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DIREITOS DOS USUÁRIOS DE SOFTWARE

Com o advento do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078, de 1990), o cidadão


brasileiro – enquanto agente da relação de consumo – assumiu uma postura ativa na
defesa de seus interesses, passando a ser mais exigente e a pleitear seus direitos.

De acordo com o artigo 2o do referido Código, “consumidor é toda pessoa física ou


jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final”, sendo que o
usuário de software também é considerado consumidor. As leis aplicáveis nessa relação
de consumo são a de software (Lei 9.609, de 1998) e o próprio Código de Defesa do
Consumidor.

Estabelece a Lei de Software que são direitos dos usuários de software:

1. Prazo de Validade Técnica


A lei exige que o prazo de validade técnica do programa de computador seja
consignado, ou no contrato de licença de uso, ou no documento fiscal, ou no suporte
físico, ou na embalagem do software. Trata-se da expectativa da vida útil do software no
mercado, antes de se tornar tecnicamente obsoleto.

No decorrer desse período, o fabricante ou o distribuidor do software deve manter


serviços de suporte e assistência técnica, gratuitos ou não. Se o produto for retirado do
mercado antes do término do prazo de validade técnica, o usuário tem direito à
indenização.

A lei não estabelece qual é a abrangência deste prazo e esta omissão invoca a aplicação
do artigo 32, parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor, o qual prevê que o
fabricante e o importador devem prover serviços e peças de reposição ao consumidor
por período razoável de tempo na forma da lei. Cabe ao juiz dizer o que considera prazo
razoável, numa eventual demanda judicial. Este critério de razoabilidade está adstrito ao
preço e à finalidade do produto.

2. Prestação de Serviços Técnicos


O estabelecimento do prazo de validade técnica está diretamente vinculado a outro
direito do usuário de software que é a prestação de serviços técnicos. Aquele que
comercializar o programa de computador – seja o titular dos direitos do programa ou o
titular dos direitos de comercialização – tem a obrigação, durante a vigência da
validade, de “assegurar aos respectivos usuários a prestação de serviços técnicos
complementares relativos ao adequado funcionamento do programa” (artigo 8o da Lei
de Software).

Esta obrigação persiste mesmo no caso de retirada de circulação comercial do

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software e somente cessa quando há justa indenização de eventuais prejuízos causados
aos usuários. A obrigação de indenização é do fabricante ou do distribuidor do
programa de computador.

Comprovando-se o prejuízo ao consumidor, o artigo 18 do Código de Defesa do


Consumidor estabelece desconsiderar a personalidade jurídica da parte que prejudicou
o cliente, ou seja, o fabricante ou o distribuidor responderá pela indenização com seus
bens pessoais.

3. Garantia
Outro direito do usuário de software é a garantia de funcionamento do produto, sendo
obrigação do fabricante ou do distribuidor reparar, gratuitamente, qualquer problema ou
erro constatado pelo consumidor.

É incorreto induzir o consumidor a celebrar um “contrato de manutenção”, exigindo


pagamento periódico, pois é da inteira obrigação do fabricante ou do distribuidor a
reparação de eventuais problemas ou defeitos no software, sem nenhum custo adicional
para o cliente.

Cumpre, aqui, distinguir o contrato de suporte ou de atualização técnica – o qual


consiste em promover alterações no produto em função de necessidades do cliente – do
contrato de manutenção ou reparo do software. O serviço de manutenção e reparo não
pode ser objeto de contrato e muito menos de pagamento. Trata-se de uma obrigação
unilateral, permanente e gratuita do fabricante ou distribuidor, que a contrai no
momento em que celebra o negócio.

Cabe ao usuário de software ter ciência de seus direitos e exigi-los caso não sejam
observados, pois o exercício da cidadania também passa pelo cumprimento de
obrigações e efetividade dos direitos.‹

Cássia Isabel Costa Mendes e Luciana Alvim Santos Romani*


(sac@cnptia.embrapa.br)

*
Membros do Comitê Local de Propriedade Intelectual da Embrapa Informática Agropecuária.

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