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19. a Figuras de sintaxe 2 coesi cal. Ocm- ‘Nem sempre as frases se otganizam com absoluta coesio gtamatical. O en penho de maior expressividade leva-nos, com frequéacia, a superabundin. vy desvios, # lacunas nas estroturas frisicas tidas por modelaces. Em rastrugbes a coesio gramatical € substirulda por uma coesio signif. , condicionada pelo contexto geral e pela situaga ai (Os processos expressivos que provocam essas particulatidades de cons- trugio denominam-se FIGURAS DE SINTAXE. Examinemos as principais: ELIPSE 3. Burnse & a omissio de um termo que o contexto ou a situagfo pet- miter facilmente supric: Sio cotcentes, por exemplo, as ELIPSES: 4) do sujeito: ‘Teenusa sacudiu of ombeos, no susto. Erguen 2 cabega, fixou Manuel: Para onde? —exclamou. (Anibal M. Machado, JT, 135.) B) do verbo (parcial ou total): Vio os dois em dislogo peripatético, ele em passo largo, cla no yoo. (Catlos Drummond de Andrade, CB, 26.) Vida maim, a nossa, (Alves Redol, G, 105.) 4) da preposigéo que introduz certos adjuntos: Miguel foi teas dela, mfios nos bolsos, falando calmo, (Laandino Vieivs, VYDX, 6.) 4) da preposiglo de antes da integrante que introduz as orages objec- tivas indizectas e as completivas nomiinais. ‘Bem me lembro que ainda eu mesmo aleancei a casa de Dona Rosina ‘em cuja porta de entrada passe horas seguidss expiando a maré uimana, (Augusto Frederico Schmid, GB, 44.) ‘Tem medo que fique alguém fora da malhadal... (Alves Redol, G, 65.) ©) de conjungéo integrante gue: Nio culdels seja 2 masmorna.. Nio cuideis seja 0 degredo... Cena Meireles, OP, 862.) 2. Na anflise dessas ¢ de outtas oragées manifestamente incompletas convém repor“os elementos omitidos. Mas scria uma arbitrariedade pte- tender reconstraic, nas mesmas bases, formas expressivas elabotadas dentro de principios linguisticos E 0 caso, por exemt justamente por iee2, mais fa PRASE NOMINAL, organizada sem verbo ¢, iva: Que talento, que bom gosto, ums delic (Augusto Meyer, MA, ow mais sugestiva: Primavers, Mant. Que efivio de violets! (Camilo Pessaaha, C, 52.) A clipse como processo estilfstico. Reeurso condensadot da expressio, 2 elipse € natusalmente usada de preferéncia saqueles tipos de enunciado que se devem caencterizar pela con disio ow pela tap Seas efeitos ilistcos sto, portanto, apreciaveis: gf) ™ dseviso esquemitca de ambiente, de estados de alma, de. perf: a6 BREVE CRAMATICA DO PORTUGUES CONTESPORANO Subiu a escada. A cama atrumada, © quarto. O cheito do jasmineito, Ba vor de uma das ilhas, em baixo: —Papail O tclefone... (Anibal M. Machado, C) 3B) em anotagies rapidas, como as de um di 0, de um caderao de nots: Paris da guetal De dia apenas o movimento diminuldo 25 % € os én bus despareeldos, Mas imense gene Mulres tndas, muitas— dein eee vids: Militaes, Pos frida, Rara gente ce Tato. Nembuma tis term Muitos espectcals, Cates do exnto, ceion (Mio de SéCaraci, C, 9+) ©) na enunciagio de pensamentos condensdos, provétbios, divisas, ditos sentenciosos ou iténicos: Cada dia, cada via; cada vida, cada lid, Casandino Vicia, JV, 65.) d) nas enumeragbes, onde a inexisténcia do artigo, como Capitulo 9, costuma sugerit as ideias de acumulagio on de dispers Aa tacdinha, minha pele vai estar que € #6 boi, vaca, ove- asto, fumaga, sal, col, suor. (Aaténio Carlos Resende, LD, 1.) Quando vol Tha, Ieite, couro, rer ‘ZEUGMA 3. A zaucaa é uma das formas da elipse, Consiste em fazer participar de dois ou mais enunciados um termo expresso apenas em um deles: Na vida dela houve +6 mudanga de personagens: na dele madange de personagens e de cenitios (Joaquim Pago a'Arcos, CVL, 249.) Isto €: na dele houve mudanga de personagens ¢ de cenirios. Podemos denominar snevns a zcugma em que o termo omitido exac- tamente 0 mesmo empregado na oragio anterior, como no exemplo de Jor quim Pago d’Arcos, ‘MOURAS DE SORTAXE ‘ 7 2. Com mais frequéncia, a designagio aplica-se & chamada zeugma ‘COMPLEXA, que abarca principalmente os casos em que se subentende um verbo jé expresso, mas sob outra flexfo. Assim: A igseja era grande c pobre. Os altares, humildes. (Carlos Drumniond de Andmde, R, 161.) Entenda-se: Os altates eram humildes. | i | | PLEONASMO x. Pugonasmo é a supetabundincia de palaveas para eounciar uma idcia, como se v8 nestes passos, em que se procura reproduzie a fala popular: Sai lé para fora, Joao. (Miguel Torga, NGM, 228.) 2. Cumpre acentuar que o pleonasmo & a seiteragio da idvie. A sepe- 6 um recurso de énfase ¢, segundo a forma por que nha no perlodo ou na oragio, tem ma retorica nome especial. Néo 6, porém, um pleonasmo, Pleonasmo vicioso. pleomasmo 36 se justifica pata dar maior selevo, para emprestar maior vigor a um pensemento ou sentimento. Quando nada acrescenta & forga de expresso, quando resulta apenas da ignorincia do sentido exacto dos termos empregados, ou de negligéncia, & uma falta grosseira, Esto neste caso frases como: Fazer uma breve alocugio. ‘Tec 0 monopélio exclusive. Ser o principal protagonista. representa uma demasia io HA monopilio que no seja 48 bruv GRAMATICA DO PORTUGUIS CONTEUPORANEO Pleonasmo e epiteto de natureza. Campre, no entaato, distinguir dessas sedundincias viciosas 0 emprego do adjective como upfmRro DE NATUREZA em expressics do tipo sit aut, fire ner, prado verds, mar slgade, mite eure © ecqivalentes. Comparenr-se ‘estes exemplos: © mar salgado, quanto do teu sl Sto gigs Poca (Peiando Pessoe, OP, 15) “Aqui nto se tsata de imitil reiteragio da ideia que jé se continha no substantive. © adjectivo insiste sobte o caricter intrinseco, normal ou dominante do objecto. B uma forma de énfase, um recurso literiro. Observagio: Qvanto 29 objecto (dicecto e indirecto) pleonistco, lense o que dissemos sno capitulo 7- HIPERBATO Hirdrnato (do grego sypérbaton «inversion, «tansposigion) € a sepa- ragio de palavras que pertencem ao mesmo sintagma, pela intercalagio de jum membro frisico, como neste passo: esas que 20 vento vém Belas chuvas de junho! (Joaquim Catdoso, SE, 16,) Em entido corrente, porém, hipérbato é termo genético para designar toda inversio da ordem normal das palavras sa oragio, ou de ordem das coragées no perfodo, com finalidade expressive. ANASTROFE Anisrrors (do yiego anastrophé «mudanga de posigio», «invers caxansposigion) € 0 tipo de inversio que consiste na anteposicio do de | | 1 SNOURAS DE SINTAXE 1 quando as oragées de um perfodo ou as pal: a9 minante (PREPOSIGKO+ SUBSTANTIVO) a0 determinado, como neste _passo: Mas esse astro que falgente Das dguias brilhara a frente, Do Capitélio baixou. Goazes de Passos, P, 91-92.) PROLEPSE Proverse (do grego prélpsis «acco de tomar antes»), figura também conhecida como anmictracio, comsiste na deslocigio de um termo de ‘uma oragio para outta que a pteceda, com o que adquire excepcional realce: Os pastores parece que vivem no fim do mundo. etrcica de Castro, OC, 1, ‘SINQUISE Sinquise (do grego sfgebyris wconfusto» «mistura») ¢ a inversto de tal modo violenta das palavras de uma frase, que torna dificil 2 sua interpre- cage. E o que se observa, por exemplo, nesta quadra do soneto Tapa de coral, de Alberto de Oliveira: Licias, pastor — enquanto 0 sol recebe, Mugindo, o manso armento ¢ ao Iargo espraia, Em sede qual de be, Sede sede - (2 Entends-se: aL icias, pastor, —enguanto © manso armento recebe © sol também, tede maior» ASSINDETO Dizemos que ha assinpsro (do grego as aauve GRAMATICA DO PORTUGUES CONTEMPORANEO pe Bum vigoroso procesto for ou do ouvinte uma sua individvalidade, sem conjungio coordenativa que poderia enlaga bs Ge encdeamento do enunciado, que reclama dc ftengio maior no exame de cada facto, mantid ‘em sua independéncia, por forga das pausas ritmicas: Lavava roupas da Baixa,veti, usava, lvava outa ver, levava (Laandino Vieis, JV, 103: Girindolas, clatins, Legides de povo, bimbalhar de sinos (Raimundo Correia, PCP, 196.) POLISSINDETO (© poussixnsto (do grego pobyindeton «que contém muitas conjungées) 4.0 contritio do assindcto, on seja, € 0 emprego reiterado de conjungies coordenativas, especialmente das aditivas: io, © Aguia, © catedrall (lorbela Espanca, $5 59°) Fai cisne, € inintesruptos on v¢ ¢ também 0 seguinte, de Vinicius de Morais: WS, 119) fia esteemprego da conjungio que se costuma chamar «de movimento» ANACOLUTO ‘Awacouwro € a mudanga de construsii ciado, geralmente depois de uma pausa sensivel, como neste exemplo: Bom! bom! eu parece-me que ainds alo ofendi ninguém! sintéctica ao meio do enun- HIGURAS DE SINTAXE ‘ ae ‘Observe-se que 0 promome ev, que se anunciava como sujeito do verbo seguinte, ficou sem fungio, Com a imprevista estrotura assumida pela frase, f primeira pessoa, por ele representada, passou 2 objecto inditecto (ms). SILEPSE Snupsz (do grego sfilepsis, «acgi0 de reunir, de tomar em conjuntor) é 2 concordincia que se faz nfo com a forma geamatical das palavias, mas com 0 sentido, com a idela que elas expressam, Segundo a acepsio originéria, 0 termo stuzese deveria tefetir-se apenas 4 concordincia de niimero. Cedo, poréi, ele passou a sex aplicado a cortas snomalias formais na concordincia de género e pessoa e, hoje, abarca pra- ticamente todo o campo da CONCORDANCIA 1DEOLOGICA. Silepse de némero, x. Pode ocorter a stuErsé DE NUMERO com todo substantivo singular concebido como plural ¢, particularmente, com os termos colectivos. ‘Assim neste paso de Machado de Assis: Deu-me noticias da gente Aguiar; estio bons. (06, 5, 1.095,) a, Hé também sutess ps nthuxxo quando o sujeito di onagio € um dos pronomes nés e és, aplicados a uma $6 pessoa, e permanecem no sin- gular os adjectivos e patticipios que a eles se referem. Assim Sois injusto comigo. (Alesandre Herculano, MC, Silepse de género. Sabemos que as expresses de tratamen cia, Vossa Serboria, etc. ttm forma grams com frequéncia a pessoas do sexo mascalin + ap) yuando funciona’ ee pneve GRAMLTICA DO PORTUGUES CONTEMPORANEO como predicativo, o adjective que a elas se refere vai sempre para o mas. calino: TY: Bet Pres oes Drowimood de Andee, CB, 305) Silepee de pessoa Quando a pessoa que fala on escreve te inclu mum suo enon cits im > psn Nop 0 veto pode pats» 18 pee do pl ‘Todos entramos imediatamente. (Otto Lara Resende, Bl 2, Se no sujeito expresso na 3.* pessoa do plural queremos abranger 1 pessoa a quem nos ditigimos, é licito usermos a 2." pessoa do plural: Mas supoaho que todos sois da mesma opinito! Todos acordais em sme condenat ¢ abandons. Gost Régio, ERS, 83) i 20. | Discurso directo, discutso indirecto e discurso inditecto livre Estrumucas de reprodugio de enunciagdcs. Pasa dar-nos a conhecer os pensimentos as palavras de personagens reais 01 fcc Ge o narador de wés moldes lingulsticos diversor, conhecidos somes de: 42) piscunso (ou rsrtto) ntarcro, 2) wiscunso (ou EsrtL0) msprnecro, 4) piscunso (ou esrn.o) mpinecro Live. DISCURSO DIRECTO Examinando este passo das Memérias péstumas de Bris Cutbas, de Machado de Assi igflia. replicou: —Fromete que algum dia me faré baronesa? (OC, I, 462.) verlficamos que 0 narrador, apés introduzit a. person x08 ey io, em que 0 personagem & chamado a apre- * ias palavras, denominamos piscurso pinzcro.

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