Você está na página 1de 6

1

Reforma e Contra-Reforma (Séc. XVI)

 Introdução

- A Passagem da Idade Média para a Idade Moderna foi um período de transformações estruturais em
todos os níveis (econômico, político, cultural, social, religioso).
- O desenvolvimento da burguesia e o surgimento dos Estados Nacionais Absolutistas se chocavam
com os interesses da sociedade feudal que então predominava.
- As Monarquias Nacionais despertaram o sentimento nacionalista. O Renascimento Cultural
aumentou o contato com a cultura clássica, despertou a liberdade de crítica, o apego à vida terrena e
o individualismo.
- Em um contexto de transformações estruturais na passagem da Idade Média para a Idade Moderna,
surgiram críticas à Igreja Católica.
 Essas críticas são anteriores aos movimentos protestantes e têm origem no interior da própria
Igreja Católica.

 Fatores que Originaram a Reforma

- Transformações que ocorriam em todos os níveis exigiam transformações ideológicas.


- Feudalismo: entrave para o desenvolvimento do capital e a Igreja Católica era a sua principal base
de apoio.
- A burguesia necessitava de uma ética religiosa que justificasse as suas atividades.
 A Igreja Católica fazia restrições ao comércio, à usura (empréstimo a juros) e ao lucro; aplicava
taxações que reduziam o poder de investimento da burguesia; remetia arrecadações para Roma,
entesourando riquezas que poderiam ativar transformações econômicas.
- O fortalecimento dos Estados Nacionais ia contra o universalismo e supremacia do papa.
 O nacionalismo emergente rejeitava a intromissão do papa, que passava a ser visto como um
estrangeiro.
- A nobreza feudal ambicionava o confisco das terras da Igreja para aumentar o poder e a riqueza e
assim enfrentar a absolutização das monarquias, e poder suportar a alta de preços em função da
chegada de metais da América Espanhola.
- O conhecimento de textos clássicos, entre eles a Bíblia, gerou a comparação entre as atitudes do
clero e os ensinamentos de Cristo.

 Críticas à Igreja Católica

- Vida luxuosa do clero;


- Simonia: venda de cargos eclesiásticos;
- Quebra do celibato clerical: voto de castidade;
- Venda de relíquias sagradas;
2

- Venda de Indulgências: perdão dos pecados;


- Má formação do clero;
- Venda de “dispensas” de determinados votos (leis canônicas);
- Dízimo: contribuições à igreja.

1) O Luteranismo – Sacro Império Romano-Germânico (“Alemanha”)

- Situação econômica instável:


 Região agrária e feudalizada: comércio praticamente inexistia.
- Não era um estado centralizado o que facilitava a ação papal.
- O imperador era fraco: poder era exercido pelos senhores feudais.
- A Igreja era proprietária de 1/3 das terras e tinha o apoio do imperador e da nobreza clerical (alto
clero).
- A nobreza leiga (feudal) ambicionava confiscar as terras da Igreja.
- O espírito nacionalista era contrário à ocupação de muitos cargos eclesiásticos por italianos.
- Burguesia fraca protestava contra os tributos.
- Camponeses e plebeus urbanos queriam livrar-se das contribuições que faziam à Igreja.

 A Doutrina de Lutero

- Lutero foi influenciado por Santo Agostinho de Hipona, religioso do século IV.
- Elementos da doutrina de Lutero:
 Predestinação humana (destino definido por Deus) para a salvação ou para a danação;
 Salvação pela fé;
 Rejeição a hierarquia religiosa: o homem está somente perante a Deus, não necessitando de
intermediação de um padre;
 Rejeição do latim nos cultos;
 Manutenção de apenas dois sacramentos: Batismo e Eucaristia;
 Bíblia como única fonte de verdade divina;
 Livre interpretação dos testamentos;
 Subordinação da Igreja ao Estado.
 Não admitindo o poder da Igreja, seus bens poderiam ser confiscados.
 Nobres feudais, então, aderem às ideias de Lutero.

 O desenvolvimento do Luteranismo

- 1517: Lutero publica as suas “95 teses”: expondo a sua doutrina, e se colocando em oposição à
venda de indulgências.
 Ainda não representava um rompimento absoluto com a Igreja.
3

- Em 1520, o papa Leão X excomungou Lutero que queimou, publicamente, a bula papal que o
excomungava.
- Perseguido pelo Imperador Carlos V, Lutero recebeu guarita na Saxônia onde traduziu o “Novo
Testamento” para o Alemão.
- 1530: “Confissão de Augsburgo”:
 Felipe de Melanchton expõe a doutrina de Lutero.
 A Igreja Católica rejeita a doutrina.
- 1531: luteranos formam uma liga político-militar-religiosa para se defenderem da pressão do
imperador.
- 1555: “Paz de Augsburgo”: marca o fim dos conflitos e estabelece um acordo entre católicos e
protestantes:
 Concessão de liberdade religiosa aos príncipes.
 Os súditos deveriam seguir a religião escolhida pelo príncipe.
 Reconheceu o confisco de terras eclesiásticas pela nobreza.

 Luteranismo e a burguesia:

- Exerceu pouca atração na burguesia.


 A ética religiosa de Lutero também condenava o comércio:
 A manutenção da estrutura feudal no Sacro Império Romano-Germânico retardou o
desenvolvimento do capitalismo.
- Luteranismo se expandiu pelo norte do Sacro Império e pela Escandinávia.

2) O Calvinismo - Suíça

- Suíça apresentava um grande desenvolvimento comercial.


 Burguesia em próspero crescimento deu apoio a Calvino.
- O poder político era descentralizado: Estado dividido em “cantões”:
 Facilitava os abusos da Igreja.
- O nacionalismo encontrava eco nos cantões, visto que estes repudiavam a submissão ao Sacro
Império Romano-Germânico.
- O movimento protestante na Suíça é anterior a Calvino
- Calvino era um francês protestante que só chegou em Genebra, na Suíça em 1536.
- Em 1541, Calvino tomou o poder em Genebra, permanecendo no poder até a sua morte em 1564.
- Seu governo foi uma ditadura repressiva, onde até a diversão era reprimida.
4

 A Doutrina de Calvino

- Calvino também foi influenciado por Santo Agostinho, mas sua doutrina apresentava diferenças
com relação a de Lutero.
- Também pregava a predestinação humana e a salvação pela fé.
- Ao contrário de Lutero, Calvino justificou a moral burguesa, correspondendo, assim, a ética
religiosa que a burguesia buscava.
- Deus atribuía a cada homem uma vocação particular cujo objetivo era a sua glorificação (de Deus).
 O capital, os créditos, os bancos, seriam desejados por Deus, e os juros seriam naturais.
 Encorajava ainda o trabalho e o lucro, condenando a diversão e os gastos.
 O dinheiro deveria ser acumulado para ser reinvestido.
- O calvinismo se expandiu pelos países onde o comércio era mais desenvolvido, como a França, a
Inglaterra, a Escócia e a Holanda.

3) A Reforma na Inglaterra – O Anglicanismo

- A Inglaterra era um importante centro humanista de grande desenvolvimento comercial.


- O Estado era firmemente centralizado nas mãos do rei Henrique VIII, que encontrava certa
resistência no Parlamento.
 Esta resistência o levava a cobiçar os bens da Igreja.
 Com estes bens ele teria recursos e reduziria a importância da assembléia.

 O Rompimento com a Igreja Católica

- Henrique VIII não tinha filhos homem, e sua filha estava prometida em casamento ao filho de
Carlos V, imperador do Sacro Império Romano-Germânico e primo de sua esposa, Catarina de
Aragão.
 Temia que, após a sua morte, a Inglaterra fosse dominada pelos Espanhóis, devido ao
casamento da filha.
 Precisava ter um filho homem, mas como sua esposa, havia se tornado estéril
 Decidiu se separar para se casar com Ana Bolena, dama da Corte.
 Pediu a anulação de seu casamento ao papa Clemente VII que, temendo desagradar a Carlos V,
negou o pedido de Henrique VIII.
- Entre 1531 e 1534: decretação do “Ato de Supremacia”:
 Henrique VIII rompeu todos os laços com a Igreja Romana e proclamou-se “protetor do clero
inglês”.
- Se separou e casou-se novamente.
- Decretou leis abolindo o pagamento de tributos ao papa.
- Confiscou os bens da Igreja Católica no país
5

- Criou a Igreja Anglicana, independente da autoridade papal.


 A Igreja Anglicana permaneceu praticamente idêntica à Igreja Católica. A grande diferença
ficou sendo a autoridade máxima. No caso, o rei.

4) A Contra-Reforma ou Reforma Católica

- Foi um movimento de reação ao protestantismo e de renovação da Igreja Católica que se via


ameaçada pela perda de fiéis e de bens e tributos.
- Os movimentos de autorreforma da Igreja Católica são anteriores à Reforma Protestante, mas só se
aprofundaram com o avanço do protestantismo.
- “Concílio de Trento” (1545-1563):
 Principal manifestação da Contra-Reforma.
 Reafirmou os dogmas católicos:,
 Confirmou a supremacia papal;
 Manteve o celibato clerical e a hierarquia eclesiástica;
 Manteve os sete sacramentos,
 Manteve os cultos à Virgem Maria e aos Santos;
 Confirmou a necessidade de obras para a salvação;
 Reafirmou que a Igreja Católica se baseia nas Sagradas Escrituras e que ela é a única capaz de
interpretar a Bíblia.
 Proibiu a venda de indulgências;
 Criou seminários para a educação dos padres, exigindo mais disciplina do clero;

 Intrumentos da Contra-Reforma

- Tribunais do Santo Ofício (Inquisição): para julgamento dos suspeitos de heresias;


- “Index”: lista de obras proibidas e que deveriam ser queimadas.
- Companhia de Jesus: mais importante instrumento da Contra-Reforma.
 Criada por Inácio de Loyola, em 1534.
 Monopolizou o ensino das elites européias e a catequese dos indígenas nas colônias.
- A Contra-Reforma não conseguiu eliminar o protestantismo, mas paralisou sua expansão.

 Conclusão

- A Reforma Protestante afetou a superestrutura feudal.


- O nacionalismo venceu o internacionalismo papal.
- A burguesia se afirmou em oposição à ideologia contrária aos seus interesses.
- Onde a burguesia era mais forte sobressaiu o calvinismo.
- Onde predominava a nobreza feudal e o imperador era fraco, sobressaiu o luteranismo,
consolidando a ordem feudal.
6

- Onde predominou a nobreza feudal e a burguesia era fraca, permaneceu o catolicismo.


- A cristandade foi cindida.
- Nas “Guerras de Religião” do século XVI, a religião foi antes um pretexto do que a causa dos
conflitos.

Você também pode gostar