
a seu país e à humanidade,

PREOCUPADOS com o fato de que, em situações de pobreza, a mulher tem um acesso mínimo à
alimentação, saúde, à educação, à capacitação e às oportunidades de emprego, assim como à satisfação de
outras necessidades,

CONVENCIDOS de que o estabelecimento da Nova Ordem Econômica Internacional baseada na


eqüidade e na justiça contribuirá significativamente para a promoção da igualdade entre o homem e a mulher,

SALIENTANDO que a eliminação do apartheid , de todas as formas de racismo, discriminação racial,


colonialismo, neocolonialismo, agressão, ocupação estrangeira e dominação e interferência nos assuntos
internos dos Estados é essencial para o pleno exercício dos direitos do homem e da mulher,

AFIRMANDO que o fortalecimento da paz e da segurança internacionais, o alívio da tensão internacional,


a cooperação mútua entre todos os Estados, independentemente de seus sistemas econômicos e sociais, o
desarmamento geral e completo, e em particular o desarmamento nuclear sob um estrito e efetivo controle
internacional, a afirmação dos princípios de justiça, igualdade e proveito mútuo nas relações entre países e a
realização do direito dos povos submetidos a dominação colonial e estrangeira e a ocupação estrangeira, à
autodeterminação e independência, bem como o respeito da soberania nacional e da integridade territorial,
promoverão o progresso e o desenvolvimento sociais, e, em conseqüência, contribuirão para a realização da
plena igualdade entre o homem e a mulher,

CONVENCIDOS de que a participação máxima da mulher, em igualdade de condições com o homem,


em todos os campos, é indispensável para o desenvolvimento pleno e completo de um país, o bem-estar do
mundo e a causa da paz,

TENDO presente a grande contribuição da mulher ao bem-estar da família e ao desenvolvimento da


sociedade, até agora não plenamente reconhecida, a importância social da maternidade e a função dos pais
na família e na educação dos filhos, e conscientes de que o papel da mulher na procriação não deve ser causa
de discriminação mas sim que a educação dos filhos exige a responsabilidade compartilhada entre homens e
mulheres e a sociedade como um conjunto,

RECONHECENDO que para alcançar a plena igualdade entre o homem e a mulher é necessário
modificar o papel tradicional tanto do homem como da mulher na sociedade e na família,

RESOLVIDOS a aplicar os princípios enunciados na Declaração sobre a Eliminação da Discriminação


contra a Mulher e, para isto, a adotar as medidas necessárias a fim de suprimir essa discriminação em todas
as suas formas e manifestações,
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 159

CONCORDARAM no seguinte:

PARTE I

Artigo 1º

Para os fins da presente Convenção, a expressão "discriminação contra a mulher" significará toda a
distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo e que tenha por objeto ou resultado prejudicar ou anular o
reconhecimento, gozo ou exercício pela mulher, independentemente de seu estado civil, com base na igualdade
do homem e da mulher, dos direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico,
social, cultural e civil ou em qualquer outro campo.

Artigo 2º

Os Estados Partes condenam a discriminação contra a mulher em todas as suas formas, concordam em
seguir, por todos os meios apropriados e sem dilações, uma política destinada a eliminar a discriminação contra
a mulher, e com tal objetivo se comprometem a:

a) Consagrar, se ainda não o tiverem feito, em suas constituições nacionais ou em outra legislação
apropriada o princípio da igualdade do homem e da mulher e assegurar por lei outros meios apropriados a
realização prática desse princípio;

b) Adotar medidas adequadas, legislativas e de outro caráter; com as sanções cabíveis e que proíbam toda
discriminação contra a mulher;

c) Estabelecer a proteção jurídica dos direitos da mulher numa base de igualdade com os do homem e
garantir, por meio dos tribunais nacionais competentes e de outras instituições públicas, a proteção efetiva da
mulher contra todo ato de discriminação;

d) Abster-se de incorrer em todo ato ou prática de discriminação contra a mulher e zelar para que as
autoridades e instituições públicas atuem em conformidade com esta obrigação;

e) Tomar as medidas apropriadas para eliminar a discriminação contra a mulher praticada por qualquer
pessoa, organização ou empresa;

f) Adotar todas as medidas adequadas, inclusive de caráter legislativo, para modificar ou derrogar leis,
regulamentos, usos e práticas que constituam discriminação contra a mulher;

g) Derrogar todas as disposições penais nacionais que constituam discriminação contra a mulher.

Artigo 3º

Os Estados Partes tomarão, em todas as esferas e, em particular, nas esferas política, social, econômica e
cultural, todas as medidas apropriadas, inclusive de caráter legislativo, para assegurar o pleno desenvolvimento
e progresso da mulher, com o objetivo de garantir-lhe o exercício e gozo dos direitos humanos e liberdades
fundamentais em igualdade de condições com o homem.

Artigo 4º

1. A adoção pelos Estados-Partes de medidas especiais de caráter temporário destinadas a acelerar a


igualdade de fato entre o homem e a mulher não se considerará discriminação na forma definida nesta
Convenção, mas de nenhuma maneira implicará, como conseqüência, a manutenção de normas desiguais ou
separadas; essas medidas cessarão quando os objetivos de igualdade de oportunidade e tratamento houverem
sido alcançados.

2. A adoção pelos Estados-Partes de medidas especiais, inclusive as contidas na presente Convenção,


destinadas a proteger a maternidade, não se considerará discriminatória.

Artigo 5º

Os Estados-Partes tornarão todas as medidas apropriadas para:

a) Modificar os padrões sócio-culturais de conduta de homens e mulheres, com vistas a alcançar a


eliminação dos preconceitos e práticas consuetudinárias e de qualquer outra índole que estejam baseados na
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 160

idéia da inferioridade ou superioridade de qualquer dos sexos ou em funções estereotipadas de homens e


mulheres.

b) Garantir que a educação familiar inclua uma compreensão adequada da maternidade como função social
e o reconhecimento da responsabilidade comum de homens e mulheres no que diz respeito à educação e ao
desenvolvimento de seus filhos, entendendo-se que o interesse dos filhos constituirá a consideração primordial
em todos os casos.

Artigo 6º

Os Estados-Partes tomarão todas as medidas apropriadas, inclusive de caráter legislativo, para suprimir
todas as formas de tráfico de mulheres e exploração da prostituição da mulher.

PARTE II

Artigo 7º

Os Estados-Partes tomarão todas as medidas apropriadas para eliminar a discriminação contra a mulher na
vida política e pública do país e, em particular, garantirão, em igualdade de condições com os homens, o direito
a:

a) Votar em todas as eleições e referenda públicos e ser elegível para todos os órgãos cujos membros sejam
objeto de eleições públicas;

b) Participar na formulação de políticas governamentais e na execução destas, e ocupar cargos públicos e


exercer todas as funções públicas em todos os planos governamentais;

c) Participar em organizações e associações não-governamentais que se ocupem da vida pública e política


do país.

Artigo 8º

Os Estados-Partes tomarão todas as medidas apropriadas para garantir, à mulher, em igualdade de


condições com o homem e sem discriminação alguma, a oportunidade de representar seu governo no plano
internacional e de participar no trabalho das organizações internacionais.

Artigo 9º

1. Os Estados-Partes outorgarão às mulheres direitos iguais aos dos homens para adquirir, mudar ou
conservar sua nacionalidade. Garantirão, em particular, que nem o casamento com um estrangeiro, nem a
mudança de nacionalidade do marido durante o casamento, modifiquem automaticamente a nacionalidade da
esposa, a convertam em apátrida ou a obriguem quem a adotar a nacionalidade do cônjuge.

2. Os Estados-Partes outorgarão à mulher os mesmos direitos que ao homem no que diz respeito à
nacionalidade dos filhos.

PARTE III

Artigo 10

Os Estados-Partes adotarão todas as medidas apropriadas para eliminar a discriminação contra a mulher,
a fim de assegurar-lhe a igualdade de direitos com o homem na esfera da educação e em particular para
assegurarem condições de igualdade entre homens e mulheres:

a) As mesmas condições de Orientação em matéria de carreiras e capacitação profissional, acesso aos


estudos e obtenção de diplomas nas instituições de ensino de todas as categorias, tanto em zonas rurais como
urbanas; essa igualdade deverá ser assegurada na educação pré-escolar, geral, técnica e profissional, incluída
a educação técnica superior, assim como todos os tipos de capacitação profissional;

b) Acesso aos mesmos currículos e mesmos exames, pessoal docente do mesmo nível profissional,
instalações e material escolar da mesma qualidade;

c) A eliminação de todo conceito estereotipado dos papéis masculino e feminino em todos os níveis e em
todas as formas de ensino mediante o estímulo à educação mista e a outros tipos de educação que contribuam
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 161

para alcançar este objetivo e, em particular, mediante a modificação dos livros e programas escolares e
adaptação dos métodos de ensino;

d) As mesmas oportunidades para obtenção de bolsas-de-estudo e outras subvenções para estudos;

e) As mesmas oportunidades de acesso aos programas de educação supletiva, incluídos os programas de


alfabetização funcional e de adultos, com vistas a reduzir, com a maior brevidade possível, a diferença de
conhecimentos existentes entre o homem e a mulher;

f) A redução da taxa de abandono feminino dos estudos e a organização de programas para aquelas jovens
e mulheres que tenham deixado os estudos prematuramente;

g) As mesmas oportunidades para participar ativamente nos esportes e na educação física;

h) Acesso a material informativo específico que contribua para assegurar a saúde e o bem-estar da família,
incluída a informação e o assessoramento sobre planejamento da família.

Artigo 11

1. Os Estados-Partes adotarão todas as medidas apropriadas para eliminar a discriminação contra a mulher
na esfera do emprego a fim de assegurar, em condições de igualdade entre homens e mulheres, os mesmos
direitos, em particular:

a) O direito ao trabalho como direito inalienável de todo ser humano;

b) O direito às mesmas oportunidades de emprego, inclusive a aplicação dos mesmos critérios de seleção
em questões de emprego;

c) O direito de escolher livremente profissão e emprego, o direito à promoção e à estabilidade no emprego


e a todos os benefícios e outras condições de serviço, e o direito ao acesso à formação e à atualização
profissionais, incluindo aprendizagem, formação profissional superior e treinamento periódico;

d) O direito a igual remuneração, inclusive benefícios, e igualdade de tratamento relativa a um trabalho de


igual valor, assim como igualdade de tratamento com respeito à avaliação da qualidade do trabalho;

e) O direito à seguridade social, em particular em casos de aposentadoria, desemprego, doença, invalidez,


velhice ou outra incapacidade para trabalhar, bem como o direito de férias pagas;

f) O direito à proteção da saúde e à segurança nas condições de trabalho, inclusive a salvaguarda da função
de reprodução.

2. A fim de impedir a discriminação contra a mulher por razões de casamento ou maternidade e assegurar
a efetividade de seu direito a trabalhar, os Estados-Partes tomarão as medidas adequadas para:

a) Proibir, sob sanções, a demissão por motivo de gravidez ou licença de maternidade e a discriminação
nas demissões motivadas pelo estado civil;

b) Implantar a licença de maternidade, com salário pago ou benefícios sociais comparáveis, sem perda do
emprego anterior, antigüidade ou benefícios sociais;

c) Estimular o fornecimento de serviços sociais de apoio necessários para permitir que os pais combinem
as obrigações para com a família com as responsabilidades do trabalho e a participação na vida pública,
especialmente mediante fomento da criação e desenvolvimento de uma rede de serviços destinados ao cuidado
das crianças;

d) Dar proteção especial às mulheres durante a gravidez nos tipos de trabalho comprovadamente
prejudiciais para elas.

3. A legislação protetora relacionada com as questões compreendidas neste artigo será examinada
periodicamente à luz dos conhecimentos científicos e tecnológicos e será revista, derrogada ou ampliada
conforme as necessidades.

Artigo 12
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 162

1. Os Estados-Partes adotarão todas as medidas apropriadas para eliminar a discriminação contra a mulher
na esfera dos cuidados médicos a fim de assegurar, em condições de igualdade entre homens e mulheres, o
acesso a serviços médicos, inclusive os referentes ao planejamento familiar.

2. Sem prejuízo do disposto no parágrafo 1º, os Estados-Partes garantirão à mulher assistência apropriadas
em relação à gravidez, ao parto e ao período posterior ao parto, proporcionando assistência gratuita quando
assim for necessário, e lhe assegurarão uma nutrição adequada durante a gravidez e a lactância.

Artigo 13

Os Estados-Partes adotarão todas as medidas apropriadas para eliminar a discriminação contra a mulher
em outras esferas da vida econômica e social a fim de assegurar, em condições de igualdade entre homens e
mulheres, os mesmos direitos, em particular:

a) O direito a benefícios familiares;

b) O direito a obter empréstimos bancários, hipotecas e outras formas de crédito financeiro;

c) O direito a participar em atividades de recreação, esportes e em todos os aspectos da vida cultural.

Artigo 14

1. Os Estados-Partes levarão em consideração os problemas específicos enfrentados pela mulher rural e o


importante papel que desempenha na subsistência econômica de sua família, incluído seu trabalho em setores
não-monetários da economia, e tomarão todas as medidas apropriadas para assegurar a aplicação dos
dispositivos desta Convenção à mulher das zonas rurais.

2. Os Estados-Partes adotarão todas as medias apropriadas para eliminar a discriminação contra a mulher
nas zonas rurais a fim de assegurar, em condições de igualdade entre homens e mulheres, que elas participem
no desenvolvimento rural e dele se beneficiem, e em particular as segurar-lhes-ão o direito a:

a) Participar da elaboração e execução dos planos de desenvolvimento em todos os níveis;

b) Ter acesso a serviços médicos adequados, inclusive informação, aconselhamento e serviços em matéria
de planejamento familiar;

c) Beneficiar-se diretamente dos programas de seguridade social;

d) Obter todos os tipos de educação e de formação, acadêmica e não-acadêmica, inclusive os relacionados


à alfabetização funcional, bem como, entre outros, os benefícios de todos os serviços comunitário e de extensão
a fim de aumentar sua capacidade técnica;

e) Organizar grupos de auto-ajuda e cooperativas a fim de obter igualdade de acesso às oportunidades


econômicas mediante emprego ou trabalho por conta própria;

f) Participar de todas as atividades comunitárias;

g) Ter acesso aos créditos e empréstimos agrícolas, aos serviços de comercialização e às tecnologias
apropriadas, e receber um tratamento igual nos projetos de reforma agrária e de reestabelecimentos;

h) gozar de condições de vida adequadas, particularmente nas esferas da habitação, dos serviços sanitários,
da eletricidade e do abastecimento de água, do transporte e das comunicações.

PARTE IV

Artigo 15

1. Os Estados-Partes reconhecerão à mulher a igualdade com o homem perante a lei.

2. Os Estados-Partes reconhecerão à mulher, em matérias civis, uma capacidade jurídica idêntica do homem
e as mesmas oportunidades para o exercício dessa capacidade. Em particular, reconhecerão à mulher iguais
direitos para firmar contratos e administrar bens e dispensar-lhe-ão um tratamento igual em todas as etapas do
processo nas cortes de justiça e nos tribunais.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 163

3. Os Estados-Partes convém em que todo contrato ou outro instrumento privado de efeito jurídico que tenda
a restringir a capacidade jurídica da mulher será considerado nulo.

4. Os Estados-Partes concederão ao homem e à mulher os mesmos direitos no que respeita à legislação


relativa ao direito das pessoas à liberdade de movimento e à liberdade de escolha de residência e domicílio.

Artigo 16

1. Os Estados-Partes adotarão todas as medidas adequadas para eliminar a discriminação contra a mulher
em todos os assuntos relativos ao casamento e às ralações familiares e, em particular, com base na igualdade
entre homens e mulheres, assegurarão:

a) O mesmo direito de contrair matrimônio;

b) O mesmo direito de escolher livremente o cônjuge e de contrair matrimônio somente com livre e pleno
consentimento;

c) Os mesmos direitos e responsabilidades durante o casamento e por ocasião de sua dissolução;

d) Os mesmos direitos e responsabilidades como pais, qualquer que seja seu estado civil, em matérias
pertinentes aos filhos. Em todos os casos, os interesses dos filhos serão a consideração primordial;

e) Os mesmos direitos de decidir livre a responsavelmente sobre o número de seus filhos e sobre o intervalo
entre os nascimentos e a ter acesso à informação, à educação e aos meios que lhes permitam exercer esses
direitos;

f) Os mesmos direitos e responsabilidades com respeito à tutela, curatela, guarda e adoção dos filhos, ou
institutos análogos, quando esses conceitos existirem na legislação nacional. Em todos os casos os interesses
dos filhos serão a consideração primordial;

g) Os mesmos direitos pessoais como marido e mulher, inclusive o direito de escolher sobrenome, profissão
e ocupação;

h) Os mesmos direitos a ambos os cônjuges em matéria de propriedade, aquisição, gestão, administração,


gozo e disposição dos bens, tanto a título gratuito quanto à título oneroso.

2. Os esponsais e o casamento de uma criança não terão efeito legal e todas as medidas necessárias,
inclusive as de caráter legislativo, serão adotadas para estabelecer uma idade mínima para o casamento e
para tornar obrigatória a inscrição de casamentos em registro oficial.

PARTE V

Artigo 17

1. Com o fim de examinar os progressos alcançados na aplicação desta Convenção, será estabelecido um
Comitê sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher (doravante denominado o Comitê) composto, no
momento da entrada em vigor da Convenção, de dezoito e, após sua ratificação ou adesão pelo trigésimo-
quinto Estado-Parte, de vinte e três peritos de grande prestígio moral e competência na área abarcada pela
Convenção. Os peritos serão eleitos pelos Estados-Partes entre seus nacionais e exercerão suas funções a
título pessoal; será levada em conta uma repartição geográfica equitativa e a representação das formas
diversas de civilização assim como dos principais sistemas jurídicos;

2. Os membros do Comitê serão eleitos em escrutínio secreto de uma lista de pessoas indicadas pelos
Estados-Partes. Cada um dos Estados-Partes poderá indicar uma pessoa entre seus próprios nacionais;

3. A eleição inicial realizar-se-á seis meses após a data de entrada em vigor desta Convenção. Pelo menos
três meses antes da data de cada eleição, o Secretário-Geral das Nações Unidas dirigirá uma carta aos
Estados-Partes convidando-os a apresentar suas candidaturas, no prazo de dois meses. O Secretário-Geral
preparará uma lista, por ordem alfabética de todos os candidatos assim apresentados, com indicação dos
Estados-Partes que os tenham apresentado e comunicá-la-á aos Estados Partes;

4. Os membros do Comitê serão eleitos durante uma reunião dos Estados-Partes convocado pelo
Secretário-Geral na sede das Nações Unidas. Nessa reunião, em que o quórum será alcançado com dois terços
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 164

dos Estados-Partes, serão eleitos membros do Comitê os candidatos que obtiverem o maior número de votos
e a maioria absoluta de votos dos representantes dos Estados-Partes presentes e votantes;

5. Os membros do Comitê serão eleitos para um mandato de quatro anos. Entretanto, o mandato de nove
dos membros eleitos na primeira eleição expirará ao fim de dois anos; imediatamente após a primeira eleição
os nomes desses nove membros serão escolhidos, por sorteio, pelo Presidente do Comitê;

6. A eleição dos cinco membros adicionais do Comitê realizar-se-á em conformidade com o disposto nos
parágrafos 2, 3 e 4 deste Artigo, após o depósito do trigésimo-quinto instrumento de ratificação ou adesão. O
mandato de dois dos membros adicionais eleitos nessa ocasião, cujos nomes serão escolhidos, por sorteio,
pelo Presidente do Comitê, expirará ao fim de dois anos;

7. Para preencher as vagas fortuitas, o Estado-Parte cujo perito tenha deixado de exercer suas funções de
membro do Comitê nomeará outro perito entre seus nacionais, sob reserva da aprovação do Comitê;

8. Os membros do Comitê, mediante aprovação da Assembléia Geral, receberão remuneração dos recursos
das Nações Unidas, na forma e condições que a Assembléia Geral decidir, tendo em vista a importância das
funções do Comitê;

9. O Secretário-Geral das Nações Unidas proporcionará o pessoal e os serviços necessários para o


desempenho eficaz das funções do Comitê em conformidade com esta Convenção.

Artigo 18

1. Os Estados-Partes comprometem-se a submeter ao Secretário-Geral das Nações Unidas, para exame


do Comitê, um relatório sobre as medidas legislativas, judiciárias, administrativas ou outras que adotarem para
tornarem efetivas as disposições desta Convenção e sobre os progressos alcançados a esse respeito:

a) No prazo de um ano a partir da entrada em vigor da Convenção para o Estado interessado; e

b) Posteriormente, pelo menos cada quatro anos e toda vez que o Comitê a solicitar.

2. Os relatórios poderão indicar fatores e dificuldades que influam no grau de cumprimento das obrigações
estabelecidos por esta Convenção.

Artigo 19

1. O Comitê adotará seu próprio regulamento.

2. O Comitê elegerá sua Mesa por um período de dois anos.

Artigo 20

1. O Comitê se reunirá normalmente todos os anos por um período não superior a duas semanas para
examinar os relatórios que lhe sejam submetidos em conformidade com o Artigo 18 desta Convenção.

2. As reuniões do Comitê realizar-se-ão normalmente na sede das Nações Unidas ou em qualquer outro
lugar que o Comitê determine.

Artigo 21

1. O Comitê, através do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas, informará anualmente a
Assembléia Geral das Nações Unidas de suas atividades e poderá apresentar sugestões e recomendações de
caráter geral baseadas no exame dos relatórios e em informações recebidas dos Estados-Partes. Essas
sugestões e recomendações de caráter geral serão incluídas no relatório do Comitê juntamente com as
observações que os Estados-Partes tenham porventura formulado.

2. O Secretário-Geral transmitirá, para informação, os relatórios do Comitê à Comissão sobre a Condição


da Mulher.

Artigo 22

As Agências Especializadas terão direito a estar representadas no exame da aplicação das disposições
desta Convenção que correspondam à esfera de suas atividades. O Comitê poderá convidar as Agências
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 165

Especializadas a apresentar relatórios sobre a aplicação da Convenção nas áreas que correspondam à esfera
de suas atividades.

PARTE VI

Artigo 23

Nada do disposto nesta Convenção prejudicará qualquer disposição que seja mais propícia à obtenção da
igualdade entre homens e mulheres e que seja contida:

a) Na legislação de um Estado-Parte ou

b) Em qualquer outra convenção, tratado ou acordo internacional vigente nesse Estado.

Artigo 24

Os Estados-Partes comprometem-se a adotar todas as medidas necessárias em âmbito nacional para


alcançar a plena realização dos direitos reconhecidos nesta Convenção.

Artigo 25

1. Esta Convenção estará aberta à assinatura de todos os Estados.

2. O Secretário-Geral das Nações Unidas fica designado depositário desta Convenção.

3. Esta Convenção está sujeita a ratificação. Os instrumentos de ratificação serão depositados junto ao
Secretário-Geral das Nações Unidas.

4. Esta Convenção estará aberta à adesão de todos os Estados. A adesão efetuar-se-á através do depósito
de um instrumento de adesão junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas.

Artigo 26

1. Qualquer Estado-Parte poderá, em qualquer momento, formular pedido de revisão desta revisão desta
Convenção, mediante notificação escrita dirigida ao Secretário-Geral das Nações Unidas.

2. A Assembléia Geral das Nações Unidas decidirá sobre as medidas a serem tomadas, se for o caso, com
respeito a esse pedido.

Artigo 27

1. Esta Convenção entrará em vigor no trigésimo dia a partir da data do depósito do vigésimo instrumento
de ratificação ou adesão junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas.

2. Para cada Estado que ratificar a presente Convenção ou a ela aderir após o depósito do vigésimo
instrumento de ratificação ou adesão, a Convenção entrará em vigor no trigésimo dia após o depósito de seu
instrumento de ratificação ou adesão.

Artigo 28

1. O Secretário-Geral das Nações Unidas receberá e enviará a todos os Estados o texto das reservas feitas
pelos Estados no momento da ratificação ou adesão.

2. Não será permitida uma reserva incompatível com o objeto e o propósito desta Convenção.

3. As reservas poderão ser retiradas a qualquer momento por uma notificação endereçada com esse objetivo
ao Secretário-Geral das Nações Unidas, que informará a todos os Estados a respeito. A notificação surtirá
efeito na data de seu recebimento.

Artigo 29

1. Qualquer controvérsia entre dois ou mais Estados-Partes relativa à interpretação ou aplicação desta
Convenção e que não for resolvida por negociações será, a pedido de qualquer das Partes na controvérsia,
submetida a arbitragem. Se no prazo de seis meses a partir da data do pedido de arbitragem as Partes não
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 166

acordarem sobre a forma da arbitragem, qualquer das Partes poderá submeter a controvérsia à Corte
Internacional de Justiça mediante pedido em conformidade com o Estatuto da Corte.

2. Qualquer Estado-Parte, no momento da assinatura ou ratificação desta Convenção ou de adesão a ela,


poderá declarar que não se considera obrigado pelo parágrafo anterior. Os demais Estados-Partes não estarão
obrigados pelo parágrafo anterior perante nenhum Estado-Parte que tenha formulado essa reserva.

3. Qualquer Estado-Parte que tenha formulado a reserva prevista no parágrafo anterior poderá retirá-la em
qualquer momento por meio de notificação ao Secretário-Geral das Nações Unidas.

Artigo 30

Esta convenção, cujos textos em árabe, chinês, espanhol, francês, inglês e russo são igualmente autênticos
será depositada junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas.

Em testemunho do que, os abaixo-assinados devidamente autorizados, assinaram esta Convenção.

Este texto não substitui o original publicado no Diário Oficial da União - Seção 1 de 21/03/1984
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 167

2.9 CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA E OUTROS TRATAMENTOS OU


PENAS CRUÉIS, DESUMANOS OU DEGRADANTES – 1984 (DECRETO Nº
40, DE 15 DE FEVEREIRO DE 1991)

DECRETO No 40, DE 15 DE FEVEREIRO DE 1991.

Promulga a Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso VIII, da
Constituição, e

Considerando que a Assembléia Geral das Nações Unidas, em sua XL Sessão, realizada em Nova York,
adotou a 10 de dezembro de 1984, a Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis,
Desumanos ou Degradantes;

Considerando que o Congresso Nacional aprovou a referida Convenção por meio do Decreto Legislativo
nº 4, de 23 de maio de 1989;

Considerando que a Carta de Ratificação da Convenção foi depositada em 28 de setembro de 1989;

Considerando que a Convenção entrou em vigor para o Brasil em 28 de outubro de 1989, na forma de seu
artigo 27, inciso 2;

DECRETA:

Art. 1º A Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes,
apensa por cópia ao presente Decreto, será executada e cumprida tão inteiramente como nela se contém.

Art. 2º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, em 15 de fevereiro de 1991; 170º da Independência e 103º da República.

FERNANDO COLLOR
Francisco Rezek

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 18.2.1991

CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA E OUTROS TRATAMENTOS


OU PENAS CRUÉIS, DESUMANOS OU DEGRADANTES

Os Estados Partes da presente Convenção,

Considerando que, de acordo com os princípios proclamados pela Carta das Nações Unidas, o
reconhecimento dos direitos iguais e inalienáveis de todos os membros da família humana é o fundamento da
liberdade, da justiça e da paz no mundo,

Reconhecendo que estes direitos emanam da dignidade inerente à pessoa humana,

Considerando a obrigação que incumbe os Estados, em virtude da Carta, em particular do Artigo 55, de
promover o respeito universal e a observância dos direitos humanos e liberdades fundamentais.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 168

Levando em conta o Artigo 5º da Declaração Universal e a observância dos Direitos do Homem e o Artigo
7º do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, que determinam que ninguém será sujeito à tortura
ou a pena ou tratamento cruel, desumano ou degradante,

Levando também em conta a Declaração sobre a Proteção de Todas as Pessoas contra a Tortura e outros
Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, aprovada pela Assembléia Geral em 9 de
dezembro de 1975,

Desejosos de tornar mais eficaz a luta contra a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos
ou degradantes em todo o mundo,

Acordam o seguinte:

PARTE I

ARTIGO 1º

1. Para os fins da presente Convenção, o termo "tortura" designa qualquer ato pelo qual dores ou
sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou
de uma terceira pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato que ela ou uma terceira pessoa tenha
cometido ou seja suspeita de ter cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou por
qualquer motivo baseado em discriminação de qualquer natureza; quando tais dores ou sofrimentos são
infligidos por um funcionário público ou outra pessoa no exercício de funções públicas, ou por sua instigação,
ou com o seu consentimento ou aquiescência. Não se considerará como tortura as dores ou sofrimentos que
sejam conseqüência unicamente de sanções legítimas, ou que sejam inerentes a tais sanções ou delas
decorram.

2. O presente Artigo não será interpretado de maneira a restringir qualquer instrumento internacional ou
legislação nacional que contenha ou possa conter dispositivos de alcance mais amplo.

ARTIGO 2º

1. Cada Estado Parte tomará medidas eficazes de caráter legislativo, administrativo, judicial ou de outra
natureza, a fim de impedir a prática de atos de tortura em qualquer território sob sua jurisdição.

2. Em nenhum caso poderão invocar-se circunstâncias excepcionais tais como ameaça ou estado de
guerra, instabilidade política interna ou qualquer outra emergência pública como justificação para tortura.

3. A ordem de um funcionário superior ou de uma autoridade pública não poderá ser invocada como
justificação para a tortura.

ARTIGO 3º

1. Nenhum Estado Parte procederá à expulsão, devolução ou extradição de uma pessoa para outro Estado
quando houver razões substanciais para crer que a mesma corre perigo de ali ser submetida a tortura.

2. A fim de determinar a existência de tais razões, as autoridades competentes levarão em conta todas as
considerações pertinentes, inclusive, quando for o caso, a existência, no Estado em questão, de um quadro de
violações sistemáticas, graves e maciças de direitos humanos.

ARTIGO 4º

1. Cada Estado Parte assegurará que todos os atos de tortura sejam considerados crimes segundo a sua
legislação penal. O mesmo aplicar-se-á à tentativa de tortura e a todo ato de qualquer pessoa que constitua
cumplicidade ou participação na tortura.

2. Cada Estado Parte punirá estes crimes com penas adequadas que levem em conta a sua gravidade.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 169

ARTIGO 5º

1. Cada Estado Parte tomará as medidas necessárias para estabelecer sua jurisdição sobre os crimes
previstos no Artigo 4º nos seguintes casos:

a) quando os crimes tenham sido cometidos em qualquer território sob sua jurisdição ou a bordo de navio
ou aeronave registrada no Estado em questão;

b) quando o suposto autor for nacional do Estado em questão;

c) quando a vítima for nacional do Estado em questão e este o considerar apropriado.

2. Cada Estado Parte tomará também as medidas necessárias para estabelecer sua jurisdição sobre tais
crimes nos casos em que o suposto autor se encontre em qualquer território sob sua jurisdição e o Estado não
extradite de acordo com o Artigo 8º para qualquer dos Estados mencionados no parágrafo 1 do presente Artigo.

3. Esta Convenção não exclui qualquer jurisdição criminal exercida de acordo com o direito interno.

ARTIGO 6º

1. Todo Estado Parte em cujo território se encontre uma pessoa suspeita de ter cometido qualquer dos
crimes mencionados no Artigo 4º, se considerar, após o exame das informações de que dispõe, que as
circunstâncias o justificam, procederá à detenção de tal pessoa ou tomará outras medidas legais para assegurar
sua presença. A detenção e outras medidas legais serão tomadas de acordo com a lei do Estado mas vigorarão
apenas pelo tempo necessário ao início do processo penal ou de extradição.

2. O Estado em questão procederá imediatamente a uma investigação preliminar dos fatos.

3. Qualquer pessoa detida de acordo com o parágrafo 1 terá assegurada facilidades para comunicar-se
imediatamente com o representante mais próximo do Estado de que é nacional ou, se for apátrida, com o
representante do Estado de residência habitual.

4. Quando o Estado, em virtude deste Artigo, houver detido uma pessoa, notificará imediatamente os
Estados mencionados no Artigo 5º, parágrafo 1, sobre tal detenção e sobre as circunstâncias que a justificam.
O Estado que proceder à investigação preliminar a que se refere o parágrafo 2 do presente Artigo comunicará
sem demora seus resultados aos Estados antes mencionados e indicará se pretende exercer sua jurisdição.

ARTIGO 7º

1. O Estado Parte no território sob a jurisdição do qual o suposto autor de qualquer dos crimes mencionados
no Artigo 4º for encontrado, se não o extraditar, obrigar-se-á, nos casos contemplados no Artigo 5º, a submeter
o caso as suas autoridades competentes para o fim de ser o mesmo processado.

2. As referidas autoridades tomarão sua decisão de acordo com as mesmas normas aplicáveis a qualquer
crime de natureza grave, conforme a legislação do referido Estado. Nos casos previstos no parágrafo 2 do
Artigo 5º, as regras sobre prova para fins de processo e condenação não poderão de modo algum ser menos
rigorosas do que as que se aplicarem aos casos previstos no parágrafo 1 do Artigo 5º.

3. Qualquer pessoa processada por qualquer dos crimes previstos no Artigo 4º receberá garantias de
tratamento justo em todas as fases do processo.

ARTIGO 8°

1. Os crimes a que se refere o Artigo 4° serão considerados como extraditáveis em qualquer tratado de
extradição existente entre os Estados Partes. Os Estados Partes obrigar-se-ão a incluir tais crimes como
extraditáveis em todo tratado de extradição que vierem a concluir entre si.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 170

2. Se um Estado Parte que condiciona a extradição à existência de tratado de receber um pedido de


extradição por parte do outro Estado Parte com o qual não mantém tratado de extradição, poderá considerar a
presente Convenção com base legal para a extradição com respeito a tais crimes. A extradição sujeitar-se-á
ás outras condições estabelecidas pela lei do Estado que receber a solicitação.

3. Os Estado Partes que não condicionam a extradição à existência de um tratado reconhecerão, entre si,
tais crimes como extraditáveis, dentro das condições estabelecidas pela lei do Estado que receber a solicitação.

4. O crime será considerado, para o fim de extradição entre os Estados Partes, como se tivesse ocorrido
não apenas no lugar em que ocorreu, mas também nos territórios dos Estados chamados a estabelecerem sua
jurisdição, de acordo com o parágrafo 1 do Artigo 5º.

ARTIGO 9º

1. Os Estados Partes prestarão entre si a maior assistência possível em relação aos procedimentos
criminais instaurados relativamente a qualquer dos delitos mencionados no Artigo 4º, inclusive no que diz
respeito ao fornecimento de todos os elementos de prova necessários para o processo que estejam em seu
poder.

2. Os Estados Partes cumprirão as obrigações decorrentes do parágrafo 1 do presente Artigo conforme


quaisquer tratados de assistência judiciária recíproca existentes entre si.

ARTIGO 10

1. Cada Estado Parte assegurará que o ensino e a informação sobre a proibição de tortura sejam
plenamente incorporados no treinamento do pessoal civil ou militar encarregado da aplicação da lei, do pessoal
médico, dos funcionários públicos e de quaisquer outras pessoas que possam participar da custódia,
interrogatório ou tratamento de qualquer pessoa submetida a qualquer forma de prisão, detenção ou reclusão.

2. Cada Estado Parte incluirá a referida proibição nas normas ou instruções relativas aos deveres e funções
de tais pessoas.

ARTIGO 11

Cada Estado Parte manterá sistematicamente sob exame as normas, instruções, métodos e práticas de
interrogatório, bem como as disposições sobre a custódia e o tratamento das pessoas submetidas, em qualquer
território sob sua jurisdição, a qualquer forma de prisão, detenção ou reclusão, com vistas a evitar qualquer
caso de tortura.

ARTIGO 12

Cada Estado Parte assegurará suas autoridades competentes procederão imediatamente a uma
investigação imparcial sempre que houver motivos razoáveis para crer que um ato de tortura tenha sido
cometido em qualquer território sob sua jurisdição.

ARTIGO 13

Cada Estado Parte assegurará a qualquer pessoa que alegue ter sido submetida a tortura em qualquer
território sob sua jurisdição o direito de apresentar queixa perante as autoridades competentes do referido
Estado, que procederão imediatamente e com imparcialidade ao exame do seu caso. Serão tomadas medidas
para assegurar a proteção do queixoso e das testemunhas contra qualquer mau tratamento ou intimação em
conseqüência da queixa apresentada ou de depoimento prestado.

ARTIGO 14

1. Cada Estado Parte assegurará, em seu sistema jurídico, à vítima de um ato de tortura, o direito à
reparação e a uma indenização justa e adequada, incluídos os meios necessários para a mais completa
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 171

reabilitação possível. Em caso de morte da vítima como resultado de um ato de tortura, seus dependentes terão
direito à indenização.

2. O disposto no presente Artigo não afetará qualquer direito a indenização que a vítima ou outra pessoa
possam ter em decorrência das leis nacionais.

ARTIGO 15

Cada Estado Parte assegurará que nenhuma declaração que se demonstre ter sido prestada como
resultado de tortura possa ser invocada como prova em qualquer processo, salvo contra uma pessoa acusada
de tortura como prova de que a declaração foi prestada.

ARTIGO 16

1.Cada Estado Parte se comprometerá a proibir em qualquer território sob sua jurisdição outros atos que
constituam tratamento ou penas cruéis, desumanos ou degradantes que não constituam tortura tal como
definida no Artigo 1, quando tais atos forem cometidos por funcionário público ou outra pessoa no exercício de
funções públicas, ou por sua instigação, ou com o seu consentimento ou aquiescência. Aplicar-se-ão, em
particular, as obrigações mencionadas nos Artigos 10, 11, 12 e 13, com a substituição das referências a tortura
por referências a outras formas de tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes.

2. Os dispositivos da presente Convenção não serão interpretados de maneira a restringir os dispositivos


de qualquer outro instrumento internacional ou lei nacional que proíba os tratamentos ou penas cruéis,
desumanos ou degradantes ou que se refira à extradição ou expulsão.

PARTE II

ARTIGO 17

1. Constituir-se-á um Comitê contra a Tortura (doravante denominado o "Comitê) que desempenhará as


funções descritas adiante. O Comitê será composto por dez peritos de elevada reputação moral e reconhecida
competência em matéria de direitos humanos, os quais exercerão suas funções a título pessoal. Os peritos
serão eleitos pelos Estados Partes, levando em conta uma distribuição geográfica eqüitativa e a utilidade da
participação de algumas pessoas com experiência jurídica.

2. Os membros do Comitê serão eleitos em votação secreta dentre uma lista de pessoas indicadas pelos
Estados Partes. Cada Estado Parte pode indicar uma pessoa dentre os seus nacionais. Os Estados Partes
terão presente a utilidade da indicação de pessoas que sejam também membros do Comitê de Direitos
Humanos estabelecido de acordo com o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e que estejam
dispostas a servir no Comitê contra a Tortura.

3. Os membros do Comitê serão eleitos em reuniões bienais dos Estados Partes convocadas pelo
Secretário-Geral das Nações Unidas. Nestas reuniões, nas quais o quórum será estabelecido por dois terços
dos Estados Partes, serão eleitos membros do Comitê os candidatos que obtiverem o maior número de votos
e a maioria absoluta dos votos dos representantes dos Estados Partes presentes e votantes.

4. A primeira eleição se realizará no máximo seis meses após a data de entrada em vigor da presente
Convenção. Ao menos quatro meses antes da data de cada eleição, o Secretário-Geral das Nações Unidas
enviará uma carta aos Estados Partes para convidá-los a apresentar suas candidaturas no prazo de três meses.
O Secretário-Geral organizará uma lista por ordem alfabética de todos os candidatos assim designados, com
indicações dos Estados Partes que os tiverem designado, e a comunicará aos Estados Partes.

5. Os membros do Comitê serão eleitos para um mandato de quatro anos. Poderão, caso suas candidaturas
sejam apresentadas novamente, ser reeleitos. No entanto, o mandato de cinco dos membros eleitos na primeira
eleição expirará ao final de dois anos; imediatamente após a primeira eleição, o presidente da reunião a que
se refere o parágrafo 3 do presente Artigo indicará, por sorteio, os nomes desses cinco membros.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 172

6. Se um membro do Comitê vier a falecer, a demitir-se de suas funções ou, por outro motivo qualquer,
não puder cumprir com suas obrigações no Comitê, o Estado Parte que apresentou sua candidatura indicará,
entre seus nacionais, outro perito para cumprir o restante de seu mandato, sendo que a referida indicação
estará sujeita à aprovação da maioria dos Estados Partes. Considerar-se-á como concedida a referida
aprovação, a menos que a metade ou mais dos Estados Partes venham a responder negativamente dentro de
um prazo de seis semanas, a contar do momento em que o Secretário-Geral das Nações Unidas lhes houver
comunicado a candidatura proposta.

7. Correrão por conta dos Estados Partes as despesas em que vierem a incorrer os membros do Comitê
no desempenho de suas funções no referido órgão.

ARTIGO 18

1. O Comitê elegerá sua mesa para um período de dois anos. Os membros da mesa poderão ser reeleitos.

2. O próprio Comitê estabelecerá suas regras de procedimento; estas, contudo, deverão conter, entre
outras, as seguintes disposições:

a) o quórum será de seis membros;

b) as decisões do Comitê serão tomadas por maioria de votos dos membros presentes.

3. O Secretário-Geral das Nações Unidas colocará à disposição do Comitê o pessoal e os serviços


necessários ao desempenho eficaz das funções que lhe são atribuídas em virtude da presente Convenção.

4. O Secretário-Geral das Nações Unidas convocará a primeira reunião do Comitê. Após a primeira reunião,
o Comitê deverá reunir-se em todas as ocasiões previstas em suas regras de procedimento.

5. Os Estados Partes serão responsáveis pelos gastos vinculados à realização das reuniões dos Estados
Partes e do Comitê, inclusive o reembolso de quaisquer gastos, tais como os de pessoal e de serviço, em que
incorrerem as Nações Unidas em conformidade com o parágrafo 3 do presente Artigo.

ARTIGO 19

1. Os Estados Partes submeterão ao Comitê, por intermédio do Secretário-Geral das Nações Unidas,
relatórios sobre as medidas por eles adotadas no cumprimento das obrigações assumidas em virtude da
presente Convenção, dentro de prazo de um ano, a contar do início da vigência da presente Convenção no
Estado Parte interessado. A partir de então, os Estados Partes deverão apresentar relatórios suplementares a
cada quatro anos sobre todas as novas disposições que houverem adotado, bem como outros relatórios que o
Comitê vier a solicitar.

2. O Secretário-Geral das Nações Unidas transmitirá os relatórios a todos os Estados Partes.

3. Cada relatório será examinado pelo Comitê, que poderá fazer os comentários gerais que julgar
oportunos e os transmitirá ao Estado Parte interessado. Este poderá, em resposta ao Comitê, comunicar-lhe
todas as observações que deseje formular.

4. O Comitê poderá, a seu critério, tomar a decisão de incluir qualquer comentário que houver feito de
acordo com o que estipula o parágrafo 3 do presente Artigo, junto com as observações conexas recebidas do
Estado Parte interessado, em seu relatório anual que apresentará em conformidade com o Artigo 24. Se assim
o solicitar o Estado Parte interessado, o Comitê poderá também incluir cópia do relatório apresentado em
virtude do parágrafo 1 do presente Artigo.

ARTIGO 20

1. O Comitê, no caso de vir a receber informações fidedignas que lhe pareçam indicar, de forma
fundamentada, que a tortura é praticada sistematicamente no território de um Estado Parte, convidará o Estado
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 173

Parte em questão a cooperar no exame das informações e, nesse sentido, a transmitir ao Comitê as
observações que julgar pertinentes.

2. Levando em consideração todas as observações que houver apresentado o Estado Parte interessado,
bem como quaisquer outras informações pertinentes de que dispuser, o Comitê poderá, se lhe parecer
justificável, designar um ou vários de seus membros para que procedam a uma investigação confidencial e
informem urgentemente o Comitê.

3. No caso de realizar-se uma investigação nos termos do parágrafo 2 do presente Artigo, o Comitê
procurará obter a colaboração do Estado Parte interessado. Com a concordância do Estado Parte em questão,
a investigação poderá incluir uma visita a seu território.

4. Depois de haver examinado as conclusões apresentadas por um ou vários de seus membros, nos termos
do parágrafo 2 do presente Artigo, o Comitê as transmitirá ao Estado Parte interessado, junto com as
observações ou sugestões que considerar pertinentes em vista da situação.

5. Todos os trabalhos do Comitê a que se faz referência nos parágrafos 1 ao 4 do presente Artigo serão
confidenciais e, em todas as etapas dos referidos trabalhos, procurar-se-á obter a cooperação do Estado Parte.
Quando estiverem concluídos os trabalhos relacionados com uma investigação realizada de acordo com o
parágrafo 2, o Comitê poderá, após celebrar consultas com o Estado Parte interessado, tomar a decisão de
incluir um resumo dos resultados da investigação em seu relatório anual, que apresentará em conformidade
com o Artigo 24.

ARTIGO 21

1. Com base no presente Artigo, todo Estado Parte da presente Convenção poderá declarar, a qualquer
momento, que reconhece a competência dos Comitês para receber e examinar as comunicações em que um
Estado Parte alegue que outro Estado Parte não vem cumprindo as obrigações que lhe impõe a Convenção.
As referidas comunicações só serão recebidas e examinadas nos termos do presente Artigo no caso de serem
apresentadas por um Estado Parte que houver feito uma declaração em que reconheça, com relação a si
próprio, a competência do Comitê. O Comitê não receberá comunicação alguma relativa a um Estado Parte
que não houver feito uma declaração dessa natureza. As comunicações recebidas em virtude do presente
Artigo estarão sujeitas ao procedimento que se segue:

a) se um Estado Parte considerar que outro Estado Parte não vem cumprindo as disposições da presente
Convenção poderá, mediante comunicação escrita, levar a questão ao conhecimento deste Estado Parte.
Dentro de um prazo de três meses a contar da data do recebimento da comunicação, o Estado destinatário
fornecerá ao Estado que enviou a comunicação explicações ou quaisquer outras declarações por escrito que
esclareçam a questão, as quais deverão fazer referência, até onde seja possível e pertinente, aos
procedimentos nacionais e aos recursos jurídicos adotados, em trâmite ou disponíveis sobre a questão;

b) se, dentro de um prazo de seis meses, a contar da data do recebimento da comunicação original pelo
Estado destinatário, a questão não estiver dirimida satisfatoriamente para ambos os Estado Partes
interessados, tanto um como o outro terão o direito de submetê-la ao Comitê, mediante notificação endereçada
ao Comitê ou ao outro Estado interessado;

c) o Comitê tratará de todas as questões que se lhe submetam em virtude do presente Artigo somente após
ter-se assegurado de que todos os recursos jurídicos internos disponíveis tenham sido utilizados e esgotados,
em consonância com os princípios do Direito internacional geralmente reconhecidos. Não se aplicará esta regra
quando a aplicação dos mencionados recursos se prolongar injustificadamente ou quando não for provável que
a aplicação de tais recursos venha a melhorar realmente a situação da pessoa que seja vítima de violação da
presente Convenção;

d) o Comitê realizará reuniões confidenciais quando estiver examinando as comunicações previstas no


presente Artigo;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 174

e) sem prejuízo das disposições da alínea c), o Comitê colocará seus bons ofícios à disposição dos Estados
Partes interessados no intuito de se alcançar uma solução amistosa para a questão, baseada no respeito às
obrigações estabelecidas na presente Convenção. Com vistas a atingir esse objetivo, o Comitê poderá
constituir, se julgar conveniente, uma comissão de conciliação ad hoc;

f) em todas as questões que se lhe submetam em virtude do presente Artigo, o Comitê poderá solicitar aos
Estados Partes interessados, a que se faz referência na alínea b), que lhe forneçam quaisquer informações
pertinentes;

g) os Estados Partes interessados, a que se faz referência na alínea b), terão o direito de fazer-se
representar quando as questões forem examinadas no Comitê e de apresentar suas observações verbalmente
e/ou por escrito;

h) o Comitê, dentro dos doze meses seguintes à data de recebimento de notificação mencionada na b),
apresentará relatório em que:

i) se houver sido alcançada uma solução nos termos da alínea e), o Comitê restringir-se-á, em seu relatório,
a uma breve exposição dos fatos e da solução alcançada;

ii) se não houver sido alcançada solução alguma nos termos da alínea e), o Comitê restringir-se-á, em seu
relatório, a uma breve exposição dos fatos; serão anexados ao relatório o texto das observações escritas e as
atas das observações orais apresentadas pelos Estados Partes interessados.

Para cada questão, o relatório será encaminhado aos Estados Partes interessados.

2. As disposições do presente Artigo entrarão em vigor a partir do momento em que cinco Estado Partes
da presente Convenção houverem feito as declarações mencionadas no parágrafo 1 deste Artigo. As referidas
declarações serão depositadas pelos Estados Partes junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas, que enviará
cópia das mesmas aos demais Estados Partes. Toda declaração poderá ser retirada, a qualquer momento,
mediante notificação endereçada ao Secretário-Geral. Far-se-á essa retirada sem prejuízo do exame de
quaisquer questões que constituam objeto de uma comunicação já transmitida nos termos deste Artigo; em
virtude do presente Artigo, não se receberá qualquer nova comunicação de um Estado Parte uma vez que o
Secretário-Geral haja recebido a notificação sobre a retirada da declaração, a menos que o Estado Parte
interessado haja feito uma nova declaração.

ARTIGO 22

1. Todo Estado Parte da presente Convenção poderá, em virtude do presente Artigo, declarar, a qualquer
momento, que reconhece a competência do Comitê para receber e examinar as comunicações enviadas por
pessoas sob sua jurisdição, ou em nome delas, que aleguem ser vítimas de violação, por um Estado Parte, das
disposições da Convenção. O Comitê não receberá comunicação alguma relativa a um Estado Parte que não
houver feito declaração dessa natureza.

2. O Comitê considerará inadmissível qualquer comunicação recebida em conformidade com o presente


Artigo que seja anônima, ou que, a seu juízo, constitua abuso do direito de apresentar as referidas
comunicações, ou que seja incompatível com as disposições da presente Convenção.

3. Sem prejuízo do disposto no parágrafo 2, o Comitê levará todas as comunicações apresentadas em


conformidade com este Artigo ao conhecimento do Estado Parte da presente Convenção que houver feito uma
declaração nos termos do parágrafo 1 e sobre o qual se alegue ter violado qualquer disposição da Convenção.
Dentro dos seis meses seguintes, o Estado destinatário submeterá ao Comitê as explicações ou declarações
por escrito que elucidem a questão e, se for o caso, indiquem o recurso jurídico adotado pelo Estado em
questão.

4. O Comitê examinará as comunicações recebidas em conformidade com o presente Artigo à luz de todas
as informações a ele submetidas pela pessoa interessada, ou em nome dela, e pelo Estado Parte interessado.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 175

5. O Comitê não examinará comunicação alguma de uma pessoa, nos termos do presente Artigo, sem que
se haja assegurado de que;

a) a mesma questão não foi, nem está sendo examinada perante uma outra instância internacional de
investigação ou solução;

b) a pessoa em questão esgotou todos os recursos jurídicos internos disponíveis; não se aplicará esta
regra quando a aplicação dos mencionados recursos se prolongar injustificadamente ou quando não for
provável que a aplicação de tais recursos venha a melhorar realmente a situação da pessoa que seja vítima de
violação da presente Convenção.

6. O Comitê realizará reuniões confidenciais quando estiver examinado as comunicações previstas no


presente Artigo.

7.O Comitê comunicará seu parecer ao Estado Parte e à pessoa em questão.

8. As disposições do presente Artigo entrarão em vigor a partir do momento em que cinco Estado Partes
da presente Convenção houverem feito as declarações mencionadas no parágrafo 1 deste Artigo. As referidas
declarações serão depositadas pelos Estados Partes junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas, que enviará
cópia das mesmas ao demais Estados Partes. Toda declaração poderá ser retirada, a qualquer momento,
mediante notificação endereçada ao Secretário-Geral. Far-se-á essa retirada sem prejuízo do exame de
quaisquer questões que constituam objeto de uma comunicação já transmitida nos termos deste Artigo; em
virtude do presente Artigo, não se receberá nova comunicação de uma pessoa, ou em nome dela, uma vez que
o Secretário-Geral haja recebido a notificação sobre retirada da declaração, a menos que o Estado Parte
interessado haja feito uma nova declaração.

ARTIGO 23

Os membros do Comitê e os membros das Comissões de Conciliação ad noc designados nos termos da
alínea e) do parágrafo 1 do Artigo 21 terão o direito às facilidades, privilégios e imunidades que se concedem
aos peritos no desempenho de missões para a Organização das Nações Unidas, em conformidade com as
seções pertinentes da Convenção sobre Privilégios e Imunidades das Nações Unidas.

ARTIGO 24

O Comitê apresentará, em virtude da presente Convenção, um relatório anula sobre suas atividades aos
Estados Partes e à Assembléia Geral das Nações Unidas.

PARTE III

ARTIGO 25

1. A presente Convenção está aberta à assinatura de todos os Estados.

2. A presente Convenção está sujeita a ratificação. Os instrumentos de ratificação serão depositados junto
ao Secretário-Geral das Nações Unidas.

ARTIGO 26

A presente Convenção está aberta à Adesão de todos os Estados. Far-se-á a Adesão mediante depósito
do Instrumento de Adesão junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas.

ARTIGO 27

1. A presente Convenção entrará em vigor no trigésimo dia a contar da data em que o vigésimo instrumento
de ratificação ou adesão houver sido depositado junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 176

2. Para os Estados que vierem a ratificar a presente Convenção ou a ela aderir após o depósito do vigésimo
instrumento de ratificação ou adesão, a Convenção entrará em vigor no trigésimo dia a contar da data em que
o Estado em questão houver depositado seu instrumento de ratificação ou adesão.

ARTIGO 28

1. Cada Estado Parte poderá declarar, por ocasião da assinatura ou da ratificação da presente Convenção
ou da adesão a ela, que não reconhece a competência do Comitê quando ao disposto no Artigo 20.

2. Todo Estado Parte da presente Convenção que houver formulado uma reserva em conformidade com o
parágrafo 1 do presente Artigo poderá, a qualquer momento, tornar sem efeito essa reserva, mediante
notificação endereçada ao Secretário-Geral das Nações Unidas.

ARTIGO 29

1. Todo Estado Parte da presente Convenção poderá propor uma emenda e depositá-la junto ao Secretário-
Geral das Nações Unidas. O Secretário-Geral comunicará a proposta de emenda aos Estados Partes, pedindo-
lhes que o notifiquem se desejam que se convoque uma conferência dos Estados Partes destinada a examinar
a proposta e submetê-la a votação. Se, dentro dos quatro meses seguintes à data da referida comunicação,
pelos menos um terço dos Estados Partes se manifestar a favor da referida convocação, o Secretário-Geral
convocará uma conferência sob os auspícios das Nações Unidas. Toda emenda adotada pela maioria dos
Estados Partes presentes e votantes na conferência será submetida pelo Secretário-Geral à aceitação de todos
os Estados Partes.

2. Toda emenda adotada nos termos das disposições do parágrafo 1 do presente Artigo entrará em vigor
assim que dois terços dos Estados Partes da presente Convenção houverem notificado o Secretário-Geral das
Nações Unidas de que a aceitaram em consonância com os procedimentos previstos por suas respectivas
constituições.

3. Quando entrarem em vigor, as emendas serão obrigatórias para todos os Estados Partes que as tenham
aceito, ao passo que os demais Estados Partes permanecem obrigados pelas disposições da Convenção e
pelas emendas anteriores por eles aceitas.

ARTIGO 30

1. As controvérsias entre dois ou mais Estados Partes com relação à interpretação ou à aplicação da
presente Convenção que não puderem ser dirimidas por meio da negociação serão, a pedido de um deles,
submetidas a arbitragem. Se durante os seis meses seguintes à data do pedido de arbitragem, as Partes não
lograrem pôr-se de acordo quanto aos termos do compromisso de arbitragem, qualquer das Partes poderá
submeter a controvérsia à Corte Internacional de Justiça, mediante solicitação feita em conformidade com o
Estatuto da Corte.

2. Cada Estado poderá, por ocasião da assinatura ou da ratificação da presente Convenção, declarar que
não se considera obrigado pelo parágrafo 1 deste Artigo. Os demais Estados Partes não estarão obrigados
pelo referido parágrafo com relação a qualquer Estado Parte que houver formulado reserva dessa natureza.

3. Todo Estado Parte que houver formulado reserva nos termos do parágrafo 2 do presente Artigo poderá
retirá-la, a qualquer momento, mediante notificação endereçada ao Secretário-Geral das Nações Unidas.

ARTIGO 31

1. Todo Estado Parte poderá denunciar a presente Convenção mediante notificação por escrito endereçada
ao Secretário-Geral das Nações Unidas. A denúncia produzirá efeitos um ano depois da data de recebimento
da notificação pelo Secretário-Geral.

2. A referida denúncia não eximirá o Estado Parte das obrigações que lhe impõe a presente Convenção
relativamente a qualquer ação ou omissão ocorrida antes da data em que a denúncia venha a produzir efeitos;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 177

a denúncia não acarretará, tampouco, a suspensão do exame de quaisquer questões que o Comitê já começara
a examinar antes da data em que a denúncia veio a produzir efeitos.

3. A partir da data em que vier a produzir efeitos a denúncia de um Estado Parte, o Comitê não dará início
ao exame de qualquer nova questão referente ao Estado em apreço.

ARTIGO 32

O Secretário-Geral das Nações Unidas comunicará a todos os Estados membros das Nações Unidas e a
todos os Estados que assinaram a presente Convenção ou a ela aderiram:

a) as assinaturas, ratificações e adesões recebidas em conformidade com os Artigos 25 e 26;

b) a data de entrada em vigor da Convenção, nos termos do Artigo 27, e a data de entrada em vigor de
quaisquer emendas, nos termos do Artigo 29;

c) as denúncias recebidas em conformidades com o Artigo 31.

ARTIGO 33

1. A presente Convenção, cujos textos em árabe, chinês, espanhol, francês, inglês e russo são igualmente
autênticos, será depositada junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas.

2. O Secretário-Geral das Nações Unidas encaminhará cópias autenticadas da presente Convenção a


todos os Estados.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 178

2.10 CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA E PROTOCOLOS


FACULTATIVOS - 1989 (DECRETO Nº 99.710/90)

DECRETO No 99.710, DE 21 DE NOVEMBRO DE 1990.

Promulga a Convenção sobre os Direitos da Criança.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV, da
Constituição, e

Considerando que o Congresso Nacional aprovou, pelo Decreto Legislativo n° 28, de 14 de setembro de
1990, a Convenção sobre os Direitos da Criança, a qual entrou em vigor internacional em 02 de setembro de
1990, na forma de seu artigo 49, inciso 1;

Considerando que o Governo brasileiro ratificou a referida Convenção em 24 de setembro de 1990, tendo
a mesmo entrado em vigor para o Brasil em 23 de outubro de 1990, na forma do seu artigo 49, incisos 2;

DECRETA:

Art. 1° A Convenção sobre os Direitos da Criança, apensa por cópia ao presente Decreto, será executada
e cumprida tão inteiramente como nela se contém.

Art. 2° Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 3° Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 21 de novembro de 1990; 169° da Independência e 102° da República.

FERNANDO COLLOR

Francisco Rezek

Este texto não substitui o publicado no DOU de 22.11.1990

CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA

Preâmbulo

Os Estados Partes da presente Convenção,

Considerando que, de acordo com os princípios proclamados na Carta das Nações Unidas, a liberdade, a
justiça e a paz no mundo se fundamentam no reconhecimento da dignidade inerente e dos direitos iguais e
inalienáveis de todos os membros da família humana;

Tendo em conta que os povos das Nações Unidas reafirmaram na carta sua fé nos direitos fundamentais
do homem e na dignidade e no valor da pessoa humana e que decidiram promover o progresso social e a
elevação do nível de vida com mais liberdade;

Reconhecendo que as Nações Unidas proclamaram e acordaram na Declaração Universal dos Direitos
Humanos e nos Pactos Internacionais de Direitos Humanos que toda pessoa possui todos os direitos e
liberdades neles enunciados, sem distinção de qualquer natureza, seja de raça, cor, sexo, idioma, crença,
opinião política ou de outra índole, origem nacional ou social, posição econômica, nascimento ou qualquer outra
condição;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 179

Recordando que na Declaração Universal dos Direitos Humanos as Nações Unidas proclamaram que a
infância tem direito a cuidados e assistência especiais;

Convencidos de que a família, como grupo fundamental da sociedade e ambiente natural para o
crescimento e bem-estar de todos os seus membros, e em particular das crianças, deve receber a proteção e
assistência necessárias a fim de poder assumir plenamente suas responsabilidades dentro da comunidade;

Reconhecendo que a criança, para o pleno e harmonioso desenvolvimento de sua personalidade, deve
crescer no seio da família, em um ambiente de felicidade, amor e compreensão;

Considerando que a criança deve estar plenamente preparada para uma vida independente na sociedade
e deve ser educada de acordo com os ideais proclamados na Cartas das Nações Unidas, especialmente com
espírito de paz, dignidade, tolerância, liberdade, igualdade e solidariedade;

Tendo em conta que a necessidade de proporcionar à criança uma proteção especial foi enunciada na
Declaração de Genebra de 1924 sobre os Direitos da Criança e na Declaração dos Direitos da Criança adotada
pela Assembléia Geral em 20 de novembro de 1959, e reconhecida na Declaração Universal dos Direitos
Humanos, no Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (em particular nos Artigos 23 e 24), no Pacto
Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (em particular no Artigo 10) e nos estatutos e
instrumentos pertinentes das Agências Especializadas e das organizações internacionais que se interessam
pelo bem-estar da criança;

Tendo em conta que, conforme assinalado na Declaração dos Direitos da Criança, "a criança, em virtude
de sua falta de maturidade física e mental, necessita proteção e cuidados especiais, inclusive a devida proteção
legal, tanto antes quanto após seu nascimento";

Lembrado o estabelecido na Declaração sobre os Princípios Sociais e Jurídicos Relativos à Proteção e ao


Bem-Estar das Crianças, especialmente com Referência à Adoção e à Colocação em Lares de Adoção, nos
Planos Nacional e Internacional; as Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça
Juvenil (Regras de Pequim); e a Declaração sobre a Proteção da Mulher e da Criança em Situações de
Emergência ou de Conflito Armado;

Reconhecendo que em todos os países do mundo existem crianças vivendo sob condições
excepcionalmente difíceis e que essas crianças necessitam consideração especial;

Tomando em devida conta a importância das tradições e dos valores culturais de cada povo para a proteção
e o desenvolvimento harmonioso da criança;

Reconhecendo a importância da cooperação internacional para a melhoria das condições de vida das
crianças em todos os países, especialmente nos países em desenvolvimento;

Acordam o seguinte:

PARTE I

Artigo 1

Para efeitos da presente Convenção considera-se como criança todo ser humano com menos de dezoito
anos de idade, a não ser que, em conformidade com a lei aplicável à criança, a maioridade seja alcançada
antes.

Artigo 2

1. Os Estados Partes respeitarão os direitos enunciados na presente Convenção e assegurarão sua


aplicação a cada criança sujeita à sua jurisdição, sem distinção alguma, independentemente de raça, cor, sexo,
idioma, crença, opinião política ou de outra índole, origem nacional, étnica ou social, posição econômica,
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 180

deficiências físicas, nascimento ou qualquer outra condição da criança, de seus pais ou de seus representantes
legais.

2. Os Estados Partes tomarão todas as medidas apropriadas para assegurar a proteção da criança contra
toda forma de discriminação ou castigo por causa da condição, das atividades, das opiniões manifestadas ou
das crenças de seus pais, representantes legais ou familiares.

Artigo 3

1. Todas as ações relativas às crianças, levadas a efeito por instituições públicas ou privadas de bem estar
social, tribunais, autoridades administrativas ou órgãos legislativos, devem considerar, primordialmente, o
interesse maior da criança.

2. Os Estados Partes se comprometem a assegurar à criança a proteção e o cuidado que sejam


necessários para seu bem-estar, levando em consideração os direitos e deveres de seus pais, tutores ou outras
pessoas responsáveis por ela perante a lei e, com essa finalidade, tomarão todas as medidas legislativas e
administrativas adequadas.

3. Os Estados Partes se certificarão de que as instituições, os serviços e os estabelecimentos encarregados


do cuidado ou da proteção das crianças cumpram com os padrões estabelecidos pelas autoridades
competentes, especialmente no que diz respeito à segurança e à saúde das crianças, ao número e à
competência de seu pessoal e à existência de supervisão adequada.

Artigo 4

Os Estados Partes adotarão todas as medidas administrativas, legislativas e de outra índole com vistas à
implementação dos direitos reconhecidos na presente Convenção. Com relação aos direitos econômicos,
sociais e culturais, os Estados Partes adotarão essas medidas utilizando ao máximo os recursos disponíveis e,
quando necessário, dentro de um quadro de cooperação internacional.

Artigo 5

Os Estados Partes respeitarão as responsabilidades, os direitos e os deveres dos pais ou, onde for o caso,
dos membros da família ampliada ou da comunidade, conforme determinem os costumes locais, dos tutores
ou de outras pessoas legalmente responsáveis, de proporcionar à criança instrução e orientação adequadas e
acordes com a evolução de sua capacidade no exercício dos direitos reconhecidos na presente convenção.

Artigo 6

1. Os Estados Partes reconhecem que toda criança tem o direito inerente à vida.

2. Os Estados Partes assegurarão ao máximo a sobrevivência e o desenvolvimento da criança.

Artigo 7

1. A criança será registrada imediatamente após seu nascimento e terá direito, desde o momento em que
nasce, a um nome, a uma nacionalidade e, na medida do possível, a conhecer seus pais e a ser cuidada por
eles.

2. Os Estados Partes zelarão pela aplicação desses direitos de acordo com sua legislação nacional e com
as obrigações que tenham assumido em virtude dos instrumentos internacionais pertinentes, sobretudo se, de
outro modo, a criança se tornaria apátrida.

Artigo 8

1. Os Estados Partes se comprometem a respeitar o direito da criança de preservar sua identidade,


inclusive a nacionalidade, o nome e as relações familiares, de acordo com a lei, sem interferências ilícitas.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 181

2. Quando uma criança se vir privada ilegalmente de algum ou de todos os elementos que configuram sua
identidade, os Estados Partes deverão prestar assistência e proteção adequadas com vistas a restabelecer
rapidamente sua identidade.

Artigo 9

1. Os Estados Partes deverão zelar para que a criança não seja separada dos pais contra a vontade dos
mesmos, exceto quando, sujeita à revisão judicial, as autoridades competentes determinarem, em
conformidade com a lei e os procedimentos legais cabíveis, que tal separação é necessária ao interesse maior
da criança. Tal determinação pode ser necessária em casos específicos, por exemplo, nos casos em que a
criança sofre maus tratos ou descuido por parte de seus pais ou quando estes vivem separados e uma decisão
deve ser tomada a respeito do local da residência da criança.

2. Caso seja adotado qualquer procedimento em conformidade com o estipulado no parágrafo 1 do


presente artigo, todas as partes interessadas terão a oportunidade de participar e de manifestar suas opiniões.

3. Os Estados Partes respeitarão o direito da criança que esteja separada de um ou de ambos os pais de
manter regularmente relações pessoais e contato direto com ambos, a menos que isso seja contrário ao
interesse maior da criança.

4. Quando essa separação ocorrer em virtude de uma medida adotada por um Estado Parte, tal como
detenção, prisão, exílio, deportação ou morte (inclusive falecimento decorrente de qualquer causa enquanto a
pessoa estiver sob a custódia do Estado) de um dos pais da criança, ou de ambos, ou da própria criança, o
Estado Parte, quando solicitado, proporcionará aos pais, à criança ou, se for o caso, a outro familiar,
informações básicas a respeito do paradeiro do familiar ou familiares ausentes, a não ser que tal procedimento
seja prejudicial ao bem-estar da criança. Os Estados Partes se certificarão, além disso, de que a apresentação
de tal petição não acarrete, por si só, conseqüências adversas para a pessoa ou pessoas interessadas.

Artigo 10

1. De acordo com a obrigação dos Estados Partes estipulada no parágrafo 1 do Artigo 9, toda solicitação
apresentada por uma criança, ou por seus pais, para ingressar ou sair de um Estado Parte com vistas à reunião
da família, deverá ser atendida pelos Estados Partes de forma positiva, humanitária e rápida. Os Estados Partes
assegurarão, ainda, que a apresentação de tal solicitação não acarretará conseqüências adversas para os
solicitantes ou para seus familiares.

2. A criança cujos pais residam em Estados diferentes terá o direito de manter, periodicamente, relações
pessoais e contato direto com ambos, exceto em circunstâncias especiais. Para tanto, e de acordo com a
obrigação assumida pelos Estados Partes em virtude do parágrafo 2 do Artigo 9, os Estados Partes respeitarão
o direito da criança e de seus pais de sair de qualquer país, inclusive do próprio, e de ingressar no seu próprio
país. O direito de sair de qualquer país estará sujeito, apenas, às restrições determinadas pela lei que sejam
necessárias para proteger a segurança nacional, a ordem pública, a saúde ou a moral públicas ou os direitos
e as liberdades de outras pessoas e que estejam acordes com os demais direitos reconhecidos pela presente
convenção.

Artigo 11

1. Os Estados Partes adotarão medidas a fim de lutar contra a transferência ilegal de crianças para o
exterior e a retenção ilícita das mesmas fora do país.

2. Para tanto, aos Estados Partes promoverão a conclusão de acordos bilaterais ou multilaterais ou a
adesão a acordos já existentes.

Artigo 12
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 182

1. Os Estados Partes assegurarão à criança que estiver capacitada a formular seus próprios juízos o direito
de expressar suas opiniões livremente sobre todos os assuntos relacionados com a criança, levando-se
devidamente em consideração essas opiniões, em função da idade e maturidade da criança.

2. Com tal propósito, se proporcionará à criança, em particular, a oportunidade de ser ouvida em todo
processo judicial ou administrativo que afete a mesma, quer diretamente quer por intermédio de um
representante ou órgão apropriado, em conformidade com as regras processuais da legislação nacional.

Artigo 13

1. A criança terá direito à liberdade de expressão. Esse direito incluirá a liberdade de procurar, receber e
divulgar informações e idéias de todo tipo, independentemente de fronteiras, de forma oral, escrita ou impressa,
por meio das artes ou por qualquer outro meio escolhido pela criança.

2. O exercício de tal direito poderá estar sujeito a determinadas restrições, que serão unicamente as
previstas pela lei e consideradas necessárias:

a) para o respeito dos direitos ou da reputação dos demais, ou

b) para a proteção da segurança nacional ou da ordem pública, ou para proteger a saúde e a moral públicas.

Artigo 14

1. Os Estados Partes respeitarão o direito da criança à liberdade de pensamento, de consciência e de


crença.

2. Os Estados Partes respeitarão os direitos e deveres dos pais e, se for o caso, dos representantes legais,
de orientar a criança com relação ao exercício de seus direitos de maneira acorde com a evolução de sua
capacidade.

3. A liberdade de professar a própria religião ou as próprias crenças estará sujeita, unicamente, às


limitações prescritas pela lei e necessárias para proteger a segurança, a ordem, a moral, a saúde pública ou
os direitos e liberdades fundamentais dos demais.

Artigo 15

1 Os Estados Partes reconhecem os direitos da criança à liberdade de associação e à liberdade de realizar


reuniões pacíficas.

2. Não serão impostas restrições ao exercício desses direitos, a não ser as estabelecidas em conformidade
com a lei e que sejam necessárias numa sociedade democrática, no interesse da segurança nacional ou
pública, da ordem pública, da proteção à saúde e à moral públicas ou da proteção aos direitos e liberdades dos
demais.

Artigo 16

1. Nenhuma criança será objeto de interferências arbitrárias ou ilegais em sua vida particular, sua família,
seu domicílio ou sua correspondência, nem de atentados ilegais a sua honra e a sua reputação.

2. A criança tem direito à proteção da lei contra essas interferências ou atentados.

Artigo 17

Os Estados Partes reconhecem a função importante desempenhada pelos meios de comunicação e


zelarão para que a criança tenha acesso a informações e materiais procedentes de diversas fontes nacionais
e internacionais, especialmente informações e materiais que visem a promover seu bem-estar social, espiritual
e moral e sua saúde física e mental. Para tanto, os Estados Partes:
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 183

a) incentivarão os meios de comunicação a difundir informações e materiais de interesse social e cultural


para a criança, de acordo com o espírito do artigo 29;

b) promoverão a cooperação internacional na produção, no intercâmbio e na divulgação dessas


informações e desses materiais procedentes de diversas fontes culturais, nacionais e internacionais;

c) incentivarão a produção e difusão de livros para crianças;

d) incentivarão os meios de comunicação no sentido de, particularmente, considerar as necessidades


lingüísticas da criança que pertença a um grupo minoritário ou que seja indígena;

e) promoverão a elaboração de diretrizes apropriadas a fim de proteger a criança contra toda informação
e material prejudiciais ao seu bem-estar, tendo em conta as disposições dos artigos 13 e 18.

Artigo 18

1. Os Estados Partes envidarão os seus melhores esforços a fim de assegurar o reconhecimento do


princípio de que ambos os pais têm obrigações comuns com relação à educação e ao desenvolvimento da
criança. Caberá aos pais ou, quando for o caso, aos representantes legais, a responsabilidade primordial pela
educação e pelo desenvolvimento da criança. Sua preocupação fundamental visará ao interesse maior da
criança.

2. A fim de garantir e promover os direitos enunciados na presente convenção, os Estados Partes prestarão
assistência adequada aos pais e aos representantes legais para o desempenho de suas funções no que tange
à educação da criança e assegurarão a criação de instituições, instalações e serviços para o cuidado das
crianças.

3. Os Estados Partes adotarão todas as medidas apropriadas a fim de que as crianças cujos pais trabalhem
tenham direito a beneficiar-se dos serviços de assistência social e creches a que fazem jus.

Artigo 19

1. Os Estados Partes adotarão todas as medidas legislativas, administrativas, sociais e educacionais


apropriadas para proteger a criança contra todas as formas de violência física ou mental, abuso ou tratamento
negligente, maus tratos ou exploração, inclusive abuso sexual, enquanto a criança estiver sob a custódia dos
pais, do representante legal ou de qualquer outra pessoa responsável por ela.

2. Essas medidas de proteção deveriam incluir, conforme apropriado, procedimentos eficazes para a
elaboração de programas sociais capazes de proporcionar uma assistência adequada à criança e às pessoas
encarregadas de seu cuidado, bem como para outras formas de prevenção, para a identificação, notificação,
transferência a uma instituição, investigação, tratamento e acompanhamento posterior dos casos acima
mencionados de maus tratos à criança e, conforme o caso, para a intervenção judiciária.

Artigo 20

1. As crianças privadas temporária ou permanentemente do seu meio familiar, ou cujo interesse maior exija
que não permaneçam nesse meio, terão direito à proteção e assistência especiais do Estado.

2. Os Estados Partes garantirão, de acordo com suas leis nacionais, cuidados alternativos para essas
crianças.

3. Esses cuidados poderiam incluir, inter alia, a colocação em lares de adoção, a kafalah do direito islâmico,
a adoção ou, caso necessário, a colocação em instituições adequadas de proteção para as crianças. Ao serem
consideradas as soluções, deve-se dar especial atenção à origem étnica, religiosa, cultural e lingüística da
criança, bem como à conveniência da continuidade de sua educação.

Artigo 21
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 184

Os Estados Partes que reconhecem ou permitem o sistema de adoção atentarão para o fato de que a
consideração primordial seja o interesse maior da criança. Dessa forma, atentarão para que:

a) a adoção da criança seja autorizada apenas pelas autoridades competentes, as quais determinarão,
consoante as leis e os procedimentos cabíveis e com base em todas as informações pertinentes e fidedignas,
que a adoção é admissível em vista da situação jurídica da criança com relação a seus pais, parentes e
representantes legais e que, caso solicitado, as pessoas interessadas tenham dado, com conhecimento de
causa, seu consentimento à adoção, com base no assessoramento que possa ser necessário;

b) a adoção efetuada em outro país possa ser considerada como outro meio de cuidar da criança, no caso
em que a mesma não possa ser colocada em um lar de adoção ou entregue a uma família adotiva ou não logre
atendimento adequado em seu país de origem;

c) a criança adotada em outro país goze de salvaguardas e normas equivalentes às existentes em seu país
de origem com relação à adoção;

d) todas as medidas apropriadas sejam adotadas, a fim de garantir que, em caso de adoção em outro país,
a colocação não permita benefícios financeiros indevidos aos que dela participarem;

e) quando necessário, promover os objetivos do presente artigo mediante ajustes ou acordos bilaterais ou
multilaterais, e envidarão esforços, nesse contexto, com vistas a assegurar que a colocação da criança em
outro país seja levada a cabo por intermédio das autoridades ou organismos competentes.

Artigo 22

1. Os Estados Partes adotarão medidas pertinentes para assegurar que a criança que tente obter a
condição de refugiada, ou que seja considerada como refugiada de acordo com o direito e os procedimentos
internacionais ou internos aplicáveis, receba, tanto no caso de estar sozinha como acompanhada por seus pais
ou por qualquer outra pessoa, a proteção e a assistência humanitária adequadas a fim de que possa usufruir
dos direitos enunciados na presente convenção e em outros instrumentos internacionais de direitos humanos
ou de caráter humanitário dos quais os citados Estados sejam parte.

2. Para tanto, os Estados Partes cooperarão, da maneira como julgarem apropriada, com todos os esforços
das Nações Unidas e demais organizações intergovernamentais competentes, ou organizações não-
governamentais que cooperem com as Nações Unidas, no sentido de proteger e ajudar a criança refugiada, e
de localizar seus pais ou outros membros de sua família a fim de obter informações necessárias que permitam
sua reunião com a família. Quando não for possível localizar nenhum dos pais ou membros da família, será
concedida à criança a mesma proteção outorgada a qualquer outra criança privada permanente ou
temporariamente de seu ambiente familiar, seja qual for o motivo, conforme o estabelecido na presente
convenção.

Artigo 23

1. Os Estados Partes reconhecem que a criança portadora de deficiências físicas ou mentais deverá
desfrutar de uma vida plena e decente em condições que garantam sua dignidade, favoreçam sua autonomia
e facilitem sua participação ativa na comunidade.

2. Os Estados Partes reconhecem o direito da criança deficiente de receber cuidados especiais e, de


acordo com os recursos disponíveis e sempre que a criança ou seus responsáveis reúnam as condições
requeridas, estimularão e assegurarão a prestação da assistência solicitada, que seja adequada ao estado da
criança e às circunstâncias de seus pais ou das pessoas encarregadas de seus cuidados.

3. Atendendo às necessidades especiais da criança deficiente, a assistência prestada, conforme disposto


no parágrafo 2 do presente artigo, será gratuita sempre que possível, levando-se em consideração a situação
econômica dos pais ou das pessoas que cuidem da criança, e visará a assegurar à criança deficiente o acesso
efetivo à educação, à capacitação, aos serviços de saúde, aos serviços de reabilitação, à preparação para o
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 185

emprego e às oportunidades de lazer, de maneira que a criança atinja a mais completa integração social
possível e o maior desenvolvimento individual factível, inclusive seu desenvolvimento cultural e espiritual.

4. Os Estados Partes promoverão, com espírito de cooperação internacional, um intercâmbio adequado de


informações nos campos da assistência médica preventiva e do tratamento médico, psicológico e funcional das
crianças deficientes, inclusive a divulgação de informações a respeito dos métodos de reabilitação e dos
serviços de ensino e formação profissional, bem como o acesso a essa informação, a fim de que os Estados
Partes possam aprimorar sua capacidade e seus conhecimentos e ampliar sua experiência nesses campos.
Nesse sentido, serão levadas especialmente em conta as necessidades dos países em desenvolvimento.

Artigo 24

1. Os Estados Partes reconhecem o direito da criança de gozar do melhor padrão possível de saúde e dos
serviços destinados ao tratamento das doenças e à recuperação da saúde. Os Estados Partes envidarão
esforços no sentido de assegurar que nenhuma criança se veja privada de seu direito de usufruir desses
serviços sanitários.

2. Os Estados Partes garantirão a plena aplicação desse direito e, em especial, adotarão as medidas
apropriadas com vistas a:

a) reduzir a mortalidade infantil;

b) assegurar a prestação de assistência médica e cuidados sanitários necessários a todas as crianças,


dando ênfase aos cuidados básicos de saúde;

c) combater as doenças e a desnutrição dentro do contexto dos cuidados básicos de saúde mediante, inter
alia, a aplicação de tecnologia disponível e o fornecimento de alimentos nutritivos e de água potável, tendo em
vista os perigos e riscos da poluição ambiental;

d) assegurar às mães adequada assistência pré-natal e pós-natal;

e) assegurar que todos os setores da sociedade, e em especial os pais e as crianças, conheçam os


princípios básicos de saúde e nutrição das crianças, as vantagens da amamentação, da higiene e do
saneamento ambiental e das medidas de prevenção de acidentes, e tenham acesso à educação pertinente e
recebam apoio para a aplicação desses conhecimentos;

f) desenvolver a assistência médica preventiva, a orientação aos pais e a educação e serviços de


planejamento familiar.

3. Os Estados Partes adotarão todas as medidas eficazes e adequadas para abolir práticas tradicionais
que sejam prejudicais à saúde da criança.

4. Os Estados Partes se comprometem a promover e incentivar a cooperação internacional com vistas a


lograr, progressivamente, a plena efetivação do direito reconhecido no presente artigo. Nesse sentido, será
dada atenção especial às necessidades dos países em desenvolvimento.

Artigo 25

Os Estados Partes reconhecem o direito de uma criança que tenha sido internada em um estabelecimento
pelas autoridades competentes para fins de atendimento, proteção ou tratamento de saúde física ou mental a
um exame periódico de avaliação do tratamento ao qual está sendo submetida e de todos os demais aspectos
relativos à sua internação.

Artigo 26

1. Os Estados Partes reconhecerão a todas as crianças o direito de usufruir da previdência social, inclusive
do seguro social, e adotarão as medidas necessárias para lograr a plena consecução desse direito, em
conformidade com sua legislação nacional.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 186

2. Os benefícios deverão ser concedidos, quando pertinentes, levando-se em consideração os recursos e


a situação da criança e das pessoas responsáveis pelo seu sustento, bem como qualquer outra consideração
cabível no caso de uma solicitação de benefícios feita pela criança ou em seu nome.

Artigo 27

1. Os Estados Partes reconhecem o direito de toda criança a um nível de vida adequado ao seu
desenvolvimento físico, mental, espiritual, moral e social.

2. Cabe aos pais, ou a outras pessoas encarregadas, a responsabilidade primordial de propiciar, de acordo
com suas possibilidades e meios financeiros, as condições de vida necessárias ao desenvolvimento da criança.

3. Os Estados Partes, de acordo com as condições nacionais e dentro de suas possibilidades, adotarão
medidas apropriadas a fim de ajudar os pais e outras pessoas responsáveis pela criança a tornar efetivo esse
direito e, caso necessário, proporcionarão assistência material e programas de apoio, especialmente no que
diz respeito à nutrição, ao vestuário e à habitação.

4. Os Estados Partes tomarão todas as medidas adequadas para assegurar o pagamento da pensão
alimentícia por parte dos pais ou de outras pessoas financeiramente responsáveis pela criança, quer residam
no Estado Parte quer no exterior. Nesse sentido, quando a pessoa que detém a responsabilidade financeira
pela criança residir em Estado diferente daquele onde mora a criança, os Estados Partes promoverão a adesão
a acordos internacionais ou a conclusão de tais acordos, bem como a adoção de outras medidas apropriadas.

Artigo 28

1. Os Estados Partes reconhecem o direito da criança à educação e, a fim de que ela possa exercer
progressivamente e em igualdade de condições esse direito, deverão especialmente:

a) tornar o ensino primário obrigatório e disponível gratuitamente para todos;

b) estimular o desenvolvimento do ensino secundário em suas diferentes formas, inclusive o ensino geral
e profissionalizante, tornando-o disponível e acessível a todas as crianças, e adotar medidas apropriadas tais
como a implantação do ensino gratuito e a concessão de assistência financeira em caso de necessidade;

c) tornar o ensino superior acessível a todos com base na capacidade e por todos os meios adequados;

d) tornar a informação e a orientação educacionais e profissionais disponíveis e accessíveis a todas as


crianças;

e) adotar medidas para estimular a freqüência regular às escolas e a redução do índice de evasão escolar.

2. Os Estados Partes adotarão todas as medidas necessárias para assegurar que a disciplina escolar seja
ministrada de maneira compatível com a dignidade humana da criança e em conformidade com a presente
convenção.

3. Os Estados Partes promoverão e estimularão a cooperação internacional em questões relativas à


educação, especialmente visando a contribuir para a eliminação da ignorância e do analfabetismo no mundo e
facilitar o acesso aos conhecimentos científicos e técnicos e aos métodos modernos de ensino. A esse respeito,
será dada atenção especial às necessidades dos países em desenvolvimento.

Artigo 29

1. Os Estados Partes reconhecem que a educação da criança deverá estar orientada no sentido de:

a) desenvolver a personalidade, as aptidões e a capacidade mental e física da criança em todo o seu


potencial;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 187

b) imbuir na criança o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais, bem como aos
princípios consagrados na Carta das Nações Unidas;

c) imbuir na criança o respeito aos seus pais, à sua própria identidade cultural, ao seu idioma e seus
valores, aos valores nacionais do país em que reside, aos do eventual país de origem, e aos das civilizações
diferentes da sua;

d) preparar a criança para assumir uma vida responsável numa sociedade livre, com espírito de
compreensão, paz, tolerância, igualdade de sexos e amizade entre todos os povos, grupos étnicos, nacionais
e religiosos e pessoas de origem indígena;

e) imbuir na criança o respeito ao meio ambiente.

2. Nada do disposto no presente artigo ou no Artigo 28 será interpretado de modo a restringir a liberdade
dos indivíduos ou das entidades de criar e dirigir instituições de ensino, desde que sejam respeitados os
princípios enunciados no parágrafo 1 do presente artigo e que a educação ministrada em tais instituições esteja
acorde com os padrões mínimos estabelecidos pelo Estado.

Artigo 30

Nos Estados Partes onde existam minorias étnicas, religiosas ou lingüísticas, ou pessoas de origem
indígena, não será negado a uma criança que pertença a tais minorias ou que seja indígena o direito de, em
comunidade com os demais membros de seu grupo, ter sua própria cultura, professar e praticar sua própria
religião ou utilizar seu próprio idioma.

Artigo 31

1. Os Estados Partes reconhecem o direito da criança ao descanso e ao lazer, ao divertimento e às


atividades recreativas próprias da idade, bem como à livre participação na vida cultural e artística.

2. Os Estados Partes respeitarão e promoverão o direito da criança de participar plenamente da vida


cultural e artística e encorajarão a criação de oportunidades adequadas, em condições de igualdade, para que
participem da vida cultural, artística, recreativa e de lazer.

Artigo 32

1. Os Estados Partes reconhecem o direito da criança de estar protegida contra a exploração econômica e
contra o desempenho de qualquer trabalho que possa ser perigoso ou interferir em sua educação, ou que seja
nocivo para sua saúde ou para seu desenvolvimento físico, mental, espiritual, moral ou social.

2. Os Estados Partes adotarão medidas legislativas, administrativas, sociais e educacionais com vistas a
assegurar a aplicação do presente artigo. Com tal propósito, e levando em consideração as disposições
pertinentes de outros instrumentos internacionais, os Estados Partes, deverão, em particular:

a) estabelecer uma idade ou idades mínimas para a admissão em empregos;

b) estabelecer regulamentação apropriada relativa a horários e condições de emprego;

c) estabelecer penalidades ou outras sanções apropriadas a fim de assegurar o cumprimento efetivo do


presente artigo.

Artigo 33

Os Estados Partes adotarão todas as medidas apropriadas, inclusive medidas legislativas, administrativas,
sociais e educacionais, para proteger a criança contra o uso ilícito de drogas e substâncias psicotrópicas
descritas nos tratados internacionais pertinentes e para impedir que crianças sejam utilizadas na produção e
no tráfico ilícito dessas substâncias.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 188

Artigo 34

Os Estados Partes se comprometem a proteger a criança contra todas as formas de exploração e abuso
sexual. Nesse sentido, os Estados Partes tomarão, em especial, todas as medidas de caráter nacional, bilateral
e multilateral que sejam necessárias para impedir:

a) o incentivo ou a coação para que uma criança se dedique a qualquer atividade sexual ilegal;

b) a exploração da criança na prostituição ou outras práticas sexuais ilegais;

c) a exploração da criança em espetáculos ou materiais pornográficos.

Artigo 35

Os Estados Partes tomarão todas as medidas de caráter nacional, bilateral e multilateral que sejam
necessárias para impedir o seqüestro, a venda ou o tráfico de crianças para qualquer fim ou sob qualquer
forma.

Artigo 36

Os Estados Partes protegerão a criança contra todas as demais formas de exploração que sejam
prejudiciais para qualquer aspecto de seu bem-estar.

Artigo 37

Os Estados Partes zelarão para que:

a) nenhuma criança seja submetida a tortura nem a outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou
degradantes. Não será imposta a pena de morte nem a prisão perpétua sem possibilidade de livramento por
delitos cometidos por menores de dezoito anos de idade;

b) nenhuma criança seja privada de sua liberdade de forma ilegal ou arbitrária. A detenção, a reclusão ou
a prisão de uma criança será efetuada em conformidade com a lei e apenas como último recurso, e durante o
mais breve período de tempo que for apropriado;

c) toda criança privada da liberdade seja tratada com a humanidade e o respeito que merece a dignidade
inerente à pessoa humana, e levando-se em consideração as necessidades de uma pessoa de sua idade. Em
especial, toda criança privada de sua liberdade ficará separada dos adultos, a não ser que tal fato seja
considerado contrário aos melhores interesses da criança, e terá direito a manter contato com sua família por
meio de correspondência ou de visitas, salvo em circunstâncias excepcionais;

d) toda criança privada de sua liberdade tenha direito a rápido acesso a assistência jurídica e a qualquer
outra assistência adequada, bem como direito a impugnar a legalidade da privação de sua liberdade perante
um tribunal ou outra autoridade competente, independente e imparcial e a uma rápida decisão a respeito de tal
ação.

Artigo 38

1. Os Estados Partes se comprometem a respeitar e a fazer com que sejam respeitadas as normas do
direito humanitário internacional aplicáveis em casos de conflito armado no que digam respeito às crianças.

2. Os Estados Partes adotarão todas as medidas possíveis a fim de assegurar que todas as pessoas que
ainda não tenham completado quinze anos de idade não participem diretamente de hostilidades.

3. Os Estados Partes abster-se-ão de recrutar pessoas que não tenham completado quinze anos de idade
para servir em suas forças armadas. Caso recrutem pessoas que tenham completado quinze anos, mas que
tenham menos de dezoito anos, deverão procurar dar prioridade aos de mais idade.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 189

4. Em conformidade com suas obrigações de acordo com o direito humanitário internacional para proteção
da população civil durante os conflitos armados, os Estados Partes adotarão todas as medidas necessárias a
fim de assegurar a proteção e o cuidado das crianças afetadas por um conflito armado.

Artigo 39

Os Estados Partes adotarão todas as medidas apropriadas para estimular a recuperação física e
psicológica e a reintegração social de toda criança vítima de qualquer forma de abandono, exploração ou abuso;
tortura ou outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes; ou conflitos armados. Essa
recuperação e reintegração serão efetuadas em ambiente que estimule a saúde, o respeito próprio e a
dignidade da criança.

Artigo 40

1. Os Estados Partes reconhecem o direito de toda criança a quem se alegue ter infringido as leis penais
ou a quem se acuse ou declare culpada de ter infringido as leis penais de ser tratada de modo a promover e
estimular seu sentido de dignidade e de valor e a fortalecer o respeito da criança pelos direitos humanos e
pelas liberdades fundamentais de terceiros, levando em consideração a idade da criança e a importância de se
estimular sua reintegração e seu desempenho construtivo na sociedade.

2. Nesse sentido, e de acordo com as disposições pertinentes dos instrumentos internacionais, os Estados
Partes assegurarão, em particular:

a) que não se alegue que nenhuma criança tenha infringido as leis penais, nem se acuse ou declare culpada
nenhuma criança de ter infringido essas leis, por atos ou omissões que não eram proibidos pela legislação
nacional ou pelo direito internacional no momento em que foram cometidos;

b) que toda criança de quem se alegue ter infringido as leis penais ou a quem se acuse de ter infringido
essas leis goze, pelo menos, das seguintes garantias:

I) ser considerada inocente enquanto não for comprovada sua culpabilidade conforme a lei;

II) ser informada sem demora e diretamente ou, quando for o caso, por intermédio de seus pais ou de seus
representantes legais, das acusações que pesam contra ela, e dispor de assistência jurídica ou outro tipo de
assistência apropriada para a preparação e apresentação de sua defesa;

III) ter a causa decidida sem demora por autoridade ou órgão judicial competente, independente e imparcial,
em audiência justa conforme a lei, com assistência jurídica ou outra assistência e, a não ser que seja
considerado contrário aos melhores interesses da criança, levando em consideração especialmente sua idade
ou situação e a de seus pais ou representantes legais;

IV) não ser obrigada a testemunhar ou a se declarar culpada, e poder interrogar ou fazer com que sejam
interrogadas as testemunhas de acusação bem como poder obter a participação e o interrogatório de
testemunhas em sua defesa, em igualdade de condições;

V) se for decidido que infringiu as leis penais, ter essa decisão e qualquer medida imposta em decorrência
da mesma submetidas a revisão por autoridade ou órgão judicial superior competente, independente e
imparcial, de acordo com a lei;

VI) contar com a assistência gratuita de um intérprete caso a criança não compreenda ou fale o idioma
utilizado;

VII) ter plenamente respeitada sua vida privada durante todas as fases do processo.

3. Os Estados Partes buscarão promover o estabelecimento de leis, procedimentos, autoridades e


instituições específicas para as crianças de quem se alegue ter infringido as leis penais ou que sejam acusadas
ou declaradas culpadas de tê-las infringido, e em particular:
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 190

a) o estabelecimento de uma idade mínima antes da qual se presumirá que a criança não tem capacidade
para infringir as leis penais;

b) a adoção sempre que conveniente e desejável, de medidas para tratar dessas crianças sem recorrer a
procedimentos judiciais, contando que sejam respeitados plenamente os direitos humanos e as garantias
legais.

4. Diversas medidas, tais como ordens de guarda, orientação e supervisão, aconselhamento, liberdade
vigiada, colocação em lares de adoção, programas de educação e formação profissional, bem como outras
alternativas à internação em instituições, deverão estar disponíveis para garantir que as crianças sejam tratadas
de modo apropriado ao seu bem-estar e de forma proporcional às circunstâncias e ao tipo do delito.

Artigo 41

Nada do estipulado na presente Convenção afetará disposições que sejam mais convenientes para a
realização dos direitos da criança e que podem constar:

a) das leis de um Estado Parte;

b) das normas de direito internacional vigentes para esse Estado.

PARTE II

Artigo 42

Os Estados Partes se comprometem a dar aos adultos e às crianças amplo conhecimento dos princípios e
disposições da convenção, mediante a utilização de meios apropriados e eficazes.

Artigo 43

1. A fim de examinar os progressos realizados no cumprimento das obrigações contraídas pelos Estados
Partes na presente convenção, deverá ser estabelecido um Comitê para os Direitos da Criança que
desempenhará as funções a seguir determinadas.

2. O comitê estará integrado por dez especialistas de reconhecida integridade moral e competência nas
áreas cobertas pela presente convenção. Os membros do comitê serão eleitos pelos Estados Partes dentre
seus nacionais e exercerão suas funções a título pessoal, tomando-se em devida conta a distribuição geográfica
eqüitativa bem como os principais sistemas jurídicos.

3. Os membros do comitê serão escolhidos, em votação secreta, de uma lista de pessoas indicadas pelos
Estados Partes. Cada Estado Parte poderá indicar uma pessoa dentre os cidadãos de seu país.

4. A eleição inicial para o comitê será realizada, no mais tardar, seis meses após a entrada em vigor da
presente convenção e, posteriormente, a cada dois anos. No mínimo quatro meses antes da data marcada
para cada eleição, o Secretário-Geral das Nações Unidas enviará uma carta aos Estados Partes convidando-
os a apresentar suas candidaturas num prazo de dois meses. O Secretário-Geral elaborará posteriormente
uma lista da qual farão parte, em ordem alfabética, todos os candidatos indicados e os Estados Partes que os
designaram, e submeterá a mesma aos Estados Partes presentes à Convenção.

5. As eleições serão realizadas em reuniões dos Estados Partes convocadas pelo Secretário-Geral na
Sede das Nações Unidas. Nessas reuniões, para as quais o quorum será de dois terços dos Estados Partes,
os candidatos eleitos para o comitê serão aqueles que obtiverem o maior número de votos e a maioria absoluta
de votos dos representantes dos Estados Partes presentes e votantes.

6. Os membros do comitê serão eleitos para um mandato de quatro anos. Poderão ser reeleitos caso sejam
apresentadas novamente suas candidaturas. O mandato de cinco dos membros eleitos na primeira eleição
expirará ao término de dois anos; imediatamente após ter sido realizada a primeira eleição, o presidente da
reunião na qual a mesma se efetuou escolherá por sorteio os nomes desses cinco membros.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 191

7. Caso um membro do comitê venha a falecer ou renuncie ou declare que por qualquer outro motivo não
poderá continuar desempenhando suas funções, o Estado Parte que indicou esse membro designará outro
especialista, dentre seus cidadãos, para que exerça o mandato até seu término, sujeito à aprovação do comitê.

8. O comitê estabelecerá suas próprias regras de procedimento.

9. O comitê elegerá a mesa para um período de dois anos.

10. As reuniões do comitê serão celebradas normalmente na sede das Nações Unidas ou em qualquer
outro lugar que o comitê julgar conveniente. O comitê se reunirá normalmente todos os anos. A duração das
reuniões do comitê será determinada e revista, se for o caso, em uma reunião dos Estados Partes da presente
convenção, sujeita à aprovação da Assembléia Geral.

11. O Secretário-Geral das Nações Unidas fornecerá o pessoal e os serviços necessários para o
desempenho eficaz das funções do comitê de acordo com a presente convenção.

12. Com prévia aprovação da Assembléia Geral, os membros do Comitê estabelecido de acordo com a
presente convenção receberão emolumentos provenientes dos recursos das Nações Unidas, segundo os
termos e condições determinados pela assembléia.

Artigo 44

1. Os Estados Partes se comprometem a apresentar ao comitê, por intermédio do Secretário-Geral das


Nações Unidas, relatórios sobre as medidas que tenham adotado com vistas a tornar efetivos os direitos
reconhecidos na convenção e sobre os progressos alcançados no desempenho desses direitos:

a) num prazo de dois anos a partir da data em que entrou em vigor para cada Estado Parte a presente
convenção;

b) a partir de então, a cada cinco anos.

2. Os relatórios preparados em função do presente artigo deverão indicar as circunstâncias e as


dificuldades, caso existam, que afetam o grau de cumprimento das obrigações derivadas da presente
convenção. Deverão, também, conter informações suficientes para que o comitê compreenda, com exatidão, a
implementação da convenção no país em questão.

3. Um Estado Parte que tenha apresentado um relatório inicial ao comitê não precisará repetir, nos
relatórios posteriores a serem apresentados conforme o estipulado no sub-item b) do parágrafo 1 do presente
artigo, a informação básica fornecida anteriormente.

4. O comitê poderá solicitar aos Estados Partes maiores informações sobre a implementação da
convenção.

5. A cada dois anos, o comitê submeterá relatórios sobre suas atividades à Assembléia Geral das Nações
Unidas, por intermédio do Conselho Econômico e Social.

6. Os Estados Partes tornarão seus relatórios amplamente disponíveis ao público em seus respectivos
países.

Artigo 45

A fim de incentivar a efetiva implementação da Convenção e estimular a cooperação internacional nas


esferas regulamentadas pela convenção:

a) os organismos especializados, o Fundo das Nações Unidas para a Infância e outros órgãos das Nações
Unidas terão o direito de estar representados quando for analisada a implementação das disposições da
presente convenção que estejam compreendidas no âmbito de seus mandatos. O comitê poderá convidar as
agências especializadas, o Fundo das Nações Unidas para a Infância e outros órgãos competentes que
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 192

considere apropriados a fornecer assessoramento especializado sobre a implementação da Convenção em


matérias correspondentes a seus respectivos mandatos. O comitê poderá convidar as agências especializadas,
o Fundo das Nações Unidas para Infância e outros órgãos das Nações Unidas a apresentarem relatórios sobre
a implementação das disposições da presente convenção compreendidas no âmbito de suas atividades;

b) conforme julgar conveniente, o comitê transmitirá às agências especializadas, ao Fundo das Nações
Unidas para a Infância e a outros órgãos competentes quaisquer relatórios dos Estados Partes que contenham
um pedido de assessoramento ou de assistência técnica, ou nos quais se indique essa necessidade,
juntamente com as observações e sugestões do comitê, se as houver, sobre esses pedidos ou indicações;

c) comitê poderá recomendar à Assembléia Geral que solicite ao Secretário-Geral que efetue, em seu
nome, estudos sobre questões concretas relativas aos direitos da criança;

d) o comitê poderá formular sugestões e recomendações gerais com base nas informações recebidas nos
termos dos Artigos 44 e 45 da presente convenção. Essas sugestões e recomendações gerais deverão ser
transmitidas aos Estados Partes e encaminhadas à Assembléia geral, juntamente com os comentários
eventualmente apresentados pelos Estados Partes.

PARTE III

Artigo 46

A presente convenção está aberta à assinatura de todos os Estados.

Artigo 47

A presente convenção está sujeita à ratificação. Os instrumentos de ratificação serão depositados junto ao
Secretário-Geral das Nações Unidas.

Artigo 48

A presente convenção permanecerá aberta à adesão de qualquer Estado. Os instrumentos de adesão


serão depositados junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas.

Artigo 49

1. A presente convenção entrará em vigor no trigésimo dia após a data em que tenha sido depositado o
vigésimo instrumento de ratificação ou de adesão junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas.

2. Para cada Estado que venha a ratificar a convenção ou a aderir a ela após ter sido depositado o vigésimo
instrumento de ratificação ou de adesão, a convenção entrará em vigor no trigésimo dia após o depósito, por
parte do Estado, de seu instrumento de ratificação ou de adesão.

Artigo 50

1. Qualquer Estado Parte poderá propor uma emenda e registrá-la com o Secretário-Geral das Nações
Unidas. O Secretário-Geral comunicará a emenda proposta aos Estados Partes, com a solicitação de que estes
o notifiquem caso apoiem a convocação de uma Conferência de Estados Partes com o propósito de analisar
as propostas e submetê-las à votação. Se, num prazo de quatro meses a partir da data dessa notificação, pelo
menos um terço dos Estados Partes se declarar favorável a tal Conferência, o Secretário-Geral convocará
conferência, sob os auspícios das Nações Unidas. Qualquer emenda adotada pela maioria de Estados Partes
presentes e votantes na conferência será submetida pelo Secretário-Geral à Assembléia Geral para sua
aprovação.

2. Uma emenda adotada em conformidade com o parágrafo 1 do presente artigo entrará em vigor quando
aprovada pela Assembléia Geral das Nações Unidas e aceita por uma maioria de dois terços de Estados Partes.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 193

3. Quando uma emenda entrar em vigor, ela será obrigatória para os Estados Partes que as tenham aceito,
enquanto os demais Estados Partes permanecerão obrigados pelas disposições da presente convenção e
pelas emendas anteriormente aceitas por eles.

Artigo 51

1. O Secretário-Geral das Nações Unidas receberá e comunicará a todos os Estados Partes o texto das
reservas feitas pelos Estados no momento da ratificação ou da adesão.

2. Não será permitida nenhuma reserva incompatível com o objetivo e o propósito da presente convenção.

3. Quaisquer reservas poderão ser retiradas a qualquer momento mediante uma notificação nesse sentido
dirigida ao Secretário-Geral das Nações Unidas, que informará a todos os Estados. Essa notificação entrará
em vigor a partir da data de recebimento da mesma pelo Secretário-Geral.

Artigo 52

Um Estado Parte poderá denunciar a presente convenção mediante notificação feita por escrito ao
Secretário-Geral das Nações Unidas. A denúncia entrará em vigor um ano após a data em que a notificação
tenha sido recebida pelo Secretário-Geral.

Artigo 53

Designa-se para depositário da presente convenção o Secretário-Geral das Nações Unidas.

Artigo 54

O original da presente convenção, cujos textos em árabe chinês, espanhol, francês, inglês e russo são
igualmente autênticos, será depositado em poder do Secretário-Geral das Nações Unidas.

Em fé do que, os plenipotenciários abaixo assinados, devidamente autorizados por seus respectivos


Governos, assinaram a presente Convenção.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 194

2.11 CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA PREVENIR, PUNIR E ERRADICAR A VIOLÊNCIA


CONTRA A MULHER (CONVENÇÃO DE BELÉM DO PARÁ – DE 09 E JUNHO DE 1994
(DECRETO Nº 1.973/1996)

DECRETO Nº 1.973, DE 1º DE AGOSTO DE 1996.

Promulga a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher,
concluída em Belém do Pará, em 9 de junho de 1994.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , no uso das atribuições que lhe confere o Art. 84, inciso VIII, da
Constituição, e

Considerando que a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a
Mulher, foi concluída em Belém do Pará, em 9 de junho de 1994;

Considerando que a Convenção ora promulgada foi oportunamente submetida ao Congresso Nacional,
que a aprovou por meio do Decreto Legislativo nº 107, de 31 de agosto de 1995;

Considerando que a Convenção em tela entrou em vigor internacional em 3 de março de 1995;

Considerando que o Governo brasileiro depositou a Carta de Ratificação do instrumento multilateral em


epígrafe em 27 de novembro de 1995, passando o mesmo a vigorar, para o Brasil, em 27 de dezembro de
1995, na forma de seu artigo 21,

DECRETA:

Art. 1º A Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, concluída
em Belém do Pará, em 9 de junho de 1994, apensa por cópia ao presente Decreto, deverá ser executada e
cumprida tão inteiramente como nela se contém.

Art. 2º O presente Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 1º de agosto de 1996; 175º da Independência e 108º da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO


Luiz Felipe Lampreia

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 2.8.1996

ANEXO AO DECRETO QUE PROMULGA A CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA PREVENIR,PUNIR E


ERRADICAR A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER “C0NVENÇÃ0 DE BELÉM DO PARÁ”/MRE.

CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA PREVENIR, PUNIR E ERRADICAR A


VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

"CONVENÇÃO DE BELÉM DO PARÁ"

Os Estados Partes nesta Convenção,

Reconhecendo que o respeito irrestrito aos direitos humanos foi consagrado na Declaração Americana
dos Direitos e Deveres do Homem e na Declaração Universal dos Direitos Humanos e reafirmado em outros
instrumentos internacionais e regionais,
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 195

Afirmando que a violência contra a mulher constitui violação dos direitos humanos e liberdades
fundamentais e limita todas ou parcialmente a observância, gozo e exercício de tais direitos e liberdades;

Preocupados por que a violência contra a mulher constitui ofensa Contra a dignidade humana e é
manifestação das relações de poder historicamente desiguais entre mulheres e homens;

Recordando a Declaração para a Erradicação da Violência contra a Mulher, aprovada na Vigésima Quinta
Assembléia de Delegadas da Comissão Interamericana de Mulheres, e afirmando que a violência contra a
mulher permeia todos os setores da sociedade, independentemente de classe, raça ou grupo étnico, renda,
cultura, idade ou religião, e afeta negativamente suas próprias bases;

Convencidos de que a eliminação da violência contra a mulher é condição indispensável para seu
desenvolvimento individual e social e sua plena e igualitária participação cm todas as esferas devida; e

Convencidos de que a adoção de uma convenção para prevenir, punir e erradicar todas as formas de
violência contra a mulher, no âmbito da Organização dos Estados Americanos, constitui positiva contribuição
no sentido de protegeres direitos da mulher e eliminar as situações de violência contra ela,

Convieram no seguinte:

Capítulo 1

Definição e Âmbito de Aplicação

Artigo 1

Para os efeitos desta Convenção, entender-se-á por violência contra a mulher qualquer ato ou conduta
baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera
pública como na esfera privada.

Artigo 2

Entende-se que a violência contra a mulher abrange a violência física, sexual e psicológica.

a) ocorrida no âmbito da família ou unidade doméstica ou em qualquer relação interpessoal, quer o


agressor compartilhe, tenha compartilhado ou não a sua residência, incluindo-se, entre outras turmas, o
estupro, maus-tratos e abuso sexual;

b) ocorrida na comunidade e comedida por qualquer pessoa, incluindo, entre outras formas, o estupro,
abuso sexual, tortura, tráfico de mulheres, prostituição forçada, seqüestro e assédio sexual no local de trabalho,
bem como em instituições educacionais, serviços de saúde ou qualquer outro local; e

c) perpetrada ou tolerada pelo Estado ou seus agentes, onde quer que ocorra.

Capítulo II

Direitos Protegidos

Artigo 3

Toda mulher tem direito a uma vida livre de violência, tanto na esfera pública como na esfera privada.

Artigo 4

Toda mulher tem direito ao reconhecimento, desfrute, exercício e proteção de todos os direitos humanos
e liberdades consagrados em todos os instrumentos regionais e internacionais relativos aos direitos humanos.
Estes direitos abrangem, entre outros:
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 196

a) direito a que se respeite sua vida;

b) direitos a que se respeite sua integridade física, mental e moral;

c) direito à liberdade e à segurança pessoais;

d) direito a não ser submetida a tortura;

e) direito a que se respeite a dignidade inerente à sua pessoa e a que se proteja sua família;

f) direito a igual proteção perante a lei e da lei;

g) direito a recesso simples e rápido perante tribunal competente que a proteja contra atos que violem
seus direitos;

h) direito de livre associação;

i) direito à liberdade de professar a própria religião e as próprias crenças, de acordo com a lei; e

j) direito a ter igualdade de acesso às funções públicas de seu pais e a participar nos assuntos públicos,
inclusive na tomada de decisões.

Artigo 5

Toda mulher poderá exercer livre e plenamente seus direitos civis, políticos, econômicos, sociais e
culturais, e contará com a total proteção desses direitos consagrados nos instrumentos regionais e
internacionais sobre direitos humano. Os Estados Partes reconhecem que a violência contra a mulher impede
e anula o exercício desses direitos.

Artigo 6

O direito de toda mulher a ser livre de violência abrange, entre outros:

a) o direito da mulher a ser livre de todas as formas de discriminação; e

b) o direito da mulher a ser valorizada e educada livre de padrões estereotipados de comportamento de


comportamento e costumes sociais e culturais baseados em conceitos de inferioridade ou subordinação.

Capítulo III

Deveres dos Estados

Artigo 7

Os Estados Partes condenam todas as formas de violência contra a mulher e convêm em adotar, por
todos os meios apropriados e sem demora, políticas destinadas a prevenir, punir e erradicar tal violência e a
empenhar-se em:

a) abster-se de qualquer ato ou prática de violência contra a mulher e velar por que as autoridades, seus
funcionários e pessoal, bem como agentes e instituições públicos ajam de conformidade com essa obrigação;

b) agir com o devido zelo para prevenir, investigar e punira violência contra a mulher;

c) incorporar na sua legislação interna normas penais, civis, administrativas e de outra natureza, que
sejam necessárias para prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher, bem como adotar as medidas
administrativas adequadas que forem aplicáveis;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 197

d) adotar medidas jurídicas que exijam do agressor que se abstenha de perseguir, intimidar e ameaçar a
mulher ou de fazer uso de qualquer método que danifique ou ponha em perigo sua vida ou integridade ou
danifique sua propriedade;

e) tomar todas as medidas adequadas, inclusive legislativas, para modificar ou abolir leis e regulamentos
vigentes ou modificar práticas jurídicas ou consuetudinárias que respaldem a persistência e a tolerância da
violência contra a mulher;

f) estabelecer procedimentos jurídicos justos e eficazes para a mulher sujeitada a violência, inclusive,
entre outros, medidas de proteção, juízo oportuno e efetivo acesso a tais processos;

g) estabelecer mecanismos judiciais e administrativos necessários para assegurar que a mulher sujeitada
a violência tenha efetivo acesso a restituição, reparação do dano e outros meios de compensação justos e
eficazes;

h) adotar as medidas legislativas ou de outra natureza necessárias à vigência desta Convenção.

Artigo 8

Os Estados Partes convêm em adotar, progressivamente, medidas especificas, inclusive programas


destinados a:

a) promover o conhecimento e a observância do direito da mulher a unia vida livre de violência e o direito
da mulher a que se respeitem e protejam teus direitos humanos;

b) modificar os padrões sociais e culturais de conduta de homens e mulheres, inclusive a formulação de


programas formais e não formais adequados a todos os níveis do processo educacional, a fim de combater
preconceitos e costumes e todas as outras práticas baseadas na premissa da inferioridade ou superioridade
de qualquer dos gêneros ou nos papéis estereotipados para o homem e a mulher, que legitimem ou exacerbem
a violência contra a mulher;

e) promover a educação e treinamento de todo pessoal judiciário e policial e demais funcionários


responsáveis pela aplicação da lei, bem como do pessoal encarregado da implementação de políticas de
prevenção, punição e erradicação da violência contra a mulher;

d) prestar serviços especializados apropriados a mulher sujeitada a violência, por intermédio de entidades
dos setores público e privado, inclusive abrigos, serviços de orientação familiar, quando for o caso, e
atendimento e custódia dos menores afetados;

e) promover e apoiar programas de educação governamentais é privados, destinados a conscientizar o


público para os problemas da violência contra a mulher, recursos jurídicos e reparação relacionados com essa
violência;

f) proporcionar à mulher sujeita a violência acesso a programas eficazes de recuperação e treinamento


que lhe permitam participar plenamente da vida pública, privada e social;

g) incentivar os meios de comunicação a que formulem diretrizes adequadas, de divulgação que


contribuam para a erradicação da violência contra a mulher em todas as suas formas e enalteçam o respeito
pela dignidade da mulher;

h) assegurar a pesquisa e coleta de estatísticas e outras informações relevantes concernentes às causas,


conseqüências o freqüência da violência contra a mulher, a fim de avaliar a eficiência das medidas tomadas
para prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher, bem como formular e implementar as mudanças
necessárias; e

i) promover a cooperação internacional para o intercâmbio de idéias e experiências, bem cosmo a


execução de programas destinados à proteção da mulher sujeitada a violência.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 198

Artigo 9

Para a adoção das medidas a que se refere este capítulo, os Estados Partes levarão especialmente em
conta a situação da mulher vulnerável a violência por sua raça, origem étnica ou condição de migrante, de
refugiada ou de deslocada, entre outros motivos. Também será considerada violência a mulher gestante,
deficiente, menor, idosa ou em situação sócio-econômica desfavorável, afetada por situações de conflito
armado ou de privação da liberdade.

Artigo 10

A fim de proteger o direito de toda mulher a uma vida livre de violência, os Estados Partes deverão incluir
nos relatórios nacionais à Comissão Interamericana de Mulheres informações sobre as medidas adotadas para
prevenir e erradicar a violência contra a mulher, para prestar assistência à mulher afetada pela violência, bem
como sobre as dificuldades que observarem na aplicação das mesmas e os fatores que contribuam para a
violência contra a mulher.

Artigo 11

Os Estados Pastes nesta Convenção e a Comissão Interamericana de Mulheres poderão solicitar à


Corte Interamericana de Direitos Humanos parecer sobre a interpretação desta Convenção.

Artigo 12

Qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou qualquer entidade não-governamental juridicamente


reconhecida em um ou mais Estados membros da Organização, poderá apresentar à Comissão Interamericana
de Direitos Humanos petições referentes a denúncias ou queixas de violação do Artigo 7 desta Convenção por
um Estado Parte, devendo a Comissão considerar tais petições de acordo com as normas e procedimentos
estabelecidos na Convenção Americana sobre Direitos Humanos e no Estatuto e Regulamento da Comissão
Interamericana de Direitos Humanos, para a apresentação e consideração de petições.

Capitulo V

Disposições Gerais

Artigo 13

Nenhuma das disposições desta Convenção poderá ser interpretada no sentido de restringir ou limitar a
legislação interna dos Estados Partes que ofereçam proteções e garantias iguais ou maiores para os direitos
da mulher, bem como salvaguardas para prevenir e erradicar a violência contra a mulher.

Artigo 14

Nenhuma das disposições desta Convenção poderá ser interpretada no sentido de restringir ou limitar
as da Convenção Americana sobre Direitos Humanos ou de qualquer outra convenção internacional que
ofereça proteção igual ou maior nesta matéria.

Artigo 15

Esta Convenção fica aberta à assinatura de todos os Estados membros da Organização dos Estados
Americanos.

Artigo 16

Esta Convenção está sujeita a ratificação. Os instrumentos de ratificação serão depositados na Secretaria-
Geral da Organização dos Estados Americanos.

Artigo 17
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 199

Esta Convenção fica aberta á adesão de qualquer Outro Estado. Os instrumentos de adesão serão
depositados na Serctaria-Geral da Organização dos Estados Americanos.

Artigo 18

Os Estados poderio formular reservas a esta Convenção no momento de aprová-la, assiná-la, ratificá-la
ou a ela aderir, desde que tais reservas:

a) não sejam incompatíveis com o objetivo e propósito da Convenção;

b) não sejam de caráter geral e se refiram especificamente a uma ou mais de suas disposições.

Artigo 19

Qualquer Estado Parte poderá apresentar à Assembléia Geral, por intermédio da Comissão
Interamericana de Mulheres, propostas de emenda a esta Convenção.

As emendas entrarão em vigor para os Estados ratificantes das mesmas na data em que dois terços dos
Estados Partes tenham depositado seus respectivos instrumentos de ratificação. Para os demais Estados
Partes, entrarão cm vigor na data em que depositarem seus respectivos instrumentos de ratificação.

Artigo 20

Os Estados Partes que tenham duas ou mais unidades territoriais cm que vigorem sistemas jurídicos
diferentes relacionados com as questões de que trata esta Convenção poderão declarar, no momento de
assiná-la, de ratificá-la ou de a ela aderir, que a Convenção se aplicará a todas as suas unidades territoriais ou
somente a uma ou mais delas.

Tal declaração poderá ser modificada, em qualquer momento, mediante declarações ulteriores, que
indicarão expressamente a unidade ou as unidades territoriais a que se aplicará esta Convenção. Essas
declarações ulteriores serão transmitidas à Secretaria-Geral da Organização dos Estados Americanos e
entrarão em vigor trinta dias depois de recebidas.

Artigo 21

Esta Convenção entrará em vigor no trigésimo dia a partir da data em que for depositado o segundo
instrumento de ratificação. Para cada Estado que ratificar a Convenção ou a ela aderir após haver sido
depositado o segundo instrumento de ratificação, entrará cm vigor no trigésimo dia a partir da data em que esse
Estado houver depositado seu instrumento de ratificação ou adesão.

Artigo 22

O Secretário-Geral informará a todos os Estados membros da Organização dos Estados Americanos a


entrada em vigor da Convenção.

Artigo 23

O Secretário-Geral da Organização dos Estados Americanos apresentará um relatório anual aos Estados
membros da Organização sobre a situação desta Convenção, inclusive sobre as assinaturas e depósitos de
instrumentos de ratificação, adesão e declaração, bem como sobre as reservas que os Estados Partes tiverem
apresentado e, conforme o caso, um relatório sobre as mesmas.

Artigo 24

Esta Convenção vigorará por prazo indefinido, mau qualquer Estado Parte poderá denunciá-la mediante
o depósito na Secretaria-Geral da Organização dos Estados Americanos de instrumento que tenha essa
finalidade. Um ano após a data do depósito do instrumento de denúncia, cessarão os efeitos da Convenção
para o Estado denunciante, mas subsistirão para os demais Estados Partes.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 200

Artigo 25

O instrumento original desta Convenção, cujos textos em português espanhol, francês e inglês são
igualmente autênticos, será depositado na Secretaria-Geral da Organização dos Estados Americanos, que
enviará cópia autenticada do seu texto à Secretaria das Nações Unidas para registro e publicação, de acordo
com o artigo 102 da Carta das Nações Unidas.

Em fé do que os Plenipotenciários infra-assinados, devidamente autorizados por seus respectivos


Governos, assinam esta Convenção, que se denominará Convenção Interamericana para Prevenir. Punir e
Erradicar a Violência contra a Mulher "Convenção de Belém do Pará".

Expedida na Cidade de Belém do Pará, Brasil, no dia nove de junho de mil novecentos e noventa e quatro.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 201

2.12 PROTOCOLO FACULTATIVO À CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DA


CRIANÇA REFERENTE À VENDA DE CRIANÇAS, À PROSTITUIÇÃO
INFANTIL E À PORNOGRAFIA INFANTIL – 2000 (DECRETO Nº 5007/2004)

DECRETO Nº 5.007, DE 8 DE MARÇO DE 2004.


Promulga o Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da Criança referente à venda de crianças, à prostituição infantil e à
pornografia infantil.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV, da
Constituição, e

Considerando que o Congresso Nacional aprovou, por meio do Decreto Legislativo nº 230, de 29 de maio
de 2003, o texto do Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da Criança referente à venda de
crianças, à prostituição infantil e à pornografia infantil, adotado em Nova York em 25 de maio de 2000;

Considerando que o Governo brasileiro depositou o instrumento de ratificação junto à Secretaria-Geral da


ONU em 27 de janeiro de 2004;

Considerando que o Protocolo entrou em vigor internacional em 18 de janeiro de 2002, e entrou em vigor
para o Brasil em 27 de fevereiro de 2004;

DECRETA:

Art. 1º O Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da Criança referente à venda de crianças,
à prostituição infantil e à pornografia infantil, adotado em Nova York em 25 de maio de 2000, apenso por cópia
ao presente Decreto, será executado e cumprido tão inteiramente como nele se contém.

Art. 2º São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional quaisquer atos que possam resultar em revisão
do referido Protocolo ou que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional, nos
termos do art. 49, inciso I, da Constituição.

Art. 3º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 8 de março de 2004; 183º da Independência e 116º da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Celso Luiz Nunes Amorim

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 9.3.2004

PROTOCOLO FACULTATIVO À CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA REFERENTE À


VENDA DE CRIANÇAS, À PROSTITUIÇÃO INFANTIL E À PORNOGRAFIA INFANTIL

Os Estados Partes do presente Protocolo,

Considerando que, a fim de alcançar os propósitos da Convenção sobre os Direitos da Criança e a


implementação de suas disposições, especialmente dos Artigos 1, 11, 21, 32, 33, 34, 35 e 36, seria apropriado
ampliar as medidas a serem adotadas pelos Estados Partes, a fim de garantir a proteção da criança contra a
venda de crianças, a prostituição infantil e a pornografia infantil,
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 202

Considerando também que a Convenção sobre os Direitos da Criança reconhece o direito da criança de estar
protegida contra a exploração econômica e contra o desempenho de qualquer trabalho que possa ser perigoso
para a criança ou interferir em sua educação, ou ser prejudicial à saúde da criança ou ao seu desenvolvimento
físico, mental, espiritual, moral ou social,

Seriamente preocupados com o significativo e crescente tráfico internacional de crianças para fins de venda de
crianças, prostituição infantil e pornografia infantil,

Profundamente preocupados com a prática disseminada e continuada do turismo sexual, ao qual as crianças
são particularmente vulneráveis, uma vez que promove diretamente a venda de crianças, a prostituição infantil
e a pornografia infantil,

Reconhecendo que uma série de grupos particularmente vulneráveis, inclusive meninas, estão mais expostos
ao risco de exploração sexual, e que as meninas estão representadas de forma desproporcional entre os
sexualmente explorados,

Preocupados com a crescente disponibilidade de pornografia infantil na Internet e em outras tecnologias


modernas, e relembrando a Conferência Internacional sobre o Combate à Pornografia Infantil na Internet
(Viena, 1999) e, em particular, sua conclusão, que demanda a criminalização em todo o mundo da produção,
distribuição, exportação, transmissão, importação, posse intencional e propaganda de pornografia infantil, e
enfatizando a importância de cooperação e parceria mais estreita entre governos e a indústria da Internet,

Acreditando que a eliminação da venda de crianças, da prostituição infantil e da pornografia será facilitada pela
adoção de uma abordagem holística que leve em conta os fatores que contribuem para a sua ocorrência,
inclusive o subdesenvolvimento, a pobreza, as disparidades econômicas, a estrutura sócio-econômica desigual,
as famílias com disfunções, a ausência de educação, a migração do campo para a cidade, a discriminação
sexual, o comportamento sexual adulto irresponsável, as práticas tradicionais prejudiciais, os conflitos armados
e o tráfico de crianças,

Acreditando na necessidade de esforços de conscientização pública para reduzir a demanda de consumo


relativa à venda de crianças, prostituição infantil e pornografia infantil, e acreditando, também, na importância
do fortalecimento da parceria global entre todos os atores, bem como da melhoria do cumprimento da lei no
nível nacional,

Tomando nota das disposições de instrumentos jurídicos internacionais relevantes para a proteção de crianças,
inclusive a Convenção da Haia sobre a Proteção de Crianças e Cooperação no que se Refere à Adoção
Internacional; a Convenção da Haia sobre os Aspectos Civis do Seqüestro Internacional de Crianças; a
Convenção da Haia sobre Jurisdição, Direito Aplicável, Reconhecimento, Execução e Cooperação Referente à
Responsabilidade dos Pais; e a Convenção nº 182 da Organização Internacional do Trabalho sobre a Proibição
das Piores Formas de Trabalho Infantil e a Ação Imediata para sua Eliminação,

Encorajados pelo imenso apoio à Convenção sobre os Direitos da Criança, que demonstra o amplo
compromisso existente com a promoção e proteção dos direitos da criança,

Reconhecendo a importância da implementação das disposições do Programa de Ação para a Prevenção da


Venda de Crianças, da Prostituição Infantil e da Pornografia Infantil e a Declaração e Agenda de Ação adotada
no Congresso Mundial contra a Exploração Comercial Sexual de Crianças, realizada em Estocolmo, de 27 a
31 de agosto de 1996, bem como outras decisões e recomendações relevantes emanadas de órgãos
internacionais pertinentes,

Tendo na devida conta a importância das tradições e dos valores culturais de cada povo para a proteção e o
desenvolvimento harmonioso da criança,

Acordaram o que segue:

ARTIGO 1º
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 203

Os Estados Partes proibirão a venda de crianças, a prostituição infantil e a pornografia infantil, conforme
disposto no presente Protocolo.

ARTIGO 2º

Para os propósitos do presente Protocolo:

a) Venda de crianças significa qualquer ato ou transação pela qual uma criança é transferida por qualquer
pessoa ou grupo de pessoas a outra pessoa ou grupo de pessoas, em troca de remuneração ou qualquer outra
forma de compensação;

b) Prostituição infantil significa o uso de uma criança em atividades sexuais em troca de remuneração ou
qualquer outra forma de compensação;

c) Pornografia infantil significa qualquer representação, por qualquer meio, de uma criança envolvida em
atividades sexuais explícitas reais ou simuladas, ou qualquer representação dos órgãos sexuais de uma criança
para fins primordialmente sexuais.

ARTIGO 3º

1. Os Estados Partes assegurarão que, no mínimo, os seguintes atos e atividades sejam integralmente cobertos
por suas legislações criminal ou penal, quer os delitos sejam cometidos dentro ou fora de suas fronteiras, de
forma individual ou organizada:

a) No contexto da venda de crianças, conforme definido no Artigo 2º;

(i) A oferta, entrega ou aceitação, por qualquer meio, de uma criança para fins de:

a. Exploração sexual de crianças;

b. Transplante de orgãos da criança com fins lucrativos;

c. Envolvimento da criança em trabalho forçado.

(ii). A indução indevida ao consentimento, na qualidade de intermediário, para adoção de uma criança em
violação dos instrumentos jurídicos internacionais aplicáveis sobre adoção;

b) A oferta, obtenção, aquisição, aliciamento ou o fornecimento de uma criança para fins de prostituição infantil,
conforme definido no Artigo 2º;

c) A produção, distribuição, disseminação, importação, exportação, oferta, venda ou posse, para os fins acima
mencionados, de pornografia infantil, conforme definido no Artigo 2º.

2. Em conformidade com as disposições da legislação nacional de um Estado Parte, o mesmo aplicar-se-á a


qualquer tentativa de perpetrar qualquer desses atos e à cumplicidade ou participação em qualquer desses
atos.

3. Os Estados Partes punirão esses delitos com penas apropriadas que levem em consideração a sua
gravidade.

4. Em conformidade com as disposições de sua legislação nacional, os Estados Partes adotarão medidas,
quando apropriado, para determinar a responsabilidade legal de pessoas jurídicas pelos delitos definidos no
parágrafo 1 do presente Artigo. Em conformidade com os princípios jurídicos do Estado Parte, essa
responsabilidade de pessoas jurídicas poderá ser de natureza criminal, civil ou administrativa.

5. Os Estados Partes adotarão todas as medidas legais e administrativas apropriadas para assegurar que todas
as pessoas envolvidas na adoção de uma criança ajam em conformidade com os instrumentos jurídicos
internacionais aplicáveis.

ARTIGO 4º
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 204

1. Cada Estado Parte adotará as medidas necessárias para estabelecer sua jurisdição sobre os delitos a que
se refere o Artigo 3º, parágrafo 1, quando os delitos forem cometidos em seu território ou a bordo de
embarcação ou aeronave registrada naquele Estado.

2. Cada Estado Parte poderá adotar as medidas necessárias para estabelecer sua jurisdição sobre os delitos
a que se refere o Artigo 3º, parágrafo 1, nos seguintes casos:

a) Quando o criminoso presumido for um cidadão daquele Estado ou uma pessoa que mantém residência
habitual em seu território;

b) Quando a vítima for um cidadão daquele Estado.

3. Cada Estado Parte adotará, também, as medidas necessárias para estabelecer sua jurisdição sobre os
delitos acima mencionados quando o criminoso presumido estiver presente em seu território e não for
extraditado para outro Estado Parte pelo fato de o delito haver sido cometido por um de seus cidadãos.

4. O presente Protocolo não exclui qualquer jurisdição criminal exercida em conformidade com a legislação
interna.

ARTIGO 5º

1. Os delitos a que se refere o Artigo 3º, parágrafo 1, serão considerados delitos passíveis de extradição em
qualquer tratado de extradição existentes entre Estados Partes, e incluídos como delitos passíveis de
extradição em todo tratado de extradição subseqüentemente celebrado entre os mesmos, em conformidade
com as condições estabelecidas nos referidos tratados.

2. Se um Estado Parte que condiciona a extradição à existência de um tratado receber solicitação de extradição
de outro Estado Parte com o qual não mantém tratado de extradição, poderá adotar o presente Protocolo como
base jurídica para a extradição no que se refere a tais delitos. A extradição estará sujeita às condições previstas
na legislação do Estado demandado.

3. Os Estados Partes que não condicionam a extradição à existência de um tratado reconhecerão os referidos
delitos como delitos passíveis de extradição entre si, em conformidade com as condições estabelecidas na
legislação do Estado demandado.

4. Para fins de extradição entre Estados Partes, os referidos delitos serão considerados como se cometidos
não apenas no local onde ocorreram, mas também nos territórios dos Estados obrigados a estabelecer sua
jurisdição em conformidade com o Artigo 4º.

5. Se um pedido de extradição for feito com referência a um dos delitos descritos no Artigo 3º, parágrafo 1, e
se o Estado Parte demandado não conceder a extradição ou recusar-se a conceder a extradição com base na
nacionalidade do autor do delito, este Estado adotará as medidas apropriadas para submeter o caso às suas
autoridades competentes, com vistas à instauração de processo penal.

ARTIGO 6º

1. Os Estados Partes prestar-se-ão mutuamente toda a assistência possível no que se refere a investigações
ou processos criminais ou de extradição instaurados com relação aos delitos descritos no Artigo 3º, parágrafo
1. Inclusive assistência na obtenção de provas à sua disposição e necessárias para a condução dos processos.

2. Os Estados Partes cumprirão as obrigações assumidas em função do parágrafo 1 do presente Artigo, em


conformidade com quaisquer tratados ou outros acordos sobre assistência jurídica mútua que porventura
existam entre os mesmos. Na ausência de tais tratados ou acordos, os Estados Partes prestar-se-ão
assistência mútua em conformidade com sua legislação nacional.

ARTIGO 7º

Os Estados Partes, em conformidade com as disposições de sua legislação nacional:


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 205

a) adotarão medidas para permitir o seqüestro e confisco, conforme o caso, de:

(i) bens tais como materiais, ativos e outros meios utilizados para cometer ou facilitar o cometimento dos delitos
definidos no presente Protocolo;

(ii) rendas decorrentes do cometimento desses delitos.

b) atenderão às solicitações de outro Estado Parte referentes ao seqüestro ou confisco de bens ou rendas a
que se referem os incisos i) e ii) do parágrafo a);

c) adotarão medidas para fechar, temporária ou definitivamente, os locais utilizados para cometer esses delitos.

ARTIGO 8º

1. Os Estados Partes adotarão as medidas apropriadas para proteger os direitos e interesses de crianças
vítimas das práticas proibidas pelo presente Protocolo em todos os estágios do processo judicial criminal, em
particular:

a) reconhecendo a vulnerabilidade de crianças vitimadas e adaptando procedimentos para reconhecer suas


necessidades especiais, inclusive suas necessidades especiais como testemunhas;

b) informando as crianças vitimadas sobre seus direitos, seu papel, bem como o alcance, as datas e o
andamento dos processos e a condução de seus casos;

c) permitindo que as opiniões, necessidades e preocupações das crianças vitimadas sejam apresentadas e
consideradas nos processos em que seus interesses pessoais forem afetados, de forma coerente com as
normas processuais da legislação nacional;

d) prestando serviços adequados de apoio às crianças vitimadas no transcorrer do processo judicial;

e) protegendo, conforme apropriado, a privacidade e a identidade das crianças vitimadas e adotando medidas,
em conformidade com a legislação nacional, para evitar a disseminação inadequada de informações que
possam levar à identificação das crianças vitimadas;

f) assegurando, nos casos apropriados, a segurança das crianças vitimadas, bem como de suas famílias e
testemunhas, contra intimidação e retaliação;

g) evitando demora desnecessária na condução de causas e no cumprimento de ordens ou decretos


concedendo reparação a crianças vitimadas.

2. Os Estados Partes assegurarão que quaisquer dúvidas sobre a idade real da vítima não impedirão que se
dê início a investigações criminais, inclusive investigações para determinar a idade da vítima.

3. Os Estados Partes assegurarão que, no tratamento dispensado pelo sistema judicial penal às crianças
vítimas dos delitos descritos no presente Protocolo, a consideração primordial seja o interesse superior da
criança.

4. Os Estados Partes adotarão medidas para assegurar treinamento apropriado, em particular treinamento
jurídico e psicológico, às pessoas que trabalham com vítimas dos delitos proibidos pelo presente Protocolo.

5. Nos casos apropriados, os Estados Partes adotarão medidas para proteger a segurança e integridade
daquelas pessoas e/ou organizações envolvidas na prevenção e/ou proteção e reabilitação de vítimas desses
delitos.

6. Nenhuma disposição do presente Artigo será interpretada como prejudicial aos direitos do acusado a um
julgamento justo e imparcial, ou como incompatível com esses direitos.

ARTIGO 9º
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 206

1. Os Estados Partes adotarão ou reforçarão, implementarão e disseminarão leis, medidas administrativas,


políticas e programas sociais para evitar os delitos a que se refere o presente Protocolo. Especial atenção será
dada á proteção de crianças especialmente vulneráveis a essas práticas.

2. Os Estados Partes promoverão a conscientização do público em geral, inclusive das crianças, por meio de
informações disseminadas por todos os meios apropriados, educação e treinamento, sobre as medidas
preventivas e os efeitos prejudiciais dos delitos a que se refere o presente Protocolo. No cumprimento das
obrigações assumidas em conformidade com o presente Artigo, os Estados Partes incentivarão a participação
da comunidade e, em particular, de crianças vitimadas, nas referidas informações e em programas educativos
e de treinamento, inclusive no nível internacional.

3. Os Estados Partes adotarão todas as medidas possíveis com o objetivo de assegurar assistência apropriada
às vítimas desses delitos, inclusive sua completa reintegração social e sua total recuperação física e
psicológica.

4. Os Estados Partes assegurarão que todas as crianças vítimas dos delitos descritos no presente Protocolo
tenham acesso a procedimentos adequados que lhe permitam obter, sem discriminação, das pessoas
legalmente responsáveis, reparação pelos danos sofridos.

5. Os Estados Partes adotarão as medidas apropriadas para proibir efetivamente a produção e disseminação
de material em que se faça propaganda dos delitos descritos no presente Protocolo.

ARTIGO 10º

1. Os Estados Partes adotarão todas as medidas necessárias para intensificar a cooperação internacional por
meio de acordos multilaterais, regionais e bilaterais para prevenir, detectar, investigar, julgar e punir os
responsáveis por atos envolvendo a venda de crianças, a prostituição infantil, a pornografia infantil e o turismo
sexual infantil. Os Estados Partes promoverão, também, a cooperação e coordenação internacionais entre suas
autoridades, organizações não-governamentais nacionais e internacionais e organizações internacionais.

2. Os Estados Partes promoverão a cooperação internacional com vistas a prestar assistência às crianças
vitimadas em sua recuperação física e psicológica, sua reintegração social e repatriação.

3. Os Estados Partes promoverão o fortalecimento da cooperação internacional, a fim de lutar contra as causas
básicas, tais como pobreza e subdesenvolvimento, que contribuem para a vulnerabilidade das crianças à venda
de crianças, à prostituição infantil, à pornografia infantil e ao turismo sexual infantil.

4. Os Estados Partes que estejam em condições de fazê-lo, prestarão assistência financeira, técnica ou de
outra natureza por meio de programas multilaterais, regionais, bilaterais ou outros programas existentes.

ARTIGO 11

Nenhuma disposição do presente Protocolo afetará quaisquer outras disposições mais propícias à fruição dos
direitos da criança e que possam estar contidas:

a) na legislação de um Estado Parte;


b) na legislação internacional em vigor para aquele Estado.

ARTIGO 12

1. Cada Estado Parte submeterá ao Comitê sobre os Direitos da Criança, no prazo de dois anos a contar da
data da entrada em vigor do Protocolo para aquele Estado Parte, um relatório contendo informações
abrangentes sobre as medidas adotadas para implementar as disposições do Protocolo.

2. Após a apresentação do relatório abrangente, cada Estado Parte incluirá nos relatórios que submeter ao
Comitê sobre os Direitos da Criança quaisquer informações adicionais sobre a implementação do Protocolo,
em conformidade com o Artigo 44 da Convenção. Os demais Estados Partes do Protocolo submeterão um
relatório a cada cinco anos.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 207

3. O Comitê sobre os Direitos da Criança poderá solicitar aos Estados Partes informações adicionais relevantes
para a implementação do presente Protocolo.

ARTIGO 13

1. O presente Protocolo está aberto para assinatura de qualquer Estado que seja parte ou signatário da
Convenção.

2. O presente Protocolo está sujeito a ratificação e aberto a adesão de qualquer Estado que seja parte ou
signatário da Convenção. Os instrumentos de ratificação ou adesão serão depositados com o Secretário Geral
das Nações Unidas.

ARTIGO 14

1. O presente Protocolo entrará em vigor três meses após o depósito do décimo instrumento de ratificação ou
adesão.

2. Para cada Estado que ratificar o presente Protocolo ou a ele aderir após sua entrada em vigor, o presente
Protocolo passará a viger um mês após a data do depósito de seu próprio instrumento de ratificação ou adesão.

ARTIGO 15

1. Qualquer Estado Parte poderá denunciar o presente Protocolo a qualquer tempo por meio de notificação
escrita ao Secretário Geral das Nações Unidas, o qual subseqüentemente informará os demais Estados Partes
da Convenção e todos os Estados signatários da Convenção. A denúncia produzirá efeitos um ano após a data
de recebimento da notificação pelo Secretário Geral das Nações Unidas.

2. A referida denúncia não isentará o Estado Parte das obrigações assumidas por força do presente Protocolo
no que se refere a qualquer delito ocorrido anteriormente à data na qual a denúncia passar a produzir efeitos.
A denúncia tampouco impedirá, de qualquer forma, que se dê continuidade ao exame de qualquer matéria que
já esteja sendo examinada pelo Comitê antes da data na qual a denúncia se tornar efetiva.

ARTIGO 16

1. Qualquer Estado Parte poderá propor uma emenda e depositá-la junto ao Secretário Geral das Nações
Unidas. O Secretário Geral comunicará a emenda proposta aos Estados Partes, solicitando-lhes que indiquem
se são favoráveis à realização de uma conferência de Estados Partes para análise e votação das propostas.
Caso, no prazo de quatro meses a contar da data da referida comunicação, pelo menos um terço dos Estados
Partes se houver manifestado a favor da referida conferência, o Secretário Geral convocará a conferência sob
os auspícios das Nações Unidas. Qualquer emenda adotada por uma maioria de Estados Partes presentes e
votantes na conferência será submetida à Assembléia Geral para aprovação.

2. Uma emenda adotada em conformidade com o parágrafo 1 do presente Artigo entrará em vigor quando
aprovada pela Assembléia Geral das Nações Unidas e aceita por maioria de dois terços dos Estados Partes.

3. Quando uma emenda entrar em vigor, tornar-se-á obrigatória para aqueles Estados Partes que a aceitaram;
os demais Estados Partes continuarão obrigados pelas disposições do presente Protocolo e por quaisquer
emendas anteriores que tenham aceitado.

ARTIGO 17

1. O presente Protocolo, com textos em árabe, chinês, espanhol, francês, inglês e russo igualmente autênticos,
será depositado nos arquivos das Nações Unidas.

2. O Secretário Geral das Nações Unidas enviará cópias autenticadas do presente Protocolo a todos os Estados
Partes da Convenção e a todos os Estados signatários da Convenção.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 208

2.13 CONVENÇÃO INTERAMERICANA CONTRA O TERRORISMO – 2002


(DECRETO Nº 5.639/2005)

DECRETO Nº 5.639, DE 26 DE DEZEMBRO DE 2005.

Promulga a Convenção Interamericana contra o Terrorismo, assinada em Barbados, em 3 de junho de 2002.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV, da Constituição,
e

Considerando que o Congresso Nacional aprovou o texto da Convenção Interamericana contra o


Terrorismo, por meio do Decreto Legislativo nº 890, de 1º de setembro de 2005;

Considerando que o Governo brasileiro ratificou a citada Convenção em 25 de outubro de 2005;

Considerando que a Convenção entrou em vigor internacional em 10 de julho de 2003 e, para o Brasil, em
24 de novembro de 2005;

DECRETA:

Art. 1º A Convenção Interamericana contra o Terrorismo, assinada em Barbados, em 3 de junho de 2002,


apensa por cópia ao presente Decreto, será executada e cumprida tão inteiramente como nela se contém.

Art. 2º São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional quaisquer atos que possam resultar em revisão
da referida Convenção ou que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional, nos
termos do art. 49, inciso I, da Constituição Federal.

Art. 3º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 26 de dezembro de 2005; 184º da Independência e 117º da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Celso Luiz Nunes amorim

Este texto não substitui o publicado no DOU de 27.12.2005

CONVENÇÃO INTERAMERICANA CONTRA O TERRORISMO

Os Estados Partes nesta Convenção,

Tendo presente os propósitos e princípios da Carta da Organização dos Estados Americanos e da Carta
das Nações Unidas;

Considerando que o terrorismo constitui uma grave ameaça para os valores democráticos e para a paz e
a segurança internacionais e é causa de profunda preocupação para todos os Estados membros;

Reafirmando a necessidade de adotar no Sistema Interamericano medidas eficazes para prevenir, punir e
eliminar o terrorismo mediante a mais ampla cooperação;

Reconhecendo que os graves danos econômicos aos Estados que podem resultar de atos terroristas são
um dos fatores que reforçam a necessidade da cooperação e a urgência dos esforços para erradicar o
terrorismo;

Reafirmando o compromisso dos Estados de prevenir, combater, punir e eliminar o terrorismo; e


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 209

Levando em conta a resolução RC.23/RES. 1/01 rev. 1 corr. 1, "Fortalecimento da cooperação hemisférica
para prevenir, combater e eliminar o terrorismo", adotada na Vigésima Terceira Reunião de Consulta dos
Ministros das Relações Exteriores,

Convieram no seguinte:

Artigo 1

Objeto e fins

Esta Convenção tem por objeto prevenir, punir e eliminar o terrorismo. Para esses fins, os Estados Partes
assumem o compromisso de adotar as medidas necessárias e fortalecer a cooperação entre eles, de acordo
com o estabelecido nesta Convenção.

Artigo 2

Instrumentos internacionais aplicáveis

1. Para os propósitos desta Convenção, entende-se por "delito" aqueles estabelecidos nos instrumentos
internacionais a seguir indicados:

a. Convenção para a Repressão do Apoderamento Ilícito de Aeronaves, assinada na Haia em 16 de


dezembro de 1970.

b. Convenção para a Repressão de Atos Ilícitos contra a Segurança da Aviação Civil, assinada em Montreal
em 23 de dezembro de 1971.

c. Convenção sobre a Prevenção e Punição de Crimes contra Pessoas que Gozam de Proteção
Internacional, Inclusive Agentes Diplomáticos, adotada pela Assembléia Geral das Nações Unidas em 14 de
dezembro de 1973.

d. Convenção Internacional contra a Tomada de Reféns, adotada pela Assembléia Geral das Nações
Unidas em 17 de dezembro de 1979.

e. Convenção sobre a Proteção Física dos Materiais Nucleares, assinada em Viena em 3 de dezembro de
1980.

f. Protocolo para a Repressão de Atos Ilícitos de Violência nos Aeroportos que Prestem Serviços à Aviação
Civil Internacional, complementar à Convenção para a Repressão de Atos Ilícitos contra a Segurança da
Aviação Civil, assinado em Montreal em 24 de dezembro de 1988.

g. Convenção para a Supressão de Atos Ilegais contra a Segurança da Navegação Marítima, feita em
Roma em 10 de dezembro de 1988.

h. Protocolo para a Supressão de Atos Ilícitos contra a Segurança das Plataformas Fixas Situadas na
Plataforma Continental, feito em Roma em 10 de dezembro de 1988.

i. Convenção Internacional para a Supressão de Atentados Terroristas a Bomba, adotada pela Assembléia
Geral das Nações Unidas em 15 de dezembro de 1997.

j. Convenção Internacional para a Supressão do Financiamento do Terrorismo, adotada pela Assembléia


Geral das Nações Unidas em 9 de dezembro de 1999. 2. Ao depositar seu instrumento de ratificação desta
Convenção, o Estado que não for parte de um ou mais dos instrumentos internacionais enumerados no
parágrafo 1 deste artigo poderá declarar que, na aplicação desta Convenção a esse Estado Parte, aquele
instrumento não se considerará incluído no referido parágrafo. A declaração cessará em seus efeitos quando
aquele instrumento entrar em vigor para o Estado Parte, o qual notificará o depositário desse fato.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 210

3. Quando deixe de ser parte de um dos instrumentos internacionais enumerados no parágrafo 1 deste
artigo, um Estado Parte poderá fazer uma declaração relativa àquele instrumento, em conformidade com o
disposto no parágrafo 2 deste artigo.

Artigo 3

Medidas internas

Cada Estado Parte, em conformidade com suas disposições constitucionais, esforçar-se-á para ser parte
dos instrumentos internacionais enumerados no Artigo 2, dos quais ainda não seja parte e para adotar as
medidas necessárias à sua efetiva aplicação, incluindo o estabelecimento em sua legislação interna de penas
aos delitos aí contemplados.

Artigo 4

Medidas para prevenir, combater e erradicar o financiamento do terrorismo

1. Cada Estado Parte, na medida em que não o tiver feito, deverá estabelecer um regime jurídico e
administrativo para prevenir, combater e erradicar o financiamento do terrorismo e lograr uma cooperação
internacional eficaz a respeito, a qual deverá incluir:

a) Um amplo regime interno normativo e de supervisão de bancos, outras instituições financeiras e outras
entidades consideradas particularmente suscetíveis de ser utilizadas para financiar atividades terroristas. Este
regime destacará os requisitos relativos à identificação de clientes, conservação de registros e comunicação
de transações suspeitas ou incomuns.

b) Medidas de detecção e vigilância de movimentos transfronteiriços de dinheiro em efetivo, instrumentos


negociáveis ao portador e outros movimentos relevantes de valores. Estas medidas estarão sujeitas a
salvaguardas para garantir o devido uso da informação e não deverão impedir o movimento legítimo de capitais.

c) Medidas que assegurem que as autoridades competentes dedicadas ao combate dos delitos
estabelecidos nos instrumentos internacionais enumerados no Artigo 2 tenham a capacidade de cooperar e
intercambiar informações nos planos nacional e internacional, em conformidade com as condições prescritas
no direito interno. Com essa finalidade, cada Estado Parte deverá estabelecer e manter uma unidade de
inteligência financeira que seja o centro nacional para coleta, análise e divulgação de informações relevantes
sobre lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo. Cada Estado Parte deverá informar o Secretário-
Geral da Organização dos Estados Americanos sobre a autoridade designada como sua unidade de inteligência
financeira.

2. Para a aplicação do parágrafo 1 deste artigo, os Estados Partes utilizarão como diretrizes as
recomendações desenvolvidas por entidades regionais ou internacionais especializadas, em particular, o Grupo
de Ação Financeira (GAFI) e, quando for cabível, a Comissão Interamericana para o Controle do Abuso de
Drogas (CICAD), o Grupo de Ação Financeira do Caribe (GAFIC) e o Grupo de Ação Financeira da América do
Sul (GAFISUD).

Artigo 5

Embargo e confisco de fundos ou outros bens

1. Cada Estado Parte, em conformidade com os procedimentos estabelecidos em sua legislação interna,
adotará as medidas necessárias para identificar, congelar, embargar e, se for o caso, confiscar fundos ou outros
bens que sejam produto da comissão ou tenham como propósito financiar ou tenham facilitado ou financiado a
comissão de qualquer dos delitos estabelecidos nos instrumentos internacionais enumerados no Artigo 2 desta
Convenção.

2. As medidas a que se refere o parágrafo 1 serão aplicáveis aos delitos cometidos tanto dentro como fora
da jurisdição do Estado Parte.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 211

Artigo 6

Delitos prévios da lavagem de dinheiro

1. Cada Estado Parte tomará as medidas necessárias para assegurar que sua legislação penal relativa ao
delito da lavagem de dinheiro inclua como delitos prévios da lavagem de dinheiro os delitos estabelecidos nos
instrumentos internacionais enumerados no Artigo 2 desta Convenção.

2. Os delitos prévios da lavagem de dinheiro a que se refere o parágrafo 1 incluirão aqueles cometidos
tanto dentro como fora da jurisdição do Estado Parte.

Artigo 7

Cooperação no âmbito fronteiriço

1. Os Estados Partes, em conformidade com seus respectivos regimes jurídicos e administrativos internos,
promoverão a cooperação e o intercâmbio de informações com o objetivo de aperfeiçoar as medidas de controle
fronteiriço e aduaneiro para detectar e prevenir a circulação internacional de terroristas e o tráfico de armas ou
outros materiais destinados a apoiar atividades terroristas.

2. Neste sentido, promoverão a cooperação e o intercâmbio de informações para aperfeiçoar seus controles
de emissão dos documentos de viagem e identidade e evitar sua falsificação, adulteração ou utilização
fraudulenta.

3. Essas medidas serão levadas a cabo sem prejuízo dos compromissos internacionais aplicáveis ao livre
movimento de pessoas e à facilitação do comércio.

Artigo 8

Cooperação entre autoridades competentes para aplicação da lei

Os Estados Partes colaborarão estreitamente, de acordo com seus respectivos ordenamentos legais e
administrativos internos, a fim de fortalecer a efetiva aplicação da lei e combater os delitos estabelecidos nos
instrumentos internacionais enumerados no Artigo 2. Neste sentido, estabelecerão e aperfeiçoarão, se
necessário, os canais de comunicação entre suas autoridades competentes, a fim de facilitar o intercâmbio
seguro e rápido de informações sobre todos os aspectos dos delitos estabelecidos nos instrumentos
internacionais enumerados no Artigo 2 desta Convenção.

Artigo 9

Assistência judiciária mútua

Os Estados Partes prestar-se-ão mutuamente a mais ampla e expedita assistência judiciária possível com
relação à prevenção, investigação e processo dos delitos estabelecidos nos instrumentos internacionais
enumerados no Artigo 2 e dos processos a eles relativos, em conformidade com os acordos internacionais
aplicáveis em vigor. Na ausência de tais acordos, os Estados Partes prestar-se-ão essa assistência de maneira
expedita em conformidade com sua legislação interna.

Artigo 10

Translado de pessoas sob custódia

1. A pessoa que se encontrar detida ou cumprindo pena em um Estado Parte e cuja presença seja solicitada
em outro Estado Parte para fins de prestar testemunho, ou de identificação, ou para ajudar na obtenção de
provas necessárias para a investigação ou o processo de delitos estabelecidos nos instrumentos internacionais
enumerados no Artigo 2, poderá ser transladada se forem atendidas as seguintes condições:

a) A pessoa dê livremente seu consentimento, uma vez informada; e


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 212

b) Ambos os Estados estejam de acordo, segundo as condições que considerem apropriadas.

2. Para os efeitos deste artigo:

a) O Estado a que a pessoa for transladada estará autorizado e obrigado a mantê-la sob detenção, a não
ser que o Estado do qual foi transladada solicite ou autorize outra medida.

b) O Estado a que a pessoa for transladada cumprirá sem delonga sua obrigação de devolvê-la à custódia
do Estado do qual foi transladada, em conformidade com o que as autoridades competentes de ambos os
Estados tiverem acordado de antemão ou de outro modo.

c) O Estado a que a pessoa for transladada não poderá exigir do Estado do qual foi transladada que inicie
procedimentos de extradição para sua devolução.

d) O tempo que a pessoa permanecer detida no Estado a que foi transladada será computado para fins de
dedução da pena que está obrigada a cumprir no Estado do qual tiver sido transladada.

3. A menos que o Estado Parte do qual uma pessoa vier a ser transladada em conformidade com este
artigo esteja de acordo, esta pessoa, qualquer que seja sua nacionalidade, não será processada, detida ou
submetida a qualquer outra restrição de sua liberdade pessoal no território do Estado a que seja transladada,
por atos ou condenações anteriores à sua saída do território do Estado do qual foi transladada.

Artigo 11

Inaplicabilidade da exceção por delito político

Para os propósitos de extradição ou assistência judiciária mútua, nenhum dos delitos estabelecidos nos
instrumentos internacionais enumerados no Artigo 2 será considerado delito político ou delito conexo com um
delito político ou um delito inspirado por motivos políticos. Por conseguinte, não se poderá negar um pedido de
extradição ou de assistência judiciária mútua pela única razão de que se relaciona com um delito político ou
com um delito conexo com um delito político ou um delito inspirado por motivos políticos.

Artigo 12

Denegação da condição de refugiado

Cada Estado Parte adotará as medidas cabíveis, em conformidade com as disposições pertinentes do
direito interno e internacional, para assegurar que não se reconheça a condição de refugiado a pessoas com
relação às quais haja motivos fundados para considerar que cometeram um delito estabelecido nos
instrumentos internacionais enumerados no Artigo 2 desta Convenção.

Artigo 13

Denegação de asilo

Cada Estado Parte adotará as medidas cabíveis, em conformidade com as disposições pertinentes do
direito interno e internacional, a fim de assegurar que não se conceda asilo a pessoas com relação às quais
existam motivos fundados para se considerar que cometeram um delito estabelecido nos instrumentos
internacionais enumerados no Artigo 2 desta Convenção.

Artigo 14

Não-discriminação

Nenhuma das disposições desta Convenção será interpretada como imposição da obrigação de prestar
assistência judiciária mútua se o Estado Parte requerido tiver razões fundadas para crer que o pedido foi feito
com o fim de processar ou punir uma pessoa por motivos de raça, religião, nacionalidade, origem étnica ou
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 213

opinião política, ou se o cumprimento do pedido for prejudicial à situação dessa pessoa por qualquer destas
razões.

Artigo 15

Direitos humanos

1. As medidas adotadas pelos Estados Partes em decorrência desta Convenção serão levadas a cabo com
pleno respeito ao Estado de Direito, aos direitos humanos e às liberdades fundamentais.

2. Nada do disposto nesta Convenção será interpretado no sentido de desconsiderar outros direitos e
obrigações dos Estados e das pessoas, nos termos do direito internacional, em particular a Carta das Nações
Unidas, a Carta da Organização dos Estados Americanos, o direito internacional humanitário, o direito
internacional dos direitos humanos e o direito internacional dos refugiados.

3. A toda pessoa que estiver detida ou com relação à qual se adote quaisquer medidas ou que estiver
sendo processada nos termos desta Convenção será garantido um tratamento justo, inclusive o gozo de todos
os direitos e garantias em conformidade com a legislação do Estado em cujo território se encontre e com as
disposições pertinentes do direito internacional.

Artigo 16

Treinamento

1. Os Estados Partes promoverão programas de cooperação técnica e treinamento em nível nacional,


bilateral, sub-regional e regional e no âmbito da Organização dos Estados Americanos, para fortalecer as
instituições nacionais encarregadas do cumprimento das obrigações emanadas desta Convenção.

2. Os Estados Partes também promoverão, quando for o caso, programas de cooperação técnica e
treinamento com outras organizações regionais e internacionais que realizem atividades vinculadas com os
propósitos desta Convenção.

Artigo 17

Cooperação por meio da Organização dos Estados Americanos

Os Estados Partes propiciarão a mais ampla cooperação no âmbito dos órgãos pertinentes da Organização
dos Estados Americanos, inclusive o Comitê Interamericano contra o Terrorismo (CICTE), em matérias
relacionadas com o objeto e os fins desta Convenção.

Artigo 18

Consulta entre as Partes

1. Os Estados Partes realizarão reuniões periódicas de consulta, quando as considerarem oportunas, com
vistas a facilitar:

a) a plena implementação desta Convenção, incluindo a consideração de assuntos de interesse a ela


relativos identificados pelos Estados Partes; e

b) o intercâmbio de informações e experiências sobre formas e métodos eficazes para prevenir, detectar,
investigar e punir o terrorismo.

2. O Secretário-Geral convocará uma reunião de consulta dos Estados Partes depois de receber o décimo
instrumento de ratificação. Sem prejuízo disso, os Estados Partes poderão realizar as consultas que
considerarem apropriadas.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 214

3. Os Estados Partes poderão solicitar aos órgãos pertinentes da Organização dos Estados Americanos,
inclusive ao CICTE, que facilitem as consultas mencionadas nos parágrafos anteriores e proporcionem outras
formas de assistência no tocante à aplicação desta Convenção.

Artigo 19

Exercício de jurisdição

Nada do disposto nesta Convenção facultará um Estado Parte a exercer jurisdição no território de outro
Estado Parte nem a nele exercer funções reservadas exclusivamente às autoridades desse outro Estado Parte
por seu direito interno.

Artigo 20

Depositário

O instrumento original desta Convenção, cujos textos em espanhol, francês, inglês e português são
igualmente autênticos, será depositado na Secretaria-Geral da Organização dos Estados Americanos.

Artigo 21

Assinatura e ratificação

1. Esta Convenção está aberta à assinatura de todos os Estados membros da Organização dos Estados
Americanos.

2. Esta Convenção está sujeita a ratificação por parte dos Estados signatários, de acordo com seus
respectivos procedimentos constitucionais. Os instrumentos de ratificação serão depositados na Secretaria-
Geral da Organização dos Estados Americanos.

Artigo 22

Entrada em vigor

1. Esta Convenção entrará em vigor no trigésimo dia a contar da data em que tiver sido depositado o sexto
instrumento de ratificação da Convenção na Secretaria-Geral da Organização dos Estados Americanos.

2. Para cada Estado que ratificar a Convenção após ter sido depositado o sexto instrumento de ratificação,
a Convenção entrará em vigor no trigésimo dia a contar da data em que esse Estado tiver depositado o
instrumento correspondente.

Artigo 23

Denúncia

1. Qualquer Estado Parte poderá denunciar esta Convenção mediante notificação escrita dirigida ao
Secretário-Geral da Organização dos Estados Americanos. A denúncia surtirá efeito um ano após a data em
que a notificação tiver sido recebida pelo Secretário-Geral da Organização.

2. Essa denúncia não afetará nenhum pedido de informação ou de assistência feito no período de vigência
da Convenção para o Estado denunciante.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 215

2.14 CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS CONTRA A CORRUPÇÃO (CONVENÇÃO DE


MÉRIDA) – 2003 (DECRETO Nº 56872006)

DECRETO Nº 5.687, DE 31 DE JANEIRO DE 2006.

Promulga a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, adotada pela Assembléia-Geral das Nações Unidas em 31 de
outubro de 2003 e assinada pelo Brasil em 9 de dezembro de 2003

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV, da
Constituição, e

Considerando que o Congresso Nacional aprovou o texto da Convenção das Nações Unidas contra a
Corrupção, por meio do Decreto Legislativo nº 348, de 18 de maio de 2005;

Considerando que o Governo brasileiro ratificou a citada Convenção em 15 de junho de 2005;

Considerando que a Convenção entrou em vigor internacional, bem como para o Brasil, em 14 de
dezembro de 2005;

DECRETA:

Art. 1o A Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, adotada pela Assembléia-Geral das Nações
Unidas em 31 de outubro de 2003 e assinada pelo Brasil em 9 de dezembro de 2003, apensa por cópia ao
presente Decreto, será executada e cumprida tão inteiramente como nela se contém.

Art. 2o São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional quaisquer atos que possam resultar em revisão
da referida Convenção ou que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional, nos
termos do art. 49, inciso I, da Constituição.

Art. 3o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 31 de janeiro de 2006; 185o da Independência e 118o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA


Celso Luiz Nunes Amorim

Este texto não substitui o publicado no DOU de 1º.2.2006

CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS CONTRA A CORRUPÇÃO

Preâmbulo

Os Estados Partes da presente convenção,

Preocupados com a gravidade dos problemas e com as ameaças decorrentes da corrupção, para a
estabilidade e a segurança das sociedades, ao enfraquecer as instituições e os valores da democracia, da ética
e da justiça e ao comprometer o desenvolvimento sustentável e o Estado de Direito;

Preocupados, também, pelos vínculos entre a corrupção e outras formas de delinqüência, em particular o
crime organizado e a corrupção econômica, incluindo a lavagem de dinheiro;

Preocupados, ainda, pelos casos de corrupção que penetram diversos setores da sociedade, os quais
podem comprometer uma proporção importante dos recursos dos Estados e que ameaçam a estabilidade
política e o desenvolvimento sustentável dos mesmos;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 216

Convencidos de que a corrupção deixou de ser um problema local para converter-se em um fenômeno
transnacional que afeta todas as sociedades e economias, faz-se necessária a cooperação internacional para
preveni-la e lutar contra ela;

Convencidos, também, de que se requer um enfoque amplo e multidisciplinar para prevenir e combater
eficazmente a corrupção;

Convencidos, ainda, de que a disponibilidade de assistência técnica pode desempenhar um papel


importante para que os Estados estejam em melhores condições de poder prevenir e combater eficazmente a
corrupção, entre outras coisas, fortalecendo suas capacidades e criando instituições;

Convencidos de que o enriquecimento pessoal ilícito pode ser particularmente nocivo para as instituições
democráticas, as economias nacionais e o Estado de Direito;

Decididos a prevenir, detectar e dissuadir com maior eficácia as transferências internacionais de ativos
adquiridos ilicitamente e a fortalecer a cooperação internacional para a recuperação destes ativos;

Reconhecendo os princípios fundamentais do devido processo nos processos penais e nos procedimentos
civis ou administrativos sobre direitos de propriedade;

Tendo presente que a prevenção e a erradicação da corrupção são responsabilidades de todos os Estados
e que estes devem cooperar entre si, com o apoio e a participação de pessoas e grupos que não pertencem
ao setor público, como a sociedade civil, as organizações não-governamentais e as organizações de base
comunitárias, para que seus esforços neste âmbito sejam eficazes;

Tendo presentes também os princípios de devida gestão dos assuntos e dos bens públicos, eqüidade,
responsabilidade e igualdade perante a lei, assim como a necessidade de salvaguardar a integridade e
fomentar uma cultura de rechaço à corrupção;

Elogiando o trabalho da Comissão de Prevenção de Delitos e Justiça Penal e o Escritório das Nações
Unidas contra as Drogas e o Delito na prevenção e na luta contra a corrupção;

Recordando o trabalho realizado por outras organizações internacionais e regionais nesta esfera, incluídas
as atividades do Conselho de Cooperação Aduaneira (também denominado Organização Mundial de Aduanas),
o Conselho Europeu, a Liga dos Estados Árabes, a Organização de Cooperação e Desenvolvimento
Econômicos, a Organização dos Estados Americanos, a União Africana e a União Européia;

Tomando nota com reconhecimento dos instrumentos multilaterais encaminhados para prevenir e
combater a corrupção, incluídos, entre outros, a Convenção Interamericana contra a Corrupção, aprovada pela
Organização dos Estados Americanos em 29 de março de 1996, o Convênio relativo à luta contra os atos de
corrupção no qual estão envolvidos funcionários das Comunidades Européias e dos Estados Partes da União
Européia, aprovado pelo Conselho da União Européia em 26 de maio de 1997, o Convênio sobre a luta contra
o suborno dos funcionários públicos estrangeiros nas transações comerciais internacionais, aprovado pelo
Comitê de Ministros do Conselho Europeu em 27 de janeiro de 1999, o Convênio de direito civil sobre a
corrupção, aprovado pelo Comitê de Ministros do Conselho Europeu em 4 de novembro de 1999 e a Convenção
da União Africana para prevenir e combater a corrupção, aprovada pelos Chefes de Estado e Governo da União
Africana em 12 de julho de 2003;

Acolhendo com satisfação a entrada em vigor, em 29 de setembro de 2003, da Convenção das Nações
Unidas contra o Crime Organizado Internacional;

Chegaram em acordo ao seguinte:

Capítulo I

Disposições gerais

Artigo 1

Finalidade

A finalidade da presente Convenção é:

a) Promover e fortalecer as medidas para prevenir e combater mais eficaz e eficientemente a corrupção;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 217

b) Promover, facilitar e apoiar a cooperação internacional e a assistência técnica na prevenção e na luta


contra a corrupção, incluída a recuperação de ativos;

c) Promover a integridade, a obrigação de render contas e a devida gestão dos assuntos e dos bens
públicos.

Artigo 2

Definições

Aos efeitos da presente Convenção:

a) Por "funcionário público" se entenderá: i) toda pessoa que ocupe um cargo legislativo, executivo,
administrativo ou judicial de um Estado Parte, já designado ou empossado, permanente ou temporário,
remunerado ou honorário, seja qual for o tempo dessa pessoa no cargo; ii) toda pessoa que desempenhe uma
função pública, inclusive em um organismo público ou numa empresa pública, ou que preste um serviço público,
segundo definido na legislação interna do Estado Parte e se aplique na esfera pertinente do ordenamento
jurídico desse Estado Parte; iii) toda pessoa definida como "funcionário público" na legislação interna de um
Estado Parte. Não obstante, aos efeitos de algumas medidas específicas incluídas no Capítulo II da presente
Convenção, poderá entender-se por "funcionário público" toda pessoa que desempenhe uma função pública
ou preste um serviço público segundo definido na legislação interna do Estado Parte e se aplique na esfera
pertinente do ordenamento jurídico desse Estado Parte;

b) Por "funcionário público estrangeiro" se entenderá toda pessoa que ocupe um cargo legislativo,
executivo, administrativo ou judicial de um país estrangeiro, já designado ou empossado; e toda pessoa que
exerça uma função pública para um país estrangeiro, inclusive em um organismo público ou uma empresa
pública;

c) Por "funcionário de uma organização internacional pública" se entenderá um funcionário público


internacional ou toda pessoa que tal organização tenha autorizado a atuar em seu nome;

d) Por "bens" se entenderá os ativos de qualquer tipo, corpóreos ou incorpóreos, móveis ou imóveis,
tangíveis ou intangíveis e os documentos ou instrumentos legais que creditem a propriedade ou outros
direitos sobre tais ativos;

e) Por "produto de delito" se entenderá os bens de qualquer índole derivados ou obtidos direta ou
indiretamente da ocorrência de um delito;

f) Por "embargo preventivo" ou "apreensão" se entenderá a proibição temporária de transferir, converter


ou trasladar bens, ou de assumir a custódia ou o controle temporário de bens sobre a base de uma ordem de
um tribunal ou outra autoridade competente;

g) Por "confisco" se entenderá a privação em caráter definitivo de bens por ordem de um tribunal ou outra
autoridade competente;

h) Por "delito determinante" se entenderá todo delito do qual se derive um produto que possa passar a
constituir matéria de um delito definido no Artigo 23 da presente Convenção;

i) Por "entrega vigiada" se entenderá a técnica consistente em permitir que remessas ilícitas ou suspeitas
saiam do território de um ou mais Estados, o atravessem ou entrem nele, com o conhecimento e sob a
supervisão de suas autoridades competentes, com o fim de investigar um delito e identificar as pessoas
envolvidas em sua ocorrência.

Artigo 3

Âmbito de aplicação

1. A presente Convenção se aplicará, de conformidade com suas disposições, à prevenção, à investigação


e à instrução judicial da corrupção e do embargo preventivo, da apreensão, do confisco e da restituição do
produto de delitos identificados de acordo com a presente Convenção.

2. Para a aplicação da presente Convenção, a menos que contenha uma disposição em contrário, não
será necessário que os delitos enunciados nela produzam dano ou prejuízo patrimonial ao Estado.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 218

Artigo 4

Proteção da soberania

1. Os Estados Partes cumprirão suas obrigações de acordo com a presente Convenção em consonância
com os princípios de igualdade soberana e integridade territorial dos Estados, assim como de não
intervenção nos assuntos internos de outros Estados.

2. Nada do disposto na presente Convenção delegará poderes a um Estado Parte para exercer, no
território de outro Estado, jurisdição ou funções que a legislação interna desse Estado reserve
exclusivamente a suas autoridades.

Capítulo II

Medidas preventivas

Artigo 5

Políticas e práticas de prevenção da corrupção

1. Cada Estado Parte, de conformidade com os princípios fundamentais de seu ordenamento jurídico,
formulará e aplicará ou manterá em vigor políticas coordenadas e eficazes contra a corrupção que promovam
a participação da sociedade e reflitam os princípios do Estado de Direito, a devida gestão dos assuntos e bens
públicos, a integridade, a transparência e a obrigação de render contas.

2. Cada Estado Parte procurará estabelecer e fomentar práticas eficazes encaminhadas a prevenir a
corrupção.

3. Cada Estado Parte procurará avaliar periodicamente os instrumentos jurídicos e as medidas


administrativas pertinentes a fim de determinar se são adequadas para combater a corrupção.

4. Os Estados Partes, segundo procede e de conformidade com os princípios fundamentais de seu


ordenamento jurídico, colaborarão entre si e com as organizações internacionais e regionais pertinentes na
promoção e formulação das medidas mencionadas no presente Artigo. Essa colaboração poderá compreender
a participação em programas e projetos internacionais destinados a prevenir a corrupção.

Artigo 6

Órgão ou órgãos de prevenção à corrupção

1. Cada Estado Parte, de conformidade com os princípios fundamentais de seu ordenamento jurídico,
garantirá a existência de um ou mais órgãos, segundo procede, encarregados de prevenir a corrupção com
medidas tais como:

a) A aplicação das políticas as quais se faz alusão no Artigo 5 da presente Convenção e, quando
proceder, a supervisão e coordenação da prática dessas políticas;

b) O aumento e a difusão dos conhecimentos em matéria de prevenção da corrupção.

2. Cada Estado Parte outorgará ao órgão ou aos órgãos mencionados no parágrafo 1 do presente Artigo
a independência necessária, de conformidade com os princípios fundamentais de seu ordenamento jurídico,
para que possam desempenhar suas funções de maneira eficaz e sem nenhuma influência indevida. Devem
proporcionar-lhes os recursos materiais e o pessoal especializado que sejam necessários, assim como a
capacitação que tal pessoal possa requerer para o desempenho de suas funções.

3. Cada Estado Parte comunicará ao Secretário Geral das Nações Unidas o nome e a direção
da(s) autoridade(s) que possa(m) ajudar a outros Estados Partes a formular e aplicar medidas concretas de
prevenção da corrupção.

Artigo 7

Setor Público
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 219

1. Cada Estado Parte, quando for apropriado e de conformidade com os princípios fundamentais de seu
ordenamento jurídico, procurará adotar sistemas de convocação, contratação, retenção, promoção e
aposentadoria de funcionários públicos e, quando proceder, de outros funcionários públicos não empossados,
ou manter e fortalecer tais sistemas. Estes:

a) Estarão baseados em princípios de eficiência e transparência e em critérios objetivos como o mérito, a


eqüidade e a aptidão;

b) Incluirão procedimentos adequados de seleção e formação dos titulares de cargos públicos que se
considerem especialmente vulneráveis à corrupção, assim como, quando proceder, a rotação dessas pessoas
em outros cargos;

c) Fomentarão uma remuneração adequada e escalas de soldo eqüitativas, tendo em conta o nível de
desenvolvimento econômico do Estado Parte;

d) Promoverão programas de formação e capacitação que lhes permitam cumprir os requisitos de


desempenho correto, honroso e devido de suas funções e lhes proporcionem capacitação especializada e
apropriada para que sejam mais conscientes dos riscos da corrupção inerentes ao desempenho de suas
funções. Tais programas poderão fazer referência a códigos ou normas de conduta nas esferas pertinentes.

2. Cada Estado Parte considerará também a possibilidade de adotar medidas legislativas e administrativas
apropriadas, em consonância com os objetivos da presente Convenção e de conformidade com os princípios
fundamentais de sua legislação interna, a fim de estabelecer critérios para a candidatura e eleição a cargos
públicos.

3. Cada Estado Parte considerará a possibilidade de adotar medidas legislativas e administrativas


apropriadas, em consonância com os objetivos da presente Convenção e de conformidade com os princípios
fundamentais de sua legislação interna, para aumentar a transparência relativa ao financiamento de
candidaturas a cargos públicos eletivos e, quando proceder, relativa ao financiamento de partidos políticos.

4. Cada Estado Parte, em conformidade com os princípios de sua legislação interna, procurará adotar
sistemas destinados a promover a transparência e a prevenir conflitos de interesses, ou a manter e fortalecer
tais sistemas.

Artigo 8

Códigos de conduta para funcionários públicos

1. Com o objetivo de combater a corrupção, cada Estado Parte, em conformidade com os princípios
fundamentais de seu ordenamento jurídico, promoverá, entre outras coisas, a integridade, a honestidade e a
responsabilidade entre seus funcionários públicos.

2. Em particular, cada Estado Parte procurará aplicar, em seus próprios ordenamentos institucionais e
jurídicos, códigos ou normas de conduta para o correto, honroso e devido cumprimento das funções públicas.

3. Com vistas a aplicar as disposições do presente Artigo, cada Estado Parte, quando proceder e em
conformidade com os princípios fundamentais de seu ordenamento jurídico, tomará nota das iniciativas
pertinentes das organizações regionais, interregionais e multilaterais, tais como o Código Internacional de
Conduta para os titulares de cargos públicos, que figura no anexo da resolução 51/59 da Assembléia Geral de
12 de dezembro de 1996.

4. Cada Estado Parte também considerará, em conformidade com os princípios fundamentais de sua
legislação interna, a possibilidade de estabelecer medidas e sistemas para facilitar que os funcionários públicos
denunciem todo ato de corrupção às autoridade competentes quando tenham conhecimento deles no exercício
de suas funções.

5. Cada Estado Parte procurará, quando proceder e em conformidade com os princípios fundamentais de
sua legislação interna, estabelecer medidas e sistemas para exigir aos funcionários públicos que tenham
declarações às autoridades competentes em relação, entre outras coisas, com suas atividades externas e com
empregos, inversões, ativos e presentes ou benefícios importantes que possam das lugar a um conflito de
interesses relativo a suas atribuições como funcionários públicos.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 220

6. Cada Estado Parte considerará a possibilidade de adotar, em conformidade com os princípios


fundamentais de sua legislação interna, medidas disciplinares ou de outra índole contra todo funcionário
público que transgrida os códigos ou normas estabelecidos em conformidade com o presente Artigo.

Artigo 9

Contratação pública e gestão da fazenda pública

1. Cada Estado Parte, em conformidade com os princípios fundamentais de seu ordenamento jurídico,
adotará as medidas necessárias para estabelecer sistemas apropriados de contratação pública, baseados na
transparência, na competência e em critérios objetivos de adoção de decisões, que sejam eficazes, entre outras
coisas, para prevenir a corrupção. Esses sistemas, em cuja aplicação se poderá ter em conta valores mínimos
apropriados, deverão abordar, entre outras coisas:

a) A difusão pública de informação relativa a procedimentos de contratação pública e contratos, incluída


informação sobre licitações e informação pertinente ou oportuna sobre a adjudicação de contratos, a fim de
que os licitadores potenciais disponham de tempo suficiente para preparar e apresentar suas ofertas;

b) A formulação prévia das condições de participação, incluídos critérios de seleção e adjudicação e regras
de licitação, assim como sua publicação;

c) A aplicação de critérios objetivos e predeterminados para a adoção de decisões sobre a contratação


pública a fim de facilitar a posterior verificação da aplicação correta das regras ou procedimentos;

d) Um mecanismo eficaz de exame interno, incluindo um sistema eficaz de apelação, para garantir
recursos e soluções legais no caso de não se respeitarem as regras ou os procedimentos estabelecidos
conforme o presente parágrafo;

e) Quando proceda, a adoção de medidas para regulamentar as questões relativas ao pessoal


encarregado da contratação pública, em particular declarações de interesse relativo de determinadas
contratações públicas, procedimentos de pré-seleção e requisitos de capacitação.

2. Cada Estado Parte, em conformidade com os princípios fundamentais de seu ordenamento jurídico,
adotará medidas apropriadas para promover a transparência e a obrigação de render contas na gestão da
fazenda pública. Essas medidas abarcarão, entre outras coisas:

a) Procedimentos para a aprovação do pressuposto nacional;

b) A apresentação oportuna de informação sobre gastos e ingressos;

c) Um sistema de normas de contabilidade e auditoria, assim como a supervisão correspondente;

d) Sistemas eficazes e eficientes de gestão de riscos e controle interno; e

e) Quando proceda, a adoção de medidas corretivas em caso de não cumprimento dos requisitos
estabelecidos no presente parágrafo.

3. Cada Estado Parte, em conformidade com os princípios fundamentais de sua legislação interna,
adotará as medidas que sejam necessárias nos âmbitos civil e administrativo para preservar a integridade
dos livros e registros contábeis, financeiros ou outros documentos relacionados com os gastos e ingressos
públicos e para prevenir a falsificação desses documentos.

Artigo 10

Informação pública

Tendo em conta a necessidade de combater a corrupção, cada Estado Parte, em conformidade com os
princípios fundamentais de sua legislação interna, adotará medidas que sejam necessárias para aumentar a
transparência em sua administração pública, inclusive no relativo a sua organização, funcionamento e
processos de adoção de decisões, quando proceder. Essas medidas poderão incluir, entre outras coisas:

a) A instauração de procedimentos ou regulamentações que permitam ao público em geral obter, quando


proceder, informação sobre a organização, o funcionamento e os processos de adoção de decisões de sua
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 221

administração pública, com o devido respeito à proteção da intimidade e dos documentos pessoais, sobre as
decisões e atos jurídicos que incumbam ao público;

b) A simplificação dos procedimentos administrativos, quando proceder, a fim de facilitar o acesso do


público às autoridades encarregadas da adoção de decisões; e

c) A publicação de informação, o que poderá incluir informes periódicos sobre os riscos de corrupção na
administração pública.

Artigo 11

Medidas relativas ao poder judiciário e ao ministério público

1. Tendo presentes a independência do poder judiciário e seu papel decisivo na luta contra a corrupção,
cada Estado Parte, em conformidade com os princípios fundamentais de seu ordenamento jurídico e sem
menosprezar a independência do poder judiciário, adotará medidas para reforçar a integridade e evitar toda
oportunidade de corrupção entre os membros do poder judiciário. Tais medidas poderão incluir normas que
regulem a conduta dos membros do poder judiciário.

2. Poderão formular-se e aplicar-se no ministério público medidas com idêntico fim às adotadas no
parágrafo 1 do presente Artigo nos Estados Partes em que essa instituição não forme parte do poder judiciário
mas goze de independência análoga.

Artigo 12

Setor Privado

1. Cada Estado Parte, em conformidade com os princípios fundamentais de sua legislação interna, adotará
medidas para prevenir a corrupção e melhorar as normas contábeis e de auditoria no setor privado, assim
como, quando proceder, prever sanções civis, administrativas ou penais eficazes, proporcionadas e dissuasivas
em caso de não cumprimento dessas medidas.

2. As medidas que se adotem para alcançar esses fins poderão consistir, entre outras coisas, em:

a) Promover a cooperação entre os organismos encarregados de fazer cumprir a lei e as entidades


privadas pertinentes;

b) Promover a formulação de normas e procedimentos com o objetivo de salvaguardar a integridade das


entidades privadas pertinentes, incluídos códigos de conduta para o correto, honroso e devido exercício das
atividades comerciais e de todas as profissões pertinentes e para a prevenção de conflitos de interesses, assim
como para a promoção do uso de boas práticas comerciais entre as empresas e as relações contratuais das
empresas com o Estado;

c) Promover a transparência entre entidades privadas, incluídas, quando proceder, medidas relativas à
identificação das pessoas jurídicas e físicas envolvidas no estabelecimento e na gestão de empresas;

d) Prevenir a utilização indevida dos procedimentos que regulam as entidades privadas, incluindo os
procedimentos relativos à concessão de subsídios e licenças pelas autoridades públicas para atividades
comerciais;

e) Prevenir os conflitos de interesse impondo restrições apropriadas, durante um período razoável, às


atividades profissionais de ex-funcionários públicos ou à contratação de funcionários públicos pelo setor privado
depois de sua renúncia ou aposentadoria quando essas atividades ou essa contratação estejam diretamente
relacionadas com as funções desempenhadas ou supervisionadas por esses funcionários públicos durante sua
permanência no cargo;

f) Velar para que as empresas privadas, tendo em conta sua estrutura e tamanho, disponham de
suficientes controles contábeis internos para ajudar a prevenir e detectar os atos de corrupção e para que as
contas e os estados financeiros requeridos dessas empresas privadas estejam sujeitos a procedimentos
apropriados de auditoria e certificação;

3. A fim de prevenir a corrupção, cada estado parte adotará as medidas que sejam necessárias, em
conformidade com suas leis e regulamentos internos relativos à manutenção de livros e registros, à divulgação
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 222

de estados financeiros e às normas de contabilidade e auditoria, para proibir os seguintes atos realizados com
o fim de cometer quaisquer dos delitos qualificados de acordo com a presente Convenção:

a) O estabelecimento de contas não registradas em livros;

b) A realização de operações não registradas em livros ou mal especificadas;

c) O registro de gastos inexistentes;

d) O juízo de gastos nos livros de contabilidade com indicação incorreta de seu objetivo;

e) A utilização de documentos falsos; e

f) A destruição deliberada de documentos de contabilidade antes do prazo previsto em lei.

4. Cada Estado Parte ditará a dedução tributária relativa aos gastos que venham a constituir suborno, que
é um dos elementos constitutivos dos delitos qualificados de acordo com os Artigos 15 e 16 da presente
Convenção e, quando proceder, relativa a outros gastos que tenham tido por objetivo promover um
comportamento corrupto.

Artigo 13

Participação da sociedade

1. Cada Estado Parte adotará medidas adequadas, no limite de suas possibilidades e de conformidade
com os princípios fundamentais de sua legislação interna, para fomentar a participação ativa de pessoas e
grupos que não pertençam ao setor público, como a sociedade civil, as organizações não-governamentais e as
organizações com base na comunidade, na prevenção e na luta contra a corrupção, e para sensibilizar a opinião
pública a respeito à existência, às causas e à gravidade da corrupção, assim como a ameaça que esta
representa. Essa participação deveria esforçar-se com medidas como as seguintes:

a) Aumentar a transparência e promover a contribuição da cidadania aos processos de adoção de


decisões;

b) Garantir o acesso eficaz do público à informação;

c) Realizar atividade de informação pública para fomentar a intransigência à corrupção, assim como
programas de educação pública, incluídos programas escolares e universitários;

d) Respeitar, promover e proteger a liberdade de buscar, receber, publicar e difundir informação relativa
à corrupção. Essa liberdade poderá estar sujeita a certas restrições, que deverão estar expressamente
qualificadas pela lei e ser necessárias para: i) Garantir o respeito dos direitos ou da reputação de terceiros;
ii) Salvaguardar a segurança nacional, a ordem pública, ou a saúde ou a moral públicas.

2. Cada Estado Parte adotará medidas apropriadas para garantir que o público tenha conhecimento dos
órgão pertinentes de luta contra a corrupção mencionados na presente Convenção, e facilitará o acesso a tais
órgãos, quando proceder, para a denúncia, inclusive anônima, de quaisquer incidentes que possam ser
considerados constitutivos de um delito qualificado de acordo com a presente Convenção.

Artigo 14

Medidas para prevenir a lavagem de dinheiro

1. Cada Estado Parte:

a) Estabelecerá um amplo regimento interno de regulamentação e supervisão dos bancos e das


instituições financeiras não-bancárias, incluídas as pessoas físicas ou jurídicas que prestem serviços oficiais
ou oficiosos de transferência de dinheiro ou valores e, quando proceder, outros órgãos situados dentro de sua
jurisdição que sejam particularmente suspeitos de utilização para a lavagem de dinheiro, a fim de prevenir e
detectar todas as formas de lavagem de dinheiro, e em tal regimento há de se apoiar fortemente nos requisitos
relativos à identificação do cliente e, quando proceder, do beneficiário final, ao estabelecimento de registros e
à denúncia das transações suspeitas;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 223

b) Garantirá, sem prejuízo à aplicação do Artigo 46 da presente Convenção, que as autoridades de


administração, regulamentação e cumprimento da lei e demais autoridades encarregadas de combater a
lavagem de dinheiro (incluídas, quando seja pertinente de acordo com a legislação interna, as autoridades
judiciais) sejam capazes de cooperar e intercambiar informações nos âmbitos nacional e internacional, de
conformidade com as condições prescritas na legislação interna e, a tal fim, considerará a possibilidade de
estabelecer um departamento de inteligência financeira que sirva de centro nacional de recompilação, análise
e difusão de informação sobre possíveis atividades de lavagem de dinheiro.

2. Os Estados Partes considerarão a possibilidade de aplicar medidas viáveis para detectar e vigiar o
movimento transfronteiriço de efetivo e de títulos negociáveis pertinentes, sujeitos a salvaguardas que
garantam a devida utilização da informação e sem restringir de modo algum a circulação de capitais
lícitos. Essas medidas poderão incluir a exigência de que os particulares e as entidades comerciais notifiquem
as transferências transfronteiriças de quantidades elevadas de efetivos e de títulos negociáveis pertinentes.

3. Os Estados Partes considerarão a possibilidade de aplicar medidas apropriadas e viáveis para exigir
às instituições financeiras, incluídas as que remetem dinheiro, que:

a) Incluam nos formulários de transferência eletrônica de fundos e mensagens conexas informação


exata e válida sobre o remetente;

b) Mantenham essa informação durante todo o ciclo de operação; e

c) Examinem de maneira mais minuciosa as transferências de fundos que não contenham informação
completa sobre o remetente.

4. Ao estabelecer um regimento interno de regulamentação e supervisão de acordo com o presente


Artigo, e sem prejuízo do disposto em qualquer outro Artigo da presente Convenção, recomenda-se aos
Estados Partes que utilizem como guia as iniciativas pertinentes das organizações regionais, interregionais e
multilaterais de luta contra a lavagem de dinheiro.

5. Os Estados Partes se esforçarão por estabelecer e promover a cooperação em escala mundial,


regional, sub-regional e bilateral entre as autoridades judiciais, de cumprimento da lei e de regulamentação
financeira a fim de combater a lavagem de dinheiro.

Capítulo III

Penalização e aplicação da lei

Artigo 15

Suborno de funcionários públicos nacionais

Cada Estado Parte adotará as medidas legislativas e de outras índoles que sejam necessárias para
qualificar como delito, quando cometidos intencionalmente:

a) A promessa, o oferecimento ou a concessão a um funcionário público, de forma direta ou indireta, de


um benefício indevido que redunde em seu próprio proveito ou no de outra pessoa ou entidade com o fim de
que tal funcionário atue ou se abstenha de atuar no cumprimento de suas funções oficiais;

b) A solicitação ou aceitação por um funcionário público, de forma direta ou indireta, de um benefício


indevido que redunde em seu próprio proveito ou no de outra pessoa ou entidade com o fim de que tal
funcionário atue ou se abstenha de atuar no cumprimento de suas funções oficiais.

Artigo 16

Suborno de funcionários públicos estrangeiros e de funcionários de organizações internacionais públicas

1. Cada Estado Parte adotará as medidas legislativas e de outras índoles que sejam necessárias para
qualificar como delito, quando cometido intencionalmente, a promessa, oferecimento ou a concessão, de forma
direta ou indireta, a um funcionário público estrangeiro ou a um funcionário de organização internacional
pública, de um benefício indevido que redunde em seu próprio proveito ou no de outra pessoa ou entidade com
o fim de que tal funcionário atue ou se abstenha de atuar no exercício de suas funções oficiais para obter ou
manter alguma transação comercial ou outro benefício indevido em relação com a realização de atividades
comerciais internacionais.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 224

2. Cada Estado Parte considerará a possibilidade de adotar medidas legislativas e de outras índoles que
sejam necessárias para qualificar como delito, quando cometido intencionalmente, a solicitação ou aceitação
por um funcionário público estrangeiro ou funcionário de organização internacional pública, de forma direta ou
indireta, de um benefício indevido que redunde em proveito próprio ou no de outra pessoa ou entidade, com o
fim de que tal funcionário atue ou se abstenha de atuar no exercício de suas funções oficiais.

Artigo 17

Malversação ou peculato, apropriação indébita ou outras formas de

desvio de bens por um funcionário público

Cada Estado Parte adotará as medidas legislativas e de outras índoles que sejam necessárias para
qualificar como delito, quando cometido intencionalmente, a malversação ou o peculato, a apropriação
indébita ou outras formas de desvio de bens, fundos ou títulos públicos ou privados ou qualquer outra coisa
de valor que se tenham confiado ao funcionário em virtude de seu cargo.

Artigo 18

Tráfico de influências

Cada Estado Parte considerará a possibilidade de adotar as medidas legislativas e de outras índoles que
sejam necessárias para qualificar como delito, quando cometido intencionalmente:

a) A promessa, o oferecimento ou a concessão a um funcionário público ou a qualquer outra pessoa, de


forma direta ou indireta, de um benefício indevido com o fim de que o funcionário público ou a pessoa abuse
de sua influência real ou suposta para obter de uma administração ou autoridade do Estado Parte um benefício
indevido que redunde em proveito do instigador original do ato ou de qualquer outra pessoa;

b) A solicitação ou aceitação por um funcionário público ou qualquer outra pessoa, de forma direta ou
indireta, de um benefício indevido que redunde em seu proveito próprio ou no de outra pessoa com o fim de
que o funcionário público ou a pessoa abuse de sua influência real ou suposta para obter de uma administração
ou autoridade do Estado Parte um benefício indevido.

Artigo 19

Abuso de funções

Cada Estado Parte considerará a possibilidade de adotar as medidas legislativas e de outras índoles que
sejam necessárias para qualificar como delito, quando cometido intencionalmente, o abuso de funções ou do
cargo, ou seja, a realização ou omissão de um ato, em violação à lei, por parte de um funcionário público no
exercício de suas funções, com o fim de obter um benefício indevido para si mesmo ou para outra pessoa ou
entidade.

Artigo 20

Enriquecimento ilícito

Com sujeição a sua constituição e aos princípios fundamentais de seu ordenamento jurídico, cada
Estado Parte considerará a possibilidade de adotar as medidas legislativas e de outras índoles que sejam
necessárias para qualificar como delito, quando cometido intencionalmente, o enriquecimento ilícito, ou seja,
o incremento significativo do patrimônio de um funcionário público relativos aos seus ingressos legítimos que
não podem ser razoavelmente justificados por ele.

Artigo 21

Suborno no setor privado

Cada Estado Parte considerará a possibilidade de adotar medidas legislativas e de outras índoles que
sejam necessárias para qualificar como delito, quando cometido intencionalmente no curso de atividades
econômicas, financeiras ou comerciais:

a) A promessa, o oferecimento ou a concessão, de forma direta ou indireta, a uma pessoa que dirija uma
entidade do setor privado ou cumpra qualquer função nela, de um benefício indevido que redunde em seu
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 225

próprio proveito ou no de outra pessoa, com o fim de que, faltando ao dever inerente às suas funções, atue ou
se abstenha de atuar;

b) A solicitação ou aceitação, de forma direta ou indireta, por uma pessoa que dirija uma entidade do setor
privado ou cumpra qualquer função nela, de um benefício indevido que redunde em seu próprio proveito ou no
de outra pessoa, com o fim de que, faltando ao dever inerente às suas funções, atue ou se abstenha de atuar.

Artigo 22

Malversação ou peculato de bens no setor privado

Cada Estado Parte considerará a possibilidade de adotar medidas legislativas e de outras índoles que
sejam necessárias para qualificar como delito, quando cometido intencionalmente no curso de atividades
econômicas, financeiras ou comerciais, a malversação ou peculato, por uma pessoa que dirija uma entidade
do setor privado ou cumpra qualquer função nela, de quaisquer bens, fundos ou títulos privados ou de
qualquer outra coisa de valor que se tenha confiado a essa pessoa por razão de seu cargo.

Artigo 23

Lavagem de produto de delito

1. Cada Estado Parte adotará, em conformidade com os princípios fundamentais de sua legislação
interna, as medidas legislativas e de outras índoles que sejam necessárias para qualificar como delito,
quando cometido intencionalmente:

a) i) A conversão ou a transferência de bens, sabendo-se que esses bens são produtos de delito, com o
propósito de ocultar ou dissimular a origem ilícita dos bens e ajudar a qualquer pessoa envolvida na prática do
delito com o objetivo de afastar as conseqüências jurídicas de seus atos;
ii) A ocultação ou dissimulação da verdadeira natureza, origem, situação, disposição, movimentação ou da
propriedade de bens o do legítimo direito a estes, sabendo-se que tais bens são produtos de delito;

b) Com sujeição aos conceitos básicos de seu ordenamento jurídico: i) A aquisição, possessão ou
utilização de bens, sabendo-se, no momento de sua receptação, de que se tratam de produto de delito; ii) A
participação na prática de quaisquer dos delitos qualificados de acordo com o presente Artigo, assim como a
associação e a confabulação para cometê-los, a tentativa de cometê-los e a ajuda, incitação, facilitação e o
assessoramento com vistas à sua prática.

2. Para os fins de aplicação ou colocação em prática do parágrafo 1 do presente Artigo:

a) Cada Estado Parte velará por aplicar o parágrafo 1 do presente Artigo à gama mais ampla possível de
delitos determinantes;

b) Cada Estado Parte incluirá como delitos determinantes, como mínimo, uma ampla gama de delitos
qualificados de acordo com a presente Convenção;

c) Aos efeitos do item "b)" supra, entre os delitos determinantes se incluirão os delitos cometidos tanto
dentro como fora da jurisdição do Estado Parte interessado. Não obstante, os delitos cometidos fora da
jurisdição de um Estado Parte constituirão delito determinante sempre e quando o ato correspondente seja
delito de acordo com a legislação interna do Estado em que se tenha cometido e constitui-se assim mesmo
delito de acordo com a legislação interna do Estado Parte que aplique ou ponha em prática o presente Artigo
se o delito houvesse sido cometido ali;

d) Cada Estado Parte proporcionará ao Secretário Geral das Nações Unidas uma cópia de suas leis
destinadas a dar aplicação ao presente Artigo e de qualquer emenda posterior que se atenha a tais leis;

e) Se assim requererem os princípios fundamentais da legislação interna de um Estado Parte, poderá


dispor-se que os delitos enunciados no parágrafo 1 do presente Artigo não se apliquem às pessoas que
tenham cometido o delito determinante.

Artigo 24

Encobrimento
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 226

Sem prejuízo do disposto no Artigo 23 da presente Convenção, cada Estado Parte considerará a
possibilidade de adotar as medidas legislativas e de outra índole que sejam necessárias para qualificar o
delito, quando cometido intencionalmente após a prática de quaisquer dos delitos qualificados de acordo com
a presente Convenção mas sem haver participados deles, o encobrimento ou a retenção contínua de bens
sabendo-se que tais bens são produtos de quaisquer dos delitos qualificados de acordo com a presente
Convenção.

Artigo 25

Obstrução da justiça

Cada Estado Parte adotará as medidas legislativas e de outras índoles que sejam necessárias para
qualificar como delito, quando cometidos intencionalmente:

a) O uso da força física, ameaças ou intimidação, ou a promessa, o oferecimento ou a concessão de um


benefício indevido para induzir uma pessoa a prestar falso testemunho ou a atrapalhar a prestação de
testemunho ou a apartação de provas em processos relacionados com a prática dos delitos qualificados de
acordo com essa Convenção;

b) O uso da força física, ameaças ou intimidação para atrapalhar o cumprimento das funções oficiais de
um funcionário da justiça ou dos serviços encarregados de fazer cumprir-se a lei em relação com a prática dos
delitos qualificados de acordo com a presente Convenção. Nada do previsto no presente Artigo menosprezará
a legislação interna dos Estados Partes que disponham de legislação que proteja a outras categorias de
funcionários públicos.

Artigo 26

Responsabilidade das pessoas jurídicas

1. Cada Estado Parte adotará as medidas que sejam necessárias, em consonância com seus princípios
jurídicos, a fim de estabelecer a responsabilidade de pessoas jurídicas por sua participação nos delitos
qualificados de acordo com a presente Convenção.

2. Sujeito aos princípios jurídicos do Estado Parte, a responsabilidade das pessoas jurídicas poderá ser
de índole penal, civil ou administrativa.

3. Tal responsabilidade existirá sem prejuízo à responsabilidade penal que incumba às pessoas físicas
que tenham cometido os delitos.

4. Cada Estado Parte velará em particular para que se imponham sanções penais ou não-penais
eficazes, proporcionadas e dissuasivas, incluídas sanções monetárias, às pessoas jurídicas consideradas
responsáveis de acordo com o presente Artigo.

Artigo 27

Participação ou tentativa

1. Cada Estado Parte adotará as medidas legislativas e de outras índoles que sejam necessárias para
qualificar como delito, em conformidade com sua legislação interna, qualquer forma de participação, seja ela
como cúmplice, colaborador ou instigador, em um delito qualificado de acordo com a presente Convenção.

2. Cada Estado Parte poderá adotar as medidas legislativas e de outras índoles que sejam necessárias
para qualificar como delito, em conformidade com sua legislação interna, toda tentativa de cometer um delito
qualificado de acordo com a presente Convenção.

3. Cada Estado Parte poderá adotar as medidas legislativas e de outras índoles que sejam necessárias para
qualificar como delito, em conformidade com sua legislação interna, a preparação com vistas a cometer um
delito qualificado de acordo com a presente Convenção.

Artigo 28

Conhecimento, intenção e propósito como elementos de um delito


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 227

O conhecimento, a intenção ou o propósito que se requerem como elementos de um delito qualificado


de acordo com a presente Convenção poderão inferir-se de circunstâncias fáticas objetivas.

Artigo 29

Prescrição

Cada Estado Parte estabelecerá, quando proceder, de acordo com sua legislação interna, um prazo de
prescrição amplo para iniciar processos por quaisquer dos delitos qualificados de acordo com a presente
Convenção e estabelecerá um prazo maior ou interromperá a prescrição quando o presumido delinqüente
tenha evadido da administração da justiça.

Artigo 30

Processo, sentença e sanções

1. Cada Estado Parte punirá a prática dos delitos qualificados de acordo com a presente Convenção com
sanções que tenham em conta a gravidade desses delitos.

2. Cada Estado Parte adotará as medidas que sejam necessárias para estabelecer ou manter, em
conformidade com seu ordenamento jurídico e seus princípios constitucionais, um equilíbrio apropriado entre
quaisquer imunidades ou prerrogativas jurisdicionais outorgadas a seus funcionários públicos para o
cumprimento de suas funções e a possibilidade, se necessário, de proceder efetivamente à investigação, ao
indiciamento e à sentença dos delitos qualificados de acordo com a presente Convenção.

3. Cada Estado Parte velará para que se exerçam quaisquer faculdades legais discricionárias de que
disponham conforme sua legislação interna em relação ao indiciamento de pessoas pelos delitos qualificados
de acordo com a presente Convenção a fim de dar máxima eficácia às medidas adotadas para fazer cumprir a
lei a respeito desses delitos, tendo devidamente em conta a necessidade de preveni-los.

4. Quando se trate dos delitos qualificados de acordo com a presente Convenção, cada Estado Parte
adotará as medidas apropriadas, em conformidade com sua legislação interna e levando devidamente em
consideração os direitos de defesa, com vistas a procurar que, ao impor condições em relação com a decisão
de conceder liberdade em espera de juízo ou apelação, se tenha presente a necessidade de garantir o
comparecimento do acusado em todo procedimento penal posterior.

5. Cada Estado Parte terá em conta a gravidade dos delitos pertinentes ao considerar a eventualidade de
conceder a liberdade antecipada ou a liberdade condicional a pessoas que tenham sido declaradas culpadas
desses delitos.

6. Cada Estado Parte considerará a possibilidade de estabelecer, na medida em que ele seja concordante
com os princípios fundamentais de seu ordenamento jurídico, procedimentos em virtude dos quais um
funcionário público que seja acusado de um delito qualificado de acordo com a presente Convenção possa,
quando proceder, ser destituído, suspenso ou transferido pela autoridade correspondente, tendo presente o
respeito ao princípio de presunção de inocência.

7. Quando a gravidade da falta não justifique e na medida em que ele seja concordante com os princípios
fundamentais de seu ordenamento jurídico, cada Estado Parte considerará a possibilidade de estabelecer
procedimentos para inabilitar, por mandado judicial ou outro meio apropriado e por um período determinado em
sua legislação interna, as pessoas condenadas por delitos qualificados de acordo com a presente Convenção
para:

a) Exercer cargos públicos; e

b) Exercer cargos em uma empresa de propriedade total ou parcial do Estado.

8. O parágrafo 1 do presente Artigo não prejudicará a aplicação de medidas disciplinares pelas


autoridades competentes contra funcionários públicos.

9. Nada do disposto na presente Convenção afetará o princípio de que a descrição dos delitos
qualificados de acordo com ela e dos meios jurídicos de defesa aplicáveis ou demais princípios jurídicos que
regulam a legalidade de uma conduta que a reservada à legislação interna dos Estados Partes e de que
esses delitos haverão de ser perseguidos e sancionados em conformidade com essa legislação.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 228

10. Os Estados Partes procurarão promover a reinserção social das pessoas condenadas por delitos
qualificados de acordo com a presente Convenção.

Artigo 31

Embargo preventivo, apreensão e confisco

1. Cada Estado Parte adotará, no maior grau permitido em seu ordenamento jurídico interno, as medidas
que sejam necessárias para autorizar o confisco:

a) Do produto de delito qualificado de acordo com a presente Convenção ou de bens cujo valor
corresponda ao de tal produto;

b) Dos bens, equipamentos ou outros instrumentos utilizados ou destinados utilizados na prática dos
delitos qualificados de acordo com a presente Convenção.

2. Cada Estado Parte adotará as medidas que sejam necessárias para permitir a identificação, localização,
embargo preventivo ou a apreensão de qualquer bem a que se tenha referência no parágrafo 1 do presente
Artigo com vistas ao seu eventual confisco.

3. Cada Estado Parte adotará, em conformidade com sua legislação interna, as medidas legislativas e de
outras índoles que sejam necessárias para regular a administração, por parte das autoridades competentes,
dos bens embargados, incautados ou confiscados compreendidos nos parágrafos 1 e 2 do presente Artigo.

4. Quando esse produto de delito se tiver transformado ou convertido parcialmente ou totalmente em


outros bens, estes serão objeto das medidas aplicáveis a tal produto de acordo com o presente Artigo.

5. Quando esse produto de delito se houver mesclado com bens adquiridos de fontes lícitas, esses bens
serão objeto de confisco até o valor estimado do produto mesclado, sem menosprezo de qualquer outra
faculdade de embargo preventivo ou apreensão.

6. Os ingressos e outros benefícios derivados desse produto de delito, de bens nos quais se tenham
transformado ou convertido tal produto ou de bens que se tenham mesclado a esse produto de delito também
serão objeto das medidas previstas no presente Artigo, da mesma maneira e no mesmo grau que o produto do
delito.

7. Aos efeitos do presente Artigo e do Artigo 55 da presente Convenção, cada Estado Parte facultará a
seus tribunais ou outras autoridade competentes para ordenar a apresentação ou a apreensão de documentos
bancários, financeiros ou comerciais. Os Estados Partes não poderão abster-se de aplicar as disposições do
presente parágrafo amparando-se no sigilo bancário.

8. Os Estados Partes poderão considerar a possibilidade de exigir de um delinqüente que demonstre a


origem lícita do alegado produto de delito ou de outros bens expostos ao confisco, na medida em que ele seja
conforme com os princípios fundamentais de sua legislação interna e com a índole do processo judicial ou
outros processos.

9. As disposições do presente Artigo não se interpretarão em prejuízo do direito de terceiros que atuem
de boa-fé.

10. Nada do disposto no presente Artigo afetará o princípio de que as medidas nele previstas se
definirão e aplicar-se-ão em conformidade com a legislação interna dos Estados Partes e com sujeição a
este.

Artigo 32

Proteção a testemunhas, peritos e vítimas

1. Cada Estado Parte adotará medidas apropriadas, em conformidade com seu ordenamento jurídico interno e
dentro de suas possibilidades, para proteger de maneira eficaz contra eventuais atos de represália ou
intimidação as testemunhas e peritos que prestem testemunho sobre os delitos qualificados de acordo com a
presente Convenção, assim como, quando proceder, a seus familiares e demais pessoas próximas.

2. As medidas previstas no parágrafo 1 do presente Artigo poderão consistir, entre outras, sem prejuízo
dos direitos do acusado e incluindo o direito de garantias processuais, em:
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 229

a) Estabelecer procedimentos para a proteção física dessas pessoas, incluída, na medida do necessário
e do possível, sua remoção, e permitir, quando proceder, à proibição total ou parcial de revelar informação
sobre sua identidade e paradeiro;

b) Estabelecer normas probatórias que permitam que as testemunhas e peritos prestem testemunho sem
pôr em perigo a segurança dessas pessoas, por exemplo, aceitando o testemunho mediante tecnologias de
comunicação como a videoconferência ou outros meios adequados.

3. Os Estados Partes considerarão a possibilidade de celebrar acordos ou tratados com outros Estados
para a remoção das pessoas mencionadas no parágrafo 1 do presente Artigo.

4. As disposições do presente Artigo se aplicarão também às vítimas na medida em que sejam


testemunhas.

5. Cada Estado Parte permitirá, com sujeição a sua legislação interna, que se apresentem e considerem
as opiniões e preocupações das vítimas em etapas apropriadas das ações penais contra os criminosos sem
menosprezar os direitos de defesa.

Artigo 33

Proteção aos denunciantes

Cada Estado Parte considerará a possibilidade de incorporar em seu ordenamento jurídico interno medidas
apropriadas para proporcionar proteção contra todo trato injusto às pessoas que denunciem ante as
autoridades competentes, de boa-fé e com motivos razoáveis, quaisquer feitos relacionados com os delitos
qualificados de acordo com a presente Convenção.

Artigo 34

Conseqüências dos atos de corrupção

Com a devida consideração aos direitos adquiridos de boa-fé por terceiros, cada Estado Parte, em
conformidade com os princípios fundamentais de sua legislação interna, adotará medidas para eliminar as
conseqüências dos atos de corrupção. Neste contexto, os Estados Partes poderão considerar a corrupção um
fator pertinente em procedimentos jurídicos encaminhados a anular ou deixar sem efeito um contrato ou a
revogar uma concessão ou outro instrumento semelhante, o adotar qualquer outra medida de correção.

Artigo 35

Indenização por danos e prejuízos

Cada Estado Parte adotará as medidas que sejam necessárias, em conformidade com os princípios de
sua legislação interna, para garantir que as entidades ou pessoas prejudicadas como conseqüência de um
ato de corrupção tenham direito a iniciar uma ação legal contra os responsáveis desses danos e prejuízos a
fim de obter indenização.

Artigo 36

Autoridades especializadas

Cada Estado Parte, de conformidade com os princípios fundamentais de seu ordenamento jurídico, se
certificará de que dispõe de um ou mais órgãos ou pessoas especializadas na luta contra a corrupção mediante
a aplicação coercitiva da lei. Esse(s) órgão(s) ou essa(s) pessoa(s) gozarão da independência necessária,
conforme os princípios fundamentais do ordenamento jurídico do Estado Parte, para que possam desempenhar
suas funções com eficácia e sem pressões indevidas. Deverá proporcionar-se a essas pessoas ou ao pessoal
desse(s) órgão(s) formação adequada e recursos suficientes para o desempenho de suas funções.

Artigo 37

Cooperação com as autoridades encarregadas de fazer cumprir a lei

1. Cada Estado Parte adotará as medidas apropriadas para restabelecer as pessoas que participem ou
que tenham participado na prática dos delitos qualificados de acordo com a presente Convenção que
proporcionem às autoridades competentes informação útil com fins investigativos e probatórios e as que lhes
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 230

prestem ajuda efetiva e concreta que possa contribuir a privar os criminosos do produto do delito, assim como
recuperar esse produto.

2. Cada Estado Parte considerará a possibilidade de prever, em casos apropriados, a mitigação de pena
de toda pessoa acusada que preste cooperação substancial à investigação ou ao indiciamento dos delitos
qualificados de acordo com a presente Convenção.

3. Cada Estado parte considerará a possibilidade de prever, em conformidade com os princípios


fundamentais de sua legislação interna, a concessão de imunidade judicial a toda pessoa que preste
cooperação substancial na investigação ou no indiciamento dos delitos qualificados de acordo com a presente
Convenção.

4. A proteção dessas pessoas será, mutatis mutandis, a prevista no Artigo 32 da presente Convenção.

5. Quando as pessoas mencionadas no parágrafo 1 do presente Artigo se encontrem em um Estado Parte


e possam prestar cooperação substancial às autoridades competentes de outro Estado Parte, os Estados
Partes interessados poderão considerar a possibilidade de celebrar acordos ou tratados, em conformidade com
sua legislação interna, a respeito da eventual concessão, por esse Estrado Parte, do trato previsto nos
parágrafos 2 e 3 do presente Artigo.

Artigo 38

Cooperação entre organismos nacionais

Cada Estado Parte adotará as medidas que sejam necessárias, em conformidade com sua legislação
interna, para estabelecer a cooperação entre, de um lado, seus organismos públicos, assim como seus
funcionários públicos, e, do outro, seus organismos encarregados de investigar e processar judicialmente os
delitos. Essa cooperação poderá incluir:

a) Informar a esses últimos organismos, por iniciativa do Estado Parte, quando tenha motivos razoáveis
para suspeitar-se que fora praticado algum dos crimes qualificados de acordo com os Artigos 15, 21 e 23 da
presente Convenção; ou

b) Proporcionar a esses organismos toda a informação necessária mediante solicitação.

Artigo 39

Cooperação entre os organismos nacionais e o setor privado

1. Cada Estado Parte adotará as medidas que sejam necessárias, em conformidade com seu direito
interno, para estabelecer a cooperação entre os organismos nacionais de investigação e o ministério público,
de um lado, e as entidades do setor privado, em particular as instituições financeiras, de outro, em questões
relativas à prática dos delitos qualificados de acordo com a presente Convenção.

2. Cada Estado Parte considerará a possibilidade de estabelecer que seus cidadãos e demais pessoas
que tenham residência em seu território a denunciar ante os organismos nacionais de investigação e o
ministério público a prática de todo delito qualificado de acordo com a presente Convenção.

Artigo 40

Sigilo bancário

Cada Estado Parte velará para que, no caso de investigações penais nacionais de delitos qualificados de
acordo com a presente Convenção, existam em seu ordenamento jurídico interno mecanismos apropriados
para eliminar qualquer obstáculo que possa surgir como conseqüência da aplicação da legislação relativa ao
sigilo bancário.

Artigo 41

Antecedentes penais

Cada Estado Parte poderá adotar as medidas legislativas ou de outras índoles que sejam necessárias
para ter em conta, nas condições e para os fins que estime apropriados, toda prévia declaração de
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 231

culpabilidade de um presumido criminoso em outro Estado a fim de utilizar essa informação em ações penais
relativas a delitos qualificados de acordo com a presente Convenção.

Artigo 42

Jurisdição

1. Cada Estado Parte adotará as medidas que sejam necessárias para estabelecer sua jurisdição a
respeito dos delitos qualificados de acordo com a presente Convenção quando:

a) O delito se cometa em seu território; ou

b) O delito se cometa a bordo de uma embarcação que possua identificação de tal Estado ou de uma
aeronave registrada sob suas leis no momento de sua prática.

2. Com sujeição ao disposto no Artigo 4 da presente Convenção, um Estado Parte também poderá
estabelecer sua jurisdição para ter conhecimento de tais delitos quando:

a) O delito se cometa contra um de seus cidadãos;

b) O delito seja cometido por um de seus cidadãos ou por um estrangeiro que tenha residência em seu
território;

c) O delito seja um dos delitos qualificados de acordo com o inciso "ii)" da parte "b)" do parágrafo 1 do
Artigo 23 da presente Convenção e se cometa fora de seu território com vistas à prática, dentro de seu território,
de um delito qualificado de acordo com os incisos "i)" e "ii)" da parte "a)" ou inciso "i)" da parte "b)" do parágrafo
1 do Artigo 23 da presente Convenção; ou

d) O delito se cometa contra o Estado Parte.

3. Aos efeitos do Artigo 44 da presente Convenção, cada Estado Parte adotará as medidas que sejam
necessárias para estabelecer a jurisdição relativa aos delitos qualificados de acordo com a presente Convenção
quando o presumido criminoso se encontre em seu território e o Estado Parte não o extradite pelo fato de ser
um de seus cidadãos.

4. Cada Estado Parte poderá também adotar as medidas que sejam necessárias para estabelecer sua
jurisdição a respeito dos delitos qualificados na presente Convenção quando o presumido criminoso se encontre
em seu território e o Estado Parte não o extradite.

5. Se um Estado Parte que exerce sua jurisdição de acordo com os parágrafos 1 ou 2 do presente Artigo
for notificado, ou tomar conhecimento por outro meio, de que outros Estados Partes estão realizando uma
investigação, um processo ou uma ação judicial relativos aos mesmos fatos, as autoridades competentes
desses Estados Partes se consultarão, segundo proceda, a fim de coordenar suas medidas.

6. Sem prejuízo às normas do direito internacional geral, a presente Convenção não excluirá o exercício
das competências penais estabelecidas pelos Estados Partes em conformidade com suas legislações
internas.

Capítulo IV

Cooperação internacional

Artigo 43

Cooperação internacional

1. Os Estados Partes cooperarão em assuntos penais conforme o disposto nos Artigos 44 a 50 da presente
Convenção. Quando proceda e estiver em consonância com seu ordenamento jurídico interno, os Estados
Partes considerarão a possibilidade de prestar-se assistência nas investigações e procedimentos
correspondentes a questões civis e administrativas relacionadas com a corrupção.

2. Em questões de cooperação internacional, quando a dupla incriminação seja um requisito, este se


considerará cumprido se a conduta constitutiva do delito relativo ao qual se solicita assistência é um delito de
acordo com a legislação de ambos os Estados Partes, independentemente se as leis do Estado Parte requerido
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 232

incluem o delito na mesma categoria ou o denominam com a mesma terminologia que o Estado Parte
requerente.

Artigo 44

Extradição

1. O presente Artigo se aplicará a todos os delitos qualificados de acordo com a presente Convenção no
caso de que a pessoa que é objeto de solicitação de extradição se encontre no território do Estado Parte
requerido, sempre e quando o delito pelo qual se pede a extradição seja punível de acordo com a legislação
interna do Estado Parte requerente e do Estado Parte requerido.

2. Sem prejuízo ao disposto no parágrafo 1 do presente Artigo, os Estados Partes cuja legislação o
permitam poderão conceder a extradição de uma pessoa por quaisquer dos delitos compreendidos na presente
Convenção que não sejam puníveis com relação à sua própria legislação interna.

3. Quando a solicitação de extradição incluir vários delitos, dos quais ao menos um dê lugar à extradição
conforme o disposto no presente Artigo e alguns não derem lugar à extradição devido ao período de privação
de liberdade que toleram mas guardem relação com os delitos qualificados de acordo com a presente
Convenção, o Estado Parte requerido poderá aplicar o presente Artigo também a respeito desses delitos.

4. Cada um dos delitos aos quais se aplicam o presente Artigo se considerará incluído entre os delitos que
dão lugar à extradição em todo tratado de extradição vigente entre os Estados Partes. Estes se comprometem
a incluir tais delitos como causa de extradição em todo tratado de extradição que celebrem entre si. Os Estados
Partes cujas legislações os permitam, no caso de que a presente Convenção sirva de base para a extradição,
não considerarão de caráter político nenhum dos delitos qualificados de acordo com a presente Convenção.

5. Se um Estado Parte que submete a extradição à existência de um tratado recebe uma solicitação de
extradição de outro Estado Parte com o qual não celebra nenhum tratado de extradição, poderá considerar a
presente Convenção como a base jurídica da extradição a respeito dos delitos aos quais se aplicam o presente
Artigo.

6. Todo Estado Parte que submeta a extradição à existência de um tratado deverá:

a) No momento de depositar seu instrumento de ratificação, aceitação ou aprovação da presente


Convenção ou de adesão à ela, informar ao Secretário Geral das Nações Unidas se considerará ou não a
presente Convenção como a base jurídica da cooperação em matéria de extradição em suas relações com os
outros Estados Partes da presente Convenção; e

b) Se não considera a presente Convenção como a base jurídica da cooperação em matéria de extradição,
procurar, quando proceder, celebrar tratados de extradição com outros Estados Partes da presente Convenção
a fim de aplicar o presente Artigo.

7. Os Estados Partes que não submetem a extradição à existência de um tratado reconhecerão os delitos
aos quais se aplica o presente Artigo como causa de extradição entre eles.

8. A extradição estará sujeita às condições previstas na legislação interna do Estado Parte requerido ou
nos tratados de extradição aplicáveis, incluídas, entre outras coisas, as relativas ao requisito de uma pena
mínima para a extradição e aos motivos que o Estado Parte requerido pode incorrer na extradição.

9. Os Estados Partes, em conformidade com sua legislação interna, procurarão agilizar os procedimentos
de extradição e simplificar os requisitos probatórios correspondentes com relação a qualquer dos delitos aos
quais se aplicam o presente Artigo.

10. A respeito do disposto em sua legislação interna e em seus tratados de extradição, o Estado Parte
requerido poderá, após haver-se certificado de que as circunstâncias o justificam e têm caráter urgente, e à
solicitação do Estado Parte requerente, proceder à detenção da pessoa presente em seu território cuja
extradição se peça ou adotar outras medidas adequadas para garantir o comparecimento dessa pessoa nos
procedimentos de extradição.

11. O Estado Parte em cujo território se encontre um presumido criminoso, se não o extradita quando de
um delito aos qual se aplica o presente Artigo pelo fato de ser um de seus cidadãos, estará obrigado, quando
solicitado pelo Estado Parte que pede a extradição, a submeter o caso sem demora injustificada a suas
autoridades competentes para efeitos de indiciamento. As mencionadas autoridades adotarão sua decisão e
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 233

levarão a cabo suas ações judiciais da mesma maneira em que o fariam feito com relação a qualquer outro
delito de caráter grave de acordo com a legislação interna desse Estado Parte. Os Estados Partes interessados
cooperarão entre si, em particular no tocante aos aspectos processuais e probatórios, com vistas a garantir a
eficiência das mencionadas ações.

12. Quando a legislação interna de um Estado Parte só permite extraditar ou entregar de algum outro
modo um de seus cidadãos a condição de que essa pessoa seja devolvida a esse Estado Parte para cumprir
a pena imposta como resultado do juízo do processo por aquele que solicitou a extradição ou a entrega e esse
Estado Parte e o Estado Parte que solicita a extradição aceitem essa opção, assim como toda outra condição
que julguem apropriada, tal extradição ou entrega condicional será suficiente para que seja cumprida a
obrigação enunciada no parágrafo 11 do presente Artigo.

13. Se a extradição solicitada com o propósito de que se cumpra uma pena é negada pelo fato de que a
pessoa procurada é cidadã do Estado Parte requerido, este, se sua legislação interna autoriza e em
conformidade com os requisitos da mencionada legislação, considerará, ante solicitação do Estado Parte
requerente, a possibilidade de fazer cumprir a pena imposta ou o resto pendente de tal pena de acordo com a
legislação interna do Estado Parte requerente.

14. Em todas as etapas das ações se garantirá um tratamento justo a toda pessoa contra a qual se tenha
iniciado uma instrução em relação a qualquer dos delitos aos quais se aplica o presente Artigo, incluindo o gozo
de todos os direitos e garantias previstos pela legislação interna do Estado Parte em cujo território se encontre
essa pessoa.

15. Nada do disposto na presente Convenção poderá interpretar-se como a imposição de uma obrigação
de extraditar se o Estado Parte requerido tem motivos justificados para pressupor que a solicitação foi
apresentada com o fim de perseguir ou castigar a uma pessoa em razão de seu sexo, raça, religião,
nacionalidade, origem étnica ou opiniões políticas ou que seu cumprimento ocasionaria prejuízos à posição
dessa pessoa por quaisquer destas razões.

16. Os Estados Partes não poderão negar uma solicitação de extradição unicamente porque se considere
que o delito também envolve questões tributárias.

17. Antes de negar a extradição, o Estado Parte requerido, quando proceder, consultará o Estado parte
requerente para dar-lhe ampla oportunidade de apresentar suas opiniões e de proporcionar informação
pertinente a sua alegação.

18. Os Estados Partes procurarão celebrar acordos ou tratados bilaterais e multilaterais para levar a cabo
a extradição ou com vistas a aumentar sua eficácia.

Artigo 45

Traslado de pessoas condenadas a cumprir uma pena

Os Estados Partes poderão considerar a possibilidade de celebrar acordos ou tratados bilaterais ou


multilaterais sobre o traslado a seu território de toda pessoa que tenha sido condenada a pena de prisão ou
outra forma de privação de liberdade por algum dos delitos qualificados de acordo com a presente Convenção
a fim de que cumpra ali sua pena.

Artigo 46

Assistência judicial recíproca

1. Os Estados Partes prestar-se-ão a mais ampla assistência judicial recíproca relativa a investigações,
processos e ações judiciais relacionados com os delitos compreendidos na presente Convenção.

2. Prestar-se-á assistência judicial recíproca no maior grau possível conforme as leis, tratados, acordos e
declarações pertinentes do Estado Parte requerido com relação a investigações, processos e ações judiciais
relacionados com os delitos dos quais uma pessoa jurídica pode ser considerada responsável em conformidade
com o Artigo 26 da presente Convenção no Estado Parte requerente.

3. A assistência judicial recíproca que se preste em conformidade com o presente Artigo poderá ser
solicitada para quaisquer dos fins seguintes:

a) Receber testemunhos ou tomar declaração de pessoas;


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 234

b) Apresentar documentos judiciais;

c) Efetuar inspeções, incautações e/ou embargos preventivos;

d) Examinar objetos e lugares;

e) Proporcionar informação, elementos de prova e avaliações de peritos;

f) Entregar originais ou cópias certificadas dos documentos e expedientes pertinentes, incluída a


documentação pública, bancária e financeira, assim como a documentação social ou comercial de
sociedades mercantis;

g) Identificar ou localizar o produto de delito, os bens, os instrumentos e outros elementos para fins
probatórios;

h) Facilitar o comparecimento voluntário de pessoas ao Estado Parte requerente;

i) Prestar qualquer outro tipo de assistência autorizada pela legislação interna do Estado Parte
requerido;

j) Identificar, embargar com caráter preventivo e localizar o produto de delito, em conformidade com as
disposições do Capítulo V da presente Convenção;

l) Recuperar ativos em conformidade com as disposições do Capítulo V da presente Convenção.

4. Sem menosprezo à legislação interna, as autoridades competentes de um Estado Parte poderão, sem
que se lhes solicite previamente, transmitir informação relativa a questões penais a uma autoridade
competente de outro Estado Parte se crêem que essa informação poderia ajudar a autoridade a empreender
ou concluir com êxito indagações e processos penais ou poderia dar lugar a uma petição formulada por este
último Estado Parte de acordo com a presente Convenção.

5. A transmissão de informação de acordo com o parágrafo 4 do presente Artigo se fará sem prejuízo às
indagações e processos penais que tenham lugar no Estado das autoridades competentes que facilitaram a
informação. As autoridades competentes que recebem a informação deverão aquiescer a toda solicitação de
que se respeite seu caráter confidencial, inclusive temporariamente, ou de que se imponham restrições a sua
utilização. Sem embargo, ele não obstará para que o Estado Parte receptor revele, em suas ações, informação
que seja fator de absolvição de uma pessoa acusada. Em tal caso, o Estado Parte receptor notificará o Estado
Parte transmissor antes de revelar a mencionada informação e, se assim for solicitado, consultará o Estado
Parte transmissor. Se, em um caso excepcional, não for possível notificar com antecipação, o Estado Parte
receptor informará sem demora ao Estado Parte transmissor sobre a mencionada revelação.

6. O disposto no presente Artigo não afetará as obrigações inerentes de outros tratados bilaterais ou
multilaterais vigentes ou futuros que rejam, total ou parcialmente, a assistência judicial recíproca.

7. Os parágrafos 9 a 29 do presente Artigo se aplicarão às solicitações que se formulem de acordo com o


presente Artigo sempre que não se estabeleça entre os Estados Partes interessados um tratado de assistência
judicial recíproca. Quando estes Estados Partes estiverem vinculados por um tratado dessa índole se aplicarão
as disposições correspondentes do tal tratado, salvo quando aos Estados Partes convenha aplicar, em seu
lugar, os parágrafos 9 a 29 do presente Artigo. Insta-se encarecidamente aos Estados Partes que apliquem
esses parágrafos se a cooperação for facilitada.

8. Os Estados Partes não invocarão o sigilo bancário para negar a assistência judicial recíproca de acordo
com o presente Artigo.

9. a) Ao atender a uma solicitação de assistência de acordo com o presente Artigo, na ausência de dupla
incriminação, o Estado Parte requerido terá em conta a finalidade da presente Convenção, enunciada no Artigo
1;

b) Os Estados Partes poderão negar-se a prestar assistência de acordo com o presente Artigo invocando
a ausência de dupla incriminação. Não obstante, o Estado Parte requerido, quando esteja em conformidade
com os conceitos básicos de seu ordenamento jurídico, prestará assistência que não envolva medidas
coercitivas. Essa assistência poderá ser negada quando a solicitação envolva assuntos de minimis ou questões
relativas às quais a cooperação ou a assistência solicitada estiver prevista em virtude de outras disposições da
presente Convenção;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 235

c) Na ausência da dupla incriminação, cada Estado Parte poderá considerar a possibilidade de adotar as
medidas necessárias que lhe permitam prestar uma assistência mais ampla de acordo com o presente Artigo.

10. A pessoa que se encontre detida ou cumprindo uma pena no território de um Estado Parte e cuja
presença se solicite por outro Estado Parte para fins de identificação, para prestar testemunho ou para que
ajude de alguma outra forma na obtenção das provas necessárias para investigações, processos ou ações
judiciais relativos aos delitos compreendidos na presente Convenção poderá ser trasladada se cumprirem-se
as condições seguintes:

a) A pessoa, devidamente informada, dá seu livre consentimento;

b) As autoridades competentes de ambos os Estados Partes estão de acordo, com sujeição às condições
que estes considerem apropriadas.

11. Aos efeitos do parágrafo 10 do presente Artigo:

a) O Estado Parte ao qual se traslade a pessoa terá a competência e a obrigação de mantê-la detida,
salvo se o Estado Parte do qual a pessoa fora trasladada solicitar ou autorizar outra coisa;

b) O Estado Parte ao qual se traslade a pessoa cumprirá sem delongas sua obrigação de devolvê-la à
custódia do Estado Parte do qual a trasladou, segundo convenham de antemão ou de outro modo as
autoridades competentes de ambos os Estados Partes;

c) O Estado Parte ao qual se traslade a pessoa não poderá exigir do Estado Parte do qual a pessoa tenha
sido trasladada que inicie procedimentos de extradição para sua devolução;

d) O tempo em que a pessoa tenha permanecido detida no Estado Parte ao qual fora trasladada se
computará como parte da pena que se cumpre no Estado Parte do qual fora trasladada.

12. A menos que o Estado Parte remetente da pessoa a ser trasladada de conformidade com os
parágrafos 10 e 11 do presente Artigo estiver de acordo, tal pessoa, seja qual for sua nacionalidade, não poderá
ser processada, detida, condenada nem submetida a nenhuma outra restrição de sua liberdade pessoal no
território do Estado ao qual fora trasladada em relação a atos, omissões ou penas anteriores a sua saída do
território do Estado remetente.

13. Cada Estado Parte designará uma autoridade central encarregada de receber solicitações de
assistência judicial recíproca e permitida a dar-lhes cumprimento ou para transmiti-las às autoridades
competentes para sua execução. Quando alguma região ou algum território especial de um Estado Parte
disponha de um regimento distinto de assistência judicial recíproca, o Estado Parte poderá designar outra
autoridade central que desempenhará a mesma função para tal região ou mencionado território. As autoridades
centrais velarão pelo rápido e adequado cumprimento ou transmissão das solicitações recebidas. Quando a
autoridade central transmitir a solicitação a uma autoridade competente para sua execução, alentará a rápida
e adequada execução da solicitação por parte da mencionada autoridade. Cada Estado Parte notificará o
Secretário Geral das Nações Unidas, no momento de depositar seu instrumento de ratificação, aceitação ou
aprovação da presente Convenção ou de adesão a ela, o nome da autoridade central que tenha sido designada
para tal fim. As solicitações de assistência judicial recíproca e qualquer outra comunicação pertinente serão
transmitidas às autoridades centrais designadas pelos Estados Partes. A presente disposição não afetará a
legislação de quaisquer dos Estados Partes para exigir que estas solicitações e comunicações lhe sejam
enviadas por via diplomática e, em circunstâncias urgentes, quando os Estados Partes convenham a ele, por
condução da Organização Internacional de Polícia Criminal, de ser possível.

14. As solicitações se apresentarão por escrito ou, quando possível, por qualquer meio capaz de registrar
um texto escrito, em um idioma aceitável pelo Estado Parte requerido. Em condições que permitam ao
mencionado Estado Parte determinar sua autenticidade. Cada Estado Parte notificará o Secretário Geral das
Nações Unidas, no momento de depositar seu instrumento de ratificação, aceitação ou aprovação da presente
Convenção ou de adesão a ela, o(s) idioma(s) que é(são) aceitável(veis). Em situações de urgência, e quando
os Estados Partes convenham a ele, as solicitações poderão fazer-se oralmente, devendo ser confirmadas por
escrito sem delongas.

15. Toda solicitação de assistência judicial recíproca conterá o seguinte:

a) A identidade da autoridade que faz a solicitação;


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 236

b) O objeto e a índole das investigações, dos processos e das ações judiciais a que se refere a
solicitação e o nome e as funções da autoridade encarregada de efetuar tais investigações, processos ou
ações;

c) Um resumo dos feitos pertinentes, salvo quando se trate de solicitações de apresentação de


documentos judiciais;

d) Uma descrição da assistência solicitada e pormenores sobre qualquer procedimento particular que o
Estado Parte requerente deseja que se aplique;

e) Se possível, a identidade, situação e nacionalidade de cada pessoa interessada; e

f) A finalidade pela qual se solicita a prova, informação ou atuação.

16. O Estado Parte requerido poderá pedir informação adicional quando seja necessária para dar
cumprimento à solicitação em conformidade com sua legislação interna ou para facilitar tal cumprimento.

17. Dar-se-á cumprimento a toda solicitação de acordo com o ordenamento jurídico interno do Estado
Parte requerido e, na medida em que ele não o contravenha e seja factível, em conformidade com os
procedimentos especificados na solicitação.

18. Sempre quando for possível e compatível com os princípios fundamentais da legislação interna, quando
uma pessoa se encontre no território de um Estado Parte e tenha que prestar declaração como testemunha ou
perito ante autoridades judiciais de outro Estado Parte, o primeiro Estado Parte, ante solicitação do outro,
poderá permitir que a audiência se celebre por videoconferência se não for possível ou conveniente que a
pessoa em questão compareça pessoalmente ao território do Estado Parte requerente. Os Estados Partes
poderão combinar que a audiência fique a cargo de uma autoridade judicial do Estado Parte requerente e que
seja assistida por uma autoridade judicial do Estado Parte requerido.

19. O Estado Parte requerente não transmitirá nem utilizará, sem prévio consentimento do Estado Parte
requerido, a informação ou as provas proporcionadas por este para investigações, processos ou ações judiciais
distintas daquelas indicadas na solicitação. Nada do disposto no presente parágrafo impedirá que o Estado
Parte requerente revele, em suas ações, informação ou provas que sejam fatores de absolvição de uma pessoa
acusada. Neste último caso, o Estado Parte requerente notificará o Estado Parte requerido antes de revelar a
informação ou as provas e, se assim solicitado, consultará o Estado Parte requerido. Se, em um caso
excepcional, não for possível notificar este com antecipação, o Estado Parte requerente informará sem demora
o Estado Parte requerido da mencionada revelação.

20. O Estado Parte requerente poderá exigir que o Estado Parte requerido mantenha sigilo acerca da
existência e do conteúdo da solicitação, salvo na medida necessária para dar-lhe cumprimento. Se o Estado
Parte requerido não pode manter esse sigilo, terá de fazer o Estado parte requerente sabê-lo de imediato.

21. A assistência judicial recíproca poderá ser negada:

a) Quando a solicitação não esteja em conformidade com o disposto no presente Artigo;

b) Quando o Estado Parte requerido considere que o cumprimento da solicitação poderia agredir sua
soberania, sua segurança, sua ordem pública ou outros interesses fundamentais;

c) Quando a legislação interna do Estado Parte requerido proíba suas autoridades de atuarem na forma
solicitada relativa a um delito análogo, se este tiver sido objeto de investigações, processos ou ações judiciais
no exercício de sua própria competência;

d) Quando aquiescer à solicitação seja contrário ao ordenamento jurídico do Estado Parte requerido no
tocante à assistência judicial recíproca.

22. Os Estados Parte não poderão negar uma solicitação de assistência judicial recíproca unicamente
por considerarem que o delito também envolve questões tributárias.

23. Toda negação de assistência judicial recíproca deverá fundamentar-se devidamente.

24. O Estado Parte requerido cumprirá a solicitação de assistência judicial recíproca o quanto antes e terá
plenamente em conta, na medida de suas possibilidades, os prazos que sugira o Estado Parte requerente e
que estejam devidamente fundamentados, de preferência na própria solicitação. O Estado Parte requerente
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 237

poderá pedir informação razoável sobre o estado e a evolução das gestões realizadas pelo Estado Parte
requerido para satisfazer tal petição. O Estado Parte requerido responderá às solicitações razoáveis que
formule o Estado Parte requerente relativas ao estado e à evolução do trâmite da resolução. O Estado Parte
requerente informará de pronto ao Estado Parte requerido quando já não mais necessite da assistência
requisitada.

25. A assistência judicial recíproca poderá ser modificada pelo Estado Parte requerido se perturba
investigações, processos ou ações judiciais em curso.

26. Antes de negar uma solicitação apresentada de acordo com o parágrafo 21 do presente Artigo ou de
modificar seu cumprimento de acordo com o parágrafo 25 do presente Artigo, o Estado Parte requerido
consultará o Estado Parte requerente para considerar se é possível prestar a assistência solicitada
submetendo-a às condições que julgue necessárias. Se o Estado Parte requerente aceita a assistência de
acordo com essas condições, esse Estado Parte deverá cumprir as condições impostas.

27. Sem prejuízo à aplicação do parágrafo 12 do presente Artigo, a testemunha, perito ou outra pessoa
que, sob requisição do Estado Parte requerente, consente em prestar testemunho em juízo ou colaborar em
uma investigação, processo ou ação judicial no território do Estado Parte requerente, não poderá ser indiciado,
detido, condenado nem submetido a nenhuma restrição de sua liberdade pessoal nesse território por atos,
omissões ou declarações de culpabilidade anteriores ao momento em que abandonou o território do Estado
Parte requerido. Esse salvo-conduto cessará quando a testemunha, perito ou outra pessoa tenha tido, durante
15 (quinze) dias consecutivos ou durante o período acordado entre os Estados Partes após a data na qual se
tenha informado oficialmente de que as autoridades judiciais já não requeriam sua presença, a oportunidade
de sair do país e não obstante permaneceu voluntariamente nesse território ou a ele regressou livremente
depois de havê-lo abandonado.

28. Os gastos ordinários que ocasionem o cumprimento da solicitação serão sufragados pelo Estado Parte
requerido, a menos que os Estados Partes interessados tenham acordado outro meio. Quando se requeiram
para este fim gastos vultosos ou de caráter extraordinário, os Estados Partes se consultarão para determinar
as condições nas quais se dará cumprimento à solicitação, assim como a maneira em que se sufragarão os
gastos.

29. O Estado Parte requerido:

a) Facilitará ao Estado Parte requerente uma cópia dos documentos oficiais e outros documentos ou
papéis que tenha sob sua custódia e que, conforme sua legislação interna, sejam de acesso do público em
geral;

b) Poderá, a seu arbítrio e com sujeição às condições que julgue apropriadas, proporcionar ao Estado
Parte requerente uma cópia total ou parcial de documentos oficiais ou de outros documentos ou papéis que
tenha sob sua custódia e que, conforme sua legislação interna, não sejam de acesso do público em geral.

30. Quando se fizer necessário, os Estados Partes considerarão a possibilidade de celebrar acordos ou
tratados bilaterais ou multilaterais que contribuam a lograr os fins do presente Artigo e que levem à prática ou
reforcem suas disposições.

Artigo 47

Enfraquecimento de ações penais

Os Estados Partes considerarão a possibilidade de enfraquecer ações penais para o indiciamento por
um delito qualificado de acordo com a presente Convenção quando se estime que essa remissão redundará
em benefício da devida administração da justiça, em particular nos casos nos quais intervenham várias
jurisdições, com vistas a concentrar as atuações do processo.

Artigo 48

Cooperação em matéria de cumprimento da lei

1. Os Estados Partes colaborarão estritamente, em consonância com seus respectivos ordenamentos


jurídicos e administrativos, com vistas a aumentar a eficácia das medidas de cumprimento da lei orientada a
combater os delitos compreendidos na presente Convenção. Em particular, os Estados Parte adotarão
medidas eficazes para:
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 238

a) Melhorar os canais de comunicação entre suas autoridades, organismos e serviços competentes e,


quando necessário, estabelecê-los, a fim de facilitar o intercâmbio seguro e rápido de informações sobre
todos os aspectos dos delitos compreendidos na presente Convenção, assim como, se os Estados Partes
interessados estimarem oportuno, sobre suas vinculações com outras atividades criminosas;

b) Cooperar com outros Estados Partes na realização de indagações a respeito dos delitos
compreendidos na presente Convenção acerca de: i) A identidade, o paradeiro e as atividades de pessoas
presumidamente envolvidas em tais delitos ou a situação de outras pessoas interessadas; ii) A movimentação
do produto do delito ou de bens derivados da prática desses delitos; iii) A movimentação de bens,
equipamentos ou outros instrumentos utilizados ou destinados à prática desses delitos.

c) Proporcionar, quando proceder, os elementos ou as quantidades de substâncias que se requeiram


para fins de análise e investigação.

d) Intercambiar, quando proceder, informação com outros Estados Partes sobre os meios e métodos
concretos empregados para a prática dos delitos compreendidos na presente Convenção, entre eles o uso de
identidades falsas, documentos falsificados, alterados ou falsos ou outros meios de encobrir atividades
vinculadas a esses delitos;

e) Facilitar uma coordenação eficaz entre seus organismos, autoridades e serviços competentes e
promover o intercâmbio de pessoal e outros, incluída a designação de oficiais de enlace com sujeição a
acordos ou tratados bilaterais entre os Estados Partes interessados;

f) Intercambiar informação e coordenar as medidas administrativas e de outras índoles adotadas para a


pronta detecção dos delitos compreendidos na presente Convenção.

2. Os Estados Partes, com vistas a dar efeito à presente Convenção, considerarão a possibilidade de
celebrar acordos ou tratados bilaterais ou multilaterais em matéria de cooperação direta entre seus respectivos
organismos encarregados de fazer cumprir a lei e, quando tais acordos ou tratados já existam, melhorá-los. Na
falta de tais acordos ou tratados entre os Estados Partes interessados, os Estados Partes poderão considerar
que a presente Convenção constitui a base para a cooperação recíproca em matéria de cumprimento da lei no
que diz respeitos aos delitos compreendidos na presente Convenção. Quando proceda, os Estados Partes
aproveitarão plenamente os acordos e tratados, incluídas as organizações internacionais ou regionais, a fim de
aumentar a cooperação entre seus respectivos organismos encarregados de fazer cumprir a lei.

3. Os Estados Partes se esforçarão por colaborar na medida de suas possibilidades para fazer frente
aos delitos compreendidos na presente Convenção que se cometam mediante o recurso de tecnologia
moderna.

Artigo 49

Investigações conjuntas

Os Estados Partes considerarão a possibilidade de celebrar acordos ou tratados bilaterais ou multilaterais


em virtude dos quais, em relação com questões que são objeto de investigações, processos ou ações penais
em um ou mais Estados, as autoridades competentes possam estabelecer órgãos mistos de investigação. Na
falta de tais acordos ou tratados, as investigações conjuntas poderão levar-se a cabo mediante acordos
acertados caso a caso. Os Estados Partes interessados velarão para que a soberania do Estado Parte em cujo
território se efetua a investigação seja plenamente respeitada.

Artigo 50

Técnicas especiais de investigação

1. A fim de combater eficazmente a corrupção, cada Estado Parte, na medida em que lhe permitam os
princípios fundamentais de seu ordenamento jurídico interno e conforme às condições prescritas por sua
legislação interna, adotará as medidas que sejam necessárias, dentro de suas possibilidades, para prever o
adequado recurso, por suas autoridades competentes em seu território, à entrega vigiada e, quando considerar
apropriado, a outras técnicas especiais de investigação como a vigilância eletrônica ou de outras índoles e as
operações secretas, assim como para permitir a admissibilidade das provas derivadas dessas técnicas em seus
tribunais.

2. Para efeitos de investigação dos delitos compreendidos na presente Convenção, se recomenda aos
Estados Partes que celebrem, quando proceder, acordos ou tratados bilaterais ou multilaterais apropriados
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 239

para utilizar essas técnicas especiais de investigação no contexto da cooperação no plano internacional. Esses
acordos ou tratados se apoiarão e executarão respeitando plenamente o princípio da igualdade soberana dos
Estados e, ao pô-los em prática, cumprir-se-ão estritamente as condições neles contidas.

3. Não existindo os acordos ou tratados mencionados no parágrafo 2 do presente Artigo, toda decisão de
recorrer a essas técnicas especiais de investigação no plano internacional se adotará sobre cada caso particular
e poderá, quando seja necessário, ter em conta os tratados financeiros e os entendimentos relativos ao
exercício de jurisdição pelos Estados Partes interessados.

4. Toda decisão de recorrer à entrega vigiada no plano internacional poderá, com o consentimento dos
Estados Partes interessados, incluir a aplicação de métodos tais como interceptar bens e fundos, autorizá-los
a prosseguir intactos ou retirá-los ou substituí-los total ou parcialmente.

Capítulo V

Recuperação de ativos

Artigo 51

Disposição geral

A restituição de ativos de acordo com o presente Capítulo é um princípio fundamental da presente


Convenção e os Estados Partes se prestarão à mais ampla cooperação e assistência entre si a esse respeito.

Artigo 52

Prevenção e detecção de transferências de produto de delito

1. Sem prejuízo ao disposto no Artigo 14 da presente Convenção, cada Estado Parte adotará as medidas
que sejam necessárias, em conformidade com sua legislação interna, para exigir das instituições financeiras
que funcionam em seu território que verifiquem a identidade dos clientes, adotem medidas razoáveis para
determinar a identidade dos beneficiários finais dos fundos depositados em contas vultosas, e intensifiquem
seu escrutínio de toda conta solicitada ou mantida no ou pelo nome de pessoas que desempenhem ou tenham
desempenhado funções públicas eminentes e de seus familiares e estreitos colaboradores. Esse escrutínio
intensificado dar-se-á estruturado razoavelmente de modo que permita descobrir transações suspeitas com
objetivo de informar às autoridades competentes e não deverá ser concebido de forma que atrapalhe ou impeça
o curso normal do negócio das instituições financeiras com sua legítima clientela.

2. A fim de facilitar a aplicação das medidas previstas no parágrafo 1 do presente Artigo, cada Estado
Parte, em conformidade com sua legislação interna e inspirando-se nas iniciativas pertinentes de suas
organizações regionais, interregionais e multilaterais de luta contra a lavagem de dinheiro, deverá:

a) Estabelecer diretrizes sobre o tipo de pessoas físicas ou jurídicas cujas contas as instituições
financeiras que funcionam em seu território deverão submeter a um maior escrutínio, os tipos de contas e
transações às quais deverão prestar particular atenção e a maneira apropriada de abrir contas e de levar
registros ou expedientes relativos a elas; e

b) Notificar, quando proceder, as instituições financeiras que funcionam em seu território, mediante
solicitação de outro Estado Parte ou por iniciativa própria, a identidade de determinadas pessoas físicas ou
jurídicas cujas contas essas instituições deverão submeter a um maior escrutínio, além das quais as instituições
financeiras possam identificar de outra forma.

3. No contexto da parte "a)" do parágrafo 2 do presente Artigo, cada Estado Parte aplicará medidas para
velar para que as instituições financeiras mantenham, durante um prazo conveniente, registros adequados das
contas e transações relacionadas com as pessoas mencionadas no parágrafo 1 do presente Artigo, os quais
deverão conter, no mínimo, informação relativa à identidade do cliente e, na medida do possível, do beneficiário
final.

4. Com o objetivo de prevenir e detectar as transferências do produto dos delitos qualificados de acordo
com a presente Convenção, cada Estado Parte aplicará medidas apropriadas e eficazes para impedir, com a
ajuda de seus órgãos reguladores e de supervisão, o estabelecimento de bancos que não tenham presença
real e que não estejam afiliados a um grupo financeiro sujeito à regulação. Ademais, os Estados Partes poderão
considerar a possibilidade de exigir de suas instituições financeiras que se neguem a entabular relações com
essas instituições na qualidade de bancos correspondentes, ou a continuar relações existentes, e que se
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 240

abstenham de estabelecer relações com instituições financeiras estrangeiras que permitam utilizar suas contas
a bancos que não tenham presença real e que não estejam afiliados a um grupo financeiro sujeito a regulação.

5. Cada Estado Parte considerará a possibilidade de estabelecer, em conformidade com sua legislação
interna, sistemas eficazes de divulgação de informação financeira para os funcionários públicos pertinentes e
aplicará sanções adequadas para todo descumprimento do dever a declarar. Cada Estado Parte considerará
também a possibilidade de adotar as medidas que sejam necessárias para permitir que suas autoridades
competentes compartilhem essa informação com as autoridades competentes de outros Estados Partes, se
essa é necessária para investigar, reclamar ou recuperar o produto dos delitos qualificados de acordo com a
presente Convenção.

6. Cada Estado Parte considerará a possibilidade de adotar as medidas que sejam necessárias, de acordo
com sua legislação interna, para exigir dos funcionários públicos pertinentes que tenham algum direito ou poder
de firma ou de outras índoles sobre alguma conta financeira em algum país estrangeiro que declarem sua
relação com essa conta às autoridades competentes e que levem ao devido registro da tal conta. Essas
medidas deverão incluir sanções adequadas para todo o caso de descumprimento.

Artigo 53

Medidas para a recuperação direta de bens

Cada Estado Parte, em conformidade com sua legislação interna:

a) Adotará as medidas que sejam necessárias a fim de facultar a outros Estados Partes para entabular
ante seus tribunais uma ação civil com o objetivo de determinar a titularidade ou propriedade de bens adquiridos
mediante a prática de um delito qualificado de acordo com a presente Convenção;

b) Adotará as medidas que sejam necessárias a fim de facultar a seus tribunais para ordenar àqueles que
tenham praticado delitos qualificados de acordo com a presente Convenção que indenizem ou ressarçam por
danos e prejuízos a outro Estado Parte que tenha sido prejudicado por esses delitos; e

c) Adotará as medidas que sejam necessárias a fim de permitir a seus tribunais ou suas autoridades
competentes, quando devam adotar decisões no que diz respeito ao confisco, que reconheça o legítimo direito
de propriedade de outro Estado Parte sobre os bens adquiridos mediante a prática de um dos delitos
qualificados de acordo com a presente Convenção.

Artigo 54

Mecanismos de recuperação de bens mediante a

cooperação internacional para fins de confisco

1. Cada Estado Parte, a fim de prestar assistência judicial recíproca conforme o disposto no Artigo 55 da
presente Convenção relativa a bens adquiridos mediante a prática de um dos delitos qualificados de acordo
com a presente Convenção ou relacionados a esse delito, em conformidade com sua legislação interna:

a) Adotará as medidas que sejam necessárias para que suas autoridades competentes possam dar efeito
a toda ordem de confisco ditada por um tribunal de outro Estado Parte;

b) Adotará as medidas que sejam necessárias para que suas autoridades competentes, quando tenham
jurisdição, possam ordenar o confisco desses bens de origem estrangeira em uma sentença relativa a um delito
de lavagem de dinheiro ou quaisquer outros delitos sobre os quais possa ter jurisdição, ou mediante outros
procedimentos autorizados em sua legislação interna; e

c) Considerará a possibilidade de adotar as medidas que sejam necessárias para permitir o confisco
desses bens sem que envolva uma pena, nos casos nos quais o criminoso não possa ser indiciado por motivo
de falecimento, fuga ou ausência, ou em outros casos apropriados.

2. Cada Estado Parte, a fim de prestar assistência judicial recíproca solicitada de acordo com o parágrafo
2 do Artigo 55 da presente Convenção, em conformidade com sua legislação interna:

a) Adotará as medidas que sejam necessárias para que suas autoridades competentes possam efetuar o
embargo preventivo ou a apreensão de bens em cumprimento a uma ordem de embargo preventivo ou
apreensão ditada por um tribunal ou autoridade competente de um Estado Parte requerente que constitua um
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 241

fundamento razoável para que o Estado Parte requerido considere que existam razões suficientes para adotar
essas medidas e que ulteriormente os bens seriam objeto de uma ordem de confisco de acordo com os efeitos
da parte "a)" do parágrafo 1 do presente Artigo;

b) Adotará as medidas que sejam necessárias para que suas autoridades competentes possam efetuar o
embargo preventivo ou a apreensão de bens em cumprimento de uma solicitação que constitua fundamento
razoável para que o Estado Parte requerido considere que existam razões suficientes para adotar essas
medidas e que ulteriormente os bens seriam objeto de uma ordem de confisco de acordo com os efeitos da
parte "a)" do parágrafo 1 do presente Artigo; e

c) Considerará a possibilidade de adotar outras medidas para que suas autoridades competentes
possam preservar os bens para efeitos de confisco, por exemplo sobre a base de uma ordem estrangeira de
detenção ou imputação de culpa penal relacionada com a aquisição desses bens.

Artigo 55

Cooperação internacional para fins de confisco

1. Os Estados Partes que recebam uma solicitação de outro Estado Parte que tenha jurisdição para
conhecer um dos delito qualificados de acordo com a presente Convenção com vistas ao confisco do produto
de delito, os bens, equipamentos ou outros instrumentos mencionados no parágrafo 1 do Artigo 31 da presente
Convenção que se encontrem em seu território deverão, no maior grau que lhe permita seu ordenamento
jurídico interno:

a) Enviar a solicitação a suas autoridades competentes para obter uma ordem de confisco ao qual, em
caso de concessão, darão cumprimento; ou

b) Apresentar a suas autoridades competentes, a fim de que se dê cumprimento ao solicitado, a ordem de


confisco expedida por um tribunal situado no território do Estado Parte requerente em conformidade com o
disposto no parágrafo 1 do Artigo 31 e na parte "a)" do parágrafo 1 do Artigo 54 da presente Convenção na
medida em que guarde relação com o produto do delito, os bens, os equipamentos ou outros instrumentos
mencionados no parágrafo 1 do Artigo 31 que se encontrem no território do Estado Parte requerido.

2. Com base na solicitação apresentada por outro Estado Parte que tenha jurisdição para conhecer um
dos delitos qualificados de acordo com a presente Convenção, o Estado Parte requerido adotará as medidas
encaminhadas para a identificação, localização e embargo preventivo ou apreensão do produto de delito, os
bens, os equipamentos ou outros instrumentos mencionados no parágrafo e do Artigo 31 da presente
Convenção com vistas ao seu eventual confisco, que haverá de ordenar o Estado Parte requerente ou, em
caso de que envolva uma solicitação apresentada de acordo com o parágrafo 1 do presente Artigo, o Estado
Parte requerido.

3. As disposições do Artigo 46 da presente Convenção serão aplicáveis, mutatis mutandis, ao presente


Artigo. Ademais da informação indicada no parágrafo 15 do Artigo 46, as solicitações apresentadas em
conformidade com o presente Artigo conterão o seguinte:

a) Quando se trate de uma solicitação relativa à parte "a)" do parágrafo 1 do presente Artigo, uma
descrição dos bens suscetíveis de confisco, assim como, na medida do possível, a situação e, quando proceder,
o valor estimado dos bens e uma exposição dos fatos em que se baseia a solicitação do Estado Parte
requerente que sejam suficientemente explícitas para que o Estado Parte requerido possa tramitar a ordem de
acordo com sua legislação interna;

b) Quando se trate de uma solicitação relativa à parte "b)" do parágrafo 1 do presente Artigo, uma cópia
admissível pela legislação da ordem de confisco expedida pelo Estado Parte requerente na qual se baseia a
solicitação, uma exposição dos feitos e da informação que proceder sobre o grau de execução que se solicita
dar à ordem, uma declaração na qual se indiquem as medidas adotadas pelo Estado Parte requerente para dar
notificação adequada a terceiros de boa-fé e para garantir o devido processo e um certificado de que a ordem
de confisco é definitiva;

c) Quando se trate de uma solicitação relativa ao parágrafo 2 do presente Artigo, uma exposição dos feitos
nos quais se baseia o Estado Parte requerente e uma descrição das medidas solicitadas, assim como, quando
dispor-se dela, uma cópia admissível pela legislação da ordem de confisco na qual se baseia a solicitação.

4. O Estado Parte requerido adotará as decisões ou medidas previstas nos parágrafos 1 e 2 do presente
Artigo conforme e com sujeição ao disposto em sua legislação interna e em suas regras de procedimento ou
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 242

nos acordos ou tratados bilaterais ou multilaterais pelos quais poderia estar vinculado ao Estado Parte
requerente.

5. Cada Estado Parte proporcionará ao Secretário Geral das Nações Unidas uma cópia de suas leis e
regulamentos destinados a dar aplicação ao presente Artigo e de quaisquer emendas ulteriores que se tenham
de tais leis e regulamentos ou uma descrição destas.

6. Se um Estado Parte opta por submeter a adoção das medidas mencionadas nos parágrafos 1 e 2 do
presente Artigo à existência de um tratado pertinente, esse Estado Parte considerará a presente Convenção
como a base legal necessária e suficiente para cumprir esse requisito.

7. A cooperação prevista no presente Artigo também se poderá negar, ou poder-se-ão levantar as medidas
cautelares, se o Estado Parte requerido não receber provas suficientes ou oportunas ou se os bens são de
valor escasso.

8. Antes de levantar toda medida cautelar adotada em conformidade com o presente Artigo, o Estado
Parte requerido deverá, sempre que possível, dar ao Estado Parte requerente a oportunidade de apresentar
suas razões a favor de manter em vigor a medida.

9. As disposições do presente Artigo não se interpretarão em prejuízo dos direitos de terceiros de boa-fé.

Artigo 56

Cooperação especial

Sem prejuízo ao disposto em sua legislação interna, cada Estado Parte procurará adotar as medidas que
lhe facultem para remeter a outro Estado Parte que não tenha solicitado, sem prejuízo de suas próprias
investigações ou ações judiciais, informação sobre o produto dos delitos qualificados de acordo com a presente
Convenção se considerar que a divulgação dessa informação pode ajudar o Estado Parte destinatário a pôr
em marcha ou levar a cabo suas investigações ou ações judiciais, ou que a informação assim facilitada poderia
dar lugar a que esse Estado Parte apresentará uma solicitação de acordo com o presente Capítulo da presente
Convenção.

Artigo 57

Restituição e disposição de ativos

1. Cada Estado Parte disporá dos bens que tenham sido confiscados conforme o disposto nos Artigos 31
ou 55 da presente convenção, incluída a restituição a seus legítimos proprietários anteriores, de acordo com o
parágrafo 3 do presente Artigo, em conformidade com as disposições da presente Convenção e com sua
legislação interna.

2. Cada Estado Parte adotará, em conformidade com os princípios fundamentais de seu direito interno, as
medidas legislativas e de outras índoles que sejam necessárias para permitir que suas autoridades
competentes procedam à restituição dos bens confiscados, ao dar curso a uma solicitação apresentada por
outro Estado Parte, em conformidade com a presente Convenção, tendo em conta os direitos de terceiros de
boa-fé.

3. Em conformidade com os Artigos 46 e 55 da presente Convenção e com os parágrafos 1 e 2 do presente


Artigo, o Estado Parte requerido:

a) Em caso de malversação ou peculato de fundos públicos ou de lavagem de fundos públicos


malversados aos quais se faz referência nos Artigos 17 e 23 da presente Convenção, restituirá ao Estado Parte
requerente os bens confiscados quando se tenha procedido ao confisco de acordo com o disposto no Artigo 55
da presente Convenção e sobre a base da sentença firme ditada no Estado Parte requerente, requisito ao qual
poderá renunciar o Estado Parte requerido;

b) Caso se trate do produto de qualquer outro delito compreendido na presente Convenção, restituirá ao
Estado Parte requerente os bens confiscados quando se tenha procedido ao confisco de acordo com o disposto
no Artigo 55 da presente Convenção e sobre a base de uma sentença firme ditada no Estado Parte requerente,
requisito ao qual poderá renunciar o Estado Parte requerido, e quando o Estado Parte requerente acredite
razoavelmente ante o Estado Parte requerido sua propriedade anterior dos bens confiscados ou o Estado Parte
requerido reconheça os danos causados ao Estado Parte requerente como base para a restituição dos bens
confiscados;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 243

c) Em todos os demais casos, dará consideração prioritária à restituição ao Estado Parte requerente dos
bens confiscados, à restituição desses bens a seus proprietários legítimos anteriores ou à indenização das
vítimas do delito.

4. Quando proceder, a menos que os Estados Partes decidam diferentemente, o Estado Parte requerido
poderá deduzir os gastos razoáveis que tenham sido feitos no curso das investigações ou ações judiciais que
tenham possibilitado a restituição ou disposição dos bens confiscados conforme o disposto no presente Artigo.

5. Quando proceder, os Estados Partes poderão também dar consideração especial à possibilidade de
celebrar acordos ou tratados mutuamente aceitáveis, baseados em cada caso particular, com vistas à
disposição definitiva dos bens confiscados.

Artigo 58

Departamento de inteligência financeira

Os Estados Partes cooperarão entre si a fim de impedir e combater a transferência do produto de quaisquer
dos delitos qualificados de acordo com a presente Convenção e promover meios para recuperar o mencionado
produto e, para tal fim, considerarão a possibilidade de estabelecer um departamento de inteligência financeira
que se encarregará de receber, analisar e dar a conhecer às autoridades competentes toda informação
relacionada com as transações financeiras suspeitas.

Artigo 59

Acordos e tratados bilaterais e multilaterais

Os Estados Partes considerarão a possibilidade de celebrar acordos ou tratados bilaterais ou


multilaterais com vistas a aumentar a eficácia da cooperação internacional prestada em conformidade com o
presente Capítulo da presente Convenção.

Capítulo VI

Assistência técnica e intercâmbio de informações

Artigo 60

Capacitação e assistência técnica

1. Cada Estado Parte, na medida do necessário, formulará, desenvolverá ou aperfeiçoará programas de


capacitação especificamente concebidos para o pessoal de seus serviços encarregados de prevenir e combater
a corrupção. Esses programas de capacitação poderão versar, entre outras coisas, sobre:

a) Medidas eficazes para prevenir, detectar, investigar, sancionar e combater a corrupção, inclusive o uso
de métodos de reunião de provas e investigação;

b) Fomento da capacidade de formulação e planificação de uma política estratégica contra a corrupção;

c) Capacitação das autoridade competentes na preparação de solicitações de assistência judicial


recíproca que satisfaçam os requisitos da presente Convenção;

d) Avaliação e fortalecimento das instituições, da gestão da função pública e a gestão das finanças
públicas, incluída a contratação pública, assim como do setor privado;

e) Prevenção e luta contra as transferências de produtos de quaisquer dos delitos qualificados de acordo
com a presente Convenção e recuperação do mencionado produto;

f) Detecção e embargo preventivo das transferências do produto de quaisquer dos delitos qualificados de
acordo com a presente Convenção;

g) Vigilância da movimentação de produto de quaisquer dos delitos qualificados de acordo com a presente
Convenção, assim como dos métodos empregados para a transferência, ocultação ou dissimulação de tal
produto;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 244

h) Mecanismos e métodos legais e administrativos apropriados e eficientes para facilitar a restituição do


produto de quaisquer dos delitos qualificados de acordo com a presente Convenção;

i) Métodos utilizados para proteger as vítimas e as testemunhas que cooperem com as autoridades
judiciais; e

j) Capacitação em matéria de regulamentos nacionais e internacionais e em idiomas.

2. Na medida de suas possibilidades, os Estados Partes considerarão a possibilidade de prestar-se a mais


ampla assistência técnica, especialmente em favor dos países em desenvolvimento, em seus respectivos
planos e programas para combater a corrupção, incluindo apoio material e capacitação nas esferas
mencionadas no parágrafo 1 do presente Artigo, assim como a capacitação e assistência e intercâmbio mútuo
de experiências e conhecimentos especializados, o que facilitará a cooperação internacional entre os Estados
Partes nas esferas da extradição e da assistência judicial recíproca.

3. Os Estados Partes intensificarão, na medida do necessário, os esforços para otimizar as atividades


operacionais e de capacitação nas organizações internacionais e regionais e no âmbito de acordos ou tratados
bilaterais ou multilaterais pertinentes.

4. Os Estados Partes considerarão, ante solicitação, a possibilidade de ajudarem-se entre si na realização


de avaliações, estudos e investigações sobre os tipos, causas, efeitos e custos da corrupção em seus
respectivos países com vistas a elaborar, com a participação das autoridades competentes e da sociedade,
estratégias e planos de ação contra a corrupção.

5. A fim de facilitar a recuperação de produto de quaisquer dos delitos qualificados de acordo com a
presente Convenção, os Estados Partes poderão cooperar facilitando-se os nomes dos peritos que possam ser
úteis para lograr esse objetivo.

6. Os Estados Partes considerarão a possibilidade de recorrer à organização de conferências e seminários


sub-regionais, regionais e internacionais para promover a cooperação e a assistência técnica, e para fomentar
os debates sobre problemas de interesse mútuo, incluídos os problemas e necessidades especiais dos países
em desenvolvimento e dos países com economias em transição.

7. Os Estados Partes considerarão a possibilidade de estabelecer mecanismos voluntários com vistas a


contribuir financeiramente com os esforços dos países em desenvolvimento e dos países com economias em
transição para aplicar a presente Convenção mediante programas e projetos de assistência técnica.

8. Cada Estado Parte considerará a possibilidade de fazer contribuições voluntárias ao Escritório das
Nações Unidas contra as Drogas e o Crime com o propósito de impulsionar, através do mencionado Escritório,
programas e projetos nos países em desenvolvimento com vistas a aplicar a presente Convenção.

Artigo 61

Recompilação, intercâmbio e análise de informações sobre a corrupção

1. Cada Estado Parte considerará a possibilidade de analisar, em consulta com especialistas, as


tendências da corrupção em seu território, assim como as circunstâncias em que se cometem os delitos de
corrupção.

2. Os Estados Partes considerarão a possibilidade de desenvolver e compartilhar, entre si e por ação de


organizações internacionais e regionais, estatísticas, experiência analítica acerca da corrupção e informações
com vistas a estabelecer, na medida do possível, definições, normas e metodologias comuns, assim como
informações sobre práticas aceitáveis para prevenir e combater a corrupção.

3. Cada Estado Parte considerará a possibilidade de velar por suas políticas e medidas em vigor
encaminhadas a combater a corrupção e de avaliar sua eficácia e eficiência.

Artigo 62

Outras medidas: aplicação da presente Convenção mediante o

desenvolvimento econômico e a assistência técnica


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 245

1. Os Estados Partes adotarão disposições condizentes com a aplicação aceitável da presente Convenção
na medida do possível, mediante a cooperação internacional, tendo em conta os efeitos adversos da corrupção
na sociedade em geral e no desenvolvimento sustentável, em particular.

2. Os Estados Partes farão esforços concretos, na medida do possível e na forma coordenada entre si,
assim como com organizações internacionais e regionais, para:

a) Intensificar sua cooperação nos diversos planos com os países em desenvolvimento com vistas a
fortalecer a capacidade desses países para prevenir e combater a corrupção;

b) Aumentar a assistência financeira e material a fim de apoiar os esforços dos países em desenvolvimento
para prevenir e combater a corrupção com eficácia e ajudá-los a aplicar satisfatoriamente a presente
Convenção;

c) Prestar assistência técnica aos países em desenvolvimento e aos países com economias em transição
para ajudá-los a satisfazer suas necessidades relacionadas com a aplicação da presente Convenção. Para tal
fim, os Estados Partes procurarão fazer contribuições voluntárias adequadas e periódicas a uma conta
especificamente designada para esses efeitos em um mecanismo de financiamento das Nações Unidas. De
acordo com sua legislação interna e com as disposições da presente Convenção, os Estados Partes poderão
também dar consideração especial à possibilidade de ingressar nessa conta uma porcentagem do dinheiro
confiscado ou da soma equivalente aos bens ou ao produto de delito confiscados conforme o disposto na
presente Convenção;

d) Apoiar e persuadir outros Estados Partes e instituições financeiras, segundo proceder, para que se
somem os esforços empregados de acordo com o presente Artigo, em particular proporcionando um maior
número de programas de capacitação e equipamentos modernos aos países em desenvolvimento e com a
finalidade de ajudá-los a lograr os objetivos da presente Convenção.

3. Na medida do possível, estas medidas não menosprezarão os compromissos existentes em matéria de


assistência externa nem outros acordos de cooperação financeira nos âmbitos bilateral, regional ou
internacional.

4. Os Estados Partes poderão celebrar acordos ou tratados bilaterais ou multilaterais sobre assistência
material e logística, tendo em conta os acordos financeiros necessários para fazer efetiva a cooperação
internacional prevista na presente Convenção e para prevenir, detectar e combater a corrupção.

Capítulo VII

Mecanismos de aplicação

Artigo 63

Conferência dos Estados Partes da presente Convenção

1. Estabelecer-se-á uma Conferência dos estados Parte da presente Convenção a fim de melhorar a
capacidade dos Estados Partes e a cooperação entre eles para alcançar os objetivos enunciados na presente
Convenção e promover e examinar sua aplicação.

2. O Secretário Geral das Nações Unidas convocará a Conferência dos estados Parte da presente
Convenção no mais tardar um ano depois da entrada em vigor da presente Convenção. Posteriormente
celebrar-se-ão reuniões periódicas da Conferência dos Estados Partes em conformidade com o disposto nas
regras de procedimento aprovadas pela Conferência.

3. A Conferência dos Estados Partes aprovará o regulamento e as normas que rejam a execução das
atividades enunciadas no presente Artigo, incluídas as normas relativas à admissão e à participação de
observadores e o pagamento dos gastos que ocasione a realização dessas atividades.

4. A Conferência dos Estados Partes realizará atividades, procedimentos e métodos de trabalho com vistas
a lograr os objetivos enunciados no parágrafo 1 do presente Artigo, e, em particular:

a) Facilitará as atividades que realizem os Estados Partes de acordo com os Artigos 60 e 62 e com os
Capítulos II a V da presente Convenção, inclusive promovendo o incentivo de contribuições voluntárias;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 246

b) Facilitará o intercâmbio de informações entre os Estados Partes sobre as modalidades e tendências da


corrupção e sobre práticas eficazes para preveni-la e combatê-la, assim como para a restituição do produto de
delito, mediante, entre outras coisas, a publicação das informações pertinentes mencionadas no presente
Artigo;

c) Cooperação com organizações e mecanismos internacionais e regionais e organizações não-


governamentais pertinentes;

d) Aproveitará adequadamente a informação pertinente elaborada por outros mecanismos internacionais


e regionais encarregados de combater e prevenir a corrupção a fim de evitar a duplicação desnecessária de
atividades;

e) Examinará periodicamente a aplicação da presente Convenção por seus Estados Partes;

f) Formulará recomendações para melhorar a presente Convenção e sua aplicação;

g) Tomará nota das necessidades de assistência técnica dos Estados Partes com relação à aplicação da
presente Convenção e recomendará as medidas que considere necessária a esse respeito.

5. Aos efeitos do parágrafo 4 do presente Artigo, a Conferência dos Estados Partes obterá o conhecimento
necessário das medidas adotadas e das dificuldades encontradas pelos Estados Partes na aplicação da
presente Convenção por via da informação que eles facilitem e dos demais mecanismos de exame que
estabeleça a Conferência dos Estados Partes.

6. Cada Estado Parte proporcionará à Conferência dos Estados Partes informação sobre seus programas,
planos e práticas, assim como sobre as medidas legislativas e administrativas adotadas para aplicar a presente
Convenção, segundo requeira a Conferência dos Estados Partes. A Conferência dos Estados Partes procurará
determinar a maneira mais eficaz de receber e processar as informações, inclusive aquelas recebidas dos
Estados Partes e de organizações internacionais competentes. Também poder-se-ão considerar as aprovações
recebidas de organizações não-governamentais pertinentes devidamente acreditadas conforme os
procedimentos acordados pela Conferência dos Estados Partes.

7. Em cumprimento aos parágrafos 4 a 6 do presente Artigo, a Conferência dos Estados Partes


estabelecerá, se considerar necessário, um mecanismo ou órgão apropriado para apoiar a aplicação efetiva
da presente Convenção.

Artigo 64

Secretaria

1. O Secretário Geral das Nações Unidas prestará os serviços de secretaria necessários à Conferência
dos Estados Partes da presente Convenção.

2. A secretaria:

a) Prestará assistência à Conferência dos Estados Partes na realização das atividades enunciadas no
Artigo 63 da presente Convenção e organizará os períodos de seções da Conferência dos Estados Partes e
proporcionar-lhes-á os serviços necessários;

b) Prestará assistência aos Estados Partes que a solicitem na subministração de informação da


Conferência dos Estados Partes segundo o previsto nos parágrafos 5 e 6 do Artigo 63 da presente
Convenção; e

c) Velará pela coordenação necessária com as secretarias de outras organizações internacionais e


regionais pertinentes.

Capítulo VIII

Disposições finais

Artigo 65

Aplicação da Convenção
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 247

1. Cada Estado Parte adotará, em conformidade com os princípios fundamentais de sua legislação interna,
as medidas que sejam necessárias, incluídas medidas legislativas e administrativas, para garantir o
cumprimento de suas obrigações de acordo com a presente Convenção.

2. Cada Estado Parte poderá adotar medidas mais estritas ou severas que as previstas na presente
Convenção a fim de prevenir e combater a corrupção.

Artigo 66

Solução de controvérsias

1. Os Estados Partes procurarão solucionar toda controvérsia relacionada com a interpretação ou


aplicação da presente Convenção mediante a negociação.

2. Toda controvérsia entre dois ou mais Estados Partes acerca da interpretação ou da aplicação da
presente Convenção que não possa ser resolvida mediante a negociação dentro de um prazo razoável
deverá, por solicitação de um desses Estados Partes, submeter-se à arbitragem. Se, seis meses depois da
data de solicitação da arbitragem, esses Estados Partes não se puseram de acordo sobre a organização da
arbitragem, quaisquer dos Estados Partes poderá remeter a controvérsia à Corte Internacional de Justiça
mediante solicitação conforme o Estatuto da Corte.

3. Cada Estado Parte poderá, no momento da firma, ratificação aceitação ou aprovação da presente
Convenção ou de adesão a ela, declarar que não se considera vinculado pelo parágrafo do presente
Artigo. Os demais Estados Partes não ficarão vinculados pelo parágrafo 2 do presente Artigo a respeito de
todo Estado Parte que tenha feito essa reserva.

4. O Estado Parte que tenha feito uma reserva de conformidade com o parágrafo 3 do presente Artigo
poderá em qualquer momento retirar essa reserva notificando o fato ao Secretário Geral das Nações Unidas.

Artigo 67

Firma, ratificação, aceitação, aprovação e adesão

1. A presente Convenção estará aberta à assinatura de todos os Estados de 9 a 11 de dezembro de 2003


em Mérida, México, e depois desse evento na Sede das Nações Unidas em Nova York até o dia 9 de dezembro
de 2005.

2. A presente Convenção também estará aberta à firma das organizações regionais de integração
econômica que tenham, ao menos, algum de seus Estados Membros como Partes da presente Convenção em
conformidade com o disposto no parágrafo 1 do presente Artigo.

3. A presente Convenção estará sujeita a ratificação, aceitação ou aprovação. Os instrumentos de


ratificação, aceitação ou aprovação depositar-se-ão em poder do Secretário Geral das Nações Unidas. As
organizações regionais de integração econômica poderão depositar seus instrumentos de ratificação, aceitação
ou aprovação se pelo menos um de seus Estados Membros houver procedido de igual maneira. Nesse
instrumento de ratificação, aceitação ou aprovação, essas organizações declararão o alcance de sua
competência com respeito às questões regidas pela presente Convenção. As mencionadas organizações
comunicarão também ao depositário qualquer modificação pertinente ao alcance de sua competência.

4. A presente Convenção estará aberta à adesão de todos os Estados ou organizações regionais de


integração econômica que contem com pelo menos um Estado Membro que seja Parte da presente
Convenção. Os instrumentos de adesão depositar-se-ão em poder do Secretário Geral das Nações Unidas. No
momento de sua adesão, as organizações regionais de integração econômica declararão o alcance de sua
competência com respeito às questões regidas pela presente Convenção. As mencionadas organizações
comunicarão também ao depositário qualquer modificação pertinente ao alcance de sua competência.

Artigo 68

Entrada em vigor

1. A presente Convenção entrará em vigor no nonagésimo dia após a inclusão do trigésimo instrumento
de ratificação, aceitação, aprovação ou adesão. Aos efeitos do presente parágrafo, os instrumentos
depositados por uma organização regional de integração econômica não serão considerados adicionais aos
depositados por seus Estados Membros.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 248

2. Para cada Estado ou organização regional de integração econômica que ratifique, aceite ou aprove a
presente Convenção ou a ela adira depois de haver-se depositado o trigésimo instrumento de ratificação,
aceitação, aprovação ou adesão, a presente Convenção entrará em vigor após o trigésimo dia depois que esse
Estado ou organização tenha depositado o instrumento pertinente ou no momento de sua entrada em vigor de
acordo com o parágrafo 1 do presente Artigo, se esta for posterior.

Artigo 69

Emenda

1. Quando houverem transcorridos 5 (cinco) anos desde a entrada em vigor da presente Convenção, os
Estados Partes poderão propor emendas e transmiti-las ao Secretário Geral das Nações Unidas, quem, por
continuação, comunicará toda emenda proposta aos Estados Partes e à Conferência dos Estados Partes da
presente Convenção para que a examinem e adotem uma decisão a seu respeito. A Conferência dos Estados
Partes fará todo o possível para lograr um consenso sobre cada emenda. Se esgotarem-se todas as
possibilidades de lograr um consenso e não se tiver chegado a um acordo, a aprovação da emenda exigirá,
em última instância, uma maioria de dois terços dos Estados Partes presentes e votante na reunião da
Conferência dos Estados Partes.

2. As organizações regionais de integração econômica, em assuntos de sua competência, exercerão seu


direito de voto de acordo com o presente Artigo com um número de votos igual ao número de seus Estados
Membros que sejam Partes da presente Convenção. As mencionadas organizações não exercerão seu direito
de voto se seus Estados Membros exercerem os seus e vice-versa.

3. Toda emenda aprovada em conformidade com o parágrafo 1 do presente Artigo estará sujeita a
ratificação, aceitação ou aprovação por parte dos Estados Partes.

4. Toda emenda aprovada em conformidade com o parágrafo 1 do presente Artigo entrará em vigor em
relação a um Estado Parte noventa dias depois do momento em que este deposite em poder do Secretário
Geral das Nações Unidas um instrumento de ratificação, aceitação ou aprovação dessa emenda.

5. Quando uma emenda entrar em vigor, será vinculante para os Estados Partes que tenham
expressado seu consentimento a respeito. Os demais Estados Partes ficarão sujeitos às disposições da
presente Convenção, assim como a qualquer outra emenda anterior que tenham ratificado, aceitado ou
aprovado.

Artigo 70

Denúncia

1. Os Estados Partes poderão denunciar a presente Convenção mediante notificação escrita ao


Secretário Geral das Nações Unidas. A denúncia surtirá efeito um ano depois do momento em que o
Secretário Geral tenha recebido a notificação.

2. As organizações regionais de integração econômica deixarão de ser Partes da presente Convenção


quando tiverem denunciado todos seus Estados Membros.

Artigo 71

Depositário e idiomas

1. O Secretário Geral das Nações Unidas será o depositário da presente Convenção.

2. O original da presente Convenção, cujos textos em árabe, chinês, espanhol, francês inglês e russo
possuem igual autenticidade, depositar-se-á em poder do Secretário Geral das Nações Unidas.

EM FÉ DO QUE, os plenipotenciários infra-escritos, devidamente autorizados por seus respectivos


Governos, firmaram a presente Convenção.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 249

2.15 CONVENÇÃO SOBRE A PROTEÇÃO E PROMOÇÃO DA DIVERSIDADE DAS


EXPRESSÕES CULTURAIS - 2005 (DECRETO Nº 6.177/2007)

DECRETO Nº 6.177, DE 1º DE AGOSTO DE 2007.

Promulga a Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais, assinada em
Paris, em 20 de outubro de 2005.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV, da
Constituição, e

Considerando que o Congresso Nacional aprovou, por meio do Decreto Legislativo n o 485, de 20 de
dezembro de 2006, o texto da Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões
Culturais, assinada em Paris, em 20 de outubro de 2005;

Considerando que o Brasil fez o depósito do Instrumento de Ratificação em 16 de janeiro de 2007;

Considerando que a Convenção entrou em vigor internacional em 18 de março de 2007, nos termos do
art. 29;

DECRETA:

Art. 1o A Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais, assinada
em Paris, em 20 de outubro de 2005, apensa por cópia ao presente Decreto, será executada e cumprida tão
inteiramente como nela se contém.

Art. 2o São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional quaisquer atos que possam resultar em revisão
da referida Convenção ou que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional, nos
termos do art. 49, inciso I, da Constituição.

Art. 3o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 1º de agosto de 2007; 186o da Independência e 119o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Celso Luiz Nunes Amorim

Este texto não substitui o publicado no DOU de 2.8.2007

UNESCO

CONVENÇÃO

SOBRE A PROTEÇÃO E PROMOÇÃO

DA DIVERSIDADE DAS EXPRESSÕES CULTURAIS

Paris, 20 de outubro de 2005

A Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura, em sua
33a reunião, celebrada em Paris, de 3 a 21 de outubro de 2005,

Afirmando que a diversidade cultural é uma característica essencial da humanidade,


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 250

Ciente de que a diversidade cultural constitui patrimônio comum da humanidade, a ser valorizado e
cultivado em benefício de todos,

Sabendo que a diversidade cultural cria um mundo rico e variado que aumenta a gama de possibilidades
e nutre as capacidades e valores humanos, constituindo, assim, um dos principais motores do desenvolvimento
sustentável das comunidades, povos e nações,

Recordando que a diversidade cultural, ao florescer em um ambiente de democracia, tolerância, justiça


social e mútuo respeito entre povos e culturas, é indispensável para a paz e a segurança no plano local, nacional
e internacional,

Celebrando a importância da diversidade cultural para a plena realização dos direitos humanos e das
liberdades fundamentais proclamados na Declaração Universal dos Direitos do Homem e outros instrumentos
universalmente reconhecidos,

Destacando a necessidade de incorporar a cultura como elemento estratégico das políticas de


desenvolvimento nacionais e internacionais, bem como da cooperação internacional para o desenvolvimento,
e tendo igualmente em conta a Declaração do Milênio das Nações Unidas (2000), com sua ênfase na
erradicação da pobreza,

Considerando que a cultura assume formas diversas através do tempo e do espaço, e que esta
diversidade se manifesta na originalidade e na pluralidade das identidades, assim como nas expressões
culturais dos povos e das sociedades que formam a humanidade,

Reconhecendo a importância dos conhecimentos tradicionais como fonte de riqueza material e imaterial,
e, em particular, dos sistemas de conhecimento das populações indígenas, e sua contribuição positiva para o
desenvolvimento sustentável, assim como a necessidade de assegurar sua adequada proteção e promoção,

Reconhecendo a necessidade de adotar medidas para proteger a diversidade das expressões culturais
incluindo seus conteúdos, especialmente nas situações em que expressões culturais possam estar ameaçadas
de extinção ou de grave deterioração,

Enfatizando a importância da cultura para a coesão social em geral, e, em particular, o seu potencial para
a melhoria da condição da mulher e de seu papel na sociedade,

Ciente de que a diversidade cultural se fortalece mediante a livre circulação de idéias e se nutre das trocas
constantes e da interação entre culturas,

Reafirmando que a liberdade de pensamento, expressão e informação, bem como a diversidade da mídia,
possibilitam o florescimento das expressões culturais nas sociedades,

Reconhecendo que a diversidade das expressões culturais, incluindo as expressões culturais tradicionais,
é um fator importante, que possibilita aos indivíduos e aos povos expressarem e compartilharem com outros
as suas idéias e valores,

Recordando que a diversidade lingüística constitui elemento fundamental da diversidade cultural, e


reafirmando o papel fundamental que a educação desempenha na proteção e promoção das expressões
culturais,

Tendo em conta a importância da vitalidade das culturas para todos, incluindo as pessoas que pertencem
a minorias e povos indígenas, tal como se manifesta em sua liberdade de criar, difundir e distribuir as suas
expressões culturais tradicionais, bem como de ter acesso a elas, de modo a favorecer o seu próprio
desenvolvimento,

Sublinhando o papel essencial da interação e da criatividade culturais, que nutrem e renovam as


expressões culturais, e fortalecem o papel desempenhado por aqueles que participam no desenvolvimento da
cultura para o progresso da sociedade como um todo,

Reconhecendo a importância dos direitos da propriedade intelectual para a manutenção das pessoas que
participam da criatividade cultural,

Convencida de que as atividades, bens e serviços culturais possuem dupla natureza, tanto econômica
quanto cultural, uma vez que são portadores de identidades, valores e significados, não devendo, portanto, ser
tratados como se tivessem valor meramente comercial,
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 251

Constatando que os processos de globalização, facilitado pela rápida evolução das tecnologias de
comunicação e informação, apesar de proporcionarem condições inéditas para que se intensifique a interação
entre culturas, constituem também um desafio para a diversidade cultural, especialmente no que diz respeito
aos riscos de desequilíbrios entre países ricos e pobres,

Ciente do mandato específico confiado à UNESCO para assegurar o respeito à diversidade das culturas
e recomendar os acordos internacionais que julgue necessários para promover a livre circulação de idéias por
meio da palavra e da imagem,

Referindo-se às disposições dos instrumentos internacionais adotados pela UNESCO relativos à


diversidade cultural e ao exercício dos direitos culturais, em particular a Declaração Universal sobre a
Diversidade Cultural, de 2001,

Adota, em 20 de outubro de 2005, a presente Convenção.

I. Objetivos e princípios diretores

Artigo 1 – Objetivos

Os objetivos da presente Convenção são:

a) proteger e promover a diversidade das expressões culturais;

b) criar condições para que as culturas floresçam e interajam livremente em benefício mútuo;

c) encorajar o diálogo entre culturas a fim de assegurar intercâmbios culturais mais amplos e equilibrados no
mundo em favor do respeito intercultural e de uma cultura da paz;

d) fomentar a interculturalidade de forma a desenvolver a interação cultural, no espírito de construir pontes


entre os povos;

e) promover o respeito pela diversidade das expressões culturais e a conscientização de seu valor nos planos
local, nacional e internacional;

f) reafirmar a importância do vínculo entre cultura e desenvolvimento para todos os países, especialmente para
países em desenvolvimento, e encorajar as ações empreendidas no plano nacional e internacional para que se
reconheça o autêntico valor desse vínculo;

g) reconhecer natureza específica das atividades, bens e serviços culturais enquanto portadores de
identidades, valores e significados;

h) reafirmar o direito soberano dos Estados de conservar, adotar e implementar as políticas e medidas que
considerem apropriadas para a proteção e promoção da diversidade das expressões culturais em seu território;

i) fortalecer a cooperação e a solidariedade internacionais em um espírito de parceria visando, especialmente,


o aprimoramento das capacidades dos países em desenvolvimento de protegerem e de promoverem a
diversidade das expressões culturais.

Artigo 2 - Princípios Diretores

1. Princípio do respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais

A diversidade cultural somente poderá ser protegida e promovida se estiverem garantidos os direitos
humanos e as liberdades fundamentais, tais como a liberdade de expressão, informação e comunicação, bem
como a possibilidade dos indivíduos de escolherem expressões culturais. Ninguém poderá invocar as
disposições da presente Convenção para atentar contra os direitos do homem e as liberdades fundamentais
consagrados na Declaração Universal dos Direitos Humanos e garantidos pelo direito internacional, ou para
limitar o âmbito de sua aplicação.

2. Princípio da soberania

De acordo com a Carta das Nações Unidas e com os princípios do direito internacional, os Estados têm o
direito soberano de adotar medidas e políticas para a proteção e promoção da diversidade das expressões
culturais em seus respectivos territórios.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 252

3. Princípio da igual dignidade e do respeito por todas as culturas

A proteção e a promoção da diversidade das expressões culturais pressupõem o reconhecimento da igual


dignidade e o respeito por todas as culturas, incluindo as das pessoas pertencentes a minorias e as dos povos
indígenas.

4. Princípio da solidariedade e cooperação internacionais

A cooperação e a solidariedade internacionais devem permitir a todos os países, em particular os países


em desenvolvimento, criarem e fortalecerem os meios necessários a sua expressão cultural – incluindo as
indústrias culturais, sejam elas nascentes ou estabelecidas – nos planos local, nacional e internacional.

5. Princípio da complementaridade dos aspectos econômicos e culturais do desenvolvimento

Sendo a cultura um dos motores fundamentais do desenvolvimento, os aspectos culturais deste são tão
importantes quanto os seus aspectos econômicos, e os indivíduos e povos têm o direito fundamental de dele
participarem e se beneficiarem.

6. Princípio do desenvolvimento sustentável

A diversidade cultural constitui grande riqueza para os indivíduos e as sociedades. A proteção, promoção
e manutenção da diversidade cultural é condição essencial para o desenvolvimento sustentável em benefício
das gerações atuais e futuras.

7. Princípio do acesso eqüitativo

O acesso eqüitativo a uma rica e diversificada gama de expressões culturais provenientes de todo o mundo
e o acesso das culturas aos meios de expressão e de difusão constituem importantes elementos para a
valorização da diversidade cultural e o incentivo ao entendimento mútuo.

8. Princípio da abertura e do equilíbrio

Ao adotarem medidas para favorecer a diversidade das expressões culturais, os Estados buscarão
promover, de modo apropriado, a abertura a outras culturas do mundo e garantir que tais medidas estejam em
conformidade com os objetivos perseguidos pela presente Convenção.

II. Campo de aplicação

Artigo 3 - Campo de aplicação

A presente Convenção aplica-se a políticas e medidas adotadas pelas Partes relativas à proteção e
promoção da diversidade das expressões culturais.

III. Definições

Artigo 4 – Definições

Para os fins da presente Convenção, fica entendido que:

1. Diversidade Cultural

“Diversidade cultural” refere-se à multiplicidade de formas pelas quais as culturas dos grupos e
sociedades encontram sua expressão. Tais expressões são transmitidas entre e dentro dos grupos e
sociedades.

A diversidade cultural se manifesta não apenas nas variadas formas pelas quais se expressa, se
enriquece e se transmite o patrimônio cultural da humanidade mediante a variedade das expressões culturais,
mas também através dos diversos modos de criação, produção, difusão, distribuição e fruição das
expressões culturais, quaisquer que sejam os meios e tecnologias empregados.

2. Conteúdo Cultural

“Conteúdo cultural” refere-se ao caráter simbólico, dimensão artística e valores culturais que têm por
origem ou expressam identidades culturais.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 253

3. Expressões culturais

“Expressões culturais” são aquelas expressões que resultam da criatividade de indivíduos, grupos e
sociedades e que possuem conteúdo cultural.

4. Atividades, bens e serviços culturais

“Atividades, bens e serviços culturais” refere-se às atividades, bens e serviços que, considerados sob o
ponto de vista da sua qualidade, uso ou finalidade específica, incorporam ou transmitem expressões culturais,
independentemente do valor comercial que possam ter. As atividades culturais podem ser um fim em si
mesmas, ou contribuir para a produção de bens e serviços culturais.

5. Indústrias culturais

“Indústrias culturais” refere-se às indústrias que produzem e distribuem bens e serviços culturais, tais
como definidos no parágrafo 4 acima.

6. Políticas e medidas culturais

“Políticas e medidas culturais” refere-se às políticas e medidas relacionadas à cultura, seja no plano local,
regional, nacional ou internacional, que tenham como foco a cultura como tal, ou cuja finalidade seja exercer
efeito direto sobre as expressões culturais de indivíduos, grupos ou sociedades, incluindo a criação, produção,
difusão e distribuição de atividades, bens e serviços culturais, e o acesso aos mesmos.

7. Proteção

“Proteção” significa a adoção de medidas que visem à preservação, salvaguarda e valorização da


diversidade das expressões culturais.

“Proteger” significa adotar tais medidas.

8. Interculturalidade

“Interculturalidade” refere-se à existência e interação eqüitativa de diversas culturas, assim como à


possibilidade de geração de expressões culturais compartilhadas por meio do diálogo e respeito mútuo.

IV. Direitos e obrigações das partes

Artigo 5 - Regra geral em matéria de direitos e obrigações

1. As Partes, em conformidade com a Carta das Nações Unidas, os princípios do direito internacional e os
instrumentos universalmente reconhecidos em matéria de direitos humanos, reafirmam seu direito soberano de
formular e implementar as suas políticas culturais e de adotar medidas para a proteção e a promoção da
diversidade das expressões culturais, bem como para o fortalecimento da cooperação internacional, a fim de
alcançar os objetivos da presente Convenção.

2. Quando uma Parte implementar políticas e adotar medidas para proteger e promover a diversidade das
expressões culturais em seu território, tais políticas e medidas deverão ser compatíveis com as disposições da
presente Convenção.

Artigo 6 - Direitos das Partes no âmbito nacional

1. No marco de suas políticas e medidas culturais, tais como definidas no artigo 4.6, e levando em
consideração as circunstâncias e necessidades que lhe são particulares, cada Parte poderá adotar medidas
destinadas a proteger e promover a diversidade das expressões culturais em seu território.

2. Tais medidas poderão incluir:

a) medidas regulatórias que visem à proteção e promoção da diversidade das expressões cultuais;

b) medidas que, de maneira apropriada, criem oportunidades às atividades, bens e serviços culturais nacionais
– entre o conjunto das atividades, bens e serviços culturais disponíveis no seu território –, para a sua criação,
produção, difusão, distribuição e fruição, incluindo disposições relacionadas à língua utilizada nessas
atividades, bens e serviços;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 254

c) medidas destinadas a fornecer às indústrias culturais nacionais independentes e às atividades no setor


informal acesso efetivo aos meios de produção, difusão e distribuição das atividades, bens e serviços culturais;

d) medidas voltadas para a concessão de apoio financeiro público;

e) medidas com o propósito de encorajar organizações de fins não-lucrativos, e também instituições públicas e
privadas, artistas e outros profissionais de cultura, a desenvolver e promover o livre intercâmbio e circulação
de idéias e expressões culturais, bem como de atividades, bens e serviços culturais, e a estimular tanto a
criatividade quanto o espírito empreendedor em suas atividades;

f) medidas com vistas a estabelecer e apoiar, de forma adequada, as instituições pertinentes de serviço
público;

g) medidas para encorajar e apoiar os artistas e todos aqueles envolvidos na criação de expressões culturais;

h) medidas objetivando promover a diversidade da mídia, inclusive mediante serviços públicos de


radiodifusão.

Artigo 7 - Medidas para a promoção das expressões culturais

1. As partes procurarão criar em seu território um ambiente que encoraje indivíduos e grupos sociais a:

a) criar, produzir, difundir, distribuir suas próprias expressões culturais, e a elas ter acesso, conferindo a
devida atenção às circunstâncias e necessidades especiais da mulher, assim como dos diversos grupos
sociais, incluindo as pessoas pertencentes às minorias e povos indígenas;

b) ter acesso às diversas expressões culturais provenientes do seu território e dos demais países do mundo;

2. As Partes buscarão também reconhecer a importante contribuição dos artistas, de todos aqueles
envolvidos no processo criativo, das comunidades culturais e das organizações que os apóiam em seu
trabalho, bem como o papel central que desempenham ao nutrir a diversidade das expressões culturais.

Artigo 8 - Medidas para a proteção das expressões culturais

1. Sem prejuízo das disposições dos artigos 5 e 6, uma Parte poderá diagnosticar a existência de situações
especiais em que expressões culturais em seu território estejam em risco de extinção, sob séria ameaça ou
necessitando de urgente salvaguarda.

2. As Partes poderão adotar todas as medidas apropriadas para proteger e preservar as expressões
culturais nas situações referidas no parágrafo 1, em conformidade com as disposições da presente Convenção.

3. As partes informarão ao Comitê Intergovernamental mencionado no Artigo 23 todas as medidas


tomadas para fazer face às exigências da situação, podendo o Comitê formular recomendações apropriadas.

Artigo 9 – Intercâmbio de informações e transparência

As Partes:

a) fornecerão, a cada quatro anos, em seus relatórios à UNESCO, informação apropriada sobre as medidas
adotadas para proteger e promover a diversidade das expressões culturais em seu território e no plano
internacional;

b) designarão um ponto focal, responsável pelo compartilhamento de informações relativas à presente


Convenção;

c) compartilharão e trocarão informações relativas à proteção e promoção da diversidade das expressões


culturais.

Artigo 10 - Educação e conscientização pública

As Partes deverão:
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 255

a) propiciar e desenvolver a compreensão da importância da proteção e promoção da diversidade das


expressões culturais, por intermédio, entre outros, de programas de educação e maior sensibilização do
público;

b) cooperar com outras Partes e organizações regionais e internacionais para alcançar o objetivo do presente
artigo;

c) esforçar-se por incentivar a criatividade e fortalecer as capacidades de produção, mediante o


estabelecimento de programas de educação, treinamento e intercâmbio na área das indústrias culturais. Tais
medidas deverão ser aplicadas de modo a não terem impacto negativo sobre as formas tradicionais de
produção.

Artigo 11 - Participação da sociedade civil

As Partes reconhecem o papel fundamental da sociedade civil na proteção e promoção da diversidade


das expressões culturais. As Partes deverão encorajar a participação ativa da sociedade civil em seus
esforços para alcançar os objetivos da presente Convenção.

Artigo 12 - Promoção da cooperação internacional

As Partes procurarão fortalecer sua cooperação bilateral, regional e internacional, a fim de criar condições
propícias à promoção da diversidade das expressões culturais, levando especialmente em conta as situações
mencionadas nos Artigos 8 e 17, em particular com vistas a:

a) facilitar o diálogo entre as Partes sobre política cultural;

b) reforçar as capacidades estratégicas e de gestão do setor público nas instituições públicas culturais,
mediante intercâmbios culturais profissionais e internacionais, bem como compartilhamento das melhores
práticas;

c) reforçar as parcerias com a sociedade civil, organizações não-governamentais e setor privado, e entre essas
entidades, para favorecer e promover a diversidade das expressões culturais;

d) promover a utilização das novas tecnologias e encorajar parcerias para incrementar o compartilhamento de
informações, aumentar a compreensão cultural e fomentar a diversidade das expressões culturais;

e) encorajar a celebração de acordos de co-produção e de co-distribuição.

Artigo 13 - Integração da cultura no desenvolvimento sustentável

As Partes envidarão esforços para integrar a cultura nas suas políticas de desenvolvimento, em todos os
níveis, a fim de criar condições propícias ao desenvolvimento sustentável e, nesse marco, fomentar os aspectos
ligados à proteção e promoção da diversidade das expressões culturais.

Artigo 14 - Cooperação para o desenvolvimento

As Partes procurarão apoiar a cooperação para o desenvolvimento sustentável e a redução da pobreza,


especialmente em relação às necessidades específicas dos países em desenvolvimento, com vistas a
favorecer a emergência de um setor cultural dinâmico pelos seguintes meios, entre outros:

a) o fortalecimento das indústrias culturais em países em desenvolvimento:

i) criando e fortalecendo as capacidades de produção e distribuição culturais nos países em desenvolvimento;

ii) facilitando um maior acesso de suas atividades, bens e serviços culturais ao mercado global e aos circuitos
internacionais de distribuição;

iii) permitindo a emergência de mercados regionais e locais viáveis;

iv) adotando, sempre que possível, medidas apropriadas nos países desenvolvidos com vistas a facilitar o
acesso ao seu território das atividades, bens e serviços culturais dos países em desenvolvimento;

v) apoiando o trabalho criativo e facilitando, na medida do possível, a mobilidade dos artistas dos países em
desenvolvimento;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 256

vi) encorajando uma apropriada colaboração entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, em particular
nas áreas da música e do cinema.

b) o fortalecimento das capacidades por meio do intercâmbio de informações, experiências e conhecimentos


especializados, assim como pela formação de recursos humanos nos países em desenvolvimento, nos setores
púbico e privado, no que concerne notadamente as capacidades estratégicas e gerenciais, a formulação e
implementação de políticas, a promoção e distribuição das expressões culturais, o desenvolvimento das
médias, pequenas e micro empresas, e a utilização das tecnologias e desenvolvimento e transferência de
competências;

c) a transferência de tecnologias e conhecimentos mediante a introdução de medidas apropriadas de


incentivo, especialmente no campo das indústrias e empresas culturais;

d) o apoio financeiro mediante:

i) o estabelecimento de um Fundo Internacional para a Diversidade Cultural conforme disposto no artigo 18;

ii) a concessão de assistência oficial ao desenvolvimento, segundo proceda, incluindo a assistência técnica, a
fim de estimular e incentivar a criatividade;

iii) outras formas de assistência financeira, tais como empréstimos com baixas taxas de juros, subvenções e
outros mecanismos de financiamento.

Artigo 15 – Modalidades de colaboração

As Partes incentivarão o desenvolvimento de parcerias entre o setor público, o setor privado e


organizações de fins não-lucrativos, e também no interior dos mesmos, a fim de cooperar com os países em
desenvolvimento no fortalecimento de suas capacidades de proteger e promover a diversidade das expressões
culturais. Essas parcerias inovadoras enfatizarão, de acordo com as necessidades concretas dos países em
desenvolvimento, a melhoria da infra-estrutura, dos recursos humanos e políticos, assim como o intercâmbio
de atividades, bens e serviços culturais.

Artigo 16 - Tratamento preferencial para países em desenvolvimento

Os países desenvolvidos facilitarão intercâmbios culturais com os países em desenvolvimento garantindo,


por meio dos instrumentos institucionais e jurídicos apropriados, um tratamento preferencial aos seus artistas
e outros profissionais e praticantes da cultura, assim como aos seus bens e serviços culturais.

Artigo 17 - Cooperação internacional em situações de grave ameaça às expressões culturais

As Partes cooperarão para mutuamente se prestarem assistência, conferindo especial atenção aos
países em desenvolvimento, nas situações referidas no Artigo 8.

Artigo 18 - Fundo Internacional para a Diversidade Cultural

1. Fica instituído um Fundo Internacional para a Diversidade Cultural, doravante denominado o “Fundo”.

2. O Fundo estará constituído por fundos fiduciários, em conformidade com o Regulamento Financeiro
da UNESCO.

3. Os recursos do Fundo serão constituídos por:

a) contribuições voluntárias das Partes;

b) recursos financeiros que a Conferência-Geral da UNESCO assigne para tal fim;

c) contribuições, doações ou legados feitos por outros Estados, organismos e programas do sistema das
Nações Unidas, organizações regionais ou internacionais; entidades públicas ou privadas e pessoas físicas;

d) juros sobre os recursos do Fundo;

e) o produto das coletas e receitas de eventos organizados em benefício do Fundo;

f) quaisquer outros recursos autorizados pelo regulamento do Fundo.


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 257

4. A utilização dos recursos do Fundo será decidida pelo Comitê Intergovernamental, com base nas
orientações da Conferência das Partes mencionada no Artigo 22.

5. O Comitê Intergovernamental poderá aceitar contribuições, ou outras formas de assistência com


finalidade geral ou específica que estejam vinculadas a projetos concretos, desde que os mesmos contem com
a sua aprovação.

6. As contribuições ao Fundo não poderão estar vinculadas a qualquer condição política, econômica ou
de outro tipo que seja incompatível com os objetivos da presente Convenção.

7. As Partes farão esforços para prestar contribuições voluntárias, em bases regulares, para a
implementação da presente Convenção.

Artigo 19 - Intercâmbio, análise e difusão de informações

1. As Partes comprometem-se a trocar informações e compartilhar conhecimentos especializados relativos


à coleta de dados e estatísticas sobre a diversidade das expressões culturais, bem como sobre as melhores
práticas para a sua proteção e promoção.

2. A UNESCO facilitará, graças aos mecanismos existentes no seu Secretariado, a coleta, análise e
difusão de todas as informações, estatísticas e melhores práticas sobre a matéria.

3. Adicionalmente, a UNESCO estabelecerá e atualizará um banco de dados sobre os diversos setores e


organismos governamentais, privadas e de fins não-lucrativos, que estejam envolvidos no domínio das
expressões culturais.

4. A fim de facilitar a coleta de dados, a UNESCO dará atenção especial à capacitação e ao fortalecimento
das competências das Partes que requisitarem assistência na matéria.

5. A coleta de informações definida no presente artigo complementará as informações a que fazem


referência as disposições do artigo 9.

V. Relações com outros instrumentos

Artigo 20 - Relações com outros instrumentos: apoio mútuo, complementaridade e não-subordinação

1. As Partes reconhecem que deverão cumprir de boa-fé suas obrigações perante a presente Convenção
e todos os demais tratados dos quais sejam parte. Da mesma forma, sem subordinar esta Convenção a
qualquer outro tratado:

a) fomentarão o apoio mútuo entre esta Convenção e os outros tratados dos quais são parte; e

b) ao interpretarem e aplicarem os outros tratados dos quais são parte ou ao assumirem novas obrigações
internacionais, as Partes levarão em conta as disposições relevantes da presente Convenção.

2. Nada na presente Convenção será interpretado como modificando os direitos e obrigações das Partes
decorrentes de outros tratados dos quais sejam parte.

Artigo 21 – Consulta e coordenação internacional

As Partes comprometem-se a promover os objetivos e princípios da presente Convenção em outros


foros internacionais. Para esse fim, as Partes deverão consultar-se, quando conveniente, tendo em mente os
mencionados objetivos e princípios.

VI. Órgãos da Convenção

Artigo 22 – Conferência das Partes

1. Fica estabelecida uma Conferência das Partes. A Conferência das Partes é o órgão plenário e
supremo da presente Convenção.

2. A Conferência das Partes se reúne em sessão ordinária a cada dois anos, sempre que possível no
âmbito da Conferência-Geral da UNESCO. A Conferência das Partes poderá reunir-se em sessão
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 258

extraordinária, se assim o decidir, ou se solicitação for dirigida ao Comitê Intergovernamental por ao menos um
terço das Partes.

3. A Conferência das Partes adotará o seu próprio Regimento interno.

4. As funções da Conferência das Partes são, entre outras:

a) eleger os Membros do Comitê Intergovernamental;

b) receber e examinar relatórios das Partes da presente Convenção transmitidos pelo Comitê
Intergovernamental;

c) aprovar as diretrizes operacionais preparadas, a seu pedido, pelo Comitê Intergovernamental;

d) adotar quaisquer outras medidas que considere necessárias para promover os objetivos da presente
Convenção.

Artigo 23 – Comitê Intergovernamental

1. Fica instituído junto à UNESCO um Comitê Intergovernamental para a Proteção e Promoção da


Diversidade das Expressões Culturais, doravante referido como “Comitê Intergovernamental”. Ele é composto
por representantes de 18 Estados-Partes da Convenção, eleitos pela Conferência das Partes para um mandato
de quatro anos, a partir da entrada em vigor da presente Convenção, conforme o artigo 29.

2. O Comitê Intergovernamental se reúne em sessões anuais.

3. O Comitê Intergovernamental funciona sob a autoridade e em conformidade com as diretrizes da


Conferência das Partes, à qual presta contas.

4. Os número de membros do Comitê Intergovernamental será elevado para 24 quando o número de


membros da presente Convenção chegar a 50.

5. A eleição dos membros do Comitê Intergovernamental é baseada nos princípios da representação


geográfica eqüitativa e da rotatividade.

6. Sem prejuízo de outras responsabilidades a ele conferidas pela presente Convenção, o Comitê
Intergovernamental tem as seguintes funções:

a) promover os objetivos da presente Convenção, incentivar e monitorar a sua implementação;

b) preparar e submeter à aprovação da Conferência das Partes, mediante solicitação, as diretrizes operacionais
relativas à implementação e aplicação das disposições da presente Convenção;

c) transmitir à Conferência das Partes os relatórios das Partes da Convenção acompanhados de observações
e um resumo de seus conteúdos;

d) fazer recomendações apropriadas para situações trazidas à sua atenção pelas Partes da Convenção, de
acordo com as disposições pertinentes da Convenção, em particular o Artigo 8;

e) estabelecer os procedimentos e outros mecanismos de consulta que visem à promoção dos objetivos e
princípios da presente Convenção em outros foros internacionais;

f) realizar qualquer outra tarefa que lhe possa solicitar a Conferência das Partes.

7. O Comitê Intergovernamental, em conformidade com o seu Regimento interno, poderá, a qualquer


momento, convidar organismos públicos ou privados ou pessoas físicas a participarem das suas reuniões para
consultá-los sobre questões específicas.

8. O Comitê Intergovernamental elaborará o seu próprio Regimento interno e o submeterá à aprovação


da Conferências das Partes.

Artigo 24 – Secretariado da UNESCO

1. Os órgãos da presente Convenção serão assistidos pelo Secretariado da UNESCO.


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 259

2. O Secretariado preparará a documentação da Conferência das Partes e do Comitê


Intergovernamental, assim como o projeto de agenda de suas reuniões, prestando auxílio na implementação
de suas decisões e informando sobre a aplicação das mesmas.

VII. Disposições finais

Artigo 25 - Solução de controvérsias

1. Em caso de controvérsia acerca da interpretação ou aplicação da presente Convenção, as Partes


buscarão resolvê-la mediante negociação.

2. Se as Partes envolvidas não chegarem a acordo por negociação, poderão recorrer conjuntamente aos
bons ofícios ou à mediação de uma terceira parte.

3. Se os bons ofícios ou a mediação não forem adotados, ou se não for possível superar a controvérsia
pela negociação, bons ofícios ou mediação, uma Parte poderá recorrer à conciliação, em conformidade com o
procedimento constante do Anexo à presente Convenção. As Partes considerarão de boa-fé a proposta de
solução da controvérsia apresentada pela Comissão de Conciliação.

4. Cada Parte poderá, no momento da ratificação, aceitação, aprovação ou adesão, declarar que não
reconhece o procedimento de conciliação acima disposto. Toda Parte que tenha feito tal declaração poderá, a
qualquer momento, retirá-la mediante notificação ao Diretor-Geral da UNESCO.

Artigo 26 - Ratificação, aceitação, aprovação ou adesão por Estados-Membros

1. A presente Convenção estará sujeita à ratificação, aceitação, aprovação ou adesão dos Estados
membros da UNESCO, em conformidade com os seus respectivos procedimentos constitucionais.

2. Os instrumentos de ratificação, aceitação, aprovação ou adesão serão depositados junto ao Diretor-


Geral da UNESCO.

Artigo 27 - Adesão

1. A presente Convenção estará aberta à adesão de qualquer Estado não-membro da UNESCO, desde
que pertença à Organização das Nações Unidas ou a algum dos seus organismos especializados e que tenha
sido convidado pela Conferência-Geral da Organização a aderir à Convenção.

2. A presente Convenção estará também aberta à adesão de territórios que gozem de plena autonomia
interna reconhecida como tal pelas Nações Unidas, mas que não tenham alcançado a total independência em
conformidade com a Resolução 1514 (XV) da Assembléia Geral, e que tenham competência nas matérias de
que trata a presente Convenção, incluindo a competência para concluir tratados relativos a essas matérias.

3. As seguintes disposições aplicam-se a organizações regionais de integração econômica:

a) a presente Convenção ficará também aberta à adesão de toda organização regional de integração
econômica, que estará, exceto conforme estipulado abaixo, plenamente vinculada às disposições da
Convenção, da mesma maneira que os Estados Parte.

b) se um ou mais Estados membros dessas organizações forem igualmente Partes da presente Convenção, a
organização e o Estado ou Estados membros decidirão sobre suas respectivas responsabilidades no que tange
ao cumprimento das obrigações decorrentes da presente Convenção. Tal divisão de responsabilidades terá
efeito após o término do procedimento de notificação descrito no inciso (c) abaixo. A organização e seus
Estados membros não poderão exercer, concomitantemente, os direitos que emanam da presente Convenção.
Além disso, nas matérias de sua competência, as organizações regionais de integração econômica poderão
exercer o direito de voto com um número de votos igual ao número de seus Estados membros que sejam Partes
da Convenção. Tais organizações não poderão exercer o direito a voto se qualquer dos seus membros o fizer,
e vice-versa.

c) a organização regional de integração econômica e seu Estado ou Estados membros que tenham acordado
a divisão de responsabilidades prevista no inciso (b) acima, o informarão às Partes do seguinte modo:

i) em seu instrumento de adesão, tal organização declarará, de forma precisa, a divisão de suas
responsabilidades com respeito às matérias regidas pela Convenção;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 260

ii) em caso de posterior modificação das respectivas responsabilidades, a organização regional de integração
econômica informará ao depositário de toda proposta de modificação dessas responsabilidades; o depositário
deverá, por sua vez, informar as Partes de tal modificação.

d) os Estados membros de uma organização regional de integração econômica que se tenham tornado Partes
da presente Convenção são supostos manter a competência sobre todas as matérias que não tenham sido,
mediante expressa declaração ou informação ao depositário, objeto de transferência competência à
organização.

e) entende-se por “organização regional de integração econômica” toda organização constituída por Estados
soberanos, membros das Nações Unidas ou de um de seus organismos especializados, à qual tais Estados
tenham transferido suas competências em matérias regidas pela presente Convenção, e que haja sido
devidamente autorizada, de acordo com seus procedimentos internos, a tornar-se Parte da Convenção.

4. O instrumento de adesão será depositado junto ao Diretor-Geral da UNESCO.

Artigo 28 - Ponto focal

Ao aderir à presente Convenção, cada Parte designará o “ponto focal” referido no artigo 9.

Artigo 29 - Entrada em vigor

1. A presente Convenção entrará em vigor três meses após a data de depósito do trigésimo instrumento
de ratificação, aceitação, aprovação ou adesão, mas unicamente em relação aos Estados ou organizações
regionais de integração econômica que tenham depositado os seus respectivos instrumentos de ratificação,
aceitação, aprovação ou adesão naquela data ou anteriormente. Para as demais Partes, a Convenção entrará
em vigor três meses após a data do depósito de seu instrumento de ratificação, aceitação, aprovação ou
adesão.

2. Para os fins do presente artigo, nenhum instrumento depositado por organização regional de
integração econômica será contado como adicional àqueles depositados pelos Estados membros da referida
organização.

Artigo 30 - Sistemas constitucionais não-unitários ou federativos

Reconhecendo que os acordos internacionais vinculam de mesmo modo as Partes, independentemente


de seus sistemas constitucionais, as disposições a seguir aplicam-se às Partes com regime constitucional
federativo ou não-unitário:

a) no que se refere às disposições da presente Convenção cuja aplicação seja da competência do poder
legislativo federal ou central, as obrigações do governo federal ou central serão as mesmas das Partes que
não são Estados federativos;

b) no que se refere às disposições desta Convenção cuja aplicação seja da competência de cada uma das
unidades constituintes, sejam elas Estados, condados, províncias ou cantões que, em virtude do sistema
constitucional da federação, não tenham a obrigação de adotar medidas legislativas, o governo federal
comunicará, quando necessário, essas disposições às autoridades competentes das unidades constituintes,
sejam elas Estados, condados, províncias ou cantões, com a recomendação de que sejam aplicadas.

Artigo 31 - Denúncia

1. Cada uma das Partes poderá denunciar a presente Convenção.

2. A denúncia será notificada em instrumento escrito depositado junto ao Diretor-Geral da UNESCO.

3. A denúncia terá efeito doze meses após a recepção do respectivo instrumento. A denúncia não
modificará em nada as obrigações financeiras que a Parte denunciante assumiu até a data de efetivação da
retirada.

Artigo 32 - Funções de Depositário

O Diretor-Geral da UNESCO, na condição de depositário da presente Convenção, informará aos Estados


membros da Organização, aos Estados não-membros e às organizações regionais de integração econômica a
que se refere o Artigo 27, assim como às Nações Unidas, sobre o depósito de todos os instrumentos de
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 261

ratificação, aceitação, aprovação ou adesão mencionados nos artigos 26 e 27, bem como sobre as denúncias
previstas no Artigo 31.

Artigo 33 – Emendas

1. Toda Parte poderá, por comunicação escrita dirigida ao Diretor-Geral, propor emendas à presente
Convenção. O Diretor-Geral transmitirá essa comunicação às demais Partes. Se, no prazo de seis meses a
partir da data da transmissão da comunicação, pelo menos metade dos Estados responder favoravelmente a
essa demanda, o Diretor-Geral apresentará a proposta à próxima sessão da Conferência das Partes para
discussão e eventual adoção.

2. As emendas serão adotadas por uma maioria de dois terços das Partes presentes e votantes.

3. Uma vez adotadas, as emendas à presente Convenção serão submetidas às Partes para ratificação,
aceitação, aprovação ou adesão.

4. Para as Partes que as tenham ratificado, aceitado, aprovado ou a elas aderido, as emendas à presente
Convenção entrarão em vigor três meses após o depósito dos instrumentos referidos no parágrafo 3 deste
Artigo por dois terços das Partes. Subseqüentemente, para cada Parte que a ratifique, aceite, aprove ou a ela
adira, a emenda entrará em vigor três meses após a data do depósito por essa Parte do respectivo instrumento
de ratificação, aceitação, aprovação ou adesão.

5. O procedimento estabelecido nos parágrafos 3 e 4 não se aplicarão às emendas ao artigo 23 relativas


ao número de membros do Comitê Intergovernamental. Tais emendas entrarão em vigor no momento em que
forem adotadas.

6. Um Estado, ou uma organização regional de integração econômica definida no artigo 27, que se torne
Parte da presente Convenção após a entrada em vigor de emendas conforme o parágrafo 4 do presente Artigo,
e que não manifeste uma intenção diferente, será considerado:

a) parte da presente Convenção assim emendada; e

b) parte da presente Convenção não-emendada relativamente a toda Parte que não esteja vinculada a essa
emenda.

Artigo 34 - Textos autênticos

A presente Convenção está redigida em árabe, chinês, espanhol, francês, inglês e russo, sendo os seis
textos igualmente autênticos.

Artigo 35 – Registro

Em conformidade com o disposto no artigo 102 da Carta das Nações Unidas, a presente Convenção
será registrada no Secretariado das Nações Unidas por petição do Diretor-Geral da UNESCO.

ANEXO

Procedimento de conciliação

Artigo 1 – Comissão de Conciliação

Por solicitação de uma das Partes da controvérsia, uma Comissão de Conciliação será criada. Salvo se
as Partes decidirem de outra maneira, a Comissão será composta de 5 membros, sendo que cada uma das
Partes envolvidas indicará dois membros e o Presidente será escolhido de comum acordo pelos 4 membros
assim designados.

Artigo 2 – Membros da Comissão

Em caso de controvérsia entre mais de duas Partes, as Partes que tenham o mesmo interesse designarão
seus membros da Comissão em comum acordo. Se ao menos duas Partes tiverem interesses independentes
ou houver desacordo sobre a questão de saber se têm os mesmos interesses, elas indicarão seus membros
separadamente.

Artigo 3 – Nomeações
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 262

Se nenhuma indicação tiver sido feita pelas Partes dentro do prazo de dois meses a partir da data de
pedido de criação da Comissão de Conciliação, o Diretor-Geral da UNESCO fará as indicações dentro de um
novo prazo de dois meses, caso solicitado pela Parte que apresentou o pedido.

Artigo 4 – Presidente da Comissão

Se o Presidente da Comissão não tiver sido escolhido no prazo de dois meses após a designação do
último membro da Comissão, o Diretor-Geral da UNESCO designará o Presidente dentro de um novo prazo de
dois meses, caso solicitado por uma das Partes.

Artigo 5 – Decisões

A Comissão de Conciliação tomará as suas decisões pela maioria de seus membros. A menos que as
Partes na controvérsia decidam de outra maneira, a Comissão estabelecerá o seu próprio procedimento. Ela
proporá uma solução para a controvérsia, que as Partes examinarão de boa-fé.

Artigo 6 –Discordância

Em caso de desacordo sobre a competência da Comissão de Conciliação, a mesma decidirá se é ou não


competente.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 263

2.16 CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA ELIMINAÇÃO DE TODAS AS


FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO CONTRA AS PESSOAS PORTADORAS DE
DEFICIÊNCIA (DECRETO Nº 3956/2001)

DECRETO Nº 3.956, DE 8 DE OUTUBRO DE 2001.

Promulga a Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de
Deficiência.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso VIII, da
Constituição,

Considerando que o Congresso Nacional aprovou o texto da Convenção Interamericana para a Eliminação
de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência por meio do Decreto
Legislativo no 198, de 13 de junho de 200l;

Considerando que a Convenção entrou em vigor, para o Brasil, em 14 de setembro de 2001, nos termos
do parágrafo 3, de seu artigo VIII;

DECRETA:

Art. 1o A Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as


Pessoas Portadoras de Deficiência, apensa por cópia ao presente Decreto, será executada e cumprida tão
inteiramente como nela se contém.

Art. 2o São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional quaisquer atos que possam resultar em revisão
da referida Convenção, assim como quaisquer ajustes complementares que, nos termos do art. 49, inciso I, da
Constituição, acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional.

Art. 3o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 8 de outubro de 2001; 180o da Independência e 113o da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO


Celso Lafer

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. 9.10.2001

CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS


DE DISCRIMINAÇÃO CONTRA AS PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA

Os Estados Partes nesta Convenção,

Reafirmando que as pessoas portadoras de deficiência têm os mesmos direitos humanos e liberdades
fundamentais que outras pessoas e que estes direitos, inclusive o direito de não ser submetidas a discriminação
com base na deficiência, emanam da dignidade e da igualdade que são inerentes a todo ser humano;

Considerando que a Carta da Organização dos Estados Americanos, em seu artigo 3, j, estabelece
como princípio que "a justiça e a segurança sociais são bases de uma paz duradoura";

Preocupados com a discriminação de que são objeto as pessoas em razão de suas deficiências;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 264

Tendo presente o Convênio sobre a Readaptação Profissional e o Emprego de Pessoas Inválidas da


Organização Internacional do Trabalho (Convênio 159); a Declaração dos Direitos do Retardado Mental
(AG.26/2856, de 20 de dezembro de 1971); a Declaração das Nações Unidas dos Direitos das Pessoas
Portadoras de Deficiência (Resolução nº 3447, de 9 de dezembro de 1975); o Programa de Ação Mundial para
as Pessoas Portadoras de Deficiência, aprovado pela Assembléia Geral das Nações Unidas (Resolução 37/52,
de 3 de dezembro de 1982); o Protocolo Adicional à Convenção Americana sobre Direitos Humanos em Matéria
de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, "Protocolo de San Salvador" (1988); os Princípios para a Proteção
dos Doentes Mentais e para a Melhoria do Atendimento de Saúde Mental (AG.46/119, de 17 de dezembro de
1991); a Declaração de Caracas da Organização Pan-Americana da Saúde; a resolução sobre a situação das
pessoas portadoras de deficiência no Continente Americano [AG/RES.1249 (XXIII-O/93)]; as Normas
Uniformes sobre Igualdade de Oportunidades para as Pessoas Portadoras de Deficiência (AG.48/96, de 20 de
dezembro de 1993); a Declaração de Manágua, de 20 de dezembro de 1993; a Declaração de Viena e
Programa de Ação aprovados pela Conferência Mundial sobre Direitos Humanos, das Nações Unidas (157/93);
a resolução sobre a situação das pessoas portadoras de deficiência no Hemisfério Americano [AG/RES. 1356
(XXV-O/95)] e o Compromisso do Panamá com as Pessoas Portadoras de Deficiência no Continente Americano
[AG/RES. 1369 (XXVI-O/96)]; e

Comprometidos a eliminar a discriminação, em todas suas formas e manifestações, contra as pessoas


portadoras de deficiência,

Convieram no seguinte:

Artigo I

Para os efeitos desta Convenção, entende-se por:

1. Deficiência

O termo "deficiência" significa uma restrição física, mental ou sensorial, de natureza permanente ou
transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais atividades essenciais da vida diária, causada ou
agravada pelo ambiente econômico e social.

2. Discriminação contra as pessoas portadoras de deficiência

a) o termo "discriminação contra as pessoas portadoras de deficiência" significa toda diferenciação,


exclusão ou restrição baseada em deficiência, antecedente de deficiência, conseqüência de deficiência anterior
ou percepção de deficiência presente ou passada, que tenha o efeito ou propósito de impedir ou anular o
reconhecimento, gozo ou exercício por parte das pessoas portadoras de deficiência de seus direitos humanos
e suas liberdades fundamentais.

b) Não constitui discriminação a diferenciação ou preferência adotada pelo Estado Parte para promover a
integração social ou o desenvolvimento pessoal dos portadores de deficiência, desde que a diferenciação ou
preferência não limite em si mesma o direito à igualdade dessas pessoas e que elas não sejam obrigadas a
aceitar tal diferenciação ou preferência. Nos casos em que a legislação interna preveja a declaração de
interdição, quando for necessária e apropriada para o seu bem-estar, esta não constituirá discriminação.

Artigo II

Esta Convenção tem por objetivo prevenir e eliminar todas as formas de discriminação contra as pessoas
portadoras de deficiência e propiciar a sua plena integração à sociedade.

Artigo III

Para alcançar os objetivos desta Convenção, os Estados Partes comprometem-se a:

1. Tomar as medidas de caráter legislativo, social, educacional, trabalhista, ou de qualquer outra natureza,
que sejam necessárias para eliminar a discriminação contra as pessoas portadoras de deficiência e
proporcionar a sua plena integração à sociedade, entre as quais as medidas abaixo enumeradas, que não
devem ser consideradas exclusivas:

a) medidas das autoridades governamentais e/ou entidades privadas para eliminar progressivamente a
discriminação e promover a integração na prestação ou fornecimento de bens, serviços, instalações, programas
e atividades, tais como o emprego, o transporte, as comunicações, a habitação, o lazer, a educação, o esporte,
o acesso à justiça e aos serviços policiais e as atividades políticas e de administração;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 265

b) medidas para que os edifícios, os veículos e as instalações que venham a ser construídos ou
fabricados em seus respectivos territórios facilitem o transporte, a comunicação e o acesso das pessoas
portadoras de deficiência;

c) medidas para eliminar, na medida do possível, os obstáculos arquitetônicos, de transporte e


comunicações que existam, com a finalidade de facilitar o acesso e uso por parte das pessoas portadoras de
deficiência; e

d) medidas para assegurar que as pessoas encarregadas de aplicar esta Convenção e a legislação interna
sobre esta matéria estejam capacitadas a fazê-lo.

2. Trabalhar prioritariamente nas seguintes áreas:

a) prevenção de todas as formas de deficiência preveníveis;

b) detecção e intervenção precoce, tratamento, reabilitação, educação, formação ocupacional e prestação


de serviços completos para garantir o melhor nível de independência e qualidade de vida para as pessoas
portadoras de deficiência; e

c) sensibilização da população, por meio de campanhas de educação, destinadas a eliminar preconceitos,


estereótipos e outras atitudes que atentam contra o direito das pessoas a serem iguais, permitindo desta forma
o respeito e a convivência com as pessoas portadoras de deficiência.

Artigo IV

Para alcançar os objetivos desta Convenção, os Estados Partes comprometem-se a:

1. Cooperar entre si a fim de contribuir para a prevenção e eliminação da discriminação contra as pessoas
portadoras de deficiência.

2. Colaborar de forma efetiva no seguinte:

a) pesquisa científica e tecnológica relacionada com a prevenção das deficiências, o tratamento, a


reabilitação e a integração na sociedade de pessoas portadoras de deficiência; e

b) desenvolvimento de meios e recursos destinados a facilitar ou promover a vida independente, a auto-


suficiência e a integração total, em condições de igualdade, à sociedade das pessoas portadoras de deficiência.

Artigo V

1. Os Estados Partes promoverão, na medida em que isto for coerente com as suas respectivas legislações
nacionais, a participação de representantes de organizações de pessoas portadoras de deficiência, de
organizações não-governamentais que trabalham nessa área ou, se essas organizações não existirem, de
pessoas portadoras de deficiência, na elaboração, execução e avaliação de medidas e políticas para aplicar
esta Convenção.

2. Os Estados Partes criarão canais de comunicação eficazes que permitam difundir entre as organizações
públicas e privadas que trabalham com pessoas portadoras de deficiência os avanços normativos e jurídicos
ocorridos para a eliminação da discriminação contra as pessoas portadoras de deficiência.

Artigo VI

1. Para dar acompanhamento aos compromissos assumidos nesta Convenção, será estabelecida uma
Comissão para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de
Deficiência, constituída por um representante designado por cada Estado Parte.

2. A Comissão realizará a sua primeira reunião dentro dos 90 dias seguintes ao depósito do décimo
primeiro instrumento de ratificação. Essa reunião será convocada pela Secretaria-Geral da Organização dos
Estados Americanos e será realizada na sua sede, salvo se um Estado Parte oferecer sede.

3. Os Estados Partes comprometem-se, na primeira reunião, a apresentar um relatório ao Secretário-Geral


da Organização para que o envie à Comissão para análise e estudo. No futuro, os relatórios serão apresentados
a cada quatro anos.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 266

4. Os relatórios preparados em virtude do parágrafo anterior deverão incluir as medidas que os Estados
membros tiverem adotado na aplicação desta Convenção e qualquer progresso alcançado na eliminação de
todas as formas de discriminação contra as pessoas portadoras de deficiência. Os relatórios também conterão
todas circunstância ou dificuldade que afete o grau de cumprimento decorrente desta Convenção.

5. A Comissão será o foro encarregado de examinar o progresso registrado na aplicação da Convenção


e de intercambiar experiências entre os Estados Partes. Os relatórios que a Comissão elaborará refletirão o
debate havido e incluirão informação sobre as medidas que os Estados Partes tenham adotado em aplicação
desta Convenção, o progresso alcançado na eliminação de todas as formas de discriminação contra as pessoas
portadoras de deficiência, as circunstâncias ou dificuldades que tenham tido na implementação da Convenção,
bem como as conclusões, observações e sugestões gerais da Comissão para o cumprimento progressivo da
mesma.

6. A Comissão elaborará o seu regulamento interno e o aprovará por maioria absoluta.

7. O Secretário-Geral prestará à Comissão o apoio necessário para o cumprimento de suas funções.

Artigo VII

Nenhuma disposição desta Convenção será interpretada no sentido de restringir ou permitir que os
Estados Partes limitem o gozo dos direitos das pessoas portadoras de deficiência reconhecidos pelo Direito
Internacional consuetudinário ou pelos instrumentos internacionais vinculantes para um determinado Estado
Parte.

Artigo VIII

1. Esta Convenção estará aberta a todos os Estados membros para sua assinatura, na cidade da
Guatemala, Guatemala, em 8 de junho de 1999 e, a partir dessa data, permanecerá aberta à assinatura de
todos os Estados na sede da Organização dos Estados Americanos até sua entrada em vigor.

2. Esta Convenção está sujeita a ratificação.

3. Esta Convenção entrará em vigor para os Estados ratificantes no trigésimo dia a partir da data em que
tenha sido depositado o sexto instrumento de ratificação de um Estado membro da Organização dos Estados
Americanos.

Artigo IX

Depois de entrar em vigor, esta Convenção estará aberta à adesão de todos os Estados que não a tenham
assinado.

Artigo X

1. Os instrumentos de ratificação e adesão serão depositados na Secretaria-Geral da Organização dos


Estados Americanos.

2. Para cada Estado que ratificar a Convenção ou aderir a ela depois do depósito do sexto instrumento de
ratificação, a Convenção entrará em vigor no trigésimo dia a partir da data em que esse Estado tenha
depositado seu instrumento de ratificação ou adesão.

Artigo XI

1. Qualquer Estado Parte poderá formular propostas de emenda a esta Convenção. As referidas propostas
serão apresentadas à Secretaria-Geral da OEA para distribuição aos Estados Partes.

2. As emendas entrarão em vigor para os Estados ratificantes das mesmas na data em que dois terços
dos Estados Partes tenham depositado o respectivo instrumento de ratificação. No que se refere ao restante
dos Estados partes, entrarão em vigor na data em que depositarem seus respectivos instrumentos de
ratificação.

Artigo XII
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 267

Os Estados poderão formular reservas a esta Convenção no momento de ratificá-la ou a ela aderir, desde
que essas reservas não sejam incompatíveis com o objetivo e propósito da Convenção e versem sobre uma
ou mais disposições específicas.

Artigo XIII

Esta Convenção vigorará indefinidamente, mas qualquer Estado Parte poderá denunciá-la. O instrumento
de denúncia será depositado na Secretaria-Geral da Organização dos Estados Americanos. Decorrido um ano
a partir da data de depósito do instrumento de denúncia, a Convenção cessará seus efeitos para o Estado
denunciante, permanecendo em vigor para os demais Estados Partes. A denúncia não eximirá o Estado Parte
das obrigações que lhe impõe esta Convenção com respeito a qualquer ação ou omissão ocorrida antes da
data em que a denúncia tiver produzido seus efeitos.

Artigo XIV

1. O instrumento original desta Convenção, cujos textos em espanhol, francês, inglês e português são
igualmente autênticos, será depositado na Secretaria-Geral da Organização dos Estados Americanos, que
enviará cópia autenticada de seu texto, para registro e publicação, ao Secretariado das Nações Unidas, em
conformidade com o artigo 102 da Carta das Nações Unidas.

2. A Secretaria-Geral da Organização dos Estados Americanos notificará os Estados membros dessa


Organização e os Estados que tiverem aderido à Convenção sobre as assinaturas, os depósitos dos
instrumentos de ratificação, adesão ou denúncia, bem como sobre as eventuais reservas.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 268

2.17 CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS COM


DEFICIÊNCIA E SEU PROTOCOLO FACULTATIVO – 2007 (DECRETO Nº
6.949/2009)

DECRETO Nº 6.949, DE 25 DE AGOSTO DE 2009.


Promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em
Nova York, em 30 de março de 2007.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV, da
Constituição, e

Considerando que o Congresso Nacional aprovou, por meio do Decreto Legislativo no 186, de 9 de julho
de 2008, conforme o procedimento do § 3º do art. 5º da Constituição, a Convenção sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007;

Considerando que o Governo brasileiro depositou o instrumento de ratificação dos referidos atos junto ao
Secretário-Geral das Nações Unidas em 1o de agosto de 2008;

Considerando que os atos internacionais em apreço entraram em vigor para o Brasil, no plano jurídico
externo, em 31 de agosto de 2008;

DECRETA:

Art. 1o A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, apensos
por cópia ao presente Decreto, serão executados e cumpridos tão inteiramente como neles se contém.

Art. 2o São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional quaisquer atos que possam resultar em revisão
dos referidos diplomas internacionais ou que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio
nacional, nos termos do art. 49, inciso I, da Constituição.

Art. 3o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 25 de agosto de 2009; 188o da Independência e 121o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA


Celso Luiz Nunes Amorim

Este texto não substitui o publicado no DOU de 26.8.2009

CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

Preâmbulo

Os Estados Partes da presente Convenção,

a) Relembrando os princípios consagrados na Carta das Nações Unidas, que reconhecem a dignidade e
o valor inerentes e os direitos iguais e inalienáveis de todos os membros da família humana como o fundamento
da liberdade, da justiça e da paz no mundo,

b) Reconhecendo que as Nações Unidas, na Declaração Universal dos Direitos Humanos e nos Pactos
Internacionais sobre Direitos Humanos, proclamaram e concordaram que toda pessoa faz jus a todos os direitos
e liberdades ali estabelecidos, sem distinção de qualquer espécie,
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 269

c) Reafirmando a universalidade, a indivisibilidade, a interdependência e a inter-relação de todos os


direitos humanos e liberdades fundamentais, bem como a necessidade de garantir que todas as pessoas com
deficiência os exerçam plenamente, sem discriminação,

d) Relembrando o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, o Pacto Internacional
dos Direitos Civis e Políticos, a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação Racial, a Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher,
a Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, a
Convenção sobre os Direitos da Criança e a Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos de Todos
os Trabalhadores Migrantes e Membros de suas Famílias,

e) Reconhecendo que a deficiência é um conceito em evolução e que a deficiência resulta da interação


entre pessoas com deficiência e as barreiras devidas às atitudes e ao ambiente que impedem a plena e efetiva
participação dessas pessoas na sociedade em igualdade de oportunidades com as demais pessoas,

f) Reconhecendo a importância dos princípios e das diretrizes de política, contidos no Programa de Ação
Mundial para as Pessoas Deficientes e nas Normas sobre a Equiparação de Oportunidades para Pessoas com
Deficiência, para influenciar a promoção, a formulação e a avaliação de políticas, planos, programas e ações
em níveis nacional, regional e internacional para possibilitar maior igualdade de oportunidades para pessoas
com deficiência,

g) Ressaltando a importância de trazer questões relativas à deficiência ao centro das preocupações da


sociedade como parte integrante das estratégias relevantes de desenvolvimento sustentável,

h) Reconhecendo também que a discriminação contra qualquer pessoa, por motivo de deficiência,
configura violação da dignidade e do valor inerentes ao ser humano,

i) Reconhecendo ainda a diversidade das pessoas com deficiência,

j) Reconhecendo a necessidade de promover e proteger os direitos humanos de todas as pessoas com


deficiência, inclusive daquelas que requerem maior apoio,

k) Preocupados com o fato de que, não obstante esses diversos instrumentos e compromissos, as
pessoas com deficiência continuam a enfrentar barreiras contra sua participação como membros iguais da
sociedade e violações de seus direitos humanos em todas as partes do mundo,

l) Reconhecendo a importância da cooperação internacional para melhorar as condições de vida das


pessoas com deficiência em todos os países, particularmente naqueles em desenvolvimento,

m) Reconhecendo as valiosas contribuições existentes e potenciais das pessoas com deficiência ao bem-
estar comum e à diversidade de suas comunidades, e que a promoção do pleno exercício, pelas pessoas com
deficiência, de seus direitos humanos e liberdades fundamentais e de sua plena participação na sociedade
resultará no fortalecimento de seu senso de pertencimento à sociedade e no significativo avanço do
desenvolvimento humano, social e econômico da sociedade, bem como na erradicação da pobreza,

n) Reconhecendo a importância, para as pessoas com deficiência, de sua autonomia e independência


individuais, inclusive da liberdade para fazer as próprias escolhas,

o) Considerando que as pessoas com deficiência devem ter a oportunidade de participar ativamente das
decisões relativas a programas e políticas, inclusive aos que lhes dizem respeito diretamente,

p) Preocupados com as difíceis situações enfrentadas por pessoas com deficiência que estão sujeitas a
formas múltiplas ou agravadas de discriminação por causa de raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticas
ou de outra natureza, origem nacional, étnica, nativa ou social, propriedade, nascimento, idade ou outra
condição,
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 270

q) Reconhecendo que mulheres e meninas com deficiência estão freqüentemente expostas a maiores
riscos, tanto no lar como fora dele, de sofrer violência, lesões ou abuso, descaso ou tratamento negligente,
maus-tratos ou exploração,

r) Reconhecendo que as crianças com deficiência devem gozar plenamente de todos os direitos humanos
e liberdades fundamentais em igualdade de oportunidades com as outras crianças e relembrando as obrigações
assumidas com esse fim pelos Estados Partes na Convenção sobre os Direitos da Criança,

s) Ressaltando a necessidade de incorporar a perspectiva de gênero aos esforços para promover o pleno
exercício dos direitos humanos e liberdades fundamentais por parte das pessoas com deficiência,

t) Salientando o fato de que a maioria das pessoas com deficiência vive em condições de pobreza e,
nesse sentido, reconhecendo a necessidade crítica de lidar com o impacto negativo da pobreza sobre pessoas
com deficiência,

u) Tendo em mente que as condições de paz e segurança baseadas no pleno respeito aos propósitos e
princípios consagrados na Carta das Nações Unidas e a observância dos instrumentos de direitos humanos
são indispensáveis para a total proteção das pessoas com deficiência, particularmente durante conflitos
armados e ocupação estrangeira,

v) Reconhecendo a importância da acessibilidade aos meios físico, social, econômico e cultural, à saúde,
à educação e à informação e comunicação, para possibilitar às pessoas com deficiência o pleno gozo de todos
os direitos humanos e liberdades fundamentais,

w) Conscientes de que a pessoa tem deveres para com outras pessoas e para com a comunidade a que
pertence e que, portanto, tem a responsabilidade de esforçar-se para a promoção e a observância dos direitos
reconhecidos na Carta Internacional dos Direitos Humanos,

x) Convencidos de que a família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem o direito de receber
a proteção da sociedade e do Estado e de que as pessoas com deficiência e seus familiares devem receber a
proteção e a assistência necessárias para tornar as famílias capazes de contribuir para o exercício pleno e
eqüitativo dos direitos das pessoas com deficiência,

y) Convencidos de que uma convenção internacional geral e integral para promover e proteger os direitos
e a dignidade das pessoas com deficiência prestará significativa contribuição para corrigir as profundas
desvantagens sociais das pessoas com deficiência e para promover sua participação na vida econômica, social
e cultural, em igualdade de oportunidades, tanto nos países em desenvolvimento como nos desenvolvidos,

Acordaram o seguinte:

Artigo 1

Propósito

O propósito da presente Convenção é promover, proteger e assegurar o exercício pleno e eqüitativo de


todos os direitos humanos e liberdades fundamentais por todas as pessoas com deficiência e promover o
respeito pela sua dignidade inerente.

Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental,
intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena
e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas.

Artigo 2

Definições

Para os propósitos da presente Convenção:


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 271

“Comunicação” abrange as línguas, a visualização de textos, o braille, a comunicação tátil, os caracteres


ampliados, os dispositivos de multimídia acessível, assim como a linguagem simples, escrita e oral, os sistemas
auditivos e os meios de voz digitalizada e os modos, meios e formatos aumentativos e alternativos de
comunicação, inclusive a tecnologia da informação e comunicação acessíveis;

“Língua” abrange as línguas faladas e de sinais e outras formas de comunicação não-falada;

“Discriminação por motivo de deficiência” significa qualquer diferenciação, exclusão ou restrição baseada
em deficiência, com o propósito ou efeito de impedir ou impossibilitar o reconhecimento, o desfrute ou o
exercício, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, de todos os direitos humanos e liberdades
fundamentais nos âmbitos político, econômico, social, cultural, civil ou qualquer outro. Abrange todas as formas
de discriminação, inclusive a recusa de adaptação razoável;

“Adaptação razoável” significa as modificações e os ajustes necessários e adequados que não acarretem
ônus desproporcional ou indevido, quando requeridos em cada caso, a fim de assegurar que as pessoas com
deficiência possam gozar ou exercer, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, todos os direitos
humanos e liberdades fundamentais;

“Desenho universal” significa a concepção de produtos, ambientes, programas e serviços a serem usados,
na maior medida possível, por todas as pessoas, sem necessidade de adaptação ou projeto específico. O
“desenho universal” não excluirá as ajudas técnicas para grupos específicos de pessoas com deficiência,
quando necessárias.

Artigo 3

Princípios gerais

Os princípios da presente Convenção são:

a) O respeito pela dignidade inerente, a autonomia individual, inclusive a liberdade de fazer as próprias
escolhas, e a independência das pessoas;

b) A não-discriminação;

c) A plena e efetiva participação e inclusão na sociedade;

d) O respeito pela diferença e pela aceitação das pessoas com deficiência como parte da diversidade
humana e da humanidade;

e) A igualdade de oportunidades;

f) A acessibilidade;

g) A igualdade entre o homem e a mulher;

h) O respeito pelo desenvolvimento das capacidades das crianças com deficiência e pelo direito das
crianças com deficiência de preservar sua identidade.

Artigo 4

Obrigações gerais

1.Os Estados Partes se comprometem a assegurar e promover o pleno exercício de todos os direitos
humanos e liberdades fundamentais por todas as pessoas com deficiência, sem qualquer tipo de discriminação
por causa de sua deficiência. Para tanto, os Estados Partes se comprometem a:
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 272

a) Adotar todas as medidas legislativas, administrativas e de qualquer outra natureza, necessárias para a
realização dos direitos reconhecidos na presente Convenção;

b) Adotar todas as medidas necessárias, inclusive legislativas, para modificar ou revogar leis,
regulamentos, costumes e práticas vigentes, que constituírem discriminação contra pessoas com deficiência;

c) Levar em conta, em todos os programas e políticas, a proteção e a promoção dos direitos humanos
das pessoas com deficiência;

d) Abster-se de participar em qualquer ato ou prática incompatível com a presente Convenção e assegurar
que as autoridades públicas e instituições atuem em conformidade com a presente Convenção;

e) Tomar todas as medidas apropriadas para eliminar a discriminação baseada em deficiência, por parte
de qualquer pessoa, organização ou empresa privada;

f) Realizar ou promover a pesquisa e o desenvolvimento de produtos, serviços, equipamentos e


instalações com desenho universal, conforme definidos no Artigo 2 da presente Convenção, que exijam o
mínimo possível de adaptação e cujo custo seja o mínimo possível, destinados a atender às necessidades
específicas de pessoas com deficiência, a promover sua disponibilidade e seu uso e a promover o desenho
universal quando da elaboração de normas e diretrizes;

g) Realizar ou promover a pesquisa e o desenvolvimento, bem como a disponibilidade e o emprego de


novas tecnologias, inclusive as tecnologias da informação e comunicação, ajudas técnicas para locomoção,
dispositivos e tecnologias assistivas, adequados a pessoas com deficiência, dando prioridade a tecnologias de
custo acessível;

h) Propiciar informação acessível para as pessoas com deficiência a respeito de ajudas técnicas para
locomoção, dispositivos e tecnologias assistivas, incluindo novas tecnologias bem como outras formas de
assistência, serviços de apoio e instalações;

i) Promover a capacitação em relação aos direitos reconhecidos pela presente Convenção dos
profissionais e equipes que trabalham com pessoas com deficiência, de forma a melhorar a prestação de
assistência e serviços garantidos por esses direitos.

2.Em relação aos direitos econômicos, sociais e culturais, cada Estado Parte se compromete a tomar
medidas, tanto quanto permitirem os recursos disponíveis e, quando necessário, no âmbito da cooperação
internacional, a fim de assegurar progressivamente o pleno exercício desses direitos, sem prejuízo das
obrigações contidas na presente Convenção que forem imediatamente aplicáveis de acordo com o direito
internacional.

3.Na elaboração e implementação de legislação e políticas para aplicar a presente Convenção e em outros
processos de tomada de decisão relativos às pessoas com deficiência, os Estados Partes realizarão consultas
estreitas e envolverão ativamente pessoas com deficiência, inclusive crianças com deficiência, por intermédio
de suas organizações representativas.

4.Nenhum dispositivo da presente Convenção afetará quaisquer disposições mais propícias à realização
dos direitos das pessoas com deficiência, as quais possam estar contidas na legislação do Estado Parte ou no
direito internacional em vigor para esse Estado. Não haverá nenhuma restrição ou derrogação de qualquer dos
direitos humanos e liberdades fundamentais reconhecidos ou vigentes em qualquer Estado Parte da presente
Convenção, em conformidade com leis, convenções, regulamentos ou costumes, sob a alegação de que a
presente Convenção não reconhece tais direitos e liberdades ou que os reconhece em menor grau.

5.As disposições da presente Convenção se aplicam, sem limitação ou exceção, a todas as unidades
constitutivas dos Estados federativos.

Artigo 5
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 273

Igualdade e não-discriminação

1.Os Estados Partes reconhecem que todas as pessoas são iguais perante e sob a lei e que fazem jus,
sem qualquer discriminação, a igual proteção e igual benefício da lei.

2.Os Estados Partes proibirão qualquer discriminação baseada na deficiência e garantirão às pessoas
com deficiência igual e efetiva proteção legal contra a discriminação por qualquer motivo.

3.A fim de promover a igualdade e eliminar a discriminação, os Estados Partes adotarão todas as medidas
apropriadas para garantir que a adaptação razoável seja oferecida.

4.Nos termos da presente Convenção, as medidas específicas que forem necessárias para acelerar ou
alcançar a efetiva igualdade das pessoas com deficiência não serão consideradas discriminatórias.

Artigo 6

Mulheres com deficiência

1.Os Estados Partes reconhecem que as mulheres e meninas com deficiência estão sujeitas a múltiplas
formas de discriminação e, portanto, tomarão medidas para assegurar às mulheres e meninas com deficiência
o pleno e igual exercício de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais.

2.Os Estados Partes tomarão todas as medidas apropriadas para assegurar o pleno desenvolvimento, o
avanço e o empoderamento das mulheres, a fim de garantir-lhes o exercício e o gozo dos direitos humanos e
liberdades fundamentais estabelecidos na presente Convenção.

Artigo 7

Crianças com deficiência

1.Os Estados Partes tomarão todas as medidas necessárias para assegurar às crianças com deficiência
o pleno exercício de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais, em igualdade de oportunidades
com as demais crianças.

2.Em todas as ações relativas às crianças com deficiência, o superior interesse da criança receberá
consideração primordial.

3.Os Estados Partes assegurarão que as crianças com deficiência tenham o direito de expressar
livremente sua opinião sobre todos os assuntos que lhes disserem respeito, tenham a sua opinião devidamente
valorizada de acordo com sua idade e maturidade, em igualdade de oportunidades com as demais crianças, e
recebam atendimento adequado à sua deficiência e idade, para que possam exercer tal direito.

Artigo 8

Conscientização

1.Os Estados Partes se comprometem a adotar medidas imediatas, efetivas e apropriadas para:

a) Conscientizar toda a sociedade, inclusive as famílias, sobre as condições das pessoas com deficiência e
fomentar o respeito pelos direitos e pela dignidade das pessoas com deficiência;

b) Combater estereótipos, preconceitos e práticas nocivas em relação a pessoas com deficiência, inclusive
aqueles relacionados a sexo e idade, em todas as áreas da vida;

c) Promover a conscientização sobre as capacidades e contribuições das pessoas com deficiência.

2.As medidas para esse fim incluem:


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 274

a) Lançar e dar continuidade a efetivas campanhas de conscientização públicas, destinadas a:

i) Favorecer atitude receptiva em relação aos direitos das pessoas com deficiência;

ii) Promover percepção positiva e maior consciência social em relação às pessoas com deficiência;

iii) Promover o reconhecimento das habilidades, dos méritos e das capacidades das pessoas com
deficiência e de sua contribuição ao local de trabalho e ao mercado laboral;

b) Fomentar em todos os níveis do sistema educacional, incluindo neles todas as crianças desde tenra
idade, uma atitude de respeito para com os direitos das pessoas com deficiência;

c) Incentivar todos os órgãos da mídia a retratar as pessoas com deficiência de maneira compatível com
o propósito da presente Convenção;

d) Promover programas de formação sobre sensibilização a respeito das pessoas com deficiência e sobre
os direitos das pessoas com deficiência.

Artigo 9

Acessibilidade

1.A fim de possibilitar às pessoas com deficiência viver de forma independente e participar plenamente
de todos os aspectos da vida, os Estados Partes tomarão as medidas apropriadas para assegurar às pessoas
com deficiência o acesso, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, ao meio físico, ao
transporte, à informação e comunicação, inclusive aos sistemas e tecnologias da informação e comunicação,
bem como a outros serviços e instalações abertos ao público ou de uso público, tanto na zona urbana como na
rural. Essas medidas, que incluirão a identificação e a eliminação de obstáculos e barreiras à acessibilidade,
serão aplicadas, entre outros, a:

a) Edifícios, rodovias, meios de transporte e outras instalações internas e externas, inclusive escolas,
residências, instalações médicas e local de trabalho;

b) Informações, comunicações e outros serviços, inclusive serviços eletrônicos e serviços de emergência.

2.Os Estados Partes também tomarão medidas apropriadas para:

a) Desenvolver, promulgar e monitorar a implementação de normas e diretrizes mínimas para a acessibilidade


das instalações e dos serviços abertos ao público ou de uso público;

b) Assegurar que as entidades privadas que oferecem instalações e serviços abertos ao público ou de
uso público levem em consideração todos os aspectos relativos à acessibilidade para pessoas com deficiência;

c) Proporcionar, a todos os atores envolvidos, formação em relação às questões de acessibilidade com


as quais as pessoas com deficiência se confrontam;

d) Dotar os edifícios e outras instalações abertas ao público ou de uso público de sinalização em braille e
em formatos de fácil leitura e compreensão;

e) Oferecer formas de assistência humana ou animal e serviços de mediadores, incluindo guias, ledores
e intérpretes profissionais da língua de sinais, para facilitar o acesso aos edifícios e outras instalações abertas
ao público ou de uso público;

f) Promover outras formas apropriadas de assistência e apoio a pessoas com deficiência, a fim de
assegurar a essas pessoas o acesso a informações;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 275

g) Promover o acesso de pessoas com deficiência a novos sistemas e tecnologias da informação e


comunicação, inclusive à Internet;

h) Promover, desde a fase inicial, a concepção, o desenvolvimento, a produção e a disseminação de


sistemas e tecnologias de informação e comunicação, a fim de que esses sistemas e tecnologias se tornem
acessíveis a custo mínimo.

Artigo 10

Direito à vida

Os Estados Partes reafirmam que todo ser humano tem o inerente direito à vida e tomarão todas as
medidas necessárias para assegurar o efetivo exercício desse direito pelas pessoas com deficiência, em
igualdade de oportunidades com as demais pessoas.

Artigo 11

Situações de risco e emergências humanitárias

Em conformidade com suas obrigações decorrentes do direito internacional, inclusive do direito


humanitário internacional e do direito internacional dos direitos humanos, os Estados Partes tomarão todas as
medidas necessárias para assegurar a proteção e a segurança das pessoas com deficiência que se
encontrarem em situações de risco, inclusive situações de conflito armado, emergências humanitárias e
ocorrência de desastres naturais.

Artigo 12

Reconhecimento igual perante a lei

1.Os Estados Partes reafirmam que as pessoas com deficiência têm o direito de ser reconhecidas em
qualquer lugar como pessoas perante a lei.

2.Os Estados Partes reconhecerão que as pessoas com deficiência gozam de capacidade legal em
igualdade de condições com as demais pessoas em todos os aspectos da vida.

3.Os Estados Partes tomarão medidas apropriadas para prover o acesso de pessoas com deficiência ao
apoio que necessitarem no exercício de sua capacidade legal.

4.Os Estados Partes assegurarão que todas as medidas relativas ao exercício da capacidade legal
incluam salvaguardas apropriadas e efetivas para prevenir abusos, em conformidade com o direito internacional
dos direitos humanos. Essas salvaguardas assegurarão que as medidas relativas ao exercício da capacidade
legal respeitem os direitos, a vontade e as preferências da pessoa, sejam isentas de conflito de interesses e de
influência indevida, sejam proporcionais e apropriadas às circunstâncias da pessoa, se apliquem pelo período
mais curto possível e sejam submetidas à revisão regular por uma autoridade ou órgão judiciário competente,
independente e imparcial. As salvaguardas serão proporcionais ao grau em que tais medidas afetarem os
direitos e interesses da pessoa.

5.Os Estados Partes, sujeitos ao disposto neste Artigo, tomarão todas as medidas apropriadas e efetivas
para assegurar às pessoas com deficiência o igual direito de possuir ou herdar bens, de controlar as próprias
finanças e de ter igual acesso a empréstimos bancários, hipotecas e outras formas de crédito financeiro, e
assegurarão que as pessoas com deficiência não sejam arbitrariamente destituídas de seus bens.

Artigo 13

Acesso à justiça
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 276

1.Os Estados Partes assegurarão o efetivo acesso das pessoas com deficiência à justiça, em igualdade
de condições com as demais pessoas, inclusive mediante a provisão de adaptações processuais adequadas à
idade, a fim de facilitar o efetivo papel das pessoas com deficiência como participantes diretos ou indiretos,
inclusive como testemunhas, em todos os procedimentos jurídicos, tais como investigações e outras etapas
preliminares.

2.A fim de assegurar às pessoas com deficiência o efetivo acesso à justiça, os Estados Partes promoverão
a capacitação apropriada daqueles que trabalham na área de administração da justiça, inclusive a polícia e os
funcionários do sistema penitenciário.

Artigo 14

Liberdade e segurança da pessoa

1.Os Estados Partes assegurarão que as pessoas com deficiência, em igualdade de oportunidades com
as demais pessoas:

a) Gozem do direito à liberdade e à segurança da pessoa; e

b) Não sejam privadas ilegal ou arbitrariamente de sua liberdade e que toda privação de liberdade esteja
em conformidade com a lei, e que a existência de deficiência não justifique a privação de liberdade.

2.Os Estados Partes assegurarão que, se pessoas com deficiência forem privadas de liberdade mediante
algum processo, elas, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, façam jus a garantias de acordo
com o direito internacional dos direitos humanos e sejam tratadas em conformidade com os objetivos e
princípios da presente Convenção, inclusive mediante a provisão de adaptação razoável.

Artigo 15

Prevenção contra tortura ou tratamentos ou penas cruéis,

desumanos ou degradantes

1.Nenhuma pessoa será submetida à tortura ou a tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou


degradantes. Em especial, nenhuma pessoa deverá ser sujeita a experimentos médicos ou científicos sem seu
livre consentimento.

2.Os Estados Partes tomarão todas as medidas efetivas de natureza legislativa, administrativa, judicial ou
outra para evitar que pessoas com deficiência, do mesmo modo que as demais pessoas, sejam submetidas à
tortura ou a tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes.

Artigo 16

Prevenção contra a exploração, a violência e o abuso

1.Os Estados Partes tomarão todas as medidas apropriadas de natureza legislativa, administrativa,
social, educacional e outras para proteger as pessoas com deficiência, tanto dentro como fora do lar, contra
todas as formas de exploração, violência e abuso, incluindo aspectos relacionados a gênero.

2.Os Estados Partes também tomarão todas as medidas apropriadas para prevenir todas as formas de
exploração, violência e abuso, assegurando, entre outras coisas, formas apropriadas de atendimento e apoio
que levem em conta o gênero e a idade das pessoas com deficiência e de seus familiares e atendentes,
inclusive mediante a provisão de informação e educação sobre a maneira de evitar, reconhecer e denunciar
casos de exploração, violência e abuso. Os Estados Partes assegurarão que os serviços de proteção levem
em conta a idade, o gênero e a deficiência das pessoas.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 277

3.A fim de prevenir a ocorrência de quaisquer formas de exploração, violência e abuso, os Estados Partes
assegurarão que todos os programas e instalações destinados a atender pessoas com deficiência sejam
efetivamente monitorados por autoridades independentes.

4.Os Estados Partes tomarão todas as medidas apropriadas para promover a recuperação física, cognitiva
e psicológica, inclusive mediante a provisão de serviços de proteção, a reabilitação e a reinserção social de
pessoas com deficiência que forem vítimas de qualquer forma de exploração, violência ou abuso. Tais
recuperação e reinserção ocorrerão em ambientes que promovam a saúde, o bem-estar, o auto-respeito, a
dignidade e a autonomia da pessoa e levem em consideração as necessidades de gênero e idade.

5.Os Estados Partes adotarão leis e políticas efetivas, inclusive legislação e políticas voltadas para
mulheres e crianças, a fim de assegurar que os casos de exploração, violência e abuso contra pessoas com
deficiência sejam identificados, investigados e, caso necessário, julgados.

Artigo 17

Proteção da integridade da pessoa

Toda pessoa com deficiência tem o direito a que sua integridade física e mental seja respeitada, em igualdade
de condições com as demais pessoas.

Artigo 18

Liberdade de movimentação e nacionalidade

1.Os Estados Partes reconhecerão os direitos das pessoas com deficiência à liberdade de movimentação,
à liberdade de escolher sua residência e à nacionalidade, em igualdade de oportunidades com as demais
pessoas, inclusive assegurando que as pessoas com deficiência:

a) Tenham o direito de adquirir nacionalidade e mudar de nacionalidade e não sejam privadas


arbitrariamente de sua nacionalidade em razão de sua deficiência.

b) Não sejam privadas, por causa de sua deficiência, da competência de obter, possuir e utilizar
documento comprovante de sua nacionalidade ou outro documento de identidade, ou de recorrer a processos
relevantes, tais como procedimentos relativos à imigração, que forem necessários para facilitar o exercício de
seu direito à liberdade de movimentação.

c) Tenham liberdade de sair de qualquer país, inclusive do seu; e

d) Não sejam privadas, arbitrariamente ou por causa de sua deficiência, do direito de entrar no próprio
país.

2.As crianças com deficiência serão registradas imediatamente após o nascimento e terão, desde o
nascimento, o direito a um nome, o direito de adquirir nacionalidade e, tanto quanto possível, o direito de
conhecer seus pais e de ser cuidadas por eles.

Artigo 19

Vida independente e inclusão na comunidade

Os Estados Partes desta Convenção reconhecem o igual direito de todas as pessoas com deficiência de
viver na comunidade, com a mesma liberdade de escolha que as demais pessoas, e tomarão medidas efetivas
e apropriadas para facilitar às pessoas com deficiência o pleno gozo desse direito e sua plena inclusão e
participação na comunidade, inclusive assegurando que:
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 278

a) As pessoas com deficiência possam escolher seu local de residência e onde e com quem morar, em
igualdade de oportunidades com as demais pessoas, e que não sejam obrigadas a viver em determinado tipo
de moradia;

b) As pessoas com deficiência tenham acesso a uma variedade de serviços de apoio em domicílio ou em
instituições residenciais ou a outros serviços comunitários de apoio, inclusive os serviços de atendentes
pessoais que forem necessários como apoio para que as pessoas com deficiência vivam e sejam incluídas na
comunidade e para evitar que fiquem isoladas ou segregadas da comunidade;

c) Os serviços e instalações da comunidade para a população em geral estejam disponíveis às pessoas


com deficiência, em igualdade de oportunidades, e atendam às suas necessidades.

Artigo 20

Mobilidade pessoal

Os Estados Partes tomarão medidas efetivas para assegurar às pessoas com deficiência sua mobilidade
pessoal com a máxima independência possível:

a) Facilitando a mobilidade pessoal das pessoas com deficiência, na forma e no momento em que elas
quiserem, e a custo acessível;

b) Facilitando às pessoas com deficiência o acesso a tecnologias assistivas, dispositivos e ajudas técnicas
de qualidade, e formas de assistência humana ou animal e de mediadores, inclusive tornando-os disponíveis a
custo acessível;

c) Propiciando às pessoas com deficiência e ao pessoal especializado uma capacitação em técnicas de


mobilidade;

d) Incentivando entidades que produzem ajudas técnicas de mobilidade, dispositivos e tecnologias


assistivas a levarem em conta todos os aspectos relativos à mobilidade de pessoas com deficiência.

Artigo 21

Liberdade de expressão e de opinião e acesso à informação

Os Estados Partes tomarão todas as medidas apropriadas para assegurar que as pessoas com deficiência
possam exercer seu direito à liberdade de expressão e opinião, inclusive à liberdade de buscar, receber e
compartilhar informações e idéias, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas e por intermédio
de todas as formas de comunicação de sua escolha, conforme o disposto no Artigo 2 da presente Convenção,
entre as quais:

a) Fornecer, prontamente e sem custo adicional, às pessoas com deficiência, todas as informações destinadas
ao público em geral, em formatos acessíveis e tecnologias apropriadas aos diferentes tipos de deficiência;

b) Aceitar e facilitar, em trâmites oficiais, o uso de línguas de sinais, braille, comunicação aumentativa e
alternativa, e de todos os demais meios, modos e formatos acessíveis de comunicação, à escolha das pessoas
com deficiência;

c) Urgir as entidades privadas que oferecem serviços ao público em geral, inclusive por meio da Internet,
a fornecer informações e serviços em formatos acessíveis, que possam ser usados por pessoas com
deficiência;

d) Incentivar a mídia, inclusive os provedores de informação pela Internet, a tornar seus serviços
acessíveis a pessoas com deficiência;

e) Reconhecer e promover o uso de línguas de sinais.


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 279

Artigo 22

Respeito à privacidade

1.Nenhuma pessoa com deficiência, qualquer que seja seu local de residência ou tipo de moradia, estará
sujeita a interferência arbitrária ou ilegal em sua privacidade, família, lar, correspondência ou outros tipos de
comunicação, nem a ataques ilícitos à sua honra e reputação. As pessoas com deficiência têm o direito à
proteção da lei contra tais interferências ou ataques.

2.Os Estados Partes protegerão a privacidade dos dados pessoais e dados relativos à saúde e à
reabilitação de pessoas com deficiência, em igualdade de condições com as demais pessoas.

Artigo 23

Respeito pelo lar e pela família

1.Os Estados Partes tomarão medidas efetivas e apropriadas para eliminar a discriminação contra
pessoas com deficiência, em todos os aspectos relativos a casamento, família, paternidade e relacionamentos,
em igualdade de condições com as demais pessoas, de modo a assegurar que:

a) Seja reconhecido o direito das pessoas com deficiência, em idade de contrair matrimônio, de casar-se e
estabelecer família, com base no livre e pleno consentimento dos pretendentes;

b) Sejam reconhecidos os direitos das pessoas com deficiência de decidir livre e responsavelmente sobre
o número de filhos e o espaçamento entre esses filhos e de ter acesso a informações adequadas à idade e a
educação em matéria de reprodução e de planejamento familiar, bem como os meios necessários para exercer
esses direitos.

c) As pessoas com deficiência, inclusive crianças, conservem sua fertilidade, em igualdade de condições
com as demais pessoas.

2.Os Estados Partes assegurarão os direitos e responsabilidades das pessoas com deficiência, relativos
à guarda, custódia, curatela e adoção de crianças ou instituições semelhantes, caso esses conceitos constem
na legislação nacional. Em todos os casos, prevalecerá o superior interesse da criança. Os Estados Partes
prestarão a devida assistência às pessoas com deficiência para que essas pessoas possam exercer suas
responsabilidades na criação dos filhos.

3.Os Estados Partes assegurarão que as crianças com deficiência terão iguais direitos em relação à vida
familiar. Para a realização desses direitos e para evitar ocultação, abandono, negligência e segregação de
crianças com deficiência, os Estados Partes fornecerão prontamente informações abrangentes sobre serviços
e apoios a crianças com deficiência e suas famílias.

4.Os Estados Partes assegurarão que uma criança não será separada de seus pais contra a vontade
destes, exceto quando autoridades competentes, sujeitas a controle jurisdicional, determinarem, em
conformidade com as leis e procedimentos aplicáveis, que a separação é necessária, no superior interesse da
criança. Em nenhum caso, uma criança será separada dos pais sob alegação de deficiência da criança ou de
um ou ambos os pais.

5.Os Estados Partes, no caso em que a família imediata de uma criança com deficiência não tenha
condições de cuidar da criança, farão todo esforço para que cuidados alternativos sejam oferecidos por outros
parentes e, se isso não for possível, dentro de ambiente familiar, na comunidade.

Artigo 24

Educação
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 280

1.Os Estados Partes reconhecem o direito das pessoas com deficiência à educação. Para efetivar esse
direito sem discriminação e com base na igualdade de oportunidades, os Estados Partes assegurarão sistema
educacional inclusivo em todos os níveis, bem como o aprendizado ao longo de toda a vida, com os seguintes
objetivos:

a) O pleno desenvolvimento do potencial humano e do senso de dignidade e auto-estima, além do


fortalecimento do respeito pelos direitos humanos, pelas liberdades fundamentais e pela diversidade humana;

b) O máximo desenvolvimento possível da personalidade e dos talentos e da criatividade das pessoas


com deficiência, assim como de suas habilidades físicas e intelectuais;

c) A participação efetiva das pessoas com deficiência em uma sociedade livre.

2.Para a realização desse direito, os Estados Partes assegurarão que:

a) As pessoas com deficiência não sejam excluídas do sistema educacional geral sob alegação de deficiência
e que as crianças com deficiência não sejam excluídas do ensino primário gratuito e compulsório ou do ensino
secundário, sob alegação de deficiência;

b) As pessoas com deficiência possam ter acesso ao ensino primário inclusivo, de qualidade e gratuito, e
ao ensino secundário, em igualdade de condições com as demais pessoas na comunidade em que vivem;

c) Adaptações razoáveis de acordo com as necessidades individuais sejam providenciadas;

d) As pessoas com deficiência recebam o apoio necessário, no âmbito do sistema educacional geral, com
vistas a facilitar sua efetiva educação;

e) Medidas de apoio individualizadas e efetivas sejam adotadas em ambientes que maximizem o


desenvolvimento acadêmico e social, de acordo com a meta de inclusão plena.

3.Os Estados Partes assegurarão às pessoas com deficiência a possibilidade de adquirir as competências
práticas e sociais necessárias de modo a facilitar às pessoas com deficiência sua plena e igual participação no
sistema de ensino e na vida em comunidade. Para tanto, os Estados Partes tomarão medidas apropriadas,
incluindo:

a) Facilitação do aprendizado do braille, escrita alternativa, modos, meios e formatos de comunicação


aumentativa e alternativa, e habilidades de orientação e mobilidade, além de facilitação do apoio e
aconselhamento de pares;

b) Facilitação do aprendizado da língua de sinais e promoção da identidade lingüística da comunidade


surda;

c) Garantia de que a educação de pessoas, em particular crianças cegas, surdocegas e surdas, seja
ministrada nas línguas e nos modos e meios de comunicação mais adequados ao indivíduo e em ambientes
que favoreçam ao máximo seu desenvolvimento acadêmico e social.

4.A fim de contribuir para o exercício desse direito, os Estados Partes tomarão medidas apropriadas para
empregar professores, inclusive professores com deficiência, habilitados para o ensino da língua de sinais e/ou
do braille, e para capacitar profissionais e equipes atuantes em todos os níveis de ensino. Essa capacitação
incorporará a conscientização da deficiência e a utilização de modos, meios e formatos apropriados de
comunicação aumentativa e alternativa, e técnicas e materiais pedagógicos, como apoios para pessoas com
deficiência.

5.Os Estados Partes assegurarão que as pessoas com deficiência possam ter acesso ao ensino superior
em geral, treinamento profissional de acordo com sua vocação, educação para adultos e formação continuada,
sem discriminação e em igualdade de condições. Para tanto, os Estados Partes assegurarão a provisão de
adaptações razoáveis para pessoas com deficiência.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 281

Artigo 25

Saúde

Os Estados Partes reconhecem que as pessoas com deficiência têm o direito de gozar do estado de
saúde mais elevado possível, sem discriminação baseada na deficiência. Os Estados Partes tomarão todas
as medidas apropriadas para assegurar às pessoas com deficiência o acesso a serviços de saúde, incluindo
os serviços de reabilitação, que levarão em conta as especificidades de gênero. Em especial, os Estados
Partes:

a) Oferecerão às pessoas com deficiência programas e atenção à saúde gratuitos ou a custos acessíveis da
mesma variedade, qualidade e padrão que são oferecidos às demais pessoas, inclusive na área de saúde
sexual e reprodutiva e de programas de saúde pública destinados à população em geral;

b) Propiciarão serviços de saúde que as pessoas com deficiência necessitam especificamente por causa
de sua deficiência, inclusive diagnóstico e intervenção precoces, bem como serviços projetados para reduzir
ao máximo e prevenir deficiências adicionais, inclusive entre crianças e idosos;

c) Propiciarão esses serviços de saúde às pessoas com deficiência, o mais próximo possível de suas
comunidades, inclusive na zona rural;

d) Exigirão dos profissionais de saúde que dispensem às pessoas com deficiência a mesma qualidade
de serviços dispensada às demais pessoas e, principalmente, que obtenham o consentimento livre e
esclarecido das pessoas com deficiência concernentes. Para esse fim, os Estados Partes realizarão
atividades de formação e definirão regras éticas para os setores de saúde público e privado, de modo a
conscientizar os profissionais de saúde acerca dos direitos humanos, da dignidade, autonomia e das
necessidades das pessoas com deficiência;

e) Proibirão a discriminação contra pessoas com deficiência na provisão de seguro de saúde e seguro de
vida, caso tais seguros sejam permitidos pela legislação nacional, os quais deverão ser providos de maneira
razoável e justa;

f) Prevenirão que se negue, de maneira discriminatória, os serviços de saúde ou de atenção à saúde ou


a administração de alimentos sólidos ou líquidos por motivo de deficiência.

Artigo 26

Habilitação e reabilitação

1.Os Estados Partes tomarão medidas efetivas e apropriadas, inclusive mediante apoio dos pares, para
possibilitar que as pessoas com deficiência conquistem e conservem o máximo de autonomia e plena
capacidade física, mental, social e profissional, bem como plena inclusão e participação em todos os
aspectos da vida. Para tanto, os Estados Partes organizarão, fortalecerão e ampliarão serviços e programas
completos de habilitação e reabilitação, particularmente nas áreas de saúde, emprego, educação e serviços
sociais, de modo que esses serviços e programas:

a) Comecem no estágio mais precoce possível e sejam baseados em avaliação multidisciplinar das
necessidades e pontos fortes de cada pessoa;

b) Apóiem a participação e a inclusão na comunidade e em todos os aspectos da vida social, sejam


oferecidos voluntariamente e estejam disponíveis às pessoas com deficiência o mais próximo possível de suas
comunidades, inclusive na zona rural.

2.Os Estados Partes promoverão o desenvolvimento da capacitação inicial e continuada de profissionais


e de equipes que atuam nos serviços de habilitação e reabilitação.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 282

3.Os Estados Partes promoverão a disponibilidade, o conhecimento e o uso de dispositivos e tecnologias


assistivas, projetados para pessoas com deficiência e relacionados com a habilitação e a reabilitação.

Artigo 27

Trabalho e emprego

1.Os Estados Partes reconhecem o direito das pessoas com deficiência ao trabalho, em igualdade de
oportunidades com as demais pessoas. Esse direito abrange o direito à oportunidade de se manter com um
trabalho de sua livre escolha ou aceitação no mercado laboral, em ambiente de trabalho que seja aberto,
inclusivo e acessível a pessoas com deficiência. Os Estados Partes salvaguardarão e promoverão a realização
do direito ao trabalho, inclusive daqueles que tiverem adquirido uma deficiência no emprego, adotando medidas
apropriadas, incluídas na legislação, com o fim de, entre outros:

a) Proibir a discriminação baseada na deficiência com respeito a todas as questões relacionadas com as
formas de emprego, inclusive condições de recrutamento, contratação e admissão, permanência no emprego,
ascensão profissional e condições seguras e salubres de trabalho;

b) Proteger os direitos das pessoas com deficiência, em condições de igualdade com as demais pessoas,
às condições justas e favoráveis de trabalho, incluindo iguais oportunidades e igual remuneração por trabalho
de igual valor, condições seguras e salubres de trabalho, além de reparação de injustiças e proteção contra o
assédio no trabalho;

c) Assegurar que as pessoas com deficiência possam exercer seus direitos trabalhistas e sindicais, em
condições de igualdade com as demais pessoas;

d) Possibilitar às pessoas com deficiência o acesso efetivo a programas de orientação técnica e


profissional e a serviços de colocação no trabalho e de treinamento profissional e continuado;

e) Promover oportunidades de emprego e ascensão profissional para pessoas com deficiência no


mercado de trabalho, bem como assistência na procura, obtenção e manutenção do emprego e no retorno ao
emprego;

f) Promover oportunidades de trabalho autônomo, empreendedorismo, desenvolvimento de cooperativas


e estabelecimento de negócio próprio;

g) Empregar pessoas com deficiência no setor público;

h) Promover o emprego de pessoas com deficiência no setor privado, mediante políticas e medidas
apropriadas, que poderão incluir programas de ação afirmativa, incentivos e outras medidas;

i) Assegurar que adaptações razoáveis sejam feitas para pessoas com deficiência no local de trabalho;

j) Promover a aquisição de experiência de trabalho por pessoas com deficiência no mercado aberto de
trabalho;

k) Promover reabilitação profissional, manutenção do emprego e programas de retorno ao trabalho para


pessoas com deficiência.

2.Os Estados Partes assegurarão que as pessoas com deficiência não serão mantidas em escravidão ou
servidão e que serão protegidas, em igualdade de condições com as demais pessoas, contra o trabalho forçado
ou compulsório.

Artigo 28

Padrão de vida e proteção social adequados


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 283

1.Os Estados Partes reconhecem o direito das pessoas com deficiência a um padrão adequado de vida
para si e para suas famílias, inclusive alimentação, vestuário e moradia adequados, bem como à melhoria
contínua de suas condições de vida, e tomarão as providências necessárias para salvaguardar e promover a
realização desse direito sem discriminação baseada na deficiência.

2.Os Estados Partes reconhecem o direito das pessoas com deficiência à proteção social e ao exercício
desse direito sem discriminação baseada na deficiência, e tomarão as medidas apropriadas para salvaguardar
e promover a realização desse direito, tais como:

a) Assegurar igual acesso de pessoas com deficiência a serviços de saneamento básico e assegurar o
acesso aos serviços, dispositivos e outros atendimentos apropriados para as necessidades relacionadas com
a deficiência;

b) Assegurar o acesso de pessoas com deficiência, particularmente mulheres, crianças e idosos com
deficiência, a programas de proteção social e de redução da pobreza;

c) Assegurar o acesso de pessoas com deficiência e suas famílias em situação de pobreza à assistência
do Estado em relação a seus gastos ocasionados pela deficiência, inclusive treinamento adequado,
aconselhamento, ajuda financeira e cuidados de repouso;

d) Assegurar o acesso de pessoas com deficiência a programas habitacionais públicos;

e) Assegurar igual acesso de pessoas com deficiência a programas e benefícios de aposentadoria.

Artigo 29

Participação na vida política e pública

Os Estados Partes garantirão às pessoas com deficiência direitos políticos e oportunidade de exercê-los
em condições de igualdade com as demais pessoas, e deverão:

a) Assegurar que as pessoas com deficiência possam participar efetiva e plenamente na vida política e
pública, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, diretamente ou por meio de representantes
livremente escolhidos, incluindo o direito e a oportunidade de votarem e serem votadas, mediante, entre
outros:

i) Garantia de que os procedimentos, instalações e materiais e equipamentos para votação serão


apropriados, acessíveis e de fácil compreensão e uso;

ii) Proteção do direito das pessoas com deficiência ao voto secreto em eleições e plebiscitos, sem
intimidação, e a candidatar-se nas eleições, efetivamente ocupar cargos eletivos e desempenhar quaisquer
funções públicas em todos os níveis de governo, usando novas tecnologias assistivas, quando apropriado;

iii) Garantia da livre expressão de vontade das pessoas com deficiência como eleitores e, para tanto,
sempre que necessário e a seu pedido, permissão para que elas sejam auxiliadas na votação por uma pessoa
de sua escolha;

b) Promover ativamente um ambiente em que as pessoas com deficiência possam participar efetiva e
plenamente na condução das questões públicas, sem discriminação e em igualdade de oportunidades com as
demais pessoas, e encorajar sua participação nas questões públicas, mediante:

i) Participação em organizações não-governamentais relacionadas com a vida pública e política do país,


bem como em atividades e administração de partidos políticos;

ii) Formação de organizações para representar pessoas com deficiência em níveis internacional,
regional, nacional e local, bem como a filiação de pessoas com deficiência a tais organizações.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 284

Artigo 30

Participação na vida cultural e em recreação, lazer e esporte

1.Os Estados Partes reconhecem o direito das pessoas com deficiência de participar na vida cultural,
em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, e tomarão todas as medidas apropriadas para que
as pessoas com deficiência possam:

a) Ter acesso a bens culturais em formatos acessíveis;

b) Ter acesso a programas de televisão, cinema, teatro e outras atividades culturais, em formatos
acessíveis; e

c) Ter acesso a locais que ofereçam serviços ou eventos culturais, tais como teatros, museus, cinemas,
bibliotecas e serviços turísticos, bem como, tanto quanto possível, ter acesso a monumentos e locais de
importância cultural nacional.

2.Os Estados Partes tomarão medidas apropriadas para que as pessoas com deficiência tenham a
oportunidade de desenvolver e utilizar seu potencial criativo, artístico e intelectual, não somente em benefício
próprio, mas também para o enriquecimento da sociedade.

3.Os Estados Partes deverão tomar todas as providências, em conformidade com o direito internacional,
para assegurar que a legislação de proteção dos direitos de propriedade intelectual não constitua barreira
excessiva ou discriminatória ao acesso de pessoas com deficiência a bens culturais.

4.As pessoas com deficiência farão jus, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, a que
sua identidade cultural e lingüística específica seja reconhecida e apoiada, incluindo as línguas de sinais e a
cultura surda.

5.Para que as pessoas com deficiência participem, em igualdade de oportunidades com as demais
pessoas, de atividades recreativas, esportivas e de lazer, os Estados Partes tomarão medidas apropriadas
para:

a) Incentivar e promover a maior participação possível das pessoas com deficiência nas atividades esportivas
comuns em todos os níveis;

b) Assegurar que as pessoas com deficiência tenham a oportunidade de organizar, desenvolver e


participar em atividades esportivas e recreativas específicas às deficiências e, para tanto, incentivar a provisão
de instrução, treinamento e recursos adequados, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas;

c) Assegurar que as pessoas com deficiência tenham acesso a locais de eventos esportivos, recreativos
e turísticos;

d) Assegurar que as crianças com deficiência possam, em igualdade de condições com as demais
crianças, participar de jogos e atividades recreativas, esportivas e de lazer, inclusive no sistema escolar;

e) Assegurar que as pessoas com deficiência tenham acesso aos serviços prestados por pessoas ou
entidades envolvidas na organização de atividades recreativas, turísticas, esportivas e de lazer.

Artigo 31

Estatísticas e coleta de dados

1.Os Estados Partes coletarão dados apropriados, inclusive estatísticos e de pesquisas, para que
possam formular e implementar políticas destinadas a por em prática a presente Convenção. O processo de
coleta e manutenção de tais dados deverá:
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 285

a) Observar as salvaguardas estabelecidas por lei, inclusive pelas leis relativas à proteção de dados, a fim de
assegurar a confidencialidade e o respeito pela privacidade das pessoas com deficiência;

b) Observar as normas internacionalmente aceitas para proteger os direitos humanos, as liberdades


fundamentais e os princípios éticos na coleta de dados e utilização de estatísticas.

2.As informações coletadas de acordo com o disposto neste Artigo serão desagregadas, de maneira
apropriada, e utilizadas para avaliar o cumprimento, por parte dos Estados Partes, de suas obrigações na
presente Convenção e para identificar e enfrentar as barreiras com as quais as pessoas com deficiência se
deparam no exercício de seus direitos.

3.Os Estados Partes assumirão responsabilidade pela disseminação das referidas estatísticas e
assegurarão que elas sejam acessíveis às pessoas com deficiência e a outros.

Artigo 32

Cooperação internacional

1.Os Estados Partes reconhecem a importância da cooperação internacional e de sua promoção, em


apoio aos esforços nacionais para a consecução do propósito e dos objetivos da presente Convenção e, sob
este aspecto, adotarão medidas apropriadas e efetivas entre os Estados e, de maneira adequada, em parceria
com organizações internacionais e regionais relevantes e com a sociedade civil e, em particular, com
organizações de pessoas com deficiência. Estas medidas poderão incluir, entre outras:

a) Assegurar que a cooperação internacional, incluindo os programas internacionais de desenvolvimento, sejam


inclusivos e acessíveis para pessoas com deficiência;

b) Facilitar e apoiar a capacitação, inclusive por meio do intercâmbio e compartilhamento de informações,


experiências, programas de treinamento e melhores práticas;

c) Facilitar a cooperação em pesquisa e o acesso a conhecimentos científicos e técnicos;

d) Propiciar, de maneira apropriada, assistência técnica e financeira, inclusive mediante facilitação do


acesso a tecnologias assistivas e acessíveis e seu compartilhamento, bem como por meio de transferência de
tecnologias.

2.O disposto neste Artigo se aplica sem prejuízo das obrigações que cabem a cada Estado Parte em
decorrência da presente Convenção.

Artigo 33

Implementação e monitoramento nacionais

1.Os Estados Partes, de acordo com seu sistema organizacional, designarão um ou mais de um ponto
focal no âmbito do Governo para assuntos relacionados com a implementação da presente Convenção e darão
a devida consideração ao estabelecimento ou designação de um mecanismo de coordenação no âmbito do
Governo, a fim de facilitar ações correlatas nos diferentes setores e níveis.

2.Os Estados Partes, em conformidade com seus sistemas jurídico e administrativo, manterão,
fortalecerão, designarão ou estabelecerão estrutura, incluindo um ou mais de um mecanismo independente, de
maneira apropriada, para promover, proteger e monitorar a implementação da presente Convenção. Ao
designar ou estabelecer tal mecanismo, os Estados Partes levarão em conta os princípios relativos ao status e
funcionamento das instituições nacionais de proteção e promoção dos direitos humanos.

3.A sociedade civil e, particularmente, as pessoas com deficiência e suas organizações representativas
serão envolvidas e participarão plenamente no processo de monitoramento.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 286

Artigo 34

Comitê sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência

1.Um Comitê sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (doravante denominado "Comitê") será
estabelecido, para desempenhar as funções aqui definidas.

2.O Comitê será constituído, quando da entrada em vigor da presente Convenção, de 12 peritos. Quando
a presente Convenção alcançar 60 ratificações ou adesões, o Comitê será acrescido em seis membros,
perfazendo o total de 18 membros.

3.Os membros do Comitê atuarão a título pessoal e apresentarão elevada postura moral, competência e
experiência reconhecidas no campo abrangido pela presente Convenção. Ao designar seus candidatos, os
Estados Partes são instados a dar a devida consideração ao disposto no Artigo 4.3 da presente Convenção.

4.Os membros do Comitê serão eleitos pelos Estados Partes, observando-se uma distribuição geográfica
eqüitativa, representação de diferentes formas de civilização e dos principais sistemas jurídicos, representação
equilibrada de gênero e participação de peritos com deficiência.

5.Os membros do Comitê serão eleitos por votação secreta em sessões da Conferência dos Estados
Partes, a partir de uma lista de pessoas designadas pelos Estados Partes entre seus nacionais. Nessas
sessões, cujo quorum será de dois terços dos Estados Partes, os candidatos eleitos para o Comitê serão
aqueles que obtiverem o maior número de votos e a maioria absoluta dos votos dos representantes dos Estados
Partes presentes e votantes.

6.A primeira eleição será realizada, o mais tardar, até seis meses após a data de entrada em vigor da
presente Convenção. Pelo menos quatro meses antes de cada eleição, o Secretário-Geral das Nações Unidas
dirigirá carta aos Estados Partes, convidando-os a submeter os nomes de seus candidatos no prazo de dois
meses. O Secretário-Geral, subseqüentemente, preparará lista em ordem alfabética de todos os candidatos
apresentados, indicando que foram designados pelos Estados Partes, e submeterá essa lista aos Estados
Partes da presente Convenção.

7.Os membros do Comitê serão eleitos para mandato de quatro anos, podendo ser candidatos à reeleição
uma única vez. Contudo, o mandato de seis dos membros eleitos na primeira eleição expirará ao fim de dois
anos; imediatamente após a primeira eleição, os nomes desses seis membros serão selecionados por sorteio
pelo presidente da sessão a que se refere o parágrafo 5 deste Artigo.

8.A eleição dos seis membros adicionais do Comitê será realizada por ocasião das eleições regulares, de
acordo com as disposições pertinentes deste Artigo.

9.Em caso de morte, demissão ou declaração de um membro de que, por algum motivo, não poderá
continuar a exercer suas funções, o Estado Parte que o tiver indicado designará um outro perito que tenha as
qualificações e satisfaça aos requisitos estabelecidos pelos dispositivos pertinentes deste Artigo, para concluir
o mandato em questão.

10.O Comitê estabelecerá suas próprias normas de procedimento.

11.O Secretário-Geral das Nações Unidas proverá o pessoal e as instalações necessários para o efetivo
desempenho das funções do Comitê segundo a presente Convenção e convocará sua primeira reunião.

12.Com a aprovação da Assembléia Geral, os membros do Comitê estabelecido sob a presente


Convenção receberão emolumentos dos recursos das Nações Unidas, sob termos e condições que a
Assembléia possa decidir, tendo em vista a importância das responsabilidades do Comitê.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 287

13.Os membros do Comitê terão direito aos privilégios, facilidades e imunidades dos peritos em missões
das Nações Unidas, em conformidade com as disposições pertinentes da Convenção sobre Privilégios e
Imunidades das Nações Unidas.

Artigo 35

Relatórios dos Estados Partes

1.Cada Estado Parte, por intermédio do Secretário-Geral das Nações Unidas, submeterá relatório
abrangente sobre as medidas adotadas em cumprimento de suas obrigações estabelecidas pela presente
Convenção e sobre o progresso alcançado nesse aspecto, dentro do período de dois anos após a entrada em
vigor da presente Convenção para o Estado Parte concernente.

2.Depois disso, os Estados Partes submeterão relatórios subseqüentes, ao menos a cada quatro anos,
ou quando o Comitê o solicitar.

3.O Comitê determinará as diretrizes aplicáveis ao teor dos relatórios.

4.Um Estado Parte que tiver submetido ao Comitê um relatório inicial abrangente não precisará, em
relatórios subseqüentes, repetir informações já apresentadas. Ao elaborar os relatórios ao Comitê, os Estados
Partes são instados a fazê-lo de maneira franca e transparente e a levar em consideração o disposto no Artigo
4.3 da presente Convenção.

5.Os relatórios poderão apontar os fatores e as dificuldades que tiverem afetado o cumprimento das
obrigações decorrentes da presente Convenção.

Artigo 36

Consideração dos relatórios

1.Os relatórios serão considerados pelo Comitê, que fará as sugestões e recomendações gerais que julgar
pertinentes e as transmitirá aos respectivos Estados Partes. O Estado Parte poderá responder ao Comitê com
as informações que julgar pertinentes. O Comitê poderá pedir informações adicionais ao Estados Partes,
referentes à implementação da presente Convenção.

2.Se um Estado Parte atrasar consideravelmente a entrega de seu relatório, o Comitê poderá notificar
esse Estado de que examinará a aplicação da presente Convenção com base em informações confiáveis de
que disponha, a menos que o relatório devido seja apresentado pelo Estado dentro do período de três meses
após a notificação. O Comitê convidará o Estado Parte interessado a participar desse exame. Se o Estado
Parte responder entregando seu relatório, aplicar-se-á o disposto no parágrafo 1 do presente artigo.

3.O Secretário-Geral das Nações Unidas colocará os relatórios à disposição de todos os Estados Partes.

4.Os Estados Partes tornarão seus relatórios amplamente disponíveis ao público em seus países e
facilitarão o acesso à possibilidade de sugestões e de recomendações gerais a respeito desses relatórios.

5.O Comitê transmitirá às agências, fundos e programas especializados das Nações Unidas e a outras
organizações competentes, da maneira que julgar apropriada, os relatórios dos Estados Partes que contenham
demandas ou indicações de necessidade de consultoria ou de assistência técnica, acompanhados de eventuais
observações e sugestões do Comitê em relação às referidas demandas ou indicações, a fim de que possam
ser consideradas.

Artigo 37

Cooperação entre os Estados Partes e o Comitê


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 288

1.Cada Estado Parte cooperará com o Comitê e auxiliará seus membros no desempenho de seu
mandato.

2.Em suas relações com os Estados Partes, o Comitê dará a devida consideração aos meios e modos de
aprimorar a capacidade de cada Estado Parte para a implementação da presente Convenção, inclusive
mediante cooperação internacional.

Artigo 38

Relações do Comitê com outros órgãos

A fim de promover a efetiva implementação da presente Convenção e de incentivar a cooperação


internacional na esfera abrangida pela presente Convenção:

a) As agências especializadas e outros órgãos das Nações Unidas terão o direito de se fazer representar
quando da consideração da implementação de disposições da presente Convenção que disserem respeito aos
seus respectivos mandatos. O Comitê poderá convidar as agências especializadas e outros órgãos
competentes, segundo julgar apropriado, a oferecer consultoria de peritos sobre a implementação da
Convenção em áreas pertinentes a seus respectivos mandatos. O Comitê poderá convidar agências
especializadas e outros órgãos das Nações Unidas a apresentar relatórios sobre a implementação da
Convenção em áreas pertinentes às suas respectivas atividades;

b) No desempenho de seu mandato, o Comitê consultará, de maneira apropriada, outros órgãos


pertinentes instituídos ao amparo de tratados internacionais de direitos humanos, a fim de assegurar a
consistência de suas respectivas diretrizes para a elaboração de relatórios, sugestões e recomendações gerais
e de evitar duplicação e superposição no desempenho de suas funções.

Artigo 39

Relatório do Comitê

A cada dois anos, o Comitê submeterá à Assembléia Geral e ao Conselho Econômico e Social um relatório
de suas atividades e poderá fazer sugestões e recomendações gerais baseadas no exame dos relatórios e nas
informações recebidas dos Estados Partes. Estas sugestões e recomendações gerais serão incluídas no
relatório do Comitê, acompanhadas, se houver, de comentários dos Estados Partes.

Artigo 40

Conferência dos Estados Partes

1.Os Estados Partes reunir-se-ão regularmente em Conferência dos Estados Partes a fim de considerar
matérias relativas à implementação da presente Convenção.

2.O Secretário-Geral das Nações Unidas convocará, dentro do período de seis meses após a entrada em
vigor da presente Convenção, a Conferência dos Estados Partes. As reuniões subseqüentes serão convocadas
pelo Secretário-Geral das Nações Unidas a cada dois anos ou conforme a decisão da Conferência dos Estados
Partes.

Artigo 41

Depositário

O Secretário-Geral das Nações Unidas será o depositário da presente Convenção.

Artigo 42

Assinatura
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 289

A presente Convenção será aberta à assinatura de todos os Estados e organizações de integração


regional na sede das Nações Unidas em Nova York, a partir de 30 de março de 2007.

Artigo 43

Consentimento em comprometer-se

A presente Convenção será submetida à ratificação pelos Estados signatários e à confirmação formal por
organizações de integração regional signatárias. Ela estará aberta à adesão de qualquer Estado ou
organização de integração regional que não a houver assinado.

Artigo 44

Organizações de integração regional

1."Organização de integração regional" será entendida como organização constituída por Estados
soberanos de determinada região, à qual seus Estados membros tenham delegado competência sobre matéria
abrangida pela presente Convenção. Essas organizações declararão, em seus documentos de confirmação
formal ou adesão, o alcance de sua competência em relação à matéria abrangida pela presente Convenção.
Subseqüentemente, as organizações informarão ao depositário qualquer alteração substancial no âmbito de
sua competência.

2.As referências a "Estados Partes" na presente Convenção serão aplicáveis a essas organizações, nos
limites da competência destas.

3.Para os fins do parágrafo 1 do Artigo 45 e dos parágrafos 2 e 3 do Artigo 47, nenhum instrumento
depositado por organização de integração regional será computado.

4.As organizações de integração regional, em matérias de sua competência, poderão exercer o direito de
voto na Conferência dos Estados Partes, tendo direito ao mesmo número de votos quanto for o número de seus
Estados membros que forem Partes da presente Convenção. Essas organizações não exercerão seu direito de
voto, se qualquer de seus Estados membros exercer seu direito de voto, e vice-versa.

Artigo 45

Entrada em vigor

1.A presente Convenção entrará em vigor no trigésimo dia após o depósito do vigésimo instrumento de
ratificação ou adesão.

2.Para cada Estado ou organização de integração regional que ratificar ou formalmente confirmar a
presente Convenção ou a ela aderir após o depósito do referido vigésimo instrumento, a Convenção entrará
em vigor no trigésimo dia a partir da data em que esse Estado ou organização tenha depositado seu instrumento
de ratificação, confirmação formal ou adesão.

Artigo 46

Reservas

1.Não serão permitidas reservas incompatíveis com o objeto e o propósito da presente Convenção.
2.As reservas poderão ser retiradas a qualquer momento.

Artigo 47

Emendas
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 290

1.Qualquer Estado Parte poderá propor emendas à presente Convenção e submetê-las ao Secretário-
Geral das Nações Unidas. O Secretário-Geral comunicará aos Estados Partes quaisquer emendas propostas,
solicitando-lhes que o notifiquem se são favoráveis a uma Conferência dos Estados Partes para considerar as
propostas e tomar decisão a respeito delas. Se, até quatro meses após a data da referida comunicação, pelo
menos um terço dos Estados Partes se manifestar favorável a essa Conferência, o Secretário-Geral das Nações
Unidas convocará a Conferência, sob os auspícios das Nações Unidas. Qualquer emenda adotada por maioria
de dois terços dos Estados Partes presentes e votantes será submetida pelo Secretário-Geral à aprovação da
Assembléia Geral das Nações Unidas e, posteriormente, à aceitação de todos os Estados Partes.

2.Qualquer emenda adotada e aprovada conforme o disposto no parágrafo 1 do presente artigo entrará
em vigor no trigésimo dia após a data na qual o número de instrumentos de aceitação tenha atingido dois terços
do número de Estados Partes na data de adoção da emenda. Posteriormente, a emenda entrará em vigor para
todo Estado Parte no trigésimo dia após o depósito por esse Estado do seu instrumento de aceitação. A emenda
será vinculante somente para os Estados Partes que a tiverem aceitado.

3.Se a Conferência dos Estados Partes assim o decidir por consenso, qualquer emenda adotada e
aprovada em conformidade com o disposto no parágrafo 1 deste Artigo, relacionada exclusivamente com os
artigos 34, 38, 39 e 40, entrará em vigor para todos os Estados Partes no trigésimo dia a partir da data em que
o número de instrumentos de aceitação depositados tiver atingido dois terços do número de Estados Partes na
data de adoção da emenda.

Artigo 48

Denúncia

Qualquer Estado Parte poderá denunciar a presente Convenção mediante notificação por escrito ao
Secretário-Geral das Nações Unidas. A denúncia tornar-se-á efetiva um ano após a data de recebimento da
notificação pelo Secretário-Geral.

Artigo 49

Formatos acessíveis

O texto da presente Convenção será colocado à disposição em formatos acessíveis.

Artigo 50

Textos autênticos

Os textos em árabe, chinês, espanhol, francês, inglês e russo da presente Convenção serão igualmente
autênticos.

EM FÉ DO QUE os plenipotenciários abaixo assinados, devidamente autorizados para tanto por seus
respectivos Governos, firmaram a presente Convenção.

PROTOCOLO FACULTATIVO À CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS


DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

Os Estados Partes do presente Protocolo acordaram o seguinte:

Artigo 1
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 291

1.Qualquer Estado Parte do presente Protocolo (“Estado Parte”) reconhece a competência do Comitê
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (“Comitê”) para receber e considerar comunicações submetidas
por pessoas ou grupos de pessoas, ou em nome deles, sujeitos à sua jurisdição, alegando serem vítimas de
violação das disposições da Convenção pelo referido Estado Parte.

2.O Comitê não receberá comunicação referente a qualquer Estado Parte que não seja signatário do
presente Protocolo.

Artigo 2

O Comitê considerará inadmissível a comunicação quando:

a) A comunicação for anônima;

b) A comunicação constituir abuso do direito de submeter tais comunicações ou for incompatível com as
disposições da Convenção;

c) A mesma matéria já tenha sido examinada pelo Comitê ou tenha sido ou estiver sendo examinada sob
outro procedimento de investigação ou resolução internacional;

d) Não tenham sido esgotados todos os recursos internos disponíveis, salvo no caso em que a tramitação
desses recursos se prolongue injustificadamente, ou seja improvável que se obtenha com eles solução efetiva;

e) A comunicação estiver precariamente fundamentada ou não for suficientemente substanciada; ou

f) Os fatos que motivaram a comunicação tenham ocorrido antes da entrada em vigor do presente
Protocolo para o Estado Parte em apreço, salvo se os fatos continuaram ocorrendo após aquela data.

Artigo 3

Sujeito ao disposto no Artigo 2 do presente Protocolo, o Comitê levará confidencialmente ao conhecimento


do Estado Parte concernente qualquer comunicação submetida ao Comitê. Dentro do período de seis meses,
o Estado concernente submeterá ao Comitê explicações ou declarações por escrito, esclarecendo a matéria e
a eventual solução adotada pelo referido Estado.

Artigo 4

1.A qualquer momento após receber uma comunicação e antes de decidir o mérito dessa comunicação,
o Comitê poderá transmitir ao Estado Parte concernente, para sua urgente consideração, um pedido para que
o Estado Parte tome as medidas de natureza cautelar que forem necessárias para evitar possíveis danos
irreparáveis à vítima ou às vítimas da violação alegada.

2.O exercício pelo Comitê de suas faculdades discricionárias em virtude do parágrafo 1 do presente Artigo
não implicará prejuízo algum sobre a admissibilidade ou sobre o mérito da comunicação.

Artigo 5

O Comitê realizará sessões fechadas para examinar comunicações a ele submetidas em conformidade
com o presente Protocolo. Depois de examinar uma comunicação, o Comitê enviará suas sugestões e
recomendações, se houver, ao Estado Parte concernente e ao requerente.

Artigo 6

1.Se receber informação confiável indicando que um Estado Parte está cometendo violação grave ou
sistemática de direitos estabelecidos na Convenção, o Comitê convidará o referido Estado Parte a colaborar
com a verificação da informação e, para tanto, a submeter suas observações a respeito da informação em
pauta.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 292

2.Levando em conta quaisquer observações que tenham sido submetidas pelo Estado Parte concernente,
bem como quaisquer outras informações confiáveis em poder do Comitê, este poderá designar um ou mais de
seus membros para realizar investigação e apresentar, em caráter de urgência, relatório ao Comitê. Caso se
justifique e o Estado Parte o consinta, a investigação poderá incluir uma visita ao território desse Estado.

3.Após examinar os resultados da investigação, o Comitê os comunicará ao Estado Parte concernente,


acompanhados de eventuais comentários e recomendações.

4.Dentro do período de seis meses após o recebimento dos resultados, comentários e recomendações
transmitidos pelo Comitê, o Estado Parte concernente submeterá suas observações ao Comitê.

5.A referida investigação será realizada confidencialmente e a cooperação do Estado Parte será solicitada
em todas as fases do processo.

Artigo 7

1.O Comitê poderá convidar o Estado Parte concernente a incluir em seu relatório, submetido em
conformidade com o disposto no Artigo 35 da Convenção, pormenores a respeito das medidas tomadas em
conseqüência da investigação realizada em conformidade com o Artigo 6 do presente Protocolo.

2.Caso necessário, o Comitê poderá, encerrado o período de seis meses a que se refere o parágrafo 4
do Artigo 6, convidar o Estado Parte concernente a informar o Comitê a respeito das medidas tomadas em
conseqüência da referida investigação.

Artigo 8

Qualquer Estado Parte poderá, quando da assinatura ou ratificação do presente Protocolo ou de sua
adesão a ele, declarar que não reconhece a competência do Comitê, a que se referem os Artigos 6 e 7.

Artigo 9

O Secretário-Geral das Nações Unidas será o depositário do presente Protocolo.

Artigo 10

O presente Protocolo será aberto à assinatura dos Estados e organizações de integração regional
signatários da Convenção, na sede das Nações Unidas em Nova York, a partir de 30 de março de 2007.

Artigo 11

O presente Protocolo estará sujeito à ratificação pelos Estados signatários do presente Protocolo que
tiverem ratificado a Convenção ou aderido a ela. Ele estará sujeito à confirmação formal por organizações de
integração regional signatárias do presente Protocolo que tiverem formalmente confirmado a Convenção ou a
ela aderido. O Protocolo ficará aberto à adesão de qualquer Estado ou organização de integração regional que
tiver ratificado ou formalmente confirmado a Convenção ou a ela aderido e que não tiver assinado o Protocolo.

Artigo 12

1.“Organização de integração regional” será entendida como organização constituída por Estados
soberanos de determinada região, à qual seus Estados membros tenham delegado competência sobre matéria
abrangida pela Convenção e pelo presente Protocolo. Essas organizações declararão, em seus documentos
de confirmação formal ou adesão, o alcance de sua competência em relação à matéria abrangida pela
Convenção e pelo presente Protocolo. Subseqüentemente, as organizações informarão ao depositário qualquer
alteração substancial no alcance de sua competência.

2.As referências a “Estados Partes” no presente Protocolo serão aplicáveis a essas organizações, nos
limites da competência de tais organizações.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 293

3.Para os fins do parágrafo 1 do Artigo 13 e do parágrafo 2 do Artigo 15, nenhum instrumento depositado
por organização de integração regional será computado.

4.As organizações de integração regional, em matérias de sua competência, poderão exercer o direito de
voto na Conferência dos Estados Partes, tendo direito ao mesmo número de votos que seus Estados membros
que forem Partes do presente Protocolo. Essas organizações não exercerão seu direito de voto se qualquer de
seus Estados membros exercer seu direito de voto, e vice-versa.

Artigo 13

1.Sujeito à entrada em vigor da Convenção, o presente Protocolo entrará em vigor no trigésimo dia após
o depósito do décimo instrumento de ratificação ou adesão.

2.Para cada Estado ou organização de integração regional que ratificar ou formalmente confirmar o
presente Protocolo ou a ele aderir depois do depósito do décimo instrumento dessa natureza, o Protocolo
entrará em vigor no trigésimo dia a partir da data em que esse Estado ou organização tenha depositado seu
instrumento de ratificação, confirmação formal ou adesão.

Artigo 14

1.Não serão permitidas reservas incompatíveis com o objeto e o propósito do presente Protocolo.
2.As reservas poderão ser retiradas a qualquer momento.

Artigo 15

1.Qualquer Estado Parte poderá propor emendas ao presente Protocolo e submetê-las ao Secretário-
Geral das Nações Unidas. O Secretário-Geral comunicará aos Estados Partes quaisquer emendas propostas,
solicitando-lhes que o notifiquem se são favoráveis a uma Conferência dos Estados Partes para considerar as
propostas e tomar decisão a respeito delas. Se, até quatro meses após a data da referida comunicação, pelo
menos um terço dos Estados Partes se manifestar favorável a essa Conferência, o Secretário-Geral das Nações
Unidas convocará a Conferência, sob os auspícios das Nações Unidas. Qualquer emenda adotada por maioria
de dois terços dos Estados Partes presentes e votantes será submetida pelo Secretário-Geral à aprovação da
Assembléia Geral das Nações Unidas e, posteriormente, à aceitação de todos os Estados Partes.

2.Qualquer emenda adotada e aprovada conforme o disposto no parágrafo 1 do presente artigo entrará
em vigor no trigésimo dia após a data na qual o número de instrumentos de aceitação tenha atingido dois terços
do número de Estados Partes na data de adoção da emenda. Posteriormente, a emenda entrará em vigor para
todo Estado Parte no trigésimo dia após o depósito por esse Estado do seu instrumento de aceitação. A emenda
será vinculante somente para os Estados Partes que a tiverem aceitado.

Artigo 16

Qualquer Estado Parte poderá denunciar o presente Protocolo mediante notificação por escrito ao
Secretário-Geral das Nações Unidas. A denúncia tornar-se-á efetiva um ano após a data de recebimento da
notificação pelo Secretário-Geral.

Artigo 17

O texto do presente Protocolo será colocado à disposição em formatos acessíveis.

Artigo 18

Os textos em árabe, chinês, espanhol, francês, inglês e russo e do presente Protocolo serão igualmente
autênticos.
EM FÉ DO QUE os plenipotenciários abaixo assinados, devidamente autorizados para tanto por seus
respectivos governos, firmaram o presente Protocolo.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 294

2.18 TRATADO DE MARRAQUECHE PARA FACILITAR O ACESSO A OBRAS


PUBLICADAS ÀS PESSOAS CEGAS, COM DEFICIÊNCIA VISUAL OU COM OUTRAS
DIFICULDADES PARA TER ACESSO AO TEXTO IMPRESSO – 2013 (DECRETO Nº
9522/2018)

DECRETO Nº 9.522, DE 8 DE OUTUBRO DE 2018


Promulga o Tratado de Marraqueche para Facilitar o Acesso a Obras Publicadas às Pessoas Cegas, com Deficiência Visual ou com
Outras Dificuldades para Ter Acesso ao Texto Impresso, firmado em Marraqueche, em 27 de junho de 2013.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, caput , inciso IV, da
Constituição, e

Considerando que a República Federativa do Brasil firmou o Tratado de Marraqueche para Facilitar o
Acesso a Obras Publicadas às Pessoas Cegas, com Deficiência Visual ou com Outras Dificuldades para Ter
Acesso ao Texto Impresso, em Marraqueche, em 27 de junho de 2013;

Considerando que o Congresso Nacional aprovou o Tratado por meio do Decreto Legislativo nº 261, de
25 de novembro de 2015, conforme o procedimento de que trata o § 3º do art. 5º da Constituição; e

Considerando que o Governo brasileiro depositou, junto ao Diretor-Geral da Organização Mundial da


Propriedade Intelectual, em 11 de dezembro de 2015, o instrumento de ratificação ao Tratado e que este entrou
em vigor para a República Federativa do Brasil, no plano jurídico externo, em 30 de setembro de 2016;

DECRETA:

Art. 1º Fica promulgado o Tratado de Marraqueche para Facilitar o Acesso a Obras Publicadas às Pessoas
Cegas, com Deficiência Visual ou com Outras Dificuldades para Ter Acesso ao Texto Impresso, firmado em
Marraqueche, em 27 de junho de 2013, anexo a este Decreto.

Art. 2º São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional atos que possam resultar em revisão do Tratado
e ajustes complementares que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional, nos
termos do inciso I do caput do art. 49 da Constituição .

Art. 3º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 8 de outubro de 2018; 197º da Independência e 130º da República.

MICHEL TEMER

Torquato Jardim
Aloysio Nunes Ferreira Filho
Cláudia Maria Mendes de Almeida Pedrozo
Gustavo do Vale Rocha

Este texto não substitui o publicado no DOU de 9.10.2018

Marraqueche, 17 a 28 de junho de 2013

TRATADO DE MARRAQUECHE PARA FACILITAR O ACESSO A OBRAS PUBLICADAS


ÀS PESSOAS CEGAS, COM DEFICIÊNCIA VISUAL OU COM OUTRAS DIFICULDADES
PARA TER ACESSO AO TEXTO IMPRESSO

Adotado pela Conferência Diplomática

Preâmbulo
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 295

As Partes Contratantes,

Recordando os princípios da não discriminação, da igualdade de oportunidades, da acessibilidade e da


participação e inclusão plena e efetiva na sociedade, proclamados na Declaração Universal dos Direitos
Humanos e na Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência,

Conscientes dos desafios que são prejudiciais ao desenvolvimento pleno das pessoas com deficiência
visual ou com outras dificuldades para ter acesso ao texto impresso, que limitam a sua liberdade de expressão,
incluindo a liberdade de procurar, receber e difundir informações e ideias de toda espécie em condições de
igualdade com as demais pessoas mediante todas as formas de comunicação de sua escolha, assim como o
gozo do seu direito à educação e a oportunidade de realizar pesquisas,

Enfatizando a importância da proteção ao direito de autor como incentivo e recompensa para as criações
literárias e artísticas e a de incrementar as oportunidades para todas as pessoas, inclusive as pessoas com
deficiência visual ou com outras dificuldades para ter acesso ao texto impresso, de participar na vida cultural
da comunidade, desfrutar das artes e compartilhar o progresso científico e seus benefícios,

Cientes das barreiras que enfrentam as pessoas com deficiência visual ou com outras dificuldades para
ter acesso ao texto impresso para alcançarem oportunidades iguais na sociedade, e da necessidade de ampliar
o número de obras em formatos acessíveis e de aperfeiçoar a circulação de tais obras,

Considerando que a maioria das pessoas com deficiência visual ou com outras dificuldades para ter
acesso ao texto impresso vive em países em desenvolvimento e em países de menor desenvolvimento relativo,

Reconhecendo que, apesar das diferenças existentes nas legislações nacionais de direito de autor, o
impacto positivo das novas tecnologias de informação e comunicação na vida das pessoas com deficiência
visual ou com outras dificuldades para ter acesso ao texto impresso pode ser reforçado por um marco jurídico
aprimorado no plano internacional,

Reconhecendo que muitos Estados Membros estabeleceram exceções e limitações em suas legislações
nacionais de direito de autor destinadas a pessoas com deficiência visual ou com outras dificuldades para ter
acesso ao texto impresso, mas que ainda há uma escassez permanente de exemplares disponíveis em formato
acessível para essas pessoas; que são necessários recursos consideráveis em seus esforços para tornar as
obras acessíveis a essas pessoas; e que a falta de possibilidade de intercâmbio transfronteiriço de exemplares
em formato acessível exige a duplicação desses esforços,

Reconhecendo tanto a importância do papel dos titulares de direitos em tornar suas obras acessíveis a
pessoas com deficiência visual ou com outras dificuldades para ter acesso ao texto impresso, como a
importância de limitações e exceções adequadas para tornar as obras acessíveis a essas pessoas, em
particular quando o mercado é incapaz de prover tal acesso,

Reconhecendo a necessidade de se manter um equilíbrio entre a proteção efetiva dos direitos dos autores
e o interesse público mais amplo, em especial no que diz respeito à educação, pesquisa e acesso à informação,
e que esse equilíbrio deve facilitar às pessoas com deficiência visual ou com outras dificuldades para ter acesso
ao texto impresso o acesso efetivo e tempestivo às obras,

Reafirmando as obrigações contraídas pelas Partes Contratantes em virtude de tratados internacionais


vigentes em matéria de proteção ao direito de autor, bem como a importância e a flexibilidade da regra dos três
passos relativa às limitações e exceções, prevista no Artigo 9.2 da Convenção de Berna sobre a Proteção de
Obras Literárias e Artísticas e em outros instrumentos internacionais,

Recordando a importância das recomendações da Agenda do Desenvolvimento, adotada em 2007 pela


Assembleia Geral da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), que visa a assegurar que as
considerações relativas ao desenvolvimento sejam parte integrante do trabalho da Organização,

Reconhecendo a importância do sistema internacional de direito de autor e visando harmonizar as


limitações e exceções com vistas a facilitar o acesso e o uso de obras por pessoas com deficiência visual ou
com outras dificuldades para ter acesso ao texto impresso,

Acordaram o seguinte:

Artigo 1º
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 296

Relação com outras convenções e tratados

Nenhuma disposição do presente Tratado derrogará quaisquer obrigações que as Partes Contratantes
tenham entre si em virtude de outros tratados, nem prejudicará quaisquer direitos que uma Parte Contratante
tenha em virtude de outros tratados.

Artigo 2º

Definições

Para os efeitos do presente Tratado:

a) “obras” significa as obras literárias e artísticas no sentido do Artigo 2.1 da Convenção de Berna sobre
a Proteção de Obras Literárias e Artísticas, em forma de texto, notação e/ou ilustrações conexas, que tenham
sido publicadas ou tornadas disponíveis publicamente por qualquer meio 1 .

b) “exemplar em formato acessível” significa a reprodução de uma obra de uma maneira ou forma
alternativa que dê aos beneficiários acesso à obra, inclusive para permitir que a pessoa tenha acesso de
maneira tão prática e cômoda como uma pessoa sem deficiência visual ou sem outras dificuldades para ter
acesso ao texto impresso. O exemplar em formato acessível é utilizado exclusivamente por beneficiários e deve
respeitar a integridade da obra original, levando em devida consideração as alterações necessárias para tornar
a obra acessível no formato alternativo e as necessidades de acessibilidade dos beneficiários.

c) “entidade autorizada” significa uma entidade que é autorizada ou reconhecida pelo governo para prover
aos beneficiários, sem intuito de lucro, educação, formação pedagógica, leitura adaptada ou acesso à
informação. Inclui, também, instituição governamental ou organização sem fins lucrativos que preste os
mesmos serviços aos beneficiários como uma de suas atividades principais ou obrigações institucionais².

A entidade autorizada estabelecerá suas próprias práticas e as aplicará:

i) para determinar que as pessoas a que serve são beneficiárias;

ii) para limitar aos beneficiários e/ou às entidades autorizadas a distribuição e colocação à disposição de
exemplares em formato acessível;

iii) para desencorajar a reprodução, distribuição e colocação à disposição de exemplares não autorizados;
e

iv) para exercer o devido cuidado no uso dos exemplares das obras e manter os registros deste uso,
respeitando a privacidade dos beneficiários em conformidade com o Artigo 8º.

Artigo 3º

Beneficiários

Será beneficiário toda pessoa:

a) cega;

b) que tenha deficiência visual ou outra deficiência de percepção ou de leitura que não possa ser corrigida
para se obter uma acuidade visual substancialmente equivalente à de uma pessoa que não tenha esse tipo de
deficiência ou dificuldade, e para quem é impossível ler material impresso de uma forma substancialmente
equivalente à de uma pessoa sem deficiência ou dificuldade; ou³

c) que esteja ,impossibilitada, de qualquer outra maneira, devido a uma deficiência física, de sustentar ou
manipular um livro ou focar ou mover os olhos da forma que normalmente seria apropriado para a leitura;

independentemente de quaisquer outras deficiências.

Artigo 4º
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 297

Limitações e Exceções na Legislação Nacional sobre Exemplares em Formato Acessível

1.(a) As Partes Contratantes estabelecerão na sua legislação nacional de direito de autor uma limitação
ou exceção aos direitos de reprodução, de distribuição, bem como de colocação à disposição do público, tal
como definido no Tratado da OMPI sobre Direito de Autor, para facilitar a disponibilidade de obras em formatos
acessíveis aos beneficiários. A limitação ou exceção prevista na legislação nacional deve permitir as alterações
necessárias para tornar a obra acessível em formato alternativo.

(b) As Partes Contratantes podem também estabelecer uma exceção ao direito de representação ou
execução pública para facilitar o acesso a obras para beneficiários.

2. Uma Parte Contratante poderá cumprir o disposto no Artigo 4(1) para todos os direitos nele previstos,
mediante o estabelecimento de uma limitação ou exceção em sua legislação nacional de direitos de autor de
tal forma que:

(a) Seja permitido às entidades autorizadas, sem a autorização do titular dos direitos de autor, produzir
um exemplar em formato acessível de uma obra obter de outra entidade autorizada uma obra em formato
acessível e fornecer tais exemplares para o beneficiário, por qualquer meio, inclusive por empréstimo não-
comercial ou mediante comunicação eletrônica por fio ou sem fio; e realizar todas as medidas intermediárias
para atingir esses objetivos, quando todas as seguintes condições forem atendidas:

(i) a entidade autorizada que pretenda realizar tal atividade tenha acesso legal à obra ou a um exemplar
da obra;

(ii) a obra seja convertida para um exemplar em formato acessível, o que pode incluir quaisquer meios
necessários para consultar a informação nesse formato, mas não a introdução de outras mudanças que não
as necessárias para tornar a obra acessível aos beneficiários;

(iii) os exemplares da obra no formato acessível sejam fornecidos exclusivamente para serem utilizados
por beneficiários; e

(iv) a atividade seja realizada sem fins lucrativos ; e

(b) Um beneficiário , ou alguém agindo em seu nome , incluindo a pessoa principal que cuida do
beneficiário ou se ocupe de seu cuidado, poderá produzir um exemplar em formato acessível de uma obra para
o uso pessoal do beneficiário ou de outra forma poderá ajudar o beneficiário a produzir e utilizar exemplares
em formato acessível , quando o beneficiário tenha acesso legal a essa obra ou a um exemplar dessa obra .

3. Uma Parte Contratante poderá cumprir o disposto no Artigo 4(1) estabelecendo outras limitações ou
exceções em sua legislação nacional de direito de autor nos termos dos Artigos 10 e 11 4 .

4. Uma Parte Contratante poderá restringir as limitações ou exceções nos termos deste Artigo às obras
que, no formato acessível em questão, não possam ser obtidas comercialmente sob condições razoáveis para
os beneficiários naquele mercado. Qualquer Parte Contratante que exercer essa faculdade deverá declará-la
em uma notificação depositada junto ao Diretor-Geral da OMPI no momento da ratificação, aceitação ou adesão
a esse Tratado ou em qualquer momento posterior 5 .

5. Caberá à lei nacional determinar se as exceções ou limitações a que se refere o presente artigo estão
sujeitas à remuneração.

Artigo 5º

Intercâmbio Transfronteiriço de Exemplares em Formato Acessível

1. As Partes Contratantes estabelecerão que, se um exemplar em formato acessível de uma obra é


produzido ao amparo de uma limitação ou exceção ou de outros meios legais, este exemplar em formato
acessível poderá ser distribuído ou colocado à disposição por uma entidade autorizada a um beneficiário ou a
uma entidade autorizada em outra Parte Contratante 6 .
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 298

2.Uma Parte Contratante poderá cumprir o disposto no Artigo 5(1) instituindo uma limitação ou exceção
em sua legislação nacional de direito de autor de tal forma que:

(a) será permitido às entidades autorizadas, sem a autorização do titular do direito, distribuir ou colocar à
disposição para o uso exclusivo dos beneficiários exemplares em formato acessível a uma entidade autorizada
em outra Parte Contratante; e

(b) será permitido às entidades autorizadas, sem a autorização do titular do direito e em conformidade
com o disposto no Artigo 2º(c), distribuir ou colocar à disposição exemplares em formato acessível a um
beneficiário em outra Parte Contratante;

d esde que antes d a distribuição ou colocação à disposição, a entidade autorizada originária não saiba ou
tenha motivos razoáveis para saber que o exemplar em formato acessível seria utilizado por outras pessoas
que não os beneficiários 7 .

3. Uma Parte Contratante poderá cumprir o disposto no Artigo 5(1) instituindo outras limitações ou
exceções em sua legislação nacional de direito de autor nos termos do Artigo 5(4), 10 e 11.

4. (a) Quando uma entidade autorizada em uma Parte Contratante receber um exemplar em formato
acessível nos termos do artigo 5(1) e essa Parte Contratante não tiver as obrigações decorrentes do Artigo 9
da Convenção de Berna, a Parte Contratante garantirá, de acordo com suas práticas e seu sistema jurídico,
que os exemplares em formato acessível serão reproduzidos, distribuídos ou colocados à disposição apenas
para o proveito dos beneficiários na jurisdição dessa Parte Contratante.

(b) A distribuição e a colocação à disposição de exemplares em formato acessível por uma entidade
autorizada nos termos do Artigo 5(1) deverá ser limitada a essa jurisdição, salvo se a Parte Contratante for
parte do Tratado da OMPI sobre Direito de Autor ou de outra forma limitar as exceções e limitações ao direito
de distribuição e ao direito de colocação à disposição do público que implementam esse Tratado a
determinados casos especiais, que não conflitem com a exploração normal da obra e não prejudiquem
injustificadamente os interesses legítimos do titular do direito 8 9 .

(c) Nada neste Artigo afeta a determinação do que constitui um ato de distribuição ou um ato de colocação
à disposição do público.

5. Nada neste Tratado será utilizado para tratar da questão da exaustão de direitos.

Artigo 6º

Importação de Exemplares em Formato Acessível

Na medida em que a legislação nacional de uma Parte Contratante permita que um beneficiário, alguém
agindo em seu nome, ou uma entidade autorizada produza um exemplar em formato acessível de uma obra, a
legislação nacional dessa Parte Contratante permitirá, também, que eles possam importar um exemplar em
formato acessível para o proveito dos beneficiários, sem a autorização do titular do direito 10 .

Artigo 7º

Obrigações Relativas a Medidas Tecnológicas

As Partes Contratantes adotarão medidas adequadas que sejam necessárias, para assegurar que,
quando estabeleçam proteção legal adequada e recursos jurídicos efetivos contra a neutralização de medidas
tecnológicas efetivas, essa proteção legal não impeça que os beneficiários desfrutem das limitações e exceções
previstas neste Tratado¹¹.

Artigo 8º

Respeito à Privacidade
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 299

Na implementação das limitações e exceções previstas neste Tratado, as Partes Contratantes empenhar-
se-ão para proteger a privacidade dos beneficiários em condições de igualdade com as demais pessoas.

Artigo 9º

Cooperação para Facilitar o Intercâmbio Transfronteiriço

1. As Partes Contratantes envidarão esforços para promover o intercâmbio transfronteiriço de exemplares


em formato acessível incentivando o compartilhamento voluntário de informações para auxiliar as entidades
autorizadas a se identificarem. O Escritório Internacional da OMPI estabelecerá um ponto de acesso à
informação para essa finalidade.

2. As Partes Contratantes comprometem-se a auxiliar suas entidades autorizadas envolvidas em


atividades nos termos do Artigo 5º a disponibilizarem informações sobre suas práticas conforme o Artigo 2º(c),
tanto pelo compartilhamento de informações entre entidades autorizadas como pela disponibilização de
informações sobre as suas políticas e práticas, inclusive as relacionadas com o intercâmbio transfronteiriço de
exemplares em formato acessível, às partes interessadas e membros do público, conforme apropriado.

3. O Escritório Internacional da OMPI é convidado a compartilhar informações, quando disponíveis,


sobre o funcionamento do presente Tratado.

4. As Partes Contratantes reconhecem a importância da cooperação internacional e de sua promoção em


apoio aos esforços nacionais para a realização do propósito e dos objetivos deste Tratado¹².

Artigo 10

Princípios Gerais sobre Implementação

1. As Partes Contratantes comprometem-se a adotar as medidas necessárias para garantir a aplicação


do presente Tratado.

2. Nada impedirá que as Partes Contratantes determinem a forma mais adequada de implementar as
disposições do presente Tratado no âmbito de seus ordenamentos jurídicos e práticas legais¹³ .

3. As Partes Contratantes poderão exercer os seus direitos e cumprir com as obrigações previstas neste
Tratado por meio de limitações ou exceções específicas em favor dos beneficiários, outras exceções ou
limitações, ou uma combinação de ambas no âmbito de seus ordenamentos jurídicos e práticas
legais nacionais. Estas poderão incluir decisões judiciais, administrativas ou regulatórias em favor dos
beneficiários, relativa a práticas, atos ou usos justos que permitam satisfazer as suas necessidades, em
conformidade com os direitos e obrigações que as Partes Contratantes tenham em virtude da Convenção de
Berna, de outros tratados internacionais e do Artigo 11.

Artigo 11

Obrigações Gerais sobre Limitações e Exceções

Ao adotar as medidas necessárias para assegurar a aplicação do presente Tratado, uma Parte
Contratante poderá exercer os direitos e deverá cumprir com as obrigações que essa Parte Contratante tenha
no âmbito da Convenção de Berna, do Acordo Relativo aos Aspectos do Direito da Propriedade Intelectual
Relacionados com o Comércio e do Tratado da OMPI sobre Direito de Autor, incluindo os acordos
interpretativos dos mesmos, de modo que:

(a) em conformidade com o Artigo 9(2) da Convenção de Berna, a Parte Contratante pode permitir a
reprodução de obras em certos casos especiais, contanto que tal reprodução não afete a exploração normal
da obra nem cause prejuízo injustificado aos interesses legítimos do autor;

(b) em conformidade com o Artigo 13 do Acordo Relativo aos Aspectos do Direito da Propriedade
Intelectual Relacionados com o Comércio , a Parte Contratante deverá restringir as limitações ou exceções aos
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 300

direitos exclusivos a determinados casos especiais, que não conflitem com a exploração normal da obra e não
prejudiquem injustificadamente os interesses legítimos do titular do direito;

(c) em conformidade com o Artigo 10(1) do Tratado da OMPI sobre Direito de Autor , a Parte
Contratante pode prever limitações ou exceções aos direitos concedidos aos autores no âmbito do Tratado da
OMPI sobre Direito de Autor em certoscasos especiais , que não conflitem com a exploração normal da
obra e não prejudiquem os interesses legítimos do autor ;

(d) em conformidade com o Artigo 10(2) do Tratado da OMPI sobre Direito de Autor , a Parte
Contratante deve restringir , ao aplicar a Convenção de Berna , qualquer limitação ou exceção aos direitos a
determinados casos especiais que não conflitem com a exploração normal da obra e não prejudiquem
injustificadamente os interesses legítimos do autor.

Artigo 12

Outras Limitações e Exceções

1. As Partes Contratantes reconhecem que uma Parte Contratante pode implementar em sua legislação
nacional outras limitações e exceções ao direito de autor para o proveito dos beneficiários além das previstas
por este Tratado, tendo em vista a situação econômica dessa Parte Contratante e suas necessidades sociais
e culturais, em conformidade com os direitos e obrigações internacionais dessa Parte Contratante, e, no caso
de um país de menor desenvolvimento relativo, levando em consideração suas necessidades especiais, seus
direitos e obrigações internacionais particulares e as flexibilidades derivadas destes últimos.

2. Este Tratado não prejudica outras limitações e exceções para pessoas com deficiência previstas pela
legislação nacional.

Artigo 13

Assembleia

1. (a)As Partes Contratantes terão uma Assembleia.

(b) Cada Parte Contratante será representada na Assembleia por um delegado, que poderá ser assistido
por suplentes, assessores ou especialistas.

(c) Os gastos de cada delegação serão custeados pela Parte Contratante que tenha designado a
delegação. A Assembleia pode pedir à OMPI que conceda assistência financeira para facilitar a participação
de delegações de Partes Contratantes consideradas países em desenvolvimento, em conformidade com a
prática estabelecida pela Assembleia Geral das Nações Unidas, ou que sejam países em transição para uma
economia de mercado.

2 (a) A Assembleia tratará as questões relativas à manutenção e desenvolvimento deste Tratado e da

aplicação e operação deste Tratado.

(b) A Assembleia realizará a função a ela atribuída pelo Artigo 15 no que diz respeito à admissão de

certas organizações intergovernamentais como Parte do presente Tratado.

(c) A Assembleia decidirá a convocação de qualquer conferência diplomática para a revisão deste

Tratado e dará as instruções necessárias ao Diretor-Geral da OMPI para a preparação de tal conferência

diplomática.

3.(a) Cada Parte Contratante que seja um Estado terá um voto e votará apenas em seu próprio nome.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 301

(b) Toda Parte Contratante que seja uma organização intergovernamental poderá participar na votação,

no lugar de seus Estados Membros, com um número de votos igual ao número de seus Estados Membros

que sejam parte deste Tratado. Nenhuma dessas organizações intergovernamentais poderá participar na

votação se qualquer um de seus Estados Membros exercer seu direito ao voto e vice-versa.

4. A Assembleia se reunirá mediante convocação do Diretor-Geral e, na ausência de circunstâncias

excepcionais, durante o mesmo período e no mesmo local que a Assembleia Geral da OMPI.

5. A Assembleia procurará tomar as suas decisões por consenso e estabelecerá suas próprias regras de
procedimento, incluindo a convocação de sessões extraordinárias, os requisitos de quórum e, sujeita às
disposições do presente Tratado, a maioria exigida para os diversos tipos de decisões.

Artigo 14

Escritório Internacional

O Escritório Internacional da OMPI executará as tarefas administrativas relativas a este Tratado.

Artigo 15

Condições para se tornar Parte do Tratado

(1) Qualquer Estado Membro da OMPI poderá se tornar parte deste Tratado.

(2) A Assembleia poderá decidir a admissão de qualquer organização intergovernamental para ser

parte do Tratado que declare ter competência e ter sua própria legislação vinculante para todos seus Estados

Membros sobre os temas contemplados neste Tratado e que tenha sido devidamente autorizada, em

conformidade com seus procedimentos internos, a se tornar parte deste Tratado.

(3) A União Europeia, tendo feito a declaração mencionada no parágrafo anterior na Conferência

Diplomática que adotou este Tratado, poderá se tornar parte deste Tratado.

Artigo 16

Direitos e Obrigações do Tratado

Salvo qualquer dispositivo específico em contrário neste Tratado, cada Parte Contratante gozará de todos
os direitos e assumirá todas as obrigações decorrentes deste Tratado.

Artigo 17

Assinatura do Tratado

Este Tratado ficará aberto para assinatura na Conferência Diplomática de Marraqueche, e, depois disso,
na sede da OMPI, por qualquer parte que reúna as condições para tal fim, durante um ano após sua adoção.

Artigo 18

Entrada em Vigor do Tratado


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 302

Este Tratado entrará em vigor três meses após 20 partes que reúnam as condições referidas no Artigo 15
tenham depositado seus instrumentos de ratificação ou adesão.

Artigo 19

Data da Produção de Efeitos das Obrigações do Tratado

O presente Tratado produzirá efeitos:

(a) para as 20 Partes referidas no Artigo 18, a partir da data de entrada em vigor do Tratado;
(b) para qualquer outra Parte referida no Artigo 15, a partir do término do prazo de três meses contados
da data em que tenha sido feito o depósito do instrumento de ratificação ou adesão junto ao Diretor-Geral da
OMPI;

Artigo 20

Denúncia do Tratado

Qualquer Parte Contratante poderá denunciar o presente Tratado mediante notificação dirigida ao Diretor-
Geral da OMPI. A denúncia produzirá efeitos após um ano da data em que o Diretor-Geral da OMPI tenha
recebido a notificação.

Artigo 21

Línguas do Tratado

(1) O presente tratado é assinado em um único exemplar original nas línguas inglesa, árabe, chinesa,
francesa, russa e espanhola, sendo todas elas igualmente autênticas.

(2) A pedido de uma parte interessada, o Diretor-Geral da OMPI estabelecerá um texto oficial em qualquer
outra língua não referida no Artigo 21(1), após consulta com todas as partes interessadas. Para efeitos do
disposto neste parágrafo, por “parte interessada” se entende qualquer Estado Membro da OMPI cuja língua
oficial, ou uma das línguas oficiais, esteja implicada e a União Europeia, bem como qualquer outra organização
intergovernamental que possa se tornar Parte do presente Tratado, se estiver implicada uma de suas línguas
oficiais.

Artigo 22

Depositário

O Diretor-Geral da OMPI é o depositário do presente Tratado.

Feito em Marraqueche, no dia 27 de Junho de 2013.

Notas de rodapé

1 Declaração acordada relativa ao Artigo 2º(a): Para os efeitos do presente Tratado, fica entendido que nesta
definição se encontram compreendidas as obras em formato áudio, como os audiolivros.

2 Declaração acordada relativa ao Artigo 2º(c): Para os efeitos do presente Tratado, fica entendido que
“entidades reconhecidas pelo governo” poderá incluir entidades que recebam apoio financeiro do governo para
fornecer aos beneficiários, sem fins lucrativos, educação, formação pedagógica, leitura adaptada ou acesso à
informação.

3 Declaração acordada relativa ao Artigo 3º(b): Nada nessa linguagem implica que “não pode ser corrigida”
requer o uso de todos os procedimentos de diagnóstico e tratamentos médicos possíveis.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 303

4 Declaração acordada relativa ao Artigo 4º(3): Fica entendido que este parágrafo não reduz nem estende o
âmbito de aplicação das limitações e exceções permitidas pela Convenção de Berna no que diz respeito ao
direito de tradução, com referência a pessoas com deficiência visual ou com outras dificuldades para ter acesso
ao texto impresso.

5 Declaração acordada relativa ao Artigo 4º(4): Fica entendido que o requisito da disponibilidade comercial não
prejulga se a limitação ou exceção nos termos deste artigo é ou não consistente com o teste dos três passos.

6 Declaração acordada relativa ao Artigo 5º(1): Fica entendido ainda que nada neste Tratado reduz ou estende
o âmbito de direitos exclusivos sob qualquer outro Tratado.

7 Declaração acordada relativa ao Artigo 5º(2): Fica entendido que, para distribuir ou colocar à disposição
exemplares em formato acessível diretamente a beneficiários em outra Parte Contratante, pode ser apropriado
para uma entidade autorizada aplicar medidas adicionais para confirmar que a pessoa que ela está servindo é
uma pessoa beneficiária e para seguir suas práticas conforme o Artigo 2º(c).

8 Declaração acordada relativa ao Artigo 5º(4)(b): Fica entendido que nada neste Tratado requer ou implica que
uma Parte Contratante adote ou aplique o teste dos três passos além de suas obrigações decorrentes deste
instrumento ou de outros tratados internacionais.

9 Declaração acordada relativa ao Artigo 5º(4)(b): Fica entendido que nada neste Tratado cria quaisquer
obrigações para uma Parte Contratante ratificar ou aceder ao Tratado da OMPI sobre Direito de Autor (WCT)
ou de cumprir quaisquer de seus dispositivos e nada neste Tratado prejudica quaisquer direitos, limitações ou
exceções contidos no Tratado da OMPI sobre Direito de Autor (WCT).

1 0 Declaração acordada relativa ao Artigo 6º: Fica entendido que as Partes Contratantes têm as mesmas
flexibilidades previstas no Artigo 4º na implementação de suas obrigações decorrentes do Artigo 6º.

11 Declaração acordada relativa ao Artigo 7º: Fica entendido que as entidades autorizadas, em diversas
circunstâncias, optam por aplicar medidas tecnológicas na produção, distribuição e colocação à disposição de
exemplares em formato acessível e que nada aqui afeta tais práticas, quando estiverem em conformidade com
a legislação nacional.

1 2 Declaraçãoacordada relativa ao Artigo 9º: Fica entendido que o Artigo 9º não implica um registro obrigatório
para as entidades autorizadas nem constitui uma condição prévia para que as entidades autorizadas exerçam
atividades reconhecidas pelo presente Tratado; confere, contudo, a possibilidade de compartilhamento de
informações para facilitar o intercâmbio transfronteiriço de exemplares em formato acessível.

1 3 Declaraçãoacordada relativa ao Artigo 10(2): Fica entendido que quando uma obra se qualifica como uma
obra nos termos do Artigo 2º(a), incluindo as obras em formato de áudio, as limitações e as exceções previstas
pelo presente Tratado se aplicam mutatis mutandis aos direitos conexos, conforme necessário para fazer o
exemplar em formato acessível, para distribuí-lo e para colocá-lo à disposição dos beneficiários.

BÔNUS - DECRETO Nº 10.882, DE 03 DE DEZEMBRO DE 2021

DECRETO Nº 10.882, DE 3 DE DEZEMBRO DE 2021

Regulamenta o Tratado de Marraqueche para Facilitar o Acesso a Obras Publicadas às Pessoas Cegas, com
Deficiência Visual ou com Outras Dificuldades para Ter Acesso ao Texto Impresso.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe confere o art. 84,caput, incisos
IV e VI, alínea "a", da Constituição,
DECRETA:
Art. 1º Este Decreto regulamenta o Tratado de Marraqueche para Facilitar o Acesso a Obras
Publicadas às Pessoas Cegas, com Deficiência Visual ou com Outras Dificuldades para Ter Acesso ao Texto
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 304

Impresso, promulgado pelo Decreto nº 9.522, de 8 de outubro de 2018, para dispor sobre o processo
administrativo de reconhecimento e de fiscalização de entidades autorizadas a realizarem o intercâmbio
transfronteiriço e a importação de exemplares em formatos acessíveis, e as obrigações relativas a medidas
tecnológicas de proteção, ao respeito à privacidade e à cooperação.
CAPÍTULO I
DAS DEFINIÇÕES
Art. 2º Para fins deste Decreto, considera-se:
I - beneficiário - independentemente de qualquer outra deficiência ou dificuldade, a pessoa:
a) cega;
b) com deficiência visual que não possa ser corrigida ou para quem é impossível realizar a leitura
de material impresso de forma substancialmente equivalente à de uma pessoa sem essa deficiência;
c) com dificuldade de percepção ou de leitura considerada incorrigível, ou para quem é impossível
realizar a leitura de material impresso de forma substancialmente equivalente à de uma pessoa sem essa
dificuldade; ou
d) com deficiência física que torne impossível sustentar ou manipular um livro, focar ou mover os
olhos de forma apropriada à leitura.
II - obra - a obra literária ou artística em forma de texto, de notação ou de ilustrações conexas, que
tenha sido publicada, distribuída, comunicada ou colocada à disposição do público por qualquer meio, inclusive
a fixada em fonogramas, como os audiolivros;
III - exemplar em formato acessível - a reprodução de uma obra em meio ou em formato alternativo
que dê aos beneficiários acesso à obra, inclusive para permitir que a pessoa tenha acesso de maneira
semelhante a uma pessoa sem deficiência visual ou outras dificuldades para ter acesso ao texto impresso; e
IV - entidade autorizada - organização pública ou privada sem fins lucrativos, reconhecida pela
administração pública federal para, de acordo com as limitações previstas no Tratado de Marraqueche:
a) produzir e disponibilizar aos beneficiários exemplares de obras em formatos acessíveis; e
b) obter ou ter acesso a obras em formatos acessíveis, por meio de outras entidades autorizadas,
sem a necessidade de autorização ou de remuneração ao autor ou ao titular da obra.
§ 1º Até a implementação da avaliação biopsicossocial de que trata o § 1º do art. 2º da Lei nº 13.146,
de 6 de julho de 2015, a comprovação das deficiências ou dificuldades previstas no inciso I do caput poderá
ser realizada por meio de:
a) laudo assinado por profissional habilitado em área de conhecimento relevante para a
caracterização da deficiência; ou
b) avaliação psicopedagógica realizada por profissionais ou equipes da escola ou do sistema de
ensino, quando aplicável.
§ 2º O exemplar em formato acessível de que trata o inciso III do caput será utilizado
exclusivamente por beneficiários e observará a integridade da obra original, consideradas as alterações
necessárias para tornar a obra acessível no formato alternativo e as necessidades de acessibilidade dos
beneficiários.
§ 3º As entidades autorizadas de que trata o inciso IV do caput, como bibliotecas, arquivos, museus,
estabelecimentos de ensino, instituições de assistência social, instituições representativas das pessoas com
deficiência, e outras organizações, atuam em benefício da sociedade e desempenham, dentre suas obrigações
institucionais ou atividades, serviços nas áreas de
I - educação;
II - formação pedagógica;
III - leitura adaptada; ou
IV - acesso à informação.
CAPÍTULO II
DO EXERCÍCIO DA ATIVIDADE DE INTERCÂMBIO TRANSFRONTEIRIÇO
E DA IMPORTAÇÃO DE EXEMPLARES EM FORMATOS ACESSÍVEIS
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 305

Art. 3º Os exemplares em formatos acessíveis, produzidos nos termos do disposto no Capítulo IV


do Título III da Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, poderão ser distribuídos, comunicados ou colocados
à disposição dos beneficiários ou das entidades autorizadas situadas em outra Parte Contratante do Tratado
de Marraqueche.
Art. 4º As entidades autorizadas ou os beneficiários poderão importar exemplares em formatos
acessíveis sem a necessidade de autorização do titular do direito autoral sobre a obra, desde que para proveito
exclusivo dos referidos beneficiários.
CAPÍTULO III
DO PROCESSO ADMINISTRATIVO DE RECONHECIMENTO DE ENTIDADES AUTORIZADAS
Art. 5º O intercâmbio transfronteiriço e a importação de exemplares em formato acessível nos
termos do disposto no Capítulo II deste Decreto, e no § 1º do art. 5º e art. 6º do Tratado de Marraqueche,
dependem da edição de ato administrativo de reconhecimento ou de renovação de reconhecimento de
entidades autorizadas, pelo Ministro de Estado da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
Art. 6º No processo administrativo de reconhecimento, as entidades demonstrarão:
I - a prestação de serviços em favor dos beneficiários, sem fins lucrativos, nas áreas de que tratam
os incisos de I a IV do § 3º do art. 2º; e
II - a capacidade técnica para estabelecer e aplicar medidas para:
a) verificar se as pessoas atendidas são beneficiárias;
b) limitar aos beneficiários ou a outras entidades autorizadas a distribuição e a disponibilização de
exemplares em formatos acessíveis;
c) desencorajar a reprodução, a distribuição e a disponibilização de exemplares não autorizados; e
d) zelar pelo uso dos exemplares das obras e manter os registros deste uso, observada a
privacidade dos beneficiários, nos termos do disposto na Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018; e
III - que estão legalmente constituídas e em funcionamento regular por, no mínimo, doze meses,
imediatamente anteriores à data de apresentação do requerimento.
§ 1º Os atos administrativos de reconhecimento e as suas renovações terão o prazo de cinco anos,
contado da data de publicação da decisão de deferimento, no Diário Oficial da União.
§ 2º O período de que trata o inciso III docaputpoderá ser reduzido na hipótese de necessidade
atestada pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
§ 3º A entidade protocolará pedido de renovação com antecedência mínima de seis meses do prazo
de validade do ato administrativo de reconhecimento e deverá demonstrar a manutenção dos requisitos
previstos nocaput.
§ 4º A não renovação do ato administrativo de reconhecimento impossibilitará o exercício das
atividades previstas no Capítulo II deste Decreto.
§ 5º Na hipótese de não apreciação do pedido de reconhecimento ou de renovação pela
administração pública federal, o reconhecimento será prorrogado automaticamente até a publicação da
decisão.
Art. 7º Ao protocolar o pedido de reconhecimento, a entidade requerente assinará Termo de
Conduta em que se comprometerá a cumprir o disposto no inciso II do art. 6º e a:
I - manter registro de exemplares em formatos acessíveis constantes em seu catálogo, incluída a
descrição das principais características dos formatos disponíveis; e
II - fornecer ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos e, mediante solicitação, a
outras entidades autorizadas, beneficiários ou titulares de direitos autorais, a relação de exemplares disponíveis
em formatos acessíveis e os dados das entidades autorizadas com as quais tenham realizado o intercâmbio
desses exemplares.
Parágrafo único. A entidade autorizada atenderá às exigências previstas neste Capítulo durante
todo o período de validade da autorização, sob pena de cancelamento do reconhecimento.
Art. 8º Os pedidos de reconhecimento e de sua renovação serão protocolados no Ministério da
Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, acompanhados dos documentos obrigatórios de que tratam os art.
6º e art. 7º.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 306

Parágrafo único. O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos disporá sobre a forma
e o prazo de apresentação dos pedidos a que se refere ocaput, e os demais procedimentos relativos aos
processos administrativos.
Art. 9º Recebido o pedido de reconhecimento, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos
Humanos publicará extrato do requerimento no Diário Oficial da União, para vista e manifestação da sociedade
no prazo de quinze dias.
Parágrafo único. A decisão sobre o pedido de reconhecimento ou de sua renovação será publicada
no Diário Oficial da União e no sítio eletrônico do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, sem
prejuízo de comunicação às entidades, por escrito ou em meio eletrônico.
Art. 10. Caberá recurso da decisão que indeferir o pedido de reconhecimento ou de renovação, no
prazo de trinta dias, contado da data de sua publicação.
§ 1º O recurso será dirigido à autoridade que proferiu a decisão, que poderá:
I - reconsiderar a decisão no prazo de dez dias; ou
II - encaminhar ao Ministro de Estado da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos para
julgamento.
§ 2º Não será conhecido o recurso protocolado fora do prazo previsto nocaput.
CAPÍTULO IV
DA SUPERVISÃO DE ENTIDADES AUTORIZADAS E DO CANCELAMENTO
DO RECONHECIMENTO
Art. 11. O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos fiscalizará as atividades das
entidades autorizadas, de acordo com o disposto no inciso IV docaputdo art. 2º, e poderá atuar, a qualquer
tempo, de ofício ou a partir do recebimento de representação.
§ 1º É dever das entidades autorizadas atenderem, no prazo estabelecido, as comunicações do
órgão competente, em especial quando motivadas por apurações sobre o cumprimento de suas obrigações
legais, sob pena de revogação do reconhecimento como entidade autorizada.
§ 2º A representação de que trata ocaputconterá:
I - a qualificação do representante;
II - a descrição clara e precisa dos fatos a serem apurados;
III - a documentação probatória; e
IV - os demais elementos relevantes para o esclarecimento do seu objeto.
§ 3º Não será admitida a representação anônima, exceto por decisão do Ministério da Mulher, da
Família e dos Direitos Humanos, que poderá atribuir tratamento sigiloso à representação cujo autor apresente
fatos e fundamentos que o exponham à situação de vulnerabilidade em face de terceiros.
§ 4º Ato do Ministro de Estado da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos disporá sobre os
procedimentos de fiscalização previstos nocaput.
Art. 12. Serão consideradas irregularidades administrativas, passíveis de aplicação de penalidade,
nos termos do disposto neste Decreto, as seguintes condutas:
I - descumprir o disposto nos art. 6º e art. 7º;
II - exercer a atividade de intercâmbio transfronteiriço ou de importação de exemplares em formato
acessível em desacordo com o disposto no Capítulo II;
III - tratar beneficiários de forma desigual ou discriminatória;
IV - impedir, obstruir ou dificultar, de qualquer forma ou a qualquer pretexto, o acesso a exemplares
em formatos acessíveis às pessoas que tenham comprovado sua qualidade de beneficiárias;
V - cobrar valores abusivos ou desproporcionais ao custo efetivo das atividades relacionadas à
produção, ao intercâmbio transfronteiriço e à importação de exemplares em formato acessível; e
VI - negar o acesso ou não garantir a publicidade e a transparência das informações previstas nos
art. 17 e art. 18.
Art. 13. A prática de infração administrativa sujeitará as entidades à sanção de cancelamento do
reconhecimento.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 307

Parágrafo único. A apuração da infração e a imposição da sanção se dará por meio de instauração
de processo administrativo em que sejam assegurados o contraditório e a ampla defesa, nos termos do ato a
ser editado pelo Ministro de Estado da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
Art. 14. O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos dará ciência da abertura do
procedimento à entidade, que poderá se manifestar, no prazo de quinze dias, por meio da apresentação de
documentação comprobatória, pela insubsistência da irregularidade ou requerer a concessão de prazo para
saneamento.
Art. 15. Após análise, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos poderá:
I - determinar as medidas corretivas e os prazos de atendimento, na hipótese de identificação de
irregularidades ou vícios sanáveis;
II - cancelar o reconhecimento da entidade na hipótese de identificação de irregularidades ou vícios
insanáveis ou de não atendimento dos prazos a que se refere o inciso I docaput; ou
III - arquivar o procedimento, na hipótese de não serem confirmadas as irregularidades apontadas
no ato de instauração do processo administrativo ou na representação, ou, ainda, nas hipóteses previstas
no art. 52 da Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999.
§ 1º A não apresentação de defesa ou o abandono do processo administrativo não suspende o seu
curso e não impede a aplicação da sanção prevista no inciso II docaput.
§ 2º Aplica-se o disposto no art. 10 ao recurso contra a decisão prevista neste artigo.
CAPÍTULO V
DOS GRUPOS DE TRABALHO
Art. 16. O Ministério do Turismo ou o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos
poderão criar Grupos de Trabalho para esclarecimento de temas ou formulação de proposição relacionados ao
aperfeiçoamento das atividades regulamentadas neste Decreto, observado o disposto no Decreto nº 9.759, de
11 de abril de 2019.
CAPÍTULO VI
DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 17. Caberá às entidades autorizadas manter e atualizar os registros:
I - dos exemplares disponíveis em formatos acessíveis;
II - dos beneficiários; e
III - das atividades relacionadas ao cumprimento do Tratado de Marraqueche.
§ 1º As entidades autorizadas deverão se prevenir contra o falseamento de dados e as fraudes, e
assumir, para todos os efeitos, a responsabilidade pelos dados cadastrados.
§ 2º O Ministério do Turismo ou o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos poderão
solicitar acesso às informações previstas nocaput.
Art. 18. Cabe às entidades autorizadas adotar medidas de publicidade e de transparência às suas
atividades, incluída a divulgação, em seus sítios eletrônicos, das informações consolidadas sobre os
exemplares disponíveis em formatos acessíveis, com a indicação, no mínimo:
I - da quantidade de exemplares;
II - dos formatos acessíveis disponíveis;
III - da autoria e da titularidade das obras;
IV - do ano de publicação; e
V - da especificação do suporte.
§ 1º Para o cumprimento da obrigação prevista nocaput, as entidades observarão o disposto no art.
63 da Lei nº 13.146, de 2015.
§ 2º O Ministério do Turismo ou o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos poderão
disponibilizar, em seus sítios eletrônicos, com o objetivo de centralizar as informações existentes no País, as
relações:
I - de exemplares em formatos acessíveis; e
II - de entidades autorizadas.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 308

Art. 19. A utilização dos dispositivos técnicos e dos sinais codificados de que tratam os incisos I e II
docaputdo art. 107 da Lei nº 9.610, de 1998, não poderá constituir obstáculo à fruição e ao exercício das
limitações dispostas no Capítulo IV do Título III da referida Lei ou no Tratado de Marraqueche.
Art. 20. O disposto neste Decreto será interpretado com o objetivo de garantir a completa e a efetiva
participação e inclusão das pessoas com deficiência na sociedade, em conformidade com as diretrizes
constantes na Lei nº 13.146, de 2015.
Art. 21. Os direitos e as obrigações previstos neste Decreto não excluem os estabelecidos em outros
atos normativos, inclusive em pactos, tratados, convenções e declarações internacionais aprovados e
promulgados pelo Congresso Nacional, e serão aplicados da forma mais favorável aos beneficiários de que
tratam as alíneas de "a" a "d" do inciso I do caput do art. 2º.
Art. 22. As informações pessoais disponibilizadas ao Ministério do Turismo ou ao Ministério da
Mulher, da Família e dos Direitos Humanos terão seu acesso restrito, de acordo com o disposto no art. 31 da
Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011.
Art. 23. O processo administrativo previsto neste Decreto observará o disposto na Lei nº 9.784, de
1999.
Art. 24. Este Decreto entra em vigor em 3 de janeiro de 2022.
Brasília, 3 de dezembro de 2021; 200º da Independência e 133º da República.

JAIR MESSIAS BOLSONARO


Marcos José Pereira
Damares Regina Alves
Este conteúdo não substitui o publicado na versão certificada.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 309

2.19 CONVENÇÃO INTERAMERICANA CONTRA O RACISMO, A DISCRIMINAÇÃO


RACIAL E FORMAS CORRELATAS DE INTOLERÂNCIA – 2013 (DECRETO Nº
10.932/2022)

DECRETO Nº 10.932, DE 10 DE JANEIRO DE 2022

Promulga a Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação Racial e Formas Correlatas de Intolerância, firmado pela
República Federativa do Brasil, na Guatemala, em 5 de junho de 2013.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, caput, inciso IV,
da Constituição, e
Considerando que a República Federativa do Brasil firmou a Convenção Interamericana contra o
Racismo, a Discriminação Racial e Formas Correlatas de Intolerância, na Guatemala, em 5 de junho de 2013;
Considerando que o Congresso Nacional aprovou a Convenção, por meio do Decreto Legislativo nº
1, de 18 de fevereiro de 2021, conforme o procedimento de que trata o § 3º do art. 5º da Constituição
Considerando que o Governo brasileiro depositou, junto à Secretaria-Geral da Organização dos
Estados Americanos, em 28 de maio de 2021, o instrumento de ratificação à Convenção e que esta entrou em
vigor para a República Federativa do Brasil, no plano jurídico externo, em 27 de junho de 2021;
DECRETA:
Art. 1º Fica promulgada a Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação Racial e
Formas Correlatas de Intolerância, firmada na 43ª Sessão Ordinária da Assembleia Geral da Organização dos
Estados Americanos, na Guatemala, em 5 de junho de 2013, anexa a este Decreto.
Art. 2º São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional atos que possam resultar em revisão da
Convenção e ajustes complementares que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio
nacional, nos termos do inciso I do caput do art. 49 da Constituição.
Art. 3º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 10 de janeiro de 2022; 201º da Independência e 134º da República.

JAIR MESSIAS BOLSONARO


Carlos Alberto Franco França

CONVENÇÃO INTERAMERICANA CONTRA O RACISMO, A DISCRIMINAÇÃO RACIAL E


FORMAS CORRELATAS DE INTOLERÂNCIA

OS ESTADOS PARTES NESTA CONVENÇÃO,


CONSIDERANDO que a dignidade inerente e a igualdade de todos os membros da família humana
são princípios básicos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, da Declaração Americana dos Direitos
e Deveres do Homem, da Convenção Americana sobre Direitos Humanos e da Convenção Internacional sobre
a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial;
REAFIRMANDO o firme compromisso dos Estados membros da Organização dos Estados
Americanos com a erradicação total e incondicional do racismo, da discriminação racial e de todas as formas
de intolerância, e sua convicção de que essas atitudes discriminatórias representam a negação dos valores
universais e dos direitos inalienáveis e invioláveis da pessoa humana e dos propósitos e princípios consagrados
na Carta da Organização dos Estados Americanos, na Declaração Americana dos Direitos e Deveres do
Homem, na Convenção Americana sobre Direitos Humanos, na Carta Social das Américas, na Carta
Democrática Interamericana, na Declaração Universal dos Direitos Humanos, na Convenção Internacional
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 310

sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial e na Declaração Universal sobre o Genoma
Humano e os Direitos Humanos;
RECONHECENDO o dever de se adotarem medidas nacionais e regionais para promover e
incentivar o respeito e a observância dos direitos humanos e das liberdades fundamentais de todos os
indivíduos e grupos sujeitos a sua jurisdição, sem distinção de raça, cor, ascendência ou origem nacional ou
étnica;
CONVENCIDOS de que os princípios da igualdade e da não discriminação entre os seres humanos
são conceitos democráticos dinâmicos que propiciam a promoção da igualdade jurídica efetiva e pressupõem
uma obrigação por parte do Estado de adotar medidas especiais para proteger os direitos de indivíduos ou
grupos que sejam vítimas da discriminação racial em qualquer esfera de atividade, seja pública ou privada, com
vistas a promover condições equitativas para a igualdade de oportunidades, bem como combater a
discriminação racial em todas as suas manifestações individuais, estruturais e institucionais;
CONSCIENTES de que o fenômeno do racismo demonstra uma capacidade dinâmica de renovação
que lhe permite assumir novas formas pelas quais se dissemina e se expressa política, social, cultural e
linguisticamente;
LEVANDO EM CONTA que as vítimas do racismo, da discriminação racial e de outras formas
correlatas de intolerância nas Américas são, entre outras, afrodescendentes, povos indígenas, bem como
outros grupos e minorias raciais e étnicas ou grupos que por sua ascendência ou origem nacional ou étnica
são afetados por essas manifestações;
CONVENCIDOS de que determinadas pessoas e grupos vivenciam formas múltiplas ou extremas
de racismo, discriminação e intolerância, motivadas por uma combinação de fatores como raça, cor,
ascendência, origem nacional ou étnica, ou outros reconhecidos em instrumentos internacionais;
LEVANDO EM CONTA que uma sociedade pluralista e democrática deve respeitar a raça, cor,
ascendência e origem nacional ou étnica de toda pessoa, pertencente ou não a uma minoria, bem como criar
condições adequadas que lhe possibilitem expressar, preservar e desenvolver sua identidade;
CONSIDERANDO que a experiência individual e coletiva de discriminação deve ser levada em
conta para combater a exclusão e a marginalização com base em raça, grupo étnico ou nacionalidade e para
proteger o projeto de vida de indivíduos e comunidades em risco de exclusão e marginalização;
ALARMADOS com o aumento dos crimes de ódio motivados por raça, cor, ascendência e origem
nacional ou étnica;
RESSALTANDO o papel fundamental da educação na promoção do respeito aos direitos humanos,
da igualdade, da não discriminação e da tolerância; e
TENDO PRESENTE que, embora o combate ao racismo e à discriminação racial tenha sido
priorizado em um instrumento internacional anterior, a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas
as Formas de Discriminação Racial, de 1965, os direitos nela consagrados devem ser reafirmados,
desenvolvidos, aperfeiçoados e protegidos, a fim de que se consolide nas Américas o conteúdo democrático
dos princípios da igualdade jurídica e da não discriminação,
ACORDAM o seguinte:
CAPÍTULO I
DEFINIÇÕES
Artigo 1
Para os efeitos desta Convenção:
1. Discriminação racial é qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência, em qualquer área
da vida pública ou privada, cujo propósito ou efeito seja anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou
exercício, em condições de igualdade, de um ou mais direitos humanos e liberdades fundamentais consagrados
nos instrumentos internacionais aplicáveis aos Estados Partes. A discriminação racial pode basear-se em raça,
cor, ascendência ou origem nacional ou étnica.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 311

2. Discriminação racial indireta é aquela que ocorre, em qualquer esfera da vida pública ou privada,
quando um dispositivo, prática ou critério aparentemente neutro tem a capacidade de acarretar uma
desvantagem particular para pessoas pertencentes a um grupo específico, com base nas razões estabelecidas
no Artigo 1.1, ou as coloca em desvantagem, a menos que esse dispositivo, prática ou critério tenha um objetivo
ou justificativa razoável e legítima à luz do Direito Internacional dos Direitos Humanos.
3. Discriminação múltipla ou agravada é qualquer preferência, distinção, exclusão ou restrição
baseada, de modo concomitante, em dois ou mais critérios dispostos no Artigo 1.1, ou outros reconhecidos em
instrumentos internacionais, cujo objetivo ou resultado seja anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou
exercício, em condições de igualdade, de um ou mais direitos humanos e liberdades fundamentais consagrados
nos instrumentos internacionais aplicáveis aos Estados Partes, em qualquer área da vida pública ou privada.
4. Racismo consiste em qualquer teoria, doutrina, ideologia ou conjunto de ideias que enunciam um
vínculo causal entre as características fenotípicas ou genotípicas de indivíduos ou grupos e seus traços
intelectuais, culturais e de personalidade, inclusive o falso conceito de superioridade racial. O racismo ocasiona
desigualdades raciais e a noção de que as relações discriminatórias entre grupos são moral e cientificamente
justificadas. Toda teoria, doutrina, ideologia e conjunto de ideias racistas descritas neste Artigo são
cientificamente falsas, moralmente censuráveis, socialmente injustas e contrárias aos princípios fundamentais
do Direito Internacional e, portanto, perturbam gravemente a paz e a segurança internacional, sendo, dessa
maneira, condenadas pelos Estados Partes.
5. As medidas especiais ou de ação afirmativa adotadas com a finalidade de assegurar o gozo ou
exercício, em condições de igualdade, de um ou mais direitos humanos e liberdades fundamentais de grupos
que requeiram essa proteção não constituirão discriminação racial, desde que essas medidas não levem à
manutenção de direitos separados para grupos diferentes e não se perpetuem uma vez alcançados seus
objetivos.
6. Intolerância é um ato ou conjunto de atos ou manifestações que denotam desrespeito, rejeição
ou desprezo à dignidade, características, convicções ou opiniões de pessoas por serem diferentes ou
contrárias. Pode manifestar-se como a marginalização e a exclusão de grupos em condições de vulnerabilidade
da participação em qualquer esfera da vida pública ou privada ou como violência contra esses grupos.
CAPÍTULO II
DIREITOS PROTEGIDOS
Artigo 2
Todo ser humano é igual perante a lei e tem direito à igual proteção contra o racismo, a
discriminação racial e formas correlatas de intolerância, em qualquer esfera da vida pública ou privada.
Artigo 3
Todo ser humano tem direito ao reconhecimento, gozo, exercício e proteção, em condições de
igualdade, tanto no plano individual como no coletivo, de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais
consagrados na legislação interna e nos instrumentos internacionais aplicáveis aos Estados Partes.
CAPÍTULO III
DEVERES DO ESTADO
Artigo 4
Os Estados comprometem-se a prevenir, eliminar, proibir e punir, de acordo com suas normas
constitucionais e com as disposições desta Convenção, todos os atos e manifestações de racismo,
discriminação racial e formas correlatas de intolerância, inclusive:
i. apoio público ou privado a atividades racialmente discriminatórias e racistas ou que promovam a
intolerância, incluindo seu financiamento;
ii. publicação, circulação ou difusão, por qualquer forma e/ou meio de comunicação, inclusive a
internet, de qualquer material racista ou racialmente discriminatório que:
a) defenda, promova ou incite o ódio, a discriminação e a intolerância; e
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 312

b) tolere, justifique ou defenda atos que constituam ou tenham constituído genocídio ou crimes
contra a humanidade, conforme definidos pelo Direito Internacional, ou promova ou incite a prática desses atos;
iii. violência motivada por qualquer um dos critérios estabelecidos no Artigo 1.1;
iv. atividade criminosa em que os bens da vítima sejam alvos intencionais, com base em qualquer
um dos critérios estabelecidos no Artigo 1.1;
v. qualquer ação repressiva fundamentada em qualquer dos critérios enunciados no Artigo 1.1, em
vez de basear-se no comportamento da pessoa ou em informações objetivas que identifiquem seu envolvimento
em atividades criminosas;
vi. restrição, de maneira indevida ou não razoável, do exercício dos direitos individuais à
propriedade, administração e disposição de bens de qualquer tipo, com base em qualquer dos critérios
enunciados no Artigo 1.1;
vii. qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência aplicada a pessoas, devido a sua condição
de vítima de discriminação múltipla ou agravada, cujo propósito ou resultado seja negar ou prejudicar o
reconhecimento, gozo, exercício ou proteção, em condições de igualdade, dos direitos e liberdades
fundamentais;
viii. qualquer restrição racialmente discriminatória do gozo dos direitos humanos consagrados nos
instrumentos internacionais e regionais aplicáveis e pela jurisprudência dos tribunais internacionais e regionais
de direitos humanos, especialmente com relação a minorias ou grupos em situação de vulnerabilidade e sujeitos
à discriminação racial;
ix. qualquer restrição ou limitação do uso de idioma, tradições, costumes e cultura das pessoas em
atividades públicas ou privadas;
x. elaboração e implementação de material, métodos ou ferramentas pedagógicas que reproduzam
estereótipos ou preconceitos, com base em qualquer critério estabelecido no Artigo 1.1 desta Convenção;
xi. negação do acesso à educação pública ou privada, bolsas de estudo ou programas de
financiamento educacional, com base em qualquer critério estabelecido no Artigo 1.1 desta Convenção;
xii. negação do acesso a qualquer direito econômico, social e cultural, com base em qualquer critério
estabelecido no Artigo 1.1 desta Convenção;
xiii. realização de pesquisas ou aplicação dos resultados de pesquisas sobre o genoma humano,
especialmente nas áreas da biologia, genética e medicina, com vistas à seleção ou à clonagem humana, que
extrapolem o respeito aos direitos humanos, às liberdades fundamentais e à dignidade humana, gerando
qualquer forma de discriminação fundamentada em características genéticas;
xiv. restrição ou limitação, com base em qualquer dos critérios enunciados no Artigo 1.1 desta
Convenção, do direito de toda pessoa de obter acesso à água, aos recursos naturais, aos ecossistemas, à
biodiversidade e aos serviços ecológicos que constituem o patrimônio natural de cada Estado, protegido pelos
instrumentos internacionais pertinentes e suas próprias legislações nacionais, bem como de usá-los de maneira
sustentável; e
xv. restrição do acesso a locais públicos e locais privados franqueados ao público pelos motivos
enunciados no Artigo 1.1 desta Convenção.
Artigo 5
Os Estados Partes comprometem-se a adotar as políticas especiais e ações afirmativas necessárias
para assegurar o gozo ou exercício dos direitos e liberdades fundamentais das pessoas ou grupos sujeitos ao
racismo, à discriminação racial e formas correlatas de intolerância, com o propósito de promover condições
equitativas para a igualdade de oportunidades, inclusão e progresso para essas pessoas ou grupos. Tais
medidas ou políticas não serão consideradas discriminatórias ou incompatíveis com o propósito ou objeto desta
Convenção, não resultarão na manutenção de direitos separados para grupos distintos e não se estenderão
além de um período razoável ou após terem alcançado seu objetivo.
Artigo 6
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 313

Os Estados Partes comprometem-se a formular e implementar políticas cujo propósito seja


proporcionar tratamento equitativo e gerar igualdade de oportunidades para todas as pessoas, em
conformidade com o alcance desta Convenção; entre elas políticas de caráter educacional, medidas
trabalhistas ou sociais, ou qualquer outro tipo de política promocional, e a divulgação da legislação sobre o
assunto por todos os meios possíveis, inclusive pelos meios de comunicação de massa e pela internet.
Artigo 7
Os Estados Partes comprometem-se a adotar legislação que defina e proíba expressamente o
racismo, a discriminação racial e formas correlatas de intolerância, aplicável a todas as autoridades públicas,
e a todos os indivíduos ou pessoas físicas e jurídicas, tanto no setor público como no privado, especialmente
nas áreas de emprego, participação em organizações profissionais, educação, capacitação, moradia, saúde,
proteção social, exercício de atividade econômica e acesso a serviços públicos, entre outras, bem como revogar
ou reformar toda legislação que constitua ou produza racismo, discriminação racial e formas correlatas de
intolerância.
Artigo 8
Os Estados Partes comprometem-se a garantir que a adoção de medidas de qualquer natureza,
inclusive aquelas em matéria de segurança, não discrimine direta ou indiretamente pessoas ou grupos com
base em qualquer critério mencionado no Artigo 1.1 desta Convenção.
Artigo 9
Os Estados Partes comprometem-se a garantir que seus sistemas políticos e jurídicos reflitam
adequadamente a diversidade de suas sociedades, a fim de atender às necessidades legítimas de todos os
setores da população, de acordo com o alcance desta Convenção.
Artigo 10
Os Estados Partes comprometem-se a garantir às vítimas do racismo, discriminação racial e formas
correlatas de intolerância um tratamento equitativo e não discriminatório, acesso igualitário ao sistema de
justiça, processo ágeis e eficazes e reparação justa nos âmbitos civil e criminal, conforme pertinente.
Artigo 11
Os Estados Partes comprometem-se a considerar agravantes os atos que resultem em
discriminação múltipla ou atos de intolerância, ou seja, qualquer distinção, exclusão ou restrição baseada em
dois ou mais critérios enunciados nos Artigos 1.1 e 1.3 desta Convenção.
Artigo 12
Os Estados Partes comprometem-se a realizar pesquisas sobre a natureza, as causas e as
manifestações do racismo, da discriminação racial e formas correlatas de intolerância em seus respectivos
países, em âmbito local, regional e nacional, bem como coletar, compilar e divulgar dados sobre a situação de
grupos ou indivíduos que sejam vítimas do racismo, da discriminação racial e formas correlatas de intolerância.
Artigo 13
Os Estados Partes comprometem-se a estabelecer ou designar, de acordo com sua legislação
interna, uma instituição nacional que será responsável por monitorar o cumprimento desta Convenção, devendo
informar essa instituição à Secretaria-Geral da OEA.
Artigo 14
Os Estados Partes comprometem-se a promover a cooperação internacional com vistas ao
intercâmbio de ideias e experiências, bem como a executar programas voltados à realização dos objetivos
desta Convenção.
CAPÍTULO IV
MECANISMOS DE PROTEÇÃO E ACOMPANHAMENTO DA CONVENÇÃO
Artigo 15
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 314

A fim de monitorar a implementação dos compromissos assumidos pelos Estados Partes na


Convenção:
i. qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade não governamental juridicamente reconhecida
em um ou mais Estados membros da Organização dos Estados Americanos, pode apresentar à Comissão
Interamericana de Direitos Humanos petições que contenham denúncias ou queixas de violação desta
Convenção por um Estado Parte. Além disso, qualquer Estado Parte pode, quando do depósito de seu
instrumento de ratificação desta Convenção ou de adesão a ela, ou em qualquer momento posterior, declarar
que reconhece a competência da Comissão para receber e examinar as comunicações em que um Estado
Parte alegue que outro Estado Parte incorreu em violações dos direitos humanos dispostas nesta Convenção.
Nesse caso, serão aplicáveis todas as normas de procedimento pertinentes constantes da Convenção
Americana sobre Direitos Humanos assim como o Estatuto e o Regulamento da Comissão;
ii. os Estados Partes poderão consultar a Comissão sobre questões relacionadas com a aplicação
efetiva desta Convenção. Poderão também solicitar à Comissão assessoria e cooperação técnica para
assegurar a aplicação efetiva de qualquer disposição desta Convenção. A Comissão, na medida de sua
capacidade, proporcionará aos Estados Partes os serviços de assessoria e assistência solicitados;
iii. qualquer Estado Parte poderá, ao depositar seu instrumento de ratificação desta Convenção ou
de adesão a ela, ou em qualquer momento posterior, declarar que reconhece como obrigatória, de pleno direito,
e sem acordo especial, a competência da Corte Interamericana de Direitos Humanos em todas as matérias
referentes à interpretação ou aplicação desta Convenção. Nesse caso, serão aplicáveis todas as normas de
procedimento pertinentes constantes da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, bem como o Estatuto
e o Regulamento da Corte;
iv. será estabelecido um Comitê Interamericano para a Prevenção e Eliminação do Racismo,
Discriminação Racial e Todas as Formas de Discriminação e Intolerância, o qual será constituído por um perito
nomeado por cada Estado Parte, que exercerá suas funções de maneira independente e cuja tarefa será
monitorar os compromissos assumidos nesta Convenção. O Comitê também será responsável por monitorar
os compromissos assumidos pelos Estados que são partes na Convenção Interamericana contra Toda Forma
de Discriminação e Intolerância. O Comitê será criado quando a primeira das Convenções entrar em vigor, e
sua primeira reunião será convocada pela Secretaria-Geral da OEA uma vez recebido o décimo instrumento
de ratificação de qualquer das Convenções. A primeira reunião do Comitê será realizada na sede da
Organização, três meses após sua convocação, para declará-lo constituído, aprovar seu Regulamento e
metodologia de trabalho e eleger suas autoridades. Essa reunião será presidida pelo representante do país
que depositar o primeiro instrumento de ratificação da Convenção que estabelecer o Comitê; e
v. o Comitê será o foro para intercambiar ideias e experiências, bem como examinar o progresso
alcançado pelos Estados Partes na implementação desta Convenção, e qualquer circunstância ou dificuldade
que afete seu cumprimento em alguma medida. O referido Comitê poderá recomendar aos Estados Partes que
adotem as medidas apropriadas. Com esse propósito, os Estados Partes comprometem-se a apresentar um
relatório ao Comitê, transcorrido um ano da realização da primeira reunião, com o cumprimento das obrigações
constantes desta Convenção. Dos relatórios que os Estados Partes apresentarem ao Comitê também
constarão dados e estatísticas desagregados sobre os grupos vulneráveis. Posteriormente, os Estados Partes
apresentarão relatórios a cada quatro anos. A Secretaria-Geral da OEA proporcionará ao Comitê o apoio
necessário para o cumprimento de suas funções.
CAPÍTULO V
DISPOSIÇÕES GERAIS
Artigo 16
Interpretação
1. Nenhuma disposição desta Convenção será interpretada no sentido de restringir ou limitar a
legislação interna de um Estado Parte que ofereça proteção e garantias iguais ou superiores às estabelecidas
nesta Convenção.
2. Nenhuma disposição desta Convenção será interpretada no sentido de restringir ou limitar as
convenções internacionais sobre direitos humanos que ofereçam proteção igual ou superior nessa matéria.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 315

Artigo 17
Depósito
O instrumento original desta Convenção, cujos textos em espanhol, francês, inglês e português são
igualmente autênticos, será depositado na Secretaria-Geral da Organização dos Estados Americanos.
Artigo 18
Assinatura e ratificação
1. Esta Convenção está aberta à assinatura e ratificação por parte de todos os Estados membros
da Organização dos Estados Americanos. Uma vez em vigor, esta Convenção será aberta à adesão de todos
os Estados que não a tenham assinado.
2. Esta Convenção está sujeita à ratificação pelos Estados signatários de acordo com seus
respectivos procedimentos constitucionais. Os instrumentos de ratificação ou adesão serão depositados na
Secretaria-Geral da Organização dos Estados Americanos.
Artigo 19
Reservas
Os Estados Partes poderão apresentar reservas a esta Convenção quando da assinatura,
ratificação ou adesão, desde que não sejam incompatíveis com seu objetivo e propósito e se refiram a uma ou
mais disposições específicas.
Artigo 20
Entrada em vigor
1. Esta Convenção entrará em vigor no trigésimo dia a partir da data em que se depositar o segundo
instrumento de ratificação ou de adesão na Secretaria-Geral da Organização dos Estados Americanos.
2. Para cada Estado que ratificar esta Convenção, ou a ela aderir, após o depósito do segundo
instrumento de ratificação ou adesão, a Convenção entrará em vigor no trigésimo dia a partir da data em que
tal Estado tenha depositado o respectivo instrumento.
Artigo 21
Denúncia
Esta Convenção permanecerá em vigor indefinidamente, mas qualquer Estado Parte poderá
denunciá-la mediante notificação por escrito dirigida ao Secretário-Geral da Organização dos Estados
Americanos. Os efeitos da Convenção cessarão para o Estado que a denunciar um ano após a data de depósito
do instrumento de denúncia, permanecendo em vigor para os demais Estados Partes. A denúncia não eximirá
o Estado Parte das obrigações a ele impostas por esta Convenção com relação a toda ação ou omissão anterior
à data em que a denúncia produziu efeito.
Artigo 22
Protocolos adicionais
Qualquer Estado Parte poderá submeter à consideração dos Estados Partes reunidos em
Assembleia Geral projetos de protocolos adicionais a esta Convenção, com a finalidade de incluir gradualmente
outros direitos em seu regime de proteção. Cada protocolo determinará a maneira de sua entrada em vigor e
se aplicará somente aos Estados que nele sejam partes.
Este conteúdo não substitui o publicado na versão certificada.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 316

3. PROTOCOLO ADICIONAL À CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS CONTRA O


CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL32 RELATIVO À PREVENÇÃO,
REPRESSÃO E PUNIÇÃO DO TRÁFICO DE PESSOAS, EM ESPECIAL
MULHERES E CRIANÇAS - 2000 (DECRETO Nº 5017/2004)

DECRETO Nº 5.017, DE 12 DE MARÇO DE 2004.


Promulga o Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção,
Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV, da
Constituição, e

Considerando que o Congresso Nacional aprovou, por meio do Decreto Legislativo no 231, de 29 de maio
de 2003, o texto do Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado
Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e
Crianças, adotado em Nova York em 15 de novembro de 2000;

Considerando que o Governo brasileiro depositou o instrumento de ratificação junto à Secretaria-Geral da


ONU em 29 de janeiro de 2004;

Considerando que o Protocolo entrou em vigor internacional em 29 de setembro de 2003, e entrou em


vigor para o Brasil em 28 de fevereiro de 2004;

DECRETA:

Art. 1o O Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional
Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças, adotado
em Nova York em 15 de novembro de 2000, apenso por cópia ao presente Decreto, será executado e cumprido
tão inteiramente como nele se contém.

Art. 2o São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional quaisquer atos que possam resultar em revisão
do referido Protocolo ou que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional, nos
termos do art. 49, inciso I, da Constituição.

Art. 3o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 12 de março de 2004; 183o da Independência e 116o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA


Samuel Pinheiro Guimarães Neto

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 15.3.2004

PROTOCOLO ADICIONAL À CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS CONTRA O CRIME ORGANIZADO


TRANSNACIONAL RELATIVO À PREVENÇÃO, REPRESSÃO E PUNIÇÃO DO TRÁFICO DE PESSOAS,
EM ESPECIAL MULHERES E CRIANÇAS

32 Convenção de Palermo – Decreto nº 5015/2004. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-


2006/2004/decreto/d5015.htm
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 317

PREÂMBULO

Os Estados Partes deste Protocolo,

Declarando que uma ação eficaz para prevenir e combater o tráfico de pessoas, em especial mulheres e
crianças, exige por parte dos países de origem, de trânsito e de destino uma abordagem global e internacional,
que inclua medidas destinadas a prevenir esse tráfico, punir os traficantes e proteger as vítimas desse tráfico,
designadamente protegendo os seus direitos fundamentais, internacionalmente reconhecidos,

Tendo em conta que, apesar da existência de uma variedade de instrumentos internacionais que contêm
normas e medidas práticas para combater a exploração de pessoas, especialmente mulheres e crianças, não
existe nenhum instrumento universal que trate de todos os aspectos relativos ao tráfico de pessoas,

Preocupados com o fato de na ausência desse instrumento, as pessoas vulneráveis ao tráfico não estarem
suficientemente protegidas,

Recordando a Resolução 53/111 da Assembléia Geral, de 9 de Dezembro de 1998, na qual a Assembléia


decidiu criar um comitê intergovernamental especial, de composição aberta, para elaborar uma convenção
internacional global contra o crime organizado transnacional e examinar a possibilidade de elaborar,
designadamente, um instrumento internacional de luta contra o tráfico de mulheres e de crianças.

Convencidos de que para prevenir e combater esse tipo de criminalidade será útil completar a Convenção das
Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional com um instrumento internacional destinado a
prevenir, reprimir e punir o tráfico de pessoas, em especial mulheres e crianças,

Acordaram o seguinte:

I. Disposições Gerais

Artigo 1

Relação com a Convenção das Nações Unidas

contra o Crime Organizado Transnacional

1. O presente Protocolo completa a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional
e será interpretado em conjunto com a Convenção.

2. As disposições da Convenção aplicar-se-ão mutatis mutandis ao presente Protocolo, salvo se no mesmo se


dispuser o contrário.

3. As infrações estabelecidas em conformidade com o Artigo 5 do presente Protocolo serão consideradas como
infrações estabelecidas em conformidade com a Convenção.

Artigo 2

Objetivo

Os objetivos do presente Protocolo são os seguintes:

a) Prevenir e combater o tráfico de pessoas, prestando uma atenção especial às mulheres e às crianças;

b) Proteger e ajudar as vítimas desse tráfico, respeitando plenamente os seus direitos humanos; e

c) Promover a cooperação entre os Estados Partes de forma a atingir esses objetivos.

Artigo 3

Definições

Para efeitos do presente Protocolo:

a) A expressão "tráfico de pessoas" significa o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o


acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso da força ou a outras formas de coação, ao rapto, à
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 318

fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de


pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para
fins de exploração. A exploração incluirá, no mínimo, a exploração da prostituição de outrem ou outras formas
de exploração sexual, o trabalho ou serviços forçados, escravatura ou práticas similares à escravatura, a
servidão ou a remoção de órgãos;

b) O consentimento dado pela vítima de tráfico de pessoas tendo em vista qualquer tipo de exploração descrito
na alínea a) do presente Artigo será considerado irrelevante se tiver sido utilizado qualquer um dos meios
referidos na alínea a);

c) O recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de uma criança para fins de


exploração serão considerados "tráfico de pessoas" mesmo que não envolvam nenhum dos meios referidos
da alínea a) do presente Artigo;

d) O termo "criança" significa qualquer pessoa com idade inferior a dezoito anos.

Artigo 4

Âmbito de aplicação

O presente Protocolo aplicar-se-á, salvo disposição em contrário, à prevenção, investigação e repressão das
infrações estabelecidas em conformidade com o Artigo 5 do presente Protocolo, quando essas infrações forem
de natureza transnacional e envolverem grupo criminoso organizado, bem como à proteção das vítimas dessas
infrações.

Artigo5

Criminalização

1. Cada Estado Parte adotará as medidas legislativas e outras que considere necessárias de forma a
estabelecer como infrações penais os atos descritos no Artigo 3 do presente Protocolo, quando tenham sido
praticados intencionalmente.

2. Cada Estado Parte adotará igualmente as medidas legislativas e outras que considere necessárias para
estabelecer como infrações penais:

a) Sem prejuízo dos conceitos fundamentais do seu sistema jurídico, a tentativa de cometer uma infração
estabelecida em conformidade com o parágrafo 1 do presente Artigo;

b) A participação como cúmplice numa infração estabelecida em conformidade com o parágrafo 1 do presente
Artigo; e

c) Organizar a prática de uma infração estabelecida em conformidade com o parágrafo 1 do presente Artigo ou
dar instruções a outras pessoas para que a pratiquem.

II. Proteção de vítimas de tráfico de pessoas

Artigo 6

Assistência e proteção às vítimas de tráfico de pessoas

1. Nos casos em que se considere apropriado e na medida em que seja permitido pelo seu direito interno, cada
Estado Parte protegerá a privacidade e a identidade das vítimas de tráfico de pessoas, incluindo, entre outras
(ou inter alia), a confidencialidade dos procedimentos judiciais relativos a esse tráfico.

2. Cada Estado Parte assegurará que o seu sistema jurídico ou administrativo contenha medidas que forneçam
às vítimas de tráfico de pessoas, quando necessário:

a) Informação sobre procedimentos judiciais e administrativos aplicáveis;

b) Assistência para permitir que as suas opiniões e preocupações sejam apresentadas e tomadas em conta em
fases adequadas do processo penal instaurado contra os autores das infrações, sem prejuízo dos direitos da
defesa.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 319

3. Cada Estado Parte terá em consideração a aplicação de medidas que permitam a recuperação física,
psicológica e social das vítimas de tráfico de pessoas, incluindo, se for caso disso, em cooperação com
organizações não-governamentais, outras organizações competentes e outros elementos de sociedade civil e,
em especial, o fornecimento de:

a) Alojamento adequado;

b) Aconselhamento e informação, especialmente quanto aos direitos que a lei lhes reconhece, numa língua que
compreendam;

c) Assistência médica, psicológica e material; e

d) Oportunidades de emprego, educação e formação.

4. Cada Estado Parte terá em conta, ao aplicar as disposições do presente Artigo, a idade, o sexo e as
necessidades específicas das vítimas de tráfico de pessoas, designadamente as necessidades específicas das
crianças, incluindo o alojamento, a educação e cuidados adequados.

5. Cada Estado Parte envidará esforços para garantir a segurança física das vítimas de tráfico de pessoas
enquanto estas se encontrarem no seu território.

6. Cada Estado Parte assegurará que o seu sistema jurídico contenha medidas que ofereçam às vítimas de
tráfico de pessoas a possibilidade de obterem indenização pelos danos sofridos.

Artigo 7

Estatuto das vítimas de tráfico de pessoas nos Estados de acolhimento

1. Além de adotar as medidas em conformidade com o Artigo 6 do presente Protocolo, cada Estado Parte
considerará a possibilidade de adotar medidas legislativas ou outras medidas adequadas que permitam às
vítimas de tráfico de pessoas permanecerem no seu território a título temporário ou permanente, se for caso
disso.

2. Ao executar o disposto no parágrafo 1 do presente Artigo, cada Estado Parte terá devidamente em conta
fatores humanitários e pessoais.

Artigo 8

Repatriamento das vítimas de tráfico de pessoas

1. O Estado Parte do qual a vítima de tráfico de pessoas é nacional ou no qual a pessoa tinha direito de
residência permanente, no momento de entrada no território do Estado Parte de acolhimento, facilitará e
aceitará, sem demora indevida ou injustificada, o regresso dessa pessoa, tendo devidamente em conta a
segurança da mesma.

2. Quando um Estado Parte retornar uma vítima de tráfico de pessoas a um Estado Parte do qual essa pessoa
seja nacional ou no qual tinha direito de residência permanente no momento de entrada no território do Estado
Parte de acolhimento, esse regresso levará devidamente em conta a segurança da pessoa bem como a
situação de qualquer processo judicial relacionado ao fato de tal pessoa ser uma vítima de tráfico,
preferencialmente de forma voluntária.

3. A pedido do Estado Parte de acolhimento, um Estado Parte requerido verificará, sem demora indevida ou
injustificada, se uma vítima de tráfico de pessoas é sua nacional ou se tinha direito de residência permanente
no seu território no momento de entrada no território do Estado Parte de acolhimento.

4. De forma a facilitar o regresso de uma vítima de tráfico de pessoas que não possua os documentos devidos,
o Estado Parte do qual essa pessoa é nacional ou no qual tinha direito de residência permanente no momento
de entrada no território do Estado Parte de acolhimento aceitará emitir, a pedido do Estado Parte de
acolhimento, os documentos de viagem ou outro tipo de autorização necessária que permita à pessoa viajar e
ser readmitida no seu território.

5. O presente Artigo não prejudica os direitos reconhecidos às vítimas de tráfico de pessoas por força de
qualquer disposição do direito interno do Estado Parte de acolhimento.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 320

6.O presente Artigo não prejudica qualquer acordo ou compromisso bilateral ou multilateral aplicável que regule,
no todo ou em parte, o regresso de vítimas de tráfico de pessoas.

III. Prevenção, cooperação e outras medidas

Artigo 9

Prevenção do tráfico de pessoas

1. Os Estados Partes estabelecerão políticas abrangentes, programas e outras medidas para:

a) Prevenir e combater o tráfico de pessoas; e

b) Proteger as vítimas de tráfico de pessoas, especialmente as mulheres e as crianças, de nova vitimação.

2. Os Estados Partes envidarão esforços para tomarem medidas tais como pesquisas, campanhas de
informação e de difusão através dos órgãos de comunicação, bem como iniciativas sociais e econômicas de
forma a prevenir e combater o tráfico de pessoas.

3. As políticas, programas e outras medidas estabelecidas em conformidade com o presente Artigo incluirão,
se necessário, a cooperação com organizações não-governamentais, outras organizações relevantes e outros
elementos da sociedade civil.

4. Os Estados Partes tomarão ou reforçarão as medidas, inclusive mediante a cooperação bilateral ou


multilateral, para reduzir os fatores como a pobreza, o subdesenvolvimento e a desigualdade de oportunidades
que tornam as pessoas, especialmente as mulheres e as crianças, vulneráveis ao tráfico.

5. Os Estados Partes adotarão ou reforçarão as medidas legislativas ou outras, tais como medidas
educacionais, sociais ou culturais, inclusive mediante a cooperação bilateral ou multilateral, a fim de
desencorajar a procura que fomenta todo o tipo de exploração de pessoas, especialmente de mulheres e
crianças, conducentes ao tráfico.

Artigo 10

Intercâmbio de informações e formação

1. As autoridades competentes para a aplicação da lei, os serviços de imigração ou outros serviços


competentes dos Estados Partes, cooperarão entre si, na medida do possível, mediante troca de informações
em conformidade com o respectivo direito interno, com vistas a determinar:

a) Se as pessoas que atravessam ou tentam atravessar uma fronteira internacional com documentos de viagem
pertencentes a terceiros ou sem documentos de viagem são autores ou vítimas de tráfico de pessoas;

b) Os tipos de documentos de viagem que as pessoas têm utilizado ou tentado utilizar para atravessar uma
fronteira internacional com o objetivo de tráfico de pessoas; e

c) Os meios e métodos utilizados por grupos criminosos organizados com o objetivo de tráfico de pessoas,
incluindo o recrutamento e o transporte de vítimas, os itinerários e as ligações entre as pessoas e os grupos
envolvidos no referido tráfico, bem como as medidas adequadas à sua detecção.

2. Os Estados Partes assegurarão ou reforçarão a formação dos agentes dos serviços competentes para a
aplicação da lei, dos serviços de imigração ou de outros serviços competentes na prevenção do tráfico de
pessoas. A formação deve incidir sobre os métodos utilizados na prevenção do referido tráfico, na ação penal
contra os traficantes e na proteção das vítimas, inclusive protegendo-as dos traficantes. A formação deverá
também ter em conta a necessidade de considerar os direitos humanos e os problemas específicos das
mulheres e das crianças bem como encorajar a cooperação com organizações não-governamentais, outras
organizações relevantes e outros elementos da sociedade civil.

3. Um Estado Parte que receba informações respeitará qualquer pedido do Estado Parte que transmitiu essas
informações, no sentido de restringir sua utilização.

Artigo 11

Medidas nas fronteiras


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 321

1. Sem prejuízo dos compromissos internacionais relativos à livre circulação de pessoas, os Estados Partes
reforçarão, na medida do possível, os controles fronteiriços necessários para prevenir e detectar o tráfico de
pessoas.

2. Cada Estado Parte adotará medidas legislativas ou outras medidas apropriadas para prevenir, na medida
do possível, a utilização de meios de transporte explorados por transportadores comerciais na prática de
infrações estabelecidas em conformidade com o Artigo 5 do presente Protocolo.

3. Quando se considere apropriado, e sem prejuízo das convenções internacionais aplicáveis, tais medidas
incluirão o estabelecimento da obrigação para os transportadores comerciais, incluindo qualquer empresa de
transporte, proprietário ou operador de qualquer meio de transporte, de certificar-se de que todos os
passageiros sejam portadores dos documentos de viagem exigidos para a entrada no Estado de acolhimento.

4. Cada Estado Parte tomará as medidas necessárias, em conformidade com o seu direito interno, para aplicar
sanções em caso de descumprimento da obrigação constante do parágrafo 3 do presente Artigo.

5. Cada Estado Parte considerará a possibilidade de tomar medidas que permitam, em conformidade com o
direito interno, recusar a entrada ou anular os vistos de pessoas envolvidas na prática de infrações
estabelecidas em conformidade com o presente Protocolo.

6. Sem prejuízo do disposto no Artigo 27 da Convenção, os Estados Partes procurarão intensificar a cooperação
entre os serviços de controle de fronteiras, mediante, entre outros, o estabelecimento e a manutenção de canais
de comunicação diretos.

Artigo 12

Segurança e controle dos documentos

Cada Estado Parte adotará as medidas necessárias, de acordo com os meios disponíveis para:

a) Assegurar a qualidade dos documentos de viagem ou de identidade que emitir, para que não sejam
indevidamente utilizados nem facilmente falsificados ou modificados, reproduzidos ou emitidos de forma ilícita;
e

b) Assegurar a integridade e a segurança dos documentos de viagem ou de identidade por si ou em seu nome
emitidos e impedir a sua criação, emissão e utilização ilícitas.

Artigo 13

Legitimidade e validade dos documentos

A pedido de outro Estado Parte, um Estado Parte verificará, em conformidade com o seu direito interno e dentro
de um prazo razoável, a legitimidade e validade dos documentos de viagem ou de identidade emitidos ou
supostamente emitidos em seu nome e de que se suspeita terem sido utilizados para o tráfico de pessoas.

IV. Disposições finais

Artigo 14

Cláusula de salvaguarda

1. Nenhuma disposição do presente Protocolo prejudicará os direitos, obrigações e responsabilidades dos


Estados e das pessoas por força do direito internacional, incluindo o direito internacional humanitário e o direito
internacional relativo aos direitos humanos e, especificamente, na medida em que sejam aplicáveis, a
Convenção de 1951 e o Protocolo de 1967 relativos ao Estatuto dos Refugiados e ao princípio do non-
refoulement neles enunciado.

2. As medidas constantes do presente Protocolo serão interpretadas e aplicadas de forma a que as pessoas
que foram vítimas de tráfico não sejam discriminadas. A interpretação e aplicação das referidas medidas
estarão em conformidade com os princípios de não-discriminação internacionalmente reconhecidos.

Artigo 15

Solução de controvérsias
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 322

1. Os Estados Partes envidarão esforços para resolver as controvérsias relativas à interpretação ou aplicação
do presente Protocolo por negociação direta.

2. As controvérsias entre dois ou mais Estados Partes com respeito à aplicação ou à interpretação do presente
Protocolo que não possam ser resolvidas por negociação, dentro de um prazo razoável, serão submetidas, a
pedido de um desses Estados Partes, a arbitragem. Se, no prazo de seis meses após a data do pedido de
arbitragem, esses Estados Partes não chegarem a um acordo sobre a organização da arbitragem, qualquer
desses Estados Partes poderá submeter o diferendo ao Tribunal Internacional de Justiça mediante
requerimento, em conformidade com o Estatuto do Tribunal.

3. Cada Estado Parte pode, no momento da assinatura, da ratificação, da aceitação ou da aprovação do


presente Protocolo ou da adesão ao mesmo, declarar que não se considera vinculado ao parágrafo 2 do
presente Artigo. Os demais Estados Partes não ficarão vinculados ao parágrafo 2 do presente Artigo em
relação a qualquer outro Estado Parte que tenha feito essa reserva.

4. Qualquer Estado Parte que tenha feito uma reserva em conformidade com o parágrafo 3 do presente Artigo
pode, a qualquer momento, retirar essa reserva através de notificação ao Secretário-Geral das Nações
Unidas.

Artigo 16

Assinatura, ratificação, aceitação, aprovação e adesão

1. O presente Protocolo será aberto à assinatura de todos os Estados de 12 a 15 de Dezembro de 2000 em


Palermo, Itália, e, em seguida, na sede da Organização das Nações Unidas em Nova Iorque até 12 de
Dezembro de 2002.

2. O presente Protocolo será igualmente aberto à assinatura de organizações regionais de integração


econômica na condição de que pelo menos um Estado membro dessa organização tenha assinado o presente
Protocolo em conformidade com o parágrafo 1 do presente Artigo.

3. O presente Protocolo está sujeito a ratificação, aceitação ou aprovação. Os instrumentos de ratificação, de


aceitação ou de aprovação serão depositados junto ao Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas.
Uma organização regional de integração econômica pode depositar o seu instrumento de ratificação, de
aceitação ou de aprovação se pelo menos um dos seus Estados membros o tiver feito. Nesse instrumento de
ratificação, de aceitação e de aprovação essa organização declarará o âmbito da sua competência
relativamente às matérias reguladas pelo presente Protocolo. Informará igualmente o depositário de qualquer
modificação relevante do âmbito da sua competência.

4. O presente Protocolo está aberto à adesão de qualquer Estado ou de qualquer organização regional de
integração econômica da qual pelo menos um Estado membro seja Parte do presente Protocolo. Os
instrumentos de adesão serão depositados junto do Secretário-Geral das Nações Unidas. No momento da sua
adesão, uma organização regional de integração econômica declarará o âmbito da sua competência
relativamente às matérias reguladas pelo presente Protocolo. Informará igualmente o depositário de qualquer
modificação relevante do âmbito da sua competência.

Artigo 17

Entrada em vigor

1. O presente Protocolo entrará em vigor no nonagésimo dia seguinte à data do depósito do quadragésimo
instrumento de ratificação, de aceitação, de aprovação ou de adesão mas não antes da entrada em vigor da
Convenção. Para efeitos do presente número, nenhum instrumento depositado por uma organização regional
de integração econômica será somado aos instrumentos depositados por Estados membros dessa
organização.

2. Para cada Estado ou organização regional de integração econômica que ratifique, aceite, aprove ou adira ao
presente Protocolo após o depósito do quadragésimo instrumento pertinente, o presente Protocolo entrará em
vigor no trigésimo dia seguinte à data de depósito desse instrumento por parte do Estado ou organização ou
na data de entrada em vigor do presente Protocolo, em conformidade com o parágrafo 1 do presente Artigo, se
esta for posterior.

Artigo 18
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 323

Emendas

1. Cinco anos após a entrada em vigor do presente Protocolo, um Estado Parte no Protocolo pode propor
emenda e depositar o texto junto do Secretário-Geral das Nações Unidas, que em seguida comunicará a
proposta de emenda aos Estados Partes e à Conferência das Partes na Convenção para analisar a proposta e
tomar uma decisão. Os Estados Partes no presente Protocolo reunidos na Conferência das Partes farão todos
os esforços para chegar a um consenso sobre qualquer emenda. Se todos os esforços para chegar a um
consenso forem esgotados e não se chegar a um acordo, será necessário, em último caso, para que a alteração
seja aprovada, uma maioria de dois terços dos Estados Partes no presente Protocolo, que estejam presentes
e expressem o seu voto na Conferência das Partes.

2. As organizações regionais de integração econômica, em matérias da sua competência, exercerão o seu


direito de voto nos termos do presente Artigo com um número de votos igual ao número dos seus Estados
membros que sejam Partes no presente Protocolo. Essas organizações não exercerão seu direito de voto se
seus Estados membros exercerem o seu e vice-versa.

3. Uma emenda adotada em conformidade com o parágrafo 1 do presente Artigo estará sujeita a ratificação,
aceitação ou aprovação dos Estados Partes.

4. Uma emenda adotada em conformidade com o parágrafo 1 do presente Protocolo entrará em vigor para um
Estado Parte noventa dias após a data do depósito do instrumento de ratificação, de aceitação ou de aprovação
da referida emenda junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas.

5. A entrada em vigor de uma emenda vincula as Partes que manifestaram o seu consentimento em obrigar-se
por essa alteração. Os outros Estados Partes permanecerão vinculados pelas disposições do presente
Protocolo, bem como por qualquer alteração anterior que tenham ratificado, aceito ou aprovado.

Artigo 19

Denúncia

1. Um Estado Parte pode denunciar o presente Protocolo mediante notificação por escrito dirigida ao Secretário-
Geral das Nações Unidas. A denúncia tornar-se-á efetiva um ano após a data de recepção da notificação pelo
Secretário-Geral.

2. Uma organização regional de integração econômica deixará de ser Parte no presente Protocolo quando
todos os seus Estados membros o tiverem denunciado.

Artigo 20

Depositário e idiomas

1. O Secretário-Geral das Nações Unidas é o depositário do presente Protocolo.

2. O original do presente Protocolo, cujos textos em árabe, chinês, espanhol, francês, inglês e russo são
igualmente autênticos, será depositado junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas.

EM FÉ DO QUE, os plenipotenciários abaixo assinados, devidamente autorizados pelos seus respectivos


Governos, assinaram o presente Protocolo.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 324

4. CÓDIGO DE CONDUTA PARA OS FUNCIONÁRIOS RESPONSÁVEIS PELA


APLICAÇÃO DA LEI (RESOLUÇÃO 34/169, DE 17 DE DEZEMBRO DE 1979 -
ONU)

Artigo 1º

Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem sempre cumprir o dever que a lei lhes impõe,
servindo a comunidade e protegendo todas as pessoas contra atos ilegais, em conformidade com o elevado
grau de responsabilidade que a sua profissão requer.

Comentário
O termo "funcionários responsáveis pela aplicação da lei" inclui todos os agentes da lei, quer nomeados, quer
eleitos, que exerçam poderes policiais, especialmente poderes de detenção ou prisão. Nos países onde os
poderes policiais são exercidos por autoridades militares, quer em uniforme, quer não, ou por forças de
segurança do Estado, será entendido que a definição dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei
incluirá os funcionários de tais serviços.

Artigo 2º

No cumprimento do dever, os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem respeitar e proteger a
dignidade humana, manter e apoiar os direitos humanos de todas as pessoas.

Artigo 3º

Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei só podem empregar a força quando estritamente necessária
e na medida exigida para o cumprimento do seu dever.

Comentário
O emprego da força por parte dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei deve ser excepcional. Embora
se admita que estes funcionários, de acordo com as circunstâncias, possam empregar uma força razoável, de
nenhuma maneira ela poderá ser utilizada de forma desproporcional ao legítimo objetivo a ser atingido. O
emprego de armas de fogo é considerado uma medida extrema; devem-se fazer todos os esforços no sentido
de restringir seu uso, especialmente contra crianças. Em geral, armas de fogo só deveriam ser utilizadas
quando um suspeito oferece resistência armada ou, de algum outro modo, põe em risco vidas alheias e medidas
menos drásticas são insuficientes para dominá-lo. Toda vez que uma arma de fogo for disparada, deve-se fazer
imediatamente um relatório às autoridades competentes.

Artigo 4º

Os assuntos de natureza confidencial em poder dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem ser
mantidos confidenciais, a não ser que o cumprimento do dever ou necessidade de justiça estritamente exijam
outro comportamento.

Artigo 5º

Nenhum funcionário responsável pela aplicação da lei pode infligir, instigar ou tolerar qualquer ato de tortura
ou qualquer outro tratamento ou pena cruel, desumano ou degradante, nem nenhum destes funcionários pode
invocar ordens superiores ou circunstâncias excepcionais, tais como o estado de guerra ou uma ameaça de
guerra, ameaça à segurança nacional, instabilidade política interna ou qualquer outra emergência pública, como
justificativa para torturas ou outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 325

Comentário
A Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes define
tortura como: "...qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais são infligidos
intencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de uma terceira pessoa, informações ou confissões; de
castigá-la por ato que ela ou uma terceira pessoa tenha cometido ou seja suspeita de ter cometido; de intimidar
ou coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em discriminação de qualquer
natureza; quando tais dores ou sofrimentos são infligidos por um funcionário público ou outra pessoa no
exercício de funções públicas, ou por sua instigação, ou com o seu consentimento ou aquiescência. Não se
considerará como tortura as dores ou sofrimentos que sejam conseqüência unicamente de sanções legítimas,
ou que sejam inerentes a tais sanções ou dela decorram."

Artigo 6º

Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem garantir a proteção da saúde de todas as pessoas
sob sua guarda e, em especial, devem adotar medidas imediatas para assegurar-lhes cuidados médicos,
sempre que necessário.

Artigo 7º

Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei não devem cometer quaisquer atos de corrupção. Também
devem opor-se vigorosamente e combater todos estes atos.

Comentário
Qualquer ato de corrupção, tal como qualquer outro abuso de autoridade, é incompatível com a profissão dos
funcionários responsáveis pela aplicação da lei. A lei deve ser aplicada com rigor a qualquer funcionário que
cometa um ato de corrupção. Os governos não podem esperar que os cidadãos respeitem as leis se estas
também não foram aplicadas contra os próprios agentes do Estado e dentro dos seus próprios organismos.

Artigo 8º

Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem respeitar a lei e este Código. Devem, também, na
medida das suas possibilidades, evitar e opor-se com rigor a quaisquer violações da lei e deste Código.

Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei que tiverem motivos para acreditar que houve ou que está
para haver uma violação deste Código, devem comunicar o fato aos seus superiores e, se necessário, a outras
autoridades competentes ou órgãos com poderes de revisão e reparação.

Comentário
As disposições contidas neste Código serão observadas sempre que tenham sido incorporadas à legislação
nacional ou à sua prática; caso a legislação ou a prática contiverem disposições mais limitativas do que as
deste Código, devem observar-se essas disposições mais limitativas. Subentende-se que os funcionários
responsáveis pela aplicação da lei não devem sofrer sanções administrativas ou de qualquer outra natureza
pelo fato de terem comunicado que houve, ou que está prestes a haver, uma violação deste Código; como em
alguns países os meios de comunicação social desempenham o papel de examinar denúncias, os funcionários
responsáveis pela aplicação da lei podem levar ao conhecimento da opinião pública, através dos referidos
meios, como último recurso, as violações a este Código. Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei
que cumpram as disposições deste Código merecem o respeito, o total apoio e a colaboração da sociedade,
do organismo de aplicação da lei no qual servem e da comunidade policial.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 326

5. REGRAS DE NELSON MANDELA: REGRAS MÍNIMAS DAS NAÇÕES UNIDAS


PARA O TRATAMENTO DE RECLUSOS - RESOLUÇÃO 70/175, DE 2015 DA
ASSEMBLEIA GERAL DA ONU

RESOLUÇÃO 70/175, DE 2015 DA ASSEMBLEIA GERAL DA ONU

Observação preliminar 1

As regras que a seguir se enunciam não pretendem descrever em pormenor um modelo de sistema prisional.
Procuram unicamente, com base no consenso geral do pensamento atual e nos elementos essenciais dos
sistemas contemporâneos mais adequados, estabelecer o que geralmente se aceita como sendo bons
princípios e práticas no tratamento dos reclusos e na gestão dos estabelecimentos prisionais.

Observação preliminar 2

1. Tendo em conta a grande variedade de condicionalismos legais, sociais, económicos e geográficos em todo
o mundo, é evidente que nem todas as regras podem ser aplicadas em todos os locais e em todos os momentos.
Devem, contudo, servir para estimular esforços constantes com vista a ultrapassar dificuldades práticas na sua
aplicação, na certeza de que representam, no seu conjunto, as condições mínimas aceites como adequadas
pela Organização das Nações Unidas.

2. Por outro lado, as regras abrangem uma área relativamente à qual o pensamento evolui constantemente.
Não visam impedir experiências e práticas, desde que as mesmas sejam compatíveis com os princípios e
tentem incrementar a realização dos objetivos das regras no seu conjunto. Dentro deste espírito, a
administração prisional central poderá sempre justificar uma autorização de afastamento das regras.

Observação preliminar 3

1. A primeira parte das regras trata de matérias relativas à administração geral dos estabelecimentos prisionais
e é aplicável a todas as categorias de reclusos, dos foros criminal ou civil, em regime de prisão preventiva ou
já condenados, incluindo os que estejam detidos por aplicação de “medidas de segurança” ou que sejam objeto
de medidas de reeducação ordenadas por um juiz.

2. A segunda parte contém as regras que são especificamente aplicáveis às categorias de reclusos de cada
secção. Contudo, as regras da secção A, aplicáveis aos reclusos condenados, serão também aplicadas às
categorias de reclusos a que se referem as secções B, C e D, desde que não sejam contraditórias com as
regras específicas destas secções e na condição de representarem uma melhoria de condições para estes
reclusos.

Observação preliminar 4

1. As presentes regras não têm como objetivo regular a administração de instituições criadas em particular
para jovens, como reformatórios ou centros educativos, mas, em geral, a primeira parte destas regras mínimas
aplica-se igualmente a tais instituições.
2. A categoria de jovens reclusos deve, em qualquer caso, incluir os menores que dependem da jurisdição dos
Tribunais de Menores. Como regra geral, os jovens delinquentes não devem ser condenados a penas de prisão.

I. REGRAS DE APLICAÇÃO GERAL

Princípios básicos

Regra 1
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 327

Todos os reclusos devem ser tratados com o respeito inerente ao valor e dignidade do ser humano. Nenhum
recluso deverá ser submetido a tortura ou outras penas ou a tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes e
deverá ser protegido de tais atos, não sendo estes justificáveis em qualquer circunstância. A segurança dos
reclusos, do pessoal do sistema prisional, dos prestadores de serviço e dos visitantes deve ser sempre
assegurada.

Regra 2
1. Estas Regras devem ser aplicadas com imparcialidade. Não deve haver nenhuma discriminação em razão
da raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou outra, origem nacional ou social, património, nascimento
ou outra condição. É necessário respeitar as crenças religiosas e os preceitos morais do grupo a que pertença
o recluso.
2. Para que o princípio da não discriminação seja posto em prática, as administrações prisionais devem ter em
conta as necessidades individuais dos reclusos, particularmente daqueles em situação de maior
vulnerabilidade. As medidas tomadas para proteger e promover os direitos dos reclusos portadores de
necessidades especiais não serão consideradas discriminatórias.

Regra 3
A detenção e quaisquer outras medidas que excluam uma pessoa do contacto com o mundo exterior são
penosas pelo facto de, ao ser privada da sua liberdade, lhe ser retirado o direito à autodeterminação. Assim, o
sistema prisional não deve agravar o sofrimento inerente a esta situação, exceto em casos pontuais em que a
separação seja justificável ou nos casos em que seja necessário manter a disciplina.

Regra 4
1. Os objetivos de uma pena de prisão ou de qualquer outra medida restritiva da liberdade são, prioritariamente,
proteger a sociedade contra a criminalidade e reduzir a reincidência. Estes objetivos só podem ser alcançados
se o período de detenção for utilizado para assegurar, sempre que possível, a reintegração destas pessoas na
sociedade após a sua libertação, para que possam levar uma vida autossuficiente e de respeito para com as
leis.
2. Para esse fim, as administrações prisionais e demais autoridades competentes devem proporcionar
educação, formação profissional e trabalho, bem como outras formas de assistência apropriadas e disponíveis,
incluindo aquelas de natureza reparadora, moral, espiritual, social, desportiva e de saúde. Estes programas,
atividades e serviços devem ser facultados de acordo com as necessidades individuais de tratamento dos
reclusos.

Regra 5
1. O regime prisional deve procurar minimizar as diferenças entre a vida durante a detenção e aquela em
liberdade que tendem a reduzir a responsabilidade dos reclusos ou o respeito à sua dignidade como seres
humanos.

2. As administrações prisionais devem fazer todos os ajustes possíveis para garantir que os reclusos
portadores de deficiências físicas, mentais ou qualquer outra incapacidade tenham acesso completo e efetivo
à vida prisional em base de igualdade.

Registos

Regra 6
Em todos os locais em que haja pessoas detidas, deve existir um sistema uniformizado de registo dos reclusos.
Este sistema pode ser um banco de dados ou um livro de registo, com páginas numeradas e assinadas. Devem
existir procedimentos que garantam um sistema seguro de auditoria e que impeçam o acesso não autorizado
ou a modificação de qualquer informação contida no sistema.

Regra 7
Nenhuma pessoa deve ser admitida num estabelecimento prisional sem uma ordem de detenção válida.
As seguintes informações devem ser adicionadas ao sistema de registo do recluso, logo após a sua admissão:
(a) Informações precisas que permitam determinar a sua identidade, respeitando a auto atribuição de género;
(b) Os motivos da detenção e a autoridade competente que a ordenou, além da data, horário e local de prisão;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 328

(c) A data e o horário da sua entrada e saída, bem como de qualquer transferência;
(d) Quaisquer ferimentos visíveis e reclamações acerca de maus tratos sofridos;
e) Um inventário dos seus bens pessoais;
(f) Os nomes dos seus familiares e, quando aplicável, dos seus filhos, incluindo a idade, o local de residência
e sua custódia ou tutela;
(g) Contato de emergência e informações acerca do parente mais próximo.

Regra 8
As seguintes informações devem ser adicionadas ao sistema de registo do recluso durante a sua detenção,
quando aplicáveis:
(a) Informação relativa ao processo judicial, incluindo datas de audiências e representação legal;
(b) Avaliações iniciais e relatórios de classificação;
(c) Informação relativa ao comportamento e à disciplina;
(d) Pedidos e reclamações, inclusive alegações de tortura, sanções ou outros tratamentos cruéis, desumanos
ou degradantes, a menos que sejam de natureza confidencial;
(e) Informação sobre a imposição de sanções disciplinares;
(f) Informação sobre as circunstâncias e causas de quaisquer ferimentos ou de morte e, em caso de
falecimento, o destino do corpo.

Regra 9
Todos os registos mencionados nas Regras 7 e 8 serão mantidos confidenciais e só serão acessíveis aos que,
por razões profissionais, solicitem o seu acesso. Todos os reclusos devem ter acesso aos seus registos, nos
termos previstos em legislação interna, e direito a receber uma cópia oficial destes registos no momento da sua
libertação.

Regra 10
O sistema de registo dos reclusos deve também ser utilizado para gerar dados fiáveis sobre tendências e
características da população prisional, incluindo taxas de ocupação, a fim de criar uma base para a tomada de
decisões fundamentadas em provas.

Separação de categorias

Regra 11
As diferentes categorias de reclusos devem ser mantidas em estabelecimentos prisionais separados ou em
diferentes zonas de um mesmo estabelecimento prisional, tendo em consideração o respetivo sexo e idade,
antecedentes criminais, razões da detenção e medidas necessárias a aplicar. Assim:
(a) Homens e mulheres devem ficar detidos em estabelecimentos separados; nos estabelecimentos que
recebam homens e mulheres, todos os locais destinados às mulheres devem ser completamente separados;
(b) Presos preventivos devem ser mantidos separados dos condenados;
(c) Pessoas detidas por dívidas ou outros reclusos do foro civil devem ser mantidos separados dos reclusos do
foro criminal;
(d) Os jovens reclusos devem ser mantidos separados dos adultos.

Alojamento

Regra 12
1. As celas ou locais destinados ao descanso noturno não devem ser ocupados por mais de um recluso. Se,
por razões especiais, tais como excesso temporário de população prisional, for necessário que a administração
prisional central adote exceções a esta regra deve evitar-se que dois reclusos sejam alojados numa mesma
cela ou local.
2. Quando se recorra à utilização de dormitórios, estes devem ser ocupados por reclusos cuidadosamente
escolhidos e reconhecidos como sendo capazes de serem alojados nestas condições. Durante a noite, deverão
estar sujeitos a uma vigilância regular, adaptada ao tipo de estabelecimento prisional em causa.

Regra 13
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 329

Todos os locais destinados aos reclusos, especialmente os dormitórios, devem satisfazer todas as exigências
de higiene e saúde, tomando-se devidamente em consideração as condições climatéricas e, especialmente, a
cubicagem de ar disponível, o espaço mínimo, a iluminação, o aquecimento e a ventilação.

Regra 14
Em todos os locais destinados aos reclusos, para viverem ou trabalharem: (a) As janelas devem ser
suficientemente amplas de modo a que os reclusos possam ler ou trabalhar com luz natural e devem ser
construídas de forma a permitir a entrada de ar fresco, haja ou não ventilação artificial; (b) A luz artificial deve
ser suficiente para permitir aos reclusos ler ou trabalhar sem prejudicar a vista

Regra 15
As instalações sanitárias devem ser adequadas, de maneira a que os reclusos possam efetuar as suas
necessidades quando precisarem, de modo limpo e decente.

Regra 16
As instalações de banho e duche devem ser suficientes para que todos os reclusos possam, quando desejem
ou lhes seja exigido, tomar banho ou duche a uma temperatura adequada ao clima, tão frequentemente quanto
necessário à higiene geral, de acordo com a estação do ano e a região geográfica, mas pelo menos uma vez
por semana num clima temperado.

Regra 17
Todas as zonas de um estabelecimento prisional utilizadas regularmente pelos reclusos devem ser sempre
mantidas e conservadas escrupulosamente limpas.

Higiene pessoal

Regra 18
1. Deve ser exigido a todos os reclusos que se mantenham limpos e, para este fim, ser-lhes-ão fornecidos água
e os artigos de higiene necessários à saúde e limpeza.
2. A fim de permitir aos reclusos manter um aspeto correto e preservar o respeito por si próprios, ser-lhes-ão
garantidos os meios indispensáveis para cuidar do cabelo e da barba; os homens devem poder barbear-se
regularmente.

Vestuário e roupas de cama

Regra 19
1. Deve ser garantido vestuário adaptado às condições climatéricas e de saúde a todos os reclusos que não
estejam autorizados a usar o seu próprio vestuário. Este vestuário não deve de forma alguma ser degradante
ou humilhante.
2. Todo o vestuário deve estar limpo e ser mantido em bom estado. As roupas interiores devem ser mudadas
e lavadas tão frequentemente quanto seja necessário para a manutenção da higiene.
3. Em circunstâncias excecionais, sempre que um recluso obtenha licença para sair do estabelecimento, deve
ser autorizado a vestir as suas próprias roupas ou roupas que não chamem a atenção.

Regra 20
Sempre que os reclusos sejam autorizados a utilizar o seu próprio vestuário, devem ser tomadas disposições
no momento de admissão no estabelecimento para assegurar que este seja limpo e adequado.

Regra 21
A todos os reclusos, de acordo com padrões locais ou nacionais, deve ser fornecido um leito próprio e roupa
de cama suficiente e própria, que estará limpa quando lhes for entregue, mantida em bom estado de
conservação e mudada com a frequência suficiente para garantir a sua limpeza.

Alimentação
Regra 22
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 330

1. A administração deve fornecer a cada recluso, a horas determinadas, alimentação de valor nutritivo
adequado à saúde e à robustez física, de qualidade e bem preparada e servida.
2. Todos os reclusos devem ter a possibilidade de se prover com água potável sempre que necessário.

Exercício e desporto
Regra 23
1. Todos os reclusos que não efetuam trabalho no exterior devem ter pelo menos uma hora diária de exercício
adequado ao ar livre quando o clima o permita.
2. Os jovens reclusos e outros de idade e condição física compatíveis devem receber, durante o período
reservado ao exercício, educação física e recreativa. Para este fim, serão colocados à disposição dos reclusos
o espaço, instalações e equipamento adequados.

Serviços Médicos
Regra 24
1. A prestação de serviços médicos aos reclusos é da responsabilidade do Estado. Os reclusos devem poder
usufruir dos mesmos padrões de serviços de saúde disponíveis à comunidade e ter acesso gratuito aos serviços
de saúde necessários, sem discriminação em razão da sua situação jurídica.
2. Os serviços médicos devem ser organizados em estreita ligação com a administração geral de saúde pública
de forma a garantir a continuidade do tratamento e da assistência, incluindo os casos de VIH, tuberculose e de
outras doenças infeciosas e da toxicodependência.

Regra 25
1. Todos os estabelecimentos prisionais devem ter um serviço de saúde incumbido de avaliar, promover,
proteger e melhorar a saúde física e mental dos reclusos, prestando particular atenção aos reclusos com
necessidades especiais ou problemas de saúde que dificultam sua reabilitação.
2. Os serviços de saúde devem ser compostos por uma equipa interdisciplinar, com pessoal qualificado e
suficiente, capaz de exercer a sua atividade com total independência clínica, devendo ter conhecimentos
especializados de psicologia e psiquiatria. Todos os reclusos devem poder beneficiar dos serviços de um
dentista qualificado.

Regra 26
1. Os serviços de saúde devem elaborar registos médicos individuais, confidenciais, atualizados e precisos
para cada um dos reclusos, que a eles devem ter acesso, sempre que solicitado. O recluso pode também ter
acesso ao seu registo médico através de uma terceira pessoa por si designada.
2. O registo médico deve ser encaminhado para o serviço de saúde do estabelecimento prisional para o qual o
recluso é transferido, encontrando-se sujeito à confidencialidade médica.

Regra 27
1. Todos os estabelecimentos prisionais devem assegurar o pronto acesso a tratamentos médicos em casos
urgentes. Os reclusos que necessitem de cuidados especializados ou de cirurgia devem ser transferidos para
estabelecimentos especializados ou para hospitais civis. Se os estabelecimentos prisionais possuírem
instalações hospitalares próprias, estas devem dispor de pessoal e equipamento apropriados que permitam
prestar aos reclusos doentes os cuidados e o tratamento adequados.
2. As decisões clínicas só podem ser tomadas por profissionais de saúde responsáveis e não podem ser
modificadas ou ignoradas pela equipa prisional não médica.

Regra 28
Nos estabelecimentos prisionais para mulheres devem existir instalações especiais para o tratamento das
reclusas grávidas, das que tenham acabado de dar à luz e das convalescentes. Desde que seja possível,
devem ser tomadas medidas para que o parto tenha lugar num hospital civil. Se a criança nascer num
estabelecimento prisional, tal facto não deve constar do respetivo registo de nascimento.

Regra 29
1. A decisão que permite à criança ficar com o seu pai ou com a sua mãe no estabelecimento prisional deve
ser baseada no melhor interesse da criança. Nos estabelecimentos prisionais que acolhem os filhos de
reclusos, devem ser tomadas providências para garantir:
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 331

(a) Um infantário interno ou externo, dotado de pessoal qualificado, onde as crianças possam permanecer
quando não estejam ao cuidado dos pais;
(b) Serviços de saúde pediátricos, incluindo triagem médica no ingresso e monitoração constante de seu
desenvolvimento por especialistas.

2. As crianças que se encontrem nos estabelecimentos prisionais com os pais nunca devem ser tratadas como
prisioneiras.

Regra 30
Um médico, ou qualquer outro profissional de saúde qualificado, seja este subordinado ou não ao médico,
deve observar, conversar e examinar todos os reclusos, o mais depressa possível após a sua admissão no
estabelecimento prisional e, em seguida, sempre que necessário. Deve dar-se especial atenção a:
(a) Identificar as necessidades de cuidados médicos e adotar as medidas de tratamento necessárias;
(b) Identificar quaisquer maus-tratos a que o recluso recém-admitido tenha sido submetido antes de sua entrada
no estabelecimento prisional;
(c) Identificar qualquer sinal de estresse psicológico ou de qualquer outro tipo causado pela detenção, incluindo,
mas não só, o risco de suicídio ou de lesões autoinfligidas e sintomas de abstinência resultantes do uso de
drogas, medicamentos ou álcool; devem ser tomadas todas as medidas ou tratamentos individualizados
apropriados;
(d) Nos casos em que se suspeita que o recluso é portador de uma doença infectocontagiosa, deve
providenciar-se o isolamento clínico e o tratamento adequado durante todo o período de infeção;
(e) Determinar a aptidão do recluso para trabalhar, praticar exercícios e participar das demais atividades,
conforme for o caso.

Regra 31
O médico ou, quando aplicável, outros profissionais de saúde qualificados devem visitar diariamente todos os
reclusos que se encontrem doentes, que se queixem de problemas físicos ou mentais ou de ferimentos e todos
aqueles para os quais a sua atenção é especialmente necessária. Todos os exames médicos devem ser
conduzidos em total confidencialidade.

Regra 32
1. A relação entre o médico ou outros profissionais de saúde e o recluso deve ser regida pelos mesmos padrões
éticos e profissionais aplicados aos pacientes da comunidade, em particular:
(a) O dever de proteger a saúde física e mental do recluso e a prevenção e tratamento de doenças, baseados
apenas em fundamentos clínicos;
(b) A adesão à autonomia do recluso no que concerne à sua própria saúde e ao consentimento informado na
relação médico-paciente;
(c) A confidencialidade da informação médica, a menos que manter tal confidencialidade resulte numa ameaça
real e iminente para o paciente ou para os outros;
(d) A absoluta proibição de participar, ativa ou passivamente, em atos que possam consistir em tortura ou
sanções ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes, incluindo experiências médicas ou científicas que
possam ser prejudiciais à saúde do recluso, tais como a remoção de células, tecidos ou órgãos.
2. Sem prejuízo do parágrafo 1 (d) desta Regra, deve ser permitido ao recluso, com base no seu livre e
informado consentimento e de acordo com as leis aplicáveis, participar em ensaios clínicos e outras pesquisas
de saúde acessíveis à comunidade, se o resultado de tais pesquisas e experiências forem capazes de produzir
um benefício direto e significativo à sua saúde; e doar células, tecidos ou órgãos a parentes.

Regra 33
O médico deve comunicar ao diretor sempre que julgue que a saúde física ou mental do recluso foi ou será
desfavoravelmente afetada pelo prolongamento ou pela aplicação de qualquer modalidade do regime de
detenção.

Regra 34
Se, durante o exame de admissão ou na prestação posterior de cuidados médicos, o médico ou profissional de
saúde detectar qualquer sinal de tortura, punição ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes, deve
registar e comunicar tais casos à autoridade médica, administrativa ou judicial competente. Devem ser seguidos
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 332

os procedimentos de salvaguarda apropriados para garantir que o recluso ou as pessoas a ele associados não
sejam expostos a perigos previsíveis.

Regra 35
1. O médico ou o profissional de saúde pública competente deve proceder a inspeções regulares e aconselhar
o diretor sobre: (a) A quantidade, qualidade, preparação e distribuição de alimentos; (b) A higiene e asseio do
estabelecimento prisional e dos reclusos; (c) As instalações sanitárias, aquecimento, iluminação e ventilação
do estabelecimento; (d) A qualidade e asseio do vestuário e da roupa de cama dos reclusos; (e) A observância
das regras respeitantes à educação física e desportiva, nos casos em que não haja pessoal especializado
encarregado destas atividades.
2. O diretor deve tomar em consideração os relatórios e os conselhos do médico referidos no parágrafo 1 desta
Regra e na Regra 33 e tomar imediatamente as medidas sugeridas para que estas recomendações sejam
seguidas; em caso de desacordo ou se a matéria não for da sua competência, transmitirá imediatamente à
autoridade superior a sua opinião e o relatório médico.

Restrições, disciplina e sanções


Regra 36
A ordem e a disciplina devem ser mantidas com firmeza, mas sem impor mais restrições do que as necessárias
para a manutenção da segurança e da boa organização da vida comunitária.

Regra 37
Os seguintes pontos devem ser determinados por lei ou por regulamentação emanada pela autoridade
administrativa competente: (a) Conduta que constitua infração disciplinar; (b) O tipo e a duração das sanções
disciplinares que podem ser aplicadas; (c) Autoridade competente para pronunciar essas sanções; (d) Qualquer
forma de separação involuntária da população prisional geral, como o confinamento solitário, o isolamento, a
segregação, as unidades de cuidado especial ou alojamentos restritos, seja por razão de sanção disciplinar ou
para a manutenção da ordem e segurança, incluindo políticas de promulgação e os procedimentos que
regulamentem o uso e a revisão da imposição e da saída de qualquer forma de separação involuntária.

Regra 38
1. As administrações prisionais são encorajadas a fazer uso, sempre que possível, da prevenção de conflitos,
da mediação ou de qualquer outro meio alternativo de resolução de litígios para prevenir infrações disciplinares
e resolver conflitos.
2. Para os reclusos que estejam, ou estiveram separados, a administração prisional deve tomar as medidas
necessárias para aliviar os efeitos prejudiciais do confinamento neles provocados, bem como na comunidade
que os recebe quando são libertados.

Regra 39
1. Nenhum preso pode ser punido, exceto com base nas disposições legais ou regulamentares referidas na
Regra 37 e nos princípios de equidade e de processo legal; e nunca duas vezes pela mesma infração.
2. As administrações prisionais devem assegurar a proporcionalidade entre a sanção disciplinar aplicável e a
infração cometida e devem manter registos apropriados de todas as sanções disciplinares aplicadas.
3. Antes de aplicar uma sanção disciplinar, as administrações prisionais devem ter em conta se, e como, uma
eventual doença mental ou incapacidade de desenvolvimento do recluso contribuiu para a sua conduta e para
a prática da infração ou ato que fundamentou a sanção disciplinar. As administrações prisionais não devem
punir qualquer conduta do recluso se esta for considerada como resultado direto da sua doença mental ou
incapacidade intelectual.

Regra 40
1. Nenhum recluso pode ser colocado a trabalhar no estabelecimento prisional em cumprimento de qualquer
medida disciplinar.
2. Esta regra, contudo, não impede o funcionamento adequado de sistemas baseados na autoadministração,
sob os quais atividades ou responsabilidades sociais, educacionais ou desportivas são confiadas, sob
supervisão, aos reclusos, organizados em grupos, para fins de tratamento.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 333

Regra 41
1. Qualquer alegação de infração disciplinar praticada por um recluso deve ser prontamente transmitida à
autoridade competente, que deve investigá-la sem atrasos injustificados.
2. O recluso deve ser informado, sem demora e numa língua que compreenda, da natureza das acusações
apresentadas contra si, devendo-lhe ser garantido tempo e os meios adequados para preparar a sua defesa.
3. O recluso deve ter direito a defender-se pessoalmente ou através de advogado, quando os interesses da
justiça assim o requeiram, em particular nos casos que envolvam infrações disciplinares graves. Se o recluso
não entender ou não falar a língua utilizada na audiência disciplinar, devem ser assistidos gratuitamente por
um intérprete competente.
4. O recluso deve ter a oportunidade de interpor recurso das sanções disciplinares impostas contra a sua
pessoa.
5. No caso da infração disciplinar ser julgada como crime, o recluso deve ter direito a todas as garantias
inerentes ao processo legal, aplicáveis aos processos criminais, incluindo total acesso a um advogado.

Regra 42
As condições gerais de vida expressas nestas Regras, incluindo as relacionadas com a iluminação, a
ventilação, a temperatura, as instalações sanitárias, a nutrição, a água potável, a acessibilidade a ambientes
ao ar livre e ao exercício físico, a higiene pessoal, os cuidados médicos e o espaço pessoal adequado, devem
ser aplicadas a todos os reclusos, sem exceção.

Regra 43
1. Em nenhuma circunstância devem as restrições ou sanções disciplinares implicar tortura, punições ou outra
forma de tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. As seguintes práticas, em particular, devem ser
proibidas:
(a) Confinamento solitário indefinido;
(b) Confinamento solitário prolongado;
(c) Detenção em cela escura ou constantemente iluminada;
(d) Castigos corporais ou redução da alimentação ou água potável do recluso;
(e) Castigos coletivos.
2. Os instrumentos de imobilização jamais devem ser utilizados como sanção por infrações disciplinares.
3. As sanções disciplinares ou medidas restritivas não devem incluir a proibição de contato com a família. O
contato familiar só pode ser restringido durante um período limitado de tempo e enquanto for estritamente
necessário para a manutenção da segurança e da ordem.

Regra 44
Para os efeitos tidos por convenientes, o confinamento solitário refere-se ao confinamento do recluso por 22
horas ou mais, por dia, sem contato humano significativo. O confinamento solitário prolongado refere-se ao
confinamento solitário por mais de 15 dias consecutivos.

Regra 45
1. O confinamento solitário deve ser somente utilizado em casos excecionais, como último recurso e durante
o menor tempo possível, e deve ser sujeito a uma revisão independente, sendo aplicado unicamente de acordo
com a autorização da autoridade competente. Não deve ser imposto em consequência da sentença do recluso.
2. A imposição do confinamento solitário deve ser proibida no caso de o recluso ser portador de uma deficiência
mental ou física e sempre que essas condições possam ser agravadas por esta medida. A proibição do uso do
confinamento solitário e de medidas similares nos casos que envolvem mulheres e crianças, como referido nos
padrões e normas da Organização das Nações Unidas sobre prevenção do crime e justiça penal2 , continuam
a ser aplicáveis.

Regra 46
1. Os profissionais de saúde não devem ter qualquer papel na imposição de sanções disciplinares ou de outras
medidas restritivas. Devem, no entanto, prestar especial atenção à saúde dos reclusos mantidos sob qualquer
forma de separação involuntária, visitando-os diariamente e providenciando o pronto atendimento e a
assistência médica quando solicitado pelo recluso ou pelos guardas prisionais.
2. Os profissionais de saúde devem transmitir ao diretor, sem demora, qualquer efeito colateral causado pelas
sanções disciplinares ou outras medidas restritivas à saúde física ou mental do recluso submetido a tais
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 334

sanções ou medidas e devem aconselhar o diretor se considerarem necessário interrompê-las por razões
físicas ou psicológicas.
3. Os profissionais de saúde devem ter autoridade para rever e recomendar alterações na separação
involuntária de um preso, a fim de assegurar que tal separação não agrave as condições médicas ou a
deficiência física ou mental do recluso.

Instrumentos de coação

Regra 47
1. O uso de correntes, de imobilizadores de ferro ou de outros instrumentos de coação considerados
inerentemente degradantes ou penosos deve ser proibido.
2. Outros instrumentos de coação só devem ser utilizados quando previstos em lei e nas seguintes
circunstâncias: (a) Como medida de precaução contra uma evasão durante uma transferência, desde que sejam
retirados logo que o recluso compareça perante uma autoridade judicial ou administrativa; (b) Por ordem do
diretor, depois de se terem esgotado todos os outros meios de dominar o recluso, a fim de o impedir de causar
prejuízo a si próprio ou a outros ou de causar danos materiais; nestes casos o diretor deve consultar o médico
com urgência e apresentar um relatório à autoridade administrativa superior.

Regra 48
1. Quando a utilização de instrumentos de coação for autorizada, de acordo com o parágrafo 2 da regra 47, os
seguintes princípios serão aplicados:
(a) Os instrumentos de coação só devem ser utilizados quando outras formas menos severas de controlo não
forem efetivas face aos riscos representados por uma ação não controlada;
(b) O método de restrição será o menos invasivo possível, o necessário e razoável para controlar a ação do
recluso, em função do nível e da natureza do risco apresentado;
(c) Os instrumentos de coação só devem ser utilizados durante o período estritamente necessário e devem ser
retirados logo que deixe de existir o risco que motivou a restrição.
2. Os instrumentos de coação não devem ser utilizados em mulheres em trabalho de parto, nem durante nem
imediatamente após o parto.

Regra 49
A administração prisional deve procurar obter e promover formação no uso de técnicas de controlo que evitem
a necessidade de utilizar instrumentos de coação ou que reduzam o seu caráter intrusivo

Revistas aos reclusos e inspeção de celas

Regra 50
As leis e regulamentos sobre as revistas aos reclusos e inspeções de celas devem estar em conformidade
com as obrigações do Direito Internacional e devem ter em conta os padrões e as normas internacionais, uma
vez considerada a necessidade de garantir a segurança dos estabelecimentos prisionais. As revistas aos
reclusos e as inspeções devem ser conduzidas de forma a respeitar a dignidade humana inerente e a
privacidade do recluso sujeito à inspeção, assim como os princípios da proporcionalidade, legalidade e
necessidade.

Regra 51
As revistas aos reclusos e as inspeções não serão utilizadas para assediar, intimidar ou invadir
desnecessariamente a privacidade do recluso. Para fins de responsabilização, a administração prisional deve
manter registos apropriados das revistas feitas aos reclusos e inspeções, em particular as que envolvem o ato
de despir e de inspecionar partes íntimas do corpo e inspeções nas celas, bem como as razões das inspeções,
a identidade daqueles que as conduziram e quaisquer outros resultados decorrentes dessas inspeções.

Regra 52
1. Revistas íntimas invasivas, incluindo o ato de despir e de inspecionar partes íntimas do corpo, devem ser
feitas apenas quando forem absolutamente necessárias. As administrações prisionais devem ser encorajadas
a desenvolver e a utilizar outras alternativas apropriadas em vez de revistas íntimas invasivas. As revistas
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 335

íntimas invasivas devem ser conduzidas de forma privada e por pessoal treinado do mesmo sexo que o recluso
inspecionado.
2. As revistas das partes íntimas devem ser conduzidas apenas por profissionais de saúde qualificados, que
não sejam os principais responsáveis pelos cuidados de saúde do recluso, ou, no mínimo, por pessoal
adequadamente treinado por um profissional de saúde em relação aos padrões de higiene, saúde e segurança.

Regra 53
Os reclusos devem ter acesso aos documentos relacionados com os seus processos judiciais e ser autorizados
a mantê-los consigo, sem que a administração prisional tenha acesso a estes

Informações e direito de reclamação dos reclusos

Regra 54
Todo o recluso, no momento da admissão, deve receber informação escrita sobre: (a) A legislação e os
regulamentos do estabelecimento prisional e do sistema prisional; (b) Os seus direitos, inclusive os meios
autorizados para obter informações, acesso a assistência jurídica, incluindo o apoio judiciário, e sobre
procedimentos para formular pedidos e reclamações; (c) As suas obrigações, incluindo as sanções disciplinares
aplicáveis; e (d) Todos os assuntos que podem ser necessários para se adaptar à vida no estabelecimento.

Regra 55
1. As informações mencionadas na regra 54 devem estar disponíveis nas línguas mais utilizadas, de acordo
com as necessidades da população prisional. Se um recluso não compreender qualquer uma destas línguas,
deve ser providenciada a assistência de um intérprete.
2. Se o recluso for analfabeto, as informações devem ser-lhe comunicadas oralmente. Os reclusos com
deficiências sensoriais devem receber as informações de forma apropriada às suas necessidades.
3. A administração prisional deve expor, com destaque, a informação nas áreas de trânsito comum do
estabelecimento prisional.

Regra 56
1. Todo o recluso deve ter a oportunidade de, em qualquer dia, formular pedidos ou reclamações ao diretor do
estabelecimento prisional ou ao membro do pessoal prisional autorizado a representá-lo.
2. Deve ser viabilizada a possibilidade de os reclusos formularem pedidos ou reclamações, durante as
inspeções do estabelecimento prisional, ao inspetor prisional. O recluso deve ter a oportunidade de conversar
com o inspetor ou com qualquer outro oficial de inspeção, de forma livre e com total confidencialidade, sem a
presença do diretor ou de outros membros da equipa.
3. Todo o recluso deve ter o direito de fazer um pedido ou reclamação sobre seu tratamento, sem censura
quanto ao conteúdo, à administração prisional central, à autoridade judicial ou a outras autoridades
competentes, incluindo os que têm poderes de revisão e de reparação.
4. Os direitos previstos nos parágrafos 1 a 3 desta Regra serão estendidos ao seu advogado. Nos casos em
que nem o recluso, nem o seu advogado tenham a possibilidade de exercer tais direitos, um membro da família
do recluso ou qualquer outra pessoa que tenha conhecimento do caso deve poder exercê-los.

Regra 57
1. Todo o pedido ou reclamação deve ser prontamente apreciado e respondido sem demora. Se o pedido ou
a reclamação for rejeitado, ou no caso de atraso indevido, o reclamante deve ter o direito de apresentá-lo à
autoridade judicial ou a outra autoridade.
2. Devem ser criados mecanismos de salvaguarda para assegurar que os reclusos possam formular pedidos e
reclamações de forma segura e, se solicitado pelo reclamante, de forma confidencial. O recluso, ou qualquer
outra pessoa mencionada no parágrafo 4 da Regra 56, não deve ser exposto a qualquer risco de retaliação,
intimidação ou outras consequências negativas como resultado de um pedido ou reclamação.
3. Alegações de tortura ou outras penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes devem ser
imediatamente apreciadas e devem originar uma investigação rápida e imparcial, conduzida por uma autoridade
nacional independente, de acordo com os parágrafos 1 e 2 da Regra 71.

Contatos com o mundo exterior


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 336

Regra 58
1. Os reclusos devem ser autorizados, sob a necessária supervisão, a comunicar periodicamente com as suas
famílias e com amigos: (a) Por correspondência e utilizando, se possível, meios de telecomunicação, digitais,
eletrônicos e outros; e (b) Através de visitas.
2. Onde forem permitidas as visitais conjugais, este direito deve ser garantido sem discriminação e as mulheres
reclusas devem exercer este direito nas mesmas condições que os homens. Devem ser instaurados
procedimentos e disponibilizados locais, de forma a garantir o justo e igualitário acesso, respeitando-se a
segurança e a dignidade.

Regra 59
Os reclusos devem ser colocados, sempre que possível, em estabelecimentos prisionais próximos das suas
casas ou do local da sua reabilitação social.

Regra 60
1. A entrada de visitantes nos estabelecimentos prisionais depende do consentimento do visitante de submeter-
se à revista. O visitante pode retirar o seu consentimento a qualquer momento; nestes casos, a administração
prisional poderá recusar o seu acesso.
2. Os procedimentos de entrada e revista de visitantes não devem ser degradantes e devem ser regidos por
princípios tão protetivos como os delineados nas Regras 50 a 52. As revistas feitas a partes íntimas do corpo
devem ser evitadas e não devem ser aplicadas a crianças.

Regra 61
1. Os reclusos devem ter a oportunidade, tempo e meios adequados para receberem visitas e de comunicar
com um advogado escolhido por si ou com um defensor público, sem demora, interceptação ou censura, em
total confidencialidade, sobre qualquer assunto jurídico, em conformidade com a legislação nacional aplicada.
Estas consultas podem ocorrer à vista dos agentes prisionais, mas não podem ser ouvidas por estes.
2. Nos casos em que os reclusos não falam a língua local, a administração prisional deve facilitar o acesso aos
serviços de um intérprete competente e independente.
3. Os reclusos devem ter acesso a um apoio judiciário efetivo.

Regra 62
1. A reclusos de nacionalidade estrangeira devem ser concedidas facilidades razoáveis para comunicarem
com os representantes diplomáticos e consulares do Estado a que pertencem.
2. A reclusos de nacionalidade de Estados sem representação diplomática ou consular no país, e a refugiados
ou apátridas, devem ser concedidas facilidades semelhantes para comunicarem com representantes
diplomáticos do Estado encarregado de zelar pelos seus interesses ou com qualquer autoridade nacional ou
internacional que tenha a seu cargo a proteção dessas pessoas.

Regra 63
Os reclusos devem ser mantidos regularmente informados das notícias mais importantes através da leitura de
jornais, publicações periódicas ou institucionais especiais, através de transmissões de rádio, conferências ou
quaisquer outros meios semelhantes, autorizados ou controlados pela administração prisional.

Biblioteca

Regra 64
Cada estabelecimento prisional deve ter uma biblioteca para o uso de todas as categorias de reclusos,
devidamente provida com livros recreativos e de instrução e os reclusos devem ser incentivados a utilizá-la
plenamente.

Religião

Regra 65
1. Se o estabelecimento prisional reunir um número suficiente de reclusos da mesma religião, deve ser
nomeado ou autorizado um representante qualificado dessa religião. Se o número de reclusos o justificar e as
circunstâncias o permitirem, deve ser encontrada uma solução permanente.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 337

2. O representante qualificado, nomeado ou autorizado nos termos do parágrafo 1 desta Regra, deve ser
autorizado a organizar periodicamente serviços religiosos e a fazer, sempre que for aconselhável, visitas
pastorais privadas, num horário apropriado, aos reclusos da sua religião.
3. O direito de entrar em contacto com um representante qualificado da sua religião nunca deve ser negado a
qualquer recluso. Por outro lado, se um recluso se opõe à visita de um representante de uma religião, a sua
vontade deve ser plenamente respeitada.

Regra 66
Tanto quanto possível, cada recluso deve ser autorizado a satisfazer as exigências da sua vida religiosa,
assistindo aos serviços ministrados no estabelecimento prisional e tendo na sua posse livros de rito e prática
de ensino religioso da sua confissão.

Depósito de objetos pertencentes aos reclusos

Regra 67
1. Quando o regulamento não autorizar aos reclusos a posse de dinheiro, objetos de valor, peças de vestuário
e outros objetos que lhes pertençam, estes devem, no momento de admissão no estabelecimento, ser
guardados em lugar seguro. Deve ser elaborado um inventário destes objetos, assinado pelo recluso. Devem
ser tomadas medidas para conservar estes objetos em bom estado.
2. Estes objetos e o dinheiro devem ser restituídos ao recluso no momento da sua libertação, com exceção do
dinheiro que tenha sido autorizado a gastar, dos objetos que tenham sido enviados pelo recluso para o exterior
ou das peças de vestuário que tenham sido destruídas por razões de higiene. O recluso deve assinar o recibo
dos objetos e do dinheiro que lhe tenham sido restituídos.
3. Os valores e objetos enviados do exterior encontram-se submetidos a estas mesmas regras.
4. Se o recluso for portador de medicamentos ou estupefacientes no momento da admissão, o médico ou outro
profissional de saúde qualificado decidirá sobre a sua utilização.

Notificações

Regra 68
Todo o recluso deve ter o direito de ter oportunidade e os meios de informar imediatamente a sua família ou
qualquer outra pessoa designada por si sobre a sua detenção, transferência para outro estabelecimento
prisional ou sobre qualquer doença ou ferimento graves. A divulgação de informações pessoais dos reclusos
deve ser regida por legislação nacional.

Regra 69
No caso de morte de um recluso, o diretor do estabelecimento prisional deve informar imediatamente o parente
mais próximo ou a pessoa previamente designada pelo recluso. As pessoas designadas pelo recluso para
receberem informações sobre a sua saúde devem ser notificadas pelo diretor em caso de doença grave,
ferimento ou transferência para uma instituição médica. O pedido explícito de um recluso, de que seu cônjuge
ou parente mais próximo não seja informado em caso de doença ou ferimento, deve ser respeitado.

Regra 70
Um recluso deve ser informado imediatamente da morte ou doença grave de qualquer parente próximo, cônjuge
ou companheiro. No caso de doença crítica de um parente próximo, cônjuge ou companheiro, o recluso deve
ser autorizado, quando as circunstâncias o permitirem, a estar junto dele, quer sob escolta quer só, ou a
participar no seu funeral.

Investigações

Regra 71
1. Não obstante uma investigação interna, o diretor do estabelecimento prisional deve comunicar,
imediatamente, a morte, o desaparecimento ou o ferimento grave à autoridade judicial ou a outra autoridade
competente independente da administração prisional e deve determinar uma investigação imediata, imparcial
e efetiva às circunstâncias e às causas destes casos. A administração prisional deve cooperar integralmente
com a referida autoridade e assegurar que todas as provas são preservadas.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 338

2. A obrigação referida no parágrafo 1 desta Regra deve ser igualmente aplicada quando houver indícios
razoáveis para se supor que um ato de tortura ou outras penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou
degradantes tenham sido praticados no estabelecimento prisional, mesmo que não tenha sido recebida uma
reclamação formal.
3. Quando houver indícios razoáveis para se supor que os atos referidos no parágrafo 2 desta Regra tenham
sido praticados, devem ser tomadas medidas imediatas para garantir que todas as pessoas potencialmente
implicadas não tenham qualquer envolvimento na investigação ou contato com as testemunhas, vítimas e seus
familiares.

Regra 72
A administração prisional deve tratar o corpo de um recluso falecido com respeito e dignidade. O corpo do
recluso falecido deve ser devolvido ao seu parente mais próximo o mais rapidamente possível e, o mais tardar,
quando concluída a investigação. A administração prisional deve providenciar um funeral culturalmente
adequado, se não houver outra parte disposta ou capaz de fazê-lo, e deve manter um registo completo do facto.

Transferência de reclusos

Regra 73
1. Quando os reclusos são transferidos, de ou para outro estabelecimento, devem ser vistos o menos possível
pelo público e devem ser tomadas medidas apropriadas para os proteger de insultos, curiosidade e de qualquer
tipo de publicidade.
2. Deve ser proibido o transporte de reclusos em veículos com deficiente ventilação ou iluminação ou que, de
qualquer outro modo, os possa sujeitar a sacrifícios físicos desnecessários.
3. O transporte de reclusos deve ser efetuado a expensas da administração prisional em condições de
igualdade para todos.

Pessoal do estabelecimento prisional

Regra 74
1. A administração prisional deve selecionar cuidadosamente o pessoal de todas as categorias, dado que é da
sua integridade, humanidade, aptidões pessoais e capacidades profissionais que depende a boa gestão dos
estabelecimentos prisionais.
2. A administração prisional deve esforçar-se permanentemente por suscitar e manter no espírito do pessoal
e da opinião pública a convicção de que esta missão representa um serviço social de grande importância; para
o efeito, devem ser utilizados todos os meios adequados para esclarecer o público.
3. Para a realização daqueles fins, os membros do pessoal devem desempenhar funções a tempo inteiro na
qualidade de profissionais do sistema prisional, devem ter o estatuto de funcionários do Estado e ser-lhes
garantida, por conseguinte, segurança no emprego dependente apenas de boa conduta, eficácia no trabalho e
aptidão física. A remuneração deve ser suficiente para permitir recrutar e manter ao serviço homens e mulheres
competentes; as regalias e as condições de emprego devem ser determinadas tendo em conta a natureza
penosa do trabalho.

Regra 75
1. Os funcionários devem possuir um nível de educação adequado e deve ser-lhes proporcionadas condições
e meios para poderem exercer as suas funções de forma profissional.
2. Devem frequentar, antes de entrar em funções, um curso de formação geral e específico, que deve refletir
as melhores e mais modernas práticas, baseadas em dados empíricos, das ciências penais. Apenas os
candidatos que ficarem aprovados nas provas teóricas e práticas devem ser admitidos no serviço prisional.
3. Após a entrada em funções e ao longo da sua carreira, o pessoal deve conservar e melhorar os seus
conhecimentos e competências profissionais, seguindo cursos de aperfeiçoamento organizados
periodicamente.

Regra 76
1. A formação a que se refere o parágrafo 2 da Regra 75 deve incluir, no mínimo, o seguinte:
(a) Legislação, regulamentos e políticas nacionais relevantes, bem como os instrumentos internacionais e
regionais aplicáveis que devem nortear o trabalho e as interações dos funcionários com os reclusos;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 339

(b) Direitos e deveres dos funcionários no exercício das suas funções, incluindo o respeito à dignidade humana
de todos os reclusos e a proibição de certas condutas, em particular a prática de tortura ou outras penas ou
tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes;
(c) Segurança, incluindo o conceito de segurança dinâmica, o uso da força e instrumentos de coação e a gestão
de pessoas violentas, tendo em consideração técnicas preventivas e alternativas, como a negociação e a
mediação;
(d) Técnicas de primeiros socorros, as necessidades psicossociais dos reclusos e correspondentes dinâmicas
do ambiente prisional, bem como o apoio e assistência social, incluindo o diagnóstico prévio de doenças
mentais.
2. Os funcionários que estiverem incumbidos de trabalhar com certas categorias de reclusos, ou que estejam
designados para outras funções específicas, devem receber formação adequada às suas características.

Regra 77
Todos os membros do pessoal devem, em todas as circunstâncias, comportar-se e desempenhar as suas
funções de maneira a que o seu exemplo tenha boa influência sobre os reclusos e mereça o respeito destes.

Regra 78
1. Na medida do possível, deve incluir-se no pessoal um número suficiente de especialistas, tais como
psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais, professores e instrutores técnicos.
2. Os assistentes sociais, professores e instrutores técnicos devem exercer as suas funções de forma
permanente, mas poderá também recorrer-se a auxiliares a tempo parcial ou a voluntários.

Regra 79
1. O diretor do estabelecimento prisional deve ser adequadamente qualificado para a sua função, quer pelo seu
carácter, quer pelas suas competências administrativas, formação e experiência.
2. O diretor do estabelecimento prisional deve exercer a sua função oficial a tempo inteiro e não deve ser
nomeado a tempo parcial. Deve residir no estabelecimento prisional ou nas imediações deste.
3. Quando dois ou mais estabelecimentos prisionais estejam sob a autoridade de um único diretor, este deve
visitar ambos com regularidade. Em cada um dos estabelecimentos deve haver um funcionário responsável.

Regra 80
1. O diretor, o seu adjunto e a maioria dos outros membros do pessoal do estabelecimento prisional devem
falar a língua da maior parte dos reclusos ou uma língua entendida pela maioria deles.
2. Deve recorrer-se aos serviços de um intérprete sempre que seja necessário.

Regra 81
1. Nos estabelecimentos prisionais destinados a homens e mulheres, a secção das mulheres deve ser colocada
sob a direção de um funcionário do sexo feminino responsável que terá à sua guarda todas as chaves dessa
secção.
2. Nenhum funcionário do sexo masculino pode entrar na parte do estabelecimento destinada às mulheres sem
ser acompanhado por um funcionário do sexo feminino.
3. A vigilância das reclusas deve ser assegurada exclusivamente por funcionários do sexo feminino. Não
obstante, isso não impede que funcionários do sexo masculino, especialmente médicos e professores,
desempenhem as suas funções profissionais em estabelecimentos prisionais ou secções do estabelecimento
prisional destinados a mulheres.

Regra 82
1. Os funcionários dos estabelecimentos prisionais não devem, nas suas relações com os reclusos, usar de
força, exceto em legítima defesa ou em casos de tentativa de fuga ou de resistência física ativa ou passiva a
uma ordem baseada na lei ou nos regulamentos. Os funcionários que tenham de recorrer à força não devem
usar senão a estritamente necessária e devem comunicar imediatamente o incidente ao diretor do
estabelecimento prisional.
2. Os membros do pessoal prisional devem receber formação técnica especial que lhes permita dominar os
reclusos violentos.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 340

3. Salvo circunstâncias especiais, os agentes que assegurem serviços que os ponham em contacto direto com
os reclusos não devem estar armados. Aliás, não deverá ser confiada uma arma a um membro do pessoal sem
que este seja treinado para o seu uso.

Inspeções internas e externas

Regra 83
1. Deve haver um sistema duplo de inspeções regulares nos estabelecimentos e serviços prisionais: (a)
Inspeções internas ou administrativas conduzidas pela administração prisional central; (b) Inspeções externas
conduzidas por um órgão independente da administração prisional, que pode incluir órgãos internacionais ou
regionais competentes.
2. Em ambos os casos, o objetivo das inspeções deve ser o de assegurar que os estabelecimentos prisionais
sejam administrados de acordo com as leis, regulamentos, políticas e procedimentos vigentes, para
prossecução dos objetivos dos serviços prisionais e correcionais e para a proteção dos direitos dos reclusos.

Regra 84
1. Os inspetores devem ter a autoridade para: (a) Aceder a todas as informações sobre o número de reclusos
e dos locais de detenção, bem como a toda a informação relevante ao tratamento dos reclusos, incluindo os
seus registos e as condições de detenção; (b) Escolher livremente qual o estabelecimento prisional que querem
inspecionar, inclusive fazendo visitas por iniciativa própria sem aviso prévio e quais os reclusos que pretendem
entrevistar; (c) Conduzir entrevistas com os reclusos e com os funcionários prisionais, em total privacidade e
confidencialidade, durante as suas visitas; (d) Fazer recomendações à administração prisional e a outras
autoridades competentes.
2. As equipas de inspeção externa devem ser compostas por inspetores qualificados e experientes, indicados
por uma autoridade competente, e devem contar com profissionais de saúde. Deve-se procurar ter uma
representação equilibrada de género.

Regra 85
1. Depois de uma inspeção, deve ser submetido à autoridade competente um relatório escrito. Esforços devem
ser empreendidos para tornar público os relatórios das inspeções externas, excluindo-se qualquer dado pessoal
dos reclusos, a menos que estes tenham dado explicitamente o seu acordo.
2. A administração prisional ou qualquer outra autoridade competente, conforme apropriado, deve indicar, num
prazo razoável, se as recomendações provindas das inspeções externas serão implementadas.

II. REGRAS APLICÁVEIS A CATEGORIAS ESPECIAIS

A. Reclusos condenados

Princípios gerais
Regra 86
Os princípios gerais a seguir enunciados têm por finalidade a definição do espírito dentro do qual os sistemas
prisionais devem ser administrados e os objetivos a que devem tender, de acordo com a declaração feita na
observação preliminar 1 destas Regras.

Regra 87
Antes do termo da execução de uma pena ou de uma medida é desejável que sejam adotadas as medidas
necessárias para assegurar ao recluso um regresso progressivo à vida na sociedade. Este objetivo poderá ser
alcançado, consoante os casos, através de um regime preparatório da libertação, organizado no próprio
estabelecimento ou em outro estabelecimento adequado, ou mediante uma libertação condicional sujeita a
controlo, que não deve caber à polícia, mas que deve comportar uma assistência social eficaz.

Regra 88
1. O tratamento não deve acentuar a exclusão dos reclusos da sociedade, mas sim fazê-los compreender que
continuam a fazer parte dela. Para este fim, há que recorrer, sempre que possível, à cooperação de organismos
da comunidade destinados a auxiliar o pessoal do estabelecimento prisional na reabilitação social dos reclusos.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 341

2. Assistentes sociais, colaborando com cada estabelecimento, devem ter por missão a manutenção e a
melhoria das relações do recluso com a sua família e com os organismos sociais que podem ser-lhe úteis.
Devem adotar-se medidas tendo em vista a salvaguarda, de acordo com a lei e a pena imposta, dos direitos
civis, dos direitos em matéria de segurança social e de outros benefícios sociais dos reclusos.

Regra 89
1. A realização destes princípios exige a individualização do tratamento e, para este fim, um sistema flexível
de classificação dos reclusos por grupos; é por isso desejável que esses grupos sejam colocados em
estabelecimentos prisionais separados, adequados ao tratamento de cada um deles.
2. Estes estabelecimentos não devem possuir o mesmo grau de segurança para cada grupo. É desejável prever
graus de segurança consoante as necessidades dos diferentes grupos. Os estabelecimentos abertos, pelo
próprio facto de não preverem medidas de segurança física contra as evasões, mas remeterem neste domínio
à autodisciplina dos reclusos, proporcionam aos reclusos cuidadosamente escolhidos as condições mais
favoráveis à sua reabilitação.
3. É desejável que nos estabelecimentos prisionais fechados a individualização do tratamento não seja
prejudicada por um número demasiado elevado de reclusos. Nalguns países entende-se que a população
destes estabelecimentos não deve ultrapassar os quinhentos. Nos estabelecimentos abertos, a população deve
ser tão reduzida quanto possível.
4. Por outro lado, não é recomendável manter estabelecimentos demasiado pequenos que possam impedir que
instalações adequadas sejam facultadas.

Regra 90
O dever da sociedade não cessa com a libertação de um recluso. Seria por isso necessário dispor de
organismos governamentais ou privados capazes de trazer ao recluso colocado em liberdade um auxílio pós-
penitenciário eficaz, tendente a diminuir os preconceitos a seu respeito e a permitir-lhe a sua reinserção na
sociedade.

Tratamento

Regra 91
O tratamento das pessoas condenadas a uma pena ou medida privativa de liberdade deve ter por objetivo, na
medida em que o permitir a duração da condenação, criar nelas a vontade e as aptidões que as tornem capazes,
após a sua libertação, de viver no respeito pela lei e de prover às suas necessidades. Este tratamento deve
incentivar o respeito por si próprias e desenvolver o seu sentido da responsabilidade.

Regra 92
1. Para este fim, há que recorrer a todos os meios apropriados, nomeadamente à assistência religiosa nos
países em que seja possível, à instrução, à orientação e à formação profissionais, à assistência social
direcionada, ao aconselhamento profissional, ao desenvolvimento físico e à educação moral, de acordo com
as necessidades de cada recluso. Há que ter em conta o passado social e criminal do condenado, as suas
capacidades e aptidões físicas e mentais, a sua personalidade, a duração da condenação e as perspectivas da
sua reabilitação.
2. Para cada recluso condenado a uma pena ou a uma medida de certa duração, o diretor do estabelecimento
prisional deve receber, no mais breve trecho após a admissão do recluso, relatórios completos sobre os
diferentes aspetos referidos no parágrafo 1 desta Regra. Estes relatórios devem sempre compreender um
relatório de um médico, se possível especializado em psiquiatria, sobre a condição física e mental do recluso.
3. Os relatórios e outros elementos pertinentes devem ser colocados num arquivo individual. Este arquivo deve
ser atualizado e classificado de modo a poder ser consultado pelo pessoal responsável sempre que necessário.

Classificação e individualização

Regra 93
1. As finalidades da classificação devem ser: (a) De separar os reclusos que, pelo seu passado criminal ou pela
sua personalidade, possam vir a exercer uma influência negativa sobre os outros reclusos; (b) De repartir os
reclusos por grupos tendo em vista facilitar o seu tratamento para a sua reinserção social.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 342

2. Há que dispor, na medida do possível, de estabelecimentos separados ou de secções distintas dentro de um


estabelecimento para o tratamento das diferentes categorias de reclusos.

Regra 94
Assim que possível após a admissão e depois de um estudo da personalidade de cada recluso condenado a
uma pena ou a uma medida de uma certa duração deve ser preparado um programa de tratamento que lhe
seja destinado, à luz dos dados de que se dispõe sobre as suas necessidades individuais, as suas capacidades
e o seu estado de espírito.

Privilégios

Regra 95
Há que instituir em cada estabelecimento um sistema de privilégios adaptado às diferentes categorias de
reclusos e aos diferentes métodos de tratamento, com o objetivo de encorajar o bom comportamento, de
desenvolver o sentido da responsabilidade e de estimular o interesse e a cooperação dos reclusos no seu
próprio tratamento.

Trabalho

Regra 96
1. Todos os reclusos condenados devem ter a oportunidade de trabalhar e/ou participar ativamente na sua
reabilitação, em conformidade com as suas aptidões física e mental, de acordo com a determinação do médico
ou de outro profissional de saúde qualificado.
2. Deve ser dado trabalho suficiente de natureza útil aos reclusos, de modo a conservá-los ativos durante um
dia normal de trabalho.

Regra 97
1. O trabalho na prisão não deve ser de natureza penosa.
2. Os reclusos não devem ser mantidos em regime de escravidão ou de servidão.
3. Nenhum recluso será chamado a trabalhar para beneficiar, a título pessoal ou privado, qualquer membro da
equipa prisional.

Regra 98
1. Tanto quanto possível, o trabalho proporcionado deve ser de natureza que mantenha ou aumente as
capacidades dos reclusos para ganharem honestamente a vida depois de libertados.
2. Deve ser proporcionada formação profissional, em profissões úteis, aos reclusos que dela tirem proveito e
especialmente a jovens reclusos.
3. Dentro dos limites compatíveis com uma seleção profissional apropriada e com as exigências da
administração e disciplina prisional, os reclusos devem poder escolher o tipo de trabalho que querem fazer.

Regra 99
1. A organização e os métodos do trabalho nos estabelecimentos prisionais devem aproximar-se tanto quanto
possível dos que regem um trabalho semelhante fora do estabelecimento, de modo a preparar os reclusos para
as condições de uma vida profissional normal.
2. No entanto, o interesse dos reclusos e a sua formação profissional não devem ser subordinados ao desejo
de realizar um benefício financeiro por meio do trabalho prisional.

Regra 100
1. As indústrias e as explorações agrícolas devem, de preferência, ser dirigidas pela administração prisional e
não por empresários privados.
2. Quando os reclusos forem empregues para trabalho não controlado pela administração prisional, devem ser
sempre colocados sob vigilância do pessoal prisional. Salvo nos casos em que o trabalho seja efetuado para
outros departamentos do Estado, as pessoas às quais esse trabalho seja prestado devem pagar à
administração a remuneração normal exigível para esse trabalho, tendo todavia em conta a produtividade dos
reclusos.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 343

Regra 101
1. Os cuidados prescritos destinados a proteger a segurança e a saúde dos trabalhadores em liberdade devem
igualmente existir nos estabelecimentos prisionais.
2. Devem ser adotadas disposições para indemnizar os reclusos por acidentes de trabalho e doenças
profissionais, nas mesmas condições que a lei concede aos trabalhadores em liberdade.

Regra 102
1. As horas diárias e semanais máximas de trabalho dos reclusos devem ser fixadas por lei ou por regulamento
administrativo, tendo em consideração regras ou costumes locais respeitantes ao trabalho dos trabalhadores
em liberdade.
2. As horas devem ser fixadas de modo a deixar um dia de descanso semanal e tempo suficiente para a
educação e para outras atividades necessárias como parte do tratamento e reinserção dos reclusos.

Regra 103
1. O trabalho dos reclusos deve ser remunerado de modo equitativo.
2. O regulamento deve permitir aos reclusos a utilização de pelo menos uma parte da sua remuneração para
adquirir objetos autorizados, destinados ao seu uso pessoal, e para enviar outra parte à sua família.
3. O regulamento deve prever igualmente que uma parte da remuneração seja reservada pela administração
prisional de modo a constituir uma poupança que será entregue ao recluso no momento da sua libertação.

Educação e lazer

Regra 104
1. Devem ser tomadas medidas no sentido de melhorar a educação de todos os reclusos que daí tirem proveito,
incluindo instrução religiosa nos países em que tal for possível. A educação de analfabetos e jovens reclusos
será obrigatória, prestando-lhe a administração prisional especial atenção.
2. Tanto quanto for possível, a educação dos reclusos deve estar integrada no sistema educacional do país,
para que depois da sua libertação possam continuar, sem dificuldades, os seus estudos.

Regra 105
Devem ser proporcionadas atividades recreativas e culturais em todos os estabelecimentos prisionais em
benefício da saúde mental e física dos reclusos.

Relações sociais e assistência pós-prisional

Regra 106
Deve ser prestada atenção especial à manutenção e melhoramento das relações entre o recluso e a sua família
que se mostrem de maior vantagem para ambos.

Regra 107
Desde o início do cumprimento da pena de um recluso, deve ter-se em consideração o seu futuro depois de
libertado, devendo este ser estimulado e ajudado a manter ou estabelecer relações com pessoas ou
organizações externas, aptas a promover os melhores interesses da sua família e da sua própria reabilitação
social.

Regra 108
1. Os serviços ou organizações governamentais ou outras, que prestam assistência a reclusos colocados em
liberdade para se reestabelecerem na sociedade, devem assegurar, na medida do possível e do necessário,
que sejam facultados aos reclusos libertados documentos de identificação apropriados, que lhes sejam
garantidas casas adequadas e trabalho, vestuário apropriado ao clima e à estação do ano e recursos suficientes
para chegarem ao seu destino e para subsistirem no período imediatamente seguinte à sua libertação.
2. Os representantes oficiais dessas organizações devem ter o acesso necessário ao estabelecimento prisional
e aos reclusos, sendo consultados sobre o futuro do recluso desde o início do cumprimento da pena.
3. É recomendável que as atividades destas organizações estejam centralizadas ou sejam coordenadas, tanto
quanto possível, a fim de garantir a melhor utilização dos seus esforços.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 344

B. Reclusos com transtornos mentais e/ou com problemas de saúde

Regra 109
1. As pessoas consideradas inimputáveis, ou a quem, posteriormente, foi diagnosticado uma deficiência mental
e/ou um problema de saúde grave, em relação aos quais a detenção poderia agravar a sua condição, não
devem ser detidas em prisões. Devem ser tomadas medidas para as transferir para um estabelecimento para
doentes mentais o mais depressa possível.
2. Se necessário, os demais reclusos que sofrem de outras doenças ou anomalias mentais devem ser
examinados e tratados em instituições especializadas, sob vigilância médica.
3. O serviço médico ou psiquiátrico dos estabelecimentos prisionais deve proporcionar tratamento psiquiátrico
a todos os reclusos que o necessitem.

Regra 110
É desejável que sejam adotadas medidas, de acordo com os organismos competentes, para que o tratamento
psiquiátrico seja mantido, se necessário, depois da colocação em liberdade e que uma assistência social pós-
prisional de natureza psiquiátrica seja assegurada.

C. Reclusos detidos ou a aguardar julgamento

Regra 111
1. Os detidos ou presos em virtude de lhes ser imputada a prática de uma infração penal, quer estejam detidos
sob custódia da polícia, quer num estabelecimento prisional, mas que ainda não foram julgados e condenados,
são doravante designados nestas Regras por “detidos preventivamente”.
2. As pessoas detidas preventivamente presumem-se inocentes e como tal devem ser tratadas.
3. Estes detidos devem beneficiar de um regime especial cujos elementos essenciais se discriminam nestas
Regras, sem prejuízo das disposições legais sobre a proteção da liberdade individual ou que estabelecem os
trâmites a ser observados em relação a pessoas detidas preventivamente

Regra 112
1. As pessoas detidas preventivamente devem ser mantidas separadas dos reclusos condenados.
2. Os jovens detidos preventivamente devem ser mantidos separados dos adultos e ser, em princípio, detidos
em estabelecimentos prisionais separados.

Regra 113
As pessoas detidas preventivamente devem dormir sozinhas em quartos separados, sob reserva de diferente
costume local relativo ao clima.

Regra 114
Dentro dos limites compatíveis com a boa ordem do estabelecimento prisional, as pessoas detidas
preventivamente podem, se o desejarem, mandar vir alimentação do exterior a expensas próprias, quer através
da administração, quer através da sua família ou amigos. Caso contrário a administração deve fornecer-lhes a
alimentação.

Regra 115
A pessoa detida preventivamente deve ser autorizada a usar a sua própria roupa se estiver limpa e for
adequada. Se usar roupa do estabelecimento prisional, esta será diferente da fornecida aos condenados.

Regra 116
Será sempre dada à pessoa detida preventivamente a oportunidade de trabalhar, mas esta não será obrigada
a fazê-lo. Se optar por trabalhar, será remunerada.

Regra 117
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 345

A pessoa detida preventivamente deve ser autorizada a obter, a expensas próprias ou a expensas de terceiros,
livros, jornais, material para escrever e outros meios de ocupação compatíveis com os interesses da
administração da justiça e com a segurança e boa ordem do estabelecimento prisional.

Regra 118
A pessoa detida preventivamente deve ser autorizada a ser visitada e a ser tratada pelo seu médico pessoal
ou dentista se existir motivo razoável para o seu pedido e puder pagar quaisquer despesas em que incorrer.

Regra 119
1. Todo o recluso tem o direito a ser imediatamente informado das razões de sua detenção e sobre quaisquer
acusações apresentadas contra si.
2. Se uma pessoa detida preventivamente não tiver um advogado da sua escolha, ser-lhe-á designado um
defensor oficioso pela autoridade judicial, ou outra autoridade, em todos os casos em que os interesses da
justiça o exigirem e sem custos para a pessoa detida preventivamente, caso esta não possua recursos
suficientes para pagar. A possibilidade de se recusar o acesso a um advogado deve ser sujeita a uma revisão
independente, sem demora.

Regra 120
1. Os direitos e as modalidades que regem o acesso de uma pessoa detida preventivamente ao seu advogado
ou defensor oficioso, com vista à sua defesa, devem ser regulados pelos mesmos princípios estabelecidos na
Regra 61.
2. A pessoa detida preventivamente deve ter à sua disposição, se assim o desejar, material de escrita a fim de
preparar os documentos relacionados com a sua defesa e entregar instruções confidenciais ao seu advogado
ou defensor oficioso.

D. Presos civis

Regra 121
Nos países cuja legislação prevê a prisão por dívidas ou outras formas de prisão proferidas por decisão judicial
na sequência de processos que não tenham natureza penal, os reclusos não devem ser submetidos a maiores
restrições nem ser tratados com maior severidade do que for necessário para manter a segurança e a ordem.
O seu tratamento não deve ser menos favorável do que o dos detidos preventivamente, sob reserva, porém,
da eventual obrigação de trabalhar.

E. Pessoas presas ou detidas sem acusação

Regra 122
Sem prejuízo das disposições contidas no artigo 9.º do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos,
deve ser concedida às pessoas presas ou detidas sem acusação a proteção conferida nos termos da secção
C, Partes I e II desta Regra. As disposições relevantes da secção A da Parte II, desta Regra, serão igualmente
aplicáveis sempre que a sua aplicação possa beneficiar esta categoria especial de reclusos, desde que não
seja tomada nenhuma medida que implique a reeducação ou a reabilitação de pessoas não condenadas por
uma infração penal.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 346

6. REGRAS DE BANGKOK: REGRAS DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O


TRATAMENTO DE MULHERES PRESAS E MEDIDAS NÃO PRIVATIVAS DE
LIBERDADE PARA MULHERES INFRATORAS - RESOLUÇÃO Nº 2010/16, DE
2010

A Assembleia Geral,

Recordando as regras e normas das Nações Unidas em matéria de prevenção ao crime e justiça criminal
relacionadas principalmente com o tratamento de presos, em particular as Regras mínimas para tratamento de
reclusos1, os procedimentos para a aplicação efetiva das Regras mínimas para o tratamento de reclusos 2, o
Conjunto de princípios para a proteção de todas as pessoas submetidas a qualquer forma de detenção ou
prisão3 e os Princípios básicos para o tratamento de reclusos4,

Recordando também as regras e normas das Nações Unidas em matéria de prevenção de delitos e justiça
criminal relacionadas principalmente com as medidas alternativas ao encarceramento, em particular as Regras
mínimas das Nações Unidas sobre medidas não privativas de liberdade (Regras de Tóquio)55 e os Princípios
básicos sobre a utilização de programas de justiça restaurativa em matéria criminal6

Recordando ademais sua Resolução 58/163, de 22 de dezembro de 2003, pela qual convidou governos,
órgãos internacionais e regionais relevantes, instituições nacionais de direitos humanos e organizações não
governamentais para que prestassem maior atenção para a questão das mulheres em prisões, com o intuito
de identificar os problemas fundamentais e formas de abordá-los,

Considerando as alternativas ao encarceramento previstas nas Regras de Tóquio e levando em


consideração as especificidades de gênero das mulheres e a consequente necessidade de priorizar a aplicação
de medidas não privativas de liberdade àquelas que entraram em contato com o sistema de justiça criminal, e
a consequente necessidade de aplicar-lhes prioritariamente medidas não privativas de liberdade,

Consciente da sua resolução 61/143, de 19 de dezembro de 2006, na qual urge aos Estados para que,
inter alia, tomem medidas positivas para fazer frente às causas estruturais de violência contra mulheres e para
fortalecer esforços preventivos que se voltam contra práticas e normas sociais discriminatórias, incluindo
aquelas que tangem mulheres que necessitem de atenção especial para o desenvolvimento de políticas contra
a violência, tais como mulheres reclusas em instituições ou encarceradas,

Consciente também da sua resolução 63/241, de 24 de dezembro de 2008, a qual exortou todos os
Estados para que dessem atenção ao impacto da detenção e o encarceramento de crianças e, em particular,
para identificar e promover boas práticas em relação às necessidades e ao desenvolvimento físico, emocional,
social e psicológico de bebês e crianças afetadas pela detenção ou encarceramento de pais,

Tendo em consideração a Declaração de Viena sobre Crime e Justiça: Enfrentando o desafio do século
XXI,7 pela qual os Estados-membros se comprometeram, inter alia, a formular recomendações de ações
políticas baseadas nas necessidades especiais da mulher, na condição de presa ou infratora, e os planos de
ação para a implementação da Declaração8,

Indicando a Declaração de Bangkok sobre Sinergia e Respostas: Alianças Estratégicas na Prevenção ao


Delito e Justiça Penal9, na medida em que se relaciona especificamente às mulheres em detenção e
submetidas a medidas não privativas de liberdade,

1 Resoluções 663 C (XXIV)/57 e 2076 (LVII)/77 do Conselho Econômico e Social


2 Resolução do Conselho Econômico e Social 1984/47
3 Resolução 43/173 da Assembleia Geral
4 Resolução 45/111 da Assembleia Geral
5 Resolução 45/110 da Assembleia Geral
6 Resolução 2002/12 do Conselho Econômico e Social
7 Resolução 55/59
8 Resolução 56/261
9 Resolução 60/177
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 347

Recordando que, na Declaração de Bangkok, Estados-membros recomendaram à Comissão sobre


Prevenção ao Crime e Justiça Criminal que considere a possibilidade de revisar a adequação dos padrões e
normas em relação à administração penitenciária e aos detentos,

Tomando nota da iniciativa do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos em
denominar a semana entre 6 e 12 de outubro de 2008 como a Semana da Dignidade e da Justiça para os
Detentos, na qual se enfatizava os direitos humanos de mulheres e meninas,

Considerando que mulheres presas são um dos grupos vulneráveis com necessidades e exigências
específicas,

Consciente de que muitas instalações penitenciárias existentes no mundo foram concebidas


principalmente para presos do sexo masculino, enquanto o número de presas tem aumentado
significativamente ao longo dos anos,

Reconhecendo que uma parcela das mulheres infratoras não representa risco à sociedade e, tal como
ocorre para todos os infratores, seu encarceramento pode dificultar sua reinserção social,

Acolhendo o desenvolvimento pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime do manual
intitulado Manual Para Gestores e Formuladores de Políticas Públicas sobre Mulheres e Encarceramento10

Acolhendo também o convite contido na Resolução 10/2 do Conselho de Direitos Humanos, de 25 de


março de 2009, dirigido a governos, órgãos internacionais e regionais relevantes, instituições nacionais de
direitos humanos e organizações não-governamentais, para que dediquem maior atenção à questão das
mulheres e meninas em prisões, incluindo questões relacionadas aos filhos de mulheres presas, com o intuito
de identificar e abordar os aspectos e desafios do problema em função do gênero

Acolhendo ademais a colaboração entre o Escritório Regional da Europa da Organização Mundial da


Saúde e o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, e tomando nota da Declaração de Kiev sobre
a saúde de mulheres em prisões11

Tomando nota das Diretrizes das Nações Unidas sobre Emprego e Condições Adequadas de Cuidados
Alternativos com Crianças12

Recordando a Resolução 18/1 da Comissão sobre Prevenção ao Crime e Justiça Criminal, de 24 de abril
de 2009, na qual a Comissão solicitou ao diretor executivo do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e
Crime que convocasse em 2009 uma reunião de um grupo intergovernamental de especialistas de composição
aberta encarregado de elaborar, em consonância com as Regras Mínimas para o Tratamento de Reclusos e
as Regras de Tóquio, regras complementares específicas para o tratamento de mulheres em detenção e em
medidas privativas ou não-privativas de liberdade; acolheu com satisfação a oferta do governo da Tailândia
para atuar como anfitrião da reunião do grupo de especialistas, e pediu a esse grupo de especialistas que
apresentasse o resultado de seu trabalho no 12º Congresso das Nações Unidas sobre Prevenção ao Crime e
Justiça Criminal, que foi realizado posteriormente em Salvador (Brasil), entre 12 e 19 de setembro de 2010,

Recordando também que nas quatro reuniões regionais preparatórias do 12º Congresso das Nações
Unidas sobre Prevenção ao Crime e Justiça Criminal recebeu com entusiasmo o desenvolvimento de um
conjunto de regras complementares específicas para o tratamento de mulheres encarceradas e submetidas a
medidas de restrição ou não restrição de liberdade13
Recordando ademais a Declaração de Salvador sobre Estratégias Abrangentes para Desafios Globais:
Sistemas de Prevenção ao Crime e de Justiça Criminal e seus Desenvolvimentos em um Mundo em

10 Publicação das Nações Unidas, Núm. de vendas E.08.IV.4


11 Escritório Regional para Europa da Organização Mundial da Saúde e Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, Women’s
Health in Prison: Correcting Gender Inequity in Prison Health (Copenhague, 2009).
12 Resolução 64/142,
13 A/CONF.213/RPM.1/1, A/CONF.213/RPM.2/1, A/CONF.213/RPM.3/1 e A/CONF.213/RPM.4/1.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 348

Transformação14, na qual os Estados membros recomendaram que a Comissão sobre Prevenção ao Crime e
Justiça Criminal considerasse com caráter prioritário o projeto de Regras as Nações Unidas para o Tratamento
de Mulheres Presas e Medidas Não Privativas de Liberdade para Mulheres Infratoras com o intuito de adotar
as medidas apropriadas,

1. Toma nota com apreço pelo trabalho do grupo de especialistas para desenvolver medidas
complementares específicas para o tratamento de mulheres encarceradas e submetidas a medidas
PRIVATIVAS E NÃO PRIVATIVAS durante a reunião realizada em Bangkok, entre 23 e 26 de novembro de
2009, assim como os resultados dessa reunião15;

2. Expressa sua gratidão ao governo da Tailândia por ter atuado como anfitrião da reunião do grupo de
especialistas e pelo apoio financeiro concedido para a organização da reunião;

3. Adota as Regras as Nações Unidas para o Tratamento de Mulheres Presas e Medidas Não Privativas
de Liberdade para Mulheres Infratoras, anexadas à presente resolução, e aprova a recomendação do 12º
Congresso das Nações Unidas sobre Prevenção ao Crime e Justiça Criminal que tais regras devem ser
conhecidas como “as Regras de Bangkok”;

4. Reconhece que, devido à grande variedade de condições jurídicas, sociais, econômicas e geográficas
no mundo, nem todas as regras podem se aplicadas igualmente em todos os lugares e a todo o momento; no
entanto, devem servir para estimular o empenho para superar dificuldades práticas em sua aplicação, sabendo
que representam, de modo geral, aspirações globais em sintonia com o objetivo comum de melhorar a situação
de mulheres prisioneiras, seus filhos e suas comunidades;

5. Incentiva os Estados-membros a adotar legislação para estabelecer alternativas à prisão e a priorizar


o financiamento de tais sistemas, assim como o desenvolvimento dos mecanismos necessários para sua
implementação;

6. Incentiva os Estados-membros que elaboraram leis, procedimentos, políticas e práticas para mulheres
em prisões ou alternativas ao cárcere para mulheres infratoras a tornarem disponíveis essas informações a
outros Estados-membros e organizações internacionais, regionais e intergovernamentais, além de
organizações não-governamentais, e ajudá-los a desenvolver e implementar a capacitação ou outras atividades
relacionadas a tais leis, procedimentos, políticas e práticas;

7. Convida os Estados-membros a considerarem as necessidades e realidades específicas das mulheres


presas ao desenvolver leis, procedimentos, políticas e planos de ação relevantes e que reflitam, oportunamente,
as Regras de Bangkok;

8. Também convida os Estados-membros a reunir, manter, analisar e publicar, oportunamente, dados


específicos sobre mulheres presas e infratoras;

9. Enfatiza que ao sentenciar ou decidir medidas cautelares a mulheres grávidas ou pessoa que seja fonte
primária ou única de cuidado de uma criança, medidas não privativas de liberdade devem ser preferíveis
quando possível e apropriado, e considerar impor penas privativas de liberdade a casos de crimes graves ou
violentos;

10. Solicita ao Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime que providencie serviços de
assistência técnica e assessoramento aos Estados-membros, mediante solicitação, com o intuito de
desenvolver ou fortalecer, se for adequado, leis, procedimentos, políticas e práticas para mulheres em prisões
ou alternativas ao cárcere para mulheres infratoras;

11. Solicita também ao Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime que, oportunamente, adote
medidas, para assegurar ampla disseminação das Regras de Bangkok, como um complemento para as Regras

14 A/CONF.213/18, cap. I, resolução 1.


15 A/CONF.213/17
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 349

Mínimas para o Tratamento dos Reclusos e para as Regras Mínimas das Nações Unidas sobre Medidas Não
Privativas de Liberdade (Regras de Tóquio), e a intensificação de atividades de informação nessa área;

12. Solicita ademais ao Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime aumentar sua cooperação
com outras entidades relevantes das Nações Unidas, organizações intergovernamentais e regionais e
organizações não-governamentais para o provimento de assistência técnica a países e para identificar
necessidades e capacidades dos países com o intuito de aumentara cooperação entre os países e a
cooperação Sul-Sul;

1. Convida agências especializadas do sistema das Nações Unidas e relevantes organizações


intergovernamentais regionais e internacionais e organizações não-governamentais para participar na
implementação das Regras de Bangkok;

2. Convida Estados-membros e outros doadores a fornecer contribuição extra-orçamentárias para tais


propósitos, em conformidade com as regras e procedimentos das Nações Unidas.

Anexo

REGRAS DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O TRATAMENTO DE MULHERES PRESAS E


MEDIDAS NÃO PRIVATIVAS DE LIBERDADE PARA MULHERES INFRATORAS (REGRAS
DE BANGKOK)

Observações preliminares

1. As Regras Mínimas para o Tratamento dos Reclusos16 se aplicam a todos os reclusos sem discriminação;
portanto, as necessidades e realidades específicas de todos os reclusos, incluindo mulheres presas, devem
ser tomadas em consideração na sua aplicação. As Regras, adotadas há mais de 50 anos, não projetavam,
contudo, atenção suficiente às necessidades específicas das mulheres. Com o aumento da população presa
feminina ao redor do mundo, a necessidade de trazer mais clareza às considerações que devem ser aplicadas
no tratamento de mulheres presas adquiriu importância e urgência.

2. Reconhecendo a necessidade de estabelecer regras de alcance mundial em relação a considerações


específicas que deveriam ser aplicadas a mulheres presas e infratoras e levando em conta várias resoluções
relevantes adotadas por diferentes órgãos das Nações Unidas, pelas quais Estados-membros foram
convocados a responder adequadamente às necessidades das mulheres presas e infratoras, as presentes
regras foram elaboradas para complementar, se for adequado, as Regras Mínimas para o Tratamento dos
Reclusos e as Regras Mínimas das Nações Unidas para Elaboração de Medidas Não Privativas de Liberdade
(Regras de Tóquio)17, em conexão com o tratamento amulheres presas ou alternativas ao cárcere para
mulheres infratoras;

3. As presentes regras não substituem de modo algum as Regras Mínimas para o Tratamento de Reclusos e
as Regras de Tóquio e, portanto, todas as provisões contidas nesses dois instrumentos continuam a serem
aplicadas a todos os reclusos e infratores sem discriminação. Enquanto algumas das presentes regras aclaram
as provisões existentes nas Regras Mínimas para o Tratamento de Reclusos e nas Regras de Tóquio em sua
aplicação a mulheres presas e infratoras, outras compreendem novas áreas.

4. Essas regras são inspiradas por princípios contidos em várias convenções e resoluções das Nações Unidas
e estão, portanto, de acordo com as provisões do direito internacional em vigor. Elas são dirigidas às
autoridades penitenciárias e agências de justiça criminal (incluindo os responsáveis por formular políticas
públicas, legisladores, o ministério público, o judiciário e os funcionários encarregados de fiscalizar a liberdade

16 Human Rights: A Compilation of International Instruments, vol. I, Parte I: Universal Instruments (Publicação das Nações Unidas,
Num. E.02.XIV.4 (vol. I, Parte I)), seção. J, Núm. 34
17 Resolução 45/110
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 350

condicional envolvidos na administração de penas não privativas de liberdade e de medidas em meio


comunitário.

5. As Nações Unidas tem enfatizado em diversos contextos as exigências específicas para abordar a situação
de mulheres infratoras. Por exemplo, em 1980, o Sexto Congresso das Nações Unidas sobre Prevenção ao
Crime e Tratamento do Delinquente adotou uma resolução sobre as necessidades específicas das mulheres
presas, na qual recomendou que, na aplicação das resoluções aprovadas pelo sexto Congresso, direta ou
indiretamente relacionadas com o tratamento dos infratores, se reconhecessem os problemas específicos das
mulheres presas e a necessidade de se propiciar meios para sua solução; que nos países onde isso ainda não
fora feito, os programas e serviços utilizados como medidas alternativas ao encarceramento devem ser
disponibilizados a mulheres infratoras da mesma forma que aos homens infratores; e que as Nações Unidas,
as organizações governamentais e não governamentais reconhecidas como entidades consultivas pela
Organização e todas as outras organizações internacionais continuassem envidando esforços para assegurar
que a mulher infratora fosse tratada justa e igualmente durante a prisão, processo , sentença e encarceramento,
com atenção especial dedicada aos problemas específicos enfrentados pelas mulheres infratoras, tais como
gravidez e cuidados com os filhos18.18

6. O Sétimo19, Oitavo20 e Nono Congressos,21 também fizeram recomendações específicas sobre mulheres
presas.

7. Na Declaração de Viena sobre Crime e Justiça: Enfrentando o desafio do século XXI, também adotada pelo
Décimo Congresso, Estados-membros comprometeram-se a considerar e abordar, dentro do Programa das
Nações Unidas de Prevenção ao Crime e Estratégias de Justiça Criminal, assim como nas estratégias nacionais
de prevenção ao crime e justiça criminal, qualquer impacto discrepante dos programas e políticas sobre homens
e mulheres (parágrafo 11); assim como a formular políticas orientadas para ação baseadas nas necessidades
especiais de mulheres presas e infratoras (parágrafo 12). Os planos de ação para a implementação da
Declaração de Viena23contem uma seção separada (seção XIII) dedicada às medidas específicas
recomendadas para dar prosseguimento aos compromissos estabelecidos nos parágrafos 11 e 12 da
Declaração, incluindo a de que os Estados revisem, avaliem e, se necessário, modifiquem sua legislação,
políticas, procedimentos e práticas relacionadas a matérias penais, de modo consistente com seus sistemas
jurídicos, com o intuito de assegurar que as mulheres sejam tratadas imparcialmente pelo sistema de justiça
criminal.

8. A Assembleia Geral, em sua resolução 58/183, de 22 de dezembro de 2003, intitulado “Direitos humanos
na administração da justiça”, pediu por maior atenção à questão das mulheres na prisão, incluindo os filhos de
mulheres presas, com a perspectiva de identificar os problemas-chave e modos de abordá-los.

9. Em sua resolução 61/143, de 19 de dezembro de 2006, intitulada “Intensificação dos esforços para eliminar
todas as formas de violência contra mulheres”, a Assembleia Geral destacou que por “violência contra
mulheres” se entendia todo ato de violência baseado no pertencimento ao sexo feminino que tivesse ou
pudesse ter como resultado um dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico para mulheres, assim como
as ameaças de tais atos, incluindo a privação arbitrária de liberdade, seja no âmbito público ou privado da vida,
e incentivou os Estados a examinar e, oportunamente, revisar, emendar ou abolir todas as leis, normas,
políticas, práticas e usos que discriminem mulheres ou que tenham efeitos discriminatórios sobre elas, e
garantir que provisões de sistemas jurídicos múltiplos, quando existentes, cumpram obrigações, compromissos

18 Sexto Congresso das Nações Unidas para a Prevenção ao Crime e Tratamento do Delinquente, Caracas, 25 de agosto a 5 de
setembro de 1980: relatório preparado pela Secretaria (publicação das Nações Unidas, edição num. E.81.IV.4), cap. I, seção. B,
resolução 9 (sobre tratamento igualitario de mulheres pelo sistema de justiça criminal)
19 Sétimo Congresso das Nações Unidas para a Prevenção ao Crime e Tratamento do Delinquente, Milão, 26 agosto a 6 de setembro

de 1985: relatório preparado pela Secretaria (publicação das Nações Unidas, edição num. E.86.IV.1), cap. I, seção E, resolução 6
(sobre tratamento igualitario de mulheres pelo sistema de justiça criminal).
20 Princípios Básicos para o Tratamento de Reclusos (resolução 45/111 da Assembleia Geral, anexo); Oitavo Congresso das Nações

Unidas para a Prevenção ao Crime e Tratamento do Delinquente,, Havana, 27 de agosto a 7 de setembro de 1990: relatório preparado
pela Secretaria (publicação das Nações Unidas, edição num. E.91.IV.2), cap. I, seção C, resolução 17 (sobre prisão preventiva), 19
(sobre administração da justiça criminal e desenvolvimento de políticas sentenciais) e 21 (sobre cooperação internacional e inter-
regional na administração prisional e sanções de caráter comunitário e outros temas).
21 Sétimo Congresso das Nações Unidas para a Prevenção ao Crime e Tratamento do Delinquente, Milão, 26 agosto a 6 de setembro

de 1985: relatório preparado pela Secretaria (publicação das Nações Unidas, edição num. E.86.IV.1), cap. I, seção E, resolução 6
(sobre tratamento igualitario de mulheres pelo sistema de justiça criminal).
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 351

e princípios internacionais de direitos humanos, incluindo o princípio de não-discriminação; que tomassem


medidas positivas para abordar causas estruturais da violência contra mulheres e para robustecer esforços de
prevenção contra práticas e normas sociais discriminatórias, incluindo aquelas em relação a mulheres que
necessitem de atenção especial, tais como mulheres em instituições ou encarceradas; e que providenciem
formação sobre a igualdade entre os gêneros e os direitos das mulheres aos profissionais encarregados de
zelar pelo cumprimento da lei e ao judiciário. A resolução é um reconhecimento do fato de que a violência
contra a mulher tem implicações específicas para aquelas mulheres em contato o sistema de justiça criminal,
assim como seu direito de não sofrer vitimização em caso de detenção. A segurança física e psicológica é
decisiva para assegurar os direitos humanos e melhorar a situação das mulheres infratoras, o que se aborda
nas presentes regras.

10. Finalmente, na Declaração de Bangkok sobre Sinergias e Respostas: Alianças Estratégicas na Prevenção
ao Crime e Justiça Penal, adotada pelo Décimo Primeiro Congresso das Nações Unidas sobre Prevenção ao
Crime e Justiça Criminal, em 25 de abril de 2005, os Estados-membros declararam estar comprometidos com
o desenvolvimento e manutenção de instituições criminais justas e eficientes, incluindo o tratamento humano a
todos aqueles sob medidas cautelares e em estabelecimentos penitenciários, em conformidade com os padrões
internacionais aplicáveis (parágrafo 8º); e recomendaram que a Comissão sobre Prevenção ao Crime e Justiça
Criminal deveria considerar a revisão da adequação dos padrões e normas em relação à gestão das prisões e
dos presos (parágrafo 30).

11. Como no caso das Regras Mínimas para o Tratamento dos Reclusos, devido à grande variedade de
condições jurídicas, sociais, econômicas e geográficas pelo mundo, é evidente que nem todas as seguintes
regras podem ser igualmente aplicadas em todos os locais e em todos os momentos. Elas devem, no entanto,
servir para estimular um empenho constante para superar dificuldades práticas na sua aplicação, no sentido
de que representam, em seu conjunto, as aspirações globais consideradas pelas Nações Unidas como o
objetivo comum de melhorar as condições das mulheres nas prisões, seus filhos e suas comunidades.

12. Algumas dessas regras abordam questões que interessam a homens e mulheres presos, incluindo aquelas
referentes às responsabilidades maternas e paternas, alguns serviços médicos, procedimentos de registro
pessoal, entre outros, apesar das regras abordarem principalmente as necessidades das mulheres e seus
filhos. Contudo, como o foco inclui os filhos de mulheres encarceradas, há necessidade de se reconhecer o
papel central de ambos os pais na vida das crianças. Dessa forma, algumas dessas regras se aplicariam
igualmente aos homens presos e infratores que são pais. Introdução

13. As seguintes regras não substituem de modo algum as Regras Mínimas para o Tratamento dos Reclusos
e as Regras de Tóquio. Portanto, todas as provisões contidas nesses dois instrumentos continuam a serem
aplicadas a todos os presos e infratores sem discriminação.

14. A Seção I das presentes regras, que compreende a administração geral das instituições, é aplicável a todas
as categorias de mulheres privadas de liberdade, incluindo casos penais e civis, mulheres presas
preventivamente ou condenadas ou, assim como mulheres submetidas a “medidas de segurança” ou medidas
corretivas ordenadas por um juiz.

15. A Seção II contém regras aplicáveis apenas a categorias especiais tratadas em cada subseção. Apesar
disso, as regras da subseção A, que se aplicam a presas condenadas, se aplicam igualmente à categoria de
presas relacionadas na subseção B, sempre que não se contraponham às normas relativas a essa categoria
de mulheres e que seja em seu benefício.

16. As subseções A e B contem regras adicionais para o tratamento de jovens mulheres presas. É importante
notar, porém, que políticas e estratégias distintas em conformidade com padrões internacionais, em particular
as Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça, da Infância e da Juventude (Regras
de Beijing), as Diretrizes das Nações Unidas para a Prevenção da Delinquência Juvenil (Diretrizes de Riad), as
Regras das Nações Unidas para a Proteção de Jovens Privados de Liberdade e as Diretrizes para a Ação sobre
Crianças no Sistema de Justiça Penal, precisam ser construídas para o tratamento e reabilitação dessa
categoria de presos, enquanto a sua internação em instituições deve ser evitada ao máximo.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 352

17. A Seção III contém regras que contemplam a aplicação de sanções não privativas de liberdade e medidas
para jovens e mulheres infratoras, incluindo no momento de sua prisão, assim como nos estágios de
procedimentos de justiça criminal anteriores ao julgamento, sentença e após a sentença.

18. A Seção IV contém regras sobre pesquisa, planejamento, avaliação, sensibilização pública e
compartilhamento de informações, e é aplicável a todas as categorias de mulheres infratoras compreendidas
nessas regras.

I. Regras de aplicação geral


1. Princípio básico [Complementa a regra 6 das Regras Mínimas para o Tratamento dos Reclusos]
Regra 1

A fim de que o princípio de não-discriminação, incorporado na regra 6 das Regras Mínimas para o Tratamento
dos Reclusos, seja posto em prática, deve-se ter em consideração as distintas necessidades das mulheres
presas na aplicação das Regras. A atenção a essas necessidades para atingir substancial igualdade entre os
gêneros não deverá ser considerada discriminatória.

2. Ingresso
Regra 2

1. Atenção adequada deve ser dedicada aos procedimentos de ingresso de mulheres e crianças, devido à sua
especial vulnerabilidade nesse momento. Deverão ser oferecidas às recém-ingressas condições para contatar
parentes; ter acesso à assistência jurídica; informações sobre as regras e regulamentos das prisões, o regime
prisional e onde buscar ajuda quando necessário numa linguagem que elas compreendam; e, em caso de
estrangeiras, acesso aos seus representantes consulares.
2. Antes ou no momento de seu ingresso, deverá ser permitido às mulheres responsáveis pela guarda de
crianças, tomar as providências necessárias em relação a elas, incluindo a possibilidade de suspender por um
período razoável a detenção, levando em consideração o melhor interesse das crianças.

3. Registro [Complementa a regra 7 das Regras Mínimas para o Tratamento dos Reclusos]
Regra 3

1. No momento do ingresso, deverão ser registrados os dados pessoais e o número de filhos das mulheres que
ingressam nas prisões. Os registros deverão incluir, sem prejudicar os direitos da mãe, ao menos os nomes
das crianças, suas idades e, quando não acompanharem a mãe, sua localização e custódia ou situação de
guarda.
2. Toda informação relativa à identidade das crianças deverá ser confidencial, e o uso de tais informações
deverá sempre obedecer à exigências de garantir o melhor interesse das crianças.

4. Alocação
Regra 4

Mulheres presas deverão permanecer, na medida do possível, em prisões próximas ao seu meio familiar ou
local de reabilitação social, considerando A/C.3/65/L.5 10-56194 11 suas responsabilidades maternas, assim
como sua preferência pessoal e a disponibilidade de programas e serviços apropriados.

5. Higiene pessoal [Complementa as regras15 e 16 das Regras Mínimas para o Tratamento dos
Reclusos]
Regra 5

A acomodação de mulheres presas deverá conter instalações e materiais exigidos para satisfazer as
necessidades de higiene específicas das mulheres, incluindo toalhas sanitárias gratuitas e um suprimento
regular de água disponível para cuidados pessoais das mulheres e crianças, em particular às mulheres
ocupadas com a cozinha e às mulheres grávidas, que estejam em amamentação ou menstruação.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 353

6. Serviços de cuidados à saúde [Complementa as regras 22 a 26 das Regras Mínimas para o Tratamento
dos Reclusos]
(a) Exame médico no ingresso

[Complementa a regra 24 das Regras Mínimas para o Tratamento dos Reclusos]

Regra 6

O exame médico de mulheres presas deverá incluir avaliação ampla para determinar cuidados primários à
saúde, e deverá também determinar:
(a) A presença de doenças sexualmente transmissíveis ou de transmissão sanguínea; e, dependendo dos
fatores de risco, mulheres presas poderão ser submetidas a testes de HIV, com orientação antes e depois do
teste;
(b) Necessidades de cuidados com a saúde mental, incluindo transtorno de estresse pós-traumático e risco de
suicídio e de lesões auto infligidas;
(c) O histórico de saúde reprodutiva da mulher presa, incluindo atual ou recente gravidez, partos e qualquer
questão relacionada à saúde reprodutiva;
(d) A existência de dependência de drogas;
(e) Abuso sexual ou outras formas de violência que possa ter sofrido anteriormente ao ingresso.

Regra 7

1. Se diagnosticada a existência de abuso sexual ou outras formas de violência antes ou durante o


encarceramento, a mulher presa deverá ser informada de seu direito de recorrer às autoridades judiciais. A
mulher presa deverá ser plenamente informada sobre os procedimentos e etapas envolvidas. Se a mulher presa
concordar em prosseguir com ações judiciais, funcionários A/C.3/65/L.5 12 10-56194 competentes deverão ser
avisados e imediatamente o caso será remetido à autoridade competente para investigação. As autoridades
prisionais deverão ajudá-la a obter assistência jurídica.
2. Escolha ou não pela ação judicial, as autoridades prisionais deverão empenhar-se em garantir que ela tenha
acesso imediato a aconselhamento ou apoio psicológico especializado.
3. Medidas concretas deverão ser adotadas para evitar qualquer retaliação contra quem produza os relatórios
correspondentes ou conduza ações judiciais.

Regra 8

O direito das mulheres presas à confidencialidade médica, incluindo especificamente o direito de não
compartilhar ou não se submeter a exames em relação a seu histórico de saúde reprodutiva, será respeitado
em todo momento.

Regra 9

Se a mulher presa for acompanhada de criança, esta também deverá passar por exame médico,
preferencialmente por um pediatra, para determinar eventual tratamento ou necessidades médicas. Serão
oferecidos cuidados médicos, ao menos equivalentes aos disponíveis na comunidade.

(b) Cuidados com a saúde voltados especificamente para mulheres

Regra 10

1. Serão oferecidos às presas serviços de cuidados com a saúde voltados especificamente para mulheres, ao
menos equivalentes com aqueles disponíveis na comunidade.
2. Se uma mulher presa solicitar ser examinada ou tratada por uma médica ou enfermeira, o pedido será
atendido na medida do possível, exceto em situações que exijam intervenção médica urgente. Se um médico
conduzir o exame de forma contrária à vontade da mulher presa, uma funcionária deverá estar presente durante
o exame.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 354

Regra 11

1. Durante os exames deverá estar presente apenas a equipe médica, a menos que o médico julgue que
existam circunstâncias excepcionais ou solicite a presença de um funcionário da prisão por razões de
segurança ou a mulher presa especificamente solicite a presença de um funcionário como indicado no
parágrafo 2º da regra 10 acima.
2. Se durante os exames houver necessidade da presença de um funcionário que não seja da equipe médica,
tal funcionário deverá ser mulher e os exames deverão ser conduzidos de modo a salvaguardar a privacidade,
dignidade e confidencialidade do procedimento.

(c) Cuidados com a saúde mental A/C.3/65/L.5 10-56194 13

Regra 12

Serão disponibilizados às mulheres presas com necessidades de atenção à saúde mental, na prisão ou fora
dela, programas amplos e individualizados de atenção à saúde e à reabilitação, sensíveis às questões de
gênero e habilitados para tratamento dos traumas.

Regra 13

Funcionários da prisão deverão ser alertados dos momentos de especial angústia para que sejam sensíveis a
tal situação e assegurem que as mulheres recebam apoio adequado.

(d) Prevenção do HIV, tratamento, cuidado e apoio

Regra 14

Ao se formular respostas ante o HIV/AIDS nas instituições penitenciárias, os programas e serviços deverão ser
orientados às necessidades próprias das mulheres, incluindo a prevenção da transmissão de mãe para filho.
Nesse contexto, as autoridades penitenciárias deverão incentivar e apoiar o desenvolvimento de iniciativas de
prevenção, tratamento e cuidado do HIV, como a educação entre pares.

(e) Programas de tratamento do consumo de drogas

Regra 15

Os serviços de saúde da prisão deverão prover ou facilitar programas de tratamento especializados a mulheres
usuárias de drogas, considerando anterior vitimização, as necessidades especiais das mulheres grávidas e
mulheres com crianças, assim como a diversidade cultural de suas experiências.

(f) Prevenção ao suicídio e às lesões auto infligidas

Regra 16

A elaboração e aplicação de estratégias, em consulta com os serviços de atenção à saúde mental e de


assistência social, para prevenir o suicídio e as lesões auto infligidas entre as presas, e a prestação de apoio
adequado, especializado e focado nas necessidades das mulheres em situação de risco, deverão formar parte
de uma política ampla de atenção à saúde mental nas penitenciárias femininas.

(g) Serviços preventivos de atenção à saúde

Regra 17

As mulheres presas receberão educação e informação sobre as medidas preventivas de atenção à saúde,
incluindo em relação ao HIV e as doenças sexualmente transmissíveis e de transmissão sanguínea, assim
como sobre os problemas de saúde específicos das mulheres.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 355

Regra 18

A/C.3/65/L.5 14 10-56194 Medidas preventivas de atenção à saúde de particular relevância para mulheres,
tais como o teste de Papanicolau e exames de câncer de mama e ginecológico, deverão ser oferecidas às
mulheres presas da mesma maneira que às mulheres de mesma idade não privadas de liberdade.

7. Segurança e vigilância

[Complementa as regras 27 a 36 das Regras Mínimas para o Tratamento dos reclusos]

(a) Revistas

Regra 19

Medidas efetivas deverão ser tomadas para assegurar a dignidade e o respeito às mulheres presas durante
as revistas pessoais, as quais deverão ser conduzidas apenas por funcionárias que tenham sido devidamente
treinadas por métodos adequados e em conformidade com os procedimentos estabelecidos. Regra 20 Deverão
ser desenvolvidos outros métodos de inspeção, tais como escâneres, para substituir revistas íntimas e revistas
corporais invasivas, de modo a evitar danos psicológicos e eventuais impactos físicos dessas inspeções
corporais invasivas.

Regra 21

Funcionários da prisão deverão demonstrar competência, profissionalismo e sensibilidade e deverão preservar


o respeito e a dignidade ao revistarem crianças na prisão com a mãe ou em visitação de presas.

(b) Disciplina e sanções

[Complementa as regras27 a 32 das Regras Mínimas para o Tratamento dos Reclusos]

Regra 22

Não se aplicarão sanções de isolamento ou segregação disciplinar a mulheres grávidas, nem a mulheres com
filhos ou em período de amamentação.

Regra 23

Sanções disciplinares para mulheres presas não devem incluir proibição de contato com a família,
especialmente com as crianças.

(c) Instrumentos de coerção


[Complementa as regras33 e 34 das Regras Mínimas para o Tratamento dos Reclusos]

Regra 24

A/C.3/65/L.5 10-56194 15 Instrumentos de coerção jamais deverão ser usados contra mulheres prestes a dar
a luz, durante trabalho de parto nem no período imediatamente posterior.

(d) Informações para as presas e queixas recebidas delas; vistorias

[Complementa as regras 35 e 36 e, em relação à vistoria, regra 55 das Regras Mínimas para o Tratamento
dos Reclusos]

Regra 25
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 356

1. Mulheres presas que relatarem abusos deverão receber imediatamente proteção, apoio e aconselhamento,
e suas alegações deverão ser investigadas por autoridades competentes e independentes, com pleno respeito
pelo princípio de confidencialidade. Medidas de proteção deverão considerar especificamente os riscos de
retaliações.
2. Mulheres presas que tenham sido submetidas a abuso sexual, especialmente aquelas que engravidaram
em decorrência desse abuso, deverão receber orientações e aconselhamento médicos apropriados e deverão
ser contar com os necessários cuidados com a saúde física e mental, apoio e assistência jurídica.
3. Com o intuito de monitorar as condições de prisão e de tratamento das mulheres presas, entre os membros
dos mecanismos inspeção, visitantes ou supervisores, deverão constar mulheres.

8. Contato com o mundo exterior


[Complementa as regras37 a 39 das Regras Mínimas para o Tratamento dos Reclusos]

Regra 26

Será incentivado e facilitado por todos os meios razoáveis o contato das mulheres presas com seus familiares,
incluindo seus filhos, quem detêm a guarda de seus filhos e seus representantes legais. Quando possível,
serão adotadas medidas para amenizar os problemas das mulheres presas em instituições distantes de seu
meio familiar.

Regra 27

Onde visitas conjugais forem permitidas, mulheres presas terão acesso a este direito do mesmo modo que os
homens.

Regra 28

Visitas que envolvam crianças devem ser realizadas em um ambiente propício a uma experiência saudável,
incluindo no que se refere ao comportamento dos funcionários, e deverá permitir o contato direto entre mães e
filhos. Se possível, deverão ser incentivadas visitas que permitam uma permanência prolongada dos filhos.

9. Funcionários penitenciários e sua capacitação A/C.3/65/L.5 16 10-56194


[Complementa as regras46 a 55 das Regras Mínimas para o Tratamento dos Reclusos]

Regra 29

A capacitação dos funcionários de penitenciárias femininas deverá colocá-los em condição de atender às


necessidades especiais das presas para sua reinserção social, assim como a manutenção de serviços seguros
e propícios para o cumprimento deste objetivo. As medidas de capacitação de funcionárias deverão incluir
também a possibilidade de acesso a postos superiores com responsabilidades determinantes para o
desenvolvimento de políticas e estratégias em relação ao tratamento e cuidados com as presas.

Regra 30

Deverá haver um comprometimento claro e permanente da administração penitenciária para evitar e abordar
discriminações de gênero contra funcionárias.

Regra 31

Deverão ser elaborados e aplicados regulamentos e políticas claros sobre o comportamento de funcionários,
com o intuito de prover a máxima proteção às mulheres presas contra todo tipo de violência física ou verbal
motivada por razões de gêneros, assim como abuso e assédio sexual.

Regra 32
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 357

O pessoal penitenciário feminino deverá ter o mesmo acesso à capacitação que seus correspondentes do sexo
masculino, e todos os funcionários da administração de penitenciárias femininas receberão capacitação sobre
questões de gênero e a necessidade de eliminar a discriminação e o assédio sexual.

Regra 33

1. Todo funcionário designado para trabalhar com mulheres presas deverá receber treinamento sobre as
necessidades específicas das mulheres e os direitos humanos das presas.
2. Deverá ser oferecido treinamento básico aos funcionários das prisões sobre as principais questões
relacionadas à saúde da mulher, além de medicina básica e primeiros-socorros.
3. Quando crianças puderem acompanhar suas mães na prisão, os funcionários também serão sensibilizados
sobre as necessidades de desenvolvimento das crianças e será oferecido treinamento básico sobre atenção à
saúde da criança para que respondam com prontidão a emergências.

Regra 34

Os programas de capacitação sobre HIV deverão ser incluídos como parte do treinamento regular dos
funcionários da prisão. Além da prevenção, tratamento, cuidado e apoio relativos a HIV/AIDS, temas como
gênero e A/C.3/65/L.5 10-56194 17 direitos humanos, com particular ênfase em sua relação com o HIV, a
estigmatização e a discriminação, também deverão fazer parte do currículo.

Regra 35

Os funcionários da prisão deverão ser treinados para detectar a necessidade de cuidados com a saúde mental
e o risco de lesões auto infligidas e suicídio entre as mulheres presas, além de prestar assistência, apoio e
encaminhar tais casos a especialistas. 10. Prisões femininas para jovens

Regra 36

Autoridades prisionais deverão colocar em prática medidas para atender as necessidades de proteção de
jovens presas..

Regra 37

Jovens presas deverão ter acesso à educação e à orientação vocacional equivalente ao disponível a jovens
presos .

Regra 38

As jovens presas deverão ter acesso a programas e serviços correspondentes à sua idade e gênero, como
aconselhamento sobre abuso ou violência sexual. Elas deverão receber educação sobre atenção à saúde da
mulher e ter acesso regular a ginecologistas, de modo similar às presas adultas.

Regra 39

Jovens grávidas deverão receber suporte e cuidados médicos equivalentes ao fornecido às presas adultas.
Sua saúde deverá ser monitorada por médico especializado, tendo em conta que devido à sua idade há maiores
riscos de complicações durante a gestação.

II. Regras aplicáveis a categorias especiais

A. Presas condenadas

1. Classificação e individualização [Complementa as regras 67 a 69 das Regras Mínimas para o


Tratamento dos Reclusos]
Regra 40
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 358

Administradores de prisões deverão desenvolver e implementar métodos de classificação que contemplem as


necessidades específicas de gênero e a situação das mulheres presas, com o intuito de assegurar o
planejamento e a execução de programas apropriados e individualizados para a reabilitação, o tratamento e a
reintegração das presas na sociedade.

Regra 41

A/C.3/65/L.5 18 10-56194 A avaliação de risco e a classificação de presos que tomem em conta a dimensão
de gênero deverão:
(a) Considerar que as mulheres presas apresentam, de um modo geral, menores riscos para os demais, assim
como os efeitos particularmente nocivos que podem ter as medidas de segurança elevadas e altos graus de
isolamento para as presas;
(b) Possibilitar que informações essenciais sobre seus antecedentes, como situações de violência que tenham
sofrido, histórico de transtorno mental e consumo de drogas, assim como responsabilidades maternas e outras
formas de cuidados com crianças, sejam tomados em consideração na distribuição das presas e na
individualização da pena;
(c) Assegurar que o regime de pena das mulheres inclua serviços e programas de reabilitação condizentes com
as necessidades específicas de gênero;
(d) Assegurar que as reclusas que necessitam de atenção à saúde mental sejam acomodadas em locais não
restritivos e cujo nível de segurança seja o menor possível, além de receber tratamento adequado ao invés de
colocá-las em unidades com elevados níveis de segurança apenas devido a seus problemas de saúde mental.

2. Regime prisional
[Complementa as regras65, 66 e de 70 a 81 das Regras Mínimas para o Tratamento dos Reclusos]

Regra 42

1. Mulheres presas deverão ter acesso a um programa amplo e equilibrado de atividades que considerem as
necessidades específicas de gênero.
2. O regime prisional deverá ser flexível o suficiente para atender às necessidades de mulheres grávidas,
lactantes e mulheres com filhos. Nas prisões serão oferecidos serviços e instalações para o cuidado das
crianças a fim de possibilitar às presas a participação em atividades prisionais.
3. Haverá especial empenho na elaboração de programas apropriados para mulheres grávidas, lactantes e com
filhos na prisão.
4. Haverá especial empenho na prestação de serviços adequados para presas que necessitem de apoio
psicológico, especialmente aquelas submetidas a abusos físicos, mentais ou sexuais.

Relações sociais e assistência posterior ao encarceramento [Complementa as regras 79 a 81 das Regras


Mínimas para o Tratamento dos Reclusos] Regra 43 A/C.3/65/L.5 10-56194 19

Autoridades prisionais deverão incentivar e, se possível, também facilitar visitas às mulheres presas como um
importante pré-requisito para assegurar seu bem-estar mental e sua reintegração social.

Regra 44

Tendo em vista a possibilidade de mulheres presas sofreram grave violência doméstica, elas deverão ser
devidamente consultadas a respeito de quem, incluindo seus familiares, pode visitá-las.

Regra 45

As autoridades penitenciárias concederão às presas, sempre que possível, opções como saídas temporárias,
regime prisional aberto, albergues de transição e programas e serviços comunitários com o intuito de facilitar
sua transição da prisão para a liberdade, reduzir o estigma e restabelecer contato com seus familiares em
estágios iniciais.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 359

Regra 46

Autoridades prisionais, em cooperação com os serviços de sursis, liberdade condicional e/ou de assistência
social, grupos comunitários locais e organizações não-governamentais, deverão formular e implementar
programas amplos de reinserção para o período anterior e posterior à saída da prisão, que incluam as
necessidades específicas das mulheres.

Regra 47

Após sua saída da prisão, deverá ser oferecido às mulheres egressas apoio psicológico, médico, jurídico e
ajuda prática para assegurar sua reintegração social exitosa, em cooperação com serviços da comunidade.

3. Mulheres grávidas, com filhos e lactantes na prisão


[Complementa a regra 23 das Regras Mínimas para o Tratamento dos Reclusos]

Regra 48

1. Mulheres grávidas ou lactantes deverão receber orientação sobre dieta e saúde dentro de um programa a
ser traçado e supervisionado por um profissional da saúde qualificado. Deverá ser fornecida gratuitamente
alimentação adequada e pontual para gestantes, bebês, crianças e lactantes em um ambiente saudável e com
a possibilidade para exercícios físicos regulares.
2. Mulheres presas não deverão ser desestimuladas a amamentar seus filhos, salvo se houver razões de saúde
específicas para tal. 3. As necessidades médicas e nutricionais das mulheres presas que tenham recentemente
dado a luz, mas cujos filhos não se encontram com elas na prisão, deverão ser incluídas em programas de
tratamento.

Regra 49

A/C.3/65/L.5 20 10-56194 Decisões para autorizar os filhos a permanecerem com suas mães na prisão deverão
ser fundamentadas no melhor interesse da criança. Crianças na prisão com suas mães jamais serão tratadas
como presas.

Regra 50

Mulheres presas cujos filhos estejam na prisão deverão ter o máximo de oportunidades possíveis de passar
tempo com eles.

Regra 51

1. Crianças vivendo com as mães na prisão deverão ter acesso a serviços permanentes de saúde e seu
desenvolvimento será supervisionado por especialistas, em colaboração com serviços de saúde comunitários.
2. O ambiente oferecido à educação dessas crianças deverá ser o mais próximo possível àquele de crianças
fora da prisão

. Regra 52

1. A decisão do momento de separação da mãe de seu filho deverá ser feita caso a caso e fundada no melhor
interesse da criança, no âmbito da legislação nacional pertinente.
2. A remoção da criança da prisão deverá ser conduzida com delicadeza, uma vez realizadas as diligências
apenas quando as providências necessárias para o cuidado da criança tenham sido identificadas e, no caso de
presas estrangeiras, com consulta aos funcionários consulares.
3. Uma vez separadas as crianças de suas mães e colocadas com familiares ou parentes, ou outra forma de
abrigo, às mulheres presas será dado o máximo de oportunidade e será facilitado o encontro entre elas e as
crianças, quando for no melhor interesse das crianças e a segurança pública não estiver comprometida..

4. Estrangeiras
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 360

[Complementa a regra 38 das Regras Mínimas para o Tratamento dos Reclusos]

Regra 53

1. Quando houver tratados bilaterais ou multilaterais em vigência, a transferência das presas estrangeiras não
residentes ao seu país de origem, especialmente se nele tiverem filhos, deverá ser considerada o mais cedo
possível ao tempo de seu encarceramento, após prévia requisição e o consentimento da presa.
2. Em caso de se retirar da prisão uma criança que viva com uma presa estrangeira não residente, será
considerado o envio da criança a seu país de origem, considerando o melhor interesse da criança e após
consulta à mãe.

5. Minorias e povos indígenas A/C.3/65/L.5 10-56194 21

Regra 54

Autoridades prisionais deverão reconhecer que mulheres presas de diferentes tradições religiosas e culturais
possuem necessidades distintas e podem enfrentar diversas formas de discriminação para obter acesso a
programas e serviços centrados em questões de gênero e de cultura. Desta forma, autoridades prisionais
deverão oferecer programas e serviços amplos que incluam essas necessidades, em consulta às próprias
presas e a grupos correspondentes.

Regra 55

Serão revisados os serviços de atenção anteriores e posteriores à liberdade para assegurar sua acessibilidade
às presas de origem indígena e de grupos étnicos distintos, em consulta a os grupos correspondentes.

B. Presas em reclusão preventiva ou esperando julgamento

[Complementa as regras84 a 93 das Regras Mínimas para o Tratamento dos Reclusos]

Regra 56

As autoridades competentes reconhecerão o risco de abuso que enfrentam as mulheres em prisão preventiva,
e adotarão medidas adequadas, de caráter normativo ou prático, para garantir sua segurança nessa situação
(veja também regra 58 abaixo, em relação às medidas cautelares alternativas). III. Medidas não-restritivas de
liberdade

Regra 57

As provisões das Regras de Tóquio deverão orientar o desenvolvimento e a implementação de respostas


adequadas às mulheres infratoras. Deverão ser desenvolvidas opções de medidas e alternativas à prisão
preventiva e à pena especificamente voltadas às mulheres infratoras, dentro do sistema jurídico do Estado-
membro, considerando o histórico de vitimização de diversas mulheres e suas responsabilidades maternas.

Regra 58

Considerando as provisões da regra 2.3 das Regras de Tóquio, mulheres infratoras não deverão ser separadas
de suas famílias e comunidades sem a devida atenção ao seu contexto e laços familiares. Formas alternativas
deverão ser usadas, quando possível, com as mulheres que cometam crimes, tais como medidas e alternativas
à prisão preventiva e à pena.

Regra 59

Em geral, serão utilizadas medidas protetivas não-privativas de liberdade, como albergues administrados por
órgãos independentes, organizações não-governamentais ou outros serviços comunitários, para assegurar
proteção às mulheres que necessitem. Serão aplicadas medidas temporárias de privação da liberdade para
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 361

proteger a uma mulher unicamente A/C.3/65/L.5 22 10-56194 quando seja necessário e expressamente
solicitado pela mulher interessada, sempre sob controle judicial ou outras autoridades competentes. Tais
medidas de proteção não deverão persistir contra a vontade da mulher referida.

Regra 60

Serão disponibilizados recursos suficientes para elaborar opções satisfatórias às mulheres infratoras com o
intuito de combinar medidas não privativas de liberdade com intervenções que visem responder aos problemas
mais comuns que levam as mulheres ao contato com o sistema de justiça criminal. Entre elas, podem-se incluir
cursos terapêuticos e orientação para vítimas de violência doméstica e abuso sexual; tratamento adequado
para aquelas com transtorno mental; e programas educacionais e de capacitação para melhorar possibilidades
de emprego. Tais programas considerarão serviços de atenção às crianças e outros destinados exclusivamente
às mulheres.

Regra 61

Ao condenar mulheres infratoras, os juízes terão a discricionariedade de considerar fatores atenuantes, tais
como ausência de histórico criminal e a não gravidade relativa da conduta criminal, considerando as
responsabilidades maternas e os antecedentes característicos.

Regra 62

Deverá ser aprimorada a prestação de serviços comunitários para o tratamento do consumo de drogas nos
quais se tenha presente questões de gênero, habilitados para o tratamento de traumas e destinados
exclusivamente às mulheres, assim como o acesso a estes tratamentos, para a prevenção de crimes e a adoção
de medidas e alternativas penais

1. Disposições pós-condenação
Regra 63

Decisões acerca do livramento condicional deverão considerar favoravelmente as responsabilidades maternas,


assim como suas necessidades específicas de reintegração social.

2. Mulheres grávidas e com filhos dependentes


Regra 64

Penas não privativas de liberdade serão preferíveis às mulheres grávidas e com filhos dependentes, quando
for possível e apropriado, sendo a pena de prisão apenas considerada quando o crime for grave ou violento ou
a mulher representar ameaça contínua, sempre velando pelo melhor interesse do filho ou filhos e assegurando
as diligências adequadas para seu cuidado.

3. Infratores menores de idade


Regra 65

A/C.3/65/L.5 10-56194 23 A institucionalização de crianças em conflito com a lei deverá ser evitada tanto quanto
possível. A vulnerabilidade de gênero das jovens do sexo feminino será tomada em consideração nas decisões.

4. Estrangeiras
Regra 66

Será empregado máximo empenho para ratificar a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado
Internacional e o Protocolo para a Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, Em Especial
Mulheres e Crianças, suplementar à Convenção30 para implementar integralmente suas provisões com o
intuito de oferecer máxima proteção às vítimas de tráfico e evitar a vitimização secundária de diversas mulheres
estrangeiras.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 362

IV. Pesquisa, planejamento, avaliação e sensibilização pública


1. Pesquisa, planejamento e avaliação

Regra 67

Serão envidados esforços para organizar e promover pesquisa ampla e orientada a resultados sobre delitos
cometidos por mulheres, as razões que as levam a entrar em conflito com o sistema de justiça criminal, o
impacto de criminalização secundária e o encarceramento de mulheres, as características das mulheres
infratoras, assim como os programas estruturados para reduzir a reincidência criminal feminina, como uma
base para planejamento efetivo, desenvolvimento de programas e formulação de políticas para atender às
necessidades de reintegração social das mulheres infratoras.

Regra 68

Serão envidados esforços para organizar e promover pesquisa sobre o número de crianças afetadas pelo
conflito de suas mães com o sistema de justiça criminal, e o encarceramento em particular, e o impacto disso
nas crianças, com o intuito de contribuir para a formulação de políticas e a elaboração de programas,
considerando o melhor interesse das crianças.

Regra 69
Serão envidados esforços para revisar, avaliar e tornar públicas periodicamente as tendências, os problemas
e os fatores associados ao comportamento infrator em mulheres e a efetividade em atender às necessidades
de reintegração social das mulheres infratoras, assim como de suas crianças, com o intuito de reduzir a
estigmatização e o impacto negativo que estas sofrem do conflito das mulheres com o sistema de justiça
criminal.

2. Sensibilização pública, troca de informações e capacitação


Regra 70

1. Os meios de comunicação e o público serão informados sobre as razões pelas quais as mulheres entram
em conflito com o sistema de justiça criminal e as maneiras mais eficazes de lidar com essas situações, com o
intuito permitir a reintegração social das mulheres, considerando o melhor interesse de seus filhos.
2. Publicação e disseminação da pesquisa e exemplos de boas práticas deverão formar elementos amplos de
políticas que visem melhorar os resultados e a igualdade das respostas do sistema de justiça criminal para
mulheres infratoras e sus filhos.
3. Os meios de comunicação, o público e aqueles com responsabilidade profissional no que se refere às
mulheres presas e infratoras terão regular acesso a informações empíricas acerca dos temas contemplados
nessas regras e sobre sua implementação.
4. Programas de capacitação sobre as presentes regras e os resultados de pesquisas serão desenvolvidos e
implementados para funcionários competentes da justiça criminal com o intuito de elevar sua consciência e
sensibilidade sobre as disposições contidas nessas regras.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 363

7. DECLARAÇÃO SOBRE O DIREITO E A RESPONSABILIDADE DOS


INDIVÍDUOS, GRUPOS OU ÓRGÃOS DA SOCIEDADE DE PROMOVER E PROTEGER OS
DIREITOS HUMANOS E LIBERDADES FUNDAMENTAIS UNIVERSALMENTE
RECONHECIDOS (DEFENSORES DE DIREITOS HUMANOS) - RESOLUÇÃO 53/144 DA
ASSEMBLEIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS, DE 1998

RESOLUÇÃO 53/144 DA ASSEMBLEIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS, DE 9 DE DEZEMBRO DE 1998.

A Assembleia Geral

Reafirmando a importância da realização dos objectivos e princípios da Carta das Nações Unidas para a
promoção e protecção de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais de todas as pessoas em todos
os países do mundo,

Tomando nota da resolução 1998/7 da Comissão dos Direitos do Homem, de 3 de Abril de 1998 , na qual a
Comissão aprovou o texto do projecto de declaração sobre o direito e a responsabilidade dos indivíduos, grupos
ou órgãos da sociedade de promover e proteger os direitos humanos e liberdades fundamentais universalmente
reconhecidos,

Tomando também nota da resolução 1998/33 do Conselho Económico e Social, de 30 de Julho de 1998, na
qual o Conselho recomendou o projecto de declaração à Assembleia Geral para adopção,

Consciente da importância da adopção do projecto de declaração no contexto do quinquagésimo aniversário


da Declaração Universal dos Direitos do Homem, Resolução 217 A (III).

1. Adopta a Declaração sobre o Direito e a Responsabilidade dos Indivíduos, Grupos ou Órgãos da Sociedade
de Promover e Proteger os Direitos Humanos e Liberdades Fundamentais Universalmente Reconhecidos,
anexa à presente resolução;
2. Convida os Governos, as agências e organizações do sistema das Nações Unidas e as organizações
intergovernamentais e não governamentais a intensificarem os seus esforços para divulgar a Declaração e para
promover o respeito universal e a compreensão da mesma, e solicita ao Secretário-Geral que inclua o texto da
Declaração na próxima edição da obra Direitos Humanos: Compilação de Instrumentos Internacionais.

85.ª reunião plenária 9 de Dezembro de 1998

ANEXO

Declaração sobre o Direito e a Responsabilidade dos Indivíduos, Grupos ou Órgãos da Sociedade de


Promover e Proteger os Direitos Humanos e Liberdades Fundamentais Universalmente Reconhecidos

A Assembleia Geral

Reafirmando a importância que assume a realização dos objectivos e princípios da Carta das Nações Unidas
para a promoção e protecção de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais de todas as pessoas
em todos os países do mundo,

Reafirmando também a importância da Declaração Universal dos Direitos do Homem e dos Pactos
Internacionais sobre Direitos Humanos enquanto elementos essenciais dos esforços internacionais para
promover o respeito universal e efectivo dos direitos humanos e liberdades fundamentais, bem como a
importância de outros instrumentos de direitos humanos adoptados no âmbito do sistema das Nações Unidas
e a nível regional,

Sublinhando que todos os membros da comunidade internacional deverão cumprir, em conjunto e


separadamente, a sua solene obrigação de promover e estimular o respeito dos direitos humanos e liberdades
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 364

fundamentais para todos sem qualquer distinção baseada, nomeadamente, na raça, cor, sexo, língua, religião,
opinião política ou outra, origem nacional ou social, condição económica, nascimento ou outra situação, e
reafirmando a particular importância de conseguir a cooperação internacional para cumprir essa obrigação em
conformidade com a Carta das Nações Unidas,

Reconhecendo o importante papel da cooperação internacional e o importante contributo do trabalho dos


indivíduos, grupos e associações para a efectiva eliminação de todas as violações de direitos humanos e
liberdades fundamentais dos povos e dos indivíduos, nomeadamente no que diz respeito a violações em massa,
flagrantes e sistemáticas como as que resultam do apartheid, de todas as formas de discriminação racial, do
colonialismo, do domínio ou ocupação estrangeira, da agressão ou ameaças à soberania nacional, unidade
nacional ou integridade territorial e da recusa em reconhecer o direito dos povos à autodeterminação e o direito
de todos os povos a exercerem a sua plena soberania sobre as suas riquezas e recursos naturais,

Reconhecendo a relação entre a paz e a segurança internacionais e o gozo dos direitos humanos e liberdades
fundamentais, e consciente de que a ausência de paz e segurança internacionais não constitui desculpa para
o desrespeito destes direitos e liberdades, Reiterando que todos os direitos humanos e liberdades fundamentais
são universais, indivisíveis, interdependentes e indissociáveis e deverão ser promovidos e realizados de forma
justa e equitativa, sem prejuízo da realização de cada um desses direitos e liberdades,

Sublinhando que a responsabilidade e o dever primordiais de promover e proteger os direitos humanos


incumbem ao Estado,

Reconhecendo que os indivíduos, grupos e associações têm o direito e a responsabilidade de promoverem o


respeito e o conhecimento dos direitos humanos e liberdades fundamentais a nível nacional e internacional,

Declara

Artigo 1.º
Todas as pessoas têm o direito, individualmente e em associação com outras, de promover e lutar pela
protecção e realização dos direitos humanos e das liberdades fundamentais a nível nacional e internacional.

Artigo 2.º
1. Cada Estado tem a responsabilidade e o dever primordiais de proteger, promover e tornar efectivos todos
os direitos humanos e liberdades fundamentais, nomeadamente através da adopção das medidas necessárias
à criação das devidas condições nas áreas social, económica, política e outras, bem como das garantias
jurídicas que se impõem para assegurar que todas as pessoas sob a sua jurisdição, individualmente e em
associação com outras, possam gozar na prática esses direitos e liberdades;
2. Cada Estado deverá adoptar as medidas legislativas, administrativas e outras que se revelem necessárias
para assegurar que os direitos e liberdades referidos na presente Declaração são efectivamente garantidos.

Artigo 3.º
O direito interno conforme à Carta das Nações Unidas e às demais obrigações internacionais do Estado no
domínio dos direitos humanos e liberdades fundamentais constitui o quadro jurídico no âmbito do qual os
direitos humanos e liberdades fundamentais deverão ser realizados e gozados e no âmbito do qual deverão
ser conduzidas as actividades referidas na presente Declaração para a promoção, protecção e realização
efectiva desses direitos e liberdades.

Artigo 4.º
Nenhuma disposição da presente Declaração deverá ser interpretada de maneira a prejudicar ou contradizer
os objectivos e princípios da Carta das Nações Unidas ou como uma restrição ou derrogação das disposições
da Declaração Universal dos Direitos do Homem, dos Pactos Internacionais sobre Direitos Humanos e de outros
instrumentos internacionais e compromissos aplicáveis neste domínio.

Artigo 5.º
A fim de promover e proteger os direitos humanos e liberdades fundamentais, todos têm o direito,
individualmente e em associação com outros, a nível nacional e internacional: a) De se reunir ou manifestar
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 365

pacificamente; b) De constituir organizações, associações ou grupos não governamentais, de aderir aos


mesmos e de participar nas respectivas actividades; c) De comunicar com organizações não governamentais
ou intergovernamentais.

Artigo 6.º
Todos têm o direito, individualmente e em associação com outros:

a) De conhecer, procurar, obter, receber e guardar informação sobre todos os direitos humanos e liberdades
fundamentais, nomeadamente através do acesso à informação sobre a forma como os sistemas internos nos
domínios legislativo, judicial ou administrativo tornam efectivos esses direitos e liberdades;
b) Em conformidade com os instrumentos internacionais de direitos humanos e outros instrumentos
internacionais aplicáveis, de publicitar, comunicar ou divulgar livremente junto de terceiros opiniões, informação
e conhecimentos sobre todos os direitos humanos e liberdades fundamentais;
c) De estudar e debater a questão de saber se todos os direitos humanos e liberdades fundamentais são ou
não respeitados, tanto na lei como na prática, de formar e defender opiniões a tal respeito e, através destes
como de outros meios adequados, de chamar a atenção do público para estas questões.

Artigo 7.º
Todos têm o direito, individualmente e em associação com outros, de desenvolver e debater novas ideias e
princípios no domínio dos direitos humanos e de defender a sua aceitação.

Artigo 8.º
1. Todos têm o direito, individualmente e em associação com outros, de ter acesso efectivo, numa base não
discriminatória, à participação no governo do seu país e na condução dos negócios públicos.
2. Este direito compreende, entre outros aspectos, o direito de, individualmente ou em associação com outros,
apresentar aos organismos governamentais e às agências e organizações que se ocupam dos negócios
públicos críticas e propostas para aperfeiçoar o respectivo funcionamento e chamar a atenção para qualquer
aspecto do respectivo trabalho que possa prejudicar ou impedir a promoção, protecção e realização dos direitos
humanos e liberdades fundamentais.

Artigo 9.º
1. No exercício dos direitos humanos e liberdades fundamentais, nomeadamente na promoção e protecção dos
direitos humanos enunciados na presente Declaração, todos têm o direito, individualmente e em associação
com outros, de beneficiarem de recursos adequados e de serem protegidos na eventualidade de violação de
tais direitos.

2. Para este fim, todas as pessoas cujos direitos ou liberdades tenham alegadamente sido violados têm o
direito, pessoalmente ou através de representantes legalmente autorizados, de apresentar queixa e de que
esta queixa seja rapidamente examinada em audiência pública perante uma autoridade judicial ou outra
autoridade independente, imparcial e competente estabelecida por lei e de obter dessa autoridade uma decisão,
em conformidade com a lei, que lhe atribua uma reparação, incluindo qualquer indemnização que seja devida,
caso a pessoa tenha sido vítima de uma violação dos seus direitos ou liberdades, e garanta a execução da
eventual decisão e o cumprimento da obrigação de reparar, tudo isto sem demora indevida.

3. Para o mesmo fim, todos têm o direito, individualmente e em associação com outros, nomeadamente:
a) De se queixar das políticas e acções de funcionários individuais e organismos públicos que consubstanciem
uma violação dos direitos humanos e liberdades fundamentais, através de petição ou outro meio adequado, às
autoridades judiciais, administrativas ou legislativas competentes nos termos da lei nacional ou a qualquer outra
autoridade competente prevista nos termos do ordenamento jurídico interno do Estado, que deverão proferir a
sua decisão sobre a queixa sem demora indevida;
b) De comparecer às audiências, diligências e julgamentos públicos, de forma a formar uma opinião sobre a
conformidade dos mesmos com a lei nacional e as obrigações e compromissos internacionais aplicáveis;
c) De oferecer e prestar assistência jurídica profissionalmente qualificada ou outro tipo de aconselhamento e
assistência relevantes para a defesa dos direitos humanos e liberdades fundamentais.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 366

4. Para o mesmo fim, e em conformidade com os instrumentos e procedimentos internacionais aplicáveis, todos
têm o direito, individualmente e em associação com outros, de acesso irrestrito aos organismos internacionais
com competência genérica ou específica para receber e considerar comunicações sobre questões de direitos
humanos e liberdades fundamentais e de se comunicarem livremente com os mesmos.

5. O Estado deverá proceder a uma investigação imediata e imparcial ou garantir a instauração de um inquérito
caso existam motivos razoáveis para crer que ocorreu uma violação de direitos humanos em qualquer território
sob a sua jurisdição.

Artigo 10.º
Ninguém deverá participar, por acção ou por omissão caso tenha o dever de actuar, na violação de direitos
humanos e liberdades fundamentais e ninguém será sujeito a um castigo ou acção hostil de qualquer género
por se recusar a fazê-lo.

Artigo 11.º
Todos têm o direito, individualmente e em associação com outros, de exercer legitimamente a sua ocupação
ou profissão. Todos aqueles que, em resultado da sua profissão, possam afectar a dignidade humana, os
direitos humanos e as liberdades fundamentais de terceiros deverão respeitar esses direitos e liberdades e
observar o cumprimento das relevantes normas nacionais e internacionais de conduta ou ética profissional.

Artigo 12.º
1. Todos têm o direito, individualmente ou em associação com outros, de participar em actividades pacíficas
contra violações de direitos humanos e liberdades fundamentais.
2. O Estado deverá adoptar todas as medidas adequadas para garantir que as autoridades competentes
protegem todas as pessoas, individualmente e em associação com outras, contra qualquer forma de violência,
ameaças, retaliação, discriminação negativa de facto ou de direito, coacção ou qualquer outra acção arbitrária
resultante do facto de a pessoa em questão ter exercido legitimamente os direitos enunciados na presente
Declaração.
3. A este respeito, todos têm o direito, individualmente e em associação com outros, a uma protecção eficaz
da lei nacional ao reagir ou manifestar oposição, por meios pacíficos, relativamente a actividades, actos e
omissões imputáveis aos Estados, que resultem em violações de direitos humanos e liberdades fundamentais,
bem como a actos de violência perpetrados por grupos ou indivíduos que afectem o gozo dos direitos humanos
e liberdades fundamentais.

Artigo 13.º
Todos têm o direito, individualmente e em associação com outros, de solicitar, receber e utilizar recursos para
o fim expresso da promoção e protecção dos direitos humanos e liberdades fundamentais através de meios
pacíficos, em conformidade com o artigo 3.º da presente Declaração.

Artigo 14.º
1. O Estado tem o dever de adoptar medidas adequadas no plano legislativo, judicial, administrativo e outros a
fim de promover a compreensão por todas as pessoas sujeitas à sua jurisdição dos respectivos direitos civis,
políticos, económicos, sociais e culturais.
2. Tais medidas deverão incluir, entre outras:
a) A publicação e disponibilização generalizada das leis e regulamentos nacionais e dos aplicáveis
instrumentos internacionais fundamentais em matéria de direitos humanos;
b) O acesso pleno e em condições de igualdade aos documentos internacionais no domínio dos direitos
humanos, nomeadamente aos relatórios periódicos apresentados pelo Estado em causa aos órgãos criados
pelos tratados internacionais de direitos humanos de que seja parte, bem como as actas das sessões em que
tenham sido discutidos e os relatórios oficiais desses órgãos.
3. O Estado deverá garantir e apoiar, sempre que necessário, a criação e o desenvolvimento de novas
instituições nacionais independentes para a promoção e protecção dos direitos humanos e liberdades
fundamentais em todos os territórios sob a sua jurisdição, quer se tratem de provedores de justiça, comissões
nacionais de direitos humanos ou qualquer outra forma de instituição nacional.

Artigo 15.º
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 367

O Estado tem o dever de promover e facilitar a educação em matéria de direitos humanos e liberdades
fundamentais em todos os níveis do ensino e de garantir que todos os responsáveis pela formação dos juristas,
funcionários responsáveis pela aplicação da lei, pessoal das forças armadas e funcionários públicos incluem
elementos adequados para o ensino dos direitos humanos nos programas de formação destinados a estes
grupos profissionais.

Artigo 16.º
Os indivíduos, as organizações não governamentais e as instituições competentes têm um importante
contributo a dar na sensibilização do público para as questões relativas aos direitos humanos e liberdades
fundamentais, através de actividades como a educação, a formação e a investigação nessas áreas com o fim
de reforçar, nomeadamente, a compreensão, a tolerância, a paz e as relações amigáveis entre as nações e
entre todos os grupos raciais e religiosos, tendo em conta a diversidade das sociedades e comunidades onde
as suas actividades se desenvolvem.

Artigo 17.º
No exercício dos direitos e liberdades enunciados na presente Declaração, ninguém, agindo individualmente e
em associação com outros, estará sujeito senão às limitações que estejam em conformidade com as obrigações
internacionais aplicáveis e sejam estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a garantir o devido
reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades dos outros e de satisfazer as justas exigências da moral,
da ordem pública e do bem-estar geral numa sociedade democrática.

Artigo 18.º
1. Todos têm deveres para com a comunidade e no seio desta, fora da qual o livre e pleno desenvolvimento da
respectiva personalidade não é possível.
2. Os indivíduos, grupos, instituições e organizações não governamentais têm um papel importante a
desempenhar e a responsabilidade de defender a democracia, proteger os direitos humanos e liberdades
fundamentais e contribuir para a promoção e progresso das sociedades, instituições e processos democráticos.
3. Os indivíduos, grupos, instituições e organizações não governamentais têm também um papel importante a
desempenhar e a responsabilidade de contribuir, conforme necessário, para a promoção do direito de todos a
que reine, no plano social e no plano internacional, uma ordem capaz de tornar plenamente efectivos os direitos
e liberdades enunciados na Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Artigo 19.º
Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada de maneira a conferir a qualquer indivíduo,
grupo ou órgão da sociedade ou a qualquer Estado o direito de se entregar a qualquer actividade ou de praticar
qualquer acto destinado a destruir os direitos e liberdades enunciados na presente Declaração.

Artigo 20.º
Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada de maneira a permitir que os Estados
apoiem e promovam actividades de indivíduos, grupos de indivíduos, instituições ou organizações não
governamentais contrárias às disposições da Carta das Nações Unidas.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 368

8. DECLARAÇÃO DOS PRINCÍPIOS BÁSICOS DE JUSTIÇA RELATIVOS ÀS


VÍTIMAS DA CRIMINALIDADE E DE ABUSO DE PODER, DE 1985

Assembleia Geral,

Lembrando que o Sexto Congresso sobre a Prevenção do Crime e o Tratamento dos Delinquentes
recomendou que a Organização das Nações Unidas prosseguisse o seu actual trabalho de elaboração de
princípios orientadores e de normas relativas ao abuso de poder económico e político 56,

Consciente de que milhões de pessoas em todo o mundo sofreram prejuízos em consequência de


crimes e de outros actos representando um abuso de poder e que os direitos destas vítimas não foram
devidamente reconhecidos,

Consciente de que as vítimas da criminalidade e as vítimas de abuso de poder e, frequentemente,


também as respectivas famílias, testemunhas e outras pessoas que acorrem em seu auxílio sofrem
injustamente perdas, danos ou prejuízos e que podem, além disso, ser submetidas a provações suplementares
quando colaboram na perseguição dos delinquentes,

1. Afirma a necessidade de adopção, a nível nacional e internacional, de medidas que visem garantir o
reconhecimento universal e eficaz dos direitos das vítimas da criminalidade e de abuso de poder;

2. Sublinha a necessidade de encorajar todos os Estados a desenvolverem os esforços feitos com esse
objectivo, sem prejuízo dos direitos dos suspeitos ou dos delinquentes;

3. Adopta a Declaração dos Princípios Básicos de Justiça Relativos às Vítimas da Criminalidade e de Abuso
de Poder, que consta em anexo à presente resolução, e que visa ajudar os Governos e a comunidade
internacional nos esforços desenvolvidos, no sentido de fazer justiça às vítimas da criminalidade e de abuso de
poder e no sentido de lhes proporcionar a necessária assistência;

4. Solicita aos Estados membros que tomem as medidas necessárias para tornar efectivas as disposições da
Declaração e que, a fim de reduzir a vitimização, a que se faz referência daqui em diante, se empenhem em:

a) Aplicar medidas nos domínios da assistência social, da saúde, incluindo a saúde mental, da educação e da
economia, bem como medidas especiais de prevenção criminal para reduzir a vitimização e promover a ajuda
às vítimas em situação de carência;

b) Incentivar os esforços colectivos e a participação dos cidadãos na prevenção do crime;

c) Examinar regularmente a legislação e as práticas existentes, a fim de assegurar a respectiva adaptação à


evolução das situações, e adoptar e aplicar legislação que proíba actos contrários às normas
internacionalmente reconhecidas no âmbito dos direitos do homem, do comportamento das empresas e de
outros actos de abuso de poder;

d) Estabelecer e reforçar os meios necessários à investigação, à prossecução e à condenação dos culpados


da prática de crimes;

e) Promover a divulgação de informações que permitam aos cidadãos a fiscalização da conduta dos
funcionários e das empresas e promover outros meios de acolher as preocupações dos cidadãos;

f) Incentivar o respeito dos códigos de conduta e das normas éticas, e, nomeadamente, das normas
internacionais, por parte dos funcionários, incluindo o pessoal encarregado da aplicação das leis, o dos serviços
penitenciários, o dos serviços médicos e sociais e o das forças armadas, bem como por parte do pessoal das
empresas comerciais;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 369

g) Proibir as práticas e os procedimentos susceptíveis de favorecer os abusos, tais como o uso de locais
secretos de detenção e a detenção em situação incomunicável;

h) Colaborar com os outros Estados, no quadro de acordos de auxílio judiciário e administrativo, em domínios
como o da investigação e o da prossecução penal dos delinquentes, da sua extradição e da penhora dos seus
bens para os fins de indemnização às vítimas.

5. Recomenda que, aos níveis internacional e regional, sejam tomadas todas as medidas apropriadas para:

a) Desenvolver as actividades de formação destinadas a incentivar o respeito pelas normas e princípios das
Nações Unidas e a reduzir as possibilidades de abuso;

b) Organizar trabalhos conjuntos de investigação, orientados de forma prática, sobre os modos de reduzir a
vitimização e de ajudar as vítimas, e para desenvolver trocas de informação sobre os meios mais eficazes de
o fazer;

c) Prestar assistência directa aos Governos que a peçam, a fim de os ajudar a reduzir a vitimização e a aliviar
a situação de carência em que as vítimas se encontrem;

d) Proporcionar meios de recurso acessíveis às vítimas, quando as vias de recurso existentes a nível nacional
possam revelar-se insuficientes.

6. Solicita ao SecretárioGeral que convide os Estados membros a informarem periodicamente a Assembleia


Geral sobre a aplicação da Declaração, bem como sobre as medidas que tomem para tal efeito;

7. Solicita, igualmente, ao SecretárioGeral que utilize as oportunidades oferecidas por todos os órgãos e
organismos competentes dentro do sistema das Nações Unidas, a fim de ajudar os Estados membros, sempre
que necessário, a melhorarem os meios de que dispõem para protecção das vítimas a nível nacional e através
da cooperação internacional;

8. Solicita, também, ao Secretário-Geral que promova a realização dos objectivos da Declaração,


nomeadamente dando-lhe uma divulgação tão ampla quanto possível;

9. Solicita, insistentemente, às instituições especializadas e às outras entidades e órgãos da Organização das


Nações Unidas, às outras organizações intergovernamentais e não governamentais interessadas, bem como
aos cidadãos em geral, que cooperem na aplicação das disposições da Declaração.

96.ª sessão plenária 29 de Novembro de 1985

ANEXO

Declaração dos Princípios Fundamentais de Justiça Relativos às Vítimas da Criminalidade e de Abuso de Poder

A. Vítimas da criminalidade

1. Entendem-se por "vítimas" as pessoas que, individual ou colectivamente, tenham sofrido um prejuízo,
nomeadamente um atentado à sua integridade física ou mental, um sofrimento de ordem moral, uma perda
material, ou um grave atentado aos seus direitos fundamentais, como consequência de actos ou de omissões
violadores das leis penais em vigor num Estado membro, incluindo as que proíbem o abuso de poder.

2. Uma pessoa pode ser considerada como "vítima", no quadro da presente Declaração, quer o autor seja ou
não identificado, preso, processado ou declarado culpado, e quaisquer que sejam os laços de parentesco deste
com a vítima. O termo "vítima" inclui também, conforme o caso, a família próxima ou as pessoas a cargo da
vítima directa e as pessoas que tenham sofrido um prejuízo ao intervirem para prestar assistência às vítimas
em situação de carência ou para impedir a vitimização.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 370

3. As disposições da presente secção aplicam-se a todos, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, cor,
sexo, idade, língua, religião, nacionalidade, opiniões políticas ou outras, crenças ou práticas culturais, situação
económica, nascimento ou situação familiar, origem étnica ou social ou capacidade física.

Acesso à justiça e tratamento equitativo

4. As vítimas devem ser tratadas com compaixão e respeito pela sua dignidade. Têm direito ao acesso às
instâncias judiciárias e a uma rápida reparação do prejuízo por si sofrido, de acordo com o disposto na
legislação nacional.

5. Há que criar e, se necessário, reforçar mecanismos judiciários e administrativos que permitam às vítimas a
obtenção de reparação através de procedimentos, oficiais ou oficiosos, que sejam rápidos, equitativos, de baixo
custo e acessíveis. As vítimas devem ser informadas dos direitos que lhes são reconhecidos para procurar a
obtenção de reparação por estes meios.

6. A capacidade do aparelho judiciário e administrativo para responder às necessidades das vítimas deve ser
melhorada:

a) Informando as vítimas da sua função e das possibilidades de recurso abertas, das datas e da marcha dos
processos e da decisão das suas causas, especialmente quando se trate de crimes graves e quando tenham
pedido essas informações;

b) Permitindo que as opiniões e as preocupações das vítimas sejam apresentadas e examinadas nas fases
adequadas do processo, quando os seus interesses pessoais estejam em causa, sem prejuízo dos direitos da
defesa e no quadro do sistema de justiça penal do país;

c) Prestando às vítimas a assistência adequada ao longo de todo o processo;

d) Tomando medidas para minimizar, tanto quanto possível, as dificuldades encontradas pelas vítimas, proteger
a sua vida privada e garantir a sua segurança, bem como a da sua família e a das suas testemunhas,
preservando-as de manobras de intimidação e de represálias;

e) Evitando demoras desnecessárias na resolução das causas e na execução das decisões ou sentenças que
concedam indemnização às vítimas.

7. Os meios extrajudiciários de solução de diferendos, incluindo a mediação, a arbitragem e as práticas de


direito consuetudinário ou as práticas autóctones de justiça, devem ser utilizados, quando se revelem
adequados, para facilitar a conciliação e obter a reparação em favor das vítimas.

Obrigação de restituição e de reparação

8. Os autores de crimes ou os terceiros responsáveis pelo seu comportamento devem, se necessário, reparar
de forma equitativa o prejuízo causado às vítimas, às suas famílias ou às pessoas a seu cargo. Tal reparação
deve incluir a restituição dos bens, uma indemnização pelo prejuízo ou pelas perdas sofridos, o reembolso das
despesas feitas como consequência da vitimização, a prestação de serviços e o restabelecimento dos direitos.

9. Os Governos devem reexaminar as respectivas práticas, regulamentos e leis, de modo a fazer da restituição
uma sentença possível nos casos penais, para além das outras sanções penais.

10. Em todos os casos em que sejam causados graves danos ao ambiente, a restituição deve incluir, na medida
do possível, a reabilitação do ambiente, a reposição das infra-estruturas, a substituição dos equipamentos
colectivos e o reembolso das despesas de reinstalação, quando tais danos impliquem o desmembramento de
uma comunidade.

11. Quando funcionários ou outras pessoas, agindo a título oficial ou quase oficial, tenham cometido uma
infracção penal, as vítimas devem receber a restituição por parte do Estado cujos funcionários ou agentes
sejam responsáveis pelos prejuízos sofridos. No caso em que o Governo sob cuja autoridade se verificou o
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 371

acto ou a omissão na origem da vitimização já não exista, o Estado ou o Governo sucessor deve assegurar a
restituição às vítimas.

Indenização

12. Quando não seja possível obter do delinquente ou de outras fontes uma indemnização completa, os Estados
devem procurar assegurar uma indemnização financeira:

a) Às vítimas que tenham sofrido um dano corporal ou um atentado importante à sua integridade física ou
mental, como consequência de actos criminosos graves;

b) À família, em particular às pessoas a cargo das pessoas que tenham falecido ou que tenham sido atingidas
por incapacidade física ou mental como consequência da vitimização.

13. Será incentivado o estabelecimento, o reforço e a expansão de fundos nacionais de indemnização às


vítimas. De acordo com as necessidades, poderão estabelecer-se outros fundos com tal objectivo,
nomeadamente nos casos em que o Estado de nacionalidade da vítima não esteja em condições de indemnizá-
la pelo dano sofrido.

Serviços

14. As vítimas devem receber a assistência material, médica, psicológica e social de que necessitem, através
de organismos estatais, de voluntariado, comunitários e autóctones.

15. As vítimas devem ser informadas da existência de serviços de saúde, de serviços sociais e de outras formas
de assistência que lhes possam ser úteis, e devem ter fácil acesso aos mesmos.

16. O pessoal dos serviços de polícia, de justiça e de saúde, tal como o dos serviços sociais e o de outros
serviços interessados deve receber uma formação que o sensibilize para as necessidades das vítimas, bem
como instruções que garantam uma ajuda pronta e adequada às vítimas.

17. Quando sejam prestados serviços e ajuda às vítimas, deve ser dispensada atenção às que tenham
necessidades especiais em razão da natureza do prejuízo sofrido ou de factores tais como os referidos no
parágrafo 3, supra.

B. Vítimas de abuso de poder

18. Entendem-se por "vítimas" as pessoas que, individual ou colectivamente, tenham sofrido prejuízos,
nomeadamente um atentado à sua integridade física ou mental, um sofrimento de ordem moral, uma perda
material, ou um grave atentado aos seus direitos fundamentais, como consequência de actos ou de omissões
que, não constituindo ainda uma violação da legislação penal nacional, representam violações das normas
internacionalmente reconhecidas em matéria de direitos do homem.

19. Os Estados deveriam encarar a possibilidade de inserção nas suas legislações nacionais de normas que
proíbam os abusos de poder e que prevejam reparações às vítimas de tais abusos. Entre tais reparações
deveriam figurar, nomeadamente, a restituição e a indemnização, bem como a assistência e o apoio de ordem
material, médica, psicológica e social que sejam necessários.

20. Os Estados deveriam encarar a possibilidade de negociar convenções internacionais multilaterais relativas
às vítimas, de acordo com a definição do parágrafo 18.

21. Os Estados deveriam reexaminar periodicamente a legislação e as práticas em vigor, com vista a adaptá-
las à evolução das situações, deveriam adoptar e aplicar, se necessário, textos legislativos que proibissem
qualquer acto que constituísse um grave abuso de poder político ou económico e que incentivassem as políticas
e os mecanismos de prevenção destes actos e deveriam estabelecer direitos e recursos apropriados para as
vítimas de tais actos, garantindo o seu exercício.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 372

9. PRINCÍPIOS DE YOGYAKARTA – 2006

PRINCÍPIOS DE YOGYAKARTA

NÓS, DO PAINEL INTERNACIONAL DE ESPECIALISTAS EM LEGISLAÇÃO INTERNACIONAL DE


DIREITOS HUMANOS, ORIENTAÇÃO SEXUAL E IDENTIDADE DE GÊNERO

PREÂMBULO

LEMBRANDO que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos, que cada
pessoa tem o direito de desfrutar os direitos humanos sem distinção de qualquer tipo, tal como raça, cor, sexo,
língua, religião, opinião política ou outra opinião, origem nacional ou social, propriedade, nascimento ou outro
status;
PREOCUPADOS com a violência, assédio, discriminação, exclusão, estigmatização e preconceito
dirigidos contra pessoas em todas as partes do mundo por causa de sua orientação sexual ou identidade de
gênero, com que essas experiências sejam agravadas por discriminação que inclui gênero, raça, religião,
necessidades especiais, situação de saúde e status econômico, e com que essa violência, assédio,
discriminação, exclusão, estigmatização e preconceito solapem a integridade daquelas pessoas sujeitas a
esses abusos, podendo enfraquecer seu senso de auto-estima e de pertencimento à comunidade, e levando
muitas dessas pessoas a reprimirem sua identidade e terem vidas marcadas pelo medo e invisibilidade;
CONSCIENTES de que historicamente pessoas experimentaram essas violações de direitos humanos
porque são ou são percebidas como lésbicas, gays ou bissexuais, ou em razão de seu comportamento sexual
consensual com pessoas do mesmo sexo, ou porque são percebidas como transexuais, transgêneros,
intersexuais, ou porque pertencem a grupos sexuais identificados em determinadas sociedades pela sua
orientação sexual ou identidade de gênero;
COMPREENDENDO “orientação sexual” como estando referida à capacidade de cada pessoa de
experimentar uma profunda atração emocional, afetiva ou sexual por indivíduos de gênero diferente, do mesmo
gênero ou de mais de um gênero, assim como de ter relações íntimas e sexuais com essas pessoas;
ENTENDENDO “identidade de gênero” como estando referida à experiência interna, individual e
profundamente sentida que cada pessoa tem em relação ao gênero, que pode, ou não, corresponder ao sexo
atribuído no nascimento, incluindo-se aí o sentimento pessoal do corpo (que pode envolver, por livre escolha,
modificação da aparência ou função corporal por meios médicos, cirúrgicos ou outros) e outras expressões de
gênero, nclusive o modo de vestir-se, o modo de falar e maneirismos;
OBSERVANDO que a legislação internacional de direitos humanos afirma que toda pessoa, não
importando sua orientação sexual ou identidade de gênero, tem o direito de desfrutar plenamente de todos os
direitos humanos, que a aplicação das prerrogativas existentes de direitos humanos deve levar em conta as
situações específicas e as experiências de pessoas de orientações sexuais e identidades de gênero diversas,
e que a consideração primordial em todas as ações relativas às crianças será a primazia dos interesses dessas
crianças, e que uma criança capaz de formar opiniões pessoais tem o direito de expressá-las livremente e a
essas opiniões deve ser atribuído o devido peso, de acordo com sua idade e maturidade;
NOTANDO que a legislação internacional de direitos humanos impõe uma proibição absoluta à
discriminação relacionada ao gozo pleno de todos os direitos humanos, civis, culturais, econômicos, políticos
e sociais, que o respeito pelos direitos sexuais, orientação sexual e identidade de gênero é parte essencial da
igualdade entre homem e mulher e que os Estados devem adotar medidas que busquem eliminar preconceitos
e costumes, baseados na idéia de inferioridade ou superioridade de um determinado sexo, ou baseados em
papéis estereotipados de homens e mulheres, e notando ainda mais que a comunidade internacional
reconheceu o direito de as pessoas decidirem livre e responsavelmente sobre questões relacionadas à sua
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 373

sexualidade, inclusive sua saúde sexual e reprodutiva, sem que estejam submetidas à coerção, discriminação
ou violência;
RECONHECENDO que há um valor significativo em articular de forma sistemática a legislação
internacional de direitos humanos como sendo aplicável à vida e à experiência de pessoas de orientações
sexuais e identidades de gênero diversas;
RECONHECENDO que esta articulação deve basear-se no atual estado da legislação internacional de
direitos humanos e que vai exigir revisões regulares para incorporar desenvolvimentos desta lei e sua aplicação
à vida e à experiência de pessoas de orientações sexuais e identidades de gênero diversas, ao longo do tempo
e em diversas regiões e países.

A REUNIÃO DE ESPECIALISTAS REALIZADA EM YOGYAKARTA, INDONÉSIA, ENTRE 6 E 9 DE


NOVEMBRO DE 2006,
ADOTA, PORTANTO, OS SEGUINTES PRINCÍPIOS:

PRINCÍPIOS DE YOGYAKARTA

PRINCÍPIO 1 - DIREITO AO GOZO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS


Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Os seres humanos de todas as
orientações sexuais e identidades de gênero têm o direito de desfrutar plenamente de todos os direitos
humanos.

Os Estados deverão:
a) Incorporar os princípios da universalidade, inter-relacionalidade, interdependência e indivisibilidade de
todos os direitos humanos nas suas constituições nacionais ou em outras legislações apropriadas e assegurar
o gozo universal de todos os direitos humanos;
b) Emendar qualquer legislação, inclusive a criminal, para garantir sua coerência com o gozo universal de
todos os direitos humanos;
c) Implementar programas de educação e conscientização para promover e aprimorar o gozo pleno de
todos os direitos humanos por todas as pessoas, não importando sua orientação sexual ou identidade de
gênero;
d) Integrar às políticas de Estado e ao processo decisório uma abordagem pluralista que reconheça e afirme
a inter-relacionalidade e indivisibilidade de todos os aspectos da identidade humana, inclusive aqueles relativos
à orientação sexual e identidade de gênero.

PRINCÍPIO 2 - DIREITO À IGUALDADE E A NÃO-DISCRIMINAÇÃO


Todas as pessoas têm o direito de desfrutar de todos os direitos humanos livres de discriminação por sua
orientação sexual ou identidade de gênero. Todos e todas têm direito à igualdade perante à lei e à proteção da
lei sem qualquer discriminação, seja ou não também afetado o gozo de outro direito humano. A lei deve proibir
qualquer dessas discriminações e garantir a todas as pessoas proteção igual e eficaz contra qualquer uma
dessas discriminações.
A discriminação com base na orientação sexual ou identidade gênero inclui qualquer distinção, exclusão,
restrição ou preferência baseada na orientação sexual ou identidade de gênero que tenha o objetivos ou efeito
de anular ou prejudicar a igualdade perante à lei ou proteção igual da lei, ou o reconhecimento, gozo ou
exercício, em base igualitária, de todos os direitos humanos e das liberdades fundamentais. A discriminação
baseada na orientação sexual ou identidade de gênero pode ser, e comumente é, agravada por discriminação
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 374

decorrente de outras circunstâncias, inclusive aquelas relacionadas ao gênero, raça, idade, religião,
necessidades especiais, situação de saúde e status econômico.

Os Estados deverão:
a) Incorporar os princípios de igualdade e não-discriminação por motivo de orientação sexual e
identidade de gênero nas suas constituições nacionais e em outras legislações apropriadas, se ainda não
tiverem sido incorporados, inclusive por meio de emendas e interpretações, assegurando-se a aplicação eficaz
desses princípios;
b) Revogar dispositivos criminais e outros dispositivos jurídicos que proíbam, ou sejam empregados na
prática para proibir, a atividade sexual consensual entre pessoas do mesmo sexo que já atingiram a idade do
consentimento, assegurando que a mesma idade do consentimento se aplique à atividade sexual entre pessoas
do mesmo sexo e pessoas de sexos diferentes;
c) Adotar legislação adequada e outras medidas para proibir e eliminar a discriminação nas esferas pública
e privada por motivo de orientação sexual e identidade de gênero;
d) Tomar as medidas adequadas para assegurar o desenvolvimento das pessoas de orientações sexuais
e identidades de gênero diversas, para garantir que esses grupos ou indivíduos desfrutem ou exerçam
igualmente seus direitos humanos. Estas medidas não podem ser consideradas como discriminatórias;
e) Em todas as respostas à discriminação na base da orientação sexual ou identidade de gênero deve-se
considerar a maneira pela qual essa discriminação tem interseções com outras formas de discriminação;
f) Implementar todas as ações apropriadas, inclusive programas de educação e treinamento, com a
perspectiva de eliminar atitudes ou comportamentos preconceituosos ou discriminatórios, relacionados à idéia
de inferioridade ou superioridade de qualquer orientação sexual, identidade de gênero ou expressão de gênero.

PRINCÍPIO 3 - DIREITO AO RECONHECIMENTO PERANTE A LEI


Toda pessoa tem o direito de ser reconhecida, em qualquer lugar, como pessoa perante a lei. As pessoas de
orientações sexuais e identidades de gênero diversas devem gozar de capacidade jurídica em todos os
aspectos da vida. A orientação sexual e identidade de gênero autodefinidas por cada pessoa constituem parte
essencial de sua personalidade e um dos aspectos mais básicos de sua autodeterminação, dignidade e
liberdade. Nenhuma pessoa deverá ser forçada a se submeter a procedimentos médicos, inclusive cirurgia de
mudança de sexo, esterilização ou terapia hormonal, como requisito para o reconhecimento legal de sua
identidade de gênero. Nenhum status, como casamento ou status parental, pode ser invocado para evitar o
reconhecimento legal da identidade de gênero de uma pessoa. Nenhuma pessoa deve ser submetida a
pressões para esconder, reprimir ou negar sua orientação sexual ou identidade de gênero.

Os Estados deverão:
a) Garantir que todas as pessoas tenham capacidade jurídica em assuntos cíveis, sem discriminação por
motivo de orientação sexual ou identidade de gênero, assim como a oportunidade de exercer esta capacidade,
inclusive direitos iguais para celebrar contratos, administrar, ter a posse, adquirir (inclusive por meio de
herança), gerenciar, desfrutar e dispor de propriedade;
b) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e de outros tipos que sejam necessárias para
respeitar plenamente e reconhecer legalmente a identidade de gênero autodefinida por cada pessoa;
c) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e de outros tipos que sejam necessárias para que
existam procedimentos pelos quais todos os documentos de identidade emitidos pelo Estado que indiquem o
sexo/gênero da pessoa – incluindo certificados de nascimento, passaportes, registros eleitorais e outros
documentos – reflitam a profunda identidade de gênero autodefinida por cada pessoa.
d) Assegurar que esses procedimentos sejam eficientes, justos e não-discriminatórios e que respeitem a
dignidade e privacidade das pessoas;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 375

e) Garantir que mudanças em documentos de identidade sejam reconhecidas em todas as situações em


que a identificação ou desagregação das pessoas por gênero seja exigida por lei ou por políticas públicas;
f) Implementar programas focalizados para apoiar socialmente todas as pessoas que vivem uma
situação de transição ou mudança de gênero.

PRINCÍPIO 4 - DIREITO À VIDA


Toda pessoa tem o direito à vida. Ninguém deve ser arbitrariamente privado da vida, inclusive nas
circunstâncias referidas à orientação sexual ou identidade de gênero. A pena de morte não deve ser imposta a
ninguém por atividade sexual consensual entre pessoas que atingiram a idade do consentimento ou por motivo
de orientação sexual ou identidade de gênero.

Os Estados deverão:
a) Revogar todas as formas de crimes que tenham como objetivo ou efeito a proibição da atividade sexual
consensual entre pessoas do mesmo sexo que já atingiram a idade do consentimento e, até que esses
dispositivos sejam revogados, nunca impor a pena de morte a nenhuma pessoa condenada por esses crimes;
b) Cancelar penas de morte e libertar todas as pessoas que atualmente aguardam execução por crimes
relacionados à atividade sexual consensual entre pessoas que já atingiram a idade do consentimento;
c) Cessar quaisquer ataques patrocinados pelo Estado ou tolerados pelo Estado contra a vida das pessoas
em razão de sua orientação sexual ou identidade de gênero, e garantir que tais ataques, realizados por
funcionários do governo ou por qualquer indivíduo ou grupo, sejam energicamente investigados, e que, quando
forem encontradas provas adequadas, os responsáveis sejam processados, julgados e devidamente punidos.

PRINCÍPIO 5 - DIREITO À SEGURANÇA PESSOAL


Toda pessoa, independente de sua orientação sexual ou identidade de gênero, tem o direito à segurança
pessoal e proteção do Estado contra a violência ou dano corporal, infligido por funcionários governamentais ou
qualquer indivíduo ou grupo.

Os Estados deverão:
a) Tomar todas as medidas policiais e outras medidas necessárias para prevenir e proteger as pessoas de
todas as formas de violência e assédio relacionadas à orientação sexual e identidade de gênero;
b) Tomar todas as medidas legislativas necessárias para impor penalidades criminais adequadas à
violência, ameaças de violência, incitação à violência e assédio associado, por motivo de orientação sexual ou
identidade de gênero de qualquer pessoa ou grupo de pessoas em todas as esferas da vida, inclusive a familiar;
c) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras medidas necessárias para garantir que a
orientação sexual ou identidade de gênero da vítima não possa ser utilizada para justificar, desculpar ou atenuar
essa violência;
d) Garantir que a perpetração dessas violências seja vigorosamente investigada e, quando provas
adequadas forem encontradas, as pessoas responsáveis sejam processadas, julgadas e devidamente punidas,
e que as vítimas tenham acesso a recursos jurídicos e medidas corretivas adequadas, incluindo indenização;
e) Realizar campanhas de conscientização dirigidas ao público em geral, assim como a perpetradores/as
reais ou potenciais de violência, para combater os preconceitos que são a base da violência relacionada à
orientação sexual e identidade de gênero.

PRINCÍPIO 6 - DIREITO À PRIVACIDADE


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 376

Toda pessoa, independente de sua orientação sexual ou identidade de gênero, tem o direito de desfrutar de
privacidade, sem interferência arbitrária ou ilegal, inclusive em relação à sua família, residência e
correspondência, assim como o direito à proteção contra ataques ilegais à sua honra e reputação. O direito à
privacidade normalmente inclui a opção de revelar ou não informações relativas à sua orientação sexual ou
identidade de gênero, assim como decisões e escolhas relativas a seu próprio corpo e a relações sexuais
consensuais e outras relações pessoais.

Os Estados deverão:
a) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras medidas necessárias para garantir o direito
de cada pessoa, independente de sua orientação sexual ou identidade de gênero, de desfrutar a esfera privada,
decisões íntimas e relações humanas, incluindo a atividade sexual consensual entre pessoas que já atingiram
a idade do consentimento, sem interferência arbitrária;
b) Revogar todas as leis que criminalizam a atividades sexual consensual entre pessoas do mesmo sexo
que já atingiram a idade do consentimento e assegurar que a mesma idade do consentimento se aplique à
atividade sexual entre pessoas do mesmo sexo e de diferentes sexos;
c) Assegurar que os dispositivos criminais e outros dispositivos legais de aplicação geral não sejam
aplicados de facto para criminalizar a atividade sexual consensual entre pessoas do mesmo sexo que tenham
a idade do consentimento;
d) Revogar qualquer lei que proíba ou criminalize a expressão da identidade de gênero, inclusive quando
expressa pelo modo de vestir, falar ou maneirismo, a qual negue aos indivíduos a oportunidade de modificar
seus corpos, como um meio de expressar sua identidade de gênero;
e) Libertar todas as pessoas detidas com base em condenação criminal, caso sua detenção esteja
relacionada à atividade sexual consensual entre pessoas que já atingiram a idade do consentimento ou estiver
relacionada à identidade de gênero;
f) Assegurar o direito de todas as pessoas poderem escolher, normalmente, quando, a quem e como
revelar informações sobre sua orientação sexual ou identidade de gênero, e proteger todas as pessoas de
revelações arbitrárias ou indesejadas, ou de ameaças de revelação dessas informações por outras pessoas.

PRINCÍPIO 7 - DIREITO DE NÃO SOFRER PRIVAÇÃO ARBITRÁRIA DA LIBERDADE


Ninguém deve ser sujeito à prisão ou detenção arbitrárias. Qualquer prisão ou detenção baseada na orientação
sexual ou identidade de gênero é arbitrária, sejam elas ou não derivadas de uma ordem judicial. Todas as
pessoas presas, independente de sua orientação sexual ou identidade de gênero, têm direito, com base no
princípio de igualdade, de serem informadas das razões da prisão e da natureza de qualquer acusação contra
elas, de serem levadas prontamente à presença de uma autoridade judicial e de iniciarem procedimentos
judiciais para determinar a legalidade da prisão, tendo ou não sido formalmente acusadas de alguma violação
da lei.

Os Estados deverão:
a) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras medidas necessárias para assegurar que
a orientação sexual e a identidade de gênero não possam, em nenhuma circunstância, constituir justificação
para prisão ou detenção, inclusive eliminando-se dispositivos da lei criminal definidos de maneira vaga que
facilitam a aplicação discriminatória ou abrem espaço para prisões motivadas pelo preconceito;
b) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras medidas necessárias para assegurar que
todas as pessoas presas, independente de sua orientação sexual ou identidade de gênero, tenham o direito,
com base no princípio de igualdade, de serem informadas das razões da prisão e da natureza de qualquer
acusação contra elas, de serem levadas prontamente à presença de uma autoridade judicial e de iniciar
procedimentos judiciais para determinar a legalidade da prisão, tendo ou não sido formalmente acusadas de
alguma violação da lei;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 377

c) Implementar programas de treinamento e conscientização para educar a polícia e outros funcionários


encarregados da aplicação da lei no que diz respeito à arbitrariedade da prisão e detenção por motivo de
orientação sexual ou identidade de gênero de uma pessoa;
d) Manter registros precisos e atualizados de todas as prisões e detenções, indicando a data, local e motivo
da detenção, e assegurando a supervisão independente de todos os locais de detenção por parte de
organismos com autoridade e instrumentos adequados para identificar prisões e detenções que possam ter
sido motivadas pela orientação sexual ou identidade de gênero de uma pessoa

PRINCÍPIO 8 - DIREITO A JULGAMENTO JUSTO


Toda pessoa tem direito a ter uma audiência pública e justa perante um tribunal competente, independente e
imparcial, estabelecido por lei, para determinar seus direitos e obrigações num processo legal e em qualquer
acusação criminal contra ela, sem preconceito ou discriminação por motivo de orientação sexual ou identidade
de gênero.

Os Estados deverão:
a) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras medidas necessárias para proibir e
eliminar tratamento preconceituoso por motivo de orientação sexual ou identidade de gênero em cada etapa
do processo judicial, nos procedimentos civis e criminais e em todos os outros procedimentos judiciais e
administrativos que determinem direitos e obrigações, e de assegurar que a credibilidade ou caráter de uma
pessoa como parte interessada, testemunha, defensora ou tomadora de decisões não sejam impugnados por
motivo de sua orientação sexual ou identidade de gênero;
b) Tomar todas as medidas necessárias e razoáveis para proteger as pessoas de processos criminais ou
procedimentos civis que sejam motivados, no todo ou em parte, por preconceito relativo à orientação sexual ou
identidade de gênero;
c) Implementar programas de treinamento e de conscientização para juízes, funcionários de tribunais,
promotores/as, advogados/as e outras pessoas sobre os padrões internacionais de direitos humanos e
princípios de igualdade e não-discriminação, inclusive em relação à orientação sexual e identidade de gênero.

PRINCÍPIO 9 - DIREITO A TRATAMENTO HUMANO DURANTE A DETENÇÃO


Toda pessoa privada da liberdade deve ser tratada com humanidade e com respeito pela dignidade inerente à
pessoa humana. A orientação sexual e identidade de gênero são partes essenciais da dignidade de cada
pessoa.

Os Estados deverão:
a) Garantir que a detenção evite uma maior marginalização das pessoas motivada pela orientação sexual
ou identidade de gênero, expondo-as a risco de violência, maus-tratos ou abusos físicos, mentais ou sexuais;
b) Fornecer acesso adequado à atenção médica e ao aconselhamento apropriado às necessidades das
pessoas sob custódia, reconhecendo qualquer necessidade especial relacionada à orientação sexual ou
identidade de gênero, inclusive no que se refere à saúde reprodutiva, acesso à informação e terapia de HIV/Aids
e acesso à terapia hormonal ou outro tipo de terapia, assim como a tratamentos de redesignação de
sexo/gênero, quando desejado;
c) Assegurar, na medida do possível, que pessoas detidas participem de decisões relacionadas ao ocal de
detenção adequado à sua orientação sexual e identidade de gênero;
d) Implantar medidas de proteção para todos os presos e presas vulneráveis à violência ou abuso por causa
de sua orientação sexual, identidade ou expressão de gênero e assegurar, tanto quanto seja razoavelmente
praticável, que essas medidas de proteção não impliquem maior restrição a seus direitos do que aquelas que
já atingem a população prisional em geral;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 378

e) Assegurar que as visitas conjugais, onde são permitidas, sejam concedidas na base de igualdade a
todas as pessoas aprisionadas ou detidas, independente do gênero de sua parceira ou parceiro;
f) Proporcionar o monitoramento independente das instalações de detenção por parte do Estado e também
por organizações não-governamentais, inclusive organizações que trabalhem nas áreas de orientação sexual
e identidade de gênero;
g) Implantar programas de treinamento e conscientização, para o pessoal prisional e todas as outras
pessoas do setor público e privado que estão envolvidas com as instalações prisionais, sobre os padrões
internacionais de direitos humanos e princípios de igualdade e não-discriminação, inclusive em relação à
orientação sexual e identidade de gênero.

PRINCÍPIO 10 - DIREITO DE NÃO SOFRER TORTURA E TRATAMENTO OU CASTIGO CRUEL,


DESUMANO OU DEGRADANTE
Toda pessoa tem o direito de não sofrer tortura e tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante,
inclusive por razões relacionadas à sua orientação sexual ou identidade de gênero.

Os Estados deverão:
a) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras medidas necessárias para evitar e proteger
as pessoas de tortura e tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante, perpetrados por motivos
relacionados à orientação sexual e identidade de gênero da vítima, assim como o incitamento a esses atos;
b) Tomar todas as medidas razoáveis para identificar as vítimas de tortura e tratamento ou castigo cruel,
desumano ou degradante, perpetrados por motivos relacionados à orientação sexual e identidade de gênero,
oferecendo recursos jurídicos, medidas corretivas e reparações e, quando for apropriado, apoio médico e
psicológico;
c) implantar programas de treinamento e conscientização, para a polícia, o pessoal prisional e todas as
outras pessoas do setor público e privado que estão em posição de perpetrar ou evitar esses atos

PRINCÍPIO 11 - DIREITO À PROTEÇÃO CONTRA TODAS AS FORMAS DE EXPLORAÇÃO, VENDA E


TRÁFICO DE SERES HUMANOS
Todas as pessoas têm o direito à proteção contra o tráfico, venda e todas as formas de exploração, incluindo
mas não limitado à exploração sexual, com base na orientação sexual e identidade de gênero, real ou
percebida. As medidas para prevenir o tráfico devem enfrentar os fatores que aumentam a vulnerabilidade,
inclusive várias formas de desigualdade e discriminação com base na orientação sexual ou identidade de
gênero, reais ou percebidas, ou a expressão destas ou de outras identidades. Estas medidas devem ser
coerentes com os direitos humanos das pessoas que correm riscos de serem vítimas de tráfico.

Os Estados deverão:
a) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras medidas necessárias, de natureza
preventiva ou protetora, em relação ao tráfico, venda e todas as formas de exploração de seres humanos,
incluindo mais não limitado à exploração sexual, por motivo de orientação sexual ou identidade de gênero, real
ou percebida;
b) Garantir que nenhuma dessas leis ou medidas criminalize o comportamento, estigmatize, ou de qualquer
outra forma, exacerbe as desvantagens daquelas pessoas vulneráveis a essas práticas;
c) Implantar medidas, serviços e programas jurídicos, educacionais e sociais para enfrentar os fatores que
aumentam a vulnerabilidade ao tráfico, venda e todas as formas de exploração, incluindo porém não limitado à
exploração sexual, por motivo de orientação sexual ou identidade de gênero, real ou percebida, incluindo
fatores como exclusão social, discriminação, rejeição da família ou de comunidades culturais, falta de
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 379

independência financeira, falta de moradia, atitudes sociais discriminatórias que levam à baixa auto-estima e
falta de proteção contra discriminação no acesso à habitação, emprego e serviços sociais.

PRINCÍPIO 12 - DIREITO AO TRABALHO


Toda pessoa tem o direito ao trabalho digno e produtivo, a condições de trabalho justas e favoráveis e à
proteção contra o desemprego, sem discriminação por motivo de orientação sexual ou identidade de gênero.

Os Estados deverão:
a) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras medidas necessárias para eliminar e
proibir a discriminação com base na orientação sexual e identidade de gênero no emprego público e privado,
inclusive em relação à educação profissional, recrutamento, promoção, demissão, condições de emprego e
remuneração;
b) Eliminar qualquer discriminação por motivo de orientação sexual ou identidade de gênero para assegurar
emprego e oportunidades de desenvolvimento iguais em todas as áreas do serviço público, incluindo todos os
níveis de serviço governamental e de emprego em funções públicas, também incluindo o serviço na polícia e
nas forças militares, fornecendo treinamento e programas de conscientização adequados para combater
atitudes discriminatórias.

PRINCÍPIO 13 - DIREITO À SEGURIDADE SOCIAL E A OUTRAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO SOCIAL


Toda pessoa tem o direito à seguridade social e outras medidas de proteção social, sem discriminação com
base na orientação sexual ou identidade de gênero.

Os Estados deverão:
a) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras medidas necessárias para assegurar
acesso igual, sem discriminação por motivo de orientação sexual ou identidade de gênero, à seguridade social
e outras medidas de proteção social, inclusive benefícios de emprego, licença- parental, benefícios de
desemprego, seguro-saúde ou atendimento e benefícios (inclusive para modificações corporais relacionadas à
identidade de gênero), outros seguros sociais, benefícios para a família, ajuda funerária, pensões e benefícios
relacionados à perda do apoio de cônjuges ou parceiros/parceiras resultante de doença ou morte;
b) Assegurar que as crianças não sejam sujeitas a nenhuma forma de tratamento discriminatório no sistema
de seguridade social ou na provisão de benefícios sociais por motivo de sua orientação sexual ou identidade
de gênero, ou de qualquer membro de sua família;
c) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras medidas necessárias para assegurar o
acesso a estratégias e programas de redução da pobreza, sem discriminação por motivo de orientação sexual
ou identidade de gênero.

PRINCÍPIO 14 - DIREITO A UM PADRÃO DE VIDA ADEQUADO


Toda pessoa tem o direito a um padrão de vida adequado, inclusive alimentação adequada, água potável,
saneamento e vestimenta adequados, e a uma melhora contínua das condições de vida, sem discriminação
por motivo de orientação sexual ou identidade de gênero.

Os Estados deverão:
a) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras medidas necessárias para assegurar acesso
igual, sem discriminação por motivo de orientação sexual ou identidade de gênero, à alimentação, água potável,
saneamento e vestimenta adequados.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 380

PRINCÍPIO 15 - DIREITO À HABITAÇÃO ADEQUADA


Toda pessoa tem o direito à habitação adequada, inclusive à proteção contra o despejo, sem discriminação por
motivo de orientação sexual ou identidade de gênero.

Os Estados deverão:
a) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras medidas necessárias para garantir a
segurança de contrato de aluguel e acesso à habitação de baixo custo, habitável, acessível, culturalmente
apropriada e segura, incluindo abrigos e outras acomodações emergenciais, sem discriminação por motivo de
orientação sexual, identidade de gênero ou status conjugal ou familiar;
b) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras medidas necessárias para proibir a
execução de despejos que não estejam de acordo com as obrigações internacionais de direitos humanos; e
assegurar que medidas legais adequadas e eficazes, ou outros recursos jurídicos apropriados, estejam
disponíveis para qualquer pessoa a qual alegue que seu direito de proteção contra o despejo forçado foi violado
ou está sob risco de violação, inclusive o direito a reassentamento, que inclui o direito a lote de terra alternativo
de melhor ou igual qualidade e à habitação adequada, sem discriminação por motivo de orientação sexual,
identidade de gênero ou status conjugal e familiar;
c) Garantir direitos iguais à propriedade da terra e da habitação, assim como o direito à herança, sem
discriminação por motivo de orientação sexual ou identidade de gênero;
d) Estabelecer programas sociais, inclusive programas de apoio, para enfrentar fatores relacionados à
orientação sexual e identidade de gênero que aumentam a vulnerabilidade à falta de moradia, especialmente
para crianças e jovens, incluindo a exclusão social, violência doméstica e outras formas de violência,
discriminação, falta de independência financeira e rejeição pela família ou comunidade cultural, assim como
promover planos para o apoio e segurança dos vizinhos;
e) Promover programas de treinamento e de conscientização para assegurar que todas as agências
relevantes fiquem conscientes e sensíveis às necessidades das pessoas que enfrentam a falta de moradias ou
desvantagens sociais, como resultado de sua orientação sexual ou identidade de gênero.

PRINCÍPIO 16 - DIREITO À EDUCAÇÃO


Toda pessoa tem o direito à educação, sem discriminação por motivo de sua orientação sexual e identidade de
gênero.

Os Estados deverão:
a) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras medidas necessárias para assegurar o
acesso igual à educação e tratamento igual dos/das estudantes, funcionários/as e professores/ as no sistema
educacional, sem discriminação por motivo de orientação sexual ou identidade de gênero;
b) Garantir que a educação seja direcionada ao desenvolvimento da personalidade de cada estudante, de
seus talentos e de suas capacidades mentais e físicas até seu potencial pleno, atendendo-se as necessidades
dos estudantes de todas as orientações sexuais e identidades de gênero;
c) Assegurar que a educação seja direcionada ao desenvolvimento do respeito aos direitos humanos e do
respeito aos pais e membros da família de cada criança, identidade cultural, língua e valores, num espírito de
entendimento, paz, tolerância e igualdade, levando em consideração e respeitando as diversas orientações
sexuais e identidades de gênero;
d) Garantir que os métodos educacionais, currículos e recursos sirvam para melhorar a compreensão e o
respeito pelas diversas orientações sexuais e identidades de gênero, incluindo as necessidades particulares
de estudantes, seus pais e familiares;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 381

e) Assegurar que leis e políticas dêem proteção adequada a estudantes, funcionários/as e professores/as
de diferentes orientações sexuais e identidades de gênero, contra toda forma de exclusão social e violência no
ambiente escolar, incluindo intimidação e assédio;
f) Garantir que estudantes sujeitos a tal exclusão ou violência não sejam marginalizados/as ou
segregados/as por razões de proteção e que seus interesses sejam identificados e respeitados de uma maneira
participativa;
g) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras medidas necessárias para assegurar que
a disciplina nas instituições educacionais seja administrada de forma coerente com a dignidade humana, sem
discriminação ou penalidade por motivo de orientação sexual ou identidade de gênero do ou da estudante, ou
de sua expressão;
h) Garantir que toda pessoa tenha acesso a oportunidades e recursos para aprendizado ao longo da vida,
sem discriminação por motivos de orientação sexual ou identidade de gênero, inclusive adultos que já tenham
sofrido essas formas de discriminação no sistema educacional.

PRINCÍPIO 17 - DIREITO AO PADRÃO MAIS ALTO ALCANÇÁVEL DE SAÚDE


Toda pessoa tem o direito ao padrão mais alto alcançável de saúde física e mental, sem discriminação por
motivo de orientação sexual ou identidade de gênero. A saúde sexual e reprodutiva é um aspecto fundamental
desse direito.

Os Estados deverão:
a) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras medidas necessárias para assegurar o
gozo do direito ao mais alto padrão alcançável de saúde, sem discriminação por motivo de orientação sexual
ou identidade de gênero;
b) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras medidas necessárias para garantir que
todas as pessoas tenham acesso às instalações, bens e serviços de atendimento à saúde, inclusive à saúde
sexual e reprodutiva, e acesso a seu próprio histórico médico, sem discriminação por motivo de orientação
sexual ou identidade de gênero;
c) Assegurar que as instalações, bens e serviços de atendimento à saúde sejam planejados para melhorar
o status de saúde e atender às necessidades de todas as pessoas, sem discriminação por motivo de orientação
sexual ou identidade de gênero, mas levando em conta essas características, e que os registros médicos
relacionados a isso sejam tratados de forma confidencial;
d) Desenvolver e implementar programas para enfrentar a discriminação, preconceito e outros fatores
sociais que solapam a saúde das pessoas por efeito de sua orientação sexual ou identidade de gênero;
e) Assegurar que todas as pessoas sejam informadas e empoderadas para tomarem suas próprias
decisões no que diz respeito ao atendimento e tratamento médicos, com consentimento realmente baseado em
informações confiáveis, sem discriminação por motivo de orientação sexual ou identidade de gênero;
f) Garantir que todos os programas e serviços de saúde sexual e reprodutiva, educação, prevenção,
atendimento e tratamento respeitem a diversidade de orientações sexuais e identidades de gênero, estando
igualmente disponíveis para todas as pessoas, sem discriminação;
g) Facilitar o acesso daquelas pessoas que estão buscando modificações corporais relacionadas à
redesignação de sexo/gênero, ao atendimento, tratamento e apoio competentes e não- discriminatórios;
h) Assegurar que todos os provedores de serviços de saúde tratem os/as clientes e seus parceiros ou
parceiras sem discriminação por motivo de orientação sexual ou identidade de gênero, inclusive no que diz
respeito ao reconhecimento de parceiros e parceiras como parentes mais próximos;
i) Adotar políticas e programas de educação e treinamento necessários para capacitar as pessoas que
trabalham nos serviços de saúde a proverem o mais alto padrão alcançável de atenção à saúde a todas as
pessoas, com pleno respeito à orientação sexual e identidade de gênero de cada uma.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 382

PRINCÍPIO 18 - PROTEÇÃO CONTRA ABUSOS MÉDICOS


Nenhuma pessoa deve ser forçada a submeter-se a qualquer forma de tratamento, procedimento ou teste,
físico ou psicológico, ou ser confinada em instalações médicas com base na sua orientação sexual ou
identidade de gênero. A despeito de quaisquer classificações contrárias, a orientação sexual e identidade de
gênero de uma pessoa não são, em si próprias, doenças médicas a serem tratadas, curadas ou eliminadas.

Os Estados deverão:
a) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras medidas necessárias para garantir a
proteção plena contra práticas médicas prejudiciais por motivo de orientação sexual ou identidade de gênero,
inclusive na base de estereótipos, sejam eles derivados da cultura ou de outros fatores, relacionados à conduta,
aparência física ou normas de gênero percebidas;
b) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras medidas necessárias para assegurar que
nenhuma criança tenha seu corpo alterado de forma irreversível por procedimentos médicos, numa tentativa
de impor uma identidade de gênero, sem o pleno e livre consentimento da criança que esteja baseado em
informações confiáveis, de acordo com a idade e maturidade da criança e guiado pelo princípio de que em
todas as ações relacionadas a crianças, tem primazia o melhor interesse da criança;
c) Implementar mecanismos de proteção à criança, de modo que nenhuma criança seja sujeita a abusos
médicos ou corra esse risco;
d) Assegurar a proteção das pessoas de diversas orientações sexuais e identidades de gênero contra
pesquisas e procedimentos médicos antiéticos ou involuntários, inclusive em relação à vacina, tratamentos ou
microbicidas para o HIV/Aids e outras doenças;
e) Rever e emendar qualquer dispositivo ou programa de financiamento de saúde, incluindo aqueles de
ajuda ao desenvolvimento, que possam promover, facilitar ou, de qualquer outra forma, tornar possíveis esses
abusos;
f) Garantir que qualquer tratamento ou aconselhamento médico ou psicológico não trate, explícita ou
implicitamente, a orientação sexual e identidade de gênero como doenças médicas a serem tratadas, curadas
ou eliminadas.

PRINCÍPIO 19 - DIREITO À LIBERDADE DE OPINIÃO E EXPRESSÃO


Toda pessoa tem o direito à liberdade de opinião e expressão, não importando sua orientação sexual ou
identidade de gênero. Isto inclui a expressão de identidade ou autonomia pessoal através da fala,
comportamento, vestimenta, características corporais, escolha de nome ou qualquer outro meio, assim como
a liberdade para buscar, receber e transmitir informação e idéias de todos os tipos, incluindo idéias relacionadas
aos direitos humanos, orientação sexual e identidade de gênero, através de qualquer mídia, e
independentemente das fronteiras nacionais

Os Estados deverão:
a) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras medidas necessárias para assegurar o
pleno gozo da liberdade de opinião e expressão, respeitando os direitos e liberdades das outras pessoas, sem
discriminação por motivo de orientação sexual ou identidade de gênero, incluindo a recepção e transmissão de
informações e idéias sobre a orientação sexual e identidade de gênero, assim como a defesa de direitos legais,
publicação de materiais, transmissão de rádio e televisão, organização de conferências ou participação nelas,
ou disseminação e acesso à informação sobre sexo mais seguro;
b) Garantir que os produtos e a organização da mídia que é regulada pelo Estado sejam pluralistas e não-
discriminatórios em relação às questões de orientação sexual e identidade de gênero, e que o recrutamento de
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 383

pessoal e as políticas de promoção dessas organizações não discriminem por motivo de orientação sexual ou
identidade de gênero;
c) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras medidas necessárias para assegurar o
pleno gozo do direito de expressar a identidade ou autonomia pessoal, inclusive por meio da palavra,
comportamento, vestimenta, características corporais, escolha de nome ou qualquer outro meio;
d) Assegurar que as noções de ordem pública, moralidade pública, saúde pública e segurança pública não
sejam empregadas para restringir, de forma discriminatória, qualquer exercício da liberdade de opinião e
expressão que afirme a diversidade de orientações sexuais e identidades de gênero;
e) Garantir que o exercício da liberdade de opinião e expressão não viole os direitos e liberdades das
pessoas de orientações sexuais e identidade de gênero diversas;
f) Assegurar que todas as pessoas independente de orientação sexual ou identidade de gênero, desfrutem
de igual acesso a informações e idéias, assim como de participação no debate público.

PRINCÍPIO 20 - DIREITO À LIBERDADE DE REUNIÃO E ASSOCIAÇÃO PACÍFICAS


Toda pessoa tem o direito à liberdade de reunião e associação pacíficas, inclusive com o objetivo de
manifestações pacíficas, independente de orientação sexual ou identidade de gênero. As pessoas podem
formar associações baseadas na orientação sexual ou identidade de gênero, assim como associações para
distribuir informação, facilitar a comunicação e defender os direitos de pessoas de orientações sexuais e
identidades de gênero diversas, e conseguir o reconhecimento dessas organizações, sem discriminação.

Os Estados deverão:
a) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras medidas necessárias para assegurar os
direitos de organização, associação, reunião e defesa pacíficas em torno dos temas de orientação sexual e
identidade de gênero, e de obter reconhecimento legal para essas associações e grupos, sem discriminação
por motivo de orientação sexual ou identidade de gênero;
b) Garantir especialmente que as noções de ordem pública, moralidade pública, saúde pública e segurança
pública não sejam empregadas para restringir qualquer exercício do direito de reunião e associação pacíficas
simplesmente porque elas afirmam orientações sexuais e identidade de gênero diversas;
c) Sob nenhuma circunstância impedir o exercício do direito à reunião e associação pacíficas por motivos
relacionados à orientação sexual ou identidade de gênero, e garantir que as pessoas que exercem esses
direitos recebam proteção policial adequada e outras proteções físicas contra a violência ou assédio;
d) Prover treinamento e programas de conscientização para autoridades encarregadas de aplicar as leis e
outros/as funcionários/as relevantes de maneira a capacitá-los/las a fornecer essa proteção;
e) Assegurar que as regras de divulgação de informação para associações e grupos voluntários não
tenham, na prática, efeitos discriminatórias para essas associações e grupos que tratam de temas de orientação
sexual ou identidade de gênero, assim como para seus membros.

PRINCÍPIO 21 - DIREITO À LIBERDADE DE PENSAMENTO, CONSCIÊNCIA E RELIGIÃO


Toda pessoa tem o direito à liberdade de pensamento, consciência e religião, independente de orientação
sexual ou identidade de gênero. Estes direitos não podem ser invocados pelo Estado para justificar leis,
políticas ou práticas que neguem a proteção igual da lei, ou discriminem, por motivo de orientação sexual ou
identidade de gênero.

Os Estados deverão:
a) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras medidas necessárias para assegurar o
direito de as pessoas, independente de sua orientação sexual ou identidade de gênero, terem e praticarem
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 384

crenças religiosas ou não-religiosas, sozinhas ou associadas a outras pessoas, livres de interferência nessas
crenças e também livres de coerção ou imposição de crenças;
b) Garantir que a expressão, prática e promoção de opiniões, convicções e crenças diferentes relacionadas
a temas de orientação sexual ou identidade de gênero não sejam feitas de forma incompatível com os direitos
humanos.

PRINCÍPIO 22 - DIREITO À LIBERDADE DE IR E VIR


Toda pessoa que vive legalmente num Estado tem o direito à liberdade de ir e vir e de estabelecer residência
dentro das fronteiras desse Estado, independente de sua orientação sexual ou identidade de gênero. A
orientação sexual e identidade de gênero nunca podem ser invocadas para limitar ou impedir a entrada, saída
ou retorno a qualquer Estado, incluindo o próprio Estado da pessoa.

Os Estados deverão:
a) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras medidas necessárias para assegurar que
o direito à liberdade de ir e vir e de estabelecer residência esteja garantido, independente da orientação sexual
ou identidade de gênero.

PRINCÍPIO 23 - DIREITO DE BUSCAR ASILO


Toda pessoa tem o direito de buscar e de desfrutar de asilo em outros países para escapar de perseguição,
inclusive de perseguição relacionada à orientação sexual ou identidade de gênero. Um Estado não pode
transferir, expulsar ou extraditar uma pessoa para outro Estado onde esta pessoa experimente temor
fundamentado de enfrentar tortura, perseguição ou qualquer outra forma de tratamento ou punição cruel,
desumana ou degradante, em razão de sua orientação sexual ou identidade de gênero.

Os Estados deverão:
a) Rever, emendar e aprovar leis para assegurar que o temor fundamentado de perseguição por motivo de
orientação sexual ou identidade de gênero seja aceito para reconhecimento do status de refugiado e asilado;
b) Assegurar que nenhuma política ou prática discrimine aquelas pessoas que buscam asilo na base de
sua orientação sexual ou identidade de gênero;
c) Garantir que nenhuma pessoa seja transferida, expulsa ou extraditada para qualquer Estado onde essa
pessoa experimente temor fundamentado de enfrentar tortura, perseguição ou qualquer outra forma de
tratamento ou punição cruel, desumano ou degradante, por causa da orientação sexual ou identidade de gênero
daquela pessoa.

PRINCÍPIO 24 - DIREITO DE CONSTITUIR FAMÍLIA


Toda pessoa tem o direito de constituir uma família, independente de sua orientação sexual ou identidade de
gênero. As famílias existem em diversas formas. Nenhuma família pode ser sujeita à discriminação com base
na orientação sexual ou identidade de gênero de qualquer de seus membros.

Os Estados deverão:
a) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras medidas necessárias para assegurar o
direito de constituir família, inclusive pelo acesso à adoção ou procriação assistida (incluindo inseminação de
doador), sem discriminação por motivo de orientação sexual ou identidade de gênero;
b) Assegurar que leis e políticas reconheçam a diversidade de formas de família, incluindo aquelas não
definidas por descendência ou casamento e tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 385

medidas necessárias para garantir que nenhuma família possa ser sujeita à discriminação com base na
orientação sexual ou identidade de gênero de qualquer de seus membros, inclusive no que diz respeito à
assistência social relacionada à família e outros benefícios públicos, emprego e imigração;
c) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras medidas necessárias para assegurar que
em todas as ações e decisões relacionadas a crianças, sejam tomadas por instituições sociais públicas ou
privadas, tribunais, autoridades administrativas ou órgãos legislativos, o melhor interesse da criança tem
primazia e que a orientação sexual ou identidade de gênero da criança ou de qualquer membro da família ou
de outra pessoa não devem ser consideradas incompatíveis com esse melhor interesse;
d) Em todas as ações ou decisões relacionadas as crianças, assegurar que uma criança capaz de ter
opiniões pessoais possa exercitar o direito de expressar essas opiniões livremente, e que as crianças recebam
a devida atenção, de acordo com sua idade e a maturidade;
e) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras medidas necessárias para garantir que
nos Estados que reconheçam o casamento ou parceria registrada entre pessoas do mesmo sexo, qualquer
prerrogativa, privilégio, obrigação ou benefício disponível para pessoas casadas ou parceiros/as registrados/as
de sexo diferente esteja igualmente disponível para pessoas casadas ou parceiros/as registrados/as do mesmo
sexo;
f) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras medidas necessárias para assegurar que
qualquer obrigação, prerrogativa, privilégio ou benefício disponível para parceiros não- casados de sexo
diferente esteja igualmente disponível para parceiros não-casados do mesmo exo
g) Garantir que casamentos e outras parcerias legalmente reconhecidas só possam ser contraídas com o
consentimento pleno e livre das pessoas com intenção de ser cônjuges ou parceiras.

PRINCÍPIO 25 - DIREITO DE PARTICIPAR DA VIDA PÚBLICA


Todo cidadão ou cidadã tem o direito de participar da direção dos assuntos públicos, inclusive o direito de
concorrer a cargos eletivos, participar da formulação de políticas que afetem seu bem-estar e ter acesso igual
a todos os níveis do serviço público e emprego em funções públicas, incluindo a polícia e as forças militares,
sem discriminação por motivo de orientação sexual ou identidade de gênero.

Os Estados deverão:
a) Rever, emendar e aprovar leis para assegurar o gozo pleno do direito de participar na vida pública e nos
assuntos políticos, incluindo todos os níveis do serviço governamental e emprego em funções públicas,
inclusive o serviço na polícia e nas forças militares, sem discriminação e com pleno respeito pela orientação
sexual e identidade de gênero;
b) Tomar todas as medidas apropriadas para eliminar estereótipos e preconceitos relacionados à
orientação sexual e identidade de gênero que impeçam ou restrinjam a participação na vida pública;
c) Assegurar o direito de cada pessoa de participar na formulação de políticas que afetem o seu bem-estar,
sem discriminação por motivo de sua orientação sexual e identidade de gênero e com pleno respeito por estes
aspectos.

PRINCÍPIO 26 - DIREITO DE PARTICIPAR DA VIDA CULTURAL


Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural, independente de sua orientação sexual ou
identidade de gênero, e de expressar por meio da participação cultural a diversidade de orientação sexual e
identidade de gênero.

Os Estados deverão:
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 386

a) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras medidas necessárias para assegurar
oportunidades de participação na vida cultural a todas as pessoas, independente de sua orientação sexual e
identidade de gênero e com pleno respeito por essas características;
b) Promover o diálogo e o respeito mútuo entre aqueles e aquelas que expressam os diversos grupos
culturais presentes na sociedade e representados no Estado, incluindo grupos que têm visões diferentes sobre
questões de orientação sexual e identidade de gênero, com respeito pelos direitos humanos referidos nestes
Princípios.

PRINCÍPIO 27 - DIREITO DE PROMOVER OS DIREITOS HUMANOS


Toda pessoa tem o direito de promover a proteção e aplicação, individualmente ou em associação com outras
pessoas, dos direitos humanos em nível nacional e internacional, sem discriminação por motivo de orientação
sexual ou identidade de gênero. Isto inclui atividades voltadas para a promoção da proteção dos direitos de
pessoas de orientações sexuais e identidades de gênero diversas, assim como o direito de desenvolver e
discutir novas normas de direitos humanos e de defender sua aceitação.

Os Estados deverão:
a) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras medidas necessárias para assegurar um
ambiente favorável às atividade voltadas para a promoção, proteção e aplicação dos direitos humanos, inclusive
direitos relevantes para a orientação sexual e identidade de gênero;
b) Tomar todas as medidas adequadas para combater ações ou campanhas que visam atingir defensores
e defensoras de direitos humanos que trabalham com temas de orientação sexual e identidade de gênero,
assim como ações que visam defensores e defensoras de direitos humanos de orientações sexuais e identidade
de gênero diversas;
c) Assegurar que pessoas defensoras de direitos humanos, independente de sua orientação sexual ou
identidade de gênero, e também sem importar quais temas e direitos humanos defendem, desfrutem de acesso
não-discriminatório às organizações e órgãos de direitos humanos nacionais e internacionais, possam participar
deles e estabelecer comunicação com eles;
d) Garantir proteção aos defensores e defensoras de direitos humanos trabalhando com temas de
orientação sexual e identidade de gênero contra qualquer violência, ameaça, retaliação, discriminação de acto
de jure, pressão ou qualquer outra ação arbitrária perpetrada pelo Estado ou por atores não-estatais em
resposta às suas atividades de direitos humanos. A mesma proteção deve ser assegurada a defensores e
defensoras de direitos humanos que trabalhem com qualquer tema contra tal tratamento baseado na sua
orientação sexual ou identidade de gênero;
e) Apoiar o reconhecimento e acreditação de organizações que promovam e protejam os direitos humanos
de pessoas de orientações sexuais e identidade de gênero diversas em nível nacional e internacional

PRINCÍPIO 28 - DIREITO A RECURSOS JURÍDICOS E MEDIDAS CORRETIVAS EFICAZES


Toda pessoa vítima de uma violação de direitos humanos, inclusive violação por motivo de orientação sexual
ou identidade de gênero, tem direito a recursos jurídicos eficazes, adequados e apropriados. As medidas
adotadas com o objetivo de fornecer reparação a pessoas de orientações sexuais e identidades de gênero
diversas, ou de garantir o desenvolvimento apropriado dessas pessoas, constituem elementos essenciais do
direito a recursos jurídicos e medidas corretivas eficazes.

Os Estados deverão:
a) Estabelecer os procedimentos jurídicos necessários, incluindo a revisão de leis e políticas, para
assegurar que as vítimas de violações de direitos humanos por motivo de orientação sexual ou identidade de
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 387

gênero tenham acesso a medidas corretivas plenas, através de restituição, compensação, reabilitação,
satisfação, garantia de não repetição e/ou qualquer outro meio que seja apropriado;
b) Assegurar que esses recursos jurídicos sejam aplicados e implementados em tempo hábil;
c) Garantir que sejam estabelecidas instituições e padrões eficazes para a provisão de recursos jurídicos
e medidas corretivas, e que todo o seu pessoal seja treinado nos temas de violações de direitos humanos por
motivo de orientação sexual e identidade de gênero;
d) Assegurar que todas as pessoas tenham acesso a todas as informações necessárias sobre os
procedimentos para buscar recursos jurídicos e medidas corretivas;
e) Garantir que seja fornecida ajuda financeira àquelas pessoas que não possam arcar com os custos das
medidas corretivas e que seja eliminado qualquer outro obstáculo para assegurar essas medidas corretivas,
seja ele financeiro ou de outro tipo;
f) Assegurar programas de treinamento e conscientização, incluindo medidas voltadas para professores/as
e estudantes em todos os níveis do ensino público, organismos profissionais, e violadores/as potenciais de
direitos humanos, para promover o respeito e adesão aos padrões internacionais de direitos humanos de
acordo com estes Princípios, assim como para combater atitudes discriminatórias por motivo de orientação
sexual ou identidade de gênero.

PRINCÍPIO 29 - RESPONSABILIZAÇÃO (“ACCOUNTABILITY”)


Toda pessoa cujos direitos humanos sejam violados, inclusive direitos referidos nestes Princípios, tem o direito
de responsabilizar por suas ações, de maneira proporcional à seriedade da violação, aquelas pessoas que,
direta ou indiretamente, praticaram aquela violação, sejam ou não funcionários/as públicos/as. Não deve haver
impunidade para pessoas que violam os direitos humanos relacionadas à orientação sexual ou identidade de
gênero.

Os Estados deverão:
a) Implantar procedimentos criminais, civis, administrativos e outros procedimentos, que sejam
apropriados, acessíveis e eficazes, assim como mecanismos de monitoramento, para assegurar que as
pessoas e instituições que violam os direitos humanos relacionados à orientação sexual ou identidade de
gênero sejam responsabilizadas;
b) Assegurar que todas as alegações de crimes praticados com base na orientação sexual ou identidade
de gênero da vítima, seja ela real ou percebida, inclusive crimes descritos nestes Princípios, sejam investigados
de forma rápida e completa e que, quando evidências adequadas sejam encontradas, as pessoas responsáveis
sejam processadas, julgadas e devidamente punidas;
c) Implantar instituições e procedimentos independentes e eficazes para monitorar a formulação de leis e
políticas e sua aplicação, garantindo a eliminação da discriminação por motivo de orientação sexual ou
identidade de gênero;
d) Eliminar qualquer obstáculo que impeça a responsabilização das pessoas que praticaram violações de
direitos humanos por motivo de orientação sexual ou identidade de gênero.

RECOMENDAÇÕES ADICIONAIS
Todos os membros da sociedade e da comunidade internacional têm responsabilidades relacionadas à
aplicação dos direitos humanos. Assim, recomendamos que:
a) O Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos endosse estes Princípios, promova sua
implementação em todo o mundo e os integre ao trabalho do Escritório do Alto Comissariado para Direitos
Humanos, inclusive em nível de trabalho de campo;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 388

b) O Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas endosse estes Princípios e dê atenção substantiva
às violações de direitos humanos por motivo de orientação sexual ou identidade de gênero, com a perspectiva
de promover o cumprimento desses Princípios por parte dos Estados;
c) Os Procedimentos Especiais de Direitos Humanos das Nações Unidas prestem a devida atenção às
violações de direitos humanos por motivo de orientação sexual ou identidade de gênero e integre estes
Princípios à implementação de seus respectivos mandatos;
d) O Conselho Econômico e Social das Nações Unidas reconheça e credencie as organizações não-
governamentais cujo objetivo seja promover e proteger os direitos humanos de pessoas de diversas orientações
sexuais e identidade de gênero, de acordo com sua Resolução 1996/31;
e) Os Órgãos dos Tratados de Direitos Humanos das Nações Unidas integrem vigorosamente estes
Princípios à implementação de seus respectivos mandatos, inclusive à sua jurisprudência e ao exame dos
relatórios dos Estados e, quando apropriado, adote Comentários Gerais ou outros textos interpretativos sobre
a aplicação da legislação de direitos humanos a pessoas de orientações sexuais e identidades de gênero
diversas;
f) A Organização Mundial da Saúde e o Unaids desenvolvam diretrizes sobre a provisão de serviços e
atendimento de saúde adequados, que respondam às necessidades de saúde das pessoas relacionadas à sua
orientação sexual ou identidade de gênero, com respeito pleno pelos seus direitos humanos e dignidade;
g) O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados integre estes Princípios aos esforços para
proteger pessoas que sofrem, ou têm temor bem fundamentado de sofrer, perseguição por causa de sua
orientação sexual ou identidade de gênero, assegurando que nenhuma pessoa seja discriminada por sua
orientação sexual ou identidade de gênero, no que diz respeito ao recebimento de assistência humanitária e
outros serviços, ou na determinação do status de refugiado;
h) As organizações intergovernamentais regionais e sub-regionais com compromisso com os direitos
humanos, assim como os órgãos regionais dos tratados de direitos humanos, assegurem que a promoção
destes Princípios seja essencial à implementação dos mandatos de seus vários mecanismos, procedimentos
e outros arranjos e iniciativas de direitos humanos;
i) Os tribunais de direitos humanos regionais integrem vigorosamente à sua jurisprudência sobre
orientação sexual e identidade de gênero aqueles Princípios que sejam relevantes para os tratados de direitos
humanos os quais eles interpretam;
j) As organizações não-governamentais que trabalhem com direitos humanos em nível nacional, regional
e internacional promovam o respeito por esses Princípios dentro do marco de referência de seus mandatos
específicos;
k) As organizações humanitárias incorporem estes Princípios a qualquer operação humanitária ou de ajuda
e não discriminem pessoas por sua orientação sexual ou identidade de gênero no âmbito da provisão de ajuda
financeira e de outros serviços;
l) As instituições de direitos humanos nacionais promovam o respeito a estes Princípios por atores estatais
e não-estatais, e integrem a seu trabalho a promoção e proteção dos direitos humanos de pessoas de
orientações sexuais e identidade de gênero diversas;
m) As organizações profissionais, incluindo aquelas nas áreas médica, de justiça criminal e civil e
educacional revisem suas práticas e diretrizes para garantir que promovam vigorosamente a implementação
destes Princípios;
n) As organizações comerciais reconheçam e assumam o papel importante que têm em assegurar o
respeito a estes Princípios no que diz respeito a suas próprias forças de trabalho e em promover estes
Princípios nacional e internacionalmente;
o) A mídia de massa evite o uso de estereótipos em relação à orientação sexual e identidade de gênero e
promova a tolerância e aceitação da diversidade da orientação sexual humana e da identidade de gênero,
assim como realize trabalho de conscientização em torno desses temas;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 389

p) Os financiadores governamentais e privados forneçam assistência financeira às organizações não-


governamentais e a outras organizações, para a promoção e proteção dos direitos humanos de pessoas de
orientações sexuais e identidade de gênero diversas.

ESTES PRINCÍPIOS E RECOMENDAÇÕES refletem a aplicação da legislação de direitos humanos


internacionais à vida e à experiência das pessoas de orientações sexuais e identidades de gênero diversas e
nenhum deles deve ser interpretado como restringindo, ou de qualquer forma limitando, os direitos e liberdades
dessas pessoas, conforme reconhecidos em leis e padrões internacionais, regionais e nacionais.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 390

10. DECLARAÇÃO E PLATAFORMA DE AÇÃO DE PEQUIM (IV CONFERÊNCIA


MUNDIAL SOBRE AS MULHERES, CHINA) – 1995

DECLARAÇÃO DE PEQUIM ADOTADA PELA QUARTA CONFERÊNCIA MUNDIAL


SOBRE AS MULHERES: AÇÃO PARA IGUALDADE, DESENVOLVIMENTO E PAZ (1995)*

1. Nós, os Governos, participantes da Quarta Conferência Mundial sobre as Mulheres,

2. Reunidos aqui em Pequim, em setembro de 1995, o ano do 50o aniversário de fundação das Nações Unidas,

3. Determinados a promover os objetivos da igualdade, desenvolvimento e paz para todas as mulheres, em


todos os lugares do mundo, no interesse de toda a humanidade,

4. Reconhecendo as aspirações de todas as mulheres do mundo inteiro e levando em consideração a


diversidade das mulheres, suas funções e circunstâncias, honrando as mulheres que têm aberto e construído
um caminho e inspirados pela esperança presente na juventude do mundo,

5. Reconhecemos que o status das mulheres tem avançado em alguns aspectos importantes desde a década
passada; no entanto, este progresso tem sido heterogêneo, desigualdades entre homens e mulheres têm
persistido e sérios obstáculos também, com consequências prejudiciais para o bem-estar de todos os povos,

6. Reconhecemos ainda que esta situação é agravada pelo crescimento da pobreza que afeta a vida da maioria
da população mundial, em particular das mulheres e crianças, tendo origem tanto na esfera nacional, como na
esfera internacional,

7. Comprometemo-nos, sem qualquer reserva, a combater estas limitações e obstáculos e a promover o avanço
e o fortalecimento das mulheres em todo o mundo e concordamos que isto requer medidas e ações urgentes,
com espírito de determinação, esperança, cooperação e solidariedade, agora e ao longo do próximo século.

Nós reafirmamos o nosso compromisso relativo:

8. À igualdade de direitos e à dignidade humana inerente a mulheres e homens e aos demais propósitos e
princípios consagrados na Carta das Nações Unidas, na Declaração Universal dos Direitos Humanos e em
outros instrumentos internacionais de direitos humanos, em particular na Convenção sobre a Eliminação de
todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e na Convenção sobre os Direitos da Criança, como
também na Declaração sobre a Eliminação da Violência contra as Mulheres e na Declaração sobre o Direito ao
Desenvolvimento;

9. Assegurar a plena implementação dos direitos humanos das mulheres e das meninas como parte inalienável,
integral e indivisível de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais;

10. Impulsionar o consenso e o progresso alcançados nas anteriores Conferências das Nações Unidas - sobre
as Mulheres em Nairóbi em 1985, sobre as Crianças em Nova York em 1990, sobre o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento no Rio de Janeiro em 1992, sobre Direitos Humanos em Viena em 1993, sobre População e
Desenvolvimento no Cairo em 1994 e sobre Desenvolvimento Social em Copenhagem em 1995, com os
objetivos de atingir a igualdade, o desenvolvimento e a paz;

11. Alcançar a plena e efetiva implementação das Estratégias de Nairóbi para o fortalecimento das Mulheres;

12. O fortalecimento e o avanço das mulheres, incluindo o direito à liberdade de pensamento, consciência,
religião e crença, o que contribui para a satisfação das necessidades morais, éticas, espirituais e intelectuais
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 391

de mulheres e homens, individualmente ou em comunidade, de forma a garantir-lhes a possibilidade de realizar


seu pleno potencial na sociedade e organizar suas vidas de acordo com as suas próprias aspirações.

Nós estamos convencidos de que:

13. O fortalecimento das mulheres e sua plena participação, em condições de igualdade, em todas as esferas
sociais, incluindo a participação nos processos de decisão e acesso ao poder, são fundamentais para o alcance
da igualdade, desenvolvimento e paz;

14. Os direitos das mulheres são direitos humanos;

15. A igualdade de direitos, oportunidades e acesso aos recursos, a distribuição equitativa das
responsabilidades familiares entre homens e mulheres e a harmônica associação entre eles são fundamentais
para seu próprio bem-estar e de suas famílias, como também para a consolidação da democracia;

16. A erradicação da pobreza baseada no crescimento econômico sustentado, no desenvolvimento social, na


proteção do meio ambiente e na justiça social, requer a participação das mulheres no desenvolvimento
econômico e social, a igualdade de oportunidades e a plena e equânime participação de mulheres e homens
como agentes beneficiários de um desenvolvimento sustentado centrado na pessoa;

17. O reconhecimento explícito e a reafirmação do direito de todas as mulheres de controlar todos os aspectos
de sua saúde, em particular sua própria fertilidade, é básico para seu fortalecimento;

18. A paz local, nacional, regional e global é alcançável e está necessariamente relacionada com os avanços
das mulheres, que constituem uma força fundamental para a liderança, a solução de conflitos e a promoção de
uma paz duradoura em todos os níveis;

19. É indispensável formular, implementar e monitorar, com a plena participação das mulheres, políticas e
programas efetivos, eficientes e reforçadores do enfoque de gênero, incluindo políticas de desenvolvimento e
programas que em todos os níveis busquem o fortalecimento e o avanço das mulheres;

20. A participação e contribuição de todos os atores da sociedade civil, particularmente de grupos e redes de
mulheres e demais organizações não governamentais e organizações comunitárias de base, com o pleno
respeito de sua autonomia, em cooperação com os Governos, é fundamental para a efetiva implementação e
monitoramento da Plataforma de Ação;

21. A implementação da Plataforma de Ação exige o compromisso dos Governos e da comunidade


internacional. Ao assumir compromissos de ação, no plano nacional e internacional, incluídos os compromissos
firmados na Conferência, os Governos e a comunidade internacional reconhecem a necessidade de priorizar a
ação para o alcance do fortalecimento e do avanço das mulheres.

Nós estamos determinados a:

22. Intensificar esforços e ações para alcançar, até o final deste século, os objetivos e estratégias de Nairóbi
orientados para os avanços das mulheres,

23. Garantir o pleno exercício de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais às mulheres e meninas
e adotar medidas efetivas contra a violação destes direitos e liberdades;
24. Adotar todas as medidas necessárias para eliminar todas as formas de discriminação contra mulheres e
meninas e remover todos os obstáculos à igualdade de gênero e aos avanços e fortalecimento das mulheres;

25. Encorajar os homens a participar plenamente de todas as ações orientadas à busca da igualdade;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 392

26. Promover a independência econômica das mulheres, incluindo o emprego, e erradicar a persistente e
crescente pobreza que recai sobre as mulheres, combatendo as causas estruturais da pobreza através de
transformações nas estruturas econômicas, assegurando acesso igualitário a todas as mulheres, incluindo as
mulheres da área rural, como agentes vitais do desenvolvimento, dos recursos produtivos, oportunidades e dos
serviços públicos;

27. Promover um desenvolvimento sustentado centrado na pessoa, incluindo o crescimento econômico


sustentado através da educação básica, educação durante toda a vida, alfabetização e capacitação, e, atenção
primária à saúde das meninas e das mulheres;

28. Adotar as medidas positivas para assegurar a paz para os avanços das mulheres e, reconhecendo o papel
de liderança que as mulheres têm apresentado no movimento pela paz, trabalhar ativamente para o
desarmamento geral e completo, sob o estrito e efetivo controle internacional, e apoiar as negociações para a
conclusão, sem demora, de tratado universal e multilateral de proibição de testes nucleares, que efetivamente
contribua para o desarmamento nuclear e para a prevenção da proliferação de armas nucleares em todos os
seus aspectos;

29. Prevenir e eliminar todas as formas de violência contra mulheres e meninas;

30. Assegurar a igualdade de acesso e a igualdade de tratamento de mulheres e homens na educação e saúde
e promover a saúde sexual e reprodutiva das mulheres e sua educação;

31. Promover e proteger todos os direitos humanos das mulheres e das meninas;

32. Intensificar os esforços para garantir o exercício, em igualdade de condições, de todos os direitos humanos
e liberdades fundamentais para todas as mulheres e meninas que enfrentam múltiplas barreiras para seu
fortalecimento e avanços, em virtude de fatores como raça, idade, língua, origem étnica, cultura, religião,
incapacidade/deficiência, ou por integrar comunidades indígenas;

33. Assegurar o respeito ao Direito Internacional, incluído o Direito Humanitário, no sentido de proteger as
mulheres e as meninas em particular;

34. Desenvolver o pleno potencial de meninas e mulheres de todas as idades, garantir sua plena participação,
em condições de igualdade, na construção de um mundo melhor para todos, e promover seu papel no processo
de desenvolvimento;

Nós estamos determinados a:

35. Assegurar às mulheres a igualdade de acesso aos recursos econômicos, incluindo a terra, o crédito, a
ciência, a tecnologia, a capacitação profissional, a informação, a comunicação e os mercados, como meio de
promover o avanço e o fortalecimento das mulheres e meninas, inclusive através da promoção de sua
capacidade de exercer os benefícios do acesso igualitário a estes recursos, para o que se recorre, dentre outras
coisas, à cooperação internacional;

36. Assegurar o sucesso da Plataforma de Ação que exigirá o sólido compromisso dos Governos, organizações
e instituições internacionais de todos os níveis. Nós estamos firmemente convencidos de que o
desenvolvimento econômico, o desenvolvimento social e a proteção do meio ambiente são interdependentes e
componentes mutuamente enfatizadores do desenvolvimento sustentável, que é o marco de nossos esforços
para o alcance de uma melhor qualidade de vida para todos os povos. Um desenvolvimento social equitativo
que reconheça a importância do fortalecimento dos pobres, particularmente das mulheres que vivem na
pobreza, na utilização dos recursos ambientais sustentáveis, é uma base necessária ao desenvolvimento
sustentável. Nós também reconhecemos que um crescimento econômico sustentado, com ampla base, no
contexto do desenvolvimento sustentável, é necessário para estimular o desenvolvimento social e a justiça
social. O sucesso da Plataforma de Ação ainda exigirá uma adequada mobilização de recursos nos âmbitos
nacional e internacional, como também novos e adicionais recursos para os países em desenvolvimento,
provenientes de todos os mecanismos de financiamento disponíveis, incluídas as fontes multilaterais, bilaterais
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 393

e privadas, a fim de que se promova o fortalecimento das mulheres; recursos financeiros para aumentar a
capacidade de instituições nacionais, sub-regionais, regionais e internacionais; o compromisso de garantir a
igualdade de direitos, a igualdade de responsabilidades, a igualdade de oportunidades e a igualdade de
participação de mulheres e homens em todos os órgãos e processos de formulação de políticas públicas no
âmbito nacional, regional e internacional; o estabelecimento ou o fortalecimento de mecanismos em todos os
níveis para prestar contas às mulheres de todo mundo;

37. Garantir também o êxito da Plataforma de Ação em países cujas economias estejam em transição, o que
requer contínua cooperação e assistência internacional;

38. Pela presente nos comprometemos, na qualidade de Governos, a implementar a seguinte Plataforma de
Ação, de modo a garantir que uma perspectiva de gênero esteja presente em todas as nossas políticas e
programas. Nós insistimos ao sistema das Nações Unidas, às instituições financeiras regionais e internacionais
e às demais relevantes instituições regionais e internacionais e a todas as mulheres e homens, como também
às organizações não governamentais, com pleno respeito à sua autonomia, e a todos os setores da sociedade
civil que, em cooperação com os Governos, se comprometam plenamente e contribuam para a implementação
desta Plataforma de Ação.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 394

11. ESTATUTO DE ROMA DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL - 1998


(DECRETO Nº 4388/2002)

DECRETO Nº 4.388, DE 25 DE SETEMBRO DE 2002.


Promulga o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso VIII, da
Constituição,

Considerando que o Congresso Nacional aprovou o texto do Estatuto de Roma do Tribunal Penal
Internacional, por meio do Decreto Legislativo no 112, de 6 de junho de 2002;

Considerando que o mencionado Ato Internacional entrou em vigor internacional em 1 o de julho de 2002,
e passou a vigorar, para o Brasil, em 1o de setembro de 2002, nos termos de seu art. 126;

DECRETA:

Art. 1o O Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, apenso por cópia ao presente Decreto, será
executado e cumprido tão inteiramente como nele se contém.

Art. 2o São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional quaisquer atos que possam resultar em revisão
do referido Acordo, assim como quaisquer ajustes complementares que, nos termos do art. 49, inciso I, da
Constituição, acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional.

Art. 3o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 25 de setembro de 2002; 181o da Independência e 114o da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Luiz Augusto Soint-Brisson de Araujo Castro

Este texto não substitui o publicado no DOU de 26.9.2002

ESTATUTO DE ROMA DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

Preâmbulo

Os Estados Partes no presente Estatuto.

Conscientes de que todos os povos estão unidos por laços comuns e de que suas culturas foram
construídas sobre uma herança que partilham, e preocupados com o fato deste delicado mosaico poder vir a
quebrar-se a qualquer instante,

Tendo presente que, no decurso deste século, milhões de crianças, homens e mulheres têm sido vítimas
de atrocidades inimagináveis que chocam profundamente a consciência da humanidade,

Reconhecendo que crimes de uma tal gravidade constituem uma ameaça à paz, à segurança e ao bem-
estar da humanidade,

Afirmando que os crimes de maior gravidade, que afetam a comunidade internacional no seu conjunto,
não devem ficar impunes e que a sua repressão deve ser efetivamente assegurada através da adoção de
medidas em nível nacional e do reforço da cooperação internacional,
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 395

Decididos a por fim à impunidade dos autores desses crimes e a contribuir assim para a prevenção de tais
crimes,

Relembrando que é dever de cada Estado exercer a respectiva jurisdição penal sobre os responsáveis
por crimes internacionais,

Reafirmando os Objetivos e Princípios consignados na Carta das Nações Unidas e, em particular, que
todos os Estados se devem abster de recorrer à ameaça ou ao uso da força, contra a integridade territorial ou
a independência política de qualquer Estado, ou de atuar por qualquer outra forma incompatível com os
Objetivos das Nações Unidas,

Salientando, a este propósito, que nada no presente Estatuto deverá ser entendido como autorizando
qualquer Estado Parte a intervir em um conflito armado ou nos assuntos internos de qualquer Estado,

Determinados em perseguir este objetivo e no interesse das gerações presentes e vindouras, a criar um
Tribunal Penal Internacional com caráter permanente e independente, no âmbito do sistema das Nações
Unidas, e com jurisdição sobre os crimes de maior gravidade que afetem a comunidade internacional no seu
conjunto,

Sublinhando que o Tribunal Penal Internacional, criado pelo presente Estatuto, será complementar às
jurisdições penais nacionais,

Decididos a garantir o respeito duradouro pela efetivação da justiça internacional,

Convieram no seguinte:

Capítulo I

Criação do Tribunal

Artigo 1o

O Tribunal

É criado, pelo presente instrumento, um Tribunal Penal Internacional ("o Tribunal"). O Tribunal será uma
instituição permanente, com jurisdição sobre as pessoas responsáveis pelos crimes de maior gravidade com
alcance internacional, de acordo com o presente Estatuto, e será complementar às jurisdições penais nacionais.
A competência e o funcionamento do Tribunal reger-se-ão pelo presente Estatuto.

Artigo 2o

Relação do Tribunal com as Nações Unidas

A relação entre o Tribunal e as Nações Unidas será estabelecida através de um acordo a ser aprovado
pela Assembléia dos Estados Partes no presente Estatuto e, em seguida, concluído pelo Presidente do Tribunal
em nome deste.

Artigo 3o

Sede do Tribunal

1. A sede do Tribunal será na Haia, Países Baixos ("o Estado anfitrião").

2. O Tribunal estabelecerá um acordo de sede com o Estado anfitrião, a ser aprovado pela Assembléia
dos Estados Partes e em seguida concluído pelo Presidente do Tribunal em nome deste.

3. Sempre que entender conveniente, o Tribunal poderá funcionar em outro local, nos termos do presente
Estatuto.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 396

Artigo 4o

Regime Jurídico e Poderes do Tribunal

1. O Tribunal terá personalidade jurídica internacional. Possuirá, igualmente, a capacidade jurídica


necessária ao desempenho das suas funções e à prossecução dos seus objetivos.

2. O Tribunal poderá exercer os seus poderes e funções nos termos do presente Estatuto, no território de
qualquer Estado Parte e, por acordo especial, no território de qualquer outro Estado.

Capítulo II

Competência, Admissibilidade e Direito Aplicável

Artigo 5o

Crimes da Competência do Tribunal

1. A competência do Tribunal restringir-se-á aos crimes mais graves, que afetam a comunidade
internacional no seu conjunto. Nos termos do presente Estatuto, o Tribunal terá competência para julgar os
seguintes crimes:

a) O crime de genocídio;

b) Crimes contra a humanidade;

c) Crimes de guerra;

d) O crime de agressão.

2. O Tribunal poderá exercer a sua competência em relação ao crime de agressão desde que, nos termos
dos artigos 121 e 123, seja aprovada uma disposição em que se defina o crime e se enunciem as condições
em que o Tribunal terá competência relativamente a este crime. Tal disposição deve ser compatível com as
disposições pertinentes da Carta das Nações Unidas.

Artigo 6o

Crime de Genocídio

Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por "genocídio", qualquer um dos atos que a seguir se
enumeram, praticado com intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou
religioso, enquanto tal:

a) Homicídio de membros do grupo;

b) Ofensas graves à integridade física ou mental de membros do grupo;

c) Sujeição intencional do grupo a condições de vida com vista a provocar a sua destruição física, total ou
parcial;

d) Imposição de medidas destinadas a impedir nascimentos no seio do grupo;

e) Transferência, à força, de crianças do grupo para outro grupo.

Artigo 7o

Crimes contra a Humanidade


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 397

1. Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por "crime contra a humanidade", qualquer um dos
atos seguintes, quando cometido no quadro de um ataque, generalizado ou sistemático, contra qualquer
população civil, havendo conhecimento desse ataque:

a) Homicídio;

b) Extermínio;

c) Escravidão;

d) Deportação ou transferência forçada de uma população;

e) Prisão ou outra forma de privação da liberdade física grave, em violação das normas fundamentais de
direito internacional;

f) Tortura;

g) Agressão sexual, escravatura sexual, prostituição forçada, gravidez forçada, esterilização forçada ou
qualquer outra forma de violência no campo sexual de gravidade comparável;

h) Perseguição de um grupo ou coletividade que possa ser identificado, por motivos políticos, raciais,
nacionais, étnicos, culturais, religiosos ou de gênero, tal como definido no parágrafo 3 o, ou em função de outros
critérios universalmente reconhecidos como inaceitáveis no direito internacional, relacionados com qualquer
ato referido neste parágrafo ou com qualquer crime da competência do Tribunal;

i) Desaparecimento forçado de pessoas;

j) Crime de apartheid;

k) Outros atos desumanos de caráter semelhante, que causem intencionalmente grande sofrimento, ou
afetem gravemente a integridade física ou a saúde física ou mental.

2. Para efeitos do parágrafo 1o:

a) Por "ataque contra uma população civil" entende-se qualquer conduta que envolva a prática múltipla de
atos referidos no parágrafo 1o contra uma população civil, de acordo com a política de um Estado ou de uma
organização de praticar esses atos ou tendo em vista a prossecução dessa política;

b) O "extermínio" compreende a sujeição intencional a condições de vida, tais como a privação do acesso
a alimentos ou medicamentos, com vista a causar a destruição de uma parte da população;

c) Por "escravidão" entende-se o exercício, relativamente a uma pessoa, de um poder ou de um conjunto


de poderes que traduzam um direito de propriedade sobre uma pessoa, incluindo o exercício desse poder no
âmbito do tráfico de pessoas, em particular mulheres e crianças;

d) Por "deportação ou transferência à força de uma população" entende-se o deslocamento forçado de


pessoas, através da expulsão ou outro ato coercivo, da zona em que se encontram legalmente, sem qualquer
motivo reconhecido no direito internacional;

e) Por "tortura" entende-se o ato por meio do qual uma dor ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são
intencionalmente causados a uma pessoa que esteja sob a custódia ou o controle do acusado; este termo não
compreende a dor ou os sofrimentos resultantes unicamente de sanções legais, inerentes a essas sanções ou
por elas ocasionadas;

f) Por "gravidez à força" entende-se a privação ilegal de liberdade de uma mulher que foi engravidada à
força, com o propósito de alterar a composição étnica de uma população ou de cometer outras violações graves
do direito internacional. Esta definição não pode, de modo algum, ser interpretada como afetando as
disposições de direito interno relativas à gravidez;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 398

g) Por "perseguição'' entende-se a privação intencional e grave de direitos fundamentais em violação do


direito internacional, por motivos relacionados com a identidade do grupo ou da coletividade em causa;

h) Por "crime de apartheid" entende-se qualquer ato desumano análogo aos referidos no parágrafo 1°,
praticado no contexto de um regime institucionalizado de opressão e domínio sistemático de um grupo racial
sobre um ou outros grupos nacionais e com a intenção de manter esse regime;

i) Por "desaparecimento forçado de pessoas" entende-se a detenção, a prisão ou o seqüestro de pessoas


por um Estado ou uma organização política ou com a autorização, o apoio ou a concordância destes, seguidos
de recusa a reconhecer tal estado de privação de liberdade ou a prestar qualquer informação sobre a situação
ou localização dessas pessoas, com o propósito de lhes negar a proteção da lei por um prolongado período de
tempo.

3. Para efeitos do presente Estatuto, entende-se que o termo "gênero" abrange os sexos masculino e
feminino, dentro do contexto da sociedade, não lhe devendo ser atribuído qualquer outro significado.

Artigo 8o

Crimes de Guerra

1. O Tribunal terá competência para julgar os crimes de guerra, em particular quando cometidos como
parte integrante de um plano ou de uma política ou como parte de uma prática em larga escala desse tipo de
crimes.

2. Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por "crimes de guerra":

a) As violações graves às Convenções de Genebra, de 12 de Agosto de 1949, a saber, qualquer um dos


seguintes atos, dirigidos contra pessoas ou bens protegidos nos termos da Convenção de Genebra que for
pertinente:

i) Homicídio doloso;

ii) Tortura ou outros tratamentos desumanos, incluindo as experiências biológicas;

iii) O ato de causar intencionalmente grande sofrimento ou ofensas graves à integridade física ou à saúde;

iv) Destruição ou a apropriação de bens em larga escala, quando não justificadas por quaisquer
necessidades militares e executadas de forma ilegal e arbitrária;

v) O ato de compelir um prisioneiro de guerra ou outra pessoa sob proteção a servir nas forças armadas
de uma potência inimiga;

vi) Privação intencional de um prisioneiro de guerra ou de outra pessoa sob proteção do seu direito a um
julgamento justo e imparcial;

vii) Deportação ou transferência ilegais, ou a privação ilegal de liberdade;

viii) Tomada de reféns;

b) Outras violações graves das leis e costumes aplicáveis em conflitos armados internacionais no âmbito
do direito internacional, a saber, qualquer um dos seguintes atos:

i) Dirigir intencionalmente ataques à população civil em geral ou civis que não participem diretamente nas
hostilidades;

ii) Dirigir intencionalmente ataques a bens civis, ou seja bens que não sejam objetivos militares;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 399

iii) Dirigir intencionalmente ataques ao pessoal, instalações, material, unidades ou veículos que participem
numa missão de manutenção da paz ou de assistência humanitária, de acordo com a Carta das Nações Unidas,
sempre que estes tenham direito à proteção conferida aos civis ou aos bens civis pelo direito internacional
aplicável aos conflitos armados;

iv) Lançar intencionalmente um ataque, sabendo que o mesmo causará perdas acidentais de vidas
humanas ou ferimentos na população civil, danos em bens de caráter civil ou prejuízos extensos, duradouros
e graves no meio ambiente que se revelem claramente excessivos em relação à vantagem militar global
concreta e direta que se previa;

v) Atacar ou bombardear, por qualquer meio, cidades, vilarejos, habitações ou edifícios que não estejam
defendidos e que não sejam objetivos militares;

vi) Matar ou ferir um combatente que tenha deposto armas ou que, não tendo mais meios para se defender,
se tenha incondicionalmente rendido;

vii) Utilizar indevidamente uma bandeira de trégua, a bandeira nacional, as insígnias militares ou o
uniforme do inimigo ou das Nações Unidas, assim como os emblemas distintivos das Convenções de Genebra,
causando deste modo a morte ou ferimentos graves;

viii) A transferência, direta ou indireta, por uma potência ocupante de parte da sua população civil para o
território que ocupa ou a deportação ou transferência da totalidade ou de parte da população do território
ocupado, dentro ou para fora desse território;

ix) Dirigir intencionalmente ataques a edifícios consagrados ao culto religioso, à educação, às artes, às
ciências ou à beneficência, monumentos históricos, hospitais e lugares onde se agrupem doentes e feridos,
sempre que não se trate de objetivos militares;

x) Submeter pessoas que se encontrem sob o domínio de uma parte beligerante a mutilações físicas ou a
qualquer tipo de experiências médicas ou científicas que não sejam motivadas por um tratamento médico,
dentário ou hospitalar, nem sejam efetuadas no interesse dessas pessoas, e que causem a morte ou coloquem
seriamente em perigo a sua saúde;

xi) Matar ou ferir à traição pessoas pertencentes à nação ou ao exército inimigo;

xii) Declarar que não será dado quartel;

xiii) Destruir ou apreender bens do inimigo, a menos que tais destruições ou apreensões sejam
imperativamente determinadas pelas necessidades da guerra;

xiv) Declarar abolidos, suspensos ou não admissíveis em tribunal os direitos e ações dos nacionais da
parte inimiga;

xv) Obrigar os nacionais da parte inimiga a participar em operações bélicas dirigidas contra o seu próprio
país, ainda que eles tenham estado ao serviço daquela parte beligerante antes do início da guerra;

xvi) Saquear uma cidade ou uma localidade, mesmo quando tomada de assalto;

xvii) Utilizar veneno ou armas envenenadas;

xviii) Utilizar gases asfixiantes, tóxicos ou outros gases ou qualquer líquido, material ou dispositivo análogo;

xix) Utilizar balas que se expandem ou achatam facilmente no interior do corpo humano, tais como balas
de revestimento duro que não cobre totalmente o interior ou possui incisões;

xx) Utilizar armas, projéteis; materiais e métodos de combate que, pela sua própria natureza, causem
ferimentos supérfluos ou sofrimentos desnecessários ou que surtam efeitos indiscriminados, em violação do
direito internacional aplicável aos conflitos armados, na medida em que tais armas, projéteis, materiais e
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 400

métodos de combate sejam objeto de uma proibição geral e estejam incluídos em um anexo ao presente
Estatuto, em virtude de uma alteração aprovada em conformidade com o disposto nos artigos 121 e 123;

xxi) Ultrajar a dignidade da pessoa, em particular por meio de tratamentos humilhantes e degradantes;

xxii) Cometer atos de violação, escravidão sexual, prostituição forçada, gravidez à força, tal como definida
na alínea f) do parágrafo 2o do artigo 7o, esterilização à força e qualquer outra forma de violência sexual que
constitua também um desrespeito grave às Convenções de Genebra;

xxiii) Utilizar a presença de civis ou de outras pessoas protegidas para evitar que determinados pontos,
zonas ou forças militares sejam alvo de operações militares;

xxiv) Dirigir intencionalmente ataques a edifícios, material, unidades e veículos sanitários, assim como o
pessoal que esteja usando os emblemas distintivos das Convenções de Genebra, em conformidade com o
direito internacional;

xxv) Provocar deliberadamente a inanição da população civil como método de guerra, privando-a dos bens
indispensáveis à sua sobrevivência, impedindo, inclusive, o envio de socorros, tal como previsto nas
Convenções de Genebra;

xxvi) Recrutar ou alistar menores de 15 anos nas forças armadas nacionais ou utilizá-los para participar
ativamente nas hostilidades;

c) Em caso de conflito armado que não seja de índole internacional, as violações graves do artigo
3ocomum às quatro Convenções de Genebra, de 12 de Agosto de 1949, a saber, qualquer um dos atos que a
seguir se indicam, cometidos contra pessoas que não participem diretamente nas hostilidades, incluindo os
membros das forças armadas que tenham deposto armas e os que tenham ficado impedidos de continuar a
combater devido a doença, lesões, prisão ou qualquer outro motivo:

i) Atos de violência contra a vida e contra a pessoa, em particular o homicídio sob todas as suas formas,
as mutilações, os tratamentos cruéis e a tortura;

ii) Ultrajes à dignidade da pessoa, em particular por meio de tratamentos humilhantes e degradantes;

iii) A tomada de reféns;

iv) As condenações proferidas e as execuções efetuadas sem julgamento prévio por um tribunal
regularmente constituído e que ofereça todas as garantias judiciais geralmente reconhecidas como
indispensáveis.

d) A alínea c) do parágrafo 2o do presente artigo aplica-se aos conflitos armados que não tenham caráter
internacional e, por conseguinte, não se aplica a situações de distúrbio e de tensão internas, tais como motins,
atos de violência esporádicos ou isolados ou outros de caráter semelhante;

e) As outras violações graves das leis e costumes aplicáveis aos conflitos armados que não têm caráter
internacional, no quadro do direito internacional, a saber qualquer um dos seguintes atos:

i) Dirigir intencionalmente ataques à população civil em geral ou civis que não participem diretamente nas
hostilidades;

ii) Dirigir intencionalmente ataques a edifícios, material, unidades e veículos sanitários, bem como ao
pessoal que esteja usando os emblemas distintivos das Convenções de Genebra, em conformidade com o
direito internacional;

iii) Dirigir intencionalmente ataques ao pessoal, instalações, material, unidades ou veículos que participem
numa missão de manutenção da paz ou de assistência humanitária, de acordo com a Carta das Nações Unidas,
sempre que estes tenham direito à proteção conferida pelo direito internacional dos conflitos armados aos civis
e aos bens civis;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 401

iv) Atacar intencionalmente edifícios consagrados ao culto religioso, à educação, às artes, às ciências ou
à beneficência, monumentos históricos, hospitais e lugares onde se agrupem doentes e feridos, sempre que
não se trate de objetivos militares;

v) Saquear um aglomerado populacional ou um local, mesmo quando tomado de assalto;

vi) Cometer atos de agressão sexual, escravidão sexual, prostituição forçada, gravidez à força, tal como
definida na alínea f do parágrafo 2o do artigo 7o; esterilização à força ou qualquer outra forma de violência
sexual que constitua uma violação grave do artigo 3o comum às quatro Convenções de Genebra;

vii) Recrutar ou alistar menores de 15 anos nas forças armadas nacionais ou em grupos, ou utilizá-los
para participar ativamente nas hostilidades;

viii) Ordenar a deslocação da população civil por razões relacionadas com o conflito, salvo se assim o
exigirem a segurança dos civis em questão ou razões militares imperiosas;

ix) Matar ou ferir à traição um combatente de uma parte beligerante;

x) Declarar que não será dado quartel;

xi) Submeter pessoas que se encontrem sob o domínio de outra parte beligerante a mutilações físicas ou
a qualquer tipo de experiências médicas ou científicas que não sejam motivadas por um tratamento médico,
dentário ou hospitalar nem sejam efetuadas no interesse dessa pessoa, e que causem a morte ou ponham
seriamente a sua saúde em perigo;

xii) Destruir ou apreender bens do inimigo, a menos que as necessidades da guerra assim o exijam;

f) A alínea e) do parágrafo 2o do presente artigo aplicar-se-á aos conflitos armados que não tenham caráter
internacional e, por conseguinte, não se aplicará a situações de distúrbio e de tensão internas, tais como motins,
atos de violência esporádicos ou isolados ou outros de caráter semelhante; aplicar-se-á, ainda, a conflitos
armados que tenham lugar no território de um Estado, quando exista um conflito armado prolongado entre as
autoridades governamentais e grupos armados organizados ou entre estes grupos.

3. O disposto nas alíneas c) e e) do parágrafo 2o, em nada afetará a responsabilidade que incumbe a todo
o Governo de manter e de restabelecer a ordem pública no Estado, e de defender a unidade e a integridade
territorial do Estado por qualquer meio legítimo.

Artigo 9o

Elementos Constitutivos dos Crimes

1. Os elementos constitutivos dos crimes que auxiliarão o Tribunal a interpretar e a aplicar os artigos 6 o,
7o e 8o do presente Estatuto, deverão ser adotados por uma maioria de dois terços dos membros da Assembléia
dos Estados Partes.

2. As alterações aos elementos constitutivos dos crimes poderão ser propostas por:

a) Qualquer Estado Parte;

b) Os juízes, através de deliberação tomada por maioria absoluta;

c) O Procurador.

As referidas alterações entram em vigor depois de aprovadas por uma maioria de dois terços dos membros
da Assembléia dos Estados Partes.

3. Os elementos constitutivos dos crimes e respectivas alterações deverão ser compatíveis com as
disposições contidas no presente Estatuto.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 402

Artigo 10

Nada no presente capítulo deverá ser interpretado como limitando ou afetando, de alguma maneira, as
normas existentes ou em desenvolvimento de direito internacional com fins distintos dos do presente Estatuto.

Artigo 11

Competência Ratione Temporis

1. O Tribunal só terá competência relativamente aos crimes cometidos após a entrada em vigor do
presente Estatuto.

2. Se um Estado se tornar Parte no presente Estatuto depois da sua entrada em vigor, o Tribunal só poderá
exercer a sua competência em relação a crimes cometidos depois da entrada em vigor do presente Estatuto
relativamente a esse Estado, a menos que este tenha feito uma declaração nos termos do parágrafo 3 o do
artigo 12.

Artigo 12

Condições Prévias ao Exercício da Jurisdição

1. O Estado que se torne Parte no presente Estatuto, aceitará a jurisdição do Tribunal relativamente aos
crimes a que se refere o artigo 5o.

2. Nos casos referidos nos parágrafos a) ou c) do artigo 13, o Tribunal poderá exercer a sua jurisdição se
um ou mais Estados a seguir identificados forem Partes no presente Estatuto ou aceitarem a competência do
Tribunal de acordo com o disposto no parágrafo 3o:

a) Estado em cujo território tenha tido lugar a conduta em causa, ou, se o crime tiver sido cometido a bordo
de um navio ou de uma aeronave, o Estado de matrícula do navio ou aeronave;

b) Estado de que seja nacional a pessoa a quem é imputado um crime.

3. Se a aceitação da competência do Tribunal por um Estado que não seja Parte no presente Estatuto for
necessária nos termos do parágrafo 2o, pode o referido Estado, mediante declaração depositada junto do
Secretário, consentir em que o Tribunal exerça a sua competência em relação ao crime em questão. O Estado
que tiver aceito a competência do Tribunal colaborará com este, sem qualquer demora ou exceção, de acordo
com o disposto no Capítulo IX.

Artigo 13

Exercício da Jurisdição

O Tribunal poderá exercer a sua jurisdição em relação a qualquer um dos crimes a que se refere o artigo
5o, de acordo com o disposto no presente Estatuto, se:

a) Um Estado Parte denunciar ao Procurador, nos termos do artigo 14, qualquer situação em que haja
indícios de ter ocorrido a prática de um ou vários desses crimes;

b) O Conselho de Segurança, agindo nos termos do Capítulo VII da Carta das Nações Unidas, denunciar
ao Procurador qualquer situação em que haja indícios de ter ocorrido a prática de um ou vários desses crimes;
ou

c) O Procurador tiver dado início a um inquérito sobre tal crime, nos termos do disposto no artigo 15.

Artigo 14

Denúncia por um Estado Parte


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 403

1. Qualquer Estado Parte poderá denunciar ao Procurador uma situação em que haja indícios de ter
ocorrido a prática de um ou vários crimes da competência do Tribunal e solicitar ao Procurador que a investigue,
com vista a determinar se uma ou mais pessoas identificadas deverão ser acusadas da prática desses crimes.

2. O Estado que proceder à denúncia deverá, tanto quanto possível, especificar as circunstâncias
relevantes do caso e anexar toda a documentação de que disponha.

Artigo 15

Procurador

1. O Procurador poderá, por sua própria iniciativa, abrir um inquérito com base em informações sobre a
prática de crimes da competência do Tribunal.

2. O Procurador apreciará a seriedade da informação recebida. Para tal, poderá recolher informações
suplementares junto aos Estados, aos órgãos da Organização das Nações Unidas, às Organizações
Intergovernamentais ou Não Governamentais ou outras fontes fidedignas que considere apropriadas, bem
como recolher depoimentos escritos ou orais na sede do Tribunal.

3. Se concluir que existe fundamento suficiente para abrir um inquérito, o Procurador apresentará um
pedido de autorização nesse sentido ao Juízo de Instrução, acompanhado da documentação de apoio que tiver
reunido. As vítimas poderão apresentar representações no Juízo de Instrução, de acordo com o Regulamento
Processual.

4. Se, após examinar o pedido e a documentação que o acompanha, o Juízo de Instrução considerar que
há fundamento suficiente para abrir um Inquérito e que o caso parece caber na jurisdição do Tribunal, autorizará
a abertura do inquérito, sem prejuízo das decisões que o Tribunal vier a tomar posteriormente em matéria de
competência e de admissibilidade.

5. A recusa do Juízo de Instrução em autorizar a abertura do inquérito não impedirá o Procurador de


formular ulteriormente outro pedido com base em novos fatos ou provas respeitantes à mesma situação.

6. Se, depois da análise preliminar a que se referem os parágrafos 1o e 2o, o Procurador concluir que a
informação apresentada não constitui fundamento suficiente para um inquérito, o Procurador informará quem
a tiver apresentado de tal entendimento. Tal não impede que o Procurador examine, à luz de novos fatos ou
provas, qualquer outra informação que lhe venha a ser comunicada sobre o mesmo caso.

Artigo 16

Adiamento do Inquérito e do Procedimento Criminal

Nenhum inquérito ou procedimento crime poderá ter início ou prosseguir os seus termos, com base no
presente Estatuto, por um período de doze meses a contar da data em que o Conselho de Segurança assim o
tiver solicitado em resolução aprovada nos termos do disposto no Capítulo VII da Carta das Nações Unidas; o
pedido poderá ser renovado pelo Conselho de Segurança nas mesmas condições.

Artigo 17

Questões Relativas à Admissibilidade

1. Tendo em consideração o décimo parágrafo do preâmbulo e o artigo 1o, o Tribunal decidirá sobre a não
admissibilidade de um caso se:

a) O caso for objeto de inquérito ou de procedimento criminal por parte de um Estado que tenha jurisdição
sobre o mesmo, salvo se este não tiver vontade de levar a cabo o inquérito ou o procedimento ou, não tenha
capacidade para o fazer;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 404

b) O caso tiver sido objeto de inquérito por um Estado com jurisdição sobre ele e tal Estado tenha decidido
não dar seguimento ao procedimento criminal contra a pessoa em causa, a menos que esta decisão resulte do
fato de esse Estado não ter vontade de proceder criminalmente ou da sua incapacidade real para o fazer;

c) A pessoa em causa já tiver sido julgada pela conduta a que se refere a denúncia, e não puder ser
julgada pelo Tribunal em virtude do disposto no parágrafo 3o do artigo 20;

d) O caso não for suficientemente grave para justificar a ulterior intervenção do Tribunal.

2. A fim de determinar se há ou não vontade de agir num determinado caso, o Tribunal, tendo em
consideração as garantias de um processo eqüitativo reconhecidas pelo direito internacional, verificará a
existência de uma ou mais das seguintes circunstâncias:

a) O processo ter sido instaurado ou estar pendente ou a decisão ter sido proferida no Estado com o
propósito de subtrair a pessoa em causa à sua responsabilidade criminal por crimes da competência do
Tribunal, nos termos do disposto no artigo 5o;

b) Ter havido demora injustificada no processamento, a qual, dadas as circunstâncias, se mostra


incompatível com a intenção de fazer responder a pessoa em causa perante a justiça;

c) O processo não ter sido ou não estar sendo conduzido de maneira independente ou imparcial, e ter
estado ou estar sendo conduzido de uma maneira que, dadas as circunstâncias, seja incompatível com a
intenção de levar a pessoa em causa perante a justiça;

3. A fim de determinar se há incapacidade de agir num determinado caso, o Tribunal verificará se o Estado,
por colapso total ou substancial da respectiva administração da justiça ou por indisponibilidade desta, não
estará em condições de fazer comparecer o acusado, de reunir os meios de prova e depoimentos necessários
ou não estará, por outros motivos, em condições de concluir o processo.

Artigo 18

Decisões Preliminares sobre Admissibilidade

1. Se uma situação for denunciada ao Tribunal nos termos do artigo 13, parágrafo a), e o Procurador
determinar que existem fundamentos para abrir um inquérito ou der início a um inquérito de acordo com os
artigos 13, parágrafo c) e 15, deverá notificar todos os Estados Partes e os Estados que, de acordo com a
informação disponível, teriam jurisdição sobre esses crimes. O Procurador poderá proceder à notificação a
título confidencial e, sempre que o considere necessário com vista a proteger pessoas, impedir a destruição de
provas ou a fuga de pessoas, poderá limitar o âmbito da informação a transmitir aos Estados.

2. No prazo de um mês após a recepção da referida notificação, qualquer Estado poderá informar o
Tribunal de que está procedendo, ou já procedeu, a um inquérito sobre nacionais seus ou outras pessoas sob
a sua jurisdição, por atos que possam constituir crimes a que se refere o artigo 5o e digam respeito à informação
constante na respectiva notificação. A pedido desse Estado, o Procurador transferirá para ele o inquérito sobre
essas pessoas, a menos que, a pedido do Procurador, o Juízo de Instrução decida autorizar o inquérito.

3. A transferência do inquérito poderá ser reexaminada pelo Procurador seis meses após a data em que
tiver sido decidida ou, a todo o momento, quando tenha ocorrido uma alteração significativa de circunstâncias,
decorrente da falta de vontade ou da incapacidade efetiva do Estado de levar a cabo o inquérito.

4. O Estado interessado ou o Procurador poderão interpor recurso para o Juízo de Recursos da decisão
proferida por um Juízo de Instrução, tal como previsto no artigo 82. Este recurso poderá seguir uma forma
sumária.

5. Se o Procurador transferir o inquérito, nos termos do parágrafo 2 o, poderá solicitar ao Estado interessado
que o informe periodicamente do andamento do mesmo e de qualquer outro procedimento subseqüente. Os
Estados Partes responderão a estes pedidos sem atrasos injustificados.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 405

6. O Procurador poderá, enquanto aguardar uma decisão a proferir no Juízo de Instrução, ou a todo o
momento se tiver transferido o inquérito nos termos do presente artigo, solicitar ao tribunal de instrução, a título
excepcional, que o autorize a efetuar as investigações que considere necessárias para preservar elementos de
prova, quando exista uma oportunidade única de obter provas relevantes ou um risco significativo de que essas
provas possam não estar disponíveis numa fase ulterior.

7. O Estado que tenha recorrido de uma decisão do Juízo de Instrução nos termos do presente artigo
poderá impugnar a admissibilidade de um caso nos termos do artigo 19, invocando fatos novos relevantes ou
uma alteração significativa de circunstâncias.

Artigo 19

Impugnação da Jurisdição do Tribunal ou da Admissibilidade do Caso

1. O Tribunal deverá certificar-se de que detém jurisdição sobre todos os casos que lhe sejam submetidos.
O Tribunal poderá pronunciar-se de ofício sobre a admissibilidade do caso em conformidade com o artigo 17.

2. Poderão impugnar a admissibilidade do caso, por um dos motivos referidos no artigo 17, ou impugnar
a jurisdição do Tribunal:

a) O acusado ou a pessoa contra a qual tenha sido emitido um mandado ou ordem de detenção ou de
comparecimento, nos termos do artigo 58;

b) Um Estado que detenha o poder de jurisdição sobre um caso, pelo fato de o estar investigando ou
julgando, ou por já o ter feito antes; ou

c) Um Estado cuja aceitação da competência do Tribunal seja exigida, de acordo com o artigo 12.

3. O Procurador poderá solicitar ao Tribunal que se pronuncie sobre questões de jurisdição ou


admissibilidade. Nas ações relativas a jurisdição ou admissibilidade, aqueles que tiverem denunciado um caso
ao abrigo do artigo 13, bem como as vítimas, poderão também apresentar as suas observações ao Tribunal.

4. A admissibilidade de um caso ou a jurisdição do Tribunal só poderão ser impugnadas uma única vez
por qualquer pessoa ou Estado a que se faz referência no parágrafo 2 o. A impugnação deverá ser feita antes
do julgamento ou no seu início. Em circunstâncias excepcionais, o Tribunal poderá autorizar que a impugnação
se faça mais de uma vez ou depois do início do julgamento. As impugnações à admissibilidade de um caso
feitas no início do julgamento, ou posteriormente com a autorização do Tribunal, só poderão fundamentar-se
no disposto no parágrafo 1o, alínea c) do artigo 17.

5. Os Estados a que se referem as alíneas b) e c) do parágrafo 2o do presente artigo deverão deduzir


impugnação logo que possível.

6. Antes da confirmação da acusação, a impugnação da admissibilidade de um caso ou da jurisdição do


Tribunal será submetida ao Juízo de Instrução e, após confirmação, ao Juízo de Julgamento em Primeira
Instância. Das decisões relativas à jurisdição ou admissibilidade caberá recurso para o Juízo de Recursos, de
acordo com o artigo 82.

7. Se a impugnação for feita pelo Estado referido nas alíneas b) e c) do parágrafo 2o, o Procurador
suspenderá o inquérito até que o Tribunal decida em conformidade com o artigo 17.

8. Enquanto aguardar uma decisão, o Procurador poderá solicitar ao Tribunal autorização para:

a) Proceder às investigações necessárias previstas no parágrafo 6o do artigo 18;

b) Recolher declarações ou o depoimento de uma testemunha ou completar o recolhimento e o exame


das provas que tenha iniciado antes da impugnação; e
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 406

c) Impedir, em colaboração com os Estados interessados, a fuga de pessoas em relação às quais já tenha
solicitado um mandado de detenção, nos termos do artigo 58.

9. A impugnação não afetará a validade de nenhum ato realizado pelo Procurador, nem de nenhuma
decisão ou mandado anteriormente emitido pelo Tribunal.

10. Se o Tribunal tiver declarado que um caso não é admissível, de acordo com o artigo 17, o Procurador
poderá pedir a revisão dessa decisão, após se ter certificado de que surgiram novos fatos que invalidam os
motivos pelos quais o caso havia sido considerado inadmissível nos termos do artigo 17.

11. Se o Procurador, tendo em consideração as questões referidas no artigo 17, decidir transferir um
inquérito, poderá pedir ao Estado em questão que o mantenha informado do seguimento do processo. Esta
informação deverá, se esse Estado o solicitar, ser mantida confidencial. Se o Procurador decidir,
posteriormente, abrir um inquérito, comunicará a sua decisão ao Estado para o qual foi transferido o processo.

Artigo 20

Ne bis in idem

1. Salvo disposição contrária do presente Estatuto, nenhuma pessoa poderá ser julgada pelo Tribunal por
atos constitutivos de crimes pelos quais este já a tenha condenado ou absolvido.

2. Nenhuma pessoa poderá ser julgada por outro tribunal por um crime mencionado no artigo 5°,
relativamente ao qual já tenha sido condenada ou absolvida pelo Tribunal.

3. O Tribunal não poderá julgar uma pessoa que já tenha sido julgada por outro tribunal, por atos também
punidos pelos artigos 6o, 7o ou 8o, a menos que o processo nesse outro tribunal:

a) Tenha tido por objetivo subtrair o acusado à sua responsabilidade criminal por crimes da competência
do Tribunal; ou

b) Não tenha sido conduzido de forma independente ou imparcial, em conformidade com as garantias de
um processo eqüitativo reconhecidas pelo direito internacional, ou tenha sido conduzido de uma maneira que,
no caso concreto, se revele incompatível com a intenção de submeter a pessoa à ação da justiça.

Artigo 21

Direito Aplicável

1. O Tribunal aplicará:

a) Em primeiro lugar, o presente Estatuto, os Elementos Constitutivos do Crime e o Regulamento


Processual;

b) Em segundo lugar, se for o caso, os tratados e os princípios e normas de direito internacional aplicáveis,
incluindo os princípios estabelecidos no direito internacional dos conflitos armados;

c) Na falta destes, os princípios gerais do direito que o Tribunal retire do direito interno dos diferentes
sistemas jurídicos existentes, incluindo, se for o caso, o direito interno dos Estados que exerceriam
normalmente a sua jurisdição relativamente ao crime, sempre que esses princípios não sejam incompatíveis
com o presente Estatuto, com o direito internacional, nem com as normas e padrões internacionalmente
reconhecidos.

2. O Tribunal poderá aplicar princípios e normas de direito tal como já tenham sido por si interpretados em
decisões anteriores.

3. A aplicação e interpretação do direito, nos termos do presente artigo, deverá ser compatível com os
direitos humanos internacionalmente reconhecidos, sem discriminação alguma baseada em motivos tais como
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 407

o gênero, definido no parágrafo 3o do artigo 7o, a idade, a raça, a cor, a religião ou o credo, a opinião política
ou outra, a origem nacional, étnica ou social, a situação econômica, o nascimento ou outra condição.

Capítulo III

Princípios Gerais de Direito Penal

Artigo 22

Nullum crimen sine leqe

1. Nenhuma pessoa será considerada criminalmente responsável, nos termos do presente Estatuto, a
menos que a sua conduta constitua, no momento em que tiver lugar, um crime da competência do Tribunal.

2. A previsão de um crime será estabelecida de forma precisa e não será permitido o recurso à analogia.
Em caso de ambigüidade, será interpretada a favor da pessoa objeto de inquérito, acusada ou condenada.

3. O disposto no presente artigo em nada afetará a tipificação de uma conduta como crime nos termos do
direito internacional, independentemente do presente Estatuto.

Artigo 23

Nulla poena sine lege

Qualquer pessoa condenada pelo Tribunal só poderá ser punida em conformidade com as disposições do
presente Estatuto.

Artigo 24

Não retroatividade ratione personae

1. Nenhuma pessoa será considerada criminalmente responsável, de acordo com o presente Estatuto, por
uma conduta anterior à entrada em vigor do presente Estatuto.

2. Se o direito aplicável a um caso for modificado antes de proferida sentença definitiva, aplicar-se-á o
direito mais favorável à pessoa objeto de inquérito, acusada ou condenada.

Artigo 25

Responsabilidade Criminal Individual

1. De acordo com o presente Estatuto, o Tribunal será competente para julgar as pessoas físicas.

2. Quem cometer um crime da competência do Tribunal será considerado individualmente responsável e


poderá ser punido de acordo com o presente Estatuto.

3. Nos termos do presente Estatuto, será considerado criminalmente responsável e poderá ser punido
pela prática de um crime da competência do Tribunal quem:

a) Cometer esse crime individualmente ou em conjunto ou por intermédio de outrem, quer essa pessoa
seja, ou não, criminalmente responsável;

b) Ordenar, solicitar ou instigar à prática desse crime, sob forma consumada ou sob a forma de tentativa;

c) Com o propósito de facilitar a prática desse crime, for cúmplice ou encobridor, ou colaborar de algum
modo na prática ou na tentativa de prática do crime, nomeadamente pelo fornecimento dos meios para a sua
prática;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 408

d) Contribuir de alguma outra forma para a prática ou tentativa de prática do crime por um grupo de
pessoas que tenha um objetivo comum. Esta contribuição deverá ser intencional e ocorrer, conforme o caso:

i) Com o propósito de levar a cabo a atividade ou o objetivo criminal do grupo, quando um ou outro
impliquem a prática de um crime da competência do Tribunal; ou

ii) Com o conhecimento da intenção do grupo de cometer o crime;

e) No caso de crime de genocídio, incitar, direta e publicamente, à sua prática;

f) Tentar cometer o crime mediante atos que contribuam substancialmente para a sua execução, ainda
que não se venha a consumar devido a circunstâncias alheias à sua vontade. Porém, quem desistir da prática
do crime, ou impedir de outra forma que este se consuma, não poderá ser punido em conformidade com o
presente Estatuto pela tentativa, se renunciar total e voluntariamente ao propósito delituoso.

4. O disposto no presente Estatuto sobre a responsabilidade criminal das pessoas físicas em nada afetará
a responsabilidade do Estado, de acordo com o direito internacional.

Artigo 26

Exclusão da Jurisdição Relativamente a Menores de 18 anos

O Tribunal não terá jurisdição sobre pessoas que, à data da alegada prática do crime, não tenham ainda
completado 18 anos de idade.

Artigo 27

Irrelevância da Qualidade Oficial

1. O presente Estatuto será aplicável de forma igual a todas as pessoas sem distinção alguma baseada
na qualidade oficial. Em particular, a qualidade oficial de Chefe de Estado ou de Governo, de membro de
Governo ou do Parlamento, de representante eleito ou de funcionário público, em caso algum eximirá a pessoa
em causa de responsabilidade criminal nos termos do presente Estatuto, nem constituirá de per se motivo de
redução da pena.

2. As imunidades ou normas de procedimento especiais decorrentes da qualidade oficial de uma pessoa;


nos termos do direito interno ou do direito internacional, não deverão obstar a que o Tribunal exerça a sua
jurisdição sobre essa pessoa.

Artigo 28

Responsabilidade dos Chefes Militares e Outros Superiores Hierárquicos

Além de outras fontes de responsabilidade criminal previstas no presente Estatuto, por crimes da
competência do Tribunal:

a) O chefe militar, ou a pessoa que atue efetivamente como chefe militar, será criminalmente responsável
por crimes da competência do Tribunal que tenham sido cometidos por forças sob o seu comando e controle
efetivos ou sob a sua autoridade e controle efetivos, conforme o caso, pelo fato de não exercer um controle
apropriado sobre essas forças quando:

i) Esse chefe militar ou essa pessoa tinha conhecimento ou, em virtude das circunstâncias do momento,
deveria ter tido conhecimento de que essas forças estavam a cometer ou preparavam-se para cometer esses
crimes; e

ii) Esse chefe militar ou essa pessoa não tenha adotado todas as medidas necessárias e adequadas ao
seu alcance para prevenir ou reprimir a sua prática, ou para levar o assunto ao conhecimento das autoridades
competentes, para efeitos de inquérito e procedimento criminal.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 409

b) Nas relações entre superiores hierárquicos e subordinados, não referidos na alínea a), o superior
hierárquico será criminalmente responsável pelos crimes da competência do Tribunal que tiverem sido
cometidos por subordinados sob a sua autoridade e controle efetivos, pelo fato de não ter exercido um controle
apropriado sobre esses subordinados, quando:

a) O superior hierárquico teve conhecimento ou deliberadamente não levou em consideração a informação


que indicava claramente que os subordinados estavam a cometer ou se preparavam para cometer esses
crimes;

b) Esses crimes estavam relacionados com atividades sob a sua responsabilidade e controle efetivos; e

c) O superior hierárquico não adotou todas as medidas necessárias e adequadas ao seu alcance para
prevenir ou reprimir a sua prática ou para levar o assunto ao conhecimento das autoridades competentes, para
efeitos de inquérito e procedimento criminal.

Artigo 29

Imprescritibilidade

Os crimes da competência do Tribunal não prescrevem.

Artigo 30

Elementos Psicológicos

1. Salvo disposição em contrário, nenhuma pessoa poderá ser criminalmente responsável e punida por
um crime da competência do Tribunal, a menos que atue com vontade de o cometer e conhecimento dos seus
elementos materiais.

2. Para os efeitos do presente artigo, entende-se que atua intencionalmente quem:

a) Relativamente a uma conduta, se propuser adotá-la;

b) Relativamente a um efeito do crime, se propuser causá-lo ou estiver ciente de que ele terá lugar em
uma ordem normal dos acontecimentos .

3. Nos termos do presente artigo, entende-se por "conhecimento" a consciência de que existe uma
circunstância ou de que um efeito irá ter lugar, em uma ordem normal dos acontecimentos. As expressões "ter
conhecimento" e "com conhecimento" deverão ser entendidas em conformidade.

Artigo 31

Causas de Exclusão da Responsabilidade Criminal

Sem prejuízo de outros fundamentos para a exclusão de responsabilidade criminal previstos no presente
Estatuto, não será considerada criminalmente responsável a pessoa que, no momento da prática de
determinada conduta:

a) Sofrer de enfermidade ou deficiência mental que a prive da capacidade para avaliar a ilicitude ou a
natureza da sua conduta, ou da capacidade para controlar essa conduta a fim de não violar a lei;

b) Estiver em estado de intoxicação que a prive da capacidade para avaliar a ilicitude ou a natureza da
sua conduta, ou da capacidade para controlar essa conduta a fim de não transgredir a lei, a menos que se
tenha intoxicado voluntariamente em circunstâncias que lhe permitiam ter conhecimento de que, em
conseqüência da intoxicação, poderia incorrer numa conduta tipificada como crime da competência do Tribunal,
ou, de que haveria o risco de tal suceder;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 410

c) Agir em defesa própria ou de terceiro com razoabilidade ou, em caso de crimes de guerra, em defesa
de um bem que seja essencial para a sua sobrevivência ou de terceiro ou de um bem que seja essencial à
realização de uma missão militar, contra o uso iminente e ilegal da força, de forma proporcional ao grau de
perigo para si, para terceiro ou para os bens protegidos. O fato de participar em uma força que realize uma
operação de defesa não será causa bastante de exclusão de responsabilidade criminal, nos termos desta
alínea;

d) Tiver incorrido numa conduta que presumivelmente constitui crime da competência do Tribunal, em
conseqüência de coação decorrente de uma ameaça iminente de morte ou ofensas corporais graves para si ou
para outrem, e em que se veja compelida a atuar de forma necessária e razoável para evitar essa ameaça,
desde que não tenha a intenção de causar um dano maior que aquele que se propunha evitar. Essa ameaça
tanto poderá:

i) Ter sido feita por outras pessoas; ou

ii) Ser constituída por outras circunstâncias alheias à sua vontade.

2. O Tribunal determinará se os fundamentos de exclusão da responsabilidade criminal previstos no


presente Estatuto serão aplicáveis no caso em apreço.

3. No julgamento, o Tribunal poderá levar em consideração outros fundamentos de exclusão da


responsabilidade criminal; distintos dos referidos no parágrafo 1o, sempre que esses fundamentos resultem do
direito aplicável em conformidade com o artigo 21. O processo de exame de um fundamento de exclusão deste
tipo será definido no Regulamento Processual.

Artigo 32

Erro de Fato ou Erro de Direito

1. O erro de fato só excluirá a responsabilidade criminal se eliminar o dolo requerido pelo crime.

2. O erro de direito sobre se determinado tipo de conduta constitui crime da competência do Tribunal não
será considerado fundamento de exclusão de responsabilidade criminal. No entanto, o erro de direito poderá
ser considerado fundamento de exclusão de responsabilidade criminal se eliminar o dolo requerido pelo crime
ou se decorrer do artigo 33 do presente Estatuto.

Artigo 33

Decisão Hierárquica e Disposições Legais

1. Quem tiver cometido um crime da competência do Tribunal, em cumprimento de uma decisão emanada
de um Governo ou de um superior hierárquico, quer seja militar ou civil, não será isento de responsabilidade
criminal, a menos que:

a) Estivesse obrigado por lei a obedecer a decisões emanadas do Governo ou superior hierárquico em
questão;

b) Não tivesse conhecimento de que a decisão era ilegal; e

c) A decisão não fosse manifestamente ilegal.

2. Para os efeitos do presente artigo, qualquer decisão de cometer genocídio ou crimes contra a
humanidade será considerada como manifestamente ilegal.

Capítulo IV

Composição e Administração do Tribunal


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 411

Artigo 34

Órgãos do Tribunal

O Tribunal será composto pelos seguintes órgãos:

a) A Presidência;

b) Uma Seção de Recursos, uma Seção de Julgamento em Primeira Instância e uma Seção de Instrução;

c) O Gabinete do Procurador;

d) A Secretaria.

Artigo 35

Exercício das Funções de Juiz

1. Os juízes serão eleitos membros do Tribunal para exercer funções em regime de exclusividade e
deverão estar disponíveis para desempenhar o respectivo cargo desde o início do seu mandato.

2. Os juízes que comporão a Presidência desempenharão as suas funções em regime de exclusividade


desde a sua eleição.

3. A Presidência poderá, em função do volume de trabalho do Tribunal, e após consulta dos seus membros,
decidir periodicamente em que medida é que será necessário que os restantes juízes desempenhem as suas
funções em regime de exclusividade. Estas decisões não prejudicarão o disposto no artigo 40.

4. Os ajustes de ordem financeira relativos aos juízes que não tenham de exercer os respectivos cargos
em regime de exclusividade serão adotadas em conformidade com o disposto no artigo 49.

Artigo 36

Qualificações, Candidatura e Eleição dos Juízes

1. Sob reserva do disposto no parágrafo 2o, o Tribunal será composto por 18 juízes.

2. a) A Presidência, agindo em nome do Tribunal, poderá propor o aumento do número de juízes referido
no parágrafo 1o fundamentando as razões pelas quais considera necessária e apropriada tal medida. O
Secretário comunicará imediatamente a proposta a todos os Estados Partes;

b) A proposta será seguidamente apreciada em sessão da Assembléia dos Estados Partes convocada
nos termos do artigo 112 e deverá ser considerada adotada se for aprovada na sessão por maioria de dois
terços dos membros da Assembléia dos Estados Partes; a proposta entrará em vigor na data fixada pela
Assembléia dos Estados Partes;

c) i) Logo que seja aprovada a proposta de aumento do número de juízes, de acordo com o disposto na
alínea b), a eleição dos juízes adicionais terá lugar no período seguinte de sessões da Assembléia dos Estados
Partes, nos termos dos parágrafos 3o a 8o do presente artigo e do parágrafo 2o do artigo 37;

ii) Após a aprovação e a entrada em vigor de uma proposta de aumento do número de juízes, de acordo
com o disposto nas alíneas b) e c) i), a Presidência poderá, a qualquer momento, se o volume de trabalho do
Tribunal assim o justificar, propor que o número de juízes seja reduzido, mas nunca para um número inferior
ao fixado no parágrafo 1o. A proposta será apreciada de acordo com o procedimento definido nas
alíneas a) e b). Caso a proposta seja aprovada, o número de juízes será progressivamente reduzido, à medida
que expirem os mandatos e até que se alcance o número previsto.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 412

3. a) Os juízes serão eleitos dentre pessoas de elevada idoneidade moral, imparcialidade e integridade,
que reunam os requisitos para o exercício das mais altas funções judiciais nos seus respectivos países.

b) Os candidatos a juízes deverão possuir:

i) Reconhecida competência em direito penal e direito processual penal e a necessária experiência em


processos penais na qualidade de juiz, procurador, advogado ou outra função semelhante; ou

ii) Reconhecida competência em matérias relevantes de direito internacional, tais como o direito
internacional humanitário e os direitos humanos, assim como vasta experiência em profissões jurídicas com
relevância para a função judicial do Tribunal;

c) Os candidatos a juízes deverão possuir um excelente conhecimento e serem fluentes em, pelo menos,
uma das línguas de trabalho do Tribunal.

4. a) Qualquer Estado Parte no presente Estatuto poderá propor candidatos às eleições para juiz do
Tribunal mediante:

i) O procedimento previsto para propor candidatos aos mais altos cargos judiciais do país; ou

ii) O procedimento previsto no Estatuto da Corte Internacional de Justiça para propor candidatos a esse
Tribunal.

As propostas de candidatura deverão ser acompanhadas de uma exposição detalhada comprovativa de


que o candidato possui os requisitos enunciados no parágrafo 3 o;

b) Qualquer Estado Parte poderá apresentar uma candidatura de uma pessoa que não tenha
necessariamente a sua nacionalidade, mas que seja nacional de um Estado Parte;

c) A Assembléia dos Estados Partes poderá decidir constituir, se apropriado, uma Comissão consultiva
para o exame das candidaturas, neste caso, a Assembléia dos Estados Partes determinará a composição e o
mandato da Comissão.

5. Para efeitos da eleição, serão estabelecidas duas listas de candidatos:

A lista A, com os nomes dos candidatos que reúnam os requisitos enunciados na alínea b) i) do parágrafo
3°; e

A lista B, com os nomes dos candidatos que reúnam os requisitos enunciados na alínea b) ii) do parágrafo
3o.

O candidato que reuna os requisitos constantes de ambas as listas, poderá escolher em qual delas deseja
figurar. Na primeira eleição de membros do Tribunal, pelo menos nove juízes serão eleitos entre os candidatos
da lista A e pelo menos cinco entre os candidatos da lista B. As eleições subseqüentes serão organizadas por
forma a que se mantenha no Tribunal uma proporção equivalente de juízes de ambas as listas.

6. a) Os juízes serão eleitos por escrutínio secreto, em sessão da Assembléia dos Estados Partes
convocada para esse efeito, nos termos do artigo 112. Sob reserva do disposto no parágrafo 7, serão eleitos
os 18 candidatos que obtenham o maior número de votos e uma maioria de dois terços dos Estados Partes
presentes e votantes;

b) No caso em que da primeira votação não resulte eleito um número suficiente de juízes, proceder-se-á
a nova votação, de acordo com os procedimentos estabelecidos na alínea a), até provimento dos lugares
restantes.

7. O Tribunal não poderá ter mais de um juiz nacional do mesmo Estado. Para este efeito, a pessoa que
for considerada nacional de mais de um Estado será considerada nacional do Estado onde exerce
habitualmente os seus direitos civis e políticos.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 413

8. a) Na seleção dos juízes, os Estados Partes ponderarão sobre a necessidade de assegurar que a
composição do Tribunal inclua:

i) A representação dos principais sistemas jurídicos do mundo;

ii) Uma representação geográfica eqüitativa; e

iii) Uma representação justa de juízes do sexo feminino e do sexo masculino;

b) Os Estados Partes levarão igualmente em consideração a necessidade de assegurar a presença de


juízes especializados em determinadas matérias incluindo, entre outras, a violência contra mulheres ou
crianças.

9. a) Salvo o disposto na alínea b), os juízes serão eleitos por um mandato de nove anos e não poderão
ser reeleitos, salvo o disposto na alínea c) e no parágrafo 2o do artigo 37;

b) Na primeira eleição, um terço dos juízes eleitos será selecionado por sorteio para exercer um mandato
de três anos; outro terço será selecionado, também por sorteio, para exercer um mandato de seis anos; e os
restantes exercerão um mandato de nove anos;

c) Um juiz selecionado para exercer um mandato de três anos, em conformidade com a alínea b), poderá
ser reeleito para um mandato completo.

10. Não obstante o disposto no parágrafo 9, um juiz afeto a um Juízo de Julgamento em Primeira Instância
ou de Recurso, em conformidade com o artigo 39, permanecerá em funções até à conclusão do julgamento ou
do recurso dos casos que tiver a seu cargo.

Artigo 37

Vagas

1. Caso ocorra uma vaga, realizar-se-á uma eleição para o seu provimento, de acordo com o artigo 36.

2. O juiz eleito para prover uma vaga, concluirá o mandato do seu antecessor e, se esse período for igual
ou inferior a três anos, poderá ser reeleito para um mandato completo, nos termos do artigo 36.

Artigo 38

A Presidência

1. O Presidente, o Primeiro Vice-Presidente e o Segundo Vice-Presidente serão eleitos por maioria


absoluta dos juízes. Cada um desempenhará o respectivo cargo por um período de três anos ou até ao termo
do seu mandato como juiz, conforme o que expirar em primeiro lugar. Poderão ser reeleitos uma única vez.

2. O Primeiro Vice-Presidente substituirá o Presidente em caso de impossibilidade ou recusa deste. O


Segundo Vice-Presidente substituirá o Presidente em caso de impedimento ou recusa deste ou do Primeiro
Vice-Presidente.

3. O Presidente, o Primeiro Vice-Presidente e o Segundo Vice-Presidente constituirão a Presidência, que


ficará encarregada:

a) Da adequada administração do Tribunal, com exceção do Gabinete do Procurador; e

b) Das restantes funções que lhe forem conferidas de acordo com o presente Estatuto.

4. Embora eximindo-se da sua responsabilidade nos termos do parágrafo 3 o a), a Presidência atuará em
coordenação com o Gabinete do Procurador e deverá obter a aprovação deste em todos os assuntos de
interesse comum.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 414

Artigo 39

Juízos

1. Após a eleição dos juízes e logo que possível, o Tribunal deverá organizar-se nas seções referidas no
artigo 34 b). A Seção de Recursos será composta pelo Presidente e quatro juízes, a Seção de Julgamento em
Primeira Instância por, pelo menos, seis juízes e a Seção de Instrução por, pelo menos, seis juízes. Os juízes
serão adstritos às Seções de acordo com a natureza das funções que corresponderem a cada um e com as
respectivas qualificações e experiência, por forma a que cada Seção disponha de um conjunto adequado de
especialistas em direito penal e processual penal e em direito internacional. A Seção de Julgamento em
Primeira Instância e a Seção de Instrução serão predominantemente compostas por juízes com experiência em
processo penal.

2. a) As funções judiciais do Tribunal serão desempenhadas em cada Seção pelos juízos.

b) i) O Juízo de Recursos será composto por todos os juízes da Seção de Recursos;

ii) As funções do Juízo de Julgamento em Primeira Instância serão desempenhadas por três juízes da
Seção de Julgamento em Primeira Instância;

iii) As funções do Juízo de Instrução serão desempenhadas por três juízes da Seção de Instrução ou por
um só juiz da referida Seção, em conformidade com o presente Estatuto e com o Regulamento Processual;

c) Nada no presente número obstará a que se constituam simultaneamente mais de um Juízo de


Julgamento em Primeira Instância ou Juízo de Instrução, sempre que a gestão eficiente do trabalho do Tribunal
assim o exigir.

3. a) Os juízes adstritos às Seções de Julgamento em Primeira Instância e de Instrução desempenharão


o cargo nessas Seções por um período de três anos ou, decorrido esse período, até à conclusão dos casos
que lhes tenham sido cometidos pela respectiva Seção;

b) Os juízes adstritos à Seção de Recursos desempenharão o cargo nessa Seção durante todo o seu
mandato.

4. Os juízes adstritos à Seção de Recursos desempenharão o cargo unicamente nessa Seção. Nada no
presente artigo obstará a que sejam adstritos temporariamente juízes da Seção de Julgamento em Primeira
Instância à Seção de Instrução, ou inversamente, se a Presidência entender que a gestão eficiente do trabalho
do Tribunal assim o exige; porém, o juiz que tenha participado na fase instrutória não poderá, em caso algum,
fazer parte do Juízo de Julgamento em Primeira Instância encarregado do caso.

Artigo 40

Independência dos Juízes

1. Os juízes serão independentes no desempenho das suas funções.

2. Os juízes não desenvolverão qualquer atividade que possa ser incompatível com o exercício das suas
funções judiciais ou prejudicar a confiança na sua independência.

3. Os juízes que devam desempenhar os seus cargos em regime de exclusividade na sede do Tribunal
não poderão ter qualquer outra ocupação de natureza profissional.

4. As questões relativas à aplicação dos parágrafo 2o e 3o serão decididas por maioria absoluta dos juízes.
Nenhum juiz participará na decisão de uma questão que lhe diga respeito.

Artigo 41

Impedimento e Desqualificação de Juízes


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 415

1. A Presidência poderá, a pedido de um juiz, declarar seu impedimento para o exercício de alguma das
funções que lhe confere o presente Estatuto, em conformidade com o Regulamento Processual.

2. a) Nenhum juiz pode participar num caso em que, por qualquer motivo, seja posta em dúvida a sua
imparcialidade. Será desqualificado, em conformidade com o disposto neste número, entre outras razões, se
tiver intervindo anteriormente, a qualquer titulo, em um caso submetido ao Tribunal ou em um procedimento
criminal conexo em nível nacional que envolva a pessoa objeto de inquérito ou procedimento criminal. Pode
ser igualmente desqualificado por qualquer outro dos motivos definidos no Regulamento Processual;

b) O Procurador ou a pessoa objeto de inquérito ou procedimento criminal poderá solicitar a


desqualificação de um juiz em virtude do disposto no presente número;

c) As questões relativas à desqualificação de juízes serão decididas por maioria absoluta dos juízes. O
juiz cuja desqualificação for solicitada, poderá pronunciar-se sobre a questão, mas não poderá tomar parte na
decisão.

Artigo 42

O Gabinete do Procurador

1. O Gabinete do Procurador atuará de forma independente, enquanto órgão autônomo do Tribunal.


Competir-lhe-á recolher comunicações e qualquer outro tipo de informação, devidamente fundamentada, sobre
crimes da competência do Tribunal, a fim de os examinar e investigar e de exercer a ação penal junto ao
Tribunal. Os membros do Gabinete do Procurador não solicitarão nem cumprirão ordens de fontes externas ao
Tribunal.

2. O Gabinete do Procurador será presidido pelo Procurador, que terá plena autoridade para dirigir e
administrar o Gabinete do Procurador, incluindo o pessoal, as instalações e outros recursos. O Procurador será
coadjuvado por um ou mais Procuradores-Adjuntos, que poderão desempenhar qualquer uma das funções que
incumbam àquele, em conformidade com o disposto no presente Estatuto. O Procurador e os Procuradores-
Adjuntos terão nacionalidades diferentes e desempenharão o respectivo cargo em regime de exclusividade.

3. O Procurador e os Procuradores-Adjuntos deverão ter elevada idoneidade moral, elevado nível de


competência e vasta experiência prática em matéria de processo penal. Deverão possuir um excelente
conhecimento e serem fluentes em, pelo menos, uma das línguas de trabalho do Tribunal.

4. O Procurador será eleito por escrutínio secreto e por maioria absoluta de votos dos membros da
Assembléia dos Estados Partes. Os Procuradores-Adjuntos serão eleitos da mesma forma, de entre uma lista
de candidatos apresentada pelo Procurador. O Procurador proporá três candidatos para cada cargo de
Procurador-Adjunto a prover. A menos que, ao tempo da eleição, seja fixado um período mais curto, o
Procurador e os Procuradores-Adjuntos exercerão os respectivos cargos por um período de nove anos e não
poderão ser reeleitos.

5. O Procurador e os Procuradores-Adjuntos não deverão desenvolver qualquer atividade que possa


interferir com o exercício das suas funções ou afetar a confiança na sua independência e não poderão
desempenhar qualquer outra função de caráter profissional.

6. A Presidência poderá, a pedido do Procurador ou de um Procurador-Adjunto, escusá-lo de intervir num


determinado caso.

7. O Procurador e os Procuradores-Adjuntos não poderão participar em qualquer processo em que, por


qualquer motivo, a sua imparcialidade possa ser posta em causa. Serão recusados, em conformidade com o
disposto no presente número, entre outras razões, se tiverem intervindo anteriormente, a qualquer título, num
caso submetido ao Tribunal ou num procedimento crime conexo em nível nacional, que envolva a pessoa objeto
de inquérito ou procedimento criminal.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 416

8. As questões relativas à recusa do Procurador ou de um Procurador-Adjunto serão decididas pelo Juízo


de Recursos.

a) A pessoa objeto de inquérito ou procedimento criminal poderá solicitar, a todo o momento, a recusa do
Procurador ou de um Procurador-Adjunto, pelos motivos previstos no presente artigo;

b) O Procurador ou o Procurador-Adjunto, segundo o caso, poderão pronunciar-se sobre a questão.

9. O Procurador nomeará assessores jurídicos especializados em determinadas áreas incluindo, entre


outras, as da violência sexual ou violência por motivos relacionados com a pertença a um determinado gênero
e da violência contra as crianças.

Artigo 43

A Secretaria

1. A Secretaria será responsável pelos aspectos não judiciais da administração e do funcionamento do


Tribunal, sem prejuízo das funções e atribuições do Procurador definidas no artigo 42.

2. A Secretaria será dirigida pelo Secretário, principal responsável administrativo do Tribunal. O Secretário
exercerá as suas funções na dependência do Presidente do Tribunal.

3. O Secretário e o Secretário-Adjunto deverão ser pessoas de elevada idoneidade moral e possuir um


elevado nível de competência e um excelente conhecimento e domínio de, pelo menos, uma das línguas de
trabalho do Tribunal.

4. Os juízes elegerão o Secretário em escrutínio secreto, por maioria absoluta, tendo em consideração as
recomendações da Assembléia dos Estados Partes. Se necessário, elegerão um Secretário-Adjunto, por
recomendação do Secretário e pela mesma forma.

5. O Secretário será eleito por um período de cinco anos para exercer funções em regime de exclusividade
e só poderá ser reeleito uma vez. O Secretário-Adjunto será eleito por um período de cinco anos, ou por um
período mais curto se assim o decidirem os juízes por deliberação tomada por maioria absoluta, e exercerá as
suas funções de acordo com as exigências de serviço.

6. O Secretário criará, no âmbito da Secretaria, uma Unidade de Apoio às Vítimas e Testemunhas. Esta
Unidade, em conjunto com o Gabinete do Procurador, adotará medidas de proteção e dispositivos de segurança
e prestará assessoria e outro tipo de assistência às testemunhas e vítimas que compareçam perante o Tribunal
e a outras pessoas ameaçadas em virtude do testemunho prestado por aquelas. A Unidade incluirá pessoal
especializado para atender as vítimas de traumas, nomeadamente os relacionados com crimes de violência
sexual.

Artigo 44

O Pessoal

1. O Procurador e o Secretário nomearão o pessoal qualificado necessário aos respectivos serviços,


nomeadamente, no caso do Procurador, o pessoal encarregado de efetuar diligências no âmbito do inquérito.

2. No tocante ao recrutamento de pessoal, o Procurador e o Secretário assegurarão os mais altos padrões


de eficiência, competência e integridade, tendo em consideração, mutatis mutandis, os critérios estabelecidos
no parágrafo 8 do artigo 36.

3. O Secretário, com o acordo da Presidência e do Procurador, proporá o Estatuto do Pessoal, que fixará
as condições de nomeação, remuneração e cessação de funções do pessoal do Tribunal. O Estatuto do
Pessoal será aprovado pela Assembléia dos Estados Partes.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 417

4. O Tribunal poderá, em circunstâncias excepcionais, recorrer aos serviços de pessoal colocado à sua
disposição, a título gratuito, pelos Estados Partes, organizações intergovernamentais e organizações não
governamentais, com vista a colaborar com qualquer um dos órgãos do Tribunal. O Procurador poderá anuir a
tal eventualidade em nome do Gabinete do Procurador. A utilização do pessoal disponibilizado a título gratuito
ficará sujeita às diretivas estabelecidas pela Assembléia dos Estados Partes.

Artigo 45

Compromisso Solene

Antes de assumir as funções previstas no presente Estatuto, os juízes, o Procurador, os Procuradores-


Adjuntos, o Secretário e o Secretário-Adjunto declararão solenemente, em sessão pública,

que exercerão as suas funções imparcial e conscienciosamente.

Artigo 46

Cessação de Funções

1. Um Juiz, o Procurador, um Procurador-Adjunto, o Secretário ou o Secretário-Adjunto cessará as


respectivas funções, por decisão adotada de acordo com o disposto no parágrafo 2o, nos casos em que:

a) Se conclua que a pessoa em causa incorreu em falta grave ou incumprimento grave das funções
conferidas pelo presente Estatuto, de acordo com o previsto no Regulamento Processual; ou

b) A pessoa em causa se encontre impossibilitada de desempenhar as funções definidas no presente


Estatuto.

2. A decisão relativa à cessação de funções de um juiz, do Procurador ou de um Procurador-Adjunto, de


acordo com o parágrafo 1o, será adotada pela Assembléia dos Estados Partes em escrutínio secreto:

a) No caso de um juiz, por maioria de dois terços dos Estados Partes, com base em recomendação
adotada por maioria de dois terços dos restantes juízes;

b) No caso do Procurador, por maioria absoluta dos Estados Partes;

c) No caso de um Procurador-Adjunto, por maioria absoluta dos Estados Partes, com base na
recomendação do Procurador.

3. A decisão relativa à cessação de funções do Secretário ou do Secretário-Adjunto, será adotada por


maioria absoluta de votos dos juízes.

4. Os juízes, o Procurador, os Procuradores-Adjuntos, o Secretário ou o Secretário-Adjunto, cuja conduta


ou idoneidade para o exercício das funções inerentes ao cargo em conformidade com o presente Estatuto tiver
sido contestada ao abrigo do presente artigo, terão plena possibilidade de apresentar e obter meios de prova
e produzir alegações de acordo com o Regulamento Processual; não poderão, no entanto, participar, de
qualquer outra forma, na apreciação do caso.

Artigo 47

Medidas Disciplinares

Os juízes, o Procurador, os Procuradores-Adjuntos, o Secretário ou o Secretário-Adjunto que tiverem


cometido uma falta menos grave que a prevista no parágrafo 1 o do artigo 46 incorrerão em responsabilidade
disciplinar nos termos do Regulamento Processual.

Artigo 48
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 418

Privilégios e Imunidades

1. O Tribunal gozará, no território dos Estados Partes, dos privilégios e imunidades que se mostrem
necessários ao cumprimento das suas funções.

2. Os juízes, o Procurador, os Procuradores-Adjuntos e o Secretário gozarão, no exercício das suas


funções ou em relação a estas, dos mesmos privilégios e imunidades reconhecidos aos chefes das missões
diplomáticas, continuando a usufruir de absoluta imunidade judicial relativamente às suas declarações, orais
ou escritas, e aos atos que pratiquem no desempenho de funções oficiais após o termo do respectivo mandato.

3. O Secretário-Adjunto, o pessoal do Gabinete do Procurador e o pessoal da Secretaria gozarão dos


mesmos privilégios e imunidades e das facilidades necessárias ao cumprimento das respectivas funções, nos
termos do acordo sobre os privilégios e imunidades do Tribunal.

4. Os advogados, peritos, testemunhas e outras pessoas, cuja presença seja requerida na sede do
Tribunal, beneficiarão do tratamento que se mostre necessário ao funcionamento adequado deste, nos termos
do acordo sobre os privilégios e imunidades do Tribunal.

5. Os privilégios e imunidades poderão ser levantados:

a) No caso de um juiz ou do Procurador, por decisão adotada por maioria absoluta dos juízes;

b) No caso do Secretário, pela Presidência;

c) No caso dos Procuradores-Adjuntos e do pessoal do Gabinete do Procurador, pelo Procurador;

d) No caso do Secretário-Adjunto e do pessoal da Secretaria, pelo Secretário.

Artigo 49

Vencimentos, Subsídios e Despesas

Os juízes, o Procurador, os Procuradores-Adjuntos, o Secretário e o Secretário-Adjunto auferirão os


vencimentos e terão direito aos subsídios e ao reembolso de despesas que forem estabelecidos em Assembléia
dos Estados Partes. Estes vencimentos e subsídios não serão reduzidos no decurso do mandato.

Artigo 50

Línguas Oficiais e Línguas de Trabalho

1. As línguas árabe, chinesa, espanhola, francesa, inglesa e russa serão as línguas oficiais do Tribunal.
As sentenças proferidas pelo Tribunal, bem como outras decisões sobre questões fundamentais submetidas
ao Tribunal, serão publicadas nas línguas oficiais. A Presidência, de acordo com os critérios definidos no
Regulamento Processual, determinará quais as decisões que poderão ser consideradas como decisões sobre
questões fundamentais, para os efeitos do presente parágrafo.

2. As línguas francesa e inglesa serão as línguas de trabalho do Tribunal. O Regulamento Processual


definirá os casos em que outras línguas oficiais poderão ser usadas como línguas de trabalho.

3. A pedido de qualquer Parte ou qualquer Estado que tenha sido admitido a intervir num processo, o
Tribunal autorizará o uso de uma língua que não seja a francesa ou a inglesa, sempre que considere que tal
autorização se justifica.

Artigo 51

Regulamento Processual
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 419

1. O Regulamento Processual entrará em vigor mediante a sua aprovação por uma maioria de dois terços
dos votos dos membros da Assembléia dos Estados Partes.

2. Poderão propor alterações ao Regulamento Processual:

a) Qualquer Estado Parte;

b) Os juízes, por maioria absoluta; ou

c) O Procurador.

Estas alterações entrarão em vigor mediante a aprovação por uma maioria de dois terços dos votos dos
membros da Assembléia dos Estados partes.

3. Após a aprovação do Regulamento Processual, em casos urgentes em que a situação concreta


suscitada em Tribunal não se encontre prevista no Regulamento Processual, os juízes poderão, por maioria de
dois terços, estabelecer normas provisórias a serem aplicadas até que a Assembléia dos Estados Partes as
aprove, altere ou rejeite na sessão ordinária ou extraordinária seguinte.

4. O Regulamento Processual, e respectivas alterações, bem como quaisquer normas provisórias, deverão
estar em consonância com o presente Estatuto. As alterações ao Regulamento Processual, assim como as
normas provisórias aprovadas em conformidade com o parágrafo 3o, não serão aplicadas com caráter retroativo
em detrimento de qualquer pessoa que seja objeto de inquérito ou de procedimento criminal, ou que tenha sido
condenada.

5. Em caso de conflito entre as disposições do Estatuto e as do Regulamento Processual, o Estatuto


prevalecerá.

Artigo 52

Regimento do Tribunal

1. De acordo com o presente Estatuto e com o Regulamento Processual, os juízes aprovarão, por maioria
absoluta, o Regimento necessário ao normal funcionamento do Tribunal.

2. O Procurador e o Secretário serão consultados sobre a elaboração do Regimento ou sobre qualquer


alteração que lhe seja introduzida.

3. O Regimento do Tribunal e qualquer alteração posterior entrarão em vigor mediante a sua aprovação,
salvo decisão em contrário dos juízes. Imediatamente após a adoção, serão circulados pelos Estados Partes
para observações e continuarão em vigor se, dentro de seis meses, não forem formuladas objeções pela
maioria dos Estados Partes.

Capítulo V

Inquérito e Procedimento Criminal

Artigo 53

Abertura do Inquérito

1. O Procurador, após examinar a informação de que dispõe, abrirá um inquérito, a menos que considere
que, nos termos do presente Estatuto, não existe fundamento razoável para proceder ao mesmo. Na sua
decisão, o Procurador terá em conta se:

a) A informação de que dispõe constitui fundamento razoável para crer que foi, ou está sendo cometido
um crime da competência do Tribunal;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 420

b) O caso é ou seria admissível nos termos do artigo 17; e

c) Tendo em consideração a gravidade do crime e os interesses das vítimas, não existirão, contudo, razões
substanciais para crer que o inquérito não serve os interesses da justiça.

Se decidir que não há motivo razoável para abrir um inquérito e se esta decisão se basear unicamente no
disposto na alínea c), o Procurador informará o Juízo de Instrução.

2. Se, concluído o inquérito, o Procurador chegar à conclusão de que não há fundamento suficiente para
proceder criminalmente, na medida em que:

a) Não existam elementos suficientes, de fato ou de direito, para requerer a emissão de um mandado de
detenção ou notificação para comparência, de acordo com o artigo 58;

b) O caso seja inadmissível, de acordo com o artigo 17; ou

c) O procedimento não serviria o interesse da justiça, consideradas todas as circunstâncias, tais como a
gravidade do crime, os interesses das vítimas e a idade ou o estado de saúde do presumível autor e o grau de
participação no alegado crime, comunicará a sua decisão, devidamente fundamentada, ao Juízo de Instrução
e ao Estado que lhe submeteu o caso, de acordo com o artigo 14, ou ao Conselho de Segurança, se se tratar
de um caso previsto no parágrafo b) do artigo 13.

3. a) A pedido do Estado que tiver submetido o caso, nos termos do artigo 14, ou do Conselho de
Segurança, nos termos do parágrafo b) do artigo 13, o Juízo de Instrução poderá examinar a decisão do
Procurador de não proceder criminalmente em conformidade com os parágrafos 1o ou 2o e solicitar-lhe que
reconsidere essa decisão;

b) Além disso, o Juízo de Instrução poderá, oficiosamente, examinar a decisão do Procurador de não
proceder criminalmente, se essa decisão se basear unicamente no disposto no parágrafo 1o, alínea c), e no
parágrafo 2o, alínea c). Nesse caso, a decisão do Procurador só produzirá efeitos se confirmada pelo Juízo de
Instrução.

4. O Procurador poderá, a todo o momento, reconsiderar a sua decisão de abrir um inquérito ou proceder
criminalmente, com base em novos fatos ou novas informações.

Artigo 54

Funções e Poderes do Procurador em Matéria de Inquérito

1. O Procurador deverá:

a) A fim de estabelecer a verdade dos fatos, alargar o inquérito a todos os fatos e provas pertinentes para
a determinação da responsabilidade criminal, em conformidade com o presente Estatuto e, para esse efeito,
investigar, de igual modo, as circunstâncias que interessam quer à acusação, quer à defesa;

b) Adotar as medidas adequadas para assegurar a eficácia do inquérito e do procedimento criminal


relativamente aos crimes da jurisdição do Tribunal e, na sua atuação, o Procurador terá em conta os interesses
e a situação pessoal das vítimas e testemunhas, incluindo a idade, o gênero tal como definido no parágrafo
3o do artigo 7o, e o estado de saúde; terá igualmente em conta a natureza do crime, em particular quando
envolva violência sexual, violência por motivos relacionados com a pertença a um determinado gênero e
violência contra as crianças; e

c) Respeitar plenamente os direitos conferidos às pessoas pelo presente Estatuto.

2. O Procurador poderá realizar investigações no âmbito de um inquérito no território de um Estado:

a) De acordo com o disposto na Parte IX; ou


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 421

b) Mediante autorização do Juízo de Instrução, dada nos termos do parágrafo 3 o, alínea d), do artigo 57.

3. O Procurador poderá:

a) Reunir e examinar provas;

b) Convocar e interrogar pessoas objeto de inquérito e convocar e tomar o depoimento de vítimas e


testemunhas;

c) Procurar obter a cooperação de qualquer Estado ou organização intergovernamental ou instrumento


intergovernamental, de acordo com a respectiva competência e/ou mandato;

d) Celebrar acordos ou convênios compatíveis com o presente Estatuto, que se mostrem necessários para
facilitar a cooperação de um Estado, de uma organização intergovernamental ou de uma pessoa;

e) Concordar em não divulgar, em qualquer fase do processo, documentos ou informação que tiver obtido,
com a condição de preservar o seu caráter confidencial e com o objetivo único de obter novas provas, a menos
que quem tiver facilitado a informação consinta na sua divulgação; e

f) Adotar ou requerer que se adotem as medidas necessárias para assegurar o caráter confidencial da
informação, a proteção de pessoas ou a preservação da prova.

Artigo 55

Direitos das Pessoas no Decurso do Inquérito

1. No decurso de um inquérito aberto nos termos do presente Estatuto:

a) Nenhuma pessoa poderá ser obrigada a depor contra si própria ou a declarar-se culpada;

b) Nenhuma pessoa poderá ser submetida a qualquer forma de coação, intimidação ou ameaça, tortura
ou outras formas de penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes; e

c) Qualquer pessoa que for interrogada numa língua que não compreenda ou não fale fluentemente, será
assistida, gratuitamente, por um intérprete competente e disporá das traduções que são necessárias às
exigências de equidade;

d) Nenhuma pessoa poderá ser presa ou detida arbitrariamente, nem ser privada da sua liberdade, salvo
pelos motivos previstos no presente Estatuto e em conformidade com os procedimentos nele estabelecidos.

2. Sempre que existam motivos para crer que uma pessoa cometeu um crime da competência do Tribunal
e que deve ser interrogada pelo Procurador ou pelas autoridades nacionais, em virtude de um pedido feito em
conformidade com o disposto na Parte IX do presente Estatuto, essa pessoa será .informada, antes do
interrogatório, de que goza ainda dos seguintes direitos:

a) A ser informada antes de ser interrogada de que existem indícios de que cometeu um crime da
competência do Tribunal;

b) A guardar silêncio, sem que tal seja tido em consideração para efeitos de determinação da sua culpa
ou inocência;

c) A ser assistida por um advogado da sua escolha ou, se não o tiver, a solicitar que lhe seja designado
um defensor dativo, em todas as situações em que o interesse da justiça assim o exija e sem qualquer encargo
se não possuir meios suficientes para lhe pagar; e

d) A ser interrogada na presença do seu advogado, a menos que tenha renunciado voluntariamente ao
direito de ser assistida por um advogado.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 422

Artigo 56

Intervenção do Juízo de Instrução em Caso de Oportunidade Única de Proceder a um Inquérito

1. a) Sempre que considere que um inquérito oferece uma oportunidade única de recolher depoimentos
ou declarações de uma testemunha ou de examinar, reunir ou verificar provas, o Procurador comunicará esse
fato ao Juízo de Instrução;

b) Nesse caso, o Juízo de Instrução, a pedido do Procurador, poderá adotar as medidas que entender
necessárias para assegurar a eficácia e a integridade do processo e, em particular, para proteger os direitos
de defesa;

c) Salvo decisão em contrário do Juízo de Instrução, o Procurador transmitirá a informação relevante à


pessoa que tenha sido detida, ou que tenha comparecido na seqüência de notificação emitida no âmbito do
inquérito a que se refere a alínea a), para que possa ser ouvida sobre a matéria em causa.

2. As medidas a que se faz referência na alínea b) do parágrafo 1o poderão consistir em:

a) Fazer recomendações ou proferir despachos sobre o procedimento a seguir;

b) Ordenar que seja lavrado o processo;

c) Nomear um perito;

d) Autorizar o advogado de defesa do detido, ou de quem tiver comparecido no Tribunal na seqüência de


notificação, a participar no processo ou, no caso dessa detenção ou comparecimento não se ter ainda verificado
ou não tiver ainda sido designado advogado, a nomear outro defensor que se encarregará dos interesses da
defesa e os representará;

e) Encarregar um dos seus membros ou, se necessário, outro juiz disponível da Seção de Instrução ou da
Seção de Julgamento em Primeira Instância, de formular recomendações ou proferir despachos sobre o
recolhimento e a preservação de meios de prova e a inquirição de pessoas;

f) Adotar todas as medidas necessárias para reunir ou preservar meios de prova.

3. a) Se o Procurador não tiver solicitado as medidas previstas no presente artigo, mas o Juízo de Instrução
considerar que tais medidas serão necessárias para preservar meios de prova que lhe pareçam essenciais
para a defesa no julgamento, o Juízo consultará o Procurador a fim de saber se existem motivos poderosos
para este não requerer as referidas medidas. Se, após consulta, o Juízo concluir que a omissão de
requerimento de tais medidas é injustificada, poderá adotar essas medidas de ofício.

b) O Procurador poderá recorrer da decisão do Juízo de Instrução de ofício, nos termos do presente
número. O recurso seguirá uma forma sumária.

4. A admissibilidade dos meios de prova preservados ou recolhidos para efeitos do processo ou o


respectivo registro, em conformidade com o presente artigo, reger-se-ão, em julgamento, pelo disposto no artigo
69, e terão o valor que lhes for atribuído pelo Juízo de Julgamento em Primeira Instância.

Artigo 57

Funções e Poderes do Juízo de Instrução

1. Salvo disposição em contrário contida no presente Estatuto, o Juízo de Instrução exercerá as suas
funções em conformidade com o presente artigo.

2. a) Para os despachos do Juízo de Instrução proferidos ao abrigo dos artigos 15, 18, 19, 54, parágrafo
2o, 61, parágrafo 7, e 72, deve concorrer maioria de votos dos juízes que o compõem;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 423

b) Em todos os outros casos, um único juiz do Juízo de Instrução poderá exercer as funções definidas no
presente Estatuto, salvo disposição em contrário contida no Regulamento Processual ou decisão em contrário
do Juízo de Instrução tomada por maioria de votos.

3. Independentemente das outras funções conferidas pelo presente Estatuto, o Juízo de Instrução poderá:

a) A pedido do Procurador, proferir os despachos e emitir os mandados que se revelem necessários para
um inquérito;

b) A pedido de qualquer pessoa que tenha sido detida ou tenha comparecido na seqüência de notificação
expedida nos termos do artigo 58, proferir despachos, incluindo medidas tais como as indicadas no artigo 56,
ou procurar obter, nos termos do disposto na Parte IX, a cooperação necessária para auxiliar essa pessoa a
preparar a sua defesa;

c) Sempre que necessário, assegurar a proteção e o respeito pela privacidade de vítimas e testemunhas,
a preservação da prova, a proteção de pessoas detidas ou que tenham comparecido na seqüência de
notificação para comparecimento, assim como a proteção de informação que afete a segurança nacional;

d) Autorizar o Procurador a adotar medidas específicas no âmbito de um inquérito, no território de um


Estado Parte sem ter obtido a cooperação deste nos termos do disposto na Parte IX, caso o Juízo de Instrução
determine que, tendo em consideração, na medida do possível, a posição do referido Estado, este último não
está manifestamente em condições de satisfazer um pedido de cooperação face à incapacidade de todas as
autoridades ou órgãos do seu sistema judiciário com competência para dar seguimento a um pedido de
cooperação formulado nos termos do disposto na Parte IX.

e) Quando tiver emitido um mandado de detenção ou uma notificação para comparecimento nos termos
do artigo 58, e levando em consideração o valor das provas e os direitos das partes em questão, em
conformidade com o disposto no presente Estatuto e no Regulamento Processual, procurar obter a cooperação
dos Estados, nos termos do parágrafo 1o, alínea k) do artigo 93, para adoção de medidas cautelares que visem
à apreensão, em particular no interesse superior das vítimas.

Artigo 58

Mandado de Detenção e Notificação para Comparecimento do Juízo de Instrução

1. A todo o momento após a abertura do inquérito, o Juízo de Instrução poderá, a pedido do Procurador,
emitir um mandado de detenção contra uma pessoa se, após examinar o pedido e as provas ou outras
informações submetidas pelo Procurador, considerar que:

a) Existem motivos suficientes para crer que essa pessoa cometeu um crime da competência do Tribunal;
e

b) A detenção dessa pessoa se mostra necessária para:

i) Garantir o seu comparecimento em tribunal;

ii) Garantir que não obstruirá, nem porá em perigo, o inquérito ou a ação do Tribunal; ou

iii) Se for o caso, impedir que a pessoa continue a cometer esse crime ou um crime conexo que seja da
competência do Tribunal e tenha a sua origem nas mesmas circunstâncias.

2. Do requerimento do Procurador deverão constar os seguintes elementos:

a) O nome da pessoa em causa e qualquer outro elemento útil de identificação;

b) A referência precisa do crime da competência do Tribunal que a pessoa tenha presumivelmente


cometido;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 424

c) Uma descrição sucinta dos fatos que alegadamente constituem o crime;

d) Um resumo das provas e de qualquer outra informação que constitua motivo suficiente para crer que a
pessoa cometeu o crime; e

e) Os motivos pelos quais o Procurador considere necessário proceder à detenção daquela pessoa.

3. Do mandado de detenção deverão constar os seguintes elementos:

a) O nome da pessoa em causa e qualquer outro elemento útil de identificação;

b) A referência precisa do crime da competência do Tribunal que justifique o pedido de detenção; e

c) Uma descrição sucinta dos fatos que alegadamente constituem o crime.

4. O mandado de detenção manter-se-á válido até decisão em contrário do Tribunal.

5. Com base no mandado de detenção, o Tribunal poderá solicitar a prisão preventiva ou a detenção e
entrega da pessoa em conformidade com o disposto na Parte IX do presente Estatuto.

6. O Procurador poderá solicitar ao Juízo de Instrução que altere o mandado de detenção no sentido de
requalificar os crimes aí indicados ou de adicionar outros. O Juízo de Instrução alterará o mandado de detenção
se considerar que existem motivos suficientes para crer que a pessoa cometeu quer os crimes na forma que
se indica nessa requalificação, quer os novos crimes.

7. O Procurador poderá solicitar ao Juízo de Instrução que, em vez de um mandado de detenção, emita
uma notificação para comparecimento. Se o Juízo considerar que existem motivos suficientes para crer que a
pessoa cometeu o crime que lhe é imputado e que uma notificação para comparecimento será suficiente para
garantir a sua presença efetiva em tribunal, emitirá uma notificação para que a pessoa compareça, com ou sem
a imposição de medidas restritivas de liberdade (distintas da detenção) se previstas no direito interno. Da
notificação para comparecimento deverão constar os seguintes elementos:

a) O nome da pessoa em causa e qualquer outro elemento útil de identificação;

b) A data de comparecimento;

c) A referência precisa ao crime da competência do Tribunal que a pessoa alegadamente tenha cometido;
e

d) Uma descrição sucinta dos fatos que alegadamente constituem o crime.

Esta notificação será diretamente feita à pessoa em causa.

Artigo 59

Procedimento de Detenção no Estado da Detenção

1. O Estado Parte que receber um pedido de prisão preventiva ou de detenção e entrega, adotará
imediatamente as medidas necessárias para proceder à detenção, em conformidade com o respectivo direito
interno e com o disposto na Parte IX.

2. O detido será imediatamente levado à presença da autoridade judiciária competente do Estado da


detenção que determinará se, de acordo com a legislação desse Estado:

a) O mandado de detenção é aplicável à pessoa em causa;

b) A detenção foi executada de acordo com a lei;


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 425

c) Os direitos do detido foram respeitados,

3. O detido terá direito a solicitar à autoridade competente do Estado da detenção autorização para
aguardar a sua entrega em liberdade.

4. Ao decidir sobre o pedido, a autoridade competente do Estado da detenção determinará se, em face da
gravidade dos crimes imputados, se verificam circunstâncias urgentes e excepcionais que justifiquem a
liberdade provisória e se existem as garantias necessárias para que o Estado de detenção possa cumprir a sua
obrigação de entregar a pessoa ao Tribunal. Essa autoridade não terá competência para examinar se o
mandado de detenção foi regularmente emitido, nos termos das alíneas a) e b) do parágrafo 1o do artigo 58.

5. O pedido de liberdade provisória será notificado ao Juízo de Instrução, o qual fará recomendações à
autoridade competente do Estado da detenção. Antes de tomar uma decisão, a autoridade competente do
Estado da detenção terá em conta essas recomendações, incluindo as relativas a medidas adequadas para
impedir a fuga da pessoa.

6. Se a liberdade provisória for concedida, o Juízo de Instrução poderá solicitar informações periódicas
sobre a situação de liberdade provisória.

7. Uma vez que o Estado da detenção tenha ordenado a entrega, o detido será colocado, o mais
rapidamente possível, à disposição do Tribunal.

Artigo 60

Início da Fase Instrutória

1. Logo que uma pessoa seja entregue ao Tribunal ou nele compareça voluntariamente em cumprimento
de uma notificação para comparecimento, o Juízo de Instrução deverá assegurar-se de que essa pessoa foi
informada dos crimes que lhe são imputados e dos direitos que o presente Estatuto lhe confere, incluindo o
direito de solicitar autorização para aguardar o julgamento em liberdade.

2. A pessoa objeto de um mandado de detenção poderá solicitar autorização para aguardar julgamento
em liberdade. Se o Juízo de Instrução considerar verificadas as condições enunciadas no parágrafo 1o do artigo
58, a detenção será mantida. Caso contrário, a pessoa será posta em liberdade, com ou sem condições.

3. O Juízo de Instrução reexaminará periodicamente a sua decisão quanto à liberdade provisória ou à


detenção, podendo fazê-lo a todo o momento, a pedido do Procurador ou do interessado. Ao tempo da revisão,
o Juízo poderá modificar a sua decisão quanto à detenção, à liberdade provisória ou às condições desta, se
considerar que a alteração das circunstâncias o justifica.

4. O Juízo de Instrução certificar-se-á de que a detenção não será prolongada por período não razoável
devido a demora injustificada por parte do Procurador. Caso se produza a referida demora, o Tribunal
considerará a possibilidade de por o interessado em liberdade, com ou sem condições.

5. Se necessário, o Juízo de Instrução poderá emitir um mandado de detenção para garantir o


comparecimento de uma pessoa que tenha sido posta em liberdade.

Artigo 61

Apreciação da Acusação Antes do Julgamento

1. Salvo o disposto no parágrafo 2o, e em um prazo razoável após a entrega da pessoa ao Tribunal ou ao
seu comparecimento voluntário perante este, o Juízo de Instrução realizará uma audiência para apreciar os
fatos constantes da acusação com base nos quais o Procurador pretende requerer o julgamento. A audiência
ocorrerá lugar na presença do Procurador e do acusado, assim como do defensor deste.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 426

2. O Juízo de Instrução, de ofício ou a pedido do Procurador, poderá realizar a audiência na ausência do


acusado, a fim de apreciar os fatos constantes da acusação com base nos quais o Procurador pretende
requerer o julgamento, se o acusado:

a) Tiver renunciado ao seu direito a estar presente; ou

b) Tiver fugido ou não for possível encontrá-lo, tendo sido tomadas todas as medidas razoáveis para
assegurar o seu comparecimento em Tribunal e para o informar dos fatos constantes da acusação e da
realização de uma audiência para apreciação dos mesmos.

Neste caso, o acusado será representado por um defensor, se o Juízo de Instrução decidir que tal servirá
os interesses da justiça.

3. Num prazo razoável antes da audiência, o acusado:

a) Receberá uma cópia do documento especificando os fatos constantes da acusação com base nos quais
o Procurador pretende requerer o julgamento; e

b) Será informado das provas que o Procurador pretende apresentar em audiência.

O Juízo de Instrução poderá proferir despacho sobre a divulgação de informação para efeitos da audiência.

4. Antes da audiência, o Procurador poderá reabrir o inquérito e alterar ou retirar parte dos fatos constantes
da acusação. O acusado será notificado de qualquer alteração ou retirada em tempo razoável, antes da
realização da audiência. No caso de retirada de parte dos fatos constantes da acusação, o Procurador informará
o Juízo de Instrução dos motivos da mesma.

5. Na audiência, o Procurador produzirá provas satisfatórias dos fatos constantes da acusação, nos quais
baseou a sua convicção de que o acusado cometeu o crime que lhe é imputado. O Procurador poderá basear-
se em provas documentais ou um resumo das provas, não sendo obrigado a chamar as testemunhas que irão
depor no julgamento.

6. Na audiência, o acusado poderá:

a) Contestar as acusações;

b) Impugnar as provas apresentadas pelo Procurador; e

c) Apresentar provas.

7. Com base nos fatos apreciados durante a audiência, o Juízo de Instrução decidirá se existem provas
suficientes de que o acusado cometeu os crimes que lhe são imputados. De acordo com essa decisão, o Juízo
de Instrução:

a) Declarará procedente a acusação na parte relativamente à qual considerou terem sido reunidas provas
suficientes e remeterá o acusado para o juízo de Julgamento em Primeira Instância, a fim de aí ser julgado
pelos fatos confirmados;

b) Não declarará procedente a acusação na parte relativamente à qual considerou não terem sido reunidas
provas suficientes;

c) Adiará a audiência e solicitará ao Procurador que considere a possibilidade de:

i) Apresentar novas provas ou efetuar novo inquérito relativamente a um determinado fato constante da
acusação; ou

ii) Modificar parte da acusação, se as provas reunidas parecerem indicar que um crime distinto, da
competência do Tribunal, foi cometido.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 427

8. A declaração de não procedência relativamente a parte de uma acusação, proferida pelo Juízo de
Instrução, não obstará a que o Procurador solicite novamente a sua apreciação, na condição de apresentar
provas adicionais.

9. Tendo os fatos constantes da acusação sido declarados procedentes, e antes do início do julgamento,
o Procurador poderá, mediante autorização do Juízo de Instrução e notificação prévia do acusado, alterar
alguns fatos constantes da acusação. Se o Procurador pretender acrescentar novos fatos ou substituí-los por
outros de natureza mais grave, deverá, nos termos do preserve artigo, requerer uma audiência para a
respectiva apreciação. Após o início do julgamento, o Procurador poderá retirar a acusação, com autorização
do Juízo de Instrução.

10. Qualquer mandado emitido deixará de ser válido relativamente aos fatos constantes da acusação que
tenham sido declarados não procedentes pelo Juízo de Instrução ou que tenham sido retirados pelo Procurador.

11. Tendo a acusação sido declarada procedente nos termos do presente artigo, a Presidência designará
um Juízo de Julgamento em Primeira Instância que, sob reserva do disposto no parágrafo 9 do presente artigo
e no parágrafo 4o do artigo 64, se encarregará da fase seguinte do processo e poderá exercer as funções do
Juízo de Instrução que se mostrem pertinentes e apropriadas nessa fase do processo.

Capítulo VI

O Julgamento

Artigo 62

Local do Julgamento

Salvo decisão em contrário, o julgamento terá lugar na sede do Tribunal.

Artigo 63

Presença do Acusado em Julgamento

1. O acusado estará presente durante o julgamento.

2. Se o acusado, presente em tribunal, perturbar persistentemente a audiência, o Juízo de Julgamento em


Primeira Instância poderá ordenar a sua remoção da sala e providenciar para que acompanhe o processo e dê
instruções ao seu defensor a partir do exterior da mesma, utilizando, se necessário, meios técnicos de
comunicação. Estas medidas só serão adotadas em circunstâncias excepcionais e pelo período estritamente
necessário, após se terem esgotado outras possibilidades razoáveis.

Artigo 64

Funções e Poderes do Juízo de Julgamento em Primeira Instância

1. As funções e poderes do Juízo de Julgamento em Primeira Instância, enunciadas no presente artigo,


deverão ser exercidas em conformidade com o presente Estatuto e o Regulamento Processual.

2. O Juízo de Julgamento em Primeira Instância zelará para que o julgamento seja conduzido de maneira
eqüitativa e célere, com total respeito dos direitos do acusado e tendo em devida conta a proteção das vítimas
e testemunhas.

3. O Juízo de Julgamento em Primeira Instância a que seja submetido um caso nos termos do presente
Estatuto:

a) Consultará as partes e adotará as medidas necessárias para que o processo se desenrole de maneira
eqüitativa e célere;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 428

b) Determinará qual a língua, ou quais as línguas, a utilizar no julgamento; e

c) Sob reserva de qualquer outra disposição pertinente do presente Estatuto, providenciará pela revelação
de quaisquer documentos ou da informação que não tenha sido divulgada anteriormente, com suficiente
antecedência relativamente ao início do julgamento, a fim de permitir a sua preparação adequada para o
julgamento.

4. O Juízo de Julgamento em Primeira Instância poderá, se mostrar necessário para o seu funcionamento
eficaz e imparcial, remeter questões preliminares ao Juízo de Instrução ou, se necessário, a um outro juiz
disponível da Seção de Instrução.

5. Mediante notificação às partes, o Juízo de Julgamento em Primeira Instância poderá, conforme se lhe
afigure mais adequado, ordenar que as acusações contra mais de um acusado sejam deduzidas conjunta ou
separadamente.

6. No desempenho das suas funções, antes ou no decurso de um julgamento, o Juízo de Julgamento em


Primeira Instância poderá, se necessário:

a) Exercer qualquer uma das funções do Juízo de Instrução consignadas no parágrafo 11 do artigo 61;

b) Ordenar a comparência e a audição de testemunhas e a apresentação de documentos e outras provas,


obtendo para tal, se necessário, o auxílio de outros Estados, conforme previsto no presente Estatuto;

c) Adotar medidas para a proteção da informação confidencial;

d) Ordenar a apresentação de provas adicionais às reunidas antes do julgamento ou às apresentadas no


decurso do julgamento pelas partes;

e) Adotar medidas para a proteção do acusado, testemunhas e vítimas; e

f) Decidir sobre qualquer outra questão pertinente.

7. A audiência de julgamento será pública. No entanto, o Juízo de Julgamento em Primeira Instância


poderá decidir que determinadas diligências se efetuem à porta fechada, em conformidade com os objetivos
enunciados no artigo 68 ou com vista a proteger informação de caráter confidencial ou restrita que venha a ser
apresentada como prova.

8. a) No início da audiência de julgamento, o Juízo de Julgamento em Primeira Instância ordenará a leitura


ao acusado, dos fatos constantes da acusação previamente confirmados pelo Juízo de Instrução. O Juízo de
Julgamento em Primeira Instância deverá certificar-se de que o acusado compreende a natureza dos fatos que
lhe são imputados e dar-lhe a oportunidade de os confessar, de acordo com o disposto no artigo 65, ou de se
declarar inocente;

b) Durante o julgamento, o juiz presidente poderá dar instruções sobre a condução da audiência,
nomeadamente para assegurar que esta se desenrole de maneira eqüitativa e imparcial. Salvo qualquer
orientação do juiz presidente, as partes poderão apresentar provas em conformidade com as disposições do
presente Estatuto.

9. O Juízo de Julgamento em Primeira Instância poderá, inclusive, de ofício ou a pedido de uma das partes,
a saber:

a) Decidir sobre a admissibilidade ou pertinência das provas; e

b) Tomar todas as medidas necessárias para manter a ordem na audiência.

10. O Juízo de Julgamento em Primeira Instância providenciará para que o Secretário proceda a um
registro completo da audiência de julgamento onde sejam fielmente relatadas todas as diligências efetuadas,
registro que deverá manter e preservar.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 429

Artigo 65

Procedimento em Caso de Confissão

1. Se o acusado confessar nos termos do parágrafo 8, alínea a), do artigo 64, o Juízo de Julgamento em
Primeira Instância apurará:

a) Se o acusado compreende a natureza e as conseqüências da sua confissão;

b) Se essa confissão foi feita livremente, após devida consulta ao seu advogado de defesa; e

c) Se a confissão é corroborada pelos fatos que resultam:

i) Da acusação deduzida pelo Procurador e aceita pelo acusado;

ii) De quaisquer meios de prova que confirmam os fatos constantes da acusação deduzida pelo Procurador
e aceita pelo acusado; e

iii) De quaisquer outros meios de prova, tais como depoimentos de testemunhas, apresentados pelo
Procurador ou pelo acusado.

2. Se o Juízo de Julgamento em Primeira Instância estimar que estão reunidas as condições referidas no
parágrafo 1o, considerará que a confissão, juntamente com quaisquer provas adicionais produzidas, constitui
um reconhecimento de todos os elementos essenciais constitutivos do crime pelo qual o acusado se declarou
culpado e poderá condená-lo por esse crime.

3. Se o Juízo de Julgamento em Primeira Instância estimar que não estão reunidas as condições referidas
no parágrafo 1o, considerará a confissão como não tendo tido lugar e, nesse caso, ordenará que o julgamento
prossiga de acordo com o procedimento comum estipulado no presente Estatuto, podendo transmitir o processo
a outro Juízo de Julgamento em Primeira Instância.

4. Se o Juízo de Julgamento em Primeira Instância considerar necessária, no interesse da justiça, e em


particular no interesse das vítimas, uma explanação mais detalhada dos fatos integrantes do caso, poderá:

a) Solicitar ao Procurador que apresente provas adicionais, incluindo depoimentos de testemunhas; ou

b) Ordenar que o processo prossiga de acordo com o procedimento comum estipulado no presente
Estatuto, caso em que considerará a confissão como não tendo tido lugar e poderá transmitir o processo a
outro Juízo de Julgamento em Primeira Instância.

5. Quaisquer consultas entre o Procurador e a defesa, no que diz respeito à alteração dos fatos constantes
da acusação, à confissão ou à pena a ser imposta, não vincularão o Tribunal.

Artigo 66

Presunção de Inocência

1. Toda a pessoa se presume inocente até prova da sua culpa perante o Tribunal, de acordo com o direito
aplicável.

2. Incumbe ao Procurador o ônus da prova da culpa do acusado.

3. Para proferir sentença condenatória, o Tribunal deve estar convencido de que o acusado é culpado,
além de qualquer dúvida razoável.

Artigo 67

Direitos do Acusado
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 430

1. Durante a apreciação de quaisquer fatos constantes da acusação, o acusado tem direito a ser ouvido
em audiência pública, levando em conta o disposto no presente Estatuto, a uma audiência conduzida de forma
eqüitativa e imparcial e às seguintes garantias mínimas, em situação de plena igualdade:

a) A ser informado, sem demora e de forma detalhada, numa língua que compreenda e fale fluentemente,
da natureza, motivo e conteúdo dos fatos que lhe são imputados;

b) A dispor de tempo e de meios adequados para a preparação da sua defesa e a comunicar-se livre e
confidencialmente com um defensor da sua escolha;

c) A ser julgado sem atrasos indevidos;

d) Salvo o disposto no parágrafo 2o do artigo 63, o acusado terá direito a estar presente na audiência de
julgamento e a defender-se a si próprio ou a ser assistido por um defensor da sua escolha; se não o tiver, a ser
informado do direito de o tribunal lhe nomear um defensor sempre que o interesse da justiça o exija, sendo tal
assistência gratuita se o acusado carecer de meios suficientes para remunerar o defensor assim nomeado;

e) A inquirir ou a fazer inquirir as testemunhas de acusação e a obter o comparecimento das testemunhas


de defesa e a inquirição destas nas mesmas condições que as testemunhas de acusação. O acusado terá
também direito a apresentar defesa e a oferecer qualquer outra prova admissível, de acordo com o presente
Estatuto;

f) A ser assistido gratuitamente por um intérprete competente e a serem-lhe facultadas as traduções


necessárias que a equidade exija, se não compreender perfeitamente ou não falar a língua utilizada em
qualquer ato processual ou documento produzido em tribunal;

g) A não ser obrigado a depor contra si próprio, nem a declarar-se culpado, e a guardar silêncio, sem que
este seja levado em conta na determinação da sua culpa ou inocência;

h) A prestar declarações não ajuramentadas, oralmente ou por escrito, em sua defesa; e

i) A que não lhe seja imposta quer a inversão do ônus da prova, quer a impugnação.

2. Além de qualquer outra revelação de informação prevista no presente Estatuto, o Procurador


comunicará à defesa, logo que possível, as provas que tenha em seu poder ou sob o seu controle e que, no
seu entender, revelem ou tendam a revelar a inocência do acusado, ou a atenuar a sua culpa, ou que possam
afetar a credibilidade das provas de acusação. Em caso de dúvida relativamente à aplicação do presente
número, cabe ao Tribunal decidir.

Artigo 68

Proteção das Vítimas e das Testemunhas e sua Participação no Processo

1. O Tribunal adotará as medidas adequadas para garantir a segurança, o bem-estar físico e psicológico,
a dignidade e a vida privada das vítimas e testemunhas. Para tal, o Tribunal levará em conta todos os fatores
pertinentes, incluindo a idade, o gênero tal como definido no parágrafo 3 o do artigo 7o, e o estado de saúde,
assim como a natureza do crime, em particular, mas não apenas quando este envolva elementos de agressão
sexual, de violência relacionada com a pertença a um determinado gênero ou de violência contra crianças. O
Procurador adotará estas medidas, nomeadamente durante o inquérito e o procedimento criminal. Tais medidas
não poderão prejudicar nem ser incompatíveis com os direitos do acusado ou com a realização de um
julgamento eqüitativo e imparcial.

2. Enquanto excepção ao princípio do caráter público das audiências estabelecido no artigo 67, qualquer
um dos Juízos que compõem o Tribunal poderá, a fim de proteger as vítimas e as testemunhas ou o acusado,
decretar que um ato processual se realize, no todo ou em parte, à porta fechada ou permitir a produção de
prova por meios eletrônicos ou outros meios especiais. Estas medidas aplicar-se-ão, nomeadamente, no caso
de uma vítima de violência sexual ou de um menor que seja vítima ou testemunha, salvo decisão em contrário
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 431

adotada pelo Tribunal, ponderadas todas as circunstâncias, particularmente a opinião da vítima ou da


testemunha.

3. Se os interesses pessoais das vítimas forem afetados, o Tribunal permitir-lhes-á que expressem as
suas opiniões e preocupações em fase processual que entenda apropriada e por forma a não prejudicar os
direitos do acusado nem a ser incompatível com estes ou com a realização de um julgamento eqüitativo e
imparcial. Os representantes legais das vítimas poderão apresentar as referidas opiniões e preocupações
quando o Tribunal o considerar oportuno e em conformidade com o Regulamento Processual.

4. A Unidade de Apoio às Vítimas e Testemunhas poderá aconselhar o Procurador e o Tribunal


relativamente a medidas adequadas de proteção, mecanismos de segurança, assessoria e assistência a que
se faz referência no parágrafo 6 do artigo 43.

5. Quando a divulgação de provas ou de informação, de acordo com o presente Estatuto, representar um


grave perigo para a segurança de uma testemunha ou da sua família, o Procurador poderá, para efeitos de
qualquer diligência anterior ao julgamento, não apresentar as referidas provas ou informação, mas antes um
resumo das mesmas. As medidas desta natureza deverão ser postas em prática de uma forma que não seja
prejudicial aos direitos do acusado ou incompatível com estes e com a realização de um julgamento eqüitativo
e imparcial.

6. Qualquer Estado poderá solicitar que sejam tomadas as medidas necessárias para assegurar a proteção
dos seus funcionários ou agentes, bem como a proteção de toda a informação de caráter confidencial ou
restrito.

Artigo 69

Prova

1. Em conformidade com o Regulamento Processual e antes de depor, qualquer testemunha se


comprometerá a fazer o seu depoimento com verdade.

2. A prova testemunhal deverá ser prestada pela própria pessoa no decurso do julgamento, salvo quando
se apliquem as medidas estabelecidas no artigo 68 ou no Regulamento Processual. De igual modo, o Tribunal
poderá permitir que uma testemunha preste declarações oralmente ou por meio de gravação em vídeo ou
áudio, ou que sejam apresentados documentos ou transcrições escritas, nos termos do presente Estatuto e de
acordo com o Regulamento Processual. Estas medidas não poderão prejudicar os direitos do acusado, nem
ser incompatíveis com eles.

3. As partes poderão apresentar provas que interessem ao caso, nos termos do artigo 64. O Tribunal será
competente para solicitar de ofício a produção de todas as provas que entender necessárias para determinar
a veracidade dos fatos.

4. O Tribunal poderá decidir sobre a relevância ou admissibilidade de qualquer prova, tendo em conta,
entre outras coisas, o seu valor probatório e qualquer prejuízo que possa acarretar para a realização de um
julgamento eqüitativo ou para a avaliação eqüitativa dos depoimentos de uma testemunha, em conformidade
com o Regulamento Processual.

5. O Tribunal respeitará e atenderá aos privilégios de confidencialidade estabelecidos no Regulamento


Processual.

6. O Tribunal não exigirá prova dos fatos do domínio público, mas poderá fazê-los constar dos autos.

7. Não serão admissíveis as provas obtidas com violação do presente Estatuto ou das normas de direitos
humanos internacionalmente reconhecidas quando:

a) Essa violação suscite sérias dúvidas sobre a fiabilidade das provas; ou


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 432

b) A sua admissão atente contra a integridade do processo ou resulte em grave prejuízo deste.

8. O Tribunal, ao decidir sobre a relevância ou admissibilidade das provas apresentadas por um Estado,
não poderá pronunciar-se sobre a aplicação do direito interno desse Estado.

Artigo 70

Infrações contra a Administração da Justiça

1. O Tribunal terá competência para conhecer das seguintes infrações contra a sua administração da
justiça, quando cometidas intencionalmente:

a) Prestação de falso testemunho, quando há a obrigação de dizer a verdade, de acordo com o parágrafo
1o do artigo 69;

b) Apresentação de provas, tendo a parte conhecimento de que são falsas ou que foram falsificadas;

c) Suborno de uma testemunha, impedimento ou interferência no seu comparecimento ou depoimento,


represálias contra uma testemunha por esta ter prestado depoimento, destruição ou alteração de provas ou
interferência nas diligências de obtenção de prova;

d) Entrave, intimidação ou corrupção de um funcionário do Tribunal, com a finalidade de o obrigar ou o


induzir a não cumprir as suas funções ou a fazê-lo de maneira indevida;

e) Represálias contra um funcionário do Tribunal, em virtude das funções que ele ou outro funcionário
tenham desempenhado; e

f) Solicitação ou aceitação de suborno na qualidade de funcionário do Tribunal, e em relação com o


desempenho das respectivas funções oficiais.

2. O Regulamento Processual estabelecerá os princípios e procedimentos que regularão o exercício da


competência do Tribunal relativamente às infrações a que se faz referência no presente artigo. As condições
de cooperação internacional com o Tribunal, relativamente ao procedimento que adote de acordo com o
presente artigo, reger-se-ão pelo direito interno do Estado requerido.

3. Em caso de decisão condenatória, o Tribunal poderá impor uma pena de prisão não superior a cinco
anos, ou de multa, de acordo com o Regulamento Processual, ou ambas.

4. a) Cada Estado Parte tornará extensivas as normas penais de direito interno que punem as infrações
contra a realização da justiça às infrações contra a administração da justiça a que se faz referência no presente
artigo, e que sejam cometidas no seu território ou por um dos seus nacionais;

b) A pedido do Tribunal, qualquer Estado Parte submeterá, sempre que o entender necessário, o caso à
apreciação das suas autoridades competentes para fins de procedimento criminal. Essas autoridades
conhecerão do caso com diligência e acionarão os meios necessários para a sua eficaz condução.

Artigo 71

Sanções por Desrespeito ao Tribunal

1. Em caso de atitudes de desrespeito ao Tribunal, tal como perturbar a audiência ou recusar-se


deliberadamente a cumprir as suas instruções, o Tribunal poderá impor sanções administrativas que não
impliquem privação de liberdade, como, por exemplo, a expulsão temporária ou permanente da sala de
audiências, a multa ou outra medida similar prevista no Regulamento Processual.

2. O processo de imposição das medidas a que se refere o número anterior reger-se-á pelo Regulamento
Processual.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 433

Artigo 72

Proteção de Informação Relativa à Segurança Nacional

1. O presente artigo aplicar-se-á a todos os casos em que a divulgação de informação ou de documentos


de um Estado possa, no entender deste, afetar os interesses da sua segurança nacional. Tais casos incluem
os abrangidos pelas disposições constantes dos parágrafos 2 o e 3o do artigo 56, parágrafo 3o do artigo 61,
parágrafo 3o do artigo 64, parágrafo 2o do artigo 67, parágrafo 6 do artigo 68, parágrafo 6 do artigo 87 e do
artigo 93, assim como os que se apresentem em qualquer outra fase do processo em que uma tal divulgação
possa estar em causa.

2. O presente artigo aplicar-se-á igualmente aos casos em que uma pessoa a quem tenha sido solicitada
a prestação de informação ou provas, se tenha recusado a apresentá-las ou tenha entregue a questão ao
Estado, invocando que tal divulgação afetaria os interesses da segurança nacional do Estado, e o Estado em
causa confirme que, no seu entender, essa divulgação afetaria os interesses da sua segurança nacional.

3. Nada no presente artigo afetará os requisitos de confidencialidade a que se referem as alíneas e) e f) do


parágrafo 3o do artigo 54, nem a aplicação do artigo 73.

4. Se um Estado tiver conhecimento de que informações ou documentos do Estado estão a ser, ou poderão
vir a ser divulgados em qualquer fase do processo, e considerar que essa divulgação afetaria os seus interesses
de segurança nacional, tal Estado terá o direito de intervir com vista a ver alcançada a resolução desta questão
em conformidade com o presente artigo.

5. O Estado que considere que a divulgação de determinada informação poderá afetar os seus interesses
de segurança nacional adotará, em conjunto com o Procurador, a defesa, o Juízo de Instrução ou o Juízo de
Julgamento em Primeira Instância, conforme o caso, todas as medidas razoavelmente possíveis para encontrar
uma solução através da concertação. Estas medidas poderão incluir:

a) A alteração ou o esclarecimento dos motivos do pedido;

b) Uma decisão do Tribunal relativa à relevância das informações ou dos elementos de prova solicitados,
ou uma decisão sobre se as provas, ainda que relevantes, não poderiam ser ou ter sido obtidas junto de fonte
distinta do Estado requerido;

c) A obtenção da informação ou de provas de fonte distinta ou em uma forma diferente; ou

d) Um acordo sobre as condições em que a assistência poderá ser prestada, incluindo, entre outras, a
disponibilização de resumos ou exposições, restrições à divulgação, recurso ao procedimento à porta fechada
ou à revelia de uma das partes, ou aplicação de outras medidas de proteção permitidas pelo Estatuto ou pelas
Regulamento Processual.

6. Realizadas todas as diligências razoavelmente possíveis com vista a resolver a questão por meio de
concertação, e se o Estado considerar não haver meios nem condições para que as informações ou os
documentos possam ser fornecidos ou revelados sem prejuízo dos seus interesses de segurança nacional,
notificará o Procurador ou o Tribunal nesse sentido, indicando as razões precisas que fundamentaram a sua
decisão, a menos que a descrição específica dessas razões prejudique, necessariamente, os interesses de
segurança nacional do Estado.

7. Posteriormente, se decidir que a prova é relevante e necessária para a determinação da culpa ou


inocência do acusado, o Tribunal poderá adotar as seguintes medidas:

a) Quando a divulgação da informação ou do documento for solicitada no âmbito de um pedido de


cooperação, nos termos da Parte IX do presente Estatuto ou nas circunstâncias a que se refere o parágrafo
2o do presente artigo, e o Estado invocar o motivo de recusa estatuído no parágrafo 4° do artigo 93:
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 434

i) O Tribunal poderá, antes de chegar a qualquer uma das conclusões a que se refere o ponto ii) da
alínea a) do parágrafo 7o, solicitar consultas suplementares com o fim de ouvir o Estado, incluindo, se for caso
disso, a sua realização à porta fechada ou à revelia de uma das partes;

ii) Se o Tribunal concluir que, ao invocar o motivo de recusa estatuído no parágrafo 4 o do artigo 93, dadas
as circunstâncias do caso, o Estado requerido não está a atuar de harmonia com as obrigações impostas pelo
presente Estatuto, poderá remeter a questão nos termos do parágrafo 7 do artigo 87, especificando as razões
da sua conclusão; e

iii) O Tribunal poderá tirar as conclusões, que entender apropriadas, em razão das circunstâncias, ao julgar
o acusado, quanto à existência ou inexistência de um fato; ou

b) Em todas as restantes circunstâncias:

i) Ordenar a revelação; ou

ii) Se não ordenar a revelação, inferir, no julgamento do acusado, quanto à existência ou inexistência de
um fato, conforme se mostrar apropriado.

Artigo 73

Informação ou Documentos Disponibilizados por Terceiros

Se um Estado Parte receber um pedido do Tribunal para que lhe forneça uma informação ou um
documento que esteja sob sua custódia, posse ou controle, e que lhe tenha sido comunicado a título
confidencial por um Estado, uma organização intergovernamental ou uma organização internacional, tal Estado
Parte deverá obter o consentimento do seu autor para a divulgação dessa informação ou documento. Se o
autor for um Estado Parte, este poderá consentir em divulgar a referida informação ou documento ou
comprometer-se a resolver a questão com o Tribunal, salvaguardando-se o disposto no artigo 72. Se o autor
não for um Estado Parte e não consentir em divulgar a informação ou o documento, o Estado requerido
comunicará ao Tribunal que não lhe será possível fornecer a informação ou o documento em causa, devido à
obrigação previamente assumida com o respectivo autor de preservar o seu caráter confidencial.

Artigo 74

Requisitos para a Decisão

1. Todos os juízes do Juízo de Julgamento em Primeira Instância estarão presentes em cada uma das
fases do julgamento e nas deliberações. A Presidência poderá designar, conforme o caso, um ou vários juízes
substitutos, em função das disponibilidades, para estarem presentes em todas as fases do julgamento, bem
coma para substituírem qualquer membro do Juízo de Julgamento em Primeira Instância que se encontre
impossibilitado de continuar a participar no julgamento.

2. O Juízo de Julgamento em Primeira Instância fundamentará a sua decisão com base na apreciação das
provas e do processo no seu conjunto. A decisão não exorbitará dos fatos e circunstâncias descritos na
acusação ou nas alterações que lhe tenham sido feitas. O Tribunal fundamentará a sua decisão exclusivamente
nas provas produzidas ou examinadas em audiência de julgamento.

3. Os juízes procurarão tomar uma decisão por unanimidade e, não sendo possível, por maioria.

4. As deliberações do Juízo de Julgamento em Primeira Instância serão e permanecerão secretas.

5. A decisão será proferida por escrito e conterá uma exposição completa e fundamentada da apreciação
das provas e as conclusões do Juízo de Julgamento em Primeira Instância. Será proferida uma só decisão pelo
Juízo de Julgamento em Primeira Instância. Se não houver unanimidade, a decisão do Juízo de Julgamento
em Primeira Instância conterá as opiniões tanto da maioria como da minoria dos juízes. A leitura da decisão ou
de uma sua súmula far-se-á em audiência pública.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 435

Artigo 75

Reparação em Favor das Vítimas

1. O Tribunal estabelecerá princípios aplicáveis às formas de reparação, tais como a restituição, a


indenização ou a reabilitação, que hajam de ser atribuídas às vítimas ou aos titulares desse direito. Nesta base,
o Tribunal poderá, de ofício ou por requerimento, em circunstâncias excepcionais, determinar a extensão e o
nível dos danos, da perda ou do prejuízo causados às vítimas ou aos titulares do direito à reparação, com a
indicação dos princípios nos quais fundamentou a sua decisão.

2. O Tribunal poderá lavrar despacho contra a pessoa condenada, no qual determinará a reparação
adequada a ser atribuída às vítimas ou aos titulares de tal direito. Esta reparação poderá, nomeadamente,
assumir a forma de restituição, indenização ou reabilitação. Se for caso disso, o Tribunal poderá ordenar que
a indenização atribuída a título de reparação seja paga por intermédio do Fundo previsto no artigo 79.

3. Antes de lavrar qualquer despacho ao abrigo do presente artigo, o Tribunal poderá solicitar e levar em
consideração as pretensões formuladas pela pessoa condenada, pelas vítimas, por outras pessoas
interessadas ou por outros Estados interessados, bem como as observações formuladas em nome dessas
pessoas ou desses Estados.

4. Ao exercer os poderes conferidos pelo presente artigo, o Tribunal poderá, após a condenação por crime
que seja da sua competência, determinar se, para fins de aplicação dos despachos que lavrar ao abrigo do
presente artigo, será necessário tomar quaisquer medidas em conformidade com o parágrafo 1 o do artigo 93.

5. Os Estados Partes observarão as decisões proferidas nos termos deste artigo como se as disposições
do artigo 109 se aplicassem ao presente artigo.

6. Nada no presente artigo será interpretado como prejudicando os direitos reconhecidos às vítimas pelo
direito interno ou internacional.

Artigo 76

Aplicação da Pena

1. Em caso de condenação, o Juízo de Julgamento em Primeira Instância determinará a pena a aplicar


tendo em conta os elementos de prova e as exposições relevantes produzidos no decurso do julgamento,

2. Salvo nos casos em que seja aplicado o artigo 65 e antes de concluído o julgamento, o Juízo de
Julgamento em Primeira Instância poderá, oficiosamente, e deverá, a requerimento do Procurador ou do
acusado, convocar uma audiência suplementar, a fim de conhecer de quaisquer novos elementos de prova ou
exposições relevantes para a determinação da pena, de harmonia com o Regulamento Processual.

3. Sempre que o parágrafo 2o for aplicável, as pretensões previstas no artigo 75 serão ouvidas pelo Juízo
de Julgamento em Primeira Instância no decorrer da audiência suplementar referida no parágrafo 2o e, se
necessário, no decorrer de qualquer nova audiência.

4. A sentença será proferida em audiência pública e, sempre que possível, na presença do acusado.

Capítulo VII

As Penas

Artigo 77

Penas Aplicáveis

1. Sem prejuízo do disposto no artigo 110, o Tribunal pode impor à pessoa condenada por um dos crimes
previstos no artigo 5o do presente Estatuto uma das seguintes penas:
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 436

a) Pena de prisão por um número determinado de anos, até ao limite máximo de 30 anos; ou

b) Pena de prisão perpétua, se o elevado grau de ilicitude do fato e as condições pessoais do condenado
o justificarem,

2. Além da pena de prisão, o Tribunal poderá aplicar:

a) Uma multa, de acordo com os critérios previstos no Regulamento Processual;

b) A perda de produtos, bens e haveres provenientes, direta ou indiretamente, do crime, sem prejuízo dos
direitos de terceiros que tenham agido de boa fé.

Artigo 78

Determinação da pena

1. Na determinação da pena, o Tribunal atenderá, em harmonia com o Regulamento Processual, a fatores


tais como a gravidade do crime e as condições pessoais do condenado.

2. O Tribunal descontará, na pena de prisão que vier a aplicar, o período durante o qual o acusado esteve
sob detenção por ordem daquele. O Tribunal poderá ainda descontar qualquer outro período de detenção que
tenha sido cumprido em razão de uma conduta constitutiva do crime.

3. Se uma pessoa for condenada pela prática de vários crimes, o Tribunal aplicará penas de prisão
parcelares relativamente a cada um dos crimes e uma pena única, na qual será especificada a duração total
da pena de prisão. Esta duração não poderá ser inferior à da pena parcelar mais elevada e não poderá ser
superior a 30 anos de prisão ou ir além da pena de prisão perpétua prevista no artigo 77, parágrafo 1 o, alínea b).

Artigo 79

Fundo em Favor das Vítimas

1. Por decisão da Assembléia dos Estados Partes, será criado um Fundo a favor das vítimas de crimes da
competência do Tribunal, bem como das respectivas famílias.

2. O Tribunal poderá ordenar que o produto das multas e quaisquer outros bens declarados perdidos
revertam para o Fundo.

3. O Fundo será gerido em harmonia com os critérios a serem adotados pela Assembléia dos Estados
Partes.

Artigo 80

Não Interferência no Regime de Aplicação de Penas Nacionais e nos Direitos Internos

Nada no presente Capítulo prejudicará a aplicação, pelos Estados, das penas previstas nos respectivos
direitos internos, ou a aplicação da legislação de Estados que não preveja as penas referidas neste capítulo.

Capítulo VIII

Recurso e Revisão

Artigo 81

Recurso da Sentença Condenatória ou Absolutória ou da Pena

1. A sentença proferida nos termos do artigo 74 é recorrível em conformidade com o disposto no


Regulamento Processual nos seguintes termos:
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 437

a) O Procurador poderá interpor recurso com base num dos seguintes fundamentos:
i) Vício processual;
ii) Erro de fato; ou
iii) Erro de direito;
b) O condenado ou o Procurador, no interesse daquele; poderá interpor recurso com base num dos
seguintes fundamentos:
i) Vício processual;
ii) Erro de fato;
iií) Erro de direito; ou
iv) Qualquer outro motivo suscetível de afetar a equidade ou a regularidade do processo ou da sentença.

2. a) O Procurador ou o condenado poderá, em conformidade com o Regulamento Processual, interpor


recurso da pena decretada invocando desproporção entre esta e o crime;

b) Se, ao conhecer de recurso interposto da pena decretada, o Tribunal considerar que há fundamentos
suscetíveis de justificar a anulação, no todo ou em parte, da sentença condenatória, poderá convidar o
Procurador e o condenado a motivarem a sua posição nos termos da alínea a) ou b) do parágrafo 1o do artigo
81, após o que poderá pronunciar-se sobre a sentença condenatória nos termos do artigo 83;

c) O mesmo procedimento será aplicado sempre que o Tribunal, ao conhecer de recurso interposto
unicamente da sentença condenatória, considerar haver fundamentos comprovativos de uma redução da pena
nos termos da alínea a) do parágrafo 2o.

3. a) Salvo decisão em contrário do Juízo de Julgamento em Primeira Instância, o condenado permanecerá


sob prisão preventiva durante a tramitação do recurso;

b) Se o período de prisão preventiva ultrapassar a duração da pena decretada, o condenado será posto
em liberdade; todavia, se o Procurador também interpuser recurso, a libertação ficará sujeita às condições
enunciadas na alínea c) infra;

c) Em caso de absolvição, o acusado será imediatamente posto em liberdade, sem prejuízo das seguintes
condições:

i) Em circunstâncias excepcionais e tendo em conta, nomeadamente, o risco de fuga, a gravidade da


infração e as probabilidades de o recurso ser julgado procedente, o Juízo de Julgamento em Primeira Instância
poderá, a requerimento do Procurador, ordenar que o acusado seja mantido em regime de prisão preventiva
durante a tramitação do recurso;

ii) A decisão proferida pelo juízo de julgamento em primeira instância nos termos da sub-alínea i), será
recorrível em harmonia com as Regulamento Processual.

4. Sem prejuízo do disposto nas alíneas a) e b) do parágrafo 3o, a execução da sentença condenatória ou
da pena ficará suspensa pelo período fixado para a interposição do recurso, bem como durante a fase de
tramitação do recurso.

Artigo 82

Recurso de Outras Decisões

1. Em conformidade com o Regulamento Processual, qualquer uma das Partes poderá recorrer das
seguintes decisões:

a) Decisão sobre a competência ou a admissibilidade do caso;

b) Decisão que autorize ou recuse a libertação da pessoa objeto de inquérito ou de procedimento criminal;

c) Decisão do Juízo de Instrução de agir por iniciativa própria, nos termos do parágrafo 3 o do artigo 56;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 438

d) Decisão relativa a uma questão suscetível de afetar significativamente a tramitação eqüitativa e célere
do processo ou o resultado do julgamento, e cuja resolução imediata pelo Juízo de Recursos poderia, no
entender do Juízo de Instrução ou do Juízo de Julgamento em Primeira Instância, acelerar a marcha do
processo.

2. Quer o Estado interessado quer o Procurador poderão recorrer da decisão proferida pelo Juízo de
Instrução, mediante autorização deste, nos termos do artigo 57, parágrafo 3 o, alínea d). Este recurso adotará
uma forma sumária.

3. O recurso só terá efeito suspensivo se o Juízo de Recursos assim o ordenar, mediante requerimento,
em conformidade com o Regulamento Processual.

4. O representante legal das vítimas, o condenado ou o proprietário de boa-fé de bens que hajam sido
afetados por um despacho proferido ao abrigo do artigo 75 poderá recorrer de tal despacho, em conformidade
com o Regulamento Processual.

Artigo 83

Processo Sujeito a Recurso

1. Para os fins do procedimentos referido no artigo 81 e no presente artigo, o Juízo de Recursos terá todos
os poderes conferidos ao Juízo de Julgamento em Primeira Instância.

2. Se o Juízo de Recursos concluir que o processo sujeito a recurso padece de vícios tais que afetem a
regularidade da decisão ou da sentença, ou que a decisão ou a sentença recorridas estão materialmente
afetadas por erros de fato ou de direito, ou vício processual, ela poderá:

a) Anular ou modificar a decisão ou a pena; ou

b) Ordenar um novo julgamento perante um outro Juízo de Julgamento em Primeira Instância.

Para os fins mencionados, poderá o Juízo de Recursos reenviar uma questão de fato para o Juízo de
Julgamento em Primeira Instância à qual foi submetida originariamente, a fim de que esta decida a questão e
lhe apresente um relatório, ou pedir, ela própria, elementos de prova para decidir. Tendo o recurso da decisão
ou da pena sido interposto somente pelo condenado, ou pelo Procurador no interesse daquele, não poderão
aquelas ser modificadas em prejuízo do condenado.

3. Se, ao conhecer, do recurso de uma pena, o Juízo de Recursos considerar que a pena é
desproporcionada relativamente ao crime, poderá modificá-la nos termos do Capítulo VII.

4. O acórdão do Juízo de Recursos será tirado por maioria dos juízes e proferido em audiência pública. O
acórdão será sempre fundamentado. Não havendo unanimidade, deverá conter as opiniões da parte maioria e
da minoria de juízes; contudo, qualquer juiz poderá exprimir uma opinião separada ou discordante sobre uma
questão de direito.

5. O Juízo de Recursos poderá emitir o seu acórdão na ausência da pessoa absolvida ou condenada.

Artigo 84

Revisão da Sentença Condenatória ou da Pena

1. O condenado ou, se este tiver falecido, o cônjuge sobrevivo, os filhos, os pais ou qualquer pessoa que,
em vida do condenado, dele tenha recebido incumbência expressa, por escrito, nesse sentido, ou o Procurador
no seu interesse, poderá submeter ao Juízo de Recursos um requerimento solicitando a revisão da sentença
condenatória ou da pena pelos seguintes motivos:

a) A descoberta de novos elementos de prova:


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 439

i) De que não dispunha ao tempo do julgamento, sem que essa circunstância pudesse ser imputada, no
todo ou em parte, ao requerente; e

ii) De tal forma importantes que, se tivessem ficado provados no julgamento, teriam provavelmente
conduzido a um veredicto diferente;

b) A descoberta de que elementos de prova, apreciados no julgamento e decisivos para a determinação


da culpa, eram falsos ou tinham sido objeto de contrafação ou falsificação;

c) Um ou vários dos juízes que intervieram na sentença condenatória ou confirmaram a acusação hajam
praticado atos de conduta reprovável ou de incumprimento dos respectivos deveres de tal forma graves que
justifiquem a sua cessação de funções nos termos do artigo 46.

2. O Juízo de Recursos rejeitará o pedido se o considerar manifestamente infundado. Caso contrário,


poderá o Juízo, se julgar oportuno:

a) Convocar de novo o Juízo de Julgamento em Primeira Instância que proferiu a sentença inicial;

b) Constituir um novo Juízo de Julgamento em Primeira Instância; ou

c) Manter a sua competência para conhecer da causa, a fim de determinar se, após a audição das partes
nos termos do Regulamento Processual, haverá lugar à revisão da sentença.

Artigo 85

Indenização do Detido ou Condenado

1. Quem tiver sido objeto de detenção ou prisão ilegal terá direito a reparação.

2. Sempre que uma decisão final seja posteriormente anulada em razão de fatos novos ou recentemente
descobertos que apontem inequivocamente para um erro judiciário, a pessoa que tiver cumprido pena em
resultado de tal sentença condenatória será indenizada, em conformidade com a lei, a menos que fique provado
que a não revelação, em tempo útil, do fato desconhecido lhe seja imputável, no todo ou em parte.

3. Em circunstâncias excepcionais e em face de fatos que conclusivamente demonstrem a existência de


erro judiciário grave e manifesto, o Tribunal poderá, no uso do seu poder discricionário, atribuir uma
indenização, de acordo com os critérios enunciados no Regulamento Processual, à pessoa que, em virtude de
sentença absolutória ou de extinção da instância por tal motivo, haja sido posta em liberdade.

Capítulo IX

Cooperação Internacional e Auxílio Judiciário

Artigo 86

Obrigação Geral de Cooperar

Os Estados Partes deverão, em conformidade com o disposto no presente Estatuto, cooperar plenamente
com o Tribunal no inquérito e no procedimento contra crimes da competência deste.

Artigo 87

Pedidos de Cooperação: Disposições Gerais

1. a) O Tribunal estará habilitado a dirigir pedidos de cooperação aos Estados Partes. Estes pedidos serão
transmitidos pela via diplomática ou por qualquer outra via apropriada escolhida pelo Estado Parte no momento
de ratificação, aceitação, aprovação ou adesão ao presente Estatuto.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 440

Qualquer Estado Parte poderá alterar posteriormente a escolha feita nos termos do Regulamento
Processual.

b) Se for caso disso, e sem prejuízo do disposto na alínea a), os pedidos poderão ser igualmente
transmitidos pela Organização internacional de Polícia Criminal (INTERPOL) ou por qualquer outra organização
regional competente.

2. Os pedidos de cooperação e os documentos comprovativos que os instruam serão redigidos na língua


oficial do Estado requerido ou acompanhados de uma tradução nessa língua, ou numa das línguas de trabalho
do Tribunal ou acompanhados de uma tradução numa dessas línguas, de acordo com a escolha feita pelo
Estado requerido no momento da ratificação, aceitação, aprovação ou adesão ao presente Estatuto.

Qualquer alteração posterior será feita de harmonia com o Regulamento Processual.

3. O Estado requerido manterá a confidencialidade dos pedidos de cooperação e dos documentos


comprovativos que os instruam, salvo quando a sua revelação for necessária para a execução do pedido.

4. Relativamente aos pedidos de auxílio formulados ao abrigo do presente Capítulo, o Tribunal poderá,
nomeadamente em matéria de proteção da informação, tomar as medidas necessárias à garantia da segurança
e do bem-estar físico ou psicológico das vítimas, das potenciais testemunhas e dos seus familiares. O Tribunal
poderá solicitar que as informações fornecidas ao abrigo do presente Capítulo sejam comunicadas e tratadas
por forma a que a segurança e o bem-estar físico ou psicológico das vítimas, das potenciais testemunhas e dos
seus familiares sejam devidamente preservados.

5. a) O Tribunal poderá convidar qualquer Estado que não seja Parte no presente Estatuto a prestar auxílio
ao abrigo do presente Capítulo com base num convênio ad hoc, num acordo celebrado com esse Estado ou
por qualquer outro modo apropriado.

b) Se, após a celebração de um convênio ad hoc ou de um acordo com o Tribunal, um Estado que não
seja Parte no presente Estatuto se recusar a cooperar nos termos de tal convênio ou acordo, o Tribunal dará
conhecimento desse fato à Assembléia dos Estados Parles ou ao Conselho de Segurança, quando tiver sido
este a referenciar o fato ao Tribunal.

6. O Tribunal poderá solicitar informações ou documentos a qualquer organização intergovernamental.


Poderá igualmente requerer outras formas de cooperação e auxílio a serem acordadas com tal organização e
que estejam em conformidade com a sua competência ou o seu mandato.

7. Se, contrariamente ao disposto no presente Estatuto, um Estado Parte recusar um pedido de


cooperação formulado pelo Tribunal, impedindo-o assim de exercer os seus poderes e funções nos termos do
presente Estatuto, o Tribunal poderá elaborar um relatório e remeter a questão à Assembléia dos Estados
Partes ou ao Conselho de Segurança, quando tiver sido este a submeter o fato ao Tribunal.

Artigo 88

Procedimentos Previstos no Direito Interno

Os Estados Partes deverão assegurar-se de que o seu direito interno prevê procedimentos que permitam
responder a todas as formas de cooperação especificadas neste Capítulo.

Artigo 89

Entrega de Pessoas ao Tribunal

1. O Tribunal poderá dirigir um pedido de detenção e entrega de uma pessoa, instruído com os documentos
comprovativos referidos no artigo 91, a qualquer Estado em cujo território essa pessoa se possa encontrar, e
solicitar a cooperação desse Estado na detenção e entrega da pessoa em causa. Os Estados Partes darão
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 441

satisfação aos pedidos de detenção e de entrega em conformidade com o presente Capítulo e com os
procedimentos previstos nos respectivos direitos internos.

2. Sempre que a pessoa cuja entrega é solicitada impugnar a sua entrega perante um tribunal nacional
com, base no princípio ne bis in idem previsto no artigo 20, o Estado requerido consultará, de imediato, o
Tribunal para determinar se houve uma decisão relevante sobre a admissibilidade. Se o caso for considerado
admissível, o Estado requerido dará seguimento ao pedido. Se estiver pendente decisão sobre a
admissibilidade, o Estado requerido poderá diferir a execução do pedido até que o Tribunal se pronuncie.

3. a) Os Estados Partes autorizarão, de acordo com os procedimentos previstos na respectiva legislação


nacional, o trânsito, pelo seu território, de uma pessoa entregue ao Tribunal por um outro Estado, salvo quando
o trânsito por esse Estado impedir ou retardar a entrega.

b) Um pedido de trânsito formulado pelo Tribunal será transmitido em conformidade com o artigo 87. Do
pedido de trânsito constarão:

i) A identificação da pessoa transportada;

ii) Um resumo dos fatos e da respectiva qualificação jurídica;

iii) O mandado de detenção e entrega.

c) A pessoa transportada será mantida sob custódia no decurso do trânsito.

d) Nenhuma autorização será necessária se a pessoa for transportada por via aérea e não esteja prevista
qualquer aterrissagem no território do Estado de trânsito.

e) Se ocorrer, uma aterrissagem imprevista no território do Estado de trânsito, poderá este exigir ao
Tribunal a apresentação de um pedido de trânsito nos termos previstos na alínea b). O Estado de trânsito
manterá a pessoa sob detenção até a recepção do pedido de trânsito e a efetivação do trânsito. Todavia, a
detenção ao abrigo da presente alínea não poderá prolongar-se para além das 96 horas subseqüentes à
aterrissagem imprevista se o pedido não for recebido dentro desse prazo.

4. Se a pessoa reclamada for objeto de procedimento criminal ou estiver cumprindo uma pena no Estado
requerido por crime diverso do que motivou o pedido de entrega ao Tribunal, este Estado consultará o Tribunal
após ter decidido anuir ao pedido

Artigo 90

Pedidos Concorrentes

1. Um Estado Parte que, nos termos do artigo 89, receba um pedido de entrega de uma pessoa formulado
pelo Tribunal, e receba igualmente, de qualquer outro Estado, um pedido de extradição relativo à mesma
pessoa, pelos mesmos fatos que motivaram o pedido de entrega por parte do Tribunal, deverá notificar o
Tribunal e o Estado requerente de tal fato.

2. Se o Estado requerente for um Estado Parte, o Estado requerido dará prioridade ao pedido do Tribunal:

a) Se o Tribunal tiver decidido, nos termos do artigo 18 ou 19, da admissibilidade do caso a que respeita
o pedido de entrega, e tal determinação tiver levado em conta o inquérito ou o procedimento criminal conduzido
pelo Estado requerente relativamente ao pedido de extradição por este formulado; ou

b) Se o Tribunal tiver tomado a decisão referida na alínea a) em conformidade com a notificação feita pelo
Estado requerido, em aplicação do parágrafo 1o.

3. Se o Tribunal não tiver tomado uma decisão nos termos da alínea a) do parágrafo 2o, o Estado requerido
poderá, se assim o entender, estando pendente a determinação do Tribunal nos termos da alínea b) do
parágrafo 2o, dar seguimento ao pedido de extradição formulado pelo Estado requerente sem, contudo,
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 442

extraditar a pessoa até que o Tribunal decida sobre a admissibilidade do caso. A decisão do Tribunal seguirá
a forma sumária.

4. Se o Estado requerente não for Parte no presente Estatuto, o Estado requerido, desde que não esteja
obrigado por uma norma internacional a extraditar o acusado para o Estado requerente, dará prioridade ao
pedido de entrega formulado pelo Tribunal, no caso de este se ter decidido pela admissibilidade do caso.

5. Quando um caso previsto no parágrafo 4o não tiver sido declarado admissível pelo Tribunal, o Estado
requerido poderá, se assim o entender, dar seguimento ao pedido de extradição formulado pelo Estado
requerente.

6. Relativamente aos casos em que o disposto no parágrafo 4o seja aplicável, mas o Estado requerido se
veja obrigado, por força de uma norma internacional, a extraditar a pessoa para o Estado requerente que não
seja Parte no presente Estatuto, o Estado requerido decidirá se procederá à entrega da pessoa em causa ao
Tribunal ou se a extraditará para o Estado requerente. Na sua decisão, o Estado requerido terá em conta todos
os fatores relevantes, incluindo, entre outros

a) A ordem cronológica dos pedidos;

b) Os interesses do Estado requerente, incluindo, se relevante, se o crime foi cometido no seu território
bem como a nacionalidade das vítimas e da pessoa reclamada; e

c) A possibilidade de o Estado requerente vir a proceder posteriormente à entrega da pessoa ao Tribunal.

7. Se um Estado Parte receber um pedido de entrega de uma pessoa formulado pelo Tribunal e um pedido
de extradição formulado por um outro Estado Parte relativamente à mesma pessoa, por fatos diferentes dos
que constituem o crime objeto do pedido de entrega:

a) O Estado requerido dará prioridade ao pedido do Tribunal, se não estiver obrigado por uma norma
internacional a extraditar a pessoa para o Estado requerente;

b) O Estado requerido terá de decidir se entrega a pessoa ao Tribunal ou a extradita para o Estado
requerente, se estiver obrigado por uma norma internacional a extraditar a pessoa para o Estado requerente.
Na sua decisão, o Estado requerido considerará todos os fatores relevantes, incluindo, entre outros, os
constantes do parágrafo 6; todavia, deverá dar especial atenção à natureza e à gravidade dos fatos em causa.

8. Se, em conformidade com a notificação prevista no presente artigo, o Tribunal se tiver pronunciado pela
inadmissibilidade do caso e, posteriormente, a extradição para o Estado requerente for recusada, o Estado
requerido notificará o Tribunal dessa decisão.

Artigo 91

Conteúdo do Pedido de Detenção e de Entrega

1. O pedido de detenção e de entrega será formulado por escrito. Em caso de urgência, o pedido poderá
ser feito através de qualquer outro meio de que fique registro escrito, devendo, no entanto, ser confirmado
através dos canais previstos na alínea a) do parágrafo 1o do artigo 87,

2. O pedido de detenção e entrega de uma pessoa relativamente à qual o Juízo de Instrução tiver emitido
um mandado de detenção ao abrigo do artigo 58, deverá conter ou ser acompanhado dos seguintes
documentos:

a) Uma descrição da pessoa procurada, contendo informação suficiente que permita a sua identificação,
bem como informação sobre a sua provável localização;

b) Uma cópia do mandado de detenção; e


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 443

c) Os documentos, declarações e informações necessários para satisfazer os requisitos do processo de


entrega pelo Estado requerido; contudo, tais requisitos não deverão ser mais rigorosos dos que os que devem
ser observados em caso de um pedido de extradição em conformidade com tratados ou convênios celebrados
entre o Estado requerido e outros Estados, devendo, se possível, ser menos rigorosos face à natureza
específica de que se reveste o Tribunal.

3. Se o pedido respeitar à detenção e à entrega de uma pessoa já condenada, deverá conter ou ser
acompanhado dos seguintes documentos:

a) Uma cópia do mandado de detenção dessa pessoa;

b) Uma cópia da sentença condenatória;

c) Elementos que demonstrem que a pessoa procurada é a mesma a que se refere a sentença
condenatória; e

d) Se a pessoa já tiver sido condenada, uma cópia da sentença e, em caso de pena de prisão, a indicação
do período que já tiver cumprido, bem como o período que ainda lhe falte cumprir.

4. Mediante requerimento do Tribunal, um Estado Parte manterá, no que respeite a questões genéricas
ou a uma questão específica, consultas com o Tribunal sobre quaisquer requisitos previstos no seu direito
interno que possam ser aplicados nos termos da alínea c) do parágrafo 2o. No decurso de tais consultas, o
Estado Parte informará o Tribunal dos requisitos específicos constantes do seu direito interno.

Artigo 92

Prisão Preventiva

1. Em caso de urgência, o Tribunal poderá solicitar a prisão preventiva da pessoa procurada até a
apresentação do pedido de entrega e os documentos de apoio referidos no artigo 91.

2. O pedido de prisão preventiva será transmitido por qualquer meio de que fique registro escrito e conterá:

a) Uma descrição da pessoa procurada, contendo informação suficiente que permita a sua identificação,
bem como informação sobre a sua provável localização;

b) Uma exposição sucinta dos crimes pelos quais a pessoa é procurada, bem como dos fatos
alegadamente constitutivos de tais crimes incluindo, se possível, a data e o local da sua prática;

c) Uma declaração que certifique a existência de um mandado de detenção ou de uma decisão


condenatória contra a pessoa procurada; e

d) Uma declaração de que o pedido de entrega relativo à pessoa procurada será enviado posteriormente.

3. Qualquer pessoa mantida sob prisão preventiva poderá ser posta em liberdade se o Estado requerido
não tiver recebido, em conformidade com o artigo 91, o pedido de entrega e os respectivos documentos no
prazo fixado pelo Regulamento Processual. Todavia, essa pessoa poderá consentir na sua entrega antes do
termo do período se a legislação do Estado requerido o permitir. Nesse caso, o Estado requerido procede à
entrega da pessoa reclamada ao Tribunal, o mais rapidamente possível.

4. O fato de a pessoa reclamada ter sido posta em liberdade em conformidade com o parágrafo 3° não
obstará a que seja de novo detida e entregue se o pedido de entrega e os documentos em apoio, vierem a ser
apresentados posteriormente.

Artigo 93

Outras Formas de Cooperação


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 444

1. Em conformidade com o disposto no presente Capítulo e nos termos dos procedimentos previstos nos
respectivos direitos internos, os Estados Partes darão seguimento aos pedidos formulados pelo Tribunal para
concessão de auxílio, no âmbito de inquéritos ou procedimentos criminais, no que se refere a:

a) Identificar uma pessoa e o local onde se encontra, ou localizar objetos;

b) Reunir elementos de prova, incluindo os depoimentos prestados sob juramento, bem como produzir
elementos de prova, incluindo perícias e relatórios de que o Tribunal necessita;

c) Interrogar qualquer pessoa que seja objeto de inquérito ou de procedimento criminal;

d) Notificar documentos, nomeadamente documentos judiciários;

e) Facilitar o comparecimento voluntária, perante o Tribunal, de pessoas que deponham na qualidade de


testemunhas ou de peritos;

f) Proceder à transferência temporária de pessoas, em conformidade com o parágrafo 7°;

g) Realizar inspeções, nomeadamente a exumação e o exame de cadáveres enterrados em fossas


comuns;

h) Realizar buscas e apreensões;

i) Transmitir registros e documentos, nomeadamente registros e documentos oficiais;

j) Proteger vítimas e testemunhas, bem como preservar elementos de prova;

k) Identificar, localizar e congelar ou apreender o produto de crimes, bens, haveres e instrumentos ligados
aos crimes, com vista à sua eventual declaração de perda, sem prejuízo dos direitos de terceiros de boa fé; e

I) Prestar qualquer outra forma de auxílio não proibida pela legislação do Estado requerido, destinada a
facilitar o inquérito e o julgamento por crimes da competência do Tribunal.

2. O Tribunal tem poderes para garantir à testemunha ou ao perito que perante ele compareça de que não
serão perseguidos, detidos ou sujeitos a qualquer outra restrição da sua liberdade pessoal, por fato ou omissão
anteriores à sua saída do território do Estado requerido.

3. Se a execução de uma determinada medida de auxílio constante de um pedido apresentado ao abrigo


do parágrafo 1o não for permitida no Estado requerido em virtude de um princípio jurídico fundamental de
aplicação geral, o Estado em causa iniciará sem demora consultas com o Tribunal com vista à solução dessa
questão. No decurso das consultas, serão consideradas outras formas de auxílio, bem como as condições da
sua realização. Se, concluídas as consultas, a questão não estiver resolvida, o Tribunal alterará o conteúdo do
pedido conforme se mostrar necessário.

4. Nos termos do disposto no artigo 72, um Estado Parte só poderá recusar, no todo ou em parte, um
pedido de auxílio formulado pelo Tribunal se tal pedido se reportar unicamente à produção de documentos ou
à divulgação de elementos de prova que atentem contra a sua segurança nacional.

5. Antes de denegar o pedido de auxílio previsto na alínea l) do parágrafo 1o, o Estado requerido
considerará se o auxílio poderá ser concedido sob determinadas condições ou se poderá sê-lo em data ulterior
ou sob uma outra forma, com a ressalva de que, se o Tribunal ou o Procurador aceitarem tais condições,
deverão observá-las.

6. O Estado requerido que recusar um pedido de auxílio comunicará, sem demora, os motivos ao Tribunal
ou ao Procurador.

7. a) O Tribunal poderá pedir a transferência temporária de uma pessoa detida para fins de identificação
ou para obter um depoimento ou outras forma de auxílio. A transferência realizar-se-á sempre que:
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 445

i) A pessoa der o seu consentimento, livremente e com conhecimento de causa; e

ii) O Estado requerido concordar com a transferência, sem prejuízo das condições que esse Estado e o
Tribunal possam acordar;

b) A pessoa transferida permanecerá detida. Esgotado o fim que determinou a transferência, o Tribunal
reenviá-la-á imediatamente para o Estado requerido.

8. a) O Tribunal garantirá a confidencialidade dos documentos e das informações recolhidas, exceto se


necessários para o inquérito e os procedimentos descritos no pedido;

b) O Estado requerido poderá, se necessário, comunicar os documentos ou as informações ao Procurador


a título confidencial. O Procurador só poderá utilizá-los para recolher novos elementos de prova;

c) O Estado requerido poderá, de ofício ou a pedido do Procurador, autorizar a divulgação posterior de


tais documentos ou informações; os quais poderão ser utilizados como meios de prova, nos termos do disposto
nos Capítulos V e VI e no Regulamento Processual.

9. a) i) Se um Estado Parte receber pedidos concorrentes formulados pelo Tribunal e por um outro Estado,
no âmbito de uma obrigação internacional, e cujo objeto não seja nem a entrega nem a extradição, esforçar-
se-á, mediante consultas com o Tribunal e esse outro Estado, por dar satisfação a ambos os pedidos adiando
ou estabelecendo determinadas condições a um ou outro pedido, se necessário.

ii) Não sendo possível, os pedidos concorrentes observarão os princípios fixados no artigo 90.

b) Todavia, sempre que o pedido formulado pelo Tribunal respeitar a informações, bens ou pessoas que
estejam sob o controle de um Estado terceiro ou de uma organização internacional ao abrigo de um acordo
internacional, os Estados requeridos informarão o Tribunal em conformidade, este dirigirá o seu pedido ao
Estado terceiro ou à organização internacional.

10. a) Mediante pedido, o Tribunal cooperará com um Estado Parte e prestar-lhe-á auxílio na condução
de um inquérito ou julgamento relacionado com fatos que constituam um crime da jurisdição do Tribunal ou que
constituam um crime grave à luz do direito interno do Estado requerente.

b) i) O auxílio previsto na alínea a) deve compreender, a saber:

a. A transmissão de depoimentos, documentos e outros elementos de prova recolhidos no decurso do


inquérito ou do julgamento conduzidos pelo Tribunal; e

b. O interrogatório de qualquer pessoa detida por ordem do Tribunal;

ii) No caso previsto na alínea b), i), a;

a. A transmissão dos documentos e de outros elementos de prova obtidos com o auxílio de um Estado
necessita do consentimento desse Estado;

b. A transmissão de depoimentos, documentos e outros elementos de prova fornecidos quer por uma
testemunha, quer por um perito, será feita em conformidade com o disposto no artigo 68.

c) O Tribunal poderá, em conformidade com as condições enunciadas neste número, deferir um pedido
de auxílio formulado por um Estado que não seja parte no presente Estatuto.

Artigo 94

Suspensão da Execução de um Pedido Relativamente a um Inquérito ou a

Procedimento Criminal em Curso


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 446

1. Se a imediata execução de um pedido prejudicar o desenrolar de um inquérito ou de um procedimento


criminal relativos a um caso diferente daquele a que se reporta o pedido, o Estado requerido poderá suspender
a execução do pedido por tempo determinado, acordado com o Tribunal. Contudo, a suspensão não deve
prolongar-se além do necessário para que o inquérito ou o procedimento criminal em causa sejam efetuados
no Estado requerido. Este, antes de decidir suspender a execução do pedido, verificará se o auxílio não poderá
ser concedido de imediato sob determinadas condições.

2. Se for decidida a suspensão de execução do pedido em conformidade com o parágrafo 1°, o Procurador
poderá, no entanto, solicitar que sejam adotadas medidas para preservar os elementos de prova, nos termos
da alínea j) do parágrafo 1o do artigo 93.

Artigo 95

Suspensão da Execução de um Pedido por Impugnação de Admissibilidade

Se o Tribunal estiver apreciando uma impugnação de admissibilidade, de acordo com os artigos 18 ou 19,
o Estado requerido poderá suspender a execução de um pedido formulado ao abrigo do presente Capítulo
enquanto aguarda que o Tribunal se pronuncie, a menos que o Tribunal tenha especificamente ordenado que
o Procurador continue a reunir elementos de prova, nos termos dos artigos 18 ou 19.

Artigo 96

Conteúdo do Pedido sob Outras Formas de Cooperarão previstas no Artigo 93

1. Todo o pedido relativo a outras formas de cooperação previstas no artigo 93 será formulado por escrito.
Em caso de urgência, o pedido poderá ser feito por qualquer meio que permita manter um registro escrito,
desde que seja confirmado através dos canais indicados na alínea a) do parágrafo 1o do artigo 87.

2. O pedido deverá conter, ou ser instruído com os seguintes documentos:

a) Um resumo do objeto do pedido, bem como da natureza do auxílio solicitado, incluindo os fundamentos
jurídicos e os motivos do pedido;

b) Informações tão completas quanto possível sobre a pessoa ou o lugar a identificar ou a localizar, por
forma a que o auxílio solicitado possa ser prestado;

c) Um exposição sucinta dos fatos essenciais que fundamentam o pedido;

d) A exposição dos motivos e a explicação pormenorizada dos procedimentos ou das condições a


respeitar;

e) Toda a informação que o Estado requerido possa exigir de acordo com o seu direito interno para dar
seguimento ao pedido; e

f) Toda a informação útil para que o auxílio possa ser concedido.

3. A requerimento do Tribunal, um Estado Parte manterá, no que respeita a questões genéricas ou a uma
questão específica, consultas com o Tribunal sobre as disposições aplicáveis do seu direito interno,
susceptíveis de serem aplicadas em conformidade com a alínea e) do parágrafo 2°. No decurso de tais
consultas, o Estado Parte informará o Tribunal das disposições específicas constantes do seu direito interno.

4. O presente artigo aplicar-se-á, se for caso disso, a qualquer pedido de auxílio dirigido ao Tribunal.

Artigo 97

Consultas
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 447

Sempre que, ao abrigo do presente Capítulo, um Estado Parte receba um pedido e verifique que este
suscita dificuldades que possam obviar à sua execução ou impedi-la, o Estado em causa iniciará, sem demora,
as consultas com o Tribunal com vista à solução desta questão. Tais dificuldades podem revestir as seguintes
formas:

a) Informações insuficientes para dar seguimento ao pedido;

b) No caso de um pedido de entrega, o paradeiro da pessoa reclamada continuar desconhecido a despeito


de todos os esforços ou a investigação realizada permitiu determinar que a pessoa que se encontra no Estado
Requerido não é manifestamente a pessoa identificada no mandado; ou

c) O Estado requerido ver-se-ia compelido, para cumprimento do pedido na sua forma atual, a violar uma
obrigação constante de um tratado anteriormente celebrado com outro Estado.

Artigo 98

Cooperação Relativa à Renúncia, à Imunidade e ao Consentimento na Entrega

1. O Tribunal pode não dar seguimento a um pedido de entrega ou de auxílio por força do qual o Estado
requerido devesse atuar de forma incompatível com as obrigações que lhe incumbem à luz do direito
internacional em matéria de imunidade dos Estados ou de imunidade diplomática de pessoa ou de bens de um
Estado terceiro, a menos que obtenha, previamente a cooperação desse Estado terceiro com vista ao
levantamento da imunidade.

2. O Tribunal pode não dar seguimento à execução de um pedido de entrega por força do qual o Estado
requerido devesse atuar de forma incompatível com as obrigações que lhe incumbem em virtude de acordos
internacionais à luz dos quais o consentimento do Estado de envio é necessário para que uma pessoa
pertencente a esse Estado seja entregue ao Tribunal, a menos que o Tribunal consiga, previamente, obter a
cooperação do Estado de envio para consentir na entrega.

Artigo 99

Execução dos Pedidos Apresentados ao Abrigo dos Artigos 93 e 96

1. Os pedidos de auxílio serão executados de harmonia com os procedimentos previstos na legislação


interna do Estado requerido e, a menos que o seu direito interno o proíba, na forma especificada no pedido,
aplicando qualquer procedimento nele indicado ou autorizando as pessoas nele indicadas a estarem presentes
e a participarem na execução do pedido.

2. Em caso de pedido urgente, os documentos e os elementos de prova produzidos na resposta serão, a


requerimento do Tribunal, enviados com urgência.

3. As respostas do Estado requerido serão transmitidas na sua língua e forma originais.

4. Sem prejuízo dos demais artigos do presente Capítulo, sempre que for necessário para a execução
com sucesso de um pedido, e não haja que recorrer a medidas coercitivas, nomeadamente quando se trate de
ouvir ou levar uma pessoa a depor de sua livre vontade, mesmo sem a presença das autoridades do Estado
Parte requerido se tal for determinante para a execução do pedido, ou quando se trate de examinar, sem
proceder a alterações, um lugar público ou um outro local público, o Procurador poderá dar cumprimento ao
pedido diretamente no território de um Estado, de acordo com as seguintes modalidades:

a) Quando o Estado requerido for o Estado em cujo território haja indícios de ter sido cometido o crime e
existir uma decisão sobre a admissibilidade tal como previsto nos artigos 18 e 19, o Procurador poderá executar
diretamente o pedido, depois de ter levado a cabo consultas tão amplas quanto possível com o Estado
requerido;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 448

b) Em outros casos, o Procurador poderá executar o pedido após consultas com o Estado Parte requerido e
tendo em conta as condições ou as preocupações razoáveis que esse Estado tenha eventualmente
argumentado. Sempre que o Estado requerido verificar que a execução de um pedido nos termos da presente
alínea suscita dificuldades, consultará de imediato o Tribunal para resolver a questão.

5. As disposições que autorizam a pessoa ouvida ou interrogada pelo Tribunal ao abrigo do artigo 72, a
invocar as restrições previstas para impedir a divulgação de informações confidenciais relacionadas com a
segurança nacional, aplicar-se-ão de igual modo à execução dos pedidos de auxílio referidos no presente
artigo.

Artigo 100

Despesas

1. As despesas ordinárias decorrentes da execução dos pedidos no território do Estado requerido serão
por este suportadas, com exceção das seguintes, que correrão a cargo do Tribunal:

a) As despesas relacionadas com as viagens e a proteção das testemunhas e dos peritos ou com a
transferência de detidos ao abrigo do artigo 93;

b) As despesas de tradução, de interpretação e de transcrição;

c) As despesas de deslocação e de estada dos juízes, do Procurador, dos Procuradores-adjuntos, do


Secretário, do Secretário-Adjunto e dos membros do pessoal de todos os órgãos do Tribunal;

d) Os custos das perícias ou dos relatórios periciais solicitados pelo Tribunal;

e) As despesas decorrentes do transporte das pessoas entregues ao Tribunal pelo Estado de detenção;
e

f) Após consulta, quaisquer despesas extraordinárias decorrentes da execução de um pedido.

2. O disposto no parágrafo 1o aplicar-se-á, sempre que necessário, aos pedidos dirigidos pelos Estados
Partes ao Tribunal. Neste caso, o Tribunal tomará a seu cargo as despesas ordinárias decorrentes da execução.

Artigo 101

Regra da Especialidade

1. Nenhuma pessoa entregue ao Tribunal nos termos do presente Estatuto poderá ser perseguida,
condenada ou detida por condutas anteriores à sua entrega, salvo quando estas constituam crimes que tenham
fundamentado a sua entrega.

2. O Tribunal poderá solicitar uma derrogação dos requisitos estabelecidos no parágrafo 1 o ao Estado que
lhe tenha entregue uma pessoa e, se necessário, facultar-lhe-á, em conformidade com o artigo 91, informações
complementares. Os Estados Partes estarão habilitados a conceder uma derrogação ao Tribunal e deverão
envidar esforços nesse sentido.

Artigo 102

Termos Usados

Para os fins do presente Estatuto:

a) Por "entrega", entende-se a entrega de uma pessoa por um Estado ao Tribunal nos termos do presente
Estatuto.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 449

b) Por "extradição", entende-se a entrega de uma pessoa por um Estado a outro Estado conforme previsto
em um tratado, em uma convenção ou no direito interno.

Capítulo X

Execução da Pena

Artigo 103

Função dos Estados na Execução das Penas Privativas de Liberdade

1. a) As penas privativas de liberdade serão cumpridas num Estado indicado pelo Tribunal a partir de uma
lista de Estados que lhe tenham manifestado a sua disponibilidade para receber pessoas condenadas.

b) Ao declarar a sua disponibilidade para receber pessoas condenadas, um Estado poderá formular
condições acordadas com o Tribunal e em conformidade com o presente Capítulo.

c) O Estado indicado no âmbito de um determinado caso dará prontamente a conhecer se aceita ou não
a indicação do Tribunal.

2. a) O Estado da execução informará o Tribunal de qualquer circunstância, incluindo o cumprimento de


quaisquer condições acordadas nos termos do parágrafo 1 o, que possam afetar materialmente as condições
ou a duração da detenção. O Tribunal será informado com, pelo menos, 45 dias de antecedência sobre qualquer
circunstância dessa natureza, conhecida ou previsível. Durante este período, o Estado da execução não tomará
qualquer medida que possa ser contrária às suas obrigações ao abrigo do artigo 110.

b) Se o Tribunal não puder aceitar as circunstâncias referidas na alínea a), deverá informar o Estado da
execução e proceder em harmonia com o parágrafo 1o do artigo 104.

3. Sempre que exercer o seu poder de indicação em conformidade com o parágrafo 1 o, o Tribunal levará
em consideração:

a) O princípio segundo o qual os Estados Partes devem partilhar da responsabilidade na execução das
penas privativas de liberdade, em conformidade com os princípios de distribuição eqüitativa estabelecidos no
Regulamento Processual;

b) A aplicação de normas convencionais do direito internacional amplamente aceitas, que regulam o


tratamento dos reclusos;

c) A opinião da pessoa condenada; e

d) A nacionalidade da pessoa condenada;

e) Outros fatores relativos às circunstâncias do crime, às condições pessoais da pessoa condenada ou à


execução efetiva da pena, adequadas à indicação do Estado da execução.

4. Se nenhum Estado for designado nos termos do parágrafo 1 o, a pena privativa de liberdade será
cumprida num estabelecimento prisional designado pelo Estado anfitrião, em conformidade com as condições
estipuladas no acordo que determinou o local da sede previsto no parágrafo 2 o do artigo 3o. Neste caso, as
despesas relacionadas com a execução da pena ficarão a cargo do Tribunal.

Artigo 104

Alteração da Indicação do Estado da Execução

1. O Tribunal poderá, a qualquer momento, decidir transferir um condenado para uma prisão de um outro
Estado.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 450

2. A pessoa condenada pelo Tribunal poderá, a qualquer momento, solicitar-lhe que a transfira do Estado
encarregado da execução.

Artigo 105

Execução da Pena

1. Sem prejuízo das condições que um Estado haja estabelecido nos termos do artigo 103, parágrafo 1 o,
alínea b), a pena privativa de liberdade é vinculativa para os Estados Partes, não podendo estes modificá-la
em caso algum.

2. Será da exclusiva competência do Tribunal pronunciar-se sobre qualquer pedido de revisão ou recurso.
O Estado da execução não obstará a que o condenado apresente um tal pedido.

Artigo 106

Controle da Execução da Pena e das Condições de Detenção

1. A execução de uma pena privativa de liberdade será submetida ao controle do Tribunal e observará as
regras convencionais internacionais amplamente aceitas em matéria de tratamento dos reclusos.

2. As condições de detenção serão reguladas pela legislação do Estado da execução e observarão as


regras convencionais internacionais amplamente aceitas em matéria de tratamento dos reclusos. Em caso
algum devem ser menos ou mais favoráveis do que as aplicáveis aos reclusos condenados no Estado da
execução por infrações análogas.

3. As comunicações entre o condenado e o Tribunal serão livres e terão caráter confidencial.

Artigo 107

Transferência do Condenado depois de Cumprida a Pena

1. Cumprida a pena, a pessoa que não seja nacional do Estado da execução poderá, de acordo com a
legislação desse mesmo Estado, ser transferida para um outro Estado obrigado a aceitá-la ou ainda para um
outro Estado que aceite acolhê-la tendo em conta a vontade expressa pela pessoa em ser transferida para
esse Estado; a menos que o Estado da execução autorize essa pessoa a permanecer no seu território.

2. As despesas relativas à transferência do condenado para um outro Estado nos termos do parágrafo 1°
serão suportadas pelo Tribunal se nenhum Estado as tomar a seu cargo.

3. Sem prejuízo do disposto no artigo 108, o Estado da execução poderá igualmente, em harmonia com o
seu direito interno, extraditar ou entregar por qualquer outro modo a pessoa a um Estado que tenha solicitado
a sua extradição ou a sua entrega para fins de julgamento ou de cumprimento de uma pena.

Artigo 108

Restrições ao Procedimento Criminal ou à Condenação por Outras Infrações

1. A pessoa condenada que esteja detida no Estado da execução não poderá ser objeto de procedimento
criminal, condenação ou extradição para um Estado terceiro em virtude de uma conduta anterior à sua
transferência para o Estado da execução, a menos que a Tribunal tenha dado a sua aprovação a tal
procedimento, condenação ou extradição, a pedido do Estado da execução.

2. Ouvido o condenado, o Tribunal pronunciar-se-á sobre a questão.

3. O parágrafo 1o deixará de ser aplicável se o condenado permanecer voluntariamente no território do


Estado da execução por um período superior a 30 dias após o cumprimento integral da pena proferida pelo
Tribunal, ou se regressar ao território desse Estado após dele ter saído.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 451

Artigo 109

Execução das Penas de Multa e das Medidas de Perda

1. Os Estados Partes aplicarão as penas de multa, bem como as medidas de perda ordenadas pelo
Tribunal ao abrigo do Capítulo VII, sem prejuízo dos direitos de terceiros de boa fé e em conformidade com os
procedimentos previstos no respectivo direito interno.

2. Sempre que um Estado Parte não possa tornar efetiva a declaração de perda, deverá tomar medidas
para recuperar o valor do produto, dos bens ou dos haveres cuja perda tenha sido declarada pelo Tribunal, sem
prejuízo dos direitos de terceiros de boa fé.

3. Os bens, ou o produto da venda de bens imóveis ou, se for caso disso, da venda de outros bens, obtidos
por um Estado Parte por força da execução de uma decisão do Tribunal, serão transferidos para o Tribunal.

Artigo 110

Reexame pelo Tribunal da Questão de Redução de Pena

1. O Estado da execução não poderá libertar o recluso antes de cumprida a totalidade da pena proferida
pelo Tribunal.

2. Somente o Tribunal terá a faculdade de decidir sobre qualquer redução da pena e, ouvido o condenado,
pronunciar-se-á a tal respeito,

3. Quando a pessoa já tiver cumprido dois terços da pena, ou 25 anos de prisão em caso de pena de
prisão perpétua, o Tribunal reexaminará a pena para determinar se haverá lugar a sua redução. Tal reexame
só será efetuado transcorrido o período acima referido.

4. No reexame a que se refere o parágrafo 3o, o Tribunal poderá reduzir a pena se constatar que se
verificam uma ou várias das condições seguintes:

a) A pessoa tiver manifestado, desde o início e de forma contínua, a sua vontade em cooperar com o
Tribunal no inquérito e no procedimento;

b) A pessoa tiver, voluntariamente, facilitado a execução das decisões e despachos do Tribunal em outros
casos, nomeadamente ajudando-o a localizar bens sobre os quais recaíam decisões de perda, de multa ou de
reparação que poderão ser usados em benefício das vítimas; ou

c) Outros fatores que conduzam a uma clara e significativa alteração das circunstâncias suficiente para
justificar a redução da pena, conforme previsto no Regulamento Processual;

5. Se, no reexame inicial a que se refere o parágrafo 3 o, o Tribunal considerar não haver motivo para
redução da pena, ele reexaminará subseqüentemente a questão da redução da pena com a periodicidade e
nos termos previstos no Regulamento Processual.

Artigo 111

Evasão

Se um condenado se evadir do seu local de detenção e fugir do território do Estado da execução, este
poderá, depois de ter consultado o Tribunal, pedir ao Estado no qual se encontra localizado o condenado que
o entregue em conformidade com os acordos bilaterais ou multilaterais em vigor, ou requerer ao Tribunal que
solicite a entrega dessa pessoa ao abrigo do Capítulo IX. O Tribunal poderá, ao solicitar a entrega da pessoa,
determinar que esta seja entregue ao Estado no qual se encontrava a cumprir a sua pena, ou a outro Estado
por ele indicado.

Capítulo XI
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 452

Assembléia dos Estados Partes

Artigo 112

Assembléia dos Estados Partes

1. É constituída, pelo presente instrumento, uma Assembléia dos Estados Partes. Cada um dos Estados
Partes nela disporá de um representante, que poderá ser coadjuvado por substitutos e assessores. Outros
Estados signatários do Estatuto ou da Ata Final poderão participar nos trabalhos da Assembléia na qualidade
de observadores.

2. A Assembléia:

a) Examinará e adotará, se adequado, as recomendações da Comissão Preparatória;

b) Promoverá junto à Presidência, ao Procurador e ao Secretário as linhas orientadoras gerais no que toca
à administração do Tribunal;

c) Examinará os relatórios e as atividades da Mesa estabelecido nos termos do parágrafo 3° e tomará as


medidas apropriadas;

d) Examinará e aprovará o orçamento do Tribunal;

e) Decidirá, se for caso disso, alterar o número de juízes nos termos do artigo 36;

f) Examinará, em harmonia com os parágrafos 5 e 7 do artigo 87, qualquer questão relativa à não
cooperação dos Estados;

g) Desempenhará qualquer outra função compatível com as disposições do presente Estatuto ou do


Regulamento Processual;

3. a) A Assembléia será dotada de uma Mesa composta por um presidente, dois vice-presidentes e 18
membros por ela eleitos por períodos de três anos;

b) A Mesa terá um caráter representativo, atendendo nomeadamente ao princípio da distribuição


geográfica eqüitativa e à necessidade de assegurar uma representação adequada dos principais sistemas
jurídicos do mundo;

c) A Mesa reunir-se-á as vezes que forem necessárias, mas, pelo menos, uma vez por ano. Assistirá a
Assembléia no desempenho das suas funções.

4. A Assembléia poderá criar outros órgãos subsidiários que julgue necessários, nomeadamente um
mecanismo de controle independente que proceda a inspeções, avaliações e inquéritos em ordem a melhorar
a eficiência e economia da administração do Tribunal.

5. O Presidente do Tribunal, o Procurador e o Secretário ou os respectivos representantes poderão


participar, sempre que julguem oportuno, nas reuniões da Assembléia e da Mesa.

6. A Assembléia reunir-se-á na sede do Tribunal ou na sede da Organização das Nações Unidas uma vez
por ano e, sempre que as circunstâncias o exigirem, reunir-se-á em sessão extraordinária. A menos que o
presente Estatuto estabeleça em contrário, as sessões extraordinárias são convocadas pela Mesa, de ofício ou
a pedido de um terço dos Estados Partes.

7. Cada um dos Estados Partes disporá de um voto. Todos os esforços deverão ser envidados para que
as decisões da Assembléia e da Mesa sejam adotadas por consenso. Se tal não for possível, e a menos que o
Estatuto estabeleça em contrário:
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 453

a) As decisões sobre as questões de fundo serão tomadas por maioria de dois terços dos membros
presentes e votantes, sob a condição que a maioria absoluta dos Estados Partes constitua quorum para o
escrutínio;

b) As decisões sobre as questões de procedimento serão tomadas por maioria simples dos Estados Partes
presentes e votantes.

8. O Estado Parte em atraso no pagamento da sua contribuição financeira para as despesas do Tribunal
não poderá votar nem na Assembléia nem na Mesa se o total das suas contribuições em atraso igualar ou
exceder a soma das contribuições correspondentes aos dois anos anteriores completos por ele devidos. A
Assembléia Geral poderá, no entanto, autorizar o Estado em causa a votar na Assembléia ou na Mesa se ficar
provado que a falta de pagamento é devida a circunstâncias alheias ao controle do Estado Parte.

9. A Assembléia adotará o seu próprio Regimento.

10. As línguas oficiais e de trabalho da Assembléia dos Estados Partes serão as línguas oficiais e de
trabalho da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas.

Capítulo XII

Financiamento

Artigo 113

Regulamento Financeiro

Salvo disposição expressa em contrário, todas as questões financeiras atinentes ao Tribunal e às reuniões
da Assembléia dos Estados Partes, incluindo a sua Mesa e os seus órgãos subsidiários, serão reguladas pelo
presente Estatuto, pelo Regulamento Financeiro e pelas normas de gestão financeira adotados pela
Assembléia dos Estados Partes.

Artigo 114

Pagamento de Despesas

As despesas do Tribunal e da Assembléia dos Estados Partes, incluindo a sua Mesa e os seus órgãos
subsidiários, serão pagas pelos fundos do Tribunal.

Artigo 115

Fundos do Tribunal e da Assembléia dos Estados Partes

As despesas do Tribunal e da Assembléia dos Estados Partes, incluindo a sua Mesa e os seus órgãos
subsidiários, inscritas no orçamento aprovado pela Assembléia dos Estados Partes, serão financiadas:

a) Pelas quotas dos Estados Partes;

b) Pelos fundos provenientes da Organização das Nações Unidas, sujeitos à aprovação da Assembléia
Geral, nomeadamente no que diz respeito às despesas relativas a questões remetidas para o Tribunal pelo
Conselho de Segurança.

Artigo 116

Contribuições Voluntárias

Sem prejuízo do artigo 115, o Tribunal poderá receber e utilizar, a título de fundos adicionais, as
contribuições voluntárias dos Governos, das organizações internacionais, dos particulares, das empresas e
demais entidades, de acordo com os critérios estabelecidos pela Assembléia dos Estados Partes nesta matéria.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 454

Artigo 117

Cálculo das Quotas

As quotas dos Estados Partes serão calculadas em conformidade com uma tabela de quotas que tenha
sido acordada, com base na tabela adotada pela Organização das Nações Unidas para o seu orçamento
ordinário, e adaptada de harmonia com os princípios nos quais se baseia tal tabela.

Artigo 118

Verificação Anual de Contas

Os relatórios, livros e contas do Tribunal, incluindo os balanços financeiros anuais, serão verificados
anualmente por um revisor de contas independente.

Capítulo XIII

Cláusulas Finais

Artigo 119

Resolução de Diferendos

1. Qualquer diferendo relativo às funções judiciais do Tribunal será resolvido por decisão do Tribunal.

2. Quaisquer diferendos entre dois ou mais Estados Partes relativos à interpretação ou à aplicação do
presente Estatuto, que não forem resolvidos pela via negocial num período de três meses após o seu início,
serão submetidos à Assembléia dos Estados Partes. A Assembléia poderá procurar resolver o diferendo ou
fazer recomendações relativas a outros métodos de resolução, incluindo a submissão do diferendo à Corte
Internacional de Justiça, em conformidade com o Estatuto dessa Corte.

Artigo 120

Reservas - Não são admitidas reservas a este Estatuto.

Artigo 121

Alterações

1. Expirado o período de sete anos após a entrada em vigor do presente Estatuto, qualquer Estado Parte
poderá propor alterações ao Estatuto. O texto das propostas de alterações será submetido ao Secretário-Geral
da Organização das Nações Unidas, que o comunicará sem demora a todos os Estados Partes.

2. Decorridos pelo menos três meses após a data desta notificação, a Assembléia dos Estados Partes
decidirá na reunião seguinte, por maioria dos seus membros presentes e votantes, se deverá examinar a
proposta. A Assembléia poderá tratar desta proposta, ou convocar uma Conferência de Revisão se a questão
suscitada o justificar.

3. A adoção de uma alteração numa reunião da Assembléia dos Estados Partes ou numa Conferência de
Revisão exigirá a maioria de dois terços dos Estados Partes, quando não for possível chegar a um consenso.

4. Sem prejuízo do disposto no parágrafo 5, qualquer alteração entrará em vigor, para todos os Estados
Partes, um ano depois que sete oitavos de entre eles tenham depositado os respectivos instrumentos de
ratificação ou de aceitação junto do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas.

5. Qualquer alteração ao artigo 5o, 6o, 7o e 8o do presente Estatuto entrará em vigor, para todos os Estados
Partes que a tenham aceitado, um ano após o depósito dos seus instrumentos de ratificação ou de aceitação.
O Tribunal não exercerá a sua competência relativamente a um crime abrangido pela alteração sempre que
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 455

este tiver sido cometido por nacionais de um Estado Parte que não tenha aceitado a alteração, ou no território
desse Estado Parte.

6. Se uma alteração tiver sido aceita por sete oitavos dos Estados Partes nos termos do parágrafo 4,
qualquer Estado Parte que não a tenha aceito poderá retirar-se do Estatuto com efeito imediato, não obstante
o disposto no parágrafo 1o do artigo 127, mas sem prejuízo do disposto no parágrafo 2o do artigo 127, mediante
notificação da sua retirada o mais tardar um ano após a entrada em vigor desta alteração.

7. O Secretário-Geral da Organização dás Nações Unidas comunicará a todos os Estados Partes


quaisquer alterações que tenham sido adotadas em reunião da Assembléia dos Estados Partes ou numa
Conferência de Revisão.

Artigo 122

Alteração de Disposições de Caráter Institucional

1. Não obstante o artigo 121, parágrafo 1o, qualquer Estado Parte poderá, em qualquer momento, propor
alterações às disposições do Estatuto, de caráter exclusivamente institucional, a saber, artigos 35, 36,
parágrafos 8 e 9, artigos 37, 38, 39, parágrafos 1o (as primeiras duas frases), 2o e 4o, artigo 42, parágrafos 4 a
9, artigo 43, parágrafos 2o e 3o e artigos 44, 46, 47 e 49. O texto de qualquer proposta será submetido ao
Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas ou a qualquer outra pessoa designada pela Assembléia
dos Estados Partes, que o comunicará sem demora a todos os Estados Partes e aos outros participantes na
Assembléia.

2. As alterações apresentadas nos termos deste artigo, sobre as quais não seja possível chegar a um
consenso, serão adotadas pela Assembléia dos Estados Partes ou por uma Conferência de Revisão ,por uma
maioria de dois terços dos Estados Partes. Tais alterações entrarão em vigor, para todos os Estados Partes,
seis meses após a sua adoção pela Assembléia ou, conforme o caso, pela Conferência de Revisão.

Artigo 123

Revisão do Estatuto

1. Sete anos após a entrada em vigor do presente Estatuto, o Secretário-Geral da Organização das Nações
Unidas convocará uma Conferência de Revisão para examinar qualquer alteração ao presente Estatuto. A
revisão poderá incidir nomeadamente, mas não exclusivamente, sobre a lista de crimes que figura no artigo 5 o.
A Conferência estará aberta aos participantes na Assembléia dos Estados Partes, nas mesmas condições.

2. A todo o momento ulterior, a requerimento de um Estado Parte e para os fins enunciados no parágrafo
1o,o Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, mediante aprovação da maioria dos Estados Partes,
convocará uma Conferência de Revisão.

3. A adoção e a entrada em vigor de qualquer alteração ao Estatuto examinada numa Conferência de


Revisão serão reguladas pelas disposições do artigo 121, parágrafos 3 o a 7.

Artigo 124

Disposição Transitória

Não obstante o disposto nos parágrafos 1o e 2o do artigo 12, um Estado que se torne Parte no presente
Estatuto, poderá declarar que, durante um período de sete anos a contar da data da entrada em vigor do
Estatuto no seu território, não aceitará a competência do Tribunal relativamente à categoria de crimes referidos
no artigo 8o, quando haja indícios de que um crime tenha sido praticado por nacionais seus ou no seu território.
A declaração formulada ao abrigo deste artigo poderá ser retirada a qualquer momento. O disposto neste artigo
será reexaminado na Conferência de Revisão a convocar em conformidade com o parágrafo 1o do artigo 123.

Artigo 125
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 456

Assinatura, Ratificação, Aceitação, Aprovação ou Adesão

1. O presente Estatuto estará aberto à assinatura de todos os Estados na sede da Organização das
Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, em Roma, a 17 de Julho de 1998, continuando aberto à
assinatura no Ministério dos Negócios Estrangeiros de Itália, em Roma, até 17 de Outubro de 1998. Após esta
data, o Estatuto continuará aberto na sede da Organização das Nações Unidas, em Nova Iorque, até 31 de
Dezembro de 2000.

2. O presente Estatuto ficará sujeito a ratificação, aceitação ou aprovação dos Estados signatários. Os
instrumentos de ratificação, aceitação ou aprovação serão depositados junto do Secretário-Geral da
Organização das Nações Unidas.

3. O presente Estatuto ficará aberto à adesão de qualquer Estado. Os instrumentos de adesão serão
depositados junto do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas.

Artigo 126

Entrada em Vigor

1. O presente Estatuto entrará em vigor no primeiro dia do mês seguinte ao termo de um período de 60
dias após a data do depósito do sexagésimo instrumento de ratificação, de aceitação, de aprovação ou de
adesão junto do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas.

2. Em relação ao Estado que ratifique, aceite ou aprove o Estatuto ,ou a ele adira após o depósito do
sexagésimo instrumento de ratificação, de aceitação, de aprovação ou de adesão, o Estatuto entrará em vigor
no primeiro dia do mês seguinte ao termo de um período de 60 dias após a data do depósito do respectivo
instrumento de ratificação, de aceitação, de aprovação ou de adesão.

Artigo 127

Retirada

1. Qualquer Estado Parte poderá, mediante notificação escrita e dirigida ao Secretário-Geral da


Organização das Nações Unidas, retirar-se do presente Estatuto. A retirada produzirá efeitos um ano após a
data de recepção da notificação, salvo se esta indicar uma data ulterior.

2. A retirada não isentará o Estado das obrigações que lhe incumbem em virtude do presente Estatuto
enquanto Parte do mesmo, incluindo as obrigações financeiras que tiver assumido, não afetando também a
cooperação com o Tribunal no âmbito de inquéritos e de procedimentos criminais relativamente aos quais o
Estado tinha o dever de cooperar e que se iniciaram antes da data em que a retirada começou a produzir
efeitos; a retirada em nada afetará a prossecução da apreciação das causas que o Tribunal já tivesse começado
a apreciar antes da data em que a retirada começou a produzir efeitos.

Artigo 128

Textos Autênticos

O original do presente Estatuto, cujos textos em árabe, chinês, espanhol, francês, inglês e russo fazem
igualmente fé, será depositado junto do Secretário-Geral das Nações Unidas, que enviará cópia autenticada a
todos os Estados.

Em fé do que, os abaixo assinados, devidamente autorizados pelos respectivos Governos, assinaram o


presente Estatuto.

Feito em Roma, aos dezessete dias do mês de julho de mil novecentos e noventa e oito.
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Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 458
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 459

ÍNDICE DO CAPÍTULO III

NORMAS INTERNAS PARA CONSOLIDAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

1. PROGRAMA ESTADUAL DE DIREITOS HUMANOS (DECRETO ESTADUAL Nº


42.209, DE 15 DE SETEMBRO DE 1997)

2. PROGRAMA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS – PNDH-3 (DECRETO 7.037, DE


21 DE DEZEMBRO DE 2009)

3. LEI 13.874/2019 (DECLARAÇÃO DE DIREITOS DE LIBERDADE ECONÔMICA E


GARANTIAS DE LIVRE MERCADO)

4. LEI ESTADUAL Nº 10.948 DE 05 DE NOVEMBRO DE 2001 (DISPÕE SOBRE AS


PENALIDADES A SEREM APLICADAS À PRÁTICA DE DISCRIMINAÇÃO EM
RAZÃO DE ORIENTAÇÃO SEXUAL E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS)

5. DECRETO ESTADUAL Nº 55.589, DE 17 DE MARÇO DE 2010 (REGULAMENTA A


LEI Nº 10.948/2001)

6. LEI ESTADUAL Nº 14.187/2010 (DISPÕE SOBRE PENALIDADES


ADMINISTRATIVAS A SEREM APLICADAS PELA PRÁTICA DE ATOS DE
DISCRIMINAÇÃO RACIAL)

7. DECRETO ESTADUAL Nº 55.588 DE 17 DE MARCO DE 2010 (DISPÕE SOBRE O


TRATAMENTO NOMINAL DAS PESSOAS TRANSEXUAIS E TRAVESTIS NOS
ÓRGÃOS PÚBLICOS DO ESTADO DE SÃO PAULO E DÁ PROVIDÊNCIAS
CORRELATAS)

8. DECRETO ESTADUAL Nº 55.839, DE 18 DE MAIO DE 2010 (INSTITUI O PLANO


ESTADUAL DE ENFRENTAMENTO À HOMOFOBIA E PROMOÇÃO DA CIDADANIA
LGBTQIA+ E DÁ PROVIDÊNCIAS CORRELATAS)

9. LEI ESTADUAL Nº 17.431/2021


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 460

1. PROGRAMA ESTADUAL DE DIREITOS HUMANOS (DECRETO ESTADUAL Nº


42.209, DE 15 DE SETEMBRO DE 1997)

DECRETO Nº 42.209, DE 15 DE SETEMBRO DE 1997

Institui o Programa Estadual de Direitos Humanos, cria a Comissão Especial de Acompanhamento da


execução desse programa

MÁRIO COVAS, Governador do Estado de São Paulo, no uso de suas atribuições legais,
Considerando os compromissos do Governo do Estado de São Paulo com a consolidação da Democracia e o
respeito aos direitos humanos;

Considerando a intensa participação da sociedade civil na discussão e elaboração deste Programa;

Considerando os princípios da universalidade e indivisibilidade dos direitos humanos estabelecidos na


Conferência Internacional de Viena, de 1993, e

Considerando a necessidade de estabelecer um processo continuado de promoção dos direitos humanos e da


cidadania, em que Estado e sociedade civil interajam de forma eficaz, rumo á construção de uma sociedade
justa e solidária,

Decreta:

Artigo 1.º - Fica instituído o Programa Estadual de Direitos Humanos consubstanciado nas "Propostas de
Ações para o Governo e para a Sociedade" constantes do anexo a este decreto.

Artigo 2.º - Fica criada, junto ao Gabinete do Secretário da Justiça e da Defesa da Cidadania, Comissão
Especial de acompanhamento da execução do Programa Estadual de Direitos Humanos.

Artigo 3.º - A Comissão Especial terá por atribuição:


I - acompanhar o desenvolvimento das ações governamentais relativas ao Programa Estadual de Direitos
Humanos;
II - incentivar ações tendentes ao efetivo cumprimento do Programa;
III - elaborar relatórios anuais sobre o cumprimento do programa.

Artigo 4.º - A Comissão Especial, cujos membros terão mandato de dois anos, será composta de:
I - quatro membros de livre indicação do Governador do Estado;
II - dois representantes do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana - CONDEPE;
III - dois membros representando os demais conselhos de cidadania, indicados pela Secretaria do Governo e
Gestão Estratégica;
IV - um representante do Núcleo de Estudos da Violência - NEV da Universidade de São Paulo - USP;
V - um representante da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania;
§ 1.º - No ato de nomeação dos membros e respectivos suplentes, pelo Governador do Estado, será indicado
seu Presidente;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 461

§ 2.º - Representantes dos demais Conselhos de Cidadania e das Secretarias do Estado poderão comparecer
às sessões da Comissão Especial.
§ 3.º - A Comissão Especial e as demais Comissões referidas neste e no subseqüente artigo praticarão todos
os atos necessários ao bom desempenho de suas atribuições.
Artigo 5.º - As Secretarias de Estado e a Procuradoria Geral do Estado criarão, junto aos Gabinetes de seus
dirigentes, Comissões Internas de acompanhamento do Programa Estadual de Direitos Humanos.
Artigo 6.º - Os membros da Comissão Especial e seus respectivos suplentes, nos casos dos incisos II e III do
artigo 4.º, serão indicados ao Secretário da Justiça e da Defesa da Cidadania no prazo de 10 (dez) dias.
Artigo 7.º - As funções de membro da Comissão Especial ou das demais Comissões não serão remuneradas
a qualquer título, sendo, porém, consideradas serviço público relevante para todos os fins.
Artigo 8.º - Este decreto entrará em vigor na data de sua publicação.

Palácio dos Bandeirantes, 15 de setembro de 1997


MÁRIO COVAS
Belisário dos Santos Junior
Secretário da Justiça e da Defesa da Cidadania
Walter Feldman
Secretário-Chefe da Casa Civil
Antonio Angarita
Secretário do Governo e Gestão Estratégica
Publicado na Secretaria de Etado do Governo e Gestão Estratégica, aos 15 de setembro de 1997.

PROGRAMA ESTADUAL DE DIREITOS HUMANOS


PROPOSTAS DE AÇÕES PARA O GOVERNO E PARA A SOCIEDADE

c.f Retificação do D.O. de 16-9-97

No ANEXO, a que se refere o artigo 1º do Decreto nº 42.209, de 1997, leia-se como segue e não como
constou:

1. Construção da Democracia e Promoção dos Direitos Humanos


1.1. Educação para a Democracia e os Direitos Humanos
1. Introduzir noções de direitos humanos no currículo escolar, no ensino de primeiro, segundo e terceiro graus,
pela abordagem de temas transversais.
2. Promover cursos de capacitação de professores para ministrar disciplinas ou desenvolver programas
interdisciplinares na área de direitos humanos, em parceria com entidades não governamentais.
3. Desenvolver programas de informação e formação para profissionais do direito, policiais civis e militares,
agentes penitenciários e lideranças comunitárias, orientados pela concepção dos direitos humanos segundo a
qual o respeito à igualdade supõe também reconhecimento e valorização das diferenças entre indivíduos e
coletividades.
4. Criar comissão para elaborar e sugerir material didático e metodologia educacional e de comunicação para
a implementação dos itens imediatamente anteriores.
5. Conceder anualmente prêmios a entidades e pessoas que se destacaram na defesa dos direitos humanos.
6. Apoiar iniciativas de premiação de programas e reportagens que ampliem a compreensão da sociedade
sobre a importância do respeito aos direitos humanos.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 462

7. Promover e apoiar a promoção, nos municípios e regiões do Estado, de debates, encontros, seminários e
fóruns sobre políticas e programas de direitos humanos.
8. Promover campanhas de divulgação das normas internacionais de proteção dos direitos humanos para
operadores do direito, organizações não governamentais, igrejas, movimentos sociais e sindicais.
9. Fomentar ações de divulgação e conscientização da importância da legislação nacional pertinente às
políticas de proteção e promoção dos direitos humanos.
10. Desenvolver campanhas estaduais permanentes que ampliem a compreensão da sociedade brasileira
sobre o valor da vida humana e a importância do respeito aos direitos humanos.
11. Promover campanha publicitária sobre o 50 aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos em
1998.
12. Desenvolver campanha publicitária voltada para escolas em relação ao valor da diferença.
13. Promover concursos entre as escolas por meio de cartazes, redações, manifestações artísticas sobre o
tema da diferença.

1.2. Participação Política.


14. Desenvolver programas estaduais e apoiar programas municipais, para assegurar a todos os grupos sociais
o direito de participar na formulação e implementação de políticas públicas nas áreas de saúde, educação,
habitação, meio ambiente, segurança social, trabalho, economia, cultura, segurança e justiça.
15. Apoiar campanhas que incentivem a participação política dos vários grupos sociais, nos municípios e no
Estado.
16. Criar banco de dados sobre entidades, partidos políticos, empresas, sindicatos, escolas e outras
associações comprometidas com a promoção e proteção dos direitos humanos.

2. Direitos Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais


2.1. Direito ao desenvolvimento humano
17. Formular e implementar políticas e programas de governo para redução das desigualdades regionais,
econômicas, sociais e culturais, definindo recursos em cada secretaria estadual para o alcance dessa meta.
18. Promover, em escala municipal e regional, a integração das ações direcionadas às comunidades e grupos
mais carentes, pelas prefeituras municipais, governos estadual e federal e sociedade civil.
19. Criar um banco de dados que possibilite o direcionamento das políticas e programas de governo e a
realização de parcerias entre o Estado e a sociedade para a redução de desigualdades regionais, econômicas,
sociais e culturais.
20. Incentivar as empresas a publicar em seus balanços informações sobre realizações na área da promoção
e defesa dos direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais.

2.2. Emprego e Geração de Renda


21. Criar fórum com a participação de representantes do Executivo, Legislativo e Judiciário e da sociedade civil,
para realização de estudos visando a redução da Jornada de trabalho e o fim das horas, extras.
22. Estabelecer políticas e programas estaduais de desenvolvimento e apoiar políticas e programas municipais,
visando reduzir a pobreza em áreas urbanas e rurais por meio da provisão de infraestrutura e serviços básicos
e da geração de empregos e/ou renda para as populações carentes, redirecionando a política orçamentária
para realização destes objetivos.
23. Incentivar nos municípios a criação de programas de renda complementar.
24. Incentivar a criação de organizações sem fins lucrativos capazes de gerar emprego e/ou renda, nas áreas
urbanas e rurais, por meio de projetos de prestação de serviços à comunidade.
25. Incentivar a criação de centros de aprendizagem em que grupos carentes e pessoas desempregadas
possam desenvolver projetos de sobrevivência.
26. Incentivar a criação de micro e pequenas empresas e cooperativas capazes de gerar emprego e/ou renda,
nas áreas urbana e rural, com medidas e/ou propostas para simplificação, eliminação ou redução de suas
obrigações administrativas, tributárias e creditícias.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 463

27. Criar programas de financiamento para micro e pequenas empresas e cooperativas associados à formação
e reciclagem profissional.
28. Apoiar programas de regularização e legalização das atividades da economia informal, com instituição de
tributos condizentes com sua atividade.
29. Ampliar o atendimento ao trabalhador, multiplicando os postos para obtenção de carteira de trabalho,
formação profissional, orientação jurídica e acompanhamento das condições de saúde, higiene e segurança no
trabalho.
30. Incentivar a criação e funcionamento de comissões municipais de emprego.

2.3. Política agrária e fundiária.


31. Apoiar política e programa de ações integradas para o desenvolvimento do Pontal do Paranapanema e do
Vale do Ribeira, incluindo ações de regularizações fundiária, assentamento de trabalhadores sem-terra, com
infra-estrutura adequada para produção agrícola, ecoturismo e incentivo a outras atividades econômicas
compatíveis com a defesa do meio ambiente.
32. Apoiar formas negociadas e não violentas de resolução de conflitos fundiários.
33. Apoiar os assentamentos rurais existentes, dotando-os de infra-estrutura e promovendo treinamento
adequado à produção agrícola, além de incentivar atividades econômicas compatíveis com a defesa do meio
ambiente e criação de canais de escoamento da produção.
34. Propor lei estadual definindo a legitimação da posse de terras devolutas com até 500 hectares aos
ocupantes que atendam aos princípios da legislação agrária.
35. Dar continuidade à política de reivindicação e utilização de terras devolutas para assentamento de
trabalhadores sem terra.
36. Apoiar a identificação de áreas rurais improdutivas ou que não atendam à função social da propriedade,
para fins de reforma agrária.
37. Promover políticas e programas de abastecimento, apoiando a criação e o funcionamento de cooperativas
para aproximar os produtores rurais dos consumidores urbanos.
38. Expandir o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar em São Paulo (Pronaf-São Paulo).

2.4. Educação
39. Promover a melhoria do ensino público, por meio de programas de educação continuada dos professores,
elevação dos níveis salariais e melhoria das condições de trabalho.
40. Incentivar a participação de pais, professores e estudantes e fortalecer os conselhos de escola, as
associações de pais e mestres, os grêmios estudantis e outras entidades comunitárias.
41. Garantir o acesso, o reingresso, a permanência e o sucesso de todas as crianças e adolescentes nos
ensinos fundamental e médio, por meio de ações como implementação de classes de aceleração, recuperação
paralela e outras medidas, entre as quais a concessão de incentivo às famílias carentes que mantiverem os
filhos na escola.
42. Apoiar programas de monitoramento e eliminação da evasão escolar.
43. Promover serviços de informação, acompanhamento e apoio ao funcionamento da escola, como por
exemplo "Disque APM".
44. Valorizar associações de pais e mestres, incentivando sua participação no gerenciamento dos recursos
públicos destinados à escola.
45. Promover cursos de alfabetização para adultos.
46. Estabelecer programas de integração intersecretarias e organizações não governamentais, visando
prevenir e reduzir a incidência do uso indevido de drogas e de doenças transmissíveis.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 464

2.5. Comunicação
47. Promover ações de divulgação sobre o valor da educação, da saúde, do meio ambiente, da habitação, do
transporte e da cultura como direitos da cidadania e fatores essenciais à melhoria da qualidade de vida das
pessoas, bem-estar social e desenvolvimento econômico.
48. Criar o Conselho Estadual de Comunicação Social, com o objetivo de formular, implementar, monitorar e
avaliar a política estadual de comunicação social.
49. Desenvolver ações para proteger o direito à preservação da imagem dos cidadãos.
50. Criar uma comissão de educação e mídia, com a participação de representantes do Estado, da sociedade
e dos meios de comunicação social, para apoiar o desenvolvimento de uma perspectiva positiva no tratamento
das questões de direitos humanos na mídia, e monitorar os programas radiofônicos e televisivos para identificar
programas que contenham apologia do, ou incitação ao crime.
51. Promover a punição dos responsáveis pela transmissão de programas de rádio e televisão que contenham
apologia ou incitação ao crime, e pela aplicação das sanções cabíveis às concessionárias, na forma da lei.

2.6. Cultura e Ciência


52. Criar centro de referência de cidadania e direitos humanos, com biblioteca especializada, para
desenvolvimento de estudos e projetos sobre os temas da cidadania e direitos humanos.
53. Destinar o prédio do antigo Deops à Secretaria de Estado da Cultura para construção de espaço cultural
dedicado aos temas da cidadania e direitos humanos.
54. Apoiar programas de revalorização e criação de bibliotecas públicas, casas de cultura e oficinas culturais,
estimulando intercâmbio entre grupos da Capital e do interior do Estado.
55. Elaborar indicadores de desenvolvimento humano no Estado.
56. Promover a realização de estudos e pesquisas sobre violência, custos da violência, discriminação,
vitimização e direitos humanos.
57. Criar banco de dados sobre violações dos direitos humanos e o perfil dos autores e das vítimas de violação
a esses direitos.

2.7. Saúde
58. Incentivar, com ampla divulgação nos meios de comunicação de massa, a participação da população na
formulação e implementação de políticas públicas de saúde, por meio do Conselho Estadual de Saúde, dos
Conselhos Municipais de Saúde e de outras formas de organização da população como os Conselhos de
Bairros e as Comunidades de Saúde.
59. Apoiar programas de medicina preventiva, com equipes multidisciplinares, identificando e minimizando os
fatores de risco aos quais a população está exposta, dando prioridade ao atendimento em áreas periféricas.
60. Promover campanhas para divulgar informações sobre os fatores que afetam a saúde pública,
particularmente os que aumentam o risco de morte violenta, como o uso de armas de fogo, uso indevido de
drogas, acidentes de trânsito e acidentes de trabalho.

61. Apoiar campanhas de conscientização contra os riscos do uso do fumo e do álcool.


62. Criar o Sistema de Vigilância Epidemiológica da Violência, a ser implantado inicialmente na Região
Metropolitana de São Paulo e posteriormente em todo o Estado, com participação das secretarias de Saúde,
Segurança, da Justiça e da Defesa da Cidadania.
63. Criar o Sistema de Vigilância Epidemiológica relativo à saúde do trabalhador.
64. Incrementar o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), contemplando o atendimento
à vítima da violência doméstica e sexual. Promover ações que contribuam para aumentar a integração entre
as áreas de saúde, educação e de segurança pública, com o objetivo de limitar a incidência e o impacto da
violência contra a pessoa, e das mortes, lesões e traumas decorrentes da violência.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 465

65. Desenvolver programas com o objetivo de melhorar a qualidade do ambiente de trabalho e aumentar a
segurança e a saúde do trabalhador urbano e rural, integrando ações das áreas de saúde, emprego e relações
de trabalho, justiça e defesa da cidadania e agricultura, tendo em vista este objetivo.
66. Construir mecanismos para assegurar os direitos dos cidadãos constantes da Cartilha dos Direitos do
Paciente, elaborada pelo Conselho Estadual de Saúde em 1995.
67. Fortalecer a atuação das comissões de ética e fiscalização das atividades dos profissionais da saúde.
68. Formular políticas e desenvolver campanhas públicas para incentivar a doação de sangue.
69. Desenvolver programas de ampla divulgação, assistência e tratamento para os portadores de anemia
falciforme.
70. Adotar programas que contribuam para a melhoria do atendimento às pessoas portadoras de patologias
crônicas.
71. Apoiar programas de prevenção, assistência e tratamento à dependência de drogas.
72. Desenvolver campanhas de informação e prevenção sobre doenças sexualmente transmissíveis e
HIV/AIDS.
73. Apoiar estudos, pesquisas e programas para reduzir a incidência, morbidade e mortalidade causadas por
HIV/AIDS.
74. Apoiar a implantação de um cadastro técnico de receptores de órgãos, a cargo da Secretaria de Saúde do
Estado, que vise assegurar o princípio da igualdade. nas ações de saúde e a ordem cronológica de atendimento
de pacientes que necessitem de transplante.

2.8. Bem-Estar, Habitação e Transporte


75. Implantar os conselhos e fundos municipais da Assistência Social e elaborar pianos municipais de
assistência social com programas destinados a crianças, adolescentes, família, maternidade, idosos,
portadores de deficiência, inserção no mercado de trabalho e geração de renda, incentivando a formação de
parcerias entre organizações governamentais e da sociedade civil, e de redes municipais, regionais e estaduais.
76. Implantar políticas de complementação de renda familiar, integrada com políticas educacionais, de saúde,
de habitação, de inserção no mercado de trabalho e de geração de renda.
77. Incentivar programas municipais de orientação e apoio à família, em parceria com entidades da sociedade
civil, com o objetivo de capacitar as famílias a resolver conflitos familiares de forma não violenta, e a cumprir
suas responsabilidades de proteger e educar as crianças. responsabilidades de proteger e educar as crianças.
78. Criar, manter e apoiar programas de proteção à população em situação de rua, aí incluídos abrigo,
qualificação e requalificação profissional, orientação sócio-educativa, com o objetivo de sua reinserção social.
79. Incentivar a inclusão de orientações preventivas sobre maus-tratos na infância durante programas de
atendimento pré-natal.
80. Reativar convênio entre Secretaria da Segurança Pública e Secretaria da Criança, Família e Bem Estar
Social com o objetivo de oferecer atendimento nas delegacias de polícia, por profissionais habilitados(as) em
serviço social, a ocorrências envolvendo problemas sociais e não criminais.
81. Implantar conselhos e fundos municipais de desenvolvimento urbano, com o objetivo de democratizar a
discussão de políticas e programas de desenvolvimento urbano.
82. Apoiar medidas no âmbito municipal que visem o aumento de impostos sobre imóveis desocupados,
destinando os recursos para programas de construção e melhoria de moradias populares.
83. Apoiar medidas no âmbito estadual e municipal que visem a remuneração de cessão de próprios públicos
para clubes e entidades sem fins lucrativos, destinando os recursos para programas de assistência social.
84. Incentivar projetos de construção e melhoria das condições de moradias populares, particularmente por
meio do sistema de mutirão, inclusive com programas de capacitação técnica, organizacional e jurídica dos
integrantes de movimentos de moradias.
85. Promover a melhoria e expansão dos serviços de transporte coletivo.
86. Implantar programa de controle da poluição do sistema integrado de transportes no Estado.
87. Criar programa estadual e apoiar a criação de programas municipais de educação para a segurança no
trânsito e de prevenção de acidentes de trânsito.

2.9. Consumo e Meio Ambiente


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 466

88. Ampliar o programa de municipalização da defesa do consumidor por meio da criação e fortalecimento de
Procons municipais.
89. Apoiar o Poder Judiciário na instalação de juizados especiais para questões de direito do consumidor.
90. Aperfeiçoar a defesa de direitos dos consumidores, inclusive estabelecendo convênio entre a Fundação
Procon e a Procuradoria Geral do Estado visando a propositura de ações individuais, coletivas e ações civis
públicas para tutela daqueles direitos.
91. Implementar ações de educação para o consumo, por meio de parcerias entre a escola e órgãos de defesa
do consumidor.
92. Propor lei de defesa do usuário do serviço público.
93. Desenvolver e implementar programas permanentes de qualidade no serviço público.
94. Implantar conselhos das unidades de proteção ambiental, com representantes do Estado, prefeituras e
sociedade civil, para formulação, implementação e monitoramento de políticas e programas de proteção
ambiental.
95. Apoiar projetos de preservação, recuperação e melhoria do meio ambiente.
96. Desenvolver ações integradas entre Governo Federal, governos estaduais, governos municipais,
empresários e organizações de sociedade civil para projetos de educação ambiental e turismo
97.Promover a melhoria e garantir a qualidade do meio ambiente, por meio de programas de coleta e reciclagem
de lixo, em associação com projetos de geração de emprego e renda.
98.Criar centros de lazer, leitura e aprendizado ambiental em unidade de proteção ambiental.

3. Direitos Civis e Políticos


3.1. Acesso á Justiça e Luta Contra a Impunidade.

99. Criar ouvidorias nas secretarias de Estado, em especial nas áreas da Educação e Saúde e na Procuradoria
Geral do Estado, bem como estimular sua criação pelo Ministério Público, pelo Poder Judiciário e pelo Poder
Legislativo, garantindo aos ouvidores mandato com prazo certo.
100. Fortalecer a Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo.
101. Instalar e divulgar canais especiais de comunicação para denúncias, orientação e sugestões,
especialmente nas áreas da segurança, justiça, saúde e educação, garantindo o anonimato dos usuários.
102. Agilizar a apuração e responsabilização administrativa e judicial de agentes públicos acusados de atos de
violência e corrupção, respeitados o devido processo legal e ampla defesa.
103. Fortalecer e ampliar a atuação das corregedorias administrativas do Poder Executivo, notadamente da
Polícia Civil e Polícia Militar, do Ministério Público e do Poder Judiciário.
104. Consolidar e fortalecer o controle externo da atividade policial pelo Ministério Público, de acordo com o
artigo 127, inciso VII, da Constituição Federal.
105. Criar programa estadual de proteção a vítimas e testemunhas, bem como a seus familiares, ameaçados
em razão de envolvimento em inquérito policial e/ou processo judicial, em parceria com a sociedade civil.
106. Garantir indenização às vítimas de violência praticada por agentes públicos.
107. Criar programas de assistência aos herdeiros e dependentes carentes de pessoas vitimadas por crimes
dolosos, nos termos do Artigo 245 da Constituição Federal.
108. Estimular a solução pacífica de conflitos, criando e fortalecendo na periferia das grandes cidades centros
de integração da cidadania, com participação do Poder Judiciário, Ministério Público, Procuradoria de
Assistência Judiciária, Polícia Civil, Polícia Militar, PROCON, outros órgãos governamentais de atendimento
social, de geração de renda, de prevenção de doenças, entre outros, e ampla participação da sociedade civil.
109. Promover cursos de capacitação na defesa dos direitos humanos e cidadania, endereçados a lideranças
populares.
110. Estimular a criação de núcleos municipais de defesa da cidadania, incluindo a prestação de serviços
gratuitos de assistência jurídica, mediação de conflitos coletivos e requisição de documentos básicos para a
população carente, com a participação de advogados, professores e estudantes, em integração com órgãos
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 467

públicos.
111. Expandir, modernizar e informatizar os serviços de distribuição de justiça para melhorar o sistema de
proteção e promoção dos direitos humanos.
112. Realizar gestões junto aos Poderes Legislativo e Judiciário para aprovação da lei estadual regulamentando
os juizados especiais cíveis e criminais, a fim de que sejam efetivamente implantados no Estado.
113. Apoiar o estabelecimento e funcionamento de plantões permanentes do Poder Judiciário, Ministério
Público, Procuradoria de Assistência Judiciária e Delegacias de Polícia.
114. Estimular o debate sobre a reorganização do Judiciário e Ministério Público, para melhor atender às
demandas da população.
115. Estimular a criação e o funcionamento, no Ministério Público, de promotorias especializadas na defesa da
cidadania e direitos humanos.
116. Estimular a criação e o funcionamento de mecanismos que permitam agilizar o julgamento de casos de
graves violações de direitos humanos.
117. Criar um Centro de Direitos Humanos na Procuradoria Geral do Estado de São Paulo.
118. Expandir e melhorar o atendimento às pessoas necessitadas de assistência judiciária.
119. Apoiar iniciativa de extinção da Justiça Militar dos Estados, com atribuição á Justiça comum da
competência para julgamento de todos os crimes cometidos por policiais militares.
120. Apoiar o projeto de lei que tipifica crime contra os direitos humanos.
121. Pugnar em favor do reconhecimento, pelo Brasil, da competência da Corte Interamericana de Direitos
Humanos, nos termos do artigo 62 da Declaração Americana de Direitos Humanos.

3.2. Segurança do Cidadão e Medidas Contra a Violência


122. Apoiar programas e campanhas de prevenção á violência contra pessoas e grupos em situação de alto
risco, particularmente crianças e adolescentes, idosos, mulheres, negros, indígenas, migrantes, homossexuais,
transexuais, trabalhadores sem-terra, trabalhadores sem-teto, da população em situação de rua, incluindo
policiais e seus familiares ameaçados em razão da natureza da sua atividade.
123. Criar programa específico para prevenção e repressão á violência doméstica e implementação do Estatuto
da Criança e do Adolescente, na parte de assistência a famílias, crianças e adolescentes em situação de risco,
com a participação de organizações da sociedade civil e do Governo, particularmente das delegacias de defesa
da mulher, ampliando e fortalecendo serviços de atendimento e investigação de casos de violência doméstica.
124. Integrar os sistemas de informação e comunicação das polícias civil e militar.
125. Coordenar e integrar as ações das polícias civil e militar.
126. Elaborar um mapa de risco de violência no Estado, por região e município.
127. Criar cursos regulares para capacitação em gerenciamento de crise e negociação em conflitos coletivos,
dedicados a profissionais ligados as áreas de segurança e justiça.
128. Desenvolver programas e campanhas para impedir o trabalho forçado, sobretudo de crianças,
adolescentes e migrantes, particularmente por meio da criação nas secretarias de Emprego e Relações do
Trabalho, da Criança, Família e Bem Estar Social e Segurança Pública, de áreas especializadas na prevenção
e repressão ao trabalho forçado.
129. Valorizar os conselhos comunitários de segurança, dotando-os de maior autonomia e representatividade,
para que eles possam servir efetivamente como centros de acompanhamento e monitoramento das atividades
das polícias civil e militar pela comunidade e como mecanismos para melhorar a integração e cooperação entre
as polícias civil e militar e a sociedade.
130. Incentivar a realização de experiências de polícia comunitária, definindo não apenas a manutenção da
ordem pública e a incolumidade das pessoas e do patrimônio mas também e principalmente a defesa dos
direitos de cidadania e da dignidade da pessoa humana como missões prioritárias das policias civil e militar.
131. Ampliar a atuação das polícias, orientando-as principalmente para as áreas de maior risco de violência,
por meio do aumento e redistribuição do efetivo policial em função do risco de violência nas regiões e municípios
do Estado.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 468

132. Fortalecer o Instituto de Criminalística e o Instituto Médico Legal, adotando medidas que assegurem a sua
excelência técnica e progressiva autonomia, por meio da instalação da Superintendência de Polícia Técnico-
Científica, com orçamento próprio.
133. Incentivar a criação de fundo da polícia, para obtenção de recursos e realização de investimentos na área
da segurança pública.
134. Aperfeiçoar critérios para seleção e promoção de policiais, de forma a valorizar e incentivar o respeito a
lei, o uso limitado da força, a defesa dos direitos dos cidadãos e da dignidade humana no exercício da atividade
policial.
135. Apoiar programas de aperfeiçoamento profissional de policiais militares e civis por meio da concessão de
bolsas de estudo e intercâmbio de experiências com polícias de outros países para fortalecer estratégias de
policiamento condizentes com o respeito a lei, uso limitado da força, defesa dos direitos dos cidadãos e da
dignidade humana.
136. Apoiar a realização de cursos de direitos humanos para policiais em todos os níveis da hierarquia policial.
137. Dar continuidade ao programa de seguro de vida especial para policiais.
138. Apoiar projeto de lei federal agravando as penas para crimes dolosos, praticados por policiais ou contra
policiais, no exercício de suas funções.
139. Dar continuidade ao Programa de Acompanhamento dos Policiais Envolvidos em Ocorrência de Alto Risco,
da Secretaria de Segurança Pública, que afasta do policiamento de rua os policiais envolvidos em ocorrências
que tenham como resultado a morte de civis, obrigando-os a realizar cursos de reciclagem.
140. Regulamentar e aumentar o controle sobre o uso de armas e munições por policiais em serviço e nos
horários de folga, exigindo a elaboração de relatório sobre cada ocorrência de disparo de arma de fogo.
141. Desenvolver e apoiar programas e campanhas de desarmamento, com apreensão de armas ilegais, a fim
de implementar no Estado a lei federal que criminaliza a posse e o porte ilegal de armas.
142. Apoiar o aperfeiçoamento da legislação que regulamenta os serviços privados de segurança.
143. Elaborar indicadores básicos para monitoramento e avaliação de políticas de segurança pública e do
funcionamento do Poder Judiciário e do Ministério Público.
144. Rever os regulamentos disciplinares das polícias, notadamente o da Polícia Militar, compatibilizando-os à
ordem constitucional vigente.
134. Organizar seminário estadual para policiais sobre educação em direitos humanos.

3.3. Sistema prisional e ressocialização.


146. Desenvolver parcerias entre Estado e entidades da sociedade civil para o aperfeiçoamento do
funcionamento do sistema penitenciário e para a proteção dos direitos de cidadania e da dignidade do preso.
147. Incentivar a aplicação de penas alternativas pelo Poder Judiciário, contribuindo para a melhor reintegração
dos condenados à sociedade.
148. Desenvolver programas de identificação de postos de trabalho para cumprimento da pena de prestação
de serviços à comunidade, por meio de parcerias entre órgãos públicos e sociedade civil.
149. Apoiar o Projeto de Lei 2.684/96, em tramitação no Congresso Nacional, que trata das penas alternativas.
150. Incentivar a criação dos conselhos comunitários para supervisionar o funcionamento das prisões, nos
termos da Lei de Execução Penal e exigir visitas mensais de juízes e promotores para verificar as condições
do sistema penitenciário.
151. Construir novas unidades para o regime semiaberto, incentivando o cumprimento de penas nesse sistema
e no regime aberto, no termos da Lei de Execução Penal.
152. Criar grupo de trabalho, destinado a propor ações urgentes para melhorar o funcionamento da Vara de
Execuções Criminais, com a participação de representantes do Poder Judiciário, Ministério Público,
Procuradoria do Estado, Secretarias de Administração Penitenciária e Segurança Pública, OAB e organizações
da sociedade civil.
153. Criar as condições necessárias ao cumprimento da Lei de Execução Penal, no que toca à classificação
de presos para individualização da execução da pena, com a contratação e capacitação de profissionais para
elaborar e acompanhar programas de ressocialização e reeducação de presos, em parceria com entidades não
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 469

governamentais.
154. Aperfeiçoar o tratamento prisional da mulher em razão de suas especificidades, garantindo
progressivamente a alocação de agentes femininas para vistoria e guarda dos pavilhões e a realização de
visitas íntimas e familiares.
155. Instituir a Ouvidoria do Sistema Penitenciário.
156. Expandir e fortalecer a assistência judiciária ao preso.
157. Desenvolver programas de informatização do sistema penitenciário e integração com o Ministério Público
e o Poder Judiciário, para agilizar a execução penal.
158. Garantir acesso aos mapas da população de presos no sistema penitenciário, das cadeias públicas e
distritos policiais, a fim de permitir monitoramento da relação entre número de vagas e número de presos no
sistema.
159. Garantir a separação dos presos por tipo de delito e entre presos condenados e provisórios.
160. Prever mecanismos de defesa técnica para presos acusados em processos disciplinares.
161. Agilizar o exame de corpo de delito nos casos de denúncia de violação à integridade física do preso.
162. Aperfeiçoar a formação e reciclagem dos diretores e agentes do sistema penitenciário, de acordo com as
normas para seleção e formação de pessoal penitenciário da ONU e OEA.
163. Criar Escola Estadual Penitenciária.
164. Implementar os procedimentos do Manual de Segurança Física das Unidades Prisionais em todo o sistema
prisional do Estado.
165. Apoiar o trabalho do grupo de negociadores, que tem por objetivo a resolução pacífica de incidentes
prisionais e elaborar manual com regras mínimas para tratamento de rebeldes no sistema penitenciário.
166. Adotar providências que permitam a desativação do complexo do Carandiru, vinculando os recursos
obtidos com a negociação da área à construção de novas unidades prisionais nos termos das regras mínimas
fixadas pela ONU.
167. Criar condições para absorção pelo sistema penitenciário dos presos condenados e recolhidos nos distritos
policiais e cadeias públicas do Estado.
168. Facilitar o acesso dos presos a educação, ao esporte e a cultura, fortalecendo projetos como Educação
Básica, Educação pela Informática, Telecurso 2000, Teatro nas Prisões e Oficinas Culturais, privilegiando
parcerias com organizações não governamentais e universidades.
169. Promover programas de capacitação técnico-profissionalizante para os presos, possibilitando sua
reinserção profissional nas áreas urbanas e rurais, privilegiando parcerias com organizações não
governamentais e universidades.
170. Desenvolver programas visando a absorção pelo mercado de trabalho de egressos do sistema
penitenciário e de presos em regime aberto e semiaberto, privilegiando parcerias com organizações não
governamentais.
171. Apoiar propostas legislativas para estender ao trabalhador preso os direitos do trabalhador livre, incluindo
a sua integração à Previdência Social, ressalvadas apenas as restrições inerentes à sua condição.
172. Aperfeiçoar o atendimento da saúde no sistema penitenciário, inclusive estabelecendo convênios entre
Governo Estadual e governos municipais para garantir assistência médica e hospitalar aos presos.
173. Realizar o monitoramento epidemiológico da população carcerária.

3.4. Promoção da Cidadania e Medidas contra a Discriminação


174. Apoiar propostas legislativas coibindo todo tipo de discriminação, com base em origem, raça, etnia, sexo,
idade, credo religioso, convicção política, orientação ou identidade sexual, deficiência física ou mental e
doenças, e revogar normas discriminatórias na legislação infraconstitucional, para reforçar e consolidar a
proibição de práticas discriminatórias previstas na Constituição Federal.
175. Formular e implementar políticas, programas e campanhas para eliminação da discriminação, em
particular na educação, saúde, trabalho e meios de comunicação social.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 470

176. Desenvolver programas permanentes de treinamento do servidor público, para habilitá-lo a tratar
adequadamente a diversidade social e a identificar e combater práticas discriminatórias.
177. Criar canais de acesso direto e regular da população a informações e documentos governamentais.
178. Instalar centrais de atendimento ao cidadão (como, por exemplo, o "Poupatempo"), reunindo e oferecendo
à população serviços de diversos órgãos públicos.
179. Lançar campanha estadual, envolvendo todos os municípios, com o objetivo de dotar gratuitamente a
população carente dos documentos básicos de cidadania, tais como certidão de nascimento, carteira de
identidade, carteira de trabalho, título de eleitor e certificado de alistamento militar (ou certificado de reservista
ou de dispensa da incorporação).
180. Instalação, no âmbito da Secretaria de Emprego e Relações de Trabalho, de uma Câmara Permanente
de Promoção da Igualdade, para elaboração de diagnósticos e formulação de políticas, programas e
campanhas de promoção da igualdade no trabalho.

3.5. Crianças e Adolescentes


181. Implementar campanhas para proteção e promoção dos direitos da criança e do adolescente, com base
em diretrizes estaduais e nacionais, e priorizando os temas da violência, abuso e assédio sexual, prostituição
infanto-juvenil, erradicação do trabalho infantil, proteção do adolescente trabalhador, violência doméstica e uso
indevido de drogas.
182. Manter e incrementar infra-estrutura para o adequado funcionamento do Conselho Estadual dos Direitos
da Criança e do Adolescente, e incentivar a criação e funcionamento dos Conselhos Municipais de Direitos,
Conselhos Tutelares e Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente.
183. Incentivar a captação de recursos privados para os Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente.
184. Elaborar plano estadual e incentivar a elaboração de planos municipais de proteção dos direitos da criança
e do adolescente, por meio de parcerias entre organizações governamentais e da sociedade civil.
185. Manter programas de capacitação de profissionais encarregados da execução da política de promoção e
defesa de direitos da criança e do adolescente.
186. Divulgar amplamente o Estatuto da Criança e do Adolescente nas escolas estaduais.
187. Erradicar o trabalho infantil no Estado e proteger os direitos do adolescente trabalhador, adotando normas
que incentivem o cumprimento dos termos do artigo 7.º, inciso XXXIII, da Constituição Federal.
188. Desenvolver programa de combate à exploração sexual infanto-juvenil.
189. Ampliar programas de prevenção à gravidez precoce e atendimento a adolescentes grávidas.
190. Desenvolver programa de capacitação profissional dirigido a adolescentes e jovens de 14 a 21 anos,
prioritariamente para aqueles em situação de risco social, de acordo com os princípios do Estatuto da Criança
e do Adolescente.
191. Desenvolver oficinas culturais e cursos de música, teatro, artes plásticas, dirigidos para crianças e
adolescentes, particularmente aqueles internados em unidades da Febem.
192. Garantir orientação jurídica e assistência judiciária especializada nos processos de conhecimento e
execução, em que sejam interessados crianças ou adolescentes.
193. Criar programas de orientação jurídica e assistência judiciária para famílias de adolescentes autores de
ato infracional.
194. Apoiar a criação e funcionamento de varas, promotorias e delegacias especializadas em infrações penais
envolvendo crianças e adolescentes.
195. Incentivar programas de integração da criança e do adolescente à família e à comunidade, e de guarda,
tutela e adoção de crianças e adolescentes, órfãos ou abandonados.
196. Reorganizar e regionalizar os estabelecimentos destinados à internação de adolescentes autores de ato
infracional, de acordo com as regras previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente, com participação da
comunidade.
197. Desenvolver ação integrada do Poder Executivo com o Poder Judiciário e Ministério Público,
aperfeiçoando o sistema de aplicação de medidas sócio-educativas aos adolescentes autores de ato
infracional.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 471

198. Priorizar programas que privilegiem a aplicação de medidas sócio-educativas não privativas da liberdade
para adolescentes autores de ato infracional.
199. Estabelecer um sistema estadual de monitoramento da situação da criança e do adolescente, com atenção
particular para a identificação e localização de crianças, adolescentes e familiares desaparecidos, combate à
violência contra a criança e o adolescente, e atendimento aos autores de ato infracional.
200. Criar e manter programas de nutrição e prevenção à mortalidade de crianças e adolescentes.
201. Manter programas sócio-educativos de atendimento à criança e ao adolescente em meio aberto, como
creches, centros de juventude, em apoio à família e à escola.
202. Manter programas de atendimento a crianças e adolescentes em situação de rua, oferecendo condições
de socialização, reintegração à família, educação, lazer, cultura, profissionalização e trabalho, e resgate integral
da cidadania.

3.6. Mulheres
203. Apoiar o Conselho Estadual da Condição Feminina e incentivar a criação de conselhos municipais de
defesa dos direitos da mulher.
204. Incrementar parcerias com organizações da sociedade civil, com a participação dos conselhos estadual e
municipais, para formular e monitorar políticas e programas de governo para a defesa dos direitos da mulher.
205. Incentivar a participação das mulheres na política e na administração pública em todos os níveis.
206. Criar, manter e apoiar programas de combate à violência contra a mulher, priorizando as casas-abrigo e
os centros integrados de atendimento às mulheres vítimas ou sob risco de violência, por meio de parcerias
entre Governo Estadual, governos municipais e organizações da sociedade civil, em observância à Convenção
Interamericana para Erradicar, Prevenir e Combater a Violência Contra a Mulher.
207. Aprimorar o funcionamento e expansão da rede de delegacias da mulher.
208. Apoiar os serviços de defesa dos direitos da mulher, tais como o Centro de Orientação Jurídica e
Encaminhamento da Mulher - Coje, da Procuradoria Geral do Estado.
209. Apoiar o aperfeiçoamento de normas de prevenção da violência e discriminação contra a mulher, incluindo
a questão do assédio sexual.
210. Apoiar a revogação de normas discriminatórias ainda existentes na legislação infraconstitucional, em
particular as normas do Código Civil Brasileiro.
211. Apoiar a regulamentação do artigo 7.º, inciso XX, da Constituição Federal, por meio da formulação e
implementação de leis e programas estaduais para proteção da mulher no mercado de trabalho nas áreas
urbana e rural.
212. Assegurar a implementação da Lei n.º 9.029/95, que protege as mulheres contra a discriminação em razão
de gravidez.
213. Divulgar na esfera estadual os documentos internacionais de proteção dos direitos das mulheres
ratificados pelo Brasil.
214. Divulgar e implementar a Convenção Paulista sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação
Contra a Mulher, assinada em 1992.
215. Desenvolver pesquisas e divulgar informações sobre a violência e discriminação contra a mulher e sobre
as formas de proteção e promoção de seus direitos.

3.7. População Negra


216. Apoiar o Conselho Estadual da Comunidade Negra e incentivar a criação de conselhos municipais da
comunidade negra.
217. Promover o acesso da população negra ao mercado de trabalho e ao serviço público, por meio da adoção
de ações afirmativas e programas para profissionalização, treinamento e reciclagem dirigidos à população
negra.
218. Divulgar as convenções internacionais, os dispositivos da Constituição Federal e a legislação
infraconstitucional que tratem da discriminação racial.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 472

219. Revogar normas discriminatórias ainda existentes na legislação infra-constitucional e aperfeiçoar normas
de combate à discriminação racial.
220. Apoiar políticas que promovam a comunidade negra econômica, social e politicamente.
221. Desenvolver ações afirmativas para ampliar o acesso e permanência da população negra na rede pública
e particular de ensino, notadamente em cursos profissionalizantes e universidades.
222. Desenvolver campanhas de combate a discriminação racial e valorização da pluralidade étnica do Brasil.
223. Implementar a Convenção sobre a Eliminação da Discriminação Racial no Ensino.
224. Incluir no currículo de 1.º e 2.º graus a história e a cultura da comunidade negra no Brasil.
225. Desenvolver programas que assegurem a igualdade de oportunidade e tratamento nas políticas culturais
do Estado, particularmente na rede pública e privada de ensino, no que se refere ao fomento à produção cultural
e a preservação da memória da comunidade negra no Brasil.
226. Mapear e promover os atos necessários ao tombamento de sítios e documentos de importância histórica
para a comunidade negra.
227. Promover a titulação definitiva das terras das comunidades remanescentes de quilombos, nos termos do
artigo 68 do Ato das Disposições Transitórias da Constituição Federal, bem como apoiar programas que
propiciem o desenvolvimento econômico e social das comunidades.
228. Desenvolver pesquisas e divulgar informações sobre a violência e discriminação contra a população negra
e sobre as formas de proteção e promoção de seus direitos.
229. Incluir o quesito "cor" em todos os sistemas de informação e registro sobre a população e bancos de dados
públicos.

3.8. Povos Indígenas


230. Apoiar políticas de proteção e promoção dos direitos dos povos indígenas que, ao mesmo tempo,
respeitem os princípios da Convenção sobre Diversidade Biológica.
231. Garantir aos povos indígenas assistência de saúde por meio de programas diferenciados, com atenção à
especificidade de cada povo.
232. Garantir aos povos indígenas educação escolar diferenciada, respeitando seu universo sócio-cultural.
233. Promover a divulgação de informações sobre os indígenas e seus direitos, principalmente nos meios de
comunicação e escolas, como medida de combate a discriminação e a violência contra os povos indígenas e
suas culturas.
234. Apoiar as comunidades indígenas no desenvolvimento de projetos auto-sustentáveis do ponto de vista
econômico, ambiental e cultural.
235. Apoiar os serviços de orientação jurídica e assistência judiciária aos povos indígenas.
236. Apoiar a demarcação de terras para as comunidades indígenas do Estado.
237. Organizar levantamento da situação atual de saúde dos povos indígenas no Estado e desenvolver ações
emergenciais nesta área, em colaboração com o Governo Federal.
238. Colaborar com o Governo Federal na assistência emergencial às comunidades indígenas mais vulneráveis
no Estado.

3.9. Refugiados, Migrantes Estrangeiros e Brasileiros


239. Apoiar o aperfeiçoamento da Lei de Estrangeiros, de forma a garantir os direitos de cidadania dos
estrangeiros que vivem no Brasil, incluindo os direitos de trabalho, educação, saúde e moradia.
240. Apoiar propostas para anistiar e/ou regularizar a situação dos estrangeiros clandestinos e irregulares,
dando-lhes plenas condições de exercício dos seus direitos.
241. Apoiar a ratificação da Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos dos Trabalhadores
Migrantes e suas Famílias.
242. Aprofundar o debate sobre os direitos dos migrantes no Mercosul e apoiar acordos bilaterais para proteção
e promoção dos direitos dos migrantes.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 473

243. Garantir a implementação da Resolução Estadual SE-10, de 1995, que garante o acesso à escola para
crianças estrangeiras, certificado de conclusão de curso e histórico escolar.
244. Apoiar os serviços gratuitos de orientação jurídica e assistência judiciária aos refugiados e migrantes.
245. Apoiar estudos, pesquisas e discussão dos problemas dos trabalhadores migrantes e suas famílias.
246. Criar e incentivar projetos de assistência e de qualificação profissional e fixação territorial da população
migrante.

3.10. Terceira Idade


247. Apoiar a formulação e implementação da Política Nacional do Idoso.
248. Formular uma Política Estadual do Idoso, em conformidade com a Política Nacional, para garantir aos
cidadãos com mais de sessenta anos as condições necessárias para pleno exercício dos direitos de
cidadania.
249. Apoiar a criação e fortalecimento de conselhos municipais e associações de defesa dos direitos do
idoso.
250. Desenvolver e apoiar programas de escolarização e atividades laborativas para pessoas idosas, de
eliminação da discriminação nos locais de trabalho e de inserção destas pessoas no mercado de trabalho.
251. Apoiar programas de preparo das pessoas idosas para a aposentadoria.
252. Garantir atendimento prioritário as pessoas idosas em todas as repartições públicas.
253. Apoiar programas de capacitação de profissionais que trabalham com os idosos.
254. Apoiar programas de orientação de servidores públicos civis e militares no atendimento aos idosos.
255. Facilitar o acesso das pessoas idosas a cinemas, teatros, shows de música e outras formas de lazer
público.
256. Conceder passe livre e precedência de acesso aos idosos em todos os sistemas de transporte público
urbano e interurbano.
257. Incentivar a modificação dos degraus dos ônibus, para facilitar o acesso das pessoas idosas.
258. Apoiar programas de assistência aos idosos visando a sua integração a familia e a sociedade e
incentivando seu atendimento no seu próprio ambiente.
259. Apoiar a criação e funcionamento de centros de convivência para pessoas idosas.
260. Estudar formas de garantir moradia aos idosos desabrigados, com moradia precária e sem condições de
pagar aluguel.
261. Garantir o atendimento preferencial ao idoso no sistema público de saúde.
262. Garantir assistência preferencial médica e odontológica e fornecimento de remédios aos idosos carentes
e internados em residências para idosos.
263. Pugnar pela humanização dos asilos, inclusive promovendo visitas regulares do Conselho Estadual do
Idoso às residências para idosos, para verificar as condições de funcionamento.
264. Apoiar a criação da Curadoria do Idoso, no âmbito do Ministério Público.
265. Apoiar programas de estudo e pesquisa sobre a situação dos idosos com vistas ao mapeamento da
situação dos idosos no Estado.
266. Incentivar à criação de cooperativas, microempresas e outras formas de geração de rendas para o
idoso.
267. Criar e incentivar a criação de núcleos de atendimento-dia à terceira idade, com atividades físicas,
laborativas, recreativas e associativas.
268. Criar e incentivar programas de lazer e turismo para a população idosa.
269. Apoiar a "Universidade para a Terceira Idade".
270. Criar programas especiais de aluguel social para idosos de baixa renda.

3.11. Pessoas Portadoras de Deficiência

271. Apoiar o Conselho Estadual para Assuntos da Pessoa Portadora de Deficiência e incentivar a criação de
conselhos municipais de defesa dos direitos das pessoas portadoras de deficiência.
272. Implementar políticas e programas de proteção dos direitos das pessoas portadoras de deficiência e de
sua integração plena à vida familiar e comunitária, priorizando o atendimento à pessoa portadora de deficiência
em sua residência e em serviços comuns de saúde, educação, trabalho, serviço social e facilitando o acesso a
serviços especializados e programas de complementação de renda.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 474

273. Formular e/ou apoiar normas relativas ao acesso do portador de deficiência ao mercado de trabalho e ao
serviço público, bem como incentivar programas de educação e treinamento profissional que contribuam para
a eliminação da discriminação.
274. Criar incentivos para aquisição e adaptação de equipamentos que permitam o emprego de trabalhadores
portadores de deficiência física.
275. Promover campanha educativa visando a integração da pessoa portadora de deficiência a sociedade, a
eliminação de todas as formas de discriminação, com a divulgação de legislação sobre os seus direitos.
276. Assegurar aos portadores de deficiência oportunidades de educação em ambientes inclusivos, sempre
que suas condições o permitam.
277. Facilitar o acesso de pessoas portadoras de deficiência aos serviços de informação, documentação e
comunicação social.
278. Desenvolver programas de remoção de barreiras físicas que impeçam ou dificultem a locomoção das
pessoas portadoras de deficiência, garantindo a observância das normas técnicas de acessibilidade (ABNT
9.050/94) por todos os órgãos públicos responsáveis pela elaboração e aprovação de projetos de obras.
279. Garantir atendimento prioritário ao portador de deficiência em todos os serviços públicos.
280. Implementar políticas que contribuam para a melhoria do atendimento aos portadores de deficiência
mental, por meio da regularização do trabalho abrigado, estímulo ao trabalho em meio aberto e construção de
moradias devidamente equipadas e com pessoal capacitado.
281. Apoiar programas de estudo e pesquisa sobre a situação das pessoas portadoras de deficiência para
mapeamento da sua situação no Estado.
282. Publicar guia de serviços públicos estaduais voltados a pessoa portadora de deficiência.
283. Coordenar a execução de um levantamento estatístico no Estado procurando identificar a quantidade e
especificidades das deficiências existentes.
284. Apoiar programas de lazer, esporte e turismo, artísticos e culturais, voltados à pessoa portadora de
deficiência.
285. Regulamentar a Lei Complementar estadual n.º 683/92, que dispõe sobre reserva nos concursos públicos
de cargos e empregos para pessoas portadoras de deficiência.

3.12. Homossexuais e Transexuais


286. Apoiar campanha pela inserção na Constituição Federal e na Constituição Estadual de dispositivo
proibindo expressamente a discriminação por orientação e identidade sexual.
287. Apoiar programas de coleta e divulgação de informação junto a organizações governamentais e da
sociedade civil sobre a questão da homossexualidade e transexualidade, e da violência e discriminação contra
gays, lésbicas, travestis e profissionais do sexo.
288. Pugnar pelo julgamento e punição dos autores de crimes motivados por discriminação centrada na
orientação ou identidade sexual.
289. Apoiar a criação e funcionamento de casas abrigo para adolescentes expulsos de casa por sua orientação
ou identidade sexual.
290. Adotar medidas visando coibir a discriminação com base em orientação e identidade sexual dentro do
serviço público.

4. Implementação e Monitoramento de Políticas de Direitos Humanos


291. Criar núcleo formado por representantes do Governo do Estado, da sociedade civil (Conselho Estadual de
Defesa dos Direitos da Pessoa Humana e Conselhos de Defesa da Cidadania) e da Universidade (Núcleo de
Estudos da Violência da Universidade de São Paulo) para coordenar e monitorar a implementação do Programa
Estadual de Direitos Humanos e elaborar relatórios anuais sobre a situação dos direitos humanos e a
implementação do Programa Estadual de Direitos Humanos em São Paulo, a partir de relatórios parciais
elaborados pelas Secretarias de Estado.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 475

292. Acompanhar e apoiar as prefeituras municipais no cumprimento das obrigações mínimas de proteção e
promoção dos direitos humanos.
293. Estabelecer acordos entre o Governo Estadual, governos municipais e organizações da sociedade civil,
para formação e capacitação de agentes da cidadania, para atuar na formulação, implementação e
monitoramento de políticas de direitos humanos e em particular do PEDH.
294. Assegurar a ampla divulgação e distribuição do Programa Estadual de Direitos Humanos no Estado, por
todos os meios de difusão.
295. Apoiar o funcionamento do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana e dos
Conselhos Estaduais de Defesa da Cidadania.
296. Apoiar a criação e o funcionamento de conselhos municipais de defesa dos direitos humanos e de defesa
da cidadania.
297. Incentivar a elaboração de programas municipais de direitos humanos.
298. Apoiar o funcionamento da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa.
299. Apoiar a criação e o funcionamento de comissões de direitos humanos nas câmaras municipais.
300. Incentivar a formação de parcerias entre Estado e sociedade na formulação, implementação,
monitoramento e avaliação de políticas e programas de direitos humanos.
301. Elaborar indicadores básicos para monitoramento e avaliação de políticas de direitos humanos e da
qualidade de programas/projetos relativos aos direitos humanos.
302. Elaborar indicadores básicos para monitoramento e avaliação de políticas de segurança pública e do
funcionamento do Judiciário e do Ministério Público.
303. Divulgar anualmente as iniciativas do Governo do Estado, órgão por órgão, no cumprimento do Programa
Estadual de Direitos Humanos.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 476

2. PROGRAMA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS – PNDH-3 (DECRETO 7.037, DE


21 DE DEZEMBRO DE 2009)

DECRETO Nº 7.037, DE 21 DE DEZEMBRO DE 2009.

Aprova o Programa Nacional de Direitos Humanos - PNDH-3 e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso VI, alínea “a”, da
Constituição,

DECRETA:

Art. 1o Fica aprovado o Programa Nacional de Direitos Humanos - PNDH-3, em consonância com as diretrizes,
objetivos estratégicos e ações programáticas estabelecidos, na forma do Anexo deste Decreto.

Art. 2o O PNDH-3 será implementado de acordo com os seguintes eixos orientadores e suas respectivas
diretrizes:

I - Eixo Orientador I: Interação democrática entre Estado e sociedade civil:

a) Diretriz 1: Interação democrática entre Estado e sociedade civil como instrumento de fortalecimento da
democracia participativa;

b) Diretriz 2: Fortalecimento dos Direitos Humanos como instrumento transversal das políticas públicas e de
interação democrática; e

c) Diretriz 3: Integração e ampliação dos sistemas de informações em Direitos Humanos e construção de


mecanismos de avaliação e monitoramento de sua efetivação;

II - Eixo Orientador II: Desenvolvimento e Direitos Humanos:

a) Diretriz 4: Efetivação de modelo de desenvolvimento sustentável, com inclusão social e econômica,


ambientalmente equilibrado e tecnologicamente responsável, cultural e regionalmente diverso, participativo e
não discriminatório;

b) Diretriz 5: Valorização da pessoa humana como sujeito central do processo de desenvolvimento; e

c) Diretriz 6: Promover e proteger os direitos ambientais como Direitos Humanos, incluindo as gerações futuras
como sujeitos de direitos;

III - Eixo Orientador III: Universalizar direitos em um contexto de desigualdades:

a) Diretriz 7: Garantia dos Direitos Humanos de forma universal, indivisível e interdependente, assegurando a
cidadania plena;

b) Diretriz 8: Promoção dos direitos de crianças e adolescentes para o seu desenvolvimento integral, de forma
não discriminatória, assegurando seu direito de opinião e participação;

c) Diretriz 9: Combate às desigualdades estruturais; e

d) Diretriz 10: Garantia da igualdade na diversidade;


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 477

IV - Eixo Orientador IV: Segurança Pública, Acesso à Justiça e Combate à Violência:

a) Diretriz 11: Democratização e modernização do sistema de segurança pública;

b) Diretriz 12: Transparência e participação popular no sistema de segurança pública e justiça criminal;

c) Diretriz 13: Prevenção da violência e da criminalidade e profissionalização da investigação de atos


criminosos;

d) Diretriz 14: Combate à violência institucional, com ênfase na erradicação da tortura e na redução da
letalidade policial e carcerária;

e) Diretriz 15: Garantia dos direitos das vítimas de crimes e de proteção das pessoas ameaçadas;

f) Diretriz 16: Modernização da política de execução penal, priorizando a aplicação de penas e medidas
alternativas à privação de liberdade e melhoria do sistema penitenciário; e

g) Diretriz 17: Promoção de sistema de justiça mais acessível, ágil e efetivo, para o conhecimento, a garantia
e a defesa de direitos;

V - Eixo Orientador V: Educação e Cultura em Direitos Humanos:

a) Diretriz 18: Efetivação das diretrizes e dos princípios da política nacional de educação em Direitos Humanos
para fortalecer uma cultura de direitos;

b) Diretriz 19: Fortalecimento dos princípios da democracia e dos Direitos Humanos nos sistemas de educação
básica, nas instituições de ensino superior e nas instituições formadoras;

c) Diretriz 20: Reconhecimento da educação não formal como espaço de defesa e promoção dos Direitos
Humanos;

d) Diretriz 21: Promoção da Educação em Direitos Humanos no serviço público; e

e) Diretriz 22: Garantia do direito à comunicação democrática e ao acesso à informação para consolidação de
uma cultura em Direitos Humanos; e

VI - Eixo Orientador VI: Direito à Memória e à Verdade:

a) Diretriz 23: Reconhecimento da memória e da verdade como Direito Humano da cidadania e dever do Estado;

b) Diretriz 24: Preservação da memória histórica e construção pública da verdade; e

c) Diretriz 25: Modernização da legislação relacionada com promoção do direito à memória e à verdade,
fortalecendo a democracia.

Parágrafo único. A implementação do PNDH-3, além dos responsáveis nele indicados, envolve parcerias com
outros órgãos federais relacionados com os temas tratados nos eixos orientadores e suas diretrizes.

Art. 3o As metas, prazos e recursos necessários para a implementação do PNDH-3 serão definidos e
aprovados em Planos de Ação de Direitos Humanos bianuais.

Art. 5o Os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e os órgãos do Poder Legislativo, do Poder Judiciário e
do Ministério Público, serão convidados a aderir ao PNDH-3.

Art. 6o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 478

Art. 7o Fica revogado o Decreto no 4.229, de 13 de maio de 2002.

Brasília, 21 de dezembro de 2009; 188o da Independência e 121o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA


Este texto não substitui o publicado no DOU de 22.12.2009

ANEXO

Eixo Orientador I:

Interação democrática entre Estado e sociedade civil

A partir da metade dos anos 1970, começam a ressurgir no Brasil iniciativas de rearticulação dos movimentos
sociais, a despeito da repressão política e da ausência de canais democráticos de participação. Fortes protestos
e a luta pela democracia marcaram esse período. Paralelamente, surgiram iniciativas populares nos bairros
reivindicando direitos básicos como saúde, transporte, moradia e controle do custo de vida. Em um primeiro
momento, eram iniciativas atomizadas, buscando conquistas parciais, mas que ao longo dos anos foram se
caracterizando como movimentos sociais organizados.

Com o avanço da democratização do País, os movimentos sociais multiplicaram-se. Alguns deles


institucionalizaram-se e passaram a ter expressão política. Os movimentos populares e sindicatos foram, no
caso brasileiro, os principais promotores da mudança e da ruptura política em diversas épocas e contextos
históricos. Com efeito, durante a etapa de elaboração da Constituição Cidadã de 1988, esses segmentos
atuaram de forma especialmente articulada, afirmando-se como um dos pilares da democracia e influenciando
diretamente os rumos do País.

Nos anos que se seguiram, os movimentos passaram a se consolidar por meio de redes com abrangência
regional ou nacional, firmando-se como sujeitos na formulação e monitoramento das políticas públicas. Nos
anos 1990, desempenharam papel fundamental na resistência a todas as orientações do neoliberalismo de
flexibilização dos direitos sociais, privatizações, dogmatismo do mercado e enfraquecimento do Estado. Nesse
mesmo período, multiplicaram-se pelo País experiências de gestão estadual e municipal em que lideranças
desses movimentos, em larga escala, passaram a desempenhar funções de gestores públicos.

Com as eleições de 2002, alguns dos setores mais organizados da sociedade trouxeram reivindicações
históricas acumuladas, passando a influenciar diretamente a atuação do governo e vivendo de perto suas
contradições internas.

Nesse novo cenário, o diálogo entre Estado e sociedade civil assumiu especial relevo, com a compreensão e
a preservação do distinto papel de cada um dos segmentos no processo de gestão. A interação é desenhada
por acordos e dissensos, debates de idéias e pela deliberação em torno de propostas. Esses requisitos são
imprescindíveis ao pleno exercício da democracia, cabendo à sociedade civil exigir, pressionar, cobrar, criticar,
propor e fiscalizar as ações do Estado.

Essa concepção de interação democrática construída entre os diversos órgãos do Estado e a sociedade civil
trouxe consigo resultados práticos em termos de políticas públicas e avanços na interlocução de setores do
poder público com toda a diversidade social, cultural, étnica e regional que caracteriza os movimentos sociais
em nosso País. Avançou-se fundamentalmente na compreensão de que os Direitos Humanos constituem
condição para a prevalência da dignidade humana, e que devem ser promovidos e protegidos por meio do
esforço conjunto do Estado e da sociedade civil.

Uma das finalidades do PNDH-3 é dar continuidade à integração e ao aprimoramento dos mecanismos de
participação existentes, bem como criar novos meios de construção e monitoramento das políticas públicas
sobre Direitos Humanos no Brasil.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 479

No âmbito institucional o PNDH-3, amplia as conquistas na área dos direitos e garantias fundamentais, pois
internaliza a diretriz segundo a qual a primazia dos Direitos Humanos constitui princípio transversal a ser
considerado em todas as políticas públicas.

As diretrizes deste capítulo discorrem sobre a importância de fortalecer a garantia e os instrumentos de


participação social, o caráter transversal dos Direitos Humanos e a construção de mecanismos de avaliação e
monitoramento de sua efetivação. Isso inclui a construção de sistema de indicadores de Direitos Humanos e a
articulação das políticas e instrumentos de monitoramento existentes.

O Poder Executivo tem papel protagonista na coordenação e implementação do PNDH-3, mas faz-se
necessária a definição de responsabilidades compartilhadas entre a União, Estados, Municípios e do Distrito
Federal na execução de políticas públicas, tanto quanto a criação de espaços de participação e controle social
nos Poderes Judiciário e Legislativo, no Ministério Público e nas Defensorias, em ambiente de respeito,
proteção e efetivação dos Direitos Humanos. O conjunto dos órgãos do Estado – não apenas no âmbito do
Executivo Federal – deve estar comprometido com a implementação e monitoramento do PNDH-3.

Aperfeiçoar a interlocução entre Estado e sociedade civil depende da implementação de medidas que garantam
à sociedade maior participação no acompanhamento e monitoramento das políticas públicas em Direitos
Humanos, num diálogo plural e transversal entre os vários atores sociais e deles com o Estado. Ampliar o
controle externo dos órgãos públicos por meio de ouvidorias, monitorar os compromissos internacionais
assumidos pelo Estado brasileiro, realizar conferências periódicas sobre a temática, fortalecer e apoiar a
criação de conselhos nacional, distrital, estaduais e municipais de Direitos Humanos, garantindo-lhes eficiência,
autonomia e independência são algumas das formas de assegurar o aperfeiçoamento das políticas públicas
por meio de diálogo, de mecanismos de controle e das ações contínuas da sociedade civil. Fortalecer as
informações em Direitos Humanos com produção e seleção de indicadores para mensurar demandas,
monitorar, avaliar, reformular e propor ações efetivas, garante e consolida o controle social e a transparência
das ações governamentais.

A adoção de tais medidas fortalecerá a democracia participativa, na qual o Estado atua como instância
republicana da promoção e defesa dos Direitos Humanos e a sociedade civil como agente ativo – propositivo
e reativo – de sua implementação.

Diretriz 1: Interação democrática entre Estado e sociedade civil como instrumento de fortalecimento da
democracia participativa.

Objetivo estratégico I:

Garantia da participação e do controle social das políticas públicas em Direitos Humanos, em diálogo plural e
transversal entre os vários atores sociais.

Ações programáticas:

a)Apoiar, junto ao Poder Legislativo, a instituição do Conselho Nacional dos Direitos Humanos, dotado de
recursos humanos, materiais e orçamentários para o seu pleno funcionamento, e efetuar seu credenciamento
junto ao Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos como "Instituição
Nacional Brasileira", como primeiro passo rumo à adoção plena dos "Princípios de Paris".

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério das
Relações Exteriores

b)Fomentar a criação e o fortalecimento dos conselhos de Direitos Humanos em todos os Estados e Municípios
e no Distrito Federal, bem como a criação de programas estaduais de Direitos Humanos.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

c)Criar mecanismos que permitam ação coordenada entre os diversos conselhos de direitos, nas três esferas
da Federação, visando a criação de agenda comum para a implementação de políticas públicas de Direitos
Humanos.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 480

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, Secretaria-Geral da


Presidência da República

d)Criar base de dados dos conselhos nacionais, estaduais, distrital e municipais, garantindo seu acesso ao
público em geral.

Responsáveis: Secretaria-Geral da Presidência da República; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da


Presidência da República

e)Apoiar fóruns, redes e ações da sociedade civil que fazem acompanhamento, controle social e monitoramento
das políticas públicas de Direitos Humanos.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Secretaria-Geral da


Presidência da República

f)Estimular o debate sobre a regulamentação e efetividade dos instrumentos de participação social e consulta
popular, tais como lei de iniciativa popular, referendo, veto popular e plebiscito.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Secretaria-Geral da


Presidência da República

g)Assegurar a realização periódica de conferências de Direitos Humanos, fortalecendo a interação entre a


sociedade civil e o poder público.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

Objetivo estratégico II:

Ampliação do controle externo dos órgãos públicos.

Ações programáticas:

a)Ampliar a divulgação dos serviços públicos voltados para a efetivação dos Direitos Humanos, em especial
nos canais de transparência.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

b)Propor a instituição da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos, em substituição à Ouvidoria-Geral da


Cidadania, com independência e autonomia política, com mandato e indicação pelo Conselho Nacional dos
Direitos Humanos, assegurando recursos humanos, materiais e financeiros para seu pleno funcionamento.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

c)Fortalecer a estrutura da Ouvidoria Agrária Nacional.

Responsável: Ministério do Desenvolvimento Agrário

Diretriz 2: Fortalecimento dos Direitos Humanos como instrumento transversal das políticas públicas
e de interação democrática.

Objetivo estratégico I:

Promoção dos Direitos Humanos como princípios orientadores das políticas públicas e das relações
internacionais.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 481

Ações programáticas:

a)Considerar as diretrizes e objetivos estratégicos do PNDH-3 nos instrumentos de planejamento do Estado,


em especial no Plano Plurianual, na Lei de Diretrizes Orçamentárias e na Lei Orçamentária Anual.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Secretaria-Geral da


Presidência da República; Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão

b)Propor e articular o reconhecimento do status constitucional de instrumentos internacionais de Direitos


Humanos novos ou já existentes ainda não ratificados.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Justiça;
Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República

c)Construir e aprofundar agenda de cooperação multilateral em Direitos Humanos que contemple


prioritariamente o Haiti, os países lusófonos do continente africano e o Timor-Leste.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério das
Relações Exteriores

d)Aprofundar a agenda Sul-Sul de cooperação bilateral em Direitos Humanos que contemple prioritariamente
os países lusófonos do continente africano, o Timor-Leste, Caribe e a América Latina.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério das
Relações Exteriores

Objetivo estratégico II:

Fortalecimento dos instrumentos de interação democrática para a promoção dos Direitos Humanos.

Ações programáticas:

a)Criar o Observatório Nacional dos Direitos Humanos para subsidiar, com dados e informações, o trabalho de
monitoramento das políticas públicas e de gestão governamental e sistematizar a documentação e legislação,
nacionais e internacionais, sobre Direitos Humanos.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

b)Estimular e reconhecer pessoas e entidades com destaque na luta pelos Direitos Humanos na sociedade
brasileira e internacional, com a concessão de premiação, bolsas e outros incentivos, na forma da legislação
aplicável.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério das
Relações Exteriores

c)Criar selo nacional "Direitos Humanos", a ser concedido às entidades públicas e privadas que comprovem
atuação destacada na defesa e promoção dos direitos fundamentais.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Justiça

Diretriz 3: Integração e ampliação dos sistemas de informação em Direitos Humanos e construção de


mecanismos de avaliação e monitoramento de sua efetivação.

Objetivo estratégico I:

Desenvolvimento de mecanismos de controle social das políticas públicas de Direitos Humanos, garantindo o
monitoramento e a transparência das ações governamentais.

Ações programáticas:
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 482

a)Instituir e manter sistema nacional de indicadores em Direitos Humanos, de forma articulada com os órgãos
públicos e a sociedade civil.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

b)Integrar os sistemas nacionais de informações para elaboração de quadro geral sobre a implementação de
políticas públicas e violações aos Direitos Humanos.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

c)Articular a criação de base de dados com temas relacionados aos Direitos Humanos.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

d)Utilizar indicadores em Direitos Humanos para mensurar demandas, monitorar, avaliar, reformular e propor
ações efetivas.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Secretaria Especial de
Políticas para as Mulheres da Presidência da República; Secretaria Especial de Políticas de Promoção da
Igualdade Racial da Presidência da República; Ministério da Saúde; Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome; Ministério da Justiça; Ministério das Cidades; Ministério do Meio Ambiente; Ministério da
Cultura; Ministério do Turismo; Ministério do Esporte; Ministério do Desenvolvimento Agrário

e)Propor estudos visando a criação de linha de financiamento para a implementação de institutos de pesquisa
e produção de estatísticas em Direitos Humanos nos Estados.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

Objetivo estratégico II:

Monitoramento dos compromissos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro em matéria de Direitos
Humanos.

Ações programáticas:

a)Elaborar relatório anual sobre a situação dos Direitos Humanos no Brasil, em diálogo participativo com a
sociedade civil.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério das
Relações Exteriores

b)Elaborar relatórios periódicos para os órgãos de tratados da ONU, no prazo por eles estabelecidos, com base
em fluxo de informações com órgãos do governo federal e com unidades da Federação.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério das
Relações Exteriores

c)Elaborar relatório de acompanhamento das relações entre o Brasil e o sistema ONU que contenha, entre
outras, as seguintes informações:

Recomendações advindas de relatores especiais do Conselho de Direitos Humanos da ONU;

Recomendações advindas dos comitês de tratados do Mecanismo de Revisão Periódica;

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério das
Relações Exteriores

d)Definir e institucionalizar fluxo de informações, com responsáveis em cada órgão do governo federal e
unidades da Federação, referentes aos relatórios internacionais de Direitos Humanos e às recomendações dos
relatores especiais do Conselho de Direitos Humanos da ONU e dos comitês de tratados.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 483

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério das
Relações Exteriores

e)Definir e institucionalizar fluxo de informações, com responsáveis em cada órgão do governo federal,
referentes aos relatórios da Comissão Interamericana de Direitos Humanos e às decisões da Corte
Interamericana de Direitos Humanos.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério das
Relações Exteriores

f)Criar banco de dados público sobre todas as recomendações dos sistemas ONU e OEA feitas ao Brasil,
contendo as medidas adotadas pelos diversos órgãos públicos para seu cumprimento.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério das
Relações Exteriores

Eixo Orientador II:

Desenvolvimento e Direitos Humanos

O tema "desenvolvimento" tem sido amplamente debatido por ser um conceito complexo e multidisciplinar. Não
existe modelo único e preestabelecido de desenvolvimento, porém, pressupõe-se que ele deva garantir a livre
determinação dos povos, o reconhecimento de soberania sobre seus recursos e riquezas naturais, respeito
pleno à sua identidade cultural e a busca de equidade na distribuição das riquezas.

Durante muitos anos, o crescimento econômico, medido pela variação anual do Produto Interno Bruto (PIB), foi
usado como indicador relevante para medir o avanço de um país. Acreditava-se que, uma vez garantido o
aumento de bens e serviços, sua distribuição ocorreria de forma a satisfazer as necessidades de todas as
pessoas. Constatou-se, porém, que, embora importante, o crescimento do PIB não é suficiente para causar,
automaticamente, melhoria do bem estar para todas as camadas sociais. Por isso, o conceito de
desenvolvimento foi adotado por ser mais abrangente e refletir, de fato, melhorias nas condições de vida dos
indivíduos.

A teoria predominante de desenvolvimento econômico o define como um processo que faz aumentar as
possibilidades de acesso das pessoas a bens e serviços, propiciadas pela expansão da capacidade e do âmbito
das atividades econômicas. O desenvolvimento seria a medida qualitativa do progresso da economia de um
país, refletindo transições de estágios mais baixos para estágios mais altos, por meio da adoção de novas
tecnologias que permitem e favorecem essa transição. Cresce nos últimos anos a assimilação das idéias
desenvolvidas por Amartya Sem, que abordam o desenvolvimento como liberdade e seus resultados centrados
no bem estar social e, por conseguinte, nos direitos do ser humano.

São essenciais para o desenvolvimento as liberdades e os direitos básicos como alimentação, saúde e
educação. As privações das liberdades não são apenas resultantes da escassez de recursos, mas sim das
desigualdades inerentes aos mecanismos de distribuição, da ausência de serviços públicos e de assistência
do Estado para a expansão das escolhas individuais. Este conceito de desenvolvimento reconhece seu caráter
pluralista e a tese de que a expansão das liberdades não representa somente um fim, mas também o meio
para seu alcance. Em consequência, a sociedade deve pactuar as políticas sociais e os direitos coletivos de
acesso e uso dos recursos. A partir daí, a medição de um índice de desenvolvimento humano veio substituir a
medição de aumento do PIB, uma vez que o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) combina a riqueza per
capita indicada pelo PIB aos aspectos de educação e expectativa de vida, permitindo, pela primeira vez, uma
avaliação de aspectos sociais não mensurados pelos padrões econométricos.

No caso do Brasil, por muitos anos o crescimento econômico não levou à distribuição justa de renda e riqueza,
mantendo-se elevados índices de desigualdade. As ações de Estado voltadas para a conquista da igualdade
socioeconômica requerem ainda políticas permanentes, de longa duração, para que se verifique a plena
proteção e promoção dos Direitos Humanos. É necessário que o modelo de desenvolvimento econômico tenha
a preocupação de aperfeiçoar os mecanismos de distribuição de renda e de oportunidades para todos os
brasileiros, bem como incorpore os valores de preservação ambiental. Os debates sobre as mudanças
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 484

climáticas e o aquecimento global, gerados pela preocupação com a maneira com que os países vêm
explorando os recursos naturais e direcionando o progresso civilizatório, está na agenda do dia. Esta discussão
coloca em questão os investimentos em infraestrutura e modelos de desenvolvimento econômico na área rural,
baseados, em grande parte, no agronegócio, sem a preocupação com a potencial violação dos direitos de
pequenos e médios agricultores e das populações tradicionais.

O desenvolvimento pode ser garantido se as pessoas forem protagonistas do processo, pressupondo a garantia
de acesso de todos os indivíduos aos direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais, e incorporando a
preocupação com a preservação e a sustentabilidade como eixos estruturantes de proposta renovada de
progresso. Esses direitos têm como foco a distribuição da riqueza, dos bens e serviços.

Todo esse debate traz desafios para a conceituação sobre os Direitos Humanos no sentido de incorporar o
desenvolvimento como exigência fundamental. A perspectiva dos Direitos Humanos contribui para
redimensionar o desenvolvimento. Motiva a passar da consideração de problemas individuais a questões de
interesse comum, de bem-estar coletivo, o que alude novamente o Estado e o chama à corresponsabilidade
social e à solidariedade.

Ressaltamos que a noção de desenvolvimento está sendo amadurecida como parte de um debate em curso
na sociedade e no governo, incorporando a relação entre os direitos econômicos, sociais, culturais e
ambientais, buscando a garantia do acesso ao trabalho, à saúde, à educação, à alimentação, à vida cultural, à
moradia adequada, à previdência, à assistência social e a um meio ambiente sustentável. A inclusão do tema
Desenvolvimento e Direitos Humanos na 11a Conferência Nacional reforçou as estratégias governamentais em
sua proposta de desenvolvimento.

Assim, este capítulo do PNDH-3 propõe instrumentos de avanço e reforça propostas para políticas públicas de
redução das desigualdades sociais concretizadas por meio de ações de transferência de renda, incentivo à
economia solidária e ao cooperativismo, à expansão da reforma agrária, ao fomento da aquicultura, da pesca
e do extrativismo e da promoção do turismo sustentável.

O PNDH-3 inova ao incorporar o meio ambiente saudável e as cidades sustentáveis como Direitos Humanos,
propõe a inclusão do item "direitos ambientais" nos relatórios de monitoramento sobre Direitos Humanos e do
item "Direitos Humanos" nos relatórios ambientais, assim como fomenta pesquisas de tecnologias socialmente
inclusivas.

Nos projetos e empreendimentos com grande impacto socioambiental, o PNDH-3 garante a participação efetiva
das populações atingidas, assim como prevê ações mitigatórias e compensatórias. Considera fundamental
fiscalizar o respeito aos Direitos Humanos nos projetos implementados pelas empresas transnacionais, bem
como seus impactos na manipulação das políticas de desenvolvimento. Nesse sentido, avalia como importante
mensurar o impacto da biotecnologia aplicada aos alimentos, da nanotecnologia, dos poluentes orgânicos
persistentes, metais pesados e outros poluentes inorgânicos em relação aos Direitos Humanos.

Alcançar o desenvolvimento com Direitos Humanos é capacitar as pessoas e as comunidades a exercerem a


cidadania, com direitos e responsabilidades. É incorporar, nos projetos, a própria população brasileira, por meio
de participação ativa nas decisões que afetam diretamente suas vidas. É assegurar a transparência dos
grandes projetos de desenvolvimento econômico e mecanismos de compensação para a garantia dos Direitos
Humanos das populações diretamente atingidas.

Por fim, este PNDH-3 reforça o papel da equidade no Plano Plurianual, como instrumento de garantia de
priorização orçamentária de programas sociais.

Diretriz 4: Efetivação de modelo de desenvolvimento sustentável, com inclusão social e econômica,


ambientalmente equilibrado e tecnologicamente responsável, cultural e regionalmente diverso,
participativo e não discriminatório.

Objetivo estratégico I:

Implementação de políticas públicas de desenvolvimento com inclusão social.

Ações programáticas:
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 485

a)Ampliar e fortalecer as políticas de desenvolvimento social e de combate à fome, visando a inclusão e a


promoção da cidadania, garantindo a segurança alimentar e nutricional, renda mínima e assistência integral às
famílias.

Responsável: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

b)Expandir políticas públicas de geração e transferência de renda para erradicação da extrema pobreza e
redução da pobreza.

Responsável: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

c)Apoiar projetos de desenvolvimento sustentável local para redução das desigualdades inter e intrarregionais
e o aumento da autonomia e sustentabilidade de espaços sub-regionais.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério do


Desenvolvimento Agrário

d)Avançar na implantação da reforma agrária, como forma de inclusão social e acesso aos direitos básicos, de
forma articulada com as políticas de saúde, educação, meio ambiente e fomento à produção alimentar.

Responsável: Ministério do Desenvolvimento Agrário

e)Incentivar as políticas públicas de economia solidária, de cooperativismo e associativismo e de fomento a


pequenas e micro empresas.

Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Ministério do Desenvolvimento Agrário; Ministério das


Cidades; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

f)Fortalecer políticas públicas de apoio ao extrativismo e ao manejo florestal comunitário ambientalmente


sustentáveis.

Responsáveis: Ministério do Meio Ambiente; Ministério do Desenvolvimento Agrário; Ministério do


Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

g)Fomentar o debate sobre a expansão de plantios de monoculturas que geram impacto no meio ambiente e
na cultura dos povos e comunidades tradicionais, tais como eucalipto, cana-de-açúcar, soja, e sobre o manejo
florestal, a grande pecuária, mineração, turismo e pesca.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

h)Erradicar o trabalho infantil, bem como todas as formas de violência e exploração sexual de crianças e
adolescentes nas cadeias produtivas, com base em códigos de conduta e no Estatuto da Criança e do
Adolescente.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério do Turismo

i)Garantir que os grandes empreendimentos e projetos de infraestrutura resguardem os direitos dos povos
indígenas e de comunidades quilombolas e tradicionais, conforme previsto na Constituição e nos tratados e
convenções internacionais.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério dos Transportes; Ministério da Integração Nacional; Ministério
de Minas e Energia; Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da
República; Ministério do Meio Ambiente; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Ministério
da Pesca e Aquicultura; Secretaria Especial de Portos da Presidência da República

j)Integrar políticas de geração de emprego e renda e políticas sociais para o combate à pobreza rural dos
agricultores familiares, assentados da reforma agrária, quilombolas, indígenas, famílias de pescadores e
comunidades tradicionais.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 486

Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Ministério da Integração Nacional;


Ministério do Desenvolvimento Agrário; Ministério do Trabalho e Emprego; Ministério da Justiça; Secretaria
Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República; Ministério da Cultura;
Ministério da Pesca e Aquicultura

k)Integrar políticas sociais e de geração de emprego e renda para o combate à pobreza urbana, em especial
de catadores de materiais recicláveis e população em situação de rua.

Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Ministério do Meio Ambiente; Ministério do Desenvolvimento


Social e Combate à Fome; Ministério das Cidades; Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da
República

l)Fortalecer políticas públicas de fomento à aquicultura e à pesca sustentáveis, com foco nos povos e
comunidades tradicionais de baixa renda, contribuindo para a segurança alimentar e a inclusão social, mediante
a criação e geração de trabalho e renda alternativos e inserção no mercado de trabalho.

Responsáveis: Ministério da Pesca e Aquicultura; Ministério do Trabalho e Emprego; Ministério do


Desenvolvimento Social e Combate à Fome

m)Promover o turismo sustentável com geração de trabalho e renda, respeito à cultura local, participação e
inclusão dos povos e das comunidades nos benefícios advindos da atividade turística.

Responsáveis: Ministério do Turismo; Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

Objetivo estratégico II:

Fortalecimento de modelos de agricultura familiar e agroecológica.

Ações programáticas:

a)Garantir que nos projetos de reforma agrária e agricultura familiar sejam incentivados os modelos de
produção agroecológica e a inserção produtiva nos mercados formais.

Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Agrário; Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio


Exterior

b)Fortalecer a agricultura familiar camponesa e a pesca artesanal, com ampliação do crédito, do seguro, da
assistência técnica, extensão rural e da infraestrutura para comercialização.

Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Agrário; Ministério da Pesca e Aquicultura

c)Garantir pesquisa e programas voltados à agricultura familiar e pesca artesanal, com base nos princípios da
agroecologia.

Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Agrário; Ministério do Meio Ambiente; Ministério da Agricultura,


Pecuária e Abastecimento; Ministério da Pesca e Aquicultura; Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior

d)Fortalecer a legislação e a fiscalização para evitar a contaminação dos alimentos e danos à saúde e ao meio
ambiente causados pelos agrotóxicos.

Responsáveis: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Ministério do Meio Ambiente; Ministério da


Saúde; Ministério do Desenvolvimento Agrário

e)Promover o debate com as instituições de ensino superior e a sociedade civil para a implementação de cursos
e realização de pesquisas tecnológicas voltados à temática socioambiental, agroecologia e produção orgânica,
respeitando as especificidades de cada região.

Responsáveis: Ministério da Educação; Ministério do Desenvolvimento Agrário


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 487

Objetivo estratégico III:

Fomento à pesquisa e à implementação de políticas para o desenvolvimento de tecnologias socialmente


inclusivas, emancipatórias e ambientalmente sustentáveis.

Ações programáticas:

a)Adotar tecnologias sociais de baixo custo e fácil aplicabilidade nas políticas e ações públicas para a geração
de renda e para a solução de problemas socioambientais e de saúde pública.

Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome;


Ministério do Meio Ambiente; Ministério do Desenvolvimento Agrário; Ministério da Saúde

b)Garantir a aplicação do princípio da precaução na proteção da agrobiodiversidade e da saúde, realizando


pesquisas que avaliem os impactos dos transgênicos no meio ambiente e na saúde.

Responsáveis: Ministério da Saúde; Ministério do Meio Ambiente; Ministério de Ciência e Tecnologia

c)Fomentar tecnologias alternativas para substituir o uso de substâncias danosas à saúde e ao meio ambiente,
como poluentes orgânicos persistentes, metais pesados e outros poluentes inorgânicos.

Responsáveis: Ministério de Ciência e Tecnologia; Ministério do Meio Ambiente; Ministério da Saúde; Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

d)Fomentar tecnologias de gerenciamento de resíduos sólidos e emissões atmosféricas para minimizar


impactos à saúde e ao meio ambiente.

Responsáveis: Ministério de Ciência e Tecnologia; Ministério do Meio Ambiente; Ministério da Saúde; Ministério
das Cidades

e)Desenvolver e divulgar pesquisas públicas para diagnosticar os impactos da biotecnologia e da


nanotecnologia em temas de Direitos Humanos.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Saúde;
Ministério do Meio Ambiente; Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Ministério de Ciência e
Tecnologia

f)Produzir, sistematizar e divulgar pesquisas econômicas e metodologias de cálculo de custos socioambientais


de projetos de infraestrutura, de energia e de mineração que sirvam como parâmetro para o controle dos
impactos de grandes projetos.

Responsáveis: Ministério da Ciência e Tecnologia; Ministério de Minas e Energia; Ministério do Meio Ambiente;
Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República; Ministério da Integração Nacional

Objetivo estratégico IV:

Garantia do direito a cidades inclusivas e sustentáveis.

Ações programáticas:

a)Apoiar ações que tenham como princípio o direito a cidades inclusivas e acessíveis como elemento
fundamental da implementação de políticas urbanas.

Responsáveis: Ministério das Cidades; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República;
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

b)Fortalecer espaços institucionais democráticos, participativos e de apoio aos Municípios para a


implementação de planos diretores que atendam aos preceitos da política urbana estabelecidos no Estatuto da
Cidade.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 488

Responsável: Ministério das Cidades

c)Fomentar políticas públicas de apoio aos Estados, Distrito Federal e Municípios em ações sustentáveis de
urbanização e regularização fundiária dos assentamentos de população de baixa renda, comunidades
pesqueiras e de provisão habitacional de interesse social, materializando a função social da propriedade.

Responsáveis: Ministério das Cidades; Ministério do Meio Ambiente; Ministério da Pesca e Aquicultura

d)Fortalecer a articulação entre os órgãos de governo e os consórcios municipais para atuar na política de
saneamento ambiental, com participação da sociedade civil.

Responsáveis: Ministério das Cidades; Ministério do Meio Ambiente; Secretaria de Relações Institucionais da
Presidência da República

e)Fortalecer a política de coleta, reaproveitamento, triagem, reciclagem e a destinação seletiva de resíduos


sólidos e líquidos, com a organização de cooperativas de reciclagem, que beneficiem as famílias dos catadores.

Responsáveis: Ministério das Cidades; Ministério do Trabalho e Emprego; Ministério do Desenvolvimento


Social e Combate à Fome; Ministério do Meio Ambiente

f)Fomentar políticas e ações públicas voltadas à mobilidade urbana sustentável.

Responsável: Ministério das Cidades

g)Considerar na elaboração de políticas públicas de desenvolvimento urbano os impactos na saúde pública.

Responsáveis: Ministério da Saúde; Ministério das Cidades

h)Fomentar políticas públicas de apoio às organizações de catadores de materiais recicláveis, visando à


disponibilização de áreas e prédios desocupados pertencentes à União, a fim de serem transformados em
infraestrutura produtiva para essas organizações.

Responsáveis: Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão; Ministério das Cidades; Ministério do


Trabalho e Emprego; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

i)Estimular a produção de alimentos de forma comunitária, com uso de tecnologias de bases agroecológicas,
em espaços urbanos e periurbanos ociosos e fomentar a mobilização comunitária para a implementação de
hortas, viveiros, pomares, canteiros de ervas medicinais, criação de pequenos animais, unidades de
processamento e beneficiamento agroalimentar, feiras e mercados públicos populares.

Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Ministério da Agricultura, Pecuária e


Abastecimento

Diretriz 5: Valorização da pessoa humana como sujeito central do processo de desenvolvimento.

Objetivo estratégico I:

Garantia da participação e do controle social nas políticas públicas de desenvolvimento com grande
impacto socioambiental.

Ações programáticas:

a)Fortalecer ações que valorizem a pessoa humana como sujeito central do desenvolvimento, enfrentando o
quadro atual de injustiça ambiental que atinge principalmente as populações mais pobres.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério do Meio
Ambiente
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 489

b)Assegurar participação efetiva da população na elaboração dos instrumentos de gestão territorial e na análise
e controle dos processos de licenciamento urbanístico e ambiental de empreendimentos de impacto,
especialmente na definição das ações mitigadoras e compensatórias por impactos sociais e ambientais.

Responsáveis: Ministério do Meio Ambiente; Ministério das Cidades

c)Fomentar a elaboração do Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE), incorporando o sócio e


etnozoneamento.

Responsáveis: Ministério das Cidades; Ministério do Meio Ambiente

d)Assegurar a transparência dos projetos realizados, em todas as suas etapas, e dos recursos utilizados nos
grandes projetos econômicos, para viabilizar o controle social.

Responsáveis: Ministério dos Transportes; Ministério da Integração Nacional; Ministério de Minas e Energia;
Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

e)Garantir a exigência de capacitação qualificada e participativa das comunidades afetadas nos projetos
básicos de obras e empreendimentos com impactos sociais e ambientais.

Responsáveis: Ministério da Integração Nacional; Ministério de Minas e Energia; Secretaria Especial dos
Direitos Humanos da Presidência da República

f)Definir mecanismos para a garantia dos Direitos Humanos das populações diretamente atingidas e vizinhas
aos empreendimentos de impactos sociais e ambientais.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

g)Apoiar a incorporação dos sindicatos de trabalhadores e centrais sindicais nos processos de licenciamento
ambiental de empresas, de forma a garantir o direito à saúde do trabalhador.

Responsáveis: Ministério do Meio Ambiente; Ministério do Trabalho e Emprego; Ministério da Saúde

h)Promover e fortalecer ações de proteção às populações mais pobres da convivência com áreas
contaminadas, resguardando-as contra essa ameaça e assegurando-lhes seus direitos fundamentais.

Responsáveis: Ministério do Meio Ambiente; Ministério das Cidades; Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome; Ministério da Saúde

Objetivo estratégico II:

Afirmação dos princípios da dignidade humana e da equidade como fundamentos do processo de


desenvolvimento nacional.

Ações programáticas:

a)Reforçar o papel do Plano Plurianual como instrumento de consolidação dos Direitos Humanos e de
enfrentamento da concentração de renda e riqueza e de promoção da inclusão da população de baixa renda.

Responsável: Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão

b)Reforçar os critérios da equidade e da prevalência dos Direitos Humanos como prioritários na avaliação da
programação orçamentária de ação ou autorização de gastos.

Responsável: Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão

c)Instituir código de conduta em Direitos Humanos para ser considerado no âmbito do poder público como
critério para a contratação e financiamento de empresas.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 490

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

d)Regulamentar a taxação do imposto sobre grandes fortunas previsto na Constituição.

Responsáveis: Ministério da Fazenda; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

e)Ampliar a adesão de empresas ao compromisso de responsabilidade social e Direitos Humanos.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério do


Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

Objetivo estratégico III:

Fortalecimento dos direitos econômicos por meio de políticas públicas de defesa da concorrência e de
proteção do consumidor.

Ações programáticas:

a)Garantir o acesso universal a serviços públicos essenciais de qualidade.

Responsáveis: Ministério da Saúde; Ministério da Educação; Ministério de Minas e Energia; Ministério do


Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Ministério das Cidades

b)Fortalecer o sistema brasileiro de defesa da concorrência para coibir condutas anticompetitivas e


concentradoras de renda.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Fazenda

c)Garantir o direito à informação do consumidor, fortalecendo as ações de acompanhamento de mercado,


inclusive a rotulagem dos transgênicos.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; Ministério


da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

d)Fortalecer o combate à fraude e a avaliação da conformidade dos produtos e serviços no mercado.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

Diretriz 6: Promover e proteger os direitos ambientais como Direitos Humanos, incluindo as gerações
futuras como sujeitos de direitos.

Objetivo estratégico I:

Afirmação dos direitos ambientais como Direitos Humanos.

Ações programáticas:

a)Incluir o item Direito Ambiental nos relatórios de monitoramento dos Direitos Humanos.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério do Meio
Ambiente

b)Incluir o tema dos Direitos Humanos nos instrumentos e relatórios dos órgãos ambientais.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério do Meio
Ambiente
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 491

c)Assegurar a proteção dos direitos ambientais e dos Direitos Humanos no Código Florestal.

Responsável: Ministério do Meio Ambiente

d)Implementar e ampliar políticas públicas voltadas para a recuperação de áreas degradadas e áreas de
desmatamento nas zonas urbanas e rurais.

Responsáveis: Ministério do Meio Ambiente; Ministério das Cidades

e)Fortalecer ações que estabilizem a concentração de gases de efeito estufa em nível que permita a adaptação
natural dos ecossistemas à mudança do clima, controlando a interferência das atividades humanas (antrópicas)
no sistema climático.

Responsável: Ministério do Meio Ambiente

f)Garantir o efetivo acesso a informação sobre a degradação e os riscos ambientais, e ampliar e articular as
bases de informações dos entes federados e produzir informativos em linguagem acessível.

Responsável: Ministério do Meio Ambiente

g)Integrar os atores envolvidos no combate ao trabalho escravo nas operações correntes de fiscalização ao
desmatamento e ao corte ilegal de madeira.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério do Trabalho
e Emprego; Ministério do Meio Ambiente

Eixo Orientador III:

Universalizar direitos em um contexto de desigualdades

A Declaração Universal dos Direitos Humanos afirma em seu preâmbulo que o "reconhecimento da dignidade
inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da
liberdade, da justiça e da paz no mundo". No entanto, nas vicissitudes ocorridas no cumprimento da Declaração
pelos Estados signatários, identificou-se a necessidade de reconhecer as diversidades e diferenças para
concretização do princípio da igualdade.

No Brasil, ao longo das últimas décadas, os Direitos Humanos passaram a ocupar uma posição de destaque
no ordenamento jurídico. O País avançou decisivamente na proteção e promoção do direito às diferenças.
Porém, o peso negativo do passado continua a projetar no presente uma situação de profunda iniquidade social.

O acesso aos direitos fundamentais continua enfrentando barreiras estruturais, resquícios de um processo
histórico, até secular, marcado pelo genocídio indígena, pela escravidão e por períodos ditatoriais, práticas que
continuam a ecoar em comportamentos, leis e na realidade social.

O PNDH-3 assimila os grandes avanços conquistados ao longo destes últimos anos, tanto nas políticas de
erradicação da miséria e da fome, quanto na preocupação com a moradia e saúde, e aponta para a
continuidade e ampliação do acesso a tais políticas, fundamentais para garantir o respeito à dignidade humana.

Os objetivos estratégicos direcionados à promoção da cidadania plena preconizam a universalidade,


indivisibilidade e interdependência dos Direitos Humanos, condições para sua efetivação integral e igualitária.
O acesso aos direitos de registro civil, alimentação adequada, terra e moradia, trabalho decente, educação,
participação política, cultura, lazer, esporte e saúde, deve considerar a pessoa humana em suas múltiplas
dimensões de ator social e sujeito de cidadania.

À luz da história dos movimentos sociais e de programas de governo, o PNDH-3 orienta-se pela
transversalidade, para que a implementação dos direitos civis e políticos transitem pelas diversas dimensões
dos direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais. Caso contrário, grupos sociais afetados pela pobreza,
pelo racismo estrutural e pela discriminação dificilmente terão acesso a tais direitos.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 492

As ações programáticas formuladas visam enfrentar o desafio de eliminar as desigualdades, levando em conta
as dimensões de gênero e raça nas políticas públicas, desde o planejamento até a sua concretização e
avaliação. Há, neste sentido, propostas de criação de indicadores que possam mensurar a efetivação
progressiva dos direitos.

Às desigualdades soma-se a persistência da discriminação, que muitas vezes se manifesta sob a forma de
violência contra sujeitos que são histórica e estruturalmente vulnerabilizados.

O combate à discriminação mostra-se necessário, mas insuficiente enquanto medida isolada. Os pactos e
convenções que integram o sistema regional e internacional de proteção dos Direitos Humanos apontam para
a necessidade de combinar estas medidas com políticas compensatórias que acelerem a construção da
igualdade, como forma capaz de estimular a inclusão de grupos socialmente vulneráveis. Além disso, as ações
afirmativas constituem medidas especiais e temporárias que buscam remediar um passado discriminatório. No
rol de movimentos e grupos sociais que demandam políticas de inclusão social encontram-se crianças,
adolescentes, mulheres, pessoas idosas, lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, pessoas com
deficiência, pessoas moradoras de rua, povos indígenas, populações negras e quilombolas, ciganos,
ribeirinhos, varzanteiros e pescadores, entre outros.

Definem-se, neste capítulo, medidas e políticas que devem ser efetivadas para reconhecer e proteger os
indivíduos como iguais na diferença, ou seja, para valorizar a diversidade presente na população brasileira para
estabelecer acesso igualitário aos direitos fundamentais. Trata-se de reforçar os programas de governo e as
resoluções pactuadas nas diversas conferências nacionais temáticas, sempre sob o foco dos Direitos
Humanos, com a preocupação de assegurar o respeito às diferenças e o combate às desigualdades, para o
efetivo acesso aos direitos.

Por fim, em respeito à primazia constitucional de proteção e promoção da infância, do adolescente e da


juventude, o capítulo aponta suas diretrizes para o respeito e a garantia das gerações futuras. Como sujeitos
de direitos, as crianças, os adolescentes e os jovens são frequentemente subestimadas em sua participação
política e em sua capacidade decisória. Preconiza-se o dever de assegurar-lhes, desde cedo, o direito de
opinião e participação.

Marcadas pelas diferenças e por sua fragilidade temporal, as crianças, os adolescentes e os jovens estão
sujeitos a discriminações e violências. As ações programáticas promovem a garantia de espaços e
investimentos que assegurem proteção contra qualquer forma de violência e discriminação, bem como a
promoção da articulação entre família, sociedade e Estado para fortalecer a rede social de proteção que garante
a efetividade de seus direitos.

Diretriz 7: Garantia dos Direitos Humanos de forma universal, indivisível e interdependente,


assegurando a cidadania plena.

Objetivo estratégico I:

Universalização do registro civil de nascimento e ampliação do acesso à documentação básica.

Ações programáticas:

a)Ampliar e reestruturar a rede de atendimento para a emissão do registro civil de nascimento visando a sua
universalização.

Interligar maternidades e unidades de saúde aos cartórios, por meio de sistema manual ou informatizado,
para emissão de registro civil de nascimento logo após o parto, garantindo ao recém nascido a certidão de
nascimento antes da alta médica.

Fortalecer a Declaração de Nascido Vivo (DNV), emitida pelo Sistema Único de Saúde , como mecanismo
de acesso ao registro civil de nascimento, contemplando a diversidade na emissão pelos estabelecimentos de
saúde e pelas parteiras.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 493

Realizar orientação sobre a importância do registro civil de nascimento para a cidadania por meio da rede de
atendimento (saúde, educação e assistência social) e pelo sistema de Justiça e de segurança pública.

Aperfeiçoar as normas e o serviço público notarial e de registro, em articulação com o Conselho Nacional de
Justiça, para garantia da gratuidade e da cobertura do serviço de registro civil em âmbito nacional.

Responsáveis: Ministério da Saúde; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Ministério da


Previdência Social; Ministério da Justiça; Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão; Secretaria Especial
dos Direitos Humanos da Presidência da República

b)Promover a mobilização nacional com intuito de reduzir o número de pessoas sem registro civil de nascimento
e documentação básica.

Instituir comitês gestores estaduais, distrital e municipais com o objetivo de articular as instituições públicas
e as entidades da sociedade civil para a implantação de ações que visem à ampliação do acesso à
documentação básica.

Realizar campanhas para orientação e conscientização da população e dos agentes responsáveis pela
articulação e pela garantia do acesso aos serviços de emissão de registro civil de nascimento e de
documentação básica.

Realizar mutirões para emissão de registro civil de nascimento e documentação básica, com foco nas regiões
de difícil acesso e no atendimento às populações específicas como os povos indígenas, quilombolas, ciganos,
pessoas em situação de rua, institucionalizadas e às trabalhadoras rurais.

Responsáveis: Ministério da Saúde; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Ministério da


Defesa; Ministério da Fazenda; Ministério do Trabalho e Emprego; Ministério da Justiça; Secretaria Especial
dos Direitos Humanos da Presidência da República

c)Criar bases normativas e gerenciais para garantia da universalização do acesso ao registro civil de
nascimento e à documentação básica.

Implantar sistema nacional de registro civil para interligação das informações de estimativas de nascimentos,
de nascidos vivos e do registro civil, a fim de viabilizar a busca ativa dos nascidos não registrados e aperfeiçoar
os indicadores para subsidiar políticas públicas.

Desenvolver estudo e revisão da legislação para garantir o acesso do cidadão ao registro civil de nascimento
em todo o território nacional.

Realizar estudo de sustentabilidade do serviço notarial e de registro no País.

Desenvolver a padronização do registro civil (certidão de nascimento, de casamento e de óbito) em território


nacional.

Garantir a emissão gratuita de Registro Geral e Cadastro de Pessoa Física aos reconhecidamente pobres.

Desenvolver estudo sobre a política nacional de documentação civil básica.

Responsáveis: Ministério da Saúde; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Ministério do


Planejamento, Orçamento e Gestão; Ministério da Fazenda; Ministério da Justiça; Ministério do Trabalho e
Emprego; Ministério da Previdência Social; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da
República

d)Incluir no questionário do censo demográfico perguntas para identificar a ausência de documentos civis na
população.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 494

Objetivo estratégico II:

Acesso à alimentação adequada por meio de políticas estruturantes.

Ações programáticas:

a)Ampliar o acesso aos alimentos por meio de programas e ações de geração e transferência de renda, com
ênfase na participação das mulheres como potenciais beneficiárias.

Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Secretaria Especial de Políticas para
as Mulheres da Presidência da República

b)Vincular programas de transferência de renda à garantia da segurança alimentar da criança, por meio do
acompanhamento da saúde e nutrição e do estímulo de hábitos alimentares saudáveis, com o objetivo de
erradicar a desnutrição infantil.

Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Ministério da Educação; Ministério


da Saúde

c)Fortalecer a agricultura familiar e camponesa no desenvolvimento de ações específicas que promovam a


geração de renda no campo e o aumento da produção de alimentos agroecológicos para o autoconsumo e para
o mercado local.

Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Agrário; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à


Fome

d)Ampliar o abastecimento alimentar, com maior autonomia e fortalecimento da economia local, associado a
programas de informação, de educação alimentar, de capacitação, de geração de ocupações produtivas, de
agricultura familiar camponesa e de agricultura urbana.

Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Ministério da Agricultura, Pecuária e


Abastecimento; Ministério do Desenvolvimento Agrário

e)Promover a implantação de equipamentos públicos de segurança alimentar e nutricional, com vistas a ampliar
o acesso à alimentação saudável de baixo custo, valorizar as culturas alimentares regionais, estimular o
aproveitamento integral dos alimentos, evitar o desperdício e contribuir para a recuperação social e de saúde
da sociedade.

Responsável: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

f)Garantir que os hábitos e contextos regionais sejam incorporados nos modelos de segurança alimentar como
fatores da produção sustentável de alimentos.

Responsável: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

g)Realizar pesquisas científicas que promovam ganhos de produtividade na agricultura familiar e assegurar
estoques reguladores.

Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Ministério do Desenvolvimento


Agrário; Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Objetivo estratégico III:

Garantia do acesso à terra e à moradia para a população de baixa renda e grupos sociais vulnerabilizados.

Ações programáticas:

a)Fortalecer a reforma agrária com prioridade à implementação e recuperação de assentamentos, à


regularização do crédito fundiário e à assistência técnica aos assentados, atualização dos índices Grau de
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 495

Utilização da Terra (GUT) e Grau de Eficiência na Exploração (GEE), conforme padrões atuais e
regulamentação da desapropriação de áreas pelo descumprimento da função social plena.

Responsável: Ministério do Desenvolvimento Agrário; Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

b)Integrar as ações de mapeamento das terras públicas da União.

Responsável: Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão

c)Estimular o saneamento dos serviços notariais de registros imobiliários, possibilitando o bloqueio ou o


cancelamento administrativo dos títulos das terras e registros irregulares.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério do Desenvolvimento Agrário

d)Garantir demarcação, homologação, regularização e desintrusão das terras indígenas, em harmonia com os
projetos de futuro de cada povo indígena, assegurando seu etnodesenvolvimento e sua autonomia produtiva.

Responsável: Ministério da Justiça

e)Assegurar às comunidades quilombolas a posse dos seus territórios, acelerando a identificação, o


reconhecimento, a demarcação e a titulação desses territórios, respeitando e preservando os sítios de valor
simbólico e histórico.

Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República;


Ministério da Cultura; Ministério do Desenvolvimento Agrário

f)Garantir o acesso a terra às populações ribeirinhas, varzanteiras e pescadoras, assegurando acesso aos
recursos naturais que tradicionalmente utilizam para sua reprodução física, cultural e econômica.

Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Agrário; Ministério do Meio Ambiente

g)Garantir que nos programas habitacionais do governo sejam priorizadas as populações de baixa renda, a
população em situação de rua e grupos sociais em situação de vulnerabilidade no espaço urbano e rural,
considerando os princípios da moradia digna, do desenho universal e os critérios de acessibilidade nos projetos.

Responsáveis: Ministério das Cidades; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

h)Promover a destinação das glebas e edifícios vazios ou subutilizados pertencentes à União, para a população
de baixa renda, reduzindo o déficit habitacional.

Responsáveis: Ministério das Cidades; Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão

i)Estabelecer que a garantia da qualidade de abrigos e albergues, bem como seu caráter inclusivo e de resgate
da cidadania à população em situação de rua, estejam entre os critérios de concessão de recursos para novas
construções e manutenção dos existentes.

Responsáveis: Ministério das Cidades; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

j)Apoiar o monitoramento de políticas de habitação de interesse social pelos conselhos municipais de habitação,
garantindo às cooperativas e associações habitacionais acesso às informações.

Responsável: Ministério das Cidades

k)Garantir as condições para a realização de acampamentos ciganos em todo o território nacional, visando a
preservação de suas tradições, práticas e patrimônio cultural.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério das Cidades

Objetivo estratégico IV:

Ampliação do acesso universal a sistema de saúde de qualidade.


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 496

Ações programáticas:

a)Expandir e consolidar programas de serviços básicos de saúde e de atendimento domiciliar para a população
de baixa renda, com enfoque na prevenção e diagnóstico prévio de doenças e deficiências, com apoio
diferenciado às pessoas idosas, indígenas, negros e comunidades quilombolas, pessoas com deficiência,
pessoas em situação de rua, lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, crianças e adolescentes,
mulheres, pescadores artesanais e população de baixa renda.

Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da


Presidência da República; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República;
Ministério da Pesca e Aquicultura

b)Criar programas de pesquisa e divulgação sobre tratamentos alternativos à medicina tradicional no sistema
de saúde.

Responsável: Ministério da Saúde

c)Reformular o marco regulatório dos planos de saúde, de modo a diminuir os custos para a pessoa idosa e
fortalecer o pacto intergeracional, estimulando a adoção de medidas de capitalização para gastos futuros pelos
planos de saúde.

Responsável: Ministério da Saúde

d)Reconhecer as parteiras como agentes comunitárias de saúde.

Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da


República

e)Aperfeiçoar o programa de saúde para adolescentes, especificamente quanto à saúde de gênero, à educação
sexual e reprodutiva e à saúde mental.

Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da


República; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

f)Criar campanhas e material técnico, instrucional e educativo sobre planejamento reprodutivo que respeite os
direitos sexuais e reprodutivos, contemplando a elaboração de materiais específicos para a população jovem
e adolescente e para pessoas com deficiência.

Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da


República; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

g)Estimular programas de atenção integral à saúde das mulheres, considerando suas especificidades étnico-
raciais, geracionais, regionais, de orientação sexual, de pessoa com deficiência, priorizando as moradoras do
campo, da floresta e em situação de rua.

Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da


República; Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República;
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

h)Ampliar e disseminar políticas de saúde pré e neonatal, com inclusão de campanhas educacionais de
esclarecimento, visando à prevenção do surgimento ou do agravamento de deficiências.

Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da


República; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

i)Expandir a assistência pré-natal e pós-natal por meio de programas de visitas domiciliares para
acompanhamento das crianças na primeira infância.

Responsável: Ministério da Saúde


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 497

j)Apoiar e financiar a realização de pesquisas e intervenções sobre a mortalidade materna, contemplando o


recorte étnico-racial e regional.

Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da


República

k)Assegurar o acesso a laqueaduras e vasectomias ou reversão desses procedimentos no sistema público de


saúde, com garantia de acesso a informações sobre as escolhas individuais.

Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da


República

l)Ampliar a oferta de medicamentos de uso contínuo, especiais e excepcionais, para a pessoa idosa.

Responsável: Ministério da Saúde

m)Realizar campanhas de diagnóstico precoce e tratamento adequado às pessoas que vivem com HIV/AIDS
para evitar o estágio grave da doença e prevenir sua expansão e disseminação.

Responsável: Ministério da Saúde

n)Proporcionar às pessoas que vivem com HIV/AIDS programas de atenção no âmbito da saúde sexual e
reprodutiva.

Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da


República

o)Capacitar os agentes comunitários de saúde que realizam a triagem e a captação nas hemorredes para
praticarem abordagens sem preconceito e sem discriminação.

Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

p)Garantir o acompanhamento multiprofissional a pessoas transexuais que fazem parte do processo


transexualizador no Sistema Único de Saúde e de suas famílias.

Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

q)Apoiar o acesso a programas de saúde preventiva e de proteção à saúde para profissionais do sexo.

Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da


República

r)Apoiar a implementação de espaços essenciais para higiene pessoal e centros de referência para a população
em situação de rua.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério do


Desenvolvimento Social e Combate à Fome

s)Investir na política de reforma psiquiátrica fomentando programas de tratamentos substitutivos à internação,


que garantam às pessoas com transtorno mental a possibilidade de escolha autônoma de tratamento, com
convivência familiar e acesso aos recursos psiquiátricos e farmacológicos.

Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República;
Ministério da Cultura

t)Implementar medidas destinadas a desburocratizar os serviços do Instituto Nacional de Seguro Social para a
concessão de aposentadorias e benefícios.

Responsável: Ministério da Previdência Social

u)Estimular a incorporação do trabalhador urbano e rural ao regime geral da previdência social.


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 498

Responsável: Ministério da Previdência Social

v)Assegurar a inserção social das pessoas atingidas pela hanseníase isoladas e internadas em hospitais-
colônias.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Saúde

w)Reconhecer, pelo Estado brasileiro, as violações de direitos às pessoas atingidas pela hanseníase no período
da internação e do isolamento compulsórios, apoiando iniciativas para agilizar as reparações com a concessão
de pensão especial prevista na Lei no 11.520/2007.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

x)Proporcionar as condições necessárias para conclusão do trabalho da Comissão Interministerial de Avaliação


para análise dos requerimentos de pensão especial das pessoas atingidas pela hanseníase, que foram
internadas e isoladas compulsoriamente em hospitais-colônia até 31 de dezembro de 1986.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

Objetivo estratégico V:

Acesso à educação de qualidade e garantia de permanência na escola.

Ações programáticas:

a)Ampliar o acesso a educação básica, a permanência na escola e a universalização do ensino no atendimento


à educação infantil.

Responsável: Ministério da Educação

b)Assegurar a qualidade do ensino formal público com seu monitoramento contínuo e atualização curricular.

Responsáveis: Ministério da Educação; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

c)Desenvolver programas para a reestruturação das escolas como pólos de integração de políticas
educacionais, culturais e de esporte e lazer.

Responsáveis: Ministério da Educação; Ministério da Cultura; Ministério do Esporte

d)Apoiar projetos e experiências de integração da escola com a comunidade que utilizem sistema de
alternância.

Responsável: Ministério da Educação

e)Adequar o currículo escolar, inserindo conteúdos que valorizem as diversidades, as práticas artísticas, a
necessidade de alimentação adequada e saudável e as atividades físicas e esportivas.

Responsáveis: Ministério da Educação; Ministério da Cultura; Ministério do Esporte; Ministério da Saúde

f)Integrar os programas de alfabetização de jovens e adultos aos programas de qualificação profissional e


educação cidadã, apoiando e incentivando a utilização de metodologias adequadas às realidades dos povos e
comunidades tradicionais.

Responsáveis: Ministério da Educação; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Ministério


do Trabalho e Emprego; Ministério da Pesca e Aquicultura

g)Estimular e financiar programas de extensão universitária como forma de integrar o estudante à realidade
social.

Responsável: Ministério da Educação


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 499

h)Fomentar as ações afirmativas para o ingresso das populações negra, indígena e de baixa renda no ensino
superior.

Responsáveis: Ministério da Educação; Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da


Presidência da República; Ministério da Justiça

i)Ampliar o ensino superior público de qualidade por meio da criação permanente de universidades federais,
cursos e vagas para docentes e discentes.

Responsável: Ministério da Educação

j)Fortalecer as iniciativas de educação popular por meio da valorização da arte e da cultura, apoiando a
realização de festivais nas comunidades tradicionais e valorizando as diversas expressões artísticas nas
escolas e nas comunidades.

Responsáveis: Ministério da Educação; Ministério da Cultura; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Presidência da República

k)Ampliar o acesso a programas de inclusão digital para populações de baixa renda em espaços públicos,
especialmente escolas, bibliotecas e centros comunitários.

Responsáveis: Ministério da Educação; Ministério da Cultura; Ministério da Ciência e Tecnologia; Ministério da


Pesca e Aquicultura

l)Fortalecer programas de educação no campo e nas comunidades pesqueiras que estimulem a permanência
dos estudantes na comunidade e que sejam adequados às respectivas culturas e identidades.

Responsáveis: Ministério da Educação; Ministério do Desenvolvimento Agrário; Ministério da Pesca e


Aquicultura

Objetivo estratégico VI:

Garantia do trabalho decente, adequadamente remunerado, exercido em condições de equidade e segurança.

Ações programáticas:

a)Apoiar a agenda nacional de trabalho decente por meio do fortalecimento do seu comitê executivo e da
efetivação de suas ações.

Responsável: Ministério do Trabalho e Emprego

b)Fortalecer programas de geração de emprego, ampliando progressivamente o nível de ocupação e


priorizando a população de baixa renda e os Estados com elevados índices de emigração.

Responsável: Ministério do Trabalho e Emprego

c)Ampliar programas de economia solidária, mediante políticas integradas, como alternativa de geração de
trabalho e renda, e de inclusão social, priorizando os jovens das famílias beneficiárias do Programa Bolsa
Família.

Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

d)Criar programas de formação, qualificação e inserção profissional e de geração de emprego e renda para
jovens, população em situação de rua e população de baixa renda.

Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome;


Ministério da Educação
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 500

e)Integrar as ações de qualificação profissional às atividades produtivas executadas com recursos públicos,
como forma de garantir a inserção no mercado de trabalho.

Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

f)Criar programas de formação e qualificação profissional para pescadores artesanais, industriais e aquicultores
familiares.

Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Ministério da Pesca e Aquicultura

g)Combater as desigualdades salariais baseadas em diferenças de gênero, raça, etnia e das pessoas com
deficiência.

Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência
da República

h)Acompanhar a implementação do Programa Nacional de Ações Afirmativas, instituído pelo Decreto no


4.228/2002, no âmbito da administração pública federal, direta e indireta, com vistas à realização de metas
percentuais da ocupação de cargos comissionados pelas mulheres, população negra e pessoas com
deficiência.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

i)Realizar campanhas envolvendo a sociedade civil organizada sobre paternidade responsável, bem como
ampliar a licença-paternidade, como forma de contribuir para a corresponsabilidade e para o combate ao
preconceito quanto à inserção das mulheres no mercado de trabalho.

Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República; Ministério do


Trabalho e Emprego

j)Elaborar diagnósticos com base em ações judiciais que envolvam atos de assédio moral, sexual e psicológico,
com apuração de denúncias de desrespeito aos direitos das trabalhadoras e trabalhadores, visando orientar
ações de combate à discriminação e abuso nas relações de trabalho.

Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade


Racial da Presidência da República; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da
República; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

k)Garantir a igualdade de direitos das trabalhadoras e trabalhadores domésticos com os dos demais
trabalhadores.

Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da


Presidência da República; Ministério da Previdência Social

l)Promover incentivos a empresas para que empreguem os egressos do sistema penitenciário.

Responsáveis: Ministério da Fazenda; Ministério do Trabalho e Emprego; Ministério da Justiça

m)Criar cadastro nacional e relatório periódico de empregabilidade de egressos do sistema penitenciário.

Responsável: Ministério da Justiça

n)Garantir os direitos trabalhistas e previdenciários de profissionais do sexo por meio da regulamentação de


sua profissão.

Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da


Presidência da República.

Objetivo estratégico VII:

Combate e prevenção ao trabalho escravo.


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 501

Ações programáticas:

a)Promover a efetivação do Plano Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo.

Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência
da República

b)Apoiar a coordenação e implementação de planos estaduais, distrital e municipais para erradicação do


trabalho escravo.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

c)Monitorar e articular o trabalho das comissões estaduais, distrital e municipais para a erradicação do trabalho
escravo.

Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência
da República

d)Apoiar a alteração da Constituição para prever a expropriação dos imóveis rurais e urbanos nos quais forem
encontrados trabalhadores reduzidos à condição análoga a de escravos.

Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da


República; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

e)Identificar periodicamente as atividades produtivas em que há ocorrência de trabalho escravo adulto e infantil.

Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência
da República

f)Propor marco legal e ações repressivas para erradicar a intermediação ilegal de mão de obra.

Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência
da República; Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial

g)Promover a destinação de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) para capacitação técnica e
profissionalizante de trabalhadores rurais e de povos e comunidades tradicionais, como medida preventiva ao
trabalho escravo, assim como para implementação de política de reinserção social dos libertados da condição
de trabalho escravo.

Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência
da República

h)Atualizar e divulgar semestralmente o cadastro de empregadores que utilizaram mão-de-obra escrava.

Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência
da República

Objetivo estratégico VIII:

Promoção do direito à cultura, lazer e esporte como elementos formadores de cidadania.

Ações programáticas:

a)Ampliar programas de cultura que tenham por finalidade planejar e implementar políticas públicas para a
proteção e promoção da diversidade cultural brasileira, em formatos acessíveis.

Responsáveis: Ministério da Cultura; Ministério do Esporte


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 502

b)Elaborar programas e ações de cultura que considerem os formatos acessíveis, as demandas e as


características específicas das diferentes faixas etárias e dos grupos sociais.

Responsável: Ministério da Cultura

c)Fomentar políticas públicas de esporte e lazer, considerando as diversidades locais, de forma a atender a
todas as faixas etárias e aos grupos sociais.

Responsável: Ministério do Esporte

d)Elaborar inventário das línguas faladas no Brasil.

Responsável: Ministério da Cultura

e)Ampliar e desconcentrar os pólos culturais e pontos de cultura para garantir o acesso das populações de
regiões periféricas e de baixa renda.

Responsável: Ministério da Cultura

f)Fomentar políticas públicas de formação em esporte e lazer, com foco na intersetorialidade, na ação
comunitária na intergeracionalidade e na diversidade cultural.

Responsável: Ministério do Esporte

g)Ampliar o desenvolvimento de programas de produção audiovisual, musical e artesanal dos povos indígenas.

Responsáveis: Ministério da Cultura; Ministério da Justiça

h)Assegurar o direito das pessoas com deficiência e em sofrimento mental de participarem da vida cultural em
igualdade de oportunidade com as demais, e de desenvolver e utilizar o seu potencial criativo, artístico e
intelectual.

Responsáveis: Ministério do Esporte; Ministério da Cultura; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Presidência da República

i)Fortalecer e ampliar programas que contemplem participação dos idosos nas atividades de esporte e lazer.

Responsáveis: Ministério do Esporte; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

j)Potencializar ações de incentivo ao turismo para pessoas idosas.

Responsáveis: Ministério do Turismo; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

Objetivo estratégico IX:

Garantia da participação igualitária e acessível na vida política.

Ações programáticas:

a)Apoiar campanhas para promover a ampla divulgação do direito ao voto e participação política de homens e
mulheres, por meio de campanhas informativas que garantam a escolha livre e consciente.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da


República

b)Apoiar o combate ao crime de captação ilícita de sufrágio, inclusive com campanhas de esclarecimento e
conscientização dos eleitores.

Responsável: Ministério da Justiça


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 503

c)Apoiar os projetos legislativos para o financiamento público de campanhas eleitorais.

Responsável: Ministério da Justiça

d)Garantir acesso irrestrito às zonas eleitorais por meio de transporte público e acessível e apoiar a criação de
zonas eleitorais em áreas de difícil acesso.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério das Cidades

e)Promover junto aos povos indígenas ações de educação e capacitação sobre o sistema político brasileiro.

Responsável: Ministério da Justiça

f)Apoiar ações de formação política das mulheres em sua diversidade étnico-racial, estimulando candidaturas
e votos de mulheres em todos os níveis.

Responsável: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República

g)Garantir e estimular a plena participação das pessoas com deficiência no ato do sufrágio, seja como eleitor
ou candidato, assegurando os mecanismos de acessibilidade necessários, inclusive a modalidade do voto
assistido.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

Diretriz 8: Promoção dos direitos de crianças e adolescentes para o seu desenvolvimento integral, de
forma não discriminatória, assegurando seu direito de opinião e participação.

Objetivo estratégico I:

Proteger e garantir os direitos de crianças e adolescentes por meio da consolidação das diretrizes nacionais do
ECA, da Política Nacional de Promoção, Proteção e Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente e da
Convenção sobre os Direitos da Criança da ONU.

Ações programáticas:

a)Formular plano de médio prazo e decenal para a política nacional de promoção, proteção e defesa dos direitos
da criança e do adolescente.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

b)Desenvolver e implementar metodologias de acompanhamento e avaliação das políticas e planos nacionais


referentes aos direitos de crianças e adolescentes.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

c)Elaborar e implantar sistema de coordenação da política dos direitos da criança e do adolescente em todos
os níveis de governo, para atender às recomendações do Comitê sobre Direitos da Criança, dos relatores
especiais e do Comitê sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais da ONU.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério das
Relações Exteriores

d)Criar sistema nacional de coleta de dados e monitoramento junto aos Municípios, Estados e Distrito Federal
acerca do cumprimento das obrigações da Convenção dos Direitos da Criança da ONU.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 504

e)Assegurar a opinião das crianças e dos adolescentes que estiverem capacitados a formular seus próprios
juízos, conforme o disposto no artigo 12 da Convenção sobre os Direitos da Criança, na formulação das
políticas públicas voltadas para estes segmentos, garantindo sua participação nas conferências dos direitos
das crianças e dos adolescentes.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

Objetivo estratégico II:

Consolidar o Sistema de Garantia de Direitos de Crianças e Adolescentes, com o fortalecimento do papel dos
Conselhos Tutelares e de Direitos.

Ações programáticas:

a)Apoiar a universalização dos Conselhos Tutelares e de Direitos em todos os Municípios e no Distrito Federal,
e instituir parâmetros nacionais que orientem o seu funcionamento.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

b)Implantar escolas de conselhos nos Estados e no Distrito Federal, com vistas a apoiar a estruturação e
qualificação da ação dos Conselhos Tutelares e de Direitos.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

c)Apoiar a capacitação dos operadores do sistema de garantia dos direitos para a proteção dos direitos e
promoção do modo de vida das crianças e adolescentes indígenas, afrodescendentes e comunidades
tradicionais, contemplando ainda as especificidades da população infanto-juvenil com deficiência.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Justiça

d)Fomentar a criação de instâncias especializadas e regionalizadas do sistema de justiça, de segurança e


defensorias públicas, para atendimento de crianças e adolescentes vítimas e autores de violência.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Justiça

e)Desenvolver mecanismos que viabilizem a participação de crianças e adolescentes no processo das


conferências dos direitos, nos conselhos de direitos, bem como nas escolas, nos tribunais e nos procedimentos
judiciais e administrativos que os afetem.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

f)Estimular a informação às crianças e aos adolescentes sobre seus direitos, por meio de esforços conjuntos
na escola, na mídia impressa, na televisão, no rádio e na Internet.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Educação

Objetivo estratégico III:

Proteger e defender os direitos de crianças e adolescentes com maior vulnerabilidade.

Ações programáticas:

a)Promover ações educativas para erradicação da violência na família, na escola, nas instituições e na
comunidade em geral, implementando as recomendações expressas no Relatório Mundial de Violência contra
a Criança da ONU.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 505

b)Desenvolver programas nas redes de assistência social, de educação e de saúde para o fortalecimento do
papel das famílias em relação ao desenvolvimento infantil e à disciplina não violenta.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da


Educação; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Ministério da Saúde

c)Propor marco legal para a abolição das práticas de castigos físicos e corporais contra crianças e
adolescentes.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Justiça

d)Implantar sistema nacional de registro de ocorrência de violência escolar, incluindo as práticas de violência
gratuita e reiterada entre estudantes (bullying), adotando formulário unificado de registro a ser utilizado por
todas as escolas.

Responsável: Ministério da Educação

e)Apoiar iniciativas comunitárias de mobilização de crianças e adolescentes em estratégias preventivas, com


vistas a minimizar sua vulnerabilidade em contextos de violência.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Justiça;
Ministério do Esporte; Ministério do Turismo

f)Extinguir os grandes abrigos e eliminar a longa permanência de crianças e adolescentes em abrigamento,


adequando os serviços de acolhimento aos parâmetros aprovados pelo CONANDA e CNAS.

Responsável: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

g)Fortalecer as políticas de apoio às famílias para a redução dos índices de abandono e institucionalização,
com prioridade aos grupos familiares de crianças com deficiências.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério do


Desenvolvimento Social e Combate à Fome

h)Ampliar a oferta de programas de famílias acolhedoras para crianças e adolescentes em situação de


violência, com o objetivo de garantir que esta seja a única opção para crianças retiradas do convívio com sua
família de origem na primeira infância.

Responsável: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

i)Estruturar programas de moradia coletivas para adolescentes e jovens egressos de abrigos institucionais.

Responsável: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

j)Fomentar a adoção legal, por meio de campanhas educativas, em consonância com o ECA e com acordos
internacionais.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério das
Relações Exteriores

k)Criar serviços e aprimorar metodologias para identificação e localização de crianças e adolescentes


desaparecidos.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

l)Exigir em todos os projetos financiados pelo Governo Federal a adoção de estratégias de não discriminação
de crianças e adolescentes em razão de classe, raça, etnia, crença, gênero, orientação sexual, identidade de
gênero, deficiência, prática de ato infracional e origem.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 506

m)Reforçar e centralizar os mecanismos de coleta e análise sistemática de dados desagregados da infância e


adolescência, especialmente sobre os grupos em situação de vulnerabilidade, historicamente vulnerabilizados,
vítimas de discriminação, de abuso e de negligência.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

n)Estruturar rede de canais de denúncias (Disques) de violência contra crianças e adolescentes, integrada aos
Conselhos Tutelares.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

o)Estabelecer instrumentos para combater a discriminação religiosa sofrida por crianças e adolescentes.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

Objetivo estratégico IV:

Enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes.

Ações programáticas:

a)Revisar o Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, em


consonância com as recomendações do III Congresso Mundial sobre o tema.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

b)Ampliar o acesso e qualificar os programas especializados em saúde, educação e assistência social, no


atendimento a crianças e adolescentes vítimas de violência sexual e de suas famílias

Responsáveis: Ministério da Saúde; Ministério da Educação; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate


à Fome; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

c)Desenvolver protocolos unificados de atendimento psicossocial e jurídico a vítimas de violência sexual.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Saúde;
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres
da Presidência da República

d)Desenvolver ações específicas para combate à violência e à exploração sexual de crianças e adolescentes
em situação de rua.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério do


Desenvolvimento Social e Combate à Fome.

e)Estimular a responsabilidade social das empresas para ações de enfrentamento da exploração sexual e de
combate ao trabalho infantil em suas organizações e cadeias produtivas.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério do Trabalho
e Emprego; Ministério do Turismo;

f)Combater a pornografia infanto-juvenil na Internet, por meio do fortalecimento do Hot Line Federal e da difusão
de procedimentos de navegação segura para crianças, adolescentes, famílias e educadores.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República;
Ministério da Educação

Objetivo estratégico V:
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 507

Garantir o atendimento especializado a crianças e adolescentes em sofrimento psíquico e dependência


química.

Ações programáticas:

a)Universalizar o acesso a serviços de saúde mental para crianças e adolescentes em cidades de grande e
médio porte, incluindo a garantia de retaguarda para as unidades de internação socioeducativa.

Responsável: Ministério da Saúde

b)Fortalecer políticas de saúde que contemplem programas de desintoxicação e redução de danos em casos
de dependência química.

Responsável: Ministério da Saúde

Objetivo estratégico VI:

Erradicação do trabalho infantil em todo o território nacional.

Ações programáticas:

a)Erradicar o trabalho infantil, por meio das ações intersetoriais no Governo Federal, com ênfase no apoio às
famílias e educação em tempo integral.

Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Ministério da Educação; Secretaria Especial dos Direitos
Humanos da Presidência da República

b)Fomentar a implantação da Lei de Aprendizagem (Lei no 10.097/2000), mobilizando empregadores,


organizações de trabalhadores, inspetores de trabalho, Judiciário, organismos internacionais e organizações
não governamentais.

Responsável: Ministério do Trabalho e Emprego

c)Desenvolver pesquisas, campanhas e relatórios periódicos sobre o trabalho infantil, com foco em temas e
públicos que requerem abordagens específicas, tais como agricultura familiar, trabalho doméstico, trabalho de
rua.

Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da


Presidência da República; Ministério do Desenvolvimento Agrário; Secretaria Especial dos Direitos Humanos
da Presidência da República; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Ministério da Justiça

Objetivo estratégico VII:

Implementação do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE).

Ações programáticas:

a)Elaborar e implementar um plano nacional socioeducativo e sistema de avaliação da execução das medidas
daquele sistema, com divulgação anual de seus resultados e estabelecimento de metas, de acordo com o
estabelecido no ECA.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

b)Implantar módulo específico de informações para o sistema nacional de atendimento educativo junto ao
Sistema de Informação para a Infância e Adolescência, criando base de dados unificada que inclua as varas
da infância e juventude, as unidades de internação e os programas municipais em meio aberto.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 508

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

c)Implantar centros de formação continuada para os operadores do sistema socioeducativo em todos os


Estados e no Distrito Federal.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da


Educação; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

d)Desenvolver estratégias conjuntas com o sistema de justiça, com vistas ao estabelecimento de regras
específicas para a aplicação da medida de privação de liberdade em caráter excepcional e de pouca duração.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

e)Apoiar a expansão de programas municipais de atendimento socioeducativo em meio aberto.

Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Secretaria Especial dos Direitos
Humanos da Presidência da República

f)Apoiar os Estados e o Distrito Federal na implementação de programas de atendimento ao adolescente em


privação de liberdade, com garantia de escolarização, atendimento em saúde, esporte, cultura e educação para
o trabalho, condicionando a transferência voluntária de verbas federais à observância das diretrizes do plano
nacional.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da


Educação; Ministério da Saúde; Ministério do Esporte; Ministério da Cultura; Ministério do Trabalho e Emprego

g)Garantir aos adolescentes privados de liberdade e suas famílias informação sobre sua situação legal, bem
como acesso à defesa técnica durante todo o período de cumprimento da medida socioeducativa.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Justiça

h)Promover a transparência das unidades de internação de adolescentes em conflito com a lei, garantindo o
contato com a família e a criação de comissões mistas de inspeção e supervisão.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

i)Fomentar a desativação dos grandes complexos de unidades de internação, por meio do apoio à reforma e
construção de novas unidades alinhadas aos parâmetros estabelecidos no SINASE e no ECA, em especial na
observância da separação por sexo, faixa etária e compleição física.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

j)Desenvolver campanhas de informação sobre o adolescente em conflito com a lei, defendendo a não redução
da maioridade penal.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

k)Estabelecer parâmetros nacionais para a apuração administrativa de possíveis violações dos direitos e casos
de tortura em adolescentes privados de liberdade, por meio de sistema independente e de tramitação ágil.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

Diretriz 9: Combate às desigualdades estruturais.

Objetivo estratégico I:

Igualdade e proteção dos direitos das populações negras, historicamente afetadas pela discriminação e outras
formas de intolerância.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 509

Ações programáticas:

a)Apoiar, junto ao Poder Legislativo, a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial.

Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República;


Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

b)Promover ações articuladas entre as políticas de educação, cultura, saúde e de geração de emprego e renda,
visando incidir diretamente na qualidade de vida da população negra e no combate à violência racial.

Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República;


Ministério da Educação; Ministério do Trabalho e Emprego; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate
à Fome; Ministério da Saúde

c)Elaborar programas de combate ao racismo institucional e estrutural, implementando normas administrativas


e legislação nacional e internacional.

Responsável: Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República

d)Realizar levantamento de informações para produção de relatórios periódicos de acompanhamento das


políticas contra a discriminação racial, contendo, entre outras, informações sobre inclusão no sistema de ensino
(básico e superior), inclusão no mercado de trabalho, assistência integrada à saúde, número de violações
registradas e apuradas, recorrências de violações, e dados populacionais e de renda.

Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República;


Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

e)Analisar periodicamente os indicadores que apontam desigualdades visando à formulação e implementação


de políticas públicas afirmativas que valorizem a promoção da igualdade racial.

Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República;


Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Educação; Ministério do
Trabalho e Emprego; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Ministério da Saúde

f)Fortalecer a integração das políticas públicas em todas as comunidades remanescentes de quilombos


localizadas no território brasileiro.

Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República;


Ministério da Cultura

g)Fortalecer os mecanismos existentes de reconhecimento das comunidades quilombolas como garantia dos
seus direitos específicos .

Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Agrário; Ministério da Cultura; Secretaria Especial de Política de


Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República

h)Fomentar programas de valorização do patrimônio cultural das populações negras.

Responsável: Ministério da Cultura; Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da


República

i)Assegurar o resgate da memória das populações negras, mediante a publicação da história de resistência e
resgate de tradições das populações das diásporas.

Responsável: Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República

Objetivo estratégico II:


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 510

Garantia aos povos indígenas da manutenção e resgate das condições de reprodução, assegurando seus
modos de vida.

Ações programáticas:

a)Assegurar a integridade das terras indígenas para proteger e promover o modo de vida dos povos indígenas.

Responsável: Ministério da Justiça

b)Proteger os povos indígenas isolados e de recente contato para garantir sua reprodução cultural e
etnoambiental.

Responsável: Ministério da Justiça

c)Aplicar os saberes dos povos indígenas e das comunidades tradicionais na elaboração de políticas públicas,
respeitando a Convenção no 169 da OIT.

Responsável: Ministério da Justiça

d)Apoiar projetos de lei com objetivo de revisar o Estatuto do Índio com base no texto constitucional de 1988 e
na Convenção no 169 da OIT.

Responsável: Ministério da Justiça

e)Elaborar relatório periódico de acompanhamento das políticas indigenistas que contemple dados sobre os
processos de demarcações das terras indígenas, dados sobre intrusões e conflitos territoriais, inclusão no
sistema de ensino (básico e superior), assistência integrada à saúde, número de violações registradas e
apuradas, recorrências de violações e dados populacionais.

Responsável: Ministério da Justiça

f)Proteger e promover os conhecimentos tradicionais e medicinais dos povos indígenas.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Saúde

g)Implementar políticas de proteção do patrimônio dos povos indígenas, por meio dos registros material e
imaterial, mapeando os sítios históricos e arqueológicos, a cultura, as línguas e a arte.

Responsáveis: Ministério da Cultura; Ministério da Justiça

h)Promover projetos e pesquisas para resgatar a história dos povos indígenas.

Responsável: Ministério da Justiça

i)Promover ações culturais para o fortalecimento da educação escolar dos povos indígenas, estimulando a
valorização de suas próprias formas de produção do conhecimento.

Responsáveis: Ministério da Cultura; Ministério da Justiça

j)Garantir o acesso à educação formal pelos povos indígenas, bilíngues e com adequação curricular formulada
com a participação de representantes das etnias indigenistas e especialistas em educação.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Educação

k)Assegurar o acesso e permanência da população indígena no ensino superior, por meio de ações afirmativas
e respeito à diversidade étnica e cultural.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Educação

l)Adotar medidas de proteção dos direitos das crianças indígenas nas redes de ensino, saúde e assistência
social, em consonância com a promoção dos seus modos de vida.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 511

Responsáveis: Ministério da Educação; Ministério da Saúde; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate


à Fome; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

Objetivo estratégico III:

Garantia dos direitos das mulheres para o estabelecimento das condições necessárias para sua plena
cidadania.

Ações programáticas:

a)Desenvolver ações afirmativas que permitam incluir plenamente as mulheres no processo de


desenvolvimento do País, por meio da promoção da sua autonomia econômica e de iniciativas produtivas que
garantam sua independência.

Responsável: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República

b)Incentivar políticas públicas e ações afirmativas para a participação igualitária, plural e multirracial das
mulheres nos espaços de poder e decisão.

Responsável: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República

c)Elaborar relatório periódico de acompanhamento das políticas para mulheres com recorte étnico-racial, que
contenha dados sobre renda, jornada e ambiente de trabalho, ocorrências de assédio moral, sexual e
psicológico, ocorrências de violências contra a mulher, assistência à saúde integral, dados reprodutivos,
mortalidade materna e escolarização.

Responsável: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República

d)Divulgar os instrumentos legais de proteção às mulheres, nacionais e internacionais, incluindo sua publicação
em formatos acessíveis, como braile, CD de áudio e demais tecnologias assistivas.

Responsável: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República

e)Ampliar o financiamento de abrigos para mulheres em situação de vulnerabilidade, garantindo plena


acessibilidade.

Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República; Ministério do


Desenvolvimento Social e Combate à Fome

f)Propor tratamento preferencial de atendimento às mulheres em situação de violência doméstica e familiar nos
Conselhos Gestores do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social e junto ao Fundo de Desenvolvimento
Social.

Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República; Ministério das
Cidades; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

g)Apoiar a aprovação do projeto de lei que descriminaliza o aborto, considerando a autonomia das mulheres
para decidir sobre seus corpos.

g) Considerar o aborto como tema de saúde pública, com a garantia do acesso aos serviços de saúde.
(Redação dada pelo Decreto nº 7.177, de 2010)

Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da


República; Ministério da Justiça

h)Realizar campanhas e ações educativas para desconstruir os estereótipos relativos às profissionais do sexo.

Responsável: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 512

Diretriz 10: Garantia da igualdade na diversidade.

Objetivo estratégico I:

Afirmação da diversidade para construção de uma sociedade igualitária.

Ações programáticas:

a)Realizar campanhas e ações educativas para desconstrução de estereótipos relacionados com diferenças
étnico-raciais, etárias, de identidade e orientação sexual, de pessoas com deficiência, ou segmentos
profissionais socialmente discriminados.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Secretaria Especial de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República; Secretaria Especial de Políticas para
as Mulheres da Presidência da República; Ministério da Cultura

b)Incentivar e promover a realização de atividades de valorização da cultura das comunidades tradicionais,


entre elas ribeirinhos, extrativistas, quebradeiras de coco, pescadores artesanais, seringueiros, geraizeiros,
varzanteiros, pantaneiros, comunidades de fundo de pasto, caiçaras e faxinalenses.

Responsáveis: Ministério da Cultura; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Ministério do


Esporte

c)Fomentar a formação e capacitação em Direitos Humanos, como meio de resgatar a autoestima e a dignidade
das comunidades tradicionais, rurais e urbanas.

Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República;


Ministério da Justiça; Ministério da Cultura

d)Apoiar políticas de acesso a direitos para a população cigana, valorizando seus conhecimentos e cultura.

Responsável: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

e)Apoiar e valorizar a associação das mulheres quebradeiras de coco, protegendo e promovendo a


continuidade de seu trabalho extrativista.

Responsável: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

f)Elaborar relatórios periódicos de acompanhamento das políticas direcionadas às populações e comunidades


tradicionais, que contenham, entre outras, informações sobre população estimada, assistência integrada à
saúde, número de violações registradas e apuradas, recorrência de violações, lideranças ameaçadas, dados
sobre acesso à moradia, terra e território e conflitos existentes.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Saúde; Secretaria Especial de Políticas de Promoção da


Igualdade Racial da Presidência da República; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da
República

Objetivo estratégico II:

Proteção e promoção da diversidade das expressões culturais como Direito Humano.

Ações programáticas:

a)Promover ações de afirmação do direito à diversidade das expressões culturais, garantindo igual dignidade
e respeito para todas as culturas.

Responsável: Ministério da Cultura

b)Incluir nos instrumentos e relatórios de políticas culturais a temática dos Direitos Humanos.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 513

Responsável: Ministério da Cultura

Objetivo estratégico III:

Valorização da pessoa idosa e promoção de sua participação na sociedade.

Ações programáticas:

a)Promover a inserção, a qualidade de vida e a prevenção de agravos aos idosos, por meio de programas que
fortaleçam o convívio familiar e comunitário, garantindo o acesso a serviços, ao lazer, à cultura e à atividade
física, de acordo com sua capacidade funcional.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Cultura;
Ministério do Esporte

b)Apoiar a criação de centros de convivência e desenvolver ações de valorização e socialização da pessoa


idosa nas zonas urbanas e rurais.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Cultura

c)Fomentar programas de voluntariado de pessoas idosas, visando valorizar e reconhecer sua contribuição
para o desenvolvimento e bem-estar da comunidade.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

d)Desenvolver ações que contribuam para o protagonismo da pessoa idosa na escola, possibilitando sua
participação ativa na construção de uma nova percepção intergeracional.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

e)Potencializar ações com ênfase no diálogo intergeracional, valorizando o conhecimento acumulado das
pessoas idosas.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

f)Desenvolver ações intersetoriais para capacitação continuada de cuidadores de pessoas idosas.

Responsáveis: Ministério da Saúde; Ministério da Cultura

g)Desenvolver política de humanização do atendimento ao idoso, principalmente em instituições de longa


permanência.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Cultura

h)Elaborar programas de capacitação para os operadores dos direitos da pessoa idosa.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República.

i)Elaborar relatório periódico de acompanhamento das políticas para pessoas idosas que contenha informações
sobre os Centros Integrados de Atenção a Prevenção à Violência, tais como: quantidade existente; sua
participação no financiamento público; sua inclusão nos sistemas de atendimento; número de profissionais
capacitados; pessoas idosas atendidas; proporção dos casos com resoluções; taxa de reincidência; pessoas
idosas seguradas e aposentadas; famílias providas por pessoas idosas; pessoas idosas em abrigos; pessoas
idosas em situação de rua; principal fonte de renda dos idosos; pessoas idosas atendidas, internadas e mortas
por violência ou maus-tratos.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Saúde;
Ministério da Previdência Social; Ministério da Justiça; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 514

Objetivo estratégico IV:

Promoção e proteção dos direitos das pessoas com deficiência e garantia da acessibilidade igualitária.

Ações programáticas:

a)Garantir às pessoas com deficiência igual e efetiva proteção legal contra a discriminação.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Justiça

b)Garantir salvaguardas apropriadas e efetivas para prevenir abusos a pessoas com deficiência e pessoas
idosas.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

c)Assegurar o cumprimento do Decreto de Acessibilidade (Decreto no 5.296/2004), que garante a


acessibilidade pela adequação das vias e passeios públicos, semáforos, mobiliários, habitações, espaços de
lazer, transportes, prédios públicos, inclusive instituições de ensino, e outros itens de uso individual e coletivo.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério do Trabalho
e Emprego; Ministério das Cidades

d)Garantir recursos didáticos e pedagógicos para atender às necessidades educativas especiais.

Responsável: Ministério da Educação

e)Disseminar a utilização dos sistemas braile, tadoma, escrita de sinais e libras tátil para inclusão das pessoas
com deficiência em todo o sistema de ensino.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Educação

f)Instituir e implementar o ensino da Língua Brasileira de Sinais como disciplina curricular facultativa.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Educação

g)Propor a regulamentação das profissões relativas à implementação da acessibilidade, tais como: instrutor de
Libras, guia-intérprete, tradutor-intérprete, transcritor, revisor e ledor da escrita braile e treinadores de cães-
guia.

Responsável: Ministério do Trabalho e Emprego

h)Elaborar relatórios sobre os Municípios que possuam frota adaptada para subsidiar o processo de
monitoramento do cumprimento e implementação da legislação de acessibilidade.

Responsáveis: Ministério das Cidades; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

Objetivo estratégico V:

Garantia do respeito à livre orientação sexual e identidade de gênero.

Ações programáticas:

a)Desenvolver políticas afirmativas e de promoção de cultura de respeito à livre orientação sexual e identidade
de gênero, favorecendo a visibilidade e o reconhecimento social.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 515

b)Apoiar projeto de lei que disponha sobre a união civil entre pessoas do mesmo sexo.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Justiça

c)Promover ações voltadas à garantia do direito de adoção por casais homoafetivos.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República;
Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República

d)Reconhecer e incluir nos sistemas de informação do serviço público todas as configurações familiares
constituídas por lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, com base na desconstrução da
heteronormatividade.

Responsável: Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão

e)Desenvolver meios para garantir o uso do nome social de travestis e transexuais.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

f)Acrescentar campo para informações sobre a identidade de gênero dos pacientes nos prontuários do sistema
de saúde.

Responsável: Ministério da Saúde

g)Fomentar a criação de redes de proteção dos Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e
Transexuais (LGBT), principalmente a partir do apoio à implementação de Centros de Referência em Direitos
Humanos de Prevenção e Combate à Homofobia e de núcleos de pesquisa e promoção da cidadania daquele
segmento em universidades públicas.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

h)Realizar relatório periódico de acompanhamento das políticas contra discriminação à população LGBT, que
contenha, entre outras, informações sobre inclusão no mercado de trabalho, assistência à saúde integral,
número de violações registradas e apuradas, recorrências de violações, dados populacionais, de renda e
conjugais.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

Objetivo estratégico VI:

Respeito às diferentes crenças, liberdade de culto e garantia da laicidade do Estado.

Ações programáticas:

a)Instituir mecanismos que assegurem o livre exercício das diversas práticas religiosas, assegurando a
proteção do seu espaço físico e coibindo manifestações de intolerância religiosa.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Cultura; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Presidência da República

b)Promover campanhas de divulgação sobre a diversidade religiosa para disseminar cultura da paz e de
respeito às diferentes crenças.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Cultura;
Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República

d)Estabelecer o ensino da diversidade e história das religiões, inclusive as derivadas de matriz africana, na
rede pública de ensino, com ênfase no reconhecimento das diferenças culturais, promoção da tolerância e na
afirmação da laicidade do Estado.

Responsáveis: Ministério da Educação; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 516

e)Realizar relatório sobre pesquisas populacionais relativas a práticas religiosas, que contenha, entre outras,
informações sobre número de religiões praticadas, proporção de pessoas distribuídas entre as religiões,
proporção de pessoas que já trocaram de religião, número de pessoas religiosas não praticantes e número de
pessoas sem religião.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

Eixo Orientador IV:

Segurança Pública, Acesso à Justiça e Combate à Violência

Por muito tempo, alguns segmentos da militância em Direitos Humanos mantiveram-se distantes do debate
sobre as políticas públicas de segurança no Brasil. No processo de consolidação da democracia, por diferentes
razões, movimentos sociais e entidades manifestaram dificuldade no tratamento do tema. Na base dessa
dificuldade, estavam a memória dos enfrentamentos com o aparato repressivo ao longo de duas décadas de
regime ditatorial, a postura violenta vigente, muitas vezes, em órgãos de segurança pública, a percepção do
crime e da violência como meros subprodutos de uma ordem social injusta a ser transformada em seus próprios
fundamentos.

Distanciamento análogo ocorreu nas universidades, que, com poucas exceções, não se debruçaram sobre o
modelo de polícia legado ou sobre os desafios da segurança pública. As polícias brasileiras, nos termos de sua
tradição institucional, pouco aproveitaram da reflexão teórica e dos aportes oferecidos pela criminologia
moderna e demais ciências sociais, já disponíveis há algumas décadas às polícias e aos gestores de países
desenvolvidos. A cultura arraigada de rejeitar as evidências acumuladas pela pesquisa e pela experiência de
reforma das polícias no mundo era a mesma que expressava nostalgia de um passado de ausência de garantias
individuais, e que identificava na idéia dos Direitos Humanos não a mais generosa entre as promessas
construídas pela modernidade, mas uma verdadeira ameaça.

Estavam postas as condições históricas, políticas e culturais para que houvesse um fosso aparentemente
intransponível entre os temas da segurança pública e os Direitos Humanos.

Nos últimos anos, contudo, esse processo de estranhamento mútuo passou a ser questionado. De um lado,
articulações na sociedade civil assumiram o desafio de repensar a segurança pública a partir de diálogos com
especialistas na área, policiais e gestores. De outro, começaram a ser implantadas as primeiras políticas
públicas buscando caminhos alternativos de redução do crime e da violência, a partir de projetos centrados na
prevenção e influenciados pela cultura de paz.

A proposição do Sistema Único de Segurança Pública, a modernização de parte das nossas estruturas policiais
e a aprovação de novos regimentos e leis orgânicas das polícias, a consciência crescente de que políticas de
segurança pública são realidades mais amplas e complexas do que as iniciativas possíveis às chamadas
"forças da segurança", o surgimento de nova geração de policiais, disposta a repensar práticas e dogmas e,
sobretudo, a cobrança da opinião pública e a maior fiscalização sobre o Estado, resultante do processo de
democratização, têm tornado possível a construção de agenda de reformas na área.

O Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci) e os investimentos já realizados pelo
Governo Federal na montagem de rede nacional de altos estudos em segurança pública, que têm beneficiado
milhares de policiais em cada Estado, simbolizam, ao lado do processo de debates da 1ª Conferência Nacional
de Segurança Pública, acúmulos históricos significativos, que apontam para novas e mais importantes
mudanças.

As propostas elencadas neste eixo orientador do PNDH-3 articulam-se com tal processo histórico de
transformação e exigem muito mais do que já foi alcançado. Para tanto, parte-se do pressuposto de que a
realidade brasileira segue sendo gravemente marcada pela violência e por severos impasses estruturais na
área da segurança pública.

Problemas antigos, como a ausência de diagnósticos, de planejamento e de definição formal de metas, a


desvalorização profissional dos policiais e dos agentes penitenciários, o desperdício de recursos e a
consagração de privilégios dentro das instituições, as práticas de abuso de autoridade e de violência policial
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 517

contra grupos vulneráveis e a corrupção dos agentes de segurança pública, demandam reformas tão urgentes
quanto profundas.

As propostas sistematizadas no PNDH-3 agregam, nesse contexto, as contribuições oferecidas pelo processo
da 11ª Conferência Nacional dos Direitos Humanos e avançam também sobre temas que não foram objeto de
debate, trazendo para o PNDH-3 parte do acúmulo crítico que tem sido proposto ao País pelos especialistas e
pesquisadores da área.

Em linhas gerais, o PNDH-3 aponta para a necessidade de ampla reforma no modelo de polícia e propõe o
aprofundamento do debate sobre a implantação do ciclo completo de policiamento às corporações estaduais.
Prioriza transparência e participação popular, instando ao aperfeiçoamento das estatísticas e à publicação de
dados, assim como à reformulação do Conselho Nacional de Segurança Pública. Contempla a prevenção da
violência e da criminalidade como diretriz, ampliando o controle sobre armas de fogo e indicando a necessidade
de profissionalização da investigação criminal.

Com ênfase na erradicação da tortura e na redução da letalidade policial e carcerária, confere atenção especial
ao estabelecimento de procedimentos operacionais padronizados, que previnam as ocorrências de abuso de
autoridade e de violência institucional, e confiram maior segurança a policiais e agentes penitenciários.
Reafirma a necessidade de criação de ouvidorias independentes em âmbito federal e, inspirado em tendências
mais modernas de policiamento, estimula as iniciativas orientadas por resultados, o desenvolvimento do
policiamento comunitário e voltado para a solução de problemas, elencando medidas que promovam a
valorização dos trabalhadores em segurança pública. Contempla, ainda, a criação de sistema federal que
integre os atuais sistemas de proteção a vítimas e testemunhas, defensores de Direitos Humanos e crianças e
adolescentes ameaçados de morte.

Também como diretriz, o PNDH-3 propõe profunda reforma da Lei de Execução Penal que introduza garantias
fundamentais e novos regramentos para superar as práticas abusivas, hoje comuns. E trata as penas privativas
de liberdade como última alternativa, propondo a redução da demanda por encarceramento e estimulando
novas formas de tratamento dos conflitos, como as sugeridas pelo mecanismo da Justiça Restaurativa.

Reafirma-se a centralidade do direito universal de acesso à Justiça, com a possibilidade de acesso aos tribunais
por toda a população, com o fortalecimento das defensorias públicas e a modernização da gestão judicial, de
modo a garantir respostas judiciais mais céleres e eficazes. Destacam-se, ainda, o direito de acesso à Justiça
em matéria de conflitos agrários e urbanos e o necessário estímulo aos meios de soluções pacíficas de
controvérsias.

O PNDH-3 apresenta neste eixo, fundamentalmente, propostas para que o Poder Público se aperfeiçoe no
desenvolvimento de políticas públicas de prevenção ao crime e à violência, reforçando a noção de acesso
universal à Justiça como direito fundamental, e sustentando que a democracia, os processos de participação e
transparência, aliados ao uso de ferramentas científicas e à profissionalização das instituições e trabalhadores
da segurança, assinalam os roteiros mais promissores para que o Brasil possa avançar no caminho da paz
pública.

Diretriz 11: Democratização e modernização do sistema de segurança pública

Objetivo estratégico I:

Modernização do marco normativo do sistema de segurança pública.

Ações programáticas:

a)Propor alteração do texto constitucional, de modo a considerar as polícias militares não mais como forças
auxiliares do Exército, mantendo-as apenas como força reserva.

Responsável: Ministério da Justiça


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 518

b)Propor a revisão da estrutura, treinamento, controle, emprego e regimentos disciplinares dos órgãos de
segurança pública, de forma a potencializar as suas funções de combate ao crime e proteção dos direitos de
cidadania, bem como garantir que seus órgãos corregedores disponham de carreira própria, sem subordinação
à direção das instituições policiais.

Responsável: Ministério da Justiça

c)Propor a criação obrigatória de ouvidorias de polícias independentes nos Estados e no Distrito Federal, com
ouvidores protegidos por mandato e escolhidos com participação da sociedade.

Responsável: Ministério da Justiça

d)Assegurar a autonomia funcional dos peritos e a modernização dos órgãos periciais oficiais, como forma de
incrementar sua estruturação, assegurando a produção isenta e qualificada da prova material, bem como o
princípio da ampla defesa e do contraditório e o respeito aos Direitos Humanos.

Responsável: Ministério da Justiça

e)Promover o aprofundamento do debate sobre a instituição do ciclo completo da atividade policial, com
competências repartidas pelas polícias, a partir da natureza e da gravidade dos delitos.

Responsável: Ministério da Justiça

f)Apoiar a aprovação do Projeto de Lei no 1.937/2007, que dispõe sobre o Sistema Único de Segurança Pública.

Responsável: Ministério da Justiça

Objetivo estratégico II:

Modernização da gestão do sistema de segurança pública.

Ações programáticas:

a)Condicionar o repasse de verbas federais à elaboração e revisão periódica de planos estaduais, distrital e
municipais de segurança pública que se pautem pela integração e pela responsabilização territorial da gestão
dos programas e ações.

Responsável: Ministério da Justiça

b)Criar base de dados unificada que permita o fluxo de informações entre os diversos componentes do sistema
de segurança pública e a Justiça criminal.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

c)Redefinir as competências e o funcionamento da Inspetoria-Geral das Polícias Militares e Corpos de


Bombeiros Militares.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Defesa

Objetivo estratégico III:

Promoção dos Direitos Humanos dos profissionais do sistema de segurança pública, assegurando sua
formação continuada e compatível com as atividades que exercem.

Ações programáticas:
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 519

a)Proporcionar equipamentos para proteção individual efetiva para os profissionais do sistema federal de
segurança pública.

Responsável: Ministério da Justiça

b)Condicionar o repasse de verbas federais aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, à garantia da
efetiva disponibilização de equipamentos de proteção individual aos profissionais do sistema nacional de
segurança pública.

Responsável: Ministério da Justiça

c)Fomentar o acompanhamento permanente da saúde mental dos profissionais do sistema de segurança


pública, mediante serviços especializados do sistema de saúde pública.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Saúde

d)Propor projeto de lei instituindo seguro para casos de acidentes incapacitantes ou morte em serviço para os
profissionais do sistema de segurança pública.

Responsável: Ministério da Justiça;

e)Garantir a reabilitação e reintegração ao trabalho dos profissionais do sistema de segurança pública federal,
nos casos de deficiência adquirida no exercício da função.

Responsável: Ministério da Justiça;

Diretriz 12: Transparência e participação popular no sistema de segurança pública e justiça criminal.

Objetivo estratégico I:

Publicação de dados do sistema federal de segurança pública.

Ação programática

a)Publicar trimestralmente estatísticas sobre:

Crimes registrados, inquéritos instaurados e concluídos, prisões efetuadas, flagrantes registrados, operações
realizadas, armas e entorpecentes apreendidos pela Polícia Federal em cada Estado da Federação;

Veículos abordados, armas e entorpecentes apreendidos e prisões efetuadas pela Polícia Rodoviária Federal
em cada Estado da Federação;

Presos provisórios e condenados sob custódia do sistema penitenciário federal e quantidade de presos
trabalhando e estudando por sexo, idade e raça ou etnia;

Vitimização de policiais federais, policiais rodoviários federais, membros da Força Nacional de Segurança
Pública e agentes penitenciários federais;

Quantidade e tipos de laudos produzidos pelos órgãos federais de perícia oficial.

Responsável: Ministério da Justiça

Objetivo estratégico II:

Consolidação de mecanismos de participação popular na elaboração das políticas públicas de segurança.

Ações programáticas:
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 520

a)Reformular o Conselho Nacional de Segurança Pública, assegurando a participação da sociedade civil


organizada em sua composição e garantindo sua articulação com o Conselho Nacional de Política Criminal e
Penitenciária.

Responsável: Ministério da Justiça

b)Fomentar mecanismos de gestão participativa das políticas públicas de segurança, como conselhos e
conferências, ampliando a Conferência Nacional de Segurança Pública.

Responsável: Ministério da Justiça

Diretriz 13: Prevenção da violência e da criminalidade e profissionalização da investigação de atos


criminosos.

Objetivo estratégico I:

Ampliação do controle de armas de fogo em circulação no País.

Ações programáticas:

a)Realizar ações permanentes de estímulo ao desarmamento da população.

Responsável: Ministério da Justiça

b)Propor reforma da legislação para ampliar as restrições e os requisitos para aquisição de armas de fogo por
particulares e empresas de segurança privada.

Responsável: Ministério da Justiça

c)Propor alteração da legislação para garantir que as armas apreendidas em crimes que não envolvam disparo
sejam inutilizadas imediatamente após a perícia.

Responsável: Ministério da Justiça

d)Registrar no Sistema Nacional de Armas todas as armas de fogo destruídas.

Responsável: Ministério da Defesa

Objetivo estratégico II:

Qualificação da investigação criminal.

Ações programáticas:

a)Propor projeto de lei para alterar o procedimento do inquérito policial, de modo a admitir procedimentos orais
gravados e transformar em peça ágil e eficiente de investigação criminal voltada à coleta de evidências.

Responsável: Ministério da Justiça

b)Fomentar o debate com o objetivo de unificar os meios de investigação e obtenção de provas e padronizar
procedimentos de investigação criminal.

Responsável: Ministério da Justiça

c)Promover a capacitação técnica em investigação criminal para os profissionais dos sistemas estaduais de
segurança pública.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 521

Responsável: Ministério da Justiça

d)Realizar pesquisas para qualificação dos estudos sobre técnicas de investigação criminal.

Responsável: Ministério da Justiça

Objetivo estratégico III:

Produção de prova pericial com celeridade e procedimento padronizado.

Ações programáticas:

a)Propor regulamentação da perícia oficial.

Responsável: Ministério da Justiça

b)Propor projeto de lei para proporcionar autonomia administrativa e funcional dos órgãos periciais federais.

Responsável: Ministério da Justiça

c)Propor padronização de procedimentos e equipamentos a serem utilizados pelas unidades periciais oficiais
em todos os exames periciais criminalísticos e médico-legais.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

d)Desenvolver sistema de dados nacional informatizado para monitoramento da produção e da qualidade dos
laudos produzidos nos órgãos periciais.

Responsável: Ministério da Justiça

e)Fomentar parcerias com universidades para pesquisa e desenvolvimento de novas metodologias a serem
implantadas nas unidades periciais.

Responsável: Ministério da Justiça

f)Promover e apoiar a educação continuada dos profissionais da perícia oficial, em todas as áreas, para a
formação técnica e em Direitos Humanos.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

Objetivo estratégico IV:

Fortalecimento dos instrumentos de prevenção à violência.

Ações programáticas:

a)Elaborar diretrizes para as políticas de prevenção à violência com o objetivo de assegurar o reconhecimento
das diferenças geracionais, de gênero, étnico-racial e de orientação sexual.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da


República; Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República

b)Realizar anualmente pesquisas nacionais de vitimização.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

c)Fortalecer mecanismos que possibilitem a efetiva fiscalização de empresas de segurança privada e a


investigação e responsabilização de policiais que delas participem de forma direta ou indireta.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 522

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

d)Desenvolver normas de conduta e fiscalização dos serviços de segurança privados que atuam na área rural.

Responsável: Ministério da Justiça

e)Elaborar diretrizes para atividades de policiamento comunitário e policiamento orientado para a solução de
problemas, bem como catalogar e divulgar boas práticas dessas atividades.

Responsável: Ministério da Justiça

f)Elaborar diretrizes para atuação conjunta entre os órgãos de trânsito e os de segurança pública para reduzir
a violência no trânsito.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério das Cidades

g)Realizar debate sobre o atual modelo de repressão e estimular a discussão sobre modelos alternativos de
tratamento do uso e tráfico de drogas, considerando o paradigma da redução de danos.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República;
Gabinete de Segurança Institucional; Ministério da Saúde

Objetivo estratégico V:

Redução da violência motivada por diferenças de gênero, raça ou etnia, idade, orientação sexual e situação de
vulnerabilidade.

Ações programáticas:

a)Fortalecer a atuação da Polícia Federal no combate e na apuração de crimes contra os Direitos Humanos.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

b)Garantir aos grupos em situação de vulnerabilidade o conhecimento sobre serviços de atendimento,


atividades desenvolvidas pelos órgãos e instituições de segurança e mecanismos de denúncia, bem como a
forma de acioná-los.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República;
Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República; Secretaria Especial de Políticas
de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República

c)Desenvolver e implantar sistema nacional integrado das redes de saúde, de assistência social e educação
para a notificação de violência.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Saúde;
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Ministério da Educação; Secretaria Especial de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República

d)Promover campanhas educativas e pesquisas voltadas à prevenção da violência contra pessoas com
deficiência, idosos, mulheres, indígenas, negros, crianças, adolescentes, lésbicas, gays, bissexuais,
transexuais, travestis e pessoas em situação de rua.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério do


Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
da Presidência da República; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República;
Ministério da Justiça; Ministério do Turismo; Ministério do Esporte

e)Fortalecer unidade especializada em conflitos indígenas na Polícia Federal e garantir sua atuação conjunta
com a FUNAI, em especial nos processos conflituosos de demarcação.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 523

Responsável: Ministério da Justiça

f)Fomentar cursos de qualificação e capacitação sobre aspectos da cultura tradicional dos povos indígenas e
sobre legislação indigenista para todas as corporações policiais, principalmente para as polícias militares e civis
especialmente nos Estados e Municípios em que as aldeias indígenas estejam localizadas nas proximidades
dos centros urbanos.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

g)Fortalecer mecanismos para combater a violência contra a população indígena, em especial para as mulheres
indígenas vítimas de casos de violência psicológica, sexual e de assédio moral.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Saúde; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da
Presidência da República

h)Apoiar a implementação do pacto nacional de enfrentamento à violência contra as mulheres de forma


articulada com os planos estaduais de segurança pública e em conformidade com a Lei Maria da Penha (Lei
no 11.340/2006).

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da


República; Ministério da Saúde; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

i)Avaliar o cumprimento da Lei Maria da Penha com base nos dados sobre tipos de violência, agressor e vítima.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da


República

j)Fortalecer ações estratégicas de prevenção à violência contra jovens negros.

Responsáveis: Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República;


Ministério da Justiça

k)Estabelecer política de prevenção de violência contra a população em situação de rua, incluindo ações de
capacitação de policiais em Direitos Humanos.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

l)Promover a articulação institucional, em conjunto com a sociedade civil, para implementar o Plano de Ação
para o Enfrentamento da Violência contra a Pessoa Idosa.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Justiça;
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Ministério da Saúde

m)Fomentar a implantação do serviço de recebimento e encaminhamento de denúncias de violência contra a


pessoa idosa em todas as unidades da Federação.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

n)Capacitar profissionais de educação e saúde para identificar e notificar crimes e casos de violência contra a
pessoa idosa e contra a pessoa com deficiência.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Saúde;
Ministério da Educação

o)Implementar ações de promoção da cidadania e Direitos Humanos das lésbicas, gays, bissexuais,
transexuais e travestis, com foco na prevenção à violência, garantindo redes integradas de atenção.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 524

Objetivo estratégico VI:

Enfrentamento ao tráfico de pessoas.

Ações programáticas:

a)Desenvolver metodologia de monitoramento, disseminação e avaliação das metas do Plano Nacional de


Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, bem como construir e implementar o II Plano Nacional de Enfrentamento
ao Tráfico de Pessoas.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério do Turismo; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres
da Presidência da República; Ministério do Trabalho e Emprego; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Presidência da República

b)Estruturar, a partir de serviços existentes, sistema nacional de atendimento às vítimas do tráfico de pessoas,
de reintegração e diminuição da vulnerabilidade, especialmente de crianças, adolescentes, mulheres,
transexuais e travestis.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Secretaria Especial de
Políticas para as Mulheres da Presidência da República; Ministério da Justiça

c)Implementar as ações referentes a crianças e adolescentes previstas na Política e no Plano Nacional de


Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

d)Consolidar fluxos de encaminhamento e monitoramento de denúncias de casos de tráfico de crianças e


adolescentes.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República;
Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República

e)Revisar e disseminar metodologia para atendimento de crianças e adolescentes vítimas de tráfico.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

f)Fomentar a capacitação de técnicos da gestão pública, organizações não governamentais e representantes


das cadeias produtivas para o enfrentamento ao tráfico de pessoas.

Responsável: Ministério do Turismo

g)Desenvolver metodologia e material didático para capacitar agentes públicos no enfrentamento ao tráfico de
pessoas.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério do Turismo;
Ministério da Justiça; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República

h)Realizar estudos e pesquisas sobre o tráfico de pessoas, inclusive sobre exploração sexual de crianças e
adolescentes.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério do Turismo;
Ministério da Justiça; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República

Diretriz 14: Combate à violência institucional, com ênfase na erradicação da tortura e na redução da
letalidade policial e carcerária.

Objetivo estratégico I:

Fortalecimento dos mecanismos de controle do sistema de segurança pública.

Ações programáticas:
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 525

a)Criar ouvidoria de polícia com independência para exercer controle externo das atividades das Polícias
Federais e da Força Nacional de Segurança Pública, coordenada por um ouvidor com mandato.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

b)Fortalecer a Ouvidoria do Departamento Penitenciário Nacional, dotando-a de recursos humanos e materiais


necessários ao desempenho de suas atividades, propondo sua autonomia funcional.

Responsável: Ministério da Justiça

c)Condicionar a transferência voluntária de recursos federais aos Estados e ao Distrito Federal ao plano de
implementação ou à existência de ouvidorias de polícia e do sistema penitenciário, que atendam aos requisitos
de coordenação por ouvidor com mandato, escolhidos com participação da sociedade civil e com independência
para sua atuação.

Responsável: Ministério da Justiça

d)Elaborar projeto de lei para aperfeiçoamento da legislação processual penal, visando padronizar os
procedimentos da investigação de ações policiais com resultado letal.

Responsável: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

e)Dotar as Corregedorias da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal e do Departamento Penitenciário


Nacional de recursos humanos e materiais suficientes para o desempenho de suas atividades, ampliando sua
autonomia funcional.

Responsável: Ministério da Justiça

f)Fortalecer a inspetoria da Força Nacional de Segurança Pública e tornar obrigatória a publicação trimestral
de estatísticas sobre procedimentos instaurados e concluídos e sobre o número de policiais desmobilizados.

Responsável: Ministério da Justiça

g)Publicar trimestralmente estatísticas sobre procedimentos instaurados e concluídos pelas Corregedorias da


Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal, e sobre a quantidade de policiais infratores e condenados, por
cargo e tipo de punição aplicada.

Responsável: Ministério da Justiça

h)Publicar trimestralmente informações sobre pessoas mortas e feridas em ações da Polícia Federal, da Polícia
Rodoviária Federal e da Força Nacional de Segurança Pública.

Responsável: Ministério da Justiça

i)Criar sistema de rastreamento de armas e de veículos usados pela Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal
e Força Nacional de Segurança Pública, e fomentar a criação de sistema semelhante nos Estados e no Distrito
Federal.

Responsável: Ministério da Justiça

Objetivo estratégico II:

Padronização de procedimentos e equipamentos do sistema de segurança pública.

Ações programáticas:

a)Elaborar procedimentos operacionais padronizados para as forças policiais federais, com respeito aos
Direitos Humanos.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 526

b)Elaborar procedimentos operacionais padronizados sobre revistas aos visitantes de estabelecimentos


prisionais, respeitando os preceitos dos Direitos Humanos.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República;
Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República

c)Elaborar diretrizes nacionais sobre uso da força e de armas de fogo pelas instituições policiais e agentes do
sistema penitenciário.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

d)Padronizar equipamentos, armas, munições e veículos apropriados à atividade policial a serem utilizados
pelas forças policiais da União, bem como aqueles financiados com recursos federais nos Estados, no Distrito
Federal e nos Municípios.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

e)Disponibilizar para a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal e para a Força Nacional de Segurança
Pública munição, tecnologias e armas de menor potencial ofensivo.

Responsável: Ministério da Justiça

Objetivo estratégico III:

Consolidação de política nacional visando à erradicação da tortura e de outros tratamentos ou penas cruéis,
desumanos ou degradantes.

Ações programáticas:

a)Elaborar projeto de lei visando a instituir o Mecanismo Preventivo Nacional, sistema de inspeção aos locais
de detenção para o monitoramento regular e periódico dos centros de privação de liberdade, nos termos do
protocolo facultativo à convenção da ONU contra a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos
ou degradantes.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República;
Ministério das Relações Exteriores;

b)Instituir grupo de trabalho para discutir e propor atualização e aperfeiçoamento da Lei no 9.455/1997, que
define os crimes de tortura, de forma a atualizar os tipos penais, instituir sistema nacional de combate à tortura,
estipular marco legal para a definição de regras unificadas de exame médico-legal, bem como estipular ações
preventivas obrigatórias como formação específica das forças policiais e capacitação de agentes para a
identificação da tortura.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

c)Promover o fortalecimento, a criação e a reativação dos comitês estaduais de combate à tortura.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

d)Propor projeto de lei para tornar obrigatória a filmagem dos interrogatórios ou audiogravações realizadas
durante as investigações policiais.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

e)Estabelecer protocolo para a padronização de procedimentos a serem realizados nas perícias destinadas a
averiguar alegações de tortura.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 527

f)Elaborar matriz curricular e capacitar os operadores do sistema de segurança pública e justiça criminal para
o combate à tortura.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

g)Capacitar e apoiar a qualificação dos agentes da perícia oficial, bem como de agentes públicos de saúde,
para a identificação de tortura.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

h)Incluir na formação de agentes penitenciários federais curso com conteúdos relativos ao combate à tortura e
sobre a importância dos Direitos Humanos.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

i)Realizar campanhas de prevenção e combate à tortura nos meios de comunicação para a população em geral,
além de campanhas específicas voltadas às forças de segurança pública, bem como divulgar os parâmetros
internacionais de combate às práticas de tortura.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

j)Estabelecer procedimento para a produção de relatórios anuais, contendo informações sobre o número de
casos de torturas e de tratamentos desumanos ou degradantes levados às autoridades, número de
perpetradores e de sentenças judiciais.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

Objetivo estratégico IV:

Combate às execuções extrajudiciais realizadas por agentes do Estado.

Ações programáticas:

a)Fortalecer ações de combate às execuções extrajudiciais realizadas por agentes do Estado, assegurando a
investigação dessas violações.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

b)Desenvolver e apoiar ações específicas para investigação e combate à atuação de milícias e grupos de
extermínio.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

Diretriz 15: Garantia dos direitos das vítimas de crimes e de proteção das pessoas ameaçadas.

Objetivo estratégico I:

Instituição de sistema federal que integre os programas de proteção.

Ações programáticas:

a)Propor projeto de lei para integração, de forma sistêmica, dos programas de proteção a vítimas e testemunhas
ameaçadas, defensores de Direitos Humanos e crianças e adolescentes ameaçados de morte.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

b)Desenvolver sistema nacional que integre as informações das ações de proteção às pessoas ameaçadas.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 528

c)Ampliar os programas de proteção a vítimas e testemunhas ameaçadas, defensores dos Direitos Humanos
e crianças e adolescentes ameaçados de morte para os Estados em que o índice de violência aponte a criação
de programas locais.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

d)Garantir a formação de agentes da Polícia Federal para a proteção das pessoas incluídas nos programas de
proteção de pessoas ameaçadas, observadas suas diretrizes.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

e)Propor ampliação os recursos orçamentários para a realização das ações dos programas de proteção a
vítimas e testemunhas ameaçadas, defensores dos Direitos Humanos e crianças e adolescentes ameaçados
de morte.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

Objetivo estratégico II:

Consolidação da política de assistência a vítimas e a testemunhas ameaçadas.

Ações programáticas:

a)Propor projeto de lei para aperfeiçoar o marco legal do Programa Federal de Assistência a Vítimas e
Testemunhas Ameaçadas, ampliando a proteção de escolta policial para as equipes técnicas do programa, e
criar sistema de apoio à reinserção social dos usuários do programa.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

b)Regulamentar procedimentos e competências para a execução do Programa Federal de Assistência a


Vítimas e Testemunhas Ameaçadas, em especial para a realização de escolta de seus usuários.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

c)Fomentar a criação de centros de atendimento a vítimas de crimes e a seus familiares, com estrutura
adequada e capaz de garantir o acompanhamento psicossocial e jurídico dos usuários, com especial atenção
a grupos sociais mais vulneráveis, assegurando o exercício de seus direitos.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Secretaria Especial de
Políticas para as Mulheres da Presidência da República

d)Incentivar a criação de unidades especializadas do Serviço de Proteção ao Depoente Especial da Polícia


Federal nos Estados e no Distrito Federal.

Responsável: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

e)Garantir recursos orçamentários e de infraestrutura ao Serviço de Proteção ao Depoente Especial da Polícia


Federal, necessários ao atendimento pleno, imediato e de qualidade aos depoentes especiais e a seus
familiares, bem como o atendimento às demandas de inclusão provisória no programa federal.

Responsável: Ministério da Justiça

Objetivo estratégico III:

Garantia da proteção de crianças e adolescentes ameaçados de morte.

Ações programáticas:
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 529

a)Ampliar a atuação federal no âmbito do Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de


Morte nas unidades da Federação com maiores taxas de homicídio nessa faixa etária.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

b)Formular política nacional de enfrentamento da violência letal contra crianças e adolescentes.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

c)Desenvolver e aperfeiçoar os indicadores de morte violenta de crianças e adolescentes, assegurando


publicação anual dos dados.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Saúde

d)Desenvolver programas de enfrentamento da violência letal contra crianças e adolescentes e divulgar as


experiências bem sucedidas.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Justiça

Objetivo estratégico IV:

Garantia de proteção dos defensores dos Direitos Humanos e de suas atividades.

Ações programáticas:

a)Fortalecer a execução do Programa Nacional de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos, garantindo
segurança nos casos de violência, ameaça, retaliação, pressão ou ação arbitrária, e a defesa em ações judiciais
de má-fé, em decorrência de suas atividades.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

b)Articular com os órgãos de segurança pública de Direitos Humanos nos Estados para garantir a segurança
dos defensores dos Direitos Humanos.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

c)Capacitar os operadores do sistema de segurança pública e de justiça sobre o trabalho dos defensores dos
Direitos Humanos.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

d)Fomentar parcerias com as Defensorias Públicas dos Estados e da União para a defesa judicial dos
defensores dos Direitos Humanos nos processos abertos contra eles.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

e)Divulgar em âmbito nacional a atuação dos defensores e militantes dos Direitos Humanos, fomentando cultura
de respeito e valorização de seus papéis na sociedade.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

Diretriz 16: Modernização da política de execução penal, priorizando a aplicação de penas e medidas
alternativas à privação de liberdade e melhoria do sistema penitenciário.

Objetivo estratégico I:

Reestruturação do sistema penitenciário.


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 530

Ações programáticas:

a)Elaborar projeto de reforma da Lei de Execução Penal (Lei no 7.210/1984), com o propósito de:

Adotar mecanismos tecnológicos para coibir a entrada de substâncias e materiais proibidos, eliminando a
prática de revista íntima nos familiares de presos;

Aplicar a Lei de Execução Penal também a presas e presos provisórios e aos sentenciados pela Justiça
Especial;

Vedar a divulgação pública de informações sobre perfil psicológico do preso e eventuais diagnósticos
psiquiátricos feitos nos estabelecimentos prisionais;

Instituir a obrigatoriedade da oferta de ensino pelos estabelecimentos penais e a remição de pena por estudo;

Estabelecer que a perda de direitos ou a redução de acesso a qualquer direito ocorrerá apenas como
consequência de faltas de natureza grave;

Estabelecer critérios objetivos para isolamento de presos e presas no regime disciplinar diferenciado;

Configurar nulidade absoluta dos procedimentos disciplinares quando não houver intimação do defensor do
preso;

Estabelecer o regime de condenação como limite para casos de regressão de regime;

Assegurar e regulamentar as visitas íntimas para a população carcerária LGBT.

Responsável: Ministério da Justiça

b)Elaborar decretos extraordinários de indulto a condenados por crimes sem violência real, que reduzam
substancialmente a população carcerária brasileira.

Responsável: Ministério da Justiça

c)Fomentar a realização de revisões periódicas processuais dos processos de execução penal da população
carcerária.

Responsável: Ministério da Justiça

d)Vincular o repasse de recursos federais para construção de estabelecimentos prisionais nos Estados e no
Distrito Federal ao atendimento das diretrizes arquitetônicas que contemplem a existência de alas específicas
para presas grávidas e requisitos de acessibilidade.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da


República

e)Aplicar a Política Nacional de Saúde Mental e a Política para a Atenção Integral a Usuários de Álcool e outras
Drogas no sistema penitenciário.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Saúde

f)Aplicar a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher no contexto prisional, regulamentando a
assistência pré-natal, a existência de celas específicas e período de permanência com seus filhos para
aleitamento.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Saúde; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da
Presidência da República

g)Implantar e implementar as ações de atenção integral aos presos previstas no Plano Nacional de Saúde no
Sistema Penitenciário.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 531

Responsável: Ministério da Justiça; Ministério da Saúde

h)Promover estudo sobre a viabilidade de criação, em âmbito federal, da carreira de oficial de condicional,
trabalho externo e penas alternativas, para acompanhar os condenados em liberdade condicional, os presos
em trabalho externo, em qualquer regime de execução, e os condenados a penas alternativas à prisão.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão

i)Avançar na implementação do Sistema de Informações Penitenciárias (InfoPen), financiando a inclusão dos


estabelecimentos prisionais dos Estados e do Distrito Federal e condicionando os repasses de recursos
federais à sua efetiva integração ao sistema.

Responsável: Ministério da Justiça

j)Ampliar campanhas de sensibilização para inclusão social de egressos do sistema prisional.

Responsável: Ministério da Justiça

k)Estabelecer diretrizes na política penitenciária nacional que fortaleçam o processo de reintegração social dos
presos, internados e egressos, com sua efetiva inclusão nas políticas públicas sociais.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Ministério da


Saúde; Ministério da Educação; Ministério do Esporte

l)Debater, por meio de grupo de trabalho interministerial, ações e estratégias que visem assegurar o
encaminhamento para o presídio feminino de mulheres transexuais e travestis que estejam em regime de
reclusão.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República;
Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República

Objetivo estratégico II:

Limitação do uso dos institutos de prisão cautelar.

Ações programáticas:

a)Propor projeto de lei para alterar o Código de Processo Penal, com o objetivo de:

Estabelecer requisitos objetivos para decretação de prisões preventivas que consagrem sua
excepcionalidade;

Vedar a decretação de prisão preventiva em casos que envolvam crimes com pena máxima inferior a quatro
anos, excetuando crimes graves como formação de quadrilha e peculato;

Estabelecer o prazo máximo de oitenta e um dias para prisão provisória.

Responsável: Ministério da Justiça

b)Alterar a legislação sobre abuso de autoridade, tipificando de modo específico as condutas puníveis.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

Objetivo estratégico III:

Tratamento adequado de pessoas com transtornos mentais.


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 532

Ações programáticas:

a)Estabelecer diretrizes que garantam tratamento adequado às pessoas com transtornos mentais, em
consonância com o princípio de desinstitucionalização.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Saúde

b)Propor projeto de lei para alterar o Código Penal, prevendo que o período de cumprimento de medidas de
segurança não deve ultrapassar o da pena prevista para o crime praticado, e estabelecendo a continuidade do
tratamento fora do sistema penitenciário quando necessário.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Saúde

c)Estabelecer mecanismos para a reintegração social dos internados em medida de segurança quando da
extinção desta, mediante aplicação dos benefícios sociais correspondentes.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Saúde; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à


Fome

Objetivo estratégico IV:

Ampliação da aplicação de penas e medidas alternativas.

Ações programáticas:

a)Desenvolver instrumentos de gestão que assegurem a sustentabilidade das políticas públicas de aplicação
de penas e medidas alternativas.

Responsáveis: Ministério da Justiça

b)Incentivar a criação de varas especializadas e de centrais de monitoramento do cumprimento de penas e


medidas alternativas.

Responsável: Ministério da Justiça

c)Desenvolver modelos de penas e medidas alternativas que associem seu cumprimento ao ilícito praticado,
com projetos temáticos que estimulem a capacitação do cumpridor, bem como penas de restrição de direitos
com controle de frequência.

Responsável: Ministério da Justiça

d)Desenvolver programas-piloto com foco na educação, para aplicação da pena de limitação de final de
semana.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério da Educação

Diretriz 17: Promoção de sistema de justiça mais acessível, ágil e efetivo, para o conhecimento, a
garantia e a defesa dos direitos.

Objetivo estratégico I:

Acesso da população à informação sobre seus direitos e sobre como garanti-los.

Ações programáticas:

a)Difundir o conhecimento sobre os Direitos Humanos e sobre a legislação pertinente com publicações em
linguagem e formatos acessíveis.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 533

b)Fortalecer as redes de canais de denúncia (disque-denúncia) e sua articulação com instituições de Direitos
Humanos.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

c)Incentivar a criação de centros integrados de serviços públicos para prestação de atendimento ágil à
população, inclusive com unidades itinerantes para obtenção de documentação básica.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Justiça

d)Fortalecer o governo eletrônico com a ampliação da disponibilização de informações e serviços para a


população via Internet, em formato acessível.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

Objetivo estratégico II:

Garantia do aperfeiçoamento e monitoramento das normas jurídicas para proteção dos Direitos Humanos.

Ações programáticas:

a)Implementar o Observatório da Justiça Brasileira, em parceria com a sociedade civil.

Responsável: Ministério da Justiça

b)Aperfeiçoar o sistema de fiscalização de violações aos Direitos Humanos, por meio do aprimoramento do
arcabouço de sanções administrativas.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Saúde;
Ministério da Justiça; Ministério do Trabalho e Emprego

c)Ampliar equipes de fiscalização sobre violações dos Direitos Humanos, em parceria com a sociedade civil.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

d)Propor projeto de lei buscando ampliar a utilização das ações coletivas para proteção dos interesses difusos,
coletivos e individuais homogêneos, garantindo a consolidação de instrumentos coletivos de resolução de
conflitos.

Responsável: Ministério da Justiça

e)Propor projetos de lei para simplificar o processamento e julgamento das ações judiciais; coibir os atos
protelatórios; restringir as hipóteses de recurso ex officio e reduzir recursos e desjudicializar conflitos.

Responsável: Ministério da Justiça

f)Aperfeiçoar a legislação trabalhista, visando ampliar novas tutelas de proteção das relações do trabalho e as
medidas de combate à discriminação e ao abuso moral no trabalho.

Responsáveis: Ministério do Trabalho e Emprego; Ministério da Justiça; Secretaria Especial de Políticas para
as Mulheres da Presidência da República

g)Implementar mecanismos de monitoramento dos serviços de atendimento ao aborto legalmente autorizado,


garantindo seu cumprimento e facilidade de acesso.

Responsáveis: Ministério da Saúde; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da


República
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 534

Objetivo estratégico III:

Utilização de modelos alternativos de solução de conflitos.

Ações programáticas:

a)Fomentar iniciativas de mediação e conciliação, estimulando a resolução de conflitos por meios


autocompositivos, voltados à maior pacificação social e menor judicialização.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério do Desenvolvimento Agrário; Ministério das Cidades

b)Fortalecer a criação de núcleos de justiça comunitária, em articulação com os Estados, o Distrito Federal e
os Municípios, e apoiar o financiamento de infraestrutura e de capacitação.

Responsável: Ministério da Justiça

c)Capacitar lideranças comunitárias sobre instrumentos e técnicas de mediação comunitária, incentivando a


resolução de conflitos nas próprias comunidades.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

d)Incentivar projetos pilotos de Justiça Restaurativa, como forma de analisar seu impacto e sua aplicabilidade
no sistema jurídico brasileiro.

Responsável: Ministério da Justiça

e)Estimular e ampliar experiências voltadas para a solução de conflitos por meio da mediação comunitária e
dos Centros de Referência em Direitos Humanos, especialmente em áreas de baixo Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) e com dificuldades de acesso a serviços públicos.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Justiça

Objetivo estratégico IV:

Garantia de acesso universal ao sistema judiciário.

Ações programáticas:

a)Propor a ampliação da atuação da Defensoria Pública da União.

Responsável: Ministério da Justiça

b)Fomentar parcerias entre Municípios e entidades de proteção dos Direitos Humanos para atendimento da
população com dificuldade de acesso ao sistema de justiça, com base no mapeamento das principais
demandas da população local e no estabelecimento de estratégias para atendimento e ações educativas e
informativas.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

c)Apoiar a capacitação periódica e constante dos operadores do Direito e servidores da Justiça na aplicação
dos Direitos Humanos voltada para a composição de conflitos.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

d)Dialogar com o Poder Judiciário para assegurar o efetivo acesso das pessoas com deficiência à justiça, em
igualdade de condições com as demais pessoas.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

e)Apoiar os movimentos sociais e a Defensoria Pública na obtenção da gratuidade das perícias para as
demandas judiciais, individuais e coletivas, e relacionadas a violações de Direitos Humanos.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 535

Responsável: Ministério da Justiça

Objetivo estratégico V:

Modernização da gestão e agilização do funcionamento do sistema de justiça.

Ações programáticas:

a)Propor legislação de revisão e modernização dos serviços notariais e de registro.

Responsável: Ministério da Justiça

b)Desenvolver sistema integrado de informações do Poder Executivo e Judiciário e disponibilizar seu acesso à
sociedade.

Responsável: Ministério da Justiça

Objetivo estratégico VI:

Acesso à Justiça no campo e na cidade.

Ações programáticas:

a)Assegurar a criação de marco legal para a prevenção e mediação de conflitos fundiários urbanos, garantindo
o devido processo legal e a função social da propriedade.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério das Cidades

b)Propor projeto de lei voltado a regulamentar o cumprimento de mandados de reintegração de posse ou


correlatos, garantindo a observância do respeito aos Direitos Humanos.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Ministério das Cidades; Ministério do Desenvolvimento Agrário

c)Promover o diálogo com o Poder Judiciário para a elaboração de procedimento para o enfrentamento de
casos de conflitos fundiários coletivos urbanos e rurais.

Responsáveis: Ministério das Cidades; Ministério da Justiça; Ministério do Desenvolvimento Agrário

d)Propor projeto de lei para institucionalizar a utilização da mediação como ato inicial das demandas de conflitos
agrários e urbanos, priorizando a realização de audiência coletiva com os envolvidos, com a presença do
Ministério Público, do poder público local, órgãos públicos especializados e Polícia Militar, como medida
preliminar à avaliação da concessão de medidas liminares, sem prejuízo de outros meios institucionais para
solução de conflitos.

e) Propor projeto de lei para institucionalizar a utilização da mediação nas demandas de conflitos coletivos
agrários e urbanos, priorizando a oitiva do INCRA, institutos de terras estaduais, Ministério Público e outros
órgãos públicos especializados, sem prejuízo de outros meios institucionais para solução de conflitos.
(Redação dada pelo Decreto nº 7.177, de 2010)

Responsáveis: Ministério do Desenvolvimento Agrário; Ministério da Justiça

Eixo Orientador V:

Educação e cultura em Direitos Humanos

A educação e a cultura em Direitos Humanos visam à formação de nova mentalidade coletiva para o exercício
da solidariedade, do respeito às diversidades e da tolerância. Como processo sistemático e multidimensional
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 536

que orienta a formação do sujeito de direitos, seu objetivo é combater o preconceito, a discriminação e a
violência, promovendo a adoção de novos valores de liberdade, justiça e igualdade.

A educação em Direitos Humanos, como canal estratégico capaz de produzir uma sociedade igualitária,
extrapola o direito à educação permanente e de qualidade. Trata-se de mecanismo que articula, entre outros
elementos: a) a apreensão de conhecimentos historicamente construídos sobre Direitos Humanos e a sua
relação com os contextos internacional, regional, nacional e local; b) a afirmação de valores, atitudes e práticas
sociais que expressem a cultura dos Direitos Humanos em todos os espaços da sociedade; c) a formação de
consciência cidadã capaz de se fazer presente nos níveis cognitivo, social, ético e político; d) o desenvolvimento
de processos metodológicos participativos e de construção coletiva, utilizando linguagens e materiais didáticos
contextualizados; e) o fortalecimento de políticas que gerem ações e instrumentos em favor da promoção, da
proteção e da defesa dos Direitos Humanos, bem como da reparação das violações.

O PNDH-3 dialoga com o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH) como referência para
a política nacional de Educação e Cultura em Direitos Humanos, estabelecendo os alicerces a serem adotados
nos âmbitos nacional, estadual, distrital e municipal.

O PNEDH, refletido neste programa, se desdobra em cinco grandes áreas:

Na educação básica, a ênfase do PNDH-3 é possibilitar, desde a infância, a formação de sujeitos de direito,
priorizando as populações historicamente vulnerabilizadas. A troca de experiências entre crianças de diferentes
raças e etnias, imigrantes, com deficiência física ou mental, fortalece, desde cedo, sentimento de convivência
pacífica. Conhecer o diferente, desde a mais tenra idade, é perder o medo do desconhecido, formar opinião
respeitosa e combater o preconceito, às vezes arraigado na própria família.

No PNDH-3, essa concepção se traduz em propostas de mudanças curriculares, incluindo a educação


transversal e permanente nos temas ligados aos Direitos Humanos e, mais especificamente, o estudo da
temática de gênero e orientação sexual, das culturas indígena e afro-brasileira entre as disciplinas do ensino
fundamental e médio.

No ensino superior, as metas previstas visam a incluir os Direitos Humanos, por meio de diferentes modalidades
como disciplinas, linhas de pesquisa, áreas de concentração, transversalização incluída nos projetos
acadêmicos dos diferentes cursos de graduação e pós-graduação, bem como em programas e projetos de
extensão.

A educação não formal em Direitos Humanos é orientada pelos princípios da emancipação e da autonomia,
configurando-se como processo de sensibilização e formação da consciência crítica. Desta forma, o PNDH-3
propõe inclusão da temática de Educação em Direitos Humanos nos programas de capacitação de lideranças
comunitárias e nos programas de qualificação profissional, alfabetização de jovens e adultos, entre outros.
Volta-se, especialmente, para o estabelecimento de diálogo e parcerias permanentes como o vasto leque
brasileiro de movimentos populares, sindicatos, igrejas, ONGs, clubes, entidades empresariais e toda sorte de
agrupamentos da sociedade civil que desenvolvem atividades formativas em seu cotidiano.

A formação e a educação continuada em Direitos Humanos, com recortes de gênero, relações étnico-raciais e
de orientação sexual, em todo o serviço público, especialmente entre os agentes do sistema de Justiça de
segurança pública, são fundamentais para consolidar o Estado Democrático e a proteção do direito à vida e à
dignidade, garantindo tratamento igual a todas as pessoas e o funcionamento de sistemas de Justiça que
promovam os Direitos Humanos.

Por fim, aborda-se o papel estratégico dos meios de comunicação de massa, no sentido de construir ou
desconstruir ambiente nacional e cultura social de respeito e proteção aos Direitos Humanos. Daí a importância
primordial de introduzir mudanças que assegurem ampla democratização desses meios, bem como de atuar
permanentemente junto a todos os profissionais e empresas do setor (seminários, debates, reportagens,
pesquisas e conferências), buscando sensibilizar e conquistar seu compromisso ético com a afirmação histórica
dos Direitos Humanos.

Diretriz 18: Efetivação das diretrizes e dos princípios da política nacional de educação em Direitos
Humanos para fortalecer cultura de direitos.

Objetivo estratégico I:
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 537

Implementação do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos - PNEDH

Ações programáticas:

a)Desenvolver ações programáticas e promover articulação que viabilizem a implantação e a implementação


do PNEDH.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da


Educação; Ministério da Justiça

b)Implantar mecanismos e instrumentos de monitoramento, avaliação e atualização do PNEDH, em processos


articulados de mobilização nacional.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da


Educação; Ministério da Justiça

c)Fomentar e apoiar a elaboração de planos estaduais e municipais de educação em Direitos Humanos.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da


Educação; Ministério da Justiça

d)Apoiar técnica e financeiramente iniciativas em educação em Direitos Humanos, que estejam em


consonância com o PNEDH.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da


Educação; Ministério da Justiça

e)Incentivar a criação e investir no fortalecimento dos comitês de educação em Direitos Humanos em todos os
Estados e no Distrito Federal, como órgãos consultivos e propositivos da política de educação em Direitos
Humanos.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Justiça

Objetivo Estratégico II:

Ampliação de mecanismos e produção de materiais pedagógicos e didáticos para Educação em Direitos


Humanos.

Ações programáticas:

a)Incentivar a criação de programa nacional de formação em educação em Direitos Humanos.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da


Educação; Ministério da Justiça; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República

b)Estimular a temática dos Direitos Humanos nos editais de avaliação e seleção de obras didáticas do sistema
de ensino.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da


Educação;

c)Estabelecer critérios e indicadores de avaliação de publicações na temática de Direitos Humanos para o


monitoramento da escolha de livros didáticos no sistema de ensino.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Educação
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 538

d)Atribuir premiação anual de educação em Direitos Humanos, como forma de incentivar a prática de ações e
projetos de educação e cultura em Direitos Humanos.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Educação

e)Garantir a continuidade da "Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul" e o "Festival dos Direitos
Humanos" como atividades culturais para difusão dos Direitos Humanos.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

f)Consolidar a revista "Direitos Humanos" como instrumento de educação e cultura em Direitos Humanos,
garantindo o caráter representativo e plural em seu conselho editorial.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

g)Produzir recursos pedagógicos e didáticos especializados e adquirir materiais e equipamentos em formato


acessível para a educação em Direitos Humanos, para todos os níveis de ensino.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Educação

h)Publicar materiais pedagógicos e didáticos para a educação em Direitos Humanos em formato acessível para
as pessoas com deficiência, bem como promover o uso da Língua Brasileira de Sinais (Libras) em eventos ou
divulgação em mídia.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da


Educação.

i)Fomentar o acesso de estudantes, professores e demais profissionais da educação às tecnologias da


informação e comunicação.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Educação

Diretriz 19: Fortalecimento dos princípios da democracia e dos Direitos Humanos nos sistemas de
educação básica, nas instituições de ensino superior e outras instituições formadoras.

Objetivo Estratégico I:

Inclusão da temática de Educação e Cultura em Direitos Humanos nas escolas de educação básica e em outras
instituições formadoras.

Ações Programáticas:

a)Estabelecer diretrizes curriculares para todos os níveis e modalidades de ensino da educação básica para a
inclusão da temática de educação e cultura em Direitos Humanos, promovendo o reconhecimento e o respeito
das diversidades de gênero, orientação sexual, identidade de gênero, geracional, étnico-racial, religiosa, com
educação igualitária, não discriminatória e democrática.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da


Educação; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República

b)Promover a inserção da educação em Direitos Humanos nos processos de formação inicial e continuada de
todos os profissionais da educação, que atuam nas redes de ensino e nas unidades responsáveis por execução
de medidas socioeducativas.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Educação

c)Incluir, nos programas educativos, o direito ao meio ambiente como Direito Humano.

Responsáveis: Ministério do Meio Ambiente; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da
República; Ministério da Educação
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 539

d)Incluir conteúdos, recursos, metodologias e formas de avaliação da educação em Direitos Humanos nos
sistemas de ensino da educação básica.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Educação

e)Desenvolver ações nacionais de elaboração de estratégias de mediação de conflitos e de Justiça


Restaurativa nas escolas, e outras instituições formadoras e instituições de ensino superior, inclusive
promovendo a capacitação de docentes para a identificação de violência e abusos contra crianças e
adolescentes, seu encaminhamento adequado e a reconstrução das relações no âmbito escolar.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da


Educação; Ministério da Justiça

f)Publicar relatório periódico de acompanhamento da inclusão da temática dos Direitos Humanos na educação
formal que contenha, pelo menos, as seguintes informações:

Número de Estados e Municípios que possuem planos de educação em Direitos Humanos;

Existência de normas que incorporam a temática de Direitos Humanos nos currículos escolares;

Documentos que atestem a existência de comitês de educação em Direitos Humanos;

Documentos que atestem a existência de órgãos governamentais especializados em educação em Direitos


Humanos.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

g)Desenvolver e estimular ações de enfrentamento ao bullying e ao cyberbulling.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Educação

h)Implementar e acompanhar a aplicação das leis que dispõem sobre a inclusão da história e cultura afro-
brasileira e dos povos indígenas em todos os níveis e modalidades da educação básica.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Educação

Objetivo Estratégico II:

Inclusão da temática da Educação em Direitos Humanos nos cursos das Instituições de Ensino Superior .

Ações Programáticas:

a)Propor a inclusão da temática da educação em Direitos Humanos nas diretrizes curriculares nacionais dos
cursos de graduação.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Educação

b)Incentivar a elaboração de metodologias pedagógicas de caráter transdisciplinar e interdisciplinar para a


educação em Direitos Humanos nas Instituições de Ensino Superior.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Educação

c)Elaborar relatórios sobre a inclusão da temática dos Direitos Humanos no ensino superior, contendo
informações sobre a existência de ouvidorias e sobre o número de:

cursos de pós-graduação com áreas de concentração em Direitos Humanos;

grupos de pesquisa em Direitos Humanos;


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 540

cursos com a transv

ersalização dos Direitos Humanos nos projetos políticos pedagógicos;

disciplinas em Direitos Humanos;

teses e dissertações defendidas;

associações e instituições dedicadas ao tema e com as quais os docentes e pesquisadores tenham vínculo;

núcleos e comissões que atuam em Direitos Humanos;

educadores com ações no tema Direitos Humanos;

projetos de extensão em Direitos Humanos;

Responsáveis: Ministério da Educação; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

d)Fomentar a realização de estudos, pesquisas e a implementação de projetos de extensão sobre o período


do regime 1964-1985, bem como apoiar a produção de material didático, a organização de acervos históricos
e a criação de centros de referências.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da


Educação; Ministério da Justiça

e)Incentivar a realização de estudos, pesquisas e produção bibliográfica sobre a história e a presença das
populações tradicionais.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da


Educação; Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República;
Ministério da Justiça

Objetivo Estratégico III:

Incentivo à transdisciplinaridade e transversalidade nas atividades acadêmicas em Direitos Humanos.

Ações Programáticas:

a)Incentivar o desenvolvimento de cursos de graduação, de formação continuada e programas de pós-


graduação em Direitos Humanos.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da


Educação; Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República;
Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República

b)Fomentar núcleos de pesquisa de educação em Direitos Humanos em instituições de ensino superior e


escolas públicas e privadas, estruturando-as com equipamentos e materiais didáticos.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da


Educação; Ministério da Ciência e Tecnologia

c)Fomentar e apoiar, no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e na


Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), a criação da área "Direitos Humanos"
como campo de conhecimento transdisciplinar e recomendar às agências de fomento que abram linhas de
financiamento para atividades de ensino, pesquisa e extensão em Direitos Humanos.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da


Educação; Ministério da Fazenda

d)Implementar programas e ações de fomento à extensão universitária em direitos humanos, para promoção e
defesa dos Direitos Humanos e o desenvolvimento da cultura e educação em Direitos Humanos.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 541

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Educação

Diretriz 20: Reconhecimento da educação não formal como espaço de defesa e promoção dos Direitos
Humanos.

Objetivo Estratégico I:

Inclusão da temática da educação em Direitos Humanos na educação não formal.

Ações programáticas:

a)Fomentar a inclusão da temática de Direitos Humanos na educação não formal, nos programas de
qualificação profissional, alfabetização de jovens e adultos, extensão rural, educação social comunitária e de
cultura popular.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério do


Desenvolvimento Agrário; Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência
da República; Ministério da Cultura; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da
República

b)Apoiar iniciativas de educação popular em Direitos Humanos desenvolvidas por organizações comunitárias,
movimentos sociais, organizações não governamentais e outros agentes organizados da sociedade civil.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Secretaria Especial de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República; Secretaria Especial de Políticas para
as Mulheres da Presidência da República; Ministério da Cultura; Ministério da Justiça

c)Apoiar e promover a capacitação de agentes multiplicadores para atuarem em projetos de educação em


Direitos Humanos.

Responsável: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

d)Apoiar e desenvolver programas de formação em comunicação e Direitos Humanos para comunicadores


comunitários.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério das
Comunicações; Ministério da Cultura

e)Desenvolver iniciativas que levem a incorporar a temática da educação em Direitos Humanos nos programas
de inclusão digital e de educação à distância.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da


Educação; Ministério das Comunicações; Ministério de Ciência e Tecnologia

f)Apoiar a incorporação da temática da educação em Direitos Humanos nos programas e projetos de esporte,
lazer e cultura como instrumentos de inclusão social.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da


Educação; Ministério da Cultura; Ministério do Esporte

g)Fortalecer experiências alternativas de educação para os adolescentes, bem como para monitores e
profissionais do sistema de execução de medidas socioeducativas.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da


Educação; Ministério da Justiça

Objetivo estratégico II:


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 542

Resgate da memória por meio da reconstrução da história dos movimentos sociais.

Ações programáticas:

a)Promover campanhas e pesquisas sobre a história dos movimentos de grupos historicamente


vulnerabilizados, tais como o segmento LGBT, movimentos de mulheres, quebradeiras de coco, castanheiras,
ciganos, entre outros.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Secretaria Especial de
Políticas para as Mulheres da Presidência da República

b)Apoiar iniciativas para a criação de museus voltados ao resgate da cultura e da história dos movimentos
sociais.

Responsáveis: Ministério da Cultura; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

Diretriz 21: Promoção da Educação em Direitos Humanos no serviço público.

Objetivo Estratégico I:

Formação e capacitação continuada dos servidores públicos em Direitos Humanos, em todas as esferas de
governo.

Ações programáticas:

a) Apoiar e desenvolver atividades de formação e capacitação continuadas interdisciplinares em Direitos


Humanos para servidores públicos.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da


Educação; Ministério da Justiça; Ministério da Saúde; Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão;
Ministério das Relações Exteriores

b)Incentivar a inserção da temática dos Direitos Humanos nos programas das escolas de formação de
servidores vinculados aos órgãos públicos federais.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Secretaria Especial de
Políticas para as Mulheres da Presidência da República; Secretaria Especial de Políticas de Promoção da
Igualdade Racial da Presidência da República

c)Publicar materiais didático-pedagógicos sobre Direitos Humanos e função pública, desdobrando temas e
aspectos adequados ao diálogo com as várias áreas de atuação dos servidores públicos.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério do


Planejamento, Orçamento e Gestão

Objetivo Estratégico II:

Formação adequada e qualificada dos profissionais do sistema de segurança pública.

Ações programáticas:

a)Oferecer, continuamente e permanentemente, cursos em Direitos Humanos para os profissionais do sistema


de segurança pública e justiça criminal.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 543

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República;
Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República; Secretaria Especial de Políticas
de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República

b)Oferecer permanentemente cursos de especialização aos gestores, policiais e demais profissionais do


sistema de segurança pública.

Responsável: Ministério da Justiça

c)Publicar materiais didático-pedagógicos sobre segurança pública e Direitos Humanos.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

d)Incentivar a inserção da temática dos Direitos Humanos nos programas das escolas de formação inicial e
continuada dos membros das Forças Armadas.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Defesa

e)Criar escola nacional de polícia para educação continuada dos profissionais do sistema de segurança pública,
com enfoque prático.

Responsável: Ministério da Justiça

f)Apoiar a capacitação de policiais em direitos das crianças, em aspectos básicos do desenvolvimento infantil
e em maneiras de lidar com grupos em situação de vulnerabilidade, como crianças e adolescentes em situação
de rua, vítimas de exploração sexual e em conflito com a lei.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

Diretriz 22: Garantia do direito à comunicação democrática e ao acesso à informação para consolidação
de uma cultura em Direitos Humanos.

Objetivo Estratégico I:

Promover o respeito aos Direitos Humanos nos meios de comunicação e o cumprimento de seu papel na
promoção da cultura em Direitos Humanos.

Ações Programáticas:

a) Propor a criação de marco legal regulamentando o art. 221 da Constituição, estabelecendo o respeito aos
Direitos Humanos nos serviços de radiodifusão (rádio e televisão) concedidos, permitidos ou autorizados, como
condição para sua outorga e renovação, prevendo penalidades administrativas como advertência, multa,
suspensão da programação e cassação, de acordo com a gravidade das violações praticadas.

a) Propor a criação de marco legal, nos termos do art. 221 da Constituição, estabelecendo o respeito aos
Direitos Humanos nos serviços de radiodifusão (rádio e televisão) concedidos, permitidos ou autorizados.
(Redação dada pelo decreto nº 7.177, de 2010)

Responsáveis: Ministério das Comunicações; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da
República; Ministério da Justiça; Ministério da Cultura

b)Promover diálogo com o Ministério Público para proposição de ações objetivando a suspensão de
programação e publicidade atentatórias aos Direitos Humanos.

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

c)Suspender patrocínio e publicidade oficial em meios que veiculam programações atentatórias aos Direitos
Humanos.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 544

Responsáveis: Ministério das Comunicações; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da
República; Ministério da Justiça

e)Desenvolver programas de formação nos meios de comunicação públicos como instrumento de informação
e transparência das políticas públicas, de inclusão digital e de acessibilidade.

Responsáveis: Ministério das Comunicações; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da
República; Ministério da Cultura; Ministério da Justiça

f)Avançar na regularização das rádios comunitárias e promover incentivos para que se afirmem como
instrumentos permanentes de diálogo com as comunidades locais.

Responsáveis: Ministério das Comunicações; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da
República; Ministério da Cultura; Ministério da Justiça

g)Promover a eliminação das barreiras que impedem o acesso de pessoas com deficiência sensorial à
programação em todos os meios de comunicação e informação, em conformidade com o Decreto no
5.296/2004, bem como acesso a novos sistemas e tecnologias, incluindo Internet.

Responsáveis: Ministério das Comunicações; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da
República; Ministério da Justiça

Objetivo Estratégico II:

Garantia do direito à comunicação democrática e ao acesso à informação.

Ações Programáticas:

a)Promover parcerias com entidades associativas de mídia, profissionais de comunicação, entidades sindicais
e populares para a produção e divulgação de materiais sobre Direitos Humanos.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Cultura;
Ministério das Comunicações

b)Incentivar pesquisas regulares que possam identificar formas, circunstâncias e características de violações
dos Direitos Humanos na mídia.

Responsáveis: Ministério das Comunicações; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da
República

c)Incentivar a produção de filmes, vídeos, áudios e similares, voltada para a educação em Direitos Humanos e
que reconstrua a história recente do autoritarismo no Brasil, bem como as iniciativas populares de organização
e de resistência.

Responsáveis: Ministério das Comunicações; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da
República; Ministério da Cultura; Ministério da Justiça

Eixo Orientador VI:

Direito à Memória e à Verdade

A investigação do passado é fundamental para a construção da cidadania. Estudar o passado, resgatar sua
verdade e trazer à tona seus acontecimentos caracterizam forma de transmissão de experiência histórica, que
é essencial para a constituição da memória individual e coletiva.

O Brasil ainda processa com dificuldades o resgate da memória e da verdade sobre o que ocorreu com as
vítimas atingidas pela repressão política durante o regime de 1964. A impossibilidade de acesso a todas as
informações oficiais impede que familiares de mortos e desaparecidos possam conhecer os fatos relacionados
aos crimes praticados e não permite à sociedade elaborar seus próprios conceitos sobre aquele período.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 545

A história que não é transmitida de geração a geração torna-se esquecida e silenciada. O silêncio e o
esquecimento das barbáries geram graves lacunas na experiência coletiva de construção da identidade
nacional. Resgatando a memória e a verdade, o País adquire consciência superior sobre sua própria identidade,
a democracia se fortalece. As tentações totalitárias são neutralizadas e crescem as possibilidades de
erradicação definitiva de alguns resquícios daquele período sombrio, como a tortura, por exemplo, ainda
persistente no cotidiano brasileiro.

O trabalho de reconstituir a memória exige revisitar o passado e compartilhar experiências de dor, violência e
mortes. Somente depois de lembrá-las e fazer seu luto, será possível superar o trauma histórico e seguir
adiante. A vivência do sofrimento e das perdas não pode ser reduzida a conflito privado e subjetivo, uma vez
que se inscreveu num contexto social, e não individual.

A compreensão do passado por intermédio da narrativa da herança histórica e pelo reconhecimento oficial dos
acontecimentos possibilita aos cidadãos construírem os valores que indicarão sua atuação no presente. O
acesso a todos os arquivos e documentos produzidos durante o regime militar é fundamental no âmbito das
políticas de proteção dos Direitos Humanos.

Desde os anos 1990, a persistência de familiares de mortos e desaparecidos vem obtendo vitórias significativas
nessa luta, com abertura de importantes arquivos estaduais sobre a repressão política do regime ditatorial. Em
dezembro de 1995, coroando difícil e delicado processo de discussão entre esses familiares, o Ministério da
Justiça e o Poder Legislativo Federal, foi aprovada a Lei no 9.140/95, que reconheceu a responsabilidade do
Estado brasileiro pela morte de opositores ao regime de 1964.

Essa Lei instituiu Comissão Especial com poderes para deferir pedidos de indenização das famílias de uma
lista inicial de 136 pessoas e julgar outros casos apresentados para seu exame. No art. 4o, inciso II, a Lei
conferiu à Comissão Especial também a incumbência de envidar esforços para a localização dos corpos de
pessoas desaparecidas no caso de existência de indícios quanto ao local em que possam estar depositados.

Em 24 de agosto de 2001, foi criada, pela Medida Provisória no 2151-3, a Comissão de Anistia do Ministério
da Justiça. Esse marco legal foi reeditado pela Medida Provisória no 65, de 28 de agosto de 2002, e finalmente
convertido na Lei no 10.559, de 13 de novembro de 2002. Essa norma regulamentou o art. 8o do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) da Constituição de 1988, que previa a concessão de anistia
aos que foram perseguidos em decorrência de sua oposição política. Em dezembro de 2005, o Governo Federal
determinou que os três arquivos da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) fossem entregues ao Arquivo
Nacional, subordinado à Casa Civil, onde passaram a ser organizados e digitalizados.

Em agosto de 2007, em ato oficial coordenado pelo Presidente da República, foi lançado, pela Secretaria
Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República e pela Comissão Especial sobre Mortos e
Desaparecidos Políticos, o livro-relatório "Direito à Memória e à Verdade", registrando os onze anos de trabalho
daquela Comissão e resumindo a história das vítimas da ditadura no Brasil.

A trajetória de estudantes, profissionais liberais, trabalhadores e camponeses que se engajaram no combate


ao regime militar aparece como documento oficial do Estado brasileiro. O Ministério da Educação e a Secretaria
Especial dos Direitos Humanos formularam parceria para criar portal que incluirá o livro-relatório, ampliado com
abordagem que apresenta o ambiente político, econômico, social e principalmente os aspectos culturais do
período. Serão distribuídas milhares de cópias desse material em mídia digital para estudantes de todo o País.

Em julho de 2008, o Ministério da Justiça e a Comissão de Anistia promoveram audiência pública sobre "Limites
e Possibilidades para a Responsabilização Jurídica dos Agentes Violadores de Direitos Humanos durante o
Estado de Exceção no Brasil", que discutiu a interpretação da Lei de Anistia de 1979 no que se refere à
controvérsia jurídica e política, envolvendo a prescrição ou imprescritibilidade dos crimes de tortura.

A Comissão de Anistia já realizou setecentas sessões de julgamento e promoveu, desde 2008, trinta caravanas,
possibilitando a participação da sociedade nas discussões, e contribuindo para a divulgação do tema no País.
Até 1o de novembro de 2009, já haviam sido apreciados por essa Comissão mais de cinquenta e dois mil
pedidos de concessão de anistia, dos quais quase trinta e cinco mil foram deferidos e cerca de dezessete mil,
indeferidos. Outros doze mil pedidos aguardavam julgamento, sendo possível, ainda, a apresentação de novas
solicitações. Em julho de 2009, em Belo Horizonte, o Ministro de Estado da Justiça realizou audiência pública
de apresentação do projeto Memorial da Anistia Política do Brasil, envolvendo a remodelação e construção de
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 546

novo edifício junto ao antigo "Coleginho" da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde estará
disponível para pesquisas todo o acervo da Comissão de Anistia.

No âmbito da sociedade civil, foram levadas ao Poder Judiciário importantes ações que provocaram debate
sobre a interpretação das leis e a apuração de responsabilidades. Em 1982, um grupo de familiares entrou com
ação na Justiça Federal para a abertura de arquivos e localização dos restos mortais dos mortos e
desaparecidos políticos no episódio conhecido como "Guerrilha do Araguaia". Em 2003, foi proferida sentença
condenando a União, que recorreu e, posteriormente, criou Comissão Interministerial pelo Decreto no 4.850,
de 2 de outubro de 2003, com a finalidade de obter informações que levassem à localização dos restos mortais
de participantes da "Guerrilha do Araguaia". Os trabalhos da Comissão Interministerial encerraram-se em
março de 2007, com a divulgação de seu relatório final.

Em agosto de 1995, o Centro de Estudos para a Justiça e o Direito Internacional (CEJIL) e a Human Rights
Watch/América (HRWA), em nome de um grupo de familiares, apresentaram petição à Comissão
Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), denunciando o desaparecimento de integrantes da "Guerrilha do
Araguaia". Em 31 de outubro de 2008, a CIDH expediu o Relatório de Mérito no 91/08, onde fez recomendações
ao Estado brasileiro. Em 26 de março de 2009, a CIDH submeteu o caso à Corte Interamericana de Direitos
Humanos, requerendo declaração de responsabilidade do Estado brasileiro sobre violações de direitos
humanos ocorridas durante as operações de repressão àquele movimento.

Em 2005 e 2008, duas famílias iniciaram, na Justiça Civil, ações declaratórias para o reconhecimento das
torturas sofridas por seus membros, indicando o responsável pelas sevícias. Ainda em 2008, o Ministério
Público Federal em São Paulo propôs Ação Civil Pública contra dois oficiais do exército acusados de
determinarem prisão ilegal, tortura, homicídio e desaparecimento forçado de dezenas de cidadãos.

Tramita também, no âmbito do Supremo Tribunal Federal, Arguição de Descumprimento de Preceito


Fundamental, proposta pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, que solicita a mais alta
corte brasileira posicionamento formal para saber se, em 1979, houve ou não anistia dos agentes públicos
responsáveis pela prática de tortura, homicídio, desaparecimento forçado, abuso de autoridade, lesões
corporais e estupro contra opositores políticos, considerando, sobretudo, os compromissos internacionais
assumidos pelo Brasil e a insuscetibilidade de graça ou anistia do crime de tortura.

Em abril de 2009, o Ministério da Defesa, no contexto da decisão transitada em julgado da referida ação judicial
de 1982, criou Grupo de Trabalho para realizar buscas de restos mortais na região do Araguaia, sendo que,
por ordem expressa do Presidente da República, foi instituído Comitê Interinstitucional de Supervisão, com
representação dos familiares de mortos e desaparecidos políticos, para o acompanhamento e orientação dos
trabalhos. Após três meses de buscas intensas, sem que tenham sido encontrados restos mortais, os trabalhos
foram temporariamente suspensos devido às chuvas na região, prevendo-se sua retomada ao final do primeiro
trimestre de 2010.

Em maio de 2009, o Presidente da República coordenou o ato de lançamento do projeto Memórias Reveladas,
sob responsabilidade da Casa Civil, que interliga digitalmente o acervo recolhido ao Arquivo Nacional após
dezembro de 2005, com vários outros arquivos federais sobre a repressão política e com arquivos estaduais
de quinze unidades da federação, superando cinco milhões de páginas de documentos
(www.memoriasreveladas.arquivonacional.gov.br).

Cabe, agora, completar esse processo mediante recolhimento ao Arquivo Nacional de todo e qualquer
documento indevidamente retido ou ocultado, nos termos da Portaria Interministerial assinada na mesma data
daquele lançamento. Cabe também sensibilizar o Legislativo pela aprovação do Projeto de Lei no 5.228/2009,
assinado pelo Presidente da República, que introduz avanços democratizantes nas normas reguladoras do
direito de acesso à informação.

Importância superior nesse resgate da história nacional está no imperativo de localizar os restos mortais de
pelo menos cento e quarenta brasileiros e brasileiras que foram mortos pelo aparelho de repressão do regime
ditatorial. A partir de junho de 2009, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República planejou,
concebeu e veiculou abrangente campanha publicitária de televisão, internet, rádio, jornais e revistas de todo
o Brasil buscando sensibilizar os cidadãos sobre essa questão. As mensagens solicitavam que informações
sobre a localização de restos mortais ou sobre qualquer documento e arquivos envolvendo assuntos da
repressão política entre 1964 e 1985 sejam encaminhados ao Memórias Reveladas. Seu propósito é assegurar
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 547

às famílias o exercício do direito sagrado de prantear seus entes queridos e promover os ritos funerais, sem os
quais desaparece a certeza da morte e se perpetua angústia que equivale a nova forma de tortura.

As violações sistemáticas dos Direitos Humanos pelo Estado durante o regime ditatorial são desconhecidas
pela maioria da população, em especial pelos jovens. A radiografia dos atingidos pela repressão política ainda
está longe de ser concluída, mas calcula-se que pelo menos cinquenta mil pessoas foram presas somente nos
primeiros meses de 1964; cerca de vinte mil brasileiros foram submetidos a torturas e cerca de quatrocentos
cidadãos foram mortos ou estão desaparecidos. Ocorreram milhares de prisões políticas não registradas, cento
e trinta banimentos, quatro mil, oitocentos e sessenta e duas cassações de mandatos políticos, uma cifra
incalculável de exílios e refugiados políticos.

As ações programáticas deste eixo orientador têm como finalidade assegurar o processamento democrático e
republicano de todo esse período da história brasileira, para que se viabilize o desejável sentimento de
reconciliação nacional. E para se construir consenso amplo no sentido de que as violações sistemáticas de
Direitos Humanos registradas entre 1964 e 1985, bem como no período do Estado Novo, não voltem a ocorrer
em nosso País, nunca mais.

Diretriz 23: Reconhecimento da memória e da verdade como Direito Humano da cidadania e dever do
Estado.

Objetivo Estratégico I:

Promover a apuração e o esclarecimento público das violações de Direitos Humanos praticadas no contexto
da repressão política ocorrida no Brasil no período fixado pelo art. 8o do ADCT da Constituição, a fim de efetivar
o direito à memória e à verdade histórica e promover a reconciliação nacional.

Ação Programática:

a)Designar grupo de trabalho composto por representantes da Casa Civil, do Ministério da Justiça, do Ministério
da Defesa e da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, para elaborar, até abril
de 2010, projeto de lei que institua Comissão Nacional da Verdade, composta de forma plural e suprapartidária,
com mandato e prazo definidos, para examinar as violações de Direitos Humanos praticadas no contexto da
repressão política no período mencionado, observado o seguinte:

O grupo de trabalho será formado por representantes da Casa Civil da Presidência da República, que o
presidirá, do Ministério da Justiça, do Ministério da Defesa, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Presidência da República, do presidente da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, criada
pela Lei no 9.140/95 e de representante da sociedade civil, indicado por esta Comissão Especial;

Com o objetivo de promover o maior intercâmbio de informações e a proteção mais eficiente dos Direitos
Humanos, a Comissão Nacional da Verdade estabelecerá coordenação com as atividades desenvolvidas pelos
seguintes órgãos:

Arquivo Nacional, vinculado à Casa Civil da Presidência da República;

Comissão de Anistia, vinculada ao Ministério da Justiça;

Comissão Especial criada pela Lei no 9.140/95, vinculada à Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Presidência da República;

Comitê Interinstitucional de Supervisão instituído pelo Decreto Presidencial de 17 de julho de 2009;

Grupo de Trabalho instituído pela Portaria no 567/MD, de 29 de abril de 2009, do Ministro de Estado da
Defesa;

No exercício de suas atribuições, a Comissão Nacional da Verdade poderá realizar as seguintes atividades:
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 548

requisitar documentos públicos, com a colaboração das respectivas autoridades, bem como requerer ao
Judiciário o acesso a documentos privados;

colaborar com todas as instâncias do Poder Público para a apuração de violações de Direitos Humanos,
observadas as disposições da Lei no 6.683, de 28 de agosto de 1979;

promover, com base em seus informes, a reconstrução da história dos casos de violação de Direitos
Humanos, bem como a assistência às vítimas de tais violações;

promover, com base no acesso às informações, os meios e recursos necessários para a localização e
identificação de corpos e restos mortais de desaparecidos políticos;

identificar e tornar públicas as estruturas utilizadas para a prática de violações de Direitos Humanos, suas
ramificações nos diversos aparelhos do Estado e em outras instâncias da sociedade;

registrar e divulgar seus procedimentos oficiais, a fim de garantir o esclarecimento circunstanciado de


torturas, mortes e desaparecimentos, devendo-se discriminá-los e encaminhá-los aos órgãos competentes;

apresentar recomendações para promover a efetiva reconciliação nacional e prevenir no sentido da não
repetição de violações de Direitos Humanos.

A Comissão Nacional da Verdade deverá apresentar, anualmente, relatório circunstanciado que exponha as
atividades realizadas e as respectivas conclusões, com base em informações colhidas ou recebidas em
decorrência do exercício de suas atribuições.

Diretriz 24: Preservação da memória histórica e construção pública da verdade.

Objetivo Estratégico I:

Incentivar iniciativas de preservação da memória histórica e de construção pública da verdade sobre períodos
autoritários.

Ações programáticas:

a)Disponibilizar linhas de financiamento para a criação de centros de memória sobre a repressão política, em
todos os Estados, com projetos de valorização da história cultural e de socialização do conhecimento por
diversos meios de difusão.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Justiça;
Ministério da Cultura; Ministério da Educação

b) Criar comissão específica, em conjunto com departamentos de História e centros de pesquisa, para
reconstituir a história da repressão ilegal relacionada ao Estado Novo (1937-1945). Essa comissão deverá
publicar relatório contendo os documentos que fundamentaram essa repressão, a descrição do funcionamento
da justiça de exceção, os responsáveis diretos no governo ditatorial, registros das violações, bem como dos
autores e das vítimas.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da


Educação; Ministério da Justiça; Ministério da Cultura

c)Identificar e sinalizar locais públicos que serviram à repressão ditatorial, bem como locais onde foram
ocultados corpos e restos mortais de perseguidos políticos.

c) Identificar e tornar públicos as estruturas, os locais, as instituições e as circunstâncias relacionados à prática


de violações de direitos humanos, suas eventuais ramificações nos diversos aparelhos estatais e na sociedade,
bem como promover, com base no acesso às informações, os meios e recursos necessários para a localização
e identificação de corpos e restos mortais de desaparecidos políticos. (Redação dada pelo Decreto nº
7.177, de 2010)
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 549

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Casa Civil da
Presidência da República; Ministério da Justiça; Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da
República

d) Criar e manter museus, memoriais e centros de documentação sobre a resistência à ditadura.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Justiça;
Ministério da Cultura; Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República

e)Apoiar técnica e financeiramente a criação de observatórios do Direito à Memória e à Verdade nas


universidades e em organizações da sociedade civil.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Educação

f)Desenvolver programas e ações educativas, inclusive a produção de material didático-pedagógico para ser
utilizado pelos sistemas de educação básica e superior sobre o regime de 1964-1985 e sobre a resistência
popular à repressão.

f) Desenvolver programas e ações educativas, inclusive a produção de material didático-pedagógico para ser
utilizado pelos sistemas de educação básica e superior sobre graves violações de direitos humanos ocorridas
no período fixado no art. 8º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição de 1988.
(Redação dada pelo Decreto nº 7.177, de 2010)

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da


Educação; Ministério da Justiça; Ministério da Cultura; Ministério de Ciência e Tecnologia

Diretriz 25: Modernização da legislação relacionada com promoção do direito à memória e à verdade,
fortalecendo a democracia.

Objetivo Estratégico I:

Suprimir do ordenamento jurídico brasileiro eventuais normas remanescentes de períodos de exceção que
afrontem os compromissos internacionais e os preceitos constitucionais sobre Direitos Humanos.

Ações Programáticas:

a) Criar grupo de trabalho para acompanhar, discutir e articular, com o Congresso Nacional, iniciativas de
legislação propondo:

- revogação de leis remanescentes do período 1964-1985 que sejam contrárias à garantia dos Direitos
Humanos ou tenham dado sustentação a graves violações;

- revisão de propostas legislativas envolvendo retrocessos na garantia dos Direitos Humanos em geral e no
direito à memória e à verdade.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Justiça;
Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República

b) Propor e articular o reconhecimento do status constitucional de instrumentos internacionais de Direitos


Humanos novos ou já existentes ainda não ratificados.

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Justiça;
Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República; Ministério das Relações Exteriores

c) Propor legislação de abrangência nacional proibindo que logradouros, atos e próprios nacionais e prédios
públicos recebam nomes de pessoas que praticaram crimes de lesa-humanidade, bem como determinar a
alteração de nomes que já tenham sido atribuídos.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 550

c) Fomentar debates e divulgar informações no sentido de que logradouros, atos e próprios nacionais ou prédios
públicos não recebam nomes de pessoas identificadas reconhecidamente como torturadores. (Redação
dada pelo Decreto nº 7.177, de 2010)

Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República;
Casa Civil da Presidência da República; Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República

d)Acompanhar e monitorar a tramitação judicial dos processos de responsabilização civil ou criminal sobre
casos que envolvam atos relativos ao regime de 1964-1985.

d) Acompanhar e monitorar a tramitação judicial dos processos de responsabilização civil sobre casos que
envolvam graves violações de direitos humanos praticadas no período fixado no art. 8º do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias da Constituição de 1988. (Redação dada pelo Decreto nº 7.177, de 2010)

Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Justiça
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 551

3. LEI 13.874/2019 (DECLARAÇÃO DE DIREITOS DE LIBERDADE ECONÔMICA E


GARANTIAS DE LIVRE MERCADO)

LEI Nº 13.874, DE 20 DE SETEMBRO DE 2019

Institui a Declaração de Direitos de Liberdade Econômica; estabelece garantias de livre mercado; altera as Leis nos
10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), 6.404, de 15 de dezembro de 1976, 11.598, de 3 de dezembro de
2007, 12.682, de 9 de julho de 2012, 6.015, de 31 de dezembro de 1973, 10.522, de 19 de julho de 2002, 8.934, de 18
de novembro 1994, o Decreto-Lei nº 9.760, de 5 de setembro de 1946 e a Consolidação das Leis do Trabalho,
aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943; revoga a Lei Delegada nº 4, de 26 de setembro de 1962, a
Lei nº 11.887, de 24 de dezembro de 2008, e dispositivos do Decreto-Lei nº 73, de 21 de novembro de 1966; e dá
outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a


seguinte Lei:

CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 1º Fica instituída a Declaração de Direitos de Liberdade Econômica, que estabelece normas de
proteção à livre iniciativa e ao livre exercício de atividade econômica e disposições sobre a atuação do Estado
como agente normativo e regulador, nos termos do inciso IV do caput do art. 1º, do parágrafo único do art.
170 e do caput do art. 174 da Constituição Federal.

§ 1º O disposto nesta Lei será observado na aplicação e na interpretação do direito civil, empresarial,
econômico, urbanístico e do trabalho nas relações jurídicas que se encontrem no seu âmbito de aplicação e na
ordenação pública, inclusive sobre exercício das profissões, comércio, juntas comerciais, registros públicos,
trânsito, transporte e proteção ao meio ambiente.

§ 2º Interpretam-se em favor da liberdade econômica, da boa-fé e do respeito aos contratos, aos


investimentos e à propriedade todas as normas de ordenação pública sobre atividades econômicas privadas.

§ 3º O disposto neste Capítulo e nos Capítulos II e III desta Lei não se aplica ao direito tributário e ao
direito financeiro, ressalvado o disposto no inciso X do caput do art. 3º desta Lei. (Redação dada pela Lei nº
14.195, de 2021)

§ 4º O disposto nos arts. 1º, 2º, 3º e 4º desta Lei constitui norma geral de direito econômico, conforme o
disposto no inciso I do caput e nos §§ 1º, 2º, 3º e 4º do art. 24 da Constituição Federal, e será observado para
todos os atos públicos de liberação da atividade econômica executados pelos Estados, pelo Distrito Federal e
pelos Municípios, nos termos do § 2º deste artigo.

§ 5º O disposto no inciso IX do caput do art. 3º desta Lei não se aplica aos Estados, ao Distrito Federal e
aos Municípios, exceto se:

I - o ato público de liberação da atividade econômica for derivado ou delegado por legislação ordinária
federal; ou

II - o ente federativo ou o órgão responsável pelo ato decidir vincular-se ao disposto no inciso IX
do caput do art. 3º desta Lei por meio de instrumento válido e próprio.

§ 6º Para fins do disposto nesta Lei, consideram-se atos públicos de liberação a licença, a autorização, a
concessão, a inscrição, a permissão, o alvará, o cadastro, o credenciamento, o estudo, o plano, o registro e os
demais atos exigidos, sob qualquer denominação, por órgão ou entidade da administração pública na aplicação
de legislação, como condição para o exercício de atividade econômica, inclusive o início, a continuação e o fim
para a instalação, a construção, a operação, a produção, o funcionamento, o uso, o exercício ou a realização,
no âmbito público ou privado, de atividade, serviço, estabelecimento, profissão, instalação, operação, produto,
equipamento, veículo, edificação e outros.

Art. 2º São princípios que norteiam o disposto nesta Lei:


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 552

I - a liberdade como uma garantia no exercício de atividades econômicas;

II - a boa-fé do particular perante o poder público;

III - a intervenção subsidiária e excepcional do Estado sobre o exercício de atividades econômicas; e

IV - o reconhecimento da vulnerabilidade do particular perante o Estado.

Parágrafo único. Regulamento disporá sobre os critérios de aferição para afastamento do inciso IV
do caput deste artigo, limitados a questões de má-fé, hipersuficiência ou reincidência.

CAPÍTULO II

DA DECLARAÇÃO DE DIREITOS DE LIBERDADE ECONÔMICA

Art. 3º São direitos de toda pessoa, natural ou jurídica, essenciais para o desenvolvimento e o crescimento
econômicos do País, observado o disposto no parágrafo único do art. 170 da Constituição Federal:

I - desenvolver atividade econômica de baixo risco, para a qual se valha exclusivamente de propriedade
privada própria ou de terceiros consensuais, sem a necessidade de quaisquer atos públicos de liberação da
atividade econômica;

II - desenvolver atividade econômica em qualquer horário ou dia da semana, inclusive feriados, sem que
para isso esteja sujeita a cobranças ou encargos adicionais, observadas:

a) as normas de proteção ao meio ambiente, incluídas as de repressão à poluição sonora e à perturbação


do sossego público;

b) as restrições advindas de contrato, de regulamento condominial ou de outro negócio jurídico, bem como
as decorrentes das normas de direito real, incluídas as de direito de vizinhança; e

c) a legislação trabalhista;

III - definir livremente, em mercados não regulados, o preço de produtos e de serviços como consequência
de alterações da oferta e da demanda;

IV - receber tratamento isonômico de órgãos e de entidades da administração pública quanto ao exercício


de atos de liberação da atividade econômica, hipótese em que o ato de liberação estará vinculado aos mesmos
critérios de interpretação adotados em decisões administrativas análogas anteriores, observado o disposto em
regulamento;

V - gozar de presunção de boa-fé nos atos praticados no exercício da atividade econômica, para os quais
as dúvidas de interpretação do direito civil, empresarial, econômico e urbanístico serão resolvidas de forma a
preservar a autonomia privada, exceto se houver expressa disposição legal em contrário;

VI - desenvolver, executar, operar ou comercializar novas modalidades de produtos e de serviços quando


as normas infralegais se tornarem desatualizadas por força de desenvolvimento tecnológico consolidado
internacionalmente, nos termos estabelecidos em regulamento, que disciplinará os requisitos para aferição da
situação concreta, os procedimentos, o momento e as condições dos efeitos;

VII - (VETADO);

VIII - ter a garantia de que os negócios jurídicos empresariais paritários serão objeto de livre estipulação
das partes pactuantes, de forma a aplicar todas as regras de direito empresarial apenas de maneira subsidiária
ao avençado, exceto normas de ordem pública;

IX - ter a garantia de que, nas solicitações de atos públicos de liberação da atividade econômica que se
sujeitam ao disposto nesta Lei, apresentados todos os elementos necessários à instrução do processo, o
particular será cientificado expressa e imediatamente do prazo máximo estipulado para a análise de seu pedido
e de que, transcorrido o prazo fixado, o silêncio da autoridade competente importará aprovação tácita para
todos os efeitos, ressalvadas as hipóteses expressamente vedadas em lei; (Vide Decreto nº 10.178, de
2019) Vigência
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 553

X - arquivar qualquer documento por meio de microfilme ou por meio digital, conforme técnica e requisitos
estabelecidos em regulamento, hipótese em que se equiparará a documento físico para todos os efeitos legais
e para a comprovação de qualquer ato de direito público; (Regulamento)

XI - não ser exigida medida ou prestação compensatória ou mitigatória abusiva, em sede de estudos de
impacto ou outras liberações de atividade econômica no direito urbanístico, entendida como aquela que:

a) (VETADO);

b) requeira medida que já era planejada para execução antes da solicitação pelo particular, sem que a
atividade econômica altere a demanda para execução da referida medida;

c) utilize-se do particular para realizar execuções que compensem impactos que existiriam
independentemente do empreendimento ou da atividade econômica solicitada;

d) requeira a execução ou prestação de qualquer tipo para áreas ou situação além daquelas diretamente
impactadas pela atividade econômica; ou

e) mostre-se sem razoabilidade ou desproporcional, inclusive utilizada como meio de coação ou


intimidação; e

XII - não ser exigida pela administração pública direta ou indireta certidão sem previsão expressa em lei.

§ 1º Para fins do disposto no inciso I do caput deste artigo:

I - ato do Poder Executivo federal disporá sobre a classificação de atividades de baixo risco a ser
observada na ausência de legislação estadual, distrital ou municipal específica;

II - na hipótese de ausência de ato do Poder Executivo federal de que trata o inciso I deste parágrafo, será
aplicada resolução do Comitê para Gestão da Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização
de Empresas e Negócios (CGSIM), independentemente da aderência do ente federativo à Rede Nacional para
a Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios (Redesim); e

III - na hipótese de existência de legislação estadual, distrital ou municipal sobre a classificação de


atividades de baixo risco, o ente federativo que editar ou tiver editado norma específica encaminhará notificação
ao Ministério da Economia sobre a edição de sua norma.

§ 2º A fiscalização do exercício do direito de que trata o inciso I do caput deste artigo será realizada
posteriormente, de ofício ou como consequência de denúncia encaminhada à autoridade competente.

§ 3º O disposto no inciso III do caput deste artigo não se aplica:

I - às situações em que o preço de produtos e de serviços seja utilizado com a finalidade de reduzir o valor
do tributo, de postergar a sua arrecadação ou de remeter lucros em forma de custos ao exterior; e

II - à legislação de defesa da concorrência, aos direitos do consumidor e às demais disposições protegidas


por lei federal.

§ 4º (Revogado pela Lei 14.011, de 2020)

§ 5º O disposto no inciso VIII do caput deste artigo não se aplica à empresa pública e à sociedade de
economia mista definidas nos arts. 3º e 4º da Lei nº 13.303, de 30 de junho de 2016.

§ 6º O disposto no inciso IX do caput deste artigo não se aplica quando:

I - versar sobre questões tributárias de qualquer espécie ou de concessão de registro de marcas;

II - a decisão importar em compromisso financeiro da administração pública; e

III - houver objeção expressa em tratado em vigor no País.

§ 7º A aprovação tácita prevista no inciso IX do caput deste artigo não se aplica quando a titularidade da
solicitação for de agente público ou de seu cônjuge, companheiro ou parente em linha reta ou colateral, por
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 554

consanguinidade ou afinidade, até o 3º (terceiro) grau, dirigida a autoridade administrativa ou política do próprio
órgão ou entidade da administração pública em que desenvolva suas atividades funcionais.

§ 8º O prazo a que se refere o inciso IX do caput deste artigo será definido pelo órgão ou pela entidade
da administração pública solicitada, observados os princípios da impessoalidade e da eficiência e os limites
máximos estabelecidos em regulamento.

§ 9º (VETADO).

§ 10. O disposto no inciso XI do caput deste artigo não se aplica às situações de acordo resultantes de
ilicitude.

§ 11. Para os fins do inciso XII do caput deste artigo, é ilegal delimitar prazo de validade de certidão
emitida sobre fato imutável, inclusive sobre óbito.

CAPÍTULO III

DAS GARANTIAS DE LIVRE INICIATIVA

Art. 4º É dever da administração pública e das demais entidades que se vinculam a esta Lei, no exercício
de regulamentação de norma pública pertencente à legislação sobre a qual esta Lei versa, exceto se em estrito
cumprimento a previsão explícita em lei, evitar o abuso do poder regulatório de maneira a, indevidamente:

I - criar reserva de mercado ao favorecer, na regulação, grupo econômico, ou profissional, em prejuízo dos
demais concorrentes;

II - redigir enunciados que impeçam a entrada de novos competidores nacionais ou estrangeiros no


mercado;

III - exigir especificação técnica que não seja necessária para atingir o fim desejado;

IV - redigir enunciados que impeçam ou retardem a inovação e a adoção de novas tecnologias, processos
ou modelos de negócios, ressalvadas as situações consideradas em regulamento como de alto risco;

V - aumentar os custos de transação sem demonstração de benefícios;

VI - criar demanda artificial ou compulsória de produto, serviço ou atividade profissional, inclusive de uso
de cartórios, registros ou cadastros;

VII - introduzir limites à livre formação de sociedades empresariais ou de atividades econômicas;

VIII - restringir o uso e o exercício da publicidade e propaganda sobre um setor econômico, ressalvadas
as hipóteses expressamente vedadas em lei federal; e

IX - exigir, sob o pretexto de inscrição tributária, requerimentos de outra natureza de maneira a mitigar os
efeitos do inciso I do caput do art. 3º desta Lei.

Art. 4º-A É dever da administração pública e das demais entidades que se sujeitam a esta Lei, na aplicação
da ordenação pública sobre atividades econômicas privadas: (Incluído pela Lei nº 14.195, de 2021)

I - dispensar tratamento justo, previsível e isonômico entre os agentes econômicos; (Incluído pela Lei
nº 14.195, de 2021)

II - proceder à lavratura de autos de infração ou aplicar sanções com base em termos subjetivos ou
abstratos somente quando estes forem propriamente regulamentados por meio de critérios claros, objetivos e
previsíveis; e (Incluído pela Lei nº 14.195, de 2021)

III - observar o critério de dupla visita para lavratura de autos de infração decorrentes do exercício de
atividade considerada de baixo ou médio risco. (Incluído pela Lei nº 14.195, de 2021)

§ 1º Os órgãos e as entidades competentes, na forma do inciso II do caput deste artigo, editarão atos
normativos para definir a aplicação e a incidência de conceitos subjetivos ou abstratos por meio de critérios
claros, objetivos e previsíveis, observado que: (Incluído pela Lei nº 14.195, de 2021)
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 555

I - nos casos de imprescindibilidade de juízo subjetivo para a aplicação da sanção, o ato normativo
determinará o procedimento para sua aferição, de forma a garantir a maior previsibilidade e impessoalidade
possível; (Incluído pela Lei nº 14.195, de 2021)

II - a competência da edição dos atos normativos infralegais equivalentes a que se refere este parágrafo
poderá ser delegada pelo Poder competente conforme sua autonomia, bem como pelo órgão ou pela entidade
responsável pela lavratura do auto de infração. (Incluído pela Lei nº 14.195, de 2021)

§ 2º Para os fins administrativos, controladores e judiciais, consideram-se plenamente atendidos pela


administração pública os requisitos previstos no inciso II do caput deste artigo, quando a advocacia pública, no
âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, nos limites da respectiva competência,
tiver previamente analisado o ato de que trata o § 1º deste artigo. (Incluído pela Lei nº 14.195, de 2021)

§ 3º Os órgãos e as entidades deverão editar os atos normativos previstos no § 1º deste artigo no prazo
de 4 (quatro) anos, podendo o Poder Executivo estabelecer prazo inferior em regulamento. (Incluído pela Lei
nº 14.195, de 2021)

§ 4º O disposto no inciso II do caput deste artigo aplica-se exclusivamente ao ato de lavratura decorrente
de infrações referentes a matérias nas quais a atividade foi considerada de baixo ou médio risco, não se
aplicando a órgãos e a entidades da administração pública que não a tenham assim classificado, de forma
direta ou indireta, de acordo com os seguintes critérios: (Incluído pela Lei nº 14.195, de 2021)

I - direta, quando realizada pelo próprio órgão ou entidade da administração pública que procede à
lavratura; e (Incluído pela Lei nº 14.195, de 2021)

II - indireta, quando o nível de risco aplicável decorre de norma hierarquicamente superior ou subsidiária,
por força de lei, desde que a classificação refira-se explicitamente à matéria sobre a qual se procederá a
lavratura. (Incluído pela Lei nº 14.195, de 2021)

CAPÍTULO IV

DA ANÁLISE DE IMPACTO REGULATÓRIO

Art. 5º As propostas de edição e de alteração de atos normativos de interesse geral de agentes


econômicos ou de usuários dos serviços prestados, editadas por órgão ou entidade da administração pública
federal, incluídas as autarquias e as fundações públicas, serão precedidas da realização de análise de impacto
regulatório, que conterá informações e dados sobre os possíveis efeitos do ato normativo para verificar a
razoabilidade do seu impacto econômico. (Regulamento)

Parágrafo único. Regulamento disporá sobre a data de início da exigência de que trata o caput deste
artigo e sobre o conteúdo, a metodologia da análise de impacto regulatório, os quesitos mínimos a serem objeto
de exame, as hipóteses em que será obrigatória sua realização e as hipóteses em que poderá ser dispensada.

CAPÍTULO V

DAS ALTERAÇÕES LEGISLATIVAS E DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 6º Fica extinto o Fundo Soberano do Brasil (FSB), fundo especial de natureza contábil e financeira,
vinculado ao Ministério da Economia, criado pela Lei nº 11.887, de 24 de dezembro de 2008.

Art. 7º A Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), passa a vigorar com as seguintes
alterações:

“Art. 49-A. A pessoa jurídica não se confunde com os seus sócios, associados, instituidores ou
administradores.

Parágrafo único. A autonomia patrimonial das pessoas jurídicas é um instrumento lícito de alocação e
segregação de riscos, estabelecido pela lei com a finalidade de estimular empreendimentos, para a geração de
empregos, tributo, renda e inovação em benefício de todos.”

“Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão
patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no
processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 556

estendidos aos bens particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou
indiretamente pelo abuso.

§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização da pessoa jurídica com o propósito
de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de qualquer natureza.

§ 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato entre os patrimônios, caracterizada
por:

I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do administrador ou vice-versa;

II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto os de valor proporcionalmente


insignificante; e

III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial.

§ 3º O disposto no caput e nos §§ 1º e 2º deste artigo também se aplica à extensão das obrigações de sócios
ou de administradores à pessoa jurídica.

§ 4º A mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos de que trata o caput deste artigo
não autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica.

§ 5º Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a alteração da finalidade original da atividade
econômica específica da pessoa jurídica.” (NR)

“Art. 113. ......................................................................................................................

§ 1º A interpretação do negócio jurídico deve lhe atribuir o sentido que:

I - for confirmado pelo comportamento das partes posterior à celebração do negócio;

II - corresponder aos usos, costumes e práticas do mercado relativas ao tipo de negócio;

III - corresponder à boa-fé;

IV - for mais benéfico à parte que não redigiu o dispositivo, se identificável; e

V - corresponder a qual seria a razoável negociação das partes sobre a questão discutida, inferida das demais
disposições do negócio e da racionalidade econômica das partes, consideradas as informações disponíveis no
momento de sua celebração.

§ 2º As partes poderão livremente pactuar regras de interpretação, de preenchimento de lacunas e de


integração dos negócios jurídicos diversas daquelas previstas em lei.” (NR)

“Art. 421. A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato.

Parágrafo único. Nas relações contratuais privadas, prevalecerão o princípio da intervenção mínima e a
excepcionalidade da revisão contratual.” (NR)

“Art. 421-A. Os contratos civis e empresariais presumem-se paritários e simétricos até a presença de
elementos concretos que justifiquem o afastamento dessa presunção, ressalvados os regimes jurídicos
previstos em leis especiais, garantido também que:

I - as partes negociantes poderão estabelecer parâmetros objetivos para a interpretação das cláusulas
negociais e de seus pressupostos de revisão ou de resolução;

II - a alocação de riscos definida pelas partes deve ser respeitada e observada; e

III - a revisão contratual somente ocorrerá de maneira excepcional e limitada.”

“Art. 980-A. ...............................................................................................................

....................................................................................................................................
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 557

§ 7º Somente o patrimônio social da empresa responderá pelas dívidas da empresa individual de


responsabilidade limitada, hipótese em que não se confundirá, em qualquer situação, com o patrimônio do
titular que a constitui, ressalvados os casos de fraude.” (NR)

“Art. 1.052. ..............................................................................................................

§ 1º A sociedade limitada pode ser constituída por 1 (uma) ou mais pessoas.

§ 2º Se for unipessoal, aplicar-se-ão ao documento de constituição do sócio único, no que couber, as


disposições sobre o contrato social.” (NR)

“CAPÍTULO X

DO FUNDO DE INVESTIMENTO

‘Art. 1.368-C. O fundo de investimento é uma comunhão de recursos, constituído sob a forma de condomínio
de natureza especial, destinado à aplicação em ativos financeiros, bens e direitos de qualquer natureza.

§ 1º Não se aplicam ao fundo de investimento as disposições constantes dos arts. 1.314 ao 1.358-A deste
Código.

§ 2º Competirá à Comissão de Valores Mobiliários disciplinar o disposto no caput deste artigo.

§ 3º O registro dos regulamentos dos fundos de investimentos na Comissão de Valores Mobiliários é condição
suficiente para garantir a sua publicidade e a oponibilidade de efeitos em relação a terceiros.’

‘Art. 1.368-D. O regulamento do fundo de investimento poderá, observado o disposto na regulamentação a


que se refere o § 2º do art. 1.368-C desta Lei, estabelecer:

I - a limitação da responsabilidade de cada investidor ao valor de suas cotas;

II - a limitação da responsabilidade, bem como parâmetros de sua aferição, dos prestadores de serviços do
fundo de investimento, perante o condomínio e entre si, ao cumprimento dos deveres particulares de cada um,
sem solidariedade; e

III - classes de cotas com direitos e obrigações distintos, com possibilidade de constituir patrimônio segregado
para cada classe.

§ 1º A adoção da responsabilidade limitada por fundo de investimento constituído sem a limitação de


responsabilidade somente abrangerá fatos ocorridos após a respectiva mudança em seu regulamento.

§ 2º A avaliação de responsabilidade dos prestadores de serviço deverá levar sempre em consideração os


riscos inerentes às aplicações nos mercados de atuação do fundo de investimento e a natureza de obrigação
de meio de seus serviços.

§ 3º O patrimônio segregado referido no inciso III do caput deste artigo só responderá por obrigações
vinculadas à classe respectiva, nos termos do regulamento.’

‘Art. 1.368-E. Os fundos de investimento respondem diretamente pelas obrigações legais e contratuais por
eles assumidas, e os prestadores de serviço não respondem por essas obrigações, mas respondem pelos
prejuízos que causarem quando procederem com dolo ou má-fé.

§ 1º Se o fundo de investimento com limitação de responsabilidade não possuir patrimônio suficiente para
responder por suas dívidas, aplicam-se as regras de insolvência previstas nos arts. 955 a 965 deste Código.

§ 2º A insolvência pode ser requerida judicialmente por credores, por deliberação própria dos cotistas do fundo
de investimento, nos termos de seu regulamento, ou pela Comissão de Valores Mobiliários.’

‘Art. 1.368-F. O fundo de investimento constituído por lei específica e regulamentado pela Comissão de Valores
Mobiliários deverá, no que couber, seguir as disposições deste Capítulo.’”

Art. 8º O art. 85 da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, passa a vigorar com as seguintes alterações:

“Art. 85. .....................................................................................................


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 558

§ 1º A subscrição poderá ser feita, nas condições previstas no prospecto, por carta à instituição, acompanhada
das declarações a que se refere este artigo e do pagamento da entrada.

§ 2º Será dispensada a assinatura de lista ou de boletim a que se refere o caput deste artigo na hipótese de
oferta pública cuja liquidação ocorra por meio de sistema administrado por entidade administradora de
mercados organizados de valores mobiliários.” (NR)

Art. 9º O art. 4º da Lei nº 11.598, de 3 de dezembro de 2007, passa a vigorar acrescido do seguinte § 5º:

“Art. 4º ..........................................................................................................

.........................................................................................................................

§ 5º Ato do Poder Executivo federal disporá sobre a classificação mínima de atividades de baixo risco, válida
para todos os integrantes da Redesim, observada a Classificação Nacional de Atividades Econômicas, hipótese
em que a autodeclaração de enquadramento será requerimento suficiente, até que seja apresentada prova em
contrário.” (NR)

Art. 10. A Lei nº 12.682, de 9 de julho de 2012, passa a vigorar acrescida do seguinte art. 2º-A:

“Art. 2º-A. Fica autorizado o armazenamento, em meio eletrônico, óptico ou equivalente, de documentos
públicos ou privados, compostos por dados ou por imagens, observado o disposto nesta Lei, nas legislações
específicas e no regulamento.

§ 1º Após a digitalização, constatada a integridade do documento digital nos termos estabelecidos no


regulamento, o original poderá ser destruído, ressalvados os documentos de valor histórico, cuja preservação
observará o disposto na legislação específica.

§ 2º O documento digital e a sua reprodução, em qualquer meio, realizada de acordo com o disposto nesta Lei
e na legislação específica, terão o mesmo valor probatório do documento original, para todos os fins de direito,
inclusive para atender ao poder fiscalizatório do Estado.

§ 3º Decorridos os respectivos prazos de decadência ou de prescrição, os documentos armazenados em meio


eletrônico, óptico ou equivalente poderão ser eliminados.

§ 4º Os documentos digitalizados conforme o disposto neste artigo terão o mesmo efeito jurídico conferido aos
documentos microfilmados, nos termos da Lei nº 5.433, de 8 de maio de 1968, e de regulamentação posterior.

§ 5º Ato do Secretário de Governo Digital da Secretaria Especial de Desburocratização, Gestão e Governo


Digital do Ministério da Economia estabelecerá os documentos cuja reprodução conterá código de autenticação
verificável.

§ 6º Ato do Conselho Monetário Nacional disporá sobre o cumprimento do disposto no § 1º deste artigo,
relativamente aos documentos referentes a operações e transações realizadas no sistema financeiro nacional.

§ 7º É lícita a reprodução de documento digital, em papel ou em qualquer outro meio físico, que contiver
mecanismo de verificação de integridade e autenticidade, na maneira e com a técnica definidas pelo mercado,
e cabe ao particular o ônus de demonstrar integralmente a presença de tais requisitos.

§ 8º Para a garantia de preservação da integridade, da autenticidade e da confidencialidade de documentos


públicos será usada certificação digital no padrão da Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-Brasil).”

Art. 11. O Decreto-Lei nº 9.760, de 5 de setembro de 1946, passa a vigorar com as seguintes alterações:

“Art. 14. Da decisão proferida pelo Secretário de Coordenação e Governança do Patrimônio da União da
Secretaria Especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados do Ministério da Economia será dado
conhecimento aos recorrentes que, no prazo de 20 (vinte) dias, contado da data de sua ciência, poderão
interpor recurso, sem efeito suspensivo, dirigido ao superior hierárquico, em última instância.” (NR)

“Art. 100. ....................................................................................................................

....................................................................................................................................
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 559

§ 5º Considerada improcedente a impugnação, a autoridade submeterá o recurso à autoridade superior, nos


termos estabelecidos em regulamento.

.............................................................................................................................” (NR)

“Art. 216. O Ministro de Estado da Economia, diretamente ou por ato do Secretário Especial de Desestatização,
Desinvestimento e Mercados do Ministério da Economia, ouvido previamente o Secretário de Coordenação e
Governança do Patrimônio da União, editará os atos necessários à execução do disposto neste Decreto-Lei.”
(NR)

Art. 12. O art. 1º da Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973, passa a vigorar acrescido do seguinte §
3º:

“Art. 1º ........................................................................................................................

......................................................................................................................................

§ 3º Os registros poderão ser escriturados, publicitados e conservados em meio eletrônico, obedecidos os


padrões tecnológicos estabelecidos em regulamento.” (NR)

Art. 13. A Lei nº 10.522, de 19 de julho de 2002, passa a vigorar com as seguintes alterações:

“Art. 18-A. Comitê formado de integrantes do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, da Secretaria
Especial da Receita Federal do Brasil do Ministério da Economia e da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional
editará enunciados de súmula da administração tributária federal, conforme o disposto em ato do Ministro de
Estado da Economia, que deverão ser observados nos atos administrativos, normativos e decisórios praticados
pelos referidos órgãos.”

“Art. 19. Fica a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional dispensada de contestar, de oferecer contrarrazões e
de interpor recursos, e fica autorizada a desistir de recursos já interpostos, desde que inexista outro fundamento
relevante, na hipótese em que a ação ou a decisão judicial ou administrativa versar sobre:

.....................................................................................................................................

II - tema que seja objeto de parecer, vigente e aprovado, pelo Procurador-Geral da Fazenda Nacional, que
conclua no mesmo sentido do pleito do particular;

......................................................................................................................................

IV - tema sobre o qual exista súmula ou parecer do Advogado-Geral da União que conclua no mesmo sentido
do pleito do particular;

V - tema fundado em dispositivo legal que tenha sido declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal
em sede de controle difuso e tenha tido sua execução suspensa por resolução do Senado Federal, ou tema
sobre o qual exista enunciado de súmula vinculante ou que tenha sido definido pelo Supremo Tribunal Federal
em sentido desfavorável à Fazenda Nacional em sede de controle concentrado de constitucionalidade;

VI - tema decidido pelo Supremo Tribunal Federal, em matéria constitucional, ou pelo Superior Tribunal de
Justiça, pelo Tribunal Superior do Trabalho, pelo Tribunal Superior Eleitoral ou pela Turma Nacional de
Uniformização de Jurisprudência, no âmbito de suas competências, quando:

a) for definido em sede de repercussão geral ou recurso repetitivo; ou

b) não houver viabilidade de reversão da tese firmada em sentido desfavorável à Fazenda Nacional, conforme
critérios definidos em ato do Procurador-Geral da Fazenda Nacional; e

VII - tema que seja objeto de súmula da administração tributária federal de que trata o art. 18-A desta Lei.

......................................................................................................................................

§ 3º (Revogado);

§ 4º (Revogado);
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 560

§ 5º (Revogado);

.......................................................................................................................................

§ 7º (Revogado).

§ 8º O parecer da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional que examina a juridicidade de proposições


normativas não se enquadra no disposto no inciso II do caput deste artigo.

§ 9º A dispensa de que tratam os incisos V e VI do caput deste artigo poderá ser estendida a tema não
abrangido pelo julgado, quando a ele forem aplicáveis os fundamentos determinantes extraídos do julgamento
paradigma ou da jurisprudência consolidada, desde que inexista outro fundamento relevante que justifique a
impugnação em juízo.

§ 10. O disposto neste artigo estende-se, no que couber, aos demais meios de impugnação às decisões
judiciais.

§ 11. O disposto neste artigo aplica-se a todas as causas em que as unidades da Procuradoria-Geral da
Fazenda Nacional devam atuar na qualidade de representante judicial ou de autoridade coatora.

§ 12. Os órgãos do Poder Judiciário e as unidades da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional poderão, de


comum acordo, realizar mutirões para análise do enquadramento de processos ou de recursos nas hipóteses
previstas neste artigo e celebrar negócios processuais com fundamento no disposto no art. 190 da Lei nº
13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil).

§ 13. Sem prejuízo do disposto no § 12 deste artigo, a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional regulamentará
a celebração de negócios jurídicos processuais em seu âmbito de atuação, inclusive na cobrança administrativa
ou judicial da dívida ativa da União.” (NR)

“Art. 19-A. Os Auditores-Fiscais da Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil não constituirão os
créditos tributários relativos aos temas de que trata o art. 19 desta Lei, observado:

I - o disposto no parecer a que se refere o inciso II do caput do art. 19 desta Lei, que será aprovado na forma
do art. 42 da Lei Complementar nº 73, de 10 de fevereiro de 1993, ou que terá concordância com a sua
aplicação pela Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil do Ministério da Economia;

II - o parecer a que se refere o inciso IV do caput do art. 19 desta Lei, que será aprovado na forma do disposto
no art. 40 da Lei Complementar nº 73, de 10 de fevereiro de 1993, ou que, quando não aprovado por despacho
do Presidente da República, terá concordância com a sua aplicação pelo Ministro de Estado da Economia; ou

III - nas hipóteses de que tratam o inciso VI do caput e o § 9º do art. 19 desta Lei, a Procuradoria-Geral da
Fazenda Nacional deverá manifestar-se sobre as matérias abrangidas por esses dispositivos.

§ 1º Os Auditores-Fiscais da Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil do Ministério da Economia


adotarão, em suas decisões, o entendimento a que estiverem vinculados, inclusive para fins de revisão de ofício
do lançamento e de repetição de indébito administrativa.

§ 2º O disposto neste artigo aplica-se, no que couber, aos responsáveis pela retenção de tributos e, ao emitirem
laudos periciais para atestar a existência de condições que gerem isenção de tributos, aos serviços médicos
oficiais.”

“Art. 19-B. Os demais órgãos da administração pública que administrem créditos tributários e não tributários
passíveis de inscrição e de cobrança pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional encontram-se dispensados
de constituir e de promover a cobrança com fundamento nas hipóteses de dispensa de que trata o art. 19 desta
Lei.

Parágrafo único. A aplicação do disposto no caput deste artigo observará, no que couber, as disposições do
art. 19-A desta Lei.”

“Art. 19-C. A Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional poderá dispensar a prática de atos processuais,
inclusive a desistência de recursos interpostos, quando o benefício patrimonial almejado com o ato não atender
aos critérios de racionalidade, de economicidade e de eficiência.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 561

§ 1º O disposto no caput deste artigo inclui o estabelecimento de parâmetros de valor para a dispensa da
prática de atos processuais.

§ 2º A aplicação do disposto neste artigo não implicará o reconhecimento da procedência do pedido formulado
pelo autor.

§ 3º O disposto neste artigo aplica-se, inclusive, à atuação da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional no


âmbito do contencioso administrativo fiscal.”

“Art. 19-D. (Revogado pela Medida Provisória nº 1.090, de 2021)

§ 1º Aos órgãos da administração pública federal direta, representados pela Procuradoria-Geral da União, e
às autarquias e fundações públicas, representadas pela Procuradoria-Geral Federal ou pela Procuradoria-Geral
do Banco Central do Brasil, aplica-se, no que couber, o disposto no art. 19-B desta Lei.

§ 2º Ato do Advogado-Geral da União disciplinará o disposto neste artigo.”

“Art. 20. Serão arquivados, sem baixa na distribuição, por meio de requerimento do Procurador da Fazenda
Nacional, os autos das execuções fiscais de débitos inscritos em dívida ativa da União pela Procuradoria-Geral
da Fazenda Nacional ou por ela cobrados, de valor consolidado igual ou inferior àquele estabelecido em ato do
Procurador-Geral da Fazenda Nacional.

..............................................................................................................................” (NR)

Art. 14. A Lei nº 8.934, de 18 de novembro de 1994, passa a vigorar com as seguintes alterações:

“Art. 4º O Departamento Nacional de Registro Empresarial e Integração (Drei) da Secretaria de Governo Digital
da Secretaria Especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do Ministério da Economia tem por
finalidade:

.........................................................................................................................

Parágrafo único. O cadastro nacional a que se refere o inciso IX do caput deste artigo será mantido com as
informações originárias do cadastro estadual de empresas, vedados a exigência de preenchimento de
formulário pelo empresário ou o fornecimento de novos dados ou informações, bem como a cobrança de preço
pela inclusão das informações no cadastro nacional.” (NR)

“Art. 31. Os atos decisórios serão publicados em sítio da rede mundial de computadores da junta comercial do
respectivo ente federativo.” (NR)

“Art. 32. ......................................................................................................................

§ 1º Os atos, os documentos e as declarações que contenham informações meramente cadastrais serão


levados automaticamente a registro se puderem ser obtidos de outras bases de dados disponíveis em órgãos
públicos.

§ 2º Ato do Departamento Nacional de Registro Empresarial e Integração definirá os atos, os documentos e


as declarações que contenham informações meramente cadastrais.” (NR)

“Art. 35. ......................................................................................................................

......................................................................................................................................

VIII - (revogado).

Parágrafo único. O registro dos atos constitutivos e de suas alterações e extinções ocorrerá
independentemente de autorização governamental prévia, e os órgãos públicos deverão ser informados pela
Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios (Redesim) a
respeito dos registros sobre os quais manifestarem interesse.” (NR)

“Art. 41. .....................................................................................................................

I - ..................................................................................................................................
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 562

a) dos atos de constituição de sociedades anônimas;

........................................................................................................................

Parágrafo único. Os pedidos de arquivamento de que trata o inciso I do caput deste artigo serão decididos no
prazo de 5 (cinco) dias úteis, contado da data de seu recebimento, sob pena de os atos serem considerados
arquivados, mediante provocação dos interessados, sem prejuízo do exame das formalidades legais pela
procuradoria.” (NR)

“Art. 42. ......................................................................................................................

§ 1º ..............................................................................................................................

§ 2º Os pedidos de arquivamento não previstos no inciso I do caput do art. 41 desta Lei serão decididos no
prazo de 2 (dois) dias úteis, contado da data de seu recebimento, sob pena de os atos serem considerados
arquivados, mediante provocação dos interessados, sem prejuízo do exame das formalidades legais pela
procuradoria.

§ 3º O arquivamento dos atos constitutivos e de alterações não previstos no inciso I do caput do art. 41 desta
Lei terá o registro deferido automaticamente caso cumpridos os requisitos de:

I - aprovação da consulta prévia da viabilidade do nome empresarial e da viabilidade de localização, quando o


ato exigir; e

II - utilização pelo requerente do instrumento padrão estabelecido pelo Departamento Nacional de Registro
Empresarial e Integração (Drei) da Secretaria de Governo Digital da Secretaria Especial de Desburocratização,
Gestão e Governo Digital do Ministério da Economia.

§ 4º O arquivamento dos atos de extinção não previstos no inciso I do caput do art. 41 desta Lei terá o registro
deferido automaticamente no caso de utilização pelo requerente do instrumento padrão estabelecido pelo Drei.

§ 5º Nas hipóteses de que tratam os §§ 3º e 4º do caput deste artigo, a análise do cumprimento das
formalidades legais será feita posteriormente, no prazo de 2 (dois) dias úteis, contado da data do deferimento
automático do registro.

§ 6º Após a análise de que trata o § 5º deste artigo, a identificação da existência de vício acarretará:

I - o cancelamento do arquivamento, se o vício for insanável; ou

II - a observação do procedimento estabelecido pelo Drei, se o vício for sanável.” (NR)

“Art. 44. ......................................................................................................................

.....................................................................................................................................

III - Recurso ao Departamento Nacional de Registro Empresarial e Integração.” (NR)

“Art. 47. Das decisões do plenário cabe recurso ao Departamento Nacional de Registro Empresarial e
Integração como última instância administrativa.

Parágrafo único. (Revogado).” (NR)

“Art. 54. A prova da publicidade de atos societários, quando exigida em lei, será feita mediante anotação nos
registros da junta comercial à vista da apresentação da folha do Diário Oficial, em sua versão eletrônica,
dispensada a juntada da mencionada folha.” (NR)

“Art. 55. Compete ao Departamento Nacional de Registro Empresarial e Integração propor a elaboração da
tabela de preços dos serviços pertinentes ao Registro Público de Empresas Mercantis, na parte relativa aos
atos de natureza federal, bem como especificar os atos a serem observados pelas juntas comerciais na
elaboração de suas tabelas locais.

§ 1º .................................................................................................................
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 563

§ 2º É vedada a cobrança de preço pelo serviço de arquivamento dos documentos relativos à extinção do
registro do empresário individual, da empresa individual de responsabilidade limitada (Eireli) e da sociedade
limitada.” (NR)

“Art. 63. .........................................................................................................

§ 1º A cópia de documento, autenticada na forma prevista em lei, dispensará nova conferência com o
documento original.

§ 2º A autenticação do documento poderá ser realizada por meio de comparação entre o documento original
e a sua cópia pelo servidor a quem o documento seja apresentado.

§ 3º Fica dispensada a autenticação a que se refere o § 1º do caput deste artigo quando o advogado ou o
contador da parte interessada declarar, sob sua responsabilidade pessoal, a autenticidade da cópia do
documento.” (NR)

“Art. 65-A. Os atos de constituição, alteração, transformação, incorporação, fusão, cisão, dissolução e extinção
de registro de empresários e de pessoas jurídicas poderão ser realizados também por meio de sistema
eletrônico criado e mantido pela administração pública federal.”

Art. 15. A Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943,
passa a vigorar com as seguintes alterações:

“Art. 13. .........................................................................................................

§ 2º A Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) obedecerá aos modelos que o Ministério da Economia
adotar.

§ 3º (Revogado).

§ 4º (Revogado).” (NR)

“Art. 14. A CTPS será emitida pelo Ministério da Economia preferencialmente em meio eletrônico.

Parágrafo único. Excepcionalmente, a CTPS poderá ser emitida em meio físico, desde que:

I - nas unidades descentralizadas do Ministério da Economia que forem habilitadas para a emissão;

II - mediante convênio, por órgãos federais, estaduais e municipais da administração direta ou indireta;

III - mediante convênio com serviços notariais e de registro, sem custos para a administração, garantidas as
condições de segurança das informações.” (NR)

“Art. 15. Os procedimentos para emissão da CTPS ao interessado serão estabelecidos pelo Ministério da
Economia em regulamento próprio, privilegiada a emissão em formato eletrônico.” (NR)

“Art. 16. A CTPS terá como identificação única do empregado o número de inscrição no Cadastro de Pessoas
Físicas (CPF).

I - (revogado);

II - (revogado);

III - (revogado);

IV - (revogado).

Parágrafo único. (Revogado).

a) (revogada);

b) (revogada).” (NR)
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 564

“Art. 29. O empregador terá o prazo de 5 (cinco) dias úteis para anotar na CTPS, em relação aos trabalhadores
que admitir, a data de admissão, a remuneração e as condições especiais, se houver, facultada a adoção de
sistema manual, mecânico ou eletrônico, conforme instruções a serem expedidas pelo Ministério da Economia.

.......................................................................................................................................

§ 6º A comunicação pelo trabalhador do número de inscrição no CPF ao empregador equivale à apresentação


da CTPS em meio digital, dispensado o empregador da emissão de recibo.

§ 7º Os registros eletrônicos gerados pelo empregador nos sistemas informatizados da CTPS em meio digital
equivalem às anotações a que se refere esta Lei.

§ 8º O trabalhador deverá ter acesso às informações da sua CTPS no prazo de até 48 (quarenta e oito) horas
a partir de sua anotação.” (NR)

“Art. 40. A CTPS regularmente emitida e anotada servirá de prova:

...................................................................................................................................

II - (revogado);

.........................................................................................................................” (NR)

“Art. 74. O horário de trabalho será anotado em registro de empregados.

§ 1º (Revogado).

§ 2º Para os estabelecimentos com mais de 20 (vinte) trabalhadores será obrigatória a anotação da hora de
entrada e de saída, em registro manual, mecânico ou eletrônico, conforme instruções expedidas pela Secretaria
Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, permitida a pré-assinalação do período de
repouso.

§ 3º Se o trabalho for executado fora do estabelecimento, o horário dos empregados constará do registro
manual, mecânico ou eletrônico em seu poder, sem prejuízo do que dispõe o caput deste artigo.

§ 4º Fica permitida a utilização de registro de ponto por exceção à jornada regular de trabalho, mediante acordo
individual escrito, convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho.” (NR)

“Art. 135. ...................................................................................................................

........................................................................................................................................

§ 3º Nos casos em que o empregado possua a CTPS em meio digital, a anotação será feita nos sistemas a
que se refere o § 7º do art. 29 desta Consolidação, na forma do regulamento, dispensadas as anotações de
que tratam os §§ 1º e 2º deste artigo.” (NR)

Art. 16. O Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas
(eSocial) será substituído, em nível federal, por sistema simplificado de escrituração digital de obrigações
previdenciárias, trabalhistas e fiscais.

Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput deste artigo às obrigações acessórias à versão digital
gerenciadas pela Receita Federal do Brasil do Livro de Controle de Produção e Estoque da Secretaria Especial
da Receita Federal do Brasil (Bloco K).

Art. 17. Ficam resguardados a vigência e a eficácia ou os efeitos dos atos declaratórios do Procurador-
Geral da Fazenda Nacional, aprovados pelo Ministro de Estado respectivo e editados até a data de publicação
desta Lei, nos termos do inciso II do caput do art. 19 da Lei nº 10.522, de 19 de julho de 2002.

Art. 18. A eficácia do disposto no inciso X do caput do art. 3º desta Lei fica condicionada à regulamentação
em ato do Poder Executivo federal, observado que:

I - para documentos particulares, qualquer meio de comprovação da autoria, integridade e, se necessário,


confidencialidade de documentos em forma eletrônica é válido, desde que escolhido de comum acordo pelas
partes ou aceito pela pessoa a quem for oposto o documento; e
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 565

II - independentemente de aceitação, o processo de digitalização que empregar o uso da certificação no


padrão da Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-Brasil) terá garantia de integralidade, autenticidade
e confidencialidade para documentos públicos e privados.

Art. 19. Ficam revogados:

I - a Lei Delegada nº 4, de 26 de setembro de 1962;

II - os seguintes dispositivos do Decreto-Lei nº 73, de 21 de novembro de 1966:

a) inciso III do caput do art. 5º; e

b) inciso X do caput do art. 32;

III - a Lei nº 11.887, de 24 de dezembro de 2008;

IV - (VETADO);

V - os seguintes dispositivos da Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452,
de 1º de maio de 1943:

a) art. 17;
b) art. 20;
c) art. 21;
d) art. 25;
e) art. 26;
f) art. 30;
g) art. 31;
h) art. 32;
i) art. 33;
j) art. 34;
k) inciso II do art. 40;
l) art. 53;
m) art. 54;
n) art. 56;
o) art. 141;
p) parágrafo único do art. 415;
q) art. 417;
r) art. 419;
s) art. 420;
t) art. 421;
u) art. 422; e
v) art. 633;
VI - os seguintes dispositivos da Lei nº 8.934, de 18 de novembro de 1994:
a) parágrafo único do art. 2º;
b) inciso VIII do caput do art. 35;
c) art. 43; e
d) parágrafo único do art. 47.
Art. 20. Esta Lei entra em vigor:
I - (VETADO);

II - na data de sua publicação, para os demais artigos.

Brasília, 20 de setembro de 2019; 198o da Independência e 131o da República.

JAIR MESSIAS BOLSONARO


Paulo Guedes
Luiz Henrique Mandetta

Este texto não substitui o publicado no DOU de 20.9.2019 - Edição extra-B


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 566

Bônus - DECRETO Nº 10.178, DE 18 DE DEZEMBRO DE 2019

Regulamenta dispositivos da Lei nº 13.874, de 20 de setembro de 2019, para dispor sobre os critérios e os
procedimentos para a classificação de risco de atividade econômica e para fixar o prazo para aprovação
tácita e altera o Decreto nº 9.094, de 17 de julho de 2017, para incluir elementos na Carta de Serviços ao
Usuário.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe confere o art. 84, caput, incisos IV e VI,
alínea “a”, da Constituição, e tendo em vista o disposto no art. 3º, caput, incisos I e IX, § 1º, inciso I, e § 8º, da
Lei nº 13.874, de 20 de setembro de 2019, e no art. 7º da Lei nº 13.460, de 26 de junho de 2017,

DECRETA:

CAPÍTULO I

DO OBJETO E DO ÂMBITO DE APLICAÇÃO

Art. 1º Este Decreto dispõe sobre os critérios e os procedimentos a serem observados pelos órgãos e pelas
entidades da administração pública federal direta, autárquica e fundacional para a classificação do nível de
risco de atividade econômica e para fixar o prazo para aprovação tácita do ato público de liberação.

Parágrafo único. O disposto neste Decreto aplica-se aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios nas
seguintes condições: (Revogado pelo Decreto nº 10.219, de 2020)

I - o Capítulo II, como norma subsidiária na ausência de legislação estadual, distrital ou municipal específica
para definição de risco das atividades econômicas para a aprovação de ato público de liberação;
e (Revogado pelo Decreto nº 10.219, de 2020)

II - o Capítulo III, nas seguintes hipóteses: (Revogado pelo Decreto nº 10.219, de 2020)

a) o ato público de liberação da atividade econômica ter sido derivado ou delegado por legislação ordinária
federal; ou (Revogada pelo Decreto nº 10.219, de 2020)

b) o ente federativo ou o órgão responsável pelo ato decidir vincular-se ao disposto no inciso IX do caput do
art. 3º da Lei nº 13.874, de 20 de setembro de 2019, por meio de instrumento válido e próprio. (Revogada
pelo Decreto nº 10.219, de 2020)

§ 1º O disposto neste Decreto aplica-se aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios nas seguintes
condições: (Incluído pelo Decreto nº 10.219, de 2020)

I - o Capítulo II, como norma subsidiária na ausência de legislação estadual, distrital ou municipal específica
para definição de risco das atividades econômicas para a aprovação de ato público de liberação; e (Incluído
pelo Decreto nº 10.219, de 2020)

II - o Capítulo III, nas seguintes hipóteses: (Incluído pelo Decreto nº 10.219, de 2020)

a) o ato público de liberação da atividade econômica ter sido derivado ou delegado por legislação ordinária
federal; ou (Incluída pelo Decreto nº 10.219, de 2020)

b) o ente federativo ou o órgão responsável pelo ato decidir vincular-se ao disposto no inciso IX do caput do
art. 3º da Lei nº 13.874, de 20 de setembro de 2019, por meio de instrumento válido e próprio. (Incluída
pelo Decreto nº 10.219, de 2020)

§ 2º As disposições deste Decreto aplicam-se ao trâmite do processo administrativo dentro de um mesmo


órgão ou entidade, ainda que o pleno exercício da atividade econômica requeira ato administrativo adicional ou
complementar cuja responsabilidade seja de outro órgão ou entidade da administração pública de qualquer
ente federativo. (Incluído pelo Decreto nº 10.219, de 2020)
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 567

§ 3º A aplicação deste Decreto independe de o ato público de liberação de atividade econômica: (Incluído
pelo Decreto nº 10.219, de 2020)

I - estar previsto em lei ou em ato normativo infralegal; ou (Incluído pelo Decreto nº 10.219, de 2020)

II - referir-se a: (Incluído pelo Decreto nº 10.219, de 2020)

a) início, continuidade ou finalização de atividade econômica; (Incluída pelo Decreto nº 10.219, de 2020)

b) liberação de atividade, de serviço, de estabelecimento, de profissão, de instalação, de operação, de produto,


de equipamento, de veículo e de edificação, dentre outros; ou (Incluída pelo Decreto nº 10.219, de 2020)

c) atuação de ente público ou privado. (Incluído pelo Decreto nº 10.219, de 2020)

Art. 2º O disposto neste Decreto não se aplica ao ato ou ao procedimento administrativo de natureza
fiscalizatória decorrente do exercício de poder de polícia pelo órgão ou pela entidade após o ato público de
liberação.

CAPÍTULO II

DOS NÍVEIS DE RISCO DA ATIVIDADE ECONÔMICA E SEUS EFEITOS

Classificação de riscos da atividade econômica

Art. 3º O órgão ou a entidade responsável pela decisão administrativa acerca do ato público de liberação
classificará o risco da atividade econômica em: (Vide)

I - nível de risco I - para os casos de risco leve, irrelevante ou inexistente;

II - nível de risco II - para os casos de risco moderado; ou

III - nível de risco III - para os casos de risco alto.

§ 1º Ato normativo da autoridade máxima do órgão ou da entidade especificará, de modo exaustivo, as


hipóteses de classificação na forma do disposto no caput.

§ 2º A atividade econômica poderá ser enquadrada em níveis distintos de risco pelo órgão ou pela entidade,
em razão da complexidade, da dimensão ou de outras características e se houver a possibilidade de aumento
do risco envolvido.

§ 2º O órgão ou a entidade poderão enquadrar a atividade econômica em níveis distintos de


risco: (Redação dada pelo Decreto nº 10.219, de 2020)

I - em razão da complexidade, da dimensão ou de outras características e se houver possibilidade de aumento


do risco envolvido; ou (Incluído pelo Decreto nº 10.219, de 2020)

II - quando a atividade constituir objeto de dois ou mais atos públicos de liberação, hipótese em que o
enquadramento do risco da atividade será realizado por ato público de liberação. (Incluído pelo Decreto nº
10.219, de 2020)

Art. 4º O órgão ou a entidade, para aferir o nível de risco da atividade econômica, considerará, no mínimo:

I - a probabilidade de ocorrência de eventos danosos; e

II - a extensão, a gravidade ou o grau de irreparabilidade do impacto causado à sociedade na hipótese de


ocorrência de evento danoso.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 568

Parágrafo único. A classificação do risco será aferida preferencialmente por meio de análise quantitativa e
estatística.

Art. 5º A classificação de risco de que trata o art. 3º assegurará que:

I - todas as hipóteses de atos públicos de liberação estejam classificadas em, no mínimo, um dos níveis de
risco; e

II - pelo menos uma hipótese esteja classificada no nível de risco I.

Parágrafo único. A condição prevista no inciso II do caput poderá ser afastada mediante justificativa da
autoridade máxima do órgão ou da entidade.

Art. 6º O ato normativo de que trata o § 1º do art. 3º poderá estabelecer critérios para alteração do
enquadramento do nível de risco da atividade econômica, mediante a demonstração pelo requerente da
existência de instrumentos que, a critério do órgão ou da entidade, reduzam ou anulem o risco inerente à
atividade econômica, tais como:

I - declaração própria ou de terceiros como substitutivo de documentos ou de comprovantes;

II - ato ou contrato que preveja instrumentos de responsabilização própria ou de terceiros em relação aos riscos
inerentes à atividade econômica;

III - contrato de seguro;

IV - prestação de caução; ou

V - laudos de profissionais privados habilitados acerca do cumprimento dos requisitos técnicos ou legais.

Parágrafo único. Ato normativo da autoridade máxima do órgão ou da entidade disciplinará as hipóteses, as
modalidades e o procedimento para a aceitação ou para a prestação das garantias, nos termos do disposto
no caput.

Art. 7º O órgão ou a entidade dará publicidade em seu sítio eletrônico às manifestações técnicas que
subsidiarem a edição do ato normativo de que trata o § 1º do art. 3º.

Efeitos da classificação de risco

Art. 8º O exercício de atividades econômicas enquadradas no nível de risco I dispensa a solicitação de qualquer
ato público de liberação.

Art. 9º Os órgãos e as entidades adotarão procedimentos administrativos simplificados para as solicitações de


atos públicos de liberação de atividades econômicas enquadradas no nível de risco II.

§ 1º Se estiverem presentes os elementos necessários à instrução do processo, a decisão administrativa


acerca do ato público de liberação de que trata o caput será proferida no momento da solicitação.

§ 2º A presença de todos os elementos necessários à instrução do processo, inclusive dos instrumentos de


que trata o art. 6º, poderá ser verificada por meio de mecanismos tecnológicos automatizados.

CAPÍTULO III (Vide)

DA APROVAÇÃO TÁCITA

Consequências do transcurso do prazo

Art. 10. A autoridade máxima do órgão ou da entidade responsável pelo ato público de liberação fixará o prazo
para resposta aos atos requeridos junto à unidade. (Vide)
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 569

§ 1º Decorrido o prazo previsto no caput, a ausência de manifestação conclusiva do órgão ou da entidade


acerca do deferimento do ato público de liberação requerido implicará sua aprovação tácita.

§ 2º A liberação concedida na forma de aprovação tácita não:

I - exime o requerente de cumprir as normas aplicáveis à exploração da atividade econômica que realizar; ou

II - afasta a sujeição à realização das adequações identificadas pelo Poder Público em fiscalizações posteriores.

§ 3º O disposto no caput não se aplica:

I - a ato público de liberação relativo a questões tributárias de qualquer espécie ou de concessão de registro
de direitos de propriedade intelectual;

II - quando a decisão importar em compromisso financeiro da administração pública; ou

II - quando a decisão importar em compromisso financeiro da administração pública; (Redação dada pelo
Decreto nº 10.219, de 2020)

III - quando se tratar de decisão sobre recurso interposto contra decisão denegatória de ato público de liberação.

III - quando se tratar de decisão sobre recurso interposto contra decisão denegatória de ato público de
liberação; (Redação dada pelo Decreto nº 10.219, de 2020)

IV - aos processos administrativos de licenciamento ambiental, na hipótese de exercício de competência


supletiva nos termos do disposto no § 3º do art. 14 da Lei Complementar nº 140, de 8 de dezembro de 2011;
ou (Incluído pelo Decreto nº 10.219, de 2020)

V - aos demais atos públicos de liberação de atividades com impacto significativo ao meio ambiente, conforme
estabelecido pelo órgão ambiental competente no ato normativo a que se refere o caput. (Incluído pelo
Decreto nº 10.219, de 2020)

§ 4º O órgão ou a entidade poderá estabelecer prazos diferentes para fases do processo administrativo de
liberação da atividade econômica cujo transcurso importará em aprovação tácita, desde que respeitado o prazo
total máximo previsto no art. 11.

§ 5º O ato normativo de que trata o caput conterá anexo com a indicação de todos os atos públicos de
liberação de competência do órgão ou da entidade não sujeitos a aprovação tácita por decurso de
prazo. (Incluído pelo Decreto nº 10.219, de 2020)

Prazos máximos

Art. 11. Para fins do disposto no § 8º do art. 3º da Lei 13.874, de 2019, o órgão ou a entidade não poderá
estabelecer prazo superior a sessenta dias para a decisão administrativa acerca do ato público de
liberação. (Vide)

§ 1º O ato normativo de que trata o art. 10 poderá estabelecer prazos superiores ao previsto no caput, em
razão da natureza dos interesses públicos envolvidos e da complexidade da atividade econômica a ser
desenvolvida pelo requerente, mediante fundamentação da autoridade máxima do órgão ou da entidade.

§ 2º O órgão ou a entidade considerará os padrões internacionais para o estabelecimento de prazo nos termos
do disposto no § 1º.

Protocolo e início do prazo

Protocolo e contagem do prazo (Redação dada pelo Decreto nº 10.219, de 2020)


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 570

Art. 12. O prazo para decisão administrativa acerca do ato público de liberação para fins de aprovação tácita
inicia-se na data da apresentação de todos os elementos necessários à instrução do processo.

§ 1º O particular será cientificado, expressa e imediatamente, sobre o prazo para a análise de seu
requerimento, presumida a boa-fé das informações prestadas.

§ 2º Os órgãos ou as entidades buscarão adotar mecanismos automatizados para recebimento das solicitações
de ato público de liberação.

§ 3º A redução ou a ampliação do prazo de que trata o art. 10 em ato da autoridade máxima do órgão ou da
entidade não modificará o prazo cientificado ao particular para análise do seu requerimento nos termos do
disposto no § 1º. (Incluído pelo Decreto nº 10.219, de 2020)

Suspensão do prazo

Art. 13. O prazo para a decisão administrativa acerca do ato público de liberação para fins de aprovação tácita
poderá ser suspenso uma vez, se houver necessidade de complementação da instrução processual.

§ 1º O requerente será informado, de maneira clara e exaustiva, acerca de todos os documentos e condições
necessárias para complementação da instrução processual.

§ 2º Poderá ser admitida nova suspensão do prazo na hipótese da ocorrência de fato novo durante a instrução
do processo.

Efeitos do decurso do prazo

Art. 14. O requerente poderá solicitar documento comprobatório da liberação da atividade econômica a partir
do primeiro dia útil subsequente ao término do prazo, nos termos do disposto no art. 10.

§ 1º O órgão ou a entidade buscará automatizar a emissão do documento comprobatório de liberação da


atividade econômica, especialmente nos casos de aprovação tácita.

§ 2º O documento comprobatório do deferimento do ato público de liberação não conterá elemento que indique
a natureza tácita da decisão administrativa.

Do não exercício do direito à aprovação tácita

Art. 15. O requerente poderá renunciar ao direito de aprovação tácita a qualquer momento.

§ 1º A renúncia ao direito de aprovação tácita não exime o órgão ou a entidade de cumprir os prazos
estabelecidos.

§ 2º Na hipótese de a decisão administrativa acerca do ato público de liberação não ser proferida no prazo
estabelecido, o processo administrativo será encaminhado à chefia imediata do servidor responsável pela
análise do requerimento, que poderá:

I - proferir de imediato a decisão; ou

II - designar outro servidor para acompanhar o processo.

CAPÍTULO IV

DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS

Falta de definição do prazo de decisão


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 571

Art. 16. Enquanto o órgão ou a entidade não editar o ato normativo a que se refere o art. 10, o prazo para
análise do requerimento de liberação da atividade econômica, para fins de aprovação tácita, será de trinta dias,
contado da data de apresentação de todos os elementos necessários à instrução do processo.

Alteração do Decreto nº 9.094, de 2017

Art. 17. O Decreto nº 9.094, de 17 de julho de 2017, passa a vigorar com as seguintes
alterações: (Vigência)

“Art. 11. .................................................................................................

....................................................................................................................

§ 4º Na hipótese de o serviço se tratar de ato público de liberação, nos termos definidos no § 6º do art. 1º da
Lei nº 13.874, de 20 de setembro de 2019, a Carta de Serviços ao Usuário incluirá também:

I - a listagem:

a) de todos os documentos, taxas, tarifas, comprovantes, pareceres e demais exigências necessárias à


instrução do ato público de liberação;

b) dos atos normativos que tratem do ato público de liberação, inclusive aqueles não cogentes; e

c) dos códigos do Cadastro Nacional de Atividades Econômicas - CNAE referentes a atividades aptas a
requererem a emissão de ato público de liberação, exceto se a informação for desnecessária;

II - a descrição resumida do fluxo de tramitação do processo administrativo aplicável ao ato, incluídas as fases,
os prazos, as autoridades competentes para a decisão e o sistema recursal disponível;

III - a descrição da aplicabilidade dos efeitos dos níveis de risco;

IV - o prazo e as regras para efeitos da aprovação tácita; e

V - o tempo médio de tramitação de pedidos análogos até a decisão e as demais estatísticas relacionadas ao
ato público de liberação, conforme os critérios de mensuração definidos pelo órgão ou pela entidade do Poder
Executivo federal.” (NR)

Disposições transitórias

Art. 18. O prazo a que se refere o art. 11 será:

I - de cento e vinte dias, para os requerimentos apresentados até 1º de fevereiro de 2021; e

II - de noventa dias, para os requerimentos apresentados até 1º de fevereiro de 2022.

Art. 18-A. A previsão de prazos para análise e deliberação sobre atos públicos de liberação em normativos
internos do órgão ou da entidade não dispensa a publicação do ato de que trata o art. 10. (Incluído pelo
Decreto nº 10.219, de 2020)

Art. 19. Na hipótese de o ato normativo de que trata o art. 3º não entrar em vigor até 1º de junho de 2020, a
atividade econômica sujeita a ato público de liberação será enquadrada, sucessivamente, em nível de risco
definido:

Art. 19. Enquanto o órgão ou a entidade não editar o ato normativo de que trata o art. 3º, a atividade econômica
sujeita a ato público de liberação será enquadrada, sucessivamente, em nível de risco definido: (Redação
dada pelo Decreto nº 10.310, de 2020) (Vigência)
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 572

I - por resolução do Comitê para Gestão da Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização
de Empresas e Negócios, independentemente da adesão do ente federativo à Rede Nacional para a
Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios;

II - em ato normativo de classificação de risco, nos termos do disposto neste Decreto, editado por órgão ou
entidade dotado de poder regulador estabelecido em lei; ou

III - no nível de risco II.

Art. 20. O disposto no Capítulo III se aplica somente aos requerimentos apresentados após a data de entrada
em vigor deste Decreto.

Vigência

Art. 21. Este Decreto entra em vigor em 1º de fevereiro de 2020.

Art. 21. Este Decreto entra em vigor em 6 de abril de 2020. (Redação dada pelo Decreto nº 10.219, de
2020)

Art. 21. Este Decreto entra em vigor em 1º de setembro de 2020. (Redação dada pelo Decreto nº 10.310,
de 2020) (Vigência)

Brasília, 18 de dezembro de 2019; 198º da Independência e 131º da República.

JAIR MESSIAS BOLSONARO


Paulo Guedes
Este texto não substitui o publicado no DOU de 19.12.2019.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 573

4. LEI ESTADUAL Nº 10.948 DE 05 DE NOVEMBRO DE 2001 (DISPÕE SOBRE AS


PENALIDADES A SEREM APLICADAS À PRÁTICA DE DISCRIMINAÇÃO EM RAZÃO
DE ORIENTAÇÃO SEXUAL E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS)

LEI Nº 10.948, DE 05 DE NOVEMBRO DE 2001

( Atualizada até a Lei nº 15.082, de 10 de julho de 2013)

(Projeto de Lei nº 667, de 2000, do Deputado Renato Simões - PT)

Dispõe sobre as penalidades a serem aplicadas à prática de discriminação em razão de orientação sexual

O GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO:

Faço saber que a Assembléia Legislativa decreta e eu promulgo a seguinte lei:

Artigo 1.º - Será punida, nos termos desta lei, toda manifestação atentatória ou discriminatória praticada contra
cidadão homossexual, bissexual ou transgênero.

Artigo 2.º - Consideram-se atos atentatórios e discriminatórios dos direitos individuais e coletivos dos cidadãos
homossexuais, bissexuais ou transgêneros, para os efeitos desta lei:

I - praticar qualquer tipo de ação violenta, constrangedora, intimidatória ou vexatória, de ordem moral, ética,
filosófica ou psicológica;

II - proibir o ingresso ou permanência em qualquer ambiente ou estabelecimento público ou privado, aberto ao


público;

III - praticar atendimento selecionado que não esteja devidamente determinado em lei;

IV - preterir, sobretaxar ou impedir a hospedagem em hotéis, motéis, pensões ou similares;

V - preterir, sobretaxar ou impedir a locação, compra, aquisição, arrendamento ou empréstimo de bens móveis
ou imóveis de qualquer finalidade;

VI - praticar o empregador, ou seu preposto, atos de demissão direta ou indireta, em função da orientação
sexual do empregado;

VII - inibir ou proibir a admissão ou o acesso profissional em qualquer estabelecimento público ou privado em
função da orientação sexual do profissional;

VIII - proibir a livre expressão e manifestação de afetividade, sendo estas expressões e manifestações
permitidas aos demais cidadãos.

Artigo 3.º - São passíveis de punição o cidadão, inclusive os detentores de função pública, civil ou militar, e
toda organização social ou empresa, com ou sem fins lucrativos, de caráter privado ou público, instaladas neste
Estado, que intentarem contra o que dispõe esta lei.

Artigo 4.º - A prática dos atos discriminatórios a que se refere esta lei será apurada em processo administrativo,
que terá início mediante:
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 574

I - reclamação do ofendido;

II - ato ou ofício de autoridade competente;

III - comunicado de organizações não-governamentais de defesa da cidadania e direitos humanos.

Artigo 5.º - O cidadão homossexual, bissexual ou transgênero que for vítima dos atos discriminatórios poderá
apresentar sua denúncia pessoalmente ou por carta, telegrama, telex, via Internet ou facsímile ao órgão
estadual competente e/ou a organizações não-governamentais de defesa da cidadania e direitos humanos.

§ 1.º - A denúncia deverá ser fundamentada por meio da descrição do fato ou ato discriminatório, seguida da
identificação de quem faz a denúncia, garantindo-se, na forma da lei, o sigilo do denunciante.

§ 2.º - Recebida a denúncia, competirá à Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania promover a


instauração do processo administrativo devido para apuração e imposição das penalidades cabíveis.

Artigo 5º-A - A Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania, para cumprir o disposto nesta lei e fiscalizar o
seu cumprimento, poderá firmar convênios com os Municípios, com a Assembleia Legislativa e com as Câmaras
Municipais. (NR) (Artigo 5º-A acrescentado pela Lei nº 15.082, de 10/07/2013).

Artigo 6.º - As penalidades aplicáveis aos que praticarem atos de discriminação ou qualquer outro ato
atentatório aos direitos e garantias fundamentais da pessoa humana serão as seguintes:

I - advertência;

II - multa de 1000 (um mil) UFESPs - Unidades Fiscais do Estado de São Paulo;

III - multa de 3000 (três mil) UFESPs - Unidades Fiscais do Estado de São Paulo, em caso de reincidência;

IV - suspensão da licença estadual para funcionamento por 30 (trinta) dias;

V - cassação da licença estadual para funcionamento.

§ 1.º - As penas mencionadas nos incisos II a V deste artigo não se aplicam aos órgãos e empresas públicas,
cujos responsáveis serão punidos na forma do Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Estado - Lei n.
10.261, de 28 de outubro de 1968.

§ 2.º - Os valores das multas poderão ser elevados em até 10 (dez) vezes quando for verificado que, em razão
do porte do estabelecimento, resultarão inócuas.

§ 3.º - Quando for imposta a pena prevista no inciso V supra, deverá ser comunicada a autoridade responsável
pela emissão da licença, que providenciará a sua cassação, comunicando-se, igualmente, a autoridade
municipal para eventuais providências no âmbito de sua competência.

Artigo 7.º - Aos servidores públicos que, no exercício de suas funções e/ou em repartição pública, por ação ou
omissão, deixarem de cumprir os dispositivos da presente lei, serão aplicadas as penalidades cabíveis nos
termos do Estatuto dos Funcionários Públicos.

Artigo 8.º - O Poder Público disponibilizará cópias desta lei para que sejam afixadas nos estabelecimentos e
em locais de fácil leitura pelo público em geral.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 575

Artigo 9.º - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

Palácio dos Bandeirantes, 5 de novembro de 2001.

GERALDO ALCKMIN
Edson Luiz Vismona
Secretário da Justiça e da Defesa da Cidadania
João Caramez
Secretário-Chefe da Casa Civil
Antonio Angarita
Secretário do Governo e Gestão Estratégica
Publicada na Assessoria Técnico-Legislativa, aos 5 de novembro de 2001.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 576

5. DECRETO ESTADUAL Nº 55.589, DE 17 DE MARÇO DE 2010 (REGULAMENTA A


LEI Nº 10.948/2001)

DECRETO Nº 55.589, DE 17 DE MARÇO DE 2010

Regulamenta a Lei nº 10.948, de 5 de novembro de 2001, que dispõe sobre as penalidades a serem
aplicadas à prática de discriminação em razão de orientação sexual

JOSÉ SERRA, Governador do Estado de São Paulo, no uso de suas atribuições legais e à vista do disposto na
Lei nº 10.948, de 5 de novembro de 2001,

Decreta:

Artigo 1º - A apuração dos atos discriminatórios e a aplicação das penalidades previstas na Lei nº 10.948, de 5
de novembro de 2001, serão realizadas por uma comissão especial, composta por 5 (cinco) membros,
designados pelo Secretário da Justiça e da Defesa da Cidadania.

§ 1º - O procedimento sancionatório a que se refere o “caput” deste artigo observará as regras contidas na Lei
nº 10.177, de 30 de dezembro de 1998.

§ 2º - Identificada a prática de possível falta por servidor público estadual, a comissão especial comunicará o
fato ao órgão em que o suspeito desempenhar suas funções e indicará as provas de que tiver conhecimento,
propondo a instauração do procedimento disciplinar cabível.

§ 3º - A comunicação de que trata o § 2º deste artigo será dirigida à autoridade competente para determinar a
instauração do procedimento disciplinar, observando-se, no que couber, o disposto nos artigos 260, 272 e 274
da Lei Complementar nº 10.261, de 28 de outubro de 1968, com a redação dada pela Lei Complementar nº
942, de 6 de junho de 2003.

§ 4º - Na hipótese de configuração, em tese, de infração penal, a comissão especial, no prazo de 48 (quarenta


e oito) horas, contados de sua ciência, dará notícia do fato ao Ministério Público, instruída com as cópias dos
documentos pertinentes.

Artigo 2º - Além da identificação civil, fica assegurado às pessoas travestis e transexuais a qualificação, nos
procedimentos previstos na Lei nº 10.948, de 5 de novembro de 2001, pelos prenomes pelos quais são
reconhecidas e denominadas por sua comunidade e em sua inserção social.

Artigo 3º - A Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania fica autorizada a firmar convênios e termos de
cooperação com entidades públicas e privadas e a praticar todos os atos necessários ao bom funcionamento
do sistema de recebimento e julgamento das denúncias dos atos discriminatórios definidos na Lei nº 10.948,
de 5 de novembro de 2001.

Parágrafo único - O Secretário da Justiça e da Defesa da Cidadania poderá expedir normas complementares
para o cumprimento deste decreto.

Artigo 4º - Este decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Palácio dos Bandeirantes, 17 de março de 2010

JOSÉ SERRA
Luiz Antonio Guimarães Marrey
Secretário da Justiça e da Defesa da Cidadania
Aloysio Nunes Ferreira Filho
Secretário-Chefe da Casa Civil
Publicado na Casa Civil, aos 17 de março de 2010.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 577

6. LEI ESTADUAL Nº 14.187/2010 (DISPÕE SOBRE PENALIDADES


ADMINISTRATIVAS A SEREM APLICADAS PELA PRÁTICA DE ATOS DE
DISCRIMINAÇÃO RACIAL)

LEI Nº 14.187, DE 19 DE JULHO DE 2010

(Atualizada até a Lei nº 16.762, de 11 de junho de 2018)

Dispõe sobre penalidades administrativas a serem aplicadas pela prática de atos de discriminação
racial

O GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO:

Faço saber que a Assembleia Legislativa decreta e eu promulgo a seguinte lei:


Artigo 1º - Será punido, nos termos desta lei, todo ato discriminatório por motivo de raça ou cor praticado no
Estado por qualquer pessoa, jurídica ou física, inclusive a que exerça função pública.
Artigo 2º - Consideram-se atos discriminatórios por motivo de raça ou cor, para os efeitos desta lei:
I - praticar qualquer tipo de ação violenta, constrangedora, intimidatória ou vexatória;
II - proibir ou impor constrangimento ao ingresso ou permanência em ambiente ou estabelecimento aberto ao
público;
III - criar embaraços ou constrangimentos ao acesso e à utilização das dependências comuns e áreas não
privativas de edifícios;
IV - recusar, retardar, impedir ou onerar a utilização de serviços, meios de transporte ou de comunicação,
inclusive no sítio de rede mundial de computadores, consumo de bens, hospedagem em hotéis, motéis,
pensões e estabelecimentos congêneres ou o acesso a espetáculos artísticos ou culturais, ou estabelecimentos
comerciais ou bancários;
V - recusar, retardar, impedir ou onerar a locação, compra, aquisição, arrendamento ou empréstimo de bens
móveis ou imóveis;
VI - praticar o empregador, ou seu preposto, atos de coação direta ou indireta sobre o empregado;
VII - negar emprego, demitir, impedir ou dificultar a ascensão em empresa pública ou privada, assim como
impedir ou obstar o acesso a cargo ou função pública ou certame licitatório;
VIII - praticar, induzir ou incitar, por qualquer mecanismo ou pelos meios de comunicação, inclusive eletrônicos,
o preconceito ou a prática de qualquer conduta discriminatória;
IX - criar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propagandas que
incitem ou induzam à discriminação;
X - recusar, retardar, impedir ou onerar a prestação de serviço de saúde, público ou privado.

Artigo 2º-A - É obrigatória a afixação de avisos nos ambientes de uso coletivo, públicos ou privados, em pontos
deampla visibilidade, a fim de se assegurar o conhecimento da presente lei para garantir o disposto no artigo
1º. (NR)
§ 1º - Os avisos de que trata o ‘caput’ deste artigo devem ser exibidos na forma de cartaz, placa ou plaqueta
com os seguintes dizeres: ‘Lei Estadual nº 14.187/2010 pune administrativamente os atos de discriminação
racial no Estado de São Paulo. DENUNCIE’. (NR)
§ 2º - Para os fins desta lei, a expressão ‘ambientes de uso coletivo’ compreende, dentre outros, os ambientes
de trabalho, estudo, cultura, culto religioso, lazer, esporte ou entretenimento, áreas comuns de condomínios,
casas de espetáculos, teatros, cinemas, bares, lanchonetes, boates, restaurantes, praças de alimentação,
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 578

hotéis, pousadas, estádios de futebol, centros comerciais, bancos e similares, supermercados, açougues,
padarias, farmácias, drogarias, repartições públicas, instituições de saúde, escolas, museus, bibliotecas,
espaços de exposições, veículos públicos ou privados de transporte coletivo, inclusive veículos sobre trilhos,
embarcações e aeronaves, quando em território paulista, viaturas oficiais de qualquer espécie e táxis. (NR)
§ 3º - O descumprimento deste artigo acarretará, ao proprietário ou responsável pelo estabelecimento ou meio
de transporte coletivo, multa de 100 (cem) Unidades Fiscais do Estado de São Paulo (UFESP). (NR) - Artigo
2º-A acrescentado pela Lei nº 16.762, de 11/06/2018.
Artigo 3º - A prática dos atos discriminatórios a que se refere esta lei será apurada em processo administrativo,
que terá início mediante:
I - reclamação do ofendido ou de seu representante legal, ou ainda de qualquer pessoa que tenha ciência do
ato discriminatório;
II - ato ou ofício de autoridade competente.
Artigo 4º - Aquele que for vítima da discriminação, seu representante legal ou quem tenha presenciado os atos
a que se refere o artigo 2º desta lei poderá relatá-los à Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania.
§ 1º - O relato de que trata o “caput” deste artigo conterá:
1 - a exposição do fato e suas circunstâncias;
2 - a identificação do autor, com nome, prenome, número da cédula de identidade, seu endereço e assinatura.
§ 2º - A critério do interessado, o relato poderá ser apresentado por meio eletrônico, no sítio de rede mundial
de computadores - “internet” da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania.
§ 3º - Recebida a denúncia, competirá à Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania:
I - promover a instauração do processo administrativo devido para apuração e imposição das sanções cabíveis;
II - transmitir notícia à autoridade policial competente, para a elucidação cabível, quando o fato descrito
caracterizar infração penal.
Artigo 5º - A Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania, para cumprir o disposto nesta lei e fiscalizar seu
cumprimento, poderá firmar convênios com Municípios, com a Assembleia Legislativa e com Câmaras
Municipais.
Artigo 6º - As sanções aplicáveis aos que praticarem atos de discriminação nos termos desta lei serão as
seguintes:
I - advertência;
II - multa de até 1.000 UFESPs (mil Unidades Fiscais do Estado de São Paulo);
III - multa de até 3.000 UFESPs (três mil Unidades Fiscais do Estado de São Paulo), em caso de reincidência;
IV - suspensão da licença estadual para funcionamento por 30 (trinta) dias;
V - cassação da licença estadual para funcionamento.
§ 1º - Quando a infração for cometida por agente público, servidor público ou militar, no exercício de suas
funções, sem prejuízo das sanções previstas nos incisos I a III deste artigo, serão aplicadas as penalidades
disciplinares cominadas na legislação pertinente.
§ 2º - O valor da multa será fixado tendo-se em conta as condições pessoais e econômicas do infrator e não
poderá ser inferior a 500 UFESPs (quinhentas Unidades Fiscais do Estado de São Paulo).
§ 3º - A multa poderá ser elevada até o triplo, quando se verificar que, em virtude da situação econômica do
infrator, sua fixação em quantia inferior seria ineficaz.
§ 4º - Quando for imposta a pena prevista no inciso V deste artigo, deverá ser comunicada à autoridade
responsável pela outorga da licença, que providenciará a sua execução, comunicando-se, igualmente, à
autoridade federal ou municipal para eventuais providências no âmbito de sua competência.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 579

Artigo 7º - Na apuração dos atos discriminatórios praticados com violação desta lei, deverão ser observados os
procedimentos previstos na Lei nº 10.177, de 30 de dezembro de 1998, que regula o processo administrativo
no âmbito da Administração Pública Estadual.
Artigo 8º - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Palácio dos Bandeirantes, 19 de julho de 2010
ALBERTO GOLDMAN
Ricardo Dias Leme
Secretário da Justiça e da Defesa da Cidadania
Luiz Antônio Guimarães Marrey
Secretário-Chefe da Casa Civil
Publicada na Assessoria Técnico-Legislativa, aos 19 de julho de 2010.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 580

7. DECRETO ESTADUAL Nº 55.588 DE 17 DE MARCO DE 2010 (DISPÕE SOBRE O


TRATAMENTO NOMINAL DAS PESSOAS TRANSEXUAIS E TRAVESTIS NOS ÓRGÃOS
PÚBLICOS DO ESTADO DE SÃO PAULO E DÁ PROVIDÊNCIAS CORRELATAS)

DECRETO Nº 55.588, DE 17 DE MARÇO DE 2010

Dispõe sobre o tratamento nominal das pessoas transexuais e travestis nos órgãos públicos do Estado de
São Paulo e dá providências correlatas

JOSÉ SERRA, Governador do Estado de São Paulo, no uso de suas atribuições legais,

Considerando que o princípio da dignidade da pessoa humana, fundamento do Estado Democrático de Direito,
assegura o pleno respeito às pessoas, independentemente de sua identidade de gênero;

Considerando que é objetivo da República Federativa do Brasil a constituição de uma sociedade justa e que
promova o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade ou quaisquer outras formas de
discriminação;

Considerando que a igualdade, a liberdade e a autonomia individual são princípios constitucionais que orientam
a atuação do Estado e impõem a realização de políticas públicas destinadas à promoção da cidadania e
respeito às diferenças humanas, incluídas as diferenças sexuais;

Considerando que os direitos da diversidade sexual constituem direitos humanos de lésbicas, gays, bissexuais,
travestis e transexuais, e que a sua proteção requer ações efetivas do Estado no sentido de assegurar o pleno
exercício da cidadania e a integral inclusão social da população LGBT;

Considerando que toda pessoa tem direito ao tratamento correspondente ao seu gênero; e

Considerando que transexuais e travestis possuem identidade de gênero distinta do sexo biológico,

Decreta:

Artigo 1º - Fica assegurado às pessoas transexuais e travestis, nos termos deste decreto, o direito à escolha
de tratamento nominal nos atos e procedimentos promovidos no âmbito da Administração direta e indireta do
Estado de São Paulo.

Artigo 2º - A pessoa interessada indicará, no momento do preenchimento do cadastro ou ao se apresentar para


o atendimento, o prenome que corresponda à forma pela qual se reconheça, é identificada, reconhecida e
denominada por sua comunidade e em sua inserção social.

§ 1º - Os servidores públicos deverão tratar a pessoa pelo prenome indicado, que constará dos atos escritos.

§ 2º - O prenome anotado no registro civil deve ser utilizado para os atos que ensejarão a emissão de
documentos oficiais, acompanhado do prenome escolhido.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 581

§ 3º - Os documentos obrigatórios de identificação e de registro civil serão emitidos nos termos da legislação
própria.

Artigo 3º - Os órgãos da Administração direta e as entidades da Administração indireta capacitarão seus


servidores para o cumprimento deste decreto.

Artigo 4º - O descumprimento do disposto nos artigos 1º e 2º deste decreto ensejará processo administrativo
para apurar violação à Lei nº 10.948, de 5 de novembro de 2001, sem prejuízo de infração funcional a ser
apurada nos termos da Lei nº 10.261, de 28 de outubro de 1968 - Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do
Estado.

Artigo 5º - Caberá à Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania, por meio da Coordenação de Políticas
para a Diversidade Sexual do Estado de São Paulo, promover ampla divulgação deste decreto para
esclarecimento sobre os direitos e deveres nele assegurados.

Artigo 6º - Este decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Palácio dos Bandeirantes, 17 de março de 2010


JOSÉ SERRA
Luiz Antonio Guimarães Marrey
Secretário da Justiça e da Defesa da Cidadania
Aloysio Nunes Ferreira Filho
Secretário-Chefe da Casa Civil

Publicado na Casa Civil, aos 17 de março de 2010.


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 582

8. DECRETO ESTADUAL Nº 55.839, DE 18 DE MAIO DE 2010 (INSTITUI O PLANO


ESTADUAL DE ENFRENTAMENTO À HOMOFOBIA E PROMOÇÃO DA CIDADANIA
LGBTQIA+ E DÁ PROVIDÊNCIAS CORRELATAS)

DECRETO Nº 55.839, DE 18 DE MAIO DE 2010.

INSTITUI O PLANO ESTADUAL DE ENFRENTAMENTO À HOMOFOBIA E PROMOÇÃO DA CIDADANIA


LGBT E DÁ PROVIDÊNCIAS CORRELATAS

ALBERTO GOLDMAN, Governador do Estado de São Paulo, no uso de suas atribuições legais,

Considerando a criação da Coordenação de Políticas para a Diversidade Sexual do Estado de São Paulo junto
à Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania, por meio do Decreto nº 54.032, de 18 de fevereiro de 2009;
Considerando que a Coordenação de Políticas para a Diversidade Sexual do Estado de São Paulo conta com
o Comitê Intersecretarial de Defesa da Diversidade Sexual; Considerando que as resoluções da I Conferência
Estadual GLBTT, convocada pelo Decreto nº 52.770, de 3 de março de 2008, resultaram em diretrizes de
atuação e propostas de políticas públicas destinadas ao enfrentamento da discriminação homofóbica e
promoção dos direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais; Considerando que a partir das
resoluções da I Conferência Estadual GLBTT, o Comitê Intersecretarial de Defesa da Diversidade Sexual
elaborou metas e ações destinadas ao enfrentamento à discriminação homofóbica e promoção da cidadania
LGBT; e Considerando a importância de instituir políticas públicas destinadas ao respeito à diversidade sexual
e promoção dos direitos da população LGBT,

Decreta:

Artigo 1º - Fica instituído o Plano Estadual de Enfrentamento à Homofobia e Promoção da Cidadania LGBT,
composto por metas e ações a serem cumpridas pelas Secretarias de Estado constantes do Anexo que faz
parte integrante deste decreto.

Parágrafo único - A implementação do Plano Estadual de Enfrentamento à Homofobia e Promoção da


Cidadania LGBT, além das Secretarias de Estado nele indicadas, poderá envolver parcerias com outros órgãos
públicos.

Artigo 2º - As metas do Plano Estadual de Enfrentamento à Homofobia e Promoção da Cidadania LGBT serão

cumpridas no biênio 2010-2011. Artigo 3º - O cumprimento das metas e ações que compõem o Plano de que
trata esse decreto será acompanhado e monitorado, nos respectivos âmbitos de atuação, pela Coordenação
de Políticas para a Diversidade Sexual do Estado de São Paulo com o auxílio do Comitê Intersecretarial de
Defesa da Diversidade Sexual, e pelo Conselho Estadual dos Direitos da População de Lésbicas, Gays,
Bissexuais, Travestis e Transexuais.

Artigo 4º - Este decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Palácio dos Bandeirantes, 18 de maio de 2010


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 583

ALBERTO GOLDMAN

Ricardo Dias Leme - Secretário da Justiça e da Defesa da Cidadania


Marcos Antonio Monteiro - Secretário de Gestão Pública
Almino Monteiro Álvares Affonso - Secretário de Relações Institucionais
Luiz Carlos Delben Leite - Secretário Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social
Pedro Rubez Jeha - Secretário do Emprego e Relações do Trabalho
Antonio Ferreira Pinto - Secretário da Segurança Pública
Lourival Gomes - Secretário da Administração Penitenciária
Paulo Renato Costa Souza - Secretário da Educação
Luiz Roberto Barradas Barata - Secretário da Saúde
Angelo Andréa Matarazzo - Secretário da Cultura
Carlos Alberto Vogt - Secretário de Ensino Superior
Luiz Antonio Guimarães Marrey - Secretário-Chefe da Casa Civil
Publicado na Casa Civil, aos 18 de maio de 2010.

Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania

ANEXO
a que se refere o artigo 1º do Decreto nº 55.839, de 18 de maio de 2010

Apresentam-se as seguintes diretrizes de ação para o enfrentamento à homofobia e suas decorrentes


manifestações de intolerância no âmbito da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania:

Meta 1. Assegurar o tratamento pelo pré-nome social de travestis e transexuais nos órgãos públicos.

Ação 1.1. Fomentar a criação de instrumento normativo que estabeleça o tratamento nominal de travestis e
transexuais pelo pré-nome social nos órgãos da administração direta e indireta do Governo do Estado de São
Paulo.

Ação 1.2. Realizar encontros para discutir a viabilidade jurídica do instrumento legal que estabeleça o
tratamento nominal de travestis e transexuais pelo pré-nome social nos órgãos da administração direta e
indireta do Governo do Estado de São Paulo.

Ação 1.3. Promover campanha institucional para ampla divulgação do instrumento legal que estabelece o
tratamento nominal de travestis e transexuais pelo pré-nome social nos órgãos da administração direta e
indireta do Estado de São Paulo.

Meta 2. Promover a Lei estadual nº 10.948, de 5 de novembro de 2001.

Ação 2.1. Firmar parceria com a Procuradoria Geral do Estado para realização da fase de instrução processual,
quando do recebimento de denúncias decorrentes do interior do Estado, pelas Procuradorias Regionais das
cidades de Araçatuba, Bauru, Campinas, Marília, Presidente Prudente, Ribeirão Preto, Santos, São José do
Rio Preto e Taubaté.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 584

Ação 2.2. Criar, em parceria com a Defensoria Pública do Estado de São Paulo, postos de atendimento a casos
de discriminação homofóbica, em unidades da Defensoria Pública localizadas no interior do Estado,
especificamente nos municípios de Campinas, São José do Rio Preto, Presidente Prudente, Santos e Bauru.

Ação 2.3. Promover campanha institucional para ampla divulgação da Lei estadual nº 10.948, de 5 de novembro
de 2001.

Ação 2.4. Promover campanha institucional para incentivo de denúncias de discriminação homofóbica ocorridas
no Estado de São Paulo.

Ação 2.5. Realizar um seminário para debater a eficácia da Lei estadual nº 10.948, de 5 de novembro de 2001.

Ação 2.6. Propor, em parceria com a Procuradoria Geral do Estado, a adoção de instrumento legal regulamentar
dos procedimentos administrativos de averiguação das denúncias de discriminação homofóbica.

Meta 3. Capacitar Gestores Públicos.

Ação 3.1. Realizar, em parceria com a Defensoria Pública do Estado de São Paulo, Cursos de Capacitação em
Direitos Humanos e Diversidade Sexual para gestores públicos de Secretarias do Governo do Estado de São
Paulo.

Ação 3.2. Realizar, em parceria com a Procuradoria Geral do Estado, Curso de Direitos Humanos e Diversidade
Sexual para Procuradores do Estado de São Paulo.

Ação 3.3. Realizar capacitação acerca da temática “Direitos Humanos e Diversidade Sexual” para servidores
da Fundação Centro de Atendimento Sócio-Educativo ao Adolescente - Fundação Casa.

Meta 4. Apoiar ações de visibilidade da população LGBT.

Ação 4.1. Realizar atividades comemorativas em alusão ao Dia da Visibilidade Trans.

Ação 4.2. Realizar atividades comemorativas em alusão ao Dia do Combate à Homofobia.

Ação 4.3. Realizar atividades comemorativas em alusão ao Dia do Orgulho LGBT.

Ação 4.4. Realizar atividades comemorativas em alusão ao Dia da Visibilidade Lésbica.

Ação 4.5. Divulgar, nos sites das Secretarias do Governo do Estado de São Paulo que compõem o Comitê
Intersecretarial de Defesa da Diversidade Sexual, os instrumentos normativos que asseguram direitos da
população LGBT paulista.

Meta 5. Publicar referenciais teóricos.

Ação 5.1. Publicar os resultados da I Conferência Estadual LGBT.

Ação 5.2. Apoiar publicações que tratem da temática diversidade sexual e direitos da população LGBT.

Meta 6. Apoiar iniciativas da sociedade civil.

Ação 6.1. Apoiar a realização de projetos, tais como festivais culturais, seminários, encontros, participação em
eventos, Paradas do Orgulho LGBT, dentre outros.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 585

Ação 6.2. Estabelecer diálogo com poderes públicos municipais, com o intuito de estimular a criação de órgãos
governamentais destinados à promoção dos direitos da diversidade sexual e cidadania LGBT.

Meta 7. Adotar ações de enfrentamento ao tráfico de travestis e transexuais para exploração sexual.

Ação 7.1. Sensibilizar lideranças travestis e transexuais do Estado de São Paulo para a promoção da efetiva
prevenção da violência e enfrentamento do Tráfico de Pessoas a partir do enfoque da diversidade sexual.

Ação 7.2. Formar agentes multiplicadores de prevenção da violência e enfrentamento do Tráfico de Pessoas a
partir do enfoque da diversidade sexual, com especial atenção à população de travestis e transexuais.

Ação 7.3. Informar casos de tráfico de travestis e transexuais para exploração sexual a órgãos federais, a fim
de contribuir para o enfrentamento dessa prática.

Ação 7.4. Elaborar o Manual de Formação de Agentes Multiplicadores para auxiliar na atuação da prevenção
da violência e enfrentamento do Tráfico de Pessoas, destinando especial atenção à população de travestis e
transexuais paulistas.

Ação 7.5. Promover campanha, ampliando as ações de prevenção da violência e enfrentamento do Tráfico de
travestis e transexuais, para todo o Estado de São Paulo.

Meta 8. Firmar parceria com o Programa de Humanização da Secretaria da Saúde.

Ação 8.1. Realizar capacitações para a promoção do atendimento humanizado na rede de saúde hospitalar,
com enfoque nas demandas da população LGBT.

Meta 9. Publicar material informativo para servidores públicos.

Ação 9.1. Elaborar e publicar material educativo para orientar os servidores públicos para a prestação adequada
dos serviços à população LGBT.

Meta 10. Promover campanha institucional.

Ação 10.1. Financiar a realização de um vídeodocumentário acerca do Sistema Paulista de Proteção aos
Direitos da Diversidade Sexual e Promoção da Cidadania LGBT.

Meta 11. Apoiar as Paradas do Orgulho LGBT do interior do Estado.

Ação 11.1. Incentivar a realização de eventos de visibilidade e promoção do orgulho LGBT, por meio do apoio
às Paradas nas cidades do interior paulista.

Ação 11.2. Fortalecer e consolidar ações com o objetivo de promover a cidadania e os direitos humanos nas
Paradas do Orgulho LGBT.

Meta 12. Criar espaço institucional de diálogo permanente com a sociedade civil.

Ação 12.1. Fomentar a criação de um Conselho Estadual, composto por representantes do Poder Público e da
sociedade civil.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 586

Ação 12.2. Realizar encontros para discutir a criação de um Conselho Estadual LGBT, envolvendo
representantes do Poder Público e da sociedade civil que atuam com a temática da diversidade sexual.

Secretaria de Gestão Pública

Apresentam-se as seguintes diretrizes de ação para o enfrentamento à homofobia e suas decorrentes


manifestações de intolerância no âmbito da Secretaria de Gestão Pública:

Meta 1. Promover a Lei Complementar n° 1.012, de 5 de julho de 2007.

Ação 1.1. Divulgar a legislação para servidores públicos do Estado de São Paulo por meio eletrônico (e-mails
e sites institucionais).

Ação 1.2. Divulgar a legislação nos holerites dos servidores.

Ação 1.3. Divulgar a legislação em informativos de órgãos da administração direta e indireta do Governo do
Estado de São Paulo.

Meta 2. Alterar o Sistema de “Recadastramento do Servidor”.

Ação 2.1. Promover alteração no Sistema de recadastramento do Servidor público, permitindo a auto-
identificação da “orientação sexual” e “identidade de gênero”.

Meta 3. Capacitar Gestores Públicos.

Ação 3.1. Realizar, por meio da FUNDAP, capacitação acerca da temática “Direitos Humanos e Diversidade
Sexual” para dirigentes e gestores de Programas que compõem a administração direta e indireta, por meio dos
instrumentos de educação telepresencial.

Meta 4. Capacitar Servidores dos Programas “Acessa São Paulo” e “PoupaTempo”.

Ação 4.1. Realizar, por meio da FUNDAP, capacitação acerca da temática “Direitos Humanos e Diversidade
Sexual” para servidores dos Programas “Acessa São Paulo” e “PoupaTempo” que prestam atendimento direto
à população, por meio dos instrumentos de educação telepresencial.

Meta 5. Capacitar servidores do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual.

Ação 5.1. Realizar capacitação acerca da temática “Direitos Humanos e Diversidade Sexual” para servidores
Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual.

Secretaria de Relações Institucionais

Apresentam-se as seguintes diretrizes de ação para o enfrentamento à homofobia e suas decorrentes


manifestações de intolerância no âmbito da Secretaria de Relações Institucionais:
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 587

Meta 1. Capacitar os Conselheiros de Cidadania.

Ação 1.1. Incentivar e realizar capacitação acerca da temática “Direitos Humanos e Diversidade Sexual” para
os membros dos Conselhos de Cidadania, de modo a promover a atuação transversal desses órgãos
observadas as demandas da população LGBT.

Meta 2. Divulgar o programa “Selo Paulista da Diversidade”.

Ação 2.1. Destacar e estimular empresas a adotarem políticas de valorização da diversidade sexual,
promovendo a inclusão da população LGBT, bem como a igualdade de oportunidades e de tratamento aos
seus membros.

Ação 2.2. Implantar o Selo Paulista da Diversidade, como política pública, promovendo grupos de discussão e
sensibilização com palestrantes especializados no seguimento LGBT, dentro das organizações do mundo
corporativo.

Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social

Apresentam-se as seguintes diretrizes de ação para o enfrentamento à homofobia e suas decorrentes


manifestações de intolerância no âmbito da Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social:

Meta 1. Alterar o Sistema Web dos Planos Municipais de Assistência Social - PMAS.

Ação 1.1. Incluir a categoria “Orientação Sexual” e “Identidade de Gênero”, permitindo a identificação de
demandas da população LGBT na rede de serviços sócio-assistenciais de atendimento.

Ação 1.2. Incluir, na categoria “Discriminação”, espaço reservado à identificação de “discriminação por
orientação sexual/identidade de gênero”, possibilitando o mapeamento de demandas decorrentes de práticas
homofóbicas.

Meta 2. Alterar o Sistema Pró-Social.

Ação 2.1. Incluir a categoria “Orientação Sexual” e “Identidade de Gênero”, permitindo a identificação de
demandas da população LGBT na rede de serviços Pró-Social.

Meta 3. Ampliar o acesso da população LGBT nos serviços de assistência social.

Ação 3.1. Estimular a inclusão da temática “Direitos Humanos e Diversidade Sexual” nas capacitações e
treinamentos dos profissionais de serviços sócio educativos de municípios e entidades sociais, em especial os
que atendem crianças, adolescentes, idosos e famílias.

Ação 3.2. Incluir a temática da diversidade sexual nas orientações e supervisões aos municípios,
especificamente as destinadas às instituições de passagem e de longa permanência voltadas à população
LGBT adolescente, portadora de deficiência, idosa e em situação de rua.

Meta 4. Capacitar Agentes Sociais.


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 588

Ação 4.1. Incluir a temática “Diversidade Sexual” na capacitação para os serviços especiais de média e alta
complexidade.

Ação 4.2. Realizar capacitação em Direitos Humanos e Diversidade Sexual para servidores públicos das
Diretorias Regionais de Assistência e Desenvolvimento Social. Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho
Apresentam-se as seguintes diretrizes de ação para o enfrentamento à homofobia e suas decorrentes
manifestações de intolerância no âmbito da Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho:

Meta 1. Alterar os Sistemas de Cadastros.

Ação 1.1. Incluir a categoria “Orientação Sexual” e “Identidade de Gênero”, permitindo a identificação de
demandas da população LGBT nos serviços prestados pela Secretaria. Meta 2. Publicar manual informativo
para atendentes.

Ação 2.1. Elaborar e publicar material educativo

para orientar os servidores públicos para a prestação adequada dos serviços à população LGBT, formas de
encaminhamento ao mercado de trabalho formal e de enfrentamento da homofobia no local de trabalho.

Meta 3. Ampliar o acesso da população LGBT ao Sistema Emprega São Paulo.

Ação 3.1. Realizar capacitação acerca da temática “Direitos Humanos e Diversidade Sexual” para servidores
da SERT.

Ação 3.2. Realizar capacitação de Assistentes Sociais de órgãos públicos que atuam no atendimento à
população LGBT.

Ação 3.3. Promover ampla distribuição de material informativo para os postos de atendimento.

Meta 4. Ampliar o acesso da população LGBT aos Postos de Atendimento ao Trabalhador.

Ação 4.1. Realizar capacitação acerca da temática “Direitos Humanos e Diversidade Sexual” para
coordenadores regionais dos Postos de Atendimento ao Trabalhador.

Ação 4.2. Realizar capacitação acerca da temática “Direitos Humanos e Diversidade Sexual” para atendentes
dos Postos de Atendimento ao Trabalhador, por meio dos instrumentos de educação telepresencial.

Ação 4.3. Promover ampla distribuição de material informativo para os Postos de Atendimento ao Trabalhador.

Meta 5. Ampliar o debate em torno da temática “A População LGBT e o Mercado de Trabalho”.

Ação 5.1. Realizar seminário estadual envolvendo gestores públicos, comissões municipais de emprego e
sociedade civil.

Ação 5.2. Elaborar propostas de políticas públicas para a ampliação da inserção da população LGBT no
mercado de trabalho.

Secretaria da Segurança Pública


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 589

Apresentam-se as seguintes diretrizes de ação para o enfrentamento à homofobia e suas decorrentes


manifestações de intolerância no âmbito da Secretaria da Segurança Pública:

Meta 1. Alterar o Registro de Ocorrências.

Ação 1.1. Criar nos documentos de registros policiais espaços para declaração facultativa de orientação sexual
e identidade de gênero.

Meta 2. Incluir a temática da diversidade sexual nos currículos de formação e aperfeiçoamento.

Ação 2.1. Inserir a temática da diversidade sexual nas disciplinas de “Direitos Humanos” dos currículos dos
Cursos de Formação e Aperfeiçoamento das Escolas das Policias Civil e Militar, constituindo matéria
obrigatória.

Meta 3. Levantar dados sobre discriminações homofóbicas.

Ação 3.1. Desenvolver pesquisas, a partir dos bancos de dados da SSP, para a consolidação de informações
e estatísticas com recorte da população LGBT e especificidades quanto aos crimes resultantes de
discriminações homofóbicas.

Ação 3.2. Orientar a atuação das Polícias Civil e Militar para a efetiva prevenção aos delitos de intolerância
homofóbica - DECRADI.

Meta 4. Ampliar a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância - DECRADI.

Ação 4.1. Ampliar o quadro de funcionários da DECRADI.

Ação 4.2. Equipar a DECRADI com os equipamentos necessários à sua melhor atuação.

Ação 4.3. Fomentar a criação de instrumento normativo que estabeleça a obrigatoriedade de que ocorrências
policiais registradas em toda e qualquer delegacia do Estado proveniente de discriminação homofóbica seja
informada para a DECRADI a fim de atualizar o banco de dados sobre crimes decorrentes de homofobia.

Ação 4.4. Criar a Central de Inteligência da DECRADI destinada ao mapeamento das ocorrências de
intolerância em todo o Estado.

Ação 4.5. Informatizar os bancos de dados da DECRADI.

Meta 5. Publicar manual informativo para atuação dos agentes da segurança pública.

Ação 5.1. Elaborar e publicar manual didático-pedagógico com orientações acerca da melhor abordagem e
tratamento à população LGBT, considerando as suas peculiaridades.

Ação 5.2. Promover ampla distribuição de material informativo para os agentes da segurança pública.

Secretaria da Administração Penitenciária


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 590

Apresentam-se as seguintes diretrizes de ação para o enfrentamento à homofobia e suas decorrentes


manifestações de intolerância no âmbito da Secretaria de Administração Penitenciária:

Meta 1. Realizar pesquisa para identificar a situação e necessidades da população LGBT no sistema
penitenciário.

Ação 1.1. Realizar pesquisa para identificar o perfil, a realidade da população LGBT no sistema penitenciário
paulista.

Ação 1.2. Promover, a partir dos resultados das pesquisas, medidas para a promoção do respeito às distintas
orientações sexuais e identidades de gênero nas unidades penitenciárias.

Meta 2. Enfrentar a discriminação homofóbica nas unidades prisionais.

Ação 2.1. Promover para servidores penitenciários, dirigentes e internos do sistema, ampla divulgação da Lei
estadual 10.948, de 5 de novembro de 2001, dos centros de referência de combate a homofobia, do Ambulatório
de Saúde Integral para Travestis e Transexuais, do Hospital Estadual de Diadema e do Centro de Referência
da Diversidade.

Meta 3. Capacitar dirigentes e servidores do Sistema Penitenciário.

Ação 3.1. Realizar, por meio da Escola de Administração Penitenciária, cursos de atualização, seminários, ciclo
de palestras, capacitação em “Direitos Humanos e Diversidade Sexual”.

Ação 3.2. Inserir a disciplina “Direitos Humanos e Diversidade Sexual” nas grades curriculares dos Cursos
oferecidos pela Escola de Administração Penitenciária.

Meta 4. Promover acesso à educação e ao trabalho.

Ação 4.1. Por meio da Fundação “Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel” - FUNAP, fomentar a participação de presos
LGBT nos cursos, oficinas de trabalho e programas de cultura e esportes.

Secretaria da Educação

Apresentam-se as seguintes diretrizes de ação para o enfrentamento à homofobia e suas decorrentes


manifestações de intolerância no âmbito da Secretaria de Educação:

Meta 1. Capacitar Gestores Públicos.

Ação 1.1. Realizar “Ciclos de Conferências” para capacitar gestores da rede estadual de educação acerca da
temática “Diversidade Sexual na Sala de Aula”.

Ação 1.2. Fomentar a troca de experiências sobre iniciativas desenvolvidas que abordam questões de gênero,
sexualidade e diversidade sexual na escola.

Meta 2. Capacitar professores.


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 591

Ação 2.1. Realizar, por meio da “Rede do Saber”, cursos de Capacitação e Sensibilização em Direitos Humanos
e Diversidade Sexual para professores coordenadores da Oficina Pedagógica das Diretorias de Ensino, por
meio dos instrumentos de educação telepresencial.

Ação 2.2. Propiciar, por meio de estudos dirigidos, a discussão sobre práticas pedagógicas e mecanismos de
enfrentamento ao preconceito homofóbico nos espaços escolares.

Meta 3. Garantir a realização das diretrizes curriculares.

Ação 3.1. Promover discussão com a Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas em torno dos
currículos escolares de modo a incrementar a temática da diversidade sexual na formação discente, a partir da
reflexão sobre as dimensões de gênero e sexualidade.

Ação 3.2. Implementar a abordagem do assunto diversidade sexual na prática docente, de acordo com os
Parâmetros Curriculares Nacionais e o Currículo do Estado de São Paulo.

Meta 4. Ampliar o acervo bibliotecário da rede estadual de ensino.

Ação 4.1. Ampliar a aquisição de livros que abordem a temática da diversidade sexual, distribuindo-os
uniformemente para as escolas.

Ação 4.2. Ampliar a aquisição de material áudiovisual que abordem a temática da diversidade sexual,
distribuindo-os uniformemente para as escolas.

Meta 5. Enfrentar a discriminação homofóbica nos ambientes escolares.

Ação 5.1. Promover ações de enfrentamento à discriminação homofóbica no ambiente escolar.

Ação 5.2. Incrementar a continuidade da parceria com a Secretaria da Saúde, por meio da realização do projeto
“Saúde e Prevenção nas Escolas”.

Secretaria da Saúde

Apresentam-se as seguintes diretrizes de ação para o enfrentamento à homofobia e suas decorrentes


manifestações de intolerância no âmbito da Secretaria da Saúde:

Meta 1. Realizar atividades de capacitação e sensibilização para gestores e profissionais da Saúde.

Ação 1.1. Realizar capacitação e sensibilização em Direitos Humanos e Diversidade Sexual para servidores de
hospitais da Secretaria da Saúde.

Ação 1.2. Realizar capacitação e sensibilização em Direitos Humanos e Diversidade Sexual para Ouvidores
alocados nos Departamentos Regionais de Saúde (DRS).

Ação 1.3. Monitorar os desdobramentos das sensibilizações ocorridas em 2009 em hospitais da Secretaria da
Saúde.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 592

Ação 1.4. Realizar Seminário Estadual envolvendo Programas Municipais de DST/aids, universidades,
institutos de pesquisa, mídia e sociedade civil organizada para discutir e construir estratégias para o
enfrentamento da epidemia de Aids e o controle das DST’s entre as mulheres.

Meta 2. Implementar e aperfeiçoar as ações de enfrentamento da epidemia de aids e outras DST’s, enfatizando
o incentivo a testagem precoce para o HIV.

Ação 2.1. Sensibilizar e instrumentalizar gestores dos Programas Municipais de Saúde e profissionais da Rede
Especializada em DST/Aids para a inclusão de metas, ações específicas e alocação de recursos para
prevenção das DST/HIV/Aids para gays, outros HSH e travestis em seus Planos de Ações e Metas (PAM).

Ação 2.2. Incluir metas, ações específicas e alocação de recursos para prevenção das DST/HIV/Aids para gays,
outros HSH e travestis no Plano de Ações e Metas do Estado de São Paulo.

Ação 2.3. Apoiar a realização de atividades de prevenção às DST/Aids e incentivo à testagem do HIV, sífilis e
hepatites B e C para os municípios e Organizações da Sociedade Civil (ONG).

Ação 2.4. Constituir um Grupo de Trabalho de monitoramento e avaliação do Plano Estadual de Enfrentamento
da Epidemia de Aids e outras DST’s entre Gays, outros HSH e Travestis composto por gestores públicos e
representantes da sociedade civil organizada.

Ação 2.5. Ampliar a aquisição e distribuição de gel lubrificante íntimo para as ações de prevenção direcionadas
a gays, HSH e travestis.

Ação 2.6. Realizar encontro estadual de prevenção às DST/Aids com destaque para as temáticas relacionadas
à diversidade sexual, ao Plano de Enfrentamento da Epidemia entre Gays, HSH e Travestis e ao Plano de
Enfrentamento da Feminização da Aids e outras DST.

Ação 2.7. Realizar campanha estadual de incentivo a testagem precoce para o HIV.

Ação 2.8. Desenvolver estratégias para ampliar o acesso à vacinação contra a Hepatite B junto aos 145
municípios que recebem recursos via PAM.

Ação 2.9. Realizar campanha de comunicação para redução da vulnerabilidade, além de publicizar os dados
da epidemia entre gays.

Ação 2.10. Produzir e divulgar material informativo sobre especificidades e contextos de vulnerabilidade
associados à epidemia do HIV/aids e agravos à saúde de gays e travestis.

Ação 2.11. Realizar pesquisa epidemiológica para determinar e acompanhar a prevalência do HIV, HPV e das
hepatites entre HSH na cidade de São Paulo e, paralelamente, desenvolver estudo qualitativo para identificar
questões relacionadas a atitudes e práticas associadas ao risco de infecção pelo HIV que possam subsidiar as
ações de prevenção.

Meta 3. Implantar Assistência Interdisciplinar a Travestis e Transexuais em Ambulatórios Especializados.

Ação 3.1. Criar um Ambulatório de Saúde Integral para Travestis e Transexuais.


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 593

Ação 3.2. Desenvolver protocolos de atendimento e tecnologias de atenção e cuidados passíveis de serem
reproduzidos por outros serviços.

Ação 3.3. Adotar medidas de referência no atendimento aos travestis e transexuais com vista à ampliação da
capacidade de atendimento e especialidades oferecidas, melhoria da qualidade dos serviços de saúde e
observância ao respeito à identidade de gênero da população usuária.

Ação 3.4. Produzir material educativo específico para a prevenção de doenças e promoção da saúde das
travestis e transexuais.

Ação 3.5. Desenvolver estratégias para a discussão e inclusão das especificidades de saúde dos travestis e
transexuais nas ações de assistência àqueles que vivem com HIV/aids.

Ação 3.6. Implantar, no Ambulatório de Saúde Integral para Travestis e Transexuais, os quesitos “orientação
sexual” e “identidade de gênero” nas fichas de atendimento, para avaliação e posterior implantação nos demais
serviços especializados em DST/Aids.

Meta 4. Garantir apoio técnico e institucional aos movimentos sociais LGBT.

Ação 4.1. Priorizar projetos de organizações da sociedade civil direcionados a ações de prevenção, assistência
e defesa dos direitos da população LGBT, apresentados nas seleções públicas do PE-DST/aids.

Ação 4.2. Apoiar os movimentos sociais LGBT, em seus projetos de fortalecimento das redes.Secretaria da
Cultura Apresentam-se as seguintes diretrizes de ação para o enfrentamento à homofobia e suas decorrentes
manifestações de intolerância no âmbito da Secretaria de Cultura:

Meta 1. Definir políticas acerca da Cultura LGBT.

Ação 1.1. Realizar Seminário Estadual sobre Cultural LGBT, com o propósito de reunir artistas, agentes
culturais, pesquisadores para discutir e propor ações de incentivo à “cultura LGBT”.

Ação 1.2. Promover a discussão transversal da temática “cultura LGBT”, tendo como referência as questões
de gênero, etnias, religiosas, geracionais e jurídicas, dentre outras.

Meta 2. Criar fonte de fomento às iniciativas culturais LGBT.

Ação 2.1. Criar o PROAC - LGBT (Programa de Apoio à Cultura), adotando critérios públicos de financiamento
às iniciativas da “cultura LGBT”, por meio de editais específicos.

Meta 3. Promover ações de visibilidade das manifestações da “cultura LGBT”.

Ação 3.1. Organizar e catalogar as manifestações artísticas que tratam da temática da diversidade sexual.

Ação 3.2. Dar visibilidade às ações culturais LGBT desenvolvidas no interior do Estado.

Ação 3.3. Promover, em parceria com a Associação Amigos das Oficinas Culturais do Estado de São Paulo, a
identificação e divulgação de artistas LGBT, incluindoos nas ações do Projeto “Oficinas Culturais”.

Ação 3.4. Promover ações que abordem a temática LGBT por meio das Unidades da Pasta que implementam
as atividades artísticas e culturais.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 594

Ação 3.5. Apoiar atividades culturais desenvolvidas nas Paradas do Orgulho LGBT.

Meta 4. Incentivar a produção literária que aborde a temática da diversidade sexual.

Ação 4.1. Promover eventos, em parceria com a “Poesis - Organização Social de Cultura”, para divulgar a
produção literária, por meio apoio à realização de saraus literários e apresentações teatrais.

Meta 5. Incluir a temática da “cultura LGBT” na programação da “Virada Cultural Paulista”.

Ação 5.1. Incluir na programação do projeto “Virada Cultural Paulista” atividades culturais que abordem a
temática de gênero e diversidade sexual.

Meta 6. Estimular a produção cultural em torno da temática “direitos humanos e diversidade sexual”.

Ação 6.1. Promover concurso, com periodicidade fixa, para premiar as atividades da “cultura LGBT”.

Secretaria de Ensino Superior

Apresentam-se as seguintes diretrizes de ação para o enfrentamento à homofobia e suas decorrentes


manifestações de intolerância no âmbito da Secretaria de Ensino Superior:

Meta 1. Estimular a pesquisa científica em diversidade sexual.

Ação 1.1. Realizar um seminário estadual para reunir pesquisadores das IES do Estado de São Paulo para
debater meios de incentivo e fomento à pesquisa em diversidade sexual, com posterior publicação dos seus
anais.

Ação 1.2. Definir linhas de incentivo e fomento à pesquisa em diversidade sexual.

Ação 1.3. Criar um “Observatório de Pesquisas da Diversidade Sexual” com fins de articular os diversos
pesquisadores, Centros e Núcleos de estudos espalhados pelas IES paulistas para a promoção do intercâmbio
de pesquisadores e de conhecimento.

Ação 1.4. Promover, com periodicidade fixa, concurso para premiar o melhor ensaio, pesquisa, dissertação ou
tese sobre a temática da diversidade sexual e população LGBT ou, ainda, sobre a sua memória no Estado de
São Paulo.

Meta 2. Estimular a inclusão da temática “diversidade sexual” nas grades curriculares.

Ação 2.1. Implantar grupo de trabalho para a criação de área de concentração específica referente aos estudos
da diversidade sexual e temas a ela relacionados nas IES.

Ação 2.2. Fomentar a criação de disciplinas, especialmente na área das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas,
que tangenciem e contemplem as questões atinentes à diversidade sexual e a produção do conhecimento
oriundo e vinculado à população LGBT.

Meta 3. Enfrentar a discriminação homofóbica nos ambientes universitários.


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 595

Ação 3.1. Criar políticas institucionais de apoio aos discentes, docentes e servidores LGBT, aberta à toda a
comunidade acadêmica.

Ação 3.2. Incentivar a formação de grupos de discussão, apoio, convivência LGBT surgidos por iniciativa
discente, de diretórios centrais ou centros acadêmicos.

Ação 3.3. Implantar campanhas institucionais permanentes que visem facilitar a convivência da população
LGBT no âmbito acadêmico, bem como incentivar a cultura do respeito e da tolerância à livre expressão
homoafetiva e à diversidade sexual.

Meta 4. Preservar a memória LGBT e dos movimentos sociais de defesa da diversidade sexual.

Ação 4.1. Promover diálogo com outros órgãos públicos, com vista à criação de um Centro de Memória,
destinado à preservação da documentação e iconografia da história LGBT e promoção da diversidade sexual.

Meta 5. Financiar estudos e pesquisas sobre diversidade sexual.

Ação 5.1. Promover suporte institucional e fomento financeiro a grupos de estudo, núcleos, grupos de pesquisa,
discussão, convivência e demais iniciativas pertencentes às IES paulistas e outras instituições públicas,
interessadas na temática da diversidade sexual e população LGBT.

Ação 5.2. Criar linhas específicas de fomento às investigações ligadas à diversidade sexual, bem como às
pesquisas de Iniciação Científica e de Inovação Tecnológica, nas IES, na Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo e demais centros de fomento às pesquisas congêneres.

Meta 6. Manter diálogo institucional com demais órgãos públicos.

Ação 6.1. Estabelecer um grupo de trabalho formado por profissionais das diversas áreas do saber para
redigirem documento a ser encaminhado aos órgãos nacionais de fomento à pesquisa, com o intuito de
estimular a criação de linhas de pesquisa e financiamento ligadas a diversidade sexual e população LGBT.

Meta 7. Divulgar o programa “Selo Paulista da Diversidade”.

Ação 7.1. Estimular que IES adotem políticas de promoção da diversidade sexual, desenvolvendo iniciativas
de valorização e respeito à população LGBT.

Ação 7.2. Estimular que IES se insiram no Programa “Selo Paulista da Diversidade”.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 596

9. LEI ESTADUAL Nº 17.431/2021

LEI Nº 17.431, DE 14 DE OUTUBRO DE 2021

(Projeto de lei nº 624, de 2020, do Deputado Thiago Auricchio - PL) Consolida a legislação paulista relativa à
proteção e defesa da mulher

O GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO:

Faço saber que a Assembleia Legislativa decreta e eu promulgo a seguinte lei:

CAPÍTULO I

Disposições Preliminares

Artigo 1º - Esta lei consolida a legislação paulista relativa à proteção e defesa da mulher, criando a
‘Consolidação das Leis de Proteção e Defesa da Mulher’.

Artigo 2º - Esta consolidação não afasta a incidência de outros princípios, diretrizes e normas de proteção e
defesa da mulher.

Artigo 3º - Encontram-se consolidados neste trabalho os seguintes dispositivos legais:

I - Lei nº 10.346, de 27 de dezembro de 1968;


II - Lei nº 4.565, de 18 de abril de 1985;
III - Lei nº 5.447, de 19 de dezembro de 1986;
IV - Lei nº 5.467, de 24 de dezembro de 1986;
V - Lei nº 5.718, de 05 de junho de 1987;
VI - Lei nº 5.875, de 29 de outubro de 1987;
VII - Lei nº 6.903, de 26 de junho de 1990;
VIII - Lei nº 7.466, de 01 de agosto de 1991;
IX - Lei nº 8.893, de 12 de setembro de 1994;
X - Lei nº 9.144, de 09 de março de 1995;
XI - Lei nº 9.700, de 04 de junho de 1997;
XII - Lei nº 9.918, de 16 de março de 1998;
XIII - Lei nº 10.079, de 01 de setembro de 1998;
XIV - Lei nº 10.294, de 20 de abril de 1999;
XV - Lei nº 10.291, de 07 de abril de 1999;
XVI - Lei nº 10.313, de 20 de maio de 1999;
XVII - Lei nº 10.321, de 08 de junho de 1999;
XVIII - Lei nº 10.362, de 02 de setembro de 1999;
XIX - Lei nº 10.365, de 02 de setembro de 1999;
XX - Lei nº 10.449, de 20 de dezembro de 1999;
XXI - Lei nº 10.768, de 19 de fevereiro de 2001;
XXII - Lei nº 10.822, de 22 de junho de 2001;
XXIII - Lei nº 10.920, de 11 de outubro de 2001;
XXIV - Lei nº 10.940, de 25 de outubro de 2001;
XXV - Lei nº 11.245, de 04 de novembro de 2002;
XXVI - Lei nº 11.369, de 28 de março de 2003;
XXVII - Lei nº 11.386, de 27 de maio de 2003;
XXVIII - Lei nº 11.757, de 01 de julho de 2004;
XXIX - Lei nº 11.877, de 19 de janeiro de 2005;
XXX - Lei nº 11.973, de 25 de agosto de 2005;
XXXI - Lei nº 12.146, de 09 de dezembro de 2005;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 597

XXXII - Lei nº 12.251, de 09 de fevereiro de 2006;


XXXIII - Lei nº 12.280, de 22 de fevereiro de 2006;
XXXIV - Lei nº 12.284, de 22 de fevereiro de 2006;
XXXV - Lei nº 12.302, de 29 de março de 2006;
XXXVI - Lei nº 12.732, de 11 de outubro de 2007;
XXXVII - Lei nº 13.069, de 12 de junho de 2008;
XXXVIII - Lei nº 13.813, de 13 de novembro de 2009;
XXXIX - Lei nº 13.454, de 13 de março de 2009;
XL - Lei nº 14.544, de 14 de setembro de 2011;
XLI - Lei nº 14.545, de 14 de setembro de 2011;
XLII - Lei nº 14.567, de 04 de outubro de 2011;
XLIII - Lei nº 14.686, de 29 de dezembro de 2011;
XLIV - Lei nº 14.746, de 17 de abril de 2012;
XLV - Lei nº 14.832, de 19 de julho de 2012;
XLVI - Lei nº 14.950, de 06 de fevereiro de 2013;
XLVII - Lei nº 15.098, de 24 de julho de 2013;
XLVIII - Lei nº 15.131, de 01 de outubro de 2013;
XLIX - Lei nº 15.347, de 14 de março de 2014;
L - Lei nº 15.435, de 04 de junho de 2014;
LI - Lei nº 15.458, de 18 de junho de 2014;
LII - Lei nº 15.517, de 16 de julho de 2014;
LIII - Lei nº 15.562, de 09 de setembro de 2014;
LIV - Lei nº 15.759, de 25 de março de 2015;
LV - Lei nº 16.047, de 04 de dezembro de 2015;
LVI - Lei nº 16.138, de 09 de março de 2016;
LVII - Lei nº 16.317, de 18 de novembro de 2016;
LVIII - Lei nº 16.634, de 05 de janeiro de 2018;
LIX - Lei nº 16.659, de 12 de janeiro de 2018;
LX - Lei nº 16.754, de 07 de junho de 2018;
LXI - Lei nº 16.767, de 12 de junho de 2018;
LXII - Lei nº 16.792, de 12 de julho de 2018;
LXIII - Lei nº 16.926, de 16 de janeiro de 2019;
LXIV - Lei nº 17.192, de 23 de setembro de 2019;
LXV - Lei nº 17.239, de 03 de janeiro de 2020.

CAPÍTULO II

Das Datas Comemorativas

SEÇÃO I

Do Dia da Gratidão à Mãe Preta


Artigo 4º - É instituído o ‘Dia da Gratidão à Mãe Preta’, que se comemorará anualmente, em todo o território
do Estado, no dia 28 de setembro.
Artigo 5º - Em todos os estabelecimentos de ensino estadual de grau médio, bem como nos particulares
sujeitos à fiscalização do Governo do Estado, serão realizados, na data referida no artigo 4º, atos cívicos em
que constarão preleções sobre o papel exercido pela mulher negra como nutriz e cuidadora, e sua influência
na formação física e moral das gerações de brasileiros contemporâneos da escravatura.

SEÇÃO II

Da Semana da Mulher
Artigo 6º - Fica instituída a ‘Semana da Mulher’, a ser comemorada, anualmente, no período de 2 a 8 de
março.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 598

Parágrafo único - O Poder Executivo fará realizar palestras, conferências, reuniões e outros eventos que
invoquem a problemática da mulher em nossa sociedade, em bibliotecas públicas, na rede oficial de ensino,
bem como nos órgãos da administração direta e indireta do Estado.

SEÇÃO III

Da Semana de Estudos sobre os Direitos da Mulher


Artigo 7º - Fica instituída a ‘Semana de Estudos sobre os Direitos da Mulher’, a realizar-se anualmente no
mês de abril, nos municípios sedes das Regiões Administrativas do Estado.
Parágrafo único - O evento de que trata este artigo será promovido pela Secretaria de Desenvolvimento
Social, por meio de suas Delegacias Regionais, em conjunto com outros órgãos públicos, associações e
sindicatos.

SEÇÃO IV

Da Semana da Saúde da Mulher


Artigo 8º - Fica instituída a ‘Semana da Saúde da Mulher’, a ser realizada anualmente de 8 a 15 de março.
Parágrafo único - O programa das atividades da ‘Semana da Mulher’ será estabelecido pela Secretaria da
Saúde, pelos Conselhos Estadual e Municipal que tratam das questões femininas e pelos movimentos de
mulheres, visando ao aperfeiçoamento de todas as atividades voltadas para a defesa da saúde da mulher.

SEÇÃO V

Da Semana Estadual de Incentivo ao Aleitamento Materno


Artigo 9º - Fica instituída a ‘Semana Estadual de Incentivo ao Aleitamento Materno’, a ser comemorada
anualmente de 1º a 7 de outubro.
Artigo 10 - Os objetivos da semana de que trata esta seção são:
I - estimular atividades de promoção, proteção e apoio à amamentação;
II - apoiar e conscientizar as mulheres para que exerçam seu papel como mães geradoras e alimentadoras de
novos seres sociais;
III - sensibilizar todos os setores da sociedade para que compreendam e apoiem a mulher que amamenta.

SEÇÃO VI

Da Semana de Conscientização Sobre a Importância do Ácido Fólico


Artigo 11 - Fica instituída a ‘Semana de Conscientização sobre a Importância do Ácido Fólico para Mulheres
na Faixa Etária de 10 a 40 anos’, a se realizar anualmente na primeira semana do mês de outubro.
Parágrafo único - O evento de que trata esta seção integrará o Calendário Oficial do Estado.

SEÇÃO VII

Do Dia da Mulher Profissional de Direito


Artigo 12 - Fica instituído o ‘Dia da Mulher Profissional de Direito’ a ser comemorado anualmente no dia 15
de dezembro.

SEÇÃO VIII

Do Dia Estadual de Prevenção ao Câncer de Mama


Artigo 13 - Fica instituído, no terceiro domingo do mês de maio, o ‘Dia Estadual de Prevenção ao Câncer de
Mama’, com o objetivo de conscientizar a mulher sobre diagnósticos preventivos, inclusive a triagem médica.
Artigo 14 - A campanha de prevenção será executada nos postos de saúde com pessoal treinado de acordo
com métodos clínicos específicos.
Artigo 15 - Os órgãos públicos das áreas de saúde e ação social, de forma integrada, elaborarão um
compêndio sobre a prevenção do câncer de mama contendo, entre outras matérias que se fizerem
necessárias, práticas de apalpação e triagem médica sistemática.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 599

Parágrafo único - Fica assegurada a participação do setor privado para a realização da campanha ora
instituída, a qual poderá receber incentivo na forma regulamentar.

SEÇÃO IX

Do Dia da Defesa da Mulher


Artigo 16 - Fica instituído o ‘Dia da Defesa da Mulher’, a ser comemorado anualmente em 6 de agosto.

SEÇÃO X

Do Dia Estadual de Combate à Violência Contra a Mulher


Artigo 17 - Fica instituído o ‘Dia Estadual de Combate à Violência contra a Mulher’, a ser celebrado
anualmente em 25 de novembro.

SEÇÃO XI

Do Dia Estadual de Combate e Prevenção ao Câncer de Colo de Útero


Artigo 18 - Fica instituído o ‘Dia Estadual de Combate e Prevenção ao Câncer de Colo de Útero’, a ser
celebrado anualmente em 11 de março.
Artigo 19 - A data instituída por esta lei passará a integrar o Calendário Oficial do Estado de São Paulo.
Artigo 20 - Os objetivos do ‘Dia Estadual de Combate e Prevenção ao Câncer de Colo de Útero’ são:
I - estimular ações informativas visando à conscientização da importância da prevenção do câncer do colo do
útero;
II - conscientizar as várias esferas do Poder Público sobre a importância da aplicação da vacina que previne a
contaminação pelo papilomavírus humano (HPV).

SEÇÃO XII

Do Dia Estadual da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha


Artigo 21 - Fica instituído o ‘Dia Estadual da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha’, a ser
comemorado anualmente em 25 de julho, passando essa data a integrar o Calendário Oficial do Estado.
SEÇÃO XIII

Do Dia da Mulher Empreendedora


Artigo 22 - Fica instituído o ‘Dia da Mulher Empreendedora’, a ser comemorado anualmente em 19 de
novembro.

SEÇÃO XIV

Do Dia da Mulher Cristã Evangélica


Artigo 23 - Fica instituído o ‘Dia da Mulher Cristã Evangélica’, a ser comemorado anualmente em 28 de
março.

SEÇÃO XV

Do Dia Estadual da Mulher Quadrangular


Artigo 24 - Fica instituído o ‘Dia Estadual da Mulher Quadrangular’, a ser celebrado anualmente em 9 de
outubro.

SEÇÃO XVI

Do Dia de Prevenção ao Feminicídio


Artigo 25 - Fica instituído o dia 25 de novembro como Dia de Prevenção ao Feminicídio no Estado.
Artigo 26 - O dia 25 de novembro - Dia de Prevenção ao Feminicídio - integrará, anualmente, o Calendário
Oficial de Eventos do Estado, em consonância com a Política Nacional de Combate à Violência Contra a
Mulher.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 600

Artigo 27 - O Poder Executivo fica autorizado a intensificar as ações de:


I - difusão de informações sobre o combate ao feminicídio;
II - promoção de eventos para o debate público sobre a Política Nacional de Combate à Violência Contra a
Mulher;
III - difusão de boas práticas de conscientização, prevenção e combate ao feminicídio;
IV - mobilização da comunidade para a participação nas ações de prevenção e enfrentamento ao feminicídio;
V - divulgação de iniciativas, ações e campanhas de combate ao feminicídio e violência contra a mulher.

SEÇÃO XVII

Dia Estadual da Conquista do Voto Feminino no Brasil


Artigo 28 - Fica instituído o ‘Dia Estadual da Conquista do Voto Feminino no Brasil’, a ser comemorado
anualmente no dia 24 de fevereiro.
Parágrafo único - A data instituída nesta seção fica incluída no Calendário Oficial do Estado.
SEÇÃO XVIII

Dia da Gestante
Artigo 29 - Fica instituído o ‘Dia da Gestante’, a ser comemorado anualmente no dia 15 de agosto.

CAPÍTULO III

Do Combate à Violência contra a Mulher

SEÇÃO I

Da Criação das Delegacias de Polícia de Defesa da Mulher


Artigo 30 - Ficam criadas, na estrutura da Polícia Civil, da Secretaria da Segurança Pública, Delegacias de
Polícia de Defesa da Mulher.
Artigo 31 - Essas Delegacias serão instaladas no âmbito de todas as Delegacias Seccionais de Polícia da
Grande São Paulo, de todas as Delegacias Regionais de Polícia do Interior e em outros locais onde seja
conveniente.
Artigo 32 - A organização, estrutura, atribuições e competência dos órgãos criados por esta lei serão
estabelecidas por decreto.
SEÇÃO II
Da Elaboração de Estatística Sobre a Violência Contra a Mulher
Artigo 33 - Fica obrigado o Poder Executivo a elaborar estatísticas periódicas sobre a violência que atinge a
mulher no Estado de São Paulo.
§ 1º - Deverão ser tabulados todos os dados em que conste qualquer agressão que vitime a mulher, devendo
existir codificação própria e padronizada para todas as Secretarias de Estado.
§ 2º - A periodicidade não poderá ser superior a 12 meses.
§ 3º - A metodologia utilizada deverá seguir um padrão único para a coleta e tabulação dos dados.

SEÇÃO III

Do Banco de Dados Contendo Índices de Violência Praticados Contra a Mulher


Artigo 34 - O Poder Executivo manterá organizado um banco de dados destinado a dar publicidade aos
índices de violência contra a mulher, a fim de instrumentalizar a formulação de políticas de segurança pública
no Estado de São Paulo.
Parágrafo único - Consideram-se violência contra a mulher, para os efeitos desta lei, os delitos
estabelecidos na legislação penal praticados contra a mulher e, em especial, os previstos nos artigos 5º, 6º e
7º da Lei federal nº 11.340, de 7 de agosto de 2006.

SEÇÃO IV

Do Programa de Combate à Violência Contra Mulher


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 601

Artigo 35 - Fica instituído o Programa de Combate à Violência Contra Mulher, com a finalidade de prestar
assistência à saúde física e mental das mulheres vítimas de violência.
Artigo 36 - O programa será executado pela Secretaria da Saúde, em cooperação com o Conselho da
Condição Feminina do Estado de São Paulo, e integrado pelos órgãos e entidades da administração
estadual.
Artigo 37 - Fica criado Grupo de Trabalho com a incumbência de articular as medidas necessárias à
implantação do programa instituído por esta lei.
Parágrafo único - O grupo será integrado por representantes dos órgãos e entidades envolvidos no
programa, designados pelo Governo do Estado.

SEÇÃO V

Do Procedimento de Notificação Compulsória da Violência Contra a Mulher


Artigo 38 - Ficam instituídos o procedimento de Notificação Compulsória de Violência Contra a Mulher
atendida em serviços de urgência e emergência, e a Comissão de Acompanhamento de Violência Contra a
Mulher, na Secretaria da Saúde.
Artigo 39 - Os serviços de saúde, públicos e privados, que prestam atendimento de urgência e emergência,
serão obrigados a notificar, em formulário oficial, todos os casos atendidos e diagnosticados de violência
contra a mulher, tipificados como violência física, sexual ou doméstica.
Artigo 40 - O preenchimento da Notificação Compulsória da Violência Contra a Mulher será feito pelo
profissional de saúde que realizar o atendimento.
Artigo 41 - A disponibilização de dados do Arquivo de Violência Contra a Mulher, de cada serviço de saúde e
o das divisões de epidemiologia da Secretaria da Saúde, deverá obedecer rigorosamente à confidencialidade
dos dados.
Parágrafo único - Os dados a que se refere este artigo só serão disponibilizados para:
1. a pessoa que sofreu a violência, devidamente identificada;
2. autoridades policiais e judiciárias, mediante solicitação oficial;
3. pesquisadores que pretendem realizar investigações, cujo Protocolo de Pesquisa esteja devidamente
autorizado por um Comitê de Ética em Pesquisa, conforme disposto nas Normas de Ética em Pesquisas
vigentes no Brasil, mediante solicitação por escrito e um documento no qual conste que sob nenhuma
hipótese serão divulgados dados que permitam a identificação da pessoa violentada.
Artigo 42 - A instituição de saúde deverá encaminhar, bimestralmente, em um prazo de até 8 (oito) dias úteis
findo o bimestre, à Divisão de Epidemiologia da Secretaria da Saúde, boletim contendo:
I - o número de casos atendidos de violência contra a mulher;
II - o tipo de violência atendida.
Artigo 43 - A Secretaria da Saúde divulgará anualmente estatísticas relativas ao ano anterior.
Artigo 44 - Fica criada no âmbito da Secretaria da Saúde a Comissão de Acompanhamento da Violência
Contra a Mulher objetivando acompanhar a implementação desta lei.
§ 1º - A Comissão reger-se-á por regulamento interno a ser elaborado por seus primeiros integrantes, com
mandato de 2 (dois) anos.
§ 2º - As representações constantes nesta lei para a Comissão de Acompanhamento da Violência Contra a
Mulher serão indicadas pelos respectivos setores, em reunião específica de cada segmento para este fim,
convocada e amplamente divulgada pela Secretaria da Saúde, cuja ata deverá ser arquivada junto à
Comissão.
§ 3º - Caberá à Secretaria da Saúde prover as condições sociais e materiais, incluindo local adequado de
funcionamento e recursos humanos, necessários ao desempenho das funções da Comissão.
Artigo 45 - Os serviços de saúde deverão providenciar a habilitação e a reciclagem de seus recursos
humanos para a prestação de atendimento à violência contra a mulher de maneira adequada e digna, no que
contarão com o apoio técnico e político da Secretaria da Saúde.

SEÇÃO VI

Do Procedimento de Atendimento Especial às Mulheres e Crianças Vítimas de Violência Sexual


Artigo 46 - Fica instituído, no âmbito do Estado, o procedimento de atendimento especial e preferencial às
mulheres e crianças vítimas de violência sexual.
Artigo 47 - O atendimento especial e preferencial consistirá na assistência médico-emergencial e assistência
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 602

médico-legal, que deverão ser prestadas às vítimas no mesmo hospital ou unidade de pronto-atendimento da
rede pública e privada conveniada ao Sistema Único de Saúde - SUS.
Artigo 48 - Fica assegurado às vítimas de violência sexual o direito de realizar os exames médicos periciais
com especialistas do Instituto Médico Legal - IML no estabelecimento hospitalar de atendimento, bem como o
direito de elaborar Boletim de Ocorrência noticiando a violência sofrida.
Artigo 49 - As vítimas de violência sexual terão à disposição psicóloga e assistente social para
acompanhamento psicossocial e assistência jurídica para as devidas providências de responsabilização do
agressor nas unidades de referência.

SEÇÃO VII

Da Campanha de Conscientização e Combate aos Crimes de Violência Praticados Contra a Mulher


Artigo 50 - O Poder Executivo promoverá campanha de conscientização e combate aos crimes de violência
praticados contra a mulher, a ser realizada nos 30 (trinta) dias que antecedem o mês de dezembro.
Artigo 51 - A campanha instituída por esta lei terá a finalidade de prevenir e inibir os crimes de violência
praticados contra a mulher, que frequentemente ocorrem dentro do próprio lar, praticados pelo marido,
companheiro, irmão e outros parentes próximos.
Artigo 52 - A campanha será realizada em órgãos públicos estaduais de qualquer natureza, com prioridade
para estabelecimentos de ensino, hospitais, ambulatórios, centros de saúde, devendo ser também estimulada
a parceria com organizações da sociedade civil para levá-la a outros espaços sociais.
Artigo 53 - A campanha será concretizada por meio de ações, dentre as quais devem ser destacadas:
I - conscientização quanto aos principais fatores que ensejam os crimes de violência praticados contra a
mulher e as formas de minimizá-los e evitá-los;
II - estímulo à população a fim de que denuncie os crimes de violência praticados contra a mulher, com a
divulgação dos canais específicos para esse fim;
III - divulgação das principais punições previstas na legislação para o autor de crime de violência contra a
mulher.

SEÇÃO VIII

Da Propaganda Contra a Violência à Mulher


Artigo 54 - Torna-se obrigatória, no Estado de São Paulo, a veiculação de propaganda contra a violência à
mulher, com menção do Disque-Denúncia ‘180’ e ‘100’, nos telões e equipamentos similares dos shows que
forem realizados em área aberta, com público superior a 1.500 (mil e quinhentas) pessoas.
Artigo 55 - Entende-se por show todo espetáculo teatral ou cinematográfico em que há música, dança e
coreografia, geralmente montado em torno de um cantor ou animador.

SEÇÃO IX

Da Divulgação da Central de Atendimento à Mulher (Disque 180) e do Serviço de Denúncia de Violações


aos Direitos Humanos (Disque 100)
Artigo 56 - Fica obrigatória a divulgação da Central de Atendimento à Mulher (Disque 180) e do Serviço de
Denúncia de Violações aos Direitos Humanos (Disque 100) em estabelecimentos de acesso ao público que
especifica.
Artigo 57 - Devem promover a divulgação os estabelecimentos comerciais e congêneres que, em caráter
permanente, provisório ou eventual, exerçam ao menos uma das seguintes atividades:
I - hotel, motel, pousada e hospedagem;
II - bar, restaurante, lanchonete e similares;
III - eventos e shows;
IV - estação de transporte de massa;
V - salão de beleza, casa de massagem, sauna, academia de ginástica e atividade correlata;
VI - venda de produtos dirigidos ao mercado consumidor
por meio de mercados, feiras e shoppings, independentemente do porte.
Parágrafo único - Enquadram-se na presente lei todos os estabelecimentos comerciais situados à margem
de rodovias.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 603

Artigo 58 - Os estabelecimentos públicos especificados nesta lei deverão afixar placas com as seguintes
frases:
‘VIOLÊNCIA, ABUSO E EXPLORAÇÃO SEXUAL CONTRA A MULHER É CRIME.
DENUNCIE - DISQUE 180.
VIOLAÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS.
NÃO SE CALE! DISQUE 100.’
Parágrafo único - As placas deverão ser afixadas em local de maior trânsito de clientes ou usuários,
devendo ser confeccionadas no formato de 20cm (vinte centímetros) de largura por 15cm (quinze
centímetros) de altura, com texto impresso em letras proporcionais às dimensões da placa, de fácil
compreensão e contraste visual que possibilite visualização nítida.
Artigo 59 - A inobservância ao disposto nesta lei sujeitará o estabelecimento infrator às seguintes sanções:
I - advertência por escrito da autoridade competente;
II - multa em valor a ser fixado em Unidades Fiscais do Estado de São Paulo - UFESPs, podendo ser
agravada em caso de reincidência.

SEÇÃO X

Do Programa Tempo de Despertar


Artigo 60 - O Governo do Estado fica autorizado a instituir o Programa Tempo de Despertar em parceria com
o Poder Judiciário e o Ministério Público estadual.
Artigo 61 - O programa tem por finalidade o trabalho com grupo de autores de violência contra a mulher.
Artigo 62 - O programa terá como objetivo principal prevenir e combater a violência doméstica, reduzindo a
reincidência.
§ 1º - O programa terá por finalidade conscientizar os autores de violência doméstica sobre a situação de
violência contra a mulher.
§ 2º - Os autores de violência doméstica serão encaminhados a grupos de reflexão e discussão sobre o tema,
a fim de desconstituir o aprendizado de dominação e poder sobre a mulher.
Artigo 63 - A periodicidade e a duração do programa serão definidas em conjunto pelos Poderes Executivo e
Judiciário e pelo Ministério Público do Estado.

SEÇÃO XI

Do Programa de Reeducação de Agressor de Violência Doméstica e Familiar - ‘Viva Mulher’


Artigo 64 - Fica instituído o Programa de Reeducação de Agressor de Violência Doméstica e Familiar - ‘VIVA
MULHER’, com o objetivo de reduzir e prevenir a reincidência do agente de violência, na esfera doméstica e
familiar, no crime.
Parágrafo único - O Programa ‘VIVA MULHER’ será executado pelo Governo do Estado em parceria com os
Poderes Judiciário e Legislativo, o Ministério Público e a Defensoria Pública do Estado.
Artigo 65 - Considera-se agressor de violência doméstica e familiar, para efeitos desta lei, em consonância
com o que dispõe a Lei Federal nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 - ‘Lei Maria da Penha’, todo o agente que,
por ação ou omissão, cause sofrimento ou violência física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral:
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com
ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se
consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida,
independentemente de coabitação.
Artigo 66 - Para os fins de aplicação desta lei, entende-se por:
I - violência física: qualquer conduta que ofenda a integridade ou saúde corporal da ofendida;
II - violência psicológica: qualquer conduta que cause dano emocional e diminuição da autoestima da
ofendida, ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento, ou que vise a degradar ou controlar
suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação,
manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização,
exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer ou tro meio que lhe cause prejuízo à saúde
psicológica e à autodeterminação;
III - violência sexual: qualquer conduta que constranja a ofendida a presenciar, a manter ou a participar de
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 604

relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a
comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método
contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação,
chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos
sexuais e reprodutivos;
IV - violência patrimonial: qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de
objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos da
ofendida, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;
V - violência moral: qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria à ofendida.
Artigo 67 - São princípios norteadores do ‘VIVA MULHER’:
I - responsabilização, em seus aspectos legal, cultural e social;
II - igualdade e respeito à diversidade e às questões de gênero;
III - observância à garantia dos direitos universais;
IV - promoção e fortalecimento da cidadania;
V - respeito aos direitos e deveres individuais e coletivos.
Artigo 68 - São diretrizes para a efetivação do ‘VIVA MULHER’:
I - atuação conjunta com o Poder Judiciário, para o acompanhamento das penas restritivas de direitos
aplicadas pelo Juízo competente em relação aos autores da prática de violência doméstica, conforme previsto
no artigo 152, parágrafo único, da Lei federal nº 7.210, de 11 de julho de 1984 - Lei de Execução Penal, e no
artigo 35, V, da Lei federal nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 - ‘Lei Maria da Penha’;
II - instituição de serviços de responsabilização e educação do agressor com atuação por meio de grupos
reflexivos, coordenados por equipes multidisciplinares;
III - autonomia técnica das equipes multidisciplinares em relação à escolha da fundamentação teórica, das
dinâmicas de grupo utilizadas e da ordenação e seleção dos temas a serem abordados;
IV - promoção de atividades educativas e pedagógicas, buscando a conscientização dos agressores quanto à
violência cometida como violação dos direitos humanos das mulheres, a partir de uma abordagem
responsabilizante;
V - fornecimento de informações permanentes sobre o acompanhamento dos agressores ao juízo
competente, por meio de relatórios e documentos técnicos pertinentes;
VI - encaminhamento dos agressores para atendimento psicológico e serviços de saúde mental, quando
necessário;
VII - avaliação e monitoramento permanentes dos serviços prestados;
VIII - formação continuada das equipes multidisciplinares envolvidas no acompanhamento dos agressores.
§ 1º - Os grupos reflexivos poderão acompanhar demandas espontâneas de homens envolvidos em violência
conjugal.
§ 2º - Os grupos reflexivos não realizarão atendimento psicológico e jurídico aos agressores.
§ 3º - O Juízo competente deverá ser informado das ocorrências de contraindicação à inserção ou
permanência de autores de agressão nos grupos reflexivos, sugerindo o encaminhamento para serviços
especializados da rede social.

SEÇÃO XII

Da Campanha Estadual Maria da Penha


Artigo 69 - Fica instituída a ‘Campanha Estadual Maria da Penha’, a ser comemorada anualmente no mês de
março, nas escolas públicas estaduais e particulares, com os seguintes objetivos:
I - contribuir para o conhecimento da comunidade escolar acerca da Lei federal nº 11.340, de 7 de agosto de
2006 - Lei Maria da Penha;
II - impulsionar as reflexões sobre o combate à violência contra a mulher;
III - conscientizar adolescentes, jovens e adultos, estudantes e professores que compõem a comunidade
escolar sobre a importância do respeito aos direitos humanos e sobre a Lei do Feminicídio, prevenindo e
evitando as práticas de violência contra a mulher;
IV - esclarecer sobre a necessidade da efetivação de registros de denúncias dos casos de violência contra a
mulher nos órgãos competentes, onde quer que ela ocorra.
Artigo 70 - Esta campanha poderá ser desenvolvida juntamente às comemorações em menção ao ‘Dia
Internacional da Mulher’.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 605

SEÇÃO XIII

Da Inclusão no Currículo do Ensino Fundamental e Médio de Crítica da Violência Doméstica


Artigo 71 - Fica autorizado o Poder Executivo a estabelecer como conteúdo obrigatório no ensino
fundamental e médio a crítica da violência doméstica e da discriminação de gênero.
§ 1º - A abordagem crítica da violência doméstica deverá tratar prioritariamente da que atinge mulheres,
crianças e adolescentes.
§ 2º - Os temas previstos neste artigo devem ser inseridos de forma transversal nos currículos escolares,
abrangendo todas as disciplinas e áreas do conhecimento.
Artigo 72 - O Poder Público promoverá cursos para capacitar os profissionais da Educação sobre os temas
previstos nesta seção.

CAPÍTULO IV

Da Política Habitacional em Prol da Mulher

SEÇÃO I

Do Programa de Locação Social


Artigo 73 - Fica o Estado de São Paulo autorizado a implantar, por meio dos órgãos e entidades da
Administração Estadual, o Programa de Locação Social, destinado a prover moradias para famílias de baixa
renda.
Artigo 74 - Para a implementação do Programa de Locação Social, os órgãos e entidades da Administração
Estadual poderão:
I - locar imóveis de particulares, na forma da legislação aplicável;
II - propor desapropriações, a serem efetivadas pelo Poder Público, sempre que a situação de emergência o
exigir;
III - outorgar permissão de uso aos beneficiários do Programa de Locação Social, quando se tratar de imóvel
de órgãos ou entidades da Administração Estadual, por prazo determinado.
Artigo 75 - Não se locará imóvel, para os fins desta lei, se o locador não concordar, expressamente, com seu
repasse aos beneficiários do Programa de Locação Social.
Artigo 76 - Será dada preferência para o atendimento no Programa de Locação Social às candidatas que
comprovem:
I - ser mulher arrimo de família;
II - ser mulher, carecendo de atendimento imediato por estar em situação de risco pessoal e social por
ocorrência registrada de violência em razão da qual necessite abandonar a moradia, principalmente após
efetuada a denúncia do agressor, e tendo sido o encaminhamento e o acompanhamento efetivados pelo
Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) ou por outro órgão de referência no
atendimento à mulher.
Artigo 77 - Os órgãos ou entidades da Administração Estadual, responsáveis pelo Programa de Locação
Social, realizarão acompanhamentos periódicos da situação familiar dos beneficiários do programa, cessando
o benefício quando a situação familiar estiver em desacordo com o estabelecido nesta seção.

SEÇÃO II

Da Prioridade da Mulher na Titularidade da Posse ou Propriedade de Imóveis de Programas


Habitacionais
Artigo 78 - Nos programas habitacionais promovidos pelo Governo do Estado, a mulher terá prioridade na
titularidade da posse ou propriedade dos imóveis deles oriundos.
Parágrafo único - Para efeito do disposto nesta lei, consideram-se programas habitacionais todas as ações
da política habitacional do Estado desenvolvidas por meio dos seus braços operacionais, através de recursos
próprios do tesouro ou mediante parceria com a União ou entes privados.
Artigo 79 - Os contratos e registros efetivados no âmbito dos programas habitacionais do Governo do Estado
serão formalizados, prioritariamente, em nome da mulher.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 606

CAPÍTULO V

Da Saúde da Mulher

SEÇÃO I

Da Carteira de Prevenção do Câncer Ginecológico e Mamário


Artigo 80 - Fica instituída, no âmbito da rede estadual de saúde, a Carteira de Prevenção do Câncer
Ginecológico e Mamário.
§ 1º - A Carteira, a ser emitida pelos hospitais, ambulatórios e centros/postos de saúde da rede pública
estadual, deverá conter o registro de realização anual dos exames papanicolau e da mama.
§ 2º - Os exames mencionados no parágrafo anterior poderão ser realizados por profissionais de saúde da
rede pública ou da rede privada, desde que adequadamente treinados.
§ 3º - O registro a que se refere o § 1º deverá conter também a identificação, de forma legível, da unidade de
saúde onde se realizaram os exames.
Artigo 81 - Os hospitais, ambulatórios, centros e postos de saúde integrados ao Sistema Único de Saúde -
SUS deverão solicitar de suas usuárias a apresentação da referida carteira, quando da realização de
consultas, para os fins do § 1º do artigo 80 desta lei.
Parágrafo único - A não apresentação da carteira não implicará recusa de atendimento da paciente.
Artigo 82 - Caberá à Secretaria da Saúde fiscalizar o cumprimento desta lei.

SEÇÃO II

Do Programa de Cirurgia Plástica Reconstrutiva da Mama


Artigo 83 - Fica instituído no âmbito dos hospitais da rede pública estadual de saúde o Programa de Cirurgia
Plástica Reconstrutiva da Mama, destinado às mulheres que sofreram mutilação parcial ou total da mama,
decorrente da utilização de técnicas aplicadas no tratamento do câncer de mama.
Artigo 84 - Caberá ao Poder Executivo, através da regulamentação da presente lei, implantar o Programa de
Cirurgia Plástica Reconstrutiva da Mama, em todas as suas etapas e especificações científicas e ainda:
I - dizer sobre o envolvimento de cada uma das unidades de saúde envolvidas no tratamento do câncer de
mama;
II - estabelecer quais hospitais da rede pública estadual que estão aptos a acolher o programa;
III - estabelecer os critérios e procedimentos relativos à inscrição da mulher interessada e ao prazo para o
seu atendimento;
IV - consignar a possibilidade de escolha, pela mulher mastectomizada, da melhor técnica aplicada ao seu
caso, segundo orientação médica.
Artigo 85 - Poderá o Poder Executivo, mediante convênio com entidades públicas ou privadas de ensino
superior, no âmbito da Medicina, Enfermagem, Ciências Biomédicas e Psicologia, bem como outras
entidades e hospitais públicos ou privados, criar o Centro de Estudos para o Aperfeiçoamento de Técnicas
Cirúrgicas Aplicadas à Reconstituição Mamária, visando ao aperfeiçoamento das técnicas cirúrgicas
existentes, bem como à divulgação dos resultados científicos e práticos, alcançados pelo programa.

SEÇÃO III

Da Informação às Vítimas de Crimes Contra a Liberdade Sexual Sobre o Direito de Tratamento


Preventivo Contra a Contaminação pelo Vírus HIV
Artigo 86 - As Delegacias de Polícia e de Defesa da Mulher ficam obrigadas a informar, no ato do registro de
ocorrência delituosa, às mulheres vítimas de estupro previsto no artigo 213 do Código Penal, ou ao parente
mais próximo, o direito ao tratamento preventivo contra a contaminação pelo vírus HIV, fornecido
gratuitamente pelo Estado.
Parágrafo único - As Delegacias de Polícia e de Defesa da Mulher indicarão e encaminharão as mulheres,
vítimas de crimes contra a liberdade sexual, aos órgãos e entidades públicas de saúde que realizam o
tratamento previsto neste artigo.
Artigo 87 - O tratamento de que trata o artigo 86 é o definido pela Secretaria da Saúde no ‘Programa
Estadual DST/AIDS’, que engloba o fornecimento do coquetel antiaids e a realização de exames para
controlar o tratamento.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 607

Parágrafo único - A Secretaria da Saúde garantirá anonimato às mulheres atendidas, nos termos desta lei,
pelo ‘Programa Estadual DST/AIDS’.

SEÇÃO IV

Da Informação às Vítimas de Estupro Sobre o Direito de Aborto Legal


Artigo 88 - Os servidores das Delegacias de Polícia e de Defesa da Mulher, no ato do registro policial, ficam
obrigados a informar às mulheres vítimas de estupro que, caso venham a engravidar, poderão interromper
legalmente a gravidez, conforme determina o artigo 128 do Código Penal.
Parágrafo único - As delegacias fornecerão, no ato do registro policial, a relação das unidades hospitalares
públicas, com os respectivos endereços, aptas a realizarem a referida interrupção de gravidez.
Artigo 89 - O aborto será realizado por médico e precedido do consentimento da gestante ou, quando
incapaz, de seu representante legal.

SEÇÃO V

Da Cirurgia Plástica pelos Hospitais da Rede Pública


Artigo 90 - Os hospitais e centros de saúde da rede pública estadual, ao receberem mulheres vítimas de
violência, deverão informá-las, no atendimento, acerca da possibilidade de acesso gratuito à cirurgia plástica
reparadora e às providências necessárias para a sua realização, nos casos de lesões ou sequelas da
agressão comprovada.
§ 1º - A mulher vítima de violência que fizer a opção pela cirurgia deverá procurar a unidade que a realize,
portando o boletim de ocorrência relativo à agressão.
§ 2º - O profissional de medicina que indicar a necessidade de realização da cirurgia deverá fazê-lo em
diagnóstico formal expresso, encaminhando-o ao responsável pela unidade de saúde respectiva para a
devida autorização.
§ 3º - Após o diagnóstico formal de que trata o parágrafo anterior, as mulheres vítimas de violência terão a
sua disposição psicólogo e assistente social, que deverão prestar-lhes a assistência devida, no pré e no pós-
operatório.
Artigo 91 - Para a realização do disposto nesta lei, a Secretaria da Saúde adotará, entre outras, as seguintes
ações:
I - instalação de um modelo assistencial que contemple equipes de especialistas em cirurgias plásticas;
II - realização periódica de campanha de orientação e publicidade institucional, com produção de material
didático a ser distribuído para a população alvo;
III - distribuição gratuita de produtos farmacológicos durante o pré e o pós-operatório;
IV - encaminhamento para clínica especializada dos casos que necessitem de complementação diagnóstica
ou tratamento;
V - controle estatístico dos casos de atendimento.

SEÇÃO VI

Do Atendimento Especializado às Mulheres Acometidas de Tensão Pré-Menstrual (TPM)


Artigo 92 - Fica assegurado o atendimento médico-ambulatorial especializado às mulheres acometidas de
tensão pré--menstrual (TPM), no Estado.
Parágrafo único - O atendimento consiste na orientação sobre os sintomas da tensão pré-menstrual,
consultas, palestras e tratamentos.
Artigo 93 - O acompanhamento periódico preventivo será feito sem prejuízo de outras iniciativas da
Secretaria da Saúde.

SEÇÃO VII

Da Comunicação de Óbitos de Mulheres Durante a Gravidez


Artigo 94 - Os médicos, hospitais, prontos-socorros, casas de saúde e demais instituições e
estabelecimentos que prestam atendimento médico-hospitalar ficam obrigados a comunicar à Secretaria da
Saúde os óbitos de mulheres:
I - durante a gravidez;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 608

II - durante o procedimento de parto ou a ele relacionados;


III - ocorridos após a gravidez, mas cuja causa esteja a ela relacionada.
Artigo 95 - As informações fornecidas à Secretaria da Saúde serão organizadas e processadas em banco de
dados próprio, com o objetivo de possibilitar a formulação de conclusões e diagnósticos a serem utilizados
em ações de medicina preventiva.
Artigo 96 - Sem prejuízo de outras penalidades, o descumprimento do disposto nesta seção acarretará aos
infratores a aplicação de multa no valor de 200 (duzentas) Unidades Fiscais do Estado de São Paulo -
UFESPs.

SEÇÃO VIII

Do Programa de Orientação em Saúde e Atendimento Social à Gravidez Precoce e Juvenil


Artigo 97 - Fica o Poder Executivo autorizado a instituir, no Estado, em consonância com a Lei nº 11.972, de
25 de agosto de 2005, o Programa de Orientação em Saúde e Atendimento Social à Gravidez Precoce e
Juvenil, destinado a crianças, adolescentes e jovens gestantes.
§ 1º - Considera-se, para os efeitos desta lei:
1. criança, a menina até os 12 (doze) anos de idade incompletos;
2. adolescente, aquela entre 12 (doze) e 18 (dezoito) anos de idade;
3. jovem, a mulher pertencente à faixa etária de 19 (dezenove) a 21 (vinte e um) anos de idade.
§ 2º - O programa de que trata esta lei tem por objetivo:
1. dar orientação sobre higiene e saúde da mulher, gravidez, parto, exames pré-natais, puericultura, doenças
infantis, direitos do nascituro e do recém-nascido, registro civil de nascimento e outros assuntos de interesse
às gestantes e seus familiares concomitantemente ao acompanhamento médico regular nas unidades do
Sistema Único de Saúde - SUS;
2. promover o encaminhamento social das gestantes e mães atendidas aos órgãos e às entidades coligadas
ao programa, para o suprimento de necessidades básicas de alimentação, moradia, educação, instrução
profissional, emprego e outros;
3. manter cadastro obrigatório de crianças, adolescentes e jovens em estado de gestação, que utilizem o
atendimento do SUS em unidades hospitalares estaduais, municipais ou conveniadas, mediante o
arquivamento de prontuários individualizados em que constem seus dados pessoais, econômicos, sua
escolaridade, condições de moradia e de saúde física e mental, para alimentação de um banco de dados que
auxilie a realização de estudos estatísticos e o encaminhamento social de gestantes a projetos voltados a
educação, instrução profissional, assistência social e outros;
4. implantar serviço multimídia de comunicação entre os diversos órgãos públicos e entidades privadas
participantes do programa, nas áreas de educação, saúde e promoção social, destinado à prestação de
informações ao público sobre a execução do programa e seus resultados;
5. promover discussão e ações multilaterais entre os órgãos da Administração participantes do programa,
além de entidades privadas coligadas, para os fins desta lei.
Artigo 98 - As crianças, adolescentes e jovens atendidas pelo programa de que trata esta seção serão
encaminhadas, oportunamente, a projetos financiados pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da
Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação - FUNDEB, de modo a se lhes assegurar
proteção e educação.

SEÇÃO IX

Do Centro de Apoio à Gestante que tenha Gravidez Indesejada


Artigo 99 - Fica o Poder Executivo autorizado a instituir, na Secretaria de Desenvolvimento Social, o Centro
de Apoio à Gestante que tenha gravidez indesejada.
Artigo 100 - O ‘Centro de Apoio à Gestante’ tem por objetivo acolher, em local apropriado, a futura mãe cuja
gravidez seja indesejada, propiciando-lhe toda a assistência material, pedagógica, psicológica e médica, de
modo a garantir a proteção e assegurar a qualidade de vida da mãe e do filho.
Artigo 101 - O período de amparo efetivo à gestante abrangida pela presente lei estender-se-á até completar
o sexto mês após o nascimento da criança.
Parágrafo único - Durante o período, a gestante receberá toda a orientação necessária sobre as tarefas e
atividades comumente realizadas no lar.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 609

Artigo 102 - O Poder Executivo poderá firmar convênios com órgãos federais, municipais e entidades
representativas da sociedade civil de assistência médica e social, para o cumprimento dos objetivos desta lei.

SEÇÃO X

Da Obrigatoriedade da Presença de Profissional Habilitado em Reanimação Neonatal na Sala de Parto


Artigo 103 - É obrigatória em hospitais, clínicas e outras unidades integrantes do Sistema Único de Saúde -
SUS, a presença de profissional habilitado em reanimação neonatal na sala de parto, assegurado o direito de
assistência à mulher e ao recém-nascido, no momento do parto.
Artigo 104 - O não cumprimento da obrigatoriedade instituída nesta seção sujeitará os infratores às seguintes
penalidades:
I - advertência, na primeira ocorrência;
II - se estabelecimento privado, multa de 100 UFESPs (cem Unidades Fiscais do Estado de São Paulo) na
próxima, dobrada em cada outra reincidência, até o limite de 2.000 (duas mil) UFESPs;
III - se órgão público, afastamento do dirigente e aplicação das penalidades previstas na legislação.
Parágrafo único - Competirá ao órgão gestor da saúde da localidade em que estiver situado o
estabelecimento a aplicação das penalidades de que trata esta seção, conforme estabelecer a legislação
própria, a qual disporá, ainda, sobre a aplicação dos recursos dela decorrentes.

SEÇÃO XI

Do Programa de Saúde da Mulher Detenta


Artigo 105 - Fica criado o Programa de Saúde da Mulher Detenta.
Artigo 106 - Serão beneficiadas pelo programa as mulheres que cumprem pena ou aguardam julgamento no
sistema penitenciário do Estado.
Artigo 107 - O programa visa a promover a atenção integral à saúde da população prisional feminina no
âmbito do Estado.
Artigo 108 - São objetivos do programa:
I - aumentar a cobertura, a concentração e a qualidade da assistência pré-natal;
II - melhorar a assistência ao parto e ao puerpério;
III - dar acesso às ações de planejamento familiar, garantindo também o acesso aos métodos
anticoncepcionais reversíveis;
IV - diminuir os índices de mortalidade materna;
V - aumentar os índices de aleitamento materno;
VI - ampliar as ações de detecção precoce e controle do câncer do colo de útero e da mama, articulando um
sistema de referência para o tratamento e o acompanhamento da mulher;
VII - estabelecer parcerias com outros setores para o controle das doenças sexualmente transmissíveis (DST)
e de outras patologias prevalentes no grupo, principalmente nas ações dirigidas às gestantes, visando à
prevenção da transmissão vertical do vírus da imunodeficiência humana (HIV) e da sífilis congênita e também
à erradicação do tétano neonatal.
Artigo 109 - O programa será aplicado nas unidades de saúde do Estado, nas entidades conveniadas ou em
parceria com a municipalidade.

SEÇÃO XII

Do Estudo Sobre as Principais Doenças em Mulheres e Homens


Artigo 110 - Fica o Poder Executivo autorizado a incluir no estudo da disciplina de clínica médica em todas
as escolas de medicina estaduais, como USP, UNESP, UNICAMP, FAMERP, FAMEMA e outras que forem
criadas, um capítulo especial sobre as principais doenças que se apresentam de forma diferente em homens
e mulheres.

SEÇÃO XIII

Do Programa Rede de Proteção à Mãe Paulista


Artigo 111 - Fica autorizada a instituição do Programa ‘Rede de Proteção à Mãe Paulista’.
§ 1º - O programa objetiva promover a melhoria da qualidade da assistência obstétrica e neonatal, mediante
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 610

ações que visem à assistência para a saúde da gestante e do recém--nascido.


§ 2º - Poderá o Estado celebrar convênios com os municípios, objetivando a articulação, a integração e o
monitoramento dos serviços de saúde ambulatorial e hospitalar para a consecução do programa.
Artigo 112 - Para a execução do programa de que trata o artigo 111 desta lei, o Poder Executivo fica
autorizado a desenvolver ações que visem a:
I - prestar atendimento de qualidade à gestante e ao recém--nascido, a partir do pré-natal;
II - priorizar a internação para o parto, devendo a gestante ser informada, antecipadamente, em qual unidade
hospitalar este será realizado;
III - propiciar transporte público gratuito para a gestante durante a gravidez e durante o primeiro ano de vida
da criança para acesso aos serviços de saúde;
IV - conceder à gestante, na alta hospitalar, um enxoval para o recém-nascido;
V - organizar e regular o sistema de assistência obstétrica e neonatal no Estado, facultada a instituição de
uma Central de Regulação;
VI - possibilitar o acesso a informações e meios para o planejamento familiar;
VII - implantar um fluxo regulatório da ‘Rede de Proteção à Mãe Paulista’, estabelecendo referências para a
assistência ambulatorial e hospitalar da gestante;
VIII - apoiar os municípios no credenciamento de serviços de saúde, para atendimento do Sistema Único de
Saúde - SUS, com o objetivo de garantir a realização dos exames básicos e especializados, bem como o
acesso aos exames de seguimento do pré-natal e às unidades hospitalares para a realização do parto;
IX - estabelecer termo de cooperação técnica com instituições universitárias e sociedades de especialidades
médicas.

SEÇÃO XIV

Do Projeto Mãe Cidadã - Leite Materno


Artigo 113 - Fica criado, no âmbito das maternidades e estabelecimentos hospitalares congêneres da rede
pública do Estado de São Paulo, o Projeto ‘Mãe Cidadã - Leite Materno: um direito, um dever’, destinado a
proporcionar às gestantes um melhor pré--natal, prevenindo a morbimortalidade materna e infantil.
Parágrafo único - O disposto no nesta seção aplica-se a hospitais e demais órgãos de saúde
subvencionados pelo Estado.
Artigo 114 - O Projeto ‘Mãe Cidadã’ consistirá:
I - na capacitação dos profissionais de nível médio do Programa de Saúde da Família - PSF sobre a evolução
e o acompanhamento da gestação e a importância do aleitamento materno;
II - na ampliação do conhecimento das gestantes sobre a evolução normal da gestação, aumento da
autoestima e auxílio na evolução do parto.
SEÇÃO XV

Da Realização de Exame Sorológico de Pré-Natal em Mulheres Grávidas


Artigo 115 - Ficam as Unidades Básicas de Saúde da rede pública estadual e estabelecimentos hospitalares
congêneres do Estado obrigados a realizar, gratuitamente, exame sorológico de pré-natal para o diagnóstico
do vírus da AIDS (HIV), da hepatite B e C (HBV e HCV), de leucemia, linfoma e alterações neurológicas
(HTLV 1 e 2), em todas as gestantes com histórico clínico que indique a possibilidade de contaminação.
§1º - Para efeito desta lei considerar-se-á gestante com histórico clínico as:
1 - usuárias de drogas;
2 - com múltiplos parceiros;
3 - com histórico de doença sexualmente transmissível - DST;
4 - com histórico de transfusão de sangue.
§2º - O disposto neste artigo aplica-se a hospitais e demais órgãos de saúde subvencionados pelo Estado.
Artigo 116 - A inobservância ao disposto no artigo 115 acarretará à Unidade Básica de Saúde da rede
pública estadual e ao estabelecimento hospitalar infrator as seguintes penalidades:
I - na primeira infração constatada: advertência;
II - na reincidência: multa no valor de 12 (doze) UFESPs, equivalente a cada exame não realizado;
III - persistindo a infração: será descredenciado o serviço de saúde, sem prejuízo da cominação anterior.
Artigo 117 - O Estado fica autorizado a firmar convênio com entidades públicas e particulares a fim de dar
cumprimento ao estabelecido por esta lei.
Artigo 118 - Compete à Secretaria da Saúde a fiscalização do cumprimento da exigência desta lei.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 611

SEÇÃO XVI

Dos Exames Pré-Natais


Artigo 119 - É obrigatório o oferecimento, para as gestantes, de testes para a detecção do vírus HIV e da
sífilis em todo exame pré-natal realizado pelo serviço de saúde pública ou privada, no Estado de São Paulo.
Parágrafo único - A aceitação da realização dos testes pela gestante deverá ocorrer de forma livre,
consciente, esclarecida e com total garantia de sigilo dos resultados.
Artigo 120 - Nos exames pré-natais realizados por todas as unidades de saúde do Estado de São Paulo
deverá constar, também, a eletroforese de hemoglobinas sanguíneas.
§ 1º - No caso do resultado do exame apontar a existência da anemia falciforme, a gestante deverá ser
orientada sobre os métodos de controle dos efeitos da anemia.
§ 2º - Os resultados positivos de anemia falciforme deverão ser registrados e centralizados no órgão estadual
competente.
Artigo 121 - O Estado de São Paulo deverá divulgar periodicamente, em campanha educativa, as causas e
os métodos de controle de anemia falciforme para a população em geral.

SEÇÃO XVII

Da Permanência da Mãe nos Internamentos e Hospitais


Artigo 122 - Cumpridas as exigências desta lei, é assegurada, nos termos do inciso VII do Artigo 278 da
Constituição do Estado, a permanência da mãe nos internamentos de crianças com até 12 (doze) anos de
idade nos hospitais vinculados aos órgãos da Administração Direta e Indireta do Estado.
Parágrafo único - Na falta da mãe, é permitida a substituição por outra pessoa, preferivelmente da família,
quando perceptível a transmissão de valores de níveis afetivo, cognitivo e físico, considerados de
fundamental importância à recuperação da criança internada.
Artigo 123 - Os hospitais a que se refere o artigo 122 deverão contar, obrigatoriamente, com:
I - restaurante ou refeitório com capacidade suficiente para atender às mães das crianças internadas;
II - banheiro ou outro local com aparelhagem e instalações para higienização diária.
Parágrafo único - Os estabelecimentos referidos nesta seção deverão fornecer, também, refeição separada
para as mães das crianças internadas, a fim de prevenir eventuais riscos de contaminação ou de ser
ministrada ao internado alimentação em desacordo com as prescrições médicas.
Artigo 124 - Os órgãos vinculados ao SUS assegurarão aos estabelecimentos de que trata o artigo 122 as
condições necessárias ao cumprimento das disposições da presente lei.

SEÇÃO XVIII

Do Atendimento Prioritário à Gestante


Artigo 125 - O direito à qualidade do serviço exige dos agentes públicos e prestadores de serviço público
atendimento por ordem de chegada, assegurada prioridade à gestante.
Artigo 126 - Os órgãos da Administração Estadual Direta, Indireta, Fundacional e Autárquica ficam obrigados
a instituir, no âmbito de suas repartições, setor especial que priorize o atendimento às gestantes.
Parágrafo único - O disposto neste artigo será regulamento por decreto do Poder Executivo.

SEÇÃO XIX

Do Direito de Acompanhante à Parturiente


Artigo 127 - Ficam os hospitais públicos e os privados conveniados ao Sistema Único de Saúde obrigados a
informar ao cidadão sobre o direito à presença de um acompanhante durante todo o período de trabalho de
parto, parto e pós-parto imediato, por meio dos seguintes dizeres: ‘É DIREITO DA PARTURIENTE TER UM
ACOMPANHANTE NO MOMENTO DO TRABALHO DE PARTO, PARTO E PÓS-PARTO IMEDIATO,
DEVENDO O ACOMPANHANTE OBEDECER AOS PROCEDIMENTOS REGULAMENTARES ADOTADOS
PELA UNIDADE HOSPITALAR’.
Artigo 128 - Os dizeres previstos no artigo anterior deverão estar em local de fácil visualização.

SEÇÃO XX
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 612

Da Realização de Exame de Cardiotocografia


Artigo 129 - As unidades de saúde públicas e privadas do Estado de São Paulo ficam autorizadas a realizar
a cardiotocografia, como exame de rotina, no final da gestação e durante o trabalho de parto, para avaliar o
bem-estar materno-fetal.

SEÇÃO XXI

Da Prestação de Assistência Especial a Parturientes


Artigo 130 - As maternidades e estabelecimentos hospitalares congêneres prestarão assistência especial a
parturientes cujos filhos recém-nascidos apresentem qualquer tipo de deficiência ou patologia que exija
tratamento continuado, constatada durante o período de internação para o parto.
Parágrafo único - Entende-se por assistência especial, para os efeitos do disposto nesta seção, a prestação
de informações por escrito à parturiente ou a quem a represente, sobre os cuidados a serem tomados com o
recém-nascido por conta de sua deficiência ou patologia, bem como o fornecimento de listagem de
instituições, públicas e privadas, especializadas na assistência a portadores dessa deficiência ou patologia
específica.
Artigo 131 - Igual conduta deverá ser adotada pelos médicos pediatras em atividade no Estado quando
constatarem deficiências ou patologias nas crianças por eles atendidas.

SEÇÃO XXII

Do Direito ao Parto Humanizado


Artigo 132 - Toda gestante tem direito a receber assistência humanizada durante o parto nos
estabelecimentos públicos de saúde do Estado.
Artigo 133 - Para os efeitos do disposto nesta seção, ter-se-á por parto humanizado, ou assistência
humanizada ao parto, o atendimento que:
I - não comprometer a segurança do processo, nem a saúde da parturiente ou do recém-nascido;
II - só adotar rotinas e procedimentos cuja extensão e conteúdo tenham sido objeto de revisão e avaliação
científica por parte da Organização Mundial da Saúde - OMS ou de outras instituições de excelência
reconhecida;
III - garantir à gestante o direito de optar pelos procedimentos eletivos que, resguardada a segurança do
parto, lhe propiciem maior conforto e bem-estar, incluindo procedimentos médicos para alívio da dor.
Artigo 134 - São princípios do parto humanizado ou da assistência humanizada durante o parto:
I - a harmonização entre segurança e bem-estar da gestante ou parturiente, assim como do nascituro;
II - a mínima interferência por parte do médico;
III - a preferência pela utilização dos métodos menos invasivos e mais naturais;
IV - a oportunidade de escolha dos métodos natais por parte
da parturiente, sempre que não implicar risco para sua segurança ou do nascituro;
V - o fornecimento de informação à gestante ou parturiente, assim como ao pai sempre que possível, dos
métodos e procedimentos eletivos.
Artigo 135 - Diagnosticada a gravidez, a gestante terá direito à elaboração de um Plano Individual de Parto,
no qual deverão ser indicados:
I - o estabelecimento onde será prestada a assistência pré-natal, nos termos da lei;
II - a equipe responsável pela assistência pré-natal;
III - o estabelecimento hospitalar onde o parto será preferencialmente efetuado;
IV - a equipe responsável, no plantão, pelo parto;
V - as rotinas e procedimentos eletivos de assistência ao parto pelos quais a gestante fizer opção.
Artigo 136 - A elaboração do Plano Individual de Parto deverá ser precedida de avaliação médica da
gestante, na qual serão identificados os fatores de risco da gravidez, reavaliados a cada contato da gestante
com o sistema de saúde durante a assistência pré-natal, inclusive quando do atendimento preliminar ao
trabalho de parto.
Artigo 137 - No Plano Individual de Parto a gestante manifestará sua opção sobre:
I - a presença, durante todo o processo ou em parte dele, de um acompanhante livremente escolhido pela
gestante;
II - a presença de acompanhante nas duas últimas consultas, nos termos da lei;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 613

III - a utilização de métodos não farmacológicos para alívio da dor;


IV - a administração de medicação para alívio da dor;
V - a administração de anestesia peridural ou raquidiana;
VI - o modo como serão monitorados os batimentos cardíacos fetais.
Parágrafo único - Na hipótese de risco à saúde da gestante ou do nascituro, o médico responsável poderá
restringir as opções de que trata este artigo.
Artigo 138 - Durante a elaboração do Plano Individual de Parto, a gestante deverá ser assistida por um
médico-obstetra, que deverá esclarecê-la de forma clara, precisa e objetiva sobre as implicações de cada
uma das suas disposições de vontade.
Artigo 139 - Toda gestante atendida pelo Sistema Único de Saúde - SUS no Estado terá direito a ser
informada, de forma clara, precisa e objetiva, sobre todas as rotinas e procedimentos eletivos de assistência
ao parto, assim como as implicações de cada um deles para o bem-estar físico e emocional da gestante e do
recém-nascido.
Artigo 140 - As disposições de vontade constantes do Plano Individual de Parto só poderão ser contrariadas
quando assim o exigirem a segurança do parto ou a saúde da mãe ou do recém-nascido.
Artigo 141 - A Administração Estadual deverá publicar, periodicamente, protocolos descrevendo as rotinas e
os procedimentos de assistência ao parto, descritos de modo conciso, claro e objetivo.
Parágrafo único - Os protocolos tratados neste artigo serão informados a todos os médicos, enfermeiros e
demais funcionários dos estabelecimentos habilitados pelo SUS no Estado para a realização de partos e ao
atendimento à gestante, assim como às escolas que mantenham cursos de medicina, enfermagem ou
administração hospitalar.
Artigo 142 - A Administração Estadual publicará periodicamente dados estatísticos atualizados sobre as
modalidades de parto e os procedimentos adotados por opção da gestante.
Artigo 143 - Será objeto de justificação por escrito, firmada pelo chefe da equipe responsável pelo parto, a
adoção de qualquer dos procedimentos que os protocolos mencionados nesta seção classifiquem como:
I - desnecessários ou prejudiciais à saúde da gestante ou parturiente ou ao nascituro;
II - de eficácia carente de evidência científica;
III - suscetíveis de causar dano quando aplicados de forma generalizada ou rotineira.
§ 1º - A justificação de que trata este artigo será averbada ao prontuário médico após a entrega de cópia à
gestante ou ao seu cônjuge, companheiro ou parente.
§ 2º - Ressalvada disposição legal expressa em contrário, ficam sujeitas à justificação de que trata este
artigo:
1 - a administração de enemas;
2 - a administração de ocitocina, a fim de acelerar o trabalho de parto;
3 - os esforços de puxo prolongados e dirigidos durante processo expulsivo;
4 - a amniotomia;
5 - a episiotomia, quando indicada.
Artigo 144 - A equipe responsável pelo parto deverá:
I - utilizar materiais descartáveis ou realizar desinfecção apropriada de materiais reutilizáveis;
II - utilizar luvas no exame vaginal, durante o nascimento do bebê e na dequitação da placenta;
III - esterilizar adequadamente o corte do cordão;
IV - examinar rotineiramente a placenta e as membranas;
V - monitorar cuidadosamente o progresso do trabalho de parto, fazendo uso do partograma recomendado
pela OMS;
VI - cuidar para que o recém-nascido não seja vítima de hipotermia.
§ 1º - Ressalvada a prescrição médica em contrário, durante o trabalho de parto será permitido à parturiente:
1 - manter liberdade de movimento durante o trabalho de parto;
2 - escolher a posição física que lhe pareça mais confortável durante o trabalho de parto;
3 - ingerir líquidos e alimentos leves.
§ 2º - Ressalvada prescrição médica em contrário, será favorecido o contato físico precoce entre a mãe e o
recém-nascido após o nascimento, especialmente para fins de amamentação.

SEÇÃO XXIII

Do Direito ao Aleitamento Materno


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 614

Artigo 145 - Fica assegurado à criança o direito ao aleitamento materno nos estabelecimentos de uso
coletivo, públicos ou privados.
Parágrafo único - Independentemente da existência de áreas segregadas para o aleitamento, a
amamentação é o ato livre e discricionário entre mãe e filho.
Artigo 146 - A infração ao disposto nesta lei acarreta ao infrator a aplicação de multa no valor de 24 (vinte e
quatro) Unidades Fiscais do Estado de São Paulo - UFESPs, duplicado na reincidência.

SEÇÃO XXIV

Da Instalação de Assentos para Gestantes


Artigo 147 - Fica o Poder Executivo obrigado a instalar assentos para gestantes nos terminais de transportes
coletivos rodoviários intermunicipais, do Metrô e estações de trens.
Parágrafo único - A quantidade de assentos será determinada pela Secretaria de Logística e Transportes e
pela Secretaria dos Transportes Metropolitanos.

CAPÍTULO VI

Do Combate à Discriminação

SEÇÃO I

Do Conselho Estadual da Condição Feminina


Artigo 148 - O Conselho Estadual da Condição Feminina - CECF, tem as seguintes atribuições:
I - formular diretrizes e promover, em todos os níveis da Administração Direta e Indireta, atividades que visem
à defesa dos direitos da mulher, à eliminação das discriminações que a atingem, bem como à sua plena
integração na vida socioeconômica e político-cultural;
II - assessorar o Poder Executivo, emitindo pareceres e acompanhando a elaboração de programas de
Governo, nos âmbitos federal, estadual e municipal, em questões relativas à mulher, com o objetivo de
defender seus direitos e interesses;
III - desenvolver estudos, debates e pesquisas sobre a problemática da mulher;
IV - sugerir ao Governador, à Assembleia Legislativa do Estado e ao Congresso Nacional, a elaboração de
projetos de lei ou outras iniciativas que visem a assegurar ou a ampliar os direitos da mulher e a eliminar da
legislação disposições discriminatórias;
V - fiscalizar e tomar providências para o cumprimento da legislação favorável aos direitos da mulher;
VI - desenvolver projetos que promovam a participação da mulher em todos os níveis de atividades;
VII - estudar os problemas, receber sugestões da sociedade e opinar sobre as denúncias que lhe sejam
encaminhadas;
VIII - apoiar realizações concernentes à mulher e promover entendimentos e intercâmbio com organizações
nacionais e internacionais afins;
IX - elaborar o seu regimento interno.
Artigo 149 - O Conselho Estadual da Condição Feminina será composto de 32 (trinta e dois) membros,
designados pelo Governador do Estado, sendo:
I - 21 (vinte e uma) mulheres representativas da sociedade civil;
II - 10 (dez) mulheres representantes da área social das Secretarias de Estado;III - 1 (uma) representante do
Fundo Social de Solidariedade do Estado.
§ 1º - A designação das Conselheiras de que trata o inciso I deste artigo deverá considerar nomes de
mulheres de comprovada atuação na defesa dos direitos da mulher, após consultas aos respectivos
movimentos.
§ 2º - As Secretarias de Estado de que trata o inciso II deste artigo serão definidas mediante decreto.
§ 3º - As Conselheiras de que tratam os incisos II e III deste artigo serão indicadas, respectivamente, pelos
Secretários de Estado e pelo Presidente do Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo, dentre
mulheres de comprovada atuação na defesa dos direitos da mulher.
Artigo 150 - As funções de membro do Conselho não serão remuneradas, mas consideradas como de
serviço público relevante.
Artigo 151 - O mandato dos membros do Conselho será de 4 (quatro) anos.
Artigo 152 - A Presidenta do Conselho Estadual da Condição Feminina, escolhida entre os seus membros,
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 615

será designada pelo Governador do Estado.


Artigo 153 - Outras normas de organização do Conselho Estadual da Condição Feminina serão definidas em
decreto.

SEÇÃO II

Da Vedação de Qualquer Forma de Discriminação


Artigo 154 - É vedada no Estado de São Paulo qualquer forma de discriminação contra a mulher.
Artigo 155 - Constitui discriminação contra a mulher:
I - impedir, dificultar, obstar ou recusar a livre locomoção em estabelecimentos da Administração Direta ou
Indireta e das concessionárias de serviços públicos;
II - impedir, dificultar, obstar ou restringir o acesso às dependências de bares, restaurantes, hotéis, cinemas,
teatros, clubes, centros comerciais e similares;
III - fazer exigências específicas para a obtenção ou manutenção do emprego;
IV - induzir ou incitar à prática de atos discriminatórios;
V - veicular pelos meios de comunicação de massa, mídia eletrônica ou publicação de qualquer natureza a
discriminação ou o preconceito;
VI - praticar qualquer ato relacionado à condição pessoal que cause constrangimento;
VII - ofender a honra ou a integridade física.
Artigo 156 - O descumprimento desta lei acarretará ao infrator a pena de multa.
Parágrafo único - A multa, a ser aplicada na primeira infração, corresponderá ao valor monetário equivalente
a 500 (quinhentas) Unidades Fiscais do Estado de São Paulo - UFESPs.

SEÇÃO III

Da Discriminação no Acesso aos Elevadores


Artigo 157 - Fica vedada qualquer forma de discriminação contra a mulher no acesso aos elevadores de
todos os edifícios públicos ou particulares, comerciais, industriais e residenciais multifamiliares existentes no
Estado de São Paulo.
Artigo 158 - Fica estabelecido que, para maior conforto, segurança e igualdade entre os usuários, o elevador
social é o meio normal de transporte de pessoas que utilizem as dependências dos edifícios,
independentemente do estatuto pelo qual o fazem e desde que não estejam deslocando cargas, para as
quais podem ser utilizados os elevadores especiais.
Artigo 159 - Para garantir o disposto nesta seção, fica determinada a obrigatoriedade da colocação de avisos
no interior dos edifícios, a fim de se assegurar o conhecimento da presente lei.
§ 1º - Os avisos de que trata o ‘caput’ deste artigo devem configurar-se em forma de cartaz, placa ou
plaqueta.
§ 2º - Fica o responsável pelo edifício, administrador ou síndico, conforme for o caso, obrigado a colocar na
entrada do edifício e de forma bem visível o aviso de que trata o ‘caput’ deste artigo.
Artigo 160 - Recomenda-se ao Poder Estadual desenvolver ações de cunho educativo e de combate à
discriminação da mulher nos serviços públicos e demais atividades exercidas no Estado.

SEÇÃO IV

Da Preferência no Programa Emergencial de Auxílio-Desemprego


Artigo 161 - No ‘Programa Emergencial de Auxílio-Desemprego’ de que tratam a Lei n° 10.321, de 8 de junho
de 1999, e legislação posterior, na hipótese do número de alistamento superar o de vagas, por município, a
preferência para a participação no programa será definida mediante a aplicação, pela ordem, dos seguintes
critérios:
I - maiores encargos familiares;
II - mulheres arrimo de família;
III - maior tempo de desemprego;
IV - mais idade.
CAPÍTULO VII

Disposições Finais
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 616

Artigo 162 - As despesas decorrentes da execução desta lei correrão à conta de dotações orçamentárias
próprias.
Artigo 163 - Ulterior disposição regulamentar desta lei poderá definir o detalhamento técnico de sua
execução.
Artigo 164 - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Artigo 165 - Ficam formalmente revogadas por consolidação, sem modificação do alcance nem interrupção
da força normativa, as seguintes leis:
I - Lei nº 10.346, de 27 de dezembro de 1968;
II - Lei nº 4.565, de 18 de abril de 1985;
III - Lei nº 5.447, de 19 de dezembro de 1986;
IV - Lei nº 5.467, de 24 de dezembro de 1986;
V - Lei nº 5.718, de 05 de junho de 1987;
VI - Lei nº 5.875, de 29 de outubro de 1987;
VII - Lei nº 6.903, de 26 de junho de 1990;
VIII - Lei nº 8.893, de 12 de setembro de 1994;
IX - Lei nº 9.144, de 09 de março de 1995;
X - Lei nº 9.700, de 04 de junho de 1997;
XI - Lei nº 9.918, de 16 de março de 1998;
XII - Lei nº 10.079, de 01 de setembro de 1998;
XIII - Lei nº 10.291, de 07 de abril de 1999;
XIV - Lei nº 10.362, de 02 de setembro de 1999;
XV - Lei nº 10.449, de 20 de dezembro de 1999;
XVI - Lei nº 10.768, de 19 de fevereiro de 2001;
XVII - Lei nº 10.822, de 22 de junho de 2001;
XVIII - Lei nº 10.920, de 11 de outubro de 2001;
XIX - Lei nº 10.940, de 25 de outubro de 2001;
XX - Lei nº 11.245, de 04 de novembro de 2002;
XXI - Lei nº 11.386, de 27 de maio de 2003;
XXII - Lei nº 11.757, de 01 de julho de 2004;
XXIII - Lei nº 11.973, de 25 de agosto de 2005;
XXIV - Lei nº 12.146, de 09 de dezembro de 2005;
XXV - Lei nº 12.251, de 09 de fevereiro de 2006;
XXVI - Lei nº 12.280, de 22 de fevereiro de 2006;
XXVII - Lei nº 12.302, de 29 de março de 2006;
XXVIII - Lei nº 12.732, de 11 de outubro de 2007;
XXIX - Lei nº 13.069, de 12 de junho de 2008;
XXX - Lei nº 13.813, de 13 de novembro de 2009;
XXXI - Lei nº 13.454, de 13 de março de 2009;
XXXII - Lei nº 14.544, de 14 de setembro de 2011;
XXXIII - Lei nº 14.545, de 14 de setembro de 2011;
XXXIV - Lei nº 14.567, de 04 de outubro de 2011;
XXXV - Lei nº 14.686, de 29 de dezembro de 2011;
XXXVI - Lei nº 14.746, de 17 de abril de 2012;
XXXVII - Lei nº 14.832, de 19 de julho de 2012;
XXXVIII - Lei nº 14.950, de 06 de fevereiro de 2013;
XXXIX - Lei nº 15.098, de 24 de julho de 2013;
XL - Lei nº 15.131, de 01 de outubro de 2013;
XLI - Lei nº 15.347, de 14 de março de 2014;
XLII - Lei nº 15.458, de 18 de junho de 2014;
XLIII - Lei nº 15.517, de 16 de julho de 2014;
XLIV - Lei nº 15.562, de 09 de setembro de 2014;
XLV - Lei nº 15.759, de 25 de março de 2015;
XLVI - Lei nº 16.047, de 04 de dezembro de 2015;
XLVII - Lei nº 16.138, de 09 de março de 2016;
XLVIII - Lei nº 16.317, de 18 de novembro de 2016;
XLIX - Lei nº 16.634, de 05 de janeiro de 2018;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 617

L - Lei nº 16.659, de 12 de janeiro de 2018;


LI - Lei nº 16.754, de 07 de junho de 2018;
LII - Lei nº 16.767, de 12 de junho de 2018;
LIII - Lei nº 16.792, de 12 de julho de 2018;
LIV - Lei nº 16.926, de 16 de janeiro de 2019;
LV - Lei nº 17.239, de 03 de janeiro de 2020.
Palácio dos Bandeirantes, 14 de outubro de 2021
JOÃO DORIA
Nivaldo Cesar Restivo
Secretário da Administração Penitenciária
Celia Kochen Parnes
Secretária de Desenvolvimento Social
Flavio Augusto Ayres Amary
Secretário da Habitação
Fernando José da Costa
Secretário da Justiça e Cidadania
Jean Carlo Gorinchteyn
Secretário da Saúde
João Camilo Pires de Campos
Secretário da Segurança Pública
Cauê Macris
Secretário-Chefe da Casa Civil
Publicada na Subsecretaria de Gestão Legislativa da Casa Civil, em 14 de outubro de 2021.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 618
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 619
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 620

ÍNDICE DO CAPÍTULO IV

LEGISLAÇÃO ESPECIAL QUE VERSA SOBRE DIREITOS FUNDAMENTAIS

1. LEI Nº 2.889/1956 (CONTRA O GENOCÍDIO)

2. LEI Nº 7.716/1989 (CONTRA O PRECONCEITO RACIAL)

3. LEI Nº 8.069/1990 (ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE)

4. LEI Nº 9.029/1995 (PRÁTICAS DISCRIMINATÓRIAS RELATIVAS À GRAVIDEZ


NO TRABALHO)

5. LEI Nº 9.455/1997 (CONTRA A TORTURA)

6. LEI Nº 10.741/2003 (ESTATUTO DO IDOSO)

7. LEI Nº 11.340/2006 (LEI MARIA DA PENHA)

8. LEI Nº 12.288/2010 (ESTATUTO DA IGUALDADE RACIAL)

9. LEI Nº 12.852/2013 (ESTATUTO DA JUVENTUDE)

10. LEI Nº 12.984/2014 (CONTRA A DISCRIMINAÇÃO DE PORTADORES DE HIV)

11. LEI Nº 13.146/2015 (ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA)

12. LEI Nº 13.257/2016 (POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A PRIMEIRA INFÂNCIA)

13. LEI Nº 13.260/2016 (LEI ANTITERRORISMO)

14. DECRETO Nº 8858/2016 – REGULAMENTA ART. 199 DA LEI Nº 7210/1984


(LEI DE EXECUÇÃO PENAL)

15. LEI Nº 13.445/2017 (LEI DE MIGRAÇÃO)

16. LEI Nº 14.232/2021 (INSTITUI A POLÍTICA NACIONAL DE DADOS E


INFORMAÇÕES RELACIONADAS À VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES).
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 621

1. LEI Nº 2.889/1956 (CONTRA O GENOCÍDIO)

LEI Nº 2.889, DE 1º DE OUTUBRO DE 1956.

Define e pune o crime de genocídio.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA:

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso,
como tal: (Vide Lei nº 7.960, de 1989)

a) matar membros do grupo;


b) causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do grupo;
c) submeter intencionalmente o grupo a condições de existência capazes de ocasionar-lhe a destruição
física total ou parcial;
d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo;
e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo;

Será punido:
Com as penas do art. 121, § 2º, do Código Penal, no caso da letra a;
Com as penas do art. 129, § 2º, no caso da letra b;
Com as penas do art. 270, no caso da letra c;
Com as penas do art. 125, no caso da letra d;
Com as penas do art. 148, no caso da letra e;

Art. 2º Associarem-se mais de 3 (três) pessoas para prática dos crimes mencionados no artigo
anterior: (Vide Lei nº 7.960, de 1989)

Pena: Metade da cominada aos crimes ali previstos.

Art. 3º Incitar, direta e publicamente alguém a cometer qualquer dos crimes de que trata o art. 1º: (Vide
Lei nº 7.960, de 1989)

Pena: Metade das penas ali cominadas.

§ 1º A pena pelo crime de incitação será a mesma de crime incitado, se este se consumar.

§ 2º A pena será aumentada de 1/3 (um terço), quando a incitação for cometida pela imprensa.

Art. 4º A pena será agravada de 1/3 (um terço), no caso dos arts. 1º, 2º e 3º, quando cometido o crime por
governante ou funcionário público.

Art. 5º Será punida com 2/3 (dois terços) das respectivas penas a tentativa dos crimes definidos nesta lei.

Art. 6º Os crimes de que trata esta lei não serão considerados crimes políticos para efeitos de extradição.

Art. 7º Revogam-se as disposições em contrário.

Rio de Janeiro, 1 de outubro de 1956; 135º da Independência e 68º da República.

JUSCELINO KUBITSCHEK
Nereu Ramos
Este texto não substitui o publicado no DOU de 2.10.1956
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 622

2. LEI Nº 7.716/1989 (CONTRA O PRECONCEITO RACIAL)

LEI Nº 7.716, DE 5 DE JANEIRO DE 1989.

Define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte
Lei:

Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça,
cor, etnia, religião ou procedência nacional. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

Art. 2º (Vetado).

Art. 3º Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente habilitado, a qualquer cargo da Administração
Direta ou Indireta, bem como das concessionárias de serviços públicos.

Pena: reclusão de dois a cinco anos.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação de raça, cor, etnia, religião
ou procedência nacional, obstar a promoção funcional. (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010) (Vigência)

Art. 4º Negar ou obstar emprego em empresa privada.

Pena: reclusão de dois a cinco anos.

§ 1o Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação de raça ou de cor ou práticas
resultantes do preconceito de descendência ou origem nacional ou étnica: (Incluído pela Lei nº 12.288, de
2010) (Vigência)

I - deixar de conceder os equipamentos necessários ao empregado em igualdade de condições com os


demais trabalhadores; (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010) (Vigência)

II - impedir a ascensão funcional do empregado ou obstar outra forma de benefício


profissional; (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010) (Vigência)

III - proporcionar ao empregado tratamento diferenciado no ambiente de trabalho, especialmente quanto


ao salário. (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010) (Vigência)

§ 2o Ficará sujeito às penas de multa e de prestação de serviços à comunidade, incluindo atividades de


promoção da igualdade racial, quem, em anúncios ou qualquer outra forma de recrutamento de
trabalhadores, exigir aspectos de aparência próprios de raça ou etnia para emprego cujas atividades não
justifiquem essas exigências. (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010) (Vigência)

Art. 5º Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a servir, atender ou receber
cliente ou comprador.

Pena: reclusão de um a três anos.

Art. 6º Recusar, negar ou impedir a inscrição ou ingresso de aluno em estabelecimento de ensino público
ou privado de qualquer grau.

Pena: reclusão de três a cinco anos.

Parágrafo único. Se o crime for praticado contra menor de dezoito anos a pena é agravada de 1/3 (um
terço).
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 623

Art. 7º Impedir o acesso ou recusar hospedagem em hotel, pensão, estalagem, ou qualquer


estabelecimento similar.

Pena: reclusão de três a cinco anos.

Art. 8º Impedir o acesso ou recusar atendimento em restaurantes, bares, confeitarias, ou locais


semelhantes abertos ao público.

Pena: reclusão de um a três anos.

Art. 9º Impedir o acesso ou recusar atendimento em estabelecimentos esportivos, casas de diversões, ou


clubes sociais abertos ao público.

Pena: reclusão de um a três anos.

Art. 10. Impedir o acesso ou recusar atendimento em salões de cabeleireiros, barbearias, termas ou casas
de massagem ou estabelecimento com as mesmas finalidades.

Pena: reclusão de um a três anos.

Art. 11. Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou residenciais e elevadores ou escada
de acesso aos mesmos:

Pena: reclusão de um a três anos.

Art. 12. Impedir o acesso ou uso de transportes públicos, como aviões, navios barcas, barcos, ônibus,
trens, metrô ou qualquer outro meio de transporte concedido.

Pena: reclusão de um a três anos.

Art. 13. Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em qualquer ramo das Forças Armadas.

Pena: reclusão de dois a quatro anos.

Art. 14. Impedir ou obstar, por qualquer meio ou forma, o casamento ou convivência familiar e social.

Pena: reclusão de dois a quatro anos.

Art. 15. (Vetado).

Art. 16. Constitui efeito da condenação a perda do cargo ou função pública, para o servidor público, e a
suspensão do funcionamento do estabelecimento particular por prazo não superior a três meses.

Art. 17. (Vetado).

Art. 18. Os efeitos de que tratam os arts. 16 e 17 desta Lei não são automáticos, devendo ser
motivadamente declarados na sentença.

Art. 19. (Vetado).

Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
procedência nacional. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

Pena: reclusão de um a três anos e multa.(Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou


propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo. (Redação dada pela
Lei nº 9.459, de 15/05/97)
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 624

Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.(Incluído pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos meios de comunicação
social ou publicação de qualquer natureza: (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.(Incluído pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

§ 3º No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá determinar, ouvido o Ministério Público ou a pedido deste,
ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobediência: (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

I - o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exemplares do material respectivo;(Incluído pela


Lei nº 9.459, de 15/05/97)

II - a cessação das respectivas transmissões radiofônicas, televisivas, eletrônicas ou da publicação por


qualquer meio; (Redação dada pela Lei nº 12.735, de 2012) (Vigência)

III - a interdição das respectivas mensagens ou páginas de informação na rede mundial de


computadores. (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010) (Vigência)

§ 4º Na hipótese do § 2º, constitui efeito da condenação, após o trânsito em julgado da decisão, a


destruição do material apreendido. (Incluído pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

Art. 21. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. (Renumerado pela Lei nº 8.081, de 21.9.1990)

Art. 22. Revogam-se as disposições em contrário. (Renumerado pela Lei nº 8.081, de 21.9.1990)

Brasília, 5 de janeiro de 1989; 168º da Independência e 101º da República.

JOSÉ SARNEY
Paulo Brossard

Este texto não substitui o publicado no DOU de 6.1.1989 e retificada em 9.1.1989


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 625

3. LEI Nº 8.069/1990 (ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE)

LEI Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990.

Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências.

(com as alterações da Lei nº 14.154, de 2021)

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a


seguinte Lei:

Título I

Das Disposições Preliminares

Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente.

Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e
adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.

Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre
dezoito e vinte e um anos de idade.

Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana,
sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas
as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social,
em condições de liberdade e de dignidade.

Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se a todas as crianças e adolescentes, sem
discriminação de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença, deficiência,
condição pessoal de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica, ambiente social, região e local
de moradia ou outra condição que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em que vivem. (incluído
pela Lei nº 13.257, de 2016)

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com
absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte,
ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária.

Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:

a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;

b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;

c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;

d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à
juventude.

Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão,
aos seus direitos fundamentais.

Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências
do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente
como pessoas em desenvolvimento.

Título II

Dos Direitos Fundamentais


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 626

Capítulo I

Do Direito à Vida e à Saúde

Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas
sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas
de existência.

Art. 8 o É assegurado a todas as mulheres o acesso aos programas e às políticas de saúde da mulher e
de planejamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequada, atenção humanizada à gravidez, ao parto e
ao puerpério e atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal integral no âmbito do Sistema Único de
Saúde. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)

§ 1 o O atendimento pré-natal será realizado por profissionais da atenção primária. (Redação dada pela
Lei nº 13.257, de 2016)

§ 2 o Os profissionais de saúde de referência da gestante garantirão sua vinculação, no último trimestre


da gestação, ao estabelecimento em que será realizado o parto, garantido o direito de opção da
mulher. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)

§ 3 o Os serviços de saúde onde o parto for realizado assegurarão às mulheres e aos seus filhos recém-
nascidos alta hospitalar responsável e contrarreferência na atenção primária, bem como o acesso a outros
serviços e a grupos de apoio à amamentação. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)

§ 4 o Incumbe ao poder público proporcionar assistência psicológica à gestante e à mãe, no período pré e
pós-natal, inclusive como forma de prevenir ou minorar as consequências do estado puerperal. (Incluído pela
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 5 o A assistência referida no § 4 o deste artigo deverá ser prestada também a gestantes e mães que
manifestem interesse em entregar seus filhos para adoção, bem como a gestantes e mães que se encontrem
em situação de privação de liberdade. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)

§ 6 o A gestante e a parturiente têm direito a 1 (um) acompanhante de sua preferência durante o período
do pré-natal, do trabalho de parto e do pós-parto imediato. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)

§ 7 o A gestante deverá receber orientação sobre aleitamento materno, alimentação complementar


saudável e crescimento e desenvolvimento infantil, bem como sobre formas de favorecer a criação de vínculos
afetivos e de estimular o desenvolvimento integral da criança. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)

§ 8 o A gestante tem direito a acompanhamento saudável durante toda a gestação e a parto natural
cuidadoso, estabelecendo-se a aplicação de cesariana e outras intervenções cirúrgicas por motivos
médicos. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)

§ 9 o A atenção primária à saúde fará a busca ativa da gestante que não iniciar ou que abandonar as
consultas de pré-natal, bem como da puérpera que não comparecer às consultas pós-parto. (Incluído pela Lei
nº 13.257, de 2016)

§ 10. Incumbe ao poder público garantir, à gestante e à mulher com filho na primeira infância que se
encontrem sob custódia em unidade de privação de liberdade, ambiência que atenda às normas sanitárias e
assistenciais do Sistema Único de Saúde para o acolhimento do filho, em articulação com o sistema de ensino
competente, visando ao desenvolvimento integral da criança. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)

Art. 8º-A. Fica instituída a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência, a ser realizada
anualmente na semana que incluir o dia 1º de fevereiro, com o objetivo de disseminar informações sobre
medidas preventivas e educativas que contribuam para a redução da incidência da gravidez na
adolescência. (Incluído pela Lei nº 13.798, de 2019)

Parágrafo único. As ações destinadas a efetivar o disposto no caput deste artigo ficarão a cargo do poder
público, em conjunto com organizações da sociedade civil, e serão dirigidas prioritariamente ao público
adolescente. (Incluído pela Lei nº 13.798, de 2019)

Art. 9º O poder público, as instituições e os empregadores propiciarão condições adequadas ao


aleitamento materno, inclusive aos filhos de mães submetidas a medida privativa de liberdade.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 627

§ 1 o Os profissionais das unidades primárias de saúde desenvolverão ações sistemáticas, individuais ou


coletivas, visando ao planejamento, à implementação e à avaliação de ações de promoção, proteção e apoio
ao aleitamento materno e à alimentação complementar saudável, de forma contínua. (Incluído pela Lei nº
13.257, de 2016)

§ 2 o Os serviços de unidades de terapia intensiva neonatal deverão dispor de banco de leite humano ou
unidade de coleta de leite humano. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)

Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de atenção à saúde de gestantes, públicos e particulares,
são obrigados a:

I - manter registro das atividades desenvolvidas, através de prontuários individuais, pelo prazo de dezoito
anos;

II - identificar o recém-nascido mediante o registro de sua impressão plantar e digital e da impressão digital
da mãe, sem prejuízo de outras formas normatizadas pela autoridade administrativa competente;

III - proceder a exames visando ao diagnóstico e terapêutica de anormalidades no metabolismo do recém-


nascido, bem como prestar orientação aos pais;

IV - fornecer declaração de nascimento onde constem necessariamente as intercorrências do parto e do


desenvolvimento do neonato;

V - manter alojamento conjunto, possibilitando ao neonato a permanência junto à mãe.

VI - acompanhar a prática do processo de amamentação, prestando orientações quanto à técnica


adequada, enquanto a mãe permanecer na unidade hospitalar, utilizando o corpo técnico já existente. (Incluído
pela Lei nº 13.436, de 2017) (Vigência)

§ 1º Os testes para o rastreamento de doenças no recém-nascido serão disponibilizados pelo Sistema


Único de Saúde, no âmbito do Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN), na forma da
regulamentação elaborada pelo Ministério da Saúde, com implementação de forma escalonada, de acordo
com a seguinte ordem de progressão (Incluído pela Lei nº 14.154, de 2021):

I – etapa 1:

a) fenilcetonúria e outras hiperfenilalaninemias;

b) hipotireoidismo congênito;

c) doença falciforme e outras hemoglobinopatias;

d) fibrose cística;

e) hiperplasia adrenal congênita;

f) deficiência de biotinidase;

g) toxoplasmose congênita;

II – etapa 2:

a) galactosemias;

b) aminoacidopatias;

c) distúrbios do ciclo da ureia;

d) distúrbios da betaoxidação dos ácidos graxos;

III – etapa 3: doenças lisossômicas;

IV – etapa 4: imunodeficiências primárias;

V – etapa 5: atrofia muscular espinhal.


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 628

§ 2º A delimitação de doenças a serem rastreadas pelo teste do pezinho, no âmbito do PNTN, será
revisada periodicamente, com base em evidências científicas, considerados os benefícios do rastreamento,
do diagnóstico e do tratamento precoce, priorizando as doenças com maior prevalência no País, com
protocolo de tratamento aprovado e com tratamento incorporado no Sistema Único de Saúde (Incluído pela
Lei nº 14.154, de 2021):.

§ 3º O rol de doenças constante do § 1º deste artigo poderá ser expandido pelo poder público com
base nos critérios estabelecidos no § 2º deste artigo (Incluído pela Lei nº 14.154, de 2021):.

§ 4º Durante os atendimentos de pré-natal e de puerpério imediato, os profissionais de saúde devem


informar a gestante e os acompanhantes sobre a importância do teste do pezinho e sobre as eventuais
diferenças existentes entre as modalidades oferecidas no Sistema Único de Saúde e na rede privada de
saúde.” (NR) (Incluído pela Lei nº 14.154, de 2021):

Art. 11. É assegurado acesso integral às linhas de cuidado voltadas à saúde da criança e do adolescente,
por intermédio do Sistema Único de Saúde, observado o princípio da equidade no acesso a ações e serviços
para promoção, proteção e recuperação da saúde. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)

§ 1 o A criança e o adolescente com deficiência serão atendidos, sem discriminação ou segregação, em


suas necessidades gerais de saúde e específicas de habilitação e reabilitação. (Redação dada pela Lei nº
13.257, de 2016)

§ 2 o Incumbe ao poder público fornecer gratuitamente, àqueles que necessitarem, medicamentos,


órteses, próteses e outras tecnologias assistivas relativas ao tratamento, habilitação ou reabilitação para
crianças e adolescentes, de acordo com as linhas de cuidado voltadas às suas necessidades
específicas. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)

§ 3 o Os profissionais que atuam no cuidado diário ou frequente de crianças na primeira infância receberão
formação específica e permanente para a detecção de sinais de risco para o desenvolvimento psíquico, bem
como para o acompanhamento que se fizer necessário. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)

Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde, inclusive as unidades neonatais, de terapia


intensiva e de cuidados intermediários, deverão proporcionar condições para a permanência em tempo integral
de um dos pais ou responsável, nos casos de internação de criança ou adolescente. (Redação dada pela Lei
nº 13.257, de 2016)

Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de castigo físico, de tratamento cruel ou degradante e de
maus-tratos contra criança ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da
respectiva localidade, sem prejuízo de outras providências legais. (Redação dada pela Lei nº 13.010, de 2014)

§ 1 o As gestantes ou mães que manifestem interesse em entregar seus filhos para adoção serão
obrigatoriamente encaminhadas, sem constrangimento, à Justiça da Infância e da Juventude. (Incluído pela Lei
nº 13.257, de 2016)

§ 2 o Os serviços de saúde em suas diferentes portas de entrada, os serviços de assistência social em seu
componente especializado, o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) e os demais
órgãos do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente deverão conferir máxima prioridade
ao atendimento das crianças na faixa etária da primeira infância com suspeita ou confirmação de violência de
qualquer natureza, formulando projeto terapêutico singular que inclua intervenção em rede e, se necessário,
acompanhamento domiciliar. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)

Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá programas de assistência médica e odontológica para a
prevenção das enfermidades que ordinariamente afetam a população infantil, e campanhas de educação
sanitária para pais, educadores e alunos.

§ 1 o É obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades


sanitárias. (Renumerado do parágrafo único pela Lei nº 13.257, de 2016)

§ 2 o O Sistema Único de Saúde promoverá a atenção à saúde bucal das crianças e das gestantes, de
forma transversal, integral e intersetorial com as demais linhas de cuidado direcionadas à mulher e à
criança. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 629

§ 3 o A atenção odontológica à criança terá função educativa protetiva e será prestada, inicialmente, antes
de o bebê nascer, por meio de aconselhamento pré-natal, e, posteriormente, no sexto e no décimo segundo
anos de vida, com orientações sobre saúde bucal. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)

§ 4 o A criança com necessidade de cuidados odontológicos especiais será atendida pelo Sistema Único
de Saúde. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)

§ 5 º É obrigatória a aplicação a todas as crianças, nos seus primeiros dezoito meses de vida, de protocolo
ou outro instrumento construído com a finalidade de facilitar a detecção, em consulta pediátrica de
acompanhamento da criança, de risco para o seu desenvolvimento psíquico. (Incluído pela Lei nº 13.438, de
2017) (Vigência)

Capítulo II

Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade

Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas
humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na
Constituição e nas leis.

Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos:

I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais;

II - opinião e expressão;

III - crença e culto religioso;

IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;

V - participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação;

VI - participar da vida política, na forma da lei;

VII - buscar refúgio, auxílio e orientação.

Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança
e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idéias e
crenças, dos espaços e objetos pessoais.

Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer
tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.

Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico
ou de tratamento cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro
pretexto, pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes públicos
executores de medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-los, educá-
los ou protegê-los. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)

Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se: (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)

I - castigo físico: ação de natureza disciplinar ou punitiva aplicada com o uso da força física sobre a criança
ou o adolescente que resulte em: (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)

a) sofrimento físico; ou (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)

b) lesão; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)

II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma cruel de tratamento em relação à criança ou ao


adolescente que: (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)

a) humilhe; ou (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)

b) ameace gravemente; ou (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 630

c) ridicularize. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)

Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família ampliada, os responsáveis, os agentes públicos executores
de medidas socioeducativas ou qualquer pessoa encarregada de cuidar de crianças e de adolescentes, tratá-
los, educá-los ou protegê-los que utilizarem castigo físico ou tratamento cruel ou degradante como formas de
correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto estarão sujeitos, sem prejuízo de outras sanções
cabíveis, às seguintes medidas, que serão aplicadas de acordo com a gravidade do caso: (Incluído pela Lei nº
13.010, de 2014)

I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção à família; (Incluído pela Lei nº 13.010,
de 2014)

II - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)

III - encaminhamento a cursos ou programas de orientação; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)

IV - obrigação de encaminhar a criança a tratamento especializado; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)

V - advertência. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)

Parágrafo único. As medidas previstas neste artigo serão aplicadas pelo Conselho Tutelar, sem prejuízo
de outras providências legais. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)

Capítulo III

Do Direito à Convivência Familiar e Comunitária

Seção I

Disposições Gerais

Art. 19. É direito da criança e do adolescente ser criado e educado no seio de sua família e,
excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente que
garanta seu desenvolvimento integral. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)

§ 1 o Toda criança ou adolescente que estiver inserido em programa de acolhimento familiar ou


institucional terá sua situação reavaliada, no máximo, a cada 3 (três) meses, devendo a autoridade judiciária
competente, com base em relatório elaborado por equipe interprofissional ou multidisciplinar, decidir de forma
fundamentada pela possibilidade de reintegração familiar ou pela colocação em família substituta, em quaisquer
das modalidades previstas no art. 28 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)

§ 2 o A permanência da criança e do adolescente em programa de acolhimento institucional não se


prolongará por mais de 18 (dezoito meses), salvo comprovada necessidade que atenda ao seu superior
interesse, devidamente fundamentada pela autoridade judiciária. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)

§ 3 o A manutenção ou a reintegração de criança ou adolescente à sua família terá preferência em


relação a qualquer outra providência, caso em que será esta incluída em serviços e programas de proteção,
apoio e promoção, nos termos do § 1 o do art. 23, dos incisos I e IV do caput do art. 101 e dos incisos I a IV
do caput do art. 129 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)

§ 4 o Será garantida a convivência da criança e do adolescente com a mãe ou o pai privado de liberdade, por
meio de visitas periódicas promovidas pelo responsável ou, nas hipóteses de acolhimento institucional, pela entidade
responsável, independentemente de autorização judicial. (Incluído pela Lei nº 12.962, de 2014)

§ 5 o Será garantida a convivência integral da criança com a mãe adolescente que estiver em
acolhimento institucional. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)

§ 6 o A mãe adolescente será assistida por equipe especializada multidisciplinar. (Incluído pela Lei nº
13.509, de 2017)

Art. 19-A. A gestante ou mãe que manifeste interesse em entregar seu filho para adoção, antes ou logo
após o nascimento, será encaminhada à Justiça da Infância e da Juventude. (Incluído pela Lei nº 13.509, de
2017)
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 631

§ 1 o A gestante ou mãe será ouvida pela equipe interprofissional da Justiça da Infância e da Juventude,
que apresentará relatório à autoridade judiciária, considerando inclusive os eventuais efeitos do estado
gestacional e puerperal. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)

§ 2 o De posse do relatório, a autoridade judiciária poderá determinar o encaminhamento da gestante ou


mãe, mediante sua expressa concordância, à rede pública de saúde e assistência social para atendimento
especializado. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)

§ 3 o A busca à família extensa, conforme definida nos termos do parágrafo único do art. 25 desta Lei,
respeitará o prazo máximo de 90 (noventa) dias, prorrogável por igual período. (Incluído pela Lei nº 13.509, de
2017)

§ 4 o Na hipótese de não haver a indicação do genitor e de não existir outro representante da família
extensa apto a receber a guarda, a autoridade judiciária competente deverá decretar a extinção do poder
familiar e determinar a colocação da criança sob a guarda provisória de quem estiver habilitado a adotá-la ou
de entidade que desenvolva programa de acolhimento familiar ou institucional. (Incluído pela Lei nº 13.509, de
2017)

§ 5 o Após o nascimento da criança, a vontade da mãe ou de ambos os genitores, se houver pai registral
ou pai indicado, deve ser manifestada na audiência a que se refere o § 1 o do art. 166 desta Lei, garantido o
sigilo sobre a entrega. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)

§ 6º Na hipótese de não comparecerem à audiência nem o genitor nem representante da família extensa
para confirmar a intenção de exercer o poder familiar ou a guarda, a autoridade judiciária suspenderá o poder
familiar da mãe, e a criança será colocada sob a guarda provisória de quem esteja habilitado a adotá-
la. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)

§ 7 o Os detentores da guarda possuem o prazo de 15 (quinze) dias para propor a ação de adoção, contado
do dia seguinte à data do término do estágio de convivência. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)

§ 8 o Na hipótese de desistência pelos genitores - manifestada em audiência ou perante a equipe


interprofissional - da entrega da criança após o nascimento, a criança será mantida com os genitores, e será
determinado pela Justiça da Infância e da Juventude o acompanhamento familiar pelo prazo de 180 (cento e
oitenta) dias. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)

§ 9 o É garantido à mãe o direito ao sigilo sobre o nascimento, respeitado o disposto no art. 48 desta
Lei. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)

§ 10. Serão cadastrados para adoção recém-nascidos e crianças acolhidas não procuradas por suas
famílias no prazo de 30 (trinta) dias, contado a partir do dia do acolhimento. (Incluído pela Lei nº 13.509, de
2017)

Art. 19-B. A criança e o adolescente em programa de acolhimento institucional ou familiar poderão


participar de programa de apadrinhamento. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)

§ 1 o O apadrinhamento consiste em estabelecer e proporcionar à criança e ao adolescente vínculos


externos à instituição para fins de convivência familiar e comunitária e colaboração com o seu desenvolvimento
nos aspectos social, moral, físico, cognitivo, educacional e financeiro. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)

§ 2º Podem ser padrinhos ou madrinhas pessoas maiores de 18 (dezoito) anos não inscritas nos cadastros
de adoção, desde que cumpram os requisitos exigidos pelo programa de apadrinhamento de que fazem
parte. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)

§ 3 o Pessoas jurídicas podem apadrinhar criança ou adolescente a fim de colaborar para o seu
desenvolvimento. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)

§ 4 o O perfil da criança ou do adolescente a ser apadrinhado será definido no âmbito de cada programa
de apadrinhamento, com prioridade para crianças ou adolescentes com remota possibilidade de reinserção
familiar ou colocação em família adotiva. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 632

§ 5 o Os programas ou serviços de apadrinhamento apoiados pela Justiça da Infância e da Juventude


poderão ser executados por órgãos públicos ou por organizações da sociedade civil. (Incluído pela Lei nº
13.509, de 2017)

§ 6 o Se ocorrer violação das regras de apadrinhamento, os responsáveis pelo programa e pelos serviços
de acolhimento deverão imediatamente notificar a autoridade judiciária competente. (Incluído pela Lei nº
13.509, de 2017)

Art. 20. Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e
qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.

Art. 21. O poder familiar será exercido, em igualdade de condições, pelo pai e pela mãe, na forma do
que dispuser a legislação civil, assegurado a qualquer deles o direito de, em caso de discordância, recorrer à
autoridade judiciária competente para a solução da divergência. (Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência

Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes
ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais.

Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis, têm direitos iguais e deveres e responsabilidades
compartilhados no cuidado e na educação da criança, devendo ser resguardado o direito de transmissão
familiar de suas crenças e culturas, assegurados os direitos da criança estabelecidos nesta Lei. (Incluído pela
Lei nº 13.257, de 2016)

Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não constitui motivo suficiente para a perda ou a
suspensão do poder familiar . (Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 1 o Não existindo outro motivo que por si só autorize a decretação da medida, a criança ou o
adolescente será mantido em sua família de origem, a qual deverá obrigatoriamente ser incluída em serviços
e programas oficiais de proteção, apoio e promoção. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)

§ 2º A condenação criminal do pai ou da mãe não implicará a destituição do poder familiar, exceto na
hipótese de condenação por crime doloso sujeito à pena de reclusão contra outrem igualmente titular do
mesmo poder familiar ou contra filho, filha ou outro descendente. (Redação dada pela Lei nº 13.715, de 2018)

Art. 24. A perda e a suspensão do pátrio poder poder familiar serão decretadas judicialmente, em
procedimento contraditório, nos casos previstos na legislação civil, bem como na hipótese de
descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a que alude o art. 22. (Expressão substituída pela Lei
nº 12.010, de 2009) Vigência

Seção II

Da Família Natural

Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus
descendentes.

Parágrafo único. Entende-se por família extensa ou ampliada aquela que se estende para além da
unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou
adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência

Art. 26. Os filhos havidos fora do casamento poderão ser reconhecidos pelos pais, conjunta ou
separadamente, no próprio termo de nascimento, por testamento, mediante escritura ou outro documento
público, qualquer que seja a origem da filiação.

Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o nascimento do filho ou suceder-lhe ao falecimento,


se deixar descendentes.

Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo, indisponível e imprescritível,


podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer restrição, observado o segredo de
Justiça.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 633

Seção III

Da Família Substituta

Subseção I

Disposições Gerais

Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á mediante guarda, tutela ou adoção, independentemente
da situação jurídica da criança ou adolescente, nos termos desta Lei.

§ 1 o Sempre que possível, a criança ou o adolescente será previamente ouvido por equipe
interprofissional, respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau de compreensão sobre as implicações da
medida, e terá sua opinião devidamente considerada. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 2 o Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de idade, será necessário seu consentimento, colhido em
audiência. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 3 o Na apreciação do pedido levar-se-á em conta o grau de parentesco e a relação de afinidade ou de


afetividade, a fim de evitar ou minorar as consequências decorrentes da medida. (Incluído pela Lei nº 12.010,
de 2009) Vigência

§ 4 o Os grupos de irmãos serão colocados sob adoção, tutela ou guarda da mesma família substituta,
ressalvada a comprovada existência de risco de abuso ou outra situação que justifique plenamente a
excepcionalidade de solução diversa, procurando-se, em qualquer caso, evitar o rompimento definitivo dos
vínculos fraternais. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 5 o A colocação da criança ou adolescente em família substituta será precedida de sua preparação


gradativa e acompanhamento posterior, realizados pela equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância
e da Juventude, preferencialmente com o apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política municipal
de garantia do direito à convivência familiar. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 6 o Em se tratando de criança ou adolescente indígena ou proveniente de comunidade remanescente de


quilombo, é ainda obrigatório: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

I - que sejam consideradas e respeitadas sua identidade social e cultural, os seus costumes e tradições,
bem como suas instituições, desde que não sejam incompatíveis com os direitos fundamentais reconhecidos
por esta Lei e pela Constituição Federal; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

II - que a colocação familiar ocorra prioritariamente no seio de sua comunidade ou junto a membros da
mesma etnia; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

III - a intervenção e oitiva de representantes do órgão federal responsável pela política indigenista, no caso
de crianças e adolescentes indígenas, e de antropólogos, perante a equipe interprofissional ou multidisciplinar
que irá acompanhar o caso. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Art. 29. Não se deferirá colocação em família substituta a pessoa que revele, por qualquer modo,
incompatibilidade com a natureza da medida ou não ofereça ambiente familiar adequado.

Art. 30. A colocação em família substituta não admitirá transferência da criança ou adolescente a terceiros
ou a entidades governamentais ou não-governamentais, sem autorização judicial.

Art. 31. A colocação em família substituta estrangeira constitui medida excepcional, somente admissível
na modalidade de adoção.

Art. 32. Ao assumir a guarda ou a tutela, o responsável prestará compromisso de bem e fielmente
desempenhar o encargo, mediante termo nos autos.

Subseção II

Da Guarda
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 634

Art. 33. A guarda obriga a prestação de assistência material, moral e educacional à criança ou adolescente,
conferindo a seu detentor o direito de opor-se a terceiros, inclusive aos pais. (Vide Lei nº 12.010, de
2009) Vigência

§ 1º A guarda destina-se a regularizar a posse de fato, podendo ser deferida, liminar ou incidentalmente,
nos procedimentos de tutela e adoção, exceto no de adoção por estrangeiros.

§ 2º Excepcionalmente, deferir-se-á a guarda, fora dos casos de tutela e adoção, para atender a situações
peculiares ou suprir a falta eventual dos pais ou responsável, podendo ser deferido o direito de representação
para a prática de atos determinados.

§ 3º A guarda confere à criança ou adolescente a condição de dependente, para todos os fins e efeitos de
direito, inclusive previdenciários.

§ 4 o Salvo expressa e fundamentada determinação em contrário, da autoridade judiciária competente, ou


quando a medida for aplicada em preparação para adoção, o deferimento da guarda de criança ou adolescente
a terceiros não impede o exercício do direito de visitas pelos pais, assim como o dever de prestar alimentos,
que serão objeto de regulamentação específica, a pedido do interessado ou do Ministério Público. (Incluído
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Art. 34. O poder público estimulará, por meio de assistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, o
acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente afastado do convívio familiar. (Redação dada
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 1 o A inclusão da criança ou adolescente em programas de acolhimento familiar terá preferência a seu


acolhimento institucional, observado, em qualquer caso, o caráter temporário e excepcional da medida, nos
termos desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)

§ 2 o Na hipótese do § 1 o deste artigo a pessoa ou casal cadastrado no programa de acolhimento familiar


poderá receber a criança ou adolescente mediante guarda, observado o disposto nos arts. 28 a 33 desta
Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 3 o A União apoiará a implementação de serviços de acolhimento em família acolhedora como política


pública, os quais deverão dispor de equipe que organize o acolhimento temporário de crianças e de
adolescentes em residências de famílias selecionadas, capacitadas e acompanhadas que não estejam no
cadastro de adoção. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)

§ 4 o Poderão ser utilizados recursos federais, estaduais, distritais e municipais para a manutenção dos
serviços de acolhimento em família acolhedora, facultando-se o repasse de recursos para a própria família
acolhedora. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)

Art. 35. A guarda poderá ser revogada a qualquer tempo, mediante ato judicial fundamentado, ouvido o
Ministério Público.

Subseção III

Da Tutela

Art. 36. A tutela será deferida, nos termos da lei civil, a pessoa de até 18 (dezoito) anos
incompletos. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Parágrafo único. O deferimento da tutela pressupõe a prévia decretação da perda ou suspensão do pátrio
poder poder familiar e implica necessariamente o dever de guarda. (Expressão substituída pela Lei nº 12.010,
de 2009) Vigência

Art. 37. O tutor nomeado por testamento ou qualquer documento autêntico, conforme previsto no
parágrafo único do art. 1.729 da Lei n o 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil , deverá, no prazo de
30 (trinta) dias após a abertura da sucessão, ingressar com pedido destinado ao controle judicial do ato,
observando o procedimento previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência

Parágrafo único. Na apreciação do pedido, serão observados os requisitos previstos nos arts. 28 e 29
desta Lei, somente sendo deferida a tutela à pessoa indicada na disposição de última vontade, se restar
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 635

comprovado que a medida é vantajosa ao tutelando e que não existe outra pessoa em melhores condições de
assumi-la. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Art. 38. Aplica-se à destituição da tutela o disposto no art. 24.

Subseção IV

Da Adoção

Art. 39. A adoção de criança e de adolescente reger-se-á segundo o disposto nesta Lei.

§ 1 o A adoção é medida excepcional e irrevogável, à qual se deve recorrer apenas quando esgotados os
recursos de manutenção da criança ou adolescente na família natural ou extensa, na forma do parágrafo único
do art. 25 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 2 o É vedada a adoção por procuração. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 3 o Em caso de conflito entre direitos e interesses do adotando e de outras pessoas, inclusive seus pais
biológicos, devem prevalecer os direitos e os interesses do adotando. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)

Art. 40. O adotando deve contar com, no máximo, dezoito anos à data do pedido, salvo se já estiver sob
a guarda ou tutela dos adotantes.

Art. 41. A adoção atribui a condição de filho ao adotado, com os mesmos direitos e deveres, inclusive
sucessórios, desligando-o de qualquer vínculo com pais e parentes, salvo os impedimentos matrimoniais.

§ 1º Se um dos cônjuges ou concubinos adota o filho do outro, mantêm-se os vínculos de filiação entre o
adotado e o cônjuge ou concubino do adotante e os respectivos parentes.

§ 2º É recíproco o direito sucessório entre o adotado, seus descendentes, o adotante, seus ascendentes,
descendentes e colaterais até o 4º grau, observada a ordem de vocação hereditária.

Art. 42. Podem adotar os maiores de 18 (dezoito) anos, independentemente do estado civil. (Redação
dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do adotando.

§ 2 o Para adoção conjunta, é indispensável que os adotantes sejam casados civilmente ou mantenham
união estável, comprovada a estabilidade da família. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos mais velho do que o adotando.

§ 4 o Os divorciados, os judicialmente separados e os ex-companheiros podem adotar conjuntamente,


contanto que acordem sobre a guarda e o regime de visitas e desde que o estágio de convivência tenha sido
iniciado na constância do período de convivência e que seja comprovada a existência de vínculos de afinidade
e afetividade com aquele não detentor da guarda, que justifiquem a excepcionalidade da concessão. (Redação
dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 5 o Nos casos do § 4 o deste artigo, desde que demonstrado efetivo benefício ao adotando, será
assegurada a guarda compartilhada, conforme previsto no art. 1.584 da Lei n o 10.406, de 10 de janeiro de 2002
- Código Civil . (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 6 o A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após inequívoca manifestação de vontade, vier a
falecer no curso do procedimento, antes de prolatada a sentença. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência

Art. 43. A adoção será deferida quando apresentar reais vantagens para o adotando e fundar-se em
motivos legítimos.

Art. 44. Enquanto não der conta de sua administração e saldar o seu alcance, não pode o tutor ou o
curador adotar o pupilo ou o curatelado.

Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais ou do representante legal do adotando.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 636

§ 1º. O consentimento será dispensado em relação à criança ou adolescente cujos pais sejam
desconhecidos ou tenham sido destituídos do pátrio poder poder familiar . (Expressão substituída pela Lei nº
12.010, de 2009) Vigência

§ 2º. Em se tratando de adotando maior de doze anos de idade, será também necessário o seu
consentimento.

Art. 46. A adoção será precedida de estágio de convivência com a criança ou adolescente, pelo prazo
máximo de 90 (noventa) dias, observadas a idade da criança ou adolescente e as peculiaridades do
caso. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)

§ 1 o O estágio de convivência poderá ser dispensado se o adotando já estiver sob a tutela ou guarda legal
do adotante durante tempo suficiente para que seja possível avaliar a conveniência da constituição do
vínculo. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 2 o A simples guarda de fato não autoriza, por si só, a dispensa da realização do estágio de
convivência. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 2 o -A. O prazo máximo estabelecido no caput deste artigo pode ser prorrogado por até igual período,
mediante decisão fundamentada da autoridade judiciária. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)

§ 3 o Em caso de adoção por pessoa ou casal residente ou domiciliado fora do País, o estágio de
convivência será de, no mínimo, 30 (trinta) dias e, no máximo, 45 (quarenta e cinco) dias, prorrogável por até
igual período, uma única vez, mediante decisão fundamentada da autoridade judiciária. (Redação dada pela
Lei nº 13.509, de 2017)

§ 3 o -A. Ao final do prazo previsto no § 3 o deste artigo, deverá ser apresentado laudo fundamentado pela
equipe mencionada no § 4 o deste artigo, que recomendará ou não o deferimento da adoção à autoridade
judiciária. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)

§ 4 o O estágio de convivência será acompanhado pela equipe interprofissional a serviço da Justiça da


Infância e da Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política de
garantia do direito à convivência familiar, que apresentarão relatório minucioso acerca da conveniência do
deferimento da medida. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 5 o O estágio de convivência será cumprido no território nacional, preferencialmente na comarca de


residência da criança ou adolescente, ou, a critério do juiz, em cidade limítrofe, respeitada, em qualquer
hipótese, a competência do juízo da comarca de residência da criança. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)

Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial, que será inscrita no registro civil mediante
mandado do qual não se fornecerá certidão.

§ 1º A inscrição consignará o nome dos adotantes como pais, bem como o nome de seus ascendentes.

§ 2º O mandado judicial, que será arquivado, cancelará o registro original do adotado.

§ 3 o A pedido do adotante, o novo registro poderá ser lavrado no Cartório do Registro Civil do Município
de sua residência. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 4 o Nenhuma observação sobre a origem do ato poderá constar nas certidões do registro. (Redação
dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 5 o A sentença conferirá ao adotado o nome do adotante e, a pedido de qualquer deles, poderá


determinar a modificação do prenome. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 6 o Caso a modificação de prenome seja requerida pelo adotante, é obrigatória a oitiva do adotando,
observado o disposto nos §§ 1 o e 2 o do art. 28 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 7 o A adoção produz seus efeitos a partir do trânsito em julgado da sentença constitutiva, exceto na
hipótese prevista no § 6 o do art. 42 desta Lei, caso em que terá força retroativa à data do óbito. (Incluído pela
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 637

§ 8 o O processo relativo à adoção assim como outros a ele relacionados serão mantidos em arquivo,
admitindo-se seu armazenamento em microfilme ou por outros meios, garantida a sua conservação para
consulta a qualquer tempo. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 9º Terão prioridade de tramitação os processos de adoção em que o adotando for criança ou adolescente
com deficiência ou com doença crônica. (Incluído pela Lei nº 12.955, de 2014)

§ 10. O prazo máximo para conclusão da ação de adoção será de 120 (cento e vinte) dias, prorrogável
uma única vez por igual período, mediante decisão fundamentada da autoridade judiciária. (Incluído pela Lei nº
13.509, de 2017)

Art. 48. O adotado tem direito de conhecer sua origem biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao
processo no qual a medida foi aplicada e seus eventuais incidentes, após completar 18 (dezoito)
anos. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Parágrafo único. O acesso ao processo de adoção poderá ser também deferido ao adotado menor de 18
(dezoito) anos, a seu pedido, assegurada orientação e assistência jurídica e psicológica. (Incluído pela Lei nº
12.010, de 2009) Vigência

Art. 49. A morte dos adotantes não restabelece o pátrio poder poder familiar dos pais naturais. (Expressão
substituída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Art. 50. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou foro regional, um registro de crianças e
adolescentes em condições de serem adotados e outro de pessoas interessadas na adoção. (Vide Lei nº
12.010, de 2009) Vigência

§ 1º O deferimento da inscrição dar-se-á após prévia consulta aos órgãos técnicos do juizado, ouvido o
Ministério Público.

§ 2º Não será deferida a inscrição se o interessado não satisfizer os requisitos legais, ou verificada
qualquer das hipóteses previstas no art. 29.

§ 3 o A inscrição de postulantes à adoção será precedida de um período de preparação psicossocial e


jurídica, orientado pela equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente com apoio dos
técnicos responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência
familiar. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 4 o Sempre que possível e recomendável, a preparação referida no § 3 o deste artigo incluirá o contato
com crianças e adolescentes em acolhimento familiar ou institucional em condições de serem adotados, a ser
realizado sob a orientação, supervisão e avaliação da equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude,
com apoio dos técnicos responsáveis pelo programa de acolhimento e pela execução da política municipal de
garantia do direito à convivência familiar. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 5 o Serão criados e implementados cadastros estaduais e nacional de crianças e adolescentes em


condições de serem adotados e de pessoas ou casais habilitados à adoção. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência

§ 6 o Haverá cadastros distintos para pessoas ou casais residentes fora do País, que somente serão
consultados na inexistência de postulantes nacionais habilitados nos cadastros mencionados no § 5 o deste
artigo. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 7 o As autoridades estaduais e federais em matéria de adoção terão acesso integral aos cadastros,
incumbindo-lhes a troca de informações e a cooperação mútua, para melhoria do sistema. (Incluído pela Lei nº
12.010, de 2009) Vigência

§ 8 o A autoridade judiciária providenciará, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, a inscrição das crianças
e adolescentes em condições de serem adotados que não tiveram colocação familiar na comarca de origem, e
das pessoas ou casais que tiveram deferida sua habilitação à adoção nos cadastros estadual e nacional
referidos no § 5 o deste artigo, sob pena de responsabilidade. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 9 o Compete à Autoridade Central Estadual zelar pela manutenção e correta alimentação dos cadastros,
com posterior comunicação à Autoridade Central Federal Brasileira. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 638

§ 10. Consultados os cadastros e verificada a ausência de pretendentes habilitados residentes no País


com perfil compatível e interesse manifesto pela adoção de criança ou adolescente inscrito nos cadastros
existentes, será realizado o encaminhamento da criança ou adolescente à adoção internacional. (Redação
dada pela Lei nº 13.509, de 2017)

§ 11. Enquanto não localizada pessoa ou casal interessado em sua adoção, a criança ou o adolescente,
sempre que possível e recomendável, será colocado sob guarda de família cadastrada em programa de
acolhimento familiar. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 12. A alimentação do cadastro e a convocação criteriosa dos postulantes à adoção serão fiscalizadas
pelo Ministério Público. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 13. Somente poderá ser deferida adoção em favor de candidato domiciliado no Brasil não cadastrado
previamente nos termos desta Lei quando: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

I - se tratar de pedido de adoção unilateral; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

II - for formulada por parente com o qual a criança ou adolescente mantenha vínculos de afinidade e
afetividade; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

III - oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guarda legal de criança maior de 3 (três) anos ou
adolescente, desde que o lapso de tempo de convivência comprove a fixação de laços de afinidade e
afetividade, e não seja constatada a ocorrência de má-fé ou qualquer das situações previstas nos arts. 237 ou
238 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 14. Nas hipóteses previstas no § 13 deste artigo, o candidato deverá comprovar, no curso do
procedimento, que preenche os requisitos necessários à adoção, conforme previsto nesta Lei. (Incluído pela
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 15. Será assegurada prioridade no cadastro a pessoas interessadas em adotar criança ou adolescente
com deficiência, com doença crônica ou com necessidades específicas de saúde, além de grupo de
irmãos. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)

Art. 51. Considera-se adoção internacional aquela na qual o pretendente possui residência habitual em
país-parte da Convenção de Haia, de 29 de maio de 1993, Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação
em Matéria de Adoção Internacional, promulgada pelo Decreto n o 3.087, de 21 junho de 1999 , e deseja adotar
criança em outro país-parte da Convenção. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)

§ 1 o A adoção internacional de criança ou adolescente brasileiro ou domiciliado no Brasil somente terá


lugar quando restar comprovado: (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

I - que a colocação em família adotiva é a solução adequada ao caso concreto; (Redação dada pela Lei
nº 13.509, de 2017)

II - que foram esgotadas todas as possibilidades de colocação da criança ou adolescente em família


adotiva brasileira, com a comprovação, certificada nos autos, da inexistência de adotantes habilitados
residentes no Brasil com perfil compatível com a criança ou adolescente, após consulta aos cadastros
mencionados nesta Lei; (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)

III - que, em se tratando de adoção de adolescente, este foi consultado, por meios adequados ao seu
estágio de desenvolvimento, e que se encontra preparado para a medida, mediante parecer elaborado por
equipe interprofissional, observado o disposto nos §§ 1 o e 2 o do art. 28 desta Lei. (Incluída pela Lei nº 12.010,
de 2009) Vigência

§ 2 o Os brasileiros residentes no exterior terão preferência aos estrangeiros, nos casos de adoção
internacional de criança ou adolescente brasileiro. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 3 o A adoção internacional pressupõe a intervenção das Autoridades Centrais Estaduais e Federal em


matéria de adoção internacional. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 4º (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Art. 52. A adoção internacional observará o procedimento previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei, com as
seguintes adaptações: (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 639

I - a pessoa ou casal estrangeiro, interessado em adotar criança ou adolescente brasileiro, deverá formular
pedido de habilitação à adoção perante a Autoridade Central em matéria de adoção internacional no país de
acolhida, assim entendido aquele onde está situada sua residência habitual; (Incluída pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência

II - se a Autoridade Central do país de acolhida considerar que os solicitantes estão habilitados e aptos
para adotar, emitirá um relatório que contenha informações sobre a identidade, a capacidade jurídica e
adequação dos solicitantes para adotar, sua situação pessoal, familiar e médica, seu meio social, os motivos
que os animam e sua aptidão para assumir uma adoção internacional; (Incluída pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência

III - a Autoridade Central do país de acolhida enviará o relatório à Autoridade Central Estadual, com cópia
para a Autoridade Central Federal Brasileira; (Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

IV - o relatório será instruído com toda a documentação necessária, incluindo estudo psicossocial
elaborado por equipe interprofissional habilitada e cópia autenticada da legislação pertinente, acompanhada da
respectiva prova de vigência; (Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

V - os documentos em língua estrangeira serão devidamente autenticados pela autoridade consular,


observados os tratados e convenções internacionais, e acompanhados da respectiva tradução, por tradutor
público juramentado; (Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

VI - a Autoridade Central Estadual poderá fazer exigências e solicitar complementação sobre o estudo
psicossocial do postulante estrangeiro à adoção, já realizado no país de acolhida; (Incluída pela Lei nº 12.010,
de 2009) Vigência

VII - verificada, após estudo realizado pela Autoridade Central Estadual, a compatibilidade da legislação
estrangeira com a nacional, além do preenchimento por parte dos postulantes à medida dos requisitos objetivos
e subjetivos necessários ao seu deferimento, tanto à luz do que dispõe esta Lei como da legislação do país de
acolhida, será expedido laudo de habilitação à adoção internacional, que terá validade por, no máximo, 1 (um)
ano; (Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

VIII - de posse do laudo de habilitação, o interessado será autorizado a formalizar pedido de adoção
perante o Juízo da Infância e da Juventude do local em que se encontra a criança ou adolescente, conforme
indicação efetuada pela Autoridade Central Estadual. (Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 1 o Se a legislação do país de acolhida assim o autorizar, admite-se que os pedidos de habilitação à


adoção internacional sejam intermediados por organismos credenciados. (Incluída pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência

§ 2 o Incumbe à Autoridade Central Federal Brasileira o credenciamento de organismos nacionais e


estrangeiros encarregados de intermediar pedidos de habilitação à adoção internacional, com posterior
comunicação às Autoridades Centrais Estaduais e publicação nos órgãos oficiais de imprensa e em sítio próprio
da internet. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 3 o Somente será admissível o credenciamento de organismos que: (Incluída pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência

I - sejam oriundos de países que ratificaram a Convenção de Haia e estejam devidamente credenciados
pela Autoridade Central do país onde estiverem sediados e no país de acolhida do adotando para atuar em
adoção internacional no Brasil; (Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

II - satisfizerem as condições de integridade moral, competência profissional, experiência e


responsabilidade exigidas pelos países respectivos e pela Autoridade Central Federal Brasileira; (Incluída pela
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

III - forem qualificados por seus padrões éticos e sua formação e experiência para atuar na área de adoção
internacional; (Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

IV - cumprirem os requisitos exigidos pelo ordenamento jurídico brasileiro e pelas normas estabelecidas
pela Autoridade Central Federal Brasileira. (Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 4 o Os organismos credenciados deverão ainda: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 640

I - perseguir unicamente fins não lucrativos, nas condições e dentro dos limites fixados pelas autoridades
competentes do país onde estiverem sediados, do país de acolhida e pela Autoridade Central Federal
Brasileira; (Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

II - ser dirigidos e administrados por pessoas qualificadas e de reconhecida idoneidade moral, com
comprovada formação ou experiência para atuar na área de adoção internacional, cadastradas pelo
Departamento de Polícia Federal e aprovadas pela Autoridade Central Federal Brasileira, mediante publicação
de portaria do órgão federal competente; (Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

III - estar submetidos à supervisão das autoridades competentes do país onde estiverem sediados e no
país de acolhida, inclusive quanto à sua composição, funcionamento e situação financeira; (Incluída pela Lei nº
12.010, de 2009) Vigência

IV - apresentar à Autoridade Central Federal Brasileira, a cada ano, relatório geral das atividades
desenvolvidas, bem como relatório de acompanhamento das adoções internacionais efetuadas no período,
cuja cópia será encaminhada ao Departamento de Polícia Federal; (Incluída pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência

V - enviar relatório pós-adotivo semestral para a Autoridade Central Estadual, com cópia para a Autoridade
Central Federal Brasileira, pelo período mínimo de 2 (dois) anos. O envio do relatório será mantido até a juntada
de cópia autenticada do registro civil, estabelecendo a cidadania do país de acolhida para o adotado; (Incluída
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

VI - tomar as medidas necessárias para garantir que os adotantes encaminhem à Autoridade Central
Federal Brasileira cópia da certidão de registro de nascimento estrangeira e do certificado de nacionalidade tão
logo lhes sejam concedidos. (Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 5 o A não apresentação dos relatórios referidos no § 4 o deste artigo pelo organismo credenciado poderá
acarretar a suspensão de seu credenciamento. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 6 o O credenciamento de organismo nacional ou estrangeiro encarregado de intermediar pedidos de


adoção internacional terá validade de 2 (dois) anos. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 7 o A renovação do credenciamento poderá ser concedida mediante requerimento protocolado na


Autoridade Central Federal Brasileira nos 60 (sessenta) dias anteriores ao término do respectivo prazo de
validade. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 8 o Antes de transitada em julgado a decisão que concedeu a adoção internacional, não será permitida
a saída do adotando do território nacional. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 9 o Transitada em julgado a decisão, a autoridade judiciária determinará a expedição de alvará com


autorização de viagem, bem como para obtenção de passaporte, constando, obrigatoriamente, as
características da criança ou adolescente adotado, como idade, cor, sexo, eventuais sinais ou traços peculiares,
assim como foto recente e a aposição da impressão digital do seu polegar direito, instruindo o documento com
cópia autenticada da decisão e certidão de trânsito em julgado. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 10. A Autoridade Central Federal Brasileira poderá, a qualquer momento, solicitar informações sobre a
situação das crianças e adolescentes adotados (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 11. A cobrança de valores por parte dos organismos credenciados, que sejam considerados abusivos
pela Autoridade Central Federal Brasileira e que não estejam devidamente comprovados, é causa de seu
descredenciamento. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 12. Uma mesma pessoa ou seu cônjuge não podem ser representados por mais de uma entidade
credenciada para atuar na cooperação em adoção internacional. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 13. A habilitação de postulante estrangeiro ou domiciliado fora do Brasil terá validade máxima de 1 (um)
ano, podendo ser renovada. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 14. É vedado o contato direto de representantes de organismos de adoção, nacionais ou estrangeiros,


com dirigentes de programas de acolhimento institucional ou familiar, assim como com crianças e adolescentes
em condições de serem adotados, sem a devida autorização judicial. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 641

§ 15. A Autoridade Central Federal Brasileira poderá limitar ou suspender a concessão de novos
credenciamentos sempre que julgar necessário, mediante ato administrativo fundamentado. (Incluído pela Lei
nº 12.010, de 2009) Vigência

Art. 52-A. É vedado, sob pena de responsabilidade e descredenciamento, o repasse de recursos


provenientes de organismos estrangeiros encarregados de intermediar pedidos de adoção internacional a
organismos nacionais ou a pessoas físicas. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Parágrafo único. Eventuais repasses somente poderão ser efetuados via Fundo dos Direitos da Criança
e do Adolescente e estarão sujeitos às deliberações do respectivo Conselho de Direitos da Criança e do
Adolescente (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Art. 52-B. A adoção por brasileiro residente no exterior em país ratificante da Convenção de Haia, cujo
processo de adoção tenha sido processado em conformidade com a legislação vigente no país de residência
e atendido o disposto na Alínea “c” do Artigo 17 da referida Convenção, será automaticamente recepcionada
com o reingresso no Brasil. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 1 o Caso não tenha sido atendido o disposto na Alínea “c” do Artigo 17 da Convenção de Haia, deverá a
sentença ser homologada pelo Superior Tribunal de Justiça. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 2 o O pretendente brasileiro residente no exterior em país não ratificante da Convenção de Haia, uma
vez reingressado no Brasil, deverá requerer a homologação da sentença estrangeira pelo Superior Tribunal de
Justiça. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Art. 52-C. Nas adoções internacionais, quando o Brasil for o país de acolhida, a decisão da autoridade
competente do país de origem da criança ou do adolescente será conhecida pela Autoridade Central Estadual
que tiver processado o pedido de habilitação dos pais adotivos, que comunicará o fato à Autoridade Central
Federal e determinará as providências necessárias à expedição do Certificado de Naturalização
Provisório. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 1 o A Autoridade Central Estadual, ouvido o Ministério Público, somente deixará de reconhecer os efeitos
daquela decisão se restar demonstrado que a adoção é manifestamente contrária à ordem pública ou não
atende ao interesse superior da criança ou do adolescente. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 2 o Na hipótese de não reconhecimento da adoção, prevista no § 1 o deste artigo, o Ministério Público


deverá imediatamente requerer o que for de direito para resguardar os interesses da criança ou do adolescente,
comunicando-se as providências à Autoridade Central Estadual, que fará a comunicação à Autoridade Central
Federal Brasileira e à Autoridade Central do país de origem. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Art. 52-D. Nas adoções internacionais, quando o Brasil for o país de acolhida e a adoção não tenha sido
deferida no país de origem porque a sua legislação a delega ao país de acolhida, ou, ainda, na hipótese de,
mesmo com decisão, a criança ou o adolescente ser oriundo de país que não tenha aderido à Convenção
referida, o processo de adoção seguirá as regras da adoção nacional. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência

Capítulo IV

Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer

Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua
pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II - direito de ser respeitado por seus educadores;

III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores;

IV - direito de organização e participação em entidades estudantis;

V - acesso à escola pública e gratuita, próxima de sua residência, garantindo-se vagas no mesmo
estabelecimento a irmãos que frequentem a mesma etapa ou ciclo de ensino da educação básica. (Redação
dada pela Lei nº 13.845, de 2019)
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 642

Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como
participar da definição das propostas educacionais.

Art. 53-A. É dever da instituição de ensino, clubes e agremiações recreativas e de estabelecimentos


congêneres assegurar medidas de conscientização, prevenção e enfrentamento ao uso ou dependência de
drogas ilícitas. (Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019)

Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente:

I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade
própria;

II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio;

III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede


regular de ensino;

IV – atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos de idade; (Redação dada pela
Lei nº 13.306, de 2016)

V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade
de cada um;

VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente trabalhador;

VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-


escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde.

§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.

§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua oferta irregular importa
responsabilidade da autoridade competente.

§ 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e


zelar, junto aos pais ou responsável, pela freqüência à escola.

Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de
ensino.

Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os


casos de:

I - maus-tratos envolvendo seus alunos;

II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos escolares;

III - elevados níveis de repetência.

Art. 57. O poder público estimulará pesquisas, experiências e novas propostas relativas a calendário,
seriação, currículo, metodologia, didática e avaliação, com vistas à inserção de crianças e adolescentes
excluídos do ensino fundamental obrigatório.

Art. 58. No processo educacional respeitar-se-ão os valores culturais, artísticos e históricos próprios do
contexto social da criança e do adolescente, garantindo-se a estes a liberdade da criação e o acesso às fontes
de cultura.

Art. 59. Os municípios, com apoio dos estados e da União, estimularão e facilitarão a destinação de
recursos e espaços para programações culturais, esportivas e de lazer voltadas para a infância e a juventude.

Capítulo V

Do Direito à Profissionalização e à Proteção no Trabalho


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 643

Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade, salvo na condição de
aprendiz. (Vide Constituição Federal)

Art. 61. A proteção ao trabalho dos adolescentes é regulada por legislação especial, sem prejuízo do
disposto nesta Lei.

Art. 62. Considera-se aprendizagem a formação técnico-profissional ministrada segundo as diretrizes e


bases da legislação de educação em vigor.

Art. 63. A formação técnico-profissional obedecerá aos seguintes princípios:

I - garantia de acesso e freqüência obrigatória ao ensino regular;

II - atividade compatível com o desenvolvimento do adolescente;

III - horário especial para o exercício das atividades.

Art. 64. Ao adolescente até quatorze anos de idade é assegurada bolsa de aprendizagem.

Art. 65. Ao adolescente aprendiz, maior de quatorze anos, são assegurados os direitos trabalhistas
e previdenciários.

Art. 66. Ao adolescente portador de deficiência é assegurado trabalho protegido.

Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, em regime familiar de trabalho, aluno de escola técnica,
assistido em entidade governamental ou não-governamental, é vedado trabalho:

I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas de um dia e as cinco horas do dia seguinte;

II - perigoso, insalubre ou penoso;

III - realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e
social;

IV - realizado em horários e locais que não permitam a freqüência à escola.

Art. 68. O programa social que tenha por base o trabalho educativo, sob responsabilidade de entidade
governamental ou não-governamental sem fins lucrativos, deverá assegurar ao adolescente que dele participe
condições de capacitação para o exercício de atividade regular remunerada.

§ 1º Entende-se por trabalho educativo a atividade laboral em que as exigências pedagógicas relativas ao
desenvolvimento pessoal e social do educando prevalecem sobre o aspecto produtivo.

§ 2º A remuneração que o adolescente recebe pelo trabalho efetuado ou a participação na venda dos
produtos de seu trabalho não desfigura o caráter educativo.

Art. 69. O adolescente tem direito à profissionalização e à proteção no trabalho, observados os seguintes
aspectos, entre outros:

I - respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento;

II - capacitação profissional adequada ao mercado de trabalho.

Título III

Da Prevenção

Capítulo I

Disposições Gerais

Art. 70. É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da criança e do
adolescente.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 644

Art. 70-A. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão atuar de forma articulada na
elaboração de políticas públicas e na execução de ações destinadas a coibir o uso de castigo físico ou de
tratamento cruel ou degradante e difundir formas não violentas de educação de crianças e de adolescentes,
tendo como principais ações: (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)

I - a promoção de campanhas educativas permanentes para a divulgação do direito da criança e do


adolescente de serem educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante
e dos instrumentos de proteção aos direitos humanos; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)

II - a integração com os órgãos do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública, com o
Conselho Tutelar, com os Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente e com as entidades não
governamentais que atuam na promoção, proteção e defesa dos direitos da criança e do adolescente; (Incluído
pela Lei nº 13.010, de 2014)

III - a formação continuada e a capacitação dos profissionais de saúde, educação e assistência social e
dos demais agentes que atuam na promoção, proteção e defesa dos direitos da criança e do adolescente para
o desenvolvimento das competências necessárias à prevenção, à identificação de evidências, ao diagnóstico
e ao enfrentamento de todas as formas de violência contra a criança e o adolescente; (Incluído pela Lei nº
13.010, de 2014)

IV - o apoio e o incentivo às práticas de resolução pacífica de conflitos que envolvam violência contra a
criança e o adolescente; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)

V - a inclusão, nas políticas públicas, de ações que visem a garantir os direitos da criança e do adolescente,
desde a atenção pré-natal, e de atividades junto aos pais e responsáveis com o objetivo de promover a
informação, a reflexão, o debate e a orientação sobre alternativas ao uso de castigo físico ou de tratamento
cruel ou degradante no processo educativo; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)

VI - a promoção de espaços intersetoriais locais para a articulação de ações e a elaboração de planos de


atuação conjunta focados nas famílias em situação de violência, com participação de profissionais de saúde,
de assistência social e de educação e de órgãos de promoção, proteção e defesa dos direitos da criança e do
adolescente. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)

Parágrafo único. As famílias com crianças e adolescentes com deficiência terão prioridade de atendimento
nas ações e políticas públicas de prevenção e proteção. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)

Art. 70-B. As entidades, públicas e privadas, que atuem nas áreas a que se refere o art. 71, dentre outras,
devem contar, em seus quadros, com pessoas capacitadas a reconhecer e comunicar ao Conselho Tutelar
suspeitas ou casos de maus-tratos praticados contra crianças e adolescentes. (Incluído pela Lei nº 13.046, de
2014)

Parágrafo único. São igualmente responsáveis pela comunicação de que trata este artigo, as pessoas
encarregadas, por razão de cargo, função, ofício, ministério, profissão ou ocupação, do cuidado, assistência ou
guarda de crianças e adolescentes, punível, na forma deste Estatuto, o injustificado retardamento ou omissão,
culposos ou dolosos. (Incluído pela Lei nº 13.046, de 2014)

Art. 71. A criança e o adolescente têm direito a informação, cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos
e produtos e serviços que respeitem sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.

Art. 72. As obrigações previstas nesta Lei não excluem da prevenção especial outras decorrentes dos
princípios por ela adotados.

Art. 73. A inobservância das normas de prevenção importará em responsabilidade da pessoa física ou
jurídica, nos termos desta Lei.

Capítulo II

Da Prevenção Especial

Seção I

Da informação, Cultura, Lazer, Esportes, Diversões e Espetáculos


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 645

Art. 74. O poder público, através do órgão competente, regulará as diversões e espetáculos públicos,
informando sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e horários em que sua
apresentação se mostre inadequada.

Parágrafo único. Os responsáveis pelas diversões e espetáculos públicos deverão afixar, em lugar visível
e de fácil acesso, à entrada do local de exibição, informação destacada sobre a natureza do espetáculo e a
faixa etária especificada no certificado de classificação.

Art. 75. Toda criança ou adolescente terá acesso às diversões e espetáculos públicos classificados como
adequados à sua faixa etária.

Parágrafo único. As crianças menores de dez anos somente poderão ingressar e permanecer nos locais
de apresentação ou exibição quando acompanhadas dos pais ou responsável.

Art. 76. As emissoras de rádio e televisão somente exibirão, no horário recomendado para o público infanto
juvenil, programas com finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas.

Parágrafo único. Nenhum espetáculo será apresentado ou anunciado sem aviso de sua classificação,
antes de sua transmissão, apresentação ou exibição.

Art. 77. Os proprietários, diretores, gerentes e funcionários de empresas que explorem a venda ou aluguel
de fitas de programação em vídeo cuidarão para que não haja venda ou locação em desacordo com a
classificação atribuída pelo órgão competente.

Parágrafo único. As fitas a que alude este artigo deverão exibir, no invólucro, informação sobre a natureza
da obra e a faixa etária a que se destinam.

Art. 78. As revistas e publicações contendo material impróprio ou inadequado a crianças e adolescentes
deverão ser comercializadas em embalagem lacrada, com a advertência de seu conteúdo.

Parágrafo único. As editoras cuidarão para que as capas que contenham mensagens pornográficas ou
obscenas sejam protegidas com embalagem opaca.

Art. 79. As revistas e publicações destinadas ao público infanto-juvenil não poderão conter ilustrações,
fotografias, legendas, crônicas ou anúncios de bebidas alcoólicas, tabaco, armas e munições, e deverão
respeitar os valores éticos e sociais da pessoa e da família.

Art. 80. Os responsáveis por estabelecimentos que explorem comercialmente bilhar, sinuca ou congênere
ou por casas de jogos, assim entendidas as que realizem apostas, ainda que eventualmente, cuidarão para
que não seja permitida a entrada e a permanência de crianças e adolescentes no local, afixando aviso para
orientação do público.

Seção II

Dos Produtos e Serviços

Art. 81. É proibida a venda à criança ou ao adolescente de:

I - armas, munições e explosivos;

II - bebidas alcoólicas;

III - produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica ainda que por utilização
indevida;

IV - fogos de estampido e de artifício, exceto aqueles que pelo seu reduzido potencial sejam incapazes
de provocar qualquer dano físico em caso de utilização indevida;

V - revistas e publicações a que alude o art. 78;

VI - bilhetes lotéricos e equivalentes.

Art. 82. É proibida a hospedagem de criança ou adolescente em hotel, motel, pensão ou


estabelecimento congênere, salvo se autorizado ou acompanhado pelos pais ou responsável.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 646

Seção III

Da Autorização para Viajar

Art. 83. Nenhuma criança ou adolescente menor de 16 (dezesseis) anos poderá viajar para fora da
comarca onde reside desacompanhado dos pais ou dos responsáveis sem expressa autorização
judicial. (Redação dada pela Lei nº 13.812, de 2019)

§ 1º A autorização não será exigida quando:

a) tratar-se de comarca contígua à da residência da criança ou do adolescente menor de 16 (dezesseis)


anos, se na mesma unidade da Federação, ou incluída na mesma região metropolitana; (Redação dada pela
Lei nº 13.812, de 2019)

b) a criança ou o adolescente menor de 16 (dezesseis) anos estiver acompanhado: (Redação dada pela
Lei nº 13.812, de 2019)

1) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro grau, comprovado documentalmente o parentesco;

2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo pai, mãe ou responsável.

§ 2º A autoridade judiciária poderá, a pedido dos pais ou responsável, conceder autorização válida por
dois anos.

Art. 84. Quando se tratar de viagem ao exterior, a autorização é dispensável, se a criança ou


adolescente:

I - estiver acompanhado de ambos os pais ou responsável;

II - viajar na companhia de um dos pais, autorizado expressamente pelo outro através de documento
com firma reconhecida.

Art. 85. Sem prévia e expressa autorização judicial, nenhuma criança ou adolescente nascido em
território nacional poderá sair do País em companhia de estrangeiro residente ou domiciliado no exterior.

Parte Especial

Título I

Da Política de Atendimento

Capítulo I

Disposições Gerais

Art. 86. A política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-á através de um
conjunto articulado de ações governamentais e não-governamentais, da União, dos estados, do Distrito
Federal e dos municípios.

Art. 87. São linhas de ação da política de atendimento:

I - políticas sociais básicas;

II - serviços, programas, projetos e benefícios de assistência social de garantia de proteção social e de


prevenção e redução de violações de direitos, seus agravamentos ou reincidências; (Redação dada pela Lei
nº 13.257, de 2016)

III - serviços especiais de prevenção e atendimento médico e psicossocial às vítimas de negligência, maus-
tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão;

IV - serviço de identificação e localização de pais, responsável, crianças e adolescentes desaparecidos;

V - proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos da criança e do adolescente.


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 647

VI - políticas e programas destinados a prevenir ou abreviar o período de afastamento do convívio familiar


e a garantir o efetivo exercício do direito à convivência familiar de crianças e adolescentes; (Incluído pela Lei
nº 12.010, de 2009) Vigência

VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob forma de guarda de crianças e adolescentes afastados
do convívio familiar e à adoção, especificamente inter-racial, de crianças maiores ou de adolescentes, com
necessidades específicas de saúde ou com deficiências e de grupos de irmãos. (Incluído pela Lei nº 12.010,
de 2009) Vigência

Art. 88. São diretrizes da política de atendimento:

I - municipalização do atendimento;

II - criação de conselhos municipais, estaduais e nacional dos direitos da criança e do adolescente, órgãos
deliberativos e controladores das ações em todos os níveis, assegurada a participação popular paritária por
meio de organizações representativas, segundo leis federal, estaduais e municipais;

III - criação e manutenção de programas específicos, observada a descentralização político-administrativa;

IV - manutenção de fundos nacional, estaduais e municipais vinculados aos respectivos conselhos dos
direitos da criança e do adolescente;

V - integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério Público, Defensoria, Segurança Pública e


Assistência Social, preferencialmente em um mesmo local, para efeito de agilização do atendimento inicial a
adolescente a quem se atribua autoria de ato infracional;

VI - integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério Público, Defensoria, Conselho Tutelar e


encarregados da execução das políticas sociais básicas e de assistência social, para efeito de agilização do
atendimento de crianças e de adolescentes inseridos em programas de acolhimento familiar ou institucional,
com vista na sua rápida reintegração à família de origem ou, se tal solução se mostrar comprovadamente
inviável, sua colocação em família substituta, em quaisquer das modalidades previstas no art. 28 desta
Lei; (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

VII - mobilização da opinião pública para a indispensável participação dos diversos segmentos da
sociedade. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

VIII - especialização e formação continuada dos profissionais que trabalham nas diferentes áreas da
atenção à primeira infância, incluindo os conhecimentos sobre direitos da criança e sobre desenvolvimento
infantil; (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)

IX - formação profissional com abrangência dos diversos direitos da criança e do adolescente que favoreça
a intersetorialidade no atendimento da criança e do adolescente e seu desenvolvimento integral; (Incluído pela
Lei nº 13.257, de 2016)

X - realização e divulgação de pesquisas sobre desenvolvimento infantil e sobre prevenção da


violência. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)

Art. 89. A função de membro do conselho nacional e dos conselhos estaduais e municipais dos direitos da
criança e do adolescente é considerada de interesse público relevante e não será remunerada.

Capítulo II

Das Entidades de Atendimento

eção I

Disposições Gerais

Art. 90. As entidades de atendimento são responsáveis pela manutenção das próprias unidades, assim
como pelo planejamento e execução de programas de proteção e sócio-educativos destinados a crianças e
adolescentes, em regime de: (Vide)

I - orientação e apoio sócio-familiar;


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 648

II - apoio sócio-educativo em meio aberto;

III - colocação familiar;

IV - acolhimento institucional; (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

V - prestação de serviços à comunidade; (Redação dada pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

VI - liberdade assistida; (Redação dada pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

VII - semiliberdade; e (Redação dada pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

VIII - internação. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

§ 1 o As entidades governamentais e não governamentais deverão proceder à inscrição de seus


programas, especificando os regimes de atendimento, na forma definida neste artigo, no Conselho Municipal
dos Direitos da Criança e do Adolescente, o qual manterá registro das inscrições e de suas alterações, do que
fará comunicação ao Conselho Tutelar e à autoridade judiciária. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 2 o Os recursos destinados à implementação e manutenção dos programas relacionados neste artigo


serão previstos nas dotações orçamentárias dos órgãos públicos encarregados das áreas de Educação, Saúde
e Assistência Social, dentre outros, observando-se o princípio da prioridade absoluta à criança e ao adolescente
preconizado pelo caput do art. 227 da Constituição Federal e pelo caput e parágrafo único do art. 4 o desta
Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 3 o Os programas em execução serão reavaliados pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do
Adolescente, no máximo, a cada 2 (dois) anos, constituindo-se critérios para renovação da autorização de
funcionamento: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

I - o efetivo respeito às regras e princípios desta Lei, bem como às resoluções relativas à modalidade de
atendimento prestado expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente, em todos os
níveis; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

II - a qualidade e eficiência do trabalho desenvolvido, atestadas pelo Conselho Tutelar, pelo Ministério
Público e pela Justiça da Infância e da Juventude; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

III - em se tratando de programas de acolhimento institucional ou familiar, serão considerados os índices


de sucesso na reintegração familiar ou de adaptação à família substituta, conforme o caso. (Incluído pela Lei
nº 12.010, de 2009) Vigência

Art. 91. As entidades não-governamentais somente poderão funcionar depois de registradas no


Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o qual comunicará o registro ao Conselho
Tutelar e à autoridade judiciária da respectiva localidade.

§ 1 o Será negado o registro à entidade que: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

a) não ofereça instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade, higiene, salubridade e


segurança;

b) não apresente plano de trabalho compatível com os princípios desta Lei;

c) esteja irregularmente constituída;

d) tenha em seus quadros pessoas inidôneas.

e) não se adequar ou deixar de cumprir as resoluções e deliberações relativas à modalidade de


atendimento prestado expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente, em todos os
níveis. (Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 2 o O registro terá validade máxima de 4 (quatro) anos, cabendo ao Conselho Municipal dos Direitos da
Criança e do Adolescente, periodicamente, reavaliar o cabimento de sua renovação, observado o disposto no
§ 1 o deste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 649

Art. 92. As entidades que desenvolvam programas de acolhimento familiar ou institucional deverão
adotar os seguintes princípios: (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

I - preservação dos vínculos familiares e promoção da reintegração familiar; (Redação dada pela Lei nº
12.010, de 2009) Vigência

II - integração em família substituta, quando esgotados os recursos de manutenção na família natural ou


extensa; (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

III - atendimento personalizado e em pequenos grupos;

IV - desenvolvimento de atividades em regime de co-educação;

V - não desmembramento de grupos de irmãos;

VI - evitar, sempre que possível, a transferência para outras entidades de crianças e adolescentes
abrigados;

VII - participação na vida da comunidade local;

VIII - preparação gradativa para o desligamento;

IX - participação de pessoas da comunidade no processo educativo.

§ 1 o O dirigente de entidade que desenvolve programa de acolhimento institucional é equiparado ao


guardião, para todos os efeitos de direito. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 2 o Os dirigentes de entidades que desenvolvem programas de acolhimento familiar ou institucional


remeterão à autoridade judiciária, no máximo a cada 6 (seis) meses, relatório circunstanciado acerca da
situação de cada criança ou adolescente acolhido e sua família, para fins da reavaliação prevista no § 1 o do
art. 19 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 3 o Os entes federados, por intermédio dos Poderes Executivo e Judiciário, promoverão conjuntamente
a permanente qualificação dos profissionais que atuam direta ou indiretamente em programas de acolhimento
institucional e destinados à colocação familiar de crianças e adolescentes, incluindo membros do Poder
Judiciário, Ministério Público e Conselho Tutelar. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 4 o Salvo determinação em contrário da autoridade judiciária competente, as entidades que desenvolvem


programas de acolhimento familiar ou institucional, se necessário com o auxílio do Conselho Tutelar e dos
órgãos de assistência social, estimularão o contato da criança ou adolescente com seus pais e parentes, em
cumprimento ao disposto nos incisos I e VIII do caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência

§ 5 o As entidades que desenvolvem programas de acolhimento familiar ou institucional somente poderão


receber recursos públicos se comprovado o atendimento dos princípios, exigências e finalidades desta
Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 6 o O descumprimento das disposições desta Lei pelo dirigente de entidade que desenvolva programas
de acolhimento familiar ou institucional é causa de sua destituição, sem prejuízo da apuração de sua
responsabilidade administrativa, civil e criminal. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 7 o Quando se tratar de criança de 0 (zero) a 3 (três) anos em acolhimento institucional, dar-se-á especial
atenção à atuação de educadores de referência estáveis e qualitativamente significativos, às rotinas específicas
e ao atendimento das necessidades básicas, incluindo as de afeto como prioritárias. (Incluído pela Lei nº
13.257, de 2016)

Art. 93. As entidades que mantenham programa de acolhimento institucional poderão, em caráter
excepcional e de urgência, acolher crianças e adolescentes sem prévia determinação da autoridade
competente, fazendo comunicação do fato em até 24 (vinte e quatro) horas ao Juiz da Infância e da Juventude,
sob pena de responsabilidade. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Parágrafo único. Recebida a comunicação, a autoridade judiciária, ouvido o Ministério Público e se


necessário com o apoio do Conselho Tutelar local, tomará as medidas necessárias para promover a imediata
reintegração familiar da criança ou do adolescente ou, se por qualquer razão não for isso possível ou
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 650

recomendável, para seu encaminhamento a programa de acolhimento familiar, institucional ou a família


substituta, observado o disposto no § 2 o do art. 101 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Art. 94. As entidades que desenvolvem programas de internação têm as seguintes obrigações, entre
outras:

I - observar os direitos e garantias de que são titulares os adolescentes;

II - não restringir nenhum direito que não tenha sido objeto de restrição na decisão de internação;

III - oferecer atendimento personalizado, em pequenas unidades e grupos reduzidos;

IV - preservar a identidade e oferecer ambiente de respeito e dignidade ao adolescente;

V - diligenciar no sentido do restabelecimento e da preservação dos vínculos familiares;

VI - comunicar à autoridade judiciária, periodicamente, os casos em que se mostre inviável ou impossível


o reatamento dos vínculos familiares;

VII - oferecer instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade, higiene, salubridade e


segurança e os objetos necessários à higiene pessoal;

VIII - oferecer vestuário e alimentação suficientes e adequados à faixa etária dos adolescentes
atendidos;

IX - oferecer cuidados médicos, psicológicos, odontológicos e farmacêuticos;

X - propiciar escolarização e profissionalização;

XI - propiciar atividades culturais, esportivas e de lazer;

XII - propiciar assistência religiosa àqueles que desejarem, de acordo com suas crenças;

XIII - proceder a estudo social e pessoal de cada caso;

XIV - reavaliar periodicamente cada caso, com intervalo máximo de seis meses, dando ciência dos
resultados à autoridade competente;

XV - informar, periodicamente, o adolescente internado sobre sua situação processual;

XVI - comunicar às autoridades competentes todos os casos de adolescentes portadores de moléstias


infecto-contagiosas;

XVII - fornecer comprovante de depósito dos pertences dos adolescentes;

XVIII - manter programas destinados ao apoio e acompanhamento de egressos;

XIX - providenciar os documentos necessários ao exercício da cidadania àqueles que não os tiverem;

XX - manter arquivo de anotações onde constem data e circunstâncias do atendimento, nome do


adolescente, seus pais ou responsável, parentes, endereços, sexo, idade, acompanhamento da sua formação,
relação de seus pertences e demais dados que possibilitem sua identificação e a individualização do
atendimento.

§ 1 o Aplicam-se, no que couber, as obrigações constantes deste artigo às entidades que mantêm
programas de acolhimento institucional e familiar. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 2º No cumprimento das obrigações a que alude este artigo as entidades utilizarão preferencialmente
os recursos da comunidade.

Art. 94-A. As entidades, públicas ou privadas, que abriguem ou recepcionem crianças e adolescentes,
ainda que em caráter temporário, devem ter, em seus quadros, profissionais capacitados a reconhecer e
reportar ao Conselho Tutelar suspeitas ou ocorrências de maus-tratos. (Incluído pela Lei nº 13.046, de 2014)
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 651

Seção II

Da Fiscalização das Entidades

Art. 95. As entidades governamentais e não-governamentais referidas no art. 90 serão fiscalizadas pelo
Judiciário, pelo Ministério Público e pelos Conselhos Tutelares.

Art. 96. Os planos de aplicação e as prestações de contas serão apresentados ao estado ou ao


município, conforme a origem das dotações orçamentárias.

Art. 97. São medidas aplicáveis às entidades de atendimento que descumprirem obrigação constante do
art. 94, sem prejuízo da responsabilidade civil e criminal de seus dirigentes ou prepostos:

I - às entidades governamentais:

a) advertência;

b) afastamento provisório de seus dirigentes;

c) afastamento definitivo de seus dirigentes;

d) fechamento de unidade ou interdição de programa.

II - às entidades não-governamentais:

a) advertência;

b) suspensão total ou parcial do repasse de verbas públicas;

c) interdição de unidades ou suspensão de programa;

d) cassação do registro.

§ 1 o Em caso de reiteradas infrações cometidas por entidades de atendimento, que coloquem em risco os
direitos assegurados nesta Lei, deverá ser o fato comunicado ao Ministério Público ou representado perante
autoridade judiciária competente para as providências cabíveis, inclusive suspensão das atividades ou
dissolução da entidade. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 2 o As pessoas jurídicas de direito público e as organizações não governamentais responderão pelos


danos que seus agentes causarem às crianças e aos adolescentes, caracterizado o descumprimento dos
princípios norteadores das atividades de proteção específica. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência

Título II

Das Medidas de Proteção

Capítulo I

Disposições Gerais

Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os direitos
reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados:

I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;

II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável;

III - em razão de sua conduta.

Capítulo II

Das Medidas Específicas de Proteção


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 652

Art. 99. As medidas previstas neste Capítulo poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem
como substituídas a qualquer tempo.

Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as necessidades pedagógicas, preferindo-se
aquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.

Parágrafo único. São também princípios que regem a aplicação das medidas: (Incluído pela Lei nº 12.010,
de 2009) Vigência

I - condição da criança e do adolescente como sujeitos de direitos: crianças e adolescentes são os titulares
dos direitos previstos nesta e em outras Leis, bem como na Constituição Federal; (Incluído pela Lei nº 12.010,
de 2009) Vigência

II - proteção integral e prioritária: a interpretação e aplicação de toda e qualquer norma contida nesta Lei
deve ser voltada à proteção integral e prioritária dos direitos de que crianças e adolescentes são
titulares; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

III - responsabilidade primária e solidária do poder público: a plena efetivação dos direitos assegurados a
crianças e a adolescentes por esta Lei e pela Constituição Federal, salvo nos casos por esta expressamente
ressalvados, é de responsabilidade primária e solidária das 3 (três) esferas de governo, sem prejuízo da
municipalização do atendimento e da possibilidade da execução de programas por entidades não
governamentais; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

IV - interesse superior da criança e do adolescente: a intervenção deve atender prioritariamente aos


interesses e direitos da criança e do adolescente, sem prejuízo da consideração que for devida a outros
interesses legítimos no âmbito da pluralidade dos interesses presentes no caso concreto; (Incluído pela Lei nº
12.010, de 2009) Vigência

V - privacidade: a promoção dos direitos e proteção da criança e do adolescente deve ser efetuada no
respeito pela intimidade, direito à imagem e reserva da sua vida privada; (Incluído pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência

VI - intervenção precoce: a intervenção das autoridades competentes deve ser efetuada logo que a
situação de perigo seja conhecida; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

VII - intervenção mínima: a intervenção deve ser exercida exclusivamente pelas autoridades e instituições
cuja ação seja indispensável à efetiva promoção dos direitos e à proteção da criança e do adolescente; (Incluído
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

VIII - proporcionalidade e atualidade: a intervenção deve ser a necessária e adequada à situação de perigo
em que a criança ou o adolescente se encontram no momento em que a decisão é tomada; (Incluído pela Lei
nº 12.010, de 2009) Vigência

IX - responsabilidade parental: a intervenção deve ser efetuada de modo que os pais assumam os seus
deveres para com a criança e o adolescente; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

X - prevalência da família: na promoção de direitos e na proteção da criança e do adolescente deve ser


dada prevalência às medidas que os mantenham ou reintegrem na sua família natural ou extensa ou, se isso
não for possível, que promovam a sua integração em família adotiva; (Redação dada pela Lei nº 13.509, de
2017)

XI - obrigatoriedade da informação: a criança e o adolescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento


e capacidade de compreensão, seus pais ou responsável devem ser informados dos seus direitos, dos motivos
que determinaram a intervenção e da forma como esta se processa; (Incluído pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência

XII - oitiva obrigatória e participação: a criança e o adolescente, em separado ou na companhia dos pais,
de responsável ou de pessoa por si indicada, bem como os seus pais ou responsável, têm direito a ser ouvidos
e a participar nos atos e na definição da medida de promoção dos direitos e de proteção, sendo sua opinião
devidamente considerada pela autoridade judiciária competente, observado o disposto nos §§ 1 o e 2 o do art.
28 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá
determinar, dentre outras, as seguintes medidas:
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 653

I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;

II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;

III - matrícula e freqüência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental;

IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção da família,


da criança e do adolescente; (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)

V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;

VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e


toxicômanos;

VII - acolhimento institucional; (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar; (Redação dada pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência

IX - colocação em família substituta. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 1 o O acolhimento institucional e o acolhimento familiar são medidas provisórias e excepcionais,


utilizáveis como forma de transição para reintegração familiar ou, não sendo esta possível, para colocação em
família substituta, não implicando privação de liberdade. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 2 o Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais para proteção de vítimas de violência ou abuso
sexual e das providências a que alude o art. 130 desta Lei, o afastamento da criança ou adolescente do convívio
familiar é de competência exclusiva da autoridade judiciária e importará na deflagração, a pedido do Ministério
Público ou de quem tenha legítimo interesse, de procedimento judicial contencioso, no qual se garanta aos pais
ou ao responsável legal o exercício do contraditório e da ampla defesa. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência

§ 3 o Crianças e adolescentes somente poderão ser encaminhados às instituições que executam


programas de acolhimento institucional, governamentais ou não, por meio de uma Guia de Acolhimento,
expedida pela autoridade judiciária, na qual obrigatoriamente constará, dentre outros: (Incluído pela Lei nº
12.010, de 2009) Vigência

I - sua identificação e a qualificação completa de seus pais ou de seu responsável, se


conhecidos; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

II - o endereço de residência dos pais ou do responsável, com pontos de referência; (Incluído pela Lei nº
12.010, de 2009) Vigência

III - os nomes de parentes ou de terceiros interessados em tê-los sob sua guarda; (Incluído pela Lei nº
12.010, de 2009) Vigência

IV - os motivos da retirada ou da não reintegração ao convívio familiar. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência

§ 4 o Imediatamente após o acolhimento da criança ou do adolescente, a entidade responsável pelo


programa de acolhimento institucional ou familiar elaborará um plano individual de atendimento, visando à
reintegração familiar, ressalvada a existência de ordem escrita e fundamentada em contrário de autoridade
judiciária competente, caso em que também deverá contemplar sua colocação em família substituta,
observadas as regras e princípios desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 5 o O plano individual será elaborado sob a responsabilidade da equipe técnica do respectivo programa
de atendimento e levará em consideração a opinião da criança ou do adolescente e a oitiva dos pais ou do
responsável. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 6 o Constarão do plano individual, dentre outros: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

I - os resultados da avaliação interdisciplinar; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 654

II - os compromissos assumidos pelos pais ou responsável; e (Incluído pela Lei nº 12.010, de


2009) Vigência

III - a previsão das atividades a serem desenvolvidas com a criança ou com o adolescente acolhido e seus
pais ou responsável, com vista na reintegração familiar ou, caso seja esta vedada por expressa e fundamentada
determinação judicial, as providências a serem tomadas para sua colocação em família substituta, sob direta
supervisão da autoridade judiciária. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 7 o O acolhimento familiar ou institucional ocorrerá no local mais próximo à residência dos pais ou do
responsável e, como parte do processo de reintegração familiar, sempre que identificada a necessidade, a
família de origem será incluída em programas oficiais de orientação, de apoio e de promoção social, sendo
facilitado e estimulado o contato com a criança ou com o adolescente acolhido. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência

§ 8 o Verificada a possibilidade de reintegração familiar, o responsável pelo programa de acolhimento


familiar ou institucional fará imediata comunicação à autoridade judiciária, que dará vista ao Ministério Público,
pelo prazo de 5 (cinco) dias, decidindo em igual prazo. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 9 o Em sendo constatada a impossibilidade de reintegração da criança ou do adolescente à família de


origem, após seu encaminhamento a programas oficiais ou comunitários de orientação, apoio e promoção
social, será enviado relatório fundamentado ao Ministério Público, no qual conste a descrição pormenorizada
das providências tomadas e a expressa recomendação, subscrita pelos técnicos da entidade ou responsáveis
pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar, para a destituição do poder
familiar, ou destituição de tutela ou guarda. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 10. Recebido o relatório, o Ministério Público terá o prazo de 15 (quinze) dias para o ingresso com a
ação de destituição do poder familiar, salvo se entender necessária a realização de estudos complementares
ou de outras providências indispensáveis ao ajuizamento da demanda. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de
2017)

§ 11. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou foro regional, um cadastro contendo
informações atualizadas sobre as crianças e adolescentes em regime de acolhimento familiar e institucional
sob sua responsabilidade, com informações pormenorizadas sobre a situação jurídica de cada um, bem como
as providências tomadas para sua reintegração familiar ou colocação em família substituta, em qualquer das
modalidades previstas no art. 28 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 12. Terão acesso ao cadastro o Ministério Público, o Conselho Tutelar, o órgão gestor da Assistência
Social e os Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente e da Assistência Social, aos quais
incumbe deliberar sobre a implementação de políticas públicas que permitam reduzir o número de crianças e
adolescentes afastados do convívio familiar e abreviar o período de permanência em programa de
acolhimento. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Art. 102. As medidas de proteção de que trata este Capítulo serão acompanhadas da regularização do
registro civil. (Vide Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 1º Verificada a inexistência de registro anterior, o assento de nascimento da criança ou adolescente será


feito à vista dos elementos disponíveis, mediante requisição da autoridade judiciária.

§ 2º Os registros e certidões necessários à regularização de que trata este artigo são isentos de multas,
custas e emolumentos, gozando de absoluta prioridade.

§ 3 o Caso ainda não definida a paternidade, será deflagrado procedimento específico destinado à sua
averiguação, conforme previsto pela Lei n o 8.560, de 29 de dezembro de 1992. (Incluído pela Lei nº 12.010,
de 2009) Vigência

§ 4 o Nas hipóteses previstas no § 3 o deste artigo, é dispensável o ajuizamento de ação de investigação


de paternidade pelo Ministério Público se, após o não comparecimento ou a recusa do suposto pai em
assumir a paternidade a ele atribuída, a criança for encaminhada para adoção. (Incluído pela Lei nº 12.010,
de 2009) Vigência

§ 5 o Os registros e certidões necessários à inclusão, a qualquer tempo, do nome do pai no assento de


nascimento são isentos de multas, custas e emolumentos, gozando de absoluta prioridade. (Incluído dada
pela Lei nº 13.257, de 2016)
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 655

§ 6 o São gratuitas, a qualquer tempo, a averbação requerida do reconhecimento de paternidade no


assento de nascimento e a certidão correspondente. (Incluído dada pela Lei nº 13.257, de 2016)

Título III

Da Prática de Ato Infracional

Capítulo I

Disposições Gerais

Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal.

Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às medidas previstas nesta
Lei.

Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser considerada a idade do adolescente à data do fato.

Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança corresponderão as medidas previstas no art. 101.

Capítulo II

Dos Direitos Individuais

Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de ato infracional ou por
ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente.

Parágrafo único. O adolescente tem direito à identificação dos responsáveis pela sua apreensão, devendo
ser informado acerca de seus direitos.

Art. 107. A apreensão de qualquer adolescente e o local onde se encontra recolhido serão incontinenti
comunicados à autoridade judiciária competente e à família do apreendido ou à pessoa por ele indicada.

Parágrafo único. Examinar-se-á, desde logo e sob pena de responsabilidade, a possibilidade de liberação
imediata.

Art. 108. A internação, antes da sentença, pode ser determinada pelo prazo máximo de quarenta e cinco
dias.

Parágrafo único. A decisão deverá ser fundamentada e basear-se em indícios suficientes de autoria e
materialidade, demonstrada a necessidade imperiosa da medida.

Art. 109. O adolescente civilmente identificado não será submetido a identificação compulsória pelos
órgãos policiais, de proteção e judiciais, salvo para efeito de confrontação, havendo dúvida fundada.

Capítulo III

Das Garantias Processuais

Art. 110. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade sem o devido processo legal.

Art. 111. São asseguradas ao adolescente, entre outras, as seguintes garantias:

I - pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, mediante citação ou meio equivalente;

II - igualdade na relação processual, podendo confrontar-se com vítimas e testemunhas e produzir todas
as provas necessárias à sua defesa;

III - defesa técnica por advogado;

IV - assistência judiciária gratuita e integral aos necessitados, na forma da lei;

V - direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade competente;


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 656

VI - direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável em qualquer fase do procedimento.

Capítulo IV

Das Medidas Sócio-Educativas

Seção I

Disposições Gerais

Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente
as seguintes medidas:

I - advertência;

II - obrigação de reparar o dano;

III - prestação de serviços à comunidade;

IV - liberdade assistida;

V - inserção em regime de semi-liberdade;

VI - internação em estabelecimento educacional;

VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.

§ 1º A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade de cumpri-la, as


circunstâncias e a gravidade da infração.

§ 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a prestação de trabalho forçado.

§ 3º Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental receberão tratamento individual e


especializado, em local adequado às suas condições.

Art. 113. Aplica-se a este Capítulo o disposto nos arts. 99 e 100.

Art. 114. A imposição das medidas previstas nos incisos II a VI do art. 112 pressupõe a existência de
provas suficientes da autoria e da materialidade da infração, ressalvada a hipótese de remissão, nos termos
do art. 127.

Parágrafo único. A advertência poderá ser aplicada sempre que houver prova da materialidade e indícios
suficientes da autoria.

Seção II

Da Advertência

Art. 115. A advertência consistirá em admoestação verbal, que será reduzida a termo e assinada.

Seção III

Da Obrigação de Reparar o Dano

Art. 116. Em se tratando de ato infracional com reflexos patrimoniais, a autoridade poderá determinar, se
for o caso, que o adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimento do dano, ou, por outra forma,
compense o prejuízo da vítima.

Parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade, a medida poderá ser substituída por outra
adequada.

Seção IV

Da Prestação de Serviços à Comunidade


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 657

Art. 117. A prestação de serviços comunitários consiste na realização de tarefas gratuitas de interesse
geral, por período não excedente a seis meses, junto a entidades assistenciais, hospitais, escolas e outros
estabelecimentos congêneres, bem como em programas comunitários ou governamentais.

Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas conforme as aptidões do adolescente, devendo ser cumpridas
durante jornada máxima de oito horas semanais, aos sábados, domingos e feriados ou em dias úteis, de modo
a não prejudicar a freqüência à escola ou à jornada normal de trabalho.

Seção V

Da Liberdade Assistida

Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre que se afigurar a medida mais adequada para o fim
de acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente.

§ 1º A autoridade designará pessoa capacitada para acompanhar o caso, a qual poderá ser recomendada
por entidade ou programa de atendimento.

§ 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo mínimo de seis meses, podendo a qualquer tempo ser
prorrogada, revogada ou substituída por outra medida, ouvido o orientador, o Ministério Público e o defensor.

Art. 119. Incumbe ao orientador, com o apoio e a supervisão da autoridade competente, a realização dos
seguintes encargos, entre outros:

I - promover socialmente o adolescente e sua família, fornecendo-lhes orientação e inserindo-os, se


necessário, em programa oficial ou comunitário de auxílio e assistência social;

II - supervisionar a freqüência e o aproveitamento escolar do adolescente, promovendo, inclusive, sua


matrícula;

III - diligenciar no sentido da profissionalização do adolescente e de sua inserção no mercado de trabalho;

IV - apresentar relatório do caso.

Seção VI

Do Regime de Semi-liberdade

Art. 120. O regime de semi-liberdade pode ser determinado desde o início, ou como forma de transição
para o meio aberto, possibilitada a realização de atividades externas, independentemente de autorização
judicial.

§ 1º São obrigatórias a escolarização e a profissionalização, devendo, sempre que possível, ser utilizados
os recursos existentes na comunidade.

§ 2º A medida não comporta prazo determinado aplicando-se, no que couber, as disposições relativas à
internação.

Seção VII

Da Internação

Art. 121. A internação constitui medida privativa da liberdade, sujeita aos princípios de brevidade,
excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.

§ 1º Será permitida a realização de atividades externas, a critério da equipe técnica da entidade, salvo
expressa determinação judicial em contrário.

§ 2º A medida não comporta prazo determinado, devendo sua manutenção ser reavaliada, mediante
decisão fundamentada, no máximo a cada seis meses.

§ 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de internação excederá a três anos.


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 658

§ 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo anterior, o adolescente deverá ser liberado, colocado em
regime de semi-liberdade ou de liberdade assistida.

§ 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos de idade.

§ 6º Em qualquer hipótese a desinternação será precedida de autorização judicial, ouvido o Ministério


Público.

§ 7 o A determinação judicial mencionada no § 1 o poderá ser revista a qualquer tempo pela autoridade
judiciária. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada quando:

I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a pessoa;

II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves;

III - por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta.

§ 1 o O prazo de internação na hipótese do inciso III deste artigo não poderá ser superior a 3 (três) meses,
devendo ser decretada judicialmente após o devido processo legal. (Redação dada pela Lei nº 12.594, de
2012) (Vide)

§ 2º. Em nenhuma hipótese será aplicada a internação, havendo outra medida adequada.

Art. 123. A internação deverá ser cumprida em entidade exclusiva para adolescentes, em local distinto
daquele destinado ao abrigo, obedecida rigorosa separação por critérios de idade, compleição física e
gravidade da infração.

Parágrafo único. Durante o período de internação, inclusive provisória, serão obrigatórias atividades
pedagógicas.

Art. 124. São direitos do adolescente privado de liberdade, entre outros, os seguintes:

I - entrevistar-se pessoalmente com o representante do Ministério Público;

II - peticionar diretamente a qualquer autoridade;

III - avistar-se reservadamente com seu defensor;

IV - ser informado de sua situação processual, sempre que solicitada;

V - ser tratado com respeito e dignidade;

VI - permanecer internado na mesma localidade ou naquela mais próxima ao domicílio de seus pais ou
responsável;

VII - receber visitas, ao menos, semanalmente;

VIII - corresponder-se com seus familiares e amigos;

IX - ter acesso aos objetos necessários à higiene e asseio pessoal;

X - habitar alojamento em condições adequadas de higiene e salubridade;

XI - receber escolarização e profissionalização;

XII - realizar atividades culturais, esportivas e de lazer:

XIII - ter acesso aos meios de comunicação social;

XIV - receber assistência religiosa, segundo a sua crença, e desde que assim o deseje;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 659

XV - manter a posse de seus objetos pessoais e dispor de local seguro para guardá-los, recebendo
comprovante daqueles porventura depositados em poder da entidade;

XVI - receber, quando de sua desinternação, os documentos pessoais indispensáveis à vida em


sociedade.

§ 1º Em nenhum caso haverá incomunicabilidade.

§ 2º A autoridade judiciária poderá suspender temporariamente a visita, inclusive de pais ou


responsável, se existirem motivos sérios e fundados de sua prejudicialidade aos interesses do adolescente.

Art. 125. É dever do Estado zelar pela integridade física e mental dos internos, cabendo-lhe adotar as
medidas adequadas de contenção e segurança.

Capítulo V

Da Remissão

Art. 126. Antes de iniciado o procedimento judicial para apuração de ato infracional, o representante do
Ministério Público poderá conceder a remissão, como forma de exclusão do processo, atendendo às
circunstâncias e conseqüências do fato, ao contexto social, bem como à personalidade do adolescente e sua
maior ou menor participação no ato infracional.

Parágrafo único. Iniciado o procedimento, a concessão da remissão pela autoridade judiciária importará
na suspensão ou extinção do processo.

Art. 127. A remissão não implica necessariamente o reconhecimento ou comprovação da


responsabilidade, nem prevalece para efeito de antecedentes, podendo incluir eventualmente a aplicação de
qualquer das medidas previstas em lei, exceto a colocação em regime de semi-liberdade e a internação.

Art. 128. A medida aplicada por força da remissão poderá ser revista judicialmente, a qualquer tempo,
mediante pedido expresso do adolescente ou de seu representante legal, ou do Ministério Público.

Título IV

Das Medidas Pertinentes aos Pais ou Responsável

Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou responsável:

I - encaminhamento a serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção da


família; (Redação dada dada pela Lei nº 13.257, de 2016)

II - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e


toxicômanos;

III - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico;

IV - encaminhamento a cursos ou programas de orientação;

V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua freqüência e aproveitamento escolar;

VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a tratamento especializado;

VII - advertência;

VIII - perda da guarda;

IX - destituição da tutela;

X - suspensão ou destituição do pátrio poder poder familiar . (Expressão substituída pela Lei nº 12.010,
de 2009) Vigência

Parágrafo único. Na aplicação das medidas previstas nos incisos IX e X deste artigo, observar-se-á o
disposto nos arts. 23 e 24.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 660

Art. 130. Verificada a hipótese de maus-tratos, opressão ou abuso sexual impostos pelos pais ou
responsável, a autoridade judiciária poderá determinar, como medida cautelar, o afastamento do agressor da
moradia comum.

Parágrafo único. Da medida cautelar constará, ainda, a fixação provisória dos alimentos de que
necessitem a criança ou o adolescente dependentes do agressor. (Incluído pela Lei nº 12.415, de 2011)

Título V

Do Conselho Tutelar

Capítulo I

Disposições Gerais

Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela
sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, definidos nesta Lei.

Art. 132. Em cada Município e em cada Região Administrativa do Distrito Federal haverá, no mínimo, 1
(um) Conselho Tutelar como órgão integrante da administração pública local, composto de 5 (cinco) membros,
escolhidos pela população local para mandato de 4 (quatro) anos, permitida recondução por novos processos
de escolha. (Redação dada pela Lei nº 13.824, de 2019)

Art. 133. Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar, serão exigidos os seguintes requisitos:

I - reconhecida idoneidade moral;

II - idade superior a vinte e um anos;

III - residir no município.

Art. 134. Lei municipal ou distrital disporá sobre o local, dia e horário de funcionamento do Conselho
Tutelar, inclusive quanto à remuneração dos respectivos membros, aos quais é assegurado o direito
a: (Redação dada pela Lei nº 12.696, de 2012)

I - cobertura previdenciária; (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012)

II - gozo de férias anuais remuneradas, acrescidas de 1/3 (um terço) do valor da remuneração
mensal; (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012)

III - licença-maternidade; (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012)

IV - licença-paternidade; (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012)

V - gratificação natalina. (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012)

Parágrafo único. Constará da lei orçamentária municipal e da do Distrito Federal previsão dos recursos
necessários ao funcionamento do Conselho Tutelar e à remuneração e formação continuada dos
conselheiros tutelares. (Redação dada pela Lei nº 12.696, de 2012)

Art. 135. O exercício efetivo da função de conselheiro constituirá serviço público relevante e
estabelecerá presunção de idoneidade moral. (Redação dada pela Lei nº 12.696, de 2012)

Capítulo II

Das Atribuições do Conselho

Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar:

I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas
previstas no art. 101, I a VII;

II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as medidas previstas no art. 129, I a VII;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 661

III - promover a execução de suas decisões, podendo para tanto:

a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, serviço social, previdência, trabalho e
segurança;

b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de descumprimento injustificado de suas


deliberações.

IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua infração administrativa ou penal contra
os direitos da criança ou adolescente;

V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua competência;

VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade judiciária, dentre as previstas no art. 101, de I a
VI, para o adolescente autor de ato infracional;

VII - expedir notificações;

VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de criança ou adolescente quando necessário;

IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta orçamentária para planos e programas
de atendimento dos direitos da criança e do adolescente;

X - representar, em nome da pessoa e da família, contra a violação dos direitos previstos no art. 220, § 3º,
inciso II, da Constituição Federal ;

XI - representar ao Ministério Público para efeito das ações de perda ou suspensão do poder familiar, após
esgotadas as possibilidades de manutenção da criança ou do adolescente junto à família natural. (Redação
dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

XII - promover e incentivar, na comunidade e nos grupos profissionais, ações de divulgação e


treinamento para o reconhecimento de sintomas de maus-tratos em crianças e adolescentes. (Incluído pela
Lei nº 13.046, de 2014)

Parágrafo único. Se, no exercício de suas atribuições, o Conselho Tutelar entender necessário o
afastamento do convívio familiar, comunicará incontinenti o fato ao Ministério Público, prestando-lhe
informações sobre os motivos de tal entendimento e as providências tomadas para a orientação, o apoio e a
promoção social da família. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Art. 137. As decisões do Conselho Tutelar somente poderão ser revistas pela autoridade judiciária a
pedido de quem tenha legítimo interesse.

Capítulo III

Da Competência

Art. 138. Aplica-se ao Conselho Tutelar a regra de competência constante do art. 147.

Capítulo IV

Da Escolha dos Conselheiros

Art. 139. O processo para a escolha dos membros do Conselho Tutelar será estabelecido em lei municipal
e realizado sob a responsabilidade do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, e a
fiscalização do Ministério Público. (Redação dada pela Lei nº 8.242, de 12.10.1991)

§ 1 o O processo de escolha dos membros do Conselho Tutelar ocorrerá em data unificada em todo o
território nacional a cada 4 (quatro) anos, no primeiro domingo do mês de outubro do ano subsequente ao da
eleição presidencial. (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012)

§ 2 o A posse dos conselheiros tutelares ocorrerá no dia 10 de janeiro do ano subsequente ao processo
de escolha. (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012)
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 662

§ 3 o No processo de escolha dos membros do Conselho Tutelar, é vedado ao candidato doar, oferecer,
prometer ou entregar ao eleitor bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive brindes de
pequeno valor. (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012)

Capítulo V

Dos Impedimentos

Art. 140. São impedidos de servir no mesmo Conselho marido e mulher, ascendentes e descendentes,
sogro e genro ou nora, irmãos, cunhados, durante o cunhadio, tio e sobrinho, padrasto ou madrasta e enteado.

Parágrafo único. Estende-se o impedimento do conselheiro, na forma deste artigo, em relação à autoridade
judiciária e ao representante do Ministério Público com atuação na Justiça da Infância e da Juventude, em
exercício na comarca, foro regional ou distrital.

Título VI

Do Acesso à Justiça

Capítulo I

Disposições Gerais

Art. 141. É garantido o acesso de toda criança ou adolescente à Defensoria Pública, ao Ministério Público
e ao Poder Judiciário, por qualquer de seus órgãos.

§ 1º. A assistência judiciária gratuita será prestada aos que dela necessitarem, através de defensor público
ou advogado nomeado.

§ 2º As ações judiciais da competência da Justiça da Infância e da Juventude são isentas de custas e


emolumentos, ressalvada a hipótese de litigância de má-fé.

Art. 142. Os menores de dezesseis anos serão representados e os maiores de dezesseis e menores de
vinte e um anos assistidos por seus pais, tutores ou curadores, na forma da legislação civil ou processual.

Parágrafo único. A autoridade judiciária dará curador especial à criança ou adolescente, sempre que os
interesses destes colidirem com os de seus pais ou responsável, ou quando carecer de representação ou
assistência legal ainda que eventual.

Art. 143. E vedada a divulgação de atos judiciais, policiais e administrativos que digam respeito a crianças
e adolescentes a que se atribua autoria de ato infracional.

Parágrafo único. Qualquer notícia a respeito do fato não poderá identificar a criança ou adolescente,
vedando-se fotografia, referência a nome, apelido, filiação, parentesco, residência e, inclusive, iniciais do nome
e sobrenome. (Redação dada pela Lei nº 10.764, de 12.11.2003)

Art. 144. A expedição de cópia ou certidão de atos a que se refere o artigo anterior somente será deferida
pela autoridade judiciária competente, se demonstrado o interesse e justificada a finalidade.

Capítulo II

Da Justiça da Infância e da Juventude

Seção I

Disposições Gerais

Art. 145. Os estados e o Distrito Federal poderão criar varas especializadas e exclusivas da infância e da
juventude, cabendo ao Poder Judiciário estabelecer sua proporcionalidade por número de habitantes, dotá-las
de infra-estrutura e dispor sobre o atendimento, inclusive em plantões.

Seção II

Do Juiz
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 663

Art. 146. A autoridade a que se refere esta Lei é o Juiz da Infância e da Juventude, ou o juiz que exerce
essa função, na forma da lei de organização judiciária local.

Art. 147. A competência será determinada:

I - pelo domicílio dos pais ou responsável;

II - pelo lugar onde se encontre a criança ou adolescente, à falta dos pais ou responsável.

§ 1º. Nos casos de ato infracional, será competente a autoridade do lugar da ação ou omissão, observadas
as regras de conexão, continência e prevenção.

§ 2º A execução das medidas poderá ser delegada à autoridade competente da residência dos pais ou
responsável, ou do local onde sediar-se a entidade que abrigar a criança ou adolescente.

§ 3º Em caso de infração cometida através de transmissão simultânea de rádio ou televisão, que atinja
mais de uma comarca, será competente, para aplicação da penalidade, a autoridade judiciária do local da sede
estadual da emissora ou rede, tendo a sentença eficácia para todas as transmissoras ou retransmissoras do
respectivo estado.

Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é competente para:

I - conhecer de representações promovidas pelo Ministério Público, para apuração de ato infracional
atribuído a adolescente, aplicando as medidas cabíveis;

II - conceder a remissão, como forma de suspensão ou extinção do processo;

III - conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes;

IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses individuais, difusos ou coletivos afetos à criança e
ao adolescente, observado o disposto no art. 209;

V - conhecer de ações decorrentes de irregularidades em entidades de atendimento, aplicando as medidas


cabíveis;

VI - aplicar penalidades administrativas nos casos de infrações contra norma de proteção à criança ou
adolescente;

VII - conhecer de casos encaminhados pelo Conselho Tutelar, aplicando as medidas cabíveis.

Parágrafo único. Quando se tratar de criança ou adolescente nas hipóteses do art. 98, é também
competente a Justiça da Infância e da Juventude para o fim de:

a) conhecer de pedidos de guarda e tutela;

b) conhecer de ações de destituição do pátrio poder poder familiar , perda ou modificação da tutela ou
guarda; (Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

c) suprir a capacidade ou o consentimento para o casamento;

d) conhecer de pedidos baseados em discordância paterna ou materna, em relação ao exercício do pátrio


poder poder familiar ; (Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

e) conceder a emancipação, nos termos da lei civil, quando faltarem os pais;

f) designar curador especial em casos de apresentação de queixa ou representação, ou de outros


procedimentos judiciais ou extrajudiciais em que haja interesses de criança ou adolescente;

g) conhecer de ações de alimentos;

h) determinar o cancelamento, a retificação e o suprimento dos registros de nascimento e óbito.

Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar, através de portaria, ou autorizar, mediante alvará:
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 664

I - a entrada e permanência de criança ou adolescente, desacompanhado dos pais ou responsável, em:

a) estádio, ginásio e campo desportivo;

b) bailes ou promoções dançantes;

c) boate ou congêneres;

d) casa que explore comercialmente diversões eletrônicas;

e) estúdios cinematográficos, de teatro, rádio e televisão.

II - a participação de criança e adolescente em:

a) espetáculos públicos e seus ensaios;

b) certames de beleza.

§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, a autoridade judiciária levará em conta, dentre outros fatores:

a) os princípios desta Lei;

b) as peculiaridades locais;

c) a existência de instalações adequadas;

d) o tipo de freqüência habitual ao local;

e) a adequação do ambiente a eventual participação ou freqüência de crianças e adolescentes;

f) a natureza do espetáculo.

§ 2º As medidas adotadas na conformidade deste artigo deverão ser fundamentadas, caso a caso,
vedadas as determinações de caráter geral.

Seção III

Dos Serviços Auxiliares

Art. 150. Cabe ao Poder Judiciário, na elaboração de sua proposta orçamentária, prever recursos para
manutenção de equipe interprofissional, destinada a assessorar a Justiça da Infância e da Juventude.

Art. 151. Compete à equipe interprofissional dentre outras atribuições que lhe forem reservadas pela
legislação local, fornecer subsídios por escrito, mediante laudos, ou verbalmente, na audiência, e bem assim
desenvolver trabalhos de aconselhamento, orientação, encaminhamento, prevenção e outros, tudo sob a
imediata subordinação à autoridade judiciária, assegurada a livre manifestação do ponto de vista técnico.

Parágrafo único. Na ausência ou insuficiência de servidores públicos integrantes do Poder Judiciário


responsáveis pela realização dos estudos psicossociais ou de quaisquer outras espécies de avaliações
técnicas exigidas por esta Lei ou por determinação judicial, a autoridade judiciária poderá proceder à nomeação
de perito, nos termos do art. 156 da Lei no 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo
Civil) . (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)

Capítulo III

Dos Procedimentos

Seção I

Disposições Gerais

Art. 152. Aos procedimentos regulados nesta Lei aplicam-se subsidiariamente as normas gerais
previstas na legislação processual pertinente.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 665

§ 1º É assegurada, sob pena de responsabilidade, prioridade absoluta na tramitação dos processos e


procedimentos previstos nesta Lei, assim como na execução dos atos e diligências judiciais a eles
referentes. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 2º Os prazos estabelecidos nesta Lei e aplicáveis aos seus procedimentos são contados em dias
corridos, excluído o dia do começo e incluído o dia do vencimento, vedado o prazo em dobro para a Fazenda
Pública e o Ministério Público. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)

Art. 153. Se a medida judicial a ser adotada não corresponder a procedimento previsto nesta ou em outra
lei, a autoridade judiciária poderá investigar os fatos e ordenar de ofício as providências necessárias, ouvido o
Ministério Público.

Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica para o fim de afastamento da criança ou do
adolescente de sua família de origem e em outros procedimentos necessariamente contenciosos. (Incluído pela
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Art. 154. Aplica-se às multas o disposto no art. 214.

Seção II

Da Perda e da Suspensão do Pátrio Poder Poder Familiar


(Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Art. 155. O procedimento para a perda ou a suspensão do pátrio poder poder familiar terá início por
provocação do Ministério Público ou de quem tenha legítimo interesse. (Expressão substituída pela Lei nº
12.010, de 2009) Vigência

Art. 156. A petição inicial indicará:

I - a autoridade judiciária a que for dirigida;

II - o nome, o estado civil, a profissão e a residência do requerente e do requerido, dispensada a


qualificação em se tratando de pedido formulado por representante do Ministério Público;

III - a exposição sumária do fato e o pedido;

IV - as provas que serão produzidas, oferecendo, desde logo, o rol de testemunhas e documentos.

Art. 157. Havendo motivo grave, poderá a autoridade judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar a
suspensão do pátrio poder poder familiar , liminar ou incidentalmente, até o julgamento definitivo da causa,
ficando a criança ou adolescente confiado a pessoa idônea, mediante termo de responsabilidade. (Expressão
substituída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 1 o Recebida a petição inicial, a autoridade judiciária determinará, concomitantemente ao despacho de


citação e independentemente de requerimento do interessado, a realização de estudo social ou perícia por
equipe interprofissional ou multidisciplinar para comprovar a presença de uma das causas de suspensão ou
destituição do poder familiar, ressalvado o disposto no § 10 do art. 101 desta Lei, e observada a Lei n o 13.431,
de 4 de abril de 2017 . (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)

§ 2 o Em sendo os pais oriundos de comunidades indígenas, é ainda obrigatória a intervenção, junto à


equipe interprofissional ou multidisciplinar referida no § 1 o deste artigo, de representantes do órgão federal
responsável pela política indigenista, observado o disposto no § 6 o do art. 28 desta Lei. (Incluído pela Lei nº
13.509, de 2017)

Art. 158. O requerido será citado para, no prazo de dez dias, oferecer resposta escrita, indicando as provas
a serem produzidas e oferecendo desde logo o rol de testemunhas e documentos.

§ 1 o A citação será pessoal, salvo se esgotados todos os meios para sua realização. (Incluído pela Lei nº
12.962, de 2014)

§ 2 o O requerido privado de liberdade deverá ser citado pessoalmente. (Incluído pela Lei nº 12.962, de
2014)
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 666

§ 3 o Quando, por 2 (duas) vezes, o oficial de justiça houver procurado o citando em seu domicílio ou
residência sem o encontrar, deverá, havendo suspeita de ocultação, informar qualquer pessoa da família ou,
em sua falta, qualquer vizinho do dia útil em que voltará a fim de efetuar a citação, na hora que designar, nos
termos do art. 252 e seguintes da Lei n o 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil) . (Incluído
pela Lei nº 13.509, de 2017)

§ 4 o Na hipótese de os genitores encontrarem-se em local incerto ou não sabido, serão citados por edital
no prazo de 10 (dez) dias, em publicação única, dispensado o envio de ofícios para a localização. (Incluído pela
Lei nº 13.509, de 2017)

Art. 159. Se o requerido não tiver possibilidade de constituir advogado, sem prejuízo do próprio sustento
e de sua família, poderá requerer, em cartório, que lhe seja nomeado dativo, ao qual incumbirá a apresentação
de resposta, contando-se o prazo a partir da intimação do despacho de nomeação.

Parágrafo único. Na hipótese de requerido privado de liberdade, o oficial de justiça deverá perguntar, no
momento da citação pessoal, se deseja que lhe seja nomeado defensor. (Incluído pela Lei nº 12.962, de 2014)

Art. 160. Sendo necessário, a autoridade judiciária requisitará de qualquer repartição ou órgão público a
apresentação de documento que interesse à causa, de ofício ou a requerimento das partes ou do Ministério
Público.

Art. 161. Se não for contestado o pedido e tiver sido concluído o estudo social ou a perícia realizada por
equipe interprofissional ou multidisciplinar, a autoridade judiciária dará vista dos autos ao Ministério Público,
por 5 (cinco) dias, salvo quando este for o requerente, e decidirá em igual prazo. (Redação dada pela Lei nº
13.509, de 2017)

§ 1º A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimento das partes ou do Ministério Público, determinará


a oitiva de testemunhas que comprovem a presença de uma das causas de suspensão ou destituição do poder
familiar previstas nos arts. 1.637 e 1.638 da Lei n o 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil) , ou no art.
24 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)

§ 2 o (Revogado) . (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)

§ 3 o Se o pedido importar em modificação de guarda, será obrigatória, desde que possível e razoável, a
oitiva da criança ou adolescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau de compreensão sobre as
implicações da medida. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 4º É obrigatória a oitiva dos pais sempre que eles forem identificados e estiverem em local conhecido,
ressalvados os casos de não comparecimento perante a Justiça quando devidamente citados. (Redação dada
pela Lei nº 13.509, de 2017)

§ 5 o Se o pai ou a mãe estiverem privados de liberdade, a autoridade judicial requisitará sua apresentação
para a oitiva. (Incluído pela Lei nº 12.962, de 2014)

Art. 162. Apresentada a resposta, a autoridade judiciária dará vista dos autos ao Ministério Público, por
cinco dias, salvo quando este for o requerente, designando, desde logo, audiência de instrução e julgamento.

§ 1º (Revogado) . (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)

§ 2 o Na audiência, presentes as partes e o Ministério Público, serão ouvidas as testemunhas, colhendo-


se oralmente o parecer técnico, salvo quando apresentado por escrito, manifestando-se sucessivamente o
requerente, o requerido e o Ministério Público, pelo tempo de 20 (vinte) minutos cada um, prorrogável por mais
10 (dez) minutos. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)

§ 3 o A decisão será proferida na audiência, podendo a autoridade judiciária, excepcionalmente, designar


data para sua leitura no prazo máximo de 5 (cinco) dias. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)

§ 4 o Quando o procedimento de destituição de poder familiar for iniciado pelo Ministério Público, não
haverá necessidade de nomeação de curador especial em favor da criança ou adolescente. (Incluído pela Lei
nº 13.509, de 2017)

Art. 163. O prazo máximo para conclusão do procedimento será de 120 (cento e vinte) dias, e caberá ao
juiz, no caso de notória inviabilidade de manutenção do poder familiar, dirigir esforços para preparar a criança
ou o adolescente com vistas à colocação em família substituta. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 667

Parágrafo único. A sentença que decretar a perda ou a suspensão do poder familiar será averbada à
margem do registro de nascimento da criança ou do adolescente. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência

Seção III

Da Destituição da Tutela

Art. 164. Na destituição da tutela, observar-se-á o procedimento para a remoção de tutor previsto na lei
processual civil e, no que couber, o disposto na seção anterior.

Seção IV

Da Colocação em Família Substituta

Art. 165. São requisitos para a concessão de pedidos de colocação em família substituta:

I - qualificação completa do requerente e de seu eventual cônjuge, ou companheiro, com expressa


anuência deste;

II - indicação de eventual parentesco do requerente e de seu cônjuge, ou companheiro, com a criança ou


adolescente, especificando se tem ou não parente vivo;

III - qualificação completa da criança ou adolescente e de seus pais, se conhecidos;

IV - indicação do cartório onde foi inscrito nascimento, anexando, se possível, uma cópia da respectiva
certidão;

V - declaração sobre a existência de bens, direitos ou rendimentos relativos à criança ou ao adolescente.

Parágrafo único. Em se tratando de adoção, observar-se-ão também os requisitos específicos.

Art. 166. Se os pais forem falecidos, tiverem sido destituídos ou suspensos do poder familiar, ou houverem
aderido expressamente ao pedido de colocação em família substituta, este poderá ser formulado diretamente
em cartório, em petição assinada pelos próprios requerentes, dispensada a assistência de advogado. (Redação
dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 1 o Na hipótese de concordância dos pais, o juiz: (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)

I - na presença do Ministério Público, ouvirá as partes, devidamente assistidas por advogado ou por
defensor público, para verificar sua concordância com a adoção, no prazo máximo de 10 (dez) dias, contado
da data do protocolo da petição ou da entrega da criança em juízo, tomando por termo as declarações;
e (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)

II - declarará a extinção do poder familiar. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)

§ 2 o O consentimento dos titulares do poder familiar será precedido de orientações e esclarecimentos


prestados pela equipe interprofissional da Justiça da Infância e da Juventude, em especial, no caso de adoção,
sobre a irrevogabilidade da medida. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 3 o São garantidos a livre manifestação de vontade dos detentores do poder familiar e o direito ao sigilo
das informações. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)

§ 4 o O consentimento prestado por escrito não terá validade se não for ratificado na audiência a que se
refere o § 1 o deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)

§ 5 o O consentimento é retratável até a data da realização da audiência especificada no § 1 o deste artigo,


e os pais podem exercer o arrependimento no prazo de 10 (dez) dias, contado da data de prolação da sentença
de extinção do poder familiar. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)

§ 6 o O consentimento somente terá valor se for dado após o nascimento da criança. (Incluído pela Lei nº
12.010, de 2009) Vigência
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 668

§ 7 o A família natural e a família substituta receberão a devida orientação por intermédio de equipe técnica
interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos
responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar. (Redação dada
pela Lei nº 13.509, de 2017)

Art. 167. A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimento das partes ou do Ministério Público,
determinará a realização de estudo social ou, se possível, perícia por equipe interprofissional, decidindo sobre
a concessão de guarda provisória, bem como, no caso de adoção, sobre o estágio de convivência.

Parágrafo único. Deferida a concessão da guarda provisória ou do estágio de convivência, a criança ou o


adolescente será entregue ao interessado, mediante termo de responsabilidade. (Incluído pela Lei nº 12.010,
de 2009) Vigência

Art. 168. Apresentado o relatório social ou o laudo pericial, e ouvida, sempre que possível, a criança ou o
adolescente, dar-se-á vista dos autos ao Ministério Público, pelo prazo de cinco dias, decidindo a autoridade
judiciária em igual prazo.

Art. 169. Nas hipóteses em que a destituição da tutela, a perda ou a suspensão do pátrio poder poder
familiar constituir pressuposto lógico da medida principal de colocação em família substituta, será observado o
procedimento contraditório previsto nas Seções II e III deste Capítulo. (Expressão substituída pela Lei nº
12.010, de 2009) Vigência

Parágrafo único. A perda ou a modificação da guarda poderá ser decretada nos mesmos autos do
procedimento, observado o disposto no art. 35.

Art. 170. Concedida a guarda ou a tutela, observar-se-á o disposto no art. 32, e, quanto à adoção, o contido
no art. 47.

Parágrafo único. A colocação de criança ou adolescente sob a guarda de pessoa inscrita em programa
de acolhimento familiar será comunicada pela autoridade judiciária à entidade por este responsável no prazo
máximo de 5 (cinco) dias. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Seção V

Da Apuração de Ato Infracional Atribuído a Adolescente

Art. 171. O adolescente apreendido por força de ordem judicial será, desde logo, encaminhado à
autoridade judiciária.

Art. 172. O adolescente apreendido em flagrante de ato infracional será, desde logo, encaminhado à
autoridade policial competente.

Parágrafo único. Havendo repartição policial especializada para atendimento de adolescente e em se


tratando de ato infracional praticado em co-autoria com maior, prevalecerá a atribuição da repartição
especializada, que, após as providências necessárias e conforme o caso, encaminhará o adulto à repartição
policial própria.

Art. 173. Em caso de flagrante de ato infracional cometido mediante violência ou grave ameaça a pessoa,
a autoridade policial, sem prejuízo do disposto nos arts. 106, parágrafo único, e 107, deverá:

I - lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas e o adolescente;

II - apreender o produto e os instrumentos da infração;

III - requisitar os exames ou perícias necessários à comprovação da materialidade e autoria da infração.

Parágrafo único. Nas demais hipóteses de flagrante, a lavratura do auto poderá ser substituída por boletim
de ocorrência circunstanciada.

Art. 174. Comparecendo qualquer dos pais ou responsável, o adolescente será prontamente liberado pela
autoridade policial, sob termo de compromisso e responsabilidade de sua apresentação ao representante do
Ministério Público, no mesmo dia ou, sendo impossível, no primeiro dia útil imediato, exceto quando, pela
gravidade do ato infracional e sua repercussão social, deva o adolescente permanecer sob internação para
garantia de sua segurança pessoal ou manutenção da ordem pública.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 669

Art. 175. Em caso de não liberação, a autoridade policial encaminhará, desde logo, o adolescente ao
representante do Ministério Público, juntamente com cópia do auto de apreensão ou boletim de ocorrência.

§ 1º Sendo impossível a apresentação imediata, a autoridade policial encaminhará o adolescente à


entidade de atendimento, que fará a apresentação ao representante do Ministério Público no prazo de vinte e
quatro horas.

§ 2º Nas localidades onde não houver entidade de atendimento, a apresentação far-se-á pela autoridade
policial. À falta de repartição policial especializada, o adolescente aguardará a apresentação em dependência
separada da destinada a maiores, não podendo, em qualquer hipótese, exceder o prazo referido no parágrafo
anterior.

Art. 176. Sendo o adolescente liberado, a autoridade policial encaminhará imediatamente ao representante
do Ministério Público cópia do auto de apreensão ou boletim de ocorrência.

Art. 177. Se, afastada a hipótese de flagrante, houver indícios de participação de adolescente na prática
de ato infracional, a autoridade policial encaminhará ao representante do Ministério Público relatório das
investigações e demais documentos.

Art. 178. O adolescente a quem se atribua autoria de ato infracional não poderá ser conduzido ou
transportado em compartimento fechado de veículo policial, em condições atentatórias à sua dignidade, ou que
impliquem risco à sua integridade física ou mental, sob pena de responsabilidade.

Art. 179. Apresentado o adolescente, o representante do Ministério Público, no mesmo dia e à vista do
auto de apreensão, boletim de ocorrência ou relatório policial, devidamente autuados pelo cartório judicial e
com informação sobre os antecedentes do adolescente, procederá imediata e informalmente à sua oitiva e, em
sendo possível, de seus pais ou responsável, vítima e testemunhas.

Parágrafo único. Em caso de não apresentação, o representante do Ministério Público notificará os pais
ou responsável para apresentação do adolescente, podendo requisitar o concurso das polícias civil e militar.

Art. 180. Adotadas as providências a que alude o artigo anterior, o representante do Ministério Público
poderá:

I - promover o arquivamento dos autos;

II - conceder a remissão;

III - representar à autoridade judiciária para aplicação de medida sócio-educativa.

Art. 181. Promovido o arquivamento dos autos ou concedida a remissão pelo representante do Ministério
Público, mediante termo fundamentado, que conterá o resumo dos fatos, os autos serão conclusos à autoridade
judiciária para homologação.

§ 1º Homologado o arquivamento ou a remissão, a autoridade judiciária determinará, conforme o caso, o


cumprimento da medida.

§ 2º Discordando, a autoridade judiciária fará remessa dos autos ao Procurador-Geral de Justiça, mediante
despacho fundamentado, e este oferecerá representação, designará outro membro do Ministério Público para
apresentá-la, ou ratificará o arquivamento ou a remissão, que só então estará a autoridade judiciária obrigada
a homologar.

Art. 182. Se, por qualquer razão, o representante do Ministério Público não promover o arquivamento ou
conceder a remissão, oferecerá representação à autoridade judiciária, propondo a instauração de procedimento
para aplicação da medida sócio-educativa que se afigurar a mais adequada.

§ 1º A representação será oferecida por petição, que conterá o breve resumo dos fatos e a classificação
do ato infracional e, quando necessário, o rol de testemunhas, podendo ser deduzida oralmente, em sessão
diária instalada pela autoridade judiciária.

§ 2º A representação independe de prova pré-constituída da autoria e materialidade.

Art. 183. O prazo máximo e improrrogável para a conclusão do procedimento, estando o adolescente
internado provisoriamente, será de quarenta e cinco dias.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 670

Art. 184. Oferecida a representação, a autoridade judiciária designará audiência de apresentação do


adolescente, decidindo, desde logo, sobre a decretação ou manutenção da internação, observado o disposto
no art. 108 e parágrafo.

§ 1º O adolescente e seus pais ou responsável serão cientificados do teor da representação, e notificados


a comparecer à audiência, acompanhados de advogado.

§ 2º Se os pais ou responsável não forem localizados, a autoridade judiciária dará curador especial ao
adolescente.

§ 3º Não sendo localizado o adolescente, a autoridade judiciária expedirá mandado de busca e apreensão,
determinando o sobrestamento do feito, até a efetiva apresentação.

§ 4º Estando o adolescente internado, será requisitada a sua apresentação, sem prejuízo da notificação
dos pais ou responsável.

Art. 185. A internação, decretada ou mantida pela autoridade judiciária, não poderá ser cumprida em
estabelecimento prisional.

§ 1º Inexistindo na comarca entidade com as características definidas no art. 123, o adolescente deverá
ser imediatamente transferido para a localidade mais próxima.

§ 2º Sendo impossível a pronta transferência, o adolescente aguardará sua remoção em repartição policial,
desde que em seção isolada dos adultos e com instalações apropriadas, não podendo ultrapassar o prazo
máximo de cinco dias, sob pena de responsabilidade.

Art. 186. Comparecendo o adolescente, seus pais ou responsável, a autoridade judiciária procederá à
oitiva dos mesmos, podendo solicitar opinião de profissional qualificado.

§ 1º Se a autoridade judiciária entender adequada a remissão, ouvirá o representante do Ministério


Público, proferindo decisão.

§ 2º Sendo o fato grave, passível de aplicação de medida de internação ou colocação em regime de semi-
liberdade, a autoridade judiciária, verificando que o adolescente não possui advogado constituído, nomeará
defensor, designando, desde logo, audiência em continuação, podendo determinar a realização de diligências
e estudo do caso.

§ 3º O advogado constituído ou o defensor nomeado, no prazo de três dias contado da audiência de


apresentação, oferecerá defesa prévia e rol de testemunhas.

§ 4º Na audiência em continuação, ouvidas as testemunhas arroladas na representação e na defesa


prévia, cumpridas as diligências e juntado o relatório da equipe interprofissional, será dada a palavra ao
representante do Ministério Público e ao defensor, sucessivamente, pelo tempo de vinte minutos para cada um,
prorrogável por mais dez, a critério da autoridade judiciária, que em seguida proferirá decisão.

Art. 187. Se o adolescente, devidamente notificado, não comparecer, injustificadamente à audiência de


apresentação, a autoridade judiciária designará nova data, determinando sua condução coercitiva.

Art. 188. A remissão, como forma de extinção ou suspensão do processo, poderá ser aplicada em qualquer
fase do procedimento, antes da sentença.

Art. 189. A autoridade judiciária não aplicará qualquer medida, desde que reconheça na sentença:

I - estar provada a inexistência do fato;

II - não haver prova da existência do fato;

III - não constituir o fato ato infracional;

IV - não existir prova de ter o adolescente concorrido para o ato infracional.

Parágrafo único. Na hipótese deste artigo, estando o adolescente internado, será imediatamente colocado
em liberdade.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 671

Art. 190. A intimação da sentença que aplicar medida de internação ou regime de semi-liberdade será
feita:

I - ao adolescente e ao seu defensor;

II - quando não for encontrado o adolescente, a seus pais ou responsável, sem prejuízo do defensor.

§ 1º Sendo outra a medida aplicada, a intimação far-se-á unicamente na pessoa do defensor.

§ 2º Recaindo a intimação na pessoa do adolescente, deverá este manifestar se deseja ou não recorrer
da sentença.

Seção V-A
(Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)

Da Infiltração de Agentes de Polícia para a Investigação de Crimes contra a Dignidade Sexual de Criança
e de Adolescente”

Art. 190-A. A infiltração de agentes de polícia na internet com o fim de investigar os crimes previstos
nos arts. 240 , 241 , 241-A , 241-B , 241-C e 241-D desta Lei e nos arts. 154-A , 217-A , 218 , 218-A e 218-B
do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal) , obedecerá às seguintes regras: (Incluído
pela Lei nº 13.441, de 2017)

I – será precedida de autorização judicial devidamente circunstanciada e fundamentada, que estabelecerá


os limites da infiltração para obtenção de prova, ouvido o Ministério Público; (Incluído pela Lei nº 13.441, de
2017)

II – dar-se-á mediante requerimento do Ministério Público ou representação de delegado de polícia e


conterá a demonstração de sua necessidade, o alcance das tarefas dos policiais, os nomes ou apelidos das
pessoas investigadas e, quando possível, os dados de conexão ou cadastrais que permitam a identificação
dessas pessoas; (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)

III – não poderá exceder o prazo de 90 (noventa) dias, sem prejuízo de eventuais renovações, desde que
o total não exceda a 720 (setecentos e vinte) dias e seja demonstrada sua efetiva necessidade, a critério da
autoridade judicial. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)

§ 1 º A autoridade judicial e o Ministério Público poderão requisitar relatórios parciais da operação de


infiltração antes do término do prazo de que trata o inciso II do § 1 º deste artigo. (Incluído pela Lei nº 13.441,
de 2017)

§ 2 º Para efeitos do disposto no inciso I do § 1 º deste artigo, consideram-se: (Incluído pela Lei nº 13.441,
de 2017)

I – dados de conexão: informações referentes a hora, data, início, término, duração, endereço de Protocolo
de Internet (IP) utilizado e terminal de origem da conexão; (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)

II – dados cadastrais: informações referentes a nome e endereço de assinante ou de usuário registrado


ou autenticado para a conexão a quem endereço de IP, identificação de usuário ou código de acesso tenha
sido atribuído no momento da conexão.

§ 3 º A infiltração de agentes de polícia na internet não será admitida se a prova puder ser obtida por
outros meios. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)

Art. 190-B. As informações da operação de infiltração serão encaminhadas diretamente ao juiz


responsável pela autorização da medida, que zelará por seu sigilo. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)

Parágrafo único. Antes da conclusão da operação, o acesso aos autos será reservado ao juiz, ao Ministério
Público e ao delegado de polícia responsável pela operação, com o objetivo de garantir o sigilo das
investigações. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)

Art. 190-C. Não comete crime o policial que oculta a sua identidade para, por meio da internet, colher
indícios de autoria e materialidade dos crimes previstos nos arts. 240 , 241 , 241-A , 241-B , 241-C e 241-D
desta Lei e nos arts. 154-A , 217-A , 218 , 218-A e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940
(Código Penal) . (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 672

Parágrafo único. O agente policial infiltrado que deixar de observar a estrita finalidade da investigação
responderá pelos excessos praticados. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)

Art. 190-D. Os órgãos de registro e cadastro público poderão incluir nos bancos de dados próprios,
mediante procedimento sigiloso e requisição da autoridade judicial, as informações necessárias à efetividade
da identidade fictícia criada. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)

Parágrafo único. O procedimento sigiloso de que trata esta Seção será numerado e tombado em livro
específico. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)

Art. 190-E. Concluída a investigação, todos os atos eletrônicos praticados durante a operação deverão ser
registrados, gravados, armazenados e encaminhados ao juiz e ao Ministério Público, juntamente com relatório
circunstanciado. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)

Parágrafo único. Os atos eletrônicos registrados citados no caput deste artigo serão reunidos em autos
apartados e apensados ao processo criminal juntamente com o inquérito policial, assegurando-se a
preservação da identidade do agente policial infiltrado e a intimidade das crianças e dos adolescentes
envolvidos. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)

Seção VI

Da Apuração de Irregularidades em Entidade de Atendimento

Art. 191. O procedimento de apuração de irregularidades em entidade governamental e não-


governamental terá início mediante portaria da autoridade judiciária ou representação do Ministério Público ou
do Conselho Tutelar, onde conste, necessariamente, resumo dos fatos.

Parágrafo único. Havendo motivo grave, poderá a autoridade judiciária, ouvido o Ministério Público,
decretar liminarmente o afastamento provisório do dirigente da entidade, mediante decisão fundamentada.

Art. 192. O dirigente da entidade será citado para, no prazo de dez dias, oferecer resposta escrita, podendo
juntar documentos e indicar as provas a produzir.

Art. 193. Apresentada ou não a resposta, e sendo necessário, a autoridade judiciária designará audiência
de instrução e julgamento, intimando as partes.

§ 1º Salvo manifestação em audiência, as partes e o Ministério Público terão cinco dias para oferecer
alegações finais, decidindo a autoridade judiciária em igual prazo.

§ 2º Em se tratando de afastamento provisório ou definitivo de dirigente de entidade governamental, a


autoridade judiciária oficiará à autoridade administrativa imediatamente superior ao afastado, marcando prazo
para a substituição.

§ 3º Antes de aplicar qualquer das medidas, a autoridade judiciária poderá fixar prazo para a remoção das
irregularidades verificadas. Satisfeitas as exigências, o processo será extinto, sem julgamento de mérito.

§ 4º A multa e a advertência serão impostas ao dirigente da entidade ou programa de atendimento.

Seção VII

Da Apuração de Infração Administrativa às Normas de Proteção à Criança e ao Adolescente

Art. 194. O procedimento para imposição de penalidade administrativa por infração às normas de proteção
à criança e ao adolescente terá início por representação do Ministério Público, ou do Conselho Tutelar, ou auto
de infração elaborado por servidor efetivo ou voluntário credenciado, e assinado por duas testemunhas, se
possível.

§ 1º No procedimento iniciado com o auto de infração, poderão ser usadas fórmulas impressas,
especificando-se a natureza e as circunstâncias da infração.

§ 2º Sempre que possível, à verificação da infração seguir-se-á a lavratura do auto, certificando-se, em


caso contrário, dos motivos do retardamento.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 673

Art. 195. O requerido terá prazo de dez dias para apresentação de defesa, contado da data da intimação,
que será feita:

I - pelo autuante, no próprio auto, quando este for lavrado na presença do requerido;

II - por oficial de justiça ou funcionário legalmente habilitado, que entregará cópia do auto ou da
representação ao requerido, ou a seu representante legal, lavrando certidão;

III - por via postal, com aviso de recebimento, se não for encontrado o requerido ou seu representante
legal;

IV - por edital, com prazo de trinta dias, se incerto ou não sabido o paradeiro do requerido ou de seu
representante legal.

Art. 196. Não sendo apresentada a defesa no prazo legal, a autoridade judiciária dará vista dos autos do
Ministério Público, por cinco dias, decidindo em igual prazo.

Art. 197. Apresentada a defesa, a autoridade judiciária procederá na conformidade do artigo anterior, ou,
sendo necessário, designará audiência de instrução e julgamento. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência

Parágrafo único. Colhida a prova oral, manifestar-se-ão sucessivamente o Ministério Público e o


procurador do requerido, pelo tempo de vinte minutos para cada um, prorrogável por mais dez, a critério da
autoridade judiciária, que em seguida proferirá sentença.

Seção VIII
(Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Da Habilitação de Pretendentes à Adoção

Art. 197-A. Os postulantes à adoção, domiciliados no Brasil, apresentarão petição inicial na qual
conste: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

I - qualificação completa; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

II - dados familiares; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

III - cópias autenticadas de certidão de nascimento ou casamento, ou declaração relativa ao período de


união estável; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

IV - cópias da cédula de identidade e inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas; (Incluído pela Lei nº
12.010, de 2009) Vigência

V - comprovante de renda e domicílio; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

VI - atestados de sanidade física e mental (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

VII - certidão de antecedentes criminais; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

VIII - certidão negativa de distribuição cível. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Art. 197-B. A autoridade judiciária, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, dará vista dos autos ao
Ministério Público, que no prazo de 5 (cinco) dias poderá: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

I - apresentar quesitos a serem respondidos pela equipe interprofissional encarregada de elaborar o


estudo técnico a que se refere o art. 197-C desta Lei; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

II - requerer a designação de audiência para oitiva dos postulantes em juízo e testemunhas; (Incluído
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

III - requerer a juntada de documentos complementares e a realização de outras diligências que


entender necessárias. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Art. 197-C. Intervirá no feito, obrigatoriamente, equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e
da Juventude, que deverá elaborar estudo psicossocial, que conterá subsídios que permitam aferir a
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 674

capacidade e o preparo dos postulantes para o exercício de uma paternidade ou maternidade responsável, à
luz dos requisitos e princípios desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 1 o É obrigatória a participação dos postulantes em programa oferecido pela Justiça da Infância e da


Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política municipal de
garantia do direito à convivência familiar e dos grupos de apoio à adoção devidamente habilitados perante a
Justiça da Infância e da Juventude, que inclua preparação psicológica, orientação e estímulo à adoção inter-
racial, de crianças ou de adolescentes com deficiência, com doenças crônicas ou com necessidades
específicas de saúde, e de grupos de irmãos. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)

§ 2 o Sempre que possível e recomendável, a etapa obrigatória da preparação referida no § 1 o deste artigo
incluirá o contato com crianças e adolescentes em regime de acolhimento familiar ou institucional, a ser
realizado sob orientação, supervisão e avaliação da equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude e dos
grupos de apoio à adoção, com apoio dos técnicos responsáveis pelo programa de acolhimento familiar e
institucional e pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar. (Redação dada
pela Lei nº 13.509, de 2017)

§ 3 o É recomendável que as crianças e os adolescentes acolhidos institucionalmente ou por família


acolhedora sejam preparados por equipe interprofissional antes da inclusão em família adotiva. (Incluído pela
Lei nº 13.509, de 2017)

Art. 197-D. Certificada nos autos a conclusão da participação no programa referido no art. 197-C desta
Lei, a autoridade judiciária, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, decidirá acerca das diligências requeridas
pelo Ministério Público e determinará a juntada do estudo psicossocial, designando, conforme o caso, audiência
de instrução e julgamento. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Parágrafo único. Caso não sejam requeridas diligências, ou sendo essas indeferidas, a autoridade
judiciária determinará a juntada do estudo psicossocial, abrindo a seguir vista dos autos ao Ministério Público,
por 5 (cinco) dias, decidindo em igual prazo. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Art. 197-E. Deferida a habilitação, o postulante será inscrito nos cadastros referidos no art. 50 desta Lei,
sendo a sua convocação para a adoção feita de acordo com ordem cronológica de habilitação e conforme a
disponibilidade de crianças ou adolescentes adotáveis. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 1 o A ordem cronológica das habilitações somente poderá deixar de ser observada pela autoridade
judiciária nas hipóteses previstas no § 13 do art. 50 desta Lei, quando comprovado ser essa a melhor solução
no interesse do adotando. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

§ 2 o A habilitação à adoção deverá ser renovada no mínimo trienalmente mediante avaliação por equipe
interprofissional. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)

§ 3 o Quando o adotante candidatar-se a uma nova adoção, será dispensável a renovação da habilitação,
bastando a avaliação por equipe interprofissional. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)

§ 4 o Após 3 (três) recusas injustificadas, pelo habilitado, à adoção de crianças ou adolescentes indicados
dentro do perfil escolhido, haverá reavaliação da habilitação concedida. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)

§ 5 o A desistência do pretendente em relação à guarda para fins de adoção ou a devolução da criança ou


do adolescente depois do trânsito em julgado da sentença de adoção importará na sua exclusão dos cadastros
de adoção e na vedação de renovação da habilitação, salvo decisão judicial fundamentada, sem prejuízo das
demais sanções previstas na legislação vigente. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)

Art. 197-F. O prazo máximo para conclusão da habilitação à adoção será de 120 (cento e vinte) dias,
prorrogável por igual período, mediante decisão fundamentada da autoridade judiciária. (Incluído pela Lei nº
13.509, de 2017)

Capítulo IV

Dos Recursos

Art. 198. Nos procedimentos afetos à Justiça da Infância e da Juventude, inclusive os relativos à
execução das medidas socioeducativas, adotar-se-á o sistema recursal da Lei n o 5.869, de 11 de janeiro de
1973 (Código de Processo Civil) , com as seguintes adaptações: (Redação dada pela Lei nº 12.594, de
2012) (Vide)
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 675

I - os recursos serão interpostos independentemente de preparo;

II - em todos os recursos, salvo nos embargos de declaração, o prazo para o Ministério Público e para a
defesa será sempre de 10 (dez) dias; (Redação dada pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

III - os recursos terão preferência de julgamento e dispensarão revisor;

IV - (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência


V - (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
VI - (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

VII - antes de determinar a remessa dos autos à superior instância, no caso de apelação, ou do
instrumento, no caso de agravo, a autoridade judiciária proferirá despacho fundamentado, mantendo ou
reformando a decisão, no prazo de cinco dias;

VIII - mantida a decisão apelada ou agravada, o escrivão remeterá os autos ou o instrumento à superior
instância dentro de vinte e quatro horas, independentemente de novo pedido do recorrente; se a reformar, a
remessa dos autos dependerá de pedido expresso da parte interessada ou do Ministério Público, no prazo de
cinco dias, contados da intimação.

Art. 199. Contra as decisões proferidas com base no art. 149 caberá recurso de apelação.

Art. 199-A. A sentença que deferir a adoção produz efeito desde logo, embora sujeita a apelação, que
será recebida exclusivamente no efeito devolutivo, salvo se se tratar de adoção internacional ou se houver
perigo de dano irreparável ou de difícil reparação ao adotando. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Art. 199-B. A sentença que destituir ambos ou qualquer dos genitores do poder familiar fica sujeita a
apelação, que deverá ser recebida apenas no efeito devolutivo. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Art. 199-C. Os recursos nos procedimentos de adoção e de destituição de poder familiar, em face da
relevância das questões, serão processados com prioridade absoluta, devendo ser imediatamente distribuídos,
ficando vedado que aguardem, em qualquer situação, oportuna distribuição, e serão colocados em mesa para
julgamento sem revisão e com parecer urgente do Ministério Público. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência

Art. 199-D. O relator deverá colocar o processo em mesa para julgamento no prazo máximo de 60
(sessenta) dias, contado da sua conclusão. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Parágrafo único. O Ministério Público será intimado da data do julgamento e poderá na sessão, se
entender necessário, apresentar oralmente seu parecer. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Art. 199-E. O Ministério Público poderá requerer a instauração de procedimento para apuração de
responsabilidades se constatar o descumprimento das providências e do prazo previstos nos artigos
anteriores. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Capítulo V

Do Ministério Público

Art. 200. As funções do Ministério Público previstas nesta Lei serão exercidas nos termos da respectiva
lei orgânica.

Art. 201. Compete ao Ministério Público:

I - conceder a remissão como forma de exclusão do processo;

II - promover e acompanhar os procedimentos relativos às infrações atribuídas a adolescentes;

III - promover e acompanhar as ações de alimentos e os procedimentos de suspensão e destituição


do pátrio poder poder familiar , nomeação e remoção de tutores, curadores e guardiães, bem como oficiar em
todos os demais procedimentos da competência da Justiça da Infância e da Juventude; (Expressão substituída
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 676

IV - promover, de ofício ou por solicitação dos interessados, a especialização e a inscrição de hipoteca


legal e a prestação de contas dos tutores, curadores e quaisquer administradores de bens de crianças e
adolescentes nas hipóteses do art. 98;

V - promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos interesses individuais, difusos ou
coletivos relativos à infância e à adolescência, inclusive os definidos no art. 220, § 3º inciso II, da Constituição
Federal ;

VI - instaurar procedimentos administrativos e, para instruí-los:

a) expedir notificações para colher depoimentos ou esclarecimentos e, em caso de não comparecimento


injustificado, requisitar condução coercitiva, inclusive pela polícia civil ou militar;

b) requisitar informações, exames, perícias e documentos de autoridades municipais, estaduais e federais,


da administração direta ou indireta, bem como promover inspeções e diligências investigatórias;

c) requisitar informações e documentos a particulares e instituições privadas;

VII - instaurar sindicâncias, requisitar diligências investigatórias e determinar a instauração de inquérito


policial, para apuração de ilícitos ou infrações às normas de proteção à infância e à juventude;

VIII - zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais assegurados às crianças e adolescentes,
promovendo as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis;

IX - impetrar mandado de segurança, de injunção e habeas corpus, em qualquer juízo, instância ou


tribunal, na defesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis afetos à criança e ao adolescente;

X - representar ao juízo visando à aplicação de penalidade por infrações cometidas contra as normas de
proteção à infância e à juventude, sem prejuízo da promoção da responsabilidade civil e penal do infrator,
quando cabível;

XI - inspecionar as entidades públicas e particulares de atendimento e os programas de que trata esta Lei,
adotando de pronto as medidas administrativas ou judiciais necessárias à remoção de irregularidades
porventura verificadas;

XII - requisitar força policial, bem como a colaboração dos serviços médicos, hospitalares, educacionais e
de assistência social, públicos ou privados, para o desempenho de suas atribuições.

§ 1º A legitimação do Ministério Público para as ações cíveis previstas neste artigo não impede a de
terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo dispuserem a Constituição e esta Lei.

§ 2º As atribuições constantes deste artigo não excluem outras, desde que compatíveis com a finalidade
do Ministério Público.

§ 3º O representante do Ministério Público, no exercício de suas funções, terá livre acesso a todo local
onde se encontre criança ou adolescente.

§ 4º O representante do Ministério Público será responsável pelo uso indevido das informações e
documentos que requisitar, nas hipóteses legais de sigilo.

§ 5º Para o exercício da atribuição de que trata o inciso VIII deste artigo, poderá o representante do
Ministério Público:

a) reduzir a termo as declarações do reclamante, instaurando o competente procedimento, sob sua


presidência;

b) entender-se diretamente com a pessoa ou autoridade reclamada, em dia, local e horário previamente
notificados ou acertados;

c) efetuar recomendações visando à melhoria dos serviços públicos e de relevância pública afetos à
criança e ao adolescente, fixando prazo razoável para sua perfeita adequação.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 677

Art. 202. Nos processos e procedimentos em que não for parte, atuará obrigatoriamente o Ministério
Público na defesa dos direitos e interesses de que cuida esta Lei, hipótese em que terá vista dos autos depois
das partes, podendo juntar documentos e requerer diligências, usando os recursos cabíveis.

Art. 203. A intimação do Ministério Público, em qualquer caso, será feita pessoalmente.

Art. 204. A falta de intervenção do Ministério Público acarreta a nulidade do feito, que será declarada de
ofício pelo juiz ou a requerimento de qualquer interessado.

Art. 205. As manifestações processuais do representante do Ministério Público deverão ser


fundamentadas.

Capítulo VI

Do Advogado

Art. 206. A criança ou o adolescente, seus pais ou responsável, e qualquer pessoa que tenha legítimo
interesse na solução da lide poderão intervir nos procedimentos de que trata esta Lei, através de advogado, o
qual será intimado para todos os atos, pessoalmente ou por publicação oficial, respeitado o segredo de justiça.

Parágrafo único. Será prestada assistência judiciária integral e gratuita àqueles que dela necessitarem.

Art. 207. Nenhum adolescente a quem se atribua a prática de ato infracional, ainda que ausente ou
foragido, será processado sem defensor.

§ 1º Se o adolescente não tiver defensor, ser-lhe-á nomeado pelo juiz, ressalvado o direito de, a todo
tempo, constituir outro de sua preferência.

§ 2º A ausência do defensor não determinará o adiamento de nenhum ato do processo, devendo o juiz
nomear substituto, ainda que provisoriamente, ou para o só efeito do ato.

§ 3º Será dispensada a outorga de mandato, quando se tratar de defensor nomeado ou, sido constituído,
tiver sido indicado por ocasião de ato formal com a presença da autoridade judiciária.

Capítulo VII

Da Proteção Judicial dos Interesses Individuais, Difusos e Coletivos

Art. 208. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações de responsabilidade por ofensa aos direitos
assegurados à criança e ao adolescente, referentes ao não oferecimento ou oferta irregular:

I - do ensino obrigatório;

II - de atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência;

III – de atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos de idade; (Redação dada
pela Lei nº 13.306, de 2016)

IV - de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;

V - de programas suplementares de oferta de material didático-escolar, transporte e assistência à saúde


do educando do ensino fundamental;

VI - de serviço de assistência social visando à proteção à família, à maternidade, à infância e à


adolescência, bem como ao amparo às crianças e adolescentes que dele necessitem;

VII - de acesso às ações e serviços de saúde;

VIII - de escolarização e profissionalização dos adolescentes privados de liberdade.

IX - de ações, serviços e programas de orientação, apoio e promoção social de famílias e destinados ao


pleno exercício do direito à convivência familiar por crianças e adolescentes. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 678

X - de programas de atendimento para a execução das medidas socioeducativas e aplicação de medidas


de proteção. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

XI - de políticas e programas integrados de atendimento à criança e ao adolescente vítima ou testemunha


de violência. (Incluído pela Lei nº 13.431, de 2017) (Vigência)

§ 1 o As hipóteses previstas neste artigo não excluem da proteção judicial outros interesses individuais,
difusos ou coletivos, próprios da infância e da adolescência, protegidos pela Constituição e pela
Lei. (Renumerado do Parágrafo único pela Lei nº 11.259, de 2005)

§ 2 o A investigação do desaparecimento de crianças ou adolescentes será realizada imediatamente após


notificação aos órgãos competentes, que deverão comunicar o fato aos portos, aeroportos, Polícia Rodoviária
e companhias de transporte interestaduais e internacionais, fornecendo-lhes todos os dados necessários à
identificação do desaparecido. (Incluído pela Lei nº 11.259, de 2005)

Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão propostas no foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer
a ação ou omissão, cujo juízo terá competência absoluta para processar a causa, ressalvadas a competência
da Justiça Federal e a competência originária dos tribunais superiores.

Art. 210. Para as ações cíveis fundadas em interesses coletivos ou difusos, consideram-se legitimados
concorrentemente:

I - o Ministério Público;

II - a União, os estados, os municípios, o Distrito Federal e os territórios;

III - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre seus fins
institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por esta Lei, dispensada a autorização da
assembléia, se houver prévia autorização estatutária.

§ 1º Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União e dos estados na defesa
dos interesses e direitos de que cuida esta Lei.

§ 2º Em caso de desistência ou abandono da ação por associação legitimada, o Ministério Público ou outro
legitimado poderá assumir a titularidade ativa.

Art. 211. Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento
de sua conduta às exigências legais, o qual terá eficácia de título executivo extrajudicial.

Art. 212. Para defesa dos direitos e interesses protegidos por esta Lei, são admissíveis todas as espécies
de ações pertinentes.

§ 1º Aplicam-se às ações previstas neste Capítulo as normas do Código de Processo Civil.

§ 2º Contra atos ilegais ou abusivos de autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de
atribuições do poder público, que lesem direito líquido e certo previsto nesta Lei, caberá ação mandamental,
que se regerá pelas normas da lei do mandado de segurança.

Art. 213. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá
a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente
ao do adimplemento.

§ 1º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento


final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citando o réu.

§ 2º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na sentença, impor multa diária ao réu,
independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando prazo razoável
para o cumprimento do preceito.

§ 3º A multa só será exigível do réu após o trânsito em julgado da sentença favorável ao autor, mas será
devida desde o dia em que se houver configurado o descumprimento.

Art. 214. Os valores das multas reverterão ao fundo gerido pelo Conselho dos Direitos da Criança e do
Adolescente do respectivo município.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 679

§ 1º As multas não recolhidas até trinta dias após o trânsito em julgado da decisão serão exigidas através
de execução promovida pelo Ministério Público, nos mesmos autos, facultada igual iniciativa aos demais
legitimados.

§ 2º Enquanto o fundo não for regulamentado, o dinheiro ficará depositado em estabelecimento oficial de
crédito, em conta com correção monetária.

Art. 215. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos recursos, para evitar dano irreparável à parte.

Art. 216. Transitada em julgado a sentença que impuser condenação ao poder público, o juiz determinará
a remessa de peças à autoridade competente, para apuração da responsabilidade civil e administrativa do
agente a que se atribua a ação ou omissão.

Art. 217. Decorridos sessenta dias do trânsito em julgado da sentença condenatória sem que a associação
autora lhe promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público, facultada igual iniciativa aos demais
legitimados.

Art. 218. O juiz condenará a associação autora a pagar ao réu os honorários advocatícios arbitrados na
conformidade do § 4º do art. 20 da Lei n.º 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Civil) , quando
reconhecer que a pretensão é manifestamente infundada.

Parágrafo único. Em caso de litigância de má-fé, a associação autora e os diretores responsáveis pela
propositura da ação serão solidariamente condenados ao décuplo das custas, sem prejuízo de
responsabilidade por perdas e danos.

Art. 219. Nas ações de que trata este Capítulo, não haverá adiantamento de custas, emolumentos,
honorários periciais e quaisquer outras despesas.

Art. 220. Qualquer pessoa poderá e o servidor público deverá provocar a iniciativa do Ministério Público,
prestando-lhe informações sobre fatos que constituam objeto de ação civil, e indicando-lhe os elementos de
convicção.

Art. 221. Se, no exercício de suas funções, os juízos e tribunais tiverem conhecimento de fatos que possam
ensejar a propositura de ação civil, remeterão peças ao Ministério Público para as providências cabíveis.

Art. 222. Para instruir a petição inicial, o interessado poderá requerer às autoridades competentes as
certidões e informações que julgar necessárias, que serão fornecidas no prazo de quinze dias.

Art. 223. O Ministério Público poderá instaurar, sob sua presidência, inquérito civil, ou requisitar, de
qualquer pessoa, organismo público ou particular, certidões, informações, exames ou perícias, no prazo que
assinalar, o qual não poderá ser inferior a dez dias úteis.

§ 1º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as diligências, se convencer da inexistência de


fundamento para a propositura da ação cível, promoverá o arquivamento dos autos do inquérito civil ou das
peças informativas, fazendo-o fundamentadamente.

§ 2º Os autos do inquérito civil ou as peças de informação arquivados serão remetidos, sob pena de se
incorrer em falta grave, no prazo de três dias, ao Conselho Superior do Ministério Público.

§ 3º Até que seja homologada ou rejeitada a promoção de arquivamento, em sessão do Conselho Superior
do Ministério público, poderão as associações legitimadas apresentar razões escritas ou documentos, que
serão juntados aos autos do inquérito ou anexados às peças de informação.

§ 4º A promoção de arquivamento será submetida a exame e deliberação do Conselho Superior do


Ministério Público, conforme dispuser o seu regimento.

§ 5º Deixando o Conselho Superior de homologar a promoção de arquivamento, designará, desde logo,


outro órgão do Ministério Público para o ajuizamento da ação.

Art. 224. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber, as disposições da Lei n.º 7.347, de 24 de julho de
1985 .

Título VII
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 680

Dos Crimes e Das Infrações Administrativas

Capítulo I

Dos Crimes

Seção I

Disposições Gerais

Art. 225. Este Capítulo dispõe sobre crimes praticados contra a criança e o adolescente, por ação ou
omissão, sem prejuízo do disposto na legislação penal.

Art. 226. Aplicam-se aos crimes definidos nesta Lei as normas da Parte Geral do Código Penal e, quanto
ao processo, as pertinentes ao Código de Processo Penal.

Art. 227. Os crimes definidos nesta Lei são de ação pública incondicionada.

Art. 227-A Os efeitos da condenação prevista no inciso I do caput do art. 92 do Decreto-Lei nº 2.848, de
7 de dezembro de 1940 (Código Penal), para os crimes previstos nesta Lei, praticados por servidores públicos
com abuso de autoridade, são condicionados à ocorrência de reincidência. (Incluído pela Lei nº 13.869. de
2019)

Parágrafo único. A perda do cargo, do mandato ou da função, nesse caso, independerá da pena aplicada
na reincidência. (Incluído pela Lei nº 13.869. de 2019)

Seção II

Dos Crimes em Espécie

Art. 228. Deixar o encarregado de serviço ou o dirigente de estabelecimento de atenção à saúde de


gestante de manter registro das atividades desenvolvidas, na forma e prazo referidos no art. 10 desta Lei, bem
como de fornecer à parturiente ou a seu responsável, por ocasião da alta médica, declaração de nascimento,
onde constem as intercorrências do parto e do desenvolvimento do neonato:

Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Parágrafo único. Se o crime é culposo:

Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.

Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de estabelecimento de atenção à saúde de gestante de
identificar corretamente o neonato e a parturiente, por ocasião do parto, bem como deixar de proceder aos
exames referidos no art. 10 desta Lei:

Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Parágrafo único. Se o crime é culposo:

Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.

Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, procedendo à sua apreensão sem estar em
flagrante de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da autoridade judiciária competente:

Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que procede à apreensão sem observância das
formalidades legais.

Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela apreensão de criança ou adolescente de fazer
imediata comunicação à autoridade judiciária competente e à família do apreendido ou à pessoa por ele
indicada:

Pena - detenção de seis meses a dois anos.


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 681

Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a
constrangimento:

Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Art. 233. (Revogado pela Lei nº 9.455, de 7.4.1997 :

Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa causa, de ordenar a imediata liberação de criança
ou adolescente, tão logo tenha conhecimento da ilegalidade da apreensão:

Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado nesta Lei em benefício de adolescente privado de
liberdade:

Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade judiciária, membro do Conselho Tutelar ou
representante do Ministério Público no exercício de função prevista nesta Lei:

Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou
ordem judicial, com o fim de colocação em lar substituto:

Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa.

Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo a terceiro, mediante paga ou recompensa:

Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa.

Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem oferece ou efetiva a paga ou recompensa.

Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao envio de criança ou adolescente para o
exterior com inobservância das formalidades legais ou com o fito de obter lucro:

Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa.

Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave ameaça ou fraude: (Incluído pela Lei nº 10.764, de
12.11.2003)

Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena correspondente à violência.

Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo
explícito ou pornográfica, envolvendo criança ou adolescente: (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)

Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)

§ 1 o Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita, recruta, coage, ou de qualquer modo intermedeia
a participação de criança ou adolescente nas cenas referidas no caput deste artigo, ou ainda quem com
esses contracena. (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)

§ 2 o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente comete o crime: (Redação dada pela Lei nº
11.829, de 2008)

I – no exercício de cargo ou função pública ou a pretexto de exercê-la; (Redação dada pela Lei nº
11.829, de 2008)

II – prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade; ou (Redação dada pela


Lei nº 11.829, de 2008)

III – prevalecendo-se de relações de parentesco consangüíneo ou afim até o terceiro grau, ou por
adoção, de tutor, curador, preceptor, empregador da vítima ou de quem, a qualquer outro título, tenha
autoridade sobre ela, ou com seu consentimento. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 682

Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo
explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)

Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)

Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio,
inclusive por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha
cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: (Incluído pela Lei nº 11.829, de
2008)

Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)

§ 1 o Nas mesmas penas incorre quem: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)

I – assegura os meios ou serviços para o armazenamento das fotografias, cenas ou imagens de que trata
o caput deste artigo; (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)

II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de computadores às fotografias, cenas ou imagens
de que trata o caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)

§ 2 o As condutas tipificadas nos incisos I e II do § 1 o deste artigo são puníveis quando o responsável legal
pela prestação do serviço, oficialmente notificado, deixa de desabilitar o acesso ao conteúdo ilícito de que trata
o caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)

Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro
que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: (Incluído pela Lei nº
11.829, de 2008)

Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)

§ 1 o A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois terços) se de pequena quantidade o material a que se refere
o caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)

§ 2 o Não há crime se a posse ou o armazenamento tem a finalidade de comunicar às autoridades


competentes a ocorrência das condutas descritas nos arts. 240, 241, 241-A e 241-C desta Lei, quando a
comunicação for feita por: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)

I – agente público no exercício de suas funções; (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)

II – membro de entidade, legalmente constituída, que inclua, entre suas finalidades institucionais, o
recebimento, o processamento e o encaminhamento de notícia dos crimes referidos neste parágrafo; (Incluído
pela Lei nº 11.829, de 2008)

III – representante legal e funcionários responsáveis de provedor de acesso ou serviço prestado por meio
de rede de computadores, até o recebimento do material relativo à notícia feita à autoridade policial, ao
Ministério Público ou ao Poder Judiciário. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)

§ 3 o As pessoas referidas no § 2 o deste artigo deverão manter sob sigilo o material ilícito referido. (Incluído
pela Lei nº 11.829, de 2008)

Art. 241-C. Simular a participação de criança ou adolescente em cena de sexo explícito ou pornográfica
por meio de adulteração, montagem ou modificação de fotografia, vídeo ou qualquer outra forma de
representação visual: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)

Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)

Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende, expõe à venda, disponibiliza, distribui, publica
ou divulga por qualquer meio, adquire, possui ou armazena o material produzido na forma do caput deste
artigo. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)

Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por qualquer meio de comunicação, criança, com o
fim de com ela praticar ato libidinoso: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)

Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 683

Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)

I – facilita ou induz o acesso à criança de material contendo cena de sexo explícito ou pornográfica com o
fim de com ela praticar ato libidinoso; (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)

II – pratica as condutas descritas no caput deste artigo com o fim de induzir criança a se exibir de forma
pornográfica ou sexualmente explícita. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)

Art. 241-E. Para efeito dos crimes previstos nesta Lei, a expressão “cena de sexo explícito ou
pornográfica” compreende qualquer situação que envolva criança ou adolescente em atividades sexuais
explícitas, reais ou simuladas, ou exibição dos órgãos genitais de uma criança ou adolescente para fins
primordialmente sexuais. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)

Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer forma, a criança ou
adolescente arma, munição ou explosivo:

Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos. (Redação dada pela Lei nº 10.764, de 12.11.2003)

Art. 243. Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar, ainda que gratuitamente, de qualquer forma, a
criança ou a adolescente, bebida alcoólica ou, sem justa causa, outros produtos cujos componentes possam
causar dependência física ou psíquica: (Redação dada pela Lei nº 13.106, de 2015)

Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o fato não constitui crime mais grave. (Redação
dada pela Lei nº 13.106, de 2015)

Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer forma, a criança ou
adolescente fogos de estampido ou de artifício, exceto aqueles que, pelo seu reduzido potencial, sejam
incapazes de provocar qualquer dano físico em caso de utilização indevida:

Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa.

Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais definidos no caput do art. 2 o desta Lei, à
prostituição ou à exploração sexual: (Incluído pela Lei nº 9.975, de 23.6.2000)

Pena – reclusão de quatro a dez anos e multa, além da perda de bens e valores utilizados na prática
criminosa em favor do Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente da unidade da Federação (Estado ou
Distrito Federal) em que foi cometido o crime, ressalvado o direito de terceiro de boa-fé. (Redação dada pela
Lei nº 13.440, de 2017)

§ 1 o Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifique
a submissão de criança ou adolescente às práticas referidas no caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 9.975,
de 23.6.2000)

§ 2 o Constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da licença de localização e de funcionamento


do estabelecimento. (Incluído pela Lei nº 9.975, de 23.6.2000)

Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de menor de 18 (dezoito) anos, com ele praticando infração
penal ou induzindo-o a praticá-la: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

§ 1 o Incorre nas penas previstas no caput deste artigo quem pratica as condutas ali tipificadas utilizando-
se de quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de bate-papo da internet. (Incluído pela Lei nº 12.015, de
2009)

§ 2 o As penas previstas no caput deste artigo são aumentadas de um terço no caso de a infração
cometida ou induzida estar incluída no rol do art. 1 o da Lei n o 8.072, de 25 de julho de 1990 . (Incluído pela Lei
nº 12.015, de 2009)

Capítulo II

Das Infrações Administrativas


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 684

Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por estabelecimento de atenção à saúde e de ensino
fundamental, pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade competente os casos de que tenha
conhecimento, envolvendo suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente:

Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência.

Art. 246. Impedir o responsável ou funcionário de entidade de atendimento o exercício dos direitos
constantes nos incisos II, III, VII, VIII e XI do art. 124 desta Lei:

Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência.

Art. 247. Divulgar, total ou parcialmente, sem autorização devida, por qualquer meio de comunicação,
nome, ato ou documento de procedimento policial, administrativo ou judicial relativo a criança ou adolescente
a que se atribua ato infracional:

Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência.

§ 1º Incorre na mesma pena quem exibe, total ou parcialmente, fotografia de criança ou adolescente
envolvido em ato infracional, ou qualquer ilustração que lhe diga respeito ou se refira a atos que lhe sejam
atribuídos, de forma a permitir sua identificação, direta ou indiretamente.

§ 2º Se o fato for praticado por órgão de imprensa ou emissora de rádio ou televisão, além da pena prevista
neste artigo, a autoridade judiciária poderá determinar a apreensão da publicação ou a suspensão da
programação da emissora até por dois dias, bem como da publicação do periódico até por dois
números. (Expressão declarada inconstitucional pela ADIN 869).

Art. 248. (Revogado pela Lei nº 13.431, de 2017) (Vigência)

Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os deveres inerentes ao pátrio poder poder familiar ou
decorrente de tutela ou guarda, bem assim determinação da autoridade judiciária ou Conselho
Tutelar: (Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência.

Art. 250. Hospedar criança ou adolescente desacompanhado dos pais ou responsável, ou sem
autorização escrita desses ou da autoridade judiciária, em hotel, pensão, motel ou congênere: (Redação dada
pela Lei nº 12.038, de 2009).

Pena – multa. (Redação dada pela Lei nº 12.038, de 2009).

§ 1 º Em caso de reincidência, sem prejuízo da pena de multa, a autoridade judiciária poderá determinar
o fechamento do estabelecimento por até 15 (quinze) dias. (Incluído pela Lei nº 12.038, de 2009).

§ 2 º Se comprovada a reincidência em período inferior a 30 (trinta) dias, o estabelecimento será


definitivamente fechado e terá sua licença cassada. (Incluído pela Lei nº 12.038, de 2009).

Art. 251. Transportar criança ou adolescente, por qualquer meio, com inobservância do disposto nos arts.
83, 84 e 85 desta Lei:

Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência.

Art. 252. Deixar o responsável por diversão ou espetáculo público de afixar, em lugar visível e de fácil
acesso, à entrada do local de exibição, informação destacada sobre a natureza da diversão ou espetáculo e a
faixa etária especificada no certificado de classificação:

Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência.

Art. 253. Anunciar peças teatrais, filmes ou quaisquer representações ou espetáculos, sem indicar os
limites de idade a que não se recomendem:

Pena - multa de três a vinte salários de referência, duplicada em caso de reincidência, aplicável,
separadamente, à casa de espetáculo e aos órgãos de divulgação ou publicidade.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 685

Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, espetáculo em horário diverso do autorizado ou sem
aviso de sua classificação: (Expressão declarada inconstitucional pela ADI 2.404).

Pena - multa de vinte a cem salários de referência; duplicada em caso de reincidência a autoridade
judiciária poderá determinar a suspensão da programação da emissora por até dois dias.

Art. 255. Exibir filme, trailer, peça, amostra ou congênere classificado pelo órgão competente como
inadequado às crianças ou adolescentes admitidos ao espetáculo:

Pena - multa de vinte a cem salários de referência; na reincidência, a autoridade poderá determinar a
suspensão do espetáculo ou o fechamento do estabelecimento por até quinze dias.

Art. 256. Vender ou locar a criança ou adolescente fita de programação em vídeo, em desacordo com a
classificação atribuída pelo órgão competente:

Pena - multa de três a vinte salários de referência; em caso de reincidência, a autoridade judiciária poderá
determinar o fechamento do estabelecimento por até quinze dias.

Art. 257. Descumprir obrigação constante dos arts. 78 e 79 desta Lei:

Pena - multa de três a vinte salários de referência, duplicando-se a pena em caso de reincidência, sem
prejuízo de apreensão da revista ou publicação.

Art. 258. Deixar o responsável pelo estabelecimento ou o empresário de observar o que dispõe esta Lei
sobre o acesso de criança ou adolescente aos locais de diversão, ou sobre sua participação no espetáculo:

Pena - multa de três a vinte salários de referência; em caso de reincidência, a autoridade judiciária poderá
determinar o fechamento do estabelecimento por até quinze dias.

Art. 258-A. Deixar a autoridade competente de providenciar a instalação e operacionalização dos


cadastros previstos no art. 50 e no § 11 do art. 101 desta Lei: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 (três mil reais). (Incluído pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência

Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas a autoridade que deixa de efetuar o cadastramento de
crianças e de adolescentes em condições de serem adotadas, de pessoas ou casais habilitados à adoção e de
crianças e adolescentes em regime de acolhimento institucional ou familiar. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência

Art. 258-B. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de estabelecimento de atenção à saúde de gestante
de efetuar imediato encaminhamento à autoridade judiciária de caso de que tenha conhecimento de mãe ou
gestante interessada em entregar seu filho para adoção: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 (três mil reais). (Incluído pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência

Parágrafo único. Incorre na mesma pena o funcionário de programa oficial ou comunitário destinado à
garantia do direito à convivência familiar que deixa de efetuar a comunicação referida no caput deste
artigo. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Art. 258-C. Descumprir a proibição estabelecida no inciso II do art. 81: (Redação dada pela Lei nº 13.106,
de 2015)

Pena - multa de R$ 3.000,00 (três mil reais) a R$ 10.000,00 (dez mil reais); (Redação dada pela Lei nº
13.106, de 2015)

Medida Administrativa - interdição do estabelecimento comercial até o recolhimento da multa


aplicada. (Redação dada pela Lei nº 13.106, de 2015)

Disposições Finais e Transitórias


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 686

Art. 259. A União, no prazo de noventa dias contados da publicação deste Estatuto, elaborará projeto de
lei dispondo sobre a criação ou adaptação de seus órgãos às diretrizes da política de atendimento fixadas no
art. 88 e ao que estabelece o Título V do Livro II.

Parágrafo único. Compete aos estados e municípios promoverem a adaptação de seus órgãos e
programas às diretrizes e princípios estabelecidos nesta Lei.

Art. 260. Os contribuintes poderão efetuar doações aos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente
nacional, distrital, estaduais ou municipais, devidamente comprovadas, sendo essas integralmente deduzidas
do imposto de renda, obedecidos os seguintes limites: (Redação dada pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

I - 1% (um por cento) do imposto sobre a renda devido apurado pelas pessoas jurídicas tributadas com
base no lucro real; e (Redação dada pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

II - 6% (seis por cento) do imposto sobre a renda apurado pelas pessoas físicas na Declaração de Ajuste
Anual, observado o disposto no art. 22 da Lei n o 9.532, de 10 de dezembro de 1997 . (Redação dada pela Lei
nº 12.594, de 2012) (Vide)

§ 1º - (Revogado pela Lei nº 9.532, de 1997) (Produção de efeito)

§ 1 o -A. Na definição das prioridades a serem atendidas com os recursos captados pelos fundos nacional,
estaduais e municipais dos direitos da criança e do adolescente, serão consideradas as disposições do Plano
Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e
Comunitária e as do Plano Nacional pela Primeira Infância. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)

§ 2 o Os conselhos nacional, estaduais e municipais dos direitos da criança e do adolescente fixarão


critérios de utilização, por meio de planos de aplicação, das dotações subsidiadas e demais receitas, aplicando
necessariamente percentual para incentivo ao acolhimento, sob a forma de guarda, de crianças e adolescentes
e para programas de atenção integral à primeira infância em áreas de maior carência socioeconômica e em
situações de calamidade. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)

§ 3º O Departamento da Receita Federal, do Ministério da Economia, Fazenda e Planejamento,


regulamentará a comprovação das doações feitas aos fundos, nos termos deste artigo. (Incluído pela Lei nº
8.242, de 12.10.1991)

§ 4º O Ministério Público determinará em cada comarca a forma de fiscalização da aplicação, pelo Fundo
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, dos incentivos fiscais referidos neste artigo. (Incluído pela
Lei nº 8.242, de 12.10.1991)

§ 5 o Observado o disposto no § 4 o do art. 3 o da Lei n o 9.249, de 26 de dezembro de 1995 , a dedução


de que trata o inciso I do caput : (Redação dada pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

I - será considerada isoladamente, não se submetendo a limite em conjunto com outras deduções do
imposto; e (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

II - não poderá ser computada como despesa operacional na apuração do lucro real. (Incluído pela Lei nº
12.594, de 2012) (Vide)

Art. 260-A. A partir do exercício de 2010, ano-calendário de 2009, a pessoa física poderá optar pela doação
de que trata o inciso II do caput do art. 260 diretamente em sua Declaração de Ajuste Anual. (Incluído pela Lei
nº 12.594, de 2012) (Vide)

§ 1 o A doação de que trata o caput poderá ser deduzida até os seguintes percentuais aplicados sobre o
imposto apurado na declaração: (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

I - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

II - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

III - 3% (três por cento) a partir do exercício de 2012. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

§ 2 o A dedução de que trata o caput : (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 687

I - está sujeita ao limite de 6% (seis por cento) do imposto sobre a renda apurado na declaração de que
trata o inciso II do caput do art. 260; (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

II - não se aplica à pessoa física que: (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

a) utilizar o desconto simplificado; (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

b) apresentar declaração em formulário; ou (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

c) entregar a declaração fora do prazo; (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

III - só se aplica às doações em espécie; e (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

IV - não exclui ou reduz outros benefícios ou deduções em vigor. (Incluído pela Lei nº 12.594, de
2012) (Vide)

§ 3 o O pagamento da doação deve ser efetuado até a data de vencimento da primeira quota ou quota
única do imposto, observadas instruções específicas da Secretaria da Receita Federal do Brasil. (Incluído
pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

§ 4 o O não pagamento da doação no prazo estabelecido no § 3 o implica a glosa definitiva desta parcela
de dedução, ficando a pessoa física obrigada ao recolhimento da diferença de imposto devido apurado na
Declaração de Ajuste Anual com os acréscimos legais previstos na legislação. (Incluído pela Lei nº 12.594, de
2012) (Vide)

§ 5 o A pessoa física poderá deduzir do imposto apurado na Declaração de Ajuste Anual as doações feitas,
no respectivo ano-calendário, aos fundos controlados pelos Conselhos dos Direitos da Criança e do
Adolescente municipais, distrital, estaduais e nacional concomitantemente com a opção de que trata o caput ,
respeitado o limite previsto no inciso II do art. 260. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

Art. 260-B. A doação de que trata o inciso I do art. 260 poderá ser deduzida: (Incluído pela Lei nº 12.594,
de 2012) (Vide)

I - do imposto devido no trimestre, para as pessoas jurídicas que apuram o imposto trimestralmente;
e (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

II - do imposto devido mensalmente e no ajuste anual, para as pessoas jurídicas que apuram o imposto
anualmente. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

Parágrafo único. A doação deverá ser efetuada dentro do período a que se refere a apuração do
imposto. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

Art. 260-C. As doações de que trata o art. 260 desta Lei podem ser efetuadas em espécie ou em
bens. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

Parágrafo único. As doações efetuadas em espécie devem ser depositadas em conta específica, em
instituição financeira pública, vinculadas aos respectivos fundos de que trata o art. 260. (Incluído pela Lei nº
12.594, de 2012) (Vide)

Art. 260-D. Os órgãos responsáveis pela administração das contas dos Fundos dos Direitos da Criança e
do Adolescente nacional, estaduais, distrital e municipais devem emitir recibo em favor do doador, assinado
por pessoa competente e pelo presidente do Conselho correspondente, especificando: (Incluído pela Lei nº
12.594, de 2012) (Vide)

I - número de ordem; (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

II - nome, Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) e endereço do emitente; (Incluído pela Lei nº
12.594, de 2012) (Vide)

III - nome, CNPJ ou Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) do doador; (Incluído pela Lei nº 12.594, de
2012) (Vide)

IV - data da doação e valor efetivamente recebido; e (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 688

V - ano-calendário a que se refere a doação. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

§ 1 o O comprovante de que trata o caput deste artigo pode ser emitido anualmente, desde que discrimine
os valores doados mês a mês. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

§ 2 o No caso de doação em bens, o comprovante deve conter a identificação dos bens, mediante
descrição em campo próprio ou em relação anexa ao comprovante, informando também se houve avaliação, o
nome, CPF ou CNPJ e endereço dos avaliadores. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

Art. 260-E. Na hipótese da doação em bens, o doador deverá: (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

I - comprovar a propriedade dos bens, mediante documentação hábil; (Incluído pela Lei nº 12.594, de
2012) (Vide)

II - baixar os bens doados na declaração de bens e direitos, quando se tratar de pessoa física, e na
escrituração, no caso de pessoa jurídica; e (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

III - considerar como valor dos bens doados: (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

a) para as pessoas físicas, o valor constante da última declaração do imposto de renda, desde que não
exceda o valor de mercado; (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

b) para as pessoas jurídicas, o valor contábil dos bens. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

Parágrafo único. O preço obtido em caso de leilão não será considerado na determinação do valor dos
bens doados, exceto se o leilão for determinado por autoridade judiciária. (Incluído pela Lei nº 12.594, de
2012) (Vide)

Art. 260-F. Os documentos a que se referem os arts. 260-D e 260-E devem ser mantidos pelo
contribuinte por um prazo de 5 (cinco) anos para fins de comprovação da dedução perante a Receita Federal
do Brasil. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

Art. 260-G. Os órgãos responsáveis pela administração das contas dos Fundos dos Direitos da Criança
e do Adolescente nacional, estaduais, distrital e municipais devem: (Incluído pela Lei nº 12.594, de
2012) (Vide)

I - manter conta bancária específica destinada exclusivamente a gerir os recursos do Fundo; (Incluído
pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

II - manter controle das doações recebidas; e (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

III - informar anualmente à Secretaria da Receita Federal do Brasil as doações recebidas mês a mês,
identificando os seguintes dados por doador: (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

a) nome, CNPJ ou CPF; (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

b) valor doado, especificando se a doação foi em espécie ou em bens. (Incluído pela Lei nº 12.594, de
2012) (Vide)

Art. 260-H. Em caso de descumprimento das obrigações previstas no art. 260-G, a Secretaria da
Receita Federal do Brasil dará conhecimento do fato ao Ministério Público. (Incluído pela Lei nº 12.594, de
2012) (Vide)

Art. 260-I. Os Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional, estaduais, distrital e
municipais divulgarão amplamente à comunidade: (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

I - o calendário de suas reuniões; (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

II - as ações prioritárias para aplicação das políticas de atendimento à criança e ao adolescente; (Incluído
pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

III - os requisitos para a apresentação de projetos a serem beneficiados com recursos dos Fundos dos
Direitos da Criança e do Adolescente nacional, estaduais, distrital ou municipais; (Incluído pela Lei nº 12.594,
de 2012) (Vide)
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 689

IV - a relação dos projetos aprovados em cada ano-calendário e o valor dos recursos previstos para
implementação das ações, por projeto; (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

V - o total dos recursos recebidos e a respectiva destinação, por projeto atendido, inclusive com
cadastramento na base de dados do Sistema de Informações sobre a Infância e a Adolescência; e (Incluído
pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

VI - a avaliação dos resultados dos projetos beneficiados com recursos dos Fundos dos Direitos da Criança
e do Adolescente nacional, estaduais, distrital e municipais. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

Art. 260-J. O Ministério Público determinará, em cada Comarca, a forma de fiscalização da aplicação dos
incentivos fiscais referidos no art. 260 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

Parágrafo único. O descumprimento do disposto nos arts. 260-G e 260-I sujeitará os infratores a
responder por ação judicial proposta pelo Ministério Público, que poderá atuar de ofício, a requerimento ou
representação de qualquer cidadão. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

Art. 260-K. A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) encaminhará à


Secretaria da Receita Federal do Brasil, até 31 de outubro de cada ano, arquivo eletrônico contendo a relação
atualizada dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional, distrital, estaduais e municipais,
com a indicação dos respectivos números de inscrição no CNPJ e das contas bancárias específicas mantidas
em instituições financeiras públicas, destinadas exclusivamente a gerir os recursos dos Fundos. (Incluído pela
Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

Art. 260-L. A Secretaria da Receita Federal do Brasil expedirá as instruções necessárias à aplicação do
disposto nos arts. 260 a 260-K. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

Art. 261. A falta dos conselhos municipais dos direitos da criança e do adolescente, os registros,
inscrições e alterações a que se referem os arts. 90, parágrafo único, e 91 desta Lei serão efetuados perante
a autoridade judiciária da comarca a que pertencer a entidade.

Parágrafo único. A União fica autorizada a repassar aos estados e municípios, e os estados aos
municípios, os recursos referentes aos programas e atividades previstos nesta Lei, tão logo estejam criados
os conselhos dos direitos da criança e do adolescente nos seus respectivos níveis.

Art. 262. Enquanto não instalados os Conselhos Tutelares, as atribuições a eles conferidas serão
exercidas pela autoridade judiciária.

Art. 263. O Decreto-Lei n.º 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), passa a vigorar com as
seguintes alterações:

1) Art. 121 ............................................................

§ 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de um terço, se o crime resulta de inobservância de regra


técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura
diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a
pena é aumentada de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de catorze anos.

2) Art. 129 ...............................................................

§ 7º Aumenta-se a pena de um terço, se ocorrer qualquer das hipóteses do art. 121, § 4º.

§ 8º Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.

3) Art. 136.................................................................

§ 3º Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de catorze anos.

4) Art. 213 ..................................................................

Parágrafo único. Se a ofendida é menor de catorze anos:

Pena - reclusão de quatro a dez anos.


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 690

5) Art. 214...................................................................

Parágrafo único. Se o ofendido é menor de catorze anos:

Pena - reclusão de três a nove anos.»

Art. 264. O art. 102 da Lei n.º 6.015, de 31 de dezembro de 1973 , fica acrescido do seguinte item:

"Art. 102 ....................................................................

6º) a perda e a suspensão do pátrio poder. "

Art. 265. A Imprensa Nacional e demais gráficas da União, da administração direta ou indireta, inclusive
fundações instituídas e mantidas pelo poder público federal promoverão edição popular do texto integral
deste Estatuto, que será posto à disposição das escolas e das entidades de atendimento e de defesa dos
direitos da criança e do adolescente.

Art. 265-A. O poder público fará periodicamente ampla divulgação dos direitos da criança e do
adolescente nos meios de comunicação social. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)

Parágrafo único. A divulgação a que se refere o caput será veiculada em linguagem clara,
compreensível e adequada a crianças e adolescentes, especialmente às crianças com idade inferior a 6 (seis)
anos. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)

Art. 266. Esta Lei entra em vigor noventa dias após sua publicação.

Parágrafo único. Durante o período de vacância deverão ser promovidas atividades e campanhas de
divulgação e esclarecimentos acerca do disposto nesta Lei.

Art. 267. Revogam-se as Leis n.º 4.513, de 1964 , e 6.697, de 10 de outubro de 1979 (Código de
Menores), e as demais disposições em contrário.

Brasília, 13 de julho de 1990; 169º da Independência e 102º da República.

FERNANDO COLLOR
Bernardo Cabral
Carlos Chiarelli
Antônio Magri
Margarida Procópio

Este texto não substitui o publicado no DOU 16.7.1990 e retificado em 27.9.1990


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 691

4. EI Nº 9.029/1995 (PRÁTICAS DISCRIMINATÓRIAS RELATIVAS À GRAVIDEZ


NO TRABALHO)

LEI Nº 9.029, DE 13 DE ABRIL DE 1995.

Proíbe a exigência de atestados de gravidez e esterilização, e outras práticas discriminatórias, para efeitos
admissionais ou de permanência da relação jurídica de trabalho, e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:

Art. 1o É proibida a adoção de qualquer prática discriminatória e limitativa para efeito de acesso à relação de
trabalho, ou de sua manutenção, por motivo de sexo, origem, raça, cor, estado civil, situação familiar,
deficiência, reabilitação profissional, idade, entre outros, ressalvadas, nesse caso, as hipóteses de proteção à
criança e ao adolescente previstas no inciso XXXIII do art. 7o da Constituição Federal. (Redação dada pela Lei
nº 13.146, de 2015) (Vigência)

Art. 2º Constituem crime as seguintes práticas discriminatórias:

I - a exigência de teste, exame, perícia, laudo, atestado, declaração ou qualquer outro procedimento relativo à
esterilização ou a estado de gravidez;
II - a adoção de quaisquer medidas, de iniciativa do empregador, que configurem;
a) indução ou instigamento à esterilização genética;
b) promoção do controle de natalidade, assim não considerado o oferecimento de serviços e de
aconselhamento ou planejamento familiar, realizados através de instituições públicas ou privadas, submetidas
às normas do Sistema Único de Saúde (SUS).
Pena: detenção de um a dois anos e multa.
Parágrafo único. São sujeitos ativos dos crimes a que se refere este artigo:
I - a pessoa física empregadora;
II - o representante legal do empregador, como definido na legislação trabalhista;
III - o dirigente, direto ou por delegação, de órgãos públicos e entidades das administrações públicas direta,
indireta e fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

Art. 3o Sem prejuízo do prescrito no art. 2o desta Lei e nos dispositivos legais que tipificam os crimes resultantes
de preconceito de etnia, raça, cor ou deficiência, as infrações ao disposto nesta Lei são passíveis das seguintes
cominações: (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)

I - multa administrativa de dez vezes o valor do maior salário pago pelo empregador, elevado em cinqüenta por
cento em caso de reincidência;
II - proibição de obter empréstimo ou financiamento junto a instituições financeiras oficiais.

Art. 4o O rompimento da relação de trabalho por ato discriminatório, nos moldes desta Lei, além do direito à
reparação pelo dano moral, faculta ao empregado optar entre: (Redação dada pela Lei nº 12.288, de
2010) (Vigência)

I - a reintegração com ressarcimento integral de todo o período de afastamento, mediante pagamento das
remunerações devidas, corrigidas monetariamente e acrescidas de juros legais; (Redação dada pela Lei nº
13.146, de 2015) (Vigência)
II - a percepção, em dobro, da remuneração do período de afastamento, corrigida monetariamente e acrescida
dos juros legais.

Art. 5º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 692

Art. 6º Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 13 de abril de 1995; 174º da Independência e 107º da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO


Paulo Paiva
Este texto não substitui o publicado no DOU de 17.4.1995
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 693

5. LEI Nº 9.455/1997 (CONTRA A TORTURA)

LEI Nº 9.455, DE 7 DE ABRIL DE 1997.

Define os crimes de tortura e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a


seguinte Lei:

Art. 1º Constitui crime de tortura:


I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou
mental:

a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa;


b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
c) em razão de discriminação racial ou religiosa;
II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça,
a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.
Pena - reclusão, de dois a oito anos.

§ 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a
sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida
legal.
§ 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las,
incorre na pena de detenção de um a quatro anos.
§ 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez
anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.
§ 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:
I - se o crime é cometido por agente público;

II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou maior de 60


(sessenta) anos; '(Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)

III - se o crime é cometido mediante seqüestro.

§ 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para seu
exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada.

§ 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia.

§ 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena
em regime fechado.

Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha sido cometido em território nacional,
sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira.

Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 4º Revoga-se o art. 233 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente.

Brasília, 7 de abril de 1997; 176º da Independência e 109º da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO


Nelson A. Jobim
Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 8.4.1997
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 694

6. LEI Nº 10.741/2003 (ESTATUTO DO IDOSO)

LEI N. 10.741, DE 1º DE OUTUBRO DE 2003.

Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte
Lei:

TÍTULO I
Disposições Preliminares

Art. 1o É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com idade
igual ou superior a 60 (sessenta) anos.

Art. 2o O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da
proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades
e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual
e social, em condições de liberdade e dignidade.

Art. 3o É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com
absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte,
ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.

§ 1º A garantia de prioridade compreende: (Redação dada pela Lei nº 13.466, de 2017)

I – atendimento preferencial imediato e individualizado junto aos órgãos públicos e privados prestadores
de serviços à população;

II – preferência na formulação e na execução de políticas sociais públicas específicas;

III – destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção ao idoso;

IV – viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio do idoso com as demais


gerações;

V – priorização do atendimento do idoso por sua própria família, em detrimento do atendimento asilar,
exceto dos que não a possuam ou careçam de condições de manutenção da própria sobrevivência;

VI – capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de geriatria e gerontologia e na prestação
de serviços aos idosos;

VII – estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulgação de informações de caráter educativo


sobre os aspectos biopsicossociais de envelhecimento;

VIII – garantia de acesso à rede de serviços de saúde e de assistência social locais.

IX – prioridade no recebimento da restituição do Imposto de Renda. (Incluído pela Lei nº 11.765, de 2008).

§ 2º Dentre os idosos, é assegurada prioridade especial aos maiores de oitenta anos, atendendo-se suas
necessidades sempre preferencialmente em relação aos demais idosos. (Incluído pela Lei nº 13.466, de 2017)

Art. 4o Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação, violência, crueldade ou
opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será punido na forma da lei.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 695

§ 1o É dever de todos prevenir a ameaça ou violação aos direitos do idoso.

§ 2o As obrigações previstas nesta Lei não excluem da prevenção outras decorrentes dos princípios por
ela adotados.

Art. 5o A inobservância das normas de prevenção importará em responsabilidade à pessoa física ou


jurídica nos termos da lei.

Art. 6o Todo cidadão tem o dever de comunicar à autoridade competente qualquer forma de violação a
esta Lei que tenha testemunhado ou de que tenha conhecimento.

Art. 7o Os Conselhos Nacional, Estaduais, do Distrito Federal e Municipais do Idoso, previstos na Lei no
8.842, de 4 de janeiro de 1994, zelarão pelo cumprimento dos direitos do idoso, definidos nesta Lei.

TÍTULO II
Dos Direitos Fundamentais

CAPÍTULO I
Do Direito à Vida

Art. 8o O envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção um direito social, nos termos desta
Lei e da legislação vigente.

Art. 9o É obrigação do Estado, garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à saúde, mediante efetivação
de políticas sociais públicas que permitam um envelhecimento saudável e em condições de dignidade.

CAPÍTULO II

Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade

Art. 10. É obrigação do Estado e da sociedade, assegurar à pessoa idosa a liberdade, o respeito e a
dignidade, como pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos, individuais e sociais, garantidos na
Constituição e nas leis.

§ 1o O direito à liberdade compreende, entre outros, os seguintes aspectos:

I – faculdade de ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições
legais;

II – opinião e expressão;

III – crença e culto religioso;

IV – prática de esportes e de diversões;

V – participação na vida familiar e comunitária;

VI – participação na vida política, na forma da lei;

VII – faculdade de buscar refúgio, auxílio e orientação.

§ 2o O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral, abrangendo


a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, de valores, idéias e crenças, dos espaços e dos
objetos pessoais.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 696

§ 3o É dever de todos zelar pela dignidade do idoso, colocando-o a salvo de qualquer tratamento
desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.

CAPÍTULO III
Dos Alimentos

Art. 11. Os alimentos serão prestados ao idoso na forma da lei civil.

Art. 12. A obrigação alimentar é solidária, podendo o idoso optar entre os prestadores.

Art. 13. As transações relativas a alimentos poderão ser celebradas perante o Promotor de Justiça ou
Defensor Público, que as referendará, e passarão a ter efeito de título executivo extrajudicial nos termos da lei
processual civil. (Redação dada pela Lei nº 11.737, de 2008)

Art. 14. Se o idoso ou seus familiares não possuírem condições econômicas de prover o seu sustento,
impõe-se ao Poder Público esse provimento, no âmbito da assistência social.

CAPÍTULO IV
Do Direito à Saúde

Art. 15. É assegurada a atenção integral à saúde do idoso, por intermédio do Sistema Único de Saúde –
SUS, garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, em conjunto articulado e contínuo das ações e serviços,
para a prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde, incluindo a atenção especial às doenças que
afetam preferencialmente os idosos.

§ 1o A prevenção e a manutenção da saúde do idoso serão efetivadas por meio de:

I – cadastramento da população idosa em base territorial;

II – atendimento geriátrico e gerontológico em ambulatórios;

III – unidades geriátricas de referência, com pessoal especializado nas áreas de geriatria e gerontologia
social;

IV – atendimento domiciliar, incluindo a internação, para a população que dele necessitar e esteja
impossibilitada de se locomover, inclusive para idosos abrigados e acolhidos por instituições públicas,
filantrópicas ou sem fins lucrativos e eventualmente conveniadas com o Poder Público, nos meios urbano e
rural;

V – reabilitação orientada pela geriatria e gerontologia, para redução das seqüelas decorrentes do agravo
da saúde.

§ 2o Incumbe ao Poder Público fornecer aos idosos, gratuitamente, medicamentos, especialmente os de


uso continuado, assim como próteses, órteses e outros recursos relativos ao tratamento, habilitação ou
reabilitação.

§ 3o É vedada a discriminação do idoso nos planos de saúde pela cobrança de valores diferenciados em
razão da idade.

§ 4o Os idosos portadores de deficiência ou com limitação incapacitante terão atendimento especializado,


nos termos da lei.

§ 5o É vedado exigir o comparecimento do idoso enfermo perante os órgãos públicos, hipótese na qual será
admitido o seguinte procedimento: (Incluído pela Lei nº 12.896, de 2013)
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 697

I - quando de interesse do poder público, o agente promoverá o contato necessário com o idoso em sua
residência; ou (Incluído pela Lei nº 12.896, de 2013)

II - quando de interesse do próprio idoso, este se fará representar por procurador legalmente constituído.
(Incluído pela Lei nº 12.896, de 2013)

§ 6o É assegurado ao idoso enfermo o atendimento domiciliar pela perícia médica do Instituto Nacional do
Seguro Social - INSS, pelo serviço público de saúde ou pelo serviço privado de saúde, contratado ou
conveniado, que integre o Sistema Único de Saúde - SUS, para expedição do laudo de saúde necessário ao
exercício de seus direitos sociais e de isenção tributária. (Incluído pela Lei nº 12.896, de 2013)

§ 7º Em todo atendimento de saúde, os maiores de oitenta anos terão preferência especial sobre os demais
idosos, exceto em caso de emergência. (Incluído pela Lei nº 13.466, de 2017).

Art. 16. Ao idoso internado ou em observação é assegurado o direito a acompanhante, devendo o órgão
de saúde proporcionar as condições adequadas para a sua permanência em tempo integral, segundo o critério
médico.

Parágrafo único. Caberá ao profissional de saúde responsável pelo tratamento conceder autorização para
o acompanhamento do idoso ou, no caso de impossibilidade, justificá-la por escrito.

Art. 17. Ao idoso que esteja no domínio de suas faculdades mentais é assegurado o direito de optar pelo
tratamento de saúde que lhe for reputado mais favorável.

Parágrafo único. Não estando o idoso em condições de proceder à opção, esta será feita:

I – pelo curador, quando o idoso for interditado;

II – pelos familiares, quando o idoso não tiver curador ou este não puder ser contactado em tempo hábil;

III – pelo médico, quando ocorrer iminente risco de vida e não houver tempo hábil para consulta a curador
ou familiar;

IV – pelo próprio médico, quando não houver curador ou familiar conhecido, caso em que deverá
comunicar o fato ao Ministério Público.

Art. 18. As instituições de saúde devem atender aos critérios mínimos para o atendimento às necessidades
do idoso, promovendo o treinamento e a capacitação dos profissionais, assim como orientação a cuidadores
familiares e grupos de auto-ajuda.

Art. 19. Os casos de suspeita ou confirmação de violência praticada contra idosos serão objeto de
notificação compulsória pelos serviços de saúde públicos e privados à autoridade sanitária, bem como serão
obrigatoriamente comunicados por eles a quaisquer dos seguintes órgãos: (Redação dada pela Lei nº 12.461,
de 2011)

I – autoridade policial;

II – Ministério Público;

III – Conselho Municipal do Idoso;

IV – Conselho Estadual do Idoso;

V – Conselho Nacional do Idoso.


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 698

§ 1o Para os efeitos desta Lei, considera-se violência contra o idoso qualquer ação ou omissão praticada
em local público ou privado que lhe cause morte, dano ou sofrimento físico ou psicológico. (Incluído pela Lei nº
12.461, de 2011)

§ 2o Aplica-se, no que couber, à notificação compulsória prevista no caput deste artigo, o disposto na Lei
no 6.259, de 30 de outubro de 1975. (Incluído pela Lei nº 12.461, de 2011)

CAPÍTULO V
Da Educação, Cultura, Esporte e Lazer

Art. 20. O idoso tem direito a educação, cultura, esporte, lazer, diversões, espetáculos, produtos e serviços
que respeitem sua peculiar condição de idade.

Art. 21. O Poder Público criará oportunidades de acesso do idoso à educação, adequando currículos,
metodologias e material didático aos programas educacionais a ele destinados.

§ 1o Os cursos especiais para idosos incluirão conteúdo relativo às técnicas de comunicação, computação
e demais avanços tecnológicos, para sua integração à vida moderna.

§ 2o Os idosos participarão das comemorações de caráter cívico ou cultural, para transmissão de


conhecimentos e vivências às demais gerações, no sentido da preservação da memória e da identidade
culturais.

Art. 22. Nos currículos mínimos dos diversos níveis de ensino formal serão inseridos conteúdos voltados
ao processo de envelhecimento, ao respeito e à valorização do idoso, de forma a eliminar o preconceito e a
produzir conhecimentos sobre a matéria.

Art. 23. A participação dos idosos em atividades culturais e de lazer será proporcionada mediante
descontos de pelo menos 50% (cinqüenta por cento) nos ingressos para eventos artísticos, culturais, esportivos
e de lazer, bem como o acesso preferencial aos respectivos locais.

Art. 24. Os meios de comunicação manterão espaços ou horários especiais voltados aos idosos, com
finalidade informativa, educativa, artística e cultural, e ao público sobre o processo de envelhecimento.

Art. 25. As instituições de educação superior ofertarão às pessoas idosas, na perspectiva da educação
ao longo da vida, cursos e programas de extensão, presenciais ou a distância, constituídos por atividades
formais e não formais. (Redação dada pela lei nº 13.535, de 2017)

Parágrafo único. O poder público apoiará a criação de universidade aberta para as pessoas idosas e
incentivará a publicação de livros e periódicos, de conteúdo e padrão editorial adequados ao idoso, que facilitem
a leitura, considerada a natural redução da capacidade visual. (Incluído pela lei nº 13.535, de 2017)

CAPÍTULO VI
Da Profissionalização e do Trabalho

Art. 26. O idoso tem direito ao exercício de atividade profissional, respeitadas suas condições físicas,
intelectuais e psíquicas.

Art. 27. Na admissão do idoso em qualquer trabalho ou emprego, é vedada a discriminação e a fixação de
limite máximo de idade, inclusive para concursos, ressalvados os casos em que a natureza do cargo o exigir.

Parágrafo único. O primeiro critério de desempate em concurso público será a idade, dando-se preferência
ao de idade mais elevada.

Art. 28. O Poder Público criará e estimulará programas de:


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 699

I – profissionalização especializada para os idosos, aproveitando seus potenciais e habilidades para


atividades regulares e remuneradas;

II – preparação dos trabalhadores para a aposentadoria, com antecedência mínima de 1 (um) ano, por
meio de estímulo a novos projetos sociais, conforme seus interesses, e de esclarecimento sobre os direitos
sociais e de cidadania;

III – estímulo às empresas privadas para admissão de idosos ao trabalho.

CAPÍTULO VII
Da Previdência Social

Art. 29. Os benefícios de aposentadoria e pensão do Regime Geral da Previdência Social observarão, na
sua concessão, critérios de cálculo que preservem o valor real dos salários sobre os quais incidiram
contribuição, nos termos da legislação vigente.

Parágrafo único. Os valores dos benefícios em manutenção serão reajustados na mesma data de reajuste
do salário-mínimo, pro rata, de acordo com suas respectivas datas de início ou do seu último reajustamento,
com base em percentual definido em regulamento, observados os critérios estabelecidos pela Lei no 8.213, de
24 de julho de 1991.

Art. 30. A perda da condição de segurado não será considerada para a concessão da aposentadoria por
idade, desde que a pessoa conte com, no mínimo, o tempo de contribuição correspondente ao exigido para
efeito de carência na data de requerimento do benefício.

Parágrafo único. O cálculo do valor do benefício previsto no caput observará o disposto no caput e § 2o
do art. 3o da Lei no 9.876, de 26 de novembro de 1999, ou, não havendo salários-de-contribuição recolhidos a
partir da competência de julho de 1994, o disposto no art. 35 da Lei no 8.213, de 1991.

Art. 31. O pagamento de parcelas relativas a benefícios, efetuado com atraso por responsabilidade da
Previdência Social, será atualizado pelo mesmo índice utilizado para os reajustamentos dos benefícios do
Regime Geral de Previdência Social, verificado no período compreendido entre o mês que deveria ter sido pago
e o mês do efetivo pagamento.

Art. 32. O Dia Mundial do Trabalho, 1o de Maio, é a data-base dos aposentados e pensionistas.

CAPÍTULO VIII
Da Assistência Social

Art. 33. A assistência social aos idosos será prestada, de forma articulada, conforme os princípios e
diretrizes previstos na Lei Orgânica da Assistência Social, na Política Nacional do Idoso, no Sistema Único de
Saúde e demais normas pertinentes.

Art. 34. Aos idosos, a partir de 65 (sessenta e cinco) anos, que não possuam meios para prover sua
subsistência, nem de tê-la provida por sua família, é assegurado o benefício mensal de 1 (um) salário-mínimo,
nos termos da Lei Orgânica da Assistência Social – Loas. (Vide Decreto nº 6.214, de 2007)

Parágrafo único. O benefício já concedido a qualquer membro da família nos termos do caput não será
computado para os fins do cálculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas.

Art. 35. Todas as entidades de longa permanência, ou casa-lar, são obrigadas a firmar contrato de
prestação de serviços com a pessoa idosa abrigada.

§ 1o No caso de entidades filantrópicas, ou casa-lar, é facultada a cobrança de participação do idoso no


custeio da entidade.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 700

§ 2o O Conselho Municipal do Idoso ou o Conselho Municipal da Assistência Social estabelecerá a forma


de participação prevista no § 1o, que não poderá exceder a 70% (setenta por cento) de qualquer benefício
previdenciário ou de assistência social percebido pelo idoso.

§ 3o Se a pessoa idosa for incapaz, caberá a seu representante legal firmar o contrato a que se refere o
caput deste artigo.

Art. 36. O acolhimento de idosos em situação de risco social, por adulto ou núcleo familiar, caracteriza a
dependência econômica, para os efeitos legais. (Vigência)

CAPÍTULO IX
Da Habitação

Art. 37. O idoso tem direito a moradia digna, no seio da família natural ou substituta, ou desacompanhado
de seus familiares, quando assim o desejar, ou, ainda, em instituição pública ou privada.

§ 1o A assistência integral na modalidade de entidade de longa permanência será prestada quando


verificada inexistência de grupo familiar, casa-lar, abandono ou carência de recursos financeiros próprios ou da
família.

§ 2o Toda instituição dedicada ao atendimento ao idoso fica obrigada a manter identificação externa
visível, sob pena de interdição, além de atender toda a legislação pertinente.

§ 3o As instituições que abrigarem idosos são obrigadas a manter padrões de habitação compatíveis com
as necessidades deles, bem como provê-los com alimentação regular e higiene indispensáveis às normas
sanitárias e com estas condizentes, sob as penas da lei.

Art. 38. Nos programas habitacionais, públicos ou subsidiados com recursos públicos, o idoso goza de
prioridade na aquisição de imóvel para moradia própria, observado o seguinte:

I - reserva de pelo menos 3% (três por cento) das unidades habitacionais residenciais para atendimento
aos idosos; (Redação dada pela Lei nº 12.418, de 2011)

II – implantação de equipamentos urbanos comunitários voltados ao idoso;

III – eliminação de barreiras arquitetônicas e urbanísticas, para garantia de acessibilidade ao idoso;

IV – critérios de financiamento compatíveis com os rendimentos de aposentadoria e pensão.

Parágrafo único. As unidades residenciais reservadas para atendimento a idosos devem situar-se,
preferencialmente, no pavimento térreo. (Incluído pela Lei nº 12.419, de 2011)

CAPÍTULO X
Do Transporte

Art. 39. Aos maiores de 65 (sessenta e cinco) anos fica assegurada a gratuidade dos transportes coletivos
públicos urbanos e semi-urbanos, exceto nos serviços seletivos e especiais, quando prestados paralelamente
aos serviços regulares.

§ 1o Para ter acesso à gratuidade, basta que o idoso apresente qualquer documento pessoal que faça
prova de sua idade.

§ 2o Nos veículos de transporte coletivo de que trata este artigo, serão reservados 10% (dez por cento)
dos assentos para os idosos, devidamente identificados com a placa de reservado preferencialmente para
idosos.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 701

§ 3o No caso das pessoas compreendidas na faixa etária entre 60 (sessenta) e 65 (sessenta e cinco)
anos, ficará a critério da legislação local dispor sobre as condições para exercício da gratuidade nos meios de
transporte previstos no caput deste artigo.

Art. 40. No sistema de transporte coletivo interestadual observar-se-á, nos termos da legislação específica:
(Regulamento) (Vide Decreto nº 5.934, de 2006)

I – a reserva de 2 (duas) vagas gratuitas por veículo para idosos com renda igual ou inferior a 2 (dois)
salários-mínimos;

II – desconto de 50% (cinqüenta por cento), no mínimo, no valor das passagens, para os idosos que
excederem as vagas gratuitas, com renda igual ou inferior a 2 (dois) salários-mínimos.

Parágrafo único. Caberá aos órgãos competentes definir os mecanismos e os critérios para o exercício
dos direitos previstos nos incisos I e II.

Art. 41. É assegurada a reserva, para os idosos, nos termos da lei local, de 5% (cinco por cento) das vagas
nos estacionamentos públicos e privados, as quais deverão ser posicionadas de forma a garantir a melhor
comodidade ao idoso.

Art. 42. São asseguradas a prioridade e a segurança do idoso nos procedimentos de embarque e
desembarque nos veículos do sistema de transporte coletivo. (Redação dada pela Lei nº 12.899, de 2013)

TÍTULO III
Das Medidas de Proteção

CAPÍTULO I
Das Disposições Gerais

Art. 43. As medidas de proteção ao idoso são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei
forem ameaçados ou violados:

I – por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;

II – por falta, omissão ou abuso da família, curador ou entidade de atendimento;

III – em razão de sua condição pessoal.

CAPÍTULO II
Das Medidas Específicas de Proteção

Art. 44. As medidas de proteção ao idoso previstas nesta Lei poderão ser aplicadas, isolada ou
cumulativamente, e levarão em conta os fins sociais a que se destinam e o fortalecimento dos vínculos
familiares e comunitários.

Art. 45. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 43, o Ministério Público ou o Poder Judiciário,
a requerimento daquele, poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:

I – encaminhamento à família ou curador, mediante termo de responsabilidade;

II – orientação, apoio e acompanhamento temporários;

III – requisição para tratamento de sua saúde, em regime ambulatorial, hospitalar ou domiciliar;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 702

IV – inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a usuários


dependentes de drogas lícitas ou ilícitas, ao próprio idoso ou à pessoa de sua convivência que lhe cause
perturbação;

V – abrigo em entidade;

VI – abrigo temporário.

TÍTULO IV
Da Política de Atendimento ao Idoso

CAPÍTULO I
Disposições Gerais

Art. 46. A política de atendimento ao idoso far-se-á por meio do conjunto articulado de ações
governamentais e não-governamentais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

Art. 47. São linhas de ação da política de atendimento:

I – políticas sociais básicas, previstas na Lei no 8.842, de 4 de janeiro de 1994;

II – políticas e programas de assistência social, em caráter supletivo, para aqueles que necessitarem;

III – serviços especiais de prevenção e atendimento às vítimas de negligência, maus-tratos, exploração,


abuso, crueldade e opressão;

IV – serviço de identificação e localização de parentes ou responsáveis por idosos abandonados em


hospitais e instituições de longa permanência;

V – proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos dos idosos;

VI – mobilização da opinião pública no sentido da participação dos diversos segmentos da sociedade no


atendimento do idoso.

CAPÍTULO II
Das Entidades de Atendimento ao Idoso

Art. 48. As entidades de atendimento são responsáveis pela manutenção das próprias unidades,
observadas as normas de planejamento e execução emanadas do órgão competente da Política Nacional do
Idoso, conforme a Lei no 8.842, de 1994.

Parágrafo único. As entidades governamentais e não-governamentais de assistência ao idoso ficam


sujeitas à inscrição de seus programas, junto ao órgão competente da Vigilância Sanitária e Conselho Municipal
da Pessoa Idosa, e em sua falta, junto ao Conselho Estadual ou Nacional da Pessoa Idosa, especificando os
regimes de atendimento, observados os seguintes requisitos:

I – oferecer instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade, higiene, salubridade e


segurança;

II – apresentar objetivos estatutários e plano de trabalho compatíveis com os princípios desta Lei;

III – estar regularmente constituída;

IV – demonstrar a idoneidade de seus dirigentes.


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 703

Art. 49. As entidades que desenvolvam programas de institucionalização de longa permanência adotarão
os seguintes princípios:

I – preservação dos vínculos familiares;

II – atendimento personalizado e em pequenos grupos;

III – manutenção do idoso na mesma instituição, salvo em caso de força maior;

IV – participação do idoso nas atividades comunitárias, de caráter interno e externo;

V – observância dos direitos e garantias dos idosos;

VI – preservação da identidade do idoso e oferecimento de ambiente de respeito e dignidade.

Parágrafo único. O dirigente de instituição prestadora de atendimento ao idoso responderá civil e


criminalmente pelos atos que praticar em detrimento do idoso, sem prejuízo das sanções administrativas.

Art. 50. Constituem obrigações das entidades de atendimento:

I – celebrar contrato escrito de prestação de serviço com o idoso, especificando o tipo de atendimento, as
obrigações da entidade e prestações decorrentes do contrato, com os respectivos preços, se for o caso;

II – observar os direitos e as garantias de que são titulares os idosos;

III – fornecer vestuário adequado, se for pública, e alimentação suficiente;

IV – oferecer instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade;

V – oferecer atendimento personalizado;

VI – diligenciar no sentido da preservação dos vínculos familiares;

VII – oferecer acomodações apropriadas para recebimento de visitas;

VIII – proporcionar cuidados à saúde, conforme a necessidade do idoso;

IX – promover atividades educacionais, esportivas, culturais e de lazer;

X – propiciar assistência religiosa àqueles que desejarem, de acordo com suas crenças;

XI – proceder a estudo social e pessoal de cada caso;

XII – comunicar à autoridade competente de saúde toda ocorrência de idoso portador de doenças infecto-
contagiosas;

XIII – providenciar ou solicitar que o Ministério Público requisite os documentos necessários ao exercício
da cidadania àqueles que não os tiverem, na forma da lei;

XIV – fornecer comprovante de depósito dos bens móveis que receberem dos idosos;

XV – manter arquivo de anotações onde constem data e circunstâncias do atendimento, nome do idoso,
responsável, parentes, endereços, cidade, relação de seus pertences, bem como o valor de contribuições, e
suas alterações, se houver, e demais dados que possibilitem sua identificação e a individualização do
atendimento;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 704

XVI – comunicar ao Ministério Público, para as providências cabíveis, a situação de abandono moral ou
material por parte dos familiares;

XVII – manter no quadro de pessoal profissionais com formação específica.

Art. 51. As instituições filantrópicas ou sem fins lucrativos prestadoras de serviço ao idoso terão direito à
assistência judiciária gratuita.

CAPÍTULO III
Da Fiscalização das Entidades de Atendimento

Art. 52. As entidades governamentais e não-governamentais de atendimento ao idoso serão fiscalizadas


pelos Conselhos do Idoso, Ministério Público, Vigilância Sanitária e outros previstos em lei.

Art. 53. O art. 7o da Lei no 8.842, de 1994, passa a vigorar com a seguinte redação:

"Art. 7o Compete aos Conselhos de que trata o art. 6o desta Lei a supervisão, o acompanhamento, a
fiscalização e a avaliação da política nacional do idoso, no âmbito das respectivas instâncias político-
administrativas." (NR)

Art. 54. Será dada publicidade das prestações de contas dos recursos públicos e privados recebidos pelas
entidades de atendimento.

Art. 55. As entidades de atendimento que descumprirem as determinações desta Lei ficarão sujeitas, sem
prejuízo da responsabilidade civil e criminal de seus dirigentes ou prepostos, às seguintes penalidades,
observado o devido processo legal:

I – as entidades governamentais:

a) advertência;

b) afastamento provisório de seus dirigentes;

c) afastamento definitivo de seus dirigentes;

d) fechamento de unidade ou interdição de programa;

II – as entidades não-governamentais:

a) advertência;

b) multa;

c) suspensão parcial ou total do repasse de verbas públicas;

d) interdição de unidade ou suspensão de programa;

e) proibição de atendimento a idosos a bem do interesse público.

§ 1o Havendo danos aos idosos abrigados ou qualquer tipo de fraude em relação ao programa, caberá o
afastamento provisório dos dirigentes ou a interdição da unidade e a suspensão do programa.

§ 2o A suspensão parcial ou total do repasse de verbas públicas ocorrerá quando verificada a má aplicação
ou desvio de finalidade dos recursos.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 705

§ 3o Na ocorrência de infração por entidade de atendimento, que coloque em risco os direitos assegurados
nesta Lei, será o fato comunicado ao Ministério Público, para as providências cabíveis, inclusive para promover
a suspensão das atividades ou dissolução da entidade, com a proibição de atendimento a idosos a bem do
interesse público, sem prejuízo das providências a serem tomadas pela Vigilância Sanitária.

§ 4o Na aplicação das penalidades, serão consideradas a natureza e a gravidade da infração cometida,


os danos que dela provierem para o idoso, as circunstâncias agravantes ou atenuantes e os antecedentes da
entidade.

CAPÍTULO IV
Das Infrações Administrativas

Art. 56. Deixar a entidade de atendimento de cumprir as determinações do art. 50 desta Lei:

Pena – multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 3.000,00 (três mil reais), se o fato não for caracterizado
como crime, podendo haver a interdição do estabelecimento até que sejam cumpridas as exigências legais.

Parágrafo único. No caso de interdição do estabelecimento de longa permanência, os idosos abrigados


serão transferidos para outra instituição, a expensas do estabelecimento interditado, enquanto durar a
interdição.

Art. 57. Deixar o profissional de saúde ou o responsável por estabelecimento de saúde ou instituição de
longa permanência de comunicar à autoridade competente os casos de crimes contra idoso de que tiver
conhecimento:

Pena – multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 3.000,00 (três mil reais), aplicada em dobro no caso
de reincidência.

Art. 58. Deixar de cumprir as determinações desta Lei sobre a prioridade no atendimento ao idoso:

Pena – multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 1.000,00 (um mil reais) e multa civil a ser estipulada
pelo juiz, conforme o dano sofrido pelo idoso.

CAPÍTULO V
Da Apuração Administrativa de Infração às
Normas de Proteção ao Idoso

Art. 59. Os valores monetários expressos no Capítulo IV serão atualizados anualmente, na forma da lei.

Art. 60. O procedimento para a imposição de penalidade administrativa por infração às normas de proteção
ao idoso terá início com requisição do Ministério Público ou auto de infração elaborado por servidor efetivo e
assinado, se possível, por duas testemunhas.

§ 1o No procedimento iniciado com o auto de infração poderão ser usadas fórmulas impressas,
especificando-se a natureza e as circunstâncias da infração.

§ 2o Sempre que possível, à verificação da infração seguir-se-á a lavratura do auto, ou este será lavrado
dentro de 24 (vinte e quatro) horas, por motivo justificado.

Art. 61. O autuado terá prazo de 10 (dez) dias para a apresentação da defesa, contado da data da
intimação, que será feita:

I – pelo autuante, no instrumento de autuação, quando for lavrado na presença do infrator;

II – por via postal, com aviso de recebimento.


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 706

Art. 62. Havendo risco para a vida ou à saúde do idoso, a autoridade competente aplicará à entidade de
atendimento as sanções regulamentares, sem prejuízo da iniciativa e das providências que vierem a ser
adotadas pelo Ministério Público ou pelas demais instituições legitimadas para a fiscalização.

Art. 63. Nos casos em que não houver risco para a vida ou a saúde da pessoa idosa abrigada, a autoridade
competente aplicará à entidade de atendimento as sanções regulamentares, sem prejuízo da iniciativa e das
providências que vierem a ser adotadas pelo Ministério Público ou pelas demais instituições legitimadas para
a fiscalização.

CAPÍTULO VI
Da Apuração Judicial de Irregularidades em Entidade de Atendimento

Art. 64. Aplicam-se, subsidiariamente, ao procedimento administrativo de que trata este Capítulo as
disposições das Leis nos 6.437, de 20 de agosto de 1977, e 9.784, de 29 de janeiro de 1999.

Art. 65. O procedimento de apuração de irregularidade em entidade governamental e não-governamental


de atendimento ao idoso terá início mediante petição fundamentada de pessoa interessada ou iniciativa do
Ministério Público.

Art. 66. Havendo motivo grave, poderá a autoridade judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar
liminarmente o afastamento provisório do dirigente da entidade ou outras medidas que julgar adequadas, para
evitar lesão aos direitos do idoso, mediante decisão fundamentada.

Art. 67. O dirigente da entidade será citado para, no prazo de 10 (dez) dias, oferecer resposta escrita,
podendo juntar documentos e indicar as provas a produzir.

Art. 68. Apresentada a defesa, o juiz procederá na conformidade do art. 69 ou, se necessário, designará
audiência de instrução e julgamento, deliberando sobre a necessidade de produção de outras provas.

§ 1o Salvo manifestação em audiência, as partes e o Ministério Público terão 5 (cinco) dias para oferecer
alegações finais, decidindo a autoridade judiciária em igual prazo.

§ 2o Em se tratando de afastamento provisório ou definitivo de dirigente de entidade governamental, a


autoridade judiciária oficiará a autoridade administrativa imediatamente superior ao afastado, fixando-lhe prazo
de 24 (vinte e quatro) horas para proceder à substituição.

§ 3o Antes de aplicar qualquer das medidas, a autoridade judiciária poderá fixar prazo para a remoção
das irregularidades verificadas. Satisfeitas as exigências, o processo será extinto, sem julgamento do mérito.

§ 4o A multa e a advertência serão impostas ao dirigente da entidade ou ao responsável pelo programa


de atendimento.

TÍTULO V
Do Acesso à Justiça

CAPÍTULO I
Disposições Gerais

Art. 69. Aplica-se, subsidiariamente, às disposições deste Capítulo, o procedimento sumário previsto no
Código de Processo Civil, naquilo que não contrarie os prazos previstos nesta Lei.

Art. 70. O Poder Público poderá criar varas especializadas e exclusivas do idoso.

Art. 71. É assegurada prioridade na tramitação dos processos e procedimentos e na execução dos atos e
diligências judiciais em que figure como parte ou interveniente pessoa com idade igual ou superior a 60
(sessenta) anos, em qualquer instância.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 707

§ 1o O interessado na obtenção da prioridade a que alude este artigo, fazendo prova de sua idade,
requererá o benefício à autoridade judiciária competente para decidir o feito, que determinará as providências
a serem cumpridas, anotando-se essa circunstância em local visível nos autos do processo.

§ 2o A prioridade não cessará com a morte do beneficiado, estendendo-se em favor do cônjuge supérstite,
companheiro ou companheira, com união estável, maior de 60 (sessenta) anos.

§ 3o A prioridade se estende aos processos e procedimentos na Administração Pública, empresas


prestadoras de serviços públicos e instituições financeiras, ao atendimento preferencial junto à Defensoria
Publica da União, dos Estados e do Distrito Federal em relação aos Serviços de Assistência Judiciária.

§ 4o Para o atendimento prioritário será garantido ao idoso o fácil acesso aos assentos e caixas,
identificados com a destinação a idosos em local visível e caracteres legíveis.

§ 5º Dentre os processos de idosos, dar-se-á prioridade especial aos maiores de oitenta anos. (Incluído
pela Lei nº 13.466, de 2017).

CAPÍTULO II
Do Ministério Público

Art. 72. (VETADO)

Art. 73. As funções do Ministério Público, previstas nesta Lei, serão exercidas nos termos da respectiva
Lei Orgânica.

Art. 74. Compete ao Ministério Público:

I – instaurar o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos direitos e interesses difusos ou
coletivos, individuais indisponíveis e individuais homogêneos do idoso;

II – promover e acompanhar as ações de alimentos, de interdição total ou parcial, de designação de


curador especial, em circunstâncias que justifiquem a medida e oficiar em todos os feitos em que se discutam
os direitos de idosos em condições de risco;

III – atuar como substituto processual do idoso em situação de risco, conforme o disposto no art. 43 desta
Lei;

IV – promover a revogação de instrumento procuratório do idoso, nas hipóteses previstas no art. 43 desta
Lei, quando necessário ou o interesse público justificar;

V – instaurar procedimento administrativo e, para instruí-lo:

a) expedir notificações, colher depoimentos ou esclarecimentos e, em caso de não comparecimento


injustificado da pessoa notificada, requisitar condução coercitiva, inclusive pela Polícia Civil ou Militar;

b) requisitar informações, exames, perícias e documentos de autoridades municipais, estaduais e federais,


da administração direta e indireta, bem como promover inspeções e diligências investigatórias;

c) requisitar informações e documentos particulares de instituições privadas;

VI – instaurar sindicâncias, requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, para


a apuração de ilícitos ou infrações às normas de proteção ao idoso;

VII – zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais assegurados ao idoso, promovendo as
medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 708

VIII – inspecionar as entidades públicas e particulares de atendimento e os programas de que trata esta
Lei, adotando de pronto as medidas administrativas ou judiciais necessárias à remoção de irregularidades
porventura verificadas;

IX – requisitar força policial, bem como a colaboração dos serviços de saúde, educacionais e de
assistência social, públicos, para o desempenho de suas atribuições;

X – referendar transações envolvendo interesses e direitos dos idosos previstos nesta Lei.

§ 1o A legitimação do Ministério Público para as ações cíveis previstas neste artigo não impede a de
terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo dispuser a lei.

§ 2o As atribuições constantes deste artigo não excluem outras, desde que compatíveis com a finalidade
e atribuições do Ministério Público.

§ 3o O representante do Ministério Público, no exercício de suas funções, terá livre acesso a toda entidade
de atendimento ao idoso.

Art. 75. Nos processos e procedimentos em que não for parte, atuará obrigatoriamente o Ministério Público
na defesa dos direitos e interesses de que cuida esta Lei, hipóteses em que terá vista dos autos depois das
partes, podendo juntar documentos, requerer diligências e produção de outras provas, usando os recursos
cabíveis.

Art. 76. A intimação do Ministério Público, em qualquer caso, será feita pessoalmente.

Art. 77. A falta de intervenção do Ministério Público acarreta a nulidade do feito, que será declarada de
ofício pelo juiz ou a requerimento de qualquer interessado.

CAPÍTULO III
Da Proteção Judicial dos Interesses Difusos, Coletivos e Individuais Indisponíveis ou Homogêneos

Art. 78. As manifestações processuais do representante do Ministério Público deverão ser fundamentadas.

Art. 79. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações de responsabilidade por ofensa aos direitos
assegurados ao idoso, referentes à omissão ou ao oferecimento insatisfatório de:

I – acesso às ações e serviços de saúde;

II – atendimento especializado ao idoso portador de deficiência ou com limitação incapacitante;

III – atendimento especializado ao idoso portador de doença infecto-contagiosa;

IV – serviço de assistência social visando ao amparo do idoso.

Parágrafo único. As hipóteses previstas neste artigo não excluem da proteção judicial outros interesses
difusos, coletivos, individuais indisponíveis ou homogêneos, próprios do idoso, protegidos em lei.

Art. 80. As ações previstas neste Capítulo serão propostas no foro do domicílio do idoso, cujo juízo terá
competência absoluta para processar a causa, ressalvadas as competências da Justiça Federal e a
competência originária dos Tribunais Superiores.

Art. 81. Para as ações cíveis fundadas em interesses difusos, coletivos, individuais indisponíveis ou
homogêneos, consideram-se legitimados, concorrentemente:

I – o Ministério Público;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 709

II – a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;

III – a Ordem dos Advogados do Brasil;

IV – as associações legalmente constituídas há pelo menos 1 (um) ano e que incluam entre os fins
institucionais a defesa dos interesses e direitos da pessoa idosa, dispensada a autorização da assembléia, se
houver prévia autorização estatutária.

§ 1o Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União e dos Estados na defesa
dos interesses e direitos de que cuida esta Lei.

§ 2o Em caso de desistência ou abandono da ação por associação legitimada, o Ministério Público ou


outro legitimado deverá assumir a titularidade ativa.

Art. 82. Para defesa dos interesses e direitos protegidos por esta Lei, são admissíveis todas as espécies
de ação pertinentes.

Parágrafo único. Contra atos ilegais ou abusivos de autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no
exercício de atribuições de Poder Público, que lesem direito líquido e certo previsto nesta Lei, caberá ação
mandamental, que se regerá pelas normas da lei do mandado de segurança.

Art. 83. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não-fazer, o juiz concederá
a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente
ao adimplemento.

§ 1o Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento


final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, na forma do art. 273 do Código
de Processo Civil.

§ 2o O juiz poderá, na hipótese do § 1o ou na sentença, impor multa diária ao réu, independentemente do


pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento
do preceito.

§ 3o A multa só será exigível do réu após o trânsito em julgado da sentença favorável ao autor, mas será
devida desde o dia em que se houver configurado.

Art. 84. Os valores das multas previstas nesta Lei reverterão ao Fundo do Idoso, onde houver, ou na falta
deste, ao Fundo Municipal de Assistência Social, ficando vinculados ao atendimento ao idoso.

Parágrafo único. As multas não recolhidas até 30 (trinta) dias após o trânsito em julgado da decisão serão
exigidas por meio de execução promovida pelo Ministério Público, nos mesmos autos, facultada igual iniciativa
aos demais legitimados em caso de inércia daquele.

Art. 85. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos recursos, para evitar dano irreparável à parte.

Art. 86. Transitada em julgado a sentença que impuser condenação ao Poder Público, o juiz determinará
a remessa de peças à autoridade competente, para apuração da responsabilidade civil e administrativa do
agente a que se atribua a ação ou omissão.

Art. 87. Decorridos 60 (sessenta) dias do trânsito em julgado da sentença condenatória favorável ao idoso
sem que o autor lhe promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público, facultada, igual iniciativa aos
demais legitimados, como assistentes ou assumindo o pólo ativo, em caso de inércia desse órgão.

Art. 88. Nas ações de que trata este Capítulo, não haverá adiantamento de custas, emolumentos,
honorários periciais e quaisquer outras despesas.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 710

Parágrafo único. Não se imporá sucumbência ao Ministério Público.

Art. 89. Qualquer pessoa poderá, e o servidor deverá, provocar a iniciativa do Ministério Público,
prestando-lhe informações sobre os fatos que constituam objeto de ação civil e indicando-lhe os elementos de
convicção.

Art. 90. Os agentes públicos em geral, os juízes e tribunais, no exercício de suas funções, quando tiverem
conhecimento de fatos que possam configurar crime de ação pública contra idoso ou ensejar a propositura de
ação para sua defesa, devem encaminhar as peças pertinentes ao Ministério Público, para as providências
cabíveis.

Art. 91. Para instruir a petição inicial, o interessado poderá requerer às autoridades competentes as
certidões e informações que julgar necessárias, que serão fornecidas no prazo de 10 (dez) dias.

Art. 92. O Ministério Público poderá instaurar sob sua presidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer
pessoa, organismo público ou particular, certidões, informações, exames ou perícias, no prazo que assinalar,
o qual não poderá ser inferior a 10 (dez) dias.

§ 1o Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as diligências, se convencer da inexistência de


fundamento para a propositura da ação civil ou de peças informativas, determinará o seu arquivamento,
fazendo-o fundamentadamente.

§ 2o Os autos do inquérito civil ou as peças de informação arquivados serão remetidos, sob pena de se
incorrer em falta grave, no prazo de 3 (três) dias, ao Conselho Superior do Ministério Público ou à Câmara de
Coordenação e Revisão do Ministério Público.

§ 3o Até que seja homologado ou rejeitado o arquivamento, pelo Conselho Superior do Ministério Público
ou por Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público, as associações legitimadas poderão
apresentar razões escritas ou documentos, que serão juntados ou anexados às peças de informação.

§ 4o Deixando o Conselho Superior ou a Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público de


homologar a promoção de arquivamento, será designado outro membro do Ministério Público para o
ajuizamento da ação.

TÍTULO VI
Dos Crimes

CAPÍTULO I
Disposições Gerais

Art. 93. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber, as disposições da Lei no 7.347, de 24 de julho de
1985.

Art. 94. Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima privativa de liberdade não ultrapasse 4 (quatro)
anos, aplica-se o procedimento previsto na Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, e, subsidiariamente, no
que couber, as disposições do Código Penal e do Código de Processo Penal. (Vide ADIN 3.096-5 - STF)

CAPÍTULO II
Dos Crimes em Espécie

Art. 95. Os crimes definidos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada, não se lhes aplicando os
arts. 181 e 182 do Código Penal.

Art. 96. Discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultando seu acesso a operações bancárias, aos meios
de transporte, ao direito de contratar ou por qualquer outro meio ou instrumento necessário ao exercício da
cidadania, por motivo de idade:
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 711

Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.

§ 1o Na mesma pena incorre quem desdenhar, humilhar, menosprezar ou discriminar pessoa idosa, por
qualquer motivo.

§ 2o A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se a vítima se encontrar sob os cuidados ou
responsabilidade do agente.

§ 3º Não constitui crime a negativa de crédito motivada por superendividamento do idoso. (Incluído
pela Lei nº 14.181, de 2021)

Art. 97. Deixar de prestar assistência ao idoso, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, em situação
de iminente perigo, ou recusar, retardar ou dificultar sua assistência à saúde, sem justa causa, ou não pedir,
nesses casos, o socorro de autoridade pública:

Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.

Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave,
e triplicada, se resulta a morte.

Art. 98. Abandonar o idoso em hospitais, casas de saúde, entidades de longa permanência, ou
congêneres, ou não prover suas necessidades básicas, quando obrigado por lei ou mandado:

Pena – detenção de 6 (seis) meses a 3 (três) anos e multa.

Art. 99. Expor a perigo a integridade e a saúde, física ou psíquica, do idoso, submetendo-o a condições
desumanas ou degradantes ou privando-o de alimentos e cuidados indispensáveis, quando obrigado a fazê-lo,
ou sujeitando-o a trabalho excessivo ou inadequado:

Pena – detenção de 2 (dois) meses a 1 (um) ano e multa.

§ 1o Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:

Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos.

§ 2o Se resulta a morte:

Pena – reclusão de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.

Art. 100. Constitui crime punível com reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa:

I – obstar o acesso de alguém a qualquer cargo público por motivo de idade;

II – negar a alguém, por motivo de idade, emprego ou trabalho;

III – recusar, retardar ou dificultar atendimento ou deixar de prestar assistência à saúde, sem justa causa,
a pessoa idosa;

IV – deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo, a execução de ordem judicial expedida na
ação civil a que alude esta Lei;

V – recusar, retardar ou omitir dados técnicos indispensáveis à propositura da ação civil objeto desta Lei,
quando requisitados pelo Ministério Público.

Art. 101. Deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo, a execução de ordem judicial expedida
nas ações em que for parte ou interveniente o idoso:

Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.

Art. 102. Apropriar-se de ou desviar bens, proventos, pensão ou qualquer outro rendimento do idoso,
dando-lhes aplicação diversa da de sua finalidade:

Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa.


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 712

Art. 103. Negar o acolhimento ou a permanência do idoso, como abrigado, por recusa deste em outorgar
procuração à entidade de atendimento:

Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.

Art. 104. Reter o cartão magnético de conta bancária relativa a benefícios, proventos ou pensão do idoso,
bem como qualquer outro documento com objetivo de assegurar recebimento ou ressarcimento de dívida:

Pena – detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e multa.

Art. 105. Exibir ou veicular, por qualquer meio de comunicação, informações ou imagens depreciativas ou
injuriosas à pessoa do idoso:

Pena – detenção de 1 (um) a 3 (três) anos e multa.

Art. 106. Induzir pessoa idosa sem discernimento de seus atos a outorgar procuração para fins de
administração de bens ou deles dispor livremente:

Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.

Art. 107. Coagir, de qualquer modo, o idoso a doar, contratar, testar ou outorgar procuração:

Pena – reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.

Art. 108. Lavrar ato notarial que envolva pessoa idosa sem discernimento de seus atos, sem a devida
representação legal:

Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.

TÍTULO VII
Disposições Finais e Transitórias

Art. 109. Impedir ou embaraçar ato do representante do Ministério Público ou de qualquer outro agente
fiscalizador:

Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.

Art. 110. O Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940, Código Penal, passa a vigorar com as
seguintes alterações:

"Art. 61. ............................................................................


II - ............................................................................

h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida;

............................................................................." (NR)

"Art. 121. ............................................................................

§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra
técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura
diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a
pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de
60 (sessenta) anos.

............................................................................." (NR)

"Art. 133. ............................................................................

§ 3o ............................................................................

III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos." (NR)

"Art. 140. ............................................................................


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 713

§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição
de pessoa idosa ou portadora de deficiência:

............................................................................ (NR)

"Art. 141. ............................................................................

IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência, exceto no caso de injúria.
............................................................................." (NR)

"Art. 148. ............................................................................

§ 1o............................................................................

I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge do agente ou maior de 60 (sessenta) anos.


............................................................................" (NR)

"Art. 159............................................................................

§ 1o Se o seqüestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o seqüestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior
de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha.

............................................................................" (NR)

"Art. 183............................................................................

III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos." (NR)

"Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito) anos
ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando
os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou
majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo:
............................................................................" (NR)

Art. 111. O O art. 21 do Decreto-Lei no 3.688, de 3 de outubro de 1941, Lei das Contravenções Penais,
passa a vigorar acrescido do seguinte parágrafo único:

"Art. 21............................................................................

Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) até a metade se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos."
(NR)

Art. 112. O inciso II do § 4o do art. 1o da Lei no 9.455, de 7 de abril de 1997, passa a vigorar com a seguinte
redação:

"Art. 1o ............................................................................

§ 4o ............................................................................

II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou maior de 60


(sessenta) anos;

............................................................................" (NR)

Art. 113. O inciso III do art. 18 da Lei no 6.368, de 21 de outubro de 1976, passa a vigorar com a seguinte
redação:

"Art. 18............................................................................

III – se qualquer deles decorrer de associação ou visar a menores de 21 (vinte e um) anos ou a pessoa com
idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos ou a quem tenha, por qualquer causa, diminuída ou suprimida a
capacidade de discernimento ou de autodeterminação:
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 714

............................................................................" (NR)

Art. 114. O art 1º da Lei no 10.048, de 8 de novembro de 2000, passa a vigorar com a seguinte redação:

"Art. 1o As pessoas portadoras de deficiência, os idosos com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, as
gestantes, as lactantes e as pessoas acompanhadas por crianças de colo terão atendimento prioritário, nos
termos desta Lei." (NR)

Art. 115. O Orçamento da Seguridade Social destinará ao Fundo Nacional de Assistência Social, até que
o Fundo Nacional do Idoso seja criado, os recursos necessários, em cada exercício financeiro, para aplicação
em programas e ações relativos ao idoso.

Art. 116. Serão incluídos nos censos demográficos dados relativos à população idosa do País.

Art. 117. O Poder Executivo encaminhará ao Congresso Nacional projeto de lei revendo os critérios de
concessão do Benefício de Prestação Continuada previsto na Lei Orgânica da Assistência Social, de forma a
garantir que o acesso ao direito seja condizente com o estágio de desenvolvimento sócio-econômico alcançado
pelo País.

Art. 118. Esta Lei entra em vigor decorridos 90 (noventa) dias da sua publicação, ressalvado o disposto no
caput do art. 36, que vigorará a partir de 1o de janeiro de 2004.

Brasília, 1 de outubro de 2003; 182o da Independência e 115o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA


Márcio Thomaz Bastos
Antonio Palocci Filho
Rubem Fonseca Filho
Humberto Sérgio Costa LIma
Guido Mantega
Ricardo José Ribeiro Berzoini
Benedita Souza da Silva Sampaio
Álvaro Augusto Ribeiro Costa

Este texto não substitui o publicado no DOU de 3.10.2003


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 715

7. LEI Nº 11.340/2006 (LEI MARIA DA PENHA)

LEI Nº 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE 2006

BÔNUS
Lei nº 14.149, de 2021
Lei nº 14.310, de 2022

Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226
da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as
Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe
sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo
Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

TÍTULO I

DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 1º Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher,
nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas
de Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra
a Mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre a
criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medidas de assistência
e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar.

Art. 2º Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível
educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe
asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e
seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social.

Art. 3º Serão asseguradas às mulheres as condições para o exercício efetivo dos direitos à vida, à
segurança, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso à justiça, ao esporte, ao lazer,
ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.

§ 1º O poder público desenvolverá políticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no
âmbito das relações domésticas e familiares no sentido de resguardá-las de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

§ 2º Cabe à família, à sociedade e ao poder público criar as condições necessárias para o efetivo exercício
dos direitos enunciados no caput.

Art. 4º Na interpretação desta Lei, serão considerados os fins sociais a que ela se destina e,
especialmente, as condições peculiares das mulheres em situação de violência doméstica e familiar.

TÍTULO II

DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES GERAIS
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 716

Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação
ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano
moral ou patrimonial: (Vide Lei complementar nº 150, de 2015)

I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas,


com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;

II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se
consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;

III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida,
independentemente de coabitação.

Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual.

Art. 6º A violência doméstica e familiar contra a mulher constitui uma das formas de violação dos direitos
humanos.

CAPÍTULO II

DAS FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:

I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal;

II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição
da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar
suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação,
manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua
intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause
prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; (Redação dada pela Lei nº 13.772, de 2018)

III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a
participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza
a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método
contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação,
chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;

IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração,
destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e
direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;

V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.

TÍTULO III

DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR

CAPÍTULO I

DAS MEDIDAS INTEGRADAS DE PREVENÇÃO

Art. 8º A política pública que visa coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher far-se-á por meio
de um conjunto articulado de ações da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de ações
não-governamentais, tendo por diretrizes:

I - a integração operacional do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública com as


áreas de segurança pública, assistência social, saúde, educação, trabalho e habitação;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 717

II - a promoção de estudos e pesquisas, estatísticas e outras informações relevantes, com a perspectiva


de gênero e de raça ou etnia, concernentes às causas, às conseqüências e à freqüência da violência doméstica
e familiar contra a mulher, para a sistematização de dados, a serem unificados nacionalmente, e a avaliação
periódica dos resultados das medidas adotadas;

III - o respeito, nos meios de comunicação social, dos valores éticos e sociais da pessoa e da família, de
forma a coibir os papéis estereotipados que legitimem ou exacerbem a violência doméstica e familiar, de acordo
com o estabelecido no inciso III do art. 1º , no inciso IV do art. 3º e no inciso IV do art. 221 da Constituição
Federal ;

IV - a implementação de atendimento policial especializado para as mulheres, em particular nas


Delegacias de Atendimento à Mulher;

V - a promoção e a realização de campanhas educativas de prevenção da violência doméstica e familiar


contra a mulher, voltadas ao público escolar e à sociedade em geral, e a difusão desta Lei e dos instrumentos
de proteção aos direitos humanos das mulheres;

VI - a celebração de convênios, protocolos, ajustes, termos ou outros instrumentos de promoção de


parceria entre órgãos governamentais ou entre estes e entidades não-governamentais, tendo por objetivo a
implementação de programas de erradicação da violência doméstica e familiar contra a mulher;

VII - a capacitação permanente das Polícias Civil e Militar, da Guarda Municipal, do Corpo de Bombeiros
e dos profissionais pertencentes aos órgãos e às áreas enunciados no inciso I quanto às questões de gênero
e de raça ou etnia;

VIII - a promoção de programas educacionais que disseminem valores éticos de irrestrito respeito à
dignidade da pessoa humana com a perspectiva de gênero e de raça ou etnia;

IX - o destaque, nos currículos escolares de todos os níveis de ensino, para os conteúdos relativos aos
direitos humanos, à eqüidade de gênero e de raça ou etnia e ao problema da violência doméstica e familiar
contra a mulher.

CAPÍTULO II

DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR

Art. 9º A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar será prestada de forma
articulada e conforme os princípios e as diretrizes previstos na Lei Orgânica da Assistência Social, no Sistema
Único de Saúde, no Sistema Único de Segurança Pública, entre outras normas e políticas públicas de proteção,
e emergencialmente quando for o caso.

§ 1º O juiz determinará, por prazo certo, a inclusão da mulher em situação de violência doméstica e familiar
no cadastro de programas assistenciais do governo federal, estadual e municipal.

§ 2º O juiz assegurará à mulher em situação de violência doméstica e familiar, para preservar sua
integridade física e psicológica:

I - acesso prioritário à remoção quando servidora pública, integrante da administração direta ou indireta;

II - manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o afastamento do local de trabalho, por até seis
meses.

III - encaminhamento à assistência judiciária, quando for o caso, inclusive para eventual ajuizamento da ação
de separação judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução de união estável perante o juízo
competente. (Incluído pela Lei nº 13.894, de 2019)

§ 3º A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar compreenderá o acesso aos


benefícios decorrentes do desenvolvimento científico e tecnológico, incluindo os serviços de contracepção de
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 718

emergência, a profilaxia das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e da Síndrome da Imunodeficiência


Adquirida (AIDS) e outros procedimentos médicos necessários e cabíveis nos casos de violência sexual.

§ 4º Aquele que, por ação ou omissão, causar lesão, violência física, sexual ou psicológica e dano moral
ou patrimonial a mulher fica obrigado a ressarcir todos os danos causados, inclusive ressarcir ao Sistema Único
de Saúde (SUS), de acordo com a tabela SUS, os custos relativos aos serviços de saúde prestados para o total
tratamento das vítimas em situação de violência doméstica e familiar, recolhidos os recursos assim arrecadados
ao Fundo de Saúde do ente federado responsável pelas unidades de saúde que prestarem os
serviços. (Vide Lei nº 13.871, de 2019) (Vigência)

§ 5º Os dispositivos de segurança destinados ao uso em caso de perigo iminente e disponibilizados para


o monitoramento das vítimas de violência doméstica ou familiar amparadas por medidas protetivas terão seus
custos ressarcidos pelo agressor. (Vide Lei nº 13.871, de 2019) (Vigência)

§ 6º O ressarcimento de que tratam os §§ 4º e 5º deste artigo não poderá importar ônus de qualquer
natureza ao patrimônio da mulher e dos seus dependentes, nem configurar atenuante ou ensejar possibilidade
de substituição da pena aplicada. (Vide Lei nº 13.871, de 2019) (Vigência)

§ 7º A mulher em situação de violência doméstica e familiar tem prioridade para matricular seus
dependentes em instituição de educação básica mais próxima de seu domicílio, ou transferi-los para essa
instituição, mediante a apresentação dos documentos comprobatórios do registro da ocorrência policial ou do
processo de violência doméstica e familiar em curso. (Incluído pela Lei nº 13.882, de 2019)

§ 8º Serão sigilosos os dados da ofendida e de seus dependentes matriculados ou transferidos


conforme o disposto no § 7º deste artigo, e o acesso às informações será reservado ao juiz, ao Ministério
Público e aos órgãos competentes do poder público. (Incluído pela Lei nº 13.882, de 2019)

CAPÍTULO III

DO ATENDIMENTO PELA AUTORIDADE POLICIAL

Art. 10. Na hipótese da iminência ou da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, a
autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência adotará, de imediato, as providências legais cabíveis.

Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput deste artigo ao descumprimento de medida protetiva de
urgência deferida.

Art. 10-A. É direito da mulher em situação de violência doméstica e familiar o atendimento policial e pericial
especializado, ininterrupto e prestado por servidores - preferencialmente do sexo feminino - previamente
capacitados. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)

§ 1º A inquirição de mulher em situação de violência doméstica e familiar ou de testemunha de violência


doméstica, quando se tratar de crime contra a mulher, obedecerá às seguintes diretrizes: (Incluído pela
Lei nº 13.505, de 2017)

I - salvaguarda da integridade física, psíquica e emocional da depoente, considerada a sua condição


peculiar de pessoa em situação de violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)

II - garantia de que, em nenhuma hipótese, a mulher em situação de violência doméstica e familiar,


familiares e testemunhas terão contato direto com investigados ou suspeitos e pessoas a eles
relacionadas; (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)

III - não revitimização da depoente, evitando sucessivas inquirições sobre o mesmo fato nos âmbitos
criminal, cível e administrativo, bem como questionamentos sobre a vida privada. (Incluído pela Lei nº
13.505, de 2017)

§ 2º Na inquirição de mulher em situação de violência doméstica e familiar ou de testemunha de delitos


de que trata esta Lei, adotar-se-á, preferencialmente, o seguinte procedimento: (Incluído pela Lei nº
13.505, de 2017)
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 719

I - a inquirição será feita em recinto especialmente projetado para esse fim, o qual conterá os
equipamentos próprios e adequados à idade da mulher em situação de violência doméstica e familiar ou
testemunha e ao tipo e à gravidade da violência sofrida; (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)

II - quando for o caso, a inquirição será intermediada por profissional especializado em violência
doméstica e familiar designado pela autoridade judiciária ou policial; (Incluído pela Lei nº 13.505, de
2017)

III - o depoimento será registrado em meio eletrônico ou magnético, devendo a degravação e a mídia
integrar o inquérito. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)

Art. 11. No atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar, a autoridade policial
deverá, entre outras providências:

I - garantir proteção policial, quando necessário, comunicando de imediato ao Ministério Público e ao


Poder Judiciário;

II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saúde e ao Instituto Médico Legal;

III - fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local seguro, quando houver
risco de vida;

IV - se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar a retirada de seus pertences do local da


ocorrência ou do domicílio familiar;

V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e os serviços disponíveis, inclusive os de
assistência judiciária para o eventual ajuizamento perante o juízo competente da ação de separação judicial,
de divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução de união estável. (Redação dada pela Lei nº
13.894, de 2019)

Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, feito o registro da ocorrência,
deverá a autoridade policial adotar, de imediato, os seguintes procedimentos, sem prejuízo daqueles previstos
no Código de Processo Penal:

I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar a representação a termo, se apresentada;

II - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e de suas circunstâncias;

III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente apartado ao juiz com o pedido da ofendida,
para a concessão de medidas protetivas de urgência;

IV - determinar que se proceda ao exame de corpo de delito da ofendida e requisitar outros exames
periciais necessários;

V - ouvir o agressor e as testemunhas;

VI - ordenar a identificação do agressor e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes criminais,
indicando a existência de mandado de prisão ou registro de outras ocorrências policiais contra ele;

VI-A - verificar se o agressor possui registro de porte ou posse de arma de fogo e, na hipótese de
existência, juntar aos autos essa informação, bem como notificar a ocorrência à instituição responsável pela
concessão do registro ou da emissão do porte, nos termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003
(Estatuto do Desarmamento); (Incluído pela Lei nº 13.880, de 2019)

VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquérito policial ao juiz e ao Ministério Público.

§ 1º O pedido da ofendida será tomado a termo pela autoridade policial e deverá conter:

I - qualificação da ofendida e do agressor;


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 720

II - nome e idade dos dependentes;

III - descrição sucinta do fato e das medidas protetivas solicitadas pela ofendida.

IV - informação sobre a condição de a ofendida ser pessoa com deficiência e se da violência sofrida
resultou deficiência ou agravamento de deficiência preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.836, de 2019)

§ 2º A autoridade policial deverá anexar ao documento referido no § 1º o boletim de ocorrência e cópia de


todos os documentos disponíveis em posse da ofendida.

§ 3º Serão admitidos como meios de prova os laudos ou prontuários médicos fornecidos por hospitais e
postos de saúde.

Art. 12-A. Os Estados e o Distrito Federal, na formulação de suas políticas e planos de atendimento à
mulher em situação de violência doméstica e familiar, darão prioridade, no âmbito da Polícia Civil, à criação de
Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (Deams), de Núcleos Investigativos de Feminicídio e de
equipes especializadas para o atendimento e a investigação das violências graves contra a mulher.

Art. 12-B. (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)

§ 1º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)

§ 2º (VETADO. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)

§ 3º A autoridade policial poderá requisitar os serviços públicos necessários à defesa da mulher em


situação de violência doméstica e familiar e de seus dependentes. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)

Art. 12-C. Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou à integridade física ou psicológica
da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes, o agressor será
imediatamente afastado do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida: (Redação dada pela Lei
nº 14.188, de 2021)

I - pela autoridade judicial; (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019)

II - pelo delegado de polícia, quando o Município não for sede de comarca; ou (Incluído pela Lei nº
13.827, de 2019)

III - pelo policial, quando o Município não for sede de comarca e não houver delegado disponível no
momento da denúncia. (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019)

§ 1º Nas hipóteses dos incisos II e III do caput deste artigo, o juiz será comunicado no prazo máximo de
24 (vinte e quatro) horas e decidirá, em igual prazo, sobre a manutenção ou a revogação da medida aplicada,
devendo dar ciência ao Ministério Público concomitantemente. (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019)

§ 2º Nos casos de risco à integridade física da ofendida ou à efetividade da medida protetiva de urgência,
não será concedida liberdade provisória ao preso. (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019)

TÍTULO IV

DOS PROCEDIMENTOS

CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 13. Ao processo, ao julgamento e à execução das causas cíveis e criminais decorrentes da prática de
violência doméstica e familiar contra a mulher aplicar-se-ão as normas dos Códigos de Processo Penal e
Processo Civil e da legislação específica relativa à criança, ao adolescente e ao idoso que não conflitarem com
o estabelecido nesta Lei.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 721

Art. 14. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com
competência cível e criminal, poderão ser criados pela União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos
Estados, para o processo, o julgamento e a execução das causas decorrentes da prática de violência doméstica
e familiar contra a mulher.

Parágrafo único. Os atos processuais poderão realizar-se em horário noturno, conforme dispuserem as
normas de organização judiciária.

Art. 14-A. A ofendida tem a opção de propor ação de divórcio ou de dissolução de união estável no Juizado
de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. (Incluído pela Lei nº 13.894, de 2019)

§ 1º Exclui-se da competência dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher a


pretensão relacionada à partilha de bens. (Incluído pela Lei nº 13.894, de 2019)

§ 2º Iniciada a situação de violência doméstica e familiar após o ajuizamento da ação de divórcio ou de


dissolução de união estável, a ação terá preferência no juízo onde estiver. (Incluído pela Lei nº 13.894,
de 2019)

Art. 15. É competente, por opção da ofendida, para os processos cíveis regidos por esta Lei, o Juizado:

I - do seu domicílio ou de sua residência;

II - do lugar do fato em que se baseou a demanda;

III - do domicílio do agressor.

Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só
será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal
finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.

Art. 17. É vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, de penas de
cesta básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a substituição de pena que implique o pagamento
isolado de multa.

CAPÍTULO II

DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA

Seção I

Disposições Gerais

Art. 18. Recebido o expediente com o pedido da ofendida, caberá ao juiz, no prazo de 48 (quarenta e oito)
horas:

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas protetivas de urgência;

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao órgão de assistência judiciária, quando for o caso,


inclusive para o ajuizamento da ação de separação judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de
dissolução de união estável perante o juízo competente; (Redação dada pela Lei nº 13.894, de 2019)

III - comunicar ao Ministério Público para que adote as providências cabíveis.

IV - determinar a apreensão imediata de arma de fogo sob a posse do agressor. (Incluído pela Lei
nº 13.880, de 2019)

Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a requerimento do Ministério
Público ou a pedido da ofendida.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 722

§ 1º As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas de imediato, independentemente de


audiência das partes e de manifestação do Ministério Público, devendo este ser prontamente comunicado.

§ 2º As medidas protetivas de urgência serão aplicadas isolada ou cumulativamente, e poderão ser


substituídas a qualquer tempo por outras de maior eficácia, sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei
forem ameaçados ou violados.

§ 3º Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida, conceder novas medidas
protetivas de urgência ou rever aquelas já concedidas, se entender necessário à proteção da ofendida, de seus
familiares e de seu patrimônio, ouvido o Ministério Público.

Art. 20. Em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução criminal, caberá a prisão preventiva do
agressor, decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante representação da
autoridade policial.

Parágrafo único. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no curso do processo, verificar a falta de
motivo para que subsista, bem como de novo decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem.

Art. 21. A ofendida deverá ser notificada dos atos processuais relativos ao agressor, especialmente dos
pertinentes ao ingresso e à saída da prisão, sem prejuízo da intimação do advogado constituído ou do defensor
público.

Parágrafo único. A ofendida não poderá entregar intimação ou notificação ao agressor .

Seção II

Das Medidas Protetivas de Urgência que Obrigam o Agressor

Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o
juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas
de urgência, entre outras:

I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente, nos
termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003 ;

II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;

III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:

a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância
entre estes e o agressor;

b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação;

c) freqüentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida;

IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de atendimento


multidisciplinar ou serviço similar;

V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.

VI – comparecimento do agressor a programas de recuperação e reeducação; e (Incluído pela Lei


nº 13.984, de 2020)

VII – acompanhamento psicossocial do agressor, por meio de atendimento individual e/ou em grupo de
apoio. (Incluído pela Lei nº 13.984, de 2020)

§ 1º As medidas referidas neste artigo não impedem a aplicação de outras previstas na legislação em
vigor, sempre que a segurança da ofendida ou as circunstâncias o exigirem, devendo a providência ser
comunicada ao Ministério Público.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 723

§ 2º Na hipótese de aplicação do inciso I, encontrando-se o agressor nas condições mencionadas


no caput e incisos do art. 6º da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003, o juiz comunicará ao respectivo
órgão, corporação ou instituição as medidas protetivas de urgência concedidas e determinará a restrição do
porte de armas, ficando o superior imediato do agressor responsável pelo cumprimento da determinação
judicial, sob pena de incorrer nos crimes de prevaricação ou de desobediência, conforme o caso.

§ 3º Para garantir a efetividade das medidas protetivas de urgência, poderá o juiz requisitar, a qualquer
momento, auxílio da força policial.

§ 4º Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no que couber, o disposto no caput e nos §§ 5º e 6º do
art. 461 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Civil).

Seção III

Das Medidas Protetivas de Urgência à Ofendida

Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas:

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário de proteção ou de


atendimento;

II - determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo domicílio, após


afastamento do agressor;

III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda dos
filhos e alimentos;

IV - determinar a separação de corpos.

V - determinar a matrícula dos dependentes da ofendida em instituição de educação básica mais próxima
do seu domicílio, ou a transferência deles para essa instituição, independentemente da existência de
vaga. (Incluído pela Lei nº 13.882, de 2019)

Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou daqueles de propriedade particular
da mulher, o juiz poderá determinar, liminarmente, as seguintes medidas, entre outras:

I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida;

II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra, venda e locação de propriedade
em comum, salvo expressa autorização judicial;

III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor;

IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos materiais decorrentes
da prática de violência doméstica e familiar contra a ofendida.

Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório competente para os fins previstos nos incisos II e III deste
artigo.

Seção IV
(Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018)

Do Crime de Descumprimento de Medidas Protetivas de Urgência


Descumprimento de Medidas Protetivas de Urgência

Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que defere medidas protetivas de urgência previstas nesta
Lei: (Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018)

Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos. (Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018)
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 724

§ 1º A configuração do crime independe da competência civil ou criminal do juiz que deferiu as


medidas. (Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018)

§ 2º Na hipótese de prisão em flagrante, apenas a autoridade judicial poderá conceder


fiança. (Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018)

§ 3º O disposto neste artigo não exclui a aplicação de outras sanções cabíveis. (Incluído pela Lei nº
13.641, de 2018)

CAPÍTULO III

DA ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Art. 25. O Ministério Público intervirá, quando não for parte, nas causas cíveis e criminais decorrentes da
violência doméstica e familiar contra a mulher.

Art. 26. Caberá ao Ministério Público, sem prejuízo de outras atribuições, nos casos de violência
doméstica e familiar contra a mulher, quando necessário:

I - requisitar força policial e serviços públicos de saúde, de educação, de assistência social e de segurança,
entre outros;

II - fiscalizar os estabelecimentos públicos e particulares de atendimento à mulher em situação de violência


doméstica e familiar, e adotar, de imediato, as medidas administrativas ou judiciais cabíveis no tocante a
quaisquer irregularidades constatadas;

III - cadastrar os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher.

CAPÍTULO IV

DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA

Art. 27. Em todos os atos processuais, cíveis e criminais, a mulher em situação de violência doméstica e
familiar deverá estar acompanhada de advogado, ressalvado o previsto no art. 19 desta Lei.

Art. 28. É garantido a toda mulher em situação de violência doméstica e familiar o acesso aos serviços de
Defensoria Pública ou de Assistência Judiciária Gratuita, nos termos da lei, em sede policial e judicial, mediante
atendimento específico e humanizado.

TÍTULO V

DA EQUIPE DE ATENDIMENTO MULTIDISCIPLINAR

Art. 29. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher que vierem a ser criados poderão
contar com uma equipe de atendimento multidisciplinar, a ser integrada por profissionais especializados nas
áreas psicossocial, jurídica e de saúde.

Art. 30. Compete à equipe de atendimento multidisciplinar, entre outras atribuições que lhe forem
reservadas pela legislação local, fornecer subsídios por escrito ao juiz, ao Ministério Público e à Defensoria
Pública, mediante laudos ou verbalmente em audiência, e desenvolver trabalhos de orientação,
encaminhamento, prevenção e outras medidas, voltados para a ofendida, o agressor e os familiares, com
especial atenção às crianças e aos adolescentes.

Art. 31. Quando a complexidade do caso exigir avaliação mais aprofundada, o juiz poderá determinar a
manifestação de profissional especializado, mediante a indicação da equipe de atendimento multidisciplinar.

Art. 32. O Poder Judiciário, na elaboração de sua proposta orçamentária, poderá prever recursos para a
criação e manutenção da equipe de atendimento multidisciplinar, nos termos da Lei de Diretrizes
Orçamentárias.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 725

TÍTULO VI

DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS

Art. 33. Enquanto não estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, as
varas criminais acumularão as competências cível e criminal para conhecer e julgar as causas decorrentes da
prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, observadas as previsões do Título IV desta Lei,
subsidiada pela legislação processual pertinente.

Parágrafo único. Será garantido o direito de preferência, nas varas criminais, para o processo e o
julgamento das causas referidas no caput.

TÍTULO VII

DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 34. A instituição dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher poderá ser
acompanhada pela implantação das curadorias necessárias e do serviço de assistência judiciária.

Art. 35. A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios poderão criar e promover, no limite das
respectivas competências:

I - centros de atendimento integral e multidisciplinar para mulheres e respectivos dependentes em situação


de violência doméstica e familiar;

II - casas-abrigos para mulheres e respectivos dependentes menores em situação de violência doméstica


e familiar;

III - delegacias, núcleos de defensoria pública, serviços de saúde e centros de perícia médico-legal
especializados no atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar;

IV - programas e campanhas de enfrentamento da violência doméstica e familiar;

V - centros de educação e de reabilitação para os agressores.

Art. 36. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios promoverão a adaptação de seus órgãos
e de seus programas às diretrizes e aos princípios desta Lei.

Art. 37. A defesa dos interesses e direitos transindividuais previstos nesta Lei poderá ser exercida,
concorrentemente, pelo Ministério Público e por associação de atuação na área, regularmente constituída há
pelo menos um ano, nos termos da legislação civil.

Parágrafo único. O requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz quando entender que
não há outra entidade com representatividade adequada para o ajuizamento da demanda coletiva.

Art. 38. As estatísticas sobre a violência doméstica e familiar contra a mulher serão incluídas nas bases
de dados dos órgãos oficiais do Sistema de Justiça e Segurança a fim de subsidiar o sistema nacional de dados
e informações relativo às mulheres.

Parágrafo único. As Secretarias de Segurança Pública dos Estados e do Distrito Federal poderão remeter
suas informações criminais para a base de dados do Ministério da Justiça.

Art. 38-A. O juiz competente providenciará o registro da medida protetiva de urgência. (Incluído pela
Lei nº 13.827, de 2019)

Parágrafo único. As medidas protetivas de urgência serão registradas em banco de dados mantido e
regulamentado pelo Conselho Nacional de Justiça, garantido o acesso do Ministério Público, da Defensoria
Pública e dos órgãos de segurança pública e de assistência social, com vistas à fiscalização e à efetividade
das medidas protetivas. (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019)
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 726

Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, no limite de suas competências e nos
termos das respectivas leis de diretrizes orçamentárias, poderão estabelecer dotações orçamentárias
específicas, em cada exercício financeiro, para a implementação das medidas estabelecidas nesta Lei.

Art. 40. As obrigações previstas nesta Lei não excluem outras decorrentes dos princípios por ela adotados.

Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da
pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995.

Art. 42. O art. 313 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), passa
a vigorar acrescido do seguinte inciso IV:

“Art. 313. .................................................

IV - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos da lei específica, para
garantir a execução das medidas protetivas de urgência.” (NR)

Art. 43. A alínea f do inciso II do art. 61 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
Penal), passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 61. ..................................................

II - ............................................................

f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de


hospitalidade, ou com violência contra a mulher na forma da lei específica;

........................................................... ” (NR)

Art. 44. O art. 129 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), passa a vigorar
com as seguintes alterações:

“Art. 129. ..................................................

§ 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com
quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação
ou de hospitalidade:

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.

..................................................................

§ 11. Na hipótese do § 9º deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra
pessoa portadora de deficiência.” (NR)

Art. 45. O art. 152 da Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de Execução Penal), passa a vigorar com
a seguinte redação:

“Art. 152. ...................................................

Parágrafo único. Nos casos de violência doméstica contra a mulher, o juiz poderá determinar o
comparecimento obrigatório do agressor a programas de recuperação e reeducação.” (NR)

Art. 46. Esta Lei entra em vigor 45 (quarenta e cinco) dias após sua publicação.

Brasília, 7 de agosto de 2006; 185º da Independência e 118º da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 727

Dilma Rousseff

BÔNUS - LEI Nº 14.149, DE 5 DE MAIO DE 2021

Institui o Formulário Nacional de Avaliação de Risco, a ser aplicado à mulher vítima de violência doméstica e familiar.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º Esta Lei institui o Formulário Nacional de Avaliação de Risco, a ser aplicado à mulher vítima de violência
doméstica e familiar, observado o disposto na Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha).

Art. 2º É instituído o Formulário Nacional de Avaliação de Risco para a prevenção e o enfrentamento de crimes
e de demais atos de violência doméstica e familiar praticados contra a mulher, conforme modelo aprovado por
ato normativo conjunto do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público.

§ 1º O Formulário Nacional de Avaliação de Risco tem por objetivo identificar os fatores que indicam o risco de
a mulher vir a sofrer qualquer forma de violência no âmbito das relações domésticas, para subsidiar a atuação
dos órgãos de segurança pública, do Ministério Público, do Poder Judiciário e dos órgãos e das entidades da
rede de proteção na gestão do risco identificado, devendo ser preservado, em qualquer hipótese, o sigilo das
informações.

§ 2º O Formulário Nacional de Avaliação de Risco deve ser preferencialmente aplicado pela Polícia Civil no
momento de registro da ocorrência ou, em sua impossibilidade, pelo Ministério Público ou pelo Poder Judiciário,
por ocasião do primeiro atendimento à mulher vítima de violência doméstica e familiar.

§ 3º É facultada a utilização do modelo de Formulário Nacional de Avaliação de Risco por outros órgãos e
entidades públicas ou privadas que atuem na área de prevenção e de enfrentamento da violência doméstica e
familiar contra a mulher.

Art. 3º Aplica-se às disposições previstas nesta Lei o disposto na Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei
Maria da Penha).

Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 5 de maio de 2021; 200o da Independência e 133o da República.


JAIR MESSIAS BOLSONARO
Carlos Alberto Franco França
Damares Regina Alves
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 728

BÔNUS - LEI Nº 14.310, DE 8 DE MARÇO DE 2022

Altera a Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha), para determinar o registro imediato, pela
autoridade judicial, das medidas protetivas de urgência deferidas em favor da mulher em situação de
violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a


seguinte Lei:

Art. 1º O parágrafo único do art. 38-A da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha),
passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 38-A. .....................................................................................................................

Parágrafo único. As medidas protetivas de urgência serão, após sua concessão, imediatamente
registradas em banco de dados mantido e regulamentado pelo Conselho Nacional de Justiça, garantido o
acesso instantâneo do Ministério Público, da Defensoria Pública e dos órgãos de segurança pública e de
assistência social, com vistas à fiscalização e à efetividade das medidas protetivas.” (NR)

Art. 2º Esta Lei entra vigor após decorridos 90 (noventa) dias de sua publicação oficial.

Brasília, 8 de março de 2022; 201º da Independência e 134º da República.

JAIR MESSIAS BOLSONARO


João Inácio Ribeiro Roma Neto
Damares Regina Alves
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 729

8. LEI Nº 12.288/2010 (ESTATUTO DA IGUALDADE RACIAL)

LEI Nº 12.288, DE 20 DE JULHO DE 2010.

Institui o Estatuto da Igualdade Racial; altera as Leis nos 7.716, de 5 de janeiro de 1989, 9.029, de 13 de abril
de 1995, 7.347, de 24 de julho de 1985, e 10.778, de 24 de novembro de 2003.

(Vide Decreto nº 8.136, de 2013)

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte
Lei:

TÍTULO I

DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 1o Esta Lei institui o Estatuto da Igualdade Racial, destinado a garantir à população negra a efetivação da
igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à
discriminação e às demais formas de intolerância étnica.

Parágrafo único. Para efeito deste Estatuto, considera-se:

I - discriminação racial ou étnico-racial: toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor,
descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto anular ou restringir o reconhecimento, gozo
ou exercício, em igualdade de condições, de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político,
econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública ou privada;

II - desigualdade racial: toda situação injustificada de diferenciação de acesso e fruição de bens, serviços e
oportunidades, nas esferas pública e privada, em virtude de raça, cor, descendência ou origem nacional ou
étnica;

III - desigualdade de gênero e raça: assimetria existente no âmbito da sociedade que acentua a distância social
entre mulheres negras e os demais segmentos sociais;

IV - população negra: o conjunto de pessoas que se autodeclaram pretas e pardas, conforme o quesito cor ou
raça usado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou que adotam autodefinição
análoga;

V - políticas públicas: as ações, iniciativas e programas adotados pelo Estado no cumprimento de suas
atribuições institucionais;

VI - ações afirmativas: os programas e medidas especiais adotados pelo Estado e pela iniciativa privada para
a correção das desigualdades raciais e para a promoção da igualdade de oportunidades.

Art. 2o É dever do Estado e da sociedade garantir a igualdade de oportunidades, reconhecendo a todo cidadão
brasileiro, independentemente da etnia ou da cor da pele, o direito à participação na comunidade,
especialmente nas atividades políticas, econômicas, empresariais, educacionais, culturais e esportivas,
defendendo sua dignidade e seus valores religiosos e culturais.

Art. 3o Além das normas constitucionais relativas aos princípios fundamentais, aos direitos e garantias
fundamentais e aos direitos sociais, econômicos e culturais, o Estatuto da Igualdade Racial adota como diretriz
político-jurídica a inclusão das vítimas de desigualdade étnico-racial, a valorização da igualdade étnica e o
fortalecimento da identidade nacional brasileira.

Art. 4o A participação da população negra, em condição de igualdade de oportunidade, na vida econômica,


social, política e cultural do País será promovida, prioritariamente, por meio de:
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 730

I - inclusão nas políticas públicas de desenvolvimento econômico e social;

II - adoção de medidas, programas e políticas de ação afirmativa;

III - modificação das estruturas institucionais do Estado para o adequado enfrentamento e a superação das
desigualdades étnicas decorrentes do preconceito e da discriminação étnica;

IV - promoção de ajustes normativos para aperfeiçoar o combate à discriminação étnica e às desigualdades


étnicas em todas as suas manifestações individuais, institucionais e estruturais;

V - eliminação dos obstáculos históricos, socioculturais e institucionais que impedem a representação da


diversidade étnica nas esferas pública e privada;

VI - estímulo, apoio e fortalecimento de iniciativas oriundas da sociedade civil direcionadas à promoção da


igualdade de oportunidades e ao combate às desigualdades étnicas, inclusive mediante a implementação de
incentivos e critérios de condicionamento e prioridade no acesso aos recursos públicos;

VII - implementação de programas de ação afirmativa destinados ao enfrentamento das desigualdades étnicas
no tocante à educação, cultura, esporte e lazer, saúde, segurança, trabalho, moradia, meios de comunicação
de massa, financiamentos públicos, acesso à terra, à Justiça, e outros.

Parágrafo único. Os programas de ação afirmativa constituir-se-ão em políticas públicas destinadas a reparar
as distorções e desigualdades sociais e demais práticas discriminatórias adotadas, nas esferas pública e
privada, durante o processo de formação social do País.

Art. 5o Para a consecução dos objetivos desta Lei, é instituído o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade
Racial (Sinapir), conforme estabelecido no Título III.

TÍTULO II

DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

CAPÍTULO I

DO DIREITO À SAÚDE

Art. 6o O direito à saúde da população negra será garantido pelo poder público mediante políticas universais,
sociais e econômicas destinadas à redução do risco de doenças e de outros agravos.

§ 1o O acesso universal e igualitário ao Sistema Único de Saúde (SUS) para promoção, proteção e recuperação
da saúde da população negra será de responsabilidade dos órgãos e instituições públicas federais, estaduais,
distritais e municipais, da administração direta e indireta.

§ 2o O poder público garantirá que o segmento da população negra vinculado aos seguros privados de saúde
seja tratado sem discriminação.

Art. 7o O conjunto de ações de saúde voltadas à população negra constitui a Política Nacional de Saúde Integral
da População Negra, organizada de acordo com as diretrizes abaixo especificadas:

I - ampliação e fortalecimento da participação de lideranças dos movimentos sociais em defesa da saúde da


população negra nas instâncias de participação e controle social do SUS;

II - produção de conhecimento científico e tecnológico em saúde da população negra;

III - desenvolvimento de processos de informação, comunicação e educação para contribuir com a redução das
vulnerabilidades da população negra.

Art. 8o Constituem objetivos da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra:

I - a promoção da saúde integral da população negra, priorizando a redução das desigualdades étnicas e o
combate à discriminação nas instituições e serviços do SUS;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 731

II - a melhoria da qualidade dos sistemas de informação do SUS no que tange à coleta, ao processamento e à
análise dos dados desagregados por cor, etnia e gênero;

III - o fomento à realização de estudos e pesquisas sobre racismo e saúde da população negra;

IV - a inclusão do conteúdo da saúde da população negra nos processos de formação e educação permanente
dos trabalhadores da saúde;

V - a inclusão da temática saúde da população negra nos processos de formação política das lideranças de
movimentos sociais para o exercício da participação e controle social no SUS.

Parágrafo único. Os moradores das comunidades de remanescentes de quilombos serão beneficiários de


incentivos específicos para a garantia do direito à saúde, incluindo melhorias nas condições ambientais, no
saneamento básico, na segurança alimentar e nutricional e na atenção integral à saúde.

CAPÍTULO II

DO DIREITO À EDUCAÇÃO, À CULTURA, AO ESPORTE E AO LAZER

Seção I

Disposições Gerais

Art. 9o A população negra tem direito a participar de atividades educacionais, culturais, esportivas e de lazer
adequadas a seus interesses e condições, de modo a contribuir para o patrimônio cultural de sua comunidade
e da sociedade brasileira.

Art. 10. Para o cumprimento do disposto no art. 9o, os governos federal, estaduais, distrital e municipais
adotarão as seguintes providências:

I - promoção de ações para viabilizar e ampliar o acesso da população negra ao ensino gratuito e às atividades
esportivas e de lazer;

II - apoio à iniciativa de entidades que mantenham espaço para promoção social e cultural da população negra;

III - desenvolvimento de campanhas educativas, inclusive nas escolas, para que a solidariedade aos membros
da população negra faça parte da cultura de toda a sociedade;

IV - implementação de políticas públicas para o fortalecimento da juventude negra brasileira.

Seção II

Da Educação

Art. 11. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, é obrigatório o
estudo da história geral da África e da história da população negra no Brasil, observado o disposto na Lei
no 9.394, de 20 de dezembro de 1996.

§ 1o Os conteúdos referentes à história da população negra no Brasil serão ministrados no âmbito de todo o
currículo escolar, resgatando sua contribuição decisiva para o desenvolvimento social, econômico, político e
cultural do País.

§ 2o O órgão competente do Poder Executivo fomentará a formação inicial e continuada de professores e a


elaboração de material didático específico para o cumprimento do disposto no caput deste artigo.

§ 3o Nas datas comemorativas de caráter cívico, os órgãos responsáveis pela educação incentivarão a
participação de intelectuais e representantes do movimento negro para debater com os estudantes suas
vivências relativas ao tema em comemoração.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 732

Art. 12. Os órgãos federais, distritais e estaduais de fomento à pesquisa e à pós-graduação poderão criar
incentivos a pesquisas e a programas de estudo voltados para temas referentes às relações étnicas, aos
quilombos e às questões pertinentes à população negra.

Art. 13. O Poder Executivo federal, por meio dos órgãos competentes, incentivará as instituições de ensino
superior públicas e privadas, sem prejuízo da legislação em vigor, a:

I - resguardar os princípios da ética em pesquisa e apoiar grupos, núcleos e centros de pesquisa, nos diversos
programas de pós-graduação que desenvolvam temáticas de interesse da população negra;

II - incorporar nas matrizes curriculares dos cursos de formação de professores temas que incluam valores
concernentes à pluralidade étnica e cultural da sociedade brasileira;

III - desenvolver programas de extensão universitária destinados a aproximar jovens negros de tecnologias
avançadas, assegurado o princípio da proporcionalidade de gênero entre os beneficiários;

IV - estabelecer programas de cooperação técnica, nos estabelecimentos de ensino públicos, privados e


comunitários, com as escolas de educação infantil, ensino fundamental, ensino médio e ensino técnico, para a
formação docente baseada em princípios de equidade, de tolerância e de respeito às diferenças étnicas.

Art. 14. O poder público estimulará e apoiará ações socioeducacionais realizadas por entidades do movimento
negro que desenvolvam atividades voltadas para a inclusão social, mediante cooperação técnica, intercâmbios,
convênios e incentivos, entre outros mecanismos.

Art. 15. O poder público adotará programas de ação afirmativa.

Art. 16. O Poder Executivo federal, por meio dos órgãos responsáveis pelas políticas de promoção da
igualdade e de educação, acompanhará e avaliará os programas de que trata esta Seção.

Seção III

Da Cultura

Art. 17. O poder público garantirá o reconhecimento das sociedades negras, clubes e outras formas de
manifestação coletiva da população negra, com trajetória histórica comprovada, como patrimônio histórico e
cultural, nos termos dos arts. 215 e 216 da Constituição Federal.

Art. 18. É assegurado aos remanescentes das comunidades dos quilombos o direito à preservação de seus
usos, costumes, tradições e manifestos religiosos, sob a proteção do Estado.

Parágrafo único. A preservação dos documentos e dos sítios detentores de reminiscências históricas dos
antigos quilombos, tombados nos termos do § 5o do art. 216 da Constituição Federal, receberá especial atenção
do poder público.

Art. 19. O poder público incentivará a celebração das personalidades e das datas comemorativas relacionadas
à trajetória do samba e de outras manifestações culturais de matriz africana, bem como sua comemoração nas
instituições de ensino públicas e privadas.

Art. 20. O poder público garantirá o registro e a proteção da capoeira, em todas as suas modalidades, como
bem de natureza imaterial e de formação da identidade cultural brasileira, nos termos do art. 216 da
Constituição Federal.

Parágrafo único. O poder público buscará garantir, por meio dos atos normativos necessários, a preservação
dos elementos formadores tradicionais da capoeira nas suas relações internacionais.

Seção IV

Do Esporte e Lazer
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 733

Art. 21. O poder público fomentará o pleno acesso da população negra às práticas desportivas, consolidando
o esporte e o lazer como direitos sociais.

Art. 22. A capoeira é reconhecida como desporto de criação nacional, nos termos do art. 217 da Constituição
Federal.

§ 1o A atividade de capoeirista será reconhecida em todas as modalidades em que a capoeira se manifesta,


seja como esporte, luta, dança ou música, sendo livre o exercício em todo o território nacional.

§ 2o É facultado o ensino da capoeira nas instituições públicas e privadas pelos capoeiristas e mestres
tradicionais, pública e formalmente reconhecidos.

CAPÍTULO III

DO DIREITO À LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA E DE CRENÇA E AO LIVRE EXERCÍCIO DOS CULTOS


RELIGIOSOS

Art. 23. É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos
religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.

Art. 24. O direito à liberdade de consciência e de crença e ao livre exercício dos cultos religiosos de matriz
africana compreende:

I - a prática de cultos, a celebração de reuniões relacionadas à religiosidade e a fundação e manutenção, por


iniciativa privada, de lugares reservados para tais fins;

II - a celebração de festividades e cerimônias de acordo com preceitos das respectivas religiões;

III - a fundação e a manutenção, por iniciativa privada, de instituições beneficentes ligadas às respectivas
convicções religiosas;

IV - a produção, a comercialização, a aquisição e o uso de artigos e materiais religiosos adequados aos


costumes e às práticas fundadas na respectiva religiosidade, ressalvadas as condutas vedadas por legislação
específica;

V - a produção e a divulgação de publicações relacionadas ao exercício e à difusão das religiões de matriz


africana;

VI - a coleta de contribuições financeiras de pessoas naturais e jurídicas de natureza privada para a


manutenção das atividades religiosas e sociais das respectivas religiões;

VII - o acesso aos órgãos e aos meios de comunicação para divulgação das respectivas religiões;

VIII - a comunicação ao Ministério Público para abertura de ação penal em face de atitudes e práticas de
intolerância religiosa nos meios de comunicação e em quaisquer outros locais.

Art. 25. É assegurada a assistência religiosa aos praticantes de religiões de matrizes africanas internados em
hospitais ou em outras instituições de internação coletiva, inclusive àqueles submetidos a pena privativa de
liberdade.

Art. 26. O poder público adotará as medidas necessárias para o combate à intolerância com as religiões de
matrizes africanas e à discriminação de seus seguidores, especialmente com o objetivo de:

I - coibir a utilização dos meios de comunicação social para a difusão de proposições, imagens ou abordagens
que exponham pessoa ou grupo ao ódio ou ao desprezo por motivos fundados na religiosidade de matrizes
africanas;

II - inventariar, restaurar e proteger os documentos, obras e outros bens de valor artístico e cultural, os
monumentos, mananciais, flora e sítios arqueológicos vinculados às religiões de matrizes africanas;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 734

III - assegurar a participação proporcional de representantes das religiões de matrizes africanas, ao lado da
representação das demais religiões, em comissões, conselhos, órgãos e outras instâncias de deliberação
vinculadas ao poder público.

CAPÍTULO IV

DO ACESSO À TERRA E À MORADIA ADEQUADA

Seção I

Do Acesso à Terra

Art. 27. O poder público elaborará e implementará políticas públicas capazes de promover o acesso da
população negra à terra e às atividades produtivas no campo.

Art. 28. Para incentivar o desenvolvimento das atividades produtivas da população negra no campo, o poder
público promoverá ações para viabilizar e ampliar o seu acesso ao financiamento agrícola.

Art. 29. Serão assegurados à população negra a assistência técnica rural, a simplificação do acesso ao crédito
agrícola e o fortalecimento da infraestrutura de logística para a comercialização da produção.

Art. 30. O poder público promoverá a educação e a orientação profissional agrícola para os trabalhadores
negros e as comunidades negras rurais.

Art. 31. Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida
a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos.

Art. 32. O Poder Executivo federal elaborará e desenvolverá políticas públicas especiais voltadas para o
desenvolvimento sustentável dos remanescentes das comunidades dos quilombos, respeitando as tradições
de proteção ambiental das comunidades.

Art. 33. Para fins de política agrícola, os remanescentes das comunidades dos quilombos receberão dos
órgãos competentes tratamento especial diferenciado, assistência técnica e linhas especiais de financiamento
público, destinados à realização de suas atividades produtivas e de infraestrutura.

Art. 34. Os remanescentes das comunidades dos quilombos se beneficiarão de todas as iniciativas previstas
nesta e em outras leis para a promoção da igualdade étnica.

Seção II

Da Moradia

Art. 35. O poder público garantirá a implementação de políticas públicas para assegurar o direito à moradia
adequada da população negra que vive em favelas, cortiços, áreas urbanas subutilizadas, degradadas ou em
processo de degradação, a fim de reintegrá-las à dinâmica urbana e promover melhorias no ambiente e na
qualidade de vida.

Parágrafo único. O direito à moradia adequada, para os efeitos desta Lei, inclui não apenas o provimento
habitacional, mas também a garantia da infraestrutura urbana e dos equipamentos comunitários associados à
função habitacional, bem como a assistência técnica e jurídica para a construção, a reforma ou a regularização
fundiária da habitação em área urbana.

Art. 36. Os programas, projetos e outras ações governamentais realizadas no âmbito do Sistema Nacional de
Habitação de Interesse Social (SNHIS), regulado pela Lei no 11.124, de 16 de junho de 2005, devem considerar
as peculiaridades sociais, econômicas e culturais da população negra.

Parágrafo único. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios estimularão e facilitarão a participação de


organizações e movimentos representativos da população negra na composição dos conselhos constituídos
para fins de aplicação do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS).
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 735

Art. 37. Os agentes financeiros, públicos ou privados, promoverão ações para viabilizar o acesso da população
negra aos financiamentos habitacionais.

CAPÍTULO V

DO TRABALHO

Art. 38. A implementação de políticas voltadas para a inclusão da população negra no mercado de trabalho
será de responsabilidade do poder público, observando-se:

I - o instituído neste Estatuto;

II - os compromissos assumidos pelo Brasil ao ratificar a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas
as Formas de Discriminação Racial, de 1965;

III - os compromissos assumidos pelo Brasil ao ratificar a Convenção n o 111, de 1958, da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), que trata da discriminação no emprego e na profissão;

IV - os demais compromissos formalmente assumidos pelo Brasil perante a comunidade internacional.

Art. 39. O poder público promoverá ações que assegurem a igualdade de oportunidades no mercado de
trabalho para a população negra, inclusive mediante a implementação de medidas visando à promoção da
igualdade nas contratações do setor público e o incentivo à adoção de medidas similares nas empresas e
organizações privadas.

§ 1o A igualdade de oportunidades será lograda mediante a adoção de políticas e programas de formação


profissional, de emprego e de geração de renda voltados para a população negra.

§ 2o As ações visando a promover a igualdade de oportunidades na esfera da administração pública far-se-ão


por meio de normas estabelecidas ou a serem estabelecidas em legislação específica e em seus regulamentos.

§ 3o O poder público estimulará, por meio de incentivos, a adoção de iguais medidas pelo setor privado.

§ 4o As ações de que trata o caput deste artigo assegurarão o princípio da proporcionalidade de gênero entre
os beneficiários.

§ 5o Será assegurado o acesso ao crédito para a pequena produção, nos meios rural e urbano, com ações
afirmativas para mulheres negras.

§ 6o O poder público promoverá campanhas de sensibilização contra a marginalização da mulher negra no


trabalho artístico e cultural.

§ 7o O poder público promoverá ações com o objetivo de elevar a escolaridade e a qualificação profissional
nos setores da economia que contem com alto índice de ocupação por trabalhadores negros de baixa
escolarização.

Art. 40. O Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (Codefat) formulará políticas, programas
e projetos voltados para a inclusão da população negra no mercado de trabalho e orientará a destinação de
recursos para seu financiamento.

Art. 41. As ações de emprego e renda, promovidas por meio de financiamento para constituição e ampliação
de pequenas e médias empresas e de programas de geração de renda, contemplarão o estímulo à promoção
de empresários negros.

Parágrafo único. O poder público estimulará as atividades voltadas ao turismo étnico com enfoque nos locais,
monumentos e cidades que retratem a cultura, os usos e os costumes da população negra.

Art. 42. O Poder Executivo federal poderá implementar critérios para provimento de cargos em comissão e
funções de confiança destinados a ampliar a participação de negros, buscando reproduzir a estrutura da
distribuição étnica nacional ou, quando for o caso, estadual, observados os dados demográficos oficiais.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 736

CAPÍTULO VI

DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO

Art. 43. A produção veiculada pelos órgãos de comunicação valorizará a herança cultural e a participação da
população negra na história do País.

Art. 44. Na produção de filmes e programas destinados à veiculação pelas emissoras de televisão e em salas
cinematográficas, deverá ser adotada a prática de conferir oportunidades de emprego para atores, figurantes
e técnicos negros, sendo vedada toda e qualquer discriminação de natureza política, ideológica, étnica ou
artística.

Parágrafo único. A exigência disposta no caput não se aplica aos filmes e programas que abordem
especificidades de grupos étnicos determinados.

Art. 45. Aplica-se à produção de peças publicitárias destinadas à veiculação pelas emissoras de televisão e
em salas cinematográficas o disposto no art. 44.

Art. 46. Os órgãos e entidades da administração pública federal direta, autárquica ou fundacional, as empresas
públicas e as sociedades de economia mista federais deverão incluir cláusulas de participação de artistas
negros nos contratos de realização de filmes, programas ou quaisquer outras peças de caráter publicitário.

§ 1o Os órgãos e entidades de que trata este artigo incluirão, nas especificações para contratação de serviços
de consultoria, conceituação, produção e realização de filmes, programas ou peças publicitárias, a
obrigatoriedade da prática de iguais oportunidades de emprego para as pessoas relacionadas com o projeto
ou serviço contratado.

§ 2o Entende-se por prática de iguais oportunidades de emprego o conjunto de medidas sistemáticas


executadas com a finalidade de garantir a diversidade étnica, de sexo e de idade na equipe vinculada ao projeto
ou serviço contratado.

§ 3o A autoridade contratante poderá, se considerar necessário para garantir a prática de iguais oportunidades
de emprego, requerer auditoria por órgão do poder público federal.

§ 4o A exigência disposta no caput não se aplica às produções publicitárias quando abordarem especificidades
de grupos étnicos determinados.

TÍTULO III

DO SISTEMA NACIONAL DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL

(SINAPIR)

CAPÍTULO I

DISPOSIÇÃO PRELIMINAR

Art. 47. É instituído o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Sinapir) como forma de organização
e de articulação voltadas à implementação do conjunto de políticas e serviços destinados a superar as
desigualdades étnicas existentes no País, prestados pelo poder público federal.

§ 1o Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão participar do Sinapir mediante adesão.

§ 2o O poder público federal incentivará a sociedade e a iniciativa privada a participar do Sinapir.

CAPÍTULO II

DOS OBJETIVOS

Art. 48. São objetivos do Sinapir:


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 737

I - promover a igualdade étnica e o combate às desigualdades sociais resultantes do racismo, inclusive


mediante adoção de ações afirmativas;

II - formular políticas destinadas a combater os fatores de marginalização e a promover a integração social da


população negra;

III - descentralizar a implementação de ações afirmativas pelos governos estaduais, distrital e municipais;

IV - articular planos, ações e mecanismos voltados à promoção da igualdade étnica;

V - garantir a eficácia dos meios e dos instrumentos criados para a implementação das ações afirmativas e o
cumprimento das metas a serem estabelecidas.

CAPÍTULO III

DA ORGANIZAÇÃO E COMPETÊNCIA

Art. 49. O Poder Executivo federal elaborará plano nacional de promoção da igualdade racial contendo as
metas, princípios e diretrizes para a implementação da Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial
(PNPIR).

§ 1o A elaboração, implementação, coordenação, avaliação e acompanhamento da PNPIR, bem como a


organização, articulação e coordenação do Sinapir, serão efetivados pelo órgão responsável pela política de
promoção da igualdade étnica em âmbito nacional.

§ 2o É o Poder Executivo federal autorizado a instituir fórum intergovernamental de promoção da igualdade


étnica, a ser coordenado pelo órgão responsável pelas políticas de promoção da igualdade étnica, com o
objetivo de implementar estratégias que visem à incorporação da política nacional de promoção da igualdade
étnica nas ações governamentais de Estados e Municípios.

§ 3o As diretrizes das políticas nacional e regional de promoção da igualdade étnica serão elaboradas por
órgão colegiado que assegure a participação da sociedade civil.

Art. 50. Os Poderes Executivos estaduais, distrital e municipais, no âmbito das respectivas esferas de
competência, poderão instituir conselhos de promoção da igualdade étnica, de caráter permanente e consultivo,
compostos por igual número de representantes de órgãos e entidades públicas e de organizações da sociedade
civil representativas da população negra.

Parágrafo único. O Poder Executivo priorizará o repasse dos recursos referentes aos programas e atividades
previstos nesta Lei aos Estados, Distrito Federal e Municípios que tenham criado conselhos de promoção da
igualdade étnica.

CAPÍTULO IV

DAS OUVIDORIAS PERMANENTES E DO ACESSO À JUSTIÇA E À SEGURANÇA

Art. 51. O poder público federal instituirá, na forma da lei e no âmbito dos Poderes Legislativo e Executivo,
Ouvidorias Permanentes em Defesa da Igualdade Racial, para receber e encaminhar denúncias de preconceito
e discriminação com base em etnia ou cor e acompanhar a implementação de medidas para a promoção da
igualdade.

Art. 52. É assegurado às vítimas de discriminação étnica o acesso aos órgãos de Ouvidoria Permanente, à
Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, em todas as suas instâncias, para a garantia
do cumprimento de seus direitos.

Parágrafo único. O Estado assegurará atenção às mulheres negras em situação de violência, garantida a
assistência física, psíquica, social e jurídica.

Art. 53. O Estado adotará medidas especiais para coibir a violência policial incidente sobre a população negra.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 738

Parágrafo único. O Estado implementará ações de ressocialização e proteção da juventude negra em conflito
com a lei e exposta a experiências de exclusão social.

Art. 54. O Estado adotará medidas para coibir atos de discriminação e preconceito praticados por servidores
públicos em detrimento da população negra, observado, no que couber, o disposto na Lei no 7.716, de 5 de
janeiro de 1989.

Art. 55. Para a apreciação judicial das lesões e das ameaças de lesão aos interesses da população negra
decorrentes de situações de desigualdade étnica, recorrer-se-á, entre outros instrumentos, à ação civil pública,
disciplinada na Lei no 7.347, de 24 de julho de 1985.

CAPÍTULO V

DO FINANCIAMENTO DAS INICIATIVAS DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL

Art. 56. Na implementação dos programas e das ações constantes dos planos plurianuais e dos orçamentos
anuais da União, deverão ser observadas as políticas de ação afirmativa a que se refere o inciso VII do art.
4o desta Lei e outras políticas públicas que tenham como objetivo promover a igualdade de oportunidades e a
inclusão social da população negra, especialmente no que tange a:

I - promoção da igualdade de oportunidades em educação, emprego e moradia;

II - financiamento de pesquisas, nas áreas de educação, saúde e emprego, voltadas para a melhoria da
qualidade de vida da população negra;

III - incentivo à criação de programas e veículos de comunicação destinados à divulgação de matérias


relacionadas aos interesses da população negra;

IV - incentivo à criação e à manutenção de microempresas administradas por pessoas autodeclaradas negras;

V - iniciativas que incrementem o acesso e a permanência das pessoas negras na educação fundamental,
média, técnica e superior;

VI - apoio a programas e projetos dos governos estaduais, distrital e municipais e de entidades da sociedade
civil voltados para a promoção da igualdade de oportunidades para a população negra;

VII - apoio a iniciativas em defesa da cultura, da memória e das tradições africanas e brasileiras.

§ 1o O Poder Executivo federal é autorizado a adotar medidas que garantam, em cada exercício, a
transparência na alocação e na execução dos recursos necessários ao financiamento das ações previstas
neste Estatuto, explicitando, entre outros, a proporção dos recursos orçamentários destinados aos programas
de promoção da igualdade, especialmente nas áreas de educação, saúde, emprego e renda, desenvolvimento
agrário, habitação popular, desenvolvimento regional, cultura, esporte e lazer.

§ 2o Durante os 5 (cinco) primeiros anos, a contar do exercício subsequente à publicação deste Estatuto, os
órgãos do Poder Executivo federal que desenvolvem políticas e programas nas áreas referidas no § 1 o deste
artigo discriminarão em seus orçamentos anuais a participação nos programas de ação afirmativa referidos no
inciso VII do art. 4o desta Lei.

§ 3o O Poder Executivo é autorizado a adotar as medidas necessárias para a adequada implementação do


disposto neste artigo, podendo estabelecer patamares de participação crescente dos programas de ação
afirmativa nos orçamentos anuais a que se refere o § 2o deste artigo.

§ 4o O órgão colegiado do Poder Executivo federal responsável pela promoção da igualdade racial
acompanhará e avaliará a programação das ações referidas neste artigo nas propostas orçamentárias da
União.

Art. 57. Sem prejuízo da destinação de recursos ordinários, poderão ser consignados nos orçamentos fiscal e
da seguridade social para financiamento das ações de que trata o art. 56:
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 739

I - transferências voluntárias dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;

II - doações voluntárias de particulares;

III - doações de empresas privadas e organizações não governamentais, nacionais ou internacionais;

IV - doações voluntárias de fundos nacionais ou internacionais;

V - doações de Estados estrangeiros, por meio de convênios, tratados e acordos internacionais.

TÍTULO IV

DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 58. As medidas instituídas nesta Lei não excluem outras em prol da população negra que tenham sido ou
venham a ser adotadas no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios.

Art. 59. O Poder Executivo federal criará instrumentos para aferir a eficácia social das medidas previstas nesta
Lei e efetuará seu monitoramento constante, com a emissão e a divulgação de relatórios periódicos, inclusive
pela rede mundial de computadores.

Art. 60. Os arts. 3o e 4o da Lei nº 7.716, de 1989, passam a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 3o ........................................................................

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação de raça, cor, etnia, religião ou
procedência nacional, obstar a promoção funcional.” (NR)

“Art. 4o ........................................................................

§ 1º Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação de raça ou de cor ou práticas resultantes do
preconceito de descendência ou origem nacional ou étnica:

I - deixar de conceder os equipamentos necessários ao empregado em igualdade de condições com os demais


trabalhadores;

II - impedir a ascensão funcional do empregado ou obstar outra forma de benefício profissional;

III - proporcionar ao empregado tratamento diferenciado no ambiente de trabalho, especialmente quanto ao


salário.

§ 2o Ficará sujeito às penas de multa e de prestação de serviços à comunidade, incluindo atividades de


promoção da igualdade racial, quem, em anúncios ou qualquer outra forma de recrutamento de trabalhadores,
exigir aspectos de aparência próprios de raça ou etnia para emprego cujas atividades não justifiquem essas
exigências.” (NR)

Art. 61. Os arts. 3o e 4o da Lei nº 9.029, de 13 de abril de 1995, passam a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 3o Sem prejuízo do prescrito no art. 2o e nos dispositivos legais que tipificam os crimes resultantes de
preconceito de etnia, raça ou cor, as infrações do disposto nesta Lei são passíveis das seguintes cominações:

...................................................................................” (NR)

“Art. 4o O rompimento da relação de trabalho por ato discriminatório, nos moldes desta Lei, além do direito à
reparação pelo dano moral, faculta ao empregado optar entre:

...................................................................................” (NR)

Art. 62. O art. 13 da Lei no 7.347, de 1985, passa a vigorar acrescido do seguinte § 2o, renumerando-se o atual
parágrafo único como § 1o:
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 740

“Art. 13. ........................................................................

§ 1o ...............................................................................

§ 2º Havendo acordo ou condenação com fundamento em dano causado por ato de discriminação étnica nos
termos do disposto no art. 1o desta Lei, a prestação em dinheiro reverterá diretamente ao fundo de que trata
o caput e será utilizada para ações de promoção da igualdade étnica, conforme definição do Conselho Nacional
de Promoção da Igualdade Racial, na hipótese de extensão nacional, ou dos Conselhos de Promoção de
Igualdade Racial estaduais ou locais, nas hipóteses de danos com extensão regional ou local,
respectivamente.” (NR)

Art. 63. O § 1o do art. 1o da Lei nº 10.778, de 24 de novembro de 2003, passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 1o .......................................................................

§ 1º Para os efeitos desta Lei, entende-se por violência contra a mulher qualquer ação ou conduta, baseada
no gênero, inclusive decorrente de discriminação ou desigualdade étnica, que cause morte, dano ou sofrimento
físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público quanto no privado.

...................................................................................” (NR)

Art. 64. O § 3o do art. 20 da Lei nº 7.716, de 1989, passa a vigorar acrescido do seguinte inciso III:

“Art. 20. ......................................................................

§ 3o ...............................................................................

.............................................................................................

III - a interdição das respectivas mensagens ou páginas de informação na rede mundial de computadores.

...................................................................................” (NR)

Art. 65. Esta Lei entra em vigor 90 (noventa) dias após a data de sua publicação.

Brasília, 20 de julho de 2010; 189o da Independência e 122o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA


Eloi Ferreira de Araújo

Este texto não substitui o publicado no DOU de 21.7.2010


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 741

9. LEI Nº 12.852/2013 (ESTATUTO DA JUVENTUDE)

LEI Nº 12.852, DE 5 DE AGOSTO DE 2013.

Institui o Estatuto da Juventude e dispõe sobre os direitos dos jovens, os princípios e diretrizes das políticas
públicas de juventude e o Sistema Nacional de Juventude - SINAJUVE.

(Vide Decreto nº 9.306, de 2018)

A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte
Lei:

TÍTULO I

DOS DIREITOS E DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE JUVENTUDE

CAPÍTULO I

DOS PRINCÍPIOS E DIRETRIZES DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE JUVENTUDE

Art. 1º Esta Lei institui o Estatuto da Juventude e dispõe sobre os direitos dos jovens, os princípios e diretrizes
das políticas públicas de juventude e o Sistema Nacional de Juventude - SINAJUVE.

§ 1º Para os efeitos desta Lei, são consideradas jovens as pessoas com idade entre 15 (quinze) e 29 (vinte e
nove) anos de idade.

§ 2º Aos adolescentes com idade entre 15 (quinze) e 18 (dezoito) anos aplica-se a Lei nº 8.069, de 13 de julho
de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente, e, excepcionalmente, este Estatuto, quando não conflitar com
as normas de proteção integral do adolescente.

Seção I

Dos Princípios

Art. 2º O disposto nesta Lei e as políticas públicas de juventude são regidos pelos seguintes princípios:

I - promoção da autonomia e emancipação dos jovens;

II - valorização e promoção da participação social e política, de forma direta e por meio de suas representações;

III - promoção da criatividade e da participação no desenvolvimento do País;

IV - reconhecimento do jovem como sujeito de direitos universais, geracionais e singulares;

V - promoção do bem-estar, da experimentação e do desenvolvimento integral do jovem;

VI - respeito à identidade e à diversidade individual e coletiva da juventude;

VII - promoção da vida segura, da cultura da paz, da solidariedade e da não discriminação; e

VIII - valorização do diálogo e convívio do jovem com as demais gerações.

Parágrafo único. A emancipação dos jovens a que se refere o inciso I do caput refere-se à trajetória de inclusão,
liberdade e participação do jovem na vida em sociedade, e não ao instituto da emancipação disciplinado
pela Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 742

Seção II

Diretrizes Gerais

Art. 3º Os agentes públicos ou privados envolvidos com políticas públicas de juventude devem observar as
seguintes diretrizes:

I - desenvolver a intersetorialidade das políticas estruturais, programas e ações;

II - incentivar a ampla participação juvenil em sua formulação, implementação e avaliação;

III - ampliar as alternativas de inserção social do jovem, promovendo programas que priorizem o seu
desenvolvimento integral e participação ativa nos espaços decisórios;

IV - proporcionar atendimento de acordo com suas especificidades perante os órgãos públicos e privados
prestadores de serviços à população, visando ao gozo de direitos simultaneamente nos campos da saúde,
educacional, político, econômico, social, cultural e ambiental;

V - garantir meios e equipamentos públicos que promovam o acesso à produção cultural, à prática esportiva, à
mobilidade territorial e à fruição do tempo livre;

VI - promover o território como espaço de integração;

VII - fortalecer as relações institucionais com os entes federados e as redes de órgãos, gestores e conselhos
de juventude;

VIII - estabelecer mecanismos que ampliem a gestão de informação e produção de conhecimento sobre
juventude;

IX - promover a integração internacional entre os jovens, preferencialmente no âmbito da América Latina e da


África, e a cooperação internacional;

X - garantir a integração das políticas de juventude com os Poderes Legislativo e Judiciário, com o Ministério
Público e com a Defensoria Pública; e

XI - zelar pelos direitos dos jovens com idade entre 18 (dezoito) e 29 (vinte e nove) anos privados de liberdade
e egressos do sistema prisional, formulando políticas de educação e trabalho, incluindo estímulos à sua
reinserção social e laboral, bem como criando e estimulando oportunidades de estudo e trabalho que favoreçam
o cumprimento do regime semiaberto.

CAPÍTULO II

DOS DIREITOS DOS JOVENS

Seção I

Do D ireito à Cidadania, à Participação Social e Política e à Representação Juvenil

Art. 4º O jovem tem direito à participação social e política e na formulação, execução e avaliação das políticas
públicas de juventude.

Parágrafo único. Entende-se por participação juvenil:

I - a inclusão do jovem nos espaços públicos e comunitários a partir da sua concepção como pessoa ativa,
livre, responsável e digna de ocupar uma posição central nos processos políticos e sociais;

II - o envolvimento ativo dos jovens em ações de políticas públicas que tenham por objetivo o próprio
benefício, o de suas comunidades, cidades e regiões e o do País;

III - a participação individual e coletiva do jovem em ações que contemplem a defesa dos direitos da
juventude ou de temas afetos aos jovens; e
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 743

IV - a efetiva inclusão dos jovens nos espaços públicos de decisão com direito a voz e voto.

Art. 5º A interlocução da juventude com o poder público pode realizar-se por intermédio de associações, redes,
movimentos e organizações juvenis.

Parágrafo único. É dever do poder público incentivar a livre associação dos jovens.

Art. 6º São diretrizes da interlocução institucional juvenil:

I - a definição de órgão governamental específico para a gestão das políticas públicas de juventude;

II - o incentivo à criação de conselhos de juventude em todos os entes da Federação.

Parágrafo único. Sem prejuízo das atribuições do órgão governamental específico para a gestão das políticas
públicas de juventude e dos conselhos de juventude com relação aos direitos previstos neste Estatuto, cabe ao
órgão governamental de gestão e aos conselhos dos direitos da criança e do adolescente a interlocução
institucional com adolescentes de idade entre 15 (quinze) e 18 (dezoito) anos.

Seção II

Do Direito à Educação

Art. 7º O jovem tem direito à educação de qualidade, com a garantia de educação básica, obrigatória e gratuita,
inclusive para os que a ela não tiveram acesso na idade adequada.

§ 1º A educação básica será ministrada em língua portuguesa, assegurada aos jovens indígenas e de povos e
comunidades tradicionais a utilização de suas línguas maternas e de processos próprios de aprendizagem.

§ 2º É dever do Estado oferecer aos jovens que não concluíram a educação básica programas na modalidade
da educação de jovens e adultos, adaptados às necessidades e especificidades da juventude, inclusive no
período noturno, ressalvada a legislação educacional específica.

§ 3º São assegurados aos jovens com surdez o uso e o ensino da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS, em
todas as etapas e modalidades educacionais.

§ 4º É assegurada aos jovens com deficiência a inclusão no ensino regular em todos os níveis e modalidades
educacionais, incluindo o atendimento educacional especializado, observada a acessibilidade a edificações,
transportes, espaços, mobiliários, equipamentos, sistemas e meios de comunicação e assegurados os recursos
de tecnologia assistiva e adaptações necessárias a cada pessoa.

§ 5º A Política Nacional de Educação no Campo contemplará a ampliação da oferta de educação para os jovens
do campo, em todos os níveis e modalidades educacionais.

Art. 8º O jovem tem direito à educação superior, em instituições públicas ou privadas, com variados graus de
abrangência do saber ou especialização do conhecimento, observadas as regras de acesso de cada instituição.

§ 1º É assegurado aos jovens negros, indígenas e alunos oriundos da escola pública o acesso ao ensino
superior nas instituições públicas por meio de políticas afirmativas, nos termos da lei.

§ 2º O poder público promoverá programas de expansão da oferta de educação superior nas instituições
públicas, de financiamento estudantil e de bolsas de estudos nas instituições privadas, em especial para jovens
com deficiência, negros, indígenas e alunos oriundos da escola pública.

Art. 9º O jovem tem direito à educação profissional e tecnológica, articulada com os diferentes níveis e
modalidades de educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia, observada a legislação vigente.

Art. 10. É dever do Estado assegurar ao jovem com deficiência o atendimento educacional especializado
gratuito, preferencialmente, na rede regular de ensino.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 744

Art. 11. O direito ao programa suplementar de transporte escolar de que trata o art. 4º da Lei nº 9.394, de 20
de dezembro de 1996, será progressivamente estendido ao jovem estudante do ensino fundamental, do
ensino médio e da educação superior, no campo e na cidade.

§ 1º (VETADO).

§ 2º (VETADO).

Art. 12. É garantida a participação efetiva do segmento juvenil, respeitada sua liberdade de organização, nos
conselhos e instâncias deliberativas de gestão democrática das escolas e universidades.

Art. 13. As escolas e as universidades deverão formular e implantar medidas de democratização do acesso e
permanência, inclusive programas de assistência estudantil, ação afirmativa e inclusão social para os jovens
estudantes.

Seção III

Do Direito à Profissionalização, ao Trabalho e à Renda

Art. 14. O jovem tem direito à profissionalização, ao trabalho e à renda, exercido em condições de liberdade,
equidade e segurança, adequadamente remunerado e com proteção social.

Art. 15. A ação do poder público na efetivação do direito do jovem à profissionalização, ao trabalho e à renda
contempla a adoção das seguintes medidas:

I - promoção de formas coletivas de organização para o trabalho, de redes de economia solidária e da livre
associação;

II - oferta de condições especiais de jornada de trabalho por meio de:

a) compatibilização entre os horários de trabalho e de estudo;

b) oferta dos níveis, formas e modalidades de ensino em horários que permitam a compatibilização da
frequência escolar com o trabalho regular;

III - criação de linha de crédito especial destinada aos jovens empreendedores;

IV - atuação estatal preventiva e repressiva quanto à exploração e precarização do trabalho juvenil;

V - adoção de políticas públicas voltadas para a promoção do estágio, aprendizagem e trabalho para a
juventude;

VI - apoio ao jovem trabalhador rural na organização da produção da agricultura familiar e dos


empreendimentos familiares rurais, por meio das seguintes ações:

a) estímulo à produção e à diversificação de produtos;

b) fomento à produção sustentável baseada na agroecologia, nas agroindústrias familiares, na integração entre
lavoura, pecuária e floresta e no extrativismo sustentável;

c) investimento em pesquisa de tecnologias apropriadas à agricultura familiar e aos empreendimentos


familiares rurais;

d) estímulo à comercialização direta da produção da agricultura familiar, aos empreendimentos familiares rurais
e à formação de cooperativas;

e) garantia de projetos de infraestrutura básica de acesso e escoamento de produção, priorizando a melhoria


das estradas e do transporte;

f) promoção de programas que favoreçam o acesso ao crédito, à terra e à assistência técnica rural;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 745

VII - apoio ao jovem trabalhador com deficiência, por meio das seguintes ações:

a) estímulo à formação e à qualificação profissional em ambiente inclusivo;

b) oferta de condições especiais de jornada de trabalho;

c) estímulo à inserção no mercado de trabalho por meio da condição de aprendiz.

Art. 16. O direito à profissionalização e à proteção no trabalho dos adolescentes com idade entre 15 (quinze) e
18 (dezoito) anos de idade será regido pelo disposto na Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da
Criança e do Adolescente, e em leis específicas, não se aplicando o previsto nesta Seção.

Seção IV

Do Direito à Diversidade e à Igualdade

Art. 17. O jovem tem direito à diversidade e à igualdade de direitos e de oportunidades e não será discriminado
por motivo de:

I - etnia, raça, cor da pele, cultura, origem, idade e sexo;

II - orientação sexual, idioma ou religião;

III - opinião, deficiência e condição social ou econômica.

Art. 18. A ação do poder público na efetivação do direito do jovem à diversidade e à igualdade contempla a
adoção das seguintes medidas:

I - adoção, nos âmbitos federal, estadual, municipal e do Distrito Federal, de programas governamentais
destinados a assegurar a igualdade de direitos aos jovens de todas as raças e etnias, independentemente de
sua origem, relativamente à educação, à profissionalização, ao trabalho e renda, à cultura, à saúde, à
segurança, à cidadania e ao acesso à justiça;

II - capacitação dos professores dos ensinos fundamental e médio para a aplicação das diretrizes curriculares
nacionais no que se refere ao enfrentamento de todas as formas de discriminação;

III - inclusão de temas sobre questões étnicas, raciais, de deficiência, de orientação sexual, de gênero e de
violência doméstica e sexual praticada contra a mulher na formação dos profissionais de educação, de saúde
e de segurança pública e dos operadores do direito;

IV - observância das diretrizes curriculares para a educação indígena como forma de preservação dessa
cultura;

V - inclusão, nos conteúdos curriculares, de informações sobre a discriminação na sociedade brasileira e sobre
o direito de todos os grupos e indivíduos a tratamento igualitário perante a lei; e

VI - inclusão, nos conteúdos curriculares, de temas relacionados à sexualidade, respeitando a diversidade de


valores e crenças.

Seção V

Do Direito à Saúde

Art. 19. O jovem tem direito à saúde e à qualidade de vida, considerando suas especificidades na dimensão da
prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde de forma integral.

Art. 20. A política pública de atenção à saúde do jovem será desenvolvida em consonância com as seguintes
diretrizes:

I - acesso universal e gratuito ao Sistema Único de Saúde - SUS e a serviços de saúde humanizados e de
qualidade, que respeitem as especificidades do jovem;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 746

II - atenção integral à saúde, com especial ênfase ao atendimento e à prevenção dos agravos mais prevalentes
nos jovens;

III - desenvolvimento de ações articuladas entre os serviços de saúde e os estabelecimentos de ensino, a


sociedade e a família, com vistas à prevenção de agravos;

IV - garantia da inclusão de temas relativos ao consumo de álcool, tabaco e outras drogas, à saúde sexual e
reprodutiva, com enfoque de gênero e dos direitos sexuais e reprodutivos nos projetos pedagógicos dos
diversos níveis de ensino;

V - reconhecimento do impacto da gravidez planejada ou não, sob os aspectos médico, psicológico, social e
econômico;

VI - capacitação dos profissionais de saúde, em uma perspectiva multiprofissional, para lidar com temas
relativos à saúde sexual e reprodutiva dos jovens, inclusive com deficiência, e ao abuso de álcool, tabaco e
outras drogas pelos jovens;

VII - habilitação dos professores e profissionais de saúde e de assistência social para a identificação dos
problemas relacionados ao uso abusivo e à dependência de álcool, tabaco e outras drogas e o devido
encaminhamento aos serviços assistenciais e de saúde;

VIII - valorização das parcerias com instituições da sociedade civil na abordagem das questões de prevenção,
tratamento e reinserção social dos usuários e dependentes de álcool, tabaco e outras drogas;

IX - proibição de propagandas de bebidas contendo qualquer teor alcoólico com a participação de pessoa com
menos de 18 (dezoito) anos de idade;

X - veiculação de campanhas educativas relativas ao álcool, ao tabaco e a outras drogas como causadores de
dependência; e

XI - articulação das instâncias de saúde e justiça na prevenção do uso e abuso de álcool, tabaco e outras
drogas, inclusive esteróides anabolizantes e, especialmente, crack .

Seção VI

D o Direito à Cultura

Art. 21. O jovem tem direito à cultura, incluindo a livre criação, o acesso aos bens e serviços culturais e a
participação nas decisões de política cultural, à identidade e diversidade cultural e à memória social.

Art. 22. Na consecução dos direitos culturais da juventude, compete ao poder público:

I - garantir ao jovem a participação no processo de produção, reelaboração e fruição dos bens culturais;

II - propiciar ao jovem o acesso aos locais e eventos culturais, mediante preços reduzidos, em âmbito nacional;

III - incentivar os movimentos de jovens a desenvolver atividades artístico-culturais e ações voltadas à


preservação do patrimônio histórico;

IV - valorizar a capacidade criativa do jovem, mediante o desenvolvimento de programas e projetos culturais;

V - propiciar ao jovem o conhecimento da diversidade cultural, regional e étnica do País;

VI - promover programas educativos e culturais voltados para a problemática do jovem nas emissoras de rádio
e televisão e nos demais meios de comunicação de massa;

VII - promover a inclusão digital dos jovens, por meio do acesso às novas tecnologias da informação e
comunicação;

VIII - assegurar ao jovem do campo o direito à produção e à fruição cultural e aos equipamentos públicos que
valorizem a cultura camponesa; e
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 747

IX - garantir ao jovem com deficiência acessibilidade e adaptações razoáveis.

Parágrafo único. A aplicação dos incisos I, III e VIII do caput deve observar a legislação específica sobre o
direito à profissionalização e à proteção no trabalho dos adolescentes.

Art. 23. É assegurado aos jovens de até 29 (vinte e nove) anos pertencentes a famílias de baixa renda e aos
estudantes, na forma do regulamento, o acesso a salas de cinema, cineclubes, teatros, espetáculos musicais
e circenses, eventos educativos, esportivos, de lazer e entretenimento, em todo o território nacional, promovidos
por quaisquer entidades e realizados em estabelecimentos públicos ou particulares, mediante pagamento da
metade do preço do ingresso cobrado do público em geral. (Regulamento) (Vigência)

§ 1º Terão direito ao benefício previsto no caput os estudantes regularmente matriculados nos níveis e
modalidades de educação e ensino previstos no Título V da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 - Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que comprovem sua condição de discente, mediante apresentação,
no momento da aquisição do ingresso e na portaria do local de realização do evento, da Carteira de
Identificação Estudantil - CIE.

§ 2º A CIE será expedida preferencialmente pela Associação Nacional de Pós-Graduandos, pela União
Nacional dos Estudantes, pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas e por entidades estudantis
estaduais e municipais a elas filiadas.

§ 3º É garantida a gratuidade na expedição da CIE para estudantes pertencentes a famílias de baixa renda,
nos termos do regulamento.

§ 4º As entidades mencionadas no § 2º deste artigo deverão tornar disponível, para eventuais consultas pelo
poder público e pelos estabelecimentos referidos no caput , banco de dados com o nome e o número de
registro dos estudantes portadores da Carteira de Identificação Estudantil, expedida nos termos do § 3º deste
artigo.

§ 5º A CIE terá validade até o dia 31 de março do ano subsequente à data de sua expedição.

§ 6º As entidades mencionadas no § 2º deste artigo são obrigadas a manter o documento comprobatório do


vínculo do aluno com o estabelecimento escolar, pelo mesmo prazo de validade da respectiva Carteira de
Identificação Estudantil.

§ 7º Caberá aos órgãos públicos competentes federais, estaduais, municipais e do Distrito Federal a
fiscalização do cumprimento do disposto neste artigo e a aplicação das sanções cabíveis, nos termos do
regulamento.

§ 8º Os benefícios previstos neste artigo não incidirão sobre os eventos esportivos de que tratam as Leis nºs
12.663, de 5 de junho de 2012, e 12.780, de 9 de janeiro de 201 3.

§ 9º Considera-se de baixa renda, para os fins do disposto no caput , a família inscrita no Cadastro Único para
Programas Sociais do Governo Federal - CadÚnico cuja renda mensal seja de até 2 (dois) salários mínimos.

§ 10. A concessão do benefício da meia-entrada de que trata o caput é limitada a 40% (quarenta por cento) do
total de ingressos disponíveis para cada evento.

Art. 24. O poder público destinará, no âmbito dos respectivos orçamentos, recursos financeiros para o fomento
dos projetos culturais destinados aos jovens e por eles produzidos.

Art. 25. Na destinação dos recursos do Fundo Nacional da Cultura - FNC, de que trata a Lei nº 8.313, de 23 de
dezembro de 1991, serão consideradas as necessidades específicas dos jovens em relação à ampliação do
acesso à cultura e à melhoria das condições para o exercício do protagonismo no campo da produção cultural.

Parágrafo único. As pessoas físicas ou jurídicas poderão optar pela aplicação de parcelas do imposto sobre a
renda a título de doações ou patrocínios, de que trata a Lei nº 8.313, de 23 de dezembro de 1991, no apoio a
projetos culturais apresentados por entidades juvenis legalmente constituídas há, pelo menos, 1 (um) ano.

Seção VII
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 748

D o Direito à Comunicação e à Liberdade de Expressão

Art. 26. O jovem tem direito à comunicação e à livre expressão, à produção de conteúdo, individual e
colaborativo, e ao acesso às tecnologias de informação e comunicação.

Art. 27. A ação do poder público na efetivação do direito do jovem à comunicação e à liberdade de expressão
contempla a adoção das seguintes medidas:

I - incentivar programas educativos e culturais voltados para os jovens nas emissoras de rádio e televisão e
nos demais meios de comunicação de massa;

II - promover a inclusão digital dos jovens, por meio do acesso às novas tecnologias de informação e
comunicação;

III - promover as redes e plataformas de comunicação dos jovens, considerando a acessibilidade para os jovens
com deficiência;

IV - incentivar a criação e manutenção de equipamentos públicos voltados para a promoção do direito do jovem
à comunicação; e

V - garantir a acessibilidade à comunicação por meio de tecnologias assistivas e adaptações razoáveis para os
jovens com deficiência.

Seção VIII

D o Direito ao Desporto e ao Lazer

Art. 28. O jovem tem direito à prática desportiva destinada a seu pleno desenvolvimento, com prioridade para
o desporto de participação.

Parágrafo único. O direito à prática desportiva dos adolescentes deverá considerar sua condição peculiar de
pessoa em desenvolvimento.

Art. 29. A política pública de desporto e lazer destinada ao jovem deverá considerar:

I - a realização de diagnóstico e estudos estatísticos oficiais acerca da educação física e dos desportos e dos
equipamentos de lazer no Brasil;

II - a adoção de lei de incentivo fiscal para o esporte, com critérios que priorizem a juventude e promovam a
equidade;

III - a valorização do desporto e do paradesporto educacional;

IV - a oferta de equipamentos comunitários que permitam a prática desportiva, cultural e de lazer.

Art. 30. Todas as escolas deverão buscar pelo menos um local apropriado para a prática de atividades
poliesportivas.

Seção IX

Do Direito ao Território e à Mobilidade

Art. 31. O jovem tem direito ao território e à mobilidade, incluindo a promoção de políticas públicas de moradia,
circulação e equipamentos públicos, no campo e na cidade.

Parágrafo único. Ao jovem com deficiência devem ser garantidas a acessibilidade e as adaptações necessárias.

Art. 32. No sistema de transporte coletivo interestadual, observar-se-á, nos termos da legislação
específica: (Regulamento) (Vigência)

I - a reserva de 2 (duas) vagas gratuitas por veículo para jovens de baixa renda;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 749

II - a reserva de 2 (duas) vagas por veículo com desconto de 50% (cinquenta por cento), no mínimo, no valor
das passagens, para os jovens de baixa renda, a serem utilizadas após esgotadas as vagas previstas no inciso
I.

Parágrafo único. Os procedimentos e os critérios para o exercício dos direitos previstos nos incisos I e II serão
definidos em regulamento.

Art. 33. A União envidará esforços, em articulação com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, para
promover a oferta de transporte público subsidiado para os jovens, com prioridade para os jovens em situação
de pobreza e vulnerabilidade, na forma do regulamento.

Seção X

D o Direito à Sustentabilidade e ao Meio Ambiente

Art. 34. O jovem tem direito à sustentabilidade e ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida, e o dever de defendê-lo e preservá-lo para a presente e
as futuras gerações.

Art. 35. O Estado promoverá, em todos os níveis de ensino, a educação ambiental voltada para a preservação
do meio ambiente e a sustentabilidade, de acordo com a Política Nacional do Meio Ambiente .

Art. 36. Na elaboração, na execução e na avaliação de políticas públicas que incorporem a dimensão ambiental,
o poder público deverá considerar:

I - o estímulo e o fortalecimento de organizações, movimentos, redes e outros coletivos de juventude que atuem
no âmbito das questões ambientais e em prol do desenvolvimento sustentável;

II - o incentivo à participação dos jovens na elaboração das políticas públicas de meio ambiente;

III - a criação de programas de educação ambiental destinados aos jovens; e

IV - o incentivo à participação dos jovens em projetos de geração de trabalho e renda que visem ao
desenvolvimento sustentável nos âmbitos rural e urbano.

Parágrafo único. A aplicação do disposto no inciso IV do caput deve observar a legislação específica sobre o
direito à profissionalização e à proteção no trabalho dos adolescentes.

Seção XI

Do Direito à Segurança Pública e ao Acesso à Justiça

Art. 37. Todos os jovens têm direito de viver em um ambiente seguro, sem violência, com garantia da sua
incolumidade física e mental, sendo-lhes asseguradas a igualdade de oportunidades e facilidades para seu
aperfeiçoamento intelectual, cultural e social.

Art. 38. As políticas de segurança pública voltadas para os jovens deverão articular ações da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e ações não governamentais, tendo por diretrizes:

I - a integração com as demais políticas voltadas à juventude;

II - a prevenção e enfrentamento da violência;

III - a promoção de estudos e pesquisas e a obtenção de estatísticas e informações relevantes para subsidiar
as ações de segurança pública e permitir a avaliação periódica dos impactos das políticas públicas quanto às
causas, às consequências e à frequência da violência contra os jovens;

IV - a priorização de ações voltadas para os jovens em situação de risco, vulnerabilidade social e egressos do
sistema penitenciário nacional;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 750

V - a promoção do acesso efetivo dos jovens à Defensoria Pública, considerando as especificidades da


condição juvenil; e

VI - a promoção do efetivo acesso dos jovens com deficiência à justiça em igualdade de condições com as
demais pessoas, inclusive mediante a provisão de adaptações processuais adequadas a sua idade.

TÍTULO II

DO SISTEMA NACIONAL DE JUVENTUDE

CAPÍTULO I

DO SISTEMA NACIONAL DE JUVENTUDE - SINAJUVE

Art. 39. É instituído o Sistema Nacional de Juventude - SINAJUVE, cujos composição, organização,
competência e funcionamento serão definidos em regulamento.

Art. 40. O financiamento das ações e atividades realizadas no âmbito do Sinajuve será definido em
regulamento.

CAPÍTULO II

DAS COMPETÊNCIAS

Art. 41. Compete à União:

I - formular e coordenar a execução da Política Nacional de Juventude;

II - coordenar e manter o Sinajuve;

III - estabelecer diretrizes sobre a organização e o funcionamento do Sinajuve;

IV - elaborar o Plano Nacional de Políticas de Juventude, em parceria com os Estados, o Distrito Federal, os
Municípios e a sociedade, em especial a juventude;

V - convocar e realizar, em conjunto com o Conselho Nacional de Juventude, as Conferências Nacionais de


Juventude, com intervalo máximo de 4 (quatro) anos;

VI - prestar assistência técnica e suplementação financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios
para o desenvolvimento de seus sistemas de juventude;

VII - contribuir para a qualificação e ação em rede do Sinajuve em todos os entes da Federação;

VIII - financiar, com os demais entes federados, a execução das políticas públicas de juventude;

IX - estabelecer formas de colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios para a execução
das políticas públicas de juventude; e

X - garantir a publicidade de informações sobre repasses de recursos para financiamento das políticas públicas
de juventude aos conselhos e gestores estaduais, do Distrito Federal e municipais.

Art. 42. Compete aos Estados:

I - coordenar, em âmbito estadual, o Sinajuve;

II - elaborar os respectivos planos estaduais de juventude, em conformidade com o Plano Nacional, com a
participação da sociedade, em especial da juventude;

III - criar, desenvolver e manter programas, ações e projetos para a execução das políticas públicas de
juventude;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 751

IV - convocar e realizar, em conjunto com o Conselho Estadual de Juventude, as Conferências Estaduais de


Juventude, com intervalo máximo de 4 (quatro) anos;

V - editar normas complementares para a organização e o funcionamento do Sinajuve, em âmbito estadual e


municipal;

VI - estabelecer com a União e os Municípios formas de colaboração para a execução das políticas públicas
de juventude; e

VII - cofinanciar, com os demais entes federados, a execução de programas, ações e projetos das políticas
públicas de juventude.

Parágrafo único. Serão incluídos nos censos demográficos dados relativos à população jovem do País.

Art. 43. Compete aos Municípios:

I - coordenar, em âmbito municipal, o Sinajuve;

II - elaborar os respectivos planos municipais de juventude, em conformidade com os respectivos Planos


Nacional e Estadual, com a participação da sociedade, em especial da juventude;

III - criar, desenvolver e manter programas, ações e projetos para a execução das políticas públicas de
juventude;

IV - convocar e realizar, em conjunto com o Conselho Municipal de Juventude, as Conferências Municipais de


Juventude, com intervalo máximo de 4 (quatro) anos;

V - editar normas complementares para a organização e funcionamento do Sinajuve, em âmbito municipal;

VI - cofinanciar, com os demais entes federados, a execução de programas, ações e projetos das políticas
públicas de juventude; e

VII - estabelecer mecanismos de cooperação com os Estados e a União para a execução das políticas públicas
de juventude.

Parágrafo único. Para garantir a articulação federativa com vistas ao efetivo cumprimento das políticas públicas
de juventude, os Municípios podem instituir os consórcios de que trata a Lei nº 11.107, de 6 de abril de 2005, ou
qualquer outro instrumento jurídico adequado, como forma de compartilhar responsabilidades.

Art. 44. As competências dos Estados e Municípios são atribuídas, cumulativamente, ao Distrito Federal.

CAPÍTULO III

DOS CONSELHOS DE JUVENTUDE

Art. 45. Os conselhos de juventude são órgãos permanentes e autônomos, não jurisdicionais, encarregados de
tratar das políticas públicas de juventude e da garantia do exercício dos direitos do jovem, com os seguintes
objetivos:

I - auxiliar na elaboração de políticas públicas de juventude que promovam o amplo exercício dos direitos dos
jovens estabelecidos nesta Lei;

II - utilizar instrumentos de forma a buscar que o Estado garanta aos jovens o exercício dos seus direitos;

III - colaborar com os órgãos da administração no planejamento e na implementação das políticas de juventude;

IV - estudar, analisar, elaborar, discutir e propor a celebração de instrumentos de cooperação, visando à


elaboração de programas, projetos e ações voltados para a juventude;

V - promover a realização de estudos relativos à juventude, objetivando subsidiar o planejamento das


políticas públicas de juventude;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 752

VI - estudar, analisar, elaborar, discutir e propor políticas públicas que permitam e garantam a integração e a
participação do jovem nos processos social, econômico, político e cultural no respectivo ente federado;

VII - propor a criação de formas de participação da juventude nos órgãos da administração pública;

VIII - promover e participar de seminários, cursos, congressos e eventos correlatos para o debate de temas
relativos à juventude;

IX - desenvolver outras atividades relacionadas às políticas públicas de juventude.

§ 1º A lei, em âmbito federal, estadual, do Distrito Federal e municipal, disporá sobre a organização, o
funcionamento e a composição dos conselhos de juventude, observada a participação da sociedade civil
mediante critério, no mínimo, paritário com os representantes do poder público.

§ 2º (VETADO) .

Art. 46. São atribuições dos conselhos de juventude:

I - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua infração administrativa ou penal contra os
direitos do jovem garantidos na legislação;

II - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua competência;

III - expedir notificações;

IV - solicitar informações das autoridades públicas;

V - assessorar o Poder Executivo local na elaboração dos planos, programas, projetos, ações e proposta
orçamentária das políticas públicas de juventude.

Art. 47. Sem prejuízo das atribuições dos conselhos de juventude com relação aos direitos previstos neste
Estatuto, cabe aos conselhos de direitos da criança e do adolescente deliberar e controlar as ações em todos
os níveis relativas aos adolescentes com idade entre 15 (quinze) e 18 (dezoito) anos.

Art. 48. Esta Lei entra em vigor após decorridos 180 (cento e oitenta) dias de sua publicação oficial.

Brasília, 5 de agosto de 2013; 192º da Independência e 125º da República.

DILMA ROUSSEFF
José Eduardo Cardozo

Este texto não substitui o publicado no DOU de 6.8.2013


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 753

10. LEI Nº 12.984/2014 (CONTRA A DISCRIMINAÇÃO DE


PORTADORES DE HIV)

LEI Nº 12.984, DE 2 DE JUNHO DE 2014.

Define o crime de discriminação dos portadores do vírus da imunodeficiência humana (HIV) e doentes
de aids.

A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º Constitui crime punível com reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, as seguintes condutas
discriminatórias contra o portador do HIV e o doente de aids, em razão da sua condição de portador ou de
doente:

I - recusar, procrastinar, cancelar ou segregar a inscrição ou impedir que permaneça como aluno em creche ou
estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, público ou privado;

II - negar emprego ou trabalho;

III - exonerar ou demitir de seu cargo ou emprego;

IV - segregar no ambiente de trabalho ou escolar;

V - divulgar a condição do portador do HIV ou de doente de aids, com intuito de ofender-lhe a dignidade;

VI - recusar ou retardar atendimento de saúde.

Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 2 de junho de 2014; 193º da Independência e 126º da República.

DILMA ROUSSEFF

José Eduardo Cardozo


Arthur Chioro
Ideli Salvatti

Este texto não substitui o publicado no DOU de 3.6.2014


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 754

11. EI Nº 13.146/2015 (ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA)

LEI Nº 13.146, DE 6 DE JULHO DE 2015.

Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência).

A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

LIVRO I

PARTE GERAL

TÍTULO I

DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 1º É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência),
destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades
fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania.

Parágrafo único. Esta Lei tem como base a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu
Protocolo Facultativo, ratificados pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo nº 186, de 9 de julho
de 2008 , em conformidade com o procedimento previsto no § 3º do art. 5º da Constituição da República
Federativa do Brasil , em vigor para o Brasil, no plano jurídico externo, desde 31 de agosto de 2008, e
promulgados pelo Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009 , data de início de sua vigência no plano interno.

Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física,
mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação
plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.

§ 1º A avaliação da deficiência, quando necessária, será biopsicossocial, realizada por equipe multiprofissional
e interdisciplinar e considerará: (Vigência)

I - os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo;

II - os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais;

III - a limitação no desempenho de atividades; e

IV - a restrição de participação.

§ 2º O Poder Executivo criará instrumentos para avaliação da deficiência. (Vide Lei nº 13.846, de
2019) (Vide Lei nº 14.126, de 2021)

Art. 3º Para fins de aplicação desta Lei, consideram-se:

I - acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, de espaços,
mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus
sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 755

privados de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou com mobilidade
reduzida;

II - desenho universal: concepção de produtos, ambientes, programas e serviços a serem usados por todas as
pessoas, sem necessidade de adaptação ou de projeto específico, incluindo os recursos de tecnologia assistiva;

III - tecnologia assistiva ou ajuda técnica: produtos, equipamentos, dispositivos, recursos, metodologias,
estratégias, práticas e serviços que objetivem promover a funcionalidade, relacionada à atividade e à
participação da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida, visando à sua autonomia, independência,
qualidade de vida e inclusão social;

IV - barreiras: qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que limite ou impeça a participação social
da pessoa, bem como o gozo, a fruição e o exercício de seus direitos à acessibilidade, à liberdade de movimento
e de expressão, à comunicação, ao acesso à informação, à compreensão, à circulação com segurança, entre
outros, classificadas em:

a) barreiras urbanísticas: as existentes nas vias e nos espaços públicos e privados abertos ao público ou de
uso coletivo;

b) barreiras arquitetônicas: as existentes nos edifícios públicos e privados;

c) barreiras nos transportes: as existentes nos sistemas e meios de transportes;

d) barreiras nas comunicações e na informação: qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que
dificulte ou impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens e de informações por intermédio de
sistemas de comunicação e de tecnologia da informação;

e) barreiras atitudinais: atitudes ou comportamentos que impeçam ou prejudiquem a participação social da


pessoa com deficiência em igualdade de condições e oportunidades com as demais pessoas;

f) barreiras tecnológicas: as que dificultam ou impedem o acesso da pessoa com deficiência às tecnologias;

V - comunicação: forma de interação dos cidadãos que abrange, entre outras opções, as línguas, inclusive a
Língua Brasileira de Sinais (Libras), a visualização de textos, o Braille, o sistema de sinalização ou de
comunicação tátil, os caracteres ampliados, os dispositivos multimídia, assim como a linguagem simples,
escrita e oral, os sistemas auditivos e os meios de voz digitalizados e os modos, meios e formatos aumentativos
e alternativos de comunicação, incluindo as tecnologias da informação e das comunicações;

VI - adaptações razoáveis: adaptações, modificações e ajustes necessários e adequados que não acarretem
ônus desproporcional e indevido, quando requeridos em cada caso, a fim de assegurar que a pessoa com
deficiência possa gozar ou exercer, em igualdade de condições e oportunidades com as demais pessoas, todos
os direitos e liberdades fundamentais;

VII - elemento de urbanização: quaisquer componentes de obras de urbanização, tais como os referentes a
pavimentação, saneamento, encanamento para esgotos, distribuição de energia elétrica e de gás, iluminação
pública, serviços de comunicação, abastecimento e distribuição de água, paisagismo e os que materializam as
indicações do planejamento urbanístico;

VIII - mobiliário urbano: conjunto de objetos existentes nas vias e nos espaços públicos, superpostos ou
adicionados aos elementos de urbanização ou de edificação, de forma que sua modificação ou seu traslado
não provoque alterações substanciais nesses elementos, tais como semáforos, postes de sinalização e
similares, terminais e pontos de acesso coletivo às telecomunicações, fontes de água, lixeiras, toldos,
marquises, bancos, quiosques e quaisquer outros de natureza análoga;

IX - pessoa com mobilidade reduzida: aquela que tenha, por qualquer motivo, dificuldade de movimentação,
permanente ou temporária, gerando redução efetiva da mobilidade, da flexibilidade, da coordenação motora ou
da percepção, incluindo idoso, gestante, lactante, pessoa com criança de colo e obeso;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 756

X - residências inclusivas: unidades de oferta do Serviço de Acolhimento do Sistema Único de Assistência


Social (Suas) localizadas em áreas residenciais da comunidade, com estruturas adequadas, que possam contar
com apoio psicossocial para o atendimento das necessidades da pessoa acolhida, destinadas a jovens e
adultos com deficiência, em situação de dependência, que não dispõem de condições de autossustentabilidade
e com vínculos familiares fragilizados ou rompidos;

XI - moradia para a vida independente da pessoa com deficiência: moradia com estruturas adequadas capazes
de proporcionar serviços de apoio coletivos e individualizados que respeitem e ampliem o grau de autonomia
de jovens e adultos com deficiência;

XII - atendente pessoal: pessoa, membro ou não da família, que, com ou sem remuneração, assiste ou presta
cuidados básicos e essenciais à pessoa com deficiência no exercício de suas atividades diárias, excluídas as
técnicas ou os procedimentos identificados com profissões legalmente estabelecidas;

XIII - profissional de apoio escolar: pessoa que exerce atividades de alimentação, higiene e locomoção do
estudante com deficiência e atua em todas as atividades escolares nas quais se fizer necessária, em todos os
níveis e modalidades de ensino, em instituições públicas e privadas, excluídas as técnicas ou os procedimentos
identificados com profissões legalmente estabelecidas;

XIV - acompanhante: aquele que acompanha a pessoa com deficiência, podendo ou não desempenhar as
funções de atendente pessoal.

CAPÍTULO II

DA IGUALDADE E DA NÃO DISCRIMINAÇÃO

Art. 4º Toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de oportunidades com as demais pessoas e não
sofrerá nenhuma espécie de discriminação.

§ 1º Considera-se discriminação em razão da deficiência toda forma de distinção, restrição ou exclusão, por
ação ou omissão, que tenha o propósito ou o efeito de prejudicar, impedir ou anular o reconhecimento ou o
exercício dos direitos e das liberdades fundamentais de pessoa com deficiência, incluindo a recusa de
adaptações razoáveis e de fornecimento de tecnologias assistivas.

§ 2º A pessoa com deficiência não está obrigada à fruição de benefícios decorrentes de ação afirmativa.

Art. 5º A pessoa com deficiência será protegida de toda forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, tortura, crueldade, opressão e tratamento desumano ou degradante.

Parágrafo único. Para os fins da proteção mencionada no caput deste artigo, são considerados especialmente
vulneráveis a criança, o adolescente, a mulher e o idoso, com deficiência.

Art. 6º A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para:

I - casar-se e constituir união estável;

II - exercer direitos sexuais e reprodutivos;

III - exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a informações adequadas sobre
reprodução e planejamento familiar;

IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória;

V - exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e

VI - exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou adotando, em igualdade de
oportunidades com as demais pessoas.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 757

Art. 7º É dever de todos comunicar à autoridade competente qualquer forma de ameaça ou de violação aos
direitos da pessoa com deficiência.

Parágrafo único. Se, no exercício de suas funções, os juízes e os tribunais tiverem conhecimento de fatos que
caracterizem as violações previstas nesta Lei, devem remeter peças ao Ministério Público para as providências
cabíveis.

Art. 8º É dever do Estado, da sociedade e da família assegurar à pessoa com deficiência, com prioridade, a
efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à sexualidade, à paternidade e à maternidade, à alimentação,
à habitação, à educação, à profissionalização, ao trabalho, à previdência social, à habilitação e à reabilitação,
ao transporte, à acessibilidade, à cultura, ao desporto, ao turismo, ao lazer, à informação, à comunicação, aos
avanços científicos e tecnológicos, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária,
entre outros decorrentes da Constituição Federal, da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência
e seu Protocolo Facultativo e das leis e de outras normas que garantam seu bem-estar pessoal, social e
econômico.

Seção Única

Do Atendimento Prioritário

Art. 9º A pessoa com deficiência tem direito a receber atendimento prioritário, sobretudo com a finalidade de:

I - proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;

II - atendimento em todas as instituições e serviços de atendimento ao público;

III - disponibilização de recursos, tanto humanos quanto tecnológicos, que garantam atendimento em igualdade
de condições com as demais pessoas;

IV - disponibilização de pontos de parada, estações e terminais acessíveis de transporte coletivo de passageiros


e garantia de segurança no embarque e no desembarque;

V - acesso a informações e disponibilização de recursos de comunicação acessíveis;

VI - recebimento de restituição de imposto de renda;

VII - tramitação processual e procedimentos judiciais e administrativos em que for parte ou interessada, em
todos os atos e diligências.

§ 1º Os direitos previstos neste artigo são extensivos ao acompanhante da pessoa com deficiência ou ao seu
atendente pessoal, exceto quanto ao disposto nos incisos VI e VII deste artigo.

§ 2º Nos serviços de emergência públicos e privados, a prioridade conferida por esta Lei é condicionada aos
protocolos de atendimento médico.

TÍTULO II

DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

CAPÍTULO I

DO DIREITO À VIDA

Art. 10. Compete ao poder público garantir a dignidade da pessoa com deficiência ao longo de toda a vida.

Parágrafo único. Em situações de risco, emergência ou estado de calamidade pública, a pessoa com deficiência
será considerada vulnerável, devendo o poder público adotar medidas para sua proteção e segurança.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 758

Art. 11. A pessoa com deficiência não poderá ser obrigada a se submeter a intervenção clínica ou cirúrgica, a
tratamento ou a institucionalização forçada.

Parágrafo único. O consentimento da pessoa com deficiência em situação de curatela poderá ser suprido, na
forma da lei.

Art. 12. O consentimento prévio, livre e esclarecido da pessoa com deficiência é indispensável para a realização
de tratamento, procedimento, hospitalização e pesquisa científica.

§ 1º Em caso de pessoa com deficiência em situação de curatela, deve ser assegurada sua participação, no
maior grau possível, para a obtenção de consentimento.

§ 2º A pesquisa científica envolvendo pessoa com deficiência em situação de tutela ou de curatela deve ser
realizada, em caráter excepcional, apenas quando houver indícios de benefício direto para sua saúde ou para
a saúde de outras pessoas com deficiência e desde que não haja outra opção de pesquisa de eficácia
comparável com participantes não tutelados ou curatelados.

Art. 13. A pessoa com deficiência somente será atendida sem seu consentimento prévio, livre e esclarecido em
casos de risco de morte e de emergência em saúde, resguardado seu superior interesse e adotadas as
salvaguardas legais cabíveis.

CAPÍTULO II

DO DIREITO À HABILITAÇÃO E À REABILITAÇÃO

Art. 14. O processo de habilitação e de reabilitação é um direito da pessoa com deficiência.

Parágrafo único. O processo de habilitação e de reabilitação tem por objetivo o desenvolvimento de


potencialidades, talentos, habilidades e aptidões físicas, cognitivas, sensoriais, psicossociais, atitudinais,
profissionais e artísticas que contribuam para a conquista da autonomia da pessoa com deficiência e de sua
participação social em igualdade de condições e oportunidades com as demais pessoas.

Art. 15. O processo mencionado no art. 14 desta Lei baseia-se em avaliação multidisciplinar das necessidades,
habilidades e potencialidades de cada pessoa, observadas as seguintes diretrizes:

I - diagnóstico e intervenção precoces;

II - adoção de medidas para compensar perda ou limitação funcional, buscando o desenvolvimento de aptidões;

III - atuação permanente, integrada e articulada de políticas públicas que possibilitem a plena participação social
da pessoa com deficiência;

IV - oferta de rede de serviços articulados, com atuação intersetorial, nos diferentes níveis de complexidade,
para atender às necessidades específicas da pessoa com deficiência;

V - prestação de serviços próximo ao domicílio da pessoa com deficiência, inclusive na zona rural, respeitadas
a organização das Redes de Atenção à Saúde (RAS) nos territórios locais e as normas do Sistema Único de
Saúde (SUS).

Art. 16. Nos programas e serviços de habilitação e de reabilitação para a pessoa com deficiência, são
garantidos:

I - organização, serviços, métodos, técnicas e recursos para atender às características de cada pessoa com
deficiência;

II - acessibilidade em todos os ambientes e serviços;


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 759

III - tecnologia assistiva, tecnologia de reabilitação, materiais e equipamentos adequados e apoio técnico
profissional, de acordo com as especificidades de cada pessoa com deficiência;

IV - capacitação continuada de todos os profissionais que participem dos programas e serviços.

Art. 17. Os serviços do SUS e do Suas deverão promover ações articuladas para garantir à pessoa com
deficiência e sua família a aquisição de informações, orientações e formas de acesso às políticas públicas
disponíveis, com a finalidade de propiciar sua plena participação social.

Parágrafo único. Os serviços de que trata o caput deste artigo podem fornecer informações e orientações nas
áreas de saúde, de educação, de cultura, de esporte, de lazer, de transporte, de previdência social, de
assistência social, de habitação, de trabalho, de empreendedorismo, de acesso ao crédito, de promoção,
proteção e defesa de direitos e nas demais áreas que possibilitem à pessoa com deficiência exercer sua
cidadania.

CAPÍTULO III

DO DIREITO À SAÚDE

Art. 18. É assegurada atenção integral à saúde da pessoa com deficiência em todos os níveis de complexidade,
por intermédio do SUS, garantido acesso universal e igualitário.

§ 1º É assegurada a participação da pessoa com deficiência na elaboração das políticas de saúde a ela
destinadas.

§ 2º É assegurado atendimento segundo normas éticas e técnicas, que regulamentarão a atuação dos
profissionais de saúde e contemplarão aspectos relacionados aos direitos e às especificidades da pessoa com
deficiência, incluindo temas como sua dignidade e autonomia.

§ 3º Aos profissionais que prestam assistência à pessoa com deficiência, especialmente em serviços de
habilitação e de reabilitação, deve ser garantida capacitação inicial e continuada.

§ 4º As ações e os serviços de saúde pública destinados à pessoa com deficiência devem assegurar:

I - diagnóstico e intervenção precoces, realizados por equipe multidisciplinar;

II - serviços de habilitação e de reabilitação sempre que necessários, para qualquer tipo de deficiência, inclusive
para a manutenção da melhor condição de saúde e qualidade de vida;

III - atendimento domiciliar multidisciplinar, tratamento ambulatorial e internação;

IV - campanhas de vacinação;

V - atendimento psicológico, inclusive para seus familiares e atendentes pessoais;

VI - respeito à especificidade, à identidade de gênero e à orientação sexual da pessoa com deficiência;

VII - atenção sexual e reprodutiva, incluindo o direito à fertilização assistida;

VIII - informação adequada e acessível à pessoa com deficiência e a seus familiares sobre sua condição de
saúde;

IX - serviços projetados para prevenir a ocorrência e o desenvolvimento de deficiências e agravos adicionais;

X - promoção de estratégias de capacitação permanente das equipes que atuam no SUS, em todos os níveis
de atenção, no atendimento à pessoa com deficiência, bem como orientação a seus atendentes pessoais;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 760

XI - oferta de órteses, próteses, meios auxiliares de locomoção, medicamentos, insumos e fórmulas nutricionais,
conforme as normas vigentes do Ministério da Saúde.

§ 5º As diretrizes deste artigo aplicam-se também às instituições privadas que participem de forma
complementar do SUS ou que recebam recursos públicos para sua manutenção.

Art. 19. Compete ao SUS desenvolver ações destinadas à prevenção de deficiências por causas evitáveis,
inclusive por meio de:

I - acompanhamento da gravidez, do parto e do puerpério, com garantia de parto humanizado e seguro;

II - promoção de práticas alimentares adequadas e saudáveis, vigilância alimentar e nutricional, prevenção e


cuidado integral dos agravos relacionados à alimentação e nutrição da mulher e da criança;

III - aprimoramento e expansão dos programas de imunização e de triagem neonatal;

IV - identificação e controle da gestante de alto risco.

Art. 20. As operadoras de planos e seguros privados de saúde são obrigadas a garantir à pessoa com
deficiência, no mínimo, todos os serviços e produtos ofertados aos demais clientes.

Art. 21. Quando esgotados os meios de atenção à saúde da pessoa com deficiência no local de residência,
será prestado atendimento fora de domicílio, para fins de diagnóstico e de tratamento, garantidos o transporte
e a acomodação da pessoa com deficiência e de seu acompanhante.

Art. 22. À pessoa com deficiência internada ou em observação é assegurado o direito a acompanhante ou a
atendente pessoal, devendo o órgão ou a instituição de saúde proporcionar condições adequadas para sua
permanência em tempo integral.

§ 1º Na impossibilidade de permanência do acompanhante ou do atendente pessoal junto à pessoa com


deficiência, cabe ao profissional de saúde responsável pelo tratamento justificá-la por escrito.

§ 2º Na ocorrência da impossibilidade prevista no § 1º deste artigo, o órgão ou a instituição de saúde deve


adotar as providências cabíveis para suprir a ausência do acompanhante ou do atendente pessoal.

Art. 23. São vedadas todas as formas de discriminação contra a pessoa com deficiência, inclusive por meio de
cobrança de valores diferenciados por planos e seguros privados de saúde, em razão de sua condição.

Art. 24. É assegurado à pessoa com deficiência o acesso aos serviços de saúde, tanto públicos como privados,
e às informações prestadas e recebidas, por meio de recursos de tecnologia assistiva e de todas as formas de
comunicação previstas no inciso V do art. 3º desta Lei.

Art. 25. Os espaços dos serviços de saúde, tanto públicos quanto privados, devem assegurar o acesso da
pessoa com deficiência, em conformidade com a legislação em vigor, mediante a remoção de barreiras, por
meio de projetos arquitetônico, de ambientação de interior e de comunicação que atendam às especificidades
das pessoas com deficiência física, sensorial, intelectual e mental.

Art. 26. Os casos de suspeita ou de confirmação de violência praticada contra a pessoa com deficiência serão
objeto de notificação compulsória pelos serviços de saúde públicos e privados à autoridade policial e ao
Ministério Público, além dos Conselhos dos Direitos da Pessoa com Deficiência.

Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, considera-se violência contra a pessoa com deficiência qualquer
ação ou omissão, praticada em local público ou privado, que lhe cause morte ou dano ou sofrimento físico ou
psicológico.

CAPÍTULO IV

DO DIREITO À EDUCAÇÃO
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 761

Art. 27. A educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegurados sistema educacional inclusivo em
todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível
de seus talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características,
interesses e necessidades de aprendizagem.

Parágrafo único. É dever do Estado, da família, da comunidade escolar e da sociedade assegurar educação
de qualidade à pessoa com deficiência, colocando-a a salvo de toda forma de violência, negligência e
discriminação.

Art. 28. Incumbe ao poder público assegurar, criar, desenvolver, implementar, incentivar, acompanhar e avaliar:

I - sistema educacional inclusivo em todos os níveis e modalidades, bem como o aprendizado ao longo de toda
a vida;

II - aprimoramento dos sistemas educacionais, visando a garantir condições de acesso, permanência,


participação e aprendizagem, por meio da oferta de serviços e de recursos de acessibilidade que eliminem as
barreiras e promovam a inclusão plena;

III - projeto pedagógico que institucionalize o atendimento educacional especializado, assim como os demais
serviços e adaptações razoáveis, para atender às características dos estudantes com deficiência e garantir o
seu pleno acesso ao currículo em condições de igualdade, promovendo a conquista e o exercício de sua
autonomia;

IV - oferta de educação bilíngue, em Libras como primeira língua e na modalidade escrita da língua portuguesa
como segunda língua, em escolas e classes bilíngues e em escolas inclusivas;

V - adoção de medidas individualizadas e coletivas em ambientes que maximizem o desenvolvimento


acadêmico e social dos estudantes com deficiência, favorecendo o acesso, a permanência, a participação e a
aprendizagem em instituições de ensino;

VI - pesquisas voltadas para o desenvolvimento de novos métodos e técnicas pedagógicas, de materiais


didáticos, de equipamentos e de recursos de tecnologia assistiva;

VII - planejamento de estudo de caso, de elaboração de plano de atendimento educacional especializado, de


organização de recursos e serviços de acessibilidade e de disponibilização e usabilidade pedagógica de
recursos de tecnologia assistiva;

VIII - participação dos estudantes com deficiência e de suas famílias nas diversas instâncias de atuação da
comunidade escolar;

IX - adoção de medidas de apoio que favoreçam o desenvolvimento dos aspectos linguísticos, culturais,
vocacionais e profissionais, levando-se em conta o talento, a criatividade, as habilidades e os interesses do
estudante com deficiência;

X - adoção de práticas pedagógicas inclusivas pelos programas de formação inicial e continuada de professores
e oferta de formação continuada para o atendimento educacional especializado;

XI - formação e disponibilização de professores para o atendimento educacional especializado, de tradutores


e intérpretes da Libras, de guias intérpretes e de profissionais de apoio;

XII - oferta de ensino da Libras, do Sistema Braille e de uso de recursos de tecnologia assistiva, de forma a
ampliar habilidades funcionais dos estudantes, promovendo sua autonomia e participação;

XIII - acesso à educação superior e à educação profissional e tecnológica em igualdade de oportunidades e


condições com as demais pessoas;

XIV - inclusão em conteúdos curriculares, em cursos de nível superior e de educação profissional técnica e
tecnológica, de temas relacionados à pessoa com deficiência nos respectivos campos de conhecimento;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 762

XV - acesso da pessoa com deficiência, em igualdade de condições, a jogos e a atividades recreativas,


esportivas e de lazer, no sistema escolar;

XVI - acessibilidade para todos os estudantes, trabalhadores da educação e demais integrantes da comunidade
escolar às edificações, aos ambientes e às atividades concernentes a todas as modalidades, etapas e níveis
de ensino;

XVII - oferta de profissionais de apoio escolar;

XVIII - articulação intersetorial na implementação de políticas públicas.

§ 1º Às instituições privadas, de qualquer nível e modalidade de ensino, aplica-se obrigatoriamente o disposto


nos incisos I, II, III, V, VII, VIII, IX, X, XI, XII, XIII, XIV, XV, XVI, XVII e XVIII do caput deste artigo, sendo vedada
a cobrança de valores adicionais de qualquer natureza em suas mensalidades, anuidades e matrículas no
cumprimento dessas determinações.

§ 2º Na disponibilização de tradutores e intérpretes da Libras a que se refere o inciso XI do caput deste artigo,
deve-se observar o seguinte:

I - os tradutores e intérpretes da Libras atuantes na educação básica devem, no mínimo, possuir ensino médio
completo e certificado de proficiência na Libras; (Vigência)

II - os tradutores e intérpretes da Libras, quando direcionados à tarefa de interpretar nas salas de aula dos
cursos de graduação e pós-graduação, devem possuir nível superior, com habilitação, prioritariamente, em
Tradução e Interpretação em Libras. (Vigência)

Art. 29. (VETADO).

Art. 30. Nos processos seletivos para ingresso e permanência nos cursos oferecidos pelas instituições de
ensino superior e de educação profissional e tecnológica, públicas e privadas, devem ser adotadas as seguintes
medidas:

I - atendimento preferencial à pessoa com deficiência nas dependências das Instituições de Ensino Superior
(IES) e nos serviços;

II - disponibilização de formulário de inscrição de exames com campos específicos para que o candidato com
deficiência informe os recursos de acessibilidade e de tecnologia assistiva necessários para sua participação;

III - disponibilização de provas em formatos acessíveis para atendimento às necessidades específicas do


candidato com deficiência;

IV - disponibilização de recursos de acessibilidade e de tecnologia assistiva adequados, previamente solicitados


e escolhidos pelo candidato com deficiência;

V - dilação de tempo, conforme demanda apresentada pelo candidato com deficiência, tanto na realização de
exame para seleção quanto nas atividades acadêmicas, mediante prévia solicitação e comprovação da
necessidade;

VI - adoção de critérios de avaliação das provas escritas, discursivas ou de redação que considerem a
singularidade linguística da pessoa com deficiência, no domínio da modalidade escrita da língua portuguesa;

VII - tradução completa do edital e de suas retificações em Libras.

CAPÍTULO V

DO DIREITO À MORADIA
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 763

Art. 31. A pessoa com deficiência tem direito à moradia digna, no seio da família natural ou substituta, com seu
cônjuge ou companheiro ou desacompanhada, ou em moradia para a vida independente da pessoa com
deficiência, ou, ainda, em residência inclusiva.

§ 1º O poder público adotará programas e ações estratégicas para apoiar a criação e a manutenção de moradia
para a vida independente da pessoa com deficiência.

§ 2º A proteção integral na modalidade de residência inclusiva será prestada no âmbito do Suas à pessoa com
deficiência em situação de dependência que não disponha de condições de autossustentabilidade, com
vínculos familiares fragilizados ou rompidos.

Art. 32. Nos programas habitacionais, públicos ou subsidiados com recursos públicos, a pessoa com deficiência
ou o seu responsável goza de prioridade na aquisição de imóvel para moradia própria, observado o seguinte:

I - reserva de, no mínimo, 3% (três por cento) das unidades habitacionais para pessoa com deficiência;

II - (VETADO);

III - em caso de edificação multifamiliar, garantia de acessibilidade nas áreas de uso comum e nas unidades
habitacionais no piso térreo e de acessibilidade ou de adaptação razoável nos demais pisos;

IV - disponibilização de equipamentos urbanos comunitários acessíveis;

V - elaboração de especificações técnicas no projeto que permitam a instalação de elevadores.

§ 1º O direito à prioridade, previsto no caput deste artigo, será reconhecido à pessoa com deficiência
beneficiária apenas uma vez.

§ 2º Nos programas habitacionais públicos, os critérios de financiamento devem ser compatíveis com os
rendimentos da pessoa com deficiência ou de sua família.

§ 3º Caso não haja pessoa com deficiência interessada nas unidades habitacionais reservadas por força do
disposto no inciso I do caput deste artigo, as unidades não utilizadas serão disponibilizadas às demais
pessoas.

Art. 33. Ao poder público compete:

I - adotar as providências necessárias para o cumprimento do disposto nos arts. 31 e 32 desta Lei; e

II - divulgar, para os agentes interessados e beneficiários, a política habitacional prevista nas legislações
federal, estaduais, distrital e municipais, com ênfase nos dispositivos sobre acessibilidade.

CAPÍTULO VI

DO DIREITO AO TRABALHO

Seção I

Disposições Gerais

Art. 34. A pessoa com deficiência tem direito ao trabalho de sua livre escolha e aceitação, em ambiente
acessível e inclusivo, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas.

§ 1º As pessoas jurídicas de direito público, privado ou de qualquer natureza são obrigadas a garantir ambientes
de trabalho acessíveis e inclusivos.

§ 2º A pessoa com deficiência tem direito, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, a condições
justas e favoráveis de trabalho, incluindo igual remuneração por trabalho de igual valor.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 764

§ 3º É vedada restrição ao trabalho da pessoa com deficiência e qualquer discriminação em razão de sua
condição, inclusive nas etapas de recrutamento, seleção, contratação, admissão, exames admissional e
periódico, permanência no emprego, ascensão profissional e reabilitação profissional, bem como exigência de
aptidão plena.

§ 4º A pessoa com deficiência tem direito à participação e ao acesso a cursos, treinamentos, educação
continuada, planos de carreira, promoções, bonificações e incentivos profissionais oferecidos pelo empregador,
em igualdade de oportunidades com os demais empregados.

§ 5º É garantida aos trabalhadores com deficiência acessibilidade em cursos de formação e de capacitação.

Art. 35. É finalidade primordial das políticas públicas de trabalho e emprego promover e garantir condições de
acesso e de permanência da pessoa com deficiência no campo de trabalho.

Parágrafo único. Os programas de estímulo ao empreendedorismo e ao trabalho autônomo, incluídos o


cooperativismo e o associativismo, devem prever a participação da pessoa com deficiência e a disponibilização
de linhas de crédito, quando necessárias.

Seção II

Da Habilitação Profissional e Reabilitação Profissional

Art. 36. O poder público deve implementar serviços e programas completos de habilitação profissional e de
reabilitação profissional para que a pessoa com deficiência possa ingressar, continuar ou retornar ao campo
do trabalho, respeitados sua livre escolha, sua vocação e seu interesse.

§ 1º Equipe multidisciplinar indicará, com base em critérios previstos no § 1º do art. 2º desta Lei, programa de
habilitação ou de reabilitação que possibilite à pessoa com deficiência restaurar sua capacidade e habilidade
profissional ou adquirir novas capacidades e habilidades de trabalho.

§ 2º A habilitação profissional corresponde ao processo destinado a propiciar à pessoa com deficiência


aquisição de conhecimentos, habilidades e aptidões para exercício de profissão ou de ocupação, permitindo
nível suficiente de desenvolvimento profissional para ingresso no campo de trabalho.

§ 3º Os serviços de habilitação profissional, de reabilitação profissional e de educação profissional devem ser


dotados de recursos necessários para atender a toda pessoa com deficiência, independentemente de sua
característica específica, a fim de que ela possa ser capacitada para trabalho que lhe seja adequado e ter
perspectivas de obtê-lo, de conservá-lo e de nele progredir.

§ 4º Os serviços de habilitação profissional, de reabilitação profissional e de educação profissional deverão ser


oferecidos em ambientes acessíveis e inclusivos.

§ 5º A habilitação profissional e a reabilitação profissional devem ocorrer articuladas com as redes públicas e
privadas, especialmente de saúde, de ensino e de assistência social, em todos os níveis e modalidades, em
entidades de formação profissional ou diretamente com o empregador.

§ 6º A habilitação profissional pode ocorrer em empresas por meio de prévia formalização do contrato de
emprego da pessoa com deficiência, que será considerada para o cumprimento da reserva de vagas prevista
em lei, desde que por tempo determinado e concomitante com a inclusão profissional na empresa, observado
o disposto em regulamento.

§ 7º A habilitação profissional e a reabilitação profissional atenderão à pessoa com deficiência.

Seção III

Da Inclusão da Pessoa com Deficiência no Trabalho


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 765

Art. 37. Constitui modo de inclusão da pessoa com deficiência no trabalho a colocação competitiva, em
igualdade de oportunidades com as demais pessoas, nos termos da legislação trabalhista e previdenciária, na
qual devem ser atendidas as regras de acessibilidade, o fornecimento de recursos de tecnologia assistiva e a
adaptação razoável no ambiente de trabalho.

Parágrafo único. A colocação competitiva da pessoa com deficiência pode ocorrer por meio de trabalho com
apoio, observadas as seguintes diretrizes:

I - prioridade no atendimento à pessoa com deficiência com maior dificuldade de inserção no campo de trabalho;

II - provisão de suportes individualizados que atendam a necessidades específicas da pessoa com deficiência,
inclusive a disponibilização de recursos de tecnologia assistiva, de agente facilitador e de apoio no ambiente
de trabalho;

III - respeito ao perfil vocacional e ao interesse da pessoa com deficiência apoiada;

IV - oferta de aconselhamento e de apoio aos empregadores, com vistas à definição de estratégias de inclusão
e de superação de barreiras, inclusive atitudinais;

V - realização de avaliações periódicas;

VI - articulação intersetorial das políticas públicas;

VII - possibilidade de participação de organizações da sociedade civil.

Art. 38. A entidade contratada para a realização de processo seletivo público ou privado para cargo, função ou
emprego está obrigada à observância do disposto nesta Lei e em outras normas de acessibilidade vigentes.

CAPÍTULO VII

DO DIREITO À ASSISTÊNCIA SOCIAL

Art. 39. Os serviços, os programas, os projetos e os benefícios no âmbito da política pública de assistência
social à pessoa com deficiência e sua família têm como objetivo a garantia da segurança de renda, da acolhida,
da habilitação e da reabilitação, do desenvolvimento da autonomia e da convivência familiar e comunitária, para
a promoção do acesso a direitos e da plena participação social.

§ 1º A assistência social à pessoa com deficiência, nos termos do caput deste artigo, deve envolver conjunto
articulado de serviços do âmbito da Proteção Social Básica e da Proteção Social Especial, ofertados pelo Suas,
para a garantia de seguranças fundamentais no enfrentamento de situações de vulnerabilidade e de risco, por
fragilização de vínculos e ameaça ou violação de direitos.

§ 2º Os serviços socioassistenciais destinados à pessoa com deficiência em situação de dependência deverão


contar com cuidadores sociais para prestar-lhe cuidados básicos e instrumentais.

Art. 40. É assegurado à pessoa com deficiência que não possua meios para prover sua subsistência nem de
tê-la provida por sua família o benefício mensal de 1 (um) salário-mínimo, nos termos da Lei nº 8.742, de 7 de
dezembro de 1993 .

CAPÍTULO VIII

DO DIREITO À PREVIDÊNCIA SOCIAL

Art. 41. A pessoa com deficiência segurada do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) tem direito à
aposentadoria nos termos da Lei Complementar nº 142, de 8 de maio de 2013 .

CAPÍTULO IX
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 766

DO DIREITO À CULTURA, AO ESPORTE, AO TURISMO E AO LAZER

Art. 42. A pessoa com deficiência tem direito à cultura, ao esporte, ao turismo e ao lazer em igualdade de
oportunidades com as demais pessoas, sendo-lhe garantido o acesso:

I - a bens culturais em formato acessível;

II - a programas de televisão, cinema, teatro e outras atividades culturais e desportivas em formato acessível;
e

III - a monumentos e locais de importância cultural e a espaços que ofereçam serviços ou eventos culturais e
esportivos.

§ 1º É vedada a recusa de oferta de obra intelectual em formato acessível à pessoa com deficiência, sob
qualquer argumento, inclusive sob a alegação de proteção dos direitos de propriedade intelectual.

§ 2º O poder público deve adotar soluções destinadas à eliminação, à redução ou à superação de barreiras
para a promoção do acesso a todo patrimônio cultural, observadas as normas de acessibilidade, ambientais e
de proteção do patrimônio histórico e artístico nacional.

Art. 43. O poder público deve promover a participação da pessoa com deficiência em atividades artísticas,
intelectuais, culturais, esportivas e recreativas, com vistas ao seu protagonismo, devendo:

I - incentivar a provisão de instrução, de treinamento e de recursos adequados, em igualdade de oportunidades


com as demais pessoas;

II - assegurar acessibilidade nos locais de eventos e nos serviços prestados por pessoa ou entidade envolvida
na organização das atividades de que trata este artigo; e

III - assegurar a participação da pessoa com deficiência em jogos e atividades recreativas, esportivas, de lazer,
culturais e artísticas, inclusive no sistema escolar, em igualdade de condições com as demais pessoas.

Art. 44. Nos teatros, cinemas, auditórios, estádios, ginásios de esporte, locais de espetáculos e de conferências
e similares, serão reservados espaços livres e assentos para a pessoa com deficiência, de acordo com a
capacidade de lotação da edificação, observado o disposto em regulamento.

§ 1º Os espaços e assentos a que se refere este artigo devem ser distribuídos pelo recinto em locais diversos,
de boa visibilidade, em todos os setores, próximos aos corredores, devidamente sinalizados, evitando-se áreas
segregadas de público e obstrução das saídas, em conformidade com as normas de acessibilidade.

§ 2º No caso de não haver comprovada procura pelos assentos reservados, esses podem, excepcionalmente,
ser ocupados por pessoas sem deficiência ou que não tenham mobilidade reduzida, observado o disposto em
regulamento.

§ 3º Os espaços e assentos a que se refere este artigo devem situar-se em locais que garantam a acomodação
de, no mínimo, 1 (um) acompanhante da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida, resguardado o
direito de se acomodar proximamente a grupo familiar e comunitário.

§ 4º Nos locais referidos no caput deste artigo, deve haver, obrigatoriamente, rotas de fuga e saídas de
emergência acessíveis, conforme padrões das normas de acessibilidade, a fim de permitir a saída segura da
pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida, em caso de emergência.

§ 5º Todos os espaços das edificações previstas no caput deste artigo devem atender às normas de
acessibilidade em vigor.

§ 6º As salas de cinema devem oferecer, em todas as sessões, recursos de acessibilidade para a pessoa com
deficiência. (Vigência)
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 767

§ 7º O valor do ingresso da pessoa com deficiência não poderá ser superior ao valor cobrado das demais
pessoas.

Art. 45. Os hotéis, pousadas e similares devem ser construídos observando-se os princípios do desenho
universal, além de adotar todos os meios de acessibilidade, conforme legislação em
vigor. (Vigência) (Reglamento)

§ 1º Os estabelecimentos já existentes deverão disponibilizar, pelo menos, 10% (dez por cento) de seus
dormitórios acessíveis, garantida, no mínimo, 1 (uma) unidade acessível.

§ 2º Os dormitórios mencionados no § 1º deste artigo deverão ser localizados em rotas acessíveis.

CAPÍTULO X

DO DIREITO AO TRANSPORTE E À MOBILIDADE

Art. 46. O direito ao transporte e à mobilidade da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida será
assegurado em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, por meio de identificação e de eliminação
de todos os obstáculos e barreiras ao seu acesso.

§ 1º Para fins de acessibilidade aos serviços de transporte coletivo terrestre, aquaviário e aéreo, em todas as
jurisdições, consideram-se como integrantes desses serviços os veículos, os terminais, as estações, os pontos
de parada, o sistema viário e a prestação do serviço.

§ 2º São sujeitas ao cumprimento das disposições desta Lei, sempre que houver interação com a matéria nela
regulada, a outorga, a concessão, a permissão, a autorização, a renovação ou a habilitação de linhas e de
serviços de transporte coletivo.

§ 3º Para colocação do símbolo internacional de acesso nos veículos, as empresas de transporte coletivo de
passageiros dependem da certificação de acessibilidade emitida pelo gestor público responsável pela
prestação do serviço.

Art. 47. Em todas as áreas de estacionamento aberto ao público, de uso público ou privado de uso coletivo e
em vias públicas, devem ser reservadas vagas próximas aos acessos de circulação de pedestres, devidamente
sinalizadas, para veículos que transportem pessoa com deficiência com comprometimento de mobilidade,
desde que devidamente identificados.

§ 1º As vagas a que se refere o caput deste artigo devem equivaler a 2% (dois por cento) do total, garantida,
no mínimo, 1 (uma) vaga devidamente sinalizada e com as especificações de desenho e traçado de acordo
com as normas técnicas vigentes de acessibilidade.

§ 2º Os veículos estacionados nas vagas reservadas devem exibir, em local de ampla visibilidade, a credencial
de beneficiário, a ser confeccionada e fornecida pelos órgãos de trânsito, que disciplinarão suas características
e condições de uso.

§ 3º A utilização indevida das vagas de que trata este artigo sujeita os infratores às sanções previstas no inciso
XVII do art. 181 da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 (Código de Trânsito Brasileiro) .

§ 3º A utilização indevida das vagas de que trata este artigo sujeita os infratores às sanções previstas no inciso
XX do art. 181 da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 (Código de Trânsito Brasileiro) . (Redação
dada pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)

§ 4º A credencial a que se refere o § 2º deste artigo é vinculada à pessoa com deficiência que possui
comprometimento de mobilidade e é válida em todo o território nacional.

Art. 48. Os veículos de transporte coletivo terrestre, aquaviário e aéreo, as instalações, as estações, os portos
e os terminais em operação no País devem ser acessíveis, de forma a garantir o seu uso por todas as pessoas.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 768

§ 1º Os veículos e as estruturas de que trata o caput deste artigo devem dispor de sistema de comunicação
acessível que disponibilize informações sobre todos os pontos do itinerário.

§ 2º São asseguradas à pessoa com deficiência prioridade e segurança nos procedimentos de embarque e de
desembarque nos veículos de transporte coletivo, de acordo com as normas técnicas.

§ 3º Para colocação do símbolo internacional de acesso nos veículos, as empresas de transporte coletivo de
passageiros dependem da certificação de acessibilidade emitida pelo gestor público responsável pela
prestação do serviço.

Art. 49. As empresas de transporte de fretamento e de turismo, na renovação de suas frotas, são obrigadas ao
cumprimento do disposto nos arts. 46 e 48 desta Lei. (Vigência)

Art. 50. O poder público incentivará a fabricação de veículos acessíveis e a sua utilização como táxis e vans ,
de forma a garantir o seu uso por todas as pessoas.

Art. 51. As frotas de empresas de táxi devem reservar 10% (dez por cento) de seus veículos acessíveis à
pessoa com deficiência. (Vide Decreto nº 9.762, de 2019) (Vigência)

§ 1º É proibida a cobrança diferenciada de tarifas ou de valores adicionais pelo serviço de táxi prestado à
pessoa com deficiência.

§ 2º O poder público é autorizado a instituir incentivos fiscais com vistas a possibilitar a acessibilidade dos
veículos a que se refere o caput deste artigo.

Art. 52. As locadoras de veículos são obrigadas a oferecer 1 (um) veículo adaptado para uso de pessoa com
deficiência, a cada conjunto de 20 (vinte) veículos de sua frota. (Vide Decreto nº 9.762, de 2019) (Vigência)

Parágrafo único. O veículo adaptado deverá ter, no mínimo, câmbio automático, direção hidráulica, vidros
elétricos e comandos manuais de freio e de embreagem.

TÍTULO III

DA ACESSIBILIDADE

CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 53. A acessibilidade é direito que garante à pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida viver de
forma independente e exercer seus direitos de cidadania e de participação social.

Art. 54. São sujeitas ao cumprimento das disposições desta Lei e de outras normas relativas à acessibilidade,
sempre que houver interação com a matéria nela regulada:

I - a aprovação de projeto arquitetônico e urbanístico ou de comunicação e informação, a fabricação de veículos


de transporte coletivo, a prestação do respectivo serviço e a execução de qualquer tipo de obra, quando tenham
destinação pública ou coletiva;

II - a outorga ou a renovação de concessão, permissão, autorização ou habilitação de qualquer natureza;

III - a aprovação de financiamento de projeto com utilização de recursos públicos, por meio de renúncia ou de
incentivo fiscal, contrato, convênio ou instrumento congênere; e

IV - a concessão de aval da União para obtenção de empréstimo e de financiamento internacionais por entes
públicos ou privados.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 769

Art. 55. A concepção e a implantação de projetos que tratem do meio físico, de transporte, de informação e
comunicação, inclusive de sistemas e tecnologias da informação e comunicação, e de outros serviços,
equipamentos e instalações abertos ao público, de uso público ou privado de uso coletivo, tanto na zona urbana
como na rural, devem atender aos princípios do desenho universal, tendo como referência as normas de
acessibilidade.

§ 1º O desenho universal será sempre tomado como regra de caráter geral.

§ 2º Nas hipóteses em que comprovadamente o desenho universal não possa ser empreendido, deve ser
adotada adaptação razoável.

§ 3º Caberá ao poder público promover a inclusão de conteúdos temáticos referentes ao desenho universal
nas diretrizes curriculares da educação profissional e tecnológica e do ensino superior e na formação das
carreiras de Estado.

§ 4º Os programas, os projetos e as linhas de pesquisa a serem desenvolvidos com o apoio de organismos


públicos de auxílio à pesquisa e de agências de fomento deverão incluir temas voltados para o desenho
universal.

§ 5º Desde a etapa de concepção, as políticas públicas deverão considerar a adoção do desenho universal.

Art. 56. A construção, a reforma, a ampliação ou a mudança de uso de edificações abertas ao público, de uso
público ou privadas de uso coletivo deverão ser executadas de modo a serem acessíveis.

§ 1º As entidades de fiscalização profissional das atividades de Engenharia, de Arquitetura e correlatas, ao


anotarem a responsabilidade técnica de projetos, devem exigir a responsabilidade profissional declarada de
atendimento às regras de acessibilidade previstas em legislação e em normas técnicas pertinentes.

§ 2º Para a aprovação, o licenciamento ou a emissão de certificado de projeto executivo arquitetônico,


urbanístico e de instalações e equipamentos temporários ou permanentes e para o licenciamento ou a emissão
de certificado de conclusão de obra ou de serviço, deve ser atestado o atendimento às regras de acessibilidade.

§ 3º O poder público, após certificar a acessibilidade de edificação ou de serviço, determinará a colocação, em


espaços ou em locais de ampla visibilidade, do símbolo internacional de acesso, na forma prevista em
legislação e em normas técnicas correlatas.

Art. 57. As edificações públicas e privadas de uso coletivo já existentes devem garantir acessibilidade à pessoa
com deficiência em todas as suas dependências e serviços, tendo como referência as normas de acessibilidade
vigentes.

Art. 58. O projeto e a construção de edificação de uso privado multifamiliar devem atender aos preceitos de
acessibilidade, na forma regulamentar. (Regulamento)

§ 1º As construtoras e incorporadoras responsáveis pelo projeto e pela construção das edificações a que se
refere o caput deste artigo devem assegurar percentual mínimo de suas unidades internamente acessíveis, na
forma regulamentar.

§ 2º É vedada a cobrança de valores adicionais para a aquisição de unidades internamente acessíveis a que
se refere o § 1º deste artigo.

Art. 59. Em qualquer intervenção nas vias e nos espaços públicos, o poder público e as empresas
concessionárias responsáveis pela execução das obras e dos serviços devem garantir, de forma segura, a
fluidez do trânsito e a livre circulação e acessibilidade das pessoas, durante e após sua execução.

Art. 60. Orientam-se, no que couber, pelas regras de acessibilidade previstas em legislação e em normas
técnicas, observado o disposto na Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000 , nº 10.257, de 10 de julho de
2001 , e nº 12.587, de 3 de janeiro de 2012 :
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 770

I - os planos diretores municipais, os planos diretores de transporte e trânsito, os planos de mobilidade urbana
e os planos de preservação de sítios históricos elaborados ou atualizados a partir da publicação desta Lei;

II - os códigos de obras, os códigos de postura, as leis de uso e ocupação do solo e as leis do sistema viário;

III - os estudos prévios de impacto de vizinhança;

IV - as atividades de fiscalização e a imposição de sanções; e

V - a legislação referente à prevenção contra incêndio e pânico.

§ 1º A concessão e a renovação de alvará de funcionamento para qualquer atividade são condicionadas à


observação e à certificação das regras de acessibilidade.

§ 2º A emissão de carta de habite-se ou de habilitação equivalente e sua renovação, quando esta tiver sido
emitida anteriormente às exigências de acessibilidade, é condicionada à observação e à certificação das regras
de acessibilidade.

Art. 61. A formulação, a implementação e a manutenção das ações de acessibilidade atenderão às seguintes
premissas básicas:

I - eleição de prioridades, elaboração de cronograma e reserva de recursos para implementação das ações; e

II - planejamento contínuo e articulado entre os setores envolvidos.

Art. 62. É assegurado à pessoa com deficiência, mediante solicitação, o recebimento de contas, boletos,
recibos, extratos e cobranças de tributos em formato acessível.

CAPÍTULO II

DO ACESSO À INFORMAÇÃO E À COMUNICAÇÃO

Art. 63. É obrigatória a acessibilidade nos sítios da internet mantidos por empresas com sede ou representação
comercial no País ou por órgãos de governo, para uso da pessoa com deficiência, garantindo-lhe acesso às
informações disponíveis, conforme as melhores práticas e diretrizes de acessibilidade adotadas
internacionalmente.

§ 1º Os sítios devem conter símbolo de acessibilidade em destaque.

§ 2º Telecentros comunitários que receberem recursos públicos federais para seu custeio ou sua instalação
e lan houses devem possuir equipamentos e instalações acessíveis.

§ 3º Os telecentros e as lan houses de que trata o § 2º deste artigo devem garantir, no mínimo, 10% (dez por
cento) de seus computadores com recursos de acessibilidade para pessoa com deficiência visual, sendo
assegurado pelo menos 1 (um) equipamento, quando o resultado percentual for inferior a 1 (um).

Art. 64. A acessibilidade nos sítios da internet de que trata o art. 63 desta Lei deve ser observada para obtenção
do financiamento de que trata o inciso III do art. 54 desta Lei.

Art. 65. As empresas prestadoras de serviços de telecomunicações deverão garantir pleno acesso à pessoa
com deficiência, conforme regulamentação específica.

Art. 66. Cabe ao poder público incentivar a oferta de aparelhos de telefonia fixa e móvel celular com
acessibilidade que, entre outras tecnologias assistivas, possuam possibilidade de indicação e de ampliação
sonoras de todas as operações e funções disponíveis.

Art. 67. Os serviços de radiodifusão de sons e imagens devem permitir o uso dos seguintes recursos, entre
outros:
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 771

I - subtitulação por meio de legenda oculta;

II - janela com intérprete da Libras;

III - audiodescrição.

Art. 68. O poder público deve adotar mecanismos de incentivo à produção, à edição, à difusão, à distribuição e
à comercialização de livros em formatos acessíveis, inclusive em publicações da administração pública ou
financiadas com recursos públicos, com vistas a garantir à pessoa com deficiência o direito de acesso à leitura,
à informação e à comunicação.

§ 1º Nos editais de compras de livros, inclusive para o abastecimento ou a atualização de acervos de bibliotecas
em todos os níveis e modalidades de educação e de bibliotecas públicas, o poder público deverá adotar
cláusulas de impedimento à participação de editoras que não ofertem sua produção também em formatos
acessíveis.

§ 2º Consideram-se formatos acessíveis os arquivos digitais que possam ser reconhecidos e acessados
por softwares leitores de telas ou outras tecnologias assistivas que vierem a substituí-los, permitindo leitura
com voz sintetizada, ampliação de caracteres, diferentes contrastes e impressão em Braille.

§ 3º O poder público deve estimular e apoiar a adaptação e a produção de artigos científicos em formato
acessível, inclusive em Libras.

Art. 69. O poder público deve assegurar a disponibilidade de informações corretas e claras sobre os diferentes
produtos e serviços ofertados, por quaisquer meios de comunicação empregados, inclusive em ambiente
virtual, contendo a especificação correta de quantidade, qualidade, características, composição e preço, bem
como sobre os eventuais riscos à saúde e à segurança do consumidor com deficiência, em caso de sua
utilização, aplicando-se, no que couber, os arts. 30 a 41 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 .

§ 1º Os canais de comercialização virtual e os anúncios publicitários veiculados na imprensa escrita, na internet,


no rádio, na televisão e nos demais veículos de comunicação abertos ou por assinatura devem disponibilizar,
conforme a compatibilidade do meio, os recursos de acessibilidade de que trata o art. 67 desta Lei, a expensas
do fornecedor do produto ou do serviço, sem prejuízo da observância do disposto nos arts. 36 a 38 da Lei nº
8.078, de 11 de setembro de 1990 .

§ 2º Os fornecedores devem disponibilizar, mediante solicitação, exemplares de bulas, prospectos, textos ou


qualquer outro tipo de material de divulgação em formato acessível.

Art. 70. As instituições promotoras de congressos, seminários, oficinas e demais eventos de natureza científico-
cultural devem oferecer à pessoa com deficiência, no mínimo, os recursos de tecnologia assistiva previstos no
art. 67 desta Lei.

Art. 71. Os congressos, os seminários, as oficinas e os demais eventos de natureza científico-cultural


promovidos ou financiados pelo poder público devem garantir as condições de acessibilidade e os recursos de
tecnologia assistiva.

Art. 72. Os programas, as linhas de pesquisa e os projetos a serem desenvolvidos com o apoio de agências de
financiamento e de órgãos e entidades integrantes da administração pública que atuem no auxílio à pesquisa
devem contemplar temas voltados à tecnologia assistiva.

Art. 73. Caberá ao poder público, diretamente ou em parceria com organizações da sociedade civil, promover
a capacitação de tradutores e intérpretes da Libras, de guias intérpretes e de profissionais habilitados em
Braille, audiodescrição, estenotipia e legendagem.

CAPÍTULO III

DA TECNOLOGIA ASSISTIVA
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 772

Art. 74. É garantido à pessoa com deficiência acesso a produtos, recursos, estratégias, práticas, processos,
métodos e serviços de tecnologia assistiva que maximizem sua autonomia, mobilidade pessoal e qualidade de
vida.

Art. 75. O poder público desenvolverá plano específico de medidas, a ser renovado em cada período de 4
(quatro) anos, com a finalidade de: (Regulamento)

I - facilitar o acesso a crédito especializado, inclusive com oferta de linhas de crédito subsidiadas, específicas
para aquisição de tecnologia assistiva;

II - agilizar, simplificar e priorizar procedimentos de importação de tecnologia assistiva, especialmente as


questões atinentes a procedimentos alfandegários e sanitários;

III - criar mecanismos de fomento à pesquisa e à produção nacional de tecnologia assistiva, inclusive por meio
de concessão de linhas de crédito subsidiado e de parcerias com institutos de pesquisa oficiais;

IV - eliminar ou reduzir a tributação da cadeia produtiva e de importação de tecnologia assistiva;

V - facilitar e agilizar o processo de inclusão de novos recursos de tecnologia assistiva no rol de produtos
distribuídos no âmbito do SUS e por outros órgãos governamentais.

Parágrafo único. Para fazer cumprir o disposto neste artigo, os procedimentos constantes do plano específico
de medidas deverão ser avaliados, pelo menos, a cada 2 (dois) anos.

CAPÍTULO IV

DO DIREITO À PARTICIPAÇÃO NA VIDA PÚBLICA E POLÍTICA

Art. 76. O poder público deve garantir à pessoa com deficiência todos os direitos políticos e a oportunidade de
exercê-los em igualdade de condições com as demais pessoas.

§ 1º À pessoa com deficiência será assegurado o direito de votar e de ser votada, inclusive por meio das
seguintes ações:

I - garantia de que os procedimentos, as instalações, os materiais e os equipamentos para votação sejam


apropriados, acessíveis a todas as pessoas e de fácil compreensão e uso, sendo vedada a instalação de seções
eleitorais exclusivas para a pessoa com deficiência;

II - incentivo à pessoa com deficiência a candidatar-se e a desempenhar quaisquer funções públicas em todos
os níveis de governo, inclusive por meio do uso de novas tecnologias assistivas, quando apropriado;

III - garantia de que os pronunciamentos oficiais, a propaganda eleitoral obrigatória e os debates transmitidos
pelas emissoras de televisão possuam, pelo menos, os recursos elencados no art. 67 desta Lei;

IV - garantia do livre exercício do direito ao voto e, para tanto, sempre que necessário e a seu pedido, permissão
para que a pessoa com deficiência seja auxiliada na votação por pessoa de sua escolha.

§ 2º O poder público promoverá a participação da pessoa com deficiência, inclusive quando institucionalizada,
na condução das questões públicas, sem discriminação e em igualdade de oportunidades, observado o
seguinte:

I - participação em organizações não governamentais relacionadas à vida pública e à política do País e em


atividades e administração de partidos políticos;

II - formação de organizações para representar a pessoa com deficiência em todos os níveis;

III - participação da pessoa com deficiência em organizações que a representem.


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 773

TÍTULO IV

DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Art. 77. O poder público deve fomentar o desenvolvimento científico, a pesquisa e a inovação e a capacitação
tecnológicas, voltados à melhoria da qualidade de vida e ao trabalho da pessoa com deficiência e sua inclusão
social.

§ 1º O fomento pelo poder público deve priorizar a geração de conhecimentos e técnicas que visem à prevenção
e ao tratamento de deficiências e ao desenvolvimento de tecnologias assistiva e social.

§ 2º A acessibilidade e as tecnologias assistiva e social devem ser fomentadas mediante a criação de cursos
de pós-graduação, a formação de recursos humanos e a inclusão do tema nas diretrizes de áreas do
conhecimento.

§ 3º Deve ser fomentada a capacitação tecnológica de instituições públicas e privadas para o desenvolvimento
de tecnologias assistiva e social que sejam voltadas para melhoria da funcionalidade e da participação social
da pessoa com deficiência.

§ 4º As medidas previstas neste artigo devem ser reavaliadas periodicamente pelo poder público, com vistas
ao seu aperfeiçoamento.

Art. 78. Devem ser estimulados a pesquisa, o desenvolvimento, a inovação e a difusão de tecnologias voltadas
para ampliar o acesso da pessoa com deficiência às tecnologias da informação e comunicação e às tecnologias
sociais.

Parágrafo único. Serão estimulados, em especial:

I - o emprego de tecnologias da informação e comunicação como instrumento de superação de limitações


funcionais e de barreiras à comunicação, à informação, à educação e ao entretenimento da pessoa com
deficiência;

II - a adoção de soluções e a difusão de normas que visem a ampliar a acessibilidade da pessoa com deficiência
à computação e aos sítios da internet, em especial aos serviços de governo eletrônico.

LIVRO II

PARTE ESPECIAL

TÍTULO I

DO ACESSO À JUSTIÇA

CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 79. O poder público deve assegurar o acesso da pessoa com deficiência à justiça, em igualdade de
oportunidades com as demais pessoas, garantindo, sempre que requeridos, adaptações e recursos de
tecnologia assistiva.

§ 1º A fim de garantir a atuação da pessoa com deficiência em todo o processo judicial, o poder público deve
capacitar os membros e os servidores que atuam no Poder Judiciário, no Ministério Público, na Defensoria
Pública, nos órgãos de segurança pública e no sistema penitenciário quanto aos direitos da pessoa com
deficiência.

§ 2º Devem ser assegurados à pessoa com deficiência submetida a medida restritiva de liberdade todos os
direitos e garantias a que fazem jus os apenados sem deficiência, garantida a acessibilidade.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 774

§ 3º A Defensoria Pública e o Ministério Público tomarão as medidas necessárias à garantia dos direitos
previstos nesta Lei.

Art. 80. Devem ser oferecidos todos os recursos de tecnologia assistiva disponíveis para que a pessoa com
deficiência tenha garantido o acesso à justiça, sempre que figure em um dos polos da ação ou atue como
testemunha, partícipe da lide posta em juízo, advogado, defensor público, magistrado ou membro do Ministério
Público.

Parágrafo único. A pessoa com deficiência tem garantido o acesso ao conteúdo de todos os atos processuais
de seu interesse, inclusive no exercício da advocacia.

Art. 81. Os direitos da pessoa com deficiência serão garantidos por ocasião da aplicação de sanções penais.

Art. 82. (VETADO).

Art. 83. Os serviços notariais e de registro não podem negar ou criar óbices ou condições diferenciadas à
prestação de seus serviços em razão de deficiência do solicitante, devendo reconhecer sua capacidade legal
plena, garantida a acessibilidade.

Parágrafo único. O descumprimento do disposto no caput deste artigo constitui discriminação em razão de
deficiência.

CAPÍTULO II

DO RECONHECIMENTO IGUAL PERANTE A LEI

Art. 84. A pessoa com deficiência tem assegurado o direito ao exercício de sua capacidade legal em igualdade
de condições com as demais pessoas.

§ 1º Quando necessário, a pessoa com deficiência será submetida à curatela, conforme a lei.

§ 2º É facultado à pessoa com deficiência a adoção de processo de tomada de decisão apoiada.

§ 3º A definição de curatela de pessoa com deficiência constitui medida protetiva extraordinária, proporcional
às necessidades e às circunstâncias de cada caso, e durará o menor tempo possível.

§ 4º Os curadores são obrigados a prestar, anualmente, contas de sua administração ao juiz, apresentando o
balanço do respectivo ano.

Art. 85. A curatela afetará tão somente os atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e negocial.

§ 1º A definição da curatela não alcança o direito ao próprio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacidade,
à educação, à saúde, ao trabalho e ao voto.

§ 2º A curatela constitui medida extraordinária, devendo constar da sentença as razões e motivações de sua
definição, preservados os interesses do curatelado.

§ 3º No caso de pessoa em situação de institucionalização, ao nomear curador, o juiz deve dar preferência a
pessoa que tenha vínculo de natureza familiar, afetiva ou comunitária com o curatelado.

Art. 86. Para emissão de documentos oficiais, não será exigida a situação de curatela da pessoa com
deficiência.

Art. 87. Em casos de relevância e urgência e a fim de proteger os interesses da pessoa com deficiência em
situação de curatela, será lícito ao juiz, ouvido o Ministério Público, de oficio ou a requerimento do interessado,
nomear, desde logo, curador provisório, o qual estará sujeito, no que couber, às disposições do Código de
Processo Civil .
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 775

TÍTULO II

DOS CRIMES E DAS INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS

Art. 88. Praticar, induzir ou incitar discriminação de pessoa em razão de sua deficiência:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.

§ 1º Aumenta-se a pena em 1/3 (um terço) se a vítima encontrar-se sob cuidado e responsabilidade do agente.

§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput deste artigo é cometido por intermédio de meios de
comunicação social ou de publicação de qualquer natureza:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

§ 3º Na hipótese do § 2º deste artigo, o juiz poderá determinar, ouvido o Ministério Público ou a pedido deste,
ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobediência:

I - recolhimento ou busca e apreensão dos exemplares do material discriminatório;

II - interdição das respectivas mensagens ou páginas de informação na internet.

§ 4º Na hipótese do § 2º deste artigo, constitui efeito da condenação, após o trânsito em julgado da decisão, a
destruição do material apreendido.

Art. 89. Apropriar-se de ou desviar bens, proventos, pensão, benefícios, remuneração ou qualquer outro
rendimento de pessoa com deficiência:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. Aumenta-se a pena em 1/3 (um terço) se o crime é cometido:

I - por tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário judicial; ou

II - por aquele que se apropriou em razão de ofício ou de profissão.

Art. 90. Abandonar pessoa com deficiência em hospitais, casas de saúde, entidades de abrigamento ou
congêneres:

Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa.

Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem não prover as necessidades básicas de pessoa com deficiência
quando obrigado por lei ou mandado.

Art. 91. Reter ou utilizar cartão magnético, qualquer meio eletrônico ou documento de pessoa com deficiência
destinados ao recebimento de benefícios, proventos, pensões ou remuneração ou à realização de operações
financeiras, com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Aumenta-se a pena em 1/3 (um terço) se o crime é cometido por tutor ou curador.

TÍTULO III

DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS

Art. 92. É criado o Cadastro Nacional de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Cadastro-Inclusão), registro
público eletrônico com a finalidade de coletar, processar, sistematizar e disseminar informações
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 776

georreferenciadas que permitam a identificação e a caracterização socioeconômica da pessoa com deficiência,


bem como das barreiras que impedem a realização de seus direitos.

§ 1º O Cadastro-Inclusão será administrado pelo Poder Executivo federal e constituído por base de dados,
instrumentos, procedimentos e sistemas eletrônicos.

§ 2º Os dados constituintes do Cadastro-Inclusão serão obtidos pela integração dos sistemas de informação e
da base de dados de todas as políticas públicas relacionadas aos direitos da pessoa com deficiência, bem
como por informações coletadas, inclusive em censos nacionais e nas demais pesquisas realizadas no País,
de acordo com os parâmetros estabelecidos pela Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e
seu Protocolo Facultativo.

§ 3º Para coleta, transmissão e sistematização de dados, é facultada a celebração de convênios, acordos,


termos de parceria ou contratos com instituições públicas e privadas, observados os requisitos e procedimentos
previstos em legislação específica.

§ 4º Para assegurar a confidencialidade, a privacidade e as liberdades fundamentais da pessoa com deficiência


e os princípios éticos que regem a utilização de informações, devem ser observadas as salvaguardas
estabelecidas em lei.

§ 5º Os dados do Cadastro-Inclusão somente poderão ser utilizados para as seguintes finalidades:

I - formulação, gestão, monitoramento e avaliação das políticas públicas para a pessoa com deficiência e para
identificar as barreiras que impedem a realização de seus direitos;

II - realização de estudos e pesquisas.

§ 6º As informações a que se refere este artigo devem ser disseminadas em formatos acessíveis.

Art. 93. Na realização de inspeções e de auditorias pelos órgãos de controle interno e externo, deve ser
observado o cumprimento da legislação relativa à pessoa com deficiência e das normas de acessibilidade
vigentes.

Art. 94. Terá direito a auxílio-inclusão, nos termos da lei, a pessoa com deficiência moderada ou grave que:

I - receba o benefício de prestação continuada previsto no art. 20 da Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993 ,
e que passe a exercer atividade remunerada que a enquadre como segurado obrigatório do RGPS;

II - tenha recebido, nos últimos 5 (cinco) anos, o benefício de prestação continuada previsto no art. 20 da Lei
nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993 , e que exerça atividade remunerada que a enquadre como segurado
obrigatório do RGPS.

Art. 95. É vedado exigir o comparecimento de pessoa com deficiência perante os órgãos públicos quando seu
deslocamento, em razão de sua limitação funcional e de condições de acessibilidade, imponha-lhe ônus
desproporcional e indevido, hipótese na qual serão observados os seguintes procedimentos:

I - quando for de interesse do poder público, o agente promoverá o contato necessário com a pessoa com
deficiência em sua residência;

II - quando for de interesse da pessoa com deficiência, ela apresentará solicitação de atendimento domiciliar
ou fará representar-se por procurador constituído para essa finalidade.

Parágrafo único. É assegurado à pessoa com deficiência atendimento domiciliar pela perícia médica e social
do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), pelo serviço público de saúde ou pelo serviço privado de saúde,
contratado ou conveniado, que integre o SUS e pelas entidades da rede socioassistencial integrantes do Suas,
quando seu deslocamento, em razão de sua limitação funcional e de condições de acessibilidade, imponha-lhe
ônus desproporcional e indevido.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 777

Art. 96. O § 6º -A do art. 135 da Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965 (Código Eleitoral) , passa a vigorar com a
seguinte redação:

“Art. 135. .................................................................

........................................................................................

§ 6º -A. Os Tribunais Regionais Eleitorais deverão, a cada eleição, expedir instruções aos Juízes Eleitorais para
orientá-los na escolha dos locais de votação, de maneira a garantir acessibilidade para o eleitor com deficiência
ou com mobilidade reduzida, inclusive em seu entorno e nos sistemas de transporte que lhe dão acesso.

....................................................................................” (NR)

Art. 97. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de
1943 , passa a vigorar com as seguintes alterações:

“Art. 428. ..................................................................

...........................................................................................

§ 6º Para os fins do contrato de aprendizagem, a comprovação da escolaridade de aprendiz com deficiência


deve considerar, sobretudo, as habilidades e competências relacionadas com a profissionalização.

...........................................................................................

§ 8º Para o aprendiz com deficiência com 18 (dezoito) anos ou mais, a validade do contrato de aprendizagem
pressupõe anotação na CTPS e matrícula e frequência em programa de aprendizagem desenvolvido sob
orientação de entidade qualificada em formação técnico-profissional metódica.” (NR)

“Art. 433. ..................................................................

...........................................................................................

I - desempenho insuficiente ou inadaptação do aprendiz, salvo para o aprendiz com deficiência quando
desprovido de recursos de acessibilidade, de tecnologias assistivas e de apoio necessário ao desempenho de
suas atividades;

..................................................................................” (NR)

Art. 98. A Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989 , passa a vigorar com as seguintes alterações:

“Art. 3º As medidas judiciais destinadas à proteção de interesses coletivos, difusos, individuais homogêneos e
individuais indisponíveis da pessoa com deficiência poderão ser propostas pelo Ministério Público, pela
Defensoria Pública, pela União, pelos Estados, pelos Municípios, pelo Distrito Federal, por associação
constituída há mais de 1 (um) ano, nos termos da lei civil, por autarquia, por empresa pública e por fundação
ou sociedade de economia mista que inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção dos interesses e
a promoção de direitos da pessoa com deficiência.

.................................................................................” (NR)

“Art. 8º Constitui crime punível com reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos e multa:

I - recusar, cobrar valores adicionais, suspender, procrastinar, cancelar ou fazer cessar inscrição de aluno em
estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, público ou privado, em razão de sua deficiência;

II - obstar inscrição em concurso público ou acesso de alguém a qualquer cargo ou emprego público, em razão
de sua deficiência;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 778

III - negar ou obstar emprego, trabalho ou promoção à pessoa em razão de sua deficiência;

IV - recusar, retardar ou dificultar internação ou deixar de prestar assistência médico-hospitalar e ambulatorial


à pessoa com deficiência;

V - deixar de cumprir, retardar ou frustrar execução de ordem judicial expedida na ação civil a que alude esta
Lei;

VI - recusar, retardar ou omitir dados técnicos indispensáveis à propositura da ação civil pública objeto desta
Lei, quando requisitados.

§ 1º Se o crime for praticado contra pessoa com deficiência menor de 18 (dezoito) anos, a pena é agravada em
1/3 (um terço).

§ 2º A pena pela adoção deliberada de critérios subjetivos para indeferimento de inscrição, de aprovação e de
cumprimento de estágio probatório em concursos públicos não exclui a responsabilidade patrimonial pessoal
do administrador público pelos danos causados.

§ 3º Incorre nas mesmas penas quem impede ou dificulta o ingresso de pessoa com deficiência em planos
privados de assistência à saúde, inclusive com cobrança de valores diferenciados.

§ 4º Se o crime for praticado em atendimento de urgência e emergência, a pena é agravada em 1/3 (um terço).”
(NR)

Art. 99. O art. 20 da Lei nº 8.036, de 11 de maio de 1990 , passa a vigorar acrescido do seguinte inciso XVIII:

“Art. 20. ......................................................................

..............................................................................................

XVIII - quando o trabalhador com deficiência, por prescrição, necessite adquirir órtese ou prótese para
promoção de acessibilidade e de inclusão social.

..................................................................................” (NR)

Art. 100. A Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor) , passa a vigorar com
as seguintes alterações:

“Art. 6º .......................................................................

............................................................................................

Parágrafo único. A informação de que trata o inciso III do caput deste artigo deve ser acessível à pessoa com
deficiência, observado o disposto em regulamento.” (NR)

“Art. 43. ......................................................................

............................................................................................

§ 6º Todas as informações de que trata o caput deste artigo devem ser disponibilizadas em formatos
acessíveis, inclusive para a pessoa com deficiência, mediante solicitação do consumidor.” (NR)

Art. 101. A Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991 , passa a vigorar com as seguintes alterações:

“Art. 16. ......................................................................

I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21


(vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 779

............................................................................................

III - o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha
deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave;

.................................................................................” (NR)

“Art. 77. .....................................................................

............................................................................................

§ 2º ..............................................................................

............................................................................................

II - para o filho, a pessoa a ele equiparada ou o irmão, de ambos os sexos, pela emancipação ou ao completar
21 (vinte e um) anos de idade, salvo se for inválido ou tiver deficiência intelectual ou mental ou deficiência
grave;

...................................................................................

§ 4º (VETADO).

...................................................................................” (NR)

“Art. 93. (VETADO):

I - (VETADO);

II - (VETADO);

III - (VETADO);

IV - (VETADO);

V - (VETADO).

§ 1º A dispensa de pessoa com deficiência ou de beneficiário reabilitado da Previdência Social ao final de


contrato por prazo determinado de mais de 90 (noventa) dias e a dispensa imotivada em contrato por prazo
indeterminado somente poderão ocorrer após a contratação de outro trabalhador com deficiência ou
beneficiário reabilitado da Previdência Social.

§ 2º Ao Ministério do Trabalho e Emprego incumbe estabelecer a sistemática de fiscalização, bem como gerar
dados e estatísticas sobre o total de empregados e as vagas preenchidas por pessoas com deficiência e por
beneficiários reabilitados da Previdência Social, fornecendo-os, quando solicitados, aos sindicatos, às
entidades representativas dos empregados ou aos cidadãos interessados.

§ 3º Para a reserva de cargos será considerada somente a contratação direta de pessoa com deficiência,
excluído o aprendiz com deficiência de que trata a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo
Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943.

§ 4º (VETADO).” (NR)

“Art. 110-A. No ato de requerimento de benefícios operacionalizados pelo INSS, não será exigida apresentação
de termo de curatela de titular ou de beneficiário com deficiência, observados os procedimentos a serem
estabelecidos em regulamento.”

Art. 102. O art. 2º da Lei nº 8.313, de 23 de dezembro de 1991 , passa a vigorar acrescido do seguinte § 3º :
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 780

“Art. 2º .........................................................................

.............................................................................................

§ 3º Os incentivos criados por esta Lei somente serão concedidos a projetos culturais que forem
disponibilizados, sempre que tecnicamente possível, também em formato acessível à pessoa com deficiência,
observado o disposto em regulamento.” (NR)

Art. 103. O art. 11 da Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992 , passa a vigorar acrescido do seguinte inciso IX:

“Art. 11. .....................................................................

............................................................................................

IX - deixar de cumprir a exigência de requisitos de acessibilidade previstos na legislação.” (NR)

Art. 104. A Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993 , passa a vigorar com as seguintes alterações:

“Art. 3º .....................................................................

..........................................................................................

§ 2º ...........................................................................

..........................................................................................

V - produzidos ou prestados por empresas que comprovem cumprimento de reserva de cargos prevista em lei
para pessoa com deficiência ou para reabilitado da Previdência Social e que atendam às regras de
acessibilidade previstas na legislação.

...........................................................................................

§ 5º Nos processos de licitação, poderá ser estabelecida margem de preferência para:

I - produtos manufaturados e para serviços nacionais que atendam a normas técnicas brasileiras; e

II - bens e serviços produzidos ou prestados por empresas que comprovem cumprimento de reserva de cargos
prevista em lei para pessoa com deficiência ou para reabilitado da Previdência Social e que atendam às regras
de acessibilidade previstas na legislação.

...................................................................................” (NR)

“Art. 66-A. As empresas enquadradas no inciso V do § 2º e no inciso II do § 5º do art. 3º desta Lei deverão
cumprir, durante todo o período de execução do contrato, a reserva de cargos prevista em lei para pessoa com
deficiência ou para reabilitado da Previdência Social, bem como as regras de acessibilidade previstas na
legislação.

Parágrafo único. Cabe à administração fiscalizar o cumprimento dos requisitos de acessibilidade nos serviços
e nos ambientes de trabalho.”

Art. 105. O art. 20 da Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993 , passa a vigorar com as seguintes alterações:

“Art. 20. ......................................................................

.............................................................................................

§ 2º Para efeito de concessão do benefício de prestação continuada, considera-se pessoa com deficiência
aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 781

interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade
de condições com as demais pessoas.

............................................................................................

§ 9º Os rendimentos decorrentes de estágio supervisionado e de aprendizagem não serão computados para


os fins de cálculo da renda familiar per capita a que se refere o § 3º deste artigo.

.............................................................................................

§ 11. Para concessão do benefício de que trata o caput deste artigo, poderão ser utilizados outros elementos
probatórios da condição de miserabilidade do grupo familiar e da situação de vulnerabilidade, conforme
regulamento.” (NR)

Art. 106. (VETADO).

Art. 107. A Lei nº 9.029, de 13 de abril de 1995 , passa a vigorar com as seguintes alterações:

“Art. 1º É proibida a adoção de qualquer prática discriminatória e limitativa para efeito de acesso à relação de
trabalho, ou de sua manutenção, por motivo de sexo, origem, raça, cor, estado civil, situação familiar,
deficiência, reabilitação profissional, idade, entre outros, ressalvadas, nesse caso, as hipóteses de proteção à
criança e ao adolescente previstas no inciso XXXIII do art. 7º da Constituição Federal. ” (NR)

“Art. 3º Sem prejuízo do prescrito no art. 2º desta Lei e nos dispositivos legais que tipificam os crimes resultantes
de preconceito de etnia, raça, cor ou deficiência, as infrações ao disposto nesta Lei são passíveis das seguintes
cominações:

..................................................................................” (NR)

“Art. 4º ........................................................................

I - a reintegração com ressarcimento integral de todo o período de afastamento, mediante pagamento das
remunerações devidas, corrigidas monetariamente e acrescidas de juros legais;

....................................................................................” (NR)

Art. 108. O art. 35 da Lei nº 9.250, de 26 de dezembro de 1995 , passa a vigorar acrescido do seguinte § 5º :

“Art. 35. ......................................................................

.............................................................................................

§ 5º Sem prejuízo do disposto no inciso IX do parágrafo único do art. 3º da Lei nº 10.741, de 1º de outubro de
2003 , a pessoa com deficiência, ou o contribuinte que tenha dependente nessa condição, tem preferência na
restituição referida no inciso III do art. 4º e na alínea “c” do inciso II do art. 8º .” (NR)

Art. 109. A Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 (Código de Trânsito Brasileiro) , passa a vigorar com as
seguintes alterações:

“Art. 2º ...........................................................

Parágrafo único. Para os efeitos deste Código, são consideradas vias terrestres as praias abertas à circulação
pública, as vias internas pertencentes aos condomínios constituídos por unidades autônomas e as vias e áreas
de estacionamento de estabelecimentos privados de uso coletivo.” (NR)

“Art. 86-A. As vagas de estacionamento regulamentado de que trata o inciso XVII do art. 181 desta Lei deverão
ser sinalizadas com as respectivas placas indicativas de destinação e com placas informando os dados sobre
a infração por estacionamento indevido.”
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 782

“Art. 147-A. Ao candidato com deficiência auditiva é assegurada acessibilidade de comunicação, mediante
emprego de tecnologias assistivas ou de ajudas técnicas em todas as etapas do processo de habilitação.

§ 1º O material didático audiovisual utilizado em aulas teóricas dos cursos que precedem os exames previstos
no art. 147 desta Lei deve ser acessível, por meio de subtitulação com legenda oculta associada à tradução
simultânea em Libras.

§ 2º É assegurado também ao candidato com deficiência auditiva requerer, no ato de sua inscrição, os serviços
de intérprete da Libras, para acompanhamento em aulas práticas e teóricas.”

“Art. 154. (VETADO).”

“Art. 181. ...................................................................

..........................................................................................

XVII - .........................................................................

Infração - grave;

.................................................................................” (NR)

Art. 110. O inciso VI e o § 1º do art. 56 da Lei nº 9.615, de 24 de março de 1998 , passam a vigorar com a
seguinte redação:

“Art. 56. ....................................................................

...........................................................................................

VI - 2,7% (dois inteiros e sete décimos por cento) da arrecadação bruta dos concursos de prognósticos e loterias
federais e similares cuja realização estiver sujeita a autorização federal, deduzindo-se esse valor do montante
destinado aos prêmios;

.............................................................................................

§ 1º Do total de recursos financeiros resultantes do percentual de que trata o inciso VI do caput , 62,96%
(sessenta e dois inteiros e noventa e seis centésimos por cento) serão destinados ao Comitê Olímpico Brasileiro
(COB) e 37,04% (trinta e sete inteiros e quatro centésimos por cento) ao Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB),
devendo ser observado, em ambos os casos, o conjunto de normas aplicáveis à celebração de convênios pela
União.

..................................................................................” (NR)

Art. 111. O art. 1º da Lei nº 10.048, de 8 de novembro de 2000 , passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 1º As pessoas com deficiência, os idosos com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, as gestantes,
as lactantes, as pessoas com crianças de colo e os obesos terão atendimento prioritário, nos termos desta Lei.”
(NR)

Art. 112. A Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000 , passa a vigorar com as seguintes alterações:

“Art. 2º .......................................................................

I - acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, de espaços,
mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus
sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou
privados de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou com mobilidade
reduzida;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 783

II - barreiras: qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que limite ou impeça a participação social
da pessoa, bem como o gozo, a fruição e o exercício de seus direitos à acessibilidade, à liberdade de movimento
e de expressão, à comunicação, ao acesso à informação, à compreensão, à circulação com segurança, entre
outros, classificadas em:

a) barreiras urbanísticas: as existentes nas vias e nos espaços públicos e privados abertos ao público ou de
uso coletivo;

b) barreiras arquitetônicas: as existentes nos edifícios públicos e privados;

c) barreiras nos transportes: as existentes nos sistemas e meios de transportes;

d) barreiras nas comunicações e na informação: qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que
dificulte ou impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens e de informações por intermédio de
sistemas de comunicação e de tecnologia da informação;

III - pessoa com deficiência: aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual
ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva
na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas;

IV - pessoa com mobilidade reduzida: aquela que tenha, por qualquer motivo, dificuldade de movimentação,
permanente ou temporária, gerando redução efetiva da mobilidade, da flexibilidade, da coordenação motora ou
da percepção, incluindo idoso, gestante, lactante, pessoa com criança de colo e obeso;

V - acompanhante: aquele que acompanha a pessoa com deficiência, podendo ou não desempenhar as
funções de atendente pessoal;

VI - elemento de urbanização: quaisquer componentes de obras de urbanização, tais como os referentes a


pavimentação, saneamento, encanamento para esgotos, distribuição de energia elétrica e de gás, iluminação
pública, serviços de comunicação, abastecimento e distribuição de água, paisagismo e os que materializam as
indicações do planejamento urbanístico;

VII - mobiliário urbano: conjunto de objetos existentes nas vias e nos espaços públicos, superpostos ou
adicionados aos elementos de urbanização ou de edificação, de forma que sua modificação ou seu traslado
não provoque alterações substanciais nesses elementos, tais como semáforos, postes de sinalização e
similares, terminais e pontos de acesso coletivo às telecomunicações, fontes de água, lixeiras, toldos,
marquises, bancos, quiosques e quaisquer outros de natureza análoga;

VIII - tecnologia assistiva ou ajuda técnica: produtos, equipamentos, dispositivos, recursos, metodologias,
estratégias, práticas e serviços que objetivem promover a funcionalidade, relacionada à atividade e à
participação da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida, visando à sua autonomia, independência,
qualidade de vida e inclusão social;

IX - comunicação: forma de interação dos cidadãos que abrange, entre outras opções, as línguas, inclusive a
Língua Brasileira de Sinais (Libras), a visualização de textos, o Braille, o sistema de sinalização ou de
comunicação tátil, os caracteres ampliados, os dispositivos multimídia, assim como a linguagem simples,
escrita e oral, os sistemas auditivos e os meios de voz digitalizados e os modos, meios e formatos aumentativos
e alternativos de comunicação, incluindo as tecnologias da informação e das comunicações;

X - desenho universal: concepção de produtos, ambientes, programas e serviços a serem usados por todas as
pessoas, sem necessidade de adaptação ou de projeto específico, incluindo os recursos de tecnologia
assistiva.” (NR)

“Art. 3º O planejamento e a urbanização das vias públicas, dos parques e dos demais espaços de uso público
deverão ser concebidos e executados de forma a torná-los acessíveis para todas as pessoas, inclusive para
aquelas com deficiência ou com mobilidade reduzida.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 784

Parágrafo único. O passeio público, elemento obrigatório de urbanização e parte da via pública, normalmente
segregado e em nível diferente, destina-se somente à circulação de pedestres e, quando possível, à
implantação de mobiliário urbano e de vegetação.” (NR)

“Art. 9º ........................................................................

Parágrafo único. Os semáforos para pedestres instalados em vias públicas de grande circulação, ou que deem
acesso aos serviços de reabilitação, devem obrigatoriamente estar equipados com mecanismo que emita sinal
sonoro suave para orientação do pedestre.” (NR)

“Art. 10-A. A instalação de qualquer mobiliário urbano em área de circulação comum para pedestre que ofereça
risco de acidente à pessoa com deficiência deverá ser indicada mediante sinalização tátil de alerta no piso, de
acordo com as normas técnicas pertinentes.”

“Art. 12-A. Os centros comerciais e os estabelecimentos congêneres devem fornecer carros e cadeiras de
rodas, motorizados ou não, para o atendimento da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida.”

Art. 113. A Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001 (Estatuto da Cidade) , passa a vigorar com as seguintes
alterações:

“Art. 3º ......................................................................

............................................................................................

III - promover, por iniciativa própria e em conjunto com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios,
programas de construção de moradias e melhoria das condições habitacionais, de saneamento básico, das
calçadas, dos passeios públicos, do mobiliário urbano e dos demais espaços de uso público;

IV - instituir diretrizes para desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico, transporte e
mobilidade urbana, que incluam regras de acessibilidade aos locais de uso público;

.................................................................................” (NR)

“Art. 41. ....................................................................

...........................................................................................

§ 3º As cidades de que trata o caput deste artigo devem elaborar plano de rotas acessíveis, compatível com o
plano diretor no qual está inserido, que disponha sobre os passeios públicos a serem implantados ou
reformados pelo poder público, com vistas a garantir acessibilidade da pessoa com deficiência ou com
mobilidade reduzida a todas as rotas e vias existentes, inclusive as que concentrem os focos geradores de
maior circulação de pedestres, como os órgãos públicos e os locais de prestação de serviços públicos e
privados de saúde, educação, assistência social, esporte, cultura, correios e telégrafos, bancos, entre outros,
sempre que possível de maneira integrada com os sistemas de transporte coletivo de passageiros.” (NR)

Art. 114. A Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil) , passa a vigorar com as seguintes alterações:

“Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16
(dezesseis) anos.

I - (Revogado);

II - (Revogado);

III - (Revogado).” (NR)

“Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer:


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 785

.....................................................................................

II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico;

III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade;

.............................................................................................

Parágrafo único . A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial.” (NR)

“Art. 228. .....................................................................

.............................................................................................

II - (Revogado);

III - (Revogado);

.............................................................................................

§ 1º ..............................................................................

§ 2º A pessoa com deficiência poderá testemunhar em igualdade de condições com as demais pessoas, sendo-
lhe assegurados todos os recursos de tecnologia assistiva.” (NR)

“Art. 1.518 . Até a celebração do casamento podem os pais ou tutores revogar a autorização.” (NR)

“Art. 1.548. ...................................................................

I - (Revogado);

....................................................................................” (NR)

“Art. 1.550. ..................................................................

.............................................................................................

§ 1º ..............................................................................

§ 2º A pessoa com deficiência mental ou intelectual em idade núbia poderá contrair matrimônio, expressando
sua vontade diretamente ou por meio de seu responsável ou curador.” (NR)

“Art. 1.557. ................................................................

............................................................................................

III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável que não caracterize deficiência ou de
moléstia grave e transmissível, por contágio ou por herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge
ou de sua descendência;

IV - (Revogado).” (NR)

“Art. 1.767. ..................................................................

I - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade;

II - (Revogado);

III - os ébrios habituais e os viciados em tóxico;


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 786

IV - (Revogado);

....................................................................................” (NR)

“Art. 1.768. O processo que define os termos da curatela deve ser promovido:

.............................................................................................

IV - pela própria pessoa.” (NR)

“Art. 1.769 . O Ministério Público somente promoverá o processo que define os termos da curatela:

I - nos casos de deficiência mental ou intelectual;

............................................................................................

III - se, existindo, forem menores ou incapazes as pessoas mencionadas no inciso II.” (NR)

“Art. 1.771. Antes de se pronunciar acerca dos termos da curatela, o juiz, que deverá ser assistido por equipe
multidisciplinar, entrevistará pessoalmente o interditando.” (NR)

“Art. 1.772. O juiz determinará, segundo as potencialidades da pessoa, os limites da curatela, circunscritos às
restrições constantes do art. 1.782, e indicará curador.

Parágrafo único. Para a escolha do curador, o juiz levará em conta a vontade e as preferências do interditando,
a ausência de conflito de interesses e de influência indevida, a proporcionalidade e a adequação às
circunstâncias da pessoa.” (NR)

“Art. 1.775-A . Na nomeação de curador para a pessoa com deficiência, o juiz poderá estabelecer curatela
compartilhada a mais de uma pessoa.”

“Art. 1.777. As pessoas referidas no inciso I do art. 1.767 receberão todo o apoio necessário para ter preservado
o direito à convivência familiar e comunitária, sendo evitado o seu recolhimento em estabelecimento que os
afaste desse convívio.” (NR)

Art. 115. O Título IV do Livro IV da Parte Especial da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil) ,
passa a vigorar com a seguinte redação:

“TÍTULO IV

Da Tutela, da Curatela e da Tomada de Decisão Apoiada”

Art. 116. O Título IV do Livro IV da Parte Especial da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil) ,
passa a vigorar acrescido do seguinte Capítulo III:

“CAPÍTULO III

Da Tomada de Decisão Apoiada

Art. 1.783-A. A tomada de decisão apoiada é o processo pelo qual a pessoa com deficiência elege pelo menos
2 (duas) pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculos e que gozem de sua confiança, para prestar-lhe
apoio na tomada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos e informações necessários
para que possa exercer sua capacidade.

§ 1º Para formular pedido de tomada de decisão apoiada, a pessoa com deficiência e os apoiadores devem
apresentar termo em que constem os limites do apoio a ser oferecido e os compromissos dos apoiadores,
inclusive o prazo de vigência do acordo e o respeito à vontade, aos direitos e aos interesses da pessoa que
devem apoiar.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 787

§ 2º O pedido de tomada de decisão apoiada será requerido pela pessoa a ser apoiada, com indicação expressa
das pessoas aptas a prestarem o apoio previsto no caput deste artigo.

§ 3º Antes de se pronunciar sobre o pedido de tomada de decisão apoiada, o juiz, assistido por equipe
multidisciplinar, após oitiva do Ministério Público, ouvirá pessoalmente o requerente e as pessoas que lhe
prestarão apoio.

§ 4º A decisão tomada por pessoa apoiada terá validade e efeitos sobre terceiros, sem restrições, desde que
esteja inserida nos limites do apoio acordado.

§ 5º Terceiro com quem a pessoa apoiada mantenha relação negocial pode solicitar que os apoiadores contra-
assinem o contrato ou acordo, especificando, por escrito, sua função em relação ao apoiado.

§ 6º Em caso de negócio jurídico que possa trazer risco ou prejuízo relevante, havendo divergência de opiniões
entre a pessoa apoiada e um dos apoiadores, deverá o juiz, ouvido o Ministério Público, decidir sobre a questão.

§ 7º Se o apoiador agir com negligência, exercer pressão indevida ou não adimplir as obrigações assumidas,
poderá a pessoa apoiada ou qualquer pessoa apresentar denúncia ao Ministério Público ou ao juiz.

§ 8º Se procedente a denúncia, o juiz destituirá o apoiador e nomeará, ouvida a pessoa apoiada e se for de
seu interesse, outra pessoa para prestação de apoio.

§ 9º A pessoa apoiada pode, a qualquer tempo, solicitar o término de acordo firmado em processo de tomada
de decisão apoiada.

§ 10. O apoiador pode solicitar ao juiz a exclusão de sua participação do processo de tomada de decisão
apoiada, sendo seu desligamento condicionado à manifestação do juiz sobre a matéria.

§ 11. Aplicam-se à tomada de decisão apoiada, no que couber, as disposições referentes à prestação de contas
na curatela.”

Art. 117. O art. 1º da Lei nº 11.126, de 27 de junho de 2005 , passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 1º É assegurado à pessoa com deficiência visual acompanhada de cão-guia o direito de ingressar e de
permanecer com o animal em todos os meios de transporte e em estabelecimentos abertos ao público, de uso
público e privados de uso coletivo, desde que observadas as condições impostas por esta Lei.

.............................................................................................

§ 2º O disposto no caput deste artigo aplica-se a todas as modalidades e jurisdições do serviço de transporte
coletivo de passageiros, inclusive em esfera internacional com origem no território brasileiro.” (NR)

Art. 118. O inciso IV do art. 46 da Lei nº 11.904, de 14 de janeiro de 2009 , passa a vigorar acrescido da seguinte
alínea “k”:

“Art. 46. ......................................................................

...........................................................................................

IV - ..............................................................................

...........................................................................................

k) de acessibilidade a todas as pessoas.

.................................................................................” (NR)

Art. 119. A Lei nº 12.587, de 3 de janeiro de 2012 , passa a vigorar acrescida do seguinte art. 12-B:
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 788

“Art. 12-B. Na outorga de exploração de serviço de táxi, reservar-se-ão 10% (dez por cento) das vagas para
condutores com deficiência.

§ 1º Para concorrer às vagas reservadas na forma do caput deste artigo, o condutor com deficiência deverá
observar os seguintes requisitos quanto ao veículo utilizado:

I - ser de sua propriedade e por ele conduzido; e

II - estar adaptado às suas necessidades, nos termos da legislação vigente.

§ 2º No caso de não preenchimento das vagas na forma estabelecida no caput deste artigo, as remanescentes
devem ser disponibilizadas para os demais concorrentes.”

Art. 120. Cabe aos órgãos competentes, em cada esfera de governo, a elaboração de relatórios
circunstanciados sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos por força das Leis nº 10.048, de 8 de
novembro de 2000 , e nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000 , bem como o seu encaminhamento ao Ministério
Público e aos órgãos de regulação para adoção das providências cabíveis.

Parágrafo único. Os relatórios a que se refere o caput deste artigo deverão ser apresentados no prazo de 1
(um) ano a contar da entrada em vigor desta Lei.

Art. 121. Os direitos, os prazos e as obrigações previstos nesta Lei não excluem os já estabelecidos em outras
legislações, inclusive em pactos, tratados, convenções e declarações internacionais aprovados e promulgados
pelo Congresso Nacional, e devem ser aplicados em conformidade com as demais normas internas e acordos
internacionais vinculantes sobre a matéria.

Parágrafo único. Prevalecerá a norma mais benéfica à pessoa com deficiência.

Art. 122. Regulamento disporá sobre a adequação do disposto nesta Lei ao tratamento diferenciado,
simplificado e favorecido a ser dispensado às microempresas e às empresas de pequeno porte, previsto no §
3º do art. 1º da Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006 .

Art. 123. Revogam-se os seguintes dispositivos: (Vigência)

I - o inciso II do § 2º do art. 1º da Lei nº 9.008, de 21 de março de 1995 ;

II - os incisos I, II e III do art. 3º da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil);

III - os incisos II e III do art. 228 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil);

IV - o inciso I do art. 1.548 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil);

V - o inciso IV do art. 1.557 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil);

VI - os incisos II e IV do art. 1.767 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil);

VII - os arts. 1.776 e 1.780 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil).

Art. 124. O § 1º do art. 2º desta Lei deverá entrar em vigor em até 2 (dois) anos, contados da entrada em vigor
desta Lei.

Art. 125. Devem ser observados os prazos a seguir discriminados, a partir da entrada em vigor desta Lei, para
o cumprimento dos seguintes dispositivos:

I - incisos I e II do § 2º do art. 28 , 48 (quarenta e oito) meses;

II - § 6º do art. 44 , 48 (quarenta e oito) meses;


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 789

II - § 6º do art. 44, 60 (sessenta) meses; (Redação dada pela Medida Provisória nº 917, de 2019)

II - § 6º do art. 44, 60 (sessenta) meses; (Redação dada pela Lei nº 14.009, de 2020)

II - § 6º do art. 44, 84 (oitenta e quatro) meses; (Redação dada pela Medida Provisória nº 1.025, de 2020)

II - § 6º do art. 44, 84 (oitenta e quatro) meses; (Redação dada pela Lei nº 14.159, de 2021)

III - art. 45 , 24 (vinte e quatro) meses;

IV - art. 49 , 48 (quarenta e oito) meses.

Art. 126. Prorroga-se até 31 de dezembro de 2021 a vigência da Lei nº 8.989, de 24 de fevereiro de 1995 .

Art. 127. Esta Lei entra em vigor após decorridos 180 (cento e oitenta) dias de sua publicação oficial .

Brasília, 6 de julho de 2015; 194º da Independência e 127º da República.

DILMA ROUSSEF
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 790

12. LEI Nº 13.257/2016 (POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A PRIMEIRA INFÂNCIA)

LEI Nº 13.257, DE 8 DE MARÇO DE 2016.

Dispõe sobre as políticas públicas para a primeira infância e altera a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990
(Estatuto da Criança e do Adolescente), o Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo
Penal), a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de
1943, a Lei nº 11.770, de 9 de setembro de 2008, e a Lei nº 12.662, de 5 de junho de 2012

A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º Esta Lei estabelece princípios e diretrizes para a formulação e a implementação de políticas públicas
para a primeira infância em atenção à especificidade e à relevância dos primeiros anos de vida no
desenvolvimento infantil e no desenvolvimento do ser humano, em consonância com os princípios e diretrizes
da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente) ; altera a Lei nº 8.069, de 13
de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente); altera os arts. 6º, 185, 304 e 318 do Decreto-Lei nº
3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal) ; acrescenta incisos ao art. 473 da Consolidação
das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943 ; altera os arts. 1º, 3º,
4º e 5º da Lei nº 11.770, de 9 de setembro de 2008 ; e acrescenta parágrafos ao art. 5º da Lei nº 12.662, de 5
de junho de 2012 .

Art. 2º Para os efeitos desta Lei, considera-se primeira infância o período que abrange os primeiros 6 (seis)
anos completos ou 72 (setenta e dois) meses de vida da criança.

Art. 3º A prioridade absoluta em assegurar os direitos da criança, do adolescente e do jovem, nos termos do art.
227 da Constituição Federal e do art. 4º da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 , implica o dever do Estado de
estabelecer políticas, planos, programas e serviços para a primeira infância que atendam às especificidades
dessa faixa etária, visando a garantir seu desenvolvimento integral.

Art. 4º As políticas públicas voltadas ao atendimento dos direitos da criança na primeira infância serão
elaboradas e executadas de forma a:

I - atender ao interesse superior da criança e à sua condição de sujeito de direitos e de cidadã;

II - incluir a participação da criança na definição das ações que lhe digam respeito, em conformidade com suas
características etárias e de desenvolvimento;

III - respeitar a individualidade e os ritmos de desenvolvimento das crianças e valorizar a diversidade da infância
brasileira, assim como as diferenças entre as crianças em seus contextos sociais e culturais;

IV - reduzir as desigualdades no acesso aos bens e serviços que atendam aos direitos da criança na primeira
infância, priorizando o investimento público na promoção da justiça social, da equidade e da inclusão sem
discriminação da criança;

V - articular as dimensões ética, humanista e política da criança cidadã com as evidências científicas e a prática
profissional no atendimento da primeira infância;

VI - adotar abordagem participativa, envolvendo a sociedade, por meio de suas organizações representativas,
os profissionais, os pais e as crianças, no aprimoramento da qualidade das ações e na garantia da oferta dos
serviços;

VII - articular as ações setoriais com vistas ao atendimento integral e integrado;

VIII - descentralizar as ações entre os entes da Federação;


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 791

IX - promover a formação da cultura de proteção e promoção da criança, com apoio dos meios de comunicação
social.

Parágrafo único. A participação da criança na formulação das políticas e das ações que lhe dizem respeito tem
o objetivo de promover sua inclusão social como cidadã e dar-se-á de acordo com a especificidade de sua
idade, devendo ser realizada por profissionais qualificados em processos de escuta adequados às diferentes
formas de expressão infantil.

Art. 5º Constituem áreas prioritárias para as políticas públicas para a primeira infância a saúde, a alimentação
e a nutrição, a educação infantil, a convivência familiar e comunitária, a assistência social à família da criança,
a cultura, o brincar e o lazer, o espaço e o meio ambiente, bem como a proteção contra toda forma de violência
e de pressão consumista, a prevenção de acidentes e a adoção de medidas que evitem a exposição precoce
à comunicação mercadológica.

Art. 6º A Política Nacional Integrada para a primeira infância será formulada e implementada mediante
abordagem e coordenação intersetorial que articule as diversas políticas setoriais a partir de uma visão
abrangente de todos os direitos da criança na primeira infância.

Art. 7º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir, nos respectivos âmbitos, comitê
intersetorial de políticas públicas para a primeira infância com a finalidade de assegurar a articulação das ações
voltadas à proteção e à promoção dos direitos da criança, garantida a participação social por meio dos
conselhos de direitos.

§ 1º Caberá ao Poder Executivo no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios indicar
o órgão responsável pela coordenação do comitê intersetorial previsto no caput deste artigo.

§ 2º O órgão indicado pela União nos termos do § 1º deste artigo manterá permanente articulação com as
instâncias de coordenação das ações estaduais, distrital e municipais de atenção à criança na primeira infância,
visando à complementaridade das ações e ao cumprimento do dever do Estado na garantia dos direitos da
criança.

Art. 8º O pleno atendimento dos direitos da criança na primeira infância constitui objetivo comum de todos os
entes da Federação, segundo as respectivas competências constitucionais e legais, a ser alcançado em regime
de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios.

Parágrafo único. A União buscará a adesão dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios à abordagem
multi e intersetorial no atendimento dos direitos da criança na primeira infância e oferecerá assistência técnica
na elaboração de planos estaduais, distrital e municipais para a primeira infância que articulem os diferentes
setores.

Art. 9º As políticas para a primeira infância serão articuladas com as instituições de formação profissional,
visando à adequação dos cursos às características e necessidades das crianças e à formação de profissionais
qualificados, para possibilitar a expansão com qualidade dos diversos serviços.

Art. 10. Os profissionais que atuam nos diferentes ambientes de execução das políticas e programas destinados
à criança na primeira infância terão acesso garantido e prioritário à qualificação, sob a forma de especialização
e atualização, em programas que contemplem, entre outros temas, a especificidade da primeira infância, a
estratégia da intersetorialidade na promoção do desenvolvimento integral e a prevenção e a proteção contra
toda forma de violência contra a criança.

Art. 11. As políticas públicas terão, necessariamente, componentes de monitoramento e coleta sistemática de
dados, avaliação periódica dos elementos que constituem a oferta dos serviços à criança e divulgação dos seus
resultados.

§ 1º A União manterá instrumento individual de registro unificado de dados do crescimento e desenvolvimento


da criança, assim como sistema informatizado, que inclua as redes pública e privada de saúde, para
atendimento ao disposto neste artigo.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 792

§ 2º A União informará à sociedade a soma dos recursos aplicados anualmente no conjunto dos programas e
serviços para a primeira infância e o percentual que os valores representam em relação ao respectivo
orçamento realizado, bem como colherá informações sobre os valores aplicados pelos demais entes da
Federação.

Art. 12. A sociedade participa solidariamente com a família e o Estado da proteção e da promoção da criança
na primeira infância, nos termos do caput e do § 7º do art. 227 , combinado com o inciso II do art. 204 da
Constituição Federal , entre outras formas:

I - formulando políticas e controlando ações, por meio de organizações representativas;

II - integrando conselhos, de forma paritária com representantes governamentais, com funções de


planejamento, acompanhamento, controle social e avaliação;

III - executando ações diretamente ou em parceria com o poder público;

IV - desenvolvendo programas, projetos e ações compreendidos no conceito de responsabilidade social e de


investimento social privado;

V - criando, apoiando e participando de redes de proteção e cuidado à criança nas comunidades;

VI - promovendo ou participando de campanhas e ações que visem a aprofundar a consciência social sobre o
significado da primeira infância no desenvolvimento do ser humano.

Art. 13. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios apoiarão a participação das famílias em redes
de proteção e cuidado da criança em seus contextos sociofamiliar e comunitário visando, entre outros objetivos,
à formação e ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários, com prioridade aos contextos que
apresentem riscos ao desenvolvimento da criança.

Art. 14. As políticas e programas governamentais de apoio às famílias, incluindo as visitas domiciliares e os
programas de promoção da paternidade e maternidade responsáveis, buscarão a articulação das áreas de
saúde, nutrição, educação, assistência social, cultura, trabalho, habitação, meio ambiente e direitos humanos,
entre outras, com vistas ao desenvolvimento integral da criança.

§ 1º Os programas que se destinam ao fortalecimento da família no exercício de sua função de cuidado e


educação de seus filhos na primeira infância promoverão atividades centradas na criança, focadas na família
e baseadas na comunidade.

§ 2º As famílias identificadas nas redes de saúde, educação e assistência social e nos órgãos do Sistema de
Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente que se encontrem em situação de vulnerabilidade e de risco
ou com direitos violados para exercer seu papel protetivo de cuidado e educação da criança na primeira
infância, bem como as que têm crianças com indicadores de risco ou deficiência, terão prioridade nas políticas
sociais públicas.

§ 3º As gestantes e as famílias com crianças na primeira infância deverão receber orientação e formação sobre
maternidade e paternidade responsáveis, aleitamento materno, alimentação complementar saudável,
crescimento e desenvolvimento infantil integral, prevenção de acidentes e educação sem uso de castigos
físicos, nos termos da Lei nº 13.010, de 26 de junho de 2014 , com o intuito de favorecer a formação e a
consolidação de vínculos afetivos e estimular o desenvolvimento integral na primeira infância.

§ 4º A oferta de programas e de ações de visita domiciliar e de outras modalidades que estimulem o


desenvolvimento integral na primeira infância será considerada estratégia de atuação sempre que respaldada
pelas políticas públicas sociais e avaliada pela equipe profissional responsável.

§ 5º Os programas de visita domiciliar voltados ao cuidado e educação na primeira infância deverão contar com
profissionais qualificados, apoiados por medidas que assegurem sua permanência e formação continuada.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 793

Art. 15. As políticas públicas criarão condições e meios para que, desde a primeira infância, a criança tenha
acesso à produção cultural e seja reconhecida como produtora de cultura.

Art. 16. A expansão da educação infantil deverá ser feita de maneira a assegurar a qualidade da oferta, com
instalações e equipamentos que obedeçam a padrões de infraestrutura estabelecidos pelo Ministério da
Educação, com profissionais qualificados conforme dispõe a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional) , e com currículo e materiais pedagógicos adequados à proposta
pedagógica.

Parágrafo único. A expansão da educação infantil das crianças de 0 (zero) a 3 (três) anos de idade, no
cumprimento da meta do Plano Nacional de Educação, atenderá aos critérios definidos no território nacional
pelo competente sistema de ensino, em articulação com as demais políticas sociais.

Art. 17. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão organizar e estimular a criação de
espaços lúdicos que propiciem o bem-estar, o brincar e o exercício da criatividade em locais públicos e privados
onde haja circulação de crianças, bem como a fruição de ambientes livres e seguros em suas comunidades.

Art. 18. O art. 3º da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente) , passa a
vigorar acrescido do seguinte parágrafo único:

“Art. 3º ..........................................................................

Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se a todas as crianças e adolescentes, sem
discriminação de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença, deficiência,
condição pessoal de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica, ambiente social, região e local
de moradia ou outra condição que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em que vivem.” (NR)

Art. 19. O art. 8º da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 , passa a vigorar com a seguinte redação:

“ Art. 8º É assegurado a todas as mulheres o acesso aos programas e às políticas de saúde da mulher e de
planejamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequada, atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao
puerpério e atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal integral no âmbito do Sistema Único de Saúde.

§ 1º O atendimento pré-natal será realizado por profissionais da atenção primária.

§ 2º Os profissionais de saúde de referência da gestante garantirão sua vinculação, no último trimestre da


gestação, ao estabelecimento em que será realizado o parto, garantido o direito de opção da mulher.

§ 3º Os serviços de saúde onde o parto for realizado assegurarão às mulheres e aos seus filhos recém-nascidos
alta hospitalar responsável e contrarreferência na atenção primária, bem como o acesso a outros serviços e a
grupos de apoio à amamentação.

.............................................................................................

§ 5º A assistência referida no § 4º deste artigo deverá ser prestada também a gestantes e mães que manifestem
interesse em entregar seus filhos para adoção, bem como a gestantes e mães que se encontrem em situação
de privação de liberdade.

§ 6º A gestante e a parturiente têm direito a 1 (um) acompanhante de sua preferência durante o período do pré-
natal, do trabalho de parto e do pós-parto imediato.

§ 7º A gestante deverá receber orientação sobre aleitamento materno, alimentação complementar saudável e
crescimento e desenvolvimento infantil, bem como sobre formas de favorecer a criação de vínculos afetivos e
de estimular o desenvolvimento integral da criança.

§ 8º A gestante tem direito a acompanhamento saudável durante toda a gestação e a parto natural cuidadoso,
estabelecendo-se a aplicação de cesariana e outras intervenções cirúrgicas por motivos médicos.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 794

§ 9º A atenção primária à saúde fará a busca ativa da gestante que não iniciar ou que abandonar as consultas
de pré-natal, bem como da puérpera que não comparecer às consultas pós-parto.

§ 10. Incumbe ao poder público garantir, à gestante e à mulher com filho na primeira infância que se encontrem
sob custódia em unidade de privação de liberdade, ambiência que atenda às normas sanitárias e assistenciais
do Sistema Único de Saúde para o acolhimento do filho, em articulação com o sistema de ensino competente,
visando ao desenvolvimento integral da criança.” (NR)

Art. 20. O art. 9º da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 , passa a vigorar acrescido dos seguintes §§ 1º e 2º :

“Art. 9º ........................................................................

§ 1º Os profissionais das unidades primárias de saúde desenvolverão ações sistemáticas, individuais ou


coletivas, visando ao planejamento, à implementação e à avaliação de ações de promoção, proteção e apoio
ao aleitamento materno e à alimentação complementar saudável, de forma contínua.

§ 2º Os serviços de unidades de terapia intensiva neonatal deverão dispor de banco de leite humano ou unidade
de coleta de leite humano.” (NR)

Art. 21. O art. 11 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 , passa a vigorar com a seguinte redação:

“ Art. 11. É assegurado acesso integral às linhas de cuidado voltadas à saúde da criança e do adolescente, por
intermédio do Sistema Único de Saúde, observado o princípio da equidade no acesso a ações e serviços para
promoção, proteção e recuperação da saúde.

§ 1º A criança e o adolescente com deficiência serão atendidos, sem discriminação ou segregação, em suas
necessidades gerais de saúde e específicas de habilitação e reabilitação.

§ 2º Incumbe ao poder público fornecer gratuitamente, àqueles que necessitarem, medicamentos, órteses,
próteses e outras tecnologias assistivas relativas ao tratamento, habilitação ou reabilitação para crianças e
adolescentes, de acordo com as linhas de cuidado voltadas às suas necessidades específicas.

§ 3º Os profissionais que atuam no cuidado diário ou frequente de crianças na primeira infância receberão
formação específica e permanente para a detecção de sinais de risco para o desenvolvimento psíquico, bem
como para o acompanhamento que se fizer necessário.” (NR)

Art. 22. O art. 12 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 , passa a vigorar com a seguinte redação:

“ Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde, inclusive as unidades neonatais, de terapia intensiva
e de cuidados intermediários, deverão proporcionar condições para a permanência em tempo integral de um
dos pais ou responsável, nos casos de internação de criança ou adolescente.” (NR)

Art. 23. O art. 13 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 , passa a vigorar acrescido do seguinte § 2º,
numerando-se o atual parágrafo único como § 1º :

“Art. 13. .......................................................................

§ 1º As gestantes ou mães que manifestem interesse em entregar seus filhos para adoção serão
obrigatoriamente encaminhadas, sem constrangimento, à Justiça da Infância e da Juventude.

§ 2º Os serviços de saúde em suas diferentes portas de entrada, os serviços de assistência social em seu
componente especializado, o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) e os demais
órgãos do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente deverão conferir máxima prioridade
ao atendimento das crianças na faixa etária da primeira infância com suspeita ou confirmação de violência de
qualquer natureza, formulando projeto terapêutico singular que inclua intervenção em rede e, se necessário,
acompanhamento domiciliar.” (NR)
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 795

Art. 24. O art. 14 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 , passa a vigorar acrescido dos seguintes §§ 2º, 3º e
4º, numerando-se o atual parágrafo único como § 1º :

“Art. 14. .......................................................................

§ 1º .............................................................................

§ 2º O Sistema Único de Saúde promoverá a atenção à saúde bucal das crianças e das gestantes, de forma
transversal, integral e intersetorial com as demais linhas de cuidado direcionadas à mulher e à criança.

§ 3º A atenção odontológica à criança terá função educativa protetiva e será prestada, inicialmente, antes de o
bebê nascer, por meio de aconselhamento pré-natal, e, posteriormente, no sexto e no décimo segundo anos
de vida, com orientações sobre saúde bucal.

§ 4º A criança com necessidade de cuidados odontológicos especiais será atendida pelo Sistema Único de
Saúde.” (NR)

Art. 25. O art. 19 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 , passa a vigorar com a seguinte redação:

“ Art. 19. É direito da criança e do adolescente ser criado e educado no seio de sua família e, excepcionalmente,
em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu
desenvolvimento integral.

.............................................................................................

§ 3º A manutenção ou a reintegração de criança ou adolescente à sua família terá preferência em relação a


qualquer outra providência, caso em que será esta incluída em serviços e programas de proteção, apoio e
promoção, nos termos do § 1º do art. 23, dos incisos I e IV do caput do art. 101 e dos incisos I a IV do caput do
art. 129 desta Lei.

....................................................................................” (NR)

Art. 26. O art. 22 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 , passa a vigorar acrescido do seguinte parágrafo
único:

“Art. 22. .......................................................................

Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis, têm direitos iguais e deveres e responsabilidades
compartilhados no cuidado e na educação da criança, devendo ser resguardado o direito de transmissão
familiar de suas crenças e culturas, assegurados os direitos da criança estabelecidos nesta Lei.” (NR)

Art. 27. O § 1º do art. 23 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 , passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 23. ......................................................................

§ 1º Não existindo outro motivo que por si só autorize a decretação da medida, a criança ou o adolescente será
mantido em sua família de origem, a qual deverá obrigatoriamente ser incluída em serviços e programas oficiais
de proteção, apoio e promoção.

...................................................................................” (NR)

Art. 28. O art. 34 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 , passa a vigorar acrescido dos seguintes §§ 3º e 4º :

“Art. 34. ......................................................................

............................................................................................
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 796

§ 3º A União apoiará a implementação de serviços de acolhimento em família acolhedora como política pública,
os quais deverão dispor de equipe que organize o acolhimento temporário de crianças e de adolescentes em
residências de famílias selecionadas, capacitadas e acompanhadas que não estejam no cadastro de adoção.

§ 4º Poderão ser utilizados recursos federais, estaduais, distritais e municipais para a manutenção dos serviços
de acolhimento em família acolhedora, facultando-se o repasse de recursos para a própria família acolhedora.”
(NR)

Art. 29. O inciso II do art. 87 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 , passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 87. .......................................................................

.............................................................................................

II - serviços, programas, projetos e benefícios de assistência social de garantia de proteção social e de


prevenção e redução de violações de direitos, seus agravamentos ou reincidências;

...................................................................................” (NR)

Art. 30. O art. 88 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 , passa a vigorar acrescido dos seguintes incisos VIII,
IX e X:

“Art. 88. ......................................................................

VIII - especialização e formação continuada dos profissionais que trabalham nas diferentes áreas da atenção
à primeira infância, incluindo os conhecimentos sobre direitos da criança e sobre desenvolvimento infantil;

IX - formação profissional com abrangência dos diversos direitos da criança e do adolescente que favoreça a
intersetorialidade no atendimento da criança e do adolescente e seu desenvolvimento integral;

X - realização e divulgação de pesquisas sobre desenvolvimento infantil e sobre prevenção da violência.” (NR)

Art. 31. O art. 92 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 , passa a vigorar acrescido do seguinte § 7º :

“Art. 92. .....................................................................

§ 7º Quando se tratar de criança de 0 (zero) a 3 (três) anos em acolhimento institucional, dar-se-á especial
atenção à atuação de educadores de referência estáveis e qualitativamente significativos, às rotinas específicas
e ao atendimento das necessidades básicas, incluindo as de afeto como prioritárias.” (NR)

Art. 32. O inciso IV do caput do art. 101 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 , passa a vigorar com a seguinte
redação:

“Art. 101. ....................................................................

IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção da família, da


criança e do adolescente;

...................................................................................” (NR)

Art. 33. O art. 102 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 , passa a vigorar acrescido dos seguintes §§ 5º e 6º
:

“Art. 102. ....................................................................

§ 5º Os registros e certidões necessários à inclusão, a qualquer tempo, do nome do pai no assento de


nascimento são isentos de multas, custas e emolumentos, gozando de absoluta prioridade.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 797

§ 6º São gratuitas, a qualquer tempo, a averbação requerida do reconhecimento de paternidade no assento de


nascimento e a certidão correspondente.” (NR)

Art. 34. O inciso I do art. 129 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 , passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 129. ....................................................................

I - encaminhamento a serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção da família;

..................................................................................” (NR)

Art. 35. Os §§ 1º -A e 2º do art. 260 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 , passam a vigorar com a seguinte
redação:

“Art. 260. ....................................................................

§ 1º -A. Na definição das prioridades a serem atendidas com os recursos captados pelos fundos nacional,
estaduais e municipais dos direitos da criança e do adolescente, serão consideradas as disposições do Plano
Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e
Comunitária e as do Plano Nacional pela Primeira Infância.

§ 2º Os conselhos nacional, estaduais e municipais dos direitos da criança e do adolescente fixarão critérios
de utilização, por meio de planos de aplicação, das dotações subsidiadas e demais receitas, aplicando
necessariamente percentual para incentivo ao acolhimento, sob a forma de guarda, de crianças e adolescentes
e para programas de atenção integral à primeira infância em áreas de maior carência socioeconômica e em
situações de calamidade.

.................................................................................” (NR)

Art. 36. A Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 , passa a vigorar acrescida do seguinte art. 265-A:

“ Art. 265-A. O poder público fará periodicamente ampla divulgação dos direitos da criança e do adolescente
nos meios de comunicação social.

Parágrafo único. A divulgação a que se refere o caput será veiculada em linguagem clara, compreensível e
adequada a crianças e adolescentes, especialmente às crianças com idade inferior a 6 (seis) anos.”

Art. 37. O art. 473 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de
maio de 1943 , passa a vigorar acrescido dos seguintes incisos X e XI:

“Art. 473. ....................................................................

.............................................................................................

X - até 2 (dois) dias para acompanhar consultas médicas e exames complementares durante o período de
gravidez de sua esposa ou companheira;

XI - por 1 (um) dia por ano para acompanhar filho de até 6 (seis) anos em consulta médica.” (NR)

Art. 38. Os arts. 1º, 3º, 4º e 5º da Lei nº 11.770, de 9 de setembro de 2008 , passam a vigorar com as seguintes
alterações: (Produção de efeito)

“ Art. 1º É instituído o Programa Empresa Cidadã, destinado a prorrogar:

I - por 60 (sessenta) dias a duração da licença-maternidade prevista no inciso XVIII do caput do art. 7º da
Constituição Federal ;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 798

II - por 15 (quinze) dias a duração da licença-paternidade, nos termos desta Lei, além dos 5 (cinco) dias
estabelecidos no § 1º do art. 10 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias .

§ 1º A prorrogação de que trata este artigo:

I - será garantida à empregada da pessoa jurídica que aderir ao Programa, desde que a empregada a requeira
até o final do primeiro mês após o parto, e será concedida imediatamente após a fruição da licença-maternidade
de que trata o inciso XVIII do caput do art. 7º da Constituição Federal ;

II - será garantida ao empregado da pessoa jurídica que aderir ao Programa, desde que o empregado a requeira
no prazo de 2 (dois) dias úteis após o parto e comprove participação em programa ou atividade de orientação
sobre paternidade responsável.

§ 2º A prorrogação será garantida, na mesma proporção, à empregada e ao empregado que adotar ou obtiver
guarda judicial para fins de adoção de criança.” (NR)

“ Art. 3º Durante o período de prorrogação da licença-maternidade e da licença-paternidade:

I - a empregada terá direito à remuneração integral, nos mesmos moldes devidos no período de percepção do
salário-maternidade pago pelo Regime Geral de Previdência Social (RGPS);

II - o empregado terá direito à remuneração integral.” (NR)

“ Art. 4º No período de prorrogação da licença-maternidade e da licença-paternidade de que trata esta Lei, a


empregada e o empregado não poderão exercer nenhuma atividade remunerada, e a criança deverá ser
mantida sob seus cuidados.

Parágrafo único. Em caso de descumprimento do disposto no caput deste artigo, a empregada e o empregado
perderão o direito à prorrogação.” (NR)

“ Art. 5º A pessoa jurídica tributada com base no lucro real poderá deduzir do imposto devido, em cada período
de apuração, o total da remuneração integral da empregada e do empregado pago nos dias de prorrogação de
sua licença-maternidade e de sua licença-paternidade, vedada a dedução como despesa operacional.

..................................................................................” (NR)

Art. 39. O Poder Executivo, com vistas ao cumprimento do disposto no inciso II do caput do art. 5º e nos arts.
12 e 14 da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000 , estimará o montante da renúncia fiscal decorrente
do disposto no art. 38 desta Lei e o incluirá no demonstrativo a que se refere o § 6º do art. 165 da Constituição
Federal , que acompanhará o projeto de lei orçamentária cuja apresentação se der após decorridos 60
(sessenta) dias da publicação desta Lei. (Produção de efeito)

Art. 40. Os arts. 38 e 39 desta Lei produzem efeitos a partir do primeiro dia do exercício subsequente àquele
em que for implementado o disposto no art. 39.

Art. 41. Os arts. 6º, 185, 304 e 318 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo
Penal) , passam a vigorar com as seguintes alterações:

“Art. 6º .........................................................................

.............................................................................................

X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o
nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa.” (NR)

“Art. 185. ....................................................................

............................................................................................
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 799

§ 10. Do interrogatório deverá constar a informação sobre a existência de filhos, respectivas idades e se
possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado
pela pessoa presa.” (NR)

“Art. 304. ....................................................................

............................................................................................

§ 4º Da lavratura do auto de prisão em flagrante deverá constar a informação sobre a existência de filhos,
respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos
cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa.” (NR)

“Art. 318. .....................................................................

.............................................................................................

IV - gestante;

V - mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos;

VI - homem, caso seja o único responsável pelos cuidados do filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos.

...................................................................................” (NR)

Art. 42. O art. 5º da Lei nº 12.662, de 5 de junho de 2012 , passa a vigorar acrescido dos seguintes §§ 3º e 4º
:

“Art. 5º .........................................................................

.............................................................................................

§ 3º O sistema previsto no caput deverá assegurar a interoperabilidade com o Sistema Nacional de


Informações de Registro Civil (Sirc).

§ 4º Os estabelecimentos de saúde públicos e privados que realizam partos terão prazo de 1 (um) ano para se
interligarem, mediante sistema informatizado, às serventias de registro civil existentes nas unidades federativas
que aderirem ao sistema interligado previsto em regramento do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).” (NR)

Art. 43. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 8 de março de 2016; 195º da Independência e 128º da República.

DILMA ROUSSEFF
Nelson Barbosa
Aloizio Mercadante
Marcelo Costa e Castro
Tereza Campello
Nilma Lino Gomes
Este texto não substitui o publicado no DOU de 9.3.2016
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 800

13. LEI Nº 13.260/2016 - (LEI ANTITERRORISMO)

LEI Nº 13.260, DE 16 DE MARÇO DE 2016.

Regulamenta o disposto no inciso XLIII do art. 5º da Constituição Federal, disciplinando o terrorismo,


tratando de disposições investigatórias e processuais e reformulando o conceito de organização
terrorista; e altera as Leis n º 7.960, de 21 de dezembro de 1989, e 12.850, de 2 de agosto de 2013.

A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º Esta Lei regulamenta o disposto no inciso XLIII do art. 5º da Constituição Federal , disciplinando o
terrorismo, tratando de disposições investigatórias e processuais e reformulando o conceito de organização
terrorista.

Art. 2º O terrorismo consiste na prática por um ou mais indivíduos dos atos previstos neste artigo, por razões
de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião, quando cometidos com a finalidade
de provocar terror social ou generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a
incolumidade pública.

§ 1º São atos de terrorismo:

I - usar ou ameaçar usar, transportar, guardar, portar ou trazer consigo explosivos, gases tóxicos, venenos,
conteúdos biológicos, químicos, nucleares ou outros meios capazes de causar danos ou promover destruição
em massa;

II – (VETADO);

III - (VETADO);

IV - sabotar o funcionamento ou apoderar-se, com violência, grave ameaça a pessoa ou servindo-se de


mecanismos cibernéticos, do controle total ou parcial, ainda que de modo temporário, de meio de comunicação
ou de transporte, de portos, aeroportos, estações ferroviárias ou rodoviárias, hospitais, casas de saúde,
escolas, estádios esportivos, instalações públicas ou locais onde funcionem serviços públicos essenciais,
instalações de geração ou transmissão de energia, instalações militares, instalações de exploração, refino e
processamento de petróleo e gás e instituições bancárias e sua rede de atendimento;

V - atentar contra a vida ou a integridade física de pessoa:

Pena - reclusão, de doze a trinta anos, além das sanções correspondentes à ameaça ou à violência.

§ 2º O disposto neste artigo não se aplica à conduta individual ou coletiva de pessoas em manifestações
políticas, movimentos sociais, sindicais, religiosos, de classe ou de categoria profissional, direcionados por
propósitos sociais ou reivindicatórios, visando a contestar, criticar, protestar ou apoiar, com o objetivo de
defender direitos, garantias e liberdades constitucionais, sem prejuízo da tipificação penal contida em lei.

Art. 3º Promover, constituir, integrar ou prestar auxílio, pessoalmente ou por interposta pessoa, a organização
terrorista:

Pena - reclusão, de cinco a oito anos, e multa.

§ 1º (VETADO).
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§ 2º (VETADO).

Art. 4º (VETADO).

Art. 5º Realizar atos preparatórios de terrorismo com o propósito inequívoco de consumar tal delito:

Pena - a correspondente ao delito consumado, diminuída de um quarto até a metade.

§ 1º Incorre nas mesmas penas o agente que, com o propósito de praticar atos de terrorismo:

I - recrutar, organizar, transportar ou municiar indivíduos que viajem para país distinto daquele de sua residência
ou nacionalidade; ou

II - fornecer ou receber treinamento em país distinto daquele de sua residência ou nacionalidade.

§ 2º Nas hipóteses do § 1º, quando a conduta não envolver treinamento ou viagem para país distinto daquele
de sua residência ou nacionalidade, a pena será a correspondente ao delito consumado, diminuída de metade
a dois terços.

Art. 6º Receber, prover, oferecer, obter, guardar, manter em depósito, solicitar, investir, de qualquer modo,
direta ou indiretamente, recursos, ativos, bens, direitos, valores ou serviços de qualquer natureza, para o
planejamento, a preparação ou a execução dos crimes previstos nesta Lei:

Pena - reclusão, de quinze a trinta anos.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem oferecer ou receber, obtiver, guardar, mantiver em depósito,
solicitar, investir ou de qualquer modo contribuir para a obtenção de ativo, bem ou recurso financeiro, com a
finalidade de financiar, total ou parcialmente, pessoa, grupo de pessoas, associação, entidade, organização
criminosa que tenha como atividade principal ou secundária, mesmo em caráter eventual, a prática dos crimes
previstos nesta Lei.

Art. 7º Salvo quando for elementar da prática de qualquer crime previsto nesta Lei, se de algum deles resultar
lesão corporal grave, aumenta-se a pena de um terço, se resultar morte, aumenta-se a pena da metade.

Art. 8º (VETADO).

Art. 9º (VETADO).

Art. 10. Mesmo antes de iniciada a execução do crime de terrorismo, na hipótese do art. 5º desta Lei, aplicam-
se as disposições do art. 15 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal .

Art. 11. Para todos os efeitos legais, considera-se que os crimes previstos nesta Lei são praticados contra o
interesse da União, cabendo à Polícia Federal a investigação criminal, em sede de inquérito policial, e à Justiça
Federal o seu processamento e julgamento, nos termos do inciso IV do art. 109 da Constituição Federal .

Parágrafo único. (VETADO).

Art. 12. O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante representação do delegado de
polícia, ouvido o Ministério Público em vinte e quatro horas, havendo indícios suficientes de crime previsto nesta
Lei, poderá decretar, no curso da investigação ou da ação penal, medidas assecuratórias de bens, direitos ou
valores do investigado ou acusado, ou existentes em nome de interpostas pessoas, que sejam instrumento,
produto ou proveito dos crimes previstos nesta Lei.

§ 1º Proceder-se-á à alienação antecipada para preservação do valor dos bens sempre que estiverem sujeitos
a qualquer grau de deterioração ou depreciação, ou quando houver dificuldade para sua manutenção.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 802

§ 2º O juiz determinará a liberação, total ou parcial, dos bens, direitos e valores quando comprovada a licitude
de sua origem e destinação, mantendo-se a constrição dos bens, direitos e valores necessários e suficientes à
reparação dos danos e ao pagamento de prestações pecuniárias, multas e custas decorrentes da infração
penal.

§ 3º Nenhum pedido de liberação será conhecido sem o comparecimento pessoal do acusado ou de interposta
pessoa a que se refere o caput deste artigo, podendo o juiz determinar a prática de atos necessários à
conservação de bens, direitos ou valores, sem prejuízo do disposto no § 1º.

§ 4º Poderão ser decretadas medidas assecuratórias sobre bens, direitos ou valores para reparação do dano
decorrente da infração penal antecedente ou da prevista nesta Lei ou para pagamento de prestação pecuniária,
multa e custas.

Art. 13. Quando as circunstâncias o aconselharem, o juiz, ouvido o Ministério Público, nomeará pessoa física
ou jurídica qualificada para a administração dos bens, direitos ou valores sujeitos a medidas assecuratórias,
mediante termo de compromisso.

Art. 14. A pessoa responsável pela administração dos bens:

I - fará jus a uma remuneração, fixada pelo juiz, que será satisfeita preferencialmente com o produto dos bens
objeto da administração;

II - prestará, por determinação judicial, informações periódicas da situação dos bens sob sua administração,
bem como explicações e detalhamentos sobre investimentos e reinvestimentos realizados.

Parágrafo único. Os atos relativos à administração dos bens serão levados ao conhecimento do Ministério
Público, que requererá o que entender cabível.

Art. 15. O juiz determinará, na hipótese de existência de tratado ou convenção internacional e por solicitação
de autoridade estrangeira competente, medidas assecuratórias sobre bens, direitos ou valores oriundos de
crimes descritos nesta Lei praticados no estrangeiro.

§ 1º Aplica-se o disposto neste artigo, independentemente de tratado ou convenção internacional, quando


houver reciprocidade do governo do país da autoridade solicitante.

§ 2º Na falta de tratado ou convenção, os bens, direitos ou valores sujeitos a medidas assecuratórias por
solicitação de autoridade estrangeira competente ou os recursos provenientes da sua alienação serão
repartidos entre o Estado requerente e o Brasil, na proporção de metade, ressalvado o direito do lesado ou de
terceiro de boa-fé.

Art. 16. Aplicam-se as disposições da Lei nº 12.850, de 2 agosto de 2013 , para a investigação, processo e
julgamento dos crimes previstos nesta Lei.

Art. 17. Aplicam-se as disposições da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990 , aos crimes previstos nesta Lei.

Art. 18. O inciso III do art. 1º da Lei nº 7.960, de 21 de dezembro de 1989 , passa a vigorar acrescido da seguinte
alínea p :

“Art. lº ......................................................................

...........................................................................................

III - .............................................................................

............................................................................................

p) crimes previstos na Lei de Terrorismo.” (NR)


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 803

Art. 19. O art. 1º da Lei nº 12.850, de 2 de agosto de 2013 , passa a vigorar com a seguinte alteração:

“Art. 1º .......................................................................

............................................................................................

§ 2º .............................................................................

............................................................................................

II - às organizações terroristas, entendidas como aquelas voltadas para a prática dos atos de terrorismo
legalmente definidos.” (NR)

Art. 20. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 16 de março de 2016; 195º da Independência e 128º da República.

DILMA ROUSSEFF

Wellington César Lima e Silva


Nelson Barbosa
Nilma Lino Gomes

Este texto não substitui o publicado no DOU de 17.3.2016 - Edição extra e retificada em 18.3.2016
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14. DECRETO Nº 8858/2016 – REGULAMENTA ART. 199 DA LEI Nº 7210/1984


(LEI DE EXECUÇÃO PENAL)

DECRETO Nº 8.858, DE 26 DE SETEMBRO DE 2016

Regulamenta o disposto no art. 199 da Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 - Lei de Execução Penal.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, caput , inciso IV, da
Constituição, e tendo em vista o disposto no art. 199 da Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 - Lei de Execução
Penal,

DECRETA :

Art. 1º O emprego de algemas observará o disposto neste Decreto e terá como diretrizes:

I - o inciso III do caput do art. 1º e o inciso III do caput do art. 5º da Constituição , que dispõem sobre a proteção
e a promoção da dignidade da pessoa humana e sobre a proibição de submissão ao tratamento desumano e
degradante;

II - a Resolução nº 2010/16, de 22 de julho de 2010, das Nações Unidas sobre o tratamento de mulheres presas
e medidas não privativas de liberdade para mulheres infratoras (Regras de Bangkok); e

III - o Pacto de San José da Costa Rica, que determina o tratamento humanitário dos presos e, em especial,
das mulheres em condição de vulnerabilidade.

Art. 2º É permitido o emprego de algemas apenas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de
perigo à integridade física própria ou alheia, causado pelo preso ou por terceiros, justificada a sua
excepcionalidade por escrito.

Art. 3º É vedado emprego de algemas em mulheres presas em qualquer unidade do sistema penitenciário
nacional durante o trabalho de parto, no trajeto da parturiente entre a unidade prisional e a unidade hospitalar
e após o parto, durante o período em que se encontrar hospitalizada.

Art. 4º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 26 de setembro de 2016; 195º da Independência e 128º da República.

MICHEL TEMER

Alexandre de Moraes

Este texto não substitui o publicado no DOU de 27.9.2016


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15. LEI Nº 13.445/2017 (LEI DE MIGRAÇÃO)

LEI Nº 13.445, DE 24 DE MAIO DE 2017.

Institui a Lei de Migração.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Seção I

Disposições Gerais

Art. 1º Esta Lei dispõe sobre os direitos e os deveres do migrante e do visitante, regula a sua entrada e estada
no País e estabelece princípios e diretrizes para as políticas públicas para o emigrante.

§ 1º Para os fins desta Lei, considera-se:

I - (VETADO);

II - imigrante: pessoa nacional de outro país ou apátrida que trabalha ou reside e se estabelece temporária ou
definitivamente no Brasil;

III - emigrante: brasileiro que se estabelece temporária ou definitivamente no exterior;

IV - residente fronteiriço: pessoa nacional de país limítrofe ou apátrida que conserva a sua residência habitual
em município fronteiriço de país vizinho;

V - visitante: pessoa nacional de outro país ou apátrida que vem ao Brasil para estadas de curta duração, sem
pretensão de se estabelecer temporária ou definitivamente no território nacional;

VI - apátrida: pessoa que não seja considerada como nacional por nenhum Estado, segundo a sua legislação,
nos termos da Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas, de 1954, promulgada pelo Decreto nº 4.246, de 22
de maio de 2002 , ou assim reconhecida pelo Estado brasileiro.

§ 2º (VETADO).

Art. 2º Esta Lei não prejudica a aplicação de normas internas e internacionais específicas sobre refugiados,
asilados, agentes e pessoal diplomático ou consular, funcionários de organização internacional e seus
familiares.

Seção II

Dos Princípios e das Garantias

Art. 3º A política migratória brasileira rege-se pelos seguintes princípios e diretrizes:

I - universalidade, indivisibilidade e interdependência dos direitos humanos;

II - repúdio e prevenção à xenofobia, ao racismo e a quaisquer formas de discriminação;

III - não criminalização da migração;


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IV - não discriminação em razão dos critérios ou dos procedimentos pelos quais a pessoa foi admitida em
território nacional;

V - promoção de entrada regular e de regularização documental;

VI - acolhida humanitária;

VII - desenvolvimento econômico, turístico, social, cultural, esportivo, científico e tecnológico do Brasil;

VIII - garantia do direito à reunião familiar;

IX - igualdade de tratamento e de oportunidade ao migrante e a seus familiares;

X - inclusão social, laboral e produtiva do migrante por meio de políticas públicas;

XI - acesso igualitário e livre do migrante a serviços, programas e benefícios sociais, bens públicos, educação,
assistência jurídica integral pública, trabalho, moradia, serviço bancário e seguridade social;

XII - promoção e difusão de direitos, liberdades, garantias e obrigações do migrante;

XIII - diálogo social na formulação, na execução e na avaliação de políticas migratórias e promoção da


participação cidadã do migrante;

XIV - fortalecimento da integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, mediante
constituição de espaços de cidadania e de livre circulação de pessoas;

XV - cooperação internacional com Estados de origem, de trânsito e de destino de movimentos migratórios, a


fim de garantir efetiva proteção aos direitos humanos do migrante;

XVI - integração e desenvolvimento das regiões de fronteira e articulação de políticas públicas regionais
capazes de garantir efetividade aos direitos do residente fronteiriço;

XVII - proteção integral e atenção ao superior interesse da criança e do adolescente migrante;

XVIII - observância ao disposto em tratado;

XIX - proteção ao brasileiro no exterior;

XX - migração e desenvolvimento humano no local de origem, como direitos inalienáveis de todas as pessoas;

XXI - promoção do reconhecimento acadêmico e do exercício profissional no Brasil, nos termos da lei; e

XXII - repúdio a práticas de expulsão ou de deportação coletivas.

Art. 4º Ao migrante é garantida no território nacional, em condição de igualdade com os nacionais, a


inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, bem como são
assegurados:

I - direitos e liberdades civis, sociais, culturais e econômicos;

II - direito à liberdade de circulação em território nacional;

III - direito à reunião familiar do migrante com seu cônjuge ou companheiro e seus filhos, familiares e
dependentes;

IV - medidas de proteção a vítimas e testemunhas de crimes e de violações de direitos;

V - direito de transferir recursos decorrentes de sua renda e economias pessoais a outro país, observada a
legislação aplicável;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 807

VI - direito de reunião para fins pacíficos;

VII - direito de associação, inclusive sindical, para fins lícitos;

VIII - acesso a serviços públicos de saúde e de assistência social e à previdência social, nos termos da lei, sem
discriminação em razão da nacionalidade e da condição migratória;

IX - amplo acesso à justiça e à assistência jurídica integral gratuita aos que comprovarem insuficiência de
recursos;

X - direito à educação pública, vedada a discriminação em razão da nacionalidade e da condição migratória;

XI - garantia de cumprimento de obrigações legais e contratuais trabalhistas e de aplicação das normas de


proteção ao trabalhador, sem discriminação em razão da nacionalidade e da condição migratória;

XII - isenção das taxas de que trata esta Lei, mediante declaração de hipossuficiência econômica, na forma de
regulamento;

XIII - direito de acesso à informação e garantia de confidencialidade quanto aos dados pessoais do migrante,
nos termos da Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011 ;

XIV - direito a abertura de conta bancária;

XV - direito de sair, de permanecer e de reingressar em território nacional, mesmo enquanto pendente pedido
de autorização de residência, de prorrogação de estada ou de transformação de visto em autorização de
residência; e

XVI - direito do imigrante de ser informado sobre as garantias que lhe são asseguradas para fins de
regularização migratória.

§ 1º Os direitos e as garantias previstos nesta Lei serão exercidos em observância ao disposto na Constituição
Federal, independentemente da situação migratória, observado o disposto no § 4º deste artigo, e não excluem
outros decorrentes de tratado de que o Brasil seja parte.

§ 2º (VETADO).

§ 3º (VETADO).

§ 4º (VETADO).

CAPÍTULO II

DA SITUAÇÃO DOCUMENTAL DO MIGRANTE E DO VISITANTE

Seção I

Dos Documentos de Viagem

Art. 5º São documentos de viagem:

I - passaporte;

II - laissez-passer ;

III - autorização de retorno;

IV - salvo-conduto;

V - carteira de identidade de marítimo;


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VI - carteira de matrícula consular;

VII - documento de identidade civil ou documento estrangeiro equivalente, quando admitidos em tratado;

VIII - certificado de membro de tripulação de transporte aéreo; e

IX - outros que vierem a ser reconhecidos pelo Estado brasileiro em regulamento.

§ 1º Os documentos previstos nos incisos I, II, III, IV, V, VI e IX, quando emitidos pelo Estado brasileiro, são de
propriedade da União, cabendo a seu titular a posse direta e o uso regular.

§ 2º As condições para a concessão dos documentos de que trata o § 1º serão previstas em regulamento.

Seção II

Dos Vistos

Subseção I

Disposições Gerais

Art. 6º O visto é o documento que dá a seu titular expectativa de ingresso em território nacional.

Parágrafo único. (VETADO).

Art. 7º O visto será concedido por embaixadas, consulados-gerais, consulados, vice-consulados e, quando
habilitados pelo órgão competente do Poder Executivo, por escritórios comerciais e de representação do Brasil
no exterior.

Parágrafo único. Excepcionalmente, os vistos diplomático, oficial e de cortesia poderão ser concedidos no
Brasil.

Art. 8º Poderão ser cobrados taxas e emolumentos consulares pelo processamento do visto.

Art. 9º Regulamento disporá sobre:

I - requisitos de concessão de visto, bem como de sua simplificação, inclusive por reciprocidade;

II - prazo de validade do visto e sua forma de contagem;

III - prazo máximo para a primeira entrada e para a estada do imigrante e do visitante no País;

IV - hipóteses e condições de dispensa recíproca ou unilateral de visto e de taxas e emolumentos consulares


por seu processamento; e

V - solicitação e emissão de visto por meio eletrônico.

Parágrafo único. A simplificação e a dispensa recíproca de visto ou de cobrança de taxas e emolumentos


consulares por seu processamento poderão ser definidas por comunicação diplomática.

Art. 10. Não se concederá visto:

I - a quem não preencher os requisitos para o tipo de visto pleiteado;

II - a quem comprovadamente ocultar condição impeditiva de concessão de visto ou de ingresso no País; ou

III - a menor de 18 (dezoito) anos desacompanhado ou sem autorização de viagem por escrito dos responsáveis
legais ou de autoridade competente.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 809

Art. 11. Poderá ser denegado visto a quem se enquadrar em pelo menos um dos casos de impedimento
definidos nos incisos I, II, III, IV e IX do art. 45.

Parágrafo único. A pessoa que tiver visto brasileiro denegado será impedida de ingressar no País enquanto
permanecerem as condições que ensejaram a denegação.

Subseção II

Dos Tipos de Visto

Art. 12. Ao solicitante que pretenda ingressar ou permanecer em território nacional poderá ser concedido visto:

I - de visita;

II - temporário;

III - diplomático;

IV - oficial;

V - de cortesia.

Subseção III

Do Visto de Visita

Art. 13. O visto de visita poderá ser concedido ao visitante que venha ao Brasil para estada de curta duração,
sem intenção de estabelecer residência, nos seguintes casos:

I - turismo;

II - negócios;

III - trânsito;

IV - atividades artísticas ou desportivas; e

V - outras hipóteses definidas em regulamento.

§ 1º É vedado ao beneficiário de visto de visita exercer atividade remunerada no Brasil.

§ 2º O beneficiário de visto de visita poderá receber pagamento do governo, de empregador brasileiro ou de


entidade privada a título de diária, ajuda de custo, cachê, pró-labore ou outras despesas com a viagem, bem
como concorrer a prêmios, inclusive em dinheiro, em competições desportivas ou em concursos artísticos ou
culturais.

§ 3º O visto de visita não será exigido em caso de escala ou conexão em território nacional, desde que o
visitante não deixe a área de trânsito internacional.

Subseção IV

Do Visto Temporário

Art. 14. O visto temporário poderá ser concedido ao imigrante que venha ao Brasil com o intuito de estabelecer
residência por tempo determinado e que se enquadre em pelo menos uma das seguintes hipóteses:

I - o visto temporário tenha como finalidade:

a) pesquisa, ensino ou extensão acadêmica;


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 810

b) tratamento de saúde;

c) acolhida humanitária;

d) estudo;

e) trabalho;

f) férias-trabalho;

g) prática de atividade religiosa ou serviço voluntário;

h) realização de investimento ou de atividade com relevância econômica, social, científica, tecnológica ou


cultural;

i) reunião familiar;

j) atividades artísticas ou desportivas com contrato por prazo determinado;

II - o imigrante seja beneficiário de tratado em matéria de vistos;

III - outras hipóteses definidas em regulamento.

§ 1º O visto temporário para pesquisa, ensino ou extensão acadêmica poderá ser concedido ao imigrante com
ou sem vínculo empregatício com a instituição de pesquisa ou de ensino brasileira, exigida, na hipótese de
vínculo, a comprovação de formação superior compatível ou equivalente reconhecimento científico.

§ 2º O visto temporário para tratamento de saúde poderá ser concedido ao imigrante e a seu acompanhante,
desde que o imigrante comprove possuir meios de subsistência suficientes.

§ 3º O visto temporário para acolhida humanitária poderá ser concedido ao apátrida ou ao nacional de qualquer
país em situação de grave ou iminente instabilidade institucional, de conflito armado, de calamidade de grande
proporção, de desastre ambiental ou de grave violação de direitos humanos ou de direito internacional
humanitário, ou em outras hipóteses, na forma de regulamento.

§ 4º O visto temporário para estudo poderá ser concedido ao imigrante que pretenda vir ao Brasil para
frequentar curso regular ou realizar estágio ou intercâmbio de estudo ou de pesquisa.

§ 5º Observadas as hipóteses previstas em regulamento, o visto temporário para trabalho poderá ser concedido
ao imigrante que venha exercer atividade laboral, com ou sem vínculo empregatício no Brasil, desde que
comprove oferta de trabalho formalizada por pessoa jurídica em atividade no País, dispensada esta exigência
se o imigrante comprovar titulação em curso de ensino superior ou equivalente.

§ 6º O visto temporário para férias-trabalho poderá ser concedido ao imigrante maior de 16 (dezesseis) anos
que seja nacional de país que conceda idêntico benefício ao nacional brasileiro, em termos definidos por
comunicação diplomática.

§ 7º Não se exigirá do marítimo que ingressar no Brasil em viagem de longo curso ou em cruzeiros marítimos
pela costa brasileira o visto temporário de que trata a alínea “e” do inciso I do caput , bastando a apresentação
da carteira internacional de marítimo, nos termos de regulamento.

§ 8º É reconhecida ao imigrante a quem se tenha concedido visto temporário para trabalho a possibilidade de
modificação do local de exercício de sua atividade laboral.

§ 9º O visto para realização de investimento poderá ser concedido ao imigrante que aporte recursos em projeto
com potencial para geração de empregos ou de renda no País.

§ 10. (VETADO).
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 811

Subseção V

Dos Vistos Diplomático, Oficial e de Cortesia

Art. 15. Os vistos diplomático, oficial e de cortesia serão concedidos, prorrogados ou dispensados na forma
desta Lei e de regulamento.

Parágrafo único. Os vistos diplomático e oficial poderão ser transformados em autorização de residência, o que
importará cessação de todas as prerrogativas, privilégios e imunidades decorrentes do respectivo visto.

Art. 16. Os vistos diplomático e oficial poderão ser concedidos a autoridades e funcionários estrangeiros que
viajem ao Brasil em missão oficial de caráter transitório ou permanente, representando Estado estrangeiro ou
organismo internacional reconhecido.

§ 1º Não se aplica ao titular dos vistos referidos no caput o disposto na legislação trabalhista brasileira.

§ 2º Os vistos diplomático e oficial poderão ser estendidos aos dependentes das autoridades referidas
no caput .

Art. 17. O titular de visto diplomático ou oficial somente poderá ser remunerado por Estado estrangeiro ou
organismo internacional, ressalvado o disposto em tratado que contenha cláusula específica sobre o assunto.

Parágrafo único. O dependente de titular de visto diplomático ou oficial poderá exercer atividade remunerada
no Brasil, sob o amparo da legislação trabalhista brasileira, desde que seja nacional de país que assegure
reciprocidade de tratamento ao nacional brasileiro, por comunicação diplomática.

Art. 18. O empregado particular titular de visto de cortesia somente poderá exercer atividade remunerada para
o titular de visto diplomático, oficial ou de cortesia ao qual esteja vinculado, sob o amparo da legislação
trabalhista brasileira.

Parágrafo único. O titular de visto diplomático, oficial ou de cortesia será responsável pela saída de seu
empregado do território nacional.

Seção III

Do Registro e da Identificação Civil do Imigrante e dos Detentores de Vistos Diplomático, Oficial e de


Cortesia

Art. 19. O registro consiste na identificação civil por dados biográficos e biométricos, e é obrigatório a todo
imigrante detentor de visto temporário ou de autorização de residência.

§ 1º O registro gerará número único de identificação que garantirá o pleno exercício dos atos da vida civil.

§ 2º O documento de identidade do imigrante será expedido com base no número único de identificação.

§ 3º Enquanto não for expedida identificação civil, o documento comprobatório de que o imigrante a solicitou à
autoridade competente garantirá ao titular o acesso aos direitos disciplinados nesta Lei.

Art. 20. A identificação civil de solicitante de refúgio, de asilo, de reconhecimento de apatridia e de acolhimento
humanitário poderá ser realizada com a apresentação dos documentos de que o imigrante dispuser.

Art. 21. Os documentos de identidade emitidos até a data de publicação desta Lei continuarão válidos até sua
total substituição.

Art. 22. A identificação civil, o documento de identidade e as formas de gestão da base cadastral dos detentores
de vistos diplomático, oficial e de cortesia atenderão a disposições específicas previstas em regulamento.

CAPÍTULO III
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 812

DA CONDIÇÃO JURÍDICA DO MIGRANTE E DO VISITANTE

Seção I

Do Residente Fronteiriço

Art. 23. A fim de facilitar a sua livre circulação, poderá ser concedida ao residente fronteiriço, mediante
requerimento, autorização para a realização de atos da vida civil.

Parágrafo único. Condições específicas poderão ser estabelecidas em regulamento ou tratado.

Art. 24. A autorização referida no caput do art. 23 indicará o Município fronteiriço no qual o residente estará
autorizado a exercer os direitos a ele atribuídos por esta Lei.

§ 1º O residente fronteiriço detentor da autorização gozará das garantias e dos direitos assegurados pelo
regime geral de migração desta Lei, conforme especificado em regulamento.

§ 2º O espaço geográfico de abrangência e de validade da autorização será especificado no documento de


residente fronteiriço.

Art. 25. O documento de residente fronteiriço será cancelado, a qualquer tempo, se o titular:

I - tiver fraudado documento ou utilizado documento falso para obtê-lo;

II - obtiver outra condição migratória;

III - sofrer condenação penal; ou

IV - exercer direito fora dos limites previstos na autorização.

Seção II

Da Proteção do Apátrida e da Redução da Apatridia

Art. 26. Regulamento disporá sobre instituto protetivo especial do apátrida, consolidado em processo
simplificado de naturalização.

§ 1º O processo de que trata o caput será iniciado tão logo seja reconhecida a situação de apatridia.

§ 2º Durante a tramitação do processo de reconhecimento da condição de apátrida, incidem todas as garantias


e mecanismos protetivos e de facilitação da inclusão social relativos à Convenção sobre o Estatuto dos
Apátridas de 1954, promulgada pelo Decreto nº 4.246, de 22 de maio de 2002 , à Convenção relativa ao
Estatuto dos Refugiados, promulgada pelo Decreto nº 50.215, de 28 de janeiro de 1961 , e à Lei nº 9.474, de
22 de julho de 1997 .

§ 3º Aplicam-se ao apátrida residente todos os direitos atribuídos ao migrante relacionados no art. 4º.

§ 4º O reconhecimento da condição de apátrida assegura os direitos e garantias previstos na Convenção sobre


o Estatuto dos Apátridas, de 1954, promulgada pelo Decreto nº 4.246, de 22 de maio de 2002 , bem como
outros direitos e garantias reconhecidos pelo Brasil.

§ 5º O processo de reconhecimento da condição de apátrida tem como objetivo verificar se o solicitante é


considerado nacional pela legislação de algum Estado e poderá considerar informações, documentos e
declarações prestadas pelo próprio solicitante e por órgãos e organismos nacionais e internacionais.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 813

§ 6º Reconhecida a condição de apátrida, nos termos do inciso VI do § 1º do art. 1º, o solicitante será consultado
sobre o desejo de adquirir a nacionalidade brasileira.

§ 7º Caso o apátrida opte pela naturalização, a decisão sobre o reconhecimento será encaminhada ao órgão
competente do Poder Executivo para publicação dos atos necessários à efetivação da naturalização no prazo
de 30 (trinta) dias, observado o art. 65.

§ 8º O apátrida reconhecido que não opte pela naturalização imediata terá a autorização de residência
outorgada em caráter definitivo.

§ 9º Caberá recurso contra decisão negativa de reconhecimento da condição de apátrida.

§ 10. Subsistindo a denegação do reconhecimento da condição de apátrida, é vedada a devolução do indivíduo


para país onde sua vida, integridade pessoal ou liberdade estejam em risco.

§ 11. Será reconhecido o direito de reunião familiar a partir do reconhecimento da condição de apátrida.

§ 12. Implica perda da proteção conferida por esta Lei:

I - a renúncia;

II - a prova da falsidade dos fundamentos invocados para o reconhecimento da condição de apátrida; ou

III - a existência de fatos que, se fossem conhecidos por ocasião do reconhecimento, teriam ensejado decisão
negativa.

Seção III

Do Asilado

Art. 27. O asilo político, que constitui ato discricionário do Estado, poderá ser diplomático ou territorial e será
outorgado como instrumento de proteção à pessoa.

Parágrafo único. Regulamento disporá sobre as condições para a concessão e a manutenção de asilo.

Art. 28. Não se concederá asilo a quem tenha cometido crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime
de guerra ou crime de agressão, nos termos do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998,
promulgado pelo Decreto nº 4.388, de 25 de setembro de 2002 .

Art. 29. A saída do asilado do País sem prévia comunicação implica renúncia ao asilo.

Seção IV

Da Autorização de Residência

Art. 30. A residência poderá ser autorizada, mediante registro, ao imigrante, ao residente fronteiriço ou ao
visitante que se enquadre em uma das seguintes hipóteses:

I - a residência tenha como finalidade:

a) pesquisa, ensino ou extensão acadêmica;

b) tratamento de saúde;

c) acolhida humanitária;

d) estudo;

e) trabalho;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 814

f) férias-trabalho;

g) prática de atividade religiosa ou serviço voluntário;

h) realização de investimento ou de atividade com relevância econômica, social, científica, tecnológica ou


cultural;

i) reunião familiar;

II - a pessoa:

a) seja beneficiária de tratado em matéria de residência e livre circulação;

b) seja detentora de oferta de trabalho;

c) já tenha possuído a nacionalidade brasileira e não deseje ou não reúna os requisitos para readquiri-la;

d) (VETADO);

e) seja beneficiária de refúgio, de asilo ou de proteção ao apátrida;

f) seja menor nacional de outro país ou apátrida, desacompanhado ou abandonado, que se encontre nas
fronteiras brasileiras ou em território nacional;

g) tenha sido vítima de tráfico de pessoas, de trabalho escravo ou de violação de direito agravada por sua
condição migratória;

h) esteja em liberdade provisória ou em cumprimento de pena no Brasil;

III - outras hipóteses definidas em regulamento.

§ 1º Não se concederá a autorização de residência a pessoa condenada criminalmente no Brasil ou no exterior


por sentença transitada em julgado, desde que a conduta esteja tipificada na legislação penal brasileira,
ressalvados os casos em que:

I - a conduta caracterize infração de menor potencial ofensivo;

II - (VETADO); ou

III - a pessoa se enquadre nas hipóteses previstas nas alíneas “b”, “c” e “i” do inciso I e na alínea “a” do inciso
II do caput deste artigo.

§ 2º O disposto no § 1º não obsta progressão de regime de cumprimento de pena, nos termos da Lei nº 7.210,
de 11 de julho de 1984 , ficando a pessoa autorizada a trabalhar quando assim exigido pelo novo regime de
cumprimento de pena.

§ 3º Nos procedimentos conducentes ao cancelamento de autorização de residência e no recurso contra a


negativa de concessão de autorização de residência devem ser respeitados o contraditório e a ampla defesa.

Art. 31. Os prazos e o procedimento da autorização de residência de que trata o art. 30 serão dispostos em
regulamento, observado o disposto nesta Lei.

§ 1º Será facilitada a autorização de residência nas hipóteses das alíneas “a” e “e” do inciso I do art. 30 desta
Lei, devendo a deliberação sobre a autorização ocorrer em prazo não superior a 60 (sessenta) dias, a contar
de sua solicitação.

§ 2º Nova autorização de residência poderá ser concedida, nos termos do art. 30, mediante requerimento.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 815

§ 3º O requerimento de nova autorização de residência após o vencimento do prazo da autorização anterior


implicará aplicação da sanção prevista no inciso II do art. 109.

§ 4º O solicitante de refúgio, de asilo ou de proteção ao apátrida fará jus a autorização provisória de residência
até a obtenção de resposta ao seu pedido.

§ 5º Poderá ser concedida autorização de residência independentemente da situação migratória.

Art. 32. Poderão ser cobradas taxas pela autorização de residência.

Art. 33. Regulamento disporá sobre a perda e o cancelamento da autorização de residência em razão de fraude
ou de ocultação de condição impeditiva de concessão de visto, de ingresso ou de permanência no País,
observado procedimento administrativo que garanta o contraditório e a ampla defesa.

Art. 34. Poderá ser negada autorização de residência com fundamento nas hipóteses previstas nos incisos I,
II, III, IV e IX do art. 45.

Art. 35. A posse ou a propriedade de bem no Brasil não confere o direito de obter visto ou autorização de
residência em território nacional, sem prejuízo do disposto sobre visto para realização de investimento.

Art. 36. O visto de visita ou de cortesia poderá ser transformado em autorização de residência, mediante
requerimento e registro, desde que satisfeitos os requisitos previstos em regulamento.

Seção V
Da Reunião Familiar

Art. 37. O visto ou a autorização de residência para fins de reunião familiar será concedido ao imigrante:

I - cônjuge ou companheiro, sem discriminação alguma;

II - filho de imigrante beneficiário de autorização de residência, ou que tenha filho brasileiro ou imigrante
beneficiário de autorização de residência;

III - ascendente, descendente até o segundo grau ou irmão de brasileiro ou de imigrante beneficiário de
autorização de residência; ou

IV - que tenha brasileiro sob sua tutela ou guarda.

Parágrafo único. (VETADO).

CAPÍTULO IV

DA ENTRADA E DA SAÍDA DO TERRITÓRIO NACIONAL

Seção I

Da Fiscalização Marítima, Aeroportuária e de Fronteira

Art. 38. As funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteira serão realizadas pela Polícia Federal nos
pontos de entrada e de saída do território nacional.

Parágrafo único. É dispensável a fiscalização de passageiro, tripulante e estafe de navio em passagem


inocente, exceto quando houver necessidade de descida de pessoa a terra ou de subida a bordo do navio.

Art. 39. O viajante deverá permanecer em área de fiscalização até que seu documento de viagem tenha sido
verificado, salvo os casos previstos em lei.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 816

Art. 40. Poderá ser autorizada a admissão excepcional no País de pessoa que se encontre em uma das
seguintes condições, desde que esteja de posse de documento de viagem válido:

I - não possua visto;

II - seja titular de visto emitido com erro ou omissão;

III - tenha perdido a condição de residente por ter permanecido ausente do País na forma especificada em
regulamento e detenha as condições objetivas para a concessão de nova autorização de residência;

IV - (VETADO); ou

V - seja criança ou adolescente desacompanhado de responsável legal e sem autorização expressa para viajar
desacompanhado, independentemente do documento de viagem que portar, hipótese em que haverá imediato
encaminhamento ao Conselho Tutelar ou, em caso de necessidade, a instituição indicada pela autoridade
competente.

Parágrafo único. Regulamento poderá dispor sobre outras hipóteses excepcionais de admissão, observados
os princípios e as diretrizes desta Lei.

Art. 41. A entrada condicional, em território nacional, de pessoa que não preencha os requisitos de admissão
poderá ser autorizada mediante a assinatura, pelo transportador ou por seu agente, de termo de compromisso
de custear as despesas com a permanência e com as providências para a repatriação do viajante.

Art. 42. O tripulante ou o passageiro que, por motivo de força maior, for obrigado a interromper a viagem em
território nacional poderá ter seu desembarque permitido mediante termo de responsabilidade pelas despesas
decorrentes do transbordo.

Art. 43. A autoridade responsável pela fiscalização contribuirá para a aplicação de medidas sanitárias em
consonância com o Regulamento Sanitário Internacional e com outras disposições pertinentes

Seção II
Do Impedimento de Ingresso

Art. 44. (VETADO).

Art. 45. Poderá ser impedida de ingressar no País, após entrevista individual e mediante ato fundamentado, a
pessoa:

I - anteriormente expulsa do País, enquanto os efeitos da expulsão vigorarem;

II - condenada ou respondendo a processo por ato de terrorismo ou por crime de genocídio, crime contra a
humanidade, crime de guerra ou crime de agressão, nos termos definidos pelo Estatuto de Roma do Tribunal
Penal Internacional, de 1998, promulgado pelo Decreto nº 4.388, de 25 de setembro de 2002 ;

III - condenada ou respondendo a processo em outro país por crime doloso passível de extradição segundo a
lei brasileira;

IV - que tenha o nome incluído em lista de restrições por ordem judicial ou por compromisso assumido pelo
Brasil perante organismo internacional;

V - que apresente documento de viagem que:

a) não seja válido para o Brasil;

b) esteja com o prazo de validade vencido; ou

c) esteja com rasura ou indício de falsificação;


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 817

VI - que não apresente documento de viagem ou documento de identidade, quando admitido;

VII - cuja razão da viagem não seja condizente com o visto ou com o motivo alegado para a isenção de visto;

VIII - que tenha, comprovadamente, fraudado documentação ou prestado informação falsa por ocasião da
solicitação de visto; ou

IX - que tenha praticado ato contrário aos princípios e objetivos dispostos na Constituição Federal.

Parágrafo único. Ninguém será impedido de ingressar no País por motivo de raça, religião, nacionalidade,
pertinência a grupo social ou opinião política.

CAPÍTULO V

DAS MEDIDAS DE RETIRADA COMPULSÓRIA

Seção I

Disposições Gerais

Art. 46. A aplicação deste Capítulo observará o disposto na Lei nº 9.474, de 22 de julho de 1997 , e nas
disposições legais, tratados, instrumentos e mecanismos que tratem da proteção aos apátridas ou de outras
situações humanitárias.

Art. 47. A repatriação, a deportação e a expulsão serão feitas para o país de nacionalidade ou de procedência
do migrante ou do visitante, ou para outro que o aceite, em observância aos tratados dos quais o Brasil seja
parte.

Art. 48. Nos casos de deportação ou expulsão, o chefe da unidade da Polícia Federal poderá representar
perante o juízo federal, respeitados, nos procedimentos judiciais, os direitos à ampla defesa e ao devido
processo legal.

Seção II

Da Repatriação

Art. 49. A repatriação consiste em medida administrativa de devolução de pessoa em situação de impedimento
ao país de procedência ou de nacionalidade.

§ 1º Será feita imediata comunicação do ato fundamentado de repatriação à empresa transportadora e à


autoridade consular do país de procedência ou de nacionalidade do migrante ou do visitante, ou a quem o
representa.

§ 2º A Defensoria Pública da União será notificada, preferencialmente por via eletrônica, no caso do § 4º deste
artigo ou quando a repatriação imediata não seja possível.

§ 3º Condições específicas de repatriação podem ser definidas por regulamento ou tratado, observados os
princípios e as garantias previstos nesta Lei.

§ 4º Não será aplicada medida de repatriação à pessoa em situação de refúgio ou de apatridia, de fato ou de
direito, ao menor de 18 (dezoito) anos desacompanhado ou separado de sua família, exceto nos casos em que
se demonstrar favorável para a garantia de seus direitos ou para a reintegração a sua família de origem, ou a
quem necessite de acolhimento humanitário, nem, em qualquer caso, medida de devolução para país ou região
que possa apresentar risco à vida, à integridade pessoal ou à liberdade da pessoa.

§ 5º (VETADO).
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 818

Seção III

Da Deportação

Art. 50. A deportação é medida decorrente de procedimento administrativo que consiste na retirada compulsória
de pessoa que se encontre em situação migratória irregular em território nacional.

§ 1º A deportação será precedida de notificação pessoal ao deportando, da qual constem, expressamente, as


irregularidades verificadas e prazo para a regularização não inferior a 60 (sessenta) dias, podendo ser
prorrogado, por igual período, por despacho fundamentado e mediante compromisso de a pessoa manter
atualizadas suas informações domiciliares.

§ 2º A notificação prevista no § 1º não impede a livre circulação em território nacional, devendo o deportando
informar seu domicílio e suas atividades.

§ 3º Vencido o prazo do § 1º sem que se regularize a situação migratória, a deportação poderá ser executada.

§ 4º A deportação não exclui eventuais direitos adquiridos em relações contratuais ou decorrentes da lei
brasileira.

§ 5º A saída voluntária de pessoa notificada para deixar o País equivale ao cumprimento da notificação de
deportação para todos os fins.

§ 6º O prazo previsto no § 1º poderá ser reduzido nos casos que se enquadrem no inciso IX do art. 45.

Art. 51. Os procedimentos conducentes à deportação devem respeitar o contraditório e a ampla defesa e a
garantia de recurso com efeito suspensivo.

§ 1º A Defensoria Pública da União deverá ser notificada, preferencialmente por meio eletrônico, para prestação
de assistência ao deportando em todos os procedimentos administrativos de deportação.

§ 2º A ausência de manifestação da Defensoria Pública da União, desde que prévia e devidamente notificada,
não impedirá a efetivação da medida de deportação.

Art. 52. Em se tratando de apátrida, o procedimento de deportação dependerá de prévia autorização da


autoridade competente.

Art. 53. Não se procederá à deportação se a medida configurar extradição não admitida pela legislação
brasileira.

Seção IV

Da Expulsão

Art. 54. A expulsão consiste em medida administrativa de retirada compulsória de migrante ou visitante do
território nacional, conjugada com o impedimento de reingresso por prazo determinado.

§ 1º Poderá dar causa à expulsão a condenação com sentença transitada em julgado relativa à prática de:

I - crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou crime de agressão, nos termos definidos
pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998, promulgado pelo Decreto nº 4.388, de 25 de
setembro de 2002 ; ou

II - crime comum doloso passível de pena privativa de liberdade, consideradas a gravidade e as possibilidades
de ressocialização em território nacional.

§ 2º Caberá à autoridade competente resolver sobre a expulsão, a duração do impedimento de reingresso e a


suspensão ou a revogação dos efeitos da expulsão, observado o disposto nesta Lei.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 819

§ 3º O processamento da expulsão em caso de crime comum não prejudicará a progressão de regime, o


cumprimento da pena, a suspensão condicional do processo, a comutação da pena ou a concessão de pena
alternativa, de indulto coletivo ou individual, de anistia ou de quaisquer benefícios concedidos em igualdade de
condições ao nacional brasileiro.

§ 4º O prazo de vigência da medida de impedimento vinculada aos efeitos da expulsão será proporcional ao
prazo total da pena aplicada e nunca será superior ao dobro de seu tempo.

Art. 55. Não se procederá à expulsão quando:

I - a medida configurar extradição inadmitida pela legislação brasileira;

II - o expulsando:

a) tiver filho brasileiro que esteja sob sua guarda ou dependência econômica ou socioafetiva ou tiver pessoa
brasileira sob sua tutela;

b) tiver cônjuge ou companheiro residente no Brasil, sem discriminação alguma, reconhecido judicial ou
legalmente;

c) tiver ingressado no Brasil até os 12 (doze) anos de idade, residindo desde então no País;

d) for pessoa com mais de 70 (setenta) anos que resida no País há mais de 10 (dez) anos, considerados a
gravidade e o fundamento da expulsão; ou

e) (VETADO).

Art. 56. Regulamento definirá procedimentos para apresentação e processamento de pedidos de suspensão e
de revogação dos efeitos das medidas de expulsão e de impedimento de ingresso e permanência em território
nacional.

Art. 57. Regulamento disporá sobre condições especiais de autorização de residência para viabilizar medidas
de ressocialização a migrante e a visitante em cumprimento de penas aplicadas ou executadas em território
nacional.

Art. 58. No processo de expulsão serão garantidos o contraditório e a ampla defesa.

§ 1º A Defensoria Pública da União será notificada da instauração de processo de expulsão, se não houver
defensor constituído.

§ 2º Caberá pedido de reconsideração da decisão sobre a expulsão no prazo de 10 (dez) dias, a contar da
notificação pessoal do expulsando.

Art. 59. Será considerada regular a situação migratória do expulsando cujo processo esteja pendente de
decisão, nas condições previstas no art. 55.

Art. 60. A existência de processo de expulsão não impede a saída voluntária do expulsando do País.

Seção V

Das Vedações

Art. 61. Não se procederá à repatriação, à deportação ou à expulsão coletivas.

Parágrafo único. Entende-se por repatriação, deportação ou expulsão coletiva aquela que não individualiza a
situação migratória irregular de cada pessoa.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 820

Art. 62. Não se procederá à repatriação, à deportação ou à expulsão de nenhum indivíduo quando subsistirem
razões para acreditar que a medida poderá colocar em risco a vida ou a integridade pessoal.

CAPÍTULO VI

DA OPÇÃO DE NACIONALIDADE E DA NATURALIZAÇÃO

Seção I

Da Opção de Nacionalidade

Art. 63. O filho de pai ou de mãe brasileiro nascido no exterior e que não tenha sido registrado em repartição
consular poderá, a qualquer tempo, promover ação de opção de nacionalidade.

Parágrafo único. O órgão de registro deve informar periodicamente à autoridade competente os dados relativos
à opção de nacionalidade, conforme regulamento.

Seção II

Das Condições da Naturalização

Art. 64. A naturalização pode ser:

I - ordinária;

II - extraordinária;

III - especial; ou

IV - provisória.

Art. 65. Será concedida a naturalização ordinária àquele que preencher as seguintes condições:

I - ter capacidade civil, segundo a lei brasileira;

II - ter residência em território nacional, pelo prazo mínimo de 4 (quatro) anos;

III - comunicar-se em língua portuguesa, consideradas as condições do naturalizando; e

IV - não possuir condenação penal ou estiver reabilitado, nos termos da lei.

Art. 66. O prazo de residência fixado no inciso II do caput do art. 65 será reduzido para, no mínimo, 1 (um) ano
se o naturalizando preencher quaisquer das seguintes condições:

I - (VETADO);

II - ter filho brasileiro;

III - ter cônjuge ou companheiro brasileiro e não estar dele separado legalmente ou de fato no momento de
concessão da naturalização;

IV - (VETADO);

V - haver prestado ou poder prestar serviço relevante ao Brasil; ou

VI - recomendar-se por sua capacidade profissional, científica ou artística.


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 821

Parágrafo único. O preenchimento das condições previstas nos incisos V e VI do caput será avaliado na forma
disposta em regulamento.

Art. 67. A naturalização extraordinária será concedida a pessoa de qualquer nacionalidade fixada no Brasil há
mais de 15 (quinze) anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeira a nacionalidade brasileira.

Art. 68. A naturalização especial poderá ser concedida ao estrangeiro que se encontre em uma das seguintes
situações:

I - seja cônjuge ou companheiro, há mais de 5 (cinco) anos, de integrante do Serviço Exterior Brasileiro em
atividade ou de pessoa a serviço do Estado brasileiro no exterior; ou

II - seja ou tenha sido empregado em missão diplomática ou em repartição consular do Brasil por mais de 10
(dez) anos ininterruptos.

Art. 69. São requisitos para a concessão da naturalização especial:

I - ter capacidade civil, segundo a lei brasileira;

II - comunicar-se em língua portuguesa, consideradas as condições do naturalizando; e

III - não possuir condenação penal ou estiver reabilitado, nos termos da lei.

Art. 70. A naturalização provisória poderá ser concedida ao migrante criança ou adolescente que tenha fixado
residência em território nacional antes de completar 10 (dez) anos de idade e deverá ser requerida por
intermédio de seu representante legal.

Parágrafo único. A naturalização prevista no caput será convertida em definitiva se o naturalizando


expressamente assim o requerer no prazo de 2 (dois) anos após atingir a maioridade.

Art. 71. O pedido de naturalização será apresentado e processado na forma prevista pelo órgão competente
do Poder Executivo, sendo cabível recurso em caso de denegação.

§ 1º No curso do processo de naturalização, o naturalizando poderá requerer a tradução ou a adaptação de


seu nome à língua portuguesa.

§ 2º Será mantido cadastro com o nome traduzido ou adaptado associado ao nome anterior.

Art. 72. No prazo de até 1 (um) ano após a concessão da naturalização, deverá o naturalizado comparecer
perante a Justiça Eleitoral para o devido cadastramento.

Seção III

Dos Efeitos da Naturalização

Art. 73. A naturalização produz efeitos após a publicação no Diário Oficial do ato de naturalização.

Art. 74. (VETADO).

Seção IV

Da Perda da Nacionalidade

Art. 75. O naturalizado perderá a nacionalidade em razão de condenação transitada em julgado por atividade
nociva ao interesse nacional, nos termos do inciso I do § 4º do art. 12 da Constituição Federal .
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 822

Parágrafo único. O risco de geração de situação de apatridia será levado em consideração antes da efetivação
da perda da nacionalidade.

Seção V

Da Reaquisição da Nacionalidade

Art. 76. O brasileiro que, em razão do previsto no inciso II do § 4º do art. 12 da Constituição Federal , houver
perdido a nacionalidade, uma vez cessada a causa, poderá readquiri-la ou ter o ato que declarou a perda
revogado, na forma definida pelo órgão competente do Poder Executivo.

CAPÍTULO VII

DO EMIGRANTE

Seção I

Das Políticas Públicas para os Emigrantes

Art. 77. As políticas públicas para os emigrantes observarão os seguintes princípios e diretrizes:

I - proteção e prestação de assistência consular por meio das representações do Brasil no exterior;

II - promoção de condições de vida digna, por meio, entre outros, da facilitação do registro consular e da
prestação de serviços consulares relativos às áreas de educação, saúde, trabalho, previdência social e cultura;

III - promoção de estudos e pesquisas sobre os emigrantes e as comunidades de brasileiros no exterior, a fim
de subsidiar a formulação de políticas públicas;

IV - atuação diplomática, nos âmbitos bilateral, regional e multilateral, em defesa dos direitos do emigrante
brasileiro, conforme o direito internacional

V - ação governamental integrada, com a participação de órgãos do governo com atuação nas áreas temáticas
mencionadas nos incisos I, II, III e IV, visando a assistir as comunidades brasileiras no exterior; e

VI - esforço permanente de desburocratização, atualização e modernização do sistema de atendimento, com o


objetivo de aprimorar a assistência ao emigrante.

Seção II

Dos Direitos do Emigrante

Art. 78. Todo emigrante que decida retornar ao Brasil com ânimo de residência poderá introduzir no País, com
isenção de direitos de importação e de taxas aduaneiras, os bens novos ou usados que um viajante, em
compatibilidade com as circunstâncias de sua viagem, puder destinar para seu uso ou consumo pessoal e
profissional, sempre que, por sua quantidade, natureza ou variedade, não permitam presumir importação ou
exportação com fins comerciais ou industriais.

Art. 79. Em caso de ameaça à paz social e à ordem pública por grave ou iminente instabilidade institucional ou
de calamidade de grande proporção na natureza, deverá ser prestada especial assistência ao emigrante pelas
representações brasileiras no exterior.

Art. 80. O tripulante brasileiro contratado por embarcação ou armadora estrangeira, de cabotagem ou a longo
curso e com sede ou filial no Brasil, que explore economicamente o mar territorial e a costa brasileira terá direito
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 823

a seguro a cargo do contratante, válido para todo o período da contratação, conforme o disposto no Registro
de Embarcações Brasileiras (REB), contra acidente de trabalho, invalidez total ou parcial e morte, sem prejuízo
de benefícios de apólice mais favorável vigente no exterior.

CAPÍTULO VIII

DAS MEDIDAS DE COOPERAÇÃO

Seção I

Da Extradição

Art. 81. A extradição é a medida de cooperação internacional entre o Estado brasileiro e outro Estado pela qual
se concede ou solicita a entrega de pessoa sobre quem recaia condenação criminal definitiva ou para fins de
instrução de processo penal em curso.

§ 1º A extradição será requerida por via diplomática ou pelas autoridades centrais designadas para esse fim.

§ 2º A extradição e sua rotina de comunicação serão realizadas pelo órgão competente do Poder Executivo em
coordenação com as autoridades judiciárias e policiais competentes.

Art. 82. Não se concederá a extradição quando:

I - o indivíduo cuja extradição é solicitada ao Brasil for brasileiro nato;

II - o fato que motivar o pedido não for considerado crime no Brasil ou no Estado requerente;

III - o Brasil for competente, segundo suas leis, para julgar o crime imputado ao extraditando;

IV - a lei brasileira impuser ao crime pena de prisão inferior a 2 (dois) anos;

V - o extraditando estiver respondendo a processo ou já houver sido condenado ou absolvido no Brasil pelo
mesmo fato em que se fundar o pedido;

VI - a punibilidade estiver extinta pela prescrição, segundo a lei brasileira ou a do Estado requerente;

VII - o fato constituir crime político ou de opinião;

VIII - o extraditando tiver de responder, no Estado requerente, perante tribunal ou juízo de exceção; ou

IX - o extraditando for beneficiário de refúgio, nos termos da Lei nº 9.474, de 22 de julho de 1997 , ou de asilo
territorial.

§ 1º A previsão constante do inciso VII do caput não impedirá a extradição quando o fato constituir,
principalmente, infração à lei penal comum ou quando o crime comum, conexo ao delito político, constituir o
fato principal.

§ 2º Caberá à autoridade judiciária competente a apreciação do caráter da infração.

§ 3º Para determinação da incidência do disposto no inciso I, será observada, nos casos de aquisição de outra
nacionalidade por naturalização, a anterioridade do fato gerador da extradição.

§ 4º O Supremo Tribunal Federal poderá deixar de considerar crime político o atentado contra chefe de Estado
ou quaisquer autoridades, bem como crime contra a humanidade, crime de guerra, crime de genocídio e
terrorismo.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 824

§ 5º Admite-se a extradição de brasileiro naturalizado, nas hipóteses previstas na Constituição Federal.

Art. 83. São condições para concessão da extradição:

I - ter sido o crime cometido no território do Estado requerente ou serem aplicáveis ao extraditando as leis
penais desse Estado; e

II - estar o extraditando respondendo a processo investigatório ou a processo penal ou ter sido condenado
pelas autoridades judiciárias do Estado requerente a pena privativa de liberdade.

Art. 84. Em caso de urgência, o Estado interessado na extradição poderá, previamente ou conjuntamente com
a formalização do pedido extradicional, requerer, por via diplomática ou por meio de autoridade central do Poder
Executivo, prisão cautelar com o objetivo de assegurar a executoriedade da medida de extradição que, após
exame da presença dos pressupostos formais de admissibilidade exigidos nesta Lei ou em tratado, deverá
representar à autoridade judicial competente, ouvido previamente o Ministério Público Federal.

§ 1º O pedido de prisão cautelar deverá conter informação sobre o crime cometido e deverá ser fundamentado,
podendo ser apresentado por correio, fax, mensagem eletrônica ou qualquer outro meio que assegure a
comunicação por escrito.

§ 2º O pedido de prisão cautelar poderá ser transmitido à autoridade competente para extradição no Brasil por
meio de canal estabelecido com o ponto focal da Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) no
País, devidamente instruído com a documentação comprobatória da existência de ordem de prisão proferida
por Estado estrangeiro, e, em caso de ausência de tratado, com a promessa de reciprocidade recebida por via
diplomática.

§ 3º Efetivada a prisão do extraditando, o pedido de extradição será encaminhado à autoridade judiciária


competente.

§ 4º Na ausência de disposição específica em tratado, o Estado estrangeiro deverá formalizar o pedido de


extradição no prazo de 60 (sessenta) dias, contado da data em que tiver sido cientificado da prisão do
extraditando.

§ 5º Caso o pedido de extradição não seja apresentado no prazo previsto no § 4º, o extraditando deverá ser
posto em liberdade, não se admitindo novo pedido de prisão cautelar pelo mesmo fato sem que a extradição
tenha sido devidamente requerida.

§ 6º A prisão cautelar poderá ser prorrogada até o julgamento final da autoridade judiciária competente quanto
à legalidade do pedido de extradição.

Art. 85. Quando mais de um Estado requerer a extradição da mesma pessoa, pelo mesmo fato, terá preferência
o pedido daquele em cujo território a infração foi cometida.

§ 1º Em caso de crimes diversos, terá preferência, sucessivamente:

I - o Estado requerente em cujo território tenha sido cometido o crime mais grave, segundo a lei brasileira;

II - o Estado que em primeiro lugar tenha pedido a entrega do extraditando, se a gravidade dos crimes for
idêntica;

III - o Estado de origem, ou, em sua falta, o domiciliar do extraditando, se os pedidos forem simultâneos.

§ 2º Nos casos não previstos nesta Lei, o órgão competente do Poder Executivo decidirá sobre a preferência
do pedido, priorizando o Estado requerente que mantiver tratado de extradição com o Brasil.

§ 3º Havendo tratado com algum dos Estados requerentes, prevalecerão suas normas no que diz respeito à
preferência de que trata este artigo.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 825

Art. 86. O Supremo Tribunal Federal, ouvido o Ministério Público, poderá autorizar prisão albergue ou domiciliar
ou determinar que o extraditando responda ao processo de extradição em liberdade, com retenção do
documento de viagem ou outras medidas cautelares necessárias, até o julgamento da extradição ou a entrega
do extraditando, se pertinente, considerando a situação administrativa migratória, os antecedentes do
extraditando e as circunstâncias do caso.

Art. 87. O extraditando poderá entregar-se voluntariamente ao Estado requerente, desde que o declare
expressamente, esteja assistido por advogado e seja advertido de que tem direito ao processo judicial de
extradição e à proteção que tal direito encerra, caso em que o pedido será decidido pelo Supremo Tribunal
Federal.

Art. 88. Todo pedido que possa originar processo de extradição em face de Estado estrangeiro deverá ser
encaminhado ao órgão competente do Poder Executivo diretamente pelo órgão do Poder Judiciário responsável
pela decisão ou pelo processo penal que a fundamenta.

§ 1º Compete a órgão do Poder Executivo o papel de orientação, de informação e de avaliação dos elementos
formais de admissibilidade dos processos preparatórios para encaminhamento ao Estado requerido.

§ 2º Compete aos órgãos do sistema de Justiça vinculados ao processo penal gerador de pedido de extradição
a apresentação de todos os documentos, manifestações e demais elementos necessários para o
processamento do pedido, inclusive suas traduções oficiais.

§ 3º O pedido deverá ser instruído com cópia autêntica ou com o original da sentença condenatória ou da
decisão penal proferida, conterá indicações precisas sobre o local, a data, a natureza e as circunstâncias do
fato criminoso e a identidade do extraditando e será acompanhado de cópia dos textos legais sobre o crime, a
competência, a pena e a prescrição.

§ 4º O encaminhamento do pedido de extradição ao órgão competente do Poder Executivo confere


autenticidade aos documentos.

Art. 89. O pedido de extradição originado de Estado estrangeiro será recebido pelo órgão competente do Poder
Executivo e, após exame da presença dos pressupostos formais de admissibilidade exigidos nesta Lei ou em
tratado, encaminhado à autoridade judiciária competente.

Parágrafo único. Não preenchidos os pressupostos referidos no caput , o pedido será arquivado mediante
decisão fundamentada, sem prejuízo da possibilidade de renovação do pedido, devidamente instruído, uma
vez superado o óbice apontado.

Art. 90. Nenhuma extradição será concedida sem prévio pronunciamento do Supremo Tribunal Federal sobre
sua legalidade e procedência, não cabendo recurso da decisão.

Art. 91. Ao receber o pedido, o relator designará dia e hora para o interrogatório do extraditando e, conforme o
caso, nomear-lhe-á curador ou advogado, se não o tiver.

§ 1º A defesa, a ser apresentada no prazo de 10 (dez) dias contado da data do interrogatório, versará sobre a
identidade da pessoa reclamada, defeito de forma de documento apresentado ou ilegalidade da extradição.

§ 2º Não estando o processo devidamente instruído, o Tribunal, a requerimento do órgão do Ministério Público
Federal correspondente, poderá converter o julgamento em diligência para suprir a falta.

§ 3º Para suprir a falta referida no § 2º, o Ministério Público Federal terá prazo improrrogável de 60 (sessenta)
dias, após o qual o pedido será julgado independentemente da diligência.

§ 4º O prazo referido no § 3º será contado da data de notificação à missão diplomática do Estado requerente.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 826

Art. 92. Julgada procedente a extradição e autorizada a entrega pelo órgão competente do Poder Executivo,
será o ato comunicado por via diplomática ao Estado requerente, que, no prazo de 60 (sessenta) dias da
comunicação, deverá retirar o extraditando do território nacional.

Art. 93. Se o Estado requerente não retirar o extraditando do território nacional no prazo previsto no art. 92,
será ele posto em liberdade, sem prejuízo de outras medidas aplicáveis.

Art. 94. Negada a extradição em fase judicial, não se admitirá novo pedido baseado no mesmo fato.

Art. 95. Quando o extraditando estiver sendo processado ou tiver sido condenado, no Brasil, por crime punível
com pena privativa de liberdade, a extradição será executada somente depois da conclusão do processo ou do
cumprimento da pena, ressalvadas as hipóteses de liberação antecipada pelo Poder Judiciário e de
determinação da transferência da pessoa condenada.

§ 1º A entrega do extraditando será igualmente adiada se a efetivação da medida puser em risco sua vida em
virtude de enfermidade grave comprovada por laudo médico oficial.

§ 2º Quando o extraditando estiver sendo processado ou tiver sido condenado, no Brasil, por infração de menor
potencial ofensivo, a entrega poderá ser imediatamente efetivada.

Art. 96. Não será efetivada a entrega do extraditando sem que o Estado requerente assuma o compromisso
de:

I - não submeter o extraditando a prisão ou processo por fato anterior ao pedido de extradição;

II - computar o tempo da prisão que, no Brasil, foi imposta por força da extradição;

III - comutar a pena corporal, perpétua ou de morte em pena privativa de liberdade, respeitado o limite máximo
de cumprimento de 30 (trinta) anos;

IV - não entregar o extraditando, sem consentimento do Brasil, a outro Estado que o reclame;

V - não considerar qualquer motivo político para agravar a pena; e

VI - não submeter o extraditando a tortura ou a outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes.

Art. 97. A entrega do extraditando, de acordo com as leis brasileiras e respeitado o direito de terceiro, será feita
com os objetos e instrumentos do crime encontrados em seu poder.

Parágrafo único. Os objetos e instrumentos referidos neste artigo poderão ser entregues independentemente
da entrega do extraditando.

Art. 98. O extraditando que, depois de entregue ao Estado requerente, escapar à ação da Justiça e homiziar-
se no Brasil, ou por ele transitar, será detido mediante pedido feito diretamente por via diplomática ou pela
Interpol e novamente entregue, sem outras formalidades.

Art. 99. Salvo motivo de ordem pública, poderá ser permitido, pelo órgão competente do Poder Executivo, o
trânsito no território nacional de pessoa extraditada por Estado estrangeiro, bem como o da respectiva guarda,
mediante apresentação de documento comprobatório de concessão da medida.

Seção II
Da Transferência de Execução da Pena

Art. 100. Nas hipóteses em que couber solicitação de extradição executória, a autoridade competente poderá
solicitar ou autorizar a transferência de execução da pena, desde que observado o princípio do non bis in idem .

Parágrafo único. Sem prejuízo do disposto no Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal) ,
a transferência de execução da pena será possível quando preenchidos os seguintes requisitos:
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 827

I - o condenado em território estrangeiro for nacional ou tiver residência habitual ou vínculo pessoal no Brasil;

II - a sentença tiver transitado em julgado;

III - a duração da condenação a cumprir ou que restar para cumprir for de, pelo menos, 1 (um) ano, na data de
apresentação do pedido ao Estado da condenação;

IV - o fato que originou a condenação constituir infração penal perante a lei de ambas as partes; e

V - houver tratado ou promessa de reciprocidade.

Art. 101. O pedido de transferência de execução da pena de Estado estrangeiro será requerido por via
diplomática ou por via de autoridades centrais.

§ 1º O pedido será recebido pelo órgão competente do Poder Executivo e, após exame da presença dos
pressupostos formais de admissibilidade exigidos nesta Lei ou em tratado, encaminhado ao Superior Tribunal
de Justiça para decisão quanto à homologação.

§ 2º Não preenchidos os pressupostos referidos no § 1º, o pedido será arquivado mediante decisão
fundamentada, sem prejuízo da possibilidade de renovação do pedido, devidamente instruído, uma vez
superado o óbice apontado.

Art. 102. A forma do pedido de transferência de execução da pena e seu processamento serão definidos em
regulamento.

Parágrafo único. Nos casos previstos nesta Seção, a execução penal será de competência da Justiça Federal.

Seção III

Da Transferência de Pessoa Condenada

Art. 103. A transferência de pessoa condenada poderá ser concedida quando o pedido se fundamentar em
tratado ou houver promessa de reciprocidade.

§ 1º O condenado no território nacional poderá ser transferido para seu país de nacionalidade ou país em que
tiver residência habitual ou vínculo pessoal, desde que expresse interesse nesse sentido, a fim de cumprir pena
a ele imposta pelo Estado brasileiro por sentença transitada em julgado.

§ 2º A transferência de pessoa condenada no Brasil pode ser concedida juntamente com a aplicação de medida
de impedimento de reingresso em território nacional, na forma de regulamento.

Art. 104. A transferência de pessoa condenada será possível quando preenchidos os seguintes requisitos:

I - o condenado no território de uma das partes for nacional ou tiver residência habitual ou vínculo pessoal no
território da outra parte que justifique a transferência;

II - a sentença tiver transitado em julgado;

III - a duração da condenação a cumprir ou que restar para cumprir for de, pelo menos, 1 (um) ano, na data de
apresentação do pedido ao Estado da condenação;

IV - o fato que originou a condenação constituir infração penal perante a lei de ambos os Estados;

V - houver manifestação de vontade do condenado ou, quando for o caso, de seu representante; e

VI - houver concordância de ambos os Estados.


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 828

Art. 105. A forma do pedido de transferência de pessoa condenada e seu processamento serão definidos em
regulamento.

§ 1º Nos casos previstos nesta Seção, a execução penal será de competência da Justiça Federal.

§ 2º Não se procederá à transferência quando inadmitida a extradição.

§ 3º (VETADO).

CAPÍTULO IX

DAS INFRAÇÕES E DAS PENALIDADES ADMINISTRATIVAS

Art. 106. Regulamento disporá sobre o procedimento de apuração das infrações administrativas e seu
processamento e sobre a fixação e a atualização das multas, em observância ao disposto nesta Lei.

Art. 107. As infrações administrativas previstas neste Capítulo serão apuradas em processo administrativo
próprio, assegurados o contraditório e a ampla defesa e observadas as disposições desta Lei.

§ 1º O cometimento simultâneo de duas ou mais infrações importará cumulação das sanções cabíveis,
respeitados os limites estabelecidos nos incisos V e VI do art. 108.

§ 2º A multa atribuída por dia de atraso ou por excesso de permanência poderá ser convertida em redução
equivalente do período de autorização de estada para o visto de visita, em caso de nova entrada no País.

Art. 108. O valor das multas tratadas neste Capítulo considerará:

I - as hipóteses individualizadas nesta Lei;

II - a condição econômica do infrator, a reincidência e a gravidade da infração;

III - a atualização periódica conforme estabelecido em regulamento;

IV - o valor mínimo individualizável de R$ 100,00 (cem reais);

V - o valor mínimo de R$ 100,00 (cem reais) e o máximo de R$ 10.000,00 (dez mil reais) para infrações
cometidas por pessoa física;

VI - o valor mínimo de R$ 1.000,00 (mil reais) e o máximo de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) para
infrações cometidas por pessoa jurídica, por ato infracional.

Art. 109. Constitui infração, sujeitando o infrator às seguintes sanções:

I - entrar em território nacional sem estar autorizado:

Sanção: deportação, caso não saia do País ou não regularize a situação migratória no prazo fixado;

II - permanecer em território nacional depois de esgotado o prazo legal da documentação migratória:

Sanção: multa por dia de excesso e deportação, caso não saia do País ou não regularize a situação migratória
no prazo fixado;

III - deixar de se registrar, dentro do prazo de 90 (noventa) dias do ingresso no País, quando for obrigatória a
identificação civil:

Sanção: multa;
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 829

IV - deixar o imigrante de se registrar, para efeito de autorização de residência, dentro do prazo de 30 (trinta)
dias, quando orientado a fazê-lo pelo órgão competente:

Sanção: multa por dia de atraso;

V - transportar para o Brasil pessoa que esteja sem documentação migratória regular:

Sanção: multa por pessoa transportada;

VI - deixar a empresa transportadora de atender a compromisso de manutenção da estada ou de promoção da


saída do território nacional de quem tenha sido autorizado a ingresso condicional no Brasil por não possuir a
devida documentação migratória:

Sanção: multa;

VII - furtar-se ao controle migratório, na entrada ou saída do território nacional:

Sanção: multa.

Art. 110. As penalidades aplicadas serão objeto de pedido de reconsideração e de recurso, nos termos de
regulamento.

Parágrafo único. Serão respeitados o contraditório, a ampla defesa e a garantia de recurso, assim como a
situação de hipossuficiência do migrante ou do visitante.

CAPÍTULO X

DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS

Art. 111. Esta Lei não prejudica direitos e obrigações estabelecidos por tratados vigentes no Brasil e que sejam
mais benéficos ao migrante e ao visitante, em particular os tratados firmados no âmbito do Mercosul.

Art. 112. As autoridades brasileiras serão tolerantes quanto ao uso do idioma do residente fronteiriço e do
imigrante quando eles se dirigirem a órgãos ou repartições públicas para reclamar ou reivindicar os direitos
decorrentes desta Lei.

Art. 113. As taxas e emolumentos consulares são fixados em conformidade com a tabela anexa a esta Lei.

§ 1º Os valores das taxas e emolumentos consulares poderão ser ajustados pelo órgão competente da
administração pública federal, de forma a preservar o interesse nacional ou a assegurar a reciprocidade de
tratamento.

§ 2º Não serão cobrados emolumentos consulares pela concessão de:

I - vistos diplomáticos, oficiais e de cortesia; e

II - vistos em passaportes diplomáticos, oficiais ou de serviço, ou equivalentes, mediante reciprocidade de


tratamento a titulares de documento de viagem similar brasileiro.

§ 3º Não serão cobrados taxas e emolumentos consulares pela concessão de vistos ou para a obtenção de
documentos para regularização migratória aos integrantes de grupos vulneráveis e indivíduos em condição de
hipossuficiência econômica.

§ 4º (VETADO).

Art. 114. Regulamento poderá estabelecer competência para órgãos do Poder Executivo disciplinarem
aspectos específicos desta Lei.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 830

Art. 115. O Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal) , passa a vigorar acrescido do
seguinte art. 232-A:

“ Promoção de migração ilegal

Art. 232-A. Promover, por qualquer meio, com o fim de obter vantagem econômica, a entrada ilegal de
estrangeiro em território nacional ou de brasileiro em país estrangeiro:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

§ 1º Na mesma pena incorre quem promover, por qualquer meio, com o fim de obter vantagem econômica, a
saída de estrangeiro do território nacional para ingressar ilegalmente em país estrangeiro.

§ 2º A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço) se:

I - o crime é cometido com violência; ou

II - a vítima é submetida a condição desumana ou degradante.

§ 3º A pena prevista para o crime será aplicada sem prejuízo das correspondentes às infrações conexas.”

Art. 116. (VETADO).

Art. 117. O documento conhecido por Registro Nacional de Estrangeiro passa a ser denominado Registro
Nacional Migratório.

Art. 118. (VETADO).

Art. 119. O visto emitido até a data de entrada em vigor desta Lei poderá ser utilizado até a data prevista de
expiração de sua validade, podendo ser transformado ou ter seu prazo de estada prorrogado, nos termos de
regulamento.

Art. 120. A Política Nacional de Migrações, Refúgio e Apatridia terá a finalidade de coordenar e articular ações
setoriais implementadas pelo Poder Executivo federal em regime de cooperação com os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios, com participação de organizações da sociedade civil, organismos internacionais e
entidades privadas, conforme regulamento.

§ 1º Ato normativo do Poder Executivo federal poderá definir os objetivos, a organização e a estratégia de
coordenação da Política Nacional de Migrações, Refúgio e Apatridia.

§ 2º Ato normativo do Poder Executivo federal poderá estabelecer planos nacionais e outros instrumentos para
a efetivação dos objetivos desta Lei e a coordenação entre órgãos e colegiados setoriais.

§ 3º Com vistas à formulação de políticas públicas, deverá ser produzida informação quantitativa e qualitativa,
de forma sistemática, sobre os migrantes, com a criação de banco de dados.

Art. 121. Na aplicação desta Lei, devem ser observadas as disposições da Lei nº 9.474, de 22 de julho de
1997 , nas situações que envolvam refugiados e solicitantes de refúgio.

Art. 122. A aplicação desta Lei não impede o tratamento mais favorável assegurado por tratado em que a
República Federativa do Brasil seja parte.

Art. 123. Ninguém será privado de sua liberdade por razões migratórias, exceto nos casos previstos nesta Lei.

Art. 124. Revogam-se:

I - a Lei nº 818, de 18 de setembro de 1949 ; e


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 831

II - a Lei nº 6.815, de 19 de agosto de 1980 (Estatuto do Estrangeiro) .

Art. 125. Esta Lei entra em vigor após decorridos 180 (cento e oitenta) dias de sua publicação oficial.

Brasília, 24 de maio de 2017; 196º da Independência e 129º da República.

MICHEL TEMER

Osmar Serraglio

Aloysio Nunes Ferreira Filho

Henrique Meirelles

Eliseu Padilha

Sergio Westphalen Etchegoyen26/05/2017

Grace Maria Fernandes Mendonça

Este texto não substitui o publicado no DOU de 25.5.2017


Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 832

16. LEI Nº 14.232/2021 (INSTITUI A POLÍTICA NACIONAL DE DADOS E


INFORMAÇÕES RELACIONADAS À VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES)

LEI Nº 14.232, DE 28 DE OUTUBRO DE 2021

Institui a Política Nacional de Dados e Informações relacionadas à Violência contra as Mulheres (PNAINFO).

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º Esta Lei cria a Política Nacional de Dados e Informações relacionadas à Violência contra as Mulheres
(PNAINFO), com a finalidade de reunir, organizar, sistematizar e disponibilizar dados e informações atinentes
a todos os tipos de violência contra as mulheres.

Parágrafo único. (VETADO).

Art. 2º São diretrizes da PNAINFO:

I - a integração das bases de dados dos órgãos de atendimento à mulher em situação de violência no âmbito
dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário;

II - a produção e gestão transparente das informações sobre a situação de violência contra as mulheres no
País;

III - o incentivo à participação social por meio da oferta de dados consistentes, atualizados e periódicos que
possibilitem a avaliação crítica das políticas públicas de enfrentamento à violência contra as mulheres.

Art. 3º São objetivos da PNAINFO:

I - subsidiar a formulação, o planejamento, a implementação, o monitoramento e a avaliação das políticas de


enfrentamento à violência contra as mulheres;

II - produzir informações com disponibilidade, autenticidade, integridade e comparabilidade sobre todos os tipos
de violência contra as mulheres;

III - manter as informações disponíveis em sistema eletrônico para acesso rápido e pleno, ressalvados os dados
cuja restrição de publicidade esteja disciplinada pela legislação;

IV - integrar e subsidiar a implementação e avaliação da Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra


as Mulheres e do Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência contra as Mulheres;

V - atender ao disposto no inciso II do caput do art. 8º e no art. 38 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei
Maria da Penha);

VI - padronizar, integrar e disponibilizar os indicadores das bases de dados dos organismos de políticas para
as mulheres, dos órgãos da saúde, da assistência social, da segurança pública e do sistema de justiça, entre
outros, envolvidos no atendimento às mulheres em situação de violência;

VII - padronizar, integrar e disponibilizar informações sobre políticas públicas de enfrentamento à violência
contra as mulheres;

VIII - atender ao disposto nos acordos internacionais dos quais o Brasil é signatário, no que tange à produção
de dados e estatísticas sobre a violência contra as mulheres.
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 833

Art. 4º Para o alcance dos objetivos da PNAINFO, o poder público instituirá, em meio eletrônico e na forma do
regulamento, o Registro Unificado de Dados e Informações sobre Violência contra as Mulheres.

§ 1º O Registro Unificado de Dados e Informações sobre Violência contra as Mulheres deverá conter
informações e dados sobre os registros administrativos referentes ao tema, sobre os serviços especializados
de atendimento às mulheres em situação de violência e sobre as políticas públicas de enfrentamento à violência
contra as mulheres.

§ 2º O cadastro no registro mencionado nocaputdeste artigo conterá, no mínimo, os seguintes dados:

I - local, data, hora da violência, meio utilizado, descrição da agressão e tipo de violência;

II - perfil da mulher agredida, incluídas informações sobre idade, raça/etnia, deficiência, renda, profissão,
escolaridade, procedência de área rural ou urbana e relação com o agressor;

III - características do agressor, incluídas informações sobre idade, raça/etnia, deficiência, renda, profissão,
escolaridade, procedência de área rural ou urbana e relação com a mulher agredida;

IV - histórico de ocorrências envolvendo violência tanto da agredida quanto do agressor;

V - ocorrências registradas pelos órgãos policiais;

VI - inquéritos abertos e encaminhamentos;

VII - quantidade de medidas protetivas requeridas pelo Ministério Público e pela mulher agredida, bem como
das concedidas pelo juiz;

VIII - quantidade de processos julgados, prazos de julgamento e sentenças proferidas;

IX - medidas de reeducação e de ressocialização do agressor;

X - atendimentos prestados à mulher pelos órgãos de saúde, de assistência social e de segurança pública, pelo
sistema de justiça e por outros serviços especializados de atendimento às mulheres em situação de violência;
e

XI - quantitativo de mortes violentas de mulheres.

Art. 5º (VETADO).

Art. 6º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão aderir à PNAINFO mediante instrumento de
cooperação federativa, conforme dispuser o regulamento.

Art. 7º As despesas decorrentes da execução do disposto nesta Lei correrão por conta das dotações
orçamentárias de cada órgão que aderir à PNAINFO.

Art. 8º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 28 de outubro de 2021; 200º da Independência e 133º da República.

JAIR MESSIAS BOLSONARO

Rodrigo Otávio Moreira da Cruz


Damares Regina Alves
Bruno Bianco Leal
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 834
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 835

OUTRAS PUBLICAÇÕES QUE CONTAM COM A PARTICIPAÇÃO DAS AUTORAS

• Inteligência e Contrainteligência: Reflexões e desafios na atualidade (Ed. Mizuno, 2022)

• Vade Mecum Policial – Legislação Selecionada para as Carreiras Policiais (Ed. Foco,
11ª ed. 2022)

• Mulheres nas Carreiras Policiais – Teoria e Prática (SaraivaJur, 2022).

• Lei Maria da Penha no Direito Policial (Ed. Mizuno, 2021)

• Prova e Polícia Judiciária (Ed. Mizuno, 2021)

• Direito Policial – Temas atuais (JusPodivm, 2021)

Baixe gratuitamente

• Ações Afirmativas na Polícia Civil de São Paulo: cotas para ingresso de pessoas negras
como promoção de Direitos Humanos (ESDP eBook, 2022).

Apoio
Direitos Humanos para os futuros Deltas da PC-SP 836

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